Importancia do reconhecimento da anatomia radiográfica

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30 Recognition of the importance of dental radiographic anatomy of the jaw in the prevention of surgical complications Daniel Gomes SALGUEIRO 1 , Osny FERREIRA JÚNIOR 2 , Ana Lúcia Álvares CAPELOZZA 3 Importância do reconhecimento da anatomia radiográfica dentomaxilar na prevenção de complicações cirúrgicas 1. Mestrando em Ciências Odontológicas Aplicadas, área de Estomatologia e Biologia Oral, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil. 2. Professor Associado do Departamento de Estomatologia, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil. 3. Professora Associada do Departamento de Estomatologia, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil. Recebido: 01/07/2011 Aceito: 29/08/2011 ABSTRACT The prevention of dental maxillary surgical complications depends on factors that involve the surgeon’s skill, knowledge of anatomy and physiology of tissues, proper planning, history and physical examination, radiographic techniques specific quality of the images and the ability to interpret them. Intra- and extraoral radiographs are essential in surgical planning and minimize the complications, because they allow better planning and, consequently, greater surgical success, because they help in the evaluation of bone and tooth structures and anatomical landmarks in the area of surgery. Our study findings in the literature related to the study of clinical and radiographic cases already documented in the Department of Stomatology, Department of Radiology and Surgery, FOB-USP. Key words: Anatomy. Radiography, dental. Surgery, oral. RESUMO A prevenção das complicações cirúrgicas odontológicas na maxila depende de fatores que envolvem a habilidade do cirurgião, o conhecimento da anatomia e fisiologia dos tecidos, planejamento correto, anamnese e exame físico, técnicas radiográficas específicas, qualidade das imagens e da capacidade de interpretá-las. Radiografias intra e extrabucais são fundamentais no planejamento cirúrgico e minimizam as complicações, pois permitem melhor planejamento e, consequentemente, maior sucesso cirúrgico, pois auxiliam na avaliação das estruturas ósseas e dentárias e dos reparos anatômicos na área da intervenção cirúrgica. Nosso estudo relacionou os achados na literatura com o estudo de casos clínicos e radiográficos já documentados no Departamento de Estomatologia, disciplinas de Radiologia e Cirurgia da FOB- USP. Palavras-chave: Anatomia. Radiografia dentária. Cirurgia bucal. Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 30-35, maio/ago. 2011 Endereço para correspondência: Daniel Gomes Salgueiro Rua Amadeu Sangiovani, 2-15 17017-140 – Bauru – São Paulo – Brasil E-mail: [email protected]

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Recognition of the importance of dental radiographic anatomy of the jaw in the prevention of surgical complications

Daniel Gomes SALGUEIRO1, Osny FERREIRA JÚNIOR2, Ana Lúcia Álvares CAPELOZZA3

Importância do reconhecimento da anatomia radiográ�ca dentomaxilar na prevenção de complicações cirúrgicas

1. Mestrando em Ciências Odontológicas Aplicadas, área de Estomatologia e Biologia Oral, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil.2. Professor Associado do Departamento de Estomatologia, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil.3. Professora Associada do Departamento de Estomatologia, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, SP, Brasil.

Recebido: 01/07/2011Aceito: 29/08/2011

ABSTRACTThe prevention of dental maxillary surgical complications depends on factors that involve the surgeon’s skill, knowledge of anatomy and physiology of tissues, proper planning, history and physical examination, radiographic techniques speci�c quality of the images and the ability to interpret them. Intra-and extraoral radiographs are essential in surgical planning and minimize the complications, because they allow better planning and, consequently, greater surgical success, because they help in the evaluation of bone and tooth structures and anatomical landmarks in the area of surgery. Our study �ndings in the literature related to the study of clinical and radiographic cases already documented in the Department of Stomatology, Department of Radiology and Surgery, FOB-USP.

Key words: Anatomy. Radiography, dental. Surgery, oral.

RESUMOA prevenção das complicações cirúrgicas odontológicas na maxila depende de fatores que envolvem a habilidade do cirurgião, o conhecimento da anatomia e �siologia dos tecidos, planejamento correto, anamnese e exame físico, técnicas radiográ�cas especí�cas, qualidade das imagens e da capacidade de interpretá-las. Radiogra�as intra e extrabucais são fundamentais no planejamento cirúrgico e minimizam as complicações, pois permitem melhor planejamento e, consequentemente, maior sucesso cirúrgico, pois auxiliam na avaliação das estruturas ósseas e dentárias e dos reparos anatômicos na área da intervenção cirúrgica. Nosso estudo relacionou os achados na literatura com o estudo de casos clínicos e radiográ�cos já documentados no Departamento de Estomatologia, disciplinas de Radiologia e Cirurgia da FOB-USP.

