Venuti Escandalos Da Traducao Cap 4 - 1997

21
~ ED~C Editor•••• Unlveraidecte do "Ir.do Corqlo V472e Veullti, Lawreuee. Esc;jucblos da 'I'radll<;,lo: por Ulll<ldiea da difereu~'a/ Lawreuee Vellllli; Iradu,,10 Lallrcauo Pe1egriu, I,ueiui'ia Maree1iuo Ville1a, Marileidc Dias Esqucda e Valeria Bioudo; revi"lo leclliea Siella 'nlguiu. -- BaunJ, SI': EDUSC, 2002. ~')('p. ; 21nll. - - (Colc~',lo SiglllIUI) ISBN S5-74W-J 15-2 lue1ui iudice rc]uissivo. iue1ui bibliografi,l. 'I'radu,,10 dc: Till' Se'lIl(lals of'l'raJlSlaliou - '\(,wards au e11,ies of differcllce I. Tradu~',10 e illl<,rprda~',lo - Aspcclos lIlorais e di- eos. 2. COIIl'II,iea~',lo illi<'rcullural. I. 'I'i1Ir\o. 11.Si'ric. CDD 'IlS.02 ISBN 0-'115-!I,')i0-5 (origiual) CO/I)'right (l') I'NS Lawrellel' Vellllli )iirsl published I'NS by ROlllledge, ElIglaud Co/,yright (l') (Ir'l(lul;,lo) ImUSe, 2002 Tradu~';\o realizada a parlir da edi~';\o de 1995. Direilos l'xe1usivos de publica~',10 ell' lillgua porlugllesa pma 0 Brasil adquiridos pcb Edilor;] da Lillivcrsidade do Sagrado Cora~',10 Rua Jrn],1 Arlllillda, 10-50 eEl' 17011-IGO - Ballru- SI' Fouc ( 14) 2 ~5-7111 - Fax ( 14) 2i 5-7219 e-mail: eduse<i:••lIsc.br PARA GEMMA LEIGH VENUTI C'i' 1111 cl1lwre (Jili gral1c1e c1i le e c1i me, me e 1'0; l1ella specie, <lcqllcl Sll <lCqll<l, Exisle tllll a1ll0r maior do qlle voce c ell, ell e voce na especic, ,tgua sohrc agna,

description

Venuti Escandalos da traducao cap 4 - 1997

Transcript of Venuti Escandalos Da Traducao Cap 4 - 1997

  • ~ED~C

    Editor Unlveraidectedo "Ir.do Corqlo

    V472e

    Veullti, Lawreuee.

    Esc;jucblos da 'I'radll

  • 129

    A fonna~ao deidentidades culhIrais

    !\ IradlH;iio coni frcqiicncia c visla COlll snspcila por-que, incvilavc1ll1cnlc, domcslica Icxlos cslr:l1Igciros, iuscre-

    vcndo ncks valorcs lingiifslicos c cullurais inlclig/vcis para

    con 11111 idadcs domCslicas cspccfficas. Essc proccsso de ius-

    cri

  • clllturais que variam de acordo com difcrentes contextos ins-tituciollais e posir,:6es sociais.

    Sem chlvida, 0 efeito que produz as maiores COllSe-

    qiH~ncias - e, portallto, a maior fonte potencial de esdndalo

    - e a formar,:ao de idelltidades cll1turais. A tradllc;ao exerce

    lIln poder enorJlle lla conslrllc;ao de represelllac;6es de clIl-

    turas estrallgeiras. A sclec;ao de Iexlos eslrangeiros e 0 desell-

    volvilllelllo de estralegias dc Irad\J(,~ao podelll cslabelcccr d-

    nones pcellliarmente c1omeslicos pma litcralmas cstrangei-

    ms, c;11101lesqlle se ;lJllolclaJlI a valores esldicos c1omestieos,

    revelanclo assinl exelllsoes c aciJllissoes, eentros e periferias

    qlle se distanci;1I11 c1aqlleles exislellles IIa lfnglla estrallgeira.As Iileraluras eslrallgeiras lellClelll ascI' c1esvincnladas c10sell

