UTILIZAÇÃO DE PROTOCOLOS ASSISTENCIAIS NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS LESÕES POR PRESSÃO
Elka Priscyla Miranda Brito1
Diala Alves de Sousa2
RESUMO
Pacientes críticos internados em unidades de terapia intensiva apresentam risco de desenvolver lesão por pressão, representando um grupo que requer cuidados padronizados e protocolados para uma melhor avaliação da assistência. O objetivo do estudo foi avaliar através da literatura a eficácia na utilização de protocolos assistenciais na prevenção e tratamento das lesões por pressão em pacientes internados em unidades de terapia intensiva. Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo do tipo revisão de literatura. A coleta de dados foi realizada nos meses de julho e agosto de 2017. O referencial teórico e a coleta de dados foram realizadas a partir das buscas nas bibliotecas virtuais e bases de dados científicas BIREME, LILACS e SciELO. Para o presente estudo foram selecionados dez artigos entre os anos de 2002 e 2017. Os resultados mostraram que em todos os estudos, o uso de protocolos assistenciais reduz quantitativamente a incidência de LPs dentro das unidades de cuidados críticos, melhorando a qualidade da assistência sendo um instrumento norteador para o profissional de saúde. Por fim, apesar do cuidado destinado ao enfermeiro, o trabalho multiprofissional é necessário pelas diversas perspectivas que podem qualificar a assistência, bem como a criação de instrumentos de assistência validados cientificamente com o objetivo de reduzir as divergências na literatura.
DESCRITORES: Lesão por pressão; Protocolos Clínicos; Cuidados Críticos.
1Enfermeira. Mestranda em Terapia Intensiva IBRATI/SOBRATI.
2Enfermeira. Doutora em Terapia Intensiva IBRATI/SOBRATI.
ABSTRACT:
Critical patients interned in intensive care units have a risk of developing pressure lesions, representing a group requiring standardized and protocoled for better evaluation of assistance. The objective of the study was to evaluate through literature the effectiveness of the use of assistance protocols in preventing and treating pressure lesions in patients interned in intensive care units. This is a descriptive, qualitative study of the type of literature revision. The data collection was carried out in the months of July and August 2017. The theoretical referential and data collection were conducted from the searches in the virtual libraries and scientific databases BIREME, LILACS and SciELO. For this study, ten articles were selected between the years of 2002 and 2017. The results showed that in all studies, the use of assistive protocols quantitatively reduces the incidence of LPs within the critical care units, improving the quality of assistance being a guiding instrument for the healthcare professional. Finally, despite the care for the nurses, multiprofessional work is required by the various perspectives that can qualify the assistance, as well as the creation of scientifically validated assistance instruments aimed at reducing divergences in the Literature.
KEYWORDS: Pressure Ulcer; Clinical Protocols; Critical Care.
1 INTRODUÇÃO
No campo da estomaterapia e suas tecnologias, um dos assuntos
mais debatidos na literatura é o tratamento e a prevenção das lesões por
pressão no ambiente hospitalar.
Visando uma melhor significância e classificação, em abril de 2016 a
National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP) organização norte-americana
dedicada à prevenção e tratamento das lesões por pressão (LP)definiu este
termo como:Um dano localizado na pele e/ou tecidos moles subjacentes, geralmente sobre uma proeminência óssea ou relacionada ao uso de dispositivo médico ou a outro artefato. A lesão pode se apresentar em pele íntegra ou como úlcera aberta e pode ser dolorosa. A lesão ocorre como resultado da pressão intensa e/ou prolongada em combinação com o cisalhamento. (...) pode também ser afetada pelo microclima, nutrição, perfusão, comorbidades e pela sua condição.
Com base nas sociedades que estudam as LPs, tendo como
referência principal a NPUAP são desenvolvidos protocolos assistenciais em
todo o mundo. Tais protocolos consistem em diretrizes embasadas em
pesquisa científicas que auxiliam na padronização de cuidados com a
finalidade de promover a prevenção da ocorrência LPs bem como, tratamento
das lesões já instaladas nos pacientes hospitalizados.
Dentre os inúmeros setores hospitalares, se encontra a unidade de
terapia intensiva (UTI) onde estão pacientes mais vulneráveis devido sua
alteração do nível de consciência, uso de ventilação mecânica, infusão de
drogas vasoativas e além dessas características a longa permanência restrita
ao leito (VASCONCELOS; CALIRI, 2017).
