UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA ... · À Profa. Dra. Maria Cláudia Dantas...

83
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL CARACTERÍSTICAS FENOTIPICAS E MOLECULARES DE ISOLADOS DE Listeria monocytogenes ORIUNDOS DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL DE ARAGUAÍNA - TOCANTINS Lilyan Rosmery Luizaga de Monteiro Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita GOIÂNIA 2009

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA ... · À Profa. Dra. Maria Cláudia Dantas...

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

CARACTERÍSTICAS FENOTIPICAS E MOLECULARES DE

ISOLADOS DE Listeria monocytogenes ORIUNDOS DE

PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL DE ARAGUAÍNA - TOCANTINS

Lilyan Rosmery Luizaga de Monteiro

Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita

GOIÂNIA

2009

2

ii

LILYAN ROSMERY LUIZAGA DE MONTEIRO

CARACTERÍSTICAS FENOTIPICAS E MOLECULARES DE

ISOLADOS DE Listeria monocytogenes ORIUNDOS DE

PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL DE ARAGUAÍNA - TOCANTINS

Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Ciência Animal junto à Escola de Veterinária da

Universidade Federal de Goiás

Área de concentração:

Sanidade Animal

Orientador

Prof. Dr. Albenones José de Mesquita

Comitê de Orientação

Eurione Antônio Garcia da Veiga Jardim

Rolando Alfredo Mazzoni Romero

GOIÂNIA

2009

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

GPT/BC/UFG

Luizaga de Monteiro, Lilyan Rosmery

L952c Características fenotipicas e moleculares de isolados de

Listeria monocytogenes oriundos de produtos de origem

animal de Araguaína - Tocantins [manuscrito] / Lilyan

Rosmery Luizaga de Monteiro.- 2009.

72 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita; Co-

Orientadores: Prof. Dr. Eurione Antônio Garcia da Veiga

Jardim, Prof. Dr. Rolando Alfredo Mazzoni Romero.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goiás.

Escola de Veterinária, 2009.

Bibliografia.

1. Contaminação de alimentos 2. Listeria

monocytogenes. 3. Ensaio imunoenzimático 4.

Antimicrobianos 5. Eletroforese em gel em campo pulsado.

I. Título

CDU: 664.8/.9

iii

iv

DEDICATORIA DE HONRA:

Dedico esta tesis a mis padres Eddye Luizaga Melean y Nancy Aranibar de

Luizaga, siempre y para siempre em mi corazón. A mis queridos hermanos

Humberto (in memorian) y Jhonny Javier. A mi querida suegra, Doña Sebastiana

(in memorian).

DEDICATORIA DE AMOR:

A mi querido esposo Kleber y a mis adorados hijos Camila y Matheus, son parte

de mi.

v

AGRADECIMENTOS

Este trabalho deve muito a pessoas e instituições a quem eu gostaria de

agradecer, especialmente:

Ao meu orientador Prof. Dr. Albenones José de Mesquita, pela confiança

depositada em meu trabalho e auxílio prestado nas questões, dúvidas e

problemas durante a presente tese.

À Dra. Sandra Queiroz Porto de Mesquita, pelo desprendimento de

extrema relevância na colaboração do trabalho experimental.

À Profa. Dra. Ana Flavia Santos Coelho, pelas informações e pela sua

disponibilidade em trocar informações.

À banca de qualificação, pelas importantes sugestões que enriqueceram

esta tese.

À Profa. Dra. Cintia Silva Minafra e Rezende, pelo apoio prestado em

momentos de saudade da família.

À Profa. Dra. Maria Cláudia Dantas Porfirio Borges André, pelas

importantes sugestões e auxilio experiente prestado durante a realização deste

trabalho.

Ao Prof. Dr Antônio Nonato Oliveira, Coordenador do Centro de Pesquisa

em Alimentos –CPA- da Universidade Federal de Goiás, estendendo minha

gratidão a todos meus amigos do laboratório, pelo companheirismo e colaboração

prestados.

Agradeço também à Universidade Federal do Tocantins, por possibilitar

esta pós-graduação, aproveito de enviar a minha gratidão ao Prof. Dr. José

Expedito Cavalcante, Vice-Reitor da UFT, que acreditou no meu potencial.

Á minha estagiaria Nadiely Xavier Medeiros, pela companhia e auxilio

durante o trabalho experimental e participações de eventos científicos.

Aos colegas de faculdade, Luiza Helena, Raimundo, Jamur, Norma, Aurilio

pelas sugestões recebidas durante a elaboração desta tese.

À Profa. Dra. Maria Clorinda Soares Fioravanti, pelo apoio constantemente

oferecido, muito obrigado.

À Profa. Dra. Claudia Peixoto, que presenteou-me com sua bela amizade.

vi

SUMÁRIO

1.

2.

2.1.

3.

3.1.

3.1.1.

4.

4.1.

4.2

5.

6.

7.

CAPÍTULO I - CONSIDERAÇÕES GERAIS.....................................

INTRODUÇÃO ..................................................................................

DESCRIÇÃO TAXONÔMICA E CARACTERÍSTICAS DE Listeria

monocytogenes .................................................................................

Condições de crescimento.................................................................

MÉTODOS DE DETECÇÃO DE Listeria monocytogenes...,.............

Subtipagem de Listeria monocytogenes............................................

Divisão filogenética em linhagens de Listeria monocytogenes..........

LISTERIOSE .....................................................................................

Epidemiologia ....................................................................................

Listeriose em animais.........................................................................

VEICULAÇÃO DE Listeria monocytogenes ......................................

PREVENÇÃO DE LISTERIOSE.........................................................

REFERÊNCIAS .................................................................................

1

1

3

4

6

7

8

9

11

14

15

16

18

1.

2.

2.1.

2.2.

3.

4.

5.

CAPÍTULO II - CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA DE Listeria

monocytogenes ISOLADA EM PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

COMERCIALIZADOS EM ARAGUAÍNA – TO. ...................................

RESUMO...............................................................................................

ABSTRACT...........................................................................................

INTRODUÇÃO .....................................................................................

MATERIAL E MÉTODOS....................................................................

Amostragem .........................................................................................

Procedimento de isolamento ................................................................

RESULTADOS E DISCUSSÃO ...........................................................

CONCLUSÕES ....................................................................................

REFERÊNCIAS ....................................................................................

27

27

28

29

30

30

31

33

37

37

vii

1.

2.

3.

4.

5.

CAPÍTULO CAPÍTULO III - SUSCETIBILIDADE ANTIMICROBIANA

QUANTITATIVA DE ISOLADOS DE Listeria monocytogenes

ORIUNDOS DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

COMERCIALIZADOS EM ARAGUAÍNA-TO......................................

RESUMO.............................................................................................

ABSTRACT..........................................................................................

INTRODUÇÃO ....................................................................................

MATERIAL E MÉTODOS....................................................................

RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................

CONCLUSÕES ...................................................................................

REFERÊNCIAS ..................................................................................

43

43

44

45

48

49

52

53

1.

2.

2.1.

2.2.

3.

4.

5.

CAPÍTULO IV CAPÍTULO IV - CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE Listeria

monocytogenes ISOLADAS EM PRODUTOS DE ORIGEM

ANIMAL DE ARAGUAÍNA - TO..........................................................

RESUMO.............................................................................................

ABSTRACT..........................................................................................

INTRODUÇÃO ....................................................................................

MATERIAL E MÉTODOS..................................................................

Cepas bacterianas ............................................................................

Eletroforese em Campo Pulsado.........................................................

RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................

CONCLUSÕES....................................................................................

REFERÊNCIAS...................................................................................

56

56

57

58

59

59

60

61

65

66

CAPITULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS 71

viii

CARACTERÍSTICAS FENOTIPICAS E MOLECULARES DE ISOLADOS DE

Listeria monocytogenes ORIUNDOS DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

DE ARAGUAÍNA - TOCANTINS

RESUMO. A listeriose, infecção de origem alimentar, é causada pela Listeria

monocytogenes, bactéria ubiquitaria patogênica capaz de ser transmitida aos

humanos por alimentos contaminados. Esta doença é particularmente importante

pelo alto índice de mortalidade, aproximadamente 30% dos casos, afeta

principalmente pessoas imunocomprometidas. O objetivo desta pesquisa foi

determinar as características fenotípicas e moleculares de isolados de L.

monocytogenes provenientes de produtos de origem animal no município de

Araguaina, Tocantins. Para isso, Foram coletadas 120 amostras entre agosto de

2008 e março de 2009, sendo 30 de carne moída bovina, 30 de lingüiça mista, 30

de leite in natura e 30 de queijo frescal. Após enriquecimento, as amostras foram

analisadas pelo mini-VIDAS® L. monocytogenes (LMO) e posteriormente isoladas

pelo método bacteriológico tradicional. Os isolados foram enviados para

sorotipagem no Laboratório de Zoonoses Bacterianas (FIOCRUZ, RJ), Os

isolados de L. monocytogenes foram submetidos a avaliação da susceptibilidade

antimicrobiana pelo método do E-test E-test® , utilizando-se os seguintes

antimicrobianos: Ampicilina, Oxacilina, Levofloxacina, Gentamicina, Vancomicina,

Sulfametoxazol/Trimetoprima, para determinação da concentração inibitória

mínima (CIM). Finalmente, na determinação da similaridade entre os isolados,

foram submetidos à tipagem molecular pela técnica de PFGE, utilizando-se para a

digestão as enzimas de restrição ApaI e SmaI. Foi encontrado que 6 (20%) das

amostras de carne moída e 6 (20%) das amostras de linguiça mista foram

positivas para L. monocytogenes, e não se detectou a presença desta bactéria

nas amostras de leite in natura e queijo frescal. Quando testados frente aos

antimicrobianos, observou-se que os isolados que apresentaram maior resistência

foram provenientes de amostras de carne moída, no entanto, o mais suscetível foi

aquele isolado de linguiça mista frescal. Maior resistência foi observada para

gentamicina, oxacilina e trimetoprim/sulfametoxazol (85,7%). Verificaram-se

também que a levofloxacina (fluoroquinolona), vancomicina (glicopeptideo) e

ampicilina (beta-Lactâmico) são os antimicrobianos mais indicados contra os

isolados de L. monocytogenes encontrados na presente pesquisa. A análise do

perfil de macrorrestrição obtido pela PFGE e a combinação de resultados obtidos

com a enzima SmaI permitiu a distribuição dos sete isolados em dois clusters,

dois pulsotipos e dois subtipos. Nestas condições, pode-se concluir que tanto a

ix

carne moída crua quanto a lingüiça mista, comercializada em açougues de

Araguaína,TO, representam importante veículo de L monocytogenes.

Palavras-chave: Contaminação de alimentos, ensaio imunoenzimático, Listeria

monocytogenes, antimicrobianos, eletroforese em gel em campo pulsado

CAPÍTULO I: CONSIDERAÇÕES GERAIS

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa apresentar a caracterização fenotípica e

molecular de isolados de Listeria monocytogenes de produtos de origem animal

obtidos em Araguaína, cidade ao norte do Estado do Tocantins.

A pesquisa se justifica pela potencialidade letal da infecção invasiva que

esse patógeno apresenta. Apesar de se tratar de uma doença com baixa

morbidade, a taxa de mortalidade neste grupo pode alcançar 30% (MARZOCCA et

al., 2004; LÓPEZ et al., 2006), apresentando septicemia como manifestação mais

frequente da listeriose. Porém, quando o sistema nervoso central é envolvido, a

manifestação mais comum é a meningite, com índices de mortalidade que podem

chegar a 70% (USDA/FSRIO, 2005).

Pelos riscos envolvidos, a legislação internacional emitida por agências

de regulação de saúde pública, como USDA (US Department of Agriculture), FSIS

(Food Safety and Inspection Service), FDA (Food and drug administration) exigem

tolerância zero para a presença de L. monocytogenes em alimentos (SHANK et al.,

1996). Já no Brasil, a legislação especifica o monitoramento de apenas alguns tipos

de alimentos, como o queijo frescal (BRASIL, 2001). Os últimos avanços na

legislação prevêem, contudo, procedimentos de controle de L. monocytogenes em

produtos de origem animal prontos para o consumo, mas sem especificar o grau de

tolerância do patógeno nesses alimentos.

No Brasil faltam informações sobre surtos de listeriose, resistência

antimicrobiana dos isolados clínicos, além da caracterização fenotípica e

genotípica dos mesmos. Entre as dificuldades no controle e no estudo da

listeriose no Brasil, incluem-se: a falta de estatísticas oficiais sobre casos de

listeriose, pois sua notificação não é obrigatória, a recuperação de organismos

envolvidos nos surtos, e a demora na realização de análises clínicas

convencionais (LEMES-MARQUES et al., 2007; CRUZ et al., 2008). A isso são

acrescidas as dificuldades dos métodos de análise referentes aos custos,

principalmente com fins de rotina. Embora o miniVIDAS® não seja ainda acessível

2

para exames dessa natureza, esse método tem se mostrado importante

principalmente quando é analisado um grande número de amostras.

A necessidade de investigar a presença dessa bactéria patogênica em

alimentos comercializados na cidade de Araguaína se justifica por alguns aspectos.

Primeiramente, foi considerado o papel da produção e comércio de carne e seus

derivados nessa localidade. A região de Araguaína, por sua localização

geográfica, é considerada zona de influência econômica no Estado do Tocantins,

e se concentra fundamentalmente na pecuária, segundo LARANJEIRA & MENTA

(2008). Detém o segundo maior rebanho do Tocantins, com 1.012.363 bovídeos

de corte, os quais são destinados ao consumo interno e externo. O Estado por

sua vez é o 11º maior mercado produtor de carne bovina do Brasil, contando com

um rebanho de aproximadamente 8 milhões de animais, e 15 frigoríficos com

capacidade de abater mensalmente mais de 165 mil animais (FIGUEIREDO,

2007).

Outro aspecto relevante é a inexistência de trabalhos sobre a Listeria

monocytogenes no Norte do país. As pesquisas existentes limitam-se às regiões

Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o que não significa que a bactéria não esteja presente

na região Norte. O próprio fato da não obrigatoriedade de notificação de listeriose

pelos hospitais minimiza a consciência sobre os riscos da infecção, sobretudo se for

considerada a grande possibilidade de surto tal como verificamos nos sorotipos

encontrados.

Os alimentos analisados por esta pesquisa – lingüiça mista, queijo frescal,

carne moída e leite in natura – foram selecionados em função de dois critérios.

Inicialmente, considerou-se o consumo: trata-se de alimentos acessíveis a um

grande número de pessoas, abrangendo o consumo de distintas classes sociais.

Posteriormente, levou-se em conta o processamento e condições de

armazenamento, principalmente de lingüiça e carne moída, que seriam favoráveis

ao crescimento da Listeria, tendo em vista as características intrínsecas e

extrínsecas envolvidas na sua multiplicação. Nesse sentido, pesquisas como a aqui

realizada podem contribuir com elementos para revisão de normas já existentes,

como a alteração do prazo de validade de produtos refrigerados, e para a criação de

normas mais criteriosas quanto à segurança alimentar.

3

2. DESCRIÇÃO TAXONÔMICA E CARACTERÍSTICAS DE Listeria

monocytogenes

A primeira referência publicada sobre L. monocytogenes foi realizada

por Murray e colaboradores, que em 1926 observaram uma epizootia entre

coelhos do biotério do Departamento de Patologia da Universidade de Cambridge,

em Londres, descrevendo as características peculiares da doença e a elevada

mortalidade. Devido à característica de causar intensa leucocitose mononuclear,

foi nomeada como Bacterium monocytogenes (ROCOURT, 1999).

Por outro lado em 1927, Pirie descobriu um novo microrganismo na

África do Sul, sendo descrito como bacilo gram positivo, propondo o nome de

“Listerella hepatolytica”, pelo seu efeito patogênico e em homenagem a Lorde

Lister. Ambos descobridores, Murray e Pirie, enviaram suas cepas ao Instituto

Lister, em Londres, cujo diretor percebeu as similaridades entre os dois

microrganismos e colocou em contato os cientistas. Finalmente, tendo sido

esclarecida sua identidade, o organismo foi denominado como Listerella

monocytogenes (ROCOURT, 1999).

Porém, em 1939, o nome genérico foi rejeitado pelo Comitê

Internacional em Sistemática Bacteriológica, por ter sido utilizado para nomear

anteriormente outros organismos, ficando finalmente designado em 1940 como

Listeria monocytogenes e definitivamente incluída no Manual Bacteriológico

Determinativo de Bergey em 1948 (ROCOURT, 1999; CRUZ et al., 2008).

O gênero Listeria consta de seis espécies, L. monocytogenes, L.

ivanovii, L. innocua, L. welshmeri, L. seeligeri, e L. grayi. Foi determinado que

Listeria murrayi e L. grayi seriam espécies proximamente relacionadas

(ROCOURT, 1999). Uma atualização taxonômica reconheceu Listeria

monocytogenes e L. ivanovii, sendo a primeira patogênica tanto para o homem

quanto para animais, e a segunda predominantemente para animais (HITCHINS,

2003; ROBERTS & WIEDMANN, 2003).

Os sorotipos de Listeria monocytogenes mencionados por LEMES-

MARQUES et al. (2007) são 1/2a, 1/2b, 1/2c, 3a, 3b, 3c, 4a, 4ab, 4b, 4c, 4d, 4e, 7.

Estes 13 sorotipos são classificados por variações nos antígenos

8

1

9

1

4

somáticos (O) e flagelares (H), enquanto os métodos genéticos diferenciam mais

de 100 subtipos desta espécie (SCARCELLI & PIATTI, 2002; GORSKI et al.,

2006; LÓPEZ et al., 2006). Existem, porém, autores como BOU-M`HANDI et al.

(2007) que consideram somente 12 sorotipos.

2.1. Condições de crescimento

Listeria monocytogenes é um microrganismo Gram positivo, anaeróbio

facultativo, e psicrotrófico, amplamente distribuído no meio ambiente e

frequentemente encontrado em alimentos, que se multiplica em temperaturas

entre 1 e 45ºC e causa listeriose, doença invasiva com elevada taxa de letalidade

entre indivíduos contaminados (entre 20 e 30%), afeta geralmente a mulheres

grávidas, recém nascidos e adultos com sistema imunológico comprometido

(LEMES-MARQUES et al., 2007; RAMASWAMY et al., 2007).

Segundo USDA/FSRIO (2005), L. monocytogenes tem capacidade de

crescer em ambientes refrigerados ou no piso de locais de abate, por isso a

remoção incompleta de carne e gordura do equipamento pode impedir uma

apropriada sanitização, principalmente quando se trata de L. monocytogenes,

devido a sua capacidade de formar biofilmes.

L. monocytogenes cresce e se reproduz em temperaturas de

refrigeração, na faixa de 1°C (33°F) a 50°C (122°F), sendo a ótima entre 30°C

(86°F) e 37°C (98.6°F) (AZNAR & ALARCÓN, 2003; RADOSTITS et al., 2004;

USDA/FSRIO, 2005). Sobre isto TODAR (2008) afirma que ela é capaz de

sobreviver a temperaturas de 20 graus negativos. USDA/FSRIO (2005)

esclarecem que somente a pasteurização e temperaturas de ebulição são

suficientes para matar esta bactéria.

O pH de crescimento de L. monocytogenes varia de 4,4 a 9,4; sendo o

7,0 o pH ótimo. Este microrganismo não só é capaz de crescer em concentrações

até 10% de salinidade (NZFSA, 2002; SHIN & RASCO, 2007; CRUZ et al., 2008)

como pode ainda sobreviver por um ano em concentrações de sal acima de 16%

(USDA/FSRIO, 2005). Este fato é importante, pois durante a preparação de

alimentos, muitas vezes não é possível utilizar-se pH e concentrações de sal

5

adequados para prevenir o crescimento de L. monocytogenes

Segundo o USDA/FSRIO (2005) L. monocytogenes cresce em

condições aeróbicas, e pode ainda ser estimulada em condições de baixa

concentração de oxigênio e presença de CO2. Esse crescimento é sinergizado

quando a atividade de água é em torno de 0,90 a 0,97.

Quanto à persistência de L. monocytogenes no ambiente, LUNGU et al.