    sentido hist6rieo pcla selcc;ao c1e lexlos para lraclllc,:ao, afasta-

    das c1astraclic;oes lilcr;lrias estrallgeiras IIaS cl'wis eslabelceelll

    seu sigllificaclo. Os tcx!os eslrallgeiros sao, elll geral, reescri-

    tos para se alllOlclarelll a esti!os e lelllas qlle prevalcccm IlCl-

    qllele {Jer[oc!o IWS lileratllras dOlllestieas, cm dclrilllclI!O de

    discursos traclll!6rios lIlais clraclerizados pcla historicidacle,qlle reclI pcralll estilos c lemas c10 IXlssaclo, j IIserillclo-os lIastracli(,'oes c101l1esticas.

    Os pad roes traclll!

  • des culturais especfficas e as mantem cOIn um relativo graude coerencia e homogeneiclacle, mas tambem 0 moclo como

    ela cria possibiliclacles para a resislcncia cultural, a inova~aoe a mudan~a em qualquer que seja 0 momenlo lJistorico.

    Pois, nao obstante 0 fato de qne a traclnc.;ao e obrigacla a vol-tar-se para as diferenc.;as cnltllrais e lingiifstieas de 11II1texto

    estrangeiro, cia poc1c, eOlIl a IIleSnIa eficacia, prolllOver onreprimir a IJcterogeneidade na cnllura clomcstica.

    o pocler da tradu~iio cle formar idellticlacles sempreameac.;a eonstranger as illstitnic.;oes polftico-cnltnrais porqnerevela as fnnclac.;oes instaveis cle sna antoridade social. A ver-

    clacle cle snas representac.;oes e a in!egridade sllbjetiva cle seus

    agenlcs estao fnndamentadas nao no valor ineren!c cle textos

    ofieiais e prMicas illstitnciollais, llIaS sim II;IS contingcncias

    que surge I1111;1traclnc.;iio, 1Ia pllbl ica\~iio e 11;1recepc.;iio desses

    textos. A antoridacle de qllalqner inslitnic.;iio qne depende cle

    tradnc.;oes esl;[ slljeila a escandalo, porqlle sells efeitos, 11111

    tanto qllalllo imprevisfveis, nltrapassam os eOlltroles illStihl-

    ciOlwis cple nOrIllahnelltc regnLlI1I a inlerprctac.;iio !extual,

    tais como jlllganlelltos de eanc)]Iieidade (vcr KerIllocle,

    1983). As traclllc.;oes estenclem os IIS0Spossfveis cle !extos es-

    trangeiros elltre pfiblieos cliversos, baseaclos OIl nao elll insti-

    tlli~oes, proclllzinclo resllltacIos que pocIem ser tanto cleslrlli-clores qllallto SIIrpreel \C1cJlies.

    A represenla~ao cle clllluras estrangeiras

    Em 1962, 0 especialista cm cllltma classica John Jo-nes publicou IIm estllclo qlle clesafiava a illterpretac.;aoclomi-nante da tragedia grega que, segllnclo e1e, niio so estava arti-

    culacla a crftica literaria academica, mas inscrita cm ecIic.;oesacademicas e traclllc.;oes cIa Poetica de AristOteles. Na visao cle

    nz

    Jones, "a Poetica cia qual nos apropriamos cleriva conjunta-mente clo conhecimento academico chlssico moderno e do

    Romantislllo" (Jolles, 1962, p. 12). Cuiaclos pm tml concei-'

    to romantico de individual iSlllO, 110qual a atuac.;ao humana

    e vista como alltodeterlllillallte, os acaclcmicos moclernos cle-

    ram ao cOllceito aristotclico cle tragcdia uma aparcllcia psi-

    cologica, trallsfcrindo a cnfase para 0 her6i e para a resposta

    emociollal cla platcia, elll dctrimcllto cla ac.;iio. JOlles achou

    qne ess,] intcrprctac.;ao individnalista obscurece 0 fato cle que"0 centro de gravidade dos tenllos aristotclicos e situaciollal