Coma associação de fatores de risco e a mobilidade prejudicada do
paciente na UTI, o desenvolvimento das lesões por pressão é um grave
problema constantemente vivenciado pelas equipes de saúde deste setor,
prolongando os dias de internação e gerando custos no tratamento das LPs.
Devido esta incidência, é de fundamental importância a manutenção da
integridade da pele bem como sua constante avaliação pela equipe
multiprofissional (BRASIL, 2013).
Sobre a incidência de lesão por pressão nas UTIs, estudos
realizados nesse local mostram que a incidência varia de 22% a 62,5%
(BORGHARDTI et al., 2016; FERNANDES; CALIRI, 2008). Desse modo, estas
estatísticas demonstram a importância do debate sobre a implementação de
protocolos assistenciais, pois visam orientar os profissionais de saúde no
tocante as condutas necessárias ao paciente que possua risco ou que
apresente LPs.
Visto a importância e escassez na literatura pertinente à utilização
de protocolos assistenciais na prevenção de LPs na UTI, o presente estudo
trás a relevância no debate sobre este tema incentivando novas pesquisas.
Portanto, objetiva-se avaliar através da literatura a eficácia na utilização de
protocolos assistenciais na prevenção e tratamento das lesões por pressão em
pacientes internados em unidades de terapia intensiva.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo do tipo revisão de
literatura. Segundo Vosgerau e Romanowski (2014), os estudos de revisão têm
a finalidade de organizar, esclarecer e explanar sobre as principais obras,
fornecendo um panorama das publicações mais recentes e relevantes sobre o
tema em questão.
A coleta de dados foi realizada nos meses de julho e agosto de
2017. Assim, os artigos foram selecionados a partir de uma busca criteriosa
nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS); Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Biblioteca
Virtual em Saúde (BIREME) na qual foram utilizados os seguintes descritores
para busca: lesão por pressão; protocolos clínicos; e cuidados críticos. Para
uma maior abrangência na pesquisa foram utilizados cruzamentos destes
descritores com os Operadores Booleanos AND e OR.
Utilizaram-se os seguintes critérios de inclusão na seleção dos
estudos: artigo completo disponível e estudo com metodologia detalhada.
Devido escassez de pesquisas sobre o tema abordado, o pesquisador não
delimitou tempo de publicação. Ao final, para o resultado foram selecionados
dez artigos entre os anos de 2002 a 2017.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Fisiopatologia da lesão por pressão
A pele é um órgão extenso que promove um completo revestimento
do corpo. Composta pela epiderme, derme e hipoderme, além de seus
arcabouços acessórios – unhas, pelos e glândulas – esta complexa estrutura
forma a primeira barreira do corpo protegendo músculos, ossos e órgãos
subjacentes. Além da proteção, atua na percepção sensorial da dor,
temperatura e o tato e na síntese de vitamina D (SPENCE, 1991).
Quanto a fisiologia da pele, a mesma é revestida por uma delgada
película líquida que tende a acidez variando seu pH entre 4 a 6,9. É na derme
onde se encontram os capilares sanguíneos com uma pressão média de 15 a
32 mmHge em sua maioria células do tipo fibroblastos produtores de colágeno,
uma proteína fibrosa essencial no processo de cicatrização (POTTER; PERRY,
2009). Portanto, manter a integridade da pele é um importante meio de prevenir
que organismos invasores comprometam a saúde do paciente.
Como descrito anteriormente, a lesão por pressão é um dano
causado à pele ocasionado por uma pressão contínua comprometendo seu
suprimento sanguíneo. Geralmente os locais de proeminências ósseas são os
mais afetados devido à intensa pressão e fricção/atrito que são submetidos na
acomodação do paciente (SOBEST, 2016).
Com a definição da lesão por pressão, a NPUAP classifica ainda as
LPs em quatro estágios. No estágio 1 a pele se encontra íntegra com eritema
que não embranquece; no estágio 2 ocorre exposição da derme; no estágio 3
há uma perca da espessura total com visibilidade de tecido adiposo; e no
estágio 4 músculo, tendão e ossos se tornam visíveis. Há ainda a lesão não
classificável, sendo aquela coberta por esfacelo ou escara tornando difícil sua
classificação e a lesão tissular profunda apresentando-se como descoloração
vermelho escura, marrom ou púrpura, persistente e que não embranquece
(NPUAP, 2016; SOBEST, 2016).