(2009) afirmaram que devem ser levadas em conta (i) as condições anaeróbicas

encontradas em microambientes do solo e (ii) o adubo orgânico, em lodos de

tratamento de lixo e em silagem, pois estes são barreiras adicionais que o

patógeno precisa enfrentar.

A capacidade de sobrevivência que L. monocytogenes apresenta em

condições adversas, maior do que qualquer outra bactéria não esporulada de

importância como patógeno de origem alimentar, assim como sua habilidade de

colonizar, fazem deste organismo, uma ameaça para a indústria de alimentos

(FENLON, 1999). A este respeito, NICHOLSON, et al. (2004) detectaram uma

sobrevivência no solo acima de 2 anos, e que segundo aqueles autores, foi

originada principalmente pelo uso de adubação orgânica com fezes de animais

que poderiam estar infectados.

HOFER & REIS (2005) encontraram elevada freqüência de L.

monocytogenes em fezes de ruminantes aparentemente saudáveis, sendo estes

animais portadores mais comuns de L. monocytogenes entre animais herbívoros.

O ambiente natural alberga esporadicamente uma diversidade de cepas

de L. monocytogenes, o descaso nas boas práticas de higiene e fabricação pode

transformar o meio ambiente em fonte de cepas virulentas capazes de colonizar

equipamentos e contaminar alimentos (FENLON, 1999).

L. monocytogenes é uma bactéria amplamente distribuída na natureza,

frequentemente isolada do solo, água, detritos vegetais, fezes e alimentos

(GIANFRANCESCHI et al., 2003). Além disso, pelo menos 42 espécies de

mamíferos silvestres e domésticos e 17 espécies de aves podem albergar Listeria

e sabe-se que entre 5 e 10% da população humana é portadora inaparente deste

patógeno (TODAR, 2008).

Quando presente junto à microbiota autóctone, como no leite cru e

6

alguns derivados, a L. monocytogenes pode decrescer em número na medida em

que a microbiota aumenta. Nesta inibição podem estar principalmente envolvidos

fatores como a diminuição de pH e a produção de bacteriocinas (DURMAZ, 2009).

Destacam-se ainda trabalhos realizados por COLEMAN et al. (2003) e GUERRA

& BERNARDO (2005) mostrando o antagonismo existente entre bactérias

endógenas de um alimento e patógenos, onde são consideradas geralmente a

concentração ou carga inicial e os fatores tempo e temperatura para a

sobrevivência de um ou outro grupo bacteriano.

3. MÉTODOS DE DETECÇÃO DE Listeria monocytogenes

A dificuldade de isolamento e distinção de Listeria monocytogenes das

outras espécies do mesmo gênero impulsionou o desenvolvimento de novas

técnicas com variações de agentes seletivos e eletivos (DONNELLY, 1999).

Atualmente, o método padrão utilizado no Brasil, pelo Sistema de

Laboratório Animal do Departamento de Defesa Animal, baseado na Instrução

normativa nº 62/2003 do MAPA no capítulo XIV (BRASIL, 2003). Esse documento

recomenda um enriquecimento seletivo realizado em duas etapas, para inibir a

flora acompanhante e para permitir a multiplicação de pequenas concentrações

de L. monocytogenes.

As provas convencionais para identificação de L. monocytogenes são a

coloração de Gram (+), reação da catalase (+), oxidase (-), hidrólise da

esculina(+), fermentação da glucose e maltose, motilidade (+) a 25ºC em meio

semisólido (em forma de guarda-chuvas), prova CAMP (+) (BENADOF, 2008).

A adição de 0,5% de estrato de levedura ao meio de cultura, ou 0,6%

como utilizado por SCHULZ & BATISTA (2006), facilitaria a reparação de células

injuriadas de L. monocytogenes, que atuam como fonte de vitaminas do complexo

B, necessários para essa bactéria (BESSE, 2002).

Segundo KABUKI, et al. (2004), a detecção e identificação desse

patógeno pode consumir muito tempo, transformando-se num desafio,

principalmente quando L. monocytogenes está presente junto a outras espécies

do mesmo gênero que podem crescer durante o enriquecimento. Os autores

7

ainda explicam que os métodos seletivos não diferenciam L. monocytogenes -

único patógeno humano do gênero - das espécies não patogênicas.

Isoladamente as técnicas tradicionais podem não detectar as fontes de

surtos de listeriose; nesse sentido os métodos de subtipagem molecular

apresentam-se como ferramentas úteis. Entre esses métodos, a eletroforese em

gel de campo pulsado (PFGE- Pulsed Field Gel Electrophoresis) tem grande

sensibilidade e alto poder discriminatório, sendo considerado o gold standard para

a subtipagem de L. monocytogenes (FUGETT et al., 2007; LEMES-MARQUES et

al., 2007).

O PFGE também pode ser usado, em estudos de longo prazo, para

determinar a persistência de uma cepa num ambiente, ou na determinação da

fonte de contaminação externa de um ambiente (SENCZEK et al., 2000;

MORETRO & LANGSRUD, 2004; GARRIDO et al., 2008).

O PFGE utilizado na presente pesquisa, além de ser considerado gold

standard, altamente sensível para determinar o grau de similaridade entre os

isolados encontrados, permite a rastreabilidade do patógeno. Para isso, são

recomendáveis novas pesquisas complementares para estabelecer de maneira

mais precisa a origem de contaminação por Listeria monocytogenes que

considerem amostras também ambientais, tendo em vista suas características

ubiquitárias de crescimento e capacidade de formação de biofilme em superfícies.

3.1. Subtipagem de Listeria monocytogenes

Os métodos de subtipagem são divididos em fenotípicos e genotípicos.

Os métodos fenotípicos detectam características expressas pelos microrganismos

como a sorotipagem, fagotipagem, susceptibilidade antimicrobiana, biotipagem

manual e automatizado, e eletroforese de enzimas (BELKUM et al., 2001).

Dificuldades encontradas na aplicação desses métodos, como respostas

fenotípicas diferenciadas em relação a estímulos ambientais, ou mutações

pontuais onde um simples nucleiotideo pode determinar o funcionamento anormal

de um gene responsável por um fenótipo, estimularam o desenvolvimento de

técnicas baseadas em tipagem molecular do DNA (ARBEIT, 1999).

8

GRAVES et al. (1999) e BELKUM et al. (2001) listam alguns métodos

genotípicos, como a análises de restrição do DNA cromossômico e plasmidial

(restriction endonucleases analysis - REA), ribotipagem, eletroforese em gel de

campo pulsado (pulsed-field gel eletrophoresis - PFGE), DNA polimórfico

amplificado aleatoriamente (randomly amplified polymorphic DNA - RAPD), PCR –

polimorfismo do comprimento do fragmento de restrição (PCR – restriction

fragment lenght polymorphism - PCR-RFLP), entre outros.

A utilização desses métodos em estudos epidemiológicos tem possibilitado

identificar surtos e fontes de infecção, bem como determinar a forma de

transmissão dos microrganismos patogênicos (GRAVES et al., 1999)

Como tentativa de mostrar a necessidade de padronização nos diferentes

métodos de tipagem utilizados para Listeria monocytogenes, BILLE & ROCOURT

(1996) tem realizado levantamento sobre os diferentes métodos utilizados

atualmente. Indicam que os métodos de serotipagem são úteis para estudos

preliminares, devido à utilização de reagentes padronizados que permite uma boa

reprodutibilidade, mais foram observados problemas particularmente relacionados

aos antígenos flagelares de alguns serotipos. Dentre as técnicas genotípicas, são

mencionados como métodos promissores a Análise de Micro-restrição do DNA

(REA- Microrestriction Analysis) e Eletroforese em Gel de Campo Pulsado (PFGE-

Pulsed Field Gel Electrophoresis) pela discriminação e reprodutibilidade, e

sugerem padronizar o protocolo e o sistema computacional de análise dos

resultados.

3.1.1. Divisão filogenética em linhagens de Listeria monocytogenes

Existe ainda discussão sobre a relação da origem de duas linhagens

encontradas em Listeria monocytogenes, relacionadas à listeriose humana, a

linhagem I (cluster I), representada pelo sorovar 1/2b e 4b, e a linhagem II (cluster

II), representada por 1/2a e 1/2c (PARIHAR et al., 2008), sendo que

NIGHTINGALE et al. (2004) defenderam a hipótese de que a linhagem I tem

cepas adaptadas a hospedeiro humano, enquanto a linhagem II contaria com

cepas ambientalmente adaptadas. LÓPEZ et al. (2006) sugeriram que essas duas

9

linhagens formariam duas sub espécies.

FUGETT et al. (2007) ainda lembram a existência de uma terceira

linhagem, representada principalmente por isolados de listeriose animal, que inclui

os sorotipos 4a, 4c e algumas cepas da 4b. LÓPEZ et al. (2006) indicaram que

essa linhagem representa uma unidade taxonômica mais distante, por isso tem

sugerido como uma nova espécie.

A linhagem II de L. monocytogenes está mais adaptada às condições

ambientais. Por outro lado, o sorotipo 4b foi isolado em surtos acontecidos em

tempo e espaço diferentes, pelo que é denominado de “clone epidêmico” (LÓPEZ

et al., 2006; RAMASWAMY et al., 2007).

4. LISTERIOSE

L. monocytogenes produz enfermidade no homem em uma fase inicial

conhecida como forma não invasiva, caracterizada por um quadro semelhante ao

estado gripal e acompanhada de diarréia e febre branda. Esta fase pode passar

despercebida, e transformar o indivíduo em portador. Nesse caso, em media, 5%

eliminam L. monocytogenes nas fezes (GUERRA & BERNARDO, 2004; WALLS &

BUCHANAN, 2005).

LÓPEZ et al (2006) lembraram que, para causar listeriose, são

necessárias no mínimo 102 células viáveis, no caso de grupos de risco, e 104, no

caso de população saudável, apesar disso, explicaram que ainda não se tem

certeza sobre a relação dose-resposta e a virulência de um determinado sorotipo

envolvido num surto. Por isso, todos os sorotipos de L. monocytogenes são

considerados patogênicos. Nesse sentido, MARZOCCA et al. (2004) explicaram

que devido à capacidade que L. monocytogenes tem de se multiplicar quando

armazenados em refrigeração, sem ter inibição por competição com outros

microrganismos, facilmente pode chegar ao número mínimo necessário para

causar listeriose, por isso esses autores tem um critério microbiológico mais

estrito, zero de tolerância. Por outro lado, em estudos de modelagem

epidemiológica da predição dose-resposta, LINDQVIST & WESTÖÖ (2000)

determinaram que a concentração do microrganismo no momento da ingestão foi

10

o fator mais importante na determinação do risco de listeriose.

Sobre a variabilidade de virulência deste patógeno, foi observado que

somente um pequeno número de sorotipos e pulsotipos estão envolvidos nos

surtos epidêmicos de listeriose. Segundo LÓPEZ et al. (2006), somente três

sorotipos (4b, 1/2a e 1/2b) respondem por 89-90% dos casos de listeriose em

nível mundial. Por outro lado, entre 8 e 21% dos isolados de alimentos e

ambientes naturais tem sua virulência atenuada ou são não virulentos.

Até o momento, não está clara a relação da presença de genes de

virulência e a virulência funcional, pois esses genes estão presentes em

praticamente todas as cepas (LÓPEZ et al., 2006). Porém KUN & GOEBEL

(1999) lembraram, porém, que existe uma série de sinais ambientais que essa

bactéria patogênica intracelular detecta para se adaptar no seu meio e expressar

seus genes de virulência. Estes sinais podem ser classificados como

fisioquímicos (temperatura, ferro, glucose, sais, pH, etc.) ou como condições de

estresse (calor, estresse oxidativo, estresse nutricional, crescimento intracelular),

porém os mecanismos de expressão não são bem conhecidos ainda.

Especial cuidado deve ser tomado quando se considera a temperatura

de armazenamento de alimentos que potencialmente podem constituir veículo de

Listeria monocytogenes, como o caso de alimentos consumidos crus ou semi-

crus. Nesse sentido MIETTINEN et al. (1999) relataram que temperaturas de

estocagem inadequadas permitem a multiplicação elevada desta bactéria,

produzindo gastroenteritis febrís não invasivas inclusive em pessoas saudáveis.

Apesar de ter sido descrito um surto de listeriose em coelhos, em 1924,

por MURRAY como indicado por ROCOURT (1999), ocorreu na Dinamarca o

registro do primeiro caso em humanos (GUERRA & BERNARDO, 2004). Estudos

epidemiológicos, nos últimos anos, apontaram L. monocytogenes como causa da

doença humana conhecida como listeriose, associada somente em 1981 ao

consumo de alimentos contaminados com essa bactéria (ROCOURT, 1999;

SLUTSKER & SCHUCHAT, 1999).

De acordo com GUERRA & BERNARDO (2004) e SCARCELLI &

PIATTI (2002), a listeriose humana é uma infecção oportunista, com

manifestações clínicas severas, principalmente em grupos de risco, como

11

gestantes e seus fetos, os recém-nascidos, idosos e os adultos com sistema

imunitário deprimido. Assim, CHARPENTIER & COURVALIN (1999) qualificaram

a listeriose como doença emergente transmitida por alimentos.

Para SCARCELLI & PIATTI (2002), a listeriose grave pode se

manifestar em duas formas: a neurológica e a abortiva. Quando neurológica,

observam-se as encefalites, meningites e abscessos cerebrais, enquanto na

forma abortiva pode acontecer placentite ou septicemia em fetos, assim como

nascimento prematuro. Clinicamente, a listeriose pode ter uma variedade de

manifestações, desde a óculoglandular (conjuntivite), cervicoglandular (associado

à faringe), pneumônica (geralmente com sintomas parecidos à febre tifóide) ou

cutânea (VARGAS et al., 2006). Porém, só recentemente foi reconhecido o

quadro clínico gastrentérico causado por L. monocytogenes, designada como

gastrenterite listérica ou listeriose não invasiva, com manifestações de diarréia,

cefaléias e dores abdominais, vômitos e fadiga (GUERRA & BERNARDO, 2004).

Em relação às formas de contágio, este patógeno pode ter uma porta

de entrada oral, ocular, respiratória e urogenital, muitas vezes por contato direto

com animais infectados ou por contaminação cruzada (GUERRA & BERNARDO,

2004). Assim, RADOSTITS et al. (2002) admitiram que pessoas relacionadas com

a agricultura sejam as mais suscetíveis à contaminação por listeria, podendo

ocorrer dermatite com pústulas e pápulas nos braços de veterinários após

manuseio em partos distócicos e fetos abortados.

De acordo com dados já mencionados antes, o número de células

presentes em alimentos contaminados que causaram listeriose é sempre superior

a 100 UFC/g. Porém, devido aos procedimentos de contagem, muitas vezes não

padronizados, e ao tempo transcorrido entre o consumo e a análise do alimento,

existe possibilidade de crescimento ou inativação de Listeria. Assim, os resultados

nem sempre são indicativos do número de organismos realmente ingeridos

(ROCOURT, 1999; KELLS & GILMOUR, 2004).

4.1. Epidemiologia

Conforme discorremos anteriormente, desde 1929 Listeria

12

monocytogenes é reconhecida como patógeno humano, que causa a listeriose.

Contudo, não existem dados suficientes para esclarecer o número mínimo de L.

monocytogenes, suficiente para causar infecção. Na tentativa de estabelecer uma

estimativa de risco, LINDQVIST & WESTÖÖ (2000) utilizaram modelagem de

simulação, para caracterização de perigo de consumo de peixe contaminado com

L. monocytogenes em grupos de alto e baixo risco, identificando problemas de

falta de informação sobre a proporção de cepas virulentas e de sua prevalência.

Esse tipo de modelagem também permitiu fazer uma estimativa sobre as

conseqüências econômicas e sociais derivadas da listeriose humana no Canadá,

com risco de custo anual que pode variar entre 111 a 126 milhões de dólares por

ano (FARBER et al., 1996).

O aumento da população suscetível e da população de idosos, junto às

mudanças de produção de alimentos processados prontos para o consumo, são

considerados fatores determinantes para o aumento mundial no número de casos

de listeriose (CRESPO et al., 1999; THOMSON, 2004). A este respeito, a Figura 1

mostra a ampla distribuição de listeriose em nível global.

Figura 1: Distribuição mundial de Listeria monocytogenes

Fonte: http://www.pathogencombat.com/Industry/industry-home-french/Interesting-

Articles.aspx

Uma visão clara dos acontecimentos atuais relacionados à listeriose,

13

diz respeito ao último surto conhecido globalmente, acontecido no Canadá, entre

julho e agosto de 2008, que deixou um saldo de 23 mortos e 57 casos

confirmados, como mostrados no CNN (2008).

A partir de julho, havia sido detectado, pela vigilância sanitária, um

aumento no número de casos notificados de listeriose. No final de agosto, antes

da associação do surto com a empresa de alimentos suspeita, foram recolhidos

os produtos suspeitos -de forma voluntária pela própria empresa- como mostrado

na Figura 4, o que representou um custo de 20 milhões de dólares para a

companhia. Alem disso, as vítimas envolvidas no surto entraram em ação judicial

com pedido de 350 milhões de dólares de indenização (CNN, 2008).

Figura 2: Anúncio em estabelecimento comercial sobre a retirada de produtos

cárneos suspeitos de veicular Listeria monocytogenes no surto de

listeriose de 2008 no Canadá.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/2008_Canadian_listeriosis_outbreak

A partir desse fato, foi emitido um documento pelo Ministro da Saúde do

Canadá, em abril de 2009, relativo às medidas tomadas e lições aprendidas com

o surto acontecido em agosto de 2008. Apesar de afirmar que Canadá teria o

14

melhor sistema de segurança alimentar no mundo, o Ministro admitiu que não

foram capazes de prevenir a perda de vidas humanas. Lembrou o trabalho

continuo da equipe laboratorial e o tempo de realização dos testes laboratoriais

durante o surto, às vezes questionados por serem muito demorados, necessário

para se ter resultados científicos confiáveis, o que leva o Canadá, entre outras

medidas, a buscar o desenvolvimento de novas técnicas mais rápidas (HEALT

CANADA, 2009; CFIA- Canadian Food Inspection Agency, 2009).

No Brasil, embora tenha sido isolado L. monocytogenes de vários tipos

de alimentos, não foi relatado ainda surto ou caso esporádico, sendo que existem

poucos estudos sobre a incidência de L. monocytogenes. Soma-se a isso a

informação de SILVA et al. (2007), sobre o número de casos confirmado de

toxinfecções alimentares que chegaria somente a 10% do número real. Segundo

BRASIL (2006), a listeriose não tem notificação compulsória. Por outro lado

contamos com somente algumas normativas como a Resolução nº 12 de janeiro

de 2001 (BRASIL, 2001) que exige o controle de listeria em alimentos

processados é destinada a queijos de elevada umidade, como ricota, meia cura e

minas frescal, também existe a instrução normativa nº 9 de agosto de 2009, que

institui procedimentos de controle da L. monocytogenes em produtos de origem

animal prontos para o consumo, que no futuro auxiliarão a determinar dados da

prevalência deste patógeno nesse grupo de alimentos de risco.

4.2. Listeriose em animais

A listeriose animal compartilha uma variedade de sintomas com a

listeriose humana. Dessa forma, os animais apresentam três tipos de

manifestação da doença causada por L. monocytogenes, septicemia, abortiva e

neurológica, sendo a última mais comum em ovinos, caprinos e bovinos. A forma

abortiva também é causada pela L. ivanovii (RISSI et al., 2006; TODAR, 2008).

O período de incubação de listeriose em animais varia entre 2-3

semanas, derivando em óbito no primeiro ou quarto dia após a incubação. No

caso de listeriose encefalitica, devido à ausência de sintomas clínicos iniciais e à

dificuldade no diagnóstico antes da morte repentina, o tratamento de listeriose

15

não têm sucesso tanto em animais quanto em humanos (ROBERTS &

WIEDMANN, 2003)

Neste fato, é importante tomar em consideração que o ambiente da

fazenda pode ser reservatório em potencia de L. monocytogenes, sendo que

foram relatadas por CRESPO et al. (1999) 37 espécies de mamíferos e 17 de

aves como reservatórios desta bactéria, entre eles animais domésticos e

selvagens.