    e nao pessoal", qlle a cultura grega alltiga jnlgava a snbjetivi-

    clac1c IIIIlllalla conlO selldo socialmente cleten 11 inacla, "per-

    eebida lIa ac.;ao e rccoll hecida - inte1igivelmente diferencia-

    cia - por ser fiel ao tipo" e '10 "statns" (ihid., p. 16, 55). 0 es-tuclo dc JOlles foi bcm recebido pela critica quando dc sna

    publ icac.;iio, apesar de algnmas rec1amac.;ocs qnanto ao sell

    "jargao" dcsconlJecido e "lIma certa opacidade da lingna-

    gem", e ao longo das dllas dccaclas scgnin!es ganhou enor-

    me antoridade lla pesqllisa acadcmica classica (Cell ic, 1963,

    p. 354; Burllctt, 1963, p. 177). Em 1977, ja se tinha estahe-

    lccido nma "nova ortodoxia" 11;1qllestiio da caractcrizac.;ao da

    Poetica de Arist6teles e da tragcdia grega, sobrepnjando 0

    longo dOlllfnio da abordagem eentracla no her6i e lIIereeen-

    do tanto a anuclleia qnanto 11111maior desenvolvimento a

    partir do trahallJo clos principais acadcmicos (Tlplin, 1977,

    p. 312; Codhill, 1986, p. 170-1).

    o estllclo de jOlles provou ser tao cficaz em provocaruma revisao clisciplillar elll parte porqlle criticava as tracln-

    c.;oes-paclrao clo trataclo cle AristMeles. Ele clemonstrou, de

    modo ccmtunclente, qlle os traclntorcs acaclcmicos impu-

    nham a intcrprctac.;ao illCliviclualista ao texto grego por meio

    de v,irias escol has lexicais. Da versao cle Ingram Bywater cle

    1909, citou a passage m na qual Arist6telcs discllte a hamar-

    133

  • tia, 0 eno de julgamento cometido pelos personagens naslragedias. Jones leu a traduc;;ao inglesa de forma sintomatica,

    localizando "discrep8ncias" ou desvios do grego que reve-lam 0 trabalho da ideologia do tradutor, 0 individualismoromantico:

    ExistcIII Ires eliscrcp:1l1cias a seWlI1 ohscrvadas clltre a

    lraelllr,ao ele Bywaler e 0 origillal grego. nllde BywaterIcm "lIm Itolllelll hom" 0 grcgo Icm "homells bOils";

    onde dc tell I "UIII Itolllelll IlIaII" 0 grego lem "hmuclls

    malls"; e oude cle lraduz "a IIUld,lIl\a uos elcslillos do Itc-

    rai" 0 grcgo Icm "a ullldall(,a do deslino". /\ prilllcira easegullda das sllas allerac;()es lIao S,IO 1;10hallais qualllo pa-rceelll, pois juulas cOlIsegueul sllgerir qlle /\risllOltcies li-

    nl];l cm IIlellle IIll1a (lIIica Agma dmllillalllc do prillcipio

    ao filii, qllalldo dc foilo sell discllrso IlIlIda do plllral parao singlllaL I':ssas dllas allerac;oes ajllelam a abrir cllllillllO

    para a lerceira que c grave, 110;lllliJilo lol;J! de sllas ilupli-ca

  • Ihe permitiu tanto questionar 0 individualismo do conheci-

    mento c!assico como desenvolvcr l\IIl mctodo interdiscipli-nar de leitura, nao psicol6gico, \IIas "socioI6gico" e "antTo-

    pol6gico" (Bacon, 1963, p. 56; BUrtletl, 1963, p.176-7; Lu-

    cas, 1963, p. 272). E\II aIguns mOlllentos, a erHica de Jones

    sobre a leitura ortodoxa asselllellJava-se claramente ao pell-

    samellto de fil6sofos como Nietzsche, que foram importall-tes para a elllergclleia do existeneial ismo. Assim CO\110A ge-nealogia da moral tratou 0 coneeito dc 11111sujeito autclllolllO

