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ENFERMAGEM EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA: estudo sobre os principais fatores estressores relacionados ao trabalho e ao ambiente1

NURSING IN INTENSIVE CARE UNITS: study of the major work-related stressors and the environment

MOTA, Simone Gonçalves2

RESUMO:

Objetivo: descrever sobre o adoecimento no trabalho dos profissionais de enfermagem, dando ênfase aos profissionais que atuam diretamente nas UTI’s / CTI’s. Material e Métodos: o artigo foi realizado com base em uma Revisão de Literatura. A seleção dos artigos foi por meio das bases de dados Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library on-line (Scielo), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (MEDLINE) e Biblioteca Virtual em Saúde (BIREME). Foram selecionados e analisados 15 artigos conforme os critérios de inclusão previamente estabelecidos. Resultados: verificou-se que o enfermeiro é um profissional que assume inúmeras tarefas em seu cotidiano e o desenvolvimento dos processos de trabalho, assim como as responsabilidades do processo de cuidar, aliada a situações adversas no ambiente de trabalho (alta carga de trabalho, ausência de incentivos e infra-estrutura, falta de segurança dentre outros) desencadeiam inúmeros fatores estressores que devem ser analisados criteriosamente. No que se refere ao ambiente de terapia intensiva, a literatura permite afirmar que trabalhar em unidades de terapia intensiva provoca estresse ocupacional e burnout nos médicos e enfermeiros intensivistas, contudo não há um consenso sobre quais os fatores que precipitam estes fenômenos e como se expressam. Conclusões: sugere-se a importância da orientação sobre estado emocional destes profissionais, tanto para administrar a assistência aos pacientes como para si próprios, conforme os achados na literatura.

Palavras-chave: enfermagem, stress ocupacional, terapia intensiva, adoecimento no trabalho.

ABSTRACT

Objective: To describe the illness on the work of nursing, with emphasis on the professionals who work directly in the ICU / ICU's. Material and Methods: The article was based on a literature review. The selection of articles was through the databases the Latin American and Caribbean Health Sciences (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem Online (MEDLINE) and Virtual Library Health (BIREME). Were selected and analyzed 15 articles as the inclusion criteria previously established. Results: we found that the nurse is a professional who takes a variety of tasks in their daily lives and development of work processes, as well as the responsibilities of caregiving, coupled with adverse situations in the workplace (high workload, lack of incentives and infrastructure, lack of security among others) trigger numerous stressors that must be analyzed carefully. With regard to the intensive care setting, the literature to suggest that work in intensive care units causes occupational stress and burnout in intensive care doctors and nurses, yet there is a consensus on the factors that precipitate these phenomena and how they express themselves. Conclusions: we suggest the importance of the emotional state guidance on these professionals to manage both patient care and for themselves, according to the findings in the literature.

Word-Keys: nursing, occupational stress, intensive care, illness in the workplace.

1 Artigo de Conclusão do Curso de Mestrado em Terapia Intensiva promovido pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva – SOBRATI. 2 Enfermeira pós-graduada em Terapia Intensiva pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC –MINAS, atuante no CTI do Hospital Alberto Cavalcanti e Urgência da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

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1 INTRODUÇÃO

As intensas transformações socioeconômicas que a humanidade vivencia

desde o final do século XIX, possibilitaram grandes avanços nas práticas e

conhecimentos da medicina e da enfermagem. Mas a busca da cura de diversas

enfermidades pode ser vista desde o inicio das civilizações (PANIZZON et al. 2008).

Pinto (2003) considera que o grande progresso tecnológico em geral e da

tecnologia da informação, especialmente nos últimos anos, beneficiaram

grandemente as especialidades médicas, que hoje se encontram mais preparada a

para enfrentar os desafios representados pela ampla prevalência de diferentes

doenças.

Além disso, as unidades hospitalares se especializaram criando ambientes

voltados para o atendimento de pacientes críticos e estes possuem tecnologia de

ponta e profissionais capacitados para lidar com as mais diversas situações. É o

caso de Centros ou Unidades de Terapia Intensiva – CTI / UTI.

Em uma descrição geral sobre o ambiente de UTI temos que:

As Unidades de Tratamento Intensivo – UTIs são setores hospitalares que funcionam em condições de isolamento devido às circunstâncias especiais que os cuidados intensivos exigem. A utilização de tecnologia sofisticada tem propiciado o atendimento de pacientes graves, aumentando cada vez mais as possibilidades de sobrevida (FIGUEIREDO, SILVA e SILVA, 2008, p. 26).