Palavras-chave: Anatomia. Radiogra�a dentária. Cirurgia bucal.

Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 30-35, maio/ago. 2011

Endereço para correspondência:Daniel Gomes SalgueiroRua Amadeu Sangiovani, 2-1517017-140 – Bauru – São Paulo – BrasilE-mail: [email protected]

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ARTIGOS CIENTÍFICOS

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INTRODUÇÃO

A etiologia dos acidentes e complicações pode estar relacionada a causas extrínsecas como: anamnese incompleta, exame físico displicente, pré-operatório inadequado e falta de biossegurança e às causas intrínsecas como: técnica cirúrgica de�ciente, aplicação de pressão inadequada, falta de cuidado com possível hemorragia e falta de cuidado pós-operatório3,4,8.

Cirurgias bem planejadas evitam ou minimizam as complicações cirúrgicas trazendo conforto, segurança no período pós-operatório estabelecendo assim uma relação paciente-pro�ssional de con�ança19.

A interpretação radiográ�ca consiste na visualização das estruturas dentomaxilares e está baseada no conhecimento da anatomia craniofacial nas técnicas radiográ�cas empregadas em radiologia odontológica convencional e da compreensão da projeção de estruturas tridimensionais em imagem bidimensional e sua nitidez depende do estabelecimento de critérios para controle da qualidade da imagem7,10,22,26.

A imagem radiográ�ca da área que sofrerá a intervenção cirúrgica deverá incluir os ápices das raízes e as estruturas anatômicas locais e regionais7,17,19.

Na maxila, o reconhecimento do seio maxilar e suas extensões para anterior, para o rebordo alveolar e para a região do túber auxiliam no planejamento das exodontias, evitando o risco de fraturas no túber e de comunicações bucosinusais descritas na literatura e que muitas vezes resultam em cirurgias complementares além de serem responsáveis por parte das sinusites dos maxilares6,13,15,25.

Devemos considerar ainda a formação de cúpulas alveolares e a proximidade das raízes dos molares superiores com o seio maxilar, favorecendo as complicações5,16.

A localização do forame incisivo e sua relação com as lesões apicais e dentes supranumerários mesiodens também é de grande importância1.

Estruturas localizadas na linha média da face como a fossa, septo e cornetos nasais, muitas vezes estão envolvidos também em processos patológicos ósseos e dentários12.

A sutura intermaxilar é está relacionada especialmente aos procedimentos de expansão de maxila cirúrgicos ou não9.

Na mandíbula, torna-se imprescindível o conhecimento da proximidade do canal mandibular, sobretudo com os molares, sendo a estrutura anatômica de maior importância na prevenção de complicações exodônticas mandibulares podendo ser visualizada em radiogra�as panorâmicas e pariapicais11,20-21,24.

A distância do canal aos ápices dos molares é menor na área do terceiro molar e aumenta na direção anterior. Na área de pré-molar, o canal se divide em dois: o canal incisivo, que continua horizontalmente para a linha mediana, e o canal mentoniano, que se desloca para cima e se abre no forame mentual2,23.

As anomalias dentárias, originadas de distúrbios durante a odontogênese, são relativamente comuns, por este motivo, o exame radiográ�co é fundamental no diagnóstico das anomalias dentárias e sua importância é destacada no planejamento dos procedimentos odontológicos cirúrgicos, endodônticos e clínicos1.

As técnicas radiográ�cas convencionais mais utilizadas em cirurgia odontológica são as intrabucais periapical, e oclusal, e as extrabucais panorâmica, telerradiogra�as em norma lateral, póstero-anteriores para mandíbula e seio maxilar. A tomogra�a computadorizadas por feixe cônico

(TCFC) representa um avanço tecnológico na aquisição e interpretação das imagens do canal mandibular, considerado um importante pré-requisito para procedimentos que envolvam a região posterior da mandíbula, deve ser utilizado, nos casos mais complexos, mas implica maior quantidade de exposição ao paciente e maior custo na obtenção das imagens14,18.

MATERIAL E MÉTODOS

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, protocolo nº141/2006. O estudo de 19 casos foi feito a partir de documentação disponível no Departamento de Estomatologia FOB-USP (Disciplinas de Radiologia e Cirurgia).

Após a seleção dos casos de interesse, as imagens radiográ�cas foram digitalizadas utilizando máquina fotográ�ca digital Nikon Coolpix 8700 (Nikon Inc. Melville, New York, NY, Estados Unidos) e editoradas no Programa ADOBE-PHOTOSHOP® CS 8.0.

Fez-se então, a análise dos dados sobre a anamnese e exame físico dos prontuários e a interpretação das diferentes imagens obtidas em cada caso. As imagens radiográ�cas panorâmica, oclusal, periapical, telerradiogra�a em norma lateral, póstero-anterior de seio maxilar e póstero-anterior de mandíbula foram utilizadas no estudo dos casos de acordo com o critério de prescrição utilizado para cada caso.