    como "a illflucllcia enganosa da lillguagem", por meio da

    qual '''0 aulor' C IIIIJa mcra fjc~ao aclicionacb ao alo", ciamesma forma jOlles apontou para a categoria gramalical quesustenta a abordagem cb lragcdia grega centrada 110her6i: "0

    status de a~ao deve selllpre ser adjetival: a a~iio qlwlifiea; diz-

    nos coisas que querenlos saher sohre 0 illdivfdllO qne a pro-

    cluz 11 0 estaclo das coisas 'no interior' claqnek qne age"(Nietzsehe, 1l)()7, p. 45; jOlles, 1962, p. 33).0 estuclo cle jo-nes estabelecen Il1l1a nova orlocloxia 110 conhecilllelllo eIll-

    clito c!assico porqne veio ao en COl11ro clos pad roes ac,lclcnl i-

    cos cle evidcnci,l textual e argl\lllenla~iio crftica, nJaS tam-

    bem porque reflelia 0 surgimenlo clo existencialismo COIIIO

    UllW correnle poclcrosa 11

  • Ul1agem cultural foi aclotacla por Ulll oulro crftico, lIlais au-

    tocollscieIlte, Cjue, Cjuando cOIlfi-oIltado conI uma versao in-

    glesa de U1n romance cOlllico japoncs, perguutou de nlOdo

    cetico: "Seru quc 0 rollJancc cia clclicadeza, tacihlfnidacle,intangibiJiclacle e melancolia hlnguida _ tra~os que conside-

    ramos COIIJosellclo caraclcrislicalllcnte japoneses _ C IIJellos

    caracterfstico clo que pensanIOS?" (Leithauser, 198

  • num aliado indispensavel durante a epoca da Cucrra Fria"

    (Fowler, 1992, p. 6). 0 canone da lingua inglesa rcfcrente aficc;ao japonesa funcionou coma um apoio cultural domes-

    tico para as relac;6es diplomaticas amcricanas COIn 0 japao,que tambel1l se destinavam a contcr 0 cxpansionismo sovie-tico no leste.

    Esse caso lllos!ra que, mCSlIlO qllando projdos tradu-

    torios rcflctelll os illtercsscs cIc uUJa COlllllllidadc cultural es-

    peeffica - aqui llIn grupo de elite cIe acadclllicos especialis-tas e editores litedrios -, a illlagem resultaute de llIna cnlhl-

    ra estraugeira pocle aiuda atingir clOlllfnio nacional, aceito

    par ulllitos leitores dentro da cullura cIolIJ(:stica, c/lwlquerque seja sua posic,;i'io social. 111lIa associac.;ao elllTe a acade-

    mia e a iUc!JlstTiacditorial pocle ser cspeciahnenle efieaz na

    formac;ao de 11111COlIsenso ~lJuplo, jrt que ~lJllbas possueul au-

    toridade cullmal de pocIer sufieieute para Ilwrgillalizar tex-

    tos naO-caU(lIlicos IJa eu Itma dOllleslica. Os romauees japo-neses que lIao eraIlI coudizeutes COlIl 0 c{lIIOlle acadclllico

    p6s-gucrra porquc er~1II1dlmicos, por exemplo, 011represcn-

    hlV~lIll mll japao ocidelll~J! izado 11Jais contelllpor;lueo, uao

    eralll lTaduzidos para 0 illglcs (HI, se 0 fOSSCIII,craul coloca-

    dos a lllargclII dOlliteratllra de IllIgua illglesa, pllbJicados poreditoras n lellOres, Illais especial izacIas (Kodallsha Iulernatio-nal, Charles ":. 'IIttlle), COlII distrilm ic.;aoIilu itacla Wowler,1992, p. 14-7).

    Alem disso, 0 c{lnone uao sofreu uellhllllla nl1ldauc.;asignifieativa durante as deeacIas cIe 1970 e 1980. 0 volumede tracIuc.;6es elll lingua inglesa sofreu 11111decllnio geral, en-

    fraqueeendo qualquer telltativa uo seutido de ampliar 0 le-

    que cIe romanees japolleses dispoulveis elll versoes inglesas;

    na hierarquia cIe lfnguas traduzicIas para 0 inglcs, 0 japoncs

    oeupa a sexta posic.;ao depois do franees, alemao, russo, espa-

    nhol e italiano (Veuuti, 1995a, p. 13; Crannis, 1993, p. 5(2).

    HO

    Talvcz, aincla mais importante, seja 0 fata de que os progra-

    mas institueionais cIesenvolvicIos para l11elhorar 0 interdhn-

    bio cultural entre os Estados UnicIos e 0 japao eontinuarama scr cIol11inados por "llIU grupo profissional de profcssores

    nniversihirios c exeeutivos associados (este IHtimo constihlf-

    cIo namaioria por ecIitores e livreiros) - homens eujas expe-

    ricncias de formac.;ao foram molcIadas pela Seguuda Guerra

    MuncIial" (Fowler, 1992, p. 25). COIIIO resultacIo, as listas de

    textos japoneses propostos para lraduc.;ao em inglcs simples-

    meute reforc.;aram os eriterios cIe eanonicicIacIe estabcleci-

    dos, incluincIo 1IIlWcufasc especial ~I epoea da gnerra c refle-

    tincIo llIua "preocnpac.;ao com 'a alta cultura' e com as expe-

    ricncias cIa e1itc inlclednal e social japoucsa" (ibicI., p. 27).

    Isso sugere que os projetos tracIlIt6rios pocIcm procIu-

    zir llllla mncIanc.;a na representac.;ao cIomestica cIe uuw cul-

    hua estrangcira, nao sOlllente quancIo revisalll os c;luones

    cIas coullluicIacIes culturais UJais influenlcs, lIIas talllbem

    qnaucIo ullla outra cOlllllllidacIe III111Wsituac.;ao social cIife-

    rente proc1tlz as tTacIuc.;oese se manifesta sobrc e1as. No final

    da cIeeac1a cIe 1980, 0 cauone aeacIcmico da 1iteratura japo-

    ncsa estava sencIo questionacIo por ullla nova gera

  • clas ecIitaras cle gral1cIe importancia para a cria

  • Se a nova onda de ficr,;ao japonesa Iradllzida prodllzir

    UIlla refonlla duradoura do canone, pode laIllbcIlI consoli-

    d.r"e eOlllo lIIn estereolipo do J'pao - "'peei.hnenlc se lingu. i'polles. penn'"eeer nos Ilivei, lIlai, baixo, da hi"

    ""'qnia das Ifllgna.s tradllzida, para 0 illgles e .se mn leqllerestrito de lexlos iapollesc.s e.sliver disponfve/. Obvialllenle,1.1e'te,eotipo ir" diferir de 'en predeee.ssor por n'IO.ser "emex61ico nC11Icslelizado, e carrcgmj illlpliear,;Bes geopolflicas

    belli diferentes d'''Inelas "blida.s "0 perf"d" POs-Seg""daC"e,ra M""di. /. (I" ,. vez '1"e a ""va fie~'I" projeh, im.-geIll de lIJlJa eullura japollesa altmnellle ,lIl1erieallizada, ao

    IlleSIlJo lelllpo jovelll c clleia de ellergia, cl;, pode illlplicila_

    IlIcllte respollder a alllais allsiedades alllerieall

  • 147

    erita abertas a interpreta

    ma a ser Iraduzido nao pode 'balan

  • romances de cavalaria e as biografias dic/aticas, que cram pre-feridos pelo segmento maior de leitores de lingua alema (Ve-nuti, 1995a, p. 105-10).

    Em 1827, Goethc observou que "literaturas nacionais

    languidus sao ,eaviv"d", pcbs lileCdhuas e.strange;",," e pas-sou a escrever 0 mecanismo especular pclo qual 1lI1llemadomestico e fOnnado lJa tradu~ao:

    Afinal, locl,1 lileratllra fiea 1l1OIIcllona se 11;10for renova-

    cia pe la parlieipa,'

  • du~6es tecnicas -livros cientlficos ou jurfdicos, por exemplo- permitem que os agentes alcancem e mantenham nfveis

    de especialidade. Mas tambem podem causar mudanc;a so-cial par meio da revisao de tais qualifica