NIGHTINGALE et al. (2004), no Estado de Nova York, EUA,

confirmaram que a Listeria monocytogenes é depositada no solo por fezes de

animais contaminados o que contribui na amplificação e dispersão do patógeno.

Já no Brasil, HOFER & REIS (2005) também confirmam a presença de Listeria,

principalmente nas fezes de animais muitas vezes normais.

A listeriose em animais é importante não somente pelas perdas

econômicas inerentes, mas também pela possibilidade de relacionar a

contaminação ambiental com a humana (WESLEY, 1999; ROBERTS &

WIEDMANN, 2003).

5. VEICULAÇÃO DE Listeria monocytogenes

Acredita-se que os alimentos contaminados sejam a via principal de

transmissão de L. monocytogenes para o homem (RAMASWAMY et al., 2007).

Assim, GUERRA & BERNARDO (2004) relataram que quase todos os surtos

descritos até agora estão relacionados ao consumo de alimentos processados,

sugerindo a existência de um grupo de alimentos de alto risco na veiculação deste

patógeno, onde se encontram os prontos para consumo que precisam de

refrigeração, peixes defumados, carnes e queijos frescos, uma vez que não são

submetidos a qualquer tratamento térmico imediato antes do consumo.

Em resposta ao problema de contaminação de alimentos, a maioria dos

países vem elaborando medidas de proteção de seus mercados, por meio de

acordos específicos que são a base legal do comercio internacional (KROPF,

2003).

Como observado na Figura 3, os alimentos tem um papel determinante

16

na patogênese de listeriose, por suas características inerentes de pH, atividade

de água, bem como condições de preparação e armazenamento. Adicionalmente,

o patógeno, durante sua propagação, interage com o ambiente, seja natural, do

próprio alimento ou do hospedeiro (ROBERTS & WIEDMANN, 2003).

FIGURA 6. Papel central dos alimentos na transmissão de Listeria

monocytogenes e fatores envolvidos na listeriose

Fonte: Adaptado de ROBERTS & WIEDMANN (2003)

6. PREVENÇÃO DE LISTERIOSE

Existem fatores de risco na dieta alimentar para o aparecimento de

listeriose humana, relacionados a alimentos não processados incluindo o leite

pasteurizado -quando mal pasteurizado ou contaminado após o processamento-

os queijos frescos, vegetais contaminados, além de outros. Para minimizar os

Ambiente

Alimento

Patógeno

Hospedeiro Estado imunológico

Suscetibilidade genética

Genes de Virulência

Manifestação dos genes

Temperatura,

disponibilidade de H2O, pH

17

casos de listeriose humana, SLUTSKER & SCHUCHAT (1999) propõem vigilância

e fiscalização constantes, assim como a implantação do sistema APPCC/HACCP

(Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle/Hazard Analysis and Critical

Control Points), com auxílio governamental.

Segundo a FAO/WHO (2006) a segurança alimentar é de

responsabilidade dos governos oficiais e nesse sentido a implementação do

sistema APPCC vem ao encontro dessa necessidade, por ser um programa que

visa a qualidade de alimentos, baseada em etapas relacionadas ao

processamento industrial, desde a obtenção da matéria prima até o produto final

(RIBEIRO-FURTINI & ABREU, 2006).

No Brasil, há a Portaria 1.428 de 23 de novembro de 1993 do Ministério

de Saúde, que regulamenta a produção de alimentos baseada no conceito de

Boas Práticas de Fabricação/Good Manufacturing Practices (BPF/GMP) e em

Procedimentos Padrão de Higiene Operacional/ Standard Sanitizing Operating

Procedures (PPHO/SSOP) (BRASIL, 1993).

Na procura de adequação das necessidades da sociedade e a

demanda internacional pelo comércio de produtos seguros, surge a Portaria 46 do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA (BRASIL, 1998), que

estipula a adoção gradativa, por parte da indústria de produtos de origem animal,

do APPCC.

Atualmente, os procedimentos de controle da L. monocytogenes em

produtos de origem animal prontos para o consumo que cumprem certas

características de pH, atividade de água e salinidade, estão instituídos na Portaria

No 09, do MAPA (BRASIL, 2009), que aplica-se a estabelecimentos que fabricam

produtos de origem animal, prontos para o consumo e determina, entre outros, o

cumprimento das seguintes características físico-químicas: pH > 4.4 (superior a

quatro ponto quatro) ou Atividade de Água > 0.92 (superior a zero ponto noventa

e dois) ainda concentração de cloreto de sódio <10 % (inferior a dez por cento),

respeitadas as características de seus processos de produção.

Isto posto e consideranda a relevância do tema, objetivou-se no

presente trabalho identificar L. monocytogenes em produtos de origem animal,

bem como caracterizar geneticamente os isolados com a finalidade de determinar

18

a similaridade entre elas, além de determinar a susceptibilidade dos mesmos a

antimicrobianos.

7 REFERÊNCIAS

1. ARBEIT, R.D. Laboratory procedures for the epidemiologic analysis of

microorganisms. . in: _____.MURRAY, P.R.; BARON, E.J.; PFALLER, M.A.;

TENOVER, F.C.; YOLKEN, R.H. Manual of Clinical Microbiology, 7th ed.,

pp.116-137, Washington, DC: American Society for Microbiology. 1999.

2. AZNAR, R.; ALARCON, B. PCR detection of Listeria monocytogenes: a study

of multiple factors affecting sensitivity. Journal of Applied Microbiology,

UK. v.5, n.95, p.958-966, 2003.

3. BELKUM, A.; STRUELENS, M.; VISSER, A.; VERBRUGIL, H.; TIBAYRENC,

M. Role of genomic typing in taxonomy, evolutionary genetics, and microbial

epidemiology. Clinical Microbiology Reviews, Basel, Switzerland. v.14, n.3,

p. 547-560, 2001.

4. BENADOF, D. Listeria monocytogenes. Revista Chilena de Infectologia,

Santiago. v.25, n.5, p.350, 2008.

5. BESSE, N.G. Influence of various environmental parameters and of detection

procedures on the recovery of stressed L. monocytogenes: a review. Food

Microbiology, Amsterdam. v.19, p.221-234, 2002.

6. BILLE, J; ROCOURT, J. WHO Internation multicenter Listeria

monocytogenes subtyping study-rationale and set-up of the study.

International Journal of Food Microbiology. Amsterdam. v.32, n.3. p.251-

262, 1996.

7. BOU-M´HANDI, N.; JACQUET, C.; EL MARRAKCHI, A.; MARTIN, P.

Phenotypic and Molecular Characterization of Listeria monocytogenes strains

isolated from a marine environment in Morocco. Foodborne Pathogens and

Disease. Delft. v.4, n.4, p.409-417, 2007.

19

8. BRASIL. Ministério de Saúde. Portaria n. 1428, de 26 de novembro de 1993.

Aprova o "Regulamento Técnico para Inspeção Sanitária de Alimentos", as

"Diretrizes para o Estabelecimento de Boas Práticas de Produção e de

Prestação de Serviços na Área de Alimentos" e o "Regulamento Técnico

para o Estabelecimento de Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ´s) para

Serviços e Produtos na Área de Alimentos". Diário Oficial da União,

Brasília, DF, de 02 de dezembro de 1993. Seção 1.

9. BRASIL. Ministério da Agricultura e Abastecimento. Portaria n. 46, de 10 de

fevereiro de 1998. Institui o sistema de análise Institui o Sistema de Análise

de Perigos e Pontos Críticos de Controle - APPCC a ser implantado,

gradativamente, nas indústrias de produtos de origem animal sob o regime

do serviço de inspeção federal - SIF, de acordo com o manual genérico de

procedimentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 fev. 1998. Seção 1.

10. BRASIL. Ministerio de Saúde/Secretaría de Vigilância em Saúde. MS/SVS.

Resolução – RDC No 12, de 02 de janeiro de 2001. Aprova regulamento

sobre padrões microbiológicos para alimentos e seus Anexos I e II. Diário

Oficial da União, Brasília, DF. n.7, p.45-53, de 10 de jan. de 2001. Seção 1.

11. BRASIL. Ministerio de Agricultura do Abastecimento e da Reforma Agrária/

Secretaría de Defesa Agropecuária. MAPA/DAS. Instrução Normativa No 62,

de 26 de agosto de 2003. Oficializa os Métodos Analíticos Oficiais para

Análises Microbiológicas para controle de produtos de origem animal e água.

Diário Oficial da União, Brasília, DF, p.14, de 18 de set. de 2003. Seção 1.

12. BRASIL. Ministerio de Saúde/Secretaría de Vigilância em Saúde. MS/SVS.

Portaria No 5, de 21 de fevereiro de 2006. Inclui doenças na relação nacional

de notificação compulsória, define doenças de notificação imediata, relação

dos resultados laboratoriais que devem ser notificados pelos Laboratórios de

Referência Nacional ou Regional e normas para notificação de casos, Diário

Oficial da União, Brasília, DF. n.38, p.34, de 22 de fev. de 2006. Seção 1.

13. BRASIL. Ministério da Agricultura e Abastecimento. Portaria n. 09, de 08 de

abril de 2009. Institui os Procedimentos de Controle da Listeria

monocytogenes em produtos de origem animal prontos para o consumo.

Diário Oficial da União, Brasília, DF, 09 abr. p. 9. 2009. Seção 1.

20

14. CFIA. Canadian Food Inspection Agency. Certain-ready-to-eat deli meat

products produced at establishment 97B may contain Listeria

monocytogenes. [online], 19/08/2008. Disponível em:

http://www.inspection.gc.ca/english/corpaffr/recarapp/2008/20080819e.shtml.

Acesso em: nov. 2009.

15. CHARPENTIER, E.; COURVALIN, P. Antibiotic Resistance in Listeria spp.

Minireview. Antimicrobial Agents and Chemotherapy. Washington, DC.

v.43, n.9, p.2103-2108. 1999.

16. CNN. Cable News Network. Canadian Links Toronto plant to deadly

listeriosis outbreak. [online]CNNHealth.com. 24/08/2008. Disponível em:

http://www.cnn.com/2008/HEALTH/08/24/listeria.outbreak/index.html. Acesso

em: nov. 2008.

17. COLEMAN, M.E.; SANDBERG, S.; ANDERSON, S.A. Impact of microbial

ecology of meat and poultry products on predictions from exposure

assessment scenarios for refrigerated storage. Risk Analysis, New York.

v.23, n.1, p.215-228, 2003.

18. CRESPO, M.P.; VÉLEZ, J.D.; CASTANHEDA, CL.; HOYOS, F.; LÓPEZ,

M.L.; SALAZAR, J.C. Aislamiento de Listeria monocytogenes em um hospital

de tercer nível. Colômbia Médica, Cali. v.30, n.002, p.89-98, 1999.

19. CRUZ, C.D., MARTINEZ, M.B.; DESTRO, M.T. Listeria monocytogenes: Um

agente infeccioso ainda pouco conhecido no Brasil. Alimentos e Nutrição,

Araraquara. v.19, n.2, p.195-206, 2008.

20. DONNELLY, C.W. Conventional methods to detect and isolate Listeria

monocytogenes. in: _____.Listeria, Listeriosis, and food safety, 2nd. ed.

Marcel Dekker, Inc., New York, 1999. chap.7, p. 225-260.

21. DURMAZ, H. Fate of Listeria Monocytogenes in Carra cheese. Journal of

Food Safety. v.29, n.2, p. 253-260, 2009.

22. FAO/WHO – FOOD and AGRICULTURE ORGANIZATION/WORLD HEALTH

ORGANIZATION. Guidance to governments on the application of

HACCP in small and/or less-developed food businesses. FAO Food and

Nutrition Paper. Rome. 86 p. 2006. Disponível em:

21

http://books.google.com.br/books?id=--

J0iHdmPtwC&pg=PA41&lpg=PA41&dq=Guidance+to+governments+on+the+

application+of+HACCP+in+small+and/or+less-

developed+food+businesses%2Bfao&source=bl&ots=CeGEBKCivA&sig=Yg1

vvzQph3OsiQprZ6DwuLnLUW0&hl=pt-

BR&ei=43gBS7_mMYGGuAfZ0NTdDw&sa=X&oi=book_result&ct=result&res

num=1&ved=0CAgQ6AEwAA#v=onepage&q=&f=false. Acesso em: 16 nov.

2009.

23. FARBER, J.M.; ROSS, W.H.; HARWIG, J. Health risk assessment of Listeria

monocytogenes in Canada. International Journal of Food Microbiology.

Amsterdam. v.30, n.1-2, p.145-156, 1996.

24. FENLON, D.R. Listeria monocytogenes in the natural environment.. in:

_____.Listeria, Listeriosis, and food safety, 2nd. ed. Marcel Dekker, Inc.,

New York, 1999. chap.2, p. 21-37.

25. FIGUEIREDO, A. Tocantins comemora 10 anos sem aftosa em grande estilo.

Agência de Defesa Agropecuária – ADAPEC. Governo do Estado do

Tocantins. Leitura 119, 2007. http://adapec.to.gov.br/noticia.php?id=61

26. FUGETT, E.B.; SHOONMARKER-BOPP, D.; DUMAS, N.B.; CORBY, J.;

WIEDMANN, M. Pulsed-Field gel electrophoresis (PFGE) analysis of

temporally matched Listeria monocytogenes isolates from human clinical

cases, foods, ruminant farms, and urban and natural environments reveals

source-associated as well as widely distributed PFGE types. Journal of

Clinical Microbiology, Washington, DC. v.45, n.3, p. 865-873, 2007.

27. GARRIDO, V.; TORROBA, L.; GARCÍA-JALÓN, I.; VITAS, A.I. Surveillance

of listeriosis in Navarre, Spain, 1995-2005 – Epidemiological patterns and

characterization of clinical and food isolates. Eurosurveillance. Stockholm.

v.13, n.49, p.16-35, 2008.

28. GIANFRANCESCHI, M.; GATTUSO, A.; TARTARO, S.; AURELI, P.

Incidence of Listeria Monocytogenes in Food and Environmental Samples in

Italy between 1990 and 1999: Serotype Distribution in Food, Environmental

and Clinical Samples. European Journal Epidemiology, Amsterdam. v.18,

22

N.10, p.1001-1006, 2003.

29. GORSKI, L.; FLAHERTY, D.; MANDRELL, R.E. Competitive fitness of

Listeria monocytogenes serotype 1/2a and 4b strain in mixed cultures with

and without food in the U.S. Food and Drug Administration Enrichment

Protocol. Applied and Environmental Microbiology. Washington, DC. v.72,

n.1, p.776-783, 2006.

30. GRAVES, L.M.; SWAMINATHAN, B.; HUNTER, S.B. Subtyping Listeria

monocytogenes. In: RYSER, E.; MARTH, E.H. (Ed.) Listeria, listeriosis and

food safety. 2nd. Ed. New York: Marcel Dekker. 1999. Chap. 9, p. 279-298.

31. GUERRA, M.M.; BERNARDO, F.A. O risco da listeriose e a identificação do

perigo. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. Lisboa, v.99, n.550,

p.69-76, 2004.

32. GUERRA, M.M.; BERNARDO, F.A. Influência da microflora de cura na

ocorrência de Listeria spp. em queijos tradicionais. Revista Portuguesa de

Ciências Veterinárias. Lisboa. n.100, p. 185-188. 2005.

33. HEALT CANADA. Lessons learned from listeriosis outbreak: Remarks by

Deputy Minister of Healt Canada, Morris Rosenberg, to the Sub-Committee

on Food Safety of the standing Committee on Agriculture. [online],

22/04/2009. Disponível em: http://www.hc-sc.gc.ca/fn-an/securit/ill-

intox/listeria/listeria_speech-discours-eng.php. Acesso em: nov. 2009.

34. HITCHINS, A.D. Food and Drug Administration (FDA)/Center for Food Safety

& Applied Nutrition (CFSAN). 2003. Detection and enumeration of Listeria

monocytogenes in foods. Bacteriological Analytical Manual. Disponível

em: <http://www.cfsan.fda.gov/~ebam/bam-10.html>. Acesso em: 27out.

2009.

35. HOFER, E.; REIS, M.F. Espécies e sorovares de Listeria isolados de animais

doentes e portadores no Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira. Rio de

Janeiro. v.2, n.25, p.79-83, 2005

36. KABUKI, D.Y.; WIEDMANN, M.; BOOR, K.J. Molecular subtyping and

tracking of Listeria monocytogenes in latin-style-fresh-cheese processing

plants. Journal of Dairy Science. Champaign. v.87, n.9. p.2803-2812, 2004.

23

37. KELLS, J. & GILMOUR, A. Incidence of Listeria monocytogenes in two milk

processing environments, and assessment of Listeria monocytogenes blood

agar for isolation. International Journal of Food Microbiology. Amsterdam.

v.91, n.2, p.167-174, 2004.

38. KROPF, R.S.F. HACCP e as barreiras técnicas. Ponto focal de barreiras

técnicas ás exportações. Inmetro. Rio de Janeiro. PP.10, 2003. Disponível

em: http://www.inmetro.gov.br/infotec/artigos/docs/8.pdf. Acesso em: Nov.

2009.

39. KUHN, M. & GOEBEL, W. Pathogenesis of Listeria monocytogenes. in:

_____.Listeria, Listeriosis, and food safety, 2nd. ed. Marcel Dekker, Inc.,

New York, 1999. chap.5, p. 97-130.

40. LEMES-MARQUES, E.G.; CRUZ, C.D.; DESTRO, M.T. Pheno- and

genotypic characterization of Listeria monocytogenes clinical isolates from

southwestern region of the State of São Paulo, Brazil. Brazilian Journal of

Microbiology. São Paulo. v.38, p. 287-292, 2007.

41. LARANJEIRA, C.; MENTA, F. Tocantins imuniza mais de 99% do seu

rebanho. Agência de Defesa Agropecuária – ADAPEC. Governo do Estado

do Tocantins. Leitura 155, 2008. http://adapec.to.gov.br/noticia.php?id=196

42. LINDQVIST, R.; WESTÖÖ, A. Quantitative risk assessment for Listeria

monocytogenes in smoked or gravad salmon and rainbow trout in Sweden.

International Journal of Food Microbiology. Amsterdam. v.58, n.3, p.181-

196, 2000.

43. LÓPEZ, V.; SUÁREZ, M.; CHICO-CALERO, I.; NAVAS, J.; MARTÍNEZ-

SUÁREZ, J.V. Listeria monocytogenes en alimentos: ¿son todos los

aislamientos igual de virulentos?. Revista Argentina de Microbiologia.

Buenos Aires. v.38, p.224-234, 2006.

44. LUNGU, B.; RICKE, S.C.; JOHNSON, M.G. Growth, survival, proliferation

and pathogenesis of Listeria monocytogenes under low oxygen or anaerobic

conditions: A review. Anaerobe. London. v.15, n.15, p.7-17, 2009.

45. MARZOCCA, M.A.; MARUCCI, M.A.; SICA, P.L.; ALVAREZ, E.E. Deteccion

de Listeria monocytogenes en distintos productos alimenticios y en muestras

24

ambientales de una amplia cadena de supermercados de la ciudad de Bahia

Blanca (Argentina). Revista Argentina de Microbiologia. Buenos Aires.

v.36, p.179-181, 2004.

46. MIETTINEN, M.K.; SIITONEN, A.; HEISKANEN, P.; HAAJANEN, H.;

BJÖRKROTH, K.J.; KORKEALA, H.J. Molecular epidemiology of an outbreak

of febrile gastroenteritis caused by Listeria monocytogenes in cold-smoked

rainbow trout. Journal of Clinical Microbiology. Washington, DC. v.37, n.7,

p.2358-2360, 1999.

47. MORETRO, T. & LANGSRUD, S. Listeria monocytogenes: Biofilm formation

and persistence in food-processing environments. Biofilms. Cambridge

Journals. v.1, p.107-121. 2004.

48. NICHOLSON, F.A.; CHAMBER, B.J.; MOORE, A.; NICHOLSON, R.J.;

HICKMAN, G. Assessing and managing the risks of pathogen transfer from

livestock manures into the food chain. Water and Environmental Journal.

v.18, n.3, p.155-160, 2004.