RESULTADOS

Do total dos 19 casos estudados, 11(57,9%) apresentavam risco comprometimento das estruturas na mandíbula e 8 (42,1%), na maxila. A radiogra�a panorâmica foi encontrada em 17 dos 19 casos (89,5%).

A Tabela 1 mostra os casos estudados relacionando as estruturas anatômicas, técnica radiográ�ca utilizada e o principal achado radiográ�co.

Salgueiro DG, Ferreira Júnior O, Capelozza ALA

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Tabela 1 - Casos estudados, localização,radiogra�as utilizadas: PN (Panorâmica); PP (Periapical); TL (Telerradiogra�a em norma lateral); O (Oclusal); P.A .SM (Póstero – anterior para seio maxilar); P.A.M (Póstero anterior para mandíbula) e descrição da imagem radiográ�ca.

CasoAcidente/Complicação/Anomalia dentária

Região Radiogra�a Imagem radiográ�ca

1 Parestesia 47 PN Proximidade com nervo alveolar inferior

2 Parestesia 43 PN, PP, O odontoma composto

3 Comunicação buco-sinusal 26 P.A.SM Velamento do seio maxilar E

4 Comunicação buco-sinusal superior E PN, P.A.SM Velamento do seio maxilar E

5 Comunicação buco-sinusal 18 PN Proximidade da raiz com seio maxilar

6 Fratura de agulha Esfenóide PN, TL Corpo estranho radiopaco

7 Fratura de mandíbula inferior E PN Cisto envolvendo terceiro molar e mandíbula atró�ca

8 Hemorragia 38 Pn Imagem radiolúcida, canal mandibular

9 Fratura de tábua lingual 38 PN, P.A.M ,PP Linha radiolúcida

10 Dilaceração 48 D PPl Curvatura acentuada nas raízes

11Falha de erupção primária/parestesia

37 PN Desaparecimento do espaço periodontal

12Canino retido/retenção de decíduo

Superior D PN Retenção prolongada do decíduo

13 Canino retido Superior E PN Radiopacidade,no seio maxilar

14Dilatação do canal do nervo alveolar inferior

Inferior E PN Aumento do canal mandibular

15Periapicopatia / seio maxilar

17 PN Deslocamento do soalho do seio

16 Dentes não-irrompidos 47 e 48 PN Mal posicionamento do germe do 48

17 Dentes não irrompidos 37 e38 PN Mal posicionamento do germe do 38

18 Dentes não irrompidos 37 e 38 PN Mal posicionamento do germe do 38

19Falha de erupção primária na maxila

26 PN Não irrompimento

DISCUSSÃO

As complicações cirúrgicas podem ocorrer durante o procedimento ou no período pós-operatório. A prevenção destas complicações depende de fatores que envolvem a habilidade do cirurgião, o conhecimento da anatomia e �siologia dos tecidos que serão envolvidos na cirurgia, do planejamento correto baseado em anamnese e exame físico e da utilização e técnicas radiográ�cas adequadas, da qualidade da imagem e da interpretação das mesmas.

As imagens radiográ�cas são de fundamental importância na prevenção destas complicações cirúrgicas, pois permitem a elaboração de planejamentos adequados e maior sucesso na cirurgia.

Na maxila, o reconhecimento do seio maxilar e suas extensões para anterior, para o rebordo alveolar e para a região do túber, auxiliam o cirurgião-dentista no planejamento das exodontias evitando o risco de fraturas e de comunicações bucossinusais os quais necessitam, muitas vezes, de cirurgias complementares e que também são responsáveis por parte das sinusites dos maxilares. A seguir, serão ilustrados alguns dos casos encontrados.

Nas Figuras 1 e 2 podemos observar as imagens panorâmica e póstero-anterior (P.A.) para seio maxilar de um homem de 33 anos com queixa principal fístula intra-oral e de “secreção com mau cheiro”, decorrente da

comunicação bucossinusal após a exodontia de um dente molar na maxila lado esquerdo.

O tratamento foi realizado com: a remoção cirúrgica da fístula, limpeza da cavidade, retalho para fechamento da comunicação do seio maxilar com o meio bucal e antibioticoterapia.

Provavelmente o cirurgião-dentista não observou a imagem radiográ�ca pré-operatória e não utilizou a manobra de Valssalva para avaliar a comunicação bucossinusal. Cuidados importantes em exodontias, especialmente na região posterior superior.

Figura 1 - Radiogra�a panorâmica mostrando a proximidade entre o rebordo alveolar e o seio maxilar do lado esquerdo.

Figura 2 - P.A para seio maxilar, imagem compatível com sinusite lado esquerdo.

Os caninos superiores são dentes que com frequência permanecem retidos. O diagnóstico tardio da retenção do canino superior direito dessa paciente resultou na reabsorção radicular do incisivo lateral (Figura 3A). As Figuras 3B e 3C, mostram a exodontia do canino por palatino, feita com odontossecção e a remoção do dispositivo utilizado na tentativa de trazê-lo à sua posição normal.

Importância do reconhecimento da anatomia radiográ�ca dentomaxilar na prevenção de complicações cirúrgicas

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ARTIGOS CIENTÍFICOS

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Figura 3A - Imagem do dente13 retido na radiogra�a panorâmica.

Figura 3B - Exposição do dente no trans-cirúrgico.

Figura 3C - Dente e acessório para a tração removidos.

Na mandíbula, a visualização da imagem radiográ�ca especialmente na panorâmica é facilitada pela não sobreposição de estruturas anatômicas. O reparo anatômico na mandíbula mais importante por sua proximidade com dos dentes não irrompidos e ápices radiculares é o canal mandibular, pois o nervo alveolar inferior, quando lesado, pode resultar em parestesia de intensidades diferentes, que dependem do grau de comprometimento do nervo do hemi-arco afetado pela lesão. A imagem panorâmica da Figura 4 ilustra um caso de exodontia que resultou em parestesia permanente no lado direito. Na imagem radiográ�ca panorâmica evidencia o íntimo contato entre o dente 48 e o canal mandibular, a força aplicada ao extrator, ou a relação entre o canal mandibular podem ter resultado em uma parestesia inevitável.

Quando há lesão do nervo, em apenas 1% dos casos a sensibilidade é restabelecida16.

Figura 4 - Radiogra�a panorâmica inicial, evidenciando a proximidade do canal mandibular com o dente 48 e imagem de extração recente do dente 38.

A fratura da mandíbula está entre as piores complicações que podem ocorrer durante a exodontia de dentes inferiores.

Neste caso ilustrado pela Figura 5, podemos observar fratura na mandíbula do lado esquerdo. A aplicação de força exacerbada, e a não consideração de imagens como a lesão pericoronal no dente a ser extraído e a posição horizontal e a região ligeiramente delgada da mandíbula podem ter sido as principais causas.

Figura 5 - Imagem panorâmica parcial lado esquerdo, mostrando a fratura da mandíbula, resultante da tentativa de exodontia do dente 38 em posição horizontal.

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O nervo e vasos alveolares inferiores caminham juntos no canal mandibular. Na Figura 6 podemos observar imagem radiolúcida entre o 37 e 38, compatível com a imagem da artéria alveolar inferior. A não observação desta imagem surpreendeu cirurgião-dentista no trans-operatório da exodontia do 38 com hemorragia.Sendo ou não uma hemorragia inevitável, caso o pro�ssional tivesse o conhecimento prévio de tal possibilidade, poderia se preparar para a contenção de uma hemorragia durante a cirurgia.

Figura 6 - Ampliação da imagem radiográ�ca panorâmica mostrando a área radiolúcida na mesial do 38, sugestiva de artéria alveolar inferior.

As anomalias dentárias compreendem a maior parte dos casos relatados encontrados pelos autores neste estudo.

A falha primária de erupção, caracterizada pelo não irrompimento do dente sem impedimento mecânico, posição anormal ou causas sistêmicas aparentes, é um fenômeno raro não associado com as alterações do folículo dentário, onde o sinal clínico de infra-oclusão deve ser sempre considerado.

Alguns autores adotam o termo falha primária de erupção, como sinonímia de anquilose com sinais clínicos de infra-oclusão de um ou mais dentes, di�cultado a reabilitação, impossibilitando a movimentação ortodôntica e a exodontia.

A imagem radiográfica panorâmica da Figura 7 ilustra um caso de falha primária de erupção, com queixa principal do paciente de não irrompimento do 37 e 38.

A exodontia do segundo molar inferior esquerdo com reabsorção, fator determinante na exodontia, resultou em parestesia do hemiarco mandibular, pelo íntimo contato do dente com o canal do nervo alveolar inferior.

Figura 7 - Radiogra�a panorâmica, dentes 37 e 38 não irrompidos desaparecimento do espaço periodontal, sugerindo anquilose e imagem radiolúcida compatível com reabsorção externa no 37.

CONCLUSÃO

As imagens radiográ�cas são de fundamental importância na prevenção das complicações cirúrgicas, auxiliam o planejamento diminuindo a elaboração de planejamentos adequados e maior sucesso na cirurgia.

AGRADECIMENTOS

Esta pesquisa foi desenvolvida com suporte �nanceiro da Universidade de São Paulo (Pró-Reitoria de pesquisa) - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientí�ca – CNPq/PIBIC.

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