  • culam na cultura damestica. A identidade lllmca e irrevaga-velmente fixa, mas relativa, 0 panto nodal para uma multipli-ciclade de pniticas e instihli

  • quer institui~i'io social parque traduzir, par defini~ao, envol-

    vc a assimila~ao domestica de Uln texto estrangeiro. lsso sig-nifica que 0 trabalho de tradu~ao e obrigado a basear-se emnormas e recursos culturais que diferem fundamentalmente

    daqueles que circulam na cultura domestica (cf. Robyns,1994, p. 4(7). Dessa forma, como Santo Agostinho rclatouna carta, 0 bispo em Oea foi for~ado a recarrcr a inforlllan-

    tes judeus para avaliar a acuidadc da versao ele Sao Jeronilllofeita a partir do texto hebraico, muilo embora 0 criteria deacuidade (isto e, fidelielade a Seplllaginta) tenha sido fornlll-

    lad0 e aplicaclo dentro cia Igreja Crista. Da JnesnJa forma, os

    distanciamentos de Sao Jeronimo enl relac;ao a SephJagintaocasionalmente seguiram oulras vcrsoes gregas mais lilerais

    cia Velho 1cstamenlo feitas pcIos jucleus e usadas nas sinago-gas (White, 1990, p. 137). Unw vez que a tarefa cla lraduc;aoe tornar Iml texto estrangeiro inteliglvel enl lcnnos domesti-

    cos, as instituic;oes que usam IracIuc;oeseslao abertas a infil-

    tra~6es de nJateriais cullllrais difcrenles c ale nleSlno incom-patfveis que poclem contestar texlos oficiais e rcvcr cri\(~rioscorrenlcs de prccisao Iradnl6ria. 'HlIvcz as identidacles do-

    mesticas fornwclas pela Iraduc;ao SOll1Clltepossam cvilar os

    deslocalllentos do Icxto cslrangeiro qnando as insliluiC;6esrc-

    gularem as prMieas tradut6rias de forma lao reslritiva a pon-to de apagar e assim anular as eliferenc;aslingiilslicas e cultu-rais dos Icxlos eslnl11geiros.

    A etiea da traduc;ao

    Se a Iraduc;ao lem efeitos sociais cIelao 10llgo a!cancc,

    se ao formar identidades culturais cIa contribui para a repro-du~ao e a nmdanc;a social, parece imporlanle avaliar essesefeitos, indagar se cIes sao bans ou maus, ou se as iclentida-

    154

    des resultantes sao eticas. Sera IHil come~ar, novamente,

    cam Antoine Berlllan, cujo pensamento sofreu uma mudan-~a interessante pouco antes de sua morte.

    Berman baseou seu conceito de traduc;ao etica na re-

    la~ao entre as culturas clolllcstica e estrangeira que esta in-carporaela '10 texto Iraduzido (para uma posslve1laxionomiade tais relac;6es, vcr Robyns, 1994). A traduc;ao de ma quali-

    dade forma Ulna atitude domestica que e etnod~ntrica cam

    re1ac;aoa cultura estrangeira: "geralmente sob 0 clisfarce cletranslllissihilidade, cIa realiza lIlua ncgac;ao sistemMica ciaeslranheza cb obra estrangeira" (Bcrman, 1992, p. 5). A tra-duc;ao de boa qualidadc visa a limitar essa ncgac;ao ctnoccn-trica: cIa rcprcscnta '\I1IW aherhua, lIIn clialogo, ul1la hibri-clac;ao,nma descenlTalizac;ao" e, dessa forma, forc;a a lfngua

    ea cn1tura domeslicas a rcgislrarcl1l a cstrangeiridadc do tex-to eslrangeiro (ibid., p. 4). Os julgmuentos eticos de Bcnnalldcpendelll das estrategias discursivas elllpregadas no proces-

    so Iradnt6rio. A qnestao e se eIas sao cOlllpletalllente domes-tieadoras on se incorporam tenclcncias de estrangeirizac;ao;

    "I " 1 ". I - "se recorrelll a Tnques que enco )rem suas l1Ial1lpua

  • Inas os expoe em prefckios e notas, abertamente" (ibid., p.94). Ao contrario, devemos admirar a simples fm;anha de tra-

    dlH;oes corajosamente domesticadoras, 0 fato de que os tra-

    dutores produziram Um "trabalho textual" com seus propriosobjetivos e estrategias "em correspondencia mais ou menosproxima a textualidade do original" (ibid., p. 92).