Inúmeros fatores contribuem para o desenvolvimento das LPs,
dividindo-se em fatores intrínsecos e extrínsecos. Os fatores extrínsecos
incluem a pressão exercida, o cisalhamento e a fricção, podendo estes agir
isoladamente ou em combinação. Já os fatores intrínsecos estão relacionados
com o estado geral do paciente, idade, mobilidade prejudicada, estado
nutricional, incontinência urinária e fecal. Estes fatores podem ser exacerbados
pelo tempo de permanência na mesma posição, déficit de higiene corporal e
uso de drogas sedativas e vasoativas (MALAGUTTI; KAKIHARA, 2014).
Segundo Brasil (2013) as taxas de incidência e prevalência
apresentam variações relacionadas ao nível de cuidado:Nos cuidados de longa permanência as taxas de prevalência variam
entre 2,3% a 28% e as taxas de incidência entre 2,2 % a 23,9%. Nos
cuidados agudos, as taxas dea prevalência estão em torno de 10
a 18% e de incidência variam entre 0,4% a 38%.
Conhecendo os fatores causadores, é possível garantir através da
literatura que a maioria das LPs são evitáveis, no entanto, as elevadas taxas de
incidência e prevalência, mesmo em países desenvolvidos,demonstram que
existem dificuldades sérias neste campo, sugerindo uma lacuna entre o
conhecimento científico e a aplicação clínica do conhecimento.
3.2 Protocolos assistenciais de Lesão por pressão
Com o objetivo de padronizar as ações desenvolvidas frente ao
paciente com risco de desenvolver LPs, associações de grande relevância e
referência em estudos situadas em diversos locais no mundo contribuem com
estudos e pesquisas para elaborar e atualizar as diretrizes sobre a prevenção e
tratamento das LPs.
Em 2014 a National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP) e a
European Pressure Ulcer Advisory Panel (EPUAP) com o apoio da Pan Pacific
Pressure Injury Alliance (PPPIA) desenvolveram o Preventionand Treatmentof
Pressure Ulcers: Quick Reference Guide (Prevenção e Tratamento de Úlceras
por Pressão: Guia de Consulta Rápida, conforme tradução da Escola Superior
de Enfermagem de Coimbra)que sumariza as recomendações da evidência
disponível sobre a prevenção e o tratamento das lesões por pressão, as quais
podem ser utilizadas por profissionais de saúde em todo o mundo. O mesmo
guia recomenda as Diretrizes da Prática Clínica para uma análise e leitura mais
profunda sobre o assunto.
Baseando-se em diretrizes nacionais e internacionais
(principalmente das associações supracitadas), em 2013 o Ministério da Saúde
elaborou o Protocolo para Prevenção de Úlcera por Pressão, como um
instrumento de consulta para as intervenções adotadas por todos os
profissionais de saúde envolvidos no cuidado de pacientes e de pessoas
vulneráveis, que estejam em risco de desenvolver LPs e que se
encontrem em ambiente hospitalar, em cuidados continuados, em lares,
independentemente de seu diagnóstico ou das necessidades de cuidados
de saúde (BRASIL, 2013).
Vale ressaltar que além do protocolo nacional, várias instituições
hospitalares elaboram seus instrumentos de consulta para tratamento e
prevenção de LP no qual em sua maioria tem como base as diretrizes da
NPUAP e EPUAP.
As diretrizes são recomendadas através de três principais
parâmetros de comparação, são estes: Níveis de Evidência, Força da
Evidência e Força das Recomendações.
O nível de evidência é classificado de 1 a 5, no qual o primeiro
relaciona-se a um alto índice de confiança e o segundo um índice inferior de
confiança científica. O nível 1 prevalecem estudos de ensaio clínico e revisões
sistemáticas. O nível 2 estão estudos de ensaio clínico com resultado incerto,
estudos transversais e de Coorte. Os níveis 3 ao 5 prevalecem estudos menos
precisos e estudos de caso.
Entende-se quanto à forca da evidência, um processo de votação
consensual onde participaram todos os especialistas envolvidos formalmente
no desenvolvimento das guidelines com o intuito de designar uma"força da
recomendação". Esta força da evidência classifica-se decrescentemente em A,
B e C. A recomendação A é suportada por uma evidência científica direta de
estudos controlados (estudos de nível 1), a recomendação B é suportada por
evidência científica direta de estudos clínicos (estudos de nível 2,3,4 e 5) e a
recomendação C é suportada por uma evidência indireta (ou seja, estudos em
sujeitos humanos saudáveis, sujeitos humanos com outro tipo de feridas
crônicas ou modelos animais).
