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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR - CTTMar
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ACADÊMICO EM CIÊNCIA
E TECNOLOGIA AMBIENTAL - PPCTA
ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE FROTAS
PESQUEIRAS, RECURSOS DEMERSAIS E
CARACTERÍSTICAS DO ECOSSISTEMA: subsídios
para a identificação de Unidades Geográficas de
Gestão para a pesca industrial do Sudeste-Sul do
Brasil
ANA PAULA ROSSO
Itajaí 2015
ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE FROTAS
PESQUEIRAS, RECURSOS DEMERSAIS E
CARACTERÍSTICAS DO ECOSSISTEMA: subsídios
para a identificação de Unidades Geográficas de
Gestão para a pesca industrial do Sudeste-Sul do
Brasil
ANA PAULA ROSSO
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental, pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental, na Universidade do Vale de Itajaí, Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar - CTTMar. Orientador: Prof. Dr. Paulo Ricardo Pezzuto
Itajaí 2015
I
AGRADECIMENTOS
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela
concessão da bolsa PROSUP, a qual foi fundamental para que eu realizasse o mestrado.
Ao Grupo de Estudos Pesqueiros (GEP/ UNIVALI) por ceder gentilmente os dados
pesqueiros.
Ao meu orientador e amigo Dr. Paulo Ricardo Pezzuto que me guiou sempre com
muito profissionalismo e ética, possibilitando a construção de mais este estudo. Agradeço
por todas as preciosas sugestões, confiança e a dedicação sempre gentil durante todas as
etapas desta dissertação. Muito obrigada!
Aos professores e amigos do Laboratório de Oceanografia Biológica (LOB), Dr. José
Angel Alvarez Perez e Dr. Paulo Ricardo Schwingel, por todas as conversas nesses anos de
laboratório e, também, por emprestarem a chave do LOB para que eu pudesse permanecer
algumas horas a mais trabalhando a minha “aura de distorção lógica” (by Pezzuto).
Aos membros da banca Dr. Antônio Olinto Ávila da Silva e Dr. João Thadeu de
Menezes por aceitarem participar desta etapa do meu trabalho, e que, certamente trarão
sugestões extremamente enriquecedoras.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental, através do
coordenador Marcus Polette e das assistentes Isabela Germani de Oliveira Delfino e Fabíola
Heloisa Tell Varela, obrigada por todo o apoio necessário.
Aos queridos amigos Maurício Visintin, Angélica Petermann, Angélica Cavalet,
Anelise Destefani, Solange Medeiros, Mariana Carrion, Eduardo Cubas, Gustavo
Zambrano, Gabriela Félix, Victor Galvão, Marcel Ferrari, Maria Luiza, Matheus Zaguini
e Cassiane Tatsch. Obrigada pela linda e unida família que formamos no Mestrado e
Doutorado em Ciência e Tecnologia Ambiental.
Aos colegas do LOB, Rodrigo Mazzoleni (Cebola) e Pauline Fontenele, por todas as
conversas e risadas.
A querida Vanessa Mafra Pio (Vah), por todas as conversas (profissionais e pessoais)
e amizade sincera de todos estes anos.
Ao amigo Rodrigo Sant’Ana, pelas preciosas dicas sobre as análises do trabalho.
Obrigada de coração pela sua sempre atenção em me explicar os “porquês” da estatística.
II
A Eliana dos Santos Alves (Li), por toda a amizade desde que me aventurei pelo
mundo marinho. Nossas conversas sempre me acalmam e vocês (você e o seu bichinho)
sempre me inspiram.
Ao amado Gustavo Carvalho, que sempre incentiva e confia nas minhas escolhas.
Você me faz mais forte e determinada.
A tia Nete e a Carol Furlin, por me acolherem em seu lar e me fazerem sentir em
família. Sou eternamente grata por tudo que têm feito por mim!
E aos meus pais queridos, Marlene e Jair, e as minhas irmãs, Geisa e Liliane, por
todo amor e carinho que têm por mim e por compreenderem minha ausência no tradicional
natal em família.
III
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ IV
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................ V
RESUMO ............................................................................................................................ VI
ABSTRACT ..................................................................................................................... VII
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1
2. OBJETIVOS .............................................................................................................. 10
2.1. OBJETIVO GERAL ................................................................................................. 10
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................... 10
3. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 11
3.1. FONTE DOS DADOS ............................................................................................... 11
3.2. ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................ 14
4. RESULTADOS .......................................................................................................... 18
4.1. IDENTIFICAÇÃO DE GRUPOS DE RECURSOS PESQUEIROS ...................................... 18
4.3. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA ATUAÇÃO DAS FROTAS PESQUEIRAS ....................... 37
4.4. CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE BENTÔNICO ..................................................... 41
4.5. RELAÇÃO ENTRE OS RECURSOS DEMERSAIS E AS VARIÁVEIS AMBIENTAIS .......... 45
5. DISCUSSÃO .............................................................................................................. 51
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 82
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 84
8. APÊNDICES .............................................................................................................. 96
IV
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Área de estudo do presente trabalho, abrangendo toda a região marinha entre o
extremo sul do Brasil (Rio Grande do Sul) e norte do Espírito Santo, até a profundidade de
1500 metros. .......................................................................................................................... 9
Figura 2: Resultado da análise de agrupamento dos quadrantes obtido a partir da similaridade
do total de ocorrência dos recursos demersais (frequência absoluta), considerando em
conjunto todas as frotas e todo o período de estudo. Em destaque o nível de corte de
similaridade de 57% utilizado para definir os grupos e subgrupos de quadrantes (estes
últimos, indicados pelas letras). ........................................................................................... 22
Figura 3: Grupos e subgrupos de associações de recursos resultantes da análise de
agrupamento, para o Sudeste-Sul do Brasil. ........................................................................ 23
Figura 4: Distribuição espacial dos principais recursos demersais desembarcados em Santa
Catarina pelas frotas industriais entre 2010 e 2012. Valores correspondentes a frequência de
ocorrência por quadrante geográfico de 30’x30’ de resolução. .......................................... 31
Figura 5: Distribuição espacial das frotas demersais industriais desembarcadas em Santa
Catarina, entre 2010 e 2012. Valores correspondentes ao número de viagens realizadas para
cada quadrante geográfico de 30’x30’ de resolução. .......................................................... 40
Figura 6: Distribuição de frequência relativa acumulada do número de quadrantes com suas
respectivas quantidades de amostras sedimentológicas coletadas em seu interior. ............. 41
Figura 7: Distribuição da frequência relativa das amostras coletadas para cada tipo de fundo
e em cada quadrante geográfico, ao longo do Sudeste-Sul do Brasil. ................................. 43
Figura 8: Relação entre as variáveis ambientais (profundidade, latitude e tipos de fundo) e
as variáveis respostas (distribuição dos recursos), obtida através da análise de
correspondência canônica. ................................................................................................... 48
Figura 9: Análise de correspondência canônica demonstrando a relação entre as variáveis
ambientais (mesmas da análise anterior) e a distribuição das amostras (quadrantes),
identificadas pelos subgrupos de pesca.. ............................................................................. 49
Figura 10: Análise de correspondência canônica demonstrando a relação entre a distribuição
dos grupos de pesca e a distribuição das 35 categorias de recursos analisados. ................. 50
Figura 11: Grandes Ecossistemas Marinhos (Large Marine Ecosystems - LMEs) distribuídos
ao longo dos Oceanos Atlântico. Pacífico e Índico, totalizando 64. Destaque para os 3 LMEs
identificados ao longo da costa brasileira, sendo: 1) LME da Plataforma Norte do Brasil; 2)
LME da Plataforma Leste do Brasil e; 3) LME da Plataforma Sul do Brasil. Este último está
subdividido em 3 áreas (plataforma sul; embaiamento sudeste e talude e sistema oceânico),
as quais coincidem com os limites das unidades de gestão pesqueira de plataforma
continental interna sul, de plataforma continental interna norte e de talude, respectivamente,
propostas no presente trabalho. Figura adaptada de Sherman e Hempel (2009). ................ 79
Figura 12: Proposta de domínios de pesca demersal industrial para a região Sudeste-Sul do
Brasil, baseada em desembarques realizados em Santa Catarina, entre os anos 2010 e 2012.
............................................................................................................................................. 80
Figura 13: Setorização já estabelecida no manejo de frotas e recursos demersais no domínio
de talude do Sudeste-Sul do Brasil. ..................................................................................... 81
V
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Percentual de quadrantes pertencentes a cada estrato de profundidade para cada
subgrupo de reursos pesqueiros, identificados através da análise de agrupamento. ........... 21
Tabela 2: Porcentagem de ocorrência dos 35 recursos para cada subgrupo e grupo de
associação de recursos pesqueiros identificado através da análise de agrupamento. .......... 27
Tabela 2: Porcentagem de ocorrência dos 35 recursos para cada subgrupo e grupo de
associação de recursos pesqueiros identificado através da análise de agrupamento
(Continuação). ..................................................................................................................... 28
Tabela 3: Porcentagem de capturas desembarcadas dos 35 recursos para cada subgrupo e
grupo de associação de recursos pesqueiros identificados através da análise de agrupamento.
............................................................................................................................................. 29
Tabela 3: Porcentagem de capturas desembarcadas dos 35 recursos para cada subgrupo e
grupo de associação de recursos pesqueiros identificados através da análise de agrupamento
(Continuação). ..................................................................................................................... 30
Tabela 4: Distribuição percentual do número total de viagens realizadas por cada frota
industrial demersal que realizou desembarques em Santa Catarina entre 2010 e 2012,
discriminada de acordo com os subgrupos e grupos identificados através da análise de
agrupamento. ....................................................................................................................... 39
Tabela 5: Distribuição percentual da captura desembarcada por cada frota industrial
demersal, que realizou desembarques em Santa Catarina entre 2010 e 2012, discriminada de
acordo com os subgrupos e grupos identificados através da análise de agrupamento. ....... 39
Tabela 6: Distribuição percentual de ocorrência amostral de cada tipo de fundo discriminada
de acordo com os subgrupos identificados através da análise de agrupamento. ................. 45
Tabela 7: Resumo dos resultados da Análise de Correspondência Canônica, através da
integração entre os dados ambientais (latitude, profundidade e tipos de fundo) e recursos.
............................................................................................................................................. 46
Tabela 8: Unidades de pesca demersal propostas para o Sudeste-Sul do Brasil, com suas
respectivas características, baseadas nos resultados do presente trabalho e informações da
literatura. .............................................................................................................................. 53
VI
RESUMO
A maioria dos sistemas de gestão das pescarias tem, historicamente, enfocado populações
individuais sobre um amplo alcance geográfico. Entretanto, esse processo tem apresentado
falhas, diagnosticadas pela sobrepesca dos estoques pesqueiros e pelos profundos impactos
em níveis ecossistêmicos causados pelas capturas não intencionais da fauna acompanhante.
Neste sentido, surge uma nova abordagem no processo de ordenamento das pescarias: a
gestão baseada no ecossistema. No Brasil, têm-se adotado uma gestão sobre espécies
individuais, entretanto, a maior parte das pescarias são multiespecíficas, demonstrando a
importância de se adotar um enfoque mais abrangente em sua gestão. Desta forma, este
trabalho busca identificar possíveis unidades espaciais de gestão pesqueira, embasadas em
informações sobre os estoques demersais envolvidos, atuação das diferentes frotas (arrasto
duplo, parelha e simples, emalhe de fundo, espinhel de fundo e potes para polvo) e nas
características do ambiente bentônico nas regiões de plataforma e talude da costa Sudeste-
Sul do Brasil. A identificação de possíveis áreas de pesca com associações de recursos foi
realizada através de análise de agrupamento, utilizando-se como atributo o percentil de 40
da frequência absoluta de ocorrência de cada recurso em cada quadrante geográfico (30’x30’
de resolução), considerando em conjunto todas as viagens de todas as frotas. O mapeamento
do fundo marinho foi realizado através da ferramenta Spatial Join no software ArcGIS™,
com a geoespacialização da porcentagem de amostras de cada classe sedimentológica em
cada quadrante de 30’x30’ de resolução. Para a identificação das áreas de atuação das frotas,
foram gerados mapas de distribuição de esforço de pesca, através da soma do número total
de viagens realizadas por cada frota, entre 2010 e 2012 e realizada sua geoespacialização em
quadrantes de meio grau de resolução, pela mesma ferramenta do ArcGIS™. O produto final
do trabalho consistiu na relação entre as áreas de pesca/ grupos de recursos, latitude,
profundidade e tipos de fundo, que foi verificada pela técnica de Análise de Correspondência
Canônica (ACC). Observou-se a existência de seis grupos de associação de recursos, sendo:
costeiro, de plataforma continental interna norte, plataforma continental interna sul, quebra
de plataforma, talude e grupo norte. Considerando a distribuição espacial do esforço de
pesca, observou-se uma grande área de atuação das seis frotas pesqueiras demersais,
com frequente sobreposição entre elas, sendo que o arrasto-duplo foi a única frota que
apresentou atuação em toda a área de estudo e a frota de potes para polvo a menor área de
atuação. Com relação aos tipos de fundo marinho, observou-se que os fundos mais duros
ocorreram principalmente na porção norte da área de estudo, e os fundos de textura mais
mole (arenoso, lamoso e areno-lamoso) principalmente ao sul do Estado do Rio de Janeiro.
Através da ACC, verificou-se elevadas correlações entre a distribuição dos recursos e as
variáveis ambientais, sendo que o primeiro eixo foi altamente correlacionado com a variável
profundidade e o segundo eixo com a latitude. Os resultados deste trabalho mostraram que
existem diferenças marcantes entre os estratos latitudinais e também entre os de
profundidade. Com base nisso e em informações da literatura, foi possível identificar a
existência de seis áreas principais de pesca, as quais apresentam características
suficientemente coerentes para serem adotados como uma proposta inicial de gestão espacial
para a pesca demersal do Sudeste-Sul do Brasil.
Palavras-chave: Gestão Pesqueira. Abordagem Ecossistêmica. Pesca Demersal. Pesca
Multiespecífica.
VII
ABSTRACT
Most fisheries management systems have historically focused on individual populations
within broad geographic areas. However, this process has been frequently unsuccessful,
resulting in overfishing of fish stocks and ecosystem impacts caused by unintentional
catches. Therefore, a new approach has arisen in the fisheries development process:
ecosystem-based management. In spite of been mostly multi-species, Brazilian fisheries are
managed following the logic of single-species/broad areas systems. Producing negative
results both in biological and socio-economic terms, a more comprehensive approach seems
to be necessary in their management. This work aims to identify possible spatial units of
fisheries management, based on distribution of demersal stocks, dynamics of industrial fleets
(double-rig, pair trawl, stern trawl, bottom gill nets, bottom longline and octopus pot) and
characteristics of the benthic environment on the shelf and slope of the South-Southeast coast
of Brazil. Potential fishing grounds with different species associations were identified by
cluster analysis, using the absolute frequency of occurrence of each species in geographical
areas of 30’ x 30’ resolution as attribute. Bottom characteristics (i.e. percentage of samples
of each sedimentological class) and fishing effort per fleet (i.e. number of trips recorded
between 2010 and 2012) were mapped by using the Spatial Join tool in the ArcGIS™
software, using the same grid. The relationship among fisheries resource groups, depth,
latitude and seabed types were analyzed by Canonical Correspondence Analysis (CCA). Six
associations of species were found. In general, demersal fleets operated over large areas,
with frequent overlapping among them, in spite of preferential grounds had been observed
for several of them. The double rig trawlers and the octopus potters exhibited, respectively,
the broadest and the smallest area of operation. The harder bottoms (i.e. reefs, calcareous
algae) occurred mainly in the northern portion of the study area, and the softer ones (i.e.
sand, mud and muddy-sand) were found mainly Southern of Rio de Janeiro. Through CCA,
a high correlation was observed between the distribution of species and environmental
variables, with depth (first axis) and latitude (second axis) showing the most important
effects. The results of this study showed that there are marked differences among latitudinal
strata and also among different depth strata. Based on these results, and information from
the literature, it was possible to identify six fishing areas, whose characteristics seem to be
sufficiently consistent to be adopted as a preliminary proposal for space management for
demersal fisheries in the Southeastern-Southern of Brazil.
Keywords: Fisheries Management. Ecosystem Approach. Demersal Fishing. Multispecies
Fishing.
1
1. INTRODUÇÃO
Desde a antiguidade, a pesca tem sido uma importante fonte de alimentos para a
humanidade, além de fornecer empregos e benefícios econômicos àqueles engajados a esta
atividade. No passado, considerava-se que os recursos aquáticos marinhos eram uma riqueza
ilimitada. Contudo, com o avanço do conhecimento e a evolução das pescarias esta
concepção foi alterada, demonstrando que, embora renováveis, os recursos pesqueiros não
são infinitos e necessitam ser adequadamente manejados para contribuir para o bem-estar
nutricional, econômico e social da crescente população mundial (FAO, 1995).
Apesar disso, em todo o mundo, os modelos de gestão utilizados até a década de 1980
foram insuficientes para evitar a sobreexplotação e a queda de rendimento das pescarias na
maior parte dos ambientes costeiros e marinhos (FAO, 1995).
Através de uma análise do histórico do desenvolvimento do setor pesqueiro no Brasil,
Cardoso (2001), identificou três processos alavancados pelo Estado no decorrer do século
XX, que levaram à configuração de um modelo de gestão das pescarias, cuja crise é evidente.
O primeiro foi o da formação do Estado nacional e do estabelecimento da Marinha de Guerra
brasileira, que atrelou a si os pescadores brasileiros, através da criação do sistema
organizativo da categoria: Colônias, Federações e Confederação Nacional dos Pescadores.
O segundo processo foi a “modernização” da pesca, promovida pela antiga SUDEPE
(Superintendência de Desenvolvimento da Pesca), a partir da década de 1960. Essa política
destinou recursos para a criação e reprodução de uma estrutura industrial para o setor
pesqueiro, através de incentivos fiscais para a compra de barcos e equipamentos e para a
implantação de unidades de beneficiamento do pescado, entre outras ações de fortalecimento
de uma pesca “moderna”. E o terceiro processo, referiu-se ao estabelecimento do Mar
Territorial e da Zona Econômica Exclusiva, que trouxe desafios para o ordenamento da
atividade pesqueira em alto mar.
A adoção de uma série de instrumentos como a introdução generalizada das Zonas
Econômicas Exclusivas (ZEEs) e sua deliberação pela Convenção das Nações Unidas sobre
o Direito do Mar, em 1982, tem fornecido um novo quadro para um melhor ordenamento
dos recursos marinhos. Este novo regime jurídico dos oceanos regula os direitos e
responsabilidades dos Estados costeiros em relação à gestão e uso dos recursos pesqueiros
dentro de sua ZEE, que engloba 90% das pescarias marítimas mundiais. Esta ampliação das
2
jurisdições nacionais constituiu um passo necessário, embora, ainda insuficiente em direção
à gestão mais eficiente e um desenvolvimento sustentável das pescarias (FAO, 1995).
No presente, uma grande proporção dos estoques de peixes e invertebrados mundiais
estão completamente explotados, sobre-explotados, esgotados ou em recuperação e muitos
estão afetados por degradações ambientais, particularmente em áreas interiores e costeiras
(FAO, 1997; FAO, 2014).
Assim, a pesca, como qualquer outra atividade, precisa ser gerenciada
adequadamente para que se alcance uma utilização ótima e sustentável dos recursos.
Segundo definição da FAO (1997), a gestão dos recursos pesqueiros é entendida como o
processo integrado de agrupamento de informações, análise, planejamento, consulta, tomada
de decisões, alocação de recursos e implementação das regulamentações ou normas que
governam as atividades pesqueiras, de modo a assegurar a sustentabilidade no uso dos
recursos e o alcance de outros objetivos das pescarias.
O processo de gestão da atividade pesqueira pode ser desenvolvido de duas maneiras:
gestão pesqueira orientada sobre espécies individuais (espécies-alvo) ou gestão pesqueira
baseada em uma abordagem ecossistêmica.
A maioria dos sistemas de gestão das pescarias tem historicamente gerido populações
individuais sobre um amplo alcance geográfico da população ou ainda com regulamentações
governamentais aplicadas homogeneamente sobre grandes áreas, englobando todas as
populações (WILEN, 2004; CLAUDET et al., 2006). Essa tradicional e ainda predominante
gestão das pescarias baseada em espécies individuais (MORISHITA, 2008) é tipicamente
implementada sobre grandes escalas espaciais (PALUMBI, 2004), não incluindo
componentes espaciais ou não sendo impulsionada por requerimento espaciais (CLAUDET
et al., 2006). Nesta abordagem, um nível biológico de captura permissível é calculado a
partir de parâmetros como o tamanho do estoque estimado, capacidade reprodutiva e a
distribuição das espécies alvo para explotação. Entretanto, no ambiente marinho real, todas
as espécies possuem relações presa-predador com outras espécies no ecossistema. A captura
de uma certa espécie por uma pescaria terá algum efeito nas populações de outras espécies
(MORISHITA, 2008).
Desta forma, devido ao status negativo das pescarias atuais e das carências e falhas
dessa tradicional gestão (MORISHITA, 2008; DAYTON et al., 1995; PAULY et al., 1998),
exemplificada pelo status de sobrepesca dos estoques pesqueiros mundiais e pelos profundos
impactos em níveis ecossistêmicos pela captura e descarte de fauna acompanhante
3
(DAYTON et al., 1995; PAULY et al., 1998) um número de medidas para melhorar essa
situação tem sido extensivamente discutido (MORISHITA, 2008).
As atividades pesqueiras têm alterado e degradado os ecossistemas marinhos através
de efeitos diretos e indiretos, principalmente em regiões costeiras onde a pesca e outras
perturbações antrópicas são mais intensas (BOTSFORD et al.,1997)
Neste sentido, surge uma nova abordagem no processo de ordenamento das
pescarias, uma gestão baseada no ecossistema. A abordagem ecossistêmica é um conceito
amplamente aceito no campo da gestão das pescarias e vários instrumentos internacionais
requerem sua aplicação (MORISHITA, 2008). Entretanto, existem várias interpretações de
“abordagem ecossistêmica”. Morishita (2008) categoriza a abordagem ecossistêmica para a
gestão das pescarias em quatro tipos: a) mitigação do bycatch; b) gestão de multiespécies;
c) proteção de ecossistemas vulneráveis e d) abordagem integrada.
Os objetivos da gestão das pescarias baseada no ecossistema incluem, basicamente,
tanto a sustentabilidade do ecossistema quanto os rendimentos de pesca (BABCOCK et al.,
2005). O ordenamento dos ecossistemas tem por objetivo conservar a estrutura, a diversidade
e o funcionamento dos ecossistemas mediante a aplicação de medidas de ordenamento
concentradas em seus componentes biofísicos, como por exemplo, a criação de zonas
protegidas. E o ordenamento da pesca busca satisfazer a necessidade de alimentação e de
benefícios econômicos das sociedades através de medidas de ordenamento centradas na
atividade pesqueira e em seus recursos alvos (FAO, 2003).
Os ecossistemas são espacialmente heterogêneos e os padrões espaciais e os
processos são importantes para a estrutura e funções do mesmo, já que a distribuição das
atividades pesqueiras depende da distribuição dos recursos- alvos (que, por sua vez,
dependem dos habitats do oceano e de suas interações interespecíficas) (BABCOCK et al.
2005).
Desta forma, a gestão espacial das pescarias é uma opção em uma abordagem
ecossistêmica. É essencial para reconhecer que os recursos pesqueiros estão em propriedade
comum, que estes recursos são renováveis, mas limitados, e que são um componente de uma
complexa rede envolvendo múltiplos usos e usuários (RAMÍREZ-RODRÍGUEZ e OJEDA-
RUÍZ, 2012).
