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    SUM RIO

    PGINA

    1 INTRODUO ECONOMIA 03

    1.1 Conceitos bsicos 031.2 Fatores de produo 061.3 As teorias econmicas 09

    2 EVOLUO HISTRICA DAS DOUTRINASECONMICAS

    10

    2.1 O pensamento econmico: da Antiguidade aoSculo XVIII

    10

    2.2 A Doutrina Liberal e Individualista 162.3 As reaes socialistas 232.4 A teoria do neoliberalismo 23

    3 O MODELO IS-LM 25

    3.1 O mercado de bens e servios 253.2 O mercado monetrio 303.3 O equilbrio no mercado de bens e produtos e no

    mercado monetrio36

    4 O BALANO DE PAGAMENTOS E O CMBIO 44

    5 A DISTRIBUIO DE RENDA 52

    6 PERSPECTIVAS DA TEORIA ECONMICA 58

    6.1 A curva da demanda 586.2 A curva da oferta 616.3 O mecanismo do mercado 646.4 A elasticidade da demanda 676.5 As preferncias do consumidor 72

    REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS 78

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    1 INTRODUO ECONOMIA

    Neste captulo tratamos dos conceitos bsicos da economia, da definiodo termo economia, dos objetos principais da economia, e da sua diviso em teoriaseconmicas.

    1.1 Conceitos bsicosA palavra economia vem do grego oikonomia com as seguintes

    caractersticas:

    Cincia que trata dos fenmenos relativos produo, distribuio econsumo de bens [...].

    Sistema produtivo de um pas ou regio [...]. A arte de bem administrar uma casa [...]. Conteno ou moderao nos gastos; poupana [...]. Organizao dos diversos elementos de um todo [...]. Bom uso que se faz de qualquer coisa [...]. Conteno, moderao ou ausncia de desperdcio em qualquer atividade

    (Ferreira, 1999: Aurlio p. 716).

    Economia o estudo dos aspectos econmicos da vida e est situadadentro da rea das Cincias Sociais.

    As Cincias Sociais se ocupam dos diferentes aspectos docomportamento humano e so tambm caracterizadas como cincias docomportamento ou cincias humanas. A economia demonstra interdependncia comoutras reas como: tica, Filosofia, Direito, Antropologia, Psicologia, Sociologia ePoltica, entre outras. Baseados nestes aspectos, podemos usar a seguinte definiodo termo economia: A economia a cincia que estuda as formas decomportamento humano resultantes da relao existente entre as ilimitadas

    necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usosalternativos. (Robbins apud Rossetti, 2000; p. 52). Outra definio do termoeconomia a cincia que estuda o uso dos recursos escassos na produo dosmltiplos bens que a sociedade deseja (VICENCONTI, 2007. p. 2.).

    Na economia tratamos dos seguintes termos e fenmenos: meiosescassos, fins alternativos e ilimitveis, escolha e alocao. A interao ecomplexidade destes termos podem ser resumidas na sistematizao de Robbins,mostrada na prxima pgina.

    Por um lado, os meios ou recursos somente esto disponveis em

    quantidades limitadas. O indivduo ou uma empresa possuem recursos limitadoscomo dinheiro, instalaes de mquinas, quantidades de trabalhadores e outros. Por

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    outro lado, querem alcanar certos fins e satisfazer suas necessidades. Geralmente,estas necessidades so ilimitadas, pois o indivduo aps alcanar certo objetivo (acompra de um determinado produto), certamente desejar alcanar um objetivomaior. O mesmo ocorre com as empresas. Aps alcanar a colocao de umproduto num mercado, desejam aumentar sua participao neste mercado ou entrarem outros mercados. Isto significa que os objetivos aumentam cada vez mais. Oconflito fundamental est entre os objetivos a serem alcanados e os recursoslimitados. impossvel alcanar todos os objetivos desejveis ao mesmo tempo.

    Indivduos ou empresas precisam fazer escolhas. Os fins devem serdefinidos conforme os meios ou recursos disponveis. A determinao de alcanarum fim significa alocar recursos para este fim.

    Sistematizao de Robbins: Conflito fundamental na Economia

    Meios(ou recursos) escassos

    e limitados

    Fins(ou necessidades)

    mltiplos e ilimitveis

    Escolhas entre fins possveis emeios disponveis

    Alocaode recursos

    (custos)

    Consecuo dedeterminado fim

    No-consecuo deoutros fins

    Benefcio Custo deoportunidade

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    A alocao de recursos e o alcance deste determinado fim significam umbenefcio para o indivduo ou para a empresa. Mas, como os recursos so escassose o indivduo ou a empresa precisa escolher um fim, outros fins deixam de serrealizados. Estes benefcios no alcanados causariam os chamados custos deoportunidade. Teoricamente seria o custo que a no-realizao de um ou outroprojeto causaria ao indivduo ou empresa.

    Vejamos um exemplo prtico para ilustrar o problema principal daeconomia: a escassez de recursos e as possibilidades de produo. As premissas

    do modelo so:a) Os recursos produtivos so fixos.b) No h progresso tecnolgico, este considerado constante.c) possvel produzir somente dois produtos (produto A ou produto B).

    Fonte: VICENTONTI, 2007. p. 3.

    Podem ser produzidos dois tipos de televises, uma televiso do tipo A eoutra do tipo B. Existem 10 mquinas na rea produtiva e 20 trabalhadores. Estesfatores na produo so constantes, no existe possibilidade de contratar maistrabalhadores ou de comprar mais mquinas. Os fatores de produo soempregados de forma mais eficiente possvel e plena, nenhum equipamento enenhum trabalhador ficaria sem atividade. A empresa pode decidir produzir somentea televiso do tipo A e no produzir nenhuma televiso do tipo B. O grfico mostratodas as possveis combinaes de produo desta empresa em produzir televisesdo tipo A e B. Em seguida, podemos conectar os pontos de produo e chegamos a

    uma curva. Esta curva chamada de curva de possibilidades de produo.

    B

    A15

    4

    5

    6 11

    3

    2

    1

    018 20

    (6/4)

    (11/3)

    (15/2)

    (18/1)

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    Como todos os meios de produo esto operando, no existesubutilizao, ou seja, pontos abaixo da curva de possibilidades de produo noexistem. Todos os outros pontos da curva denominam quantidades mximas deproduo dos dois produtos A e B. Pontos acima desta curva tambm no podemser alcanados com os meios de produo disponveis. Se a empresa pretendessefabricar quantidades maiores teria que contratar mais trabalhadores ou comprarmais mquinas.

    Notamos que se a empresa decidir produzir uma unidade a mais de um

    produto, ter que abrir mo da produo de certa quantidade do outro. o problemacentral de economia, a escassez de recursos e a deciso qual produto deve serproduzido e qual no (ou em menor escala). Se partirmos do ponto de produzir 20unidades do produto A e 0 unidades do produto B, notaremos que a cada unidadeadicional de B que pretendemos produzir, teramos que abrir mo de quantidadescrescentes do produto A. Para produzir uma unidade de B teramos que deixar deproduzir 2 unidades do produto A (18/1). Em seguida, partindo do ponto (18/1)teramos que deixar de produzir 3 unidades de A para fabricar mais um produto dotipo B (15/2). No prximo passo, querendo produzir mais uma unidade de B jseriam 4 produtos de A que deixaramos de produzir (11/3), depois 5 de A (6/4) edepois 6 (5/0). Na economia trata-se de lei de rendimentos decrescentesou custo deoportunidade. Este fenmeno observado no dia-dia, na agricultura, quando numafazenda pretende-se substituir um cultivo (pasto) j adaptado s condies locaispor outro (trigo) ainda no adaptado. Outro exemplo transferir um trabalhador jexperiente na produo de certo produto para a produo de outro para o qualpossui menos experincia.

    1.2 Fatores de produoGeralmente, podemos dividir os fatores de produo de um pas em trs

    categorias:

    a) Terra (Recursos naturais).b) Trabalho (mo-de-obra).c) Capital.

    A Terrainclui todos os fatores de produo oriundos da terra que podemser utilizados na produo num determinado pas. No so considerados fatores deproduo elementos que no podem ser empregados na produo por motivostcnicos (falta de tecnologia disponvel para explorar). O solo frtil na agricultura fator de produo, como tambm um rio que borda a propriedade e cuja gua utilizada para a irrigao dos cultivos.

    O fator Trabalhocaracteriza a Populao Economicamente Ativa (PEA)de um determinado pas. A PEA inclui somente as pessoas de uma populao que

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    esto em idade de trabalhar. Desta populao, chamada de populao ativa,devemos descontar as pessoas que no esto procurando trabalho (donas de casae estudantes). A teramos a PEA, que se divide em Populao Ocupada ePopulao Desempregada.

    O Capital de um pas abrange todos os equipamentos, edificaes einstalaes empregados na produo deste mesmo pas. Quanto mais capital umpas possuir, maior a capacidade produtiva em comparao a outro pas. Tambm denominado estoque de capitalde uma economia e no deve ser confundido com

    capitalna linguagem financeira, quando falamos exclusivamente de dinheiro.

    Diante da capacidade limitada dos recursos produtivos e das necessidadesilimitadas dos consumidores, um sistema econmico precisa responder trsperguntas bsicas:

    a) O que deve ser produzido? (a sociedade escolhe diante da limitadacapacidade produtiva).

    b) Como estes produtos devem ser produzidos? (a sociedade escolhe quais dosrecursos escassos sero escolhidos da forma mais eficiente possvel).

    c) Quem o destinatrio do produto produzido? (a sociedade escolhe quemreceber os produtos, ou seja, para quem sero distribudos e quais asquantidades por destinatrio).

    No modelo simplificado de economia existem dois agentes econmicos,as unidades de produo representadas pelas empresas, e as unidades deconsumo, representadas pelas famlias. As famlias podem ser proprietrios dosfatores de produo atravs do fornecimento de mo-de-obra ou atravs dadisponibilizao de propriedades para as empresas. As empreses produzem bens eservios utilizando estes fatores de produo cedidos pelos proprietrios. Em trocadesta utilizao, os proprietrios recebem renda. Esta renda que as famlias

    recebem usada para a compra de bens e servios, denominada dispndio.A renda composta dos itens salrios (todas as remuneraes pelo

    pagamento do fator de produo trabalho), juros e lucros (todas as remuneraes dofator de produo capital) e aluguis (todas as remuneraes dos proprietrios dosrecursos terra e capital). Observe que o agente econmico denominado empresa distinto do seu dono que pertence ao agente econmico chamado famlia.

    Para responder a pergunta o que deve ser produzidoem uma economia,deve-se levar em conta as possibilidades de produo. Estas so determinadaspelos fatores de produo (oferta) e pelas necessidades das unidades consumidoras

    (demanda). A relao entre oferta e demanda determinar preos e quantidades deequilbrio (mecanismo de equilbrio de mercado). As necessidades so influenciadas

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    tambm pela distribuio aos destinatrios dos produtos produzidos (veja o ltimoitem).

    Modelo simplificado do funcionamento de uma economia (Adaptado de VICECONTI, 2007. p. 8).

    Os tipos de mercado (tipos de concorrncia entre os produtores)determinam como deve ser produzido, pois as empresas precisam adotar umprocesso produtivo do menor custo possvel para se impor num mercado. Contudo,o custo de produo distinto em mercados de concorrncia perfeita, monoplio ouoligoplio.

    A distribuio aos destinatrios dos produtos produzidos determinadapela contribuio de cada fator na produo. O fator mo-de-obra em um pas comgrande abundncia de mo-de-obra e pouco capital (mquinas, edificaes eequipamentos) recebe remunerao baixa, enquanto os juros e lucros recebem umaremunerao mais alta. Trabalho de mo-de-obra qualificada mais bemremunerado. Note que a remunerao aos destinatrios dos produtos influenciatambm na questo o que deve ser produzido em uma economia.

    1.3 As Teorias EconmicasAs teorias econmicas so baseadas na observao de fatos econmicos

    e na tentativa de descrev-los. Como qualquer cincia, a economia orienta-se afatos. Neste caso so fatos econmicos. Os economistas observam o ambienteeconmico de forma sistematizada a fim de descrever fenmenos econmicos. Apsa aplicao de testes cientficos nos resultados observados tentam definir princpios,

    teorias, leis e modelos da economia. Desta base, desenvolvem as teoriaseconmicas.

    Empresas

    (unidades de produo)

    Famlias

    (unidades consumidoras)

    Bens e servios

    Fatores de produo

    RENDA (pagamento pelo uso dos fatores de produo)

    DISPNDIO (pagamento pela compra de bens e servios)

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    Teoria Econmica

    A teoria econmica pode ser dividida em duas reas principais: amacroeconomiae a microeconomia. Em geral, a macroeconomia trata da economiacomo um todo, ou seja, do conjunto dos participantes dos mercados. Amicroeconomia dedica-se ao comportamento dos indivduos e das empresas deforma mais isolada.

    Teoria Econmica

    Macroeconomia(do grego makrs grande) Microeconomia(do grego mikrs pequeno) Contabilidade Social, sistemas de

    contas nacionais. Anlise de macrovariveis: renda,

    consumo, poupana, investimento,exportaes, importaes, tributos edispndios pblicos, oferta edemanda monetria.

    Teoria do consumidor. Teoria da produo. Teoria dos custos (da empresa). Estrutura concorrencial e equilbrio dos

    mercados.

    Exemplos de leis da economia: Lei da demanda e da oferta, lei dos rendimentosdecrescentes, etc.

    Fatos econmicos Observao sistematizadado mundo real

    Economiadescritiva

    Teoria Econmica(Princpios, teorias, leis e modelos da economia)

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    2.EVOLUO HISTRICA DAS DOUTRINAS ECONMICAS

    No captulo 1 aprendemos que Economia uma cincia. Cincia definida como a observao e explicao de fatos econmicos. A cincia, em geral, neutra, objetiva. Neste captulo tratamos de doutrinas.

    Conforme o dicionrio Aurlio, uma doutrina um 1. Conjunto deprincpios que servem de base a um sistema religioso, poltico, filosfico, cientfico,etc. [...] 3. Ensinamento, pregao. 4. Opinio de autores. 5. Texto de obras escritas.

    6. Regra, preceito, norma [...] (FERREIRA, 2004. p. 703.). Hugon define doutrinacomo um projeto de organizao da sociedade, tal como seu autor a julga melhor.Ela contm os elementos da poltica econmica escolhida para realizar aorganizao desejada (HUGON, 1980. p. 21.). Uma doutrina representasubjetividade, pois nela esto contidos interesses individuais ou coletivos, posiespolticas e filosficas ou atitudes psicolgicas (HUGON, 1980). bvio quediferentes doutrinas econmicas so desenvolvidas durante o tempo. Dependem dacultura, da prosperidade, da educao e de inmeros outros fatores. So dinmicas,orientam-se s sociedades do respectivo perodo, ou seja, podem estar atualizadosnum perodo numa determinada sociedade, mas podem estar obsoletas quandosurgirem tendncias novas. Em seguida, veremos que novas doutrinas econmicassurgiram com o tempo, muitas vezes uma contrria a outra.

    2.1 O pensamento econmico: da Antiguidade ao Sculo XVIIIAs primeiras referncias conhecidas Economia encontram-se nos

    trabalhos de Aristteles (384-322 a.C.). Ele estudou aspectos de administraoprivada e finanas pblicas. Plato (427-347 a.C.) estudou a diviso do trabalho. Eledescobriu a sua necessidade e suas vantagens. Porm, Plato opinava que asvantagens da diviso de trabalho teriam como conseqncia o surgimento de umapopulao densa demais. Preferiu, pois, abrir mo das vantagens da diviso detrabalho para evitar as inconvenincias de uma populao em excesso.

    No captulo que trata da introduo economia, aprendemos que o termooikonomia vem do grego.

    Nos sculos IV e III a.C. pde se observar o desenvolvimento de umavida econmica de trocas. A Grcia crescia rapidamente, devido s novasconquistas de territrios e riquezas. O comrcio era absolutamente necessrio, poisas terras gregas eram compostas de solos pouco frteis e rochosos para alimentar agrande populao que habitava dentro de suas fronteiras. Se referirmos s doutrinaseconmicas e os fatores que as influenciavam, podemos pensar numa tendnciaatravs de um pensamento econmico florescente. Contudo, este no foi o caso.

    Nesta poca, a filosofia exercia uma grande influncia em todos os pensamentos,inclusive no pensamento econmico.

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    A filosofia grega pregava a preponderncia do geral sobre o particular, aigualdade e o desprezo da riqueza. Como a Grcia vivia em constantes guerras, oindivduo tinha a obrigao de sacrificar-se pela sociedade. O bem-estar individualvem em segundo lugar, primeiro vem a segurana e a prosperidade de todos. Oprincpio da igualdade significava que numa terra de meios econmicos limitados(solo) se algum enriquecesse seria custa das perdas de outrem, ou seja,problemas de ordem econmica seriam as conseqncias. Todas as terras deviamestar divididas de forma igualitria, caso que houvesse algum desequilbrio, ocasamento entre rico e pobre era obrigatrio. At mesmo a quantidade da populao

    estava sujeita a uma quantidade definida para evitar o desequilbrio desta igualdade.O desprezo da riqueza significava que qualquer objeto de riqueza era consideradoum obstculo felicidade e que o homem devia ter como objetivo desistir dequalquer objeto desta natureza. Conforme a filosofia, o mais importante para ohomem era se preocupar com a vida da alma, depois com os cuidados do corpo esomente depois, com a riqueza. Esta tendncia filosfica parece extremamenteantieconmica, pois impedia o desenvolvimento da riqueza.

    Mesmo assim, na antiga Grcia encontramos os primeiros elementos degrandes doutrinas econmicas, as correntes individualista, socialista eintervencionista.

    A corrente individualista, representada por Hpias e Protgoras (sculos Ve IV a.C.), questionava a supremacia do Estado em relao ao indivduo. Elestentaram reativar o trabalho individual e criticaram o trabalho somente para a cidade.Tambm no concordavam com o desprezo pela riqueza e o intervencionismo doEstado na vida do cidado e na economia. Esta corrente no conseguiu conquistargrande divulgao, pois seus principais defensores eram escritores menosconhecidos.

    A corrente socialista era representada por Plato. Para o filosofa, a

    sociedade ideal era composta por guerreiros, magistrados e trabalhadores manuais.Somente os homens livres, que eram os guerreiros e magistrados, incluindo seusservidores, eram os senhores da cidade. O princpio do desprezo riqueza era ofundamento do comunismo e conforme o princpio da igualdade, os homens livresestavam sujeitos ao comunismo absoluto (de bens, de mulheres e de filhos). Nestasociedade reinava a justia. Esta era a garantia de que o homem livre podia dedicar-se quase que exclusivamente poltica e aos estudos de filosofia. O mnimonecessrio era reservado Economia. Para o trabalhador manual no havia lugarnesta organizao, comerciantes e artesos no eram bem vistos e somente oagricultor merecia considerao razovel.

    A terceira corrente o intervencionismo de Aristteles. Ele criticavaprofundamente a corrente representada por Plato e defendia a oposio entre o

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    comunismo e a propriedade (a famlia). Porm, concordava com a supremacia doEstado sobre o indivduo. Por exemplo, o estado precisava intervir para manter aestabilidade demogrfica, ou seja, devia impor restries populao caso que areproduo alcanasse taxas expressivas. Resumindo, tratava-se de umintervencionismo mais moderado.

    No podemos necessariamente falar de doutrinas econmicas na Grcia,mas encontramos elementos importantes que mais tarde seriam fragmentos paradoutrinas econmicas posteriores.

    Na antiga Grcia aparecem tambm as primeiras idias monetrias.Aristteles distinguia duas economias, a natural, que era a economia domstica, e ano-natural, que era a economia mercantil. A economia natural era base de troca,a o-natural era base de troca atravs de moeda. Aristteles considerava asegunda economia censurvel, pois no considerava as necessidades pessoais esim tambm a revenda. Aristteles j examinava os processos desta economia no-natural: o lucro comercial, o lucro usurio (o juro) e o lucro industrial. Tambm interessante que Aristteles j distinguia trs funes da moeda: facilitador detrocas, instrumento de comparao de valores e reserva de valor.

    Enquanto a Grcia era um pas pequeno, o Imprio Romano abrangiagrandes territrios. Por isto, seu pensamento econmico era influenciado pelapoltica. Sua poltica visava assegurar o poder de dominao do Imprio Romano e ariqueza era apenas um meio para conseguir este fim, mas no servia para gerarbem-estar. As provncias eram obrigadas a abastecer Roma com alimentos esuprimentos de qualquer natureza. O prprio romano era apenas consumidor, noqueria ser produtor, sua funo era puramente poltica. A agricultura, cujas tcnicasforam melhoradas pelos romanos, era exercida pelos escravos e no pelosromanos. Pequenas propriedades eram transformadas em grandes latifndios. Nemas artes, ofcios industriais e o comrcio eram atividades consideradas adequadas

    para um homem livre. Todo o sistema produtivo e de transporte (as grandes vias eaquedutos) serviam exclusivamente para abastecer as tropas que protegiam ospontos fronteirios do Imprio Romano.

    Da mesma forma, como constatamos na antiga Grcia, tampouco noImprio Romano desenvolveu-se uma doutrina econmica. Eram apenaspensamentos econmicos desenvolvidos pelos tericos romanos. Estespensamentos podem ser divididos em idias intervencionistas e individualistas.

    A corrente de idias intervencionistas teve sua origem nas prolongadasguerras e na lentido do transporte que causaram diversos problemas de

    abastecimento no Imprio Romano. Trigo era distribudo abaixo do preo demercado, havia uma garantia para o fornecimento gratuito aos indigentes e a

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    distribuio de po era feita diretamente pelo Estado. Estas medidas, com o intuitode melhorar o abastecimento da populao, causaram srias conseqncias, comoo aumento do dficit pblico, da corrupo e de fraudes na distribuio. Estaregulamentao afetou o sistema produtivo diretamente, como o preo do mercadono era mais obtido, a agricultura deixou de ser uma atividade bem remunerada ecomeou a entrar em decadncia. Os produtores somente podiam vender seusprodutos aos compradores oficiais do Imprio. Tudo comeou a ser regulado, asemeadura, a colheita e o transporte dos produtos que era monopolizado peloEstado. Outro efeito negativo foi a falta de incentivos populao indigente para

    exercer atividades produtivas. Vrios escritores (scriptores de re rustica) criticavamesta regulamentao. Segundo eles, Roma precisava retornar a valorizar a terra emvez de regulamentar tudo a fim de resolver os problemas de abastecimento.

    As idias individualistas foram desenvolvidas pelos jurisconsultosromanos. Estabeleceram a propriedade privada e o direito das obrigaes doscidados. Estes trabalhos no ganharam importncia em Roma, porm, no sculoXVIII foram redescobertos pelos fisiocratas e clssicos e serviram de base para suasdoutrinas econmicas.

    Como pudemos constatar, gregos e romanos, apesar de no teremdesenvolvidas doutrinas econmicas propriamente ditos, deixaram os fundamentospara as doutrinas econmicas posteriores.

    O fim do Imprio Romano significou o comeo da Idade Mdia (sculos Vao XIV). Com a queda de Roma iniciava-se um processo de diversas guerras einvases brbaras, deixando grandes destruies por toda a Europa. O feudalismocriava pequenas reas de domnio, causando uma fragmentao poltica eeconmica. A falta de manuteno das vias de transporte criadas por Romaaumentava a isolao de muitas regies. Os habitantes de uma pequena regioforneciam exclusivamente para seus senhores. O comrcio e a troca regional no

    existiam mais. As moedas como meio de troca eram aceitas somente de formainterna. No sculo XI comeou um perodo de prosperidade. A Igreja e a Realezaconseguiam restabelecer a ordem social e a organizao poltica. As cidades setornavam os novos centros do comrcio onde se negociava mercadorias. Ofereciamproteo aos seus habitantes contra o excesso dos seus senhores e assaltantes dascaravanas. Os habitantes das cidades se organizavam em associaes edesenvolviam a diviso do trabalho (manufatura). Fora das cidades, situavam-se oscampos agrcolas, que com a prosperidade das cidades deixavam de ser sistemasde sustento e se transformavam em fornecedores de produtos agrcolas para acidade. O maior volume do comrcio intra-regional exigia investimentos nas vias detransporte e possibilidades de crdito, entre outras. Em 1096 iniciou-se a Primeira

    Cruzada e o retorno ao comrcio no Mar Mediterrneo. Os exrcitos precisavam serabastecidos e o encontro das culturas ocidental e oriental permitia maiores trocas

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    comerciais e a descoberta de novas tcnicas. Mesmo que diversas guerras eepidemias tivessem causado grandes distrbios, na Idade Mdia iniciou-se a voltado mercado regional. As idias econmicas sofriam forte influncia da Igreja quepregava a moderao referente propriedade e ao lucro. Devia-se conseguir oequilbrio de tudo, principalmente obter justia nas trocas de mercadorias e servios,ou seja, preo justo e salrio justo. A propriedade particular era admitida, tratava-sede um direito, porm, impunha tambm deveres de ordem social. A propriedadetinha forte ligao com o crescimento populacional. O homem podia possuir tantaspropriedades quanto sua atividade lhe permitia adquirir, sempre relacionadas as

    suas possibilidades fsicas e intelectuais (crescimento da famlia). Contudo, oexcesso era condenado, pois a conseqncia seria um desequilbrio social. Apropriedade tinha que atender a necessidade econmica do seu proprietrio e, aomesmo tempo, estar dentro dos limites para no causar prejuzo para o interessesocial. O trabalho humano era considerado essencial, condenava-se a ociosidade.Dois tipos de trabalho eram distinguidos: o trabalho para obter riquezas utilizveisdiretamente pelo homem e o trabalho para obter riquezas artificiais. O primeiro, queinclua a agricultura, era bem visto, o segundo com ressalvas, porm, pouco a poucovinha melhorando sua imagem enquanto se movia entre no lesionar a sociedade edar utilidade para seu consumidor.

    Referente moeda, havia constantes mutaes monetrias. Os reisconsideravam a moeda como propriedade particular deles. Havia necessidade deajustar as moedas devido a menores arrecadaes de impostos e crescentesdispndios pblicos. Porm, na Idade Mdia, esta poltica comeava a afetarseriamente os comerciantes, pois a moeda com suas constantes mutaesrepresentava um obstculo nas relaes de troca entre os comerciantes. Orsmecontestava a opinio dos reis de que a moeda era assunto pessoal deles.Argumentava que, como era meio de troca, pertencia aos comerciantes e coletividade. Existiam cinco formas de mutaes monetrias:

    a) Mutao da efgie (quando um novo prncipe mandava fabricar novaspeas com seu cunho. Somente era aceitvel se as moedas com ocunho antigo continuassem em circulao com a mesma relao detroca).

    b) Mutao de proporo (quando era mudada a relao legalestabelecida para os valores dos dois metais ouro e prata empregados como moeda. Somente era aceitvel se o valor dosmetais como mercadorias tambm variasse).

    c) Mutao nominal da moeda (quando o soberano modificava os preosestabelecidos).

    d) Mutao do peso da moeda (quando o soberano reduzia o peso de

    uma moeda sem mudar o nome).

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    e) Mutao da matria (quando o rei mandava substituir um metalprecioso por outro e alterava as propores das ligas).

    Estas crticas tiveram como conseqncias que o soberano levava emconsiderao o interesse social e agisse de forma moderada e equilibrada, que eramos elementos fundamentais da Idade Mdia.

    O mercantilismo (entre 1450 e 1750) pode ser considerado a primeiraescola econmica. Surge no sculo XVI o Renascena, que teve como

    conseqncia a ressurreio de um novo esprito para a civilizao. Anteriormente, aIgreja dominava o pensamento econmico pregando a moderao. Com oRenascena surgiu a curiosidade do saber, do bem-estar, do consumo e do luxo. Asvias de transporte eram expandidas, viagens mais longas traziam novas idias ebens exticos, residncias nobres eram erguidas e tcnicas de imprensamelhoradas. Criou-se o lema rien de trop (nada demais), ou seja, no havialimites para o descobrimento do homem e do mundo. Todos estes fatos favoreceramo desenvolvimento de atividades econmicas. O mundo se distanciava das idias daIgreja sobre a austeridade, o movimento da Reforma surgiu. Joo Calvino(Calvinismo) defendia a atividade econmica e se opunha ociosidade do homem.Para ele, o sucesso profissional somente podia ser alcanado na busca do lucro.Concordava com o emprstimo a juros, pois a funo bancria podia impulsionar aeconomia. Sem dvida alguma, este movimento de reformas foi a base do futuroesprito capitalista.

    Na Idade Mdia havia o feudalismo com pequenas reas dominadas pordiversos senhores. No Renascena comeavam surgir monarcas mais fortes,capazes de unir grandes territrios. Estes grandes territrios se transformaram emunidades polticas e econmicas, tornando o comrcio um negcio pblico e nomais exclusivamente privado, como era considerado na Idade Mdia. Surgiram asnaes e com isto, era necessrio o desenvolvimento de uma poltica econmica, ou

    seja, de uma doutrina econmica para defender seus interesses nacionais.Outro fator importante para o desenvolvimento econmico foi o fator

    geogrfico. Com a utilizao da bssola e a inveno da caravela pelos portuguesespara enfrentar a navegao em alto mar, os europeus descobriram novos lugares(frica, Amrica do Norte e do Sul, as ndias) e diversas mercadorias novas,principalmente metais preciosos, chegavam em grandes quantidades. Observava-seum forte aumento de preos das mercadorias. O Rei Carlos IX da Frana ordenouexaminar a causa deste problema. Descobriu-se que o aumento dos estoques demetais preciosos causava o aumento dos preos (Jean Bodin e sua a teoriaquantitativa em 1658). Contudo, concluiu-se de forma equivocada que a riqueza de

    um pas dependia exclusivamente da quantidade do seu estoque de metaispreciosos, ou seja, quanto mais metal precioso um pas possua, mas rico era. A

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    Espanha servia de base para esta concluso, era o pas que mais possua metaispreciosos e era considerado naquela poca o pas mais rico. Na verdade, osmercantilistas no achavam que a quantidade de metais preciosos em estoque deum pas era o nico indicador de riqueza, mas era o indicador mais importante. Osmetais preciosos no estragavam, tinham sua durabilidade e a conservao do seuvalor garantido. Tambm era importante um estoque alto de metais preciososmantidos por um pas para estar preparado para guerras e corromper os inimigos.Esta teoria metalista era a base da doutrina econmica dos mercantilistas. Existiamcinco formas de mercantilismo: a espanhola, a francesa, a inglesa, a alem e a

    fiduciria. O objetivo de todos era o mesmo. A forma francesa chamada tambmde mercantilismo industrialista ou de colbertismo (Jean Baptiste Colbert, ministro dasfinanas da Frana). Como os franceses no possuam minas de ouro ou prato noexterior (como os espanhis) tratavam de conseguir metais preciosos atravs daexportao de seus produtos mais industrializados. A indstria era promovida emdetrimento da agricultura. Incentivava-se o crescimento populacional para aumentara produo industrial e para dispor de mais homens para seus exrcitos. O consumode bens de luxo era proibido e existiam salrios mximos para no encarecer aproduo industrial e continuar ser competitivo em comparao a outras naes.

    2.2 A doutrina liberal e individualistaEm 1725 e 1740 ocorreram duas crises graves na Frana. Como os

    mercantilistas favoreciam o desenvolvimento da indstria em detrimento daagricultura, a populao rural vivia em misria. O Estado seguia uma poltica deintervencionismo cada vez mais rigorosa e arbitrria. Surgiu ento a oposio entreos interesses dos indivduos e os interesses do Estado.

    A escola fisiocrataA escola fisiocrata foi a primeira escola econmica. Os fenmenos de

    misria no campo observados e o intervencionismo excessivo do Estado exigiamuma resposta em forma de teorias para acabar com tais condies. O mdico

    francs Dr. Franois Quesnay foi seu maior defensor. Conforme os fisiocratas(fisiocracia regras da natureza) a terra era a nica fonte de riquezas. Existia umaordem natural com leis naturais, absolutas e imutveis. Qualquer interveno eraproibida. Quesnay desenvolveu a tabla econmica (tableau economique) em queexplicava o funcionamento de um sistema econmico fechado baseado nas leisnaturais. Havia trs classes: os trabalhadores produtivos, os trabalhadores estreis eos proprietrios da terra. As classes trocavam mercadorias e preos num perodo deum ano em que se supunha preos estveis. O comrcio era livre, existia o sistemacapitalista de aluguel de terra e no havia distino entre fatores produtivos e bensprodutivos. Tratava-se do primeiro modelo para desenhar a economia de um pas. Osistema de Quesnay tomava como base a agricultura da qual dependiam as outras

    classes.

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    Posteriormente, o tableau economique de Quesnay recebeu muitoselogios, como por exemplo, por reconhecer o direito propriedade sobre a noo dautilidade social e por destacar a liberdade econmica. Contudo, recebeu tambmcrticas. Reclamava-se a excessiva importncia da agricultura como nica fonte deriqueza sem considerar a produtividade da indstria e do comrcio.

    A teoria clssicaAdam Smith (1723-1790), filsofo e economista escocs, considerado o

    pioneiro da teoria econmica clssica. Sua obra mais conhecida, A riqueza das

    naes, foi publicada em 1776. Nesta obra, Smith tratava diversas questeseconmicas, como as leis de mercado, aspectos monetrios e distribuio dorendimento da terra. Finalizou sua obra com recomendaes polticas.

    Smith concordava com os fisiocratas em alguns pontos, por exemplo,defendia o laissez-faire, ou seja, os mercados deviam funcionar livremente, semintervencionismo do Estado. Os fisiocratas consideravam a agricultura o elementocentral de sua teoria, mas para Smith, a diviso de trabalho era o ponto central desua obra. O fundamento da riqueza das naes era a diviso do trabalho, pois esteera o fator decisivo para aumentar a produo de um pas (teoria do valor-trabalho).Diviso de trabalho significava que cada trabalhador devia se especializar em uma

    tarefa. Este mtodo contribuiu para a economia de tempo e aperfeioamento dosmtodos para a inveno de novas mquinas e tcnicas. Outra conseqncia

    Produtores

    - agricultores- ganadeiros- pescadores

    Proprietrios da terra

    - aristocratas- clero

    Trabalhadores estreis

    - artesos- mercadores

    Compram 1 bilho dostrabalhadores estreis

    Compram 1 bilho deprodutos artesanatos

    Compram 1 bilho deprodutos de subsistncia e1 bilho de matria-prima

    Compram 1 bilho dosprodutores

    Pagam 2 bilhes aos

    proprietrios

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    desejada da diviso do trabalho era o incentivo troca de produtos distintos quecriava novos mercados ainda inexistentes. Novos mercados significam novasiniciativas privadas e novas divises de trabalho com novos aumentos deprodutividade e maior nmero de trocas. importante destacar que Adam Smithconsiderava dois fatores importantes na avaliao da produtividade de trabalho: arelao entre populao ativa e inativa e a eficcia do trabalho, ou seja, no oelemento quantitativo do trabalho (tempo empregado), mas o rendimento deste.

    Adam Smith opinava que o papel do Estado na economia devia ser

    apenas para proteger a sociedade contra eventuais ataques e para criar algumasobras necessrias. O Estado no devia intervir nas leis de mercado e na prticaeconmica. Conforme Smith, os participantes dos mercados, que buscavammaximizar os lucros, promoveriam automaticamente o bem-estar de todos.

    Referente ao comrcio exterior, Smith defendia um comrcio livre sembarreiras. Desta forma, a diviso de trabalho podia ser feita de forma internacional.O mundo seria uma grande oficina e o trabalho executado onde era mais econmico(que exigia menor tempo para ser realizado) conforme as condies regionais. Astrocas que seguiam aumentariam ainda mais a riqueza de todas as naes. Aentrava outro fator na teoria de Smith: a acumulao de capitais. A liberdade docomrcio exterior descrita facilitaria a acumulao de capital. Capital se acumulariadevido diferena entre o valor produzido e o valor consumido na produo. Poristo, o capital deveria ser empregado onde a produo fosse a mais econmicapossvel. O livre comrcio permitia esta aplicao em diversas regies, resultandonuma maior riqueza para todos os pases.

    Vejamos um exemplo numrico da teoria das vantagens absolutas ecomo dois pases conseguem aumentar seu capital atravs de especializao detrabalho e livre comrcio entre eles:

    Frana IrlandaProduo de 1 unidade em Produo de 1 unidade emRoupa 20 horas 10 horasCarvo 10 horas 20 horas

    Existem dois pases que produzem roupa e carvo ao mesmo tempo. AFrana produz uma unidade de roupa em 20 horas, a Irlanda em 10 horas. Naproduo de carvo, a relao contrria. Suponhamos que a necessidades decada pas seriam duas unidades de carvo e duas unidades de roupa. Tanto aFrana quanto a Irlanda empregariam 60 horas na produo de duas unidades cada.

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    Frana IrlandaProduo Total Consumo

    (Unidades/Horas)Produo Total Consumo

    (Unidades/Horas)Roupa 2

    4 / 602

    4 / 60Carvo 2 2Vantagens absolutas sem comrcio exterior

    Numa economia com comrcio exterior, a Frana produziria somentecarvo, pois consegue produzir uma unidade em 10 horas, enquanto a Irlandaprecisaria de 20 horas. Empregaria todas as 60 horas disponveis na produo de 6

    unidades de carvo. A Irlanda, mais produtiva no item roupa, concentrar-se-ia nesteproduto, alcanando 6 unidades em 60 horas disponveis. Como cada pas temnecessidades de 2 unidades cada, poderiam vender o excedente de produo parao outro. O resultado seria um aumento de produtividade de 50%, j que os doispases ficariam com trs unidades de cada produto, sem aumentar a quantidade dehoras trabalhadas.

    Frana IrlandaP I E Total Consumo

    (Unidades/Horas)P I E Total Consumo

    (Unidades/Horas)Roupa 0 3 0 3 / 00 6 0 3 3 / 60Carvo 6 0 3 3 / 60 0 3 0 3 / 00Vantagens absolutas com comrcio exterior (P produo; I Importao; E Exportao)

    David Ricardo (1772-1823), economista ingls, era outra grandepersonalidade da teoria clssica. Os principais trabalhos de Ricardo foram: Osprincpios da poltica econmica e poltica de impostos; As teses sobre a influnciade preos baixos de cereais nos lucros de capital e A teoria das vantagenscomparativas.

    Os trabalhos de Ricardo foram motivados pelo conflito entre os interessesda indstria e da agricultura. Apesar de a Inglaterra ter sido o bero da

    industrializao e ter possudo o monoplio da navegao com bloqueio do resto daEuropa, o continente conseguiu desenvolver indstrias que agora competiamdiretamente com o prprio setor. Ricardo descobriu que a indstria britnica noproduzia a preos competitivos devido ao alto custo de vida neste pas. Segundoele, os altos impostos de importao para trigo eram os responsveis pelo elevadocusto de vida. Sobre a chamada lei dos cereais(Corn Law), a agricultura de cereaisna Inglaterra recebia alta proteo de seus produtos. Como os impostos deimportao sobre cereais eram excessivamente altos, podiam vender seus produtosno mercado nacional tambm a preos elevadssimos, porm, ainda um pouco maisbarato que um produto possivelmente importado agregado de imposto. O custoelevado de um produto vital tinha como conseqncia maiores salrios para os

    trabalhadores nas indstrias, estes por sua vez, encareciam a produo industrial.Os agricultores nacionais e proprietrios das terras recebiam tranquilamente suas

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    rendas, mas os industriais e capitalistas no conseguiam obter lucros considerveis,absolutamente importantes no processo de acumulao de capital e investimento noprocesso produtivo. Ricardo concluiu que as taxas de importao sobre cereaisdeviam ser reduzidas para tornar a indstria britnica novamente competitiva.

    Mais tarde, Ricardo desenvolveu a teoria das vantagens comparativas(comrcio exterior). Aprendemos da obra de Adam Smith (A riqueza das naes)que um pas deve se especializar na produo de produtos para as quais apresentaa estrutura de custos mais competitivos. Ricardo afirmava que um pas, mesmo que

    no tivesse a vantagem absoluta poderia produzir de forma mais competitiva queoutro, resultando numa diviso de trabalho e elevao do bem-estar para os doispases. Vejamos o exemplo a seguir:

    Frana Turquia

    PoPadeiros Produtividade Produo Total Padeiros Produtividade Produo Total

    10 20 200 30 4 120

    PeixePescadores Produtividade Produo Total Pescadores Produtividade Produo Total

    10 20 200 10 12 120

    A Frana possui 10 padeiros e 10 pescadores, cada um produzindo 20

    unidades por dia, resultando numa produo total de 200 pes e 200 peixes por dia.Com 30 padeiros e 10 pescadores, a Turquia consegue produzir 4 pes e 12 peixespor dia, respectivamente, totalizando 120 pes e 120 peixes por dia. Numaeconomia sem comrcio exterior os dois produziriam 320 pes e 320 peixes por dia.

    Frana Turquia Produo TotalPo 10 x 20 = 200 30 x 04 = 120 200 + 120 = 320Peixe 10 x 20 = 200 10 x 12 = 120 200 + 120 = 320Possibilidades de produo sem comrcio exterior:

    Pela teoria das vantagens absolutas de Smith, no haveria comrcio

    exterior, pois tanto na produo de po quanto na produo de peixe a Franalevaria a vantagem. Contudo, neste caso, deve se determinar para qual produto arelao da vantagem produtiva maior:

    Vantagem comparativa da Frana referente produo de po: 20-04 = 16Vantagem comparativa da Frana referente produo de peixe: 20-12 = 08

    A vantagem da Frana na produo de po maior (16) do que naproduo de peixe (08). Conclui-se que a Frana produziria o po, a Turquia o peixee depois compram do outro o produto que no esto mais produzindo.

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    Frana Turquia Produo TotalPo 20 x 20 = 400 0 400 + 0 = 400Peixe 0 40 x 12 = 480 0 + 480 = 480Possibilidades de produo com comrcio exterior:

    O resultado uma maior produo de po (400) e de peixe (480) queresulta numa produo adicional de 80 pes e 160 peixes com comrcio exterior.David Ricardo tambm concluiu que no a quantidade de dinheiro num pas, nemo valor monetrio desse dinheiro que determinava a riqueza de uma nao.

    Thomas Malthus (1766-1834), cujo pai possua grandes extenses deterra, foi um economista britnico, filsofo social e pastor da igreja anglicana. Suateoria mais conhecida, A teoria dos princpios da populao), examinou a relaoentre o crescimento da populao, a produo de alimentos e seus impactos naeconomia. Malthus chegou concluso de que a terra tivesse limites deprodutividade e no conseguiria acompanhar o crescimento populacional. Aconseqncia seria um limite populacional dado pela prpria capacidade produtivada terra. Segundo o economista, o crescimento da populao era geomtrico, porexemplo, cada casal teria quatro filhos e todas as geraes seguintes seguiriam esta

    mesma lgica (sempre se multiplicando pelo mesmo fator). Contudo, a produtividadeagrcola cresceria somente de forma aritmtica, por exemplo, 20% ao ano, mas apseste acrscimo no teria mais a mesma expanso. Isto levaria a uma situao emque a terra no poderia mais alimentar sua populao e que a economia estariasujeita a limites de desenvolvimento. Somente fatores como a misria, o vcio e aconteno moral poderiam limitar este crescimento populacional. Malthus defendia oadiamento de casamentos e a limitao voluntria de nascimentos nas famliaspobres. Segundo ele, at guerras seriam teis em reduzir o crescimentopopulacional.

    Os crticos da teoria de Malthus alegam que ele no previu o progresso

    tecnolgico na agricultura e as tcnicas de controle de natalidade para aumentar aproduo agrcola e conter o crescimento geomtrico da populao.

    John Stuart Mill (1806-1873), filsofo e economista britnico, descreveuno seu trabalho Fundamentos da economia poltica, o crescimento econmicocomo uma situao de estagnao. Opinava que aps um perodo de crescimentoeconmico e alcance de uma vida de prosperidade para todos, chegaria um perodode estagnao. Contudo, esta situao de estagnao econmica no significariaautomaticamente uma estagnao de progresso intelectual, cultural e cientfico efalta de mercadorias e servios. A estagnao se daria exclusivamente na rea deacumulao de capital e de crescimento populacional. Nesta situao, ningum seria

    pobre, ningum queria ser mais rico e ningum precisaria se preocupar com osesforos de alguns que queriam avanar enriquecendo a custas dos outros. Para

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    Mills, a voracidade pelo crescimento econmico era vcio e prejudicava a populao.Se o ser humano abdicasse a este vcio, os avanos culturais, sociais e ticosseriam muito maiores. Atividades de renda no estariam afetadas pela estagnaoeconmica. A nica diferena seria que melhoramentos na indstria serviriam paraseu propsito original, que era a reduo do trabalho manual, e no o aumento darenda dos capitalistas (retentores de capital).

    Jean-Baptiste Say (1768-1832), francs, economista e empresrio,desenvolveu a teoria da oferta. Segundo ele, no existiam problemas de demanda

    na economia, pois a produo gerava renda e esta por sua vez criava a demanda.Conforme Say, a economia era dividida em produo, distribuio e consumo.Fatores de produo eram trabalho, terra e capital. Say defendia impostos reduzidose criticava uma posio dominante do Estado e da Igreja. Ele considerava somenteo monoplio do Estado na emisso de moedas vlido. Nas outras reas, o Estadodevia permitir a maior liberdade possvel para os homens, pois esta possibilitaria aoser humano desenvolver as suas capacidades da melhor forma possvel. Umacondio indispensvel para a liberdade era o direito propriedade. Este permitia aacumulao de capital, a formao do preo de mercado com intercmbio demercadorias, o incentivo ao trabalho, a diviso de trabalho e a gerao de riquezas.

    A teoria neoclssicaOs economistas neoclssicos mais importantes foram Alfred Marshall,

    Len Walras, Eugene Bhm-Bawerk, Joseph Alois Schumpeter, Vilfredo Pareto,Arthur Pigou e Francis Edgeworth. Como os neoclssicos acreditavam naautoregulamentao dos mercados (atravs do mecanismo de oferta e demanda),no se preocuparam com a poltica e planejamento macroeconmico. Elesanalisaram aspectos microeconmicos, como o comportamento do consumidor e ateoria marginalista. Schumpeter desenvolveu a teoria do desenvolvimentoeconmico, Bhm-Bawerk a teoria do capital e dos juros. Os neoclssicos aplicavammtodos matemticos para explicar as suas teorias.

    A teoria keynesianaJohn Maynard Keynes (1883-1946), ingls, economista, matemtico e

    poltico, foi um dos economistas mais importantes do sculo XX. A crise econmicamundial que comeou em 1929 e se alongava, fez com que ele duvidasse dasteorias do laissez-faire em que o Estado no intervinha na economia. Durante apesada crise econmica mundial era bvio que o sistema de equilbrio do mercadosem intervenciosmo pelo Estado no conseguiria recuperar o crescimentoeconmico. Segundo ele, o prprio setor pblico precisava aumentar sua demandapara gerar um impulso da demanda geral. Em tempos de crise, o setor pblicosubstituia a falta de demanda pelo setor privado at que este se recuperasse para

    gerar uma nova demanda firme. O Estado podia usar as ferramentas de polticamonetria e fiscal para criar esta demanda adicional, resultando num novo equilbrio

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    do mercado. Em outras palavras, no era a oferta que gerava sua demanda, pelocontrrio, a demanda criava a oferta.

    2.3 As reaes socialistasA teoria do marxismo foi desenvolvido pelo economista alemo Karl Marx

    (1818-1883), apoiado de Friedrich Engels (1820-1895). Marx desenvolveu o conceitada mais-valia. Segundo Marx existiam duas classes sociais, a classe capitalista, ouseja, a burguesia que possuia os meios de produo, e o proletariado que somentepossuia sua fora de trabalho para vender e assim garantir sua subsistncia. O

    trabalhador recebia remunerao pelo capitalista, mas esta remunerao era inferiorao verdadeiro valor gerado por este servio. Esta diferena era a mais-valia e estevalor ia para o bolso do capitalista em forma de lucros, juros e aluguis. Seria o valorextra, gerado pelo trabalhador, alm do valor pago por sua fora de trabalho.

    2.4 A teoria do neoliberalismoO neoliberalismo uma doutrina econmica que teve sua origem em

    1938 quando Alexander Rstow, socilogo e economista alemo (1885-1963) crioueste termo ao criticar duramente as teorias socialistas. Contudo, o neoliberalismoganhou mais popularidade nos anos 1960 e 70. Defendia um regime de liberdadeem que os mercados no deviam sofrer intervenes governamentais. Os preoseram capazes de regular os mercados e por isto o Estado devia promover a livreconcorrncia, eliminando cartis e monoplios. Somente devia atuar em algunssetores imprescindveis, mas num grau mnimo, como a manuteno da segurananacional e pblica, a garantia da propriedade particular, a validade de contratosjurdicos e a estabilidade da moeda. Tambm cabia uma funo social ao Estado emque devia socorror os mais fracos que sofriam com injustias econmicas.

    Friedrich August von Hayek (1899-1992), austraco, economista, foi umdos mais conhecidos representantes desta teoria. Outro grupo que se formou foi ogrupo de Chicago com seu principal mentor, o economista americano Milton

    Friedman (1912-2006) e um grupo de economistas chilenos, os chamados ChicagoBoys que definiram a poltica econmica do governo Pinochet durante a ditaduramilitar naquele pas, conforme os conceitos sugeridos pela teoria neoliberal.

    Hayek tambm explicou que ciclos econmicos eram a consequncia dadiferena entre a taxa natural de juros (em que a poupana era igual aoinvestimento) e a taxa de juros do mercado. A diferena entre os dois era supridopor base monetria (liquidez), o que possibilitava as empresas investimentos queantes no eram realizveis. A renda se expandia de forma artificial o que levava,aps certo perodo, a um aumento de preos. Os participantes do mercadoprecisavam se adaptar ao incremento dos preos, o que em seguida levava ao

    aumento dos juros. Investimentos, que antes eram rentveis, deixavam de serexecutados, levando ao colapso da economia. Hayek culpava os bancos centrais

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    pelo aumento da liquidez, pois em diversos pases os bancos centrais estariamsujeitos a presses polticas.

    Milton Friedman foi um dos economistas mais importantes do sculo XX.Desenvolveu diversos trabalhos na economia. Criticou fortemente a poltica do bem-estar pelo Estado (Free to choose, 1990). Segundo ele, os maiores inimigos daeconomia eram a inflao e a poltica do bem-estar. O Estado do bem-estar erafraude nas pessoas que ainda trabalhavam e que pagavam impostos. Desenvolveuum modelo em que descrevia quatro formas como se podia gastar dinheiro:

    1. Gastar seu dinheiro para si mesmo, (compra de sapatos).2. Gastar seu dinheiro para outros (presentes de Natal).3. Gastar o dinheiro dos outros para si (refeies a custas da empresa

    para que trabalha).4. Gastar o dinheiro dos outros para outros (Estado do bem-estar).

    A facilidade com que se gasta dinheiro aumenta consideravelmente decima para baixo. Os mtodos 3 e 4 so a razo pela qual a inflao cresce e adecadncia dos pases industrializados se acelera. O Estado, sob o argumento falsode precisar ajudar aos pobres, tira dinheiro do bolso dos trabalhadores atravs dasua burocracia todo-poderosa. Se fosse feito um clculo dividindo o dinheirodesviado dos trabalhadores para ajudar aos pobres pela quantidade dos realmentepobres (e estatsticamente comprovados) no pas, estes deveriam ter duas vezes arenda que atualmente a populao geral possui em mdia. Na verdade, para ospobres sobra muito pouco, a grande maioria do dinheiro usado para a burocracia eo pagamento de salrios no setor pblico.

    Outra fonte do neoliberalismo foi o ordoliberalismo que teve como seufundador o economista alemo Walter Eucken (1891-1950). Eucken era contra apoltica econmica do laissez-faire, mas tambm contra a poltica econmica da total

    regulamentao. Opinava que o Estado necessitava criar as condies para que omecanismo de mercado (formao de preo natural atravs de concorrnciaperfeita) pudesse funcionar. A principal preocupao do Estado deveria ser de nopermitir que alguns grupos econmicos tivessem mais vantagens do que outrosatravs de grupos de presso poltica (lobby).

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    3.O MODELO IS-LM

    Numa economia dentro de um perodo de um ano podemos analisar ascontas nacionais por duas maneiras diferentes: do ponto de vista da oferta(produo) e do ponto de vista da demanda.

    3.1 O mercado de bens e serviosA produo abrange o valor de todos os bens e servios produzidos por

    uma sociedade. Trata-se de um fluxo de bens e servios que podem ser divididos

    em quatro grupos:

    BC Bens e servios de consumo Bens produzidos para satisfazer asnecessidades da sociedade (durveis,no-durveis e semidurveis).

    BK Bens e servios de capital Bens produzidos para repor e expandir acapacidade produtiva (produo demquinas e equipamentos, construocivil).

    BP Bens e servios pblicos Bens de consumo ou de capital, mas deuso pblico (segurana pblica, infra-estrutura, servios pblicos).

    BI Bens e servios intermedirios Insumos ou matrias-primas que servempara a produo das outras categorias.

    Estas quatro categorias formam o valor bruto da produo. Contudo,como h bens intermedirios includas nesta contagem, este valor no seria correto.Por um lado, deve-se excluir desta contagem os bens intermedirios, no somenteos bens intermedirios usados na produo nacional, mas tambm os bensintermedirios importados e usados na produo nacional. Por outro lado, deve-seacrescentar a esta contagem os bens intermedirios exportados que so usados na

    produo de bens de consumo no exterior.O produto interno bruto (PIB) pode ser escrito desta forma:

    PIB BC + BK + BP + XBI MBI (1.1)

    XBI Bens Intermedirios exportadosMBI Bens Intermedirios importados

    Temos que levar em conta que um pas produz produtos para seu mercado nacional(domstico) e para o mercado internacional (externo):

    PIB DBC + XBC + DBK + XBK + DBP + XBP + XBI MBI (1.2)

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    DBC Bens de consumo para o mercado domstico.XBC Bens de consumo para o mercado externo (exportao).DBK - Bens de capital para o mercado domstico.XBK Bens de capital para o mercado externo (exportao).DBP Bens pblicos para o mercado domstico.XBP Bens pblicos para o mercado externo (exportao).

    A demanda de um pas abrange o valor que as famlias, empresas e o

    governo gastam em um ano na compra dos seguintes bens e servios: bens eservios de consumo, bens de capital e bens pblicos. Podem ser bens produzidosno mercado domstico ou importados. Podemos descrever a demanda da seguinteforma:

    D DBC + DBK + DBP + MBC + MBK + MBP (1.3)

    Podemos resumir os bens e servios de consumo (DBC + MBC)demandados pelas famlias como consumo privado (C), os bens de capital (DBK +MBK) demandados pelas empresas como investimento privado (I) e os benspblicos (DBP + MBP) como gasto pblico (G). Exclui-se desta contagem os bensintermedirios que esto contemplados na contagem dos produtos finais. A novaforma seria:

    D C + I + G (1.4)

    Geralmente, o PIB (a oferta) de uma economia no igual suademanda (D). Isto somente seria possvel se no houvesse intercmbio com oexterior. Se subtrairmos a demanda da oferta chegaremos a seguinte frmula:

    PIB D [DBC + XBC + DBK + XBK + DBP + XBP + XBI MBI] - [DBC + DBK +DBP + MBC + MBK + MBP]

    PIB D [DBC + XBC + DBK + XBK + DBP + XBP + XBI MBI] - [DBC + DBK +DBP + MBC + MBK + MBP]

    PIB D XBC + XBK + XBP + XBI - MBC - MBK - MBP MBI

    XBC, XBK, XBP e XBI so todas as exportaes (X) de todas ascategorias e MBC, MBK, MBP e MBI todas as importaes (M) de todas ascategorias, podemos uni-los sob importaes e exportaes como segue:

    PIB D X M (1.6)

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    Se substituirmos a demanda D pela equao 1.4 podemos reescrever afrmula da seguinte forma:

    PIB D + (X M) C+ I + G + (X M) (1.7)

    O PIB de uma economia a soma dos gastos em consumo privado (C),investimento privado (I), gasto pblico (G) mais o saldo das exportaes eimportaes (X M). Este ltimo item chamado tambm de componente externodo produto, ou saldo das transaes reais.

    O PNB (Produto Nacional Bruto) deduzido do PIB, j que nocomponente externo do produto se inclui a renda lquida enviada ao exterior (RL).Neste caso, temos que substituir o saldo das transaes reais (X M) pelo saldo daconta corrente do balano de pagamentos (SCC). Como SCC = (X M) RL temosa seguinte constelao:

    PNB C+ I + G + (SCC) (1.8)

    Se isolarmos cada um dos setores (setor privado, pblico e externo)chegaremos s necessidades de financiamento de cada um:

    A letra T significa impostos (ingls taxes). Se deduzirmos a receita totaldo governo (as receitas do governo so os impostos) dos dois lados, chegaremos arenda disponvel do setor privado (PNB T).

    PNB T C+ I + (G T) + (SCC) (1.9)

    O termo (G T) significa que os gastos do setor pblico (G) so maiores do que asreceitas. Se o governo gastar mais do que arrecada, este termo representaria asnecessidades de financiamento do governo. Se passarmos tambm o consumo

    privado (C) para o lado esquerdo da equao, este seria a poupana privada (S) daeconomia, pois o setor privado, aps a deduo de impostos da renda, ou consomeou poupa.

    PNB T C I + (G T) + (SCC)[Em que PNB T C = S]

    S I + (G T) + (SCC)

    Passamos a poupana para o lado direito:

    (I S) + (G T) + (SCC) 0 (1.10)

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    Agora temos uma equao em que podemos facilmente identificar asnecessidades de financiamento de cada um dos setores (privado, pblico e externo).Se o setor privado mais do que poupa (I > S) precisa se financiar pelo setor pblicoou pelo setor externo. O mesmo ocorre se o governo gasta mais do que arrecada (G> I), ou se financia pelo setor privado ou busca poupana no exterior (SCC).

    A renda disponvel do setor privado da economia (yd) a renda bruta do setorprivado menos os impostos (t) pagos ao governo menos a renda lquida enviada aoexterior (rl). O setor privado ou consome (c) ou poupa (s) esta renda disponvel.

    Assim, podemos colocar a frmula para a renda disponvel da seguinte forma:

    yd y t - rl c + s

    Agora precisamos descobrir quais so os fatores que influenciam asvariveis e como estas se comportam. A arrecadao de tributos depende da renda.Quanto maior a renda, maior a arrecadao e quanto menor a renda, menor aarrecadao tributria:

    (+)

    t = t (y)Esta equao indica que a arrecadao tributria funo da renda e

    esta relao positiva (mostrada atravs do sinal + ).

    As variveis consumo (c) e poupana (s) dependem da renda disponvel(yd). Note que a renda disponvel se distingue da renda (y) pelo fato de ter sofrida adeduo dos impostos. Os impostos fazem parte da renda, porm, como sodeduzidos diretamente, as famlias no dispem desta parcela. Por isto, somenteconseguem tomar decises sobre as partes que consumiro ou pouparo:

    (+)

    c = (yd)(+)

    s = (yd) Na equao abaixo, no ser considerada a variao inesperada deestoques na deciso de investimentos das empresas. Para facilitar o nosso modelo,a nica varivel que influencia a deciso de investimentos a taxa de juros. Asempresas precisam de recursos para efetuar investimentos com o fim de aumentar aproduo. Existem duas maneiras de obter recursos, ou recursos prprios geradospelas empresas ou recursos de terceiros no sistema financeiro. Quando umaempresa estuda a possibilidade de investir recursos prprios na sua produoseguramente analisar primeiro a taxa de juros no mercado. Ela compara esta taxade juros com o retorno do investimento planejado. Se a taxa de juros do mercado formais baixa do que a taxa de retorno do investimento empresarial, certamente

    investir na empresa, pois o retorno do capital investido na empresa seria maior doque no mercado. Quando a taxa de juros no mercado alta, provavelmente muitos

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    investimentos na empresa teriam um retorno menor e as empresas deixariam deinvestir. Neste caso, seria mais conveniente aplicar o dinheiro disponvel no mercadofinanceiro. Resumindo, a taxa de juros exerce uma influncia invertida aosinvestimentos, ou seja, quando a taxa de juros tende a aumentar, cada vez maisinvestimentos na produo das empresas deixam de ser lucrativos e quando tende abaixar, ocorre o contrrio, mais investimentos planejados das empresas comeam aficar rentveis e sero realizados. Neste caso, utilizamos o sinal para descreveresta relao.

    (-)

    i = i (r)

    Equilbrio no mercado de produto (SILVA, 1999).

    Todas as variveis podem ser incorporadas na nossa equao. Esta

    equao descreve a situao de equilbrio do mercado do produto. Como se trata deuma equao de duas variveis (y e r), existem inmeras solues possveis de

    i + g + x - m

    0

    A0

    Y1

    B

    s + t + rl

    A1

    s + t + rl

    i (r0)+ g + x - m

    i (r1)+ g + x - mA1

    Y2

    0

    A0

    Y1

    r

    s + t + rl

    IS

    Y2

    r1

    r0

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    equilbrio, podendo ser interpretado numa curva. Nesta situao de equilbrio, noocorrem aumentos nem redues inesperadas de estoque.

    (-) (+) (+)

    i (r) + g + x m = s (yd) + t(y) + rl

    Inclumos o consumo nos dois lados:(+) (-) (+) (+) (+)

    c (yd) + i (r) + g + x m = y = c (yd) + s (yd) + t(y) + rl

    A curva IS e situaes de desequilbrio

    No ponto X ocorre uma situao de desequilbrio, em que a taxa de juros maior do que o nvel de renda correspondente.

    A equao de equilbrio:

    i (r) + g + x m = s (yd) + t(y) + rlpassa a ser:

    i (r1) + g + x m < s (yd0) + t(y0) + rl

    Como o taxa de juros maior, os investimentos sero reduzidos, poismuitos projetos deixam de ser lucrativos e vale mais a pena aplicar os recursos emttulos. A conseqncia uma elevao inesperada de estoques. Perante estasituao, os atacadistas e varejistas diminuem as encomendas para se livrarem dosestoques. Menores encomendas pelos comerciantes levam a uma menor produo

    no setor produtivo. A renda e a taxa de juros comeam a reduzir ao mesmo tempoat a situao chegar novamente curva IS.

    A1

    0

    A0

    Y1

    r

    IS

    Y0

    r1

    r0

    X

    Y

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    No ponto Y ocorre uma situao de desequilbrio, em que a taxa de juros menor do que o nvel de renda correspondente.

    A equao de equilbrio:

    i (r) + g + x m = s (yd) + t(y) + rl

    passa a ser:

    i (r0) + g + x m > s (yd0) + t(y0) + rl

    Como o taxa de juros menor, os investimentos sero elevados, poisagora muitos projetos se tornam lucrativos e vale mais a pena investir do que aplicaros recursos em ttulos. A conseqncia uma reduo inesperada de estoques.Perante esta situao, os atacadistas e varejistas comeam fazer novasencomendas para suprir os estoques. Maiores encomendas pelos comercianteslevam a uma maior produo no setor produtivo. A renda e a taxa de juros comeama crescer ao mesmo tempo at a situao chegar novamente curva IS.

    Resumindo, a curva IS mostra todos os pares de renda (y) e taxa de juros(r) em que o mercado de produtos est em equilbrio sem que haja inesperadoaumento ou reduo de estoques.

    3.2 O mercado monetrioO mercado monetrio de um pas, como qualquer outro mercado,

    caracteriza-se pelo lado da oferta e da demanda da moeda.

    A oferta da moedaGeralmente, a funo do Banco Central de um pas garantir a

    estabilidade dos preos dos bens e servios negociados no mercado nacional, ouseja, manter o valor da moeda nacional. No Brasil, esta funo exercida peloBanco Central do Brasil (Bacen) que foi criado pela Lei 4.595 de 31 de dezembro de1964. Mais informaes sobre esta autarquia federal vinculada ao Ministrio daFazenda podem ser obtidas no site www.bcb.gov.br. O Bacen responsvel pelabase monetria que o conjunto de todas as moedas e cdulas emitidas por ele. Odinheiro representa o meio de pagamento universalmente aceito pelos participantesdo mercado para pagar bens e servios. Somente o Bacen pode emitir (criar)moeda. Quando o Bacen entrega dinheiro para os bancos comerciais, estesprecisam dar algo em troca, como uma relao contbil, pois a base monetriapara o Bacen representa um passivo, a qualquer momento em que o Banco

    Comercial quiser seu bem de volta, o Bacen obrigado a receber as cdulas emtroca. Base monetria criada quando um exportador receber um pagamento de

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    seu cliente no exterior e precisa trocar a moeda estrangeira (por exemplo, dlaresamericanos) por reais. Quando um importador precisar pagar seu cliente no exterior(em dlares), ele procurar o Bacen, comprar os dlares necessrios e remeter odinheiro para seu cliente no exterior. Se ele comprar dlares, o far com reais, nestecaso, os reais pagos ficam com o Bacen e a base monetria reduzida. Outra formade criar ou reter base monetria ocorre quando o Governo Federal lana ttulos dadvida pblica para se financiar. Quando os bancos comerciais compram estesttulos, base monetria retida, quando o Bacen compra estes ttulos de volta dosbancos comerciais, base monetria criada. Hoje em dia, a base monetria muito

    maior do que o dinheiro em forma de moedas ou papel em circulao. Muitas vezes,vemos somente o saldo da nossa conta corrente ou das nossas aplicaes noextrato fsico ou na tela do computador atravs da consulta pela internet. Os bancoscomerciais trabalham com o nosso dinheiro, emprestam para outros bancos oupessoas fsicas ou jurdicas. o chamado multiplicador monetrio.

    Conhecemos algumas formas de como o Bacen pode restringir ouaumentar a base monetria, porm nos exemplos acima citados, sua atuao foimais passiva. Como sua funo garantir pela estabilidade dos preos, ele precisadispor de outras ferramentas para controlar a quantidade da base monetria emcirculao. Quanto mais dinheiro estiver em circulao mais perigo existe para osurgimento de inflao que o processo do aumento de preos. O Bacen somenteconsegue atuar no controle dos meios de pagamento na emisso, ou seja, na suarelao com os bancos comerciais. No existe atuao direta do Bacen referente aocliente final, o consumidor.

    Basicamente, o Bacen possui trs instrumentos da poltica monetria paracontrolar a base monetria, que so a alquota do depsito compulsrio, a taxa deredesconto e as operaes de mercado aberto.

    O depsito compulsrio caracteriza a parcela dos depsitos vista dos

    bancos comerciais que precisa ficar retida no Bacen. uma obrigao legal.Quando o Bacen aumentar a alquota dos depsitos compulsrios, os bancoscomerciais sero obrigados a reter mais dinheiro no Banco Central. Vamos suporque a alquota de 10%. Quando um cliente de um banco comercial deposita R$100.000 num banco comercial, R$ 10.000 ficariam retidos automaticamente noBacen e somente R$ 90.000 estariam disponveis para o banco comercial. Se aalquota aumentar para 20%, somente R$ 80.000 estariam disponveis para o bancocomercial, reduzindo o dinheiro em circulao.

    Outra ferramenta para controlar a base monetria a taxa de redesconto.Em todas as operaes de emprstimos trabalha-se com taxas de redesconto. Se

    um cliente comprar um carro a prazo, a concessionria no financia esta compra, elarepassa esta operao a uma financiadora. Esta financiadora cobra uma taxa de

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    desconto para a concessionria que receber o dinheiro imediatamente. Afinanciadora tampouco dispe de dinheiro suficiente para financiar todas asoperaes de crdito, por sua vez, tambm passa este financiamento a outra. oltimo financiador desta cadeia o Bacen que tambm cobra uma taxa deredesconto. Quando esta taxa de redesconto cobrado pelo Bacen muito baixa,vale a pena para todas as operadoras de crdito trabalharem estas operaes. Cadauma agrega um pouco a esta taxa at chegar ao cliente final, o comprador do carro.Isto significa que quando os crditos so baratos, e conseqentemente as taxas dedesconto so baixas (de forma sucessiva), a base monetria aumenta devido ao

    aumento das operaes de compras financiadas. Contudo, se o Bacen aumentaresta taxa de redesconto para os bancos comerciais, aumentar para todossucessivamente at chegar ao cliente final, o comprador de carro. Este pode desistirde comprar o carro devido s altas taxas cobradas para financiar seu carro.

    O ltimo meio para controlar a base monetria so as operaes demercado aberto (open market). a forma j descrita acima quando o Bacen operana compra ou venda de ttulos da dvida pblica, aumentando ou reduzindo a basemonetria. A vantagem nestas operaes que o Bacen consegue prever o valorexato da expanso ou reduo da base monetria, por exemplo quando vendettulos da dvida pblica de R$ 100 milhes no mercado, sabe que a reduo dabase monetria foi exatamente este valor.

    Ainda existem outros meios de controle da base monetria no Brasil,porm, no sero tratados nesta apostila devido a sua alta complexidade.

    A oferta da moeda no mercado monetrio determinada pelo BancoCentral. Suponhamos que o Bacen possui total controle sobre a base monetria,desta forma, podemos descrever a oferta real de moeda da seguinte forma:

    MS

    m

    S

    = -------P

    Em que:MS Oferta nominal da moeda (quantidade)P ndice de preos.

    A demanda da moedaAo falar da demanda por moeda pelos participantes do mercado,

    distinguimos somente dois ativos, a moeda (o papel-moeda em poder do pblico eos depsitos vista nos bancos comerciais) e os ttulos. J conhecemos uma forma

    de ttulos, que so os ttulos da dvida do Governo Federal. Existem inmerosoutros, como propriedades, aes de empresas, moedas estrangeiras, derivados

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    financeiros, etc. Dos dois ativos citados, somente a moeda amplamente aceita nastransaes comerciais. Existem transaes com ttulos, mas geralmente, costuma-se trocar bens e servios por moeda. a vantagem da moeda, porm, a grandedesvantagem da moeda que ela no rende juros se no aplicada em ttulos(aluguel, rendimentos financeiros das aes e outros ttulos). Os motivos paramanter moeda sem poder desfrutar de rendimentos so a possibilidade de efetuartransaes comerciais (motivo transacional) e para poder aproveitar oportunidadesde investimentos que podem aparecer a qualquer momento (motivo especulativo).

    Referente ao motivo transacional para manter moeda, podemos dizer quequanto maior a renda de um indivduo, maior o valor das transaes que efetua emaior a necessidade de manter um elevado estoque de moeda para poder realizarestas transaes. A renda representada pela letra y.

    Demanda transacional de moeda (adaptado de SILVA, 1999).

    A renda y1 maior do que a renda y0, por tanto, a quantidade de moeda

    demandada m1 maior do que m0.

    A demanda especulativa da moeda se orienta taxa de juros. Os agentesde mercados esperam por oportunidades para investir em projetos que rendem maisdo que outros. Quando a taxa de juros muito alta, torna-se muito caro mantermoeda, pois os custos de oportunidade (veja captulo 1) so muito altos. Nestecenrio, os participantes dos mercados investiriam em ttulos de maior rendimentopossvel, ou seja, no teriam moeda em caixa para esperar novas oportunidadesmais lucrativas. Quando a taxa de juros muito baixa, preferem manter moeda emcaixa para esperar melhores oportunidades de investimento, j que o custo deoportunidade baixo.

    y

    m = M / P

    k (y)

    0

    y0

    y1

    m0 m1

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    A taxa de juros r1 mais alta do que a taxa de juros r0. Referente taxade juros r1, os agentes dos mercados teriam pouco dinheiro em caixa (m1), pois seriamais rentvel aplicar a moeda em ttulos. Quando a taxa comea a baixar at r0, osinvestimentos se tornam menos rentvel e os agentes comeam a manter maismoeda em caixa esperando por melhores oportunidades (m0).

    Demanda especulativa de moeda (adaptado de SILVA, 1999).

    Demanda total (transacional e especulativa) de moeda (adaptado de SILVA, 1999)

    Como j aprendemos de quais variveis depende a oferta e demanda nomercado monetrio, podemos escrever a frmula que descreve a demanda total pormoeda:

    y

    m = M / P0

    r0y0

    mD (r2)

    m2 m1 m0

    A

    mD (r1)

    m (r0)

    r B

    m0 m1 m2

    mD (y0)

    m (y1)

    mD (y2)

    m = M / P

    r

    m = M / P

    l (r)

    0

    r1

    r0

    m0m1

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    MD (+) (-) (+) (-)mD = ----- = mT (y) + mE (r) = k (y) + l (r)

    PExistem duas formas de demonstrar graficamente a demanda por moeda.

    No quadro A medida a renda. Quando a taxa de juros aumenta de r0 para r1, com amesma renda y0, a quantidade demandada de moeda reduz. No quadro B, com amesma taxa de juros r0, com o aumento da renda de y0 para y1, a quantidadedemandada de moeda aumenta. O equilbrio no mercado monetrio, como emqualquer mercado, alcanado quando a oferta igual demanda:

    M (+) (-)----- = k (y) + l (r)P

    A curva LM: equilbrio entre oferta e demanda da moeda (SILVA, 1999).

    y

    m = M / P

    0

    r0y0

    m (r2)

    M / P0

    A

    mD (r1)

    m (r0)

    r

    B

    m (y0)

    m (y1)

    m (y2)

    m = M / P

    r0

    y2y0

    LM (P0)

    r1

    r2

    y1

    y2

    A1

    A2

    A0

    A1

    A2

    A0

    y1 y2y0

    LM (P0)

    A1

    A2

    A0

    y1

    r0

    r1

    r2

    M / P0

    M / P0M / P0

    r1

    r2

    A1

    A2

    A0

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    Todos os pontos A0 (r0 / y0), A1 (r1 / y1) e A2 (r2 / y2), so pontos quemostram a qual taxa de juros e qual renda se obtm o equilbrio da demanda e daoferta de moeda. Por tanto, a curva LM (P0) mostra todos os pontos de equilbrio domercado monetrio (entre oferta e demanda) a determinado nvel de preos (P0).

    Pontos direita da curva LM (P0) so pontos em que existe excesso dedemanda por moeda (por exemplo, o ponto X). A oferta monetria pelo Bacen insuficiente para atender a demanda dos agentes econmicos em manter moedatransacional e especulativa. Nestes casos, os agentes tentam vender seus ttulospara obter moeda, porm, no conseguem (falta de moeda no mercado). Istosomente ocorreria se a taxa de juros aumentasse. Comea o processo em que ataxa de juros sobe (e cada vez mais os agentes teriam menos interesse em venderseus ttulos) at chegar novamente na curva LM (P0) no ponto A2.

    Outra situao de desequilbrio ocorre no lado esquerdo da curva LM (P0),aqui existe excesso da oferta da moeda (por exemplo, o ponto Y), ou seja, osagentes econmicos no querem manter tanta moeda nos caixas como no ponto Y.A taxa de juros mais alta do que no equilbrio e os agentes tentam comprar ttulospara reduzir a quantidade de moeda em caixa. Somente conseguiriam se a taxa de juros baixasse. Ocorre um processo de reduo gradativa da taxa de juros ereduo da quantidade de moeda em caixa na medida em que comprarem os ttulosat chegar novamente na curva de equilbrio LM (P0) no ponto A0.

    3.3 O equilbrio no mercado de bens e produtos e no produto monetrioAs duas curvas LM e IS podem ser projetadas em um mesmo grfico, j

    que dependem das mesmas variveis, da taxa de juros (r) e da renda (y). No pontoA0 as duas curvas se cruzam, este ponto o ponto em que o mercado de produto e

    r0

    y2y0

    LM (P0)

    r1

    r2

    A1

    A2

    A0

    y1 y2y0

    LM (P0)

    A1

    A2

    A0

    y1

    r0

    r1

    r2

    XY

    Excesso da demanda por moeda Excesso da oferta de moeda

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    o mercado monetrio esto em equilbrio. Devemos chamar a ateno para o fato deque somente para o nvel de preos P0 existe este equilbrio dos dois mercados. Seo nvel de preos sofrer alterao, o equilbrio ser outro.

    Equilbrio dos dois mercados: mercado de produto e monetrio (SILVA, 1999).

    Qualquer ponto na curva IS fora do ponto A0 marcaria uma situao deequilbrio do mercado de produtos, mas no do mercado monetrio. Ocorrero osmesmos mecanismos descritos acima quando aprendemos como atuavam as forasdo mercado quando um ponto est fora da curva IS. O mesmo ocorre para pontosna curva LM fora do ponto A0. Somente no ponto A0 os dois mercados esto emequilbrio para o nvel de preos P0.

    Se aumentar o nvel de preos, teremos um deslocamento da curva LM(P0) esquerda, agora no ponto antigo de desequilbrio A0 estaria ao lado direito donovo equilbrio e da curva LM (P1). Significa uma situao de excesso de demanda

    por moeda em que os agentes tentariam vender seus ttulos, mas somenteconseguem isto se a taxa de juros aumentar. Ento, a taxa de juros comea aaumentar. Mas, se a taxa de juros aumentar, muitas empresas iro reduzir seusinvestimentos. Isto provoca uma reduo da renda (salrios, lucros), o consumoprivado se reduz, ocorre elevao inesperada de estoques e os comerciantescomeam a pedir menos, causando uma nova reduo da produo do lado dasempresas. Podemos constatar que o aumento do nvel dos preos causa umareduo do nvel de renda de equilbrio. Se projetarmos todos os equilbrios da curvaIS com as curvas LM e seus respectivos nveis de preos, chegamos a uma novacurva, a curva da demanda agregada da economia. Esta depende do nvel depreos e da renda. A curva da demanda agregada mostra para cada nvel de preos

    o valor correspondente do produto que equilibra ao mesmo tempo o mercado deprodutos e o mercado monetrio.

    r

    y

    LM (P0)

    0

    r0

    y0

    IS

    A0

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    Equilbrio do mercado de produto e monetrio, curva da demanda agregada (SILVA, 1999).

    Depois de conhecer o modelo IS-LM e a demanda agregada, podemosagora analisar como as atividades do governo em sua poltica econmicainfluenciam a renda nacional e os juros. O governo dispe de duas ferramentas paraexercer poltica econmica: a poltica fiscal e a poltica monetria.

    Comecemos pela poltica fiscal. Nesta, o governo pode decidir sobrereceitas e despesas. Geralmente, as receitas pblicas so obtidas atravs daarrecadao de impostos. Estas receitas que o governo obtm, mas tarde saem doscofres pblicos e se transformam em gastos pblicos. Vamos analisar primeiro o queocorre quando o governo aumenta os impostos e como se comportam as outrasvariveis.

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    Aumento da arrecadao tributria (SILVA, 1999).

    Antes do aumento dos impostos, o ponto de equilbrio dos dois mercadosera o ponto A0 a uma taxa de juros r0 e uma renda de y

    D0. Para a curva da demanda

    agregada DD0, o ponto de equilbrio era o ponto B0. As alquotas de impostosmaiores causam um deslocamento da curva IS esquerda. Um aumento dosimpostos deixa as famlias com menos renda disponvel, por conseqente,reduziriam seus gastos. Um consumo menor das famlias leva a um acmuloinesperado de estoques, o que causaria encomendas menores dos lojistas indstria para desovar primeiro os estoques. A indstria, por sua vez, comea aproduzir menos e como conseqncia empregar menos pessoas. Uma menorquantidade de pessoas empregadas significa menos renda em total para apopulao. O nvel de preos no se altera, mas a curva da demanda agregadadesloca-se esquerda, ou seja, a renda nacional se situa num nvel inferior (yD1) aoda situao inicial (yD0).

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    Uma elevao de impostos leva a um menor nvel de renda, o contrrioocorre numa reduo de impostos, pois neste caso, o nvel de renda aumentaria.

    Aumento dos gastos pblicos (SILVA, 1999).

    Vejamos agora uma situao em que o governo decide aumentar osgastos pblicos, por exemplo, o projeto minha casa minha vida lanado pelogoverno federal. O governo contrata empresas construtoras, paga as despesas eposteriormente, oferece financiamento atravs da Caixa Econmica Federal populao para adquirir estas casas. Como o governo gasta de forma antecipada esomente aps vrios anos comea a receber os valores de volta (geralmente, nem ovalor integral), trata-se de um aumento dos gastos pblicos de forma imediata. Nonosso modelo, a curva IS0 se desloca para cima, j que os gastos do governo estocontemplados nesta curva. Maiores gastos do governo geram no mercado dematerial de construo uma inesperada desova de estoque. Os lojistas so

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    obrigados a repor estes estoques e demandam produtos adicionais ao setorprodutivo. Este atende, mas para conseguir atender esta demanda adicional precisacontratar mais funcionrios. Estes, por sua vez, se tornam assalariados e gastamesta renda adicional no mercado, aumentando o nvel de renda em geral. Como noocorre aumento do nvel de preos, a curva da demanda agregada se deslocatambm para cima, de DD0 para DD1, levando a um maior nvel de renda. A taxa de juros tambm aumentou, pois com o aumento da renda se gerou um aumento damoeda com fins transacionais. Contudo, a quantidade da moeda no aumentou, osagentes tentam vender ttulos para atender sua maior demanda por moeda, mas

    somente conseguem com um aumento da taxa de juros.

    Aumento das reservas internacionais (SILVA, 1999).

    Aprendemos que o Bacen possui vrios instrumentos para controlar abase monetria. Conhecemos tambm as operaes de criao e reteno de basemonetria em que o Bacen no possui influncia, como, por exemplo quando um

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    exportador precisa vender seus dlares recebidos e transformar em reais (criao debase monetria), ou, quando um importador precisa comprar dlares do Bacen parapagar o exportador afora (neste caso a base monetria reduzida). Para facilitar oentendimento, definimos agora a oferta monetria como segue:

    MS ME + MIEm que:MS = Oferta nominal da base monetria.ME = Oferta monetria nominal originria das operaes externas do Bacen, no

    caso em que variaes das reservas internacionais obrigam o Bacen emisso ou destruio da base monetria.

    MI = Oferta monetria nominal originria das operaes internas do Bacen.

    Reduo da oferta monetria pelo Bacen (SILVA, 1999).

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    Investidores estrangeiros esto na expectativa de obter altas taxas deretorno investindo em aes da Petrobrs. Como eles no podem investir dlaresdiretamente na Bovespa, precisam cambiar seus dlares por reais. Uma grandequantidade de dlares ingressa no Brasil e o Bacen obrigado a trocar estesdlares por reais. Por um lado, o Bacen aumenta suas reservas internacionais, maspor outro lados, como moeda em forma de real entregue aos investidores, a basemonetria aumenta consideravelmente. Conseqentemente, a curva LM desloca-separa a direita. A moeda, agora em grandes quantidades no mercado, torna-semenos escassa, levando a uma queda da taxa de juros. Uma taxa de juros menor

    estimula os investimentos das empresas e das famlias que agora conseguemcrditos a taxas de juros menores. Maiores investimentos levam a maioresdespesas, aumentando a renda nacional. No novo ponto de equilbrio da demandaagregada (B1), o nvel de preos no foi alterado, a taxa de juros menor e a renda maior do que antes do ingresso dos capitais estrangeiros.

    Quando o Bacen utiliza as ferramentas de reduo da base monetria, ouem caso de sada de capitais estrangeiros do pas, ocorre o contrrio. O nvel derenda se torna menor e a taxa de juros maior do que antes da medida tomada.

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    4. O balano de pagamentos e o cmbioO balano de pagamentos um registro sistemtico realizado pelo Banco

    Central das transaes econmicas de um pas com o resto do mundo durantedeterminado perodo de tempo (geralmente de um ano). dividido em contascorrentes e contas de capital.

    A conta corrente dividida em quatro categorias: balana comercial,servios no-fatores, servios de fatores e transferncias unilaterais.

    Conta CorrenteCategoria Valores registrados Soma Saldo

    1 Balana comercial Exportaes e importaes.1+2

    Saldo dastransaes

    reais(x-m) Saldo da

    contacorrente

    (SCC)

    2 Servios no-fatores Fretes, seguros, turismo,servios diplomticos,pagos ou recebidos doexterior.

    3 Servios de fatores Fatores ligados aos fatoresde produo (trabalho,capital, etc.): salrios,aluguis, juros, lucros,dividendos remetidos ou

    recebidos do exterior.

    3+4

    Renda lquidaenviada ao

    exterior

    (rl)4 Transfernciasunilaterais

    Doaes entre pases,remessas ou recebimentos.

    Saldo da conta corrente do balano de pagamentos:

    SCC = x m - rl

    Conta de CapitalCategoria Valores registrados Soma Saldo

    1 Investimento direto (id) Contas dos investimentosde empresas estrangeirasno pas e empresasnacionai