A força de recomendação relaciona-se a parte prática e classifica-se
conforme o quadro a seguir:
Fonte: NPUAP; EPUAP; PPPIA, 2014.
Tendo como base os supracitados parâmetros, a tabela a seguir lista
algumas ações de prevenção baseados nas diretrizes da NPUAP, EPUAP e
PPPIA (2014):
Ações preventivasForça daEvidência
Força daRecomendação
Rastreio do estado
nutricional de cada indivíduo
em risco de desenvolver ou
com uma LP
C Provavelmente fazer
Providenciar/incentivar os
indivíduos com úlceras por
pressão a consumir uma
dieta equilibrada que inclua
boas fontes de vitaminas e
sais minerais.
B Definitivamente fazer
Reposicionar todos os
indivíduos que estejam em
risco de desenvolver ou que
já tenhamdesenvolvido LP, a
menos que contraindicado.
A Definitivamente fazer
Considerar a superfície de
apoio de redistribuição da
pressão em uso para
determinar a freqüênciado
reposicionamento.
A Provavelmente fazer
Estabelecer planos de
reposicionamento onde
C Provavelmente fazer
constem a frequência e a
duração da alternância
dosposicionamentos
Incentivar os indivíduos
capazes de se reposicionar a
dormirem deitados de lado
entre 30° a40° ou na
horizontal se tal não for
contraindicado.
C Provavelmente fazer
Evitar posicionar o indivíduo
sobre proeminências ósseas
que apresentem eritema não
branqueável.
C Definitivamente fazer
Utilizar dispositivos de
suspensão dos calcâneos
que os elevem
completamente numa
totalausência de carga de
forma a distribuir o peso da
perna ao longo da parte
posterior sem colocarpressão
sobre o tendão de Aquiles.
B Definitivamente fazer
Utilizar colchões de espuma
reativa e de alta
especificidade em vez de
colchões de espuma
reativaque não sejam de alta
especificidade em indivíduos
avaliados como estando em
risco de desenvolverLPs.
A Provavelmente fazer
Fonte: NPUAP; EPUAP; PPPIA, 2014.
Percebe-se que nas ações preventivas o cuidado com a mobilização
precoce é de fundamental importância tendo força de evidência A, comprovada
com estudos de grande complexidade e alto padrão de confiabilidade. Além da
mobilização, a avaliação do estado nutricional bem como o cuidado com uma
dieta rica em nutrientes contribui na prevenção das LPs.
Para avaliação do risco de desenvolvimento de LPs, faz-se
necessário a utilização de instrumentos que classifiquem e preditem a
ocorrência desse dano. Desse modo, duas escalas se destacam na literatura: a
escala de Braden e Waterlow.
A escala de Braden (ANEXO I), amplamente utilizada nos Estados
Unidos, foi validada no Brasil em pacientes de UTI pela primeira vez por
Paranhos e Santos (1999). A escala classifica o paciente pelo risco de
desenvolvimento de LP sendo sem risco (escore de 19 a 23), com risco baixo
(escore de 15 a 18), moderado (escore de13 a 14), alto (escore de 10 a 12) ou
muito alto (escore de 6 a 9) (BRASIL, 2013).Ela é composta de seis itens:
percepção sensorial, umidade, atividade, mobilidade, nutrição,fricção e
cisalhamento. Cada item é pontuado de 1 (menos favorável) a 4 (mais
favorável); o item fricção e cisalhamento, é pontuado de 1 a 3. Cada item tem
um título e um conceito que descreve os atributos a serem avaliados (BLANES;
AUGUSTO, 2016).
A escala de Waterlow (ANEXO II) foi criada pela enfermeira Judy
Waterlow, em 1985. O objetivo desta escala é conhecer sobre os fatores
causais, oferecer um método de avaliação de risco e grau de lesão, além de
prevenir e/ou tratar ativamente, conforme necessário. Para a classificação, os
pacientes são estratificados em três grupos conforme a pontuação: em risco
(escore de 10 a 14); alto risco (escore de 15 a 19) e altíssimo risco de
desenvolvimento de lesão por pressão (escore> 20). Se o paciente entrar em
uma categoria de risco, então é sugestivo implementação de medidas
preventivas (BORGHARDT et al., 2015).