A gestão espacial marinha baseada no ecossistema é um paradigma emergente que
reconhece o conjunto completo de interações em um ecossistema marinho, incluindo
também os usos humanos (KATSANEVAKIS et al., 2011). As ferramentas de gestão
espacial têm sido usadas para proteger agregações de desovas, reduzir a fauna acompanhante
4
ou atender outros objetivos das espécies individuais. No passado, as ciências pesqueiras
avaliavam o desempenho da gestão com indicadores baseados em modelos dinâmicos
populacionais não-espaciais, mesmo quando a biologia dos recursos envolvidos e as
ferramentas de gestão usadas tinham um componente espacial (PAULY et al., 2003), sendo
estes modelos suficientes apenas quando o interesse se concentrava no efeito sofrido pela
população envolvida (BABCOCK et al.,2005).
A abordagem ecossistêmica na gestão das pescarias implica que estas pescarias sejam
consideradas no contexto de outros usos dos oceanos e da zona costeira, tais como extração
de óleo e gás, aquacultura, transporte marinho, habitação na zona costeira e o lançamento de
poluentes, sendo que as pescarias responsáveis nos ecossistemas marinhos obviamente
exigem algumas formas de integração holística da gestão dos usos dos oceanos (SINCLAIR
et al., 2002).
Uma ferramenta promissora para a gestão espacial das pescarias e conservação da
biodiversidade são as reservas marinhas, também chamadas de Áreas Marinhas Protegidas,
MPAs na sigla em inglês (HILBORN et al., 2004). A pesca é a atividade de impacto
antrópico que tem sido o foco principal das MPAs (GAINES et al., 2010). Para as pescarias
que possuem como alvo espécies individuais altamente móveis, com pouca ou nenhuma
fauna acompanhante ou impacto no habitat, as reservas marinhas fornecem poucos
benefícios comparadas às ferramentas de gestão convencionais. Por outro lado, para
pescarias voltadas para múltiplas espécies ou estoques mais sedentários, ou ainda, onde o
impacto ecológico provocado é uma questão relevante, as reservas marinhas têm alguma
vantagem potencial (HILBORN et al., 2004).
As reservas marinhas, que inerentemente constituem ferramentas de gestão espacial
pesqueira (GAINES et al., 2010; HILBORN et al., 2004), podem ajudar a atingir amplos
objetivos pesqueiros e de biodiversidade, entretanto, sua utilização exigirá cauteloso
planejamento e avaliação (HILBORN et al., 2004). Através de modelos teóricos, observou-
se que ligações de reservas marinhas apresentam maiores benefícios do que a soma de partes
individuais (GAINES et al., 2010).
O sucesso da gestão espacial das pescarias marinhas é amplamente reconhecido pela
exigência do entendimento das interações entre as espécies e com o ambiente em que vivem.
Entretanto, a ausência de previsibilidade e a necessidade de uma quantidade maior de dados
para entender essas interações têm dificultado a incorporação dessa abordagem
ecossistêmica na gestão das pescarias marinhas (BAX et al., 1999), sendo um conceito
5
relativamente novo e com diversas lacunas sobre o conhecimento e a prática desta
abordagem (FLUHARTY, 1998).
Apesar de todas as recomendações e incentivos internacionais, como o Código de
Conduta da FAO, e nacionais, como a Agenda 21 e a Política Nacional de Gerenciamento
Costeiro (PNGC, Lei nº 7.661 de 16 de maio de 1988) que norteiam para um processo de
gestão compartilhada dos recursos, com enfoque ecossistêmico, os processos de
ordenamento pesqueiro no Brasil ainda são voltados para as espécies-alvo. Não são
consideradas as características do habitat em que vivem, suas interações interespecíficas e
até mesmo a atuação das diferentes frotas pesqueiras, frequentemente, sobre os mesmos
recursos.
A maior parte das pescarias no Brasil são multiespecíficas. Embora possam estar
direcionados para uma espécie-alvo, os petrechos capturam também outras espécies da fauna
acompanhante. É comum que, junto com os adultos da espécie-alvo, sejam capturados
também juvenis de outras espécies (CASTELLO, 2007), demonstrando a importância de se
adotar um enfoque mais abrangente na gestão das pescarias.
Neste sentido, destaca-se a pescaria voltada para os recursos demersais, cuja
diversidade, abundância e distribuição são dependentes das condições do ecossistema e das
interações bióticas (OKUBO-DA-SILVA, 2007). Na região Sudeste-Sul do Brasil, a pesca
de espécies demersais é praticada por meio de diferentes artes de pesca, tais como arrasto de
parelha, arrasto simples, arrasto duplo, linha-de-mão, espinhel de fundo, emalhe de fundo e
covos (ou armadilhas) (OKUBO-DA-SILVA, 2007).
A presença de diversas pescarias em uma dada região envolve a explotação de
múltiplas espécies com artes de pesca baseadas no comportamento e nas características das
espécies-alvos, que são refletidas nas tendências de capturas e determinam o comportamento
dos pescadores (RAMÍREZ-RODRÍGUEZ e OJEDA-RUÍZ, 2012).
Tendo em vista as diversas definições de abordagem ecossistêmica para a gestão das
pescarias adotadas por Morishita (2008), o presente trabalho se adequa a categoria de gestão
ecossistêmica baseada em multiespécies. Embora a explotação do estoque de uma
determinada espécie-alvo possa ser sustentável, ela pode representar uma ameaça para a
população de outras espécies, dado que no ambiente marinho, todas elas possuem relações
presa-predador com outras espécies do ecossistema (MORISHITA, 2008). Desta forma,
considerando que na região Sudeste-Sul do Brasil muitos recursos pesqueiros podem ser
legalmente capturados pela maioria das embarcações, independentemente de suas licenças
de pesca (PEZZUTO e BENINCÁ, 2015), fica claro que para a adoção de medidas de gestão
6
pesqueira eficazes, deve-se considerar também outros componentes do ecossistema, já que
cada frota pode capturar não somente suas respectivas espécies-alvo, mas um conjunto
expressivo de outras espécies, também capturadas por outras frotas.
Durante reunião técnica realizada no ano 2000 sobre o ordenamento da pesca de
arrasto no Sudeste-Sul do Brasil (PEREZ et al., 2001) houve o reconhecimento unânime dos
participantes, que, apesar de haver licenciamentos específicos para camarões e peixes
demersais, as frotas de arrasto vinham atuando sobre praticamente todos os recursos da
região, de acordo com sua disponibilidade. Esse comportamento estaria implicando um
aumento desordenado e oportunista do esforço de pesca sobre recursos de plataforma já
plenamente explotados ou mesmo em vias de sobre-explotação, principalmente com os
recursos-alvo tradicionais da pesca demersal no Sudeste-Sul, i.e. camarão-rosa
(Farfantepenaeus spp.), camarão-sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri) e peixes da família
Sciaenidae, como a corvina (Micropogonias furnieri). Além disso, estaria levando ao
crescente aproveitamento de espécies alternativas sem qualquer controle, com o objetivo de
tentar manter o nível de rentabilidade por meio de esforço direcionado ou de pesca
multiespecífica (PEREZ et al., 2001). Destaca-se que parte dessas espécies passaram a ser
capturadas nas áreas de plataforma externa e talude, fora dos fundos então tradicionalmente
ocupados pelos arrasteiros e não tinham seus potenciais de sustentabilidade conhecidos
(PEREZ et al., 2009).
Com isso, houve um crescente direcionamento do esforço para recursos
anteriormente não explotados, principalmente nas áreas de plataforma externa e talude, de
forma igualmente concentrada, e cujo potencial de sustentabilidade era ainda desconhecido
(PEREZ et al., 2009).
Frente a este cenário de multiespecificidade da pesca demersal e a sobreposição de
capturas e áreas de pesca por diferentes frotas (PEREZ et al., 2001; KOLLING et al., 2008;
BENINCÁ, 2013), e dada a fragilidade dos ecossistemas bentônicos (demersais), o rápido
declínio das pescarias nessas áreas e o colapso de grande parte dos estoques de recursos
pesqueiros de profundidade em curto período de tempo, fica claro que o modelo de manejo
baseado na proteção de espécies-alvo tradicionais não parece mais se justificar na região
Sudeste-Sul do Brasil. Torna-se necessária a implementação de um sistema de manejo de
frotas e não apenas de recursos pesqueiros (de forma isolada), demandando uma
regionalização do manejo, através do estabelecimento de medidas de ordenamento
específicas por áreas de pesca.
7
Um estudo realizado por Okubo-da-Silva (2007), que buscou identificar padrões
espaciais das distribuições e associações dos peixes demersais-bentônicos a partir de dados
de desembarques registrados em São Paulo, verificou padrões de composição de capturas
por áreas de pesca, mesmo havendo uma superposição de distribuição, indicando a
necessidade do manejo de pescarias multiespecíficas e reconhecendo que as populações não
devem ser desconsideradas de seu ambiente. Da mesma forma, os resultados obtidos por
Kolling et al. (2008) sugerem que o contexto multifrota-multiespécie das pescarias
demersais, assim como sua dinâmica temporal e espacial, devem ser considerados para o
aprimoramento do ordenamento da pesca demersal da região Sudeste-Sul.
Salvo algumas exceções, como por exemplo a frota de covos permissionada para a
captura dos caranguejos-de-profundidade Chaceon ramosae e Chaceon notialis, que
apresentam medidas de ordenamento espacial aplicadas as suas capturas (BRASIL, 2008c;
2008d), as frotas permissionadas para a exploração de recursos demersais têm autorização
para atuarem em extensas áreas (toda a região Sudeste-Sul do Brasil), em intervalos grandes
de profundidade e um grande rol de espécies comuns (PEZZUTO e BENINCÁ, 2015;
BRASIL, 2011). Consequentemente, isso levou e leva a concentrações de esforços pontuais
sobre as espécies e a sobreexplotação, além de conflitos potenciais entre frotas.
Pezzuto e Benincá (2015) estudaram o comportamento das três mais importantes
frotas industriais de arrasto-duplo (camarão-rosa, camarão sete-barbas e peixes demersais)
que operam na região Sudeste-Sul do Brasil, a partir de desembarques monitorados em Santa
Catarina para o período entre 2008 e 2010. Os desembarques de cada frota foram analisados
e confrontados com os critérios estabelecidos no sistema de licenciamento vigente (BRASIL,
2011), que inclui especificações de modalidades de pesca, recursos e áreas de operação para
cada tipo de permissão, a fim de verificar em que medida esse sistema se adequa a realidade
pesqueira atual. Observaram que apesar de depender economicamente de seus alvos, as
frotas são formalmente autorizadas a capturar um alto percentual de espécies em comum.
Comparando as espécies listadas nos três tipos de licenças, o percentual de itens coincidentes
variou de 32% a 71%. Os desembarques revelaram sobreposições ainda maiores entre eles,
com variação de 66% a 82%. Verificaram também que no caso das embarcações licenciadas
para capturar peixes demersais, quase 50% de sua receita foi obtida a partir de espécies não
incluídas em suas licenças. Com estes resultados, os autores concluíram que o atual sistema
favorece concentrações excessivas de esforço sobre os recursos pesqueiros, sendo que
podem ser legalmente capturados pela maioria das embarcações, independentemente de suas
licenças (PEZZUTO e BENINCÁ, 2015). Frotas que usam arte de pesca pouco seletiva,
8
como a frota de arrasto, atuando em área de alta biodiversidade, são impossibilitadas de
capturar somente o previsto em suas atuais permissões.
Nesse sentido, Pezzuto e Benincá (2015) também recomendam que o
permissionamento seja baseado em áreas de pesca, a serem definidas conforme a
concentração dos diferentes estoques e nos padrões espaço-temporais estabelecidos de
atuação das frotas, abandonando o modelo de permissionamento baseado em espécies, que
se mostra impraticável. Como alternativa ao modelo vigente, sugerem a retomada dos
princípios elaborados por Perez et. al. (2001). Estes autores propuseram áreas de manejo
mais restritas (aqui denominadas unidades geográficas de gestão) para as pescarias de arrasto
e emalhe com atuação na região Sudeste-Sul do Brasil. Estas áreas foram estabelecidas com
base na concentração/distribuição dos diferentes estoques e nos padrões espaço-temporais
de atuação das frotas pesqueiras. A partir do conhecimento das características de
sustentabilidade de explotação dos distintos estoques, níveis seguros de esforço seriam
alocados em cada unidade de manejo, otimizando a distribuição e limitando o número de
barcos autorizados de cada modalidade a atuar em cada área.
Passada mais de uma década, o presente trabalho reacende a proposta de manejo
espacial para a pesca demersal industrial da região Sudeste-Sul do Brasil, com o intuito de
identificar possíveis unidades espaciais de gestão pesqueira, embasadas em informações
sobre a atuação de todas as frotas demersais industriais, sobre os estoques demersais
envolvidos e também nas características do ambiente bentônico nas regiões de plataforma
continental e talude da costa Sudeste-Sul do Brasil (entre 18ºS e 34ºS), até a isóbata de
aproximadamente 1500m de profundidade (Figura 1).
9
Figura 1: Área de estudo do presente trabalho, abrangendo toda a região marinha entre o extremo sul do Brasil
(Rio Grande do Sul) e norte do Espírito Santo, até a profundidade de 1500 metros.
10
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Identificar unidades espaciais de gestão pesqueira demersal, baseadas na distribuição
espacial dos recursos demersais, na dinâmica espacial das pescarias industriais e das
características do ambiente bentônico na região Sudeste-Sul do Brasil.
2.2. Objetivos Específicos
1. Identificar e delimitar a distribuição espacial dos recursos demersais explotados pelas
frotas industriais baseadas em Santa Catarina;
2. Produzir um mapeamento atualizado das características do fundo na região Sudeste-
Sul;
3. Identificar as áreas de atuação de cada uma das frotas pesqueiras industriais que
operam sobre os recursos demersais da região;
4. Verificar possíveis relações entre grupos de recursos, tipo de fundo e frotas, visando
à identificação de potenciais áreas de gestão pesqueira.
11
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Fonte dos Dados
3.1.1. Pesqueiros
Os dados pesqueiros referentes à frota demersal que realizou desembarques em Santa
Catarina foram obtidos a partir do Programa de Estatística Pesqueira Industrial de Santa
Catarina desenvolvido pelo Grupo de Estudos Pesqueiros, da Universidade do Vale do Itajaí
(GEP/UNIVALI). As informações foram extraídas mediante consulta ao sistema de banco
de dados do GEP (SIESPE), para o período correspondente a janeiro de 2010 até dezembro
de 2012 para as seguintes frotas pesqueiras demersais: arrasto simples, arrasto duplo, arrasto
de parelhas, espinhel de fundo, emalhe de fundo e potes para polvos.
As informações sobre os desembarques da frota industrial foram coletadas
diariamente nos portos pesqueiros de Itajaí e Navegantes e, periodicamente, nos municípios
de Porto Belo e Laguna, por meio de fichas de produção, mapas de bordo e entrevistas de
cais. Entretanto, para este trabalho, foram utilizadas apenas as informações contidas em
entrevistas de cais e mapas de bordo, pois as fichas de produção, por não apresentarem dados
de esforço e áreas de pesca, não permitem uma análise espacial das capturas.
As entrevistas de cais foram realizadas por uma equipe de campo do GEP/UNIVALI
com os mestres das embarcações no momento dos desembarques. Paralelamente, cópias dos
mapas de bordo voluntariamente cedidas pelos armadores e/ou mestres ao GEP também
foram coletadas, sendo que em ambos os casos, as informações referentes ao esforço, tipos
de petrecho, áreas de pesca e capturas desembarcadas por espécie ou categoria comercial
(i.e. nome comercial adotado nos desembarques que pode conter mais de uma espécie,
eventualmente, pertencendo até a famílias distintas) são obtidas.
Uma vez recebidas na UNIVALI/CTTMar, todas essas informações sofreram uma
análise prévia quanto à sua confiabilidade e, posteriormente, foram armazenadas no SIESPE
(Sistema Integrado de Estatística Pesqueira), o qual integra as diversas fontes de informações
em um único banco de dados (ver detalhamento em PEZZUTO, 2002). Tal estratégia, além
de possibilitar a confrontação dos dados sobre um mesmo desembarque para avaliação da
sua qualidade, maximizou a probabilidade de que qualquer desembarque possa ser registrado
ao menos por uma das estratégias de coleta de dados, aumentando a cobertura censitária do
sistema (UNIVALI/ CTTMar, 2003).
12
Após a inserção das informações no SIESPE, os dados sobre as áreas de pesca
descritas nas fichas de entrevista e/ou nos mapas de bordo sofreram o processo de
geoespacialização. Para isso, foi desenvolvido um sistema para geocodificação dos dados
pesqueiros por quadrante (latitude/longitude) de meio grau de resolução (30’ x 30’), que
utiliza como base gráfica mapas digitais contendo a costa brasileira, linhas batimétricas (de
profundidade) e a área oceânica adjacente. Nas situações onde as áreas de pesca haviam sido
informadas através de latitudes e longitudes, essas coordenadas foram assinaladas
diretamente aos quadrantes correspondentes à sua localização. Nos casos onde os locais de
pesca estavam identificados apenas por uma descrição de área (por exemplo, Itajaí a
Paranaguá entre 40 e 80 m) foram utilizados pontos de referência e linhas de profundidade
para definir os quadrantes abrangidos pela área em questão (UNIVALI/ CTTMar, 2008).
Frotas de covos para caranguejos (Chaceon notialis e Chaceon ramosae) e arrasto
simples para camarões-de-profundidade (família Aristeidae) também foram consideradas
para identificação das possíveis unidades de gestão. Entretanto, não foram realizadas
análises espaciais dessas pescarias no presente trabalho, uma vez que as áreas de pesca
desses recursos já estão definidas nos respectivos planos de manejo. As informações
provieram de trabalhos já publicados e/ ou de medidas de manejo em vigor e foram utilizadas
aqui ao longo da seção “discussão”. São eles: a) Dallagnolo et al. (2009), que propuseram o
ordenamento da pescaria dos camarões-de-profundidade (camarão-carabineiro Aristaeopsis
edwardsiana, camarão-moruno Aristaeomorpha foliacea e camarão-alistado Aristeus
antillensis) no Sudeste e Sul do Brasil; b) Instrução Normativa n° 21, de 1 de dezembro de
2008, que estabelece critérios e procedimentos para o ordenamento das operações
relacionadas com a pesca do caranguejo-real (Chaceon ramosae) nas águas jurisdicionais
brasileiras da região compreendida entre os paralelos de 19º00'S e 30º00'S e; c) Instrução
Normativa n° 23, de 4 de dezembro de 2008, que estabelece critérios e procedimentos para
o ordenamento das operações relacionadas com a pesca do caranguejo-vermelho (Chaceon
notialis) nas águas jurisdicionais brasileiras da região compreendida entre os paralelos de
32º00'S e o limite sul da Zona Econômica Exclusiva (ZEE).
Essas fontes utilizaram, em grande parte, dados produzidos no âmbito do Programa
de Observadores de Bordo da Frota Arrendada (PROA) e do Programa de Rastreamento de
Embarcações Arrendadas (PREA), também desenvolvidas pelo GEP/ UNIVALI em
períodos anteriores ao considerado neste trabalho, uma vez que neste período (2010 a 2012)
tais frotas não estiveram mais atuantes na costa brasileira.
13
Outras normativas de manejo que encontram-se em vigor também foram incluídas na
seção “discussão” do presente trabalho, uma vez que, assim como as normativas anteriores,
possuem delimitações espaciais bem definidas para atuação das respectivas frotas. São elas:
a) Instrução Normativa n° 22, de 1º de dezembro de 2008, que dispõe sobre procedimentos
de ordenamento da pesca multiespecífica de arrasto de Talude Superior na Zona Econômica
Exclusiva Brasileira, nas regiões Sudeste-Sul, entre 250m a 500m de profundidade,
direcionada aos seguintes recursos pesqueiros demersais de profundidade: abrótea-de-
profundidade (Urophycis mystacea), galo-de-profundidade (Zenopsis conchiffera),
merluza (Merluccius hubbsi), e calamar argentino (Illex argentinus) e; b) Instrução
Normativa MPA/ MMA n° 03, de 4 de setembro de 2009, que estabelece critérios e
procedimentos para o ordenamento da pesca do peixe-sapo (Lophius gastrophysus) com
redes de emalhe do tipo fixa de fundo, nas águas jurisdicionais brasileiras das regiões
Sudeste e Sul, entre o paralelo de 21º00'S e limite sul da Zona Econômica Exclusiva
brasileira.
3.1.2. Fundo Marinho
Os dados utilizados para a caracterização do habitat bentônico, como profundidade e
distribuição e composição dos tipos de fundo, foram oriundos de uma base de dados
estruturados em SIG (Sistema de Informação Geográfica) disponibilizados pelo CPRM -
Serviço Geológico do Brasil, através do volume “Geologia, Tectônica e Recursos Minerais
do Brasil” (BIZZI et al., 2003). O objetivo deste volume foi compilar, integrar e
correlacionar uma ampla variedade de informações geológicas, tectônicas e de recursos
minerais em um único ambiente georreferenciado, representando o estado da arte do
conhecimento geológico do território brasileiro e a área oceânica adjacente na perspectiva
do CPRM – Serviço Geológico do Brasil, ao final do ano 2002 (BIZZI et al., 2003).
O acervo de dados, acumulados em mais de 30 anos (1970 à 2002), foi compilado a
partir de arquivos digitais em diversas escalas de conhecimento e formatos, que foram
submetidos a procedimentos de generalização, filtragem e fusões digitais com adequações à
representação nas escalas de 1:1.000.000 e 1:2.500.000. Os arquivos disponibilizados em
SIG apresentam-se em valores geodésicos, referidos aos elipsóides UGGI67 e Datum
Planialtimétrico Sul Americano 1969 – SAD69 (BIZZI et al., 2003).
Grande parte dos dados usados na obra foi gerada pelo Programa de Levantamentos
Geológicos Básicos do Brasil (PLGB), criado em 1986. Também foram usados dados
14
gerados durante o Projeto de Integração Geológica e Metalogenética executadas pela CPRM,
após 1991, assim como dados de domínio público (BIZZI et al., 2003).
3.2. Análise dos Dados
3.2.1. Identificação de Grupos com Associações de Recursos Pesqueiros
Para essa etapa, inicialmente, foram selecionadas as espécies e/ou categorias, para
cada frota demersal, que contribuíram de maneira acumulada, com 95% da captura total
desembarcada entre janeiro de 2010 e dezembro de 2012, totalizando 35 itens (Apêndice 1).
A partir deste ponto, todos eles serão referidos neste trabalho apenas como categorias.
A identificação de possíveis áreas de pesca contendo associações distintas de
recursos foi realizada através da análise de agrupamento (Cluster Analysis). Para isto,
calculou-se o percentil de 40 da frequência absoluta de ocorrência de cada recurso para cada
quadrante geográfico (30’x30’ de resolução), considerando em conjunto todas as viagens de
todas as frotas. Quadrantes onde a ocorrência de determinada categoria foi inferior ao
percentil 40 foram considerados como de ocorrência igual a zero para aquela categoria em
particular. A matriz contendo esses dados foi padronizada pelo valor total, permitindo
verificar as similaridades entre os objetos (quadrantes) e os seus descritores (ocorrência de
recursos).
O coeficiente de similaridade de Bray-Curtis foi empregado sobre esta matriz para
verificar a proximidade entre os quadrantes geográficos e o agrupamento foi realizado pelo
método de média entre grupos (group average). Cabe destacar que foram excluídos da
análise aqueles quadrantes situados na região Sudeste-Sul que não apresentaram nenhum
registro de desembarque de recurso pesqueiro. A análise de agrupamento tem o propósito de
classificar os valores de uma matriz de dados multivariados em dados discretos. Segundo
esse método, procura-se por agrupamentos homogêneos de itens representados por pontos
em um espaço n-dimensional em um número conveniente de grupos, relacionando-os através
de coeficientes de similaridades ou de correspondência (CLARKE e WARWICK, 1994). Os
resultados quando organizados em um gráfico, frequentemente em forma de dendrograma,
mostram as relações das amostras agrupadas.
