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A EVOLUÇÃO DO TERNO MASCULINO DO SÉCULO XVII
AO SÉCULO XXI
The evolution of men’s suit between the 17th to 21st centuries
de Azambuja, Manuela; Graduanda; Universidade Estadual de Londrina, [email protected]
Nunes, Valdirene Aparecida Vieira; Doutoranda; Universidade Estadual de Londrina, [email protected] 2
Resumo: A evolução do traje masculino é analisada por meio da construção de uma linha do tempo pautada nos períodos entre os séculos XVII ao XXI. Com isso, visa-se analisa-la levando em principal consideração o segmento da alfaiataria. Como resultado, observou-se que o traje evoluiu de algo adornado para peças mais sóbrias e uniformes, e que cada etapa desta evolução sofreu influências do período precedente.
Palavras chave: Alfaiataria; história; terno. Abstract: The men’s costume evolution’s history is analyze by the construction of a timeline based on the periods between 17th and 21st centuries. With that, aims to analyze it taking the main consideration of the tailor’s shop segment. As a result, it was possible to observe that the suit evolved to something ornate to sober and uniform clothes, and that each phase of this evolution suffered influences from the previous period.
Keywords: Tailor’s shop; history; suit.
1 Graduanda em Design de Moda na Universidade Estadual de Londrina. Colaboradora no projeto de pesquisa: Uma proposta de modelo de ensino de alfaiataria na contemporaneidade. 2 Doutoranda e Mestre em Design pela UNESP. Membro colaboradora do LabDesign do Grupo de Pesquisa em Design Contemporâneo: sistemas, objetos, cultura (CNPq/UNESP). Docente e pesquisadora na UEL, coordenadora do Projeto: Uma proposta de modelo de ensino de alfaiataria na contemporaneidade.
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Introdução
Frente aos variados segmentos que a moda apresenta, evidencia-se a
necessidade de compreender o histórico da área, uma vez que a indumentária
preconiza ainda na atualidade contribuições nas vertentes da moda, assim, a
pesquisa em questão, realizada junto ao Departamento de Design da UEL –
Universidade Estadual de Londrina, no curso de Design de Moda, vinculado ao
projeto de pesquisa, intitulado “Uma proposta de modelo de ensino de
alfaiataria na contemporaneidade”, propõe analisar por intermédio de pesquisa
bibliográfica e documental, a história da evolução da roupa masculina e dentre
seus diversos segmentos a alfaiataria e sua trajetória.
Para apresentar a trajetória do terno masculino de forma linear, elegeu-
se os estudos apresentados por Nery (2007) e Jones (2005), onde as autoras
evidenciam uma forma concisa e clara, os pontos mais importantes da história
da moda, dos quais, gerou-se o presente artigo que objetiva criar uma linha do
tempo desta indumentária.
Século XVII ao século XIX
A primeira vez que se identifica o que hoje chama-se terno é no século
XVII, na época do Barroco francês, quando Luís XIV era o monarca absolutista.
Naquele tempo, a roupa masculina evoluía mais que a feminina, devido ao
enaltecimento dos homens por parte de Luís XIV. A indumentária masculina
começa a perder seus excessos provenientes do estilo Barroco apenas no final
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do século quando a roupa passa a se basear somente no justaucorps3, colete
comprido e culotes estreitos, todos confeccionados do mesmo tecido e cor.
Para completar, usavam o jabot em renda que conforme Nery (2007), seria um
antepassado da gravata. Um século mais tarde, surge o Rococó, o qual seguiu
o mesmo estilo da indumentária anterior com um toque mais elegante e
delicado, possuía motivos florais assim como as mulheres. Foi na segunda
metade do século XVIII que a vestimenta masculina ficou mais sóbria e
cômoda, com o justaucorps perdendo largura lateral (figura 2).
Por volta do fim dos anos 1700, tanto Nery (2007) como Jones (2005),
apontam a Revolução Francesa ocorrida no tempo do Diretório. As
transformações política e econômica da França, provenientes do movimento,
influenciaram a moda destinada aos homens, a qual ainda era composta pelas
três peças, chamadas agora por Nery (2007) de calça, casaco e colete. Além
de simples, passa a ficar mais prática e confortável, tomando o ar de
racionalismo que rondava os revolucionários. “Brocados luxuosos, anquinhas
volumosas, espartilhos e perucas dão lugar aos estilos pastoris e tecidos lisos
sem enfeites, em cores patrióticas, para homens e mulheres” (JONES, 2005,
p.20). Perdeu-se as cores e excentricidades no geral.