49. NIGHTINGALE, K.K.; SCHUKKEN, Y.H.; NIGHTINGALE, C.R.; FORTES,

E.D. HO, A.J.; HER, Z.; GROHN, Y.T.; McDONOUGH, P.L. Ecology and

transmission of Listeria monocytogenes infecting ruminants and in the farm

environment. Applied and Environmental Microbiology, v.70, n.8, p.4458-

4467, 2004.

50. NZFSA – New Zealand Food Safety Authority. Microbial Pathogen Data

Sheets – Listeria monocytogenes. Prepared for the Ministry of Health. p. 1-4,

2002. Disponível em: http://www.nzfsa.govt.nz/science/data-sheets/listeria-

monocytogenes.pdf. Acesso em: nov. 2009.

51. PARIHAR, V.S.; LOPEZ-VALLADARES, G.; DANIELSSON-THAM, M-L., et

al., Characterization of human invasive isolates of Listeria monocytogenes in

Sweden 1986-2007. Journal of Foodborne Pathogens and Disease, New

York. v.5, n.6, p. 755-761, 2008

52. RADOSTITS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD, D.C.; HINCHCLIFF, K.W. Clínica

Veterinária – Um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e

eqüinos. Nona ed., Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 2002. p.661-665.

25

53. RAMASWAMY, V.; CRESENCE, V.M.; REJITHA, J.S.; LEKSHMI, M.U.;

DHARSANA, K.S.; PRASAD, S.P.; VIJILA, H.M. Listeria – review of

epidemiology and pathogenesis. Journal of Microbiology, Immunology

and Infection, Taiwan. v.40, p. 4-13, 2007.

54. RIBEIRO-FURTINI, L. L.; ABREU, L. R. UTILIZAÇÃO DE APPCC NA

INDÚSTRIA DE ALIMENTOS – COMUNICAÇÃO. Ciência agrotécnica,

Lavras. v.30, n.2, p.358-363, 2006.

55. RISSI, D.R.; RECH, R.R.; BARROS, R.R.; KOMMERS, G.D.; LANGOHR,

I.M.; PIEREZAN, F.; BARROS, C.S.L. Forma nervosa de listeriose em

caprinos. Pesquisa Veterinária Brasileira. Rio de Janeiro. v.26, n.1, p.14-

20, 2006.

56. ROBERTS, A.J.; WIEDMANN, M.W. Pathogen, host and environmental

factors contributing to the pathogenesis of listeriosis. Cellular and Molecular

Life Sciences. Basel. v.60, p.904-918, 2003.

57. ROCOURT, J. The genus Listeria and Listeria monocytogenes: Phylogenetic

position, taxonomy, and identification. in: _____.Listeria, Listeriosis, and

food safety, 2nd. ed. Marcel Dekker, Inc., New York, 1999. chap.1, p. 1-20.

58. SCARCELLI, E.; PIATTI, R.M. Patógenos emergentes relacionados à

contaminação de alimentos de origem animal. Biológico. v.64, n.2, p.123-

127. 2002.

59. SENCZEK, D.; STEPHAN, R.; UNTERMANN, F. Pulsed-field gel

electrophoresis (PFGE) typing of Listeria strains isolated from a meat

processing plant over a 2-year period. International Journal of Food

Microbiology. Amsterdam. v.62, p. 155-159, 2000.

60. SHANK, F.R.; ELLIOT, E.L.; WACHSMUTH, I.K.; LOSIKOFF, M.E. US

position on Listeria monocytogenes in foods. Food Control. Vurrey. v.7,

n.415, p.229-234, 1996.

61. SHIN, J.H.; RASCO, B.A. Effect of water phase salt content and storage

temperature on Listeria monocytogenes survival in chum salmon

(Oncorhynchus keta) roe and caviar (ikura). Journal of Food Science.

Chicago. v.72, n.5, 2007.

26

62. SILVA, M.R.; MIRANDA, V.P.; MENIN, A.; FERNANDES, F.S. Doenças

transmitidas pelo leite e sua importância em saúde pública. Ciência do

Leite. [online]. Jan. 2007. Disponível em:

http://www.cienciadoleite.com.br/doencastransmitidaspelo%20leite.htm.

Acesso em: Nov. 2009.

63. SLUTSKER, L. & SCHUCHAT, A. Listeriosis in humans. in: _____.Listeria,

Listeriosis, and food safety, 2nd. ed. Marcel Dekker, Inc., New York, 1999.

chap.4, p. 75-95.

64. SCHULZ, D; BATISTA, C.R.V. Atividade antibacteriana do extrato bruto de

Bacillus amyloliquefaciens frente a diferentes indicadores. Alimentos e

Nutrição. Araraquara, v.17, n1, p.73-77, 2006.

65. TODAR, K. Listeria monocytogenes. Todar's Online Textbook of

Bacteriology. University of Wisconsin-Madison, Department of Bacteriology.

2008. Disponível em: http://www.textbookofbacteriology.net/Listeria.html. 22

nov. 2009.

66. THOMSON, R.B. What is your MIC IQ?. (online). ). Etest News No 30. AB

biodisk. Solna, Sweden. 2004. Disponível em:

http://www.abbiodisk.com/pdf/etest_news/M0000485.pdf, Acesso em:11 set.

2009.

67. USDA/FSRIO – United States Department of Agriculture/Food Safety

Research Information Office. Pathogens and Contaminants. A focus on

Listeria monocytogenes. – Dec. 2005. Disponível em:

http://fsrio.nal.usda.gov/document_fsheet.php?product_id=156. Acesso em:

1º Nov. 2009.

68. VARGAS, L.V.; PIANTA, C.; IKUTA, N.; OLIVEIRA, S.J. Detecção de Listeria

monocytogenes em amostras de queijo colonial maturadas a temperatura

ambiente e sob refrigeração. Veterinária em Foco. v.4, n.1, p.31-43, 2006.

69. WALLS, I.; BUCHANAN, R.L. Use of food safety objectives as a tool for

reducing foodborne listeriosis. Food Control. Vurrey. v.16, p.795-799. 2005.

70. WESLEY, I.V. Listeriosis in animals. in: _____.Listeria, Listeriosis, and

food safety, 2nd. ed. Marcel Dekker, Inc.,New York. 1999. chap.3, p. 39-73.

27

CAPÍTULO II: CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA DE Listeria monocytogenes

ISOLADA EM PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

COMERCIALIZADOS EM ARAGUAÍNA – TO.

RESUMO. A listeriose, infecção de origem alimentar, é causada pela Listeria

monocytogenes, bastonete amplamente disseminado no ambiente, patogênico

para animais e humanos. Embora tenha baixa prevalência, apresenta alto índice

de mortalidade, em torno de 20% a 40% da população susceptível, com sistema

imunológico comprometido. No presente trabalho, objetivou-se detectar a

presença de L. monocytogenes em alimentos de origem animal provenientes de

Araguaína, TO pelos métodos bacteriológicos convencionais e sistema imuno-

enzimático mini-VIDAS® (BioMérieux Vitek, Inc., Missouri, USA). Foram

coletadas 120 amostras de alimentos de origem animal em Araguaína, TO, entre

agosto de 2008 e março de 2009, sendo 30 de carne moída bovina, 30 de

lingüiça mista, 30 de leite in natura e 30 de queijo frescal. Após enriquecimento,

as amostras foram analisadas pelo mini-VIDAS® L. monocytogenes (LMO). Foi

encontrado que 6 (20%) das amostras de carne moída e 6 (20%) das amostras

de linguiça mista foram positivas para L. monocytogenes, e não se detectou a

presença desta bactéria nas amostras de leite in natura e queijo frescal. Os

valores encontrados em amostras de carne moída e lingüiça mista frescal são

relativamente altos quando comparados com dados de outros estados

brasileiros. A negatividade em todas as amostras dos produtos lácteos pode ser

devida à competição entre L. monocytogenes e a microbiota autóctone destes

produtos, geralmente comercializados em temperatura ambiente. Nestas

condições, pode-se concluir que tanto a carne moída crua quanto a lingüiça

mista, comercializada em açougues de Araguaína,TO, representam importante

veículo de Listeria monocytogenes.

Palavras-chave: Contaminação de alimentos, ensaio imunoenzimático, Listeria

monocytogenes, Patógeno de origem alimentar.

28

PHENOTYPIC CHARACTERISTICS OF Listeria monocytogenes ISOLATED

FROM ANIMAL PRODUCTS SOLD IN ARAGUAINA- TO

ABSTRACT. Listeriosis is a foodborne disease caused by Listeria

monocytogenes, which is widely distributed in the environment and is pathogenic

to animals and human beings. Although listeriosis has low prevalence, it has a

high mortality rate of between 20% and 40% of susceptible populations with an

immunocompromised system. The aim of the present study was to detect the

presence of L. monocytogenes in foods of animal origin from Araguaina, TO,

using the immunoenzymatic method mini-VIDAS® (BioMérieux Vitek, Inc.,

Missouri, USA),120 food samples of animal origin were collected in Araguaina,

TO, between August 2008 and March 2009, of which 30 were ground beef

samples, 30 mixed sausage, 30 raw milk and 30 samples of fresh cheese. After

enrichment, samples were analyzed by conventional bacteriological methods and

the automated system mini-VIDAS® for L. monocytogenes (LMO). By the results,

6 (20%) were positive ground beef samples and 6 (20%) positive mixed sausage

samples. L. monocytogenes was not detected in the raw milk nor in the curd

cheese samples. Values found in the ground beef and mixed sausages were

relatively high when compared with data found in other Brazilian states. Negative

results in all the milk product samples may be due to competition between L.

monocytogenes and autochthonous microflora present in these products, which

are usually sold at room temperature. Accordingly, we conclude that both raw

ground beef and mixed sausage, as sold in butchers shops in Araguaina, TO, are

important vehicles for Listeria monocytogenes.

Key words: food-borne pathogen, food contamination, immunoenzymatic essay,

Listeria monocytogenes

29

1. INTRODUÇÃO

O interesse pela detecção de Listeria em alimentos, particularmente

por Listeria monocytogenes, vem se intensificando desde a década de 80, em

função dos vários surtos e casos esporádicos de listeriose de origem alimentar

ocorridos no Canadá, Estados Unidos e Europa (SILVA et al., 1998). Desde

então, os alimentos têm sido considerados pelos pesquisadores como fonte

primária da infecção por este microrganismo (LAGE et al., 1996).

Listeria monocytogenes apresenta características de resistência a

condições ambientais adversas como crescimento em pH e temperatura baixos e

em elevado teor de cloreto de sódio, condições que determinam, segundo

MARZOCCA et al. (2004), a existência de alguns alimentos considerados de alto

risco -por serem prováveis veiculadores do patógeno- como os prontos para o

consumo e os que são conservados por período prolongado em refrigeração,

A veiculação de L. monocytogenes por alimentos contaminados, pode

causar a listeriose, associada principalmente a alimentos processados prontos

para consumo. A maioria dos surtos e casos esporádicos de listeriose envolve

pessoas com deficiência imunológica, mulheres grávidas e seus fetos, recém-

nascidos e idosos. Devido à gravidade das infecções, vários países do mundo

têm adotado uma política severa visando o controle desse microrganismo. No

entanto, têm encontrado dificuldades devidas, principalmente, à sua ampla

distribuição, natureza psicrotrófica e tolerância a muitos conservantes (ALMEIDA

et al. 1999).

ROCOURT (1999) considerou seis espécies dentro do gênero Listeria,

L. monocytogenes, L. ivanovii, L. innocua, L. welshmeri, L. seeligeri, e L. grayi.

Uma atualização taxonômica reconheceu Listeria monocytogenes e L. ivanovii

como patogênicos para animais, porém, (HITCHINS, 2002) indica que somente L.

monocytogenes está relacionada com listeriose humana. Apesar de que a

listeriose humana pode ser causada por qualquer dos 13 sorotipos descritos de L.

monocytogenes, LEMES-MARQUES et al. (2007) reconheceram três deles como

os responsáveis pela maior parte dos casos, os sorotipos 1/2a, 1/2b, e 4b, por

serem freqüentemente isolados em alimentos (NEVES et al., 2008; VON LAER et

al., 2009).

30

É reconhecido que o ambiente natural alberga esporadicamente uma

diversidade de L. monocytogenes em quantidades pequenas, porém, FENLON

(1999) reforçaram que o descaso com as boas práticas de higiene e fabricação

pode tornar o meio ambiente em importante fonte de L. monocytogenes

virulentas, com habilidade de colonizar equipamentos e contaminar alimentos.

A listeriose, considerada como zoonose, tem sua ocorrência

documentada somente em países desenvolvidos, como Estados Unidos e

Europa, sendo desconhecida na África, Ásia, América do Sul e em alguns países

de Europa onde a doença não é notificada (GUERRA & BERNARDO, 2004).

Além disso, LUNDÉN et al. (2004) ressaltaram a necessidade de detecção

multinacional de surtos de listeriose, e me que já está sendo elaborado um

sistema de vigilância internacional padronizado.

A região de Araguaína, por sua localização geográfica, é considerada

zona de influência econômica no Estado do Tocantins, concentrada na pecuária,

segundo LARANJEIRA & MENTA (2008). Detém o segundo maior rebanho do

Tocantins, com 1.012.363 bovídeos de corte, os quais são destinados ao

consumo interno e externo. O Estado por sua vez é o 11º maior mercado

produtor de carne bovina do Brasil, contando com um rebanho de

aproximadamente 8 milhões de animais, e 15 frigoríficos com capacidade de

abater mensalmente mais de 165 mil animais (FIGUEIREDO, 2007).

Isto posto, objetivou-se com o presente estudo, realizar a

caracterização fenotípica de Listeria monocytogenes isoladas de carne moída

crua, linguiça mista frescal, queijo minas frescal e leite in natura, comercializados

no Município de Araguaína,TO, pelos métodos de cultivo bacteriológico

convencional e ensaio imunoenzimático.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Amostragem

Foram colhidas aleatoriamente, no período compreendido entre agosto

de 2008 e maio de 2009, 120 amostras de quatro grupos de alimentos, sendo 30

31

de carne moída, 30 de lingüiça mista, 30 de queijo frescal e 30 de leite in natura,

comercializados em açougues -carne moída e linguiça mista frescal-, feiras

municipais e supermercados da cidade -queijo frescal-, e domicílios particulares -

leite in natura-, no Município de Araguaina, Estado do Tocantins, Brasil.

Para a seleção de açougues, foi utilizada uma amostragem

probabilística aleatória estratificada. A listagem dos estabelecimentos comerciais

fornecida pela Prefeitura Municipal de Araguaína em 2008, contou com um total

de 136 açougues cadastrados, distribuídos em 10 setores do município, e que

compuseram o universo amostral.

Os produtos adquiridos foram manipulados exclusivamente pelo

comerciante. Após a colheita a quantidade mínima de 500 g ou mL de cada

produto, foram identificados e acondicionados em caixas isotérmicas com gelo

reciclável e encaminhadas por via terrestre até o Laboratório do Centro de

Pesquisa em Alimentos (CPA) da Escola de Veterinária da Universidade Federal

de Goiás (UFG) para o isolamento e identificação de Listeria monocytogenes.

Alguns tipos de queijos foram acondicionados integramente na embalagem

original.

2.2. Procedimento de isolamento

A técnica utilizada foi descrita na Instrução Normativa n° 62 de 26 de

agosto de 2003 (BRASIL, 2003) para pesquisa de L. monocytogenes em leites e

derivados, cárneos e derivados, entre outros, que considera um enriquecimento

seletivo primário e outro secundário prévio ao isolamento.

Enriquecimento primário e secundário

Para o enriquecimento primário foram pesados assepticamente 25 g de

cada amostra e imediatamente homogenizados com 225 mL de meio de cultura

“Modified Listeria Enrichment Broth” (UVM University of Vermont Médium, com

suplemento) em triturador por dois minutos. A seguir, incubou-se a 30± 1ºC por

24 h. Para o enriquecimento secundário, uma alíquota de 0,1 ml foi transferida

para tubos contendo 10 ml de caldo Fraser (FB-Fraser, Difco, com suplemento) e

32

incubado a 35± 1ºC por 24 h.

Ensaio imunoenzimático

Após enriquecimento secundário, as amostras foram submetidas ao

ensaio qualitativo imunoenzimático VIDAS® - LMO2 para detecção da presença

de L. monocytogenes, que emprega a tecnologia fluorimétrica ELFA (Enzyme

Linked Fluorescent Assay), com protocolo validado pela Associação Francesa de

Normalização (Association Française de Normalisation/AFNOR) (VAZ-VELHO et

al., 2000; BioMÉRIEUX, 2008). Como descrito no manual do VIDAS® Listeria

monocytogenes II [LMO2], BioMÉRIEUX (2008), o kit consta de cones e barretes

descartáveis. O cone é utilizado como fase sólida com os anticorpos anti-L.

monocytogenes adsorvidos na superfície interna da parede do cone. Os

antígenos presentes no caldo de enriquecimento localizado no barrete vão fixar-

se aos anticorpos fixos no cone, Os ciclos automáticos do aparelho consistem em

sucessão de aspiração e dispersão do meio. Anticorpos conjugados com

fosfatase alcalina se fixam aos antígenos de L. monocytogenes, que já estão

fixos aos anticorpos das paredes do cone. Finalmente, o substrato 4-metil-

umbeliferil fosfato é aspirado no cone e a enzima do conjugado catalisa a

hidrólise formando o produto 4-metil-umbeliferona, com fluorescência emita e

medida, pelo aparelho, a 450 nm.

Seleção e Isolamento

As amostras negativas ao ensaio imunoenzimático foram descartadas,

e as positivas foram semeadas em superfície de ágar Oxford Modificado (MOX –

Difco – France) e incubadas a 35± 1ºC por 24 - 48 h. Cada placa de ágar seletivo

MOX foi examinada visualmente para a presença de colônias com morfologia

típica de L. monocytogenes. ALLERBERGER (2003) considerou como colônias

características, nas primeiras 24 h de incubação, aquelas cinzentas com halos

negros, e com 48 h de incubação aquelas escuras com o centro côncavo e halo

negro.

33

Purificação das colônias típicas

As colônias típicas no ágar MOX foram repicadas em ágar Tripticase

de Soja (Tryptic Soy Agar -TSA – Difco) suplementado com 0,6% de extrato de

levedura (Yeast Extract – YE, Oxoid) e incubadas a 35ºC /24-48 horas. Após este

período, foram observadas em iluminação oblíqua para visualização da cor

característica, cinza azulada, como sugerido por DONNELLY (1999). Em

complemento, as colônias foram observadas também em microscópio de

contraste de fase, para visualizar movimentos característicos de Listeria spp.,

descritos por SHENOY et al. (2007).

Confirmação e Identificação

A partir das culturas purificadas, foram realizadas as provas

bioquímicas de coloração de Gram, produção de catalase, motilidade, redução de

nitrato a nitrito, reação em Ágar Tríplice Açúcar Ferro (Triple Sugar Iron –TSI), ve-

rificação de beta-hemólise, fermentação de carboidratos (dextrose, xilose,

rhamnose, manitol, maltose), provas de Vermelho de Metila/Voges Proskauer,

com parâmetros diferenciais interespecíficos estabelecidos por LOVETT (1988) e

ROCOURT (1999), e BRASIL (2003). Além de hidrolisar esculina para esculetina,

no ágar Oxford Modificado, que reage com os íons férricos e produz zonas

negras ao redor das colônias.

Uma vez isoladas e identificadas, as unidades formadoras de colônias

típicas foram enviadas ao Departamento de Bacteriologia do Instituto Oswaldo

Cruz, RJ, para sorotipagem. Os sorotipos descritos de Listeria monocytogenes

são 1/2a, 1/2b, 1/2c, 3a, 3b, 3c, 4a, 4ab, 4b, 4c, 4d, 4e, 7. Estes 13 sorotipos são

classificados por variações nos antígenos somáticos (O) e flagelares (H)

(SCARCELLI & PIATTI, 2002; LÓPEZ et al., 2006; LEMES-MARQUES et al.,

2007).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

34

Na Tabela 1, estão contidos os resultados da identificação de L.

monocytogenes em função da análise imunoenzimática mini-VIDAS®. Nota-se

que seis (20,0%) das amostras de carne moída e seis (20,0) de lingüiça mista

foram positivas para L. monocytogenes e que não se detectou a presença do

patógeno em amostras de leite in natura e queijo minas frescal.