Posteriormente, foi realizada a análise de SIMPER (Similarity Percentage) para
verificar os recursos que mais contribuíram para a formação de cada grupo (CLARKE e
WARWICK, 1994).
15
Ambas as análises foram realizadas através do programa estatístico Primer
(CLARKE e WARWICK, 1994).
3.2.2. Distribuição Espacial dos Recursos Demersais
A distribuição espacial das 35 categorias de recursos demersais foi representada
através da confecção de mapas pela ferramenta Spatial Join, no software ESRI® ArcGIS™
10, utilizando-se o somatório da frequência absoluta de ocorrência de cada recurso em cada
quadrante geográfico (30’x30’ de resolução), considerando em conjunto todas as viagens de
todas as frotas. Também calculou-se a porcentagem de ocorrência e de desembarque
(biomassa) dos recursos para cada um dos grupos de pesca identificados através da análise
de agrupamento, sendo estes dados apresentados em forma de tabelas.
3.2.3. Caracterização do Hábitat Bentônico
3.2.3.1. Tipos de Fundo
As amostras referentes aos tipos de fundo, de caráter qualitativo, estavam
originalmente classificadas em 11 categorias, as quais foram reduzidas e agrupadas em 7
grandes classes para este trabalho. São elas: algas calcárias, areia e cascalho biodetrítico (que
incluiu as classes areia/ cascalho biodetrítico e biodetritos/lama), areno-lamoso, arenoso
(que incluiu as classes areia fina, média e grossa), lama, cascalho (cascalho e conchas) e
recife.
As coordenadas geográficas de cada amostra de fundo sofreram uma centralização
em cada quadrante de meio grau de resolução (30’x30’), excluindo-se, assim, a incerteza
daquelas amostras coletadas nos limites de cada quadrante.
A distribuição espacial dos tipos de fundo foi mapeada através da ferramenta Spatial
Join, no software ESRI® ArcGIS™ 10, utilizando-se como atributo, a frequência relativa de
amostras pertencentes a cada uma dessas 7 classes de fundo dentro de cada quadrante
geográfico.
3.2.3.2. Profundidade
Para este trabalho, cada quadrante foi classificado semi-quantitativamente em
diferentes estratos batimétricos, para facilitar a inserção dos grupos de pesca nas províncias
geográficas. A classificação adotada baseou-se nas divisões utilizadas por Perez e Pezzuto
16
(2006) e Haimovici et al. (1994), com ligeiras modificações que resultaram nos seguintes
estratos batimétricos da área de estudo:
Nível 1 ou Costeiro: de 0 a 30m de profundidade;
Nível 2 ou de Plataforma continental interna: de 30m a 100m de
profundidade;
Nível 3 ou de Quebra de plataforma: de 100m a 250m de profundidade;
Nível 4 ou de Talude superior: 250m a 500m de profundidade e;
Nível 5 ou de Talude inferior: profundidades maiores que 500m, sendo que
para este trabalho, não ultrapassou 1500m.
Quadrantes que abrangeram mais que um estrato de profundidade, foram atribuídos
àquele que apresentava, proporcionalmente, a maior área.
3.2.4. Distribuição Espacial da Atuação das Frotas
Para a identificação das áreas de atuação de cada frota demersal industrial, foram
gerados mapas de distribuição de esforço de pesca, através da soma do número total de
viagens realizadas por frota, em todo o período de estudo (2010 a 2012) e realizada sua
geoespacialização em quadrantes de meio grau de resolução, utilizando-se a ferramenta
Spatial Join no Software ESRI® ArcGIS™, versão 10.
3.2.5. Relação entre os Recursos Demersais e as Variáveis Ambientais
Esta etapa final do trabalho consistiu em verificar a relação entre os recursos
demersais e as características do ecossistema analisadas, que são profundidade, latitude e
tipos de fundo. Essa associação foi verificada inicialmente pela sobreposição das camadas
de informação e, objetivamente, segundo a técnica multivariada de Análise de
Correspondência Canônica (ACC), através do software Canoco for Windows 4.5 (TER
BRAAK e SMILAUER, 2002).
Para esta técnica, assumiu-se como variáveis respostas a distribuição dos recursos
através do percentil de 40 da frequência absoluta de ocorrência de cada uma das 35
categorias para cada quadrante geográfico (30’x30’ de resolução), considerando em conjunto
todas as viagens de todas as frotas. E como variáveis explicativas, assumiu-se as variáveis
ambientais profundidade, latitude e os sete tipos de fundo identificados neste trabalho.
A inclusão das variáveis no modelo final foi executada por meio de um processo de
seleção passo a passo (forward selection) e teste de significância (p<0,05) após 499
17
Permutações de Monte Carlo. Através dessa abordagem, permaneceram como fatores
significativos apenas a profundidade, latitude e os fundos do tipo arenoso, cascalho e algas
calcárias.
As frotas, por serem entendidas como variáveis dependentes da distribuição dos
recursos demersais, não foram incluídas na análise de correspondência canônica.
18
4. RESULTADOS
4.1. Identificação de Grupos de Recursos Pesqueiros
O dendrograma resultante da análise de agrupamento revelou a formação de 6
grupos com associação de recursos demersais, ao nível de similaridade de 57% (Figura 2).
Para facilitar a visualização dos grupos na área de estudo, foi realizada sua
geoespacialização pela ferramenta Spatial Join no software ArcGISTM (Figura 3), que
ficaram assim classificados:
- Grupo Costeiro: corresponde aquele formado pelos subgrupos D, E e F (Figura 3).
Situa-se até aproximadamente 25m de profundidade, entre o Centro-Norte do Estado do
Paraná (25°00’S/ 48°30’W) e Norte do Estado de São Paulo (23°30’S/ 45°30’W). Segundo
a classificação adotada em relação aos estratos de profundidades, os subgrupos que
compõem o grupo costeiro estão totalmente inseridos na área costeira, que abrange até o
limite de 30m (Tabela 1). A análise do SIMPER (Similarity Percentage) demonstrou que o
camarão sete-barbas foi a única espécie que contribuiu para a formação deste grupo, com
similaridade média de 78,42 (93% de contribuição).
- Grupo de Plataforma Continental Interna Sul: formado pelo subgrupo I, situa-se
até aproximadamente 100m de profundidade ao sul de 27°00’S (Centro de Santa Catarina)
(Figura 3). Neste grupo, 51% dos quadrantes estão classificados como pertencentes a
profundidades de plataforma média, de 30 a 100m (Tabela 1). A análise do SIMPER
demonstrou que 16 recursos contribuíram para a formação deste grupo, com similaridade
média total de 86,32. São elas: cabra (10,42% de contribuição), corvina (10,03%), abrótea
(8,18%), maria-mole (8,17%), emplastro (7,76%), castanha (7,35%), linguado (7,27%),
gordinho (4,59%), tira-vira (4,16%), linguado-areia (4,05%), goete (3,92%), peixe-sapo
(3,66%), betara (3,23%), espada (2,73%), bagre (2,65%) e peixe-porco (2,28%).
- Grupo de Plataforma Continental Interna Norte: está representado pelos
subgrupos G e H, ocorrendo entre 25 e 100m de profundidade, desde a porção central de
Santa Catarina (27°00’S) ao Sul do Estado do Rio de Janeiro (23°00”S) (Figura 3). Segundo
o percentual de quadrantes pertencentes a cada estrato de profundidade, observa-se que
19
100% dos quadrantes do subgrupo G estão entre 100-250m, classificados como quebra de
plataforma. No subgrupo H, 70% dos quadrantes encontram-se em área de plataforma média,
que corresponde aos limites de 30 a 100m de profundidade (Tabela 1).
A análise de SIMPER mostrou que 16 categorias de recursos (similaridade média de
87,67) contribuíram para a formação deste grupo de pesca. São elas: corvina (14,61% de
contribuição), cabra (14,32%), emplastro (8,99%), gordinho (8,04%), bagre (6,47%),
abrótea (5,94%), goete (5,72%), camarão-rosa (4,89%), maria-mole (4,87%), linguado-areia
(4,17%), castanha (3,03%), polvo (2,87%), merluza (2,54%), linguado (2,37%) e peixe-sapo
(2,02%). Todos estes recursos apresentaram contribuição total de cerca de 91%.
- Grupo de Quebra de Plataforma: é formado pelo subgrupo J. Situa-se
principalmente ao sul de Santa Catarina (28°00’S), embora alguns quadrantes isolados
tenham sido observados mais ao norte, entre cerca de 100m e 250m (Figura 3), sendo que
81% dos quadrantes pertencentes a este subgrupo foram classificados em profundidades de
quebra de plataforma (Tabela 1).
O SIMPER demonstrou que 16 categorias de recursos, com similaridade média de
83,54, contribuíram para a formação deste grupo. São elas: emplastro (9,44% de
contribuição), cabra (9,04%), peixe-sapo (8,82%), linguado-areia (7,91%), merluza (7,33%),
castanha (6,46%), maria-mole (6,03%), abrótea (6,01%), congro-rosa (5,82%), corvina
(5,36%), tira-vira (4,29%), abrótea-de-fundo (3,54%), linguado (3,52%), espada (3,11%),
goete (2,47%) e bagre (2,13%).
- Grupo de Talude: este grupo é formado pelos subgrupos L, M, N e O. Ocorre em
profundidades maiores que 100m no Norte e 200m no Sul (Figura 3). Apesar de receberem
a denominação de grupo de talude, somente o subgrupo O apresentou 100% de seus
quadrantes em profundidades maiores que 250m (Tabela 1). Os subgrupos L e M
apresentaram mais de 60% dos seus quadrantes situados no talude superior e inferior; e o
subgrupo N, apresentou 100% dos quadrantes em profundidades entre 100 e 250m,
correspondentes a quebra de plataforma (Tabela 1).
A análise de SIMPER demonstrou que a abrótea-de-fundo (60,16%) e o batata
(39,84%) contribuíram para a formação do subgrupo O, com similaridade média de 93,65.
Além destas duas espécies, que apresentaram contribuições de 19,12% e 13,10%
respectivamente, o peixe-sapo (20,31%), merluza (20,05%) e congro-rosa (18,94%) também
contribuíram para a formação do subgrupo L, com similaridade média de 78,33. E o
20
subgrupo M apresentou a abrótea-de-fundo, o congro-rosa e o batata como responsáveis por
sua formação, com 37,23%, 36,80% e 24,09% de contribuição, respectivamente
(similaridade média de 75,32). Por apresentar menos que 2 amostras, o SIMPER não
detectou nenhum recurso que tenha contribuído para a formação do subgrupo N.
- Grupo Norte: formado pelos subgrupos B e C (Figura 3), localiza-se na porção norte
da área de estudo, a partir do sul do Estado do Rio de Janeiro à sua porção central,
encontrando-se em todos os limites de profundidade, desde a área costeira até a quebra de
plataforma, como pode ser visto na tabela 1.
A análise do SIMPER mostrou que o camarão-rosa foi o principal responsável pela
formação de ambos os subgrupos, sendo o único recurso que contribuiu para o subgrupo B,
com contribuição de 96% (similaridade média de 86,29). E para o subgrupo C, além do
camarão-rosa (26,68% de contribuição), os recursos camarão-cristalino, abrótea-de-fundo,
polvo e namorado também foram responsáveis pela sua formação, com contribuições de
21,75%, 19,06%, 17,57% e 8,59%, respectivamente.
Cabe destacar que os subgrupos A e K (Figura 3) não foram associados a nenhum
grupo em particular por se apresentarem dispersos na área de estudo, sem qualquer padrão
evidente. Entretanto, estão localizados ao longo do Estado de Santa Catarina e extremo sul
do Rio Grande do Sul e totalmente situados no estrato costeiro de profundidade (Tabela 1).
A análise do SIMPER demonstrou que o subgrupo K foi formado pela corvina (21,15%
de contribuição), cabra (17,67%), gordinho (13,28%), abrótea (10,68%), goete (6,88%),
betara (6,65%), maria-mole (5,21%), linguado (4,69%) e castanha (4,43%). O subgrupo A,
por apresentar menos que 2 amostras, o SIMPER não identificou nenhuma categoria.
21
Tabela 1: Percentual de quadrantes pertencentes a cada estrato de profundidade para cada subgrupo
de reursos pesqueiros, identificados através da análise de agrupamento.
Área de
Pesca
Costeiro
(0-30m)
Plataforma
Média
(30-100m)
Quebra
Plataforma
(100-250m)
Talude
Superior
(250-500m)
Talude
Inferior
(500-1500m)
A 100 0 0 0 0
B 50 50 0 0 0
C 0 0 100 0 0
D 100 0 0 0 0
E 100 0 0 0 0
F 100 0 0 0 0
G 0 0 100 0 0
H 23 70 7 0 0
I 32 51 17 0 0
J 0 6 81 0 13
K 100 0 0 0 0
L 0 0 40 15 45
M 0 0 38 13 50
N 0 0 100 0 0
O 0 0 0 0 100
22
Figura 2: Resultado da análise de agrupamento dos quadrantes obtido a partir da similaridade do total de ocorrência dos recursos demersais (frequência absoluta),
considerando em conjunto todas as frotas e todo o período de estudo. Em destaque o nível de corte de similaridade de 57% utilizado para definir os grupos e subgrupos de
quadrantes (estes últimos, indicados pelas letras).
A B C D E
F
G H I J L
J
J
K
J
J
M
L
J
J
J
J
N O
Figura 3: Grupos e subgrupos de associações de recursos resultantes da análise de agrupamento, para o Sudeste-
Sul do Brasil.
Norte
Grupo
Norte
Plataforma
Continental
Interna
Talude
Grupo
Costeiro
Sul Quebra
Plataforma
24
4.2. Distribuição Espacial dos Recursos Demersais
A análise da Figura 4 revela que, até aproximadamente 50m de profundidade, os
camarões sete-barbas, barba-ruça e santana apresentaram a maior frequência de ocorrência
dentre todos os recursos analisados. O primeiro ocorreu principalmente ao longo do litoral
de São Paulo, com máximo de 253 registros em um único quadrante, enquanto as outras duas
predominaram entre o Sul de Santa Catarina e o Centro-Sul do Rio Grande do Sul, com
máximos de 244 e 236 registros em um único quadrante, respectivamente (Figura 4).
Considerando também a porcentagem de ocorrência e de captura desembarcada
desses recursos para cada grupo identificado na análise de agrupamento (Tabela 2; Tabela
3), observa-se que o camarão sete-barbas apresentou os maiores percentuais, para ambas as
variáveis, no subgrupo “H” classificado como grupo de plataforma continental interna norte,
seguido pelo grupo costeiro (subgrupos D, E e F). Por outro lado, os camarões barba-ruça e
santana apresentaram seus maiores valores na plataforma continental interna sul, com
ocorrências de 92,8% e 89,7% e desembarques de 97,5% e 95,1%, respectivamente (Tabela
2; Tabela 3).
Algumas categorias de recursos apresentaram alta frequência de ocorrência por
quadrante (correspondente, na Figura 4, às duas classes com maior número de ocorrências)
ao longo de quase toda a área de plataforma continental interna (norte e sul), entre cerca de
30m e 100m (Figura 4). São elas: abrótea, cabra, corvina, emplastro, goete, gordinho,
linguado-areia, merluza e peixe-sapo (Figura 4). Entretanto, analisando as Tabelas 2 e 3,
observa-se que somente a corvina apresentou, além de elevada ocorrência, altos percentuais
de desembarques provenientes dos grupos de plataforma continental interna norte e sul, com
tendência de valor ligeiramente maior neste último. A abrótea apresentou percentuais de
ocorrência e desembarque significantemente maiores no grupo de plataforma continental
interna sul (subgrupo “I”) (Tabela 2; Tabela 3). No caso dos outros recursos citados, embora
suas ocorrências tenham sido elevadas na área como um todo, cabra, emplastro, goete e
gordinho apresentaram maiores desembarques provenientes da plataforma interna sul
(61,5%, 65,4%, 69,2% e 67,0%, respectivamente), enquanto merluza e peixe-sapo
mostraram volumes desembarcados mais elevados no talude, com 57% e 54%,
respectivamente (Tabela 3). E o linguado-areia demonstrou altos percentuais de
desembarque no grupo de plataforma continental interna sul, seguido pela quebra de
plataforma, com 48% e 23,7%, respectivamente (Tabela 3).
25
Através da Figura 4, observa-se que a grande parte dos recursos apresentou
distribuição espacial mais concentrada ao longo da plataforma continental interna sul, com
limite em Santa Catarina. Destacam-se betara, castanha, corcoroca, espada, garoupa,
linguado, maria-mole, papa-moscas, pargo-rosa, peixe-porco, pescada, pescada-amarela,
pescadinha-real e tira-vira (Figura 4). As Tabelas 2 e 3 confirmam o observado nos mapas
de distribuição espacial dos recursos pesqueiros, mostrando que estes recursos apresentaram
os maiores percentuais de ocorrência e de desembarque no grupo correspondente à
plataforma continental interna sul (subgrupo I).
Por outro lado, o camarão-rosa, o bagre, o polvo e a lula foram mais ocorrentes na
plataforma continental interna norte (ao norte de Santa Catarina) (Figura 4). Entretanto,
quando considerados os percentuais de ocorrência e desembarque, observa-se que somente
o camarão-rosa e a lula mantiveram valores elevados neste grupo, para ambas as variáveis
(Tabela 2; Tabela 3). O polvo demonstrou percentuais de ocorrência elevados tanto na
plataforma continental interna norte como sul (Tabela 2), embora as capturas desembarcadas
tenham sido maiores nesta última área (Tabela 3). O bagre teve seus maiores percentuais de
ocorrência no grupo de plataforma continental interna norte, enquanto seus desembarques
prevaleceram no grupo de plataforma continental interna sul, com 50,9% e 58,4%,
respectivamente.
As categorias congro-rosa, camarão-cristalino e namorado demonstraram elevada
frequência de ocorrência entre 100m e 250m de profundidade (Figura 4). Considerando as
porcentagens de desembarque destes recursos para cada grupo de pesca (Tabela 3), observa-
se que foram mais elevados no grupo de talude, com exceção do camarão-cristalino, que
apresentou altos valores no grupo norte, com 37% seguido pelo talude, com 31,9% (Tabela
3). Por outro lado, os maiores percentuais de ocorrência destes recursos para cada grupo
identificado pela análise de agrupamento foram muito variáveis, como pode ser visto na
Tabela 2. O camarão-cristalino apresentou percentuais elevados no grupo correspondente à
plataforma continental interna norte, com 39%, seguido pelo grupo de talude, com 31,9%.
O congro-rosa demonstrou elevados valores nos grupos correspondentes ao talude, a
plataforma continental interna sul e a quebra de plataforma, 34,6%, 28,1% e 21,2%,
respectivamente. E o namorado demonstrou percentuais de ocorrência elevados e similares,
em ordem decrescente, no grupo de plataforma continental interna sul, talude, plataforma
continental interna norte e quebra de plataforma, com 28,1%, 27,2%, 25% e 17,7% (Tabela
2).
26
Por fim, além da profundidade de 250m, a abrótea-de-fundo e o batata foram os
recursos mais frequentes, conforme observado na figura 4. Considerando os percentuais de
ocorrência e desembarque por grupo, observa-se que os maiores valores ocorreram no talude
(subgrupos L, M, N e O), como pode ser visto nas Tabelas 2 e 3.
Tabela 2: Porcentagem de ocorrência dos 35 recursos para cada subgrupo e grupo de associação de recursos pesqueiros identificado através da análise de
agrupamento.
Recursos/ Grupos
Norte Costeiro Plataforma
Interna Norte Plataforma Interna Sul
Quebra Plataforma
Talude
A B C Total D E F Total G H Total I J K L M N O Total
Abrótea 0,1 0,1 0,2 0,4 0,1 0,1 0,1 0,3 0,2 29,0 29,1 59,2 8,6 0,7 1,3 0,3 0,0 0,1 1,7
Abrótea-de-fundo
- 0,0 1,3 1,3 0,0 0,0 - 0,0 0,5 9,2 9,6 13,0 22,3 0,1 41,7 7,0 0,3 4,7 53,7
Bagre 0,1 0,3 0,6 0,9 0,1 0,3 0,3 0,7 0,4 50,5 50,9 38,1 8,0 0,6 0,6 0,2 - 0,1 0,9
Batata - - 0,5 0,5 0,0 0,0 - 0,0 0,3 6,9 7,1 17,5 17,2 0,1 45,8 6,9 0,1 4,8 57,6
Betara 0,0 0,1 0,1 0,2 0,4 0,3 0,1 0,8 0,1 18,1 18,2 68,9 8,8 1,1 1,6 0,3 - 0,1 2,0
Cabra 0,1 0,2 0,4 0,6 0,1 0,2 0,2 0,4 0,3 38,3 38,6 47,8 8,5 0,7 2,5 0,5 0,0 0,3 3,3
Camarão-barba-ruça
0,6 - - - 0,0 0,1 - 0,1 - 5,1 5,1 92,8 0,6 0,4 0,4 - - - 0,4
Camarão-cristalino
- 0,1 6,8 6,9 - 0,1 - 0,1 1,4 37,7 39,0 3,1 18,9 0,1 26,1 4,1 0,9 0,8 31,9
Camarão-rosa
0,0 0,8 1,2 2,1 0,0 0,0 0,0 0,1 0,3 71,6 71,9 17,7 5,0 0,5 2,3 0,3 0,0 0,1 2,7
Camarão-santana
0,7 - - - 0,3 0,1 0,2 0,6 - 7,6 7,6 89,7 0,6 0,5 0,3 - - - 0,3
Camarão-sete-barbas
- - - - 11,6 9,3 2,7 23,6 - 73,6 73,6 1,6 0,3 0,7 0,2 - - - 0,2
Castanha 0,1 0,2 0,3 0,4 0,0 0,1 0,1 0,2 0,2 17,4 17,6 66,0 11,8 0,8 2,2 0,5 0,3 3,0
Congro-rosa
- 0,1 1,1 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4 14,3 14,7 28,1 21,2 0,2 27,3 4,4 0,1 2,8 34,6
Corcoroca 0,1 - - - 0,1 - - 0,1 - 13,8 13,8 79,5 4,3 1,7 0,4 0,1 - - 0,5
Corvina 0,1 0,2 0,4 0,7 0,1 0,2 0,2 0,5 0,3 40,6 40,9 50,0 6,2 0,8 0,6 0,2 0,0 0,1 0,9
Emplastro 0,1 0,2 0,6 0,9 0,1 0,1 0,1 0,3 0,3 32,0 32,3 47,0 11,1 0,5 6,1 1,1 0,0 0,6 7,8
Espada 0,0 0,0 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,3 0,1 12,7 12,9 64,1 15,8 0,8 4,9 0,8 - 0,4 6,1
Garoupa 0,7 - - - - - - - - 28,0 28,0 67,8 2,1 1,4 - - - - -
Goete 0,1 0,2 0,4 0,6 0,1 0,2 0,2 0,5 0,3 41,2 41,5 48,3 7,2 0,8 0,7 0,2 - 0,1 1,0
28
Tabela 3: Porcentagem de ocorrência dos 35 recursos para cada subgrupo e grupo de associação de recursos pesqueiros identificado através da análise de
agrupamento (Continuação).