A literatura mostra que ainda não é consenso sobre qual a melhor
escala a ser utilizada na prevenção das lesões. Em um estudo de coorte
prospectivo realizado com pacientes internados em unidades de terapia
intensiva mostrou que quanto ao desempenho das escalas, de Braden e de
Waterlow, ambas apresentaram alta sensibilidade e baixa especificidade na
detecção do risco para desenvolvimento de LPs, porém a escala de Waterlow
se mostrou com bom índice preditivo e a escala de Braden se mostrou como
um bom método para triagem (BORGHARDTet al., 2015).
Já em outro estudo, que trouxe uma revisão integrativa sobre
escalas de avaliação de risco concluiu que a escala de Braden possui uma
maior preditividade e sensibilidade em comparação a outras escalas, pois a
sua utilização na prática clínica é bastante útil para predizer o desenvolvimento
de UP ou sua recidiva, permitindo conhecer o risco individual de cada paciente
e implementar, precocemente, ações de enfermagem preventiva e condizentes
com esse risco (SANTOS; NEVES; SANTOS, 2013).
A escassez de grandes estudos comparativos entre escalas para
observar sua eficácia e a divergência entre os resultados de estudos acabam
dificultando a decisão sobre qual instrumento classificatório utilizar pelos
profissionais de saúde. Desse modo, o conhecimento sobre fatores de risco e a
classificação das lesões por pressão se tornam imprescindíveis ao profissional
que oferta a assistência ao paciente crítico.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Utilização de protocolos assistenciais de prevenção e tratamento de LP na UTI
A partir da seleção dos dez artigos pertinentes ao tema em questão,
pode-se traçar o perfil desses estudos. Com isso, observou-se que os anos das
publicações variaram de 2002 a 2017, sendo dois destes publicados em
espanhol e inglês e os demais em português. Quanto à profissão, todos os
artigos foram elaborados por enfermeiros e suas demais especialidades, além
de mestrado e doutorado. Por fim, a metodologia variou nas diversas
categorias de estudos sendo os estudos quantitativos mais prevalentes e em
seguida estudos qualitativos, de revisão de literatura e revisão integrativa.
Conforme a busca nas bases de dados e para uma melhor
observação dos estudos e seus resultados,os artigos utilizados no presente
estudo foram organizados e descritos na tabela a seguir:
Ano Autores Área Tipo de Estudo Titulo Resultado
2017 VASCONCELS; CALIRI.
Enfermagem Estudo prospectivo/
Ações de enfermagem
Após a avaliação de
quantitativo.
antes e após um protocolo de prevenção de lesões por pressão em terapia intensiva
risco em 22 (57,9%) pacientes antes do protocolo e 34 (77,3%) após, mostrou que as ações de prevenção e avaliação só aconteceram com a implementação do mesmo reduzindo a incidência de LPs.
2016 CAVALCANTE et al. Enfermagem Revisão
integrativa
Atualização de protocolo assistencial para prevenção de úlceras Por pressão: prática baseada em evidências
Os estudos constataram que para prevençãode úlcera por pressão recomenda-se ações referentes à identificação de fatores de risco, instrumentos de avaliação de risco para úlcera por pressão e utilização de protocolos assistenciais.
2015 LIMA et al. Enfermagem Estudo de caso/quantitativo
Custos da implantação de um protocolo de prevenção de úlceras por pressão em um hospital universitário
O custo para a implantação dos protocolos assistenciais é em torno de 60 mil dólares porém, o mesmo diminui os custos com
farmacoterapia e reduz o tempo de hospitalização.
2012 ROGENSKI; KURCGANT Enfermagem
Estudo prospectivo/quantitativo
Incidência de úlceras por pressão após a implementação de umprotocolo de prevenção
Houve uma redução da incidência das úlceras por pressão comparada aos valores antes do protocolo (41,2%) e após (23,1%).
2012 ESTILO et al. Enfermagem Revisão de literatura
Úlceras de pressão na unidade de cuidados intensivos:Novas perspectivas sobre um problema antigo
Com as comorbidades do paciente crítico na UTI, os cuidados com a pele são deixados em segundo plano e o aumento do custo com cuidados em UP sãorazões suficientes para prevenção.
2011 STUDART et al.
Enfermagem Estudo transversal/quantitativo
Tecnologia de enfermagem na prevenção da úlcera porpressão em pessoas com lesão medular
Utilizando-se a Escala de Waterlow, 75% dos pacientes tinham escore alto. Após dez dias de internação, 68,3% dos pacientes apresentavam UP, na qual a mobilidade física
prejudicada foi o principal fator desencadeante.
2010 SILVA et al. EnfermagemEstudo prospectivo/ quantitativo
Aplicabilidade do protocolo de prevenção de úlcera de pressão em unidade de terapia intensiva
Aplicação simultânea da escala de Braden com pacientes em UTI apresentou entre 8 a 21 coincidências nas respostas avaliadas. Sugerindo que a escala utilizada é um bom instrumento avaliativo.
2007 MENEGON et al. Enfermagem
Estudo prospectivo/qualitativo
Implantação do protocolo assistencial de prevenção e tratamento de Úlcera de pressão no Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Através de capacitação/sensibilização dos profissionais de enfermagem utilizando-se metodologia ativa, o Protocolo Assistencial foi implantado trazendo inovações e tecnologias no cuidado.
2005 BARRIENTOS et al.
Enfermagem Estudo transversal/ quantitativo
Efeitos da implementaçãode um protocolo de prevenção da úlcera de pressão emPacientes em estado crítico de saúde
Ao aplicar a escala de risco, 64% dos pacientes tinha alto risco para desenvolvimento de UP. Após a aplicação do
protocolo em 40% dos pacientes por 2 dias, 98% permaneceu com a pele íntegra.
2002 BARROS et al. Enfermagem Estudo quantitativo
Aplicação de protocolo para prevenção de úlcera de pressão emUnidade de Terapia Intensiva
Observou-se que 57% pacientes do estudo tinham risco para desenvolver UP, destes, 41% apresentaram alterações na pele. Tal diagnóstico só foi realizado com segurança,devido a utilização de protocolo instituído.
Fonte: Autor
Com a leitura rígida dos artigos supracitados, foi possível observar a
importância e eficácia da utilização dos protocolos de prevenção e tratamento,
do qual reduziu significativamente a incidência e gravidade das LPs durante a
assistência ao paciente crítico na UTI. Além disso, apesar de gerar custos para
a instituição, a implementação de um protocolo assistencial mostrou-se mais
efetiva em comparação com os gastos relacionados ao tratamento das lesões
por pressão já instaladas.
Foi possível observar ainda, que a literatura diverge quanto à
efetividade das escalas, porém as escalas de Braden e Waterlow nos estudos
da presente pesquisa foram as mais utilizadas apresentando maior
sensibilidade e capacidade preditiva no desenvolvimento de LPs.
Após a aplicação das escalas de avaliação para risco para o
desenvolvimento de lesões, faz-se necessário o tratamento dos fatores de risco
encontrados. O cuidado com estes fatores é fundamental para a prevençãoou
diminuição do agravo na LP, sendo função de toda a equipe de saúde presente
nas unidades de terapia intensiva.
A manutenção da integridade da pele acaba sendo um cuidado
voltado à enfermagem. Isto pode ser constatado com o grande número de
publicações e pesquisas sobre estomaterapia tendo como autores somente
profissionais enfermeiros. Porém, para o tratamento do paciente que possui LP
dentro da UTI, o mesmo deve ser avaliado em todos os aspectos que vão além
do conhecimento de uma só profissão necessitando uma avaliação ampla e
multidisciplinar.
Desse modo, a utilização de protocolos tem o objetivo de não só
padronizar a assistência, mas de nomear as atribuições no atendimento ao
paciente proporcionando mais otimização do trabalho reduzindo a sobrecarga
dos profissionais atuantes no setor.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da assistência em estomaterapia em sua maioria ser
realizada por enfermeiros, faz-se necessário um trabalho multi e
interdisciplinar, sendo abordado por diferentes perspectivas objetivando uma
melhor qualidade ao paciente na UTI. Assim, ao padronizar e protocolar a
assistência, a mesma deve sempre ter como base a evidência científica.
Portanto, ainda faz-se necessário mais estudos sobre a temática a
fim de evitar discordâncias sobre quais melhores escalas de avaliação e
tratamentos mais eficazes. Desse modo, criar um instrumento para a
assistência e prevenção de LPs validado cientificamente é cada vez mais
necessário devido à grande quantidade de pacientes críticos internados em
UTIs do Brasil e do mundo.
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ANEXO I – Escala de Braden
Fonte: WECHI, 2013.
Interpretação da escala de Braden
SemRisco
BaixoRisco
RiscoModerado
AltoRisco
AltíssimoRisco
19 a 23 15 a 18 13 a 14 10 a 12 6 a 9
ANEXO II – Escala de Waterlow
Fonte: WECHI, 2013.
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