Pelo método bacteriológico convencional, das 30 amostras de carne

moída crua conseguiu-se isolar L. monocytogenes em cinco (16,7%) das

amostras, sendo que três pertenciam ao sorotipo 1/2b e duas ao 4b. Das 30

amostras de linguiça mista frescal se obtiveram dois isolados de L.

monocytogenes (6,7%), sendo um do sorotipo 1/2a e outro do 1/2b (Tabela 2).

Observa-se que os sorotipos encontrados no presente estudo pertencem aos

tipos 1/2a, 1/2b e 4b, que segundo GILBRETH et al. (2005) são responsáveis por

90% dos casos de listeriose humana nos Estados Unidos. Destes, merece

especial atenção o sorotipo 4b, por ser o sorotipo mais virulento (KUHN &

GOEBEL, 1999; MANTILLA et al., 2007).

MESQUITA et al. (1995) também isolaram o sorotipo 1/2b em amostras

de carne moída provenientes de Goiânia. GO, porém, a frequência encontrada de

20% de L. monocytogenes encontrada neste estudo é relativamente alta quando

considerados os relatos de outros autores, como MANTILLA et al. (2007) que

encontraram a presença deste patógeno em 7% de L. monocytogenes das

amostras de carne moída, isoladas por técnicas bacteriológicas de confirmação.

Assim também, YUCEL et al. (2005) isolaram a bactéria em 6,1% carne moída, e

SAMADPOUR et al. (2006) em 3,5% do mesmo tipo de amostra.

Chama a atenção a elevada contaminação por L. monocytogenes em

linguiça frescal, devido provavelmente ao processamento ao qual esse alimento é

submetido, como fatiamento, condimentação e outros ingredientes de cura,

tratamento térmico e longa vida útil de 45 dias (SILVA et al., 2004). LIMA et al.

(2005) observaram que a contaminação da matéria prima, durante o

processamento de linguiça mista, em uma planta de processamento de alimentos

em Pelotas, RS, resultou em 25% de contaminação do produto final.

Quando se considera que entre os ingredientes de preparação deste

tipo de linguiça artesanal encontram-se miúdos, é importante lembrar que pela

grande concentração de Listeria monocytogenes, as amígdalas de suínos tem

35

sido sugeridas como indicadores da prevalência desta bactéria no ambiente da

fazenda. FREDRIKSSON-AHOMAA et al. (2009) quantificaram a presença deste

patógeno em 32% das amostras de amígdalas em comparação a 4% em

amostras de fezes.

Cabe mencionar, para melhor compreender os resultados deste

trabalho, que fatores como o clima quente da região, acondicionamento do

produto cárneo em gôndolas refrigeradas de comercialização -muitas vezes de

maneira inadequada- assim como as condições diversas de armazenamento da

linguiça mista frescal, desde gôndolas refrigeradas à exposição ao ar livre do

produto, em açougues de comercialização poderiam ter contribuído para a

porcentagem de L. monocytogenes encontrada nestes alimentos.

No que tange à ausência de Listeria monocytogenes em amostras de

produtos lácteos, existem vários trabalhos, entre eles COLEMAN et al. (2003);

GUERRA & BERNARDO (2005); POPPI et al. (2008) que consideraram a inibição

de microrganismos indesejáveis, entre estes L. monocytogenes pela ação

antagônica com bactérias lácticas e Enterococcus que se multiplicam de maneira

acelerada devido às condições favoráveis de temperatura, pH e disponibilidade de

substrato. DURMAZ (2009) observou o comportamento da L. monocytogenes

quando inoculado em leite cru para elaboração de queijo branco. Verificou que

durante os primeiros 15 dias de maturação o número de L. monocytogenes

diminuiu significativamente enquanto o número de bactérias acido lácticas

aumentou, provavelmente pelo decréscimo do pH do meio.

A este respeito, estudos recentes realizados por NERO et al. (2009),

constataram a ausência total de L. monocytogenes e Salmonella sp. em leite cru,

onde a microbiota autóctone pode inibir total ou parcialmente o crescimento de

bactérias patogênicas, entre elas L. monocytogenes.

Os resultados negativos para a presença de L. monocytogenes em leite

in natura e queijo frescal produto deste trabalho, são semelhantes aos

encontrados por LEITE et al. (2002) que em 32 amostras de queijo coalho

analisadas encontraram somente uma amostra positiva para L. monocytogenes e

MARZOCCA et al. (2004) que analisaram 132 amostras de queijo de massa mole

e não detectaram L. monocytogenes. Porém, divergências com outros resultados

podem ser devidas às diferentes metodologias empregadas na análise

36

laboratorial, assim como as diferenças na tecnologia de produção deste queijo.

Outro fator relevante e que deve ser levado em consideração, conforme

VAZ-VELHO et al. (2000) e CASTELO BRANCO et. al. (2003), diz respeito às

limitações mostradas por ensaios imunológicos, com o teste de ELISA e mini-

VIDAS®-LMO, na detecção de Listeria em alimentos crus com baixos níveis de

Listeria e elevada microbiota competidora. Isto sugere que o resultado para este

grupo de alimentos possa ser devido simplesmente à baixa quantidade deste

patógeno neste tipo de amostras como no caso do leite e derivados, ou à

detecção de simplesmente microrganismos inativos, como nas amostras de

produtos cárneos, positivas no mini-VIDAS® e negativas pelo método

convencional.

Tabela 1 – Listeria monocytogenes identificadas em produtos de origem animal

comercializados em Araguaína, TO, segundo o ensaio imunoenzimático

Amostra No de amostras Amostras

positivas (%)

Carne moída 30 6 20

Lingüiça mista 30 6 20

Queijo frescal 30 0 0

Leite in natura 30 0 0

Total 120 12 10

Tabela 2 – Listeria monocytogenes isoladas em produtos de origem animal

comercializados em Araguaína, TO, pelo método bacteriológico convencional

Amostra No de

amostras No de isolados (%)

Sorotipo

1/2a (%) 1/2b (%) 4b (%)

Carne moída 30 5 (16,7) 3 (10,0) 2 (6,6)

Lingüiça mista 30 2 (6,7) 1 (3,3) 1 (3,3)

Total 60 7 (11,7)

37

4. CONCLUSÕES

A presença de Listeria monocytogenes, sorotipos 1/2a, 1/2b, e 4b,

comprovadamente envolvidos em surtos de listeriose, em amostras tanto de carne

moída quanto de lingüiça mista frescal na cidade de Araguaína, Estado do

Tocantins, revela o perigo ao qual estão expostos os consumidores deste tipo de

produtos. A ocorrência elevada (20%), tanto em carne moída quanto em lingüiça

frescal, evidencia a necessidade de estabelecer um sistema de controle de

alimentos comercializados, assim como a promoção de adequada educação

sobre a manipulação de alimentos, para evitar contaminação cruzada, e alertar

aos consumidores sobre os riscos de contaminação por L. monocytogenes,

principalmente para populações imunocomprometidas.

Agradecimentos

À coordenação do Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de

Veterinária da Universidade Federal de Goiás – UFG; à coordenação de pós-

graduação da Universidade Federal de Goiás, pelo apoio logístico e financeiro

oferecido para a realização deste trabalho. Somos gratos ao Dr. Ernesto Hofer,

laboratório de Zoonoses Bacterianas (FIOCRUZ, RJ) por sorotipagem de L.

monocytogenes.

5. REFERÊNCIAS

1. ALLERBERGER, F. Listeria: growth, phenotypic differentiation and molecular

microbiology. FEMS Immunology and Medical Microbiology. v. 35, p. 183-

189, 2003.

2. ALMEIDA, P.F.; COMASTRI, R. DE C.; RODRICK, G.E. Listeria

monocytogenes: importância e distribuição em alimentos. Higiene

Alimentar, São Paulo, v.13, n. 64, p. 19-23, 1999.

3. BioMÉRIEUX. REF 30 704 VIDAS® Listeria monocytogenes II (LMO2). 2008.

4. BRASIL, Ministerio de Agricultura do Abastecimento e da Reforma Agrária.

38

Secretaría de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa No 62, de 26 de

agosto de 2003. Oficializa os Métodos Analíticos Oficiais para Análises

Microbiológicas para Controle de Produtos de Origem Animal e Água. Diário

Oficial da União, Brasília, DF. p.14, de 18 de setembro de 2003. Seção 1.

5. CASTELO BRANCO, M.A.A.; FIGUEIREDO, E.A.T.; BORGES, M.F.; DA

SILVA, M.C.D.; DESTRO, M.T. Incidência de Listeria monocytogenes em

queijo coalho refrigerado produzido industrialmente. B. CEPPA, Curitiba,

v.21, n.2, p.393-408, 2003.

6. COLEMAN, M.E.; SANDBERG, S.; ANDERSON, S.A. Impact of microbial

ecology of meat and poultry products on predictions from exposure

assessment scenarios for refrigerated storage. Risk Analysis. v.23, n.1,

p.215-228, 2003.

7. DONNELLY, K. Conventional Methods to detect and isolate Listeria

monocytogenes. In: _____.Listeria, Listeriosis, and food safety, 2nd. ed.,

New York. Marcel Dekker, Inc., 1999. chap.7, p. 225-260.

8. DURMAZ, H. Fate of Listeria Monocytogenes in Carra cheese. Journal of

Food Safety. v.29, n.2, p. 253-260, 2009.

9. FENLON, D.R. Listeria monocytogenes in the natural environment. in:

_____.Listeria, Listeriosis, and food safety, 2. ed. Marcel Dekker, Inc.,

1999. chap.2, p. 21-37.

10. FIGUEIREDO, A. Tocantins comemora 10 anos sem aftosa em grande estilo.

Agência de Defesa Agropecuária – ADAPEC. Governo do Estado do

Tocantins. Leitura 119, 2007. http://adapec.to.gov.br/noticia.php?id=61

11. FREDRIKSSON-AHOMAA, M.; GERHARDT, M.; STOLLE, A. High bacterial

contamination of pig tonsils at slaughter. Meat Science. Atlanta. v.83, p.334-

336, 2009.

12. GILBRETH, S.E.; CALL, J.E.; WALLACE, F.M.; SCOTT, V.N.; CHEN, Y.;

LUCHANSKY, J.B. Relatedness of Listeria monocytogenes isolates

recovered from selected ready-to-eat foods and listeriosis patients in the

United States. Applied and Environmental Microbiology. V. 71, p. 8115 –

8122, 2005.

39

13. GUERRA, M.M.; BERNARDO, F.A. O risco da listeriose e a identificação do

perigo. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. Lisboa, v.99, n.550,

p.69-76, 2004.

14. GUERRA, M.M.; BERNARDO, F.A. Influência da microflora de cura na

ocorrência de Listeria spp. em queijos tradicionais. Revista Portuguesa de

Ciências Veterinárias. Lisboa. v.100, n.555, p. 185-188. 2005.

15. HITCHINS, A. D. Detection and enumeration of Listeria monocytogenes in

foods. Bacteriological analytical manual [on-line]. Atualizado em Nov. 17

de 2002. Disponível em: <http://www.cfsan.fda.gov/~ebam/bam-10.html>.

Acesso 14 de fev. 2009.

16. KUHN, M. & GOEBEL, W. Pathogenesis of Listeria monocytogenes. in:

_____.Listeria, Listeriosis, and food safety, 2. ed. Marcel Dekker, Inc.,

1999. chap.5, p. 97-130.

17. LAGE, M. E; SILVA, T. J. P; CERQUEIRA, M. M. O. P; SAMPAIO, I. B. M;

SOUZA, R. M. Ocorrência de Listeria spp. em carne crua de frango no

mercado da cidade de Belo Horizonte - MG / Occurence of Listeria spp. in

raw broiler meat on retail sale in Belo Horizonte - MG – Brazil. Arquivo

Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.48, n.1, p.53-60, 1996.

18. LEITE, CL, C.; GUIMARÃES, A.G.; RIBEIRO, N.S.; SILVA, M.D.; ASSIS,

P.N. Pesquisa de Listeria monocytogenes e Escherichia coli em queijo do

tipo “coalho” comercializado em Salvador (BA). Importância para a saúde

pública. Revista Analítica.v.2, p. 38-41, 2002.

19. LARANJEIRA, C.; MENTA, F. Tocantins imuniza mais de 99% do seu

rebanho. Agência de Defesa Agropecuária – ADAPEC. Governo do Estado

do Tocantins. Leitura 155, 2008.

http://adapec.to.gov.br/noticia.php?id=196

20. LEMES-MARQUES, E.G.; CRUZ, C.D.; DESTRO, M.T. Pheno- and

genotypic characterization of Listeria monocytogenes clinical isolates from

southwestern region of the State of São Paulo, Brazil. Brazilian Journal of

Microbiology. v.38, p. 287-292, 2007.

40

21. LIMA, A.S.; VON LAER, A.E.; TRINDADE, P.S.; SILVA,W P. Listeria

monocytogenes dissemination in mixed fresh sausage processing evaluated

by serology and RAPD. Alimentos e Nutrição. Araraquara, v.16, n.3, p. 245-

251, 2005.

22. LÓPEZ, V.; SUÁREZ, M.; CHICO-CALERO, I.; NAVAS, J.; MARTÍNEZ-

SUÁREZ, J.V. Listeria monocytogenes en alimentos: ¿son todos los

aislamientos igual de virulentos?. Revista Argentina de Microbiologia.

v.38, p.224-234, 2006.

23. LOVETT, J. Isolation and identification of Listeria monocytogenes in dairy

products. Journal-Association of Official Analytical Chemists. v.71, p.

658-660, 1988.

24. LUNDÉN, J.; TOLVANEN, R.; KORKEALA, H. Human listeriosis outbreaks

linked to dairy products in Europe. Journal of Dairy Science. v. 87,n.13. p.

6–11, 2004.

25. MANTILLA, S.P.S.; M. FRANCO, TRINIDADE OLIVEIRA, L.A. ; BARBOSA

SANTOS, E.; GOUVÊA, R. Ocorrência de Listeria spp. Em amostras de

carne bovina moída comercializadas no município de Niterói, RJ, Brasil.

Ciências e Agrotecnologia. Lavras, v.31, n. 4, p. 1225-1230. 2007.

26. MARZOCCA, M.A.; MARUCCI, P.L.; SICA, M.G.; ALVAREZ, E.E. Detección

de Listeria monocytogenes en distintos productos alimentícios y en muestras

ambientales de una amplia cadena de supermercados de la ciudad de Bahia

Blanca (Argentina). Revista Argentina de Microbiologia. Buenos Aires.

v.36, p.179-181, 2004.

27. MESQUITA, A.J.; IARIA, S.T. NUNES, I.A. Bactérias do gênero Listeria em

carne e água residuária de lavagem de carcaça de um matadouro-frigorífico

e em carne moída comercializada na cidade de Goiânia-GO. ANAIS DAS

ESCOLAS DE AGRONOMIA E VETERINÁRIA, GOIÂNIA-GO, v. 25, p. 37-

45, 1995.

28. NERO, L.A.; MATTOS, M.R.; BELOTI, V.; BARROS, M.A.F.; ORTOLANI,

M.B.T.; FRANCO, B.D.G.M. Antagonistic activity against Listeria

monocytogenes and Salmonella enteritidis. Journal of Food Safety, v. 29, n.

41

2, p. 261-270, 2009.

29. NEVES, E.; LOURENÇO, A.; SILVA, A.C.; COUTINHO, R.; BRITO, L.

Pulsed-field gel electrophoresis (PFGE) analysis of Listeria monocytogenes

isolates from different sources and geographical origins and representative of

twelve serovars. Systematic and Applied Microbiology. Stuttgart. v. 31, p.

387-392, 2008.

30. POPPI, L.B.; MANCILHA, I.M.; FERREIRA, A.J.P.; LEAL, D.D.M. Previous

notes: Evaluation of the antagonistic effect of Lactobacillus species on

Listeria monocytogenes in vitro. Brazilian Journal of Food Technology.

v.11, n.2, p.113-119, 2008.

31. ROCOURT, J. The genus Listeria and Listeria monocytogenes: Phylogenetic

position, taxonomy and identification. in: _____.Listeria, Listeriosis, and

food safety, 2. ed. Marcel Dekker, Inc., 1999. chap.1, p. 1-19.

32. SAMADPOUR, M. et al. Incidence of enterohemorrhagic Escherichia coli,

Escherichia coli O157, Salmonella, and Listeria monocytogenes in retail fresh

ground beef, sprouts, and mushrooms. Journal of Food Protection, Des

Moines, v. 69, n. 2, p. 441-443, 2006.

33. SCARCELLI, E.; PIATTI, R.M. Patógenos emergentes relacionados à

contaminação de alimentos de origem animal. Biológico. São Paulo. v.64,

n.2, p.123-127. 2002.

34. SILVA, M.C.D.; HOFER, E.; TIBANA, A. Incidence of Listeria monocytogenes

in cheese produced in Rio de Janeiro, Brazil. Journal Food Protection, v.

61, n.3, p. 354-356, 1998.

35. SILVA, W.P.; LIMA, A.S.; GANDRA, E.A.; ARAÚJO, M.R.; MACEDO, M.R.P.;

DUVAL, E.H. Listeria spp. In processing of fresh sausages in

slaughterhouses from Pelotas, RS, Brazil. Ciência Rural, Santa Maria. V.34,

n.3, p. 911-916, 2004.

36. VAZ-VELHO, M.; DUARTE, G.; GIBBS, P. Evaluation of mini-VIDAS rapid

test for detection of Listeria monocytogenes from production lines of fresh to

cold-smoked fish. Journal of Microbiological Methods, Amsterdam. v.40,

n.2, p.147-151, 2000.

42

37. VON LAER, A.E.; LIMA, A.S.; TRINIDADE, P.S.; ANDRIGUETTO, C.;

DESTRO, M.T.; SILVA, W.P. Characterization of Listeria monocytogenes

isolated from a fresh mixed sausage processing line in Pelotas-RS by PFGE.

Brazilian Journal of Microbiology. v.40, p.574-582, 2009.

38. YÜCEL, N.; ÇITAK, S.; ÖNDER, M. Prevalence and antibiotic resistance of

Listeria monocytogenes in meat products in Ankara, Turkey. Food

Microbiology. Amsterdam. v.22, p.241-245, 2005.

43

CAPÍTULO III: SUSCEPTIBILIDADE ANTIMICROBIANA QUANTITATIVA DE

ISOLADOS DE Listeria monocytogenes ORIUNDOS DE

PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL COMERCIALIZADOS EM

ARAGUAÍNA - TO

RESUMO. Listeria monocytogenes é uma bactéria patogênica freqüentemente

encontrada em carnes e seus derivados, transmitida aos humanos por alimentos

contaminados que não foram submetidos a tratamento adequado, capaz de

ocasionar a listeriose. A presença de resíduos de antibióticos em alimentos pode

dar-se pelo uso excessivo destes em tratamento de animais produtores de

alimentos, tal prática favorece a seleção de linhagens bacterianas cada vez mais

resistentes, o que dificulta o tratamento médico. O objetivo deste estudo foi avaliar

a susceptibilidade antimicrobiana de Listeria monocytogenes, isoladas a partir de

amostras de carne moída bovina e lingüiça mista, obtidas em diferentes

estabelecimentos comerciais no município de Araguaína, TO, pelo método do E-

test E-test® (AB Biodisk, Solna, Sweden). As cepas de L. monocytogenes isoladas

foram submetidas a testes de sensibilidade aos seguintes antimicrobianos:

Ampicilina, Oxacilina, Levofloxacina, Gentamicina, Vancomicina,

Sulfametoxazol/Trimetoprima. Os subcultivos de L. monocytogenes foram

semeados em placas contendo ágar Mueller Hinton. Os valores do CIM

(concentração inibitória mínima) foram lidos no ponto de interseção entre a zona

elíptica de inibição e a escala na fita do Etest. Foi identificado que os

antimicrobianos Levofloxacina, Vancomicina e Ampicilina são os mais eficientes

para inibir o crescimento de isolados de Listeria monocytogenes. Foi observada a

resistência dos isolados aos antibióticos Oxacilina, Sulfametoxazol-Trimetoprim e

Gentamicina. Sugere-se ainda que a variação na resistência pode ter importantes

diferenças geográficas, dependendo provavelmente dos hábitos locais quanto ao

uso de antibióticos que devem ser re-considerados criticamente quando aplicados

em animais.