Já no século XIX, no Império de Napoleão, Nery (2007) relata a volta do
estilo neoclássico e a tendência para o militarismo, em que os homens passam
a ser valorizados novamente devido ao vaidoso imperador, usando culotes e
casacos bordados. Alguns tinham preferência aos modelos ingleses,
apresentados por Beau Brummell que deu origem ao Dandismo. Aquele
denominado Dândi, era o homem que além de apresentar bom gosto, senso
estético e cavalheirismo, vestia as três peças provenientes dos alfaiates 3 Conforme Boucher (2010), é uma espécie de sobretudo longo e evasê na parte inferior.
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ingleses as quais exprimiam mais sobriedade e clareza. A autora completa que
ainda havia uma influência na moda oriunda do desejo de libertação da
ditadura de Napoleão, os casacos eram escuros combinados com calças
compridas e cartola. Nesse período e no seguinte, a gola da camisa, do casaco
e a gravata são altas na nuca e dão um ar de arrogância ao homem que veste.
Segundo Jones (2005), por volta de 1800, enquanto o precursor francês
da alta costura Worth vestia as mulheres, nomes ingleses como Henry Poole
faziam a alfaiataria masculina. Época do Romantismo e da submissão
feminina, os homens mostram-se preocupados com o trabalho e passam a não
tolerar excessos, adotando um traje mais sóbrio, conservador e formal. Tons
escuros prevalecem para casacos e os claros para as calças justas. O homem
consumidor de moda prezava ainda por uma roupa bem cortada e bons
tecidos, pontos condecorados nos alfaiates ingleses, reconhecidos pelos seus
trabalhos a mão até aproximadamente 1850, quando surgiu a máquina de
costura. Conforme Nery (2007), esse estilo da moda masculina teve seu
término no fim do século XIX com o início do prêt-à-porter, a fabricação em
série causou um restringimento na roupa, a qual ganhou uma uniformidade
classificada pela autora como tediosa (figura 3). O terno simplificou-se cada
vez mais, desde o casaco comercializado pelos alfaiates ingleses que
permanece até os dias de hoje. Na época, a moda, tanto feminina quanto
masculina, tinha como objetivo principal reafirmar a determinação e posição
social, econômica e política do marido.
Século XX ao século XXI
Marcado por grandes mudanças, o século XX inicia-se com a Primeira
Guerra Mundial. O progresso da comunicação (cinema, rádio) e transportes
(em especial o aéreo) e a influência da arte moderna, conforme Jones (2005),
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gera uma popularização, a qual a roupa, tanto dos homens como das
mulheres, fica ainda mais simples, uniforme, industrial e passa a receber
funcionalidade com o surgimento do design. Nery (2007) atesta o supracitado
dizendo que a moda masculina passa a ser mais esportiva com pulôveres,
camisas com gola, casacos mais cinturados e punhos costurados. Em relação
a alfaiataria, começam a aparecer os primeiros smokings para ocasiões
festivas e o terno, agora denominado clássico, continua o mesmo.
Com a crise de 1929, a moda sofreu impactos e há uma influência do
militarismo novamente. O homem considerado moderno era aquele que vestia
terno de tecido escuro de listras finas e ombros largos combinando com calças
amplas na cintura com pregas, chamadas por Jones (2005) de baggy. Surgem
aqui os paletós de tweed e pulôveres sem manga substituindo o colete,
usavam também capas impermeáveis com cinto nas costas.
Na década de 1940, com a Segunda Guerra Mundial, os materiais de
consumo foram racionados na Europa, entre eles tecidos, couro e aviamentos,
o que deixou a mão-de-obra para confecção da vestimenta mais cara,
resultando na ascensão de designers e estilistas americanos(as), como
McCardell e Cashin. Conforme Nery (2007), a roupa prática substituiu
completamente o modismo e as novidades por parte da moda passam a não
existir. O terno ganha um casaco mais comprido e calças mais apertadas, de
acessório usam gravatas coloridas.
Já entre os anos de 1950 e 1960, “a televisão torna-se o meio de
comunicação de massa dominante” (JONES, 2005, p.21) e nomes como Elvis
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Presley e Marlon Brandon influenciam a moda masculina, introduzindo tecidos
mais leves e roupas casuais. Os homens desejam se livrar das fardas militares
provenientes da guerra fazendo com que “a tendência era privilegiar a roupa
mais solta, sugerida pela onda de lazer e esporte” (NERY, 2007, p.250), não
voltando a vestir o terno no dia-a-dia, o qual passa a ter uma silhueta em “V”
devido ao casaco de ombros largo acompanhados de calças estreitas sem
bainha revirada.
Nos anos 70, os Estados Unidos da América é pela primeira vez líder
internacional na moda, influenciando no desejo de um estilo individual,
improvisado e informal. Os trajes em geral ficam mais folgados devido a onda
de bem-estar e as profissões começaram a exigir menos o uso de ternos,
deixando esses e os smokings para ocasiões especiais. Nery (2007) aponta
que a novidade da época em relação a alfaiataria foi o blazer azul marinho de
Yves Saint Laurent.
Por fim, segundo Jones (2005), em 1990, novos e diferentes estilos
predominam na moda. As barreiras do comércio se abrem e o Oriente passa a
ser o local preferido para confecção das marcas internacionais devido à mão-
de-obra barata resultando na massificação da moda, inclusive da alfaiataria. A
internet é popularizada e junto com ela os computadores pessoais. No fim da
década, a sustentabilidade começa a ganhar voz e no século XXI tem-se a
reação contra à massificação e o ressurgimento das técnicas artesanais e
roupas antigas. Como nas silhuetas da Figura 1, estilos ecléticos e individuais
prevalecem, interpreta-se que as silhuetas masculinas (extremidades) não
estão retratas com terno, mas sim mais despojados, tanto na roupa quanto na
posição.
Figura 1: do final do século XX (1997) e início do século XXI (2000).
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Fonte: Jones (2005, pg. 23).
Linha do tempo
A trajetória apresentada abrange do século 17 aos anos 1980. Tanto Nery
(2007) quanto Jones (2005) concordam que a moda masculina e feminina,
após 1990 e início do século XXI, torna-se dinâmica a ponto de existir
segmentos variados para atender estilos diferentes e emergentes. Em especial,
a alfaiataria não apresentou mais, depois deste período, inovações a ponto de
serem consideradas e evidenciadas nos livros estudados e consequentemente
na linha do tempo.
A linha do tempo, retratada abaixo (Figura 2 e 3), foi construída a partir dos
estudos feitos e das imagens presentes no livro de Nery (2007).
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Figura 2: linha do tempo mostrando a moda masculina entre os séculos 17 e 19.
Fonte: Nery (2007).
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Figura 3: continuação da linha do tempo – século 19 aos anos 80.
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Fonte: Nery (2007).
Considerações Finais
Concordando com Nery (2007), percebe-se que ao olhar para a trajetória
da moda masculina, enfatizando a alfaiataria, ao longo dos séculos, essa
sempre teve como intuito dar aos homens virilidade e o poder de autoafirmação
de forma visual. Porém, a partir do início do século XXI, conforme Jones
(2005), conclui-se que hoje o terno, proveniente desse segmento, não é o mais
desejado no cotidiano dos homens devido aos novos estilos e individualismo,
os quais abrem novas possibilidades para o guarda-roupa masculino.
O levantamento de dados nos livros escolhidos e a criação da linha do
tempo ampliou a visão do grupo de pesquisa envolvido quanto a indumentária
masculina, e o levou a compreender a trajetória da alfaiataria ao decorrer dos
anos. Percebeu-se ainda, que atualmente esse segmento, agora direcionado
tanto para homens como mulheres, busca constantemente orientações e
novidades nos períodos anteriores, o que nos leva a confirmação da
necessidade de pesquisas que retratem os fatores históricos relacionados aos
diversos campos da área da moda.
Referências BOUCHER, François. História do vestuário no Ocidente: das origens aos nossos dias. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
JONES, Sue Jenkyn. Fashion Design: manual do estilista. São Paulo: Cosac Naify, 2005. p.20 – p.23.
NERY, Marie Louise. A evolução da indumentária: subsídios para criação de figurino. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2007. p.128 – p.264.
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