Recursos/ Grupos
Norte Costeiro Plataforma
Interna Norte Plataforma Interna Sul
Quebra Plataforma
Talude
A B C Total D E F Total G H Total I J K L M N O Total
Gordinho 0,2 0,2 0,3 0,5 0,1 0,2 0,2 0,5 0,3 45,0 45,3 47,2 5,1 1,0 0,3 0,1 - 0,0 0,4
Linguado 0,1 0,1 0,2 0,3 0,0 0,1 0,1 0,2 0,1 16,8 16,9 70,9 8,5 0,9 1,6 0,4 0,0 0,2 2,2
Linguado-areia
0,1 0,1 0,6 0,7 0,1 0,1 0,1 0,3 0,3 27,3 27,6 46,5 14,1 0,4 8,1 1,4 0,1 0,8 10,3
Lula 0,2 0,6 0,7 1,4 0,2 0,2 0,1 0,4 0,3 52,1 52,3 32,9 4,8 2,0 4,6 0,8 0,1 0,5 6,0
Maria-mole 0,1 0,1 0,3 0,4 0,1 0,1 0,1 0,3 0,2 22,3 22,5 64,3 9,6 0,8 1,5 0,4 - 0,2 2,1
Merluza 0,1 0,1 0,7 0,8 0,0 0,1 0,1 0,2 0,3 26,9 27,2 32,5 16,3 0,3 17,4 3,0 0,1 2,0 22,5
Namorado - - 1,7 1,7 0,0 0,0 0,1 0,7 24,3 25,0 28,1 17,7 0,3 23,0 2,4 0,2 1,6 27,2
Papa-moscas
0,1 - - - - - - - - 0,7 0,7 70,5 24,8 0,5 2,5 0,4 - 0,5 3,4
Pargo-rosa 0,0 0,1 0,3 0,4 0,0 0,1 0,2 0,3 0,3 27,5 27,8 55,9 12,0 0,7 2,1 0,5 - 0,2 2,9
Peixe-porco 0,0 0,2 0,3 0,5 0,1 0,2 0,1 0,4 0,2 27,1 27,3 61,6 6,9 0,7 1,7 0,5 - 0,3 2,5
Peixe-sapo 0,1 0,1 0,8 1,0 0,0 0,1 0,1 0,2 0,3 20,1 20,3 42,7 16,0 0,3 15,0 2,6 0,1 1,7 19,4
Pescada 0,3 - 0,1 0,1 0,4 0,3 0,7 0,1 16,9 17,0 75,5 4,4 1,5 0,4 0,2 0,1 0,6
Pescada-amarela
0,1 - - - 0,6 0,2 0,1 0,9 - 5,9 5,9 89,1 2,5 1,3 0,2 - - - 0,2
Pescadinha-real
0,2 - - - 1,2 0,6 0,3 2,2 - 14,0 14,0 78,2 2,6 2,4 0,2 0,1 - 0,0 0,4
Polvo 0,0 0,5 0,9 1,4 0,1 0,1 0,0 0,3 0,2 41,9 42,1 43,4 8,2 0,4 3,4 0,5 0,0 0,2 4,1
Tira-vira 0,0 0,2 0,4 0,6 0,1 0,1 0,1 0,3 0,2 17,1 17,2 65,1 12,8 0,6 2,5 0,6 0,0 0,3 3,4
29
Tabela 4: Porcentagem de capturas desembarcadas dos 35 recursos para cada subgrupo e grupo de associação de recursos pesqueiros identificados através
da análise de agrupamento.
Recursos/ Grupos
Norte Costeiro Plataforma
Interna Norte Plataforma Interna Sul
Quebra Plataforma
Talude
A B C Total D E F Total G H Total I J K L M N O Total
Abrótea 0,0 0,0 0,6 0,6 0,0 0,1 0,0 0,1 0,1 16,0 16,1 63,3 10,1 0,2 8,6 0,6 0,0 0,3 9,6
Abrótea-de-fundo
- 0,0 0,3 0,4 0,0 0,0 - 0,0 0,1 1,8 1,9 3,3 35,9 0,0 48,0 6,2 0,2 4,2 58,5
Bagre 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 10,7 10,8 58,4 29,1 0,5 0,2 0,7 - 0,0 0,9
Batata 0,2 0,2 0,0 0,0 - 0,0 0,1 2,5 2,6 8,2 10,9 0,0 70,7 4,6 0,1 2,7 78,1
Betara 0,0 0,0 0,0 0,1 0,2 0,2 0,0 0,4 0,0 15,3 15,3 76,3 5,6 1,2 0,6 0,2 0,2 1,0
Cabra 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 11,0 11,1 61,5 22,6 0,3 3,5 0,6 0,0 0,2 4,3
Camarão-barba-ruça
0,3 - - - 0,0 0,0 - 0,0 - 2,0 2,0 97,5 0,1 0,1 0,0 - - - 0,0
Camarão-cristalino
- 0,0 36,9 37,0 - 0,0 - 0,0 0,9 14,4 15,3 0,9 14,9 0,0 21,8 3,8 5,0 1,3 31,9
Camarão-rosa
0,0 1,4 1,6 3,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 80,2 80,4 11,6 3,7 0,6 0,6 0,0 0,0 0,0 0,7
Camarão-santana
0,6 - - - 0,0 0,0 0,2 0,2 - 3,6 3,6 95,1 0,2 0,2 0,1 - - - 0,1
Camarão-sete-barbas
- - - - 9,5 7,5 2,9 19,9 - 78,1 78,1 1,4 0,1 0,3 0,1 - - - 0,1
Castanha 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,2 2,2 66,4 29,0 0,6 1,4 0,2 - 0,1 1,7
Congro-rosa
- 0,1 1,7 1,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 9,6 10,1 9,3 21,7 0,0 48,3 6,2 0,3 2,3 57,1
Corcoroca 0,2 - - - 0,1 - - 0,1 - 41,6 41,6 55,1 0,3 2,6 0,0 0,0 - - 0,0
Corvina 0,1 0,2 0,5 0,7 0,1 0,2 0,1 0,3 0,2 43,7 43,9 50,6 3,1 1,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,2
Emplastro 0,0 0,1 0,3 0,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 9,1 9,2 65,4 18,1 0,4 5,4 0,7 0,0 0,4 6,5
Espada 0,1 0,0 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0 0,1 0,0 11,5 11,5 72,8 11,9 1,2 1,9 0,3 - 0,1 2,4
Garoupa 0,0 - - - - - - - - 6,8 6,8 80,6 11,0 1,6 - - - - -
Goete 0,1 0,0 0,1 0,1 0,2 0,1 0,0 0,4 0,0 21,6 21,6 69,2 4,5 3,7 0,3 0,1 - 0,0 0,4
Gordinho 0,2 0,0 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,2 0,1 28,3 28,3 67,0 2,3 1,8 0,0 0,0 - 0,0 0,1
30
Tabela 5: Porcentagem de capturas desembarcadas dos 35 recursos para cada subgrupo e grupo de associação de recursos pesqueiros identificados através
da análise de agrupamento (Continuação).
Recursos/ Grupos
Norte Costeiro Plataforma
Interna Norte Plataforma Interna Sul
Quebra Plataforma
Talude
A B C Total D E F Total G H Total I J K L M N O Total
Linguado 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,9 1,9 89,2 6,9 0,6 0,9 0,3 0,0 0,1 1,4
Linguado-areia
0,1 0,1 1,1 1,2 0,0 0,1 0,0 0,1 0,2 15,0 15,2 48,0 23,7 0,2 9,5 1,4 0,2 0,5 11,6
Lula 0,0 0,2 0,2 0,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 82,9 83,0 7,2 0,9 7,2 1,1 0,1 0,0 0,1 1,3
Maria-mole 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,2 3,2 85,3 9,4 0,9 0,7 0,3 - 0,1 1,1
Merluza 0,0 0,0 0,7 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 4,2 4,5 7,7 30,0 0,0 44,4 6,8 0,4 5,4 57,0
Namorado - - 2,5 2,5 0,0 0,0 - 0,0 0,5 6,1 6,6 25,8 17,7 0,9 43,9 1,4 0,8 0,4 46,6
Papa-moscas
0,0 - - - - - - - - 0,2 0,2 65,4 28,2 0,2 4,5 0,4 - 1,1 6,0
Pargo-rosa 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0 0,0 0,1 0,1 0,1 13,9 14,0 57,0 23,5 0,4 3,4 0,9 - 0,8 5,0
Peixe-porco 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,5 2,5 88,1 4,9 0,4 1,6 1,1 - 1,2 4,0
Peixe-sapo 0,0 0,0 2,5 2,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 2,8 3,0 13,9 26,5 0,0 41,1 6,7 0,7 5,6 54,0
Pescada 0,0 - 0,0 0,0 0,0 0,0 - 0,0 0,0 1,5 1,5 97,7 0,5 0,2 0,0 0,1 - 0,0 0,1
Pescada-amarela
0,0 - - - 0,0 0,0 0,0 0,0 - 1,5 1,5 97,5 0,3 0,7 0,0 - - - 0,0
Pescadinha-real
0,0 - - - 0,2 0,1 0,0 0,3 - 7,7 7,7 89,1 0,6 2,1 0,0 0,0 - 0,0 0,1
Polvo 0,0 0,2 0,6 0,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 31,9 32,0 53,9 11,8 0,2 1,1 0,1 0,1 0,0 1,3
Tira-vira 0,0 0,0 0,3 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,3 2,3 89,0 6,7 0,3 0,9 0,2 0,1 0,1 1,2
31
Figura 4: Distribuição espacial dos principais recursos demersais desembarcados em Santa Catarina pelas frotas industriais entre 2010 e 2012. Valores
correspondentes a frequência de ocorrência por quadrante geográfico de 30’x30’ de resolução.
32
Figura 4: Distribuição espacial dos principais recursos demersais desembarcados em Santa Catarina pelas frotas industriais entre 2010 e 2012. Valores
correspondentes a frequência de ocorrência por quadrante geográfico de 30’x30’ de resolução (Continuação).
33
Figura 4: Distribuição espacial dos principais recursos demersais desembarcados em Santa Catarina pelas frotas industriais entre 2010 e 2012. Valores
correspondentes a frequência de ocorrência por quadrante geográfico de 30’x30’ de resolução (Continuação).
34
Figura 4: Distribuição espacial dos principais recursos demersais desembarcados em Santa Catarina pelas frotas industriais entre 2010 e 2012. Valores
correspondentes a frequência de ocorrência por quadrante geográfico de 30’x30’ de resolução (Continuação).
35
Figura 4: Distribuição espacial dos principais recursos demersais desembarcados em Santa Catarina pelas frotas industriais entre 2010 e 2012. Valores
correspondentes a frequência de ocorrência por quadrante geográfico de 30’x30’ de resolução (Continuação).
36
Figura 4: Distribuição espacial dos principais recursos demersais desembarcados em Santa Catarina pelas frotas industriais entre 2010 e 2012. Valores
correspondentes a frequência de ocorrência por quadrante geográfico de 30’x30’ de resolução (Continuação).
4.3. Distribuição Espacial da Atuação das Frotas
Pesqueiras
Considerando a distribuição espacial do esforço de pesca realizado no período entre
2010 e 2012, observa-se uma grande área de atuação das seis frotas pesqueiras demersais
industriais analisadas, com frequente sobreposição entre elas (Figura 5).
O arrasto-duplo foi a única frota que apresentou atuação em toda a área de estudo,
com registros de viagens por quadrante variáveis entre 1 e 725 (Figura 5). Entretanto,
observa-se que a maior área de atuação esteve concentrada em duas regiões distintas, sendo
que ambas ocorreram principalmente até 100m de profundidade: a) entre o Sul de Santa
Catarina e a região central de São Paulo e; b) ao longo do Estado do Rio Grande do Sul. Em
relação ao percentual de visitas realizadas pela frota em cada grupo, observa-se que 36% das
viagens abrangeram a plataforma continental interna sul (subgrupo I) e 34,5% das viagens
abrangeram a plataforma continental interna norte (subgrupos G e H) (Tabela 4). Por outro
lado, segundo os percentuais de capturas obtidos por cada frota e grupo, os maiores totais
desembarcados provieram da plataforma continental interna sul, com 37,5%, seguida pelo
talude com 27,3% (Tabela 5).
A frota de arrasto-de-parelha não atuou além dos cerca de 100m de profundidade
(Figura 5), ficando mais concentrada entre os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do
Sul (81,9% de ocorrência) (Tabela 4), com 81 a 120 visitas realizadas por quadrante
geográfico (Figura 5). Os desembarques realizados por essa frota também foram
significativamente dominantes na plataforma continental interna sul (subgrupo I), conforme
tabela 5, com 84,6%.
O arrasto-simples atuou nos mesmos limites latitudinais que as parelhas, entretanto,
esteve concentrado principalmente entre 100m e 200m de profundidade, com 66,9% de
ocorrência sobre a plataforma continental interna sul (subgrupo I), seguida pela quebra de
plataforma (subgrupo J), com 26,3% de ocorrência (Tabela 4). Os percentuais de
desembarques também foram predominantes nessas duas áreas de pesca, totalizando 61,1%
e 33,2%, respectivamente (Tabela 5).
A frota de espinhel-de-fundo apresentou a segunda menor área de atuação dentre
todas aquelas analisadas, com ocorrência predominantemente entre 100m e 500m de
profundidade, desde o Norte de Santa Catarina até o Sul do Rio Grande do Sul (Figura 5),
abrangendo a plataforma continental interna sul (subgrupo I), quebra de plataforma
38
(subgrupo J) e talude (subgrupos L, M, N e o), com 35,8%, 31,7% e 30,9%, respectivamente
(Tabela 4). Os valores de desembarques apresentados pela frota também foram maiores nos
grupos citados, com máximo de 50,9% na plataforma continental interna sul, seguida por
38,4% na quebra de plataforma e 8,9% no talude (Tabela 5).
O emalhe-de-fundo, por outro lado, apresentou a segunda maior área de atuação,
ocorrendo desde o sul do Rio Grande do Sul até o Estado do Rio de Janeiro, em todas as
profundidades (Figura 5). Porém, os quadrantes que apresentaram maior número de visitas
concentraram-se entre o centro de Santa Catarina e o centro de São Paulo, até cerca de 100m
de profundidade. Confirmando essa observação, esta frota apresentou os maiores percentuais
de ocorrência e de desembarque na plataforma continental interna norte (subgrupos G e H),
com 53,6% e 45,7%, respectivamente; seguido pela plataforma continental interna sul
(subgrupo I), com 39,9% de ocorrência e 45,3% de captura (Tabela 5; Tabela 5).
Por fim, a frota de pote para polvo demonstrou a menor área de atuação e o menor
número de viagens realizadas, com máximo de 9 visitas realizadas a um único quadrante
geográfico (Figura 5). Esteve concentrada principalmente nos quadrantes ao longo de Santa
Catarina, seguido pelos quadrantes ao longo do Paraná e Sul de São Paulo, ambos até 100m
de profundidade (Figura 5). Em relação aos percentuais de ocorrência em cada grupo,
observa-se que a área de plataforma continental interna norte apresentou 50,9%, seguido
pela sua porção sul com 40,6% e na quebra de plataforma, com 6,6% de registros de
ocorrência (Tabela 4). Entretanto, os valores de desembarque obtidos por esta frota foram
maiores na plataforma continental interna sul, com 55,2%; sendo que, na plataforma
continental interna norte e quebra de plataforma, apresentaram 23,9% e 20,9%,
respectivamente (Tabela 5).
Tabela 6: Distribuição percentual do número total de viagens realizadas por cada frota industrial demersal que realizou desembarques em Santa Catarina
entre 2010 e 2012, discriminada de acordo com os subgrupos e grupos identificados através da análise de agrupamento.
Frotas/ Grupos
Norte Costeiro Plataforma Interna
Norte Plataforma Interna Sul
Quebra Plataforma
Talude
A B C Total D E F Total G H Total I J K L M N O Total
AD 0,1 0,3 1,0 1,4 0,7 0,6 0,2 1,5 0,2 34,2 34,5 36,0 9,9 0,4 12,7 2,2 0,1 1,4 16,4
AP 0,0 - - - 0,1 0,2 0,0 0,3 0,0 13,0 13,1 81,9 2,9 1,8 - - - - -
AS - - - - - - - - - 2,4 2,4 66,9 26,3 0,2 3,2 0,7 - 0,2 4,2
E1 - - - - - - - - - 1,6 1,6 35,8 31,7 - 25,2 5,7 - - 30,9
EF 0,2 0,2 0,5 0,7 0,1 0,2 0,3 0,6 0,4 53,3 53,6 39,9 3,3 0,9 0,5 0,1 - 0,1 0,7
PP - - - - - - - - - 50,9 50,9 40,6 6,6 - 1,9 - - - 1,9 AD: Arrasto Duplo; AP: Arrasto de Parelha; AS: Arrasto Simples; E1: Espinhel de Fundo; EF: Emalhe de Fundo; PP: Potes para Polvo.
Tabela 7: Distribuição percentual da captura desembarcada por cada frota industrial demersal, que realizou desembarques em Santa Catarina entre 2010 e
2012, discriminada de acordo com os subgrupos e grupos identificados através da análise de agrupamento.
Frotas/ Grupos
Norte Costeiro Plataforma
Interna Norte Plataforma Interna Sul
Quebra Plataforma
Talude
A B C Total D E F Total G H Total I J K L M N O Total
AD 0,1 0,1 0,9 1,0 0,6 0,5 0,2 1,2 0,1 14,0 14,1 37,5 18,5 0,3 22,0 2,9 0,2 2,1 27,3
AP 0,0 - - 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 8,3 8,3 84,6 5,1 1,9 - - - -
AS - - - - - - - - - 2,2 2,2 61,1 33,2 0,1 2,7 0,5 - 0,1 3,3
E1 - - - - - - - - - 1,8 1,8 50,9 38,4 - 7,7 1,2 - - 8,9
EF 0,1 0,2 0,5 0,7 0,0 0,2 0,1 0,3 0,2 45,4 45,7 45,3 3,3 1,0 2,7 0,6 - 0,3 3,6
PP - - - - - - - - - 23,9 23,9 55,2 20,9 - 0,1 - - - 0,1 AD: Arrasto Duplo; AP: Arrasto de Parelha; AS: Arrasto Simples; E1: Espinhel de Fundo; EF: Emalhe de Fundo; PP: Potes para Polvo.
40
Figura 5: Distribuição espacial das frotas demersais industriais desembarcadas em Santa Catarina, entre 2010 e 2012. Valores correspondentes ao número
de viagens realizadas para cada quadrante geográfico de 30’x30’ de resolução.
4.4. Caracterização do Ambiente Bentônico
No universo de amostras sedimentológicas analisadas nos 199 quadrantes
selecionados no Sudeste-Sul do Brasil, observou-se um total de 13.950 amostras coletadas,
com mínimo de 1 e máximo de 1.336 unidades por quadrante. Observa-se que
aproximadamente 60% dos quadrantes apresentaram mais de 30 amostras coletadas em seu
interior (Figura 6).
Figura 6: Distribuição de frequência relativa acumulada do número de quadrantes com suas respectivas
quantidades de amostras sedimentológicas coletadas em seu interior.
Através da distribuição espacial da frequência relativa de amostras coletadas em cada
quadrante, observa-se que recifes e algas calcárias foram mais frequentes na porção norte da
área de estudo, a partir do Sul do Estado do Rio de Janeiro, principalmente em profundidades
maiores que 100m (Figura 7). Apenas um quadrante, localizado na altura do Estado do
Espírito Santo, apresentou 100% das amostras coletadas como recife. As algas calcárias
apresentaram percentuais máximos de ocorrência por quadrante entre 50% e 75% (Figura
7). Cabe destacar que também foram encontradas frequências consideráveis de amostras
classificadas como recife na porção central do Estado de Santa Catarina, entre 100m e 500m
de profundidade, com variação entre as classes de 10% a 50% de ocorrência de amostras por
quadrante (Figura 7).
Quando considerados os percentuais de amostras de recifes e algas calcárias por
grupo identificado na análise de agrupamento, observa-se que os valores foram baixos
(Tabela 6), pois na análise de agrupamento não foram considerados os quadrantes
localizados acima da porção central do Estado do Rio de Janeiro (Figura 3). O maior valor
42
ocorreu no subgrupo N (talude da porção norte da área de estudo), para as amostras do tipo
algas calcárias, com 5,3% do total de amostras coletadas para este subgrupo (Tabela 6).
As amostras classificadas como cascalho e areia e cascalho biodetrítico também
foram mais frequentes na porção norte da área de estudo, e nas demais regiões a partir dos
100m de profundidade, com frequências amostrais máximas de 61% para cascalho e 100%
para areia e cascalho biodetrítico, ambos na altura do Estado do Espírito Santo (Figura 7).
Considerando seus percentuais por grupo, observa-se que a classe areia e cascalho
biodetrítico apresentou os maiores valores nos subgrupos M e N, com 19,1% e 19,7% das
amostras, respectivamente; enquanto que o cascalho apresentou maior percentual no
subgrupo O, com 15% de ocorrência. Ambos os subgrupos mencionados estão classificados
como grupo de talude (Tabela 6).
As amostras identificadas como fundo arenoso demonstraram frequência de
ocorrência maior até os 50m de profundidade, entre o Rio Grande do Sul e o Estado do Rio
de Janeiro. Um quadrante, pertencente ao subgrupo E (grupo costeiro), apresentou 100% de
suas amostras como arenosas (Figura 7; Tabela 6). Aqueles quadrantes pertencentes a
menores profundidades também apresentaram elevados percentuais de amostras com
sedimentos arenosos, como os subgrupos A, B, D, H e K, com 42,4%, 54,2%, 33,3%, 38,5%
e 34,8%, respectivamente (Tabela 6).
As amostras de fundo classificadas como areno-lamosas ocorreram ao longo de toda
a área de estudo e em todas as faixas de profundidade, com grande representatividade entre
as classes de 25% a 75% de ocorrência (Tabela 7). Considerando sua frequência por grupo,
observa-se que elas foram dominantes nos subgrupos C (grupo norte), com 29,1%;
subgrupos D e F (grupo costeiro) com 35,2% e 40,7%, respectivamente; e subgrupo N
(talude), com 27,6% (Tabela 6).
As amostras de fundo lamoso foram mais frequentes nas áreas de maior
profundidade, além dos 500m, atingindo 100% de ocorrência amostral em diversos
quadrantes (Figura 7). Elas predominaram no subgrupo F (área costeira), com 38,9%;
subgrupo G (plataforma continental interna norte), com 76,3%; subgrupo I (plataforma
continental interna sul), com 47,9%; subgrupo J (quebra de plataforma), com 62,7%;
subgrupo K (indefinido), com 40,4% e; talude, correspondente aos subgrupos L, M, N e O,
com 45,5%, 32,1%, 25,0% e 34,0%, respectivamente (Tabela 6).
Figura 7: Distribuição da frequência relativa das amostras coletadas para cada tipo de fundo e em cada quadrante geográfico, ao longo do Sudeste-Sul do
Brasil.
44
Figura 7: Distribuição da frequência relativa das amostras coletadas para cada tipo de fundo e em cada quadrante geográfico, ao longo do Sudeste-Sul do
Brasil (Continuação).
Tabela 8: Distribuição percentual de ocorrência amostral de cada tipo de fundo discriminada de acordo com
os subgrupos identificados através da análise de agrupamento.