Palavras-chave: Listeria monocytogenes, Antimicrobianos, alimentos, E-test®

44

QUANTITATIVE ANTIMICROBIAL SUSCEPTIBILITY OF Listeria

monocytogenes ISOLATED FROM ANIMAL PRODUCTS SOLD IN

ARAGUAINA- TO

ABSTRACT. Listeria monocytogenes is a pathogen frequently found in meat

samples and products; if transmitted to humans via contaminated foods that have

not been properly treated, it can cause listeriosis. The widespread use of

antibiotics for animal treatment means that there is a higher risk of there being

antibiotic residues in food, which can lead to some strains of bacteria becoming

increasingly resistant and therefore making medical treatment more difficult. The

objective of this study was to evaluate the antimicrobial susceptibility of Listeria

monocytogenes isolated from raw ground meat and mixed sausage samples, sold

in different places in Araguaina, TO, by using the E-test method (AB Biodisk,

Solna, Sweden). Isolates sensitivity were tested for the antimicrobials ampicillin,

oxacillin, levofloxacin, gentamicin, vancomycin and trimethoprim-

sulfamethoxazole. L. monocytogenes subcultures were plated in Mueller Hinton

agar. After 15 minutes of absorption of the inoculum, strips of E-test were placed

on these plates and incubated overnight at 30 °C. The MIC values (minimum

inhibitory concentration) were read as the edge of the inhibition ellipse intersects

the side of the strip. Not all MIC interpretative break points for Listeria

monocytogenes were yet established by the CLSI, therefore we took values from

other gram positive bacteria. From the results, it was determined that

levofloxacin, ampicillin and vancomycin are more effective at inhibiting the growth

of Listeria monocytogenes, while some strains showed resistance to the

antibiotics oxacillin, trimethoprim-sulfamethoxazole and gentamicin. It was

concluded that the varying levels of resistance may be influenced by the

geographic strain distribution, probably depending on the local customs of

antibiotic use that should be reconsidered critically insofar as they pertain to

animals.

Key words: Listeria monocytogenes Antibimicrobials, food, E-test®

45

1. INTRODUÇÃO

A listeriose é uma doença causada pela ingestão de alimentos

contaminados com Listeria monocytogenes bactéria Gram-positiva, de ampla

distribuição no meio ambiente. Esta bactéria é um patógeno que pode causar

meningite ou septicemias em recém nascidos, pacientes imunocomprometidos e

idosos, ou levar a aborto. Diferentemente de outras doenças de origem alimentar,

apresenta elevada taxa de mortalidade, chegando até 30% dos casos, apesar da

administração apropriada de antimicrobianos (AURELI et al., 2003; SRINIVASAN

et al., 2005; AARESTRUP et al. 2007).

O aumento da população suscetível e da população de idosos, junto às

mudanças de produção de alimentos processados prontos para o consumo,

fatores determinantes para o aumento mundial no número de casos de listeriose

(CRESPO et al., 1999).

As condições genéticas de resistência em L. monocytogenes ainda não

estão claras, porém, AARESTRUP et al. (2007) indica que esta resistência a

antimicrobianos pode estar associada a variações nas superfícies que

proporcionam uma vantagem seletiva no ambiente de produção de alimentos.

A ampicilina, gentamicina, penicilina, streptomicina e

Trimetoprima/sulfametoxazol são drogas usadas em tratamentos clínicos de

listeriose humana, enquanto ampicilina, ciprofloxacina, clindamicina, eritromicina,

gentamicina, penicilina, quinupristina/dalfopristina, estreptomicina e

Trimethoprima/sulfamethoxazol são frequentemente usadas em medicina

veterinária. A primeira opção de antimicrobianos para o tratamento de listeriose é

a ampicilina ou ampicilina combinada com aminoglicosídeos, ou ainda a

estreptomicina ou gentamicina. Pacientes alérgicos a penicilinas podem ser

tratados com trimetroprina e sulfametoxazol. (LYON et al., 2008).

YUCEL et al. (2005) relataram que Listeria innocua é muito freqüente

em carnes e produtos derivados, encontraram 83,3% de positividade desse

microrganismo em amostras de carne crua coletadas em Ankara, Turquia. Esse

achado é importante quando se procura explicar a transferência de informação

genética de resistência de L. innocua para L. monocytogenes. A este respeito,

CHARPENTIER & COURVALIN (1999); HERNÁNDEZ & HERNÁNDEZ-GODOY

46

(2004) indicaram que a transferência de informação genética de resistência pode

acontecer não somente de L. innocua, mas também de gêneros bacterianos

pouco similares, como Enterococcus e Streptococcus, que reconhecidamente são

freqüentes portadores de resistência.

A resistência antimicrobiana é menor em L. monocytogenes do que em

outras bactérias Gram-positivas, porém o aparelho gastrintestinal de animais e o

ambiente de plantas processadoras de alimentos podem expor a Listeria

monocytogenes a uma conjugação de plasmídios que codificam para resistência

antimicrobiana com Enterococcus spp. e Staphylococcus spp (LYON et al., 2008).

Ainda o desenvolvimento de resistência antimicrobiana em bactérias

zoonóticas está associado principalmente ao uso de antibióticos em animais,

incluindo animais de estimação, de fazenda, peixes, e principalmente animais em

tratamentos contra infecções pulmonares, de pele, abscessos e mastites. Estes

patógenos podem contaminar a carne durante o abate e a ordenha os produtos

lácteos, ou vegetais adubados com excremento animal. (AARESTRUP et al.,

2007).

Entre os diferentes mecanismos de resistência bacteriana utilizada para

combater o mecanismo de ação de um determinado fármaco, CRESPO et al.

(1999) lembraram que Listeria pode ser refratária aos mecanismos bactericidas

de muitos antibióticos por ser intracelular, sendo poucos os agentes que

efetivamente podem penetrar o citosol das células que hospedam a Listeria.

Para conhecer o papel de patógenos em amostras ambientais e a

disseminação de resistência antimicrobiana a outras populações bacterianas, são

necessárias pesquisas de resposta antimicrobiana, que vão além de uma mera

investigação de disseminação da doença. (AARESTRUP et al., 2007).

Um método de determinação de suscetibilidade antibacteriana, descrito

por MARLEY et al. (1995) e BOLMSTRÖM (2000), utiliza a tecnologia de

gradiente de antimicrobiano predefinido (Etest®, AB BIODISK, Solna, Suécia),

consta de uma fita plástica com gradiente de antibiótico pré-definido estável em

um lado da fita e não dependente da difusão -como ocorre na difusão em disco de

antibiograma- e do outro lado uma escala quantitativa, que aplicado numa placa,

contendo meio de cultura, pode desenvolver uma elipse de inibição como efeito

do gradiente de antimicrobiano, dando a leitura da Concentração Inibitória Mínima

47

(CIM/MIC-Minimum Inhibitory Concentration).

Este valor da CIM foi definido por THOMSON (2004) como a

concentração mais baixa de um agente antimicrobiano que visualmente inibe o

crescimento de um microrganismo em condições experimentais definidas. Na

leitura visual da elipse de inibição sobre a placa, valores da CIM menores que o

ponto de corte são interpretados como suscetíveis, e aqueles maiores como

resistentes.

O aumento da população de pacientes imunocomprometidos e o

desenvolvimento contínuo de mecanismos de resistência dos patógenos humanos

implica a necessidade de pesquisa de susceptibilidade in vitro, em muitos casos

com valores exatos de MIC, para aplicar terapia para pacientes individuais.

Porém, quando se trata de patógenos não freqüentes e são usados métodos não

validados pelo Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) ou pela Food

and Drug Administration (FDA), é recomendável que os resultados sejam

expressos como “fins de investigação ou não padronizados” (THOMSON, 2004).

Por outro lado, COLOMBO et al. (1995) relataram que o Etest® é um

método potencialmente útil quando usado como alternativa à diluição em caldo,

proposta pelo CLSI e que avaliações sobre seu rendimento mostraram resultados

em perfeito acordo com os obtidos pelos métodos padronizados por CLSI.

A seleção do agente antimicrobiano e da dose exata mais efetiva pode

determinar a erradicação do patógeno, minimizando o risco de seleção de

resistência. THOMSON (2004) consideraram que a farmacocinética de um agente

antimicrobiano pode variar de uma droga para outra, de um sítio de infecção a

outro, e de paciente para paciente, revelando diferença significativa do ponto de

inibição.

Apesar da vasta investigação sobre a ocorrência de L. monocytogenes

em carne e seus derivados em vários países, pouco tem se relatado sobre este

microrganismo no Brasil, e principalmente no Estado do Tocantins. Nesse sentido,

objetivou-se com o presente estudo determinar a suscetibilidade antimicrobiana,

pelo método de Etest®, de isolados de L. monocytogenes oriundos de produtos de

origem animal comercializados em Araguaína-Tocantins.

48

2. MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado no período compreendido entre agosto

de 2008 e julho de 2009, foram utilizados isolados de Listeria monocytogenes,

mantidos a -20ºC em caldo Luria-Bertani e Glicerol (0,5/0,5), provenientes de

carne moída e linguiça frescal comercializadas em Araguaína TO. Assim como a

cepa de referência ATCC 19115, obtida junto ao Instituto Adolfo Lutz em São

Paulo-SP.

No Centro de Pesquisa em Alimentos (CPA) da Escola de Veterinária

da Universidade Federal de Goiás (UFG), as unidades formadoras de colônias

típicas e confirmadas como Listeria monocytogenes, foram submetidas à

tecnologia de gradiente de antibiótico predefinido (Etest®, AB BIODISK, Solna,

Sweden) que utiliza uma fita plástica com gradiente de antibiótico pré-definido em

um lado e uma escala quantitativa no lado oposto (MARLEY et al., 1995;

BOLMSTRÖM, 2000).

Os antibióticos utilizados na determinação da susceptibilidade

antimicrobiana nas fitas de Etest® foram a Gentamicina, Vancomicina, Ampicilina,

Oxacilina, Trimetoprima/sulfametoxazol, e levofloxacina.

Os isolados estocados foram revitalizados em caldo BHI a 37ºC/18 h

em seguida foram estriados em TSA suplementado com 0,6 % extrato de

levedura, com auxilio de alça níquel-cromo, e incubadas a 35ºC/24h. Com auxilio

de swab esterilizado fez-se a suspensão bacteriana em solução salina até

concentração correspondendo ao tubo 2 da escala McFarland. A seguir, o inoculo

foi distribuído sobre placas de Agar Muller-Hinton, previamente incubadas a 35º

C/10-15 min após terem sido retiradas da geladeira. Deixou-se a temperatura

ambiente por 15-20 minutos, para permitir absorção do inoculo e, após esse

tempo, com auxílio de uma pinça flambada e resfriada, as fitas do Etest® foram

colocadas na superfície do meio, duas em cada placa, e incubadas a 37ºC por

uma noite.

Após incubação, foram realizadas as leituras dos valores da

concentração inibitória mínima de cada um dos seis antibióticos. O procedimento

foi realizado de acordo com sugestões do fabricante AB BIODISK (2007),

adaptado de WALSH (2007).

49

Na falta de valores de referência padronizados, foram utilizados os de

outros bastonetes Gram-positivos, apesar da inexistência de recomendação do

CLSI de pontos de corte que incluam várias bactérias fastidiosas, entre elas

Listeria monocytogenes, como relatado por JORGENSEN (2004), Este autor

sugere que na interpretação dos resultados, deve ser mencionada a utilização de

método não validado pelo CLSI.

JOYCE & WOODS (2004) explicaram que a leitura do CIM deve ser

realizada no ponto em que a elipse de inibição de crescimento intercepta a escala

da fita do Etest®.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao analisar a Tabela 1, verifica-se que isolados tocantinenses de

Listeria monocytogenes oriundos de produtos de origem animal, são resistentes a

mais de dois antibióticos, com exceção do sorotipo 1/2a encontrado em linguiça

mista frescal.

Os isolados que apresentaram maior resistência aos antimicrobianos

testados foram provenientes de amostras de carne moída (c e d na Tabela 1), no

entanto o mais suscetível foi aquele isolado de linguiça mista frescal (g na Tabela

1).

Maior resistência foi observada para gentamicina, oxacilina e

trimetoprim/sulfametoxazol (TS) (85,7%). De forma similar vários autores já

reportaram resistência de Listeria monocytogenes a antimicrobianos como

YUCEL et al. (2005), que verificaram resistência de 66,0% a TS e 66% a

ampicilina em L. monocytogenes isoladas de produtos cárneos em Ankara,

Turquia. No Brasil, MANTILLA et al. (2008), relataram que todas as cepas

testadas foram resistentes a oxaciclina e ampicilina e gentamicina.

No presente trabalho, verifica-se também que a levofloxacina

(fluoroquinolona), vancomicina (glicopeptídeo) e ampicilina (beta-lactâmico)

foram os antimicrobianos aos quais os isolados apresentaram mais sensibilidade

(85,7%, 85,7% e 57,1%, respectivamente).

De acordo com a resistência encontrada frente aos antimicrobianos

50

testados, foi possível determinar 5 fenótipos diferentes, considerando o intervalo

entre o fenótipo B, resistentes a 5 dos 6 antimicrobianos testados, e fenotipo E,

resistente a 1 antimicrobiano (Tabela 1).

Tabela 1. Perfil de susceptibilidade de Listeria monocytogenes isoladas de

produtos de origem animal comercializados em Araguaína, TO, pelo método do

Etest®

GM1 VA AM OX TS LE

Fenótipo Sorotipo

Valores de referência2 - (μg/mL);

≤ 4 ≤ 4 ≤2 ≤ 2 ≤ 0.5 ≤ 2

a) 4/b3 R S S R R S A

A

B

b) 4b3 R S S R R S

c) 1/2b3 R R R R R S

d) 1/2b3 R S R R R R B

e) 1/2b3 R S S R R S C

f) 1/2b4 R S S R S S D

g) 1/2a4 S S S S R S E

1Antimicrobianos utilizados: Gentamicina, Vancomicina, Ampicilina, Oxacilina,

Trimetoprima/sulfametoxazol, e levofloxacina. 2Valor de referência: GM, VA, AM, LE, valores utilizados para Listeria

monicytogenes por LYON et al. (2008). OX, valores para Staphylococci. CLSI MIC

Criteria (μg/mL); GM, OX e AM ; VA valor para Corynebacterium spp., TS valor

para Listeria monocytogenes. (BioMÉRIEUX, 2009). 3Amostras de carne moída 4Amostras de lingüiça mista frescal

No entanto, considerando as características de crescimento intracelular

deste patógeno, sugere-se que a seleção da melhor droga a ser utilizada no

tratamento de infecções por este patógeno, deve ser baseada tanto nos

resultados da CIM, quanto nas considerações de acumulação celular do

antibiótico (SERAL et al. 2005).

O uso indiscriminado de antimicrobianos incide no aumento do número

de bactérias resistentes a drogas já utilizadas em humanos, como o caso de

ampicilina, antimicrobiano mais indicado para tratamento de listeriose, e a

51

utilização de antimicrobianos pouco efetivos contra Listeria, pode criar um nicho

específico para a L. monocytogenes, pela inibição de outras espécies

bacterianas, como explicado por SRINIVASAN et al. (2005), AARESTRUP et al.

(2007) e MANTILLA et al. (2008).

Existe um aumento na resistência aos antibióticos não somente por

parte de Listeria spp, mas também de outros grupos de bactérias, como relatado

por WALSH et al. (2001), como conseqüência do uso indiscriminado de

antibióticos em animais e humanos, podendo acontecer por mutação ou por

aquisição de material genético exógeno.

HANSEN et al. (2005) em estudos de suscetibilidade de cepas

dinamarquesas de L. monocytogenes de humanos, constataram que eram

sensíveis aos antibióticos testados, incluindo ampicilina e sulfametoxazol, e que

as cepas multiresistentes que circularam em outros locais ainda não haviam

chegado à Dinamarca. Os autores comentaram que a cepa multiresistente

isolada de infecção humana na França em 1988 deve-se, provavelmente, à

transferência de plasmídio originado de um enterococo-estreptococo, devido à

presença destas bactérias no trato intestinal do homem e animais junto a Listeria

spp.

A presença de cepas multiresistentes estaria associada a ambientes de

utilização extensiva de antibióticos contra Listeria, o que segundo AARESTRUP

et al. (2007), não acontece na Dinamarca, para evitar isso, sugeriram a

utilização de compostos antibacterianos específicos contra L. monocytogenes.

O método de difusão quantitativa Etest®, tem se mostrado fácil na sua

aplicação, e com vantagens quando comparado com o método de difusão em

ágar. Segundo DI BONAVENTURA et al. (1998) o Etest® é promissor, pois tem

uma aplicação mais simples e os resultados apresentam uma boa correlação

com os métodos de referência propostos pelo CLSI. Por outro lado, MARLEY et

al. (1995) e JOYCE & WOODS (2004), destacaram a simplicidade de aplicação

do Etest, porém, pelo custo relativamente elevado não recomendam sua

utilização em estudos de rotina, mas indicam seu uso frequente em pesquisa

clínica, na qual os dados quantitativos de suscetibilidade são necessários, ou

para organismos fastidiosos ou anaeróbios, pois a fita pode ser empregada

também em meios enriquecidos.

52

Existem trabalhos que utilizam o Etest® como método para confirmar a

multirresistência de bactérias, detectadas por outros métodos. Assim BEREZIN

et al. (2002), relataram a experiência em pacientes de um hospital em São

Paulo, com sintomas de meningite, com cepas não susceptíveis por outros

métodos nas quais determinaram a CIM às quais as cepas eram susceptíveis.

Deve-se ressaltar que no presente estudo foram utilizados valores

referenciais de outros microrganismos que não L. monocytogenes, mas neste

sentido FILIOUSIS et al. (2009) explicam que os pontos de corte de resistência

para esta bactéria, disponíveis no CLSI estão estabelecidos somente para

penicilina e para a combinação Trimetoprima/sulfametoxazol.

Essas diferenças geográficas de resposta aos antimicrobianos podem

ser um indicativo das práticas na criação e produção de animais de açougue. O

que reforça a sugestão de MANTILLA et al. (2008) sobre a necessidade de

implantar programas de controle de resíduos de antimicrobianos na produção

animal, pelos órgãos governamentais.

4. CONCLUSÕES

De acordo com as condições de realização do presente estudo e

conforme os resultados obtidos pode-se afirmar que:

Entre os antimicrobianos testados, a levofloxacina (fluoroquinolona),

vancomicina (glicopeptideo) e ampicilina (beta-Lactâmico) são os mais indicados

contra os isolados de Listeria monocytogenes oriundos de carne moída e lingüiça

mista frescal de Araguaína, Tocantins.

Todos os isolados de carne bovina moída e linguiça mista frescal

apresentaram resistência a pelo menos um antimicrobianos, destacando a

multiresistência dos sorovares inclusive a alguns antimicrobianos recomendados

para terapia de listeriose.

Agradecimentos

À coordenação do Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de

53

Veterinária da Universidade Federal de Goiás – UFG; à coordenação de pós

graduação da Universidade Federal de Goiás, pelo apoio logístico e financeiro.

Somos gratos ao Dr. Ernesto Hofer, Laboratório de Zoonoses Bacterianas

(FIOCRUZ, RJ) por sorotipagem de L. monocytogenes.

5. REFERÊNCIAS

1. AB BIODISK. Etest® Antimicrobial susceptibility testing for in vitro diagnostic

use. AB Biodisk, Solna, Sweden. 2007. Disponível em:

http://www.abbiodisk.com/pdf/etm_html/03_etm.htm. Acesso em: 21 de set.

2009.

2. AARESTRUP, F.M.; KNOCHEL, S.; HASMAN, H. Antimicrobial susceptibility

of Listeria monocytogenes from food products. Foodborne Pathogens and

Disease. New York. v.4, n.2, p. 216-221, 2007.