    Evidentelllente, Ullla etica tradut6ria nao poc1csc rcs-

    tringir a Ullla no~ao de fidelidadc. Nao s6 uma tradu~aoconstihli Ullla interpreta~ao do texto estTangeiro, quc variade acordo eOIll situa~6cs culfurais diferentes enl nlolll('nlos

    hist6ricos diferentes, mas C

  • japonesa, particularmente os romances americanizados de

    Banana Yoshimoto, constituem essa restaura

  • dan~a instituciona1. E tal mudanc,:a tampouco ocorreu, mes-mo que uma revisao COIllO"Illaldito" tivesse se estabelecidona Bfblia de King lallles (] 611).

    Dllla pratica tradutoria que reclireciona rigorosamen_

    te seu etnocentrislllo poc1e muito bem suhverter as ideolo-

    gias e as institllic,:6es domesticas. Formaria, tambem, uma

    identidade cultural, Illas Ullla que e crltica e contingente a

    mn s6 tempo, avaliando constautemente as rclac,:oes eutre

    mna cultura domestica e seus outros estrangeiros e desenvol-

    vendo projetos tradutorios haseados unicalllentc em avalia-

    ~6es Illul

  • I

    I

    t~

    II,

    1'.\

    'i~

    ~I,

    163

    Em pe i\ porta do mCllljumfo, 0 sorriso dclc cra I,io lin-

    do quc cu dei IUU zoom para cOllsegnir IlIlI close de suas

    pupilas; eu nao cOllScguia tirm os O\llos dclc. Acho queollvi um cspfrilu chamando mcu UOIllC.

    His smile was so bright as hc stood in m)' doorway that

    Izoomed in for a closeup 011 his pupils, Iconlc1n't take m)'eyes off him. Ithink Iheard a spirit call my namc.

    (ibid., p. 6)

    Alelll disso, killluilas palavras japonesas em italieo es-palhadas pelo \cxlo, a IlIaioria referenle a eOlllida -lwtslldon

    Icostclcta de poreo empalladaj, ramen lespeeie de mass~1da

    eulillCIII,IIllIa /(mllalicbdc recor-

    rente ligeiralllell(e arcaica, Ilsac/a lIas passage liS que exprcs-

    salll 0 rollwlllismo Ircsloucado ao qllal a Iwrradora M ikage cdada. 1'/11dead Worn out, in a reverie ("cslou aca!>ada, IIIUII

    delfrio") cia diz 110 infcio, COlllbillallclo 0 arcaislllo poclicoreverie com 0 coloquial dead worn out (ibid., p. 4). Da IIles-

    ma forma, quallclo cIa CIICOlllra Yuiclti pela primeira vez,

    danclo infcio ao rc1acionalllelllo que 1II0ve a narraliva, de

    faz a lillguagelll dela passear por regislros e refercllcias, illdo

    cia gfriu de alta leCllologia ao Jillguajar romanlico de Holly-wood e a leologia IIIfslica:

    !()2

  • gundo foi clesenvolver IIm eliscurso tmelutario que e estTan-

    geirizador em seu desvio das nOrInas lingiifsticas dominan-

    tes, que tmz a conscicncia 0 fato de que a tmeln

  • clos canones clominantes porqlle essas traclll~6es nao foram

    desellvolviclas por, ou clestinaclas a, uma elite cultural ame-

    ricana que estabeleceu aqueles can ones. Ao contrario, seu

    hito em traclIH;ao c resultaclo de seu apelo para Iml publ i-

    co-Ieitor cle literatura cle classe media mais amplo, jovial e

    culto, embora nao necessarialllente acaclcmico. Miyoshi es-

    tava certo ao qllestiollar os ("elll