Área de
Pesca
Algas
calcárias
Areia e
cascalho
biodetrítico
Areno-
lamoso Arenoso Cascalho Lamoso Recife
A 0,0 3,4 27,1 42,4 6,8 20,3 0,0
B 0,9 6,8 19,8 54,2 7,3 10,6 0,4
C 0,2 12,9 29,1 28,6 8,9 20,3 0,0
D 0,0 1,9 35,2 33,3 0,0 27,8 1,9
E 0,0 0,0 0,0 100,0 0,0 0,0 0,0
F 0,0 3,7 40,7 15,4 1,2 38,9 0,0
G 0,0 3,4 10,2 3,4 6,8 76,3 0,0
H 0,0 8,0 24,0 38,5 2,7 26,7 0,1
I 0,0 4,6 23,6 21,5 1,9 47,9 0,4
J 0,0 6,8 14,4 6,6 3,8 67,2 1,1
K 0,0 5,6 16,7 34,8 2,4 40,4 0,0
L 0,7 13,2 22,9 8,2 7,2 45,5 2,2
M 0,0 19,1 18,7 20,7 9,4 32,1 0,0
N 5,3 19,7 27,6 17,1 3,9 25,0 1,3
O 0,0 12,9 11,6 26,5 15,0 34,0 0,0
4.5. Relação entre os Recursos Demersais e as Variáveis
Ambientais
Nos resultados da Análise de Correspondência Canônica (CCA), a soma dos
autovetores irrestritos representa a variação total dos dados (variância livre) enquanto a soma
dos autovetores canônicos representa a variação explicada pelos dados (correlacionando as
matrizes ambiental e de recursos). Portanto, ao se calcular o quociente da variação canônica/
variação total, obtém-se a porcentagem da variação total (dos recursos) que pode ser
explicada pelas variáveis ambientais. Desta forma, 39,7% da variabilidade na distribuição
dos recursos pode ser explicada pelas variáveis ambientais consideradas (Tabela 7), que
nessa análise incluem latitude, profundidade e os fundos do tipo arenoso, cascalho e algas
calcárias.
46
Tabela 9: Resumo dos resultados da Análise de Correspondência Canônica, através da integração
entre os dados ambientais (latitude, profundidade e tipos de fundo) e recursos.
Eixos 1 2 3 4 Inércia Total
Eingenvalues 0,204 0,094 0,011 0,004 0,791
Correlações Espécies-Ambiente 0,783 0,894 0,288 0,286
Variação percentual cumulativa
dos dados de espécies
25,8 37,7 39,0 39,5
Variação percentual cumulativa
da relação espécie-ambiente
65,2 95,0 98,4 99,7
Soma de todos os eingenvalues 0,791
Soma de todos os eingenvalues canônicos 0,314
Observam-se elevadas correlações entre a distribuição dos recursos e as variáveis
ambientais nos primeiro e segundo eixos (0,783 e 0,894, respectivamente; Tabela 7), sendo
que o primeiro eixo (horizontal) foi altamente correlacionado com a variável profundidade
e o segundo eixo (vertical) com a variável latitude (Figura 8). Tendo isto em vista e
observando a relação entre os recursos demersais, as amostras (subgrupos formados pelos
quadrantes, conforme resultados da análise de agrupamento) e as demais variáveis
ambientais (Figura 8; Figura 9; Figura 10), as relações podem ser conduzidas em 5 grandes
grupos.
Os recursos abrótea-de-fundo e batata apresentaram a correlação mais positiva com
a profundidade, demonstrando que estão distribuídas em áreas mais profundas (Figura 10).
Percebe-se que tais espécies estão relacionadas aos quadrantes correspondentes ao talude
(subgrupos L, M, N e O). Não apresentaram um direcionamento latitudinal, demonstrando
que podem estar distribuídos ao longo de toda a área de estudo. Em relação aos tipos de
fundo, observa-se que as amostras de fundo de cascalho foi a variável que apresentou maior
proximidade com estes recursos (Figura 8; Figura 9).
Também apresentando correlação positiva com a profundidade, mas em posições
mais intermediárias desta variável, ficaram merluza, peixe-sapo, congro-rosa, namorado e
camarão cristalino (Figura 8). Percebe-se que tais recursos estão relacionados principalmente
a quebra de plataforma (subgrupo J) (Figura 10). O camarão-cristalino também apresentou
correlação positiva com os subgrupos G e H (plataforma continental interna norte) e
subgrupos B e C (grupo norte), mostrando a tendência da espécie ter uma distribuição mais
setentrional na área de estudo (Figura 8; Figura 10), enquanto as demais apresentaram
posições próximas ao eixo horizontal, indicando distribuição latitudinal mais ampla (Figura
8). Em relação às variáveis de fundo, observa-se que as amostras de fundo mais duro (algas
calcárias e cascalho) foram as que apresentaram maior afinidade com estes recursos.
47
Demonstrando uma forte correlação negativa com a variável profundidade e
predominando em menores latitudes, observam-se o camarão sete-barbas, e também
camarão-rosa, lula, bagre, gordinho, goete, polvo, corvina e cabra (Figura 8). O camarão
sete-barbas, apresentou forte relação com o grupo costeiro (subgrupos D, E e F) e de
plataforma continental interna norte (subgrupo H). Este último também esteve mais
correlacionado com o camarão-rosa e a lula (Figura 10). Os demais recursos demonstram
relação maior com o subgrupo I, correspondente à plataforma continental interna sul. O
fundo do tipo arenoso demonstrou maior relação com os recursos citados (Figura 8; Figura
9).
Camarão-santana, camarão-barba-ruça, pescada, pescada-amarela, pescadinha e
corcoroca apresentaram alta correlação negativa com a profundidade e positiva com a
latitude (Figura 8) Elas foram relacionadas principalmente com o fundo arenoso e ao grupo
de plataforma continental interna sul (subgrupo I), e subgrupo K (Figura 8; Figura 9), que
não foi associado a nenhum grupo, mas está localizado na profundidade classificada como
costeira (Tabela 1).
Todas as demais categorias de recursos apresentaram-se numa posição mais
intermediária de profundidade e de tipo de fundo, tendendo para uma correlação negativa
com o fundo arenoso, conforme localização na Figura 8. Percebe-se que tais recursos
apresentaram alta correlação com o subgrupo I, correspondendo ao grupo de plataforma
continental interna sul (Figura 8). Destaca-se o papa-mosca que apresentou distribuição mais
ao sul da área de estudo (Figura 9).
48
Figura 8: Relação entre as variáveis ambientais (profundidade, latitude e tipos de fundo) e as
variáveis respostas (distribuição dos recursos), obtida através da análise de correspondência
canônica. Abreviações: CSeteB= camarão sete-barbas; CRosa= camarão-rosa; CCrist= camarão-
cristalino; Gord= gordinho; Corv= corvina; LingArei= linguado-areia; Emplast= emplastro; Psapo=
peixe-sapo; AbF= abrótea-de-fundo; CongroRo= congro-rosa; Pporco= peixe-porco; PgoRos=
pargo-rosa; CSant= camarão-santana; CBRuça= camarão barba-ruça; Corc= corcoroca; Mmole=
maria-mole; Cast= castanha; Pesc= pescada; PescReal= pescadinha-real; PescAm= pescada-
amarela; Ling= linguado; Ab= abrótea; Bet= betara; AlgaCal= algas calcárias; Lat= latitude; Prof=
profundidade.
49
Figura 9: Análise de correspondência canônica demonstrando a relação entre as variáveis
ambientais (mesmas da análise anterior) e a distribuição das amostras (quadrantes), identificadas
pelos subgrupos de pesca. Abreviações: AlgaCal= algas calcárias; Lat= latitude; Prof=
profundidade; B e C= grupo de pesca norte; D, E e F= grupo costeiro; G e H= grupo de plataforma
continental interna norte; I=grupo de plataforma continental interna sul; J=quebra de plataforma; L,
M, N e O= talude.
50
Figura 10: Análise de correspondência canônica demonstrando a relação entre a distribuição dos
grupos de pesca e a distribuição das 35 categorias de recursos analisados.
Abreviações: CSeteB= camarão sete-barbas; CRosa= camarão-rosa; CCrist= camarão-cristalino;
Gord= gordinho; Corv= corvina; LingArei= linguado-areia; Emplast= emplastro; Psapo= peixe-
sapo; AbF= abrótea-de-fundo; CongroRo= congro-rosa; Pporco= peixe-porco; PgoRos= pargo-rosa;
CSant= camarão-santana; CBRuça= camarão barba-ruça; Corc= corcoroca; Mmole= maria-mole;
Cast= castanha; Pesc= pescada; PescReal= pescadinha-real; PescAm= pescada-amarela; Ling=
linguado; Ab= abrótea; Bet= betara; B e C= grupo de pesca norte; D, E e F= grupo costeiro; G e H=
grupo de plataforma continental interna norte; I=grupo de plataforma continental interna sul;
J=quebra de plataforma; L, M, N e O= talude.
5. DISCUSSÃO
Examinando o dendrograma resultante da análise de agrupamento, é possível
identificar a existência de 3 grandes domínios geográficos na área de estudo, os quais
demonstram alta dissimilaridade entre si (10% de similaridade). São eles: (a) costeiro –
subgrupos D, E e F; (b) plataforma continental – subgrupos G, H e I; e (c) profundo –
subgrupos L, M, N e O. Estes domínios foram formados com base na distribuição dos
recursos demersais da região Sudeste-Sul do Brasil (entre 18°S e 34°S) e demonstram
marcada variação com as variáveis ambientais analisadas.
O entendimento da relação entre a distribuição das espécies e as variáveis ambientais
é indispensável para a gestão pesqueira em uma abordagem ecossistêmica, pois essas
informações possibilitam a construção de um mapa de hábitats em escalas que são relevantes
para investigações do ecossistema marinho (STUART et al., 2011).
Os resultados da Análise de Correspondência Canônica (CCA) mostraram que 39,7%
da variação total da distribuição dos recursos demersais pode ser explicada pelas variáveis
ambientais, que incluem os estratos de profundidade, tipos de fundo e o gradiente latitudinal.
Segundo Ter Braak (1990), porcentagens de explicação abaixo de 50% são muito comuns
neste tipo de análise (espécie-ambiente), devido à grande parcela de fontes de variação não
controladas e principalmente à variabilidade intrínseca dos ambientes aquáticos.
O primeiro e o segundo eixo da análise mostraram ser altamente correlacionados com
as variáveis profundidade e latitude, respectivamente. Diversos estudos têm demonstrado
que a composição das espécies obedece a uma organização que varia em função das
mudanças nas condições ambientais e de interações biológicas entre populações (BIANCHI,
1992a; BIANCHI, 1992b). No caso dos peixes demersais, a profundidade parece ser o
principal fator estruturante na organização das assembleias (COSTA et al., 2007;
COLLOCA et al., 2003; HAIMOVICI et al., 1994; BIANCHI, 1992a; BIANCHI, 1992b;
BIANCHI, 1991), que pode ocasionar mudanças em outros fatores ambientais tais como
comunidades bentônicas, intensidade de luz e outros (COLLOCA et al., 2003).
Além do gradiente batimétrico, Costa et al. (2007) verificou também que as
assembleias de teleósteos demersais no talude da costa central brasileira puderam ser
associadas a variação latitudinal. De fato, Ávila-da-Silva e Haimovici (2003), detectaram
diferenças marcantes de abundância e de diversidade de espécies entre as áreas Sul (28° a
35°S) e Sudeste (22° a 28°S) do Brasil. Okubo-da-Silva (2007) evidenciou que os
52
organismos bentônicos e demersais da plataforma continental e talude superior do Sudeste
do Brasil estão distribuídos em determinadas faixas batimétricas e latitudinais, destacando
que estes padrões estão normalmente relacionados, entre outros, a temperatura, salinidade e
tipo de sedimento.
Especificamente no domínio de plataforma continental foi possível identificar a
presença de três grandes grupos com um elevado nível de similaridade entre si
(aproximadamente 70%): plataforma continental interna norte, plataforma continental
interna sul e quebra de plataforma. Essa elevada similaridade se traduz em uma grande
quantidade de recursos compartilhados. Entretanto, deve-se ressaltar que alguns constituem
estoques diferentes (p.ex. corvina, com dois estoques, um no Sul e outro no Sudeste -
VAZZOLER, 1991; VAZZOLER et al., 1999), e outros apresentam ocorrência exclusiva
num único grupo (p.ex. camarão-rosa, apenas na plataforma continental interna norte) o que,
associado a características ambientais específicas, poderia justificar sua consideração futura
como unidades espaciais distintas na gestão pesqueira.
Assim, observa-se que a distribuição dos recursos não ocorre de forma homogênea,
mas tem relação direta com as variáveis ambientais, como a profundidade, o gradiente
latitudinal e o tipo de fundo. Segundo Graça-Lopes et al. (2002), a espécie-alvo torna-se a
condicionante para a arte de pesca a ser empregada, as profundidades e as áreas a serem
trabalhadas pelas frotas pesqueiras. Assim, as frotas irão atuar apenas onde as espécies
existirem e as condições ambientais permitirem.
Portanto, com base na integração de todos os resultados, e também em informações
disponíveis na literatura, foi possível identificar a existência de seis áreas principais de pesca,
como pode ser visto na Tabela 8, as quais apresentam características suficientemente
coerentes para serem adotados como uma proposta inicial de gestão espacial pesqueira. Cabe
destacar, entretanto, que estas informações são baseadas apenas na pesca demersal industrial
desembarcada em Santa Catarina, devendo também ser incorporados dados de outros
Estados do Sudeste-Sul do Brasil.
Tabela 10: Unidades de pesca demersal propostas para o Sudeste-Sul do Brasil, com suas respectivas características, baseadas nos resultados do presente
trabalho e informações da literatura.
Grupo de Pesca Profundidade Limites Latitudinais Associação de Recursos Tipo de Fundo * Tipo de Frota
Costeiro Até 30m 25°30’S (Centro-Norte
do PR) a 23°25’S (Norte de SP)
Camarão sete-barbas Areno-lamoso (38,8%)
Lamoso (35,6%) Arenoso (21,0%)
Arrasto Duplo
Plataforma Continental Interna Sul
Até 100m 28°S (Sul de SC)
a 34°S (Sul do RS)
Camarão barba-ruça; camarão santana; abrótea; bagre; betara; castanha; cabra; corcoroca; corvina (estoque Sul); emplastro; espada; garoupa; goete; gordinho; linguado; linguado-areia; maria-mole; papa-mosca; pargo-rosa; peixe-porco; pescada;
pescada-amarela; pescadinha-real; tira-vira
Lamoso (47,9%) Areno-lamoso (23,6%)
Arenoso (21,5%)
Emalhe Fundo; Arrasto Parelha; Arrasto Duplo;
Arrasto Simples
Plataforma Continental
Interna Norte 30 a 100m
28°S (Sul de SC) a 23°S (Sul do RJ)
Camarão-rosa; lula; polvo; abrótea; bagre; cabra; corvina (estoque Sudeste); emplastro; gordinho;
goete; linguado-areia
Arenoso (38,2%) Lamoso (27,2%)
Areno-lamoso (23,9%)
Pote Polvo; Arrasto Duplo; Emalhe Fundo; Arrasto Parelha
Quebra de Plataforma
100 a 250m 23°25’S (Norte de SP) a
34° (Sul do RS) Namorado; camarão-cristalino; congro-rosa; cabra;
emplastro; linguado-areia; abrótea Lamoso (67,2%)
Areno-lamoso (14,4%)
Espinhel Fundo; Arrasto Simples;
Arrasto Duplo
Talude >250m 23°35’S (Norte de SP) a
34°S (Sul do RS)
Abrótea-de-fundo; batata; congro-rosa; galo-de-profundidade**; merluza**; caranguejos-de-profundidade**; camarões-de-profundidade**;
peixe-sapo**; calamar-argentino**.
Lamoso (37,7%) Areno-lamoso (20,1%)
Arenoso (15,9%) Areia e cascalho
biodetrítico (15,6%)
Espinhel Fundo; Arrasto Duplo;
Arrasto Simples; Armadilha
(caranguejos); Emalhe Fundo (peixe-
sapo)
Norte Todos os estratos de profundidade
23°35’S (Norte de SP) ao 22°30’S (Centro do RJ)
Camarão-rosa; namorado; polvo; camarão-cristalino; abrótea-de-fundo
Arenoso (40,4%); Areno-lamoso (24,9%)
Lamoso (15,8%)
Arrasto Duplo; Emalhe Fundo
** Recursos que já apresentam normativas espaciais estabelecidas para sua captura na região. * Os valores que acompanham cada tipo de fundo, referem-se aos percentuais médios de ocorrência amostral dos tipos de fundo predominantes em cada grande unidade de pesca.
54
A unidade de pesca costeira compreende a área entre o centro-norte do Paraná
(25°30’S) e o norte de São Paulo (23°25’S), até 30m de profundidade e composto
predominantemente por fundo areno-lamoso, lamoso e arenoso. A análise do SIMPER
demonstrou que somente o camarão sete-barbas foi responsável pela formação deste grupo,
comprovado pelos mapas de distribuição espacial dos recursos demersais.
De fato, o camarão sete-barbas é uma espécie costeira, que ocorre desde a Virgínia
(EUA) até o Rio Grande do Sul (Brasil) com maior frequência em profundidades inferiores
a 30m, porém, pode ser encontrada até 70m, em fundos de lama ou areia (D’INCAO, 1995).
Sua pescaria envolve uma grande frota, bastante diversificada, com forte segmento artesanal
(SEVERINO-RODRIGUES et al., 1992; D’INCAO et al., 2002). A pesca industrial
direcionada para o camarão sete-barbas mantinha-se monoespecífica e é característica do
Estado de São Paulo (VALENTINI e PEZZUTO, 2006), sendo que sua captura ocorre ao
longo de todo o ano, sendo interrompida somente no período de defeso, que ocorre entre
março e maio de cada ano (BRASIL, 2008). Entretanto, cabe dizer que uma frota industrial
baseada em Santa Catarina também tem tido a espécie como alvo, porém, incorporando
sazonalmente também os camarões barba-ruça e santana como alvos, sobretudo na zona
costeira do Rio Grande do Sul (BENINCÁ, 2013).
Entretanto, segundo os percentuais de ocorrência e captura desembarcada para cada
grupo de associação de recursos, o camarão sete-barbas apresentou maiores valores no grupo
classificado como plataforma continental interna norte, que compreende profundidades entre
30 e 100m. Isso ocorre, pois alguns quadrantes altamente produtivos da espécie,
encontrando-se no limite do grupo costeiro e de plataforma continental norte, foram
classificados pela análise de agrupamento como pertencentes ao segundo grupo, provocando
essa diferença. Assim, embora quase 80% de ocorrência e desembarque do sete-barbas
estejam classificados como plataforma continental interna norte, a análise dos mapas de
distribuição espacial dos recursos demersais demonstra que grande parte de sua frequência
de ocorrência encontra-se nos quadrantes costeiros, em profundidades inferiores a 30m, que
corresponde a sua faixa principal de distribuição.
Essa diferença também pode estar relacionada com a mobilidade das frotas
pesqueiras, fazendo com que muitos quadrantes localizados nesta faixa de profundidade
sejam visitados. Os mapas de distribuição de esforço de pesca demonstraram que a frota de
arrasto-duplo apresentou maior correlação com a área de ocorrência do camarão sete-barbas,
sendo que a captura dos camarões é feita tradicionalmente por esta frota (PEREZ et al., 2001;
VALENTINI e PEZZUTO, 2006).
55
Segundo a matriz de permissionamento de pesca no Brasil, a frota de arrasto-duplo
conta com três tipos de autorização que permitem a sua atuação nas regiões Sudeste-Sul
(BRASIL, 2011): (a) camarão-rosa (Farfantepenaeus brasiliensis e F. paulensis) e captura
incidental; (b) camarão-sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri) e captura incidental e; (c) peixes
demersais. Assim, existe uma frota industrial, neste caso o arrasto-duplo, específica para a
atuação sobre o camarão sete-barbas ao longo da região costeira.
Os camarões santana e barba-ruça, apesar de não terem sido identificados pelo
SIMPER como pertencentes ao grupo costeiro, apresentaram também elevada frequência de
ocorrência, segundo os mapas de distribuição espacial, até a isóbata de 25m, ao longo do
Estado do Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina. O santana distribui-se desde a Praia
do Santana (Espírito Santo) até Santa Cruz (Argentina), com registros de capturas até 100m
de profundidade, em fundos de lama e de areia (D’INCAO, 1995; BERTUCHE et al., 2000),
mas com maiores abundâncias até os 30m de profundidade (PRATA, 2010). O barba-ruça
distribui-se entre a foz do Rio Paraíba do Sul (Rio de Janeiro) e a Província de Chubut
(Argentina), até 125m de profundidade, sendo a faixa preferencial de ocorrência entre 10 e
30m, também em fundos de lama e de areia (D’INCAO, 1995). Apesar de ser um recurso
preferencialmente de região costeira, através dos percentuais de sua ocorrência e captura
desembarcada nos grupos de pesca, observa-se que essas variáveis foram sempre elevadas
(acima de 90%) no domínio de plataforma continental interna sul. Essas duas espécies, ao
contrário do observado para o camarão sete-barbas, apresentam dinâmica sazonal de captura,
o que pode explicar sua fusão com o grupo de pesca de plataforma continental interna sul e,
não, com o grupo costeiro. Tanto o camarão santana como o camarão barba-ruça representam
recursos alternativos para os segmentos produtivos artesanal e industrial do camarão-rosa
(D’INCAO et al., 2002; BENINCÁ, 2013) e do camarão sete-barbas (BENINCÁ, 2013). Em
2001 já houve o reconhecimento da inexistência de frota arrasteira específica atuante sobre
os recursos camarões e outra sobre os peixes demersais, com ambas as frotas atuando sobre
os estoques que estivessem mais disponíveis em determinado momento (PEREZ et al.,
2001). Assim, apesar de serem recursos caracteristicamente costeiros (D’INCAO, 1995), não
possuem frotas com direcionamento contínuo devido à sazonalidade atribuída a sua captura,
sendo recursos alternativos do arrasto duplo permissionado para o camarão-rosa,
principalmente o de conservação a gelo (BENINCÁ, 2013), camarão sete-barbas e para os
peixes demersais.
Além dos camarões santana e barba-ruça, a unidade de plataforma continental interna
sul foi composta por outros 22 recursos, identificados através da integração dos resultados
56
da análise do SIMPER, dos mapas de distribuição espacial dos recursos e dos percentuais de
ocorrência e captura desembarcada para cada grupo identificado na análise de agrupamento,
sendo que esses recursos fizeram com que a unidade de pesca de plataforma continental
interna sul apresentasse o maior grupo faunístico entre todos analisados.
Esta unidade compreende a área que se estende desde a porção Sul de Santa Catarina
(28°S) até o Sul do Rio Grande do Sul (34°S), até 100m de profundidade e formado
predominantemente por fundo lamoso, areno-lamoso e arenoso, permitindo que as frotas de
arrasto duplo, arrasto de parelha, arrasto simples e emalhe de fundo atuem com maior
ocorrência na área. Embora a análise de agrupamento tenha fornecido limite geográfico norte
dessa unidade na latitude 27°S, aproximadamente, parece ser mais coerente estender este
limite para o paralelo 28°S, devido a características oceanográficas e presença de estoques
de espécies reconhecidamente distintos ao norte e ao sul desta latitude. Esse padrão de
diferenciação em dois estoques no Sul e Sudeste do Brasil, com a região próxima ao paralelo
29ºS como sendo uma região limítrofe é comum a espécies como a merluza (VAZ-DOS-
SANTOS et al., 2009), a pescadinha-real (YAMAGUTI, 1979), a castanha (GONZALEZ e
NANI, 1967; YESAKI e BAGER, 1975; HAIMOVICI e COUSIN, 1989; ZANETI PRADO
e VAZZOLER, 1976 apud HAIMOVICI et al., 2006) e a corvina (VAZZOLER, 1991;
VAZZOLER, et al., 1999; VASCONCELLOS, 2012), como serão vistos posteriormente.
A unidade de plataforma continental interna sul está totalmente inserida na
plataforma continental sul brasileira, que compreende a área entre o Cabo de Santa Marta
Grande (28ºS), em Santa Catarina, e o Chuí (34°S), no Rio Grande do Sul. Além disso,
sobrepõe-se exatamente aos limites de um dos Grandes Ecossistemas Marinhos (Large
Marine Ecosystem – LME) definidos para a costa brasileira (HEILEMAN e GASALLA,
2009). Os Grandes Ecossistemas Marinhos (Large Marine Ecosystems – LME) são áreas
relativamente grandes do espaço marinho, de aproximadamente 200.000 km² ou superior,
adjacentes aos continentes em águas costeiras onde a produtividade primária é geralmente
maior do que nas áreas de oceano aberto. Os LMEs produzem anualmente cerca de 80% das
capturas mundiais de peixes marinhos. Sua extensão física e seus limites são baseados em
quatro critérios ecológicos: batimetria, hidrografia, produtividade e relações tróficas. Com
base nisso, 64 LMEs distintos foram delineados em torno das margens costeiras dos Oceanos
Atlântico, Pacífico e Índico (SHERMAN e HEMPEL, 2009), sendo que ao longo da costa
brasileira, são identificados 3 LMEs: a) Plataforma Sul do Brasil; b) Plataforma Leste do
Brasil e c) Plataforma Norte do Brasil (SHERMAN e HEMPEL, 2009) (Figura 11). O LME
denominado Plataforma Sul do Brasil, por sua vez, está subdividido em 3 áreas, sendo: a)
57
plataforma sul (28°-34°S), influenciada por fluxos estuarinos; b) embaiamento sudeste (23°-
28°S), caracterizado por ressurgências sazonais e intrusões frias; e c) talude e sistema
oceânico e sua margem oriental, com a ocorrência de vórtices de meso-escala. Desta forma,
observa-se que a unidade de pesca de plataforma continental interna sul proposta neste
trabalho coincide com as latitudes da porção sul (plataforma sul) do Grande Ecossistema
Marinho de Plataforma Sul do Brasil (GASALLA, 2007 apud HEILEMAN e GASALLA,
2009).
A morfologia da plataforma continental sul é, em geral, bastante homogênea e a linha
de costa pouco recortada (CORRÊA e VILLWOCK, 1996), com os fundos mostrando baixo
gradiente (FIGUEIREDO JR. e TESSLER, 2004) e mudando de arenoso para lamoso
(ROCHA et al., 1975) em aumento da profundidade (HAIMOVICI, 1998), demonstrando
serem áreas bastante favoráveis para a frota de arrasto de fundo (FIGUEIREDO JR. e
TESSLER, 2004). A plataforma continental sul brasileira possui a influência alternada, ao
longo do ano, de massas de águas tropicais (Corrente do Brasil) e subantárticas (Corrente
das Malvinas), que fluem em sentidos opostos. Sua confluência constitui o limite oeste da
Convergência Subtropical do Atlântico Sul e desloca-se sazonalmente entre as latitudes de
30°S (inverno) e 46°S (verão). As águas formadas na Convergência (Águas Centrais do
Atlântico Sul; ACAS) são ricas em nutrientes e, durante o inverno, são encontradas na
margem externa da plataforma sul. Ainda no inverno, as Águas Subantárticas (também ricas
em nutrientes) predominam sobre a plataforma sul, sendo que na porção mais interna se
misturam com águas do estuário do Rio da Plata (Uruguai) e da Lagoa dos Patos (Rio Grande
do Sul) para formar as Águas Costeiras, que também são ricas em nutrientes (ROSSI-
WONGTSCHOWSK e MADUREIRA, 2006).
Desta forma, os processos sazonais de transporte de águas ricas em nutrientes fazem
com que a produtividade primária nessa região seja elevada, permitindo um aumento
significativo na biomassa de peixes demersais e fazendo com que a região apresente as
maiores estimativas brasileiras de potencial pesqueiro (DIAS NETO e MESQUITA, 1988).
Assim, a plataforma continental sul tem características oceanográficas únicas que, associado
a existência de recursos pesqueiros exclusivos, justifica-se por defini-la como uma única
unidade de gestão pesqueira.
Além do camarão santana e camarão barba-ruça que já foram abordados, outras 15
categorias de pescado das 24 identificadas neste grupo, foram classificadas como
predominantes da unidade de plataforma continental interna sul, sendo: betara, castanha,
58
corcoroca, corvina (estoque sul), espada, garoupa, linguado, maria-mole, papa-mosca,
pargo-rosa, peixe-porco, pescada, pescada-amarela, pescadinha-real e tira-vira.
Esses recursos apresentam amplas áreas geográficas de distribuição, entretanto,
demonstram que suas capturas são mais abundantes neste domínio de plataforma continental.
A castanha, por exemplo, ocorre desde o Rio de Janeiro (22°S) até a Argentina (41°S)
(MENEZES e FIGUEIREDO, 1985), da costa até 200m de profundidade. Embora apresente
distribuição contínua, há evidências da existência de dois estoques com pouco intercâmbio
entre si, estando o primeiro, mais abundante e migratório entre a Argentina e o sul do Brasil,
e o segundo, no litoral dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro (GONZALEZ e NANI,
1967; YESAKI e BAGER, 1975; HAIMOVICI e COUSIN, 1989; ZANETI PRADO e
VAZZOLER, 1976 apud HAIMOVICI et al., 2006). É um dos recursos demersais mais
abundantes e explotadas na plataforma continental sul do Brasil (MENEZES e
FIGUEIREDO, 1980; HAIMOVICI et al., 2006), sendo alvo, juntamente com outras
espécies, da frota de emalhe de fundo, do arrasto de parelha e do arrasto simples de peixes
costeiros, embora seja capturada também como fauna acompanhante do arrasto duplo
(BRASIL, 2011). Pio (2011) realizou uma caracterização das pescarias industriais de emalhe
de fundo realizadas ao longo da década de 2000 no Sudeste-Sul do Brasil, de acordo com as
respectivas espécies-alvo, capturas incidentais, petrechos e áreas de pesca. Destacou a
existência de 5 grupos de pesca, sendo que em um deles, a castanha foi a principal espécie-
alvo, capturada com tamanho de malha de 100mm, e apresentando como principal área de
atuação a região entre o sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul entre a plataforma
interna e externa (PIO, 2011). Desta forma, parece claro que a frota catarinense tem atuado
predominantemente sobre o estoque de castanha localizado na plataforma continental interna
sul. Entretanto, o estoque Sudeste não deve ser desconsiderado, demonstrando a importância
de adotar medidas de manejo diferenciadas entre a região Sudeste e a Sul.
A corvina, apesar de surgir como espécie compartilhada entre os subgrupos de
plataforma continental do Sudeste-Sul do Brasil, compreende dois estoques distintos: um
situado entre 23˚S e 29˚S (estoque Sudeste), e outro, entre 29°S e 33°S (estoque Sul)
(VAZZOLER, 1991; VAZZOLER et al., 1999; VASCONCELLOS, 2012). É uma espécie
de ampla distribuição geográfica, característica das regiões tropical e subtropical. Ocorre
desde a Península de Yucatán, ao longo das Antilhas, até o Golfo de San Matias, na
Argentina (CERVIGÓN, 1993). Trata-se de uma espécie demersal de hábitos costeiros,
encontrada em fundos de areia e lama, principalmente em profundidades de até 60m e, em
menor proporção, até os 100m (MENEZES e FIGUEIREDO, 1980). É encontrada em toda
59
a costa brasileira, sendo abundante nas regiões Sudeste-Sul, constituindo a parcela comercial
mais importante entre os peixes demersais desembarcados pela frota industrial (DIAS e
PEREZ, 2012; CARNEIRO et al., 2005). Assim, apesar de distribuir-se por toda a
plataforma continental interna do Sudeste-Sul, a identificação da existência de dois estoques
distintos na área justificaria que a espécie fosse tratada de maneira diferenciada no processo
de gestão pesqueira, tornando, assim, o estoque sul exclusivo do grupo de pesca de
plataforma continental interna sul. É considerada um dos alvos mais importantes da frota de
emalhe de fundo, sendo capturada também pelas frotas arrasteiras de parelha, simples (pesca
costeira) e duplo, sendo espécie-alvo também para as duas primeiras (BRASIL, 2011).
A maria-mole distribui-se no Atlântico Sul Ocidental desde o litoral do Rio de
Janeiro, Brasil (22˚S) até o Golfo de San Matias, Argentina (43˚S) (MENEZES e
FIGUEIREDO, 1980). Adultos desta espécie, no sul do Brasil, ocorrem em águas costeiras,
geralmente em profundidades inferiores a 50m, embora alguns exemplares grandes sejam
capturados até 150m (HAIMOVICI et al., 1994; HAIMOVICI et al.,1996). São capturadas
principalmente pelas frotas de arrasto (BRASIL, 2011).
A pescada-amarela ocorre em todo o litoral brasileiro, comum nas águas salobras dos
estuários, lagoas estuarinas e desembocaduras dos rios. Habita áreas de lama, areia ou
cascalho, entre 1 a 35m (GEP/ UNIVALI, 2014).
O papa-mosca, distribui-se do Rio de Janeiro, Brasil (22°S) até a Patagônia,
Argentina (42°S), sendo mais abundante no sul. É um peixe de hábito demersal que
vive sobre fundos moles (HAIMOVICI et al., 2008).
O pargo-rosa tem uma ampla distribuição em ambas as margens do oceano Atlântico
e Mediterrâneo. No Brasil, é pescado comercialmente entre o Rio Grande do Sul e o Espírito
Santo (COSTA et al., 1997; HAIMOVICI et al., 2004), até 200m de profundidade (ÁVILA-
DA-SILVA e HAIMOVICI, 2006), por diferentes frotas pesqueiras, sendo realizada
principalmente pela frota de linheiros e como fauna acompanhante da frota de arrasto e de
armadilhas (COSTA et al., 1997).
O mesmo acontece com o peixe espada, que na região Sudeste-Sul do Brasil não é alvo
de uma pescaria dirigida, sendo capturada por quase todas as frotas, ocorrendo
principalmente em arrasto e cerco da pesca comercial (MAGRO, 2005).
O peixe-porco é uma espécie de ampla distribuição geográfica (CASTRO et al., 2005),
com indivíduos adultos sendo encontrados em profundidades que variam de 6 a 100m
(AIKEN, 1983). Na costa brasileira, é abundante do sul da Bahia até o Rio Grande do Sul,
sendo bastante comum nas costas do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo (CASTRO
60
et al., 2005), onde a pesca é mais intensa. Entretanto, neste trabalho, apresentou ocorrência
e desembarques mais elevados na plataforma continental interna sul. Possivelmente, isto
esteja relacionado a ausência de frotas catarinenses direcionadas para a captura desta espécie
na porção Sudeste, estando, por outro lado, atuando mais frequentemente na plataforma
continental interna sul, explicando seus maiores valores para o grupo sul da plataforma
continental, tornando-a, assim, uma espécie característica deste domínio de pesca, tendo em
vista os desembarques da frota catarinense.
A pescadinha-real distribui-se no Atlântico Ocidental desde a Venezuela até a
Argentina (YAMAGUTI, 1979) e ocorre em profundidades de até 60m, sendo mais comum
até os 30m (MENEZES e FIGUEIREDO, 1980). Na região Sudeste-Sul do Brasil, esta
espécie caracteriza-se por quatro populações distintas, baseados em diferenças entre
caracteres merísticos, morfométricos e principalmente nas diferenças morfológicas dos
otólitos: 1) litoral do Estado do Espírito Santo; 2) entre Atafona (norte do Cabo de São Tomé)
e Cabo Frio; 3) no litoral dos Estados de São Paulo, Paraná e norte de Santa Catarina; e 4)
no litoral do Estado do Rio Grande do Sul (YAMAGUTI, 1979). Assim, os desembarques
de pescadinha-real neste trabalho, parecem estar representados apenas pelo seu estoque sul,
tornando esta espécie exclusiva deste domínio de plataforma continental. Segundo Carneiro
e Castro (2005), produções de Santa Catarina e Rio Grande do Sul correspondem a 50-75%
do volume desembarcado anualmente desta espécie, destacando para o estoque sul ser o mais
abundante e produtivo. Entretanto, embora a presença desta espécie na plataforma
continental Sudeste tenha sido mínima através dos dados pesqueiros de Santa Catarina, a
presença de quatro estoques, assim, como ocorre com a corvina, reforça a ideia da subdivisão
latitudinal da plataforma.
Além destas espécies que foram citadas como sendo bastante característica da
unidade pesqueira de plataforma continental interna sul, outras apresentam-se como recursos
compartilhados com a unidade de plataforma continental interna norte, como a abrótea, o
bagre, a cabra, o emplastro, o goete, o gordinho e o linguado-areia. Algumas destas, ainda,
também são compartilhadas com o grupo de quebra de plataforma.
Estes recursos além de apresentar amplas distribuições geográficas, sendo
encontradas também em todo o litoral Sudeste-Sul do Brasil (FIGUEIREDO e MENEZES,
1980), são capturados por diversos petrechos que atuam em toda a área de plataforma
continental, sendo definidas como fauna acompanhante previsível, conforme Instrução
Normativa n° 10 de junho de 2011 (BRASIL, 2011), embora, alguns deles sejam
identificadas como alvos-massivos de determinados grupos de frotas, como a cabra e a raia
61
emplastro juntamente com o linguado, a castanha e a maria-mole para a frota de arrasto duplo
com alvo nos peixes demersais costeiros ao longo dos anos 2010 a 2012 (DIAS e PEREZ,
2012). Desta forma, tornam-se relevantes em toda a área, pois, mesmo que não tenham
direcionamento específico de pesca, compõem a captura acompanhante da maioria das frotas
atuantes na plataforma continental da região Sudeste-Sul, dada a característica
multiespecífica das frotas.
A cabra, por exemplo, ocorre da América Central até a Argentina e é capturada desde
a zona costeira até profundidades de 190m, com predomínio entre 10 e 80m (FIGUEIREDO
e MENEZES, 1980), em fundos de areia, em poças entre marés e perto de águas estuarinas
(FIGUEIREDO e MENEZES, 1980; MAGRO et al., 2000). A espécie é bastante frequente
nas capturas das frotas de arrasto de fundo (HAIMOVICI e MENDONÇA, 1996), que
ocorrem normalmente entre 23˚e 34˚S (norte de São Paulo ao sul do Rio Grande do Sul), em
águas relativamente rasas (menores que 120m) (HAIMOVICI et al., 1994).
A abrótea distribui-se entre o Rio de Janeiro e Argentina (FIGUEIREDO e
MENEZES, 1980), em áreas com até 220m de profundidade (HAIMOVICI et al., 1994;
HAIMOVICI et al., 1996), sendo suas capturas frequentes pelas frotas de arrasto de fundo
(duplo, simples e parelhas) durante todo o ano (ANDRADE et al., 2005).
O goete é uma espécie demersal costeira, habitando fundos lodosos, arenosos e de
areia fina, em profundidades que podem chegar até 100m. Tem sua distribuição no Atlântico
oeste, desde o Panamá até a Argentina (FIGUEIREDO e MENEZES, 1980). No Brasil,
estudos da variabilidade de caracteres morfométricos do goete na região Sudeste e Sul
(SPACH e YAMAGUTI, 1989a), juntamente com trabalhos complementares sobre
caracteres merísticos (SPACH e YAMAGUTI, 1989b) e otólitos (SPACH e YAMAGUTI,
1989c), sugerem que sua variabilidade observada entre as duas regiões seja de natureza
clinal, com séries de populações contiguas gradualmente distintas no sentido latitudinal. Esta
clinalidade nos caracteres fenotípicos é um provável reflexo das distintas condições
oceanográficas prevalecentes na região Sudeste-Sul, não havendo evidências de contribuição
genotípica para a variabilidade da espécie na região (SPACH e YAMAGUTI, 1989a).
Configura-se como uma espécie comum nas pescarias de arrasto da região Sudeste
(CASTRO et al., 2005a). Entretanto, através dos mapas de distribuição espacial e do
percentual de ocorrência observa-se que esta espécie apresentou valores similares em ambos
os grupos de plataforma continental interna (norte e sul), sendo confirmada pela análise do
SIMPER e considerada aqui como espécie compartilhada entre as duas áreas e devendo ser
tratada como uma única espécie na região em estudo.
62
Observa-se que a distribuição das espécies é resultado além das características
preferenciais de habitat, como o tipo de fundo, como também reflexo das áreas de atuação
das frotas. Dado o caráter multiespecífico das pescarias atuais, mesmo com autorizações de
pesca específicas, acabam capturando outras espécies que não as que estão direcionadas,
sendo que, de modo geral, uma frota tende a explotar diversos estoques e, diferentes frotas
competem na explotação dos mesmos recursos (SPARRE e VENEMA, 1997; SOUZA,
2007).
O arrasto duplo, por exemplo, foi a frota que apresentou maior atuação na área de
estudo, estando presente em todos os estratos de profundidade, desde o Rio Grande do Sul
até o Espírito Santo. Entretanto, seus esforços estiveram concentrados principalmente entre
São Paulo e Rio Grande do Sul, até cerca de 100m de profundidade. Esta frota foi a mais
numerosa operando nos portos do Estado de Santa Catarina, com 277 embarcações em 2010
(41% do total de barcos observados) (UNIVALI/ CTTMar, 2011) e 276 embarcações em
2012, representando 39% dos barcos operando no período (UNIVALI/ CTTMar, 2013).
Apesar de haver autorizações específicas de espécies para a pesca de arrasto-duplo, segundo
sua matriz de permissionamento (BRASIL, 2011), não existe qualquer restrição de área ou
estratos batimétricos para sua atuação, indicando que, a frota pode atuar em qualquer área e
em qualquer profundidade, demonstrando padrões de direcionamento associados à
distribuição espaço-temporal de espécies que possuem interesse comercial.
A pesca de arrasto de parelha é uma das mais tradicionais no segmento industrial da
região Sudeste-Sul do Brasil (VALENTINI e PEZZUTO, 2006). Trata-se
caracteristicamente de uma pescaria multiespecífica, com estratégia de pesca sabidamente
costeira e com alvos nos peixes demersais de plataforma interna, em todos os estados do
Sudeste-Sul (PEREZ et al., 2007).
A pesca de arrasto simples de fundo, assim como a maior parte das pescarias de
arrasto direcionadas aos peixes diversos, apresenta múltiplos alvos de pesca, muitos dos
quais obedecem padrões sazonais de abundância (DIAS et al, 2012). Os arrasteiros simples,
historicamente atuantes no Rio Grande do Sul, compunham, juntamente com as parelhas, a
frota dedicada à captura de peixes costeiros. Entretanto, mais recentemente com o avanço da
pesca demersal para áreas de plataforma externa e talude, foi observado o seu
direcionamento para outras espécies-alvo, representadas principalmente, por recursos
anteriormente inexplotados ou subexplotados, como a merluza, peixe-sapo, abrótea-de-
fundo, calamar-argentina e galo-de-profundidade (PEREZ et al., 2001).
63
O emalhe-de-fundo é um petrecho de pesca passivo, em que a captura ocorre através
da retenção dos peixes nas malhas da rede. São aparelhos que podem ser utilizados desde
áreas próximas à costa ou em alto mar, sendo considerado um dos mais seletivos quanto ao
tamanho e espécie de pescado capturado, uma vez que além do local de pesca pode-se
escolher o tamanho da malha de acordo com a espécie-alvo (ÁVILA-DA-SILVA e PAIVA,
2011). Entretanto, as frotas de emalhe são compostas por um número significativo de
embarcações e apresentam características multiespecíficas que acabam explorando uma
grande diversidade de estoques (CERGOLE et al., 2005), sendo que ao longo da década de
2000, Pio (2011) destacou a existência de 5 grupos de pesca de emalhe de fundo, com
características peculiares de espécies-alvo, fauna acompanhante, petrechos de pesca e áreas
de atuação, indicando a possibilidade de se adotá-las como unidades de manejo específicas
(PIO, 2011).
Apesar de algumas espécies apresentarem a característica de compartilhamento entre
todos os subgrupos de plataforma continental, examinando-os individualmente, observa-se
que apresentam algumas espécies exclusivas. Ávila-da-Silva e Haimovici (2003), através da
prospecção pesqueira demersal na região Sudeste-Sul do Brasil com espinhel de fundo,
detectaram diferenças marcantes de abundância e de diversidade de espécies entre as áreas
Sul (28° a 35°S) e Sudeste (22° a 28°S) do Brasil, demonstrando que essa variação esteve
provavelmente associada às características do sedimento de fundo marinho.
A plataforma continental interna sul constituiu o domínio com a maior associação de
recursos pesqueiros, sendo que, alguns deles também foram identificados como pertencentes
ao domínio faunístico da plataforma continental interna norte e também da quebra de
plataforma.
O grupo de plataforma continental interna norte, localizado entre 28°S (Sul de Santa
Catarina) e 23°S (Sul do Rio de Janeiro), e entre 30 e 100m de profundidade, apesar de
compartilhar muitas espécies com a porção sul da plataforma, apresenta características, tanto
de exclusividade de espécies como oceanográficas e tipo de fundo, que fazem com que
também sejam consideradas como uma unidade de gestão pesqueira distinta.
A Plataforma Continental Sudeste do Brasil, que compreende a área entre Cabo Frio
(Rio de Janeiro) e Cabo de Santa Marta Grande (Santa Catarina), apresenta processos
oceanográficos bem conhecidos e diferentes da plataforma sul brasileira, como ressurgências
costeiras, durante o verão austral, a formação de meandros e vórtices pela Corrente do Brasil
e o estabelecimento da Corrente Costeira do Brasil durante o inverno (CASTRO et al., 2006).
Sua morfologia também é distinta, sendo mais heterogênea e apresentando uma linha de
64
costa mais recortada (CORRÊA e VILLWOCK, 1996), constituindo, assim, um ambiente
altamente dinâmico.
Além disso, como citado anteriormente e da mesma forma que a sua porção sul, a
unidade de gestão pesqueira de plataforma continental interna norte proposta coincide com
os limites latitudinais da subárea classificada como embaiamento sudeste do Grande
Ecossistema Marinho de Plataforma Sul do Brasil (LME de Plataforma Sul do Brasil), que
compreende a área entre 23°-28°S e é caracterizada por ressurgências sazonais e intrusões
frias (GASALLA, 2007 apud HEILEMAN e GASALLA, 2009).
Através da análise do SIMPER, dos mapas de distribuição espacial dos recursos
demersais e dos seus percentuais de ocorrência e desembarque para cada grupo gerado pela
análise de agrupamento, observa-se que os recursos corvina (estoque Sudeste), lula, polvo,
camarão-rosa, abrótea, bagre, cabra, emplastro, gordinho, goete e linguado-areia
constituíram o domínio faunístico da plataforma continental interna norte.
Como já destacado, apesar da corvina ter se apresentado como espécie compartilhada
pela análise do SIMPER, apresenta-se como dois estoques distintos na região Sudeste-Sul
do Brasil, devendo, assim, ser tratados de forma diferenciadas na gestão de cada área.
Identificada como importante espécie-alvo de uma das frotas de emalhe de fundo,
representou ao longo da década de 2000, a pescaria mais abundante em volume
desembarcado e esforço de pesca, em número de viagens, dentre todas as analisadas (PIO,
2011).
A lula é um recurso costeiro de águas quentes. No Brasil é pescada
principalmente nas regiões Sudeste-Sul, tanto artesanalmente, bem próximo à costa,
como fauna acompanhante na pesca industrial de arrasto duplo dirigida a camarões. No
verão existe uma pescaria dirigida a este recurso, especialmente no estado de Santa Catarina,
incluindo arrasto com parelhas (PEREZ e PEZZUTO, 1998; PEREZ, 2002),
simples e duplo (BRASIL, 2011). De fato, apresentou frequência de ocorrência maior ao
longo do Estado de Santa Catarina, entre 25 e 50m de profundidade, aproximadamente. E
considerando os grupos de pesca, seu percentual de ocorrência e captura desembarcada foi
sempre maior no domínio de plataforma continental interna norte, sendo que o arrasto duplo
foi a frota que apresentou correlação mais positiva com esta espécie.
O polvo é um recurso com ampla distribuição geográfica, sendo especialmente
abundante no Mar Mediterrâneo e no Leste do Atlântico (MOREIRA, 2008). Dados
moleculares obtidos por Moreira (2008) indicam a presença de duas espécies de Octopus
para a costa atlântica brasileira. Uma, classificada como Octopus insularis distribuída na
65
região Nordeste (LEITE et al., 2008) e outra, o Octopus vulgaris, habitante das regiões
Sudeste-Sul da costa brasileira (HAIMOVICI e PEREZ, 1991), sobretudo entre 30 e 150m
de profundidade (TOMÁS, 2002). No presente trabalho, este recurso esteve concentrado
principalmente entre o norte de Santa Catarina e o norte do Paraná, em profundidades de 25
a menos de 100m. Esteve correlacionado principalmente com a frota de potes para polvo e
também arrasto duplo.
A frota de pote para polvo, que demonstrou a menor área de atuação e o menor
número de viagens realizadas, esteve concentrada principalmente ao longo de Santa
Catarina, até aproximadamente 100m de profundidade. Sendo o polvo o recurso dominante
de captura desta frota, representando 99,6% da produção total em 2010 e 2011 (UNIVALI/
CTTMar, 2011, 2013), a principal área de ocorrência da frota neste trabalho coincide com a
porção sul da Área II estabelecida pela Instrução Normativa n° 26, de dezembro de 2008.
Esta normativa estabelece critérios e procedimentos para a pesca de polvo através de
armadilhas do tipo vasos ou potes abertos na região Sudeste-Sul do Brasil, sendo que pode
ser realizada a profundidades mínimas de 70m, em duas áreas distintas: (a) Área I, limitada
ao norte pela divisa dos Estados da Bahia e Espírito Santo e ao sul pela divisa dos Estados
do Paraná e Santa Catarina; (b) Área II, limitada ao norte pela divisa dos Estados do Paraná
e Santa Catarina e ao sul, referente a divisa do Brasil com Uruguai (BRASIL, 2008a).
O camarão-rosa é representado pelas espécies Farfantepenaeus brasiliensis e
Farfantepenaeus paulensis. A primeira apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo
desde a Carolina do Norte (EUA) até a costa norte do Rio Grande do Sul (Brasil), de águas
rasas até 366m, sendo mais frequente até 60m de profundidade. Na região Sudeste-Sul do
Brasil, é mais abundante na região de Cabo Frio (RJ) e em Santos e Cananéia (SP)
(D’INCAO, 1995; LEITE JR. e PETRERE JR., 2006). A segunda espécie possui uma
distribuição mais restrita, desde Ilhéus (Bahia, Brasil) até o litoral de Mar del Plata (Buenos
Aires, Argentina). É encontrada desde águas rasas até 150m de profundidade, com maiores
incidências entre 40 e 80m. Na plataforma continental, duas áreas de elevada abundância
foram reconhecidas, sendo uma em Santa Catarina e outra entre Santos e Ilha de São
Sebastião (SP). No Rio Grande do Sul, a pesca é restrita apenas a juvenis e subadultos no
interior da lagoa dos patos (D’INCAO, 1995; ALMEIDA e D’INCAO, 1999; LEITE JR. e
PETRERE JR., 2006). Assim, observa-se que a pesca comercial do camarão-rosa se dá
basicamente na plataforma continental interna da região Sudeste, sendo realizada através do
arrasto duplo que demonstrou maior atuação na área. Segundo Dias et al. (2012), a frota de
arrasto duplo direcionada ao camarão-rosa representou o maior esforço de pesca dentre todas
66
as frotas de arrasto costeiro, entre os anos 2010 e 2012. Após os períodos de defeso, o esforço
de pesca elevado provoca uma aparente depleção nos estoques de camarão-rosa em pouco
menos de seis meses, sendo que os baixos rendimentos tendem a motivar a frota camaroneira
a intensificar suas operações em áreas de quebra de plataforma, tendo por alvo peixes
demersais, o camarão-cristalino e o pitu.
O estado crítico dos estoques de camarão-rosa determinou uma situação de crise na
pescaria industrial, cuja sustentação econômica está sendo mantida pelo direcionamento do
esforço de pesca a outros recursos demersais, costeiros e de profundidade, convertendo sua
tradicional atividade mono em multiespecífica (D’INCAO et al. 2002; VALENTINI e
PEZZUTO, 2006).
Como já abordado, o domínio de plataforma continental interna norte apresenta além
do camarão-rosa, a lula, o polvo e a corvina (estoque Sudeste), os recursos abrótea, bagre,
cabra, emplastro, gordinho, goete e linguado-areia que constituem como recursos
compartilhados entre os dois domínios de plataforma continental interna (norte e sul), sendo
que são capturas frequentes da fauna acompanhante, pelas frotas de arrasto de fundo,
principalmente duplo e parelhas, e também do emalhe de fundo (BRASIl, 2011).
O domínio de pesca de quebra de plataforma compreende a área desde o norte do
Estado de São Paulo (23°25’S) até o sul do Rio Grande do Sul (34°S), entre 100 e 250m de
profundidade. Segundo a análise de agrupamento, este grupo foi classificado como
pertencente somente a área ao sul de Santa Catarina. Entretanto, embora seja menos marcada
e quase imperceptível em alguns perfis, como nas proximidades de Cabo Frio (RJ) e Cabo
de Santa Marta Grande (SC), a quebra de plataforma da região Sudeste-Sul é bastante visível,
situando-se entre 120 e 150m ao norte de Santos, e em torno de 200m ao sul (COOKE et al.,
2007). Assim, esta área foi reclassificada, estendendo seu limite para a porção norte da área
de estudo.
A análise do SIMPER identificou 16 recursos como constituintes desse grupo de
pesca, sendo que a maioria deles apresentam características de distribuição mais costeira.
Assim, através da integração da análise do SIMPER, dos mapas de distribuição dos recursos
pesqueiros, dos percentuais de ocorrência e de captura desembarcada e também de
informações disponíveis na literatura, foram definidas como recursos pertencentes ao
domínio faunístico de quebra de plataforma o namorado, o camarão-cristalino, o congro-
rosa, a cabra, a raia emplastro, o linguado-areia e a abrótea, sendo estes quatro últimos
compartilhados com os domínios de plataforma continental interna (norte e sul) e o congro-
67
rosa com o domínio de talude, evidenciando, desta forma, a característica transicional desta
área de pesca.
O namorado Pseudopercis numida possui distribuição restrita ao Sudeste da costa
brasileira, desde o Rio de Janeiro até a costa de Santa Catarina (MENEZES e FIGUEIREDO,
1985; HAIMOVICI et al., 1996; ROSA e ROSA, 1997). Existe uma outra espécie de
namorado Pseudopercis semifasciata (Cuvier, 1829), que se distribui da costa do Estado de
São Paulo até a Argentina. Habita regiões mais costeiras, podendo chegar até 100m de
profundidade (ROSA e ROSA, 1997). Entretanto, esta espécie não é comum em águas
brasileiras, mas é uma espécie comercialmente importante na Argentina (MENEZES e
FIGUEIREDO, 1985). Assim, este trabalho segue a identificação adotada pelo
GEP/UNIVALI como sendo da espécie P. numida.
É um peixe demersal não-migratório de águas tropicais, endêmica da ictiofauna
marinha brasileira (MENEZES e FIGUEIREDO, 1985). Habita substratos de areia, cascalho
e rocha, em profundidades entre 15 e 300 metros (PAIVA e ANDRADE-TUBINO, 1998;
LUQUE et al., 2008), mas com maior ocorrência em águas entre 100 e 300 metros (ROSA
e ROSA, 1997; PAIVA e ANDRADE-TUBINO, 1998). Como recurso característico de
quebra de plataforma, o namorado é uma espécie considerada alvo da pescaria de espinhel-
de-fundo (BRASIL, 2011).
O espinhel-de-fundo é definido como um método de pesca passivo, adequado para
capturar peixes com distribuição dispersa ou com baixa densidade, além de ser possível
utilizá-lo em áreas irregulares ou em grandes profundidades (ÁVILA-DA-SILVA, 2001).
Demonstrou frequente sobreposição com as frotas de arrasto duplo e arrasto simples, com
ocorrência predominante entre 100 e 500m de profundidade, desde o norte de Santa Catarina
ao sul do Rio Grande do Sul.
O congro-rosa, ocorre do Rio de Janeiro até o Golfo de San Matias, na Argentina,
entre 100 e 500m de profundidade, vivendo em fundos com sedimento fino (FIGUEIREDO
e MENEZES, 1978), sendo que os indivíduos menores, com baixo valor comercial, se
distribuem preferencialmente sobre a plataforma externa e na quebra de plataforma, e os
maiores se distribuem sobre o talude superior, entre 200 e 400m de profundidade
(HAIMOVICI et al., 2008). Sua captura ocorre principalmente através do arrasto-duplo e
em incursões pontuais através do arrasto-simples (DIAS et al., 2012a), como também através
de emalhe de fundo e espinhel de fundo (BRASIL, 2011).
Através da caracterização da composição e dinâmica da frota de arrasto duplo e
arrasto simples na área de talude do Sudeste-Sul do Brasil, Dias et al. (2012a) verificaram
68
que entre os anos 2010 e 2012 as espécies camarão-cristalino, pitu, linguado-areia,
emplastro, castanha, cabra, abrótea, maria-mole e congro-rosa foram os principais
componentes das viagens de pesca realizadas basicamente por arrasteiros duplos, com raras
ocorrências de arrasto-simples, em profundidades em torno de 100m (DIAS et al. 2012a).
A pesca do camarão-cristalino tem sido realizada basicamente por arrasteiros duplos,
tradicionalmente atuantes na pesca de outros camarões costeiros (camarão-rosa, camarão
sete-barbas, camarão-santana e camarão-barba-ruça), que direcionam-se para áreas de
quebra de plataforma em geral quando os rendimentos dos seus recursos-alvo tradicionais
encontram-se baixos (DIAS et al., 2012b; BRASIL, 2011), tendo concentrado suas viagens
de pesca nos quartos trimestres, provavelmente associado à queda nos rendimentos do
camarão-rosa, e também nos meses de defeso dos camarões costeiros, novamente
caracterizando a pescaria como recurso alternativo (DIAS et al., 2012b).
Os fundos de pesca visitados pela frota arrasteira atuante na captura do camarão-
cristalino, que ocorre junto com o lagostim ou pitu (Metanephrops rubellus), estão
localizados preferencialmente entre o sul do Estado de São Paulo e o norte de Santa Catarina
(DIAS et al., 2012b), coincidindo com os resultados do presente trabalho, em profundidades
basicamente restritas à estreita faixa entre 100 e 140m (DIAS et al., 2012b), sendo que não
foram registradas viagens de pesca ao sul de Santa Catarina (DIAS et al., 2012b).
O sedimento predominantemente lamoso identificado através do percentual médio
de frequências de amostras para o domínio de quebra de plataforma, possibilita a atuação de
todas estas frotas, principalmente para a frota arrasteira. Apesar disso, foi verificada uma
concentração considerável de amostras de recife entre 100 e 200m de profundidade em frente
ao Estado de Santa Catarina, que pode ser decisivo ao direcionamento das frotas para esta
área de pesca, excluindo, de imediato, a atuação das frotas de arrasto. Figueiredo Jr. e Tessler
(2004) através de informações do gradiente de talude, granulometria e composição do
sedimento, apresentaram algumas áreas de pesca, em caráter de sugestão, apropriadas (ou
não) para a atuação das frotas de arrasto-de-fundo e também de espinhel-de-fundo.
Verificaram que as áreas mais favoráveis para a utilização dos espinheis-de-fundo na região
sul, e que não foram favoráveis ao arrasto, estariam localizadas ao largo de Florianópolis e
Laguna, em Santa Catarina, entre 100 e 300m de profundidade, pois nessas áreas existem
elevações do fundo marinho, resultantes do afloramento de rochas do embasamento, que os
autores atribuíram em favor da atuação do espinhel de fundo, por servir como atratores de
peixes e outros recursos vivos, e também pela presença de concheiros, impossibilitando,
assim, a atuação da frota de arrasto de fundo (FIGUEIREDO JR. e TESSLER, 2004). Estes
69
autores também destacaram áreas não favoráveis ao arrasto de fundo, em frente à cidade de
Rio Grande e Chuí, ambos no Rio Grande do Sul, a partir dos 100m de profundidade (quebra
de plataforma), devido a verificação de um gradiente elevado do talude. Esta região figura
entre as mais íngremes do talude continental do Sudeste-Sul do Brasil (entre Cabo de São
Tomé e Chuí), apresentando gradientes entre 1:13 e 1:8 (FIGUEIREDO JR. e TESSLER,
2004).
O domínio de talude, que compreende a área de estratos de profundidades maiores
que 250m, entre 23°35’S, no norte de São Paulo, e 34°S, sul do Rio Grande do Sul, esteve
formado principalmente pela abrótea-de-fundo e batata que apresentaram os maiores
percentuais de contribuição pela análise do SIMPER. Essas duas espécies foram as únicas
que apresentaram também os maiores percentuais de ocorrência para este grupo, além de
estar claro sua distribuição em áreas mais profundas pelos mapas de distribuição espacial.
A abrótea-de-fundo é um peixe de ampla distribuição, ocorrendo no Atlântico
Ocidental entre o Golfo do México e a Argentina (HAIMOVICI et al., 2004a),
principalmente nas regiões de plataforma externa e talude superior (PEREZ e PEZZUTO,
2006; HAIMOVICI et al., 2008) acima de 200m, sendo rara sua ocorrência em
profundidades inferiores a 60m (HAIMOVICI et al., 2008). Essa espécie ocupou o primeiro
lugar em número (45,8%) e o segundo lugar em peso (18,8%), do total de capturas demersais
levantadas entre 100 e 500m com espinhel-de-fundo no Sudeste-Sul do Brasil (ÁVILA-DA-
SILVA E HAIMOVICI, 2003). Ocorreu em todas as faixas de profundidade, entretanto, foi
mais abundante a partir de 250m (ÁVILA-DA-SILVA e HAIMOVICI, 2003), demonstrando
ser uma das espécies mais abundantes no talude superior do Sudeste-Sul do Brasil
(HAIMOICI et al.,2004).
O peixe-batata é uma espécie demersal que habita o oceano Atlântico Sul Ocidental
e cuja distribuição abrange desde o Rio Grande do Norte até o Uruguai, atingindo
provavelmente o norte da Argentina (MENEZES e FIGUEIREDO, 1980; ALENCAR et al.,
1998). Nos levantamentos pesqueiros realizados com espinhel-de-fundo pelo programa
REVIZEE (HAIMOVICI et al., 2003) entre o Rio de Janeiro e Chuí, foi capturado
principalmente entre as profundidades de 200 e 400m, ao longo de toda a área, sendo que
foi a principal espécie capturada em peso (28,4%) e a terceira em número (10,8%).
Além da abrótea-de-fundo e do peixe-batata, outras espécies também contribuíram
para a formação do grupo de talude, segundo a análise do SIMPER, como o peixe-sapo,
merluza e congro-rosa. Embora não tenha sido realizado análise espacial sobre os
caranguejos-de-profundidade e os camarões-de-profundidade, principalmente devido à
70
ausência de dados para o período em estudo, informações disponíveis na literatura deixam
claro que estas espécies também são características deste domínio de pesca (PEZZUTO et
al., 2006; DALLAGNOLO et al., 2009), inclusive já incorporadas na legislação pesqueira,
como é o caso dos caranguejos (BRASIL, 2008c; BRASIL, 2008d). O mesmo ocorre com o
galo-de-profundidade e o calamar-argentino, que não foram incluídos nas análises do
presente trabalho mas aparecem juntamente com a abrótea-de-fundo e a merluza em
Instrução Normativa que estabelece os procedimentos para o ordenamento da pesca
multiespecífica de arrasto de talude superior (250 a 500m), nas regiões Sudeste-Sul do Brasil
(BRASIL, 2008b). Desta forma, também são incluídos ao domínio faunístico do talude junto
com a abrótea-de-fundo, o batata, a merluza, o peixe-sapo e o congro-rosa, as espécies de
caranguejos-de-profundidade, camarões-de-profundidade, o galo-de-profundidade e o
calamar-argentino.
O peixe-sapo e a merluza, apesar de surgirem também como uma espécie de domínio
de plataforma continental interna através da análise do SIMPER e também pelos mapas de
distribuição de frequência de ocorrência, estudos tem demonstrado que são espécies típicas
do domínio profundo, e que de fato, neste trabalho demonstraram percentuais de captura
desembarcada maiores no grupo de talude.
A merluza se distribui desde o sul da Argentina, na Patagônia (54˚S), até o sul do
Estado Espírito Santo (21˚S) (FIGUEIREDO e MENEZES, 1978), embora apresente dois
estoques distintos: um denominado Sudeste, que se distribui entre 21°S-29°S, e outro Sul,
entre 29°S-34°S, este último compartilhado com o Uruguai e a Argentina (VAZ-DOS-
SANTOS et al., 2009). É pescada entre as isóbatas de 20 e 700m, porém, mostra-se
abundante no talude superior, a partir dos 300m de profundidade (VAZ-DOS-SANTOS e
ROSSI-WONGTSCHOWSKI, 2005), o qual vem sendo objeto de intensa pesca (PEREZ et
al., 2003) pela frota de arrasto simples. Neste caso, sua pescaria ocorre juntamente com a
abrótea-de-fundo, o calamar-argentino e o galo-de-profundidade, através de autorização de
pesca específica para atuar ao sul de 21°S, em profundidades entre 250 e 500m (BRASIL,
2008b).
O peixe-sapo é uma espécie bentônica que habita a plataforma continental e o talude
superior do Oceano Atlântico Ocidental, ocorrendo desde a Carolina do Norte (EUA) até a
Argentina, sendo encontrado entre 40 e 620m de profundidade (FIGUEIREDO et al., 2002).
De fato, examinando os mapas de distribuição espacial dos recursos pesqueiros e a tabela
com os percentuais de ocorrência, observa-se que a espécie encontra-se com os maiores
valores ao longo de plataforma continental interna sul, seguido pela sua porção norte, quebra
71
de plataforma e talude, demonstrando que a espécie ocorre ao longo de uma área bastante
ampla. Entretanto, situação inversa é observada quando se analisa a tabela com os
percentuais referentes as capturas desembarcadas pela frota, com o maior valor sendo
encontrado no grupo de talude e em menor proporção nos grupos de plataforma continental.
Esta diferença pode estar relacionada a particularidades populacionais relevantes da espécie,
como a estratificação batimétrica dos indivíduos de diferentes tamanhos. De fato, Schwingel
e Andrade (2002) destacam que, a pesca de arrasto duplo no ano 2001 concentrou seu poder
de captura sobre indivíduos menores que 50cm de comprimento total, os quais incluíram
principalmente os juvenis. Por outro lado, a pesca de emalhe capturou quase que
exclusivamente fêmeas maiores que 50cm e sexualmente maturas (SCHWINGEL e
ANDRADE, 2002). Estes padrões diferenciados são o fruto das interações entre a
seletividade dos diferentes métodos de pesca e as características biológicas do estoque, sendo
que os indivíduos menores e imaturos ocorrem nas áreas mais rasas e os maiores e maturos
nas áreas profundas (PEREZ et al., 2002). Desta forma, devido à significativa capacidade de
remoção da população (juvenis) por parte dos arrasteiros ao longo da plataforma continental,
uma grande parcela das ocorrências da espécie ao longo desta área tenha sido composta por
indivíduos menores, e consequentemente, de baixa abundância. Por outro lado, indivíduos
maiores, fornecendo melhores rendimentos para a pesca, são capturados em regiões mais
profundas, confirmando a diferença obtida entre os percentuais de ocorrência e captura
desembarcada para esta espécie.
A pescaria do peixe-sapo desenvolveu-se no Sudeste-Sul do Brasil através da
atividade multiespecífica da frota de arrasteiros nacionais operando a mais de 100m de
profundidade e de uma pescaria de emalhe dirigida, composta por embarcações estrangeiras
arrendadas especializadas na captura e no seu processamento a bordo (PEREZ et al., 2001).
Devido ao crescente e descontrolado interesse por essa espécie no ano 2001, o antigo
Departamento de Pesca e Aquicultura (DPA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), desencadeou um processo de ordenamento dessa pescaria, sendo
que esse processo foi executado pelo GEP/ UNIVALI, dentro do âmbito do convênio
estabelecido com o DPA-MAPA, até então responsável pelo setor pesqueiro.
Mesmo com o incentivo ao desenvolvimento desse processo, somente em 2005 é que
se estabeleceu medidas para a captura desta espécie, através da Instrução Normativa n° 23
(BRASIL, 2005) e, posteriormente em 2009, através da Instrução Normativa n° 3 (BRASIL,
2009). Esta última normativa determina, entre outros, que a pesca seja restrita à captura de
indivíduos maiores que 50cm de comprimento e prioritariamente através de redes de emalhe,
72
a partir da isóbata dos 250m, sendo que estas decisões foram baseadas em recomendações
originadas do diagnóstico e de procedimentos e critérios adotados para a estimativa de níveis
sustentáveis de explotação do peixe-sapo (PEREZ et al., 2002). Assim, com medidas
espaciais de gestão pesqueira já estabelecidas e incorporadas ao peixe-sapo, esta espécie fica
classificada como pertencente ao domínio faunístico de talude.
Os caranguejos-de-profundidade (Chaceon ramosae e Chaceon notialis), também
apresentam medidas de ordenamento aplicadas as suas capturas (BRASIL, 2008c; 2008d),
sendo realizada por 2 embarcações através de armadilhas tipo covos. Para a primeira espécie,
as operações de pesca são autorizadas para a área entre os paralelos de 19°S e 30°S, e em
profundidades mínimas de 500m, sendo que fica proibida a pesca entre 1º de janeiro e 30 de
junho de cada ano, em profundidades menores que 700m, ao longo de toda a zona de pesca
(BRASIL, 2008c). Para o caranguejo Chaceon notialis, as embarcações estão autorizadas a
atuarem entre os paralelos de 32°S e o limite sul da Zona Econômica Exclusiva (34°S), em
profundidades mínimas de 400m, sendo a pesca proibida entre 1º de julho e 31 de dezembro
de cada ano, em profundidades menores que 600m, ao longo de toda a zona de pesca
(BRASIL, 2008d). Cabe destacar que as profundidades máximas para ambas as espécies não
constam em Instrução Normativa.
A exemplo do plano de ordenamento desenvolvido para a pescaria do peixe-sapo
(PEREZ et al., 2002) e dos caranguejos-de-profundidade (PEZZUTO et al., 2006),
Dallagnolo et al. (2009), apresentaram uma síntese do processo de ordenamento da pescarias
dos camarões aristeídeos no Sudeste-Sul do Brasil abrangendo (i) uma descrição das fontes
e tipo de informações coletadas e utilizadas; (ii) a metodologia empregada para a avaliação
do estoque; (iii) as bases teóricas para o ordenamento; (iv) o diagnóstico do estado atual da
pescaria e (v) o plano de manejo sugerido para o ano de 2008. Entretanto, ao contrário dos
dois primeiros, nenhuma medida normativa foi estabelecida até o momento para a pesca dos
camarões-de-profundidade (Aristaeopsis edwardsiana, Aristaeomorpha foliácea e Aristeus
antillensis). As espécies aparecem somente na Instrução Normativa n° 10, de 10 de junho de
2011, que aprova as normas gerais e a organização do sistema de permissionamento de
embarcações de pesca para acesso e uso sustentável dos recursos pesqueiros, em que
estabelece que a captura dos camarões-de-profundidade deverá ser realizada por arrasteiros
duplo e simples, entre 500 e 1000m de profundidade em toda a Zona Exclusiva Brasileira
(BRASIL, 2011). Desta forma, assume-se os critérios recomendados para o ordenamento
desta pescaria na costa Sudeste-Sul do Brasil, abordado por Dallagnolo et al., 2009, em que
a pesca seja efetuada entre os paralelos 18°20’S e 28°30’S e entre as profundidas de 500 e
73
1000m, por embarcações de arrasto simples. Também foram propostas áreas de exclusão de
pesca, ficando entre 23°40’S/ 44°00’W e 24°15’S/ 45°00’W, além de montes submarinos,
fundos coralíneos e áreas ao norte de 21°S (DALLAGNOLO et al., 2009).