3. AURELI, P.; FERRINI, A.M.; MANNONI, V.; HODZIC, S.; WEDELL-

EEGAARD, C.; OLIVA, B. Susceptibility of Listeria monocytogenes isolated

from food in Italy to antibiotics. International Journal of Food Microbiology.

Amsterdam. v.83, n.3. p. 325-330. 2003.

4. BEREZIN, E.N.; CARVALHO, L.H.; LOPES, C.R.; SANAJOTTA, A.T.;

BRANDILEONE, M.C.C.; MENEGATTI, S.; SAFADI, M.; GUERRA, M.L.C.S.

Meningite pneumocócica na infância: características clínicas, sorotipos mais

prevalentes e prognóstico. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro. v.77, n.1,

p.19-23, 2002.

5. BioMÉRIEUX. Etest technical manual (ETM). Etest® application sheet, 021.

Disponível em: http://www.abbiodisk.com/pdf/etm_html/09_etm.htm. Acesso

em: 14 set. 2009.

6. BOLMSTRÖM, A. Predefined gradients – a modern approach to anti-microbial

resistance testing. (online). Etest News No 27. AB biodisk. Solna, Sweden.

2000. Disponível em:

http://www.abbiodisk.com/pdf/etest_news/M0000356.pdf. Acesso em:11 set.

2009.

7. CHARPENTIER, E.; COURVALIN, P. Antibiotic Resistance in Listeria spp.

Minireview. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, Washington, DC.v.43,

54

n.9, p.2103-2108. 1999.

8. COLOMBO, A.L.; BARCHIESI, F.; McGOUGH, D.A.; RINALDI, M.G.

Comparison of Etest and National Committee for Clinical Laboratory

Standards broth macrodilution method for azole antifungal susceptibility

testing. Journal of Clinical Microbiology. Washington DC . v.33, n.3, p. 535-

540. 1995.

9. CRESPO, M.P.; VÉLEZ, J.D.; CASTANHEDA, CL.; HOYOS, F.; LÓPEZ, M.L.;

SALAZAR, J.C. Aislamiento de Listeria monocytogenes em um hospital de

tercer nível. Colombia Médica, Cali. v.30, n.002, p.89-98, 1999.

10. Di BONAVENTURA, G.; RICCI, E.; LOGGIA, N.D.; CATAMO, G.;

PICCOLOMINI, R. Evaluation of the E Test for antimicrobial susceptibility

testing of Pseudomonas aeruginosa isolates from patients with long-term

bladder catherization. Journal of Clinical Microbiology, Washington, DC.

v.36, n.3. p.824-826, 1998.

11. FILIOUSIS, G.; JOHANSSON, A.; FREY, J. PERRETEN, V. Prevalence,

genetic diversity and antimicrobial susceptibility of Listeria monocytogenes

isolated from open-air food markets in Greece. Short Communication. Food

Control, Vurrey. v. 20, n.3, p. 314-317, 2009.

12. HERNÁNDEZ, B.B.; HERNÁNDEZ-GODOY, J. Resistencias a antibióticos en

Listeria monocytogenes y Salmonella enterica, aislados de alimentos de

origen animal. Revista de Salud Ambiental, Valencia. v.4, n.1, p. 42-46,

2004.

13. HANSEN, J.M.; GERNER-SMIDT, P.; BRUUN, BR. Antibiotic susceptibility of

Listeria monocytogenes in Denmark 1958-2001. Acta Pathologica,

Microbiologica et Immunologica Scandinavica. Sweden. v.113, p. 31-36, 2005.

14. JOICE, M.; WOODS, CH.W. Antibacterial susceptibility testing in the clinical

Laboratory. Clinical Infectious Diseases. Chicago. v.18, p.401-434, 2004.

15. JORGENSEN, J.H. Need for Susceptibility Testing Guidelines for Fastidious or

Less-Frequently Isolates Bacteria. Journal of Clinical Microbiology.

Washington, DC . v.42, n.2. 2004.

16. LYON, S.A.; BERRANG, M.E.; FEDORKA-CRAY, P.J.; FLETCHER, D.L.;

MEINERSMANN, R.J. Antimicrobial resistance of Listeria monocytogenes

isolated from a poultry further processing plant. Foodborne Pathogens and

55

Disease. v.5, n.3, p.253-259, 2008.

17. MANTILLA, S.P.; FRANCO, R.M.; OLIVEIRA, L.A.T.; SANTOS, E.B.;

GOUVÊA, R. Resistência antimicrobiana de bactérias do gênero Listeria spp.

isoladas de carne moída bovina. Brazilian Journal of Veterinary Research

and Animal Science. São Paulo. v.45, n.2, p. 116-121, 2008.

18. MARLEY, E.F.; MOHLA, C.; CAMPOS, J.M. Evaluation of E-Test for

determination of antimicrobial MICs for Pseudomonas aeruginosa isolates

from cystic fibrosis patients. Journal of Clinical Microbiology. Washington

DC. v.33, n.12, p. 3191-3193. 1995.

19. SERAL, C.; BARCIA-MACAY, M.; MINGEOT-LECLERQ, M.P.; TULKENS,

P.M.; VAN BAMBEKE, F. Comparative activity of quinolones (ciprofloxacin,

levofloxacin, moxifloxacin and garenoxacin) against extracellular and

intracellular infection by Listeria monocytogenes and Staphylococcus aureus

in J774 macrophages. Journal of Antimicrobial Chemotherapy, London..

v.55, n.4, p.511-517, 2005.

20. SRINIVASAN, V.; NAM, H.M.; NGUYEN, L.T.; TAMILSELVAM, B.; MURINDA,

S.E.; OLIVER, S.P. Prevalence of antimicrobial resistance genes in Listeria

monocytogenes isolated from dairy farms. Foodborne Pathogens and

Disease. New York. v.2, n.3, p. 201-212, 2005.

21. THOMSON, R.B. What is your MIC IQ?. (online). ). Etest News No 30. AB

biodisk. Solna, Sweden. 2004. Disponível em:

http://www.abbiodisk.com/pdf/etest_news/M0000485.pdf, Acesso em:11 set.

2009.

22. WALSH, D.; DUFFY, G.; SHERIDAN, J.J.; BLAIR, I.S.; McDOWELL, D.A.

Antibiotic resistance among Listeria, including Listeria monocytogenes, in retail

foods. Journal of Applied Microbiology. Oxford. v.90, p.517-522, 2001.

23. WALSH, T. The gram negative threat – patients at risk?, Etest News No 32.

AB biodisk. Solna, Sweden. 2007. Disponível em:

http://www.abbiodisk.com/pdf/etest_news/M0000568.pdf, Acesso em:11 set.

2009.

24. YÜCEL, N.; ÇITAK, S.; ÖNDER, M. Prevalence and antibiotic resistance of

Listeria monocytogenes in meat products in Ankara, Turkey. Food

Microbiology, Amsterdam. v.22, p.241-245, 2005.

56

CAPÍTULO IV: CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE Listeria monocytogenes

ISOLADAS DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL EM

ARAGUAÍNA - TO.

RESUMO. Listeria monocytogenes é um patógeno de origem alimentar que

causa a listeriose, doença fatal em aproximadamente 30% dos casos, e que

afeta principalmente pessoas imunocomprometidas. Métodos de subtipagem

molecular são ferramentas úteis na determinação das fontes em surtos de

listeriose, entre eles a Eletroforese em Gel de Campo Pulsado (Pulsed Field Gel

Electrophoresis - PFGE) é considerada como gold standard para a tipagem de L.

monocytogenes. O presente trabalho tem como objetivo analisar as

características moleculares de cepas de L. monocytogenes isoladas de produtos

de origem animal obtidos em açougues de Araguaína, TO. Foram coletadas 30

amostras de carne moída e 30 amostras de linguiça mista frescal no segundo

semestre de 2008. Cinco (16,7%) das 30 amostras de carne moída crua foram

positivas ao patógeno, sendo que três pertenciam ao sorotipo 1/2b e duas ao

sorotipo 4b. Das 30 amostras de linguiça mista frescal duas (6,7%) foram

positivas para L. monocytogenes, sendo uma do sorotipo 1/2a e outra do 1/2b.

Os isolados foram submetidos à tipagem molecular pela técnica de PFGE,

utilizando-se para a digestão as enzimas de restrição ApaI e SmaI. A

similaridade entre eles foi determinada pelo coeficiente de Dice. A análise do

perfil de macrorrestrição obtido pela PFGE e a combinação de resultados obtidos

com a enzima SmaI permitiu a distribuição dos sete isolados em dois clusters,

dois pulsotipos e dois subtipos. Os resultados permitem concluir que os isolados

de L. monocytogenes sorotipos 4b, 1/2a e 1/2b são fortemente correlacionados

dentro dos mesmos sorotipos e em alguns casos entre os sorotipos, sugerindo

uma fonte comum.

Palavras-chave: Eletroforese em Gel em Campo Pulsado, enzimas de restrição,

Listeria monocytogenes

57

MOLECULAR PROFILES OF Listeria monocytogenes ISOLATED FROM

ANIMAL PRODUCTS IN ARAGUAÍNA - TO

ABSTRACT. Listeria monocytogenes is a foodborne pathogen that causes

listeriosis, a fatal disease in about 30% of cases, Listeria monocytogenes mainly

affects people with a compromised immune system. Molecular subtyping

methods are useful tools in determining the sources of listeriosis outbreaks.

Among these, Pulsed Field Gel Electrophoresis, or PFGE, is considered to be the

gold standard method for typing L. monocytogenes. The aim of this work was to

analyze the molecular characteristics of L. monocytogenes strains, taken from

meat from slaughterhouses in Araguaina, TO. We collected 30 samples of ground

beef and 30 samples of frescal sausage during the second half of 2008. Five out

of the 30 samples (16.7%) of raw ground beef tested positive, of which three

belonged to serotype b ½ and two to serotype 4b. Among the 30 samples of

sausage collected, two separate strains of L. monocytogenes were isolated

(6.7%), one of which was serotype ½ a and the other ½ b. Afterwards, the strains

were subjected to molecular typing by PFGE technique, using ApaI and SmaI

restriction enzymes. Similarities among the strains were determined by the Dice

coefficient. The macro restriction profile obtained by PFGE that was obtained with

both enzymes determined the distribution of the seven strains in two clusters, two

pulsotypes and two subtypes. The result indicates that L. monocytogenes

isolates, belonging to serotype 4b, ½ a and ½ b, are strongly correlated within

the same serotypes, and in some cases among other serotypes, suggesting that

they have a common source.

Key words Pulsed Field Gel Electrophoresis, restriction enzymes, Listeria

monocytogenes

58

1. INTRODUÇÃO

Listeria monocytogenes é um patógeno de origem alimentar agente da

listeriose cujos surtos esporádicos podem manifestar-se clinicamente como

septicemias, meningites, meningoencefalites e abortos, sendo fatal em

aproximadamente 30% dos casos. A listeriose afeta principalmente pessoas

imunocomprometidas, mulheres grávidas, recém-nascidos e idosos (PARIHAR et

al., 2008; FILIOUSIS et al., 2009).

Este patógeno é particularmente importante devido à sua habilidade de

se multiplicar em temperaturas de refrigeração, em elevadas concentrações de

sal e pela sua distribuição ubiquitária, além de formar biofilmes em

estabelecimentos processadores de alimentos (GRAVES et al.; 2005; SHEN et

al., 2006).

GRAVES et al. (1999) dividiram os métodos de subtipagem de Listeria

monocytogenes em duas categorias, a convencional (sorotipagem, fagotipagem)

e os métodos moleculares (Multilocus Enzyme Electrophoresis – MEE;

Chromossomal DNA Restriction Endonuclease Analysis – REA; Restriction

Fragment Length Polymorphism Analysis - RFLPs).

Isoladamente, as técnicas convencionais podem não detectar as fontes

dos surtos de listeriose, no entanto, os métodos de subtipagem molecular

apresentam-se como ferramentas úteis nesta detecção. Entre estes métodos, a

eletroforese em gel de campo pulsado (PFGE- Pulsed Field Gel Electrophoresis)

proporciona uma subtipagem de grande sensibilidade e alto poder discriminatório,

sendo considerado o método gold standard para a subtipagem de L.

monocytogenes (TENOVER et al., 1997; BROSCH et al., 1996; BOU-M´HANDI et

al., 2007; FUGETT et al., 2007; LEMES-MARQUES et al., 2007). A PFGE

também pode ser usada, em estudos de longo prazo, para determinar a

persistência de uma espécie num ambiente, ou na determinação de contaminação

externa a um ambiente (SENCZEK et al., 2000; MORETRO & LANGSRUD,

2004). A este respeito, MELLO et al. (2008) garantiram que devido à

especificidade e sensibilidade dos métodos moleculares na identificação de

espécies L. monocytogenes, os métodos de sorotipagem vêm sendo substituídos

por esta técnica.

59

Na PFGE a bactéria intacta é localizada em blocos de agarose (plugs),

sua parede celular é lisada e ocorre digestão de suas proteínas. Dessa forma, as

enzimas de restrição reconhecem locais de corte distribuídos de maneira

diferenciada no genoma bacteriano, por isso os fragmentos são de diferentes

tamanhos que, por sua vez, formam padrões distintos quando são separados pela

eletroforese (GRAVES et al., 1999).

A separação de fragmentos de DNA cromossomal se dá pela

alternância dos campos elétricos em três direções perpendiculares (campo

pulsado), facilitando sua migração e proporcionando uma melhor resolução das

bandas no gel dependente do intervalo do pulso elétrico. Esta técnica além de

apresentar boa reprodutibilidade é altamente discriminatória com outras técnicas

de tipagem molecular disponíveis atualmente, sendo que a resolução alcançada

depende do tempo do pulso elétrico (FARAH, 1997; TENOVER et al., 1997;

BASIM & BASIM, 2001).

No Brasil faltam informações sobre surtos de listeriose, resistência

antimicrobiana das cepas clínicas e sua caracterização fenotípica e genotípica.

Entre as dificuldades no controle e no estudo da listeriose no Brasil, LEMES-

MARQUES et al. (2007) incluem a recuperação de organismos envolvidos nos

surtos, a falta de notificação e a demora na realização de análises clínicas

convencionais.

Considerando o exposto, objetivou-se com o presente estudo

caracterizar molecularmente isolados de Listeria monocytogenes oriundos de

carne moída e linguiça mista frescal de Araguaína, TO, empregando para tanto, a

eletroforese em gel de campo pulsado (PFGE- Pulsed Field Gel Electrophoresis).

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Cepas bacterianas

As cepas de Listeria monocytogenes utilizadas neste estudo foram

isoladas a partir de amostras de carne moída e linguiça coletadas em açougues

de Araguaína, Tocantins, entre agosto e dezembro de 2008. As cepas foram

60

sorotipadas pelo Departamento de Bacteriologia do Instituto Oswaldo Cruz, RJ

(FIOCRUZ). Estes isolados de carne moída e linguiça foram coletadas em

açougues da cidade de Araguaína, Tocantins. As técnicas de isolamento, seleção,

confirmação e identificação, foram baseadas na Instrução Normativa n° 62 de 26

de Agosto de 2003 (BRASIL, 2003). Após identificação, as cepas foram

congeladas a -20OC em caldo Luria Bertani (LB) com 50% de glicerol .

Os estocados foram reanimados por inoculação em tubos contendo BHI

e incubadas a 37oC por 18 h.

2.2. Eletroforese em Gel de Campo Pulsado

O perfil genético dos isolados de Listeria monocytogenes foi

determinado por PFGE do DNA digerido pelas endonucleases de restrição ApaI e

SmaI, e a cepa de L. monocytogenes ATCC 19115 foi utilizada no gel como

controle interno da corrida, utilizando o aparelho CHEF DRII (Bio-Rad

Laboratories®, Hercules, CA, USA) seguindo os métodos de GRAVES &

SWAMINATHAN (2001) e CDC/PulseNet (2004) com modificações, descritas

brevemente a seguir.

Cada isolado de L. monocytogenes foi semeado em ágar Brain Heart

Infusion (BHI) com incubação overnight a 37ºC. Após a incubação, as colônias

foram transferidas com auxilio de swab umedecido com tampão TE (10 mM Tris, 1

mM EDTA pH 8.0), para tubos esterilizados contendo 3 mL de TE e então

ajustada a concentração para 1,3 – 1,4 em 610nm em espectrofotômetro.

Em seguida foram transferidos para um tubo Eppendorf, 120μL da

suspensão de bactérias adicionada de lisozima (10mg/mL – estoque) e 120μL de

SSP (1,2% agarose de corrida, 1% SDS, 0,2mg/ml proteinase K) para confecção

de pequenos blocos de agarose (plugs).

Os plugs foram transferidos para tubos Falcon contendo 5mL de

tampão de lise [50mM Tris pH 8,0, 50mM EDTA pH 8,0; 1,0% sarcosil; 0,15mg/mL

proteinase K] e incubados a 54ºC por um período de duas horas em banho Maria

(BM) com agitação. Após esse período, o tampão de lise foi desprezado e os

plugs foram lavados duas vezes com 10mL de água Tipo I esterilizada pré-

aquecida a 50ºC em BM com agitação por 10-15 minutos a 50ºC e então lavados

61

mais quatro vezes com 10mL de tampão TE (10mMTris, 1mM EDTA, pH 8.0)

esterilizado e pré-aquecido a 50oC em BM com agitação por 15 minutos a 50oC.

Em seguida os plugs foram estocados em tampão TE sob refrigeração.

A digestão de cada amostra de DNA contido nos plugs foi realizada por

duas enzimas separadamente. Em um tubo adicionou-se ao plug 150μL de

tampão de enzima 1X e 40U da enzima de restrição ApaI (Invitrogen, EUA) com

incubação a 30oC durante a noite. Em outro tubo adicionou-se 150μL do tampão

da enzima e 20U da enzima de restrição SmaI (Invitrogen, EUA) com incubação a

25oC durante a noite. A eletroforese em campo pulsado foi realizada em gel de

agarose a 1% (agarose running gel, Sigma, EUA), em solução tampão Tris-Ácido

Bórico-EDTA 0,5x (Tris 90mM, ácido bórico 90mM e EDTA 2mM) no sistema

CHEF DRII (Bio-Rad Laboratories, CA, EUA). Para a resolução dos fragmentos

de restrição foi utilizado corrente alternada com intervalos de pulso de 4 a 40

segundos a 6 V/cm e temperatura de 14ºC por 19 horas. Após a eletroforese os

géis foram corados com brometo de etídio (10mg/mL) e o padrão de bandas

visualizado e fotografado sob luz UV. Foi utilizado como padrão de peso

molecular o Lambda DNA ladder PFGE (New England Biolabs, Ipswich, MA)

posicionado nas extremidades do gel. O perfil eletroforético foi analisado

visualmente segundo os critérios estabelecidos por TENOVER et al., (1995) e

pelo software Bionumerics, vs. 4.5 (Applied Maths, Kortrijk, Belgium).

A similaridade entre as cepas foi determinada pelo coeficiente de Dice e

os dendrogramas criados, utilizando-se UPGMA (unweighted-pair group method

using arithmetic averages). Um ponto de corte (cutoff) de 80% de similaridade foi

definido para determinação dos clusters, valor também utilizado nos trabalhos de

FRANCIOSA et al. (2005) e identificados com números arábicos. Os pulsotipos

(PT) foram empregados para identificar cepas com perfil eletroforético único e os

subtipos (ST), perfis com até três bandas de diferença, identificados com letras

maiúsculas e números, respectivamente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 30 amostras de carne moída crua, coletadas, cinco (16,7%) foram

62

positivas para Listeria monocytogenes sendo que três pertenciam ao sorotipo 1/2b

e duas ao sorotipo 4b. Das 30 amostras de lingüiça mista frescal coletadas foram

isoladas duas cepas (6,7%) de L. monocytogenes, sendo uma do sorotipo 1/2a e

uma do 1/2b. De acordo com KATHARIOU (2002) os sorotipos 1/2a, 1/2b e 4b

são os mais frequentemente envolvidos em casos de listeriose humana.

A análise do perfil de macrorrestrição obtido pelo PFGE e o resultado

obtido com a enzima de restrição, ApaI (Figura 1) permitiu a distribuição das sete

cepas em um único cluster (>80% de similaridade), dois pulsotipos (A e B) e dois

subtipos (A1 e B1). O pulsotipo B compreendeu quatro amostras sendo duas de

carne moída e duas de lingüiça mista frescal. Três destas amostras foram

classificadas como sorotipo 1/2b e uma como sorotipo1/2a evidenciando a

similaridade genética entre estes sorotipos.

Amostra Sorotipo Origem Cluster PT ST

A1

A

A2

1

B

4b

1/2b

Dice (Opt:0.70%) (Tol 1.0%-1.0%) (H>0.0% S>0.0%) [0.0%-100.0%]

10

0

95

90

85

89.784.7

100

80.9

.

.

.

.

.

.

.

A13

D

CM30

A15

A4

AL16

AL2

1/2 b

4 b

1/2 b

1/2 b

1/2 a

carne moída

carne moída

carne moída

carne moída

carne moída

linguiça

linguiça

Figura 1. Relação clonal de sete isolados de L. monocytogenes obtida por PFGE

após digestão com enzima ApaI. Os clusters (CL) foram designados por

algarismos arábicos, os pulsotipos (PT) por letras maiúsculas e os subtipos (ST)

por letras maiúsculas e algarismos arábicos, respectivamente.

63

Dice (Opt:0.70%) (Tol 1.0%-1.0%) (H>0.0% S>0.0%) [0.0%-100.0%]

Lilian

10

0

95

90

85

80

75

88.9

82.5

100

71.8

Lilian

.

.

.

.

.

.

.

D Sma

CM30 Sma

A13 Sma

A15 Sma

A4 Sma

AL16 Sma

AL2 Sma

4 b

N/S

1/2 b

1/2 b

1/2 b

1/2 a

N/S

carne moída

carne moída

carne moída

carne moída

carne moída

linguiça

linguiça

Amostra Sorotipo Origem Cluster PT ST

A

1 A1

A2

2 B

4b

1/2b

Figura 2. Relação clonal de sete isolados de L. monocytogenes obtida por PFGE

após digestão com enzima SmaI. Os clusters (CL) foram designados por

algarismos arábicos, os pulsotipos (PT) por letras maiúsculas e os subtipos (ST)

por letras maiúsculas e algarismos arábicos, respectivamente.

A análise do perfil gerado pela digestão com a enzima de restrição

SmaI foi semelhante à análise do perfil gerado pela enzima ApaI, com exceção do

agrupamento em cluster onde, de acordo com a similaridade das cepas, as

amostras digeridas com SmaI foram agrupadas em dois clusters (1 e 2, >80% de

similaridade) (Figura 2). De acordo com as Figuras 1 e 2, nota-se que o poder

discriminatório da enzima SmaI foi maior que ApaI.

Estes resultados evidenciam que os isolados de L. monocytogenes

sorotipos 4b, 1/2a e 1/2b são fortemente correlacionados dentro dos mesmos

sorotipos e, em alguns casos, entre os sorotipos, indicando uma origem comum.

Destaca-se que o procedimento de isolamento utilizou uma etapa de

enriquecimento da amostra, o que poderia inibir e/ou favorecer certos clones, de

acordo com LONCAREVIC et al. (1996).

BROSCH et al. (1994), relataram que sorotipos diferentes podem

apresentar perfis diferentes (REDP-Restriction Endonuclease Digestion Profile),

porém, às vezes, sorotipos diferentes podem apresentar REDPs iguais, como

aconteceu no presente trabalho e no estudo realizado por PARIHAR et al. (2008),

onde os sorotipos 1/2a e 1/2c, compartilharam o mesmo pulsotipo.

64

A este respeito, PIFFARETTI et al. (1989) já estabeleciam que a

identidade sorotípica entre isolados não indica necessariamente uma identidade

clonal. Corroborando, LÓPEZ et al. (2006) relataram que a diversidade genética

encontrada em alguns sorotipos de L. monocytogenes é tão grande quanto a

encontrada entre algumas espécies de Listeria.

Existe ainda discussão sobre a relação da origem de duas linhagens

encontradas em Listeria monocytogenes, a linhagem I representada pelos

sorovares 1/2b e 4b, e a linhagem II, representada por 1/2a e 1/2c (PARIHAR et

al., 2008). De acordo com NIGHTINGALE et al. (2005) a linhagem I seria

constituída por cepas adaptadas ao hospedeiro humano, enquanto a linhagem II

contaria com cepas ambientalmente adaptadas. FUGETT et al. (2007) ainda

lembraram a existência de uma terceira linhagem, representada principalmente

por isolados obtidos de listeriose animal, que inclui os sorotipos 4a, 4c e algumas

cepas do 4b.

A discriminação de resultados com enzimas diferentes pode variar

ainda em isolados da mesma origem, como acontecido no presente trabalho entre

as enzimas ApaI e SmaI. Da mesma forma, YDE & GENICOT (2004) explicaram

que na discriminação de três cepas enviadas ao Centro de Referência Belga, com

enzimas AscI e ApaI, foi observado que duas delas apresentaram um perfil

idêntico com a enzima AscI, porém diferentes quando utilizada a enzima ApaI.

Ainda, SHEN et al. (2006) também encontraram diferenças na discriminação de

bandas entre as enzimas AscI e ApaI.

Nesse sentido, faz-se necessária a identificação de Listeria

monocytogenes em diferentes ambientes, e associá-los aos diferentes pulsotipos

descritos em listeriose humana. Porém, no Brasil, tanto dados de isolamento de

humanos quanto do ambiente tem sido escassos, principalmente no segundo

caso. Portanto, não se tem ainda um mapeamento de distribuição geográfica e

temporal da ocorrência de L. monocytogenes e muito menos de seus pulsotipos.

Constituem ingredientes básicos da linguiça mista a carne de suino e

carne bovina cruas além de gordura (VON LAER et al., 2009), cuja preparação

nos pontos amostrados é artesanal e que, provavelmente, são pontos de revenda

deste produto. Nesse sentido, não se pode estabelecer a persistência de L.

monocytogenes, como sugerido por LONCAREVIC et al. (1996) uma vez que a L.

65

monocytogenes se estabelece em plantas de processamento onde os produtos

podem ter contaminação contínua.

Esta constatação é confirmada por VON LAER et al. (2009) ao

analisarem amostras da linha de processamento de linguiça mista frescal em

Pelotas, RS, Brasil. Esses autores observaram que nenhuma amostra do material

cru apresentava contaminação por L. monocytogenes, porém detectaram o

patógeno em todas as amostras do produto final. Às vezes a L. monocytogenes

persiste em uma linha de produção por um longo período de tempo podendo ser

considerada como cepa dominante (RORVIK et al., 2003), o que ressalta a

importância do ambiente como fonte de contaminação.

Neste caso, torna-se importante enfatizar a colocação de VON LAER et

al. (2009), sobre a discordância que existe em relação às fontes de contaminação

mais importantes de L. monocytogenes. Enquanto alguns autores consideram a

importância dos equipamentos e do ambiente, outros acreditam que a matéria

prima seria a fonte mais comum de contaminação.

4. CONCLUSÕES

A similaridade encontrada entre as amostras oriundas de produtos

produzidos e comercializados em locais diferentes sugere a contaminação

ambiental dos locais de comercialização dos produtos.

Apesar da diferença fenotípica observada em relação à sorotipagem, a

análise molecular evidenciou a característica clonal ou forte relação de

similaridade entre diferentes sorotipos de Listeria monocytogenes. Como os

produtos positivos para esta bactéria foram produzidos em locais diferentes e

comercializados também em locais diferentes, sugere-se que a hipótese de

contaminação ambiental dos locais de revenda dos produtos seja a mais plausível

para explicar a similaridade entre as cepas encontradas.

O monitoramento constante da circulação de sorotipos envolvidos em

surtos de listeriose humana e animal através de técnicas moleculares como o

PFGE, se constitui uma ferramenta importante na prevenção da disseminação

desta bactéria entre os produtos de origem animal.

66

Agradecimentos

À coordenação do Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de

Veterinária da Universidade Federal de Goiás, Brasil; à coordenação de pós

graduação da Universidade Federal de Goiás, e à coordenação do Instituto de

Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás pelo apoio

logístico e financeiro oferecido para a realização deste trabalho. Somos gratos ao

Dr. Ernesto Hofer, laboratório de Zoonoses Bacterianas (FIOCRUZ, RJ) por

sorotipagem de L. monocytogenes.

5. REFERÊNCIAS

1. BASIM, E.; BASIM, H. Pulsed-Field Gel Electrophoresis (PFGE) technique and

its use in Molecular Biology. Turkish Journal of Biology, Ankara. v.25, p.405-

418, 2001.

2. BOU-M`HANDI, N.; JACQUET, CH.; EL MARRAKCHI, A.; MARTIN, P.

Phenotypic and molecular characterization of Listeria monocytogenes strains

isolated from a marine environment in Morocco. Foodborne Pathogens and

Disease. v.4, n.4, p.409-417, 2007.

3. BRASIL. Ministério de Agricultura do Abastecimento e da Reforma Agrária.

Secretaria de Defesa Agropecuária. Métodos analíticos oficiais para

análises microbiológicas para controle de produtos de origem animal e

água. Instrução Normativa No 62, de 26 de agosto de 2003.

4. BROSCH, R.; CHEN, J.; LUCHANSKY, J.B. Pulsed-field fingerprinting of

listeriae : identification of genomic divisions for Listeria monocytogenes and

their correlation with serovar. .Applied and Environmental Microbiology.

v.60,n.7,p.2584-2592,1994.

5. BROSCH, R.; BRETT, M.; CATIMEL, B.; LUCHANSKY, J.B.; OJENIYI, B.;

ROCOURT, J. Genomic fingerprinting of 80 strains from the WHO multicenter

international typing study of Listeria monocytogenes via pulsed-field gel

electrophoresis (PFGE). International Journal of Food Microbiology,

Washington, DC. v.32, p.343-355, 1996.

67

6. CDC/PulseNet, The national molecular subtyping network for foodborne

disease surveillance. Standardized Protocol For Molecular Subtyping of

Listeria monocytogenes by Pulsed-Field Gel Electrophoresis (PFGE).

USA. 2004.

7. FARAH, S.B. DNA no diagnóstico das doenças humanas. In: ______ DNA,

segredos & mistérios. São Paulo: Sarvier, 1997. cap. 5, p 103-140.

8. FILIOUSIS, G.; JOHANSSON, A.; FREY, J. PERRETEN, V. Prevalence,

genetic diversity and antimicrobial susceptibility of Listeria monocytogenes

isolated from open-air food markets in Greece. Short Communication. Food

Control. Vurrey. v. 20, n.3, p. 314-317, 2009.

9. FRANCIOSA, G.; MAUGLIANI, A.; FLORIDI, F.; AURELI, P. Molecular and

experimental virulence of Listeria monocytogenes strains isolated from cases

with invasive listeriosis and febrile gastroenteritis. FEMS Immunology and

Medical Microbiology, Amsterdam. v.43, p.431-439, 2005.

10. FUGETT, E.B.; SHOONMARKER-BOPP, D.; DUMAS, N.B.; CORBY, J.;

WIEDMANN, M. Pulsed-Field gel electrophoresis (PFGE) analysis of

temporally matched Listeria monocytogenes isolates from human clinical

cases, foods, ruminant farms, and urban and natural environments reveals

source-associated as well as widely distributed PFGE types. Journal of

Clinical Microbiology, Washington, DC. v.45, n.3, p. 865-873, 2007.

11. GRAVES, L.M.; SWAMINATHAN, B.; HUNTER, S. Subtyping Listeria

monocytogenes. in: _____.Listeria, Listeriosis, and food safety, 2. ed.

Marcel Dekker, Inc., 1999. chap.9, p. 279-297.

12. GRAVES, L.M.; HUNTER, S,B.; ONG, A.R.; SCHOONMAKER-BOPP, D.;

HISE, K.; KORNSTEIN, L.; DeWITT, W.; HAYES, P.S.; DUNNE, H.; MEAD, P.;

SWAMINATHAN, B. Microbiological Aspects of the Investigation that traced the

1998 outbreak of Listeriosis in the United States to contaminated hot dogs and

establishment of molecular subtyping-based surveillance for Listeria

monocytogenes in the PulseNet Network. Journal of Clinical Microbiology,

Washington, DC. v.43, n.5, p. 2350-2355, 2005.

68

13. GRAVES, L.M. & SWAMINATHAN, B. PulseNet standardized protocol for

subtyping Listeria monocytogenes by macrorestriction and pulsed-field gel

electrophoresis. International Journal of Food Microbiology, Amsterdam.

v.65, p. 55-62, 2001,

14. KATHARIOU, S. Listeria monocytogenes virulence and pathogenicity, a food

safety perspective. Journal of Food Protection, v.65, p.1811-1829, 2002.

15. LEMES-MARQUES, E.G.; CRUZ, C.D.; DESTRO, M.T. Pheno- and genotypic

characterization of Listeria monocytogenes clinical isolates from southwestern

region of the State of São Paulo, Brazil. Brazilian Journal of Microbiology.

São Paulo. v.38, p. 287-292, 2007.

16. LONCAREVIC, S.; THAM, W.; DANIELSSON-THAM, M.L. The clones of

Listeria monocytogenes detected in food depend on the method used. Letters

in Applied Microbiology, v.22, p.381-384, 1996.

17. LÓPEZ, V.; SUÁREZ, M.; CHICO-CALERO, I.; NAVAS, J.; MARTÍNEZ-

SUÁREZ, J.V. Listeria monocytogenes en alimentos: ¿son todos los

aislamientos igual de virulentos?. Revista Argentina de Microbiologia. v.38,

p.224-234, 2006.

18. MELLO, J.F.; EINSFELDT, K.; FRAZZON, A;P.G.; COSTA, M.; FRAZZON, J.

Molecular analysis of the LAP gene of Listeria monocytogenes isolated from

cheeses in Rio Grande do Sul, Brazil. Brazilian Journal of Microbiology. São

Paulo. v.39, p.169-172, 2008.

19. MORETRO, T. & LANGSRUD, S. Listeria monocytogenes: Biofilm formation

and persistence in food-processing environments. Biofilms. Massachusetts.

v.1, p.107-121. 2004.

20. NIGHTINGALE, K.K.; WINDHAM, K.; WIEDMANN, M. Evolution and molecular

phylogeny of Listeria monocytogenes isolated from human and animal

listeriosis cases and foods. Journal of Bacteriology. Washington, DC. v.187,

n.16, p.5537–5551, 2005.

69

21. PARIHAR, V.S.; LOPEZ-VALLADARES, G.; DANIELSSON-THAM, M-L., et al.,

Characterization of human invasive isolates of Listeria monocytogenes in

Sweden 1986-2007. Journal of Foodborne Pathogens and Disease, New

York. v.5, n.6, p. 755-761, 2008.

22. PIFFARETTI, J.C.; KRESSEBUCH, H.; AESCHBACHER, M.; BILLE,J.;

BANNERMAN, E.; MUSSER, J.M.; SELANDER, R.K.; ROCOURT, J. Genetic

characterization of clones of the bacteria Listeria monocytogenes causing

epidemic disease. Proceedings of the National Academy of Sciences of the

United States of America. V.86, p.3818-3822, 1989.

23. RORVIK, L.M.; AASE, B.; ALVESTAD, T.; CAUGANT, D.A. Molecular

epidemiological survey of Listeria monocytogenes in broilers and poultry

products. Journal of Applied Microbiology. Oxford. v.94, p.633-640, 2003.

24. SENCZEK, D.; STEPHAN, R.; UNTERMANN, F. Pulsed-field gel

electrophoresis (PFGE) typing of Listeria strains isolated from a meat

processing plant over a 2-year period. International Journal of Food

Microbiology, Amsterdam. v.62, p. 155-159, 2000.

25. SHEN, Y.; LIU, Y.; ZHANG, Y.; CRIPE, J.; CONWAY, W.; MENG, J. HALL, G.;

and BHAGWAT, A.A. Isolation and characterization of Listeria monocytogenes

isolates from ready-to-eat foods in Florida. Applied and Environmental

Microbiology, Washington, DC. v.72, n.7, p.5073-5076, 2006.

26. TENOVER, F.C.; ARBEIT, R.D.; GOERING, R.V.; MICKELSEN, P.A.;

MURRAY, B.E.; PERSING, D.H.; SWAMINATHANs B. Interpreting

chromosomal DNA restriction patterns produced by Pulsed-Field Gel

Electrophoresis: criteria for bacterial strain typing. Journal of Clinical

Microbiology, Washington, DC. v.33, n.9, p. 2233-2239, 1995.

27. TENOVER, F.C.; ARBEIT, R.D.; GOERING, R.V. How to select and Interpret

molecular strain typing methods for epidemiological studies of bacterial

infections: A review for healthcare epidemiologists. Infection Control and

Hospital Epidemiology. New Jersey. v.18, n.6. p.61-74, 1997.

70

28. VON LAER, A.E.; LIMA, A.S.; TRINIDADE, P.S.; ANDRIGUETTO, C.;

DESTRO, M.T.; SILVA, W.P. Characterization of Listeria monocytogenes

isolated from a fresh mixed sausage processing line in Pelotas-RS by PFGE.

Brazilian Journal of Microbiology. São Paulo. v.40, p.574-582, 2009.

29. YDE, M.; GENICOT, A. Use of PFGE to characterize clonal relationships

among Belgian clinical isolates of Listeria monocytogenes. Journal of Medical

Microbiology. Stuttgart. v.53, p.399-402, 2004.

71

CAPITULO V: CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presença de Listeria monocytogenes, principalmente de sorotipos

envolvidos em surtos de listeriose, em amostras tanto de carne moída quanto de

lingüiça mista frescal na cidade de Araguaína, Estado do Tocantins, evidencia a

necessidade de estabelecer sistema de vigilância específico para o Estado, que

considere o controle de alimentos comercializados, assim como a promoção de

adequada educação sobre a manipulação de alimentos, para evitar contaminação

cruzada, e alertar aos consumidores sobre os riscos de contaminação por L.

monocytogenes, principalmente para populações imunocomprometidas.

Na avaliação de perigo da enfermidade causada por Listeria

monocytogenes, até o desenvolvimento de novas técnicas associadas a

marcadores de virulência, todos os isolados devem ser considerados patogênicos

e as únicas recomendações permitidas neste aspecto são as de prevenção, pois

ate o momento os trabalhos laboratoriais de detecção e identificação deste

patógeno, parecem ser insuficientes para determinar o risco real da ingestão

desta bactéria a traves de um determinado alimento, visto a complexidade na

correlação de numerosos fatores de virulência com a diversidade genética

existente dentro da própria espécie bacteriana, além da grande variabilidade de

susceptibilidade imunitária humana, que sinalizariam o verdadeiro potencial

patogênico das cepas encontradas em um determinado alimento.

Pela revisão de literatura sobre pesquisas recentes quanto à prevenção

e inibição de Listeria monocytogenes, é recomendado que sejam tomados em

consideração fatores intrínsecos e extrínsecos de um determinado produto, no

qual patógenos podem desenvolver antes de danos aparentes acontecerem,

geralmente antes do tempo de vida útil nas prateleiras do comercio.

A nova portaria no 09, do MAPA (BRASIL, 2009) já considera algumas

características físico-químicas de fabricação de produtos de origem animal,

determinantes para monitorar e controlar Listeria monocytogenes, assim como pH

> 4.4 (superior a quatro ponto quatro) ou Atividade de Água > 0.92 (superior a

zero pons to noventa e dois) ou concentração de cloreto de sódio <10 % (inferior

a dez por cento), provavelmente como reflexo de últimas pesquisas realizadas

neste tema. Por isso, ainda recomenda-se re-ver o tempo de vida de produtos,

72

principalmente aqueles considerados de risco, como alimentos prontos para o

consumo, que geralmente precisam de refrigeração.

Pelos resultados obtidos na tipagem molecular, as cepas de Listeria

monocytogenes isoladas em lingüiça mista frescal e carne moída de Araguaína

(TO) podem ser parte de um grupo clonal com característica de persistência nos

ambientes de processamento, que seriam considerados como fonte de

contaminação do produto final, o que evidencia a necessidade de adoção de

medidas de controle higiênico-sanitárias desses ambientes para garantir a

segurança dos consumidores.