Por paciente grave, ou crítico entende-se que este “refere-se tradicionalmente

a um processo patológico extremo que acomete a pessoa e que exige da equipe de

saúde decisões embasadas, rápidas, firmes e seguras” (FURTADO e SOUZA, 2010,

p. 396).

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Desse modo, Fogaça et al. (2008) descrevem que estes são ambientes onde

os profissionais atuam sob forte pressão, já que qualquer erro ou negligência pode

levar o paciente à morte. Destaca-se então que “a assistência prestada está

relacionada ao lidar com a morte e o morrer; doenças terminais; pacientes com dor;

lidar com necessidades emocionais do paciente e família, como a agressividade por

exemplo, bem como a incerteza quanto ao tratamento do paciente” (FOGAÇA et al.

2008).

De maneira complementar, Furtado e Souza (2010) complementam a questão

dizendo que se por um lado as decisões precisam ser ágeis, nem sempre na UTI a

enfermagem consegue controlar os resultados de suas ações, criando uma série de

fatores que podem contribuir para o adoecimento no trabalho, sobretudo, para o

desenvolvimento do stress entre os profissionais atuantes nessas unidades.

Além disso, conforme apontam Lima e Esther (2001) em geral, as condições

de trabalho são bastante carentes: há falta de pessoal, ausência de recursos

materiais, físicos e outros, deficiências na gestão, escalas de horários incompatíveis

e etc. Tais fatores prejudicam o desenvolvimento do trabalho da equipe de

profissionais e causam ainda problemas de saúde e desmotivação aos profissionais.

Regis e Porto (2006, p. 18) afirmam que “de maneira geral o hospital é

reconhecido como um recinto insalubre, penoso e perigoso para os que ali

trabalham sendo considerado como um local privilegiado para o adoecimento”.

Segundo Lima e Ésther (2001), as condições de trabalho às quais a

enfermagem está submetida propiciam danos à sua saúde. Sem escolha, sujeitam

se a relações, organizações, condições e espaços que contribuem significativamente

para um sofrimento inevitável que idealmente deveria ser gerenciado pelos

trabalhadores visando à sua saúde e qualidade de vida.

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Diante do contexto apresentado, o presente artigo tem como objetivo geral

descrever sobre o adoecimento no trabalho dos profissionais de enfermagem, dando

ênfase aos profissionais que atuam diretamente nas UTI’s / CTI’s.

Pretende-se apontar os principais fatores que levam ao aparecimento do

stress entre profissionais atuantes nas UTI’s / CTI’s, demonstrando a urgente

necessidade de mudanças na gestão e criação de programas de qualidade de vida.

O tema despertou interesse em primeiro lugar pois “as doenças profissionais

e os acidentes de trabalho constituem um importante problema de saúde pública

mundial e merecem ser abordadas no contexto da segurança e prevenção” (REGIS

e PORTO, 2006, p. 61).

Fogaça et al. (2008) consideram que nos últimos anos a relação entre

estresse ocupacional e saúde mental dos trabalhadores tem sido o assunto de

muitos estudos no setor de saúde por causa dos níveis alarmantes de incapacidade

temporária, absenteísmo, aposentadorias precoces e riscos à saúde associados à

atividade profissional.

Stacciarini e Troccoli (2000) consideram que, independente do local e da

metodologia utilizada, o tema satisfação profissional na enfermagem e questões

relacionadas à qualidade de vida merecem ser investigados pelas lideranças a fim

de as dificuldades e os efeitos que interferem no profissional e no seu trabalho

poderem ser detectados e minimizados.

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2 MATERIAL E MÉTODOS

O artigo foi realizado com base em uma Revisão de Literatura e a sua

elaboração seguiu as seguintes fases: identificação do tema, busca na literatura,

categorização dos estudos, avaliação dos estudos, interpretação dos resultados e a

síntese do conhecimento evidenciado nos artigos analisados.

A pergunta norteadora da presente Revisão de Literatura consistiu em: Quais

os fatores estressores entre profissionais da enfermagem atuantes em Unidades de

Terapia Intensiva?

A seleção dos artigos foi por meio das bases de dados Literatura Latino

Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library

on-line (Scielo), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (MEDLINE)

e Biblioteca Virtual em Saúde (BIREME), sendo que as palavras-chave e

combinações utilizadas foram: enfermagem, stress ocupacional, terapia intensiva,

adoecimento no trabalho.

Os critérios de inclusão dos artigos da presente Revisão de Literatura foram:

artigos de revisão e originais referentes ao tema editados no período de 2000 a 2010

em língua portuguesa e inglesa.

Assim, foram selecionados e analisados 15 artigos conforme os critérios de

inclusão previamente estabelecidos.

Para a extração de dados dos artigos selecionados, foi utilizado o instrumento

de fichamento, o qual contempla os itens: identificação do artigo, características

metodológicas do estudo, avaliação do rigor metodológico, intervenções estudadas e

resultados encontrados.

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A análise dos dados extraídos foi realizada na forma descritiva, possibilitando

avaliar a qualidade das evidências (nível de evidência disponível na literatura sobre

o tema investigado, fornecer subsídios para a tomada de decisão no cotidiano da

enfermagem, bem como a identificação de lacunas do conhecimento para o

desenvolvimento de futuras pesquisas).

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3 RESULTADOS

3.1 O adoecimento no trabalho em enfermagem: visão geral

Conforme ensinam Martins et al. (2000) os fatores estressantes relacionados

ao trabalho, são resultantes de situações diversas em que o indivíduo percebe este

ambiente como ameaçador às suas necessidades de realização pessoal e

profissional, prejudicando os profissionais em:

(...) sua interação com suas funções e com o ambiente de trabalho, na medida em que este ambiente contém demandas excessivas a ela, ou que ela não contenha recursos adequados para enfrentar tais situações (MARTINS et al., 2000, p.53).

Conforme ensinam Fogaça et al. (2008) a Enfermagem é uma ciência que

trata do diagnóstico das necessidades de saúde, prescrição, avaliação e reajuste da

assistência. O profissional da Enfermagem atua sobre o indivíduo, a família, a

comunidade, a sociedade e o meio ambiente, com a finalidade de promover,

preservar e restaurar a saúde e seu principal foco é o cuidado.

Segundo Stacciarini e Troccoli (2000, p. 30) “a enfermagem é uma profissão

considerada como potencialmente estressante. Os autores comentam que em 1988,

a Enfermagem foi classificada pela Health Education Authority como a quarta

profissão mais estressante no setor público.

Na área de enfermagem, tradicionalmente o trabalho é marcado por diversos

aspectos estressores, pois, o “cuidar” exige do profissional além de conhecimentos

específicos, capacidade para lidar com as adversidades e ainda exige um ambiente

que lhe propicie desenvolver seu trabalho com ética e qualidade.

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Barbosa et al. (2008) acrescentam que a enfermagem é uma categoria

profissional marcada por constante convivência com situações de impacto, que

poderão ser vivenciadas com grande carga de ansiedade e tensão, podendo

evidenciar sintomas de estresse, prejudicando o desempenho profissional, bem

como resultar em problemas de saúde.

Matsuda e Évora (2005) refletindo sobre o cotidiano do trabalho do enfermeiro

lembram que os profissionais absorvem-se tanto na tarefa de cuidar que não

conseguem realizar uma análise critica sobre suas práticas ou sobre seu estado

psíquico. Assim, comentam os autores:

Ao analisarmos o agir/trabalhar do enfermeiro enquanto profissional dotado de conhecimentos específicos voltados para o ser humano, complexo por definição percebemos que a sua subjetividade passa desapercebida, uma vez que está, constantemente, envolvido em inúmeras atividades relacionadas não só quanto a sua competência, mas também a de outros profissionais, ficando sem tempo para refletir criticamente sua prática (MATSUDA e ÉVORA; 2005, p. 05).

Martino e Misko (2004) comentam que na enfermagem, vive-se uma realidade

de trabalho cansativo e com muito desgaste devido à convivência com a dor e

sofrimento dos clientes. Assim, segundo as autoras:

Se o indivíduo não souber equilibrar bem essa situação utilizando-se de mecanismos de transferência, pode acometer um estado de ansiedade; que quando excede o nível mínimo leva a diminuição da capacidade de tomar decisões, incorrendo em erros adicionais, gerando assim um circulo vicioso, e a conseqüentes níveis progressivos de estresse (MARTINO e MISKO, 2004, p. 162).

Descrevendo sobre a existência de estímulos estressores aos quais os

profissionais de enfermagem encontram-se constantemente expostos Pontes (2003)

apresenta os seguintes:

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A intensa relação com as questões vinculadas ao processo de morte e

morrer;

Contato direto e íntimo com a dor, sofrimento, impotência, angústia, medo,

desesperança, desamparo e perdas diversas;

Conviver com limitações técnicas, pessoais e materiais, em contraponto ao

alto grau de expectativas e cobranças lançadas sobre este profissional por

pacientes, familiares, equipe, instituição hospitalar e por si mesmo;

Nas unidades de emergência, a solicitação intermitente de decisões rápidas e

precisas, a cruel e desumana tarefa de “selecionar” quem usa este ou aquele

aparelho, pois o número de urgências graves é quase sempre superior aos

recursos para manutenção da sobrevida dos pacientes;

Em ambientes de terapia intensiva a defasagem entre o número de leitos e

recursos disponíveis e a igualmente alta demanda de pessoas necessitadas

deste tipo de cuidado impõe à equipe a obrigação de decidir quem fica com a

vaga e os recursos e quem provavelmente terá suas chances diminuídas,

quando não eliminadas de sobreviver.

Outro assunto de grande relevância a respeito dos fatores estressores no

trabalho de enfermagem, além de situações relacionadas à sobrecarga de trabalho,

ergonomia e outras, é que o profissional da enfermagem lida diariamente com

materiais e instrumentos insalubres tais como: agulhas, tesouras, bisturis, pinças e

escalpes, assim como a exposição à radioatividade e estes apresentam alto risco de

contaminação. A ausência de programas preventivos, assim como a falta de preparo

dos profissionais para lidar com tais instrumentos causa ansiedade, medo e

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preocupação aos enfermeiros, levando-os a um estado propicio ao adoecimento no

trabalho.

Stacciarini e Troccoli (2000) apontam também que a impossibilidade de

atuar apenas na área de trabalho, isto é, na especialidade de interesse e formação

de cada um, é mais uma causa de frustração e desconforto de profissionais da

enfermagem.

Isso tudo reflete num elevado índice de estressores no ambiente de trabalho,

visto que cada profissional trás consigo influências culturais, familiares, convívios

diferente que precisam ser levados em conta e devem ser analisados para entender

o comportamento humano no trabalho.

Fatores psicossociais também podem desencadear estresse, que, segundo

as autoras mencionadas, pode ser entendido como uma reação complexa com

componentes físicos e psicológicos resultantes da exposição a situações que

excedem os recursos de enfrentamento da pessoa. É uma reação adaptativa do

organismo humano ao mundo em constante mudança. Importante frisar que, quando

suas causas se prolongam e os meios de enfrentamento são escassos, o estresse

pode avançar para fases de maior gravidade, quando o corpo se torna vulnerável a

doenças diversas. As respostas físicas e psicológicas ao estresse dependerão da

herança genética, estilo de vida e estratégias de enfrentamento utilizadas pelo

indivíduo, bem como da intensidade e duração do agente estressor (MURTA;

TRÓCCOLI, 2004).

Importa ainda destacar aspectos relacionados ao trabalho noturno como

prejudicial à saúde do trabalhador, onde o ritmo circadiano sofre alteração,

causando distúrbios do sono e da vigília. Este fato leva a dificuldades em realizar

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tarefas, tendo-se de despender esforços físicos e psíquicos elevados, podendo levar

ao surgimento de doenças (PONTES, 2003).

Barbosa et al. (2008), por exemplo realizando pesquisa com 76 profissionais

da enfermagem de um hospital universitário da cidade de São Paulo, com o objetivo

de avaliar a qualidade do sono e verificar a presença de Sonolência Diurna

Excessiva (SOE) detectaram que 97,3% dos profissionais apresentam má qualidade

de sono e 70,67% uma sonolência diurna excessiva. As autoras concluíram sobre a

necessidade de intervenções como o planejamento de um local como uma sala de

conforto com televisão, rádio e camas adequadas; uma rotina de rodízio de horário

por funcionário para o descanso e alimentação; mudança da carga horária do turno

noturno alterando a jornada de 12 horas para oito horas e pausas de 15 minutos a

cada duas horas de trabalho, visando a melhoria da qualidade de vida e diminuição

dos fatores estressores.

3.2 O stress entre profissionais da enfermagem atuantes nas UTI’s / CTI’s

Conforme já verificado no tópico anterior, atualmente o trabalho de

enfermagem não se restringe mais a apenas fazer curativos, mas sim de uma

equipe que trabalha em mundo próprio, composta de uma multiplicidade de técnicas

e táticas bem articuladas no cuidado com a vida humana (FURTADO e SOUZA,

2010).

De acordo com Figueiredo, Silva e Silva (2008) a internação de paciente na

UTI demanda estabelecimento de tratamento intensivo para sua pronta recuperação.

O alcance desse objetivo só será atingido na vigência de um atendimento adequado,

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sem falhas no decorrer da assistência ao paciente, o que também se aplica ao

atendimento do indivíduo.

É no setor de terapia intensiva que inúmeros procedimentos acontecem devido aos perfis de maior ou menor complexidade da clientela, sendo desenvolvidos os índices de gravidade. Seu desenvolvimento se deve à necessidade de avaliação e desempenho das UTIs e da eficiência do tratamento realizado. Uma clientela gravemente enferma necessita de cuidados especializados e equipe bem treinada, com a finalidade de oferecer uma assistência adequada. Porém, na prática diária da enfermagem essa realidade fica distante desse ambiente (FURTADO e SOUZA, 2010, p. 397).

Martins e Faria (2002) realizando estudo exploratório com 24 profissionais de

Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital de ensino com o objetivo de

identificar os fatores geradores de prazer e sofrimento no trabalho da enfermagem,

constataram que nesse ambiente as manifestações do sofrimento e desprazer no

trabalho emergem das seguintes categorias: relacionamento interpessoal

conflituoso, morte e a dor física do sujeito hospitalizado, sofrimento dos familiares e

falta ou escassez de materiais.

Para Martino e Misko (2004) uma das fontes de estresse para a enfermeira

que atua em UTI é justamente o desequilíbrio emocional da equipe, conseqüência

de múltiplos fatores, aos quais todos estão submetidos por atuarem em unidades de

terapia intensiva.

Panizzon, Luz e Fensterseifer (2008) realizaram, estudo exploratório entre

profissionais da enfermagem atuantes em uma unidade de terapia intensiva com os

objetivos de identificar o nível de estresse e os fatores estressores e verificou-se que

o nível de estresse da população é alto e o principal fator estressor ê a carga de

trabalho. Todas as fontes de pressão no trabalho tiveram uma correlação

significativa positiva com o nível de estresse, sendo preditoras: a carga de trabalho,

dificuldades relacionadas com o cliente e processos e estrutura organizacional. Os

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resultados indicam a necessidade de mudanças gerenciais no setor para a

diminuição do estresse.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização do presente artigo permite dizer inicialmente que nos últimos

anos o setor de saúde tem passado por inúmeras transformações que visam,

sobretudo melhorar a qualidade dos serviços prestados no setor e atender as

necessidades dos usuários.

Dentre as inúmeras transformações ocorridas no setor, destaca-se a busca

pela capacitação dos profissionais participantes e o incentivo ao aprendizado

continuo, pois a valorização do potencial humano é uma premissa para o sucesso de

qualquer organização, incluindo as que participam do setor de saúde.

Verificou-se que o enfermeiro é um profissional que assume inúmeras tarefas

em seu cotidiano e o desenvolvimento dos processos de trabalho, assim como as

responsabilidades do processo de cuidar, aliada a situações adversas no ambiente

de trabalho (alta carga de trabalho, ausência de incentivos e infra-estrutura, falta de

segurança dentre outros) desencadeiam inúmeros fatores estressores que devem

ser analisados criteriosamente.

No que se refere ao ambiente de terapia intensiva, a literatura permite afirmar

que trabalhar em unidades de terapia intensiva provoca estresse ocupacional e

burnout nos médicos e enfermeiros intensivistas, contudo não há um consenso

sobre quais os fatores que precipitam estes fenômenos e como se expressam.

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Sugere-se a importância da orientação sobre estado emocional destes

profissionais, tanto para administrar a assistência aos pacientes como para si

próprios, conforme os achados na literatura.

Finalmente cabe dizer que embora na realidade brasileira o enfermeiro

freqüentemente recorra à palavra estresse, como forma de descrever a natureza do

seu trabalho, poucos estudos investigam o estresse desse profissional Assim,

sugere-se a continuidade de pesquisa para que sejam identificados com mais

eficácia os principais fatores desencadeantes dessa doença, propiciando, ao mesmo

tempo a utilização dessas informações para a proposição de estratégias e ações de

enfrentamento, controle e minimização do problema

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