Em um estudo sobre as operações de pesca de arrasto duplo e arrasto simples da frota
nacional atuantes entre 100 e 500m de profundidade para os anos 2001 a 2003, no Sudeste-
Sul do Brasil, Perez e Pezzuto (2006) verificaram que essa pescaria concentrou-se em dois
estratos de profundidade, a saber, 100-250m (quebra de plataforma) e 250-500m (talude
superior). No estrato mais profundo, predominaram as espécies abrótea-de-fundo, a merluza,
o peixe-sapo e o calamar-argentino, tornando-se alvo da maioria das viagens, tanto de arrasto
simples como duplo. E no estrato menos profundo, a pesca teve natureza multiespecífica,
tendo sido sustentada por um conjunto de recursos de elevado valor econômico, incluindo o
linguado-areia, o congro-rosa, as raias emplastro, o camarão-cristalino e o lagostim,
principalmente, além de recursos de plataforma que se apresentam nos seus limites
batimétricos de distribuição, como a castanha, a cabra e a maria-mole (PEREZ e PEZZUTO,
2006).
Estes autores verificaram ainda, através dos resíduos do Modelo Linear Generalizado
que os arrasteiros simples foram cerca de 2,7 vezes mais eficientes que os arrasteiros duplos
na pesca de talude (PEREZ e PEZZUTO, 2006).
Para o domínio de talude, houve o predomínio de fundo lamoso, areno-lamoso e
arenoso (Tabela 8), permitindo, assim, que distintos petrechos de pesca consigam atuar na
área, principalmente os arrasteiros. Entretanto, em frente a cidade do Rio Grande e Chuí,
ambos no Rio Grande do Sul, a partir dos 100m de profundidade, Figueiredo Jr. e Tessler
(2004) verificaram áreas não favoráveis ao arrasto de fundo devido o gradiente elevado do
talude. Esta região está entre as mais íngremes do talude continental do Sudeste-Sul do Brasil
(entre Cabo de São Tomé e Chuí), apresentando gradientes entre 1:13 e 1:8 (FIGUEIREDO
JR. e TESSLER, 2004). Por outro lado, as áreas de talude menos inclinadas situam-se desde
a área sul do Estado de São Paulo (1:132) até o norte da cidade do Rio Grande (1:190)
(FIGUEIREDO JR. e TESSLER, 2004), demonstrando serem favoráveis também, segundo
este critério, para a frota de arrasto, sendo que o conhecimento sobre a textura e a topografia
do substrato marinho é elemento fundamental para direcionar a pescarias dos recursos vivos
demersais (FIGUEIREDO JR. e TESSLER, 2004).
A unidade de gestão de talude aqui proposta está inserida na porção de talude e sua
margem oceânica do Grande Ecossistema Marinho de Plataforma Sul do Brasil (LME de
Plataforma Sul do Brasil) (GASALLA, 2007 apud HEILEMAN e GASALLA, 2009),
74
confirmando a importância de adotar a região de talude como uma única unidade de gestão
pesqueira. Destaca-se que a unidade de gestão de quebra de plataforma aqui proposta
caracteriza-se, portanto, como uma zona de transição entre os três setores do LME da
Plataforma Sul do Brasil.
Por fim, foi identificado um domínio de pesca na porção norte da área de estudo,
identificado como unidade de pesca norte. Está situado em uma pequena área entre o sul do
Estado do Rio de Janeiro (23°45’S) e a porção central deste mesmo Estado (22°30’S) e em
todos os estratos de profundidade, sendo constituído predominantemente por fundo arenoso,
areno-lamoso e lamoso (Tabela 8).
Prevaleceu uma pesca altamente diversificada, sendo que o camarão-rosa foi uma das
espécies que demonstrou forte contribuição para a formação do grupo, segundo a análise do
SIMPER, juntamente com o camarão-cristalino, abrótea-de-fundo, polvo e namorado, com
atuação restrita da frota catarinense de arrasto duplo e emalhe de fundo. Perez et al. (2001)
já haviam chamado a atenção para a captura altamente diversificada e diferenciada da frota
do Rio de Janeiro, quando comparada com as demais frotas analisadas do Sudeste-Sul do
Brasil. Este padrão pode ocorrer devido a característica geomorfológica de sua plataforma
continental, que apresentando-se mais estreita nas proximidades de Cabo Frio (COOKE et
al., 2007), em pouco tempo de atividade uma embarcação pode atingir grandes
profundidades. Desta forma, em uma mesma viagem de pesca a frota pode capturar tanto
espécies costeiras, como o polvo e o camarão-rosa, como espécies de águas mais profundas,
como o namorado e abrótea-de-fundo, resultando em capturas altamente diversificadas.
Também pode estar relacionada com a morfologia de fundo da área. Segundo Muehe
e Garcez (2005), considerando a morfologia do fundo e tipo de petrecho de pesca utilizado,
pode-se dividir a plataforma continental brasileira em duas regiões: a norte de Cabo Frio,
com águas quentes, fundo altamente heterogêneos e de maior granulometria (como cascalho
e areia cascalhosa) (FIGUEIREDO JR. e TESSLER, 2004; FIGUEIREDO e MADUREIRA,
2004; MARTINS et al., 1972), carbonático, onde predomina largamente a pesca por meio
de espinhel e covos (MUEHE e GARCEZ, 2005); e a sudoeste do Cabo Frio, de águas frias
e fundo mais homogêneo (FIGUEIREDO JR. e TESSLER, 2004; FIGUEIREDO e
MADUREIRA, 2004; MARTINS et al., 1972), em que há predomínio da pesca por meio de
rede (MUEHE e GARCEZ, 2005).
A região entre Cabro Frio e o norte do Espirito Santo pertence à porção sul da
plataforma nordeste-leste da margem continental brasileira, que se estende do Parnaíba
(Piauí) a Cabo Frio (Rio de Janeiro) (MARTINS et al, 1972). Esta zona é caracteristicamente
75
marcada por um confinamento da fácies arenosa à região costeira, surgindo em direção ao
mar aberto uma faixa biodetrítica de transição, que é seguida pela zona de desenvolvimento
intenso de fácies organógena constituída predominantemente por algas calcárias (MARTINS
et al., 1972) em faixas grandes e contínuas (FIGUEIREDO e MADUREIRA, 2004).
Desta forma, observa-se que o domínio norte encontra-se no limite de ocorrência de
fundos “arrastáveis”, sendo que ao norte deste domínio de pesca, a atividade parece ser
restrita apenas a petrechos adaptados a atuarem em áreas mais irregulares e de fundos
heterogêneos, como o espinhel de fundo.
Cabe destacar que os quadrantes ao norte deste domínio, aproximadamente entre
22°30’S e o limite norte do Estado do Espirito Santo (18°S), não foram incluídos na análise
de agrupamento pois apresentavam poucas informações pesqueiras, principalmente de
frequência de ocorrência de recursos, na qual constituiu o atributo da análise, mesmo
considerando em conjunto todas as viagens de todas as frotas. Isso demonstra que a frota
industrial demersal desembarcada em Santa Catarina apresenta pouca atuação a partir do
Estado do Rio de Janeiro, provavelmente relacionado à grande distância, consequentemente,
a um maior tempo de viagem, que proporcionam custo-benefício menor se comparado em
sua atuação nas áreas mais próximas ao terminal de desembarque catarinense.
Figueiredo Jr. e Tessler (2004) através de informações do gradiente de talude,
granulometria e composição do sedimento, apresentaram algumas áreas de pesca, em caráter
de sugestão, apropriadas (ou não) para a atuação das frotas de arrasto de fundo e espinhel de
fundo. Áreas não favoráveis para as frotas de arrasto de fundo são encontradas desde o Cabo
de São Tomé até próximo ao Chuí, sendo mais extensas no norte da região Sudeste, devido
à presença de algas carbonáticas (rodolitos) e lajes de “beach-rock”, principalmente na
porção externa da plataforma e início do talude.
Por outro lado, estudos granulométricos dos sedimentos da região Sudeste-Sul do
Brasil (entre Cabo Frio e Rio Grande do Sul) realizados por Rocha et al. (1975)
demonstraram uma distribuição de sedimentos bastante contínua, com os fundos mudando
de arenoso para lamoso em aumento da profundidade (HAIMOVICI, 1998) e baixo gradiente
(FIGUEIREDO JR. e TESSLER, 2004), tornando-se áreas mais favoráveis para a frota de
arrasto de fundo.
Assim, a unidade de pesca norte constitui o limite norte de atuação da frota baseada
em Santa Catarina, sendo que as características de fundo ainda arenoso, possibilitam a
atuação das frotas de arrasto duplo, principalmente, e emalhe de fundo na captura das
espécies. Entretanto, essa área deve ser vista aqui como provisória, dada a menor atuação da
76
frota catarinense ao largo do Estado do Rio de Janeiro, prejudicando a qualidade e
abrangência dos dados. Portanto, a definição da(s) unidade(s) de gestão localizada(s) ao
norte de 23º35’S, dependeria de uma reanálise levando em consideração dados provenientes
das frotas sediadas nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
De modo geral, os resultados deste trabalho mostraram que existem diferenças
marcantes entre os estratos latitudinais e também entre os estratos de profundidade. Medidas
de manejo que visem ordenar a pesca de recursos demersais devem levar em conta, além da
multiespecificidade das capturas, as características da composição de espécies nas diferentes
faixas batimétricas e regiões da costa (ÁVILA-DA-SILVA e HAIMOVICI, 2003).
Um dos pontos críticos na análise das pescarias tropicais é o caráter de
multiespecificidade das capturas das frotas pesqueiras e o fato de uma mesma espécie ser
explotada por diferentes aparelhos de pesca em fases distintas de seu ciclo de vida.
Normalmente nas pescarias, uma frota explota vários estoques e várias frotas competem na
explotação dos mesmos recursos (SPARRE e VENEMA, 1997). Dada essa complexidade
para a maior parte das pescarias marinhas, a adoção de unidades operacionais, chamados
neste trabalho de domínios de pesca, pode ser útil a fim de reduzir tais complexidades do
processo de gestão através da identificação de grupos homogêneos de embarcações,
associações de recursos e tipo de fundo (ACCADIA e FRANQUESA, 2006).
Assim, parece haver coerência suficiente nas informações descritas acima para que
cada domínio de pesca seja considerado uma unidade espacial de gestão pesqueira.
Entretanto, cabe destacar que o conjunto de domínios de pesca apresentados aqui não devem
ser vistos como o conjunto final de unidades de gestão para a pesca demersal do Sudeste-
Sul do Brasil. Outros aspectos de elevada relevância devem ser considerados e que não foram
abordados aqui, atribuindo-se a isso, como limitações metodológicas do trabalho. Os dados
pesqueiros analisados, tanto de frotas como dos recursos, são provenientes apenas de
desembarques realizados no Estado de Santa Catarina, devendo integrar também ao processo
final de unidades espaciais de gestão, as informações de outros estados do Sudeste-Sul do
Brasil, afim de se obter um maior detalhamento das principais áreas de atuação das frotas e
de ocorrência e captura dos recursos. Esta limitação pôde ser sentida na baixa qualidade de
informações da porção norte da área de estudo, sendo uma consequência da pequena atuação
da frota industrial catarinense ao norte do Estado de São Paulo. Esses dados pesqueiros, além
de serem restritos à frota catarinense, apresentam também baixa resolução espacial. São
geoespacializados em quadrantes de 30’x30’ de resolução, e as informações fornecidas pelos
77
mestres das embarcações no momento das entrevistas de cais são relativas as viagens de
pesca e não por lances, dificultando o detalhamento espacial da análise. Considerando que a
escala das análises influenciará os limites e as áreas dos grupos de pesca definidos
(JENNINGS e LEE, 2012), sugere-se que métodos mais precisos para a identificação de
padrões de atuação do esforço pesqueiro sejam implementados, como por exemplo, o
sistema de monitoramento de embarcações por satélite, de modo a aumentar a
disponibilidade de dados de alta resolução da dinâmica da atividade pesqueira (PEREZ et
al., 2001; JENNINGS e LEE, 2012).
Aspectos sazonais da atividade pesqueira também devem ser considerados, uma vez
que podem ter importância significativa no processo de gestão e que não foram incluídos
aqui. Cita-se, por exemplo, a sazonalidade de captura dos camarões costeiros do sul (santana
e barba-ruça), que obriga a frota de arrasto-duplo a atuar sobre outros recursos pesqueiros
de plataforma continental durante o verão, outono e inverno.
Assim, embora o trabalho apresente essas limitações, sugere-se que o processo de
gestão pesqueira seja encaminhado para essa decisão, pois já vem sendo apontado na região
como uma necessidade emergente, dado que o modelo de manejo baseado na proteção de
espécies-alvo não tem sido bem sucedido na região Sudeste-Sul (PEREZ et al., 2001;
OKUBO-DA-SILVA, 2007; KOLLING et al., 2008; BENINCÁ, 2013), demandando a
adoção de unidades de gestão espacial marinha.
Para apoiar o debate do uso do espaço marinho, é necessário desenvolver métodos
amplamente aplicáveis para definir as áreas de pesca. Entretanto, cientistas sozinhos não
podem determinar a definição correta de um domínio pesqueiro, mas podem desenvolver
métodos alternativos para a definição dos grupos e avaliar as implicações dos usos destes
métodos no planejamento espacial marinho (JENNINGS e LEE, 2012).
Em um cenário internacional, diversos métodos e iniciativas têm sido desenvolvidos
para integrar a atividade pesqueira no processo de planejamento espacial marinho
(JENNINGS e LEE, 2012; RAMÍREZ-RODRÍGUEZ e OJEDA-RUÍZ, 2012; PIPITONE,
2012; FOCK, 2007).
Jennings e Lee (2012), por exemplo, através de embarcações monitoradas via satélite
(Vessel Monitoring Systems) no Reino Unido, tentaram avaliar como a escolha de critérios
para a definição dos grupos de pesca podem influenciar seu tamanho, forma e localização.
Através das relações entre a área de atividade de pesca e a área total, os autores observaram
que a maior parte da atividade ocorreu em uma proporção relativamente pequena da zona
total de pesca. Considerando todas as artes de pesca analisadas, 90% da atividade ocorreu
78
em 50% da zona total de pesca. A definição de um método apropriado para qualquer situação
de gestão trata-se de uma escolha para a sociedade, mas, mais importante, se os grupos de
pesca são definidos através da exclusão daquelas áreas de pesca pouco frequentes que
respondem por uma pequena proporção da atividade total, então poderia haver
desproporcionalmente maiores reduções na área pescada, nos impactos ambientais e nas
interações com outras pescarias e setores (JENNINGS e LEE, 2012). Os resultados não
mostram que há uma forma correta para definir os grupos de pesca, pois essa decisão deve
ser tomada em conjunto com outros setores de interesse. Entretanto, observaram que
definições baseadas em áreas menores que a extensão total da pesca, resultaria em impactos
relativamente menores em um setor em relação aos benefícios que podem advir de outros
(JENNINGS e LEE, 2012).
Desta forma, este trabalho surge não somente como uma proposta de ponto de partida
de desenho das áreas para a aplicação de uma gestão pesqueira espacial, mas permite um
avanço da proposta realizada em 2001 (PEREZ et al., 2001), que até então, constituía a única
realizada com alguma abordagem espacial desta atividade. Assim, espera-se que possa servir
como uma nova base para subsidiar o planejamento espacial da atividade pesqueira no
Sudeste-Sul do Brasil, pois utiliza análise integrada de informações para buscar as coerências
espaciais, e ainda adiciona áreas de gestão que foram estabelecidas após a publicação
daquele documento (Figura 12; Figura 13).
Analisando as unidades espaciais de pesca estabelecidas e as normas de gestão
propostas ou efetivamente em vigor, percebe-se que, de certo modo, essa abordagem já vem
sendo aplicada em parte da região Sudeste-Sul, como pode ser visto na Figura 13. O domínio
de talude apresenta uma setorização bem definida no seu manejo, baseada na atuação das
frotas e na distribuição de espécies-alvo. Desta forma, é necessário que esta abordagem seja
estendida também para a região de plataforma continental e região costeira.
A unidade de pesca costeira proposta neste trabalho seguiu exatamente a área
estabelecida pela análise de agrupamento devido à menor consistência/ disponibilidade dos
dados referentes às áreas mais rasas da região de estudo. Entretanto, deve-se considerar a
possibilidade de estendê-la mais ao norte e ao sul da área proposta na Figura 12. De fato,
Perez et al. (2001) propuseram no modelo de ordenamento espacial para as pescarias de
arrasto e emalhe do Sudeste-Sul do Brasil, a subdivisão das pescarias em duas categorias
básicas, para efeito de manejo: costeira e de alto mar, sendo a primeira sustentada,
basicamente, pela captura do camarão sete-barbas por considerarem sua característica
monoespecífica, e desenvolvida, em sua maior parte por embarcações de pequeno porte em
79
áreas relativamente rasas da plataforma continental, com características semi ou totalmente
artesanais, desde o Espírito Santo até Santa Catarina (PEREZ et al., 2001). Portanto, sugere-
se que para uma definição final e mais precisa da unidade de pesca costeira, e
consequentemente, das unidades de plataforma continental, dados pesqueiros industriais e,
se possível, artesanais, e referentes aos demais Estados da região Sudeste-Sul sejam
incorporados ao processo de planejamento espacial marinho.
Figura 11: Grandes Ecossistemas Marinhos (Large Marine Ecosystems - LMEs) distribuídos ao longo dos
Oceanos Atlântico. Pacífico e Índico, totalizando 64. Destaque para os 3 LMEs identificados ao longo da costa
brasileira, sendo: 1) LME da Plataforma Norte do Brasil; 2) LME da Plataforma Leste do Brasil e; 3) LME da
Plataforma Sul do Brasil. Este último está subdividido em 3 áreas (plataforma sul; embaiamento sudeste e
talude e sistema oceânico), as quais coincidem com os limites das unidades de gestão pesqueira de plataforma
continental interna sul, de plataforma continental interna norte e de talude, respectivamente, propostas no
presente trabalho. Figura adaptada de Sherman e Hempel (2009).
80
Figura 12: Proposta de domínios de pesca demersal industrial para a região Sudeste-Sul do Brasil, baseada em
desembarques realizados em Santa Catarina, entre os anos 2010 e 2012.
81
Figura 13: Setorização já estabelecida no manejo de frotas e recursos demersais no domínio de talude do
Sudeste-Sul do Brasil.
82
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste trabalho mostraram que existem diferenças marcantes entre os
estratos latitudinais e também entre os estratos de profundidade. Com base nisso, seis
unidades geográficas de gestão pesqueira são propostas para a região Sudeste-Sul do Brasil,
embora estas sejam preliminares e contemplam apenas a pesca industrial baseada em Santa
Catarina.
É importante ressaltar que, seja no domínio costeiro, seja nos domínios de plataforma
continental interna norte e sul, não houve a preocupação em estabelecer os limites mínimos
de profundidade em que a pesca industrial atuaria. Para uma delimitação mais precisa seria
necessário levar em conta diversos outros critérios, que incluem, entre outros, as limitações
já impostas pela legislação para a operação das frotas industrias em áreas rasas, como por
exemplo, a criação de Áreas de Proteção Ambiental Marinha (APAMs) na zona costeira do
Estado de São Paulo, nas quais foi proibida a pesca de arrasto de parelha (DECRETOS n°
53.525, n° 53.526, n° 53.527/08, SP), e eventuais discussões relacionadas à setorização de
frotas artesanais e industriais.
O mapa contendo as unidades geográficas de gestão pesqueira propostas (Figura 12;
Figura 13) também não incluiu as áreas de exclusão de pesca, como aquelas estabelecidas
para a captura do peixe-sapo pela frota de emalhe de fundo (BRASIL, 2009), ou mesmo
aquelas oriundas das Unidades de Conservação, como a Reserva Biológica Marinha do
Arvoredo (BRASIL, 1990). A exclusão de áreas de pesca, assim como a delimitação precisa
dos critérios citados no parágrafo anterior, teriam que ser providenciadas posteriormente, a
partir da espacialização da legislação vigente.
Por fim, as seis possíveis unidades geográficas de gestão pesqueira demersal para o
Sudeste-Sul do Brasil foram propostas com base em critérios biológicos, pesqueiros e
ambientais mais amplos. Contudo, dependendo da modalidade de pesca, dos recursos alvo e
dos tipos de fundo, áreas mais restritas podem ser estabelecidas para determinada frota
dentro de cada grande unidade, a exemplo do que ocorre no talude com as frotas
permissionadas para a captura dos caranguejos-de-profundidade Chaceon ramosae e
Chaceon notialis. Elas operam no grande domínio de talude, mas em áreas mais restritas
correspondentes à zona de distribuição de cada um dos estoques. O mesmo poderia ocorrer,
por exemplo, criando áreas de atuação apenas de espinhel nos fundos duros e cascalhosos, e
deixando o arrasto nas áreas de fundos mais moles. Assim, a existência de grandes unidades
geográficas de pesca não implicaria necessariamente a permissão para atuação indistinta de
83
todas as frotas em toda a sua extensão. Pelo contrário, pode demandar o estabelecimento de
um zoneamento mais detalhado por frota, assim como limitações específicas de esforço,
captura e/ ou de caráter técnico para cada unidade de explotação.
84
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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96
8. APÊNDICES
Apêndice 1: Relação dos 35 recursos demersais utilizados para a análise do presente estudo. Os nomes
comum e científico de cada espécie foram baseados na nomenclatura utilizada pelo Grupo de Estudos
Pesqueiros (GEP/ UNIVALI), do qual os dados pesqueiros foram obtidos.
Nome Comum Nome Científico
Abrótea Urophycis brasiliensis; U. mystacea
Abrótea-de-fundo Urophycis mystacea
Bagre Família Ariidae
Batata Lopholatilus villarii
Betara Menticirrhus spp.
Cabra Prionotus punctatus
Camarão-barba-ruça Artemesia longinaris
Camarão-cristalino Plesionika longirostris
Camarão-rosa Farfantepenaeus paulensis; F. brasiliensis
Camarão-santana Pleoticus muelleri
Camarão-sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri
Castanha Umbrina canosai
Congro-rosa Genypterus brasiliensis
Corcoroca Haemulon aerolineatum
Corvina Micropogonias furnieri
Emplastro Família Rajidae
Espada Trichiurus lepturus
Garoupa Epinephelus marginatus
Goete Cynoscion jamaicensis
Gordinho Peprilus paru
Linguado Paralichthys spp.
Linguado-areia Paralichthys isosceles; P. triocellatus
Lula Loligo plei; L. sanpaulensis
Maria-mole Cynoscion guatucupa
Merluza Merluccius hubbsi
Namorado Pseudopercis numida
Papa-moscas Nemadactylus bergi
Pargo-rosa Pagrus pagrus
Peixe-porco Balistes capriscus
Peixe-sapo Lophius gastrophysus
Pescada Cynoscion spp.
Pescada-amarela Cynoscion acoupa
Pescadinha-real Macrodon ancylodon
Polvo Octopus vulgaris; Eledone massyae
Tira-vira Percophis brasiliensis