SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

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2012 Número 16 - setembro/outubro Bimestral Distribuição gratuita ADRIÁN BLANCA ENTREVISTA TOURPÊDE BERLIM E PRAGA 25 TO LIFE FRANCISCO LOPES 25 ANOS DE SKATE

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SURGE Skateboard Magazine, 16th issue: "Curto é de Baldes!". 15 000 copies::free distribution:: Find it in a skate shop-championship-party-movement-spot-internet-smartphone near you! "25 to Life" Francisco Lopez 25 anos de Skate, Adrián Blanca - Entrevista, Tourpêde - Berlim e Praga, Consultório do Dr. Manka-te, Tim Zom, "Gosto é de Baldes" - Marisquiño 2012

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2012 Número 16 - setembro/outubro Bimestral Distribuição gratuita

ADRIÁN BLANCAENTREVISTA

TOURPÊDEBERLIM E PRAGA

25 TO LIFEFRANCISCO LOPES 25 ANOS DE SKATE

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AURA S.A. - 212 138 500

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Distribuição www.marteleiradist.com212 972 054 - [email protected]

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2012

Esta rubrica “panorâmica” é das que me dá mais gosto escrever,

na verdade tenho mais prazer em escrever do que propriamente

em ler... quando enviamos uma revista para a gráfica acho sempre

que podia ter feito algo melhor ou ter dito uma ou outra coisa de

maneira diferente…

Mas algo de que gostei sempre, independentemente do texto, são

as imagens que usamos nas “panorâmicas” de todas as edições

da Surge. Em cada uma das que usámos não fico a pensar que

poderíamos ter escolhido melhor… e esta imagem que estás a ver

agora em dupla página é mais uma delas, se não a minha favorita.

De facto esta imagem vale por todas as palavras que queria ou poderia

escrever… por isso e, se me permitem, para esta “panorâmica” gostaria

que fixassem esta foto do crailslide do Eddy durante um minuto.

Garanto-vos que, se gostarem de skate, esta imagem irá transmitir-vos

“Olha”

panorâmicafotografia Renato Lainho

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muito mais sobre o nosso estilo de vida do que qualquer crónica,

relato ou opinião… eu não me canso de olhar...

Pedro Raimundo

“Roskof”

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facebook.com/pages/Circa-Portugal/ Distribuição Cia.Brasil [email protected]

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“The Sadness bowl”, ou o bowl da tristeza, é como se chama esta rampa em que o Stian Myhre está a dar este frontside handplant… apesar do nome, acreditamos que grande parte de nós ficaria bastante feliz se conseguisse dar uma manobra destas...

fotografia Matss Kahlstrom

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Gosto é de baldes…Aventuras e desventuras... mas os tugas lá limparam o Marisquiño 2012

Lrg United NationsNa assembleia geral da LRG a única coisa que se discute são coisas boas da vida, como o skate. Bem que precisávamos disso na Assembleia da República

Tim ZomUm dos melhores skaters europeus mais parecido com um gato perneta… estranho? já vais perceber...

“25 to Life”Francisco Lopez, 25 anos “encarcerado” no skate, haverá algo melhor?

Adrián BlancaCom milhares de linhas se fazem coisas simples

TourpêdeUm grupo de skaters leva uma arma secreta tipicamente portuguesa até Berlim e Praga… a flatulência!

Dr. MankateLer a cantar: como o macaco gosta de banana, o Dr. gosta de ti!

Ficha TécnicaPropriedade: Pedro RaimundoEditor: Pedro RaimundoMorada: Rua Fernão Magalhães, 11São João de Caparica2825-454 Costa de CaparicaTelefone: 212 912 127Número de Registo ERC: 125814Número de Depósito Legal: 307044/10ISSN 1647-6271Diretor: Pedro [email protected]: Sílvia [email protected] criativo: Luís [email protected]:[email protected]

Colaboradores: Rui Colaço, João Mascar-enhas, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Luís Moreira, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris, Matss Kahlstrom.

Tiragem Média: 15 000 exemplaresPeriodicidade: BimestralImpressão: Multiponto, S.A.Morada: Rua D. João IV, 691-7004000-299 Porto

Interdita a reprodução, mesmo que parcial, detextos, fotografias ou ilustrações sob quaisquermeios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais.

www.surgeskateboard.com

Queres receber a Surge em casa, à burguês?É só pedir. Através de [email protected] anual em casinha: 15 euros

Capa: Melhor que um skate, só mesmo muitos skates, melhor que muitos, só mesmo milhares…e por aí em diante

ilustração Adrián Blanca

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2012

Boas doutor!

Sou o Pedro, da Amadora, e adoro skatar. Skate para mim é tudo

e aqui na minha cidade o skate reina.

Temos dois skate parques, o Indoor Ski Skate e o skate parque da

Ilha Mágica. Mas eu estou um pouco triste porque o skate parque

que frequento é o da Ilha Mágica e não sei se sabe mas está

bué estragado, cheio de buracos e de putos a andar de bicicleta.

Enfim. De vez em quando combino com a malta da ilha e damos

um saltinho ao Indoor, mas pagar 2 ou 4 euros por cada ida todos

os dias fica chato... e quando experimentamos a street, somos

sempre expulsos.

Chato, não é?

Beijos na bunda.

Porra! Porra, Pedro!

Mas que conversa de trampa é essa?

Lá estão vocês a queixar-se de fartura!

És dos poucos a ter a sorte de viver perto de um indoor skate

parque. Isso é um luxo, meu amigo!

Eu sou de Almada e nos dias de chuva, skate é mentira! Já nem

falo no nosso skate parque senão começo a chorar...

Queixares-te da tua namorada que te enfia o dedo no rabo ou de

ter uma unha encravada que não te deixa skatar está bem, agora

ficares triste por teres dois skate parques na tua zona... MANKA-TE!

Beijo na bunda, meu animal!

Dr. Manka-te

Olá Dr. Mankate.

Já me deves conhecer, ando sempre de skate em Almada e toda a

gente me trata por “Hardcore”.

Escrevo para a Surge para que todos saibam como o skate teve

uma intervenção divina na minha vida.

Não vou pormenorizar muito o assunto, apenas preciso de dizer

que à pala de uma mulher que amava muito e perdi na minha

vida, entrei em depressão, ou algo do género. Deixei de comer,

dormia muito pouco, mal e sempre com pesadelos. Como não a

tinha na minha vida, chegou o ponto em que me tentei suicidar.

Família, amigos e psiquiatra, bem tentaram ajudar-me, mas a

ideia de morrer não me saía da cabeça. O que realmente me

salvou a vida foi o skate. Ter voltado a agarrar no skate, dois

anos depois de ter deixado, foi a melhor decisão que já tomei em

toda a minha vida. Pois comigo aconteceu o que diz a velha frase

“quando skato, todos os problemas desaparecem”. Voltar a skatar

deu-me ânimo e vontade de viver! Com o skate sinto-me forte o

suficiente para prosseguir a minha vida sem os comprimidos que o

psiquiatra me receitou, há semanas que não toco neles.

Não volto a meter as mãos no fogo por gaja nenhuma, mas

pelo skate eu meto as mãos no fogo, afinal já me salvou de ficar

agarrado às drogas e, agora, salvou-me a vida!

Bjs na bunda

Meu puto.

Nem sabes a alegria que senti ao ler a tua carta.

As mulheres são tramadas, meu camba. É a melhor coisa que

existe neste mundo, perdê-las não é fácil. Mas com o tempo vai-se

ultrapassando essa perda, porque existem tantas... tantas...

tantas... aaauuuuuuu!!!

Não há nada que não se resolva, malandro, então para esse

problema, o que existe mais são soluções. Aaaauuuuuuuu até já

estou a ficar excitado, ó Hardcore!

Há sempre uma saída. A que escolheste é, sem dúvida, uma das

melhores. Skate é vida!

Manda tudo cagar e vai skatar!

Tenho orgulho em ti!

Beijo nessa bunda Hardcore

Dr. Manka-te

Pessoal da Surge,

tenho uma notícia para vos dar, uma noticia má!

Hoje estava a ir para o skate parque das Caldas da Rainha e

estava a descer na beirinha da estrada, encostada ao passeio, em

contramão, como costumo fazer sempre para poder ver os carros

e ter tempo de me desviar, quando um carro que já estava todo

partido, vê-me e apita. Eu desvio-me, mas ele vira o volante para

vir contra mim, o carro bate-me com o espelho retrovisor lateral

direito, fazendo com que o espelho se parta, melhor, se desfaça

em pedaços no meu corpo! (Quem viu disse que o espelho já

estava todo com fita-cola...) O condutor acusou-me de não ter

educação nenhuma e de me ter atirado para cima do carro de

propósito! Claro, eu adoro ser atropelada hahah... mas, pronto,

o homem chamou a polícia, mas a minha mãe, ao chegar ao

local com o pessoal do skate parque das Caldas, apoiou-me. A

minha mãe ao ver a situação percebe que se tratou de um acidente

propositado e queria participar uma agressão, mas a polícia não

mexeu nem uma palha e disse que não podiam fazer nada, pois

eu estava em contra mão! Pessoal, peço que passem a palavra

pois temos nas Caldas um atropelador de skaters que só quer

fanar dinheiro aos pais para arranjar o pópó! A situação é bué

injusta porque a polícia toma o partido do homem, o condutor é

bruto, mal educado e abusivo a falar, pensa que é melhor que os

outros porque tem dinheiro (ou já teve, em dias) pahaha mas tenta

atropelar skaters para arranjar o carro, coitadinho!

Um abraço

Minha querida

Sempre gostei de andar de skate na estrada. Acho que todos os

skaters gostam.

Já passei por situações parecidas, mas felizmente nunca me

acertaram com o carro. Temos que estar sempre atentos, porque

existem filhos da puta em todo o lado!

Junta uns amigos e descobre onde mora esse urso. Descobre o

carro dele. Barra-lhe o puxador da porta com merda e enfia-lhe

uma banana no tubo de escape.

Faz isso por mim!

Um grande beijinho nessa bundinha de skater, cheia de nódoas

negras!

Dr. Manka-te

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Dá a tua opinião sobre a revista. Envia-nos as tuas ideias ou sugestões. Manda fotos de spots novos na tua

zona e do rabo da tua melhor amiga… sei lá… escreve por tudo e por nada… se aqui o Dr. Mankate curtir,

publicamos a tua carta na revista e se tiveres sorte, pode ser que te toque alguma coisa…

Abraços e beijos na bunda.

Dr. Mankate

[email protected] www.mankatetainha.com

página 17 Dr. Manka-te

CONSULTÓRIO DO DR. MANKA-TE

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[email protected]

www.myspace.com/lrgportugalwww.twitter.com/carsportif

T: 261 314 142

www.facebook.com/pages/LRG-Portugal/

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2012

texto e fotografia Jorge Matreno

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página 21

O skate e os jogos olímpicos possivelmente não têm nada em comum, a não ser o facto

de que este ano os jogos foram na Europa e o team internacional da LRG também

visitou o velho continente. United Nations foi o tema da tour europeia da LRG, que

visitou uma série de países de uma ponta à outra da Europa. Nunca tinha tido tantas

expectativas em relação a uma tour de skaters internacionais ao nosso país. Coube-me

a missão de recebê-los e em menos de três dias tentar da melhor maneira percorrer

uma série de spots na área de Lisboa.

O Tom chegou a Almada e assassinou a Praça da Liberdade (vulgo, Praça do Mac) com

este fakie ollie swicth frontside crooked flip out… é caso para dizer: Asta la vista, baby!

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2012

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Faço a primeira de três viagens ao aeroporto, para receber os

“primos” afastados, cuja visita há tanto tempo esperávamos. Os

primeiros a chegar, em jeito de “dejá vu” foram o Tom Asta e

o cameramen Ian Berry, que voltavam a pisar o solo de Lisboa

em menos de um mês... a meio do dia chegou o grupo maior.

Liderados pelo Tyrone, o team manager, vinham o Rob Gonzalez,

Rodrigo TX e o Felipe Gustavo.

A caminho do hotel, numa mistura de Inglês, Português do Brasil

e efeitos do “jet-lag”, já se começava a escrever o enredo para os

próximos dois dias. Era importante definir bem as coisas. O tempo

era precioso e pouco, tinha de ser bem aproveitado!

Neste primeiro dia demos umas voltas pela cidade ainda em

“rescaldo” dos santos populares: grelhadores a bombar, sardinha

assada e música popular foi o mote dado para relaxar depois

da viagem. Em busca de bifanas, pastelinhos e umas cervejinhas

frescas, fomos andando entre o miradouro do Adamastor e a

Bica, todos super entusiasmados com o ritmo e a vista da cidade

ao entardecer, até à hora de procurar uma refeição tipicamente

portuguesa... para alguns... para mim, mais uma viagem ao

aeroporto, faltava chegar o Jack Curtin, que ainda veio a tempo

de saborear um salmão grelhado. Apesar do jet-leg, houve

energias extra para conhecer a noite do “Bairro”, embora apenas

o tempo necessário para uma boa apresentação.

página 23 LRG United Nations Portugal

O team manager da Lrg ficou sem as malas alguns

dias, por isso o Filipe Gustavo decidiu animá-lo

com este flip crooked… isto é que companheirismo

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O hotel do Martim Moniz marca o ponto de partida. Chego cedo ao hotel, para

conseguir localizar as malas perdidas do Rob G, que ainda não tinham “dado à costa”

e onde estava o skate e restante material. O Rob mostrava-se um bocado apreensivo...

pensamento que ficava para trás mal saímos do hotel. Em frente, o largo do Martim

Moniz serviu para apanhar um pouco de sol. Seguimos até Sintra e ao pequeno

almoço, ou será mais correto dizer “Brunch”?!

Dos travesseiros da “Piriquita” ao primeiro spot eram apenas dois minutos... do spot

até ao Indoor Skate Community foram cerca de duas horas de manobras.

Saímos de Sintra com um certo atraso e um primeiro desagradável encontro

com a GNR, que nos expulsou para Torres Vedras, onde muitos nos esperavam

impacientemente. Queriam um festival de manobras, que acabou por aumentar mais

ainda a temperatura no skate parque, numa grande festa da LRG.

O dia ainda não tinha terminado e o Jack queria regressar a Sintra, ficou por dar um

BS Noseblunt no bank na rua sem carros. Não fazia a mínima ideia que voltaríamos

a encontrar-nos com os mesmos polícias no mesmo local e numa situação bem mais

complicada. Esperei o pior, mas com uma boa conversa e muita calma conseguimos

safar-nos de uma grande multa!

Depois desta benesse foi altura de jantar, regressar ao hotel e saber que o Rob ia

dormir mais aliviado depois de reaver as malas!

Segunda-feira foi um dia ainda mais intenso que o anterior, restava este dia para

skatar uns quantos spots de Lisboa e arredores. Debaixo de grande calor fomos para

a margem sul. Almada e Monte da Caparica foram os locais escolhidos para destilar

sob um sol que não dava tréguas, mas onde todos os minutos foram aproveitados ao

máximo. Quem se motivou mais ainda foram o Né, Rapha, Simão, Ivan, Roger e o

Tekilla. Aproveitaram ao máximo a presença destes “primos” afastados.

2012

O Rodrigo Teixeira recebeu na demo em Torres uma

recordação única… um ca#@!!@ das caldas. Este

switch fs flip também é das caldas, não concordam?

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página 25 LRG United Nations Portugal

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O dia estava a meio e já muito se tinha feito pela margem sul, regressámos a Lisboa para

os últimos spots. Houve tempo para ver o Felipe Gustavo “tratar bem mal” o corrimão da

Avenida dos EUA. Mais uma vez fez-se história naquele mítico spot, passagem obrigatória

para a maioria dos teams internacionais em Portugal. A Praça do Comércio marcou as

últimas manobras, naqueles curbs perfeitos. A passagem pela primeira nação estava

concluída, embora de modo um pouco rápido, mas com regresso pensado, quem sabe,

para breve... no dia seguinte o tour LRG United Nations embarcava para Barcelona, onde

iríamos estar umas semanas depois.

página 26 LRG United Nations Portugal2012

Depois de vários stresses com

as forças de autoridade, o

Jack Curtain lá conseguiu uma

manobra em Sintra… backside

flip switch manual pop out

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página 29

Desde que começámos a Surge que ficava sempre roído de inveja quando os meus colegas arrancavam em Agosto para o

Marisquiño. Nessa altura apareciam-me sempre compromissos que não me deixavam desfrutar desse, já, clássico fim de

semana em Vigo. Mas a vida é assim, todos têm as suas oportunidades e este ano calhou-me a mim, ao Roca, ao Christian

e ao já “residente”do Marisquiño, Mascarenhas, rumar à Galiza.

EU GOSTO É DE BALDES… MARISQUINO 2012

texto Roskof

fotografia Mascarenhas

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2012

Nestes dois anos em que não consegui ir a Vigo, o Marisquiño cresceu ainda mais. Caso não tenham ideia

do que é, imaginem algo como um daqueles nossos mega festivais de verão, com música, skate, bmx, break

dance... tudo e mais alguma coisa, espalhados pela cidade toda… e, melhor ainda, completamente de

borla!… uma ideia a aproveitar, senhores promotores de eventos. Mas, adiante. Como sempre, a competição

de skate contou com a presença de muitos portugueses e este ano os nuestros hermanos que nos perdoem

mas os tugas não deram hipótese: o Gamito partiu a quadra e partiu-se a ele próprio (pregou-nos um susto

ao ser atropelado nos treinos), o Jorginho ganhou a categoria Open e levou os 3000€ para casa e nos

amadores o Afonso Nery também não deu hipóteses à concorrência... ainda por cima vimos pela primeira vez

skaters nacionais numa mega-rampa…

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página 31 O MARISQUIÑO XII

Estas escadas em Vigo já viram tantas manobras portuguesas

que deviam ser consideradas uma embaixada nacional na

Galiza… João Neto nollie heel

Page 32: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Podia estar aqui a descrever todos os episódios com os skaters nacionais na competição,

mas não foi só para isso que fomos até Vigo. É como diz um célebre slogan de um festival…

vens ver ou vens viver? Claro que fomos para viver e com uma cidade em festa durante 3

dias, viver torna-se bastante fácil. Para além de uma “movida” à antiga Espanhola, Vigo é

umas das melhores cidades para o street skate na Península Ibérica. Durante muitos anos

foi um dos segredos bem guardados da comunidade skater, eu próprio só conheci Vigo

quando o pessoal da Tribos Urbanas, de Leiria, me convidou para um fim de semana na

cidade. Esses tempos em que as visitas de skaters estrangeiros a Vigo eram esporádicas

já lá vão, hoje em dia muitos dos seus spots já são capas de revistas por todo o mundo…

2012

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página 33 O MARISQUIÑO XII

O Viola perdeu o último táxi

mas não ficou chateado, em

vez disso aproveitou para este

switch drop

Afonso Nery no “Chimpo do

Car@!!@” sim, esse era mesmo

o nome da megarampa,

anunciado a voz alta durante

todo o fim de semana em Vigo

Este ollie do Pedro

Silvestre é mais uma

daquelas… toda a

gente diz que dá, depois

quando lá chegam não

é bem assim… parece

fácil... acreditem, não é!

Page 34: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Por isto tudo, tínhamos que aproveitar ao máximo o fim de semana,

fosse de dia, fosse de noite. Para além disso há sempre algo mágico

quando os “tugas” se encontram lá fora. Podem até nunca ter falado

uns com outros cá na terra, mas lá fora tornam-se os melhores amigos

e partilham episódios únicos, e foram tantos! Desde o jovem que ia para

o Festival do Marisco de Olhão e acabou em Vigo às 6 da manhã com

a típica caneca na mão, ou o que se mandou da varanda do 2ª andar

por que os amigos não o deixavam entrar no quarto “com os copos”…

2012

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página 35 O MARISQUIÑO XII

João Allen mal chegou a Vigo

teve tratamento vip… é a benesse

de dar manobras destas e ter

uma carinha laroca… frontside

shove-it

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página 37 O MARISQUIÑO XII

Kiko Perdigão fronstside bigspin

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No primeiro dia de o Marisquiño, quando a malta se juntou toda, alguém disse: “Eu gosto é de baldes” numa alusão não muito

simpática às nádegas das meninas de Vigo… como um autocolante na mão de um miúdo de 12 anos, a frase colou de imediato

e passou a servir para tudo durante o fim de semana. Íamos skatar a um spot e tínhamos de andar quilómetros: ninguém se

queixava! Bastava alguém dizer “Eu gosto é de baldes”... toda a gente se ria e as dores nas pernas passavam logo. Houve

mesmo alguém que sugeriu fazer um autocolante com essa frase. Na altura não chegámos a consenso sobre se devíamos, ou

não, fazer isso, mas agora que estou de volta a casa e olho para esses dias, já decidi: vou fazer um e colá-lo no pára-choques

do carro. Já sabem, se foram ao Marisquiño 2012 façam um, se não foram, caso passem por mim, apitem!... e reservem uns

dias para a edição de 2013.

página 38 O MARISQUIÑO XII2012

Jorginho backnoseblunt para $$

Ruben Rodrigues frontfeeble na rampa que mais vítimas fez entre os skaters

nacionais. Perguntem ao Rafa e ao Gamito… que se atropelaram um ao outro

Antes de limpar o campeonato, o Jorginho ainda teve tempo para limpar

este spot com um hardflip perfeito

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página 41

entrevista Roskof

fotografía Vasco Neves

FRANCISCO LOPEZ

FRANÇA

25 anos é muito tempo em cima de um skate, grande parte

dos leitores desta revista ainda nem sequer tinha nascido,

mas, mais importante do que saber como é que começaste

a andar, era interessante comparar como é que vias o

skate na altura e como é que o vês hoje. É que passado

este tempo todo, quando te vemos a andar, ainda parece

que tens aquela pica de miúdo... é mesmo assim?

Sim, é verdade, a pica de miúdo está cá sempre e acho que foi

ela que sempre me motivou e deu força para seguir em frente

perante tantos obstáculos que por este período existiram, agora

dizeres que é muito tempo em cima de um skate, isso aí… todo

o tempo em cima de um skate é bom, sejam 25 anos ou 25

segundos, bastaram 3 segundos em cima de um skate, em

1986, para eu ficar completamente viciado. Acho que o que

me deu e dá sempre pica é aquela sensação de liberdade que

o skate te dá, a possibilidade de poderes gritar, cair, rir, chorar,

andar a abrir, de te mandares para um rail ou um drop, ou

simplesmente teres a liberdade de poderes dar ou pé e não

parar mais… tipo FOREST GUMP mas de skate heheheh

Acho que isso é mesmo o que eu gosto no skate.

Durante 25 anos muita coisa acontece, muitas encruzilhadas

se apresentam à nossa frente na vida, tiveste alguma que

tivesse marcado e te pudesse ter levado por um caminho

completamente diferente, ou sempre soubeste o que querias?

Epá, há sempre aquelas idades que é tramado, as

namoradas, as saídas à noite, o surf e o snowboard no

meu caso, mas o skate falou sempre mais alto e eu sempre

soube o que me transmitia a liberdade e rebeldia que eu

procurava. Nunca consegui estar muito tempo sem uma

voltinha de skate, acho que nunca estive mais de um mês

sem andar de skate em toda a minha vida, quer dizer,

tirando o tempo parado por lesões… bem, agora vendo,

acumulando o tempo todo parado por lesões, pés, coluna,

braços, costelas, amnésias, huuuu se calhar ainda faltam

aí uns três aninhos para fazer 25 anos de skate reais

ahahahahahahaah

Page 42: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Após estes anos todos no skate, dos vários títulos de campeão

nacional, ainda entras nos campeonatos, mas a diferença de idade

de ti para os restantes skaters é considerável (nota que não te estou

a chamar velho hehe), mas porque é achas que da tua geração não

há mais skaters que se tenham mantido ativos, seja na indústria ou

somente a skatar?... e não achas que seria bom que houvesse mais

skaters veteranos para “dar na cabeça” à nova geração?

Começando pelo fim da tua pergunta, sim, era muito melhor

se houvesse malta mais velha no skate parque, porque os putos

fazem-me sentir velho, não pelo skate, porque eu não tenho, nem

nunca tive nada a provar a ninguém, mas é que de vez em quando

há uns putos que me chamam de SENHOR (tu acreditas nisto?),

como se eu tivesse idade para ser pai deles todos. Assim, se existisse

malta mais velha, não era o único a ouvir destas... heheheheheh

Em relação aos mais velhos, acho que pode haver várias

“carapuças” para a desculpa de nem sequer terem tempo para dar

uma voltinha, mas depois veste-as quem quer.

Eu já ouvi de tudo, desde trabalho, da falta de tempo, à barriga,

aos filhos, à vida profissional, ou por lesões “cerebrais”, por

inatividade, por falta de pica, há de tudo um pouco.

Eu nunca pensei que, quando embarquei nesta viagem há 25 anos,

o skate iria mudar para sempre a minha vida, mas foi cedo quando

realizei que queria fazer algo pelo skate e tornar-me uma força

mais ou menos ativa neste, quer fosse a andar ou ligado a ele.

Por falar em nova geração, como team manager da DC tens tido

um papel importante na descoberta de alguns dos mais promissores

skaters nacionais, como o Jorginho ou o Roseiro, entre outros,

sabemos que até houve uma história engraçada quando ligaste

para o Jorginho pela primeira vez... nestes dias que correm, como

é que encaras a tua função de team manager e quais os desafios

para as carreiras destes novos valores?

2012

O França fica chocado por os putos o

chamarem de senhor. Mas olhem que este

frontside flip é mesmo à senhor

Page 43: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Ya, a história do Jorginho é linda. Conversa real mais coisa menos coisa:

“- Estou, Jorge, é o França, Team Manager da DC tasse bem?

- Ya, ya, tá tudo.

- Olha estou a ligar-te para saber se queres vir para a DC Portugal,

xx Sapatilhas xx peças de roupa , xx guito para campeonatos e

viagens, xx tour´s, etc… queremos isto e aquilo, proporcionar-te

coisas diferentes, temos o Coutinho, o Roseiro, eu, na altura, o

Marco Roque,… (e por aí em diante)

- o puto respondeu outra vez...

- ya, ya, tasse bem, vou ver, depois digo alguma coisa.

- E eu pensei “granda moral a do puto, fonix, ya ya, e vou ver, um

meia leca de 14 anos. Isto está bonito, o skate nacional.

15 minutos depois toca o meu telefone.

Jorge: “Tou, França, és mesmo tu?

- Ya puto, sou eu, o que foi? Ficaste com dúvidas em alguma coisa?

Posso ajudar em alguma coisa?

- Xi nem acredito que és tu, é que os meus amigos estão sempre a

dar-me a tanga e eu não acreditei, é verdade o que me estavas a

dizer? É que se sim, eu quero aceitar”.

Bem foi a risada total… aí percebi que com a humildade que tinha

ia chegar longe.

É uma história para recordar, sem dúvida, granda puto, mantém-te

humilde, que o resto aparece.

Epá, em relação às carreiras deles, eles é que sabem o que têm de

escolher, eu apenas estou cá para tentar tornar as coisas mais fáceis,

quer seja com melhores contratos, melhores propostas, mostrar

novos spots, fazer tours, abrir portas e mostrar outras realidades. Mas

são eles que têm que se mexer, eu posso passar a minha experiência,

mas em cima de tudo isto, o skate é que fala. Se fores bom, és bom,

se não, faz como eu, diverte-te heheheh quer dizer, diverte-te sempre,

quer sejas bom ou menos bom, o que interessa é andar.

página 43 25 to life

drop-drop… podemos chamar-lhe assim

Page 44: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Ao longo do anos viste muitas modas no skate, a era do vert , a era

do street, dos corrimões, dos curbs etc... mas desde que te conheço

que skatas tudo e mais alguma coisa e hoje em dia és dos poucos

skaters nacionais que, apesar de haver muitos e melhores skate

parques, continua a skatar com consistência em transições, porque

é que achas que isso acontece?

Olha, quando comecei não havia nada, depois apareceram os

quarters, que predominaram na minha infância, e depois, aí aos

14/15 anos, apareceu a rua no meu horizonte, o street skate. Nessa

altura apareceram também as mini-rampas espalhadas pelos bairros,

depois, ao mesmo tempo que o street ganhava força, começaram a

aparecer os primeiros parques e claro mais curvas e rampas tipo

módulos, por isso é normal que eu ande em rampa. Sempre andei.

Em relação à nova geração, eles estão sentados ao computador a

ver filmes e nos filmes os pros só andam em street, então é o que

eles querem, é streetar, mas esquecem-se que todos eles partem

em mini-rampa, desde o Koston ao Reynolds. Mas esta última

geração, quer nacional quer internacional, está a ver a necessidade

de se expandir do street para as transições, ao contrário do nosso

processo, pois a transição dá-te muita segurança para a velocidade

no street e eles estão novamente a aperceber-se disso, mas em

Portugal há uma distância enorme dos últimos skaters que andavam

em transições no nosso tempo e os putos de agora.

Lembro-me que estiveste vários anos em teams Europeus como na

Volcom ou na Carhart, na altura cheguei a estar contigo lá fora,

havia sempre um grande grupo de skaters portugueses em todos

os grandes eventos e até em tours. Hoje, apesar de ser tudo mais

fácil, temos menos skaters nacionais em teams europeus, achas que

os skaters nacionais não têm confiança ou é mesmo uma questão

de dedicação?

Eu acho que há mais fatores além desses e um deles é a economia.

É verdade que tens que ter confiança, motivação e ambição para

ires e, se fores, tens que ter dedicação, pois é um mundo cão lá

fora e existem mais 50 como tu, mas as possibilidades económicas

são muito importantes. Da nossa altura, os que fomos lá fora e

conseguimos alguma coisa em termos de contratos com marcas

fora de Portugal, eu, o Ricardo, o Gui, o Guelas, fomos porque ou

tínhamos bilhetes mais baratos, ou os nossos pais podiam bancar,

por isso foi mais fácil para nós conseguirmos ir mais vezes lá

fora. Mas se não fosse esse apoio deles tinha sido difícil, mas não

impossível pois o Ruben e o Ed, já noutra geração, vêm provar o

contrário, os dois conseguiram chegar lá a pulso, com dedicação

e confiança e com ajuda das rampas que começaram a aparecer

nessa altura, mais parecidas com o que encontrávamos lá fora.

2012

Page 45: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Como já disse, cada vez temos mais condições para skatar e um dos

responsáveis por isso és tu, já desenhas e constróis skate parques

há algum tempo, imagino que deva ser complicado lidar com tudo

o que envolve construção em Portugal e ainda por cima quando

não fica como desejado, toda a gente, muitos skaters, mandam

bocas ou chateiam o arquiteto, que és tu... como skater como é que

encaras essas críticas?

Posso dizer-te que ninguém fica mais lixado do que eu, se alguma

coisa correr mal.

Sim, a construção é uma dor de cabeça, não devia ser, mas é,

quando faço um parque, a empresa que vai construir é sempre

diferente, ou seja, tenho que explicar tudo, tim tim por tim tim, era

muito mais fácil se fosse sempre a mesma, já sabia o que eu queria,

mas é assim, tens que confiar na perícia deles e eu procurar alargar

a minha experiência para que aconteçam o mínimo de erros

possível. O meu objetivo é sempre melhorar e tornar as críticas

cada vez menos frequentes, mas isso vai sempre existir e ainda

bem, pois assim obrigam-me a ser melhor, aliás, uma boa crítica

é construtiva e sempre bem-vinda. Outra coisa que o tempo nos

ensina é que quem está de fora não racha lenha, porque tomara

a muitos mexerem-se para fazer alguma coisa do skate nacional.

Nunca precisei de falar mal de ninguém para ser o que sou hoje, já

provei que faço algumas coisas bem e vou continuar, acho que no

final a qualidade do meu trabalho vai falar por mim.

Neste momento, para além da construção de skate parques

também és dos responsáveis pela dinamização de muitos, através

dos campeonatos do Radical Skate Clube, do qual fazes parte. Hoje

em dia, no entanto, há uma grande polémica em relação aos vários

circuitos nacionais, como é que achas que isto afeta o skate e o

futuro da cena nacional?

Primeiro e sem desrespeitar ninguém, eu não faço, nem nunca fiz parte

do R.S.C., que isto fique bem esclarecido, eu apenas como skater gosto

de transmitir a minha experiência para tentar tornar as coisas melhores

e mais positivas. Quando me quis tornar mais ativo neste campo fui ter

com as pessoas que carregam o skate nacional há ANOS, a Dulce e o

Paulo e, mais recentemente, a Neuza também.

Conheci a Dulce e o Paulo quando eles faziam demonstrações pelo

país inteiro e me chamaram para umas quantas, e como interventivo

que sou, comecei a dar as minhas opiniões sobre coisas que achava

que podiam ser melhores, (formatos competitivos, demos diferentes

que podíamos tentar, sei lá, dar ideias…). Com os anos e muitas

demos juntos, a nossa amizade foi crescendo, comecei a ser júri

em algumas provas, como o tão conhecido circuito amador, (onde

apareceu o Ed, o Ruben, o Gamito e outros que já desapareceram)

e por essa altura apareceu a oportunidade de começar a desenhar

rampas de skate e fizemos uma parceria como duas entidades

diferentes (como sempre fomos), o “França” de um lado e o R.S.C.

do outro. Assim tem sido desde que nos conhecemos, nem sempre

página 45 25 to life

Quando o França começou a andar de skate

esta árvore ainda era uma criança. É bom que

possam, ainda, brincar juntos… bluntslide

Alley-hoop nosegrab como só alguém que

anda de transições há muito tempo sabe fazer

Page 46: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

gostamos das ideias uns dos outros, mas da minha parte são só

mesmo ideias, porque a palavra final é sempre deles e eu ali não

mando nem nunca mandei em nada heheheheh

Para mim, circuito nacional há só um, aquele que tem enchentes

de gente para ver e participar, o do R.S.C., claro.

No que diz respeito a circuitos e campeonatos eu acho que se

forem de qualidade deve haver bastantes, quantos mais melhor,

(não sei com que guito), mas agora não venham chamar circuito

a uma coisa com meia dúzia de gatos pingados, só porque é da

federação de surf. Eu quero lá saber deles, eu ando é de skate

não é de surf, além do mais, em 25 anos de skate nunca vi a

F.P.Surf fazer nada pelo skate nacional, a que propósito é que

eles sabem o que nós gostamos? Eles usam wax nas pranchas e

no cabelo, vão lá eles saber o que é um verdadeiro Dagger de

skate e, pior, a estes juntam-se uns fanáticos da competição e do

protagonismo e dá no que se vê, qualquer dia usas licras num

campeonato.

Pensa lá na imagem que é transmitida num evento desses para uma

autarquia, o Sr. Presidente vai lá ver os miúdos e eles são aí uma

dúzia, depois são divididos em várias categorias, os piqueninos,

os piquenos e os grandes, 6 para cada lado, e no final há três

que ganham e outros três que não, e ele pensa “isto até parece o

circo, é mesmo coisa de miúdos, vou lá gastar dinheiro nisto, são

poucos e miúdos, qualquer dia crescem e deixam-se dessas coisas

dos “sequeites”, e fico ali com um skate parque vazio, naaahhh

vou mas é fazer mais uma fonte na rotunda nova…”

Mas sabes o que é que eu te digo? Eu quero é andar de skate e o

resto são detalhes e isto é a minha, e só minha, opinião sobre este

assunto, não quer dizer que esteja certo, mas com a experiência

de 25 anos de skate que tenho, acho que não é este o caminho.

Noutros cenários, foste pai há uns anos... lembro-me de noutra

entrevista numa revista nacional dizeres que isso fazia parte dos

teus planos, hoje quando te vejo com o Lucas e ele já a dar os

primeiros passos no skate, a primeira coisa que me vêm à cabeça

é , “aí vem mais uma máquina de skate”, não só por ser teu filho

mas por ver nele aqueles olhos a brilhar sempre que vê pessoal a

andar de skate... achas que é de família?

Wooh atenção, campeonatos são altamente, coisas boas, olha

lá a festa, tanta gente junta a andar e a curtir os toques uns

dos outros, olha lá as manobras novas e as festas à noite e os

amigos que já não vês há uns tempos e depois, lá no fim, até há

umas coisas para os capitães que ficam no topo do bolo, fogo,

campeonatos são altamente… ando neles aí há uns 15 anos e

vou continuar até não dar mais, adoro a festa.

Mas falar do meu filho é uma coisa muita boa. Sim, é uma

verdade, ele adora estar com a malta, fica logo à vontade, só

malucos cada um pior que o outro, todos se mandam para o chão

e dão grandes cambalhotas, ele adora, fica vidrado e quando

anda comigo até se baba de alegria. Agora começou a andar

sozinho, olha em Vigo, quatro dias com a malta toda que esteve

no campeonato, lá em casa era o Jorge, o Roseiro, o Vasquinho,

eu e as mulheres, o gajo estava em altas, tanto que deu o click, só

quer andar sozinho e dar ollie. É lindo vê-lo a andar sozinho. Se

ele vai ser skater ou máquina, epá, eu curtia que ele andasse, mas

é uma opção dele, mas curtia que ele sentisse a sensação que o

skate me transmitiu até agora na vida, é lindo.

2012

Um dia o França vai transferir

para o filho tudo o que sabe sobre

skate… até lá vai dar mais uns 50-50

transfers

Page 47: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

25 anos de skate é muito tempo, és dos que acha que já fizeste

tudo o que tinhas a fazer no skate, ou ainda sonhas com manobras

para dar?

Epá, sonhar com manobras para dar é uma constante, mas eu

agora já sonho de duas maneiras, as que quero dar… e as que

já dei hehehehheehheh mas, sim, sonhar com manobras é aquela

coisa que te dá pica, passares num spot e ficares a pensar no que

achas que podes dar e depois voltar lá com ideias mais claras, e

pumba, e se os toques saírem, isso então é lindo, é para isso que eu

ando de skate, isso e estrear spots é outra coisa que me dá bué de

pica. Olha, por exemplo, na última tour da DC estávamos à procura

de um spot e eu vi aqueles banks redondos e agressivos, em forma

de meia lua, fomos ao outro spot estivemos lá umas horas, depois

quando vínhamos embora era hora da bola, Portugal ia estrear-se

no europeu. Os putos foram ver a bola e eu fui passar quilos de

cera até aquilo escorregar, mas no fim lá saiu uma toquezito e a

sensação… é a melhor coisa do mundo. óóó pá, lá vens tu com

essa conversa de que 25 anos é muito tempo, tira isso da ideia

eu ainda quero pelo menos mais 25 em cima da tábua heheheh

e longe de mim dar o meu contributo por encerrado, quero estar

e continuar ligado ao skate, tentar desenvolver sempre o melhor

trabalho possível no que sei, que são os parques e um bocadinho

o managing de teams de skate, ou de outra forma qualquer que

a vida me quiser apresentar, mas o skate está na veia, já não sai.

página 47 25 to life

Page 48: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

A situação de Portugal não está fácil mas, como se diz, a esperança

é sempre a última a morrer... quais são as tuas para os próximos 25

anos em termos da cena de skate nacional e em termos pessoais?

Em termos pessoais eu sou um gajo simples e nunca faço grandes

planos, sou mais do tipo carpe diem, e então penso que quero

ser feliz, ter o que precisar para mim e para os meus, não sou

ganancioso, desde que tenha para viver bem, tasse, esses são os

meus planos, ser feliz e ver o meu puto a tornar-se menino, rapaz,

adolescente, homem, isso tudo a que tenho direito. É obvio que

tenho os meus golos e sonhos, pois eles são imprescindíveis para a

vida de qualquer ser humano, quero evoluir no meu trabalho, esse

é um dos meus objetivos para já e um dia, quem sabe, ser patrão

heheheheheheh isso é ‘quéra’, ser patrão.

Quanto ao skate nacional, acho que está a ficar mal entregue os

putos. Eles até nem andam mal e alguns até estão a andar bem,

mas sei lá… a alguns falta-lhes mesmo é pensarem por eles e não

serem tão levados, há outros que são inertes, não se mexem para

nada, querem tudo e que tudo lhes venha parar ao colo, outros

querem ser campeões lá do bairro, sei lá, deixa-me desalentado.

Não vês os putos a saírem do skate parque para ir para a rua, não

os vês a fazerem nada, nem um pouco de cimento para fazer um

curb sei lá, nada. Não vês aquela pica de ir de trouxa às costas à

aventura, sem querer saber de marcas ou o que seja e não digo

ir passar férias ao Algarve, é mesmo é arrancar para a Europa:

Espanha, Inglaterra, sei lá, tanto lugar… mas acho que no meio

ainda há uns que se vão safar mais do que outros, deixa ver…

prognósticos só no final.

A quem queres agradecer pelos 25 anos em cima da tábua?

Aos meus pais, estão no topo da lista, foram eles que me fizerem

quem eu sou hoje, quer na educação e amor que me deram, quer

no suporte para seguir os meus sonhos e me tornar no que sou

hoje, a eles o meu eterno amor.

É óbvio que há muito mais gente, como o meu irmão que me

apresentou o meu primeiro skate e é sangue do meu sangue, à

Neuza, minha linda e cara-metade, grande suporte dos meus

sonhos e viagens, ao pessoal que sempre andou comigo e me deu

pica, à rapaziada do old school da Praça da Figueira, de Almada,

do Porto, de Leiria, do grupo de Benfica do cemitério, ao pessoal do

new school por me continuarem a dar pica, embora me tratem por

senhor e a todos os outros skaters que me esqueci e com quem tive

o privilegio de andar por essas ruas do mundo.

Ao pessoal do R.S.C. por levarem e manterem o espírito fun no

skate há tanto tempo, ao Vasco por me ter aturado para fazer as

fotos e o vídeo desta entrevista, à Surge pela oportunidade do

carcaça aparecer e a todos os que trabalham diretamente comigo,

quer seja nos skate parques, nos meus projetos de vídeo e imagem,

quer seja o pessoal do escritório e armazém DC.

Depois há aqueles que é óbvio e a quem não podia deixar de dizer

um obrigado que são todos os meus ex-patrocinadores e atuais

patrocínios, DC, Bana e DHC Tattoos, por terem na sua altura

acreditado em mim e, atualmente, por continuarem a acreditar nas

minhas capacidades como skater e/ou pessoa.

Sei lá, a lista podia ser enorme e agora que falaste em agradecer

pus-me a pensar a quem queria dizer um tasse... e depois pensei

em 25 anos de agradecimentos xiii é bué da tempo, afinal até tens

alguma razão… já estive com tanta gente em tantos lugares, em

tantas circunstancias, a tantas horas e com tantas emoções xiii 25

anos … À MANEIRA, venham pelo menos mais 25.

Onde está o Wallie? Em Chelas, mas com o frontside para fakie...

página 48 25 to life2012

Page 49: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

página 48 25 to life

Page 50: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

2012

intro Roskof

fotografia Dvl

entrevista Bram de Cleen

De todas as histórias sobrenaturais que já ouvi, a seguinte é das que mais me marcou, ou não tivesse ela acontecido lá em casa. O ano

passado, aquando da visita do Eric Antoine e do Rob Maatman a Portugal, jantávamos em casa e a certa altura, um dos muitos gatos que

por lá costumam aparecer, ficou especado à janela a olhar para nós… até aqui nada de anormal. Todos os dias os gatos dos vizinhos fazem

isso… mas o Rob e o Eric ficaram, também eles, especados a olhar para o gato, até o Eric dizer: “Não acredito, aquele gato é igual ao Tim

Zom”... o Rob rematou logo: “caraças, é mesmo, estava-me a fazer lembrar alguém”… quanto a mim, só tinha estado com o Tim uma vez,

mas realmente a cara e os olhos eram muito parecidos… branco como a cal, olhos azuis esbugalhados e até a forma da cara era igual...

e era também a primeira vez que via este gato branco lá por casa… durante a semana que passaram cá, o “Tim” aparecia todas as noites

e fazia a mesma coisa, ficava ali no parapeito da janela a olhar para nós. O estranho foi que assim que os dois convidados regressaram a

casa, o “Tim” misteriosamente não voltou a aparecer… nunca mais ninguém viu o gato branco por aqueles lados… até ao dia em que o DVL

me ligou a perguntar se queríamos uma entrevista ao Tim Zom. Eu concordei e adivinhem?… desde esse dia que o gato voltou a aparecer,

mas desta vez sem uma pata… se isto não vos provoca arrepios na espinha... não sei, a mim provoca de certeza…

Page 51: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

página 51

Page 52: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Tim, vamos começar com a informação básica.

Patrocinadores, terra natal... já sabes como é.

Skato para a Nike, Skate Mental, trucks Independent,

rodas Wheels, The Hundreds, Ben-G, Alfredo

Gonzales e Woei.

O quê ou quem é Alfredo Gonzales?

Uma empresa de meias.

E a Woei?

Uma empresa de ténis.

Tu já tens ténis de borla, o que é que eles te dão?

Air Max grátis. E o dono é um grande amigo meu, por

isso dou o meu apoio.

Não há nenhum patrocínio de nenhuma coffee shop?

Isso queria eu.

Erva ou haxixe?

Erva.

VX ou HD?

Ambas são brutais, desde que a filmagem seja boa.

Tuckknee ou nosebone?

Tuckknee. Mas um bom nosebone também é brutal.

Entraste recentemente para o team da Skate Mental,

como é que isso surgiu?

Eu skato por uma skate shop e eles disseram-me que

devia fazer um clip para a Skate Mental e foi o que

fiz. De repente o clip estava no site da Thrasher! E teve

uma data de views. Depois disso conheci o boss da

marca e depois de uma conversa ele perguntou-me

se eu queria skatar para eles.

Até tiveste direito a um anúncio na Thrasher!

Ya, foi brutal, foi do género a oficializar a coisa ;)

Vi que o clip tem 100.000 views no youtube , tu e o

Sami (Hassani – câmara) comemoraram esse feito?

Fomos a uns quantos bares nessa noite, foi divertido.

Muitas vezes skatas spots assustadores, onde pode

acontecer aleijares-te a sério. Ainda sentes muito

medo ou já estás habituado?

É sempre uma sensação estranha quando nos

mandamos para alguma coisa pela primeira vez, mas

depois da primeira tentativa, a única coisa que queres

é aterrar a manobra!

Preferes uma boa queda ou andar para a frente e

para trás até finalmente te atirares?

Uma boa queda.

Quantas vezes é que já ficastes preso pelas “bolas”

num corrimão?

Algures entre cinco e oito vezes.

Numa escala de 1 a 10, quantas vezes é que não

consegues skatar no dia depois de um rail ou alguma

coisa grande?

Diria que pelo menos três, quatro, talvez cinco vezes

em cada dez.

2012

frontside flip para o bank

blunt

Page 53: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

página 53 Tim Zom

Para um gato perneta, este

backside tailslide não está

nada mal

Page 54: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Tiveste um clip brutal. Contei, e deste um grind de 4,4 segundos.

Como é que foi?

Já tinha visto aquele spot antes, alguém tinha postado uma foto

no facebook... estávamos a skatar naquele bairro e “tropeçámos”

nele. Pensei que também podia tentar... saltei algumas vezes e uma

delas fui até meio caminho. Depois disso sabia que conseguia e

portanto continuei a tentar.

Em que é que estavas a pensar durante aqueles segundos?

Não sei, apenas pensava “mantém-te estável, mantém-te a direito,

mantém o teu corpo em cima do rail”. Depois de ter feito o grind a

um terço do comprimento comecei a pensar “só mais um bocadinho,

só mais um bocadinho” e quando cheguei ao fim: “foda-se, o fim!”,

e só esperava conseguir aterrar e não estragar tudo.

Acho que é fixe teres mostrado que ficaste feliz depois de teres

aterrado aquilo.

Não conseguia controlar-me. Sou assim, mostro sempre o que sinto

e as pessoas sabem que sou assim. Não sou de fazer uma pose

cool, ou indiferente, ou o que quer que seja.

O que é que fizeste depois de partires a tábua e mandares um chuto

na vedação?

Já tinha dado algumas quedas naquele dia, uma no rail e mais

umas quantas nuns spots que tínhamos skatado antes disso, por

isso quando fiz aquilo dei o dia por encerrado. Fui para casa ver

um filme.

Portanto, basicamente filmaste um clip para a loja que te patrocina

e de repente estás na Thrasher e a viajar para os Estados Unidos.

Estás a divertir-te por lá? O que é que andas a fazer? Com quem?

Ainda vivo em Roterdão, mas vou lá de vez em quando. É super

tranquilo, quando vou lá skato e divirto-me bastante com o pessoal.

É malta super tranquila.

Qual é que foi a tua melhor skate trip até agora?

Tem que ser a viagem a São Francisco, EUA. Foi altamente.

E a pior?

A pior foi uma longa viagem de comboio que fizemos de Amesterdão

até Istambul. Dei muitas quedas lixadas e magoei o tornozelo. Há

um clip dessa viagem, a queda também está lá. Chama-se “Lost in

Trainslation, foi uma tour com o pessoal da Nike da Benelux.

Quanto tempo é que estiveste sem skatar depois disso?

Devem ter sido dois ou três meses.

Normalmente tens uma recuperação rápida das lesões. Estás num

“filme” num dia e a dar backside tailslides no outro. Como é que

fazes isso?

Não faço ideia, talvez tenha alguma coisa a ver com o sangue?

Quando é que podemos contar com a tua próxima videopart?

Já dá para ver o trailer no youtube, o Bombaklats! O que podes

ver é uma amostra do skate em Roterdão, spots difíceis de skatar e

bom ambiente!

Acho que o pessoal consegue depreender o que quer dizer

Bombaklats! Mas o que é que significa Pangelangelarus? Estás

sempre a dizer esta palavra...

É apenas uma palavra divertida de dizer.

O que é o futuro te reserva, Tim?

Não faço ideia, man. Não consigo prever o futuro.

Okay, hehe, o que é que te espera este ano?

AmsterDamn Am, ganhá-lo.

Queres que escreva isso assim?

Não, hahahaha

Okay, okay.

De qualquer forma, teria piada, é melhor do que uma falsa

modéstia.

Como queiras, podes escrever se quiseres. De qualquer modo

estava a brincar. Aparte disso, vou andar a viajar.2012

“Mantém-te estável e direito no corrimão”… ouviram meninos?

Quando derem frontboards assim, sigam o conselho do Tim

Page 55: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

página 55 Tim Zom

No skate, a expressão “mandar-se

para a piscina” tem um significado um

bocadinho diferente daquela usada

no futebol… ollie

Page 56: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

2012

frontside noseslide

Page 57: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

página 57 Tim Zom

“SÓ MAIS UM BOCADINHO, SÓ MAIS UM BOCADINHO” E QUANDO CHEGUEI AO FIM: “FODA-SE, O FIM!”Os gatos têm 7 vidas, mas para este flip para o bank

achamos que seria bom ter pelo menos 10 garantidas

Page 58: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Quando não estás a viajar, como é que é para ti um dia normal

em Roterdão?

Acordo, vou passear o cão, talvez leia os emails, brinco um pouco

com o cão. Depois arrumo a casa, passeio o cão outra vez,

encontro-me com uns amigos, vou até à cidade skatar e depois

volto para casa para descansar.

Ouvi dizer que o Westblaak (skate parque no centro de Roterdão

onde o Tim skatava) vai desaparecer? Porquê, o que é que

aconteceu?

Acho que queriam demoli-lo, mas como houve manifestações dos

skaters na cidade, acabaram por repará-lo e reabriram-no.

Às vezes skatas rampas de vert, é isso que vais fazer quando fores

velho?

Sim, talvez. Já gosto bastante hoje em dia.

Planeias mudar-te para outro lugar ou vais continuar por Roterdão?

Na verdade, por agora não estou a planear nada. Vamos ver o que

o futuro traz.

O que é que estarias a fazer se não tivesses começado a skatar?

Não sei responder-te. Não faço a mínima ideia!

O que é que é fixe?

Skatar.

O que é que é uma treta?

Patins em linha.

2012

Polle jam 50-50

Page 59: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Conta-me algo sobre Roterdão que dê uma ideias aos leitores sobre

como é a vida para ti aí.

No verão skatamos perto do hotel New York, um spot ao pé do

rio. Quando está muito calor para skatar damos uns mergulhos no

Maas. Para refrescar.

Sei que passaste pela prisão há uns anos, como é que foi?

Foi uma treta. Estive lá um mês e, claro, não podia skatar. Grande

treta.

O que é que fazias?

Matava tempo, jogava muito bilhar, fazia muito exercício, dormia

muito, comia muito e escrevia cartas à minha namorada e aos

meus amigos.

Fixe. Últimas palavras?

Obrigado o todos os que me apoiaram nas alturas boas e más.

página 59 Tim Zom

Notam alguma semelhança entre a perna

do Tim e a do gato?

Page 60: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Distribuição www.marteleiradist.com212 972 054 - [email protected]

Page 61: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue
Page 62: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

texto e fotos roskof

2012

A T-SHIRT MÁGICABANA SKATE JAM - QUIKSILVER ERICEIRA

Deixem-me contar-vos este caso que um amigo me relatou há poucos dias. Ele vive

na margem sul, tem uma filha em idade adolescente, que há algum tempo lhe pediu

uma t-shirt do Bana. Ele conhecia a loja, mas não percebeu como é que a sua filha lhe

pediu especificamente uma t-shirt de uma skate shop que fica em Carcavelos, a mais

de 30km. Ele lá arranjou a t-shirt do Bana, que ela fez questão de usar no primeiro dia

de aulas. Dizia-me ele, aquando da nossa conversa: “é a t-shirt favorita dela, só não a

usa quando está imunda”… este pequeno episódio faz-nos pensar na força que pode

ter uma loja que trabalha há quase 20 anos para a comunidade skater nacional…

Por isso não foi de estranhar quando chegámos ao skate parque da Quiksilver, na

Ericeira, para mais uma tarde de skate organizada pelo Bana e encontrámos o espaço

completamente à “pinha”. Até o pessoal da Quik estava surpreendido: “o Bana

conseguiu mesmo trazer toda a gente”, diziam…

Page 63: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

página 63

A nova geração vem aí a voar…

Klaus Eyre frontside air

Page 64: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

2012

Page 65: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Se já foram à loja, sabem que o Bana adora música. Ali vale tudo, punk, rock, hip-hop, thrash,

reggae… naquele espaço o som está sempre alto e quem não gostar... azar... por isso, uma skate

jam à maneira Bana tem que ter música com fartura, desde rock, punk e, até, experimental! Houve

de tudo. Com 3 bandas ao vivo. Uma, até, desse grande país que é o “estrangeiro”… uns rapazes

austríacos que estão a gravar um álbum por cá… como bónus, o Bana ainda arranjou dinheiro para

o cash for tricks, ou seja, não interessava quem ganhava, quem desse boas manobras levava algum

para casa e escusado será dizer que o dinheiro foi rápido, tal era a pica… já deram manobras com

uma banda a tocar a abrir ali mesmo ao vosso lado? Pois, até mortais saem! Que o diga o Pintainho,

página 65 A t-shirt mágica

Como está muito na moda, agora esta legenda dá para os dois lados…

Roseiro frontcrooked e allen backside nosedrive revert

Page 66: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

que teve um choque frontal no bowl com o Gustavo Ribeiro e depois nem

se lembrava que a jam já tinha começado! Ao fim do dia, quando o Bana

entregou os troféus para as melhores manobras e para os melhores skaters,

já com aquela fresquidão típica da Ericeira, toda a gente estava de t-shirt.

Não havia frio que incomodasse os skaters, as bandas e o público… curioso,

talvez tenha descoberto o porquê da filha do meu amigo não despir a t-shirt

favorita… o nome Bana traz atrás o calor de décadas de skate...

página 66 A t-shirt mágica2012

Zenildo noseblunt

Duas gerações de Banas

Page 67: SURGE Skateboard Magazine, 16th issue

Distribuido por Tribal Urbano [email protected] 218 870 173

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2012

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Passou-se um ano desde a última “Tourtúlia” em Barcelona. Desta vez fomos “lançados” num

torpedo de submarino... mal sabiam os alemães que levávamos bombas que arrasavam

com qualquer boche: a nossa arma secreta, o Neto (finalmente descobrimos o segredo para

aquele pop todo).

Berlim é uma cidade jovem e com muito a acontecer a nível cultural. Se pudesse mudava-me

imediatamente para lá, mas infelizmente vou ter de gramar o Passos Coelho em vez da

Angela Merkel, venha o diabo e escolha, se bem que por lá as coisas parecem estar bem

melhores que em Portugal.

Desde as raparigas lindas a passear de bicicleta para todo o lado, até às salchichas com

caril acompanhadas com Erdinger, tudo parece ser vivido com muita calma. Por outro lado,

é muito difícil skatar em Berlim. Se estão a pensar visitar a cidade como destino de skate,

pensem duas vezes e preparem-se para serem corridos dos spots 80% das vezes...

(Ah, e como quem escreve o nome da tour sou eu, escreveu-se à algarvia).

intro, entrevista e fotografia

Mascarenhas

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Cordeiro

Um ano depois continuas um mimadinho de primeira, mas este ano fartaste-te de cozinhar e limpar a casa, não foi?A minha grande falha é não saber cozinhar e isso não pude fazer,

mas lavei e arrumei a loiça. Pode ser que para o ano isso mude e já

saiba cozinhar alguma coisa.

Se houvesse alguém dispensável nesta viagem, para ti quem seria?Sem dúvida, o fotógrafo. A única coisa que sabia fazer era pôr

brilhantina no cabelo.

Então e Praga, queres dizer como foi?Praga foi normal, nada de especial… chegámos e fomos skatar à

Stalin Square, spot muito mau, mesmo, depois jantámos e fomos

para o quarto dormir, porque no dia a seguir tínhamos que acordar

o mais cedo possível para ir andar para o skate parque, tínhamos

que treinar para o próximo Mystic Cup, já que temos todos grandes

aspirações de ganhar. Visto que começámos os treinos mais cedo que

os restantes atletas, temos alguma vantagem perante eles.

Pedro Silvestre bluntgrab drop

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Qual foi o pêde que ganhou o prémio da viagem?Foi uma luta intensa essa, mas arrisco dizer que o Óscar do melhor

peido vai para o Neto.

Conta lá o que se passa com esse tique de pescoço, que mais parece que estás a cabecear na pequena área?Apesar de só ter 1,75m, sou um ponta-de-lança por natureza e é

um esquema que eu arranjei de modo a estar sempre a treinar, para

quando jogar ser mais fácil antecipar-me aos centrais, quando os

extremos cruzam para a área.

Perdigão

...então e que tal de Banks em Berlim? Foi bom?Já estava um bocado preparado para o facto de em Berlim não haver

banks, tirando um ou dois (e um deles descobrimos que já tinha skate

stopers). Tirando isso, fomos só àquele wallride debaixo da ponte, que

era um spot perfeito! Adorei mesmo. Mas não fiquei nada chateado

de não termos skatado em banks, skatámos noutro tipo de spots de

que eu também gosto, como curbs, escadas e plazas.

página 71 Tourpêde

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Se houvesse alguém dispensável nesta viagem, para ti quem seria?Qualquer personagem desta viagem é indispensável, cada um é mais

maluco que o outro... mas se fizeres esta pergunta ao Cordeiro, eu já

sei qual é a resposta dele: és tu (risos)

Que achaste dos bikers e das bikers de Berlim? Eram de grande pedalada não eram?Epá, os bikers de Berlim nem sequer reparei e nem me interessavam…

mas quando falamos das bikers de Berlim já é outra história! De 3 em

3 minutos cruzávamo-nos sempre com uma mulher linda a andar de

bicicleta pelas ruas... não consigo perceber o que é que elas comem

para serem tão bonitas. Agora eu pergunto, porque é que não há

destas bikers em Portugal?! E quando há, porque é que tem de ser uma

gorda? Muito injusto.

Conta lá aí um bocadinho da brincadeira no aeroporto de Bruxelas...Foi a maior risada de sempre! Vamos fazer o melhor vídeo do ano só

com as filmagens que fizemos naquele aeroporto! Tudo começou por

roubarmos um leão em peluche do nosso apartamento em Berlim, que

foi a mascote da tour. No aeroporto de Bruxelas decidimos fazer com

que o leão tivesse vida. Só sei que havia pessoas no aeroporto que já

se riam do que nós andávamos a fazer... isto fez-me lembrar o filme do

TED, um peluche com vida!

Qual foi o pêde que ganhou o prémio da viagem?O primeiro lugar vai para o Neto, como é obvio, mas tu (João

Mascarenhas) também andaste perto da vitória... são estilos diferentes

de peidos. Os do Neto são os peidos mais longos que eu alguma vez

ouvi e os do Cardoso são os mais mortíferos que já alguma vez cheirei.

Ainda por cima ele mandava-os quando estávamos dentro do elevador

haha! Esta tour deste ano mais parecia o king of the peido!

Neto

Esse teu pop tem alguma coisa a ver com os pêdes estrondosos e longos que estás sempre a dar?Não é “pêde”, é peido ou pu ou traque haha e sobre o pop, acabaste

de descobrir o meu truque para conseguir saltar um bocadinho mais

alto. Eu vou explicar melhor a situação... quando me baixo para dar a

manobra, a minha barriga não aguenta com o ar que está lá dentro e

solta um bocado de ar pelo meu traseiro, o chamado peido, o que faz

com que eu consiga saltar um bocadinho mais alto. Agora vai ficar toda

a gente com alto pop se conseguir controlar este poder.

Se houvesse alguém dispensável nesta viagem, para ti quem seria?(risos) Sinceramente não conseguia dispensar ninguém, cada um tem as

suas características, que tornam mesmo engraçadas as viagens, acho

até que devíamos adotar mais uma personagem na próxima viagem,

não sei é quem, visto que falamos mal de toda a gente.

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Kiko wallride pop-out

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Filipe Cordeiro switch frontside flip

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Praga é uma cidade de coisas lindas não é? O que gostaste mais de lá ver? (Sem ser o Staline Square).Adorei Praga, até mais do que Berlim. Praga tem mais vida,

é super bonita a cidade e tem um dos melhores spots do

mundo. Mas parecendo estranho, nem foi o spot a coisa de

que mais gostei em Praga, foi um bar a que fomos que se

chamava Red Hot Chili Peppers, não cheguei a perceber se

tinha algo em comum com a banda, mas tinha música ao

vivo toda a noite, mesmo boa onda.

Qual é o destino que queres visitar para o ano? Eu e o Cardoso mandámos o bitaite de irmos à China, mas

houve logo pessoal a dizer “ai, não consigo juntar dinheiro

para isso”. Isto dito pelo peixe (Kiko) até se entende...

coitado... é um morcão que não se consegue fazer à life. Por

isso o destino ficou um bocado em “águas de peixe”...

Qual foi o pêde que ganhou o prémio da viagem?Competição muito forte, visto que cada um tinha o seu

tipo de ataque (peido). O Cardoso estava em modo ninja,

ninguém ouvia nada mas de repente... ui, ui. O Chin Chan,

ou se preferirem, o betinho de Cascais, dava uns à “tio”,

quase que pedia com licença. O Kiko devia ter vergonha, que

não se soube de nada. O Cordeirinho devia estar a pastar...

saíam assim meios abafados. E, por fim, a guerra entre os

dois generais (nós), mas, lamento Mascarenhas, eu sou o

vencedor hahaha

Silvestre

Então quer dizer que ias perdendo o avião? Para ti era no dia a seguir?hahaha Sim, eu ia ficando em terra! Na minha cabeça a avião

era só no dia a seguir. Surpresa minha, quando era uma da

manhã, já me preparava para fazer óó e vejo um “post” do

nosso vegetariano de serviço (o Nuno Cardoso) dizendo que

ia dormir pois tinha de apanhar o avião às 5:30… foi o tempo

de lhe ligar, de o pessoal, que já estava todo reunido em casa

do Cordeiro, rir da minha falta de cabeça e de eu começar

eu a fazer as malas às 3 pancadas! Escusado será dizer que

a minha mala foi mais uma risada e só me faltavam coisas,

inclusive lixas para as tábuas que tinha combinado com o

Bana ir buscar no dia seguinte de manhã.

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Nuno Cardoso tailslide

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Foste-te armar em bom samaritano em Praga com a polícia? O que aconteceu?Pois foi! É normal que depois de uns dias na Alemanha já respires

organização e civismo por todos os lados, sim, porque aquilo

não é a desorganização de Portugal. Achei então completamente

normal ver uma mala no chão no meio de Praga e pegar-lhe de

imediato à procura do dono. Visto que não havia dono fui entregar

a um polícia… pior erro esquecer-me que já não estava nessa dita

organização alemã! Ia sendo detido, pois como disse o dr. Policia

“you are not chec people”, do género, “não és daqui, logo suspeito

de ti”. IA DANDO MERDA, CAPITÃO.

Se houvesse alguém dispensável nesta viagem para ti quem seria?Sem dúvida que dispensava o fotógrafo. Sim, tu! Nem fotografias

sabes tirar, ficam sempre muito insonsas! Ainda por cima és uma

seca. Todas as noites, só querias ficar em casa a dormir! Deve ser

do peso da mala de fotografia ou então os moços do Algarve não

gostam da noite… é mais isso, aposto.

A tua mala de viagem vinha atada com uns atacadores, será que foi por isso que ninguém quis saber da tua mala? Olha, aí está outro grande filme. Só a mim, realmente. Nem tive

tempo para procurar os meus cadeados, então, pronto, vai de rodear

a mala de atacadores, para ela não se abrir. Mas parece que lá em

Bruxelas, onde fizemos escala, não gostaram muito dela, então não

embarcou connosco. Resultado: fiquei um dia inteiro em Berlim sem

roupa, skate, ténis etc.

página 77 Tourpêde

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Qual foi o pêde que ganhou o prémio da viagem?Mas isso pergunta-se? Óbvio que foi o do Neto! “mas que istooooo!”

Era o que se ouvia, com um típico sotaque olhanense, cada vez que

o Neto mandava um peido… eu, pessoalmente, nem era o cheiro…

era o medo do barulho, sim do barulho: para além de dizerem

“sapatilhas”, “cruzetas”, “tótil” , “largo” e mais uma infindável lista de

coisas estranhas, acho que lá para cima também se peidam de maneira

estranha… pareciam portas a rangerrrrrr!!!

Cardoso

Quando cheguei a Berlim e te vejo a falar alemão perfeitamente, fiquei estupefacto, de onde veio essa coisa de saberes escarrar como um verdadeiro alemão?Nos tempos de Fernando Pessoa, era normal chegares a uma casa

e teres uma escarradeira à entrada. Também nos seus primórdios,

o cozido à portuguesa era peixe frito. De maneiras que eu andei no

Colégio Alemão como grande parte da minha família e sei spucken wie

ein echter Deutscher!

Se houvesse alguém dispensável nesta viagem para ti quem seria?Claramente o Cordeiro. Ou será que há pessoa que demore mais

tempo a sair da cama, da casa de banho, da cozinha, do computador,

de casa, do supermercado…? Se bem que temos um Chin Chan, que

pode deixar as pessoas alheias ao grupo com ideias erradas sobre nós.

Calma, que também há um choco frito, que se calhar vinha do cozido à

portuguesa. Mas não, ganha o Chinelinho (Cordeiro). Para a Alemanha

não é preciso levar chinelos, que lá, já há disso aos montes. Com meias

brancas, de preferência.

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João Neto backside noseblunt

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página 79 Tourpêde

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2012 página 80 Tourpêde

Há por aí uma foto tua a circular a comeres um hambúrguer no McDonalds em Berlim, é verdade que te converteste à carne?É completamente verdade. É verídico.

É certo. É capaz. Sim. Talvez. Acho

que não. Não me parece. É falso.

É completamente mentira. Vá lá...

sempre fui propenso à carne. Mas não

animal. Muito menos do Mac. Anda

por aí a circular que no McDonalds

alemão há “alimentos” herbívoros.

Sendo o único solteiro do grupo, já te posso perguntar, o que achaste das raparigas de Praga?As raparigas de Praga são muito

simpáticas com os turistas e têm uma

postura muito aberta e proativa. Se

forem a Praga, passem no Hot Peppers,

para tomar um café ao fim da tarde...

Qual foi o pêde que ganhou o prémio da viagem?Ganha sempre o Neto, quanto mais

não seja porque está sempre presente.

Nunca falha.

Nuno Cardoso halfcabflip

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página 80 Tourpêde

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Ao entrar no Indoor Skate Community naquele particular dia de Setembro,

sentia-se no ar uma diferença assinalável face a tantas outras tardes, mais ou

menos quentes, de final de verão: o cheiro! Num ar irrespirável, de pó e suor,

vários batalhões, determinação estampada nos rostos em bica, empunhavam

trunfos ambiciosos. Era o tudo ou nada – ir a Munique ou ficar em terra...

(e como mais vale ir a Munique do que ficar em terra), num dos maiores

riots de que há memória, Carsportif, Tribal Urbano, Shove it, Bana, Kate,

Skills, Ericeira Surf Shop, combateram impiedosos entre grandes manobras

e não menores quedas – que na maioria das vezes terminam a rebolar,

embrulhados sobre si mesmos, à semelhança do que acontece com os bichos

da conta, ao menor sinal de impacto... em resumo, danados da vida e como

uma pica dos diabos, todas as teams das skate shops participantes vestiram a

camisola e retribuíram o apoio, em muitos casos, de anos, dado pelas lojas,

em busca de levar o nome da “sua” loja até à terra da Merkel.

texto Sílvia Ferreira

fotografia Roskof

Simão Menezes flip front board

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Em Munique, por esta altura, acaba de terminar o festival

de cerveja mais famoso do mundo. Felizmente! Quem vai

ter oportunidade de viajar até à Baviera, despesas todas

pagas, são alguns dos benjamins do skate nacional: Tiago

Lopes, Bruno Senra, Aníbal Martins e Afonso Nery. A

tarde já entrava na noite, o indoor exalava (ainda mais) a

necessidade de ir a banhos – de preferência com gel para o

efeito –, foi conhecido o resultado que tinha juntado tantos,

de tantas partes do país e que acabou por reconhecer

nestes benjamins, em representação da Ericeira Surf Shop,

a consistência para representar Portugal na final do Vans

Shop Riot em Munique, que procura e vai encontrar a

melhor skate shop team europeia, para lhe oferecer um

prémio final de 5000 euros... bem suados.

2012

Laurence Aragão frontside bigspin boardJoão Pinto ollie transfer noseblunt na quina da pirâmide

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página 85 Shop riot

Roseiro transfer noseblunt

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entrevista Rita Garizo

Imagens Adrián Blanca

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MURALADRIÁN BLANCA

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página 89

MURAL

Conheci o Adrián em Barcelona, data de 1998/99. Andávamos na mesma escola, éramos

três: dois colados em banda desenhada e… eu.

Sair com o Adrián à rua era uma aventura. Era daqueles que se o obrigassem a pagar por

um saco de plástico num supermercado que tivesse o logótipo do mesmo… havia merda. Se

se enganassem a dar-lhe o bolo na pastelaria e não o trocassem... havia merda. Sempre foi

um gajo justo, mas como este mundo não o é, aquele skate voou algumas vezes em direção

a janelas e montras.

Contudo, não foi por isto que convidei o Adrián para entrevistá-lo, mas sim por o Adrián

ser um exemplo do que considero ser a postura ideal para se estar na vida. É um gajo

multifacetado, focado em fazer o que gosta. Tem 4 filhos, um bar, uma skateshop, é

ilustrador e, pelo que me disse, agora também se dedica a fazer tattoos.

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Adrián, Portugal não é o Texas mas há muitos

Portugueses a viver em Paris. Faz uma intro sobre

quem és para que a malta saiba do que é que se

trata!

Chamo-me Adrián Blanca, tenho 33 anos e vivo

com a minha família em Roses, uma pequena

aldeia na Costa Brava.

Continuas a skatar?

Sim, este verão nem tanto por causa da loja, mas

no inverno vou voltar a andar mais.

Skate parques ou spots D.I.Y.?

Onde eu vivo não há skate parques, construímos

umas rampas e umas caixas e transportamos de

carro até umas praças onde costumamos skatar.

O que preferias ganhar, o Euromilhões ou o Street

League?

O Euromilhões, evidentemente!

Curtes o estilo desta nova geração de skaters tipo

Nyjah Huston, Paul Rodriguez, Torey Pudwill?

Claro!

Diz-me um skater Português.

Só me lembro de um Ricardo Fonseca, que era

Português… acho. Skatava para a Cliché. Acredito

que hoje em dia haja muito pessoal bom por aí.

O que mais te orgulhas de teres feito?

As coisas de que sinto mais orgulho são todas de

foro pessoal.

Qual foi a primeira imagem que te lembras de ter

pensado que querias desenhar?

Lembro-me de calcar um fundo marinho que o meu

primo Armin desenhou, depois fiz um igualzinho.

Desenhaste uma coleção para a és. Qual é a tua

opinião sobre a marca ter desaparecido?

Os modelos que mais desenhei foram as Accel e

as Koston 1. Para mim, os primeiros modelos da

és são incríveis, mesmo hoje em dia. Acho que

a Soletech devia ter mantido a és, como o grupo

Volkswagen manteve a Bugatti. Porque por mais

que a marca não fosse rentável, eram o expoente

máximo no que toca a sapatilhas de skate.

Qual é a tua marca de skate favorita?

O que fazem os da Girl, Chocolate, Fourstar, e

também Diamond, Huf, Supreme etc...

página 91 Adrián Blanca

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Diz-me alguns dos teus artistas de eleição.

Artistas como Evan Hecox, Todd Bratrud, Todd Francis,

Marc MckGee, Fred Mortagne, Andy Jenkins, Don

Pendleton, Ed Templeton…

Diz-me alguns dos teus skaters favoritos.

Gino Ianucci, Cardiel, Paul Sharpe, Julien Stranger, Sal

Barbier, Marc Gonzales.

Fala-me da “ Four Children”.

Four Children é uma loja de e para skaters, focada em

material técnico e sapatilhas.

Como se chamam os teus filhos?

Marko, Uma, Kira e Eda.

Porque é que saíste de Barcelona?

Porque conheci a minha mulher e viemos viver para este sítio

mais tranquilo, e desde casa posso trabalhar para o mundo.

Como te vês daqui a 13 anos?

Comecei a tattooar, vejo-me a fazê-lo em qualquer

parte do mundo.

E a coisa ficou por aqui. Contudo tive o cuidado de

lhe explicar que há mais pessoal para além do Ricardo

Fonseca que “patinava” pela Cliché, há o Jorge Simões

que “patina” pela About, há o Nuno Cardoso que “patina”

pela Nomad, o Ruben Rodrigues que “patina” pela Element

e esperamos que haja muitos mais no futuro.

página 93 Adrián Blanca

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Estou em Portugal há pouco tempo e posso dizer que adoro isto aqui! A rota

do skate em Lisboa foi o que me chamou a atenção. Venho de um país onde

skatar em spots de rua é luxo, por isso as “pistas” (skate parques) são as

nossas casas. Assim que me mudei para cá conheci a expo, skate parque só

com quarters e o chão repleto de rachas. O meu primeiro pensamento foi:

onde é que eu vim parar? Depois de algum tempo fui-me acostumando a

skatar por lá, acabando por fazer grandes amizades e novas manobras! Com

essas amizades comecei a minha rota por Lisboa. Na verdade, a maioria dos

skate parques fica fora de Lisboa... conheci os indoors da Amadora e de

Torres Vedras. Depois conheci o skate parque de Monsanto. Mas isso não

me atraiu muito, o que me chamou a atenção foram os spots “naturais”.

Curbs de rua mais perfeitos do que os do skate parque, rampas, escadas…

enfim, a cidade tornou-se perfeita para skatar... ao contrário de São Paulo,

onde para skatar na rua é preciso coragem, e muita, mas muita, vontade,

pois todos os nossos passeios foram inspirados na “tuga”: feitos de calçada,

mais conhecida no Brasil como pedra portuguesa. Uma vez comentei com

um amigo: “Vocês aqui têm muita sorte, no Brasil para skatar num spot

a entrada é ruim, mas a saída é ainda pior!”. Cá, entradas e saídas são

perfeitas, como a rampa no Largo da Graça. Agora o que me surpreende

é a falta de apoio ao skate aqui. Em Portugal há spots, o clima é ótimo e a

companhia é a melhor, mas são apenas alguns os que fazem a diferença,

com atitudes ainda tímidas, mas que não deixam de apoiar o skate. Um dos

caso que quero destacar é o do skate parque de Odivelas, já antigo... há

pouco tempo uma parte foi abaixo, para se poder aumentar o espaço de um

estabelecimento contíguo. Face a isto, foi tomada, neste caso, um atitude

nada tímida. Fizeram-se queixas, manifestações. E o que foi destruído,

acabou por ser remodelado! Ou seja, pequenas atitudes podem dar outro

rumo a Portugal, aumentado a “rota” do skate em Lisboa, incluindo este país

cada vez mais no skate internacional. Se ainda tens alguma dúvida a este

respeito, vai dar um check out na reforma do skate parque de Odivelas e tira

tu próprio as conclusões. Sai de casa, agarra no skate, e vai curtir!

texto Laís Reis

fotografia Nelson Santos

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