UM ESTUDO SOBRE O USO DE SUPORTE TECNOLÓGICO … · 2009-12-09 · escola acelerar seu ritmo e...

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UM ESTUDO SOBRE O USO DE SUPORTE TECNOLÓGICO NO ENSINO DE BIOLOGIA - GENÉTICA A STUDY ABOUT TECHNOLOGICAL SUPPORT IN THE EDUCATION OF BIOLOGY - GENETIC Luciane Cortiano Liotti 1 Odisséa Boaventura de Oliveira 2 Resumo Tendo como perspectiva observar a presença das tecnologias no âmbito escolar, o presente estudo analisa a mediação que o professor de Biologia estabelece entre os conteúdos de genética e a TV-multimídia. Os procedimentos metodológicos adotados nesta pesquisa foram: a implementação da proposta pedagógica desenvolvida no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, a observação participante e questionários aplicados aos alunos e à professora. Foram acompanhadas, durante um semestre, as aulas de biologia em que se utilizou o material produzido pela pesquisadora relacionado ao conteúdo genética, em uma turma de alunos do ensino médio da Rede Estadual de Ensino de Curitiba. Para avaliação da proposta foram aplicados questionários de acompanhamento da implementação, respondidos tanto pelos alunos quanto pela professora envolvida no processo, além de sessões de discussão e avaliação entre a professora, pesquisadora e orientadora acerca das aulas acompanhadas. A análise qualitativa dos dados permitiu identificar ainda no início da pesquisa, muitas idéias alternativas apresentadas pelos alunos com relação aos seres vivos, célula, gene, cromossomo e função do material genético, revelando tratar- se de concepções intuitivas geralmente influenciadas pela mídia e desprovidas do saber científico vivenciado no ambiente escolar. Após a implementação do material e das possibilidades de discussões e das avaliações realizadas, pode-se verificar que o material além de ter a aprovação do professor e dos alunos, promoveu um melhor nível de compreensão sobre os conceitos estudados de genética, diferindo do resultado apresentado inicialmente na pesquisa. Palavras-chave: currículo, saberes tecnológicos, prática pedagógica, ensino de Biologia. 1 Mestre em Educação no Ensino de Biologia - Área Currículo - Universidade Federal do Paraná – 2009. Professora PDE – 2008 - Secretaria de Estado da Educação. [email protected]. 2 Doutora em Educação -Universidade Federal do Paraná – UFPR/ Departamento de Teoria e Prática de Ensino – DTPEN / [email protected]. 1

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UM ESTUDO SOBRE O USO DE SUPORTE TECNOLÓGICO NO ENSINO DE BIOLOGIA - GENÉTICA

A STUDY ABOUT TECHNOLOGICAL SUPPORT IN THE EDUCATION OF BIOLOGY - GENETIC

Luciane Cortiano Liotti1Odisséa Boaventura de Oliveira2

Resumo

Tendo como perspectiva observar a presença das tecnologias no âmbito escolar, o presente estudo analisa a mediação que o professor de Biologia estabelece entre os conteúdos de genética e a TV-multimídia. Os procedimentos metodológicos adotados nesta pesquisa foram: a implementação da proposta pedagógica desenvolvida no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, a observação participante e questionários aplicados aos alunos e à professora. Foram acompanhadas, durante um semestre, as aulas de biologia em que se utilizou o material produzido pela pesquisadora relacionado ao conteúdo genética, em uma turma de alunos do ensino médio da Rede Estadual de Ensino de Curitiba. Para avaliação da proposta foram aplicados questionários de acompanhamento da implementação, respondidos tanto pelos alunos quanto pela professora envolvida no processo, além de sessões de discussão e avaliação entre a professora, pesquisadora e orientadora acerca das aulas acompanhadas. A análise qualitativa dos dados permitiu identificar ainda no início da pesquisa, muitas idéias alternativas apresentadas pelos alunos com relação aos seres vivos, célula, gene, cromossomo e função do material genético, revelando tratar-se de concepções intuitivas geralmente influenciadas pela mídia e desprovidas do saber científico vivenciado no ambiente escolar. Após a implementação do material e das possibilidades de discussões e das avaliações realizadas, pode-se verificar que o material além de ter a aprovação do professor e dos alunos, promoveu um melhor nível de compreensão sobre os conceitos estudados de genética, diferindo do resultado apresentado inicialmente na pesquisa.

Palavras-chave: currículo, saberes tecnológicos, prática pedagógica, ensino de Biologia.

1 Mestre em Educação no Ensino de Biologia - Área Currículo - Universidade Federal do Paraná – 2009. Professora PDE – 2008 - Secretaria de Estado da Educação. [email protected] Doutora em Educação -Universidade Federal do Paraná – UFPR/ Departamento de Teoria e Prática de Ensino – DTPEN / [email protected].

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Abstract

There with prospect to observe the presence of technology at scholastic ambit, the current study analyzes the biology’s teacher intervention with genetic contents and the multimedia-TV. The methodological process adopted on this research it was: the implementation of pedagogic propost developed by Education Development Program (PDE), the participant observation and quizzes applied to students and to the teacher. Was observed during a semester, on biology classes that used the genetic material made for Researcher related the genetic content this happened at a room class in Curitiba-PR in a middle school. For the estimation on this research, was applied quizzes of accompaniment of the implementation, answered as much students as teacher involved on this process, further on workshop and discussions sessions and evaluation with the teacher, Researcher and supervisor for the accompaniment. The qualitative analysis of data allowed identify at the beginning of the research, a lot of alternatives ideas showed by the students toward living beings, cell, gene, chromosomes and function of genetic material, reveling broach of intuitive conception generally influenced by media without scientific knowledge. After the implementation the material and possibilities discussions and evaluation achieved, we can see that the material beyond having the approval of the teacher and of the students, it promoted one better level of understanding on the studied concepts of genetics, differing from the result showed at the beginning of the research.

Keywords: curriculum, technological knowledge, pedagogical pratice, Biology teaching.

Introdução

A ciência e a tecnologia se fazem presentes em todos os setores de

nossa vida e atualmente estão causando profundas transformações econômicas,

sociais e culturais. Aos poucos, a sociedade cada vez mais se encontra

conectada à rede digital o que implicará, com certeza, em consequências

profundas tanto no ato de ensinar quanto no de aprender.

Seria possível viver sem energia elétrica, sem telefone celular, sem um

medicamento, sem computador? Certamente não!

Hoje ao assistir a um telejornal, um filme, um documentário, percebemos

que os conhecimentos científicos e tecnológicos estão sendo contemplados com

muito mais freqüência do que tempos atrás, pois, muitas coisas que

imaginávamos apenas como ficção-científica, tornou-se realidade. A manipulação

genética, a clonagem, os transgênicos, as pesquisas com células-tronco, entre

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outros acontecimentos têm causado grande impacto, tanto na vida das pessoas,

quanto na convivência no meio científico.

Pode-se dizer que esta torrente de informações, principalmente nas áreas

de Biologia Molecular e Genética, tem se expandido progressivamente do meio

acadêmico ao público em geral através das revistas científicas e pelos meios de

comunicação de massa, que têm aproximado o meio científico - tecnológico ao

cotidiano das pessoas (PEDRANCINI, et al, 2005).

Assim, a escola inserida numa sociedade que tem acesso à tecnologia,

também terá que saber lidar com os diferentes tipos de informações que chegam

até ela, devendo discutir com a comunidade escolar as oportunidades e maneiras

de produzir o seu conhecimento.

Caberá, portanto a cada instituição de ensino decidir, dentro de seu

contexto, qual a informação básica necessária para se viver no mundo moderno,

pois acredita-se que um dos papéis da escola, além de ser o meio para reflexão

sobre os benefícios, riscos e implicações éticas, morais e sociais provenientes da

biotecnologia geradas por estas pesquisas, é o de servir como instrumento para

combater a exclusão digital, propiciando a todos os alunos os mesmos direitos

para se constituírem verdadeiros cidadãos (KRASILCHIK e MARANDINO, 2004).

Nesta perspectiva, para que a educação não seja escravizada pela

tecnologia, ou esta não apenas se constitua em mais uma novidade escolar, é

necessário que os professores compreendam e aceitem que tais mudanças são

instrumentos necessários, tanto para manter a qualidade do ensino, quanto para

que a escola se encontre atualizada, tendo apenas que adaptá-las às finalidades

educacionais (BRITO e PURIFICAÇÃO, 2006).

A inserção das diferentes tecnologias presentes hoje nas escolas da rede

pública (laboratórios de informática com conexão, Portal Dia-a-Dia Educação, TV

– Paulo Freire, TV – Multimídia), a implementação das Diretrizes Curriculares

Estaduais (DCE) e as dificuldades apontadas pelos professores de Biologia nas

entrevistas por nós realizadas em nossa pesquisa de Mestrado, foram a chave

motriz que nos levou a decidir pelo tema: “O uso das tecnologias na produção de

material didático para o ensino de biologia”.

Observamos em nossa pesquisa de Mestrado que os professores

entrevistados aprovam a construção das DCE, mas ainda não se sentem

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totalmente seguros em implementá-la em sala de aula, ou seja, ao realizarem a

recontextualização do documento oficial para suas atividades pedagógicas,

apontam dificuldades teórico-metodológicas principalmente nos conteúdos de

natureza complexa e abstrata como os de Genética. Constatamos esta dificuldade

em algumas falas3, como as que se seguem abaixo:“É muito pouco tempo, é muito conteúdo, e muito conteúdo do 3° ano eu tenho que sempre estar retomando, tenho que voltar lá, por exemplo: no núcleo celular, e relembrar com eles duplicação, replicação, a transcrição, a tradução para depois trabalhar os conteúdos de genética, então é bem complicadinho”.(Prof. 1)

“Então que viesse apenas um modelo na diretriz, como você poderia articular os conteúdos, já ajudava bastante, em minha opinião, (um esquema) é um esquema, alguma coisa assim, que mostrasse, uma forma ou várias de você ajustar estes conteúdos dentro da tua prática, seria bem legal”. (Prof. 2)

“Eu gostaria que o ensino de biologia fosse bem articulado, que você falasse de célula lá no 3° ano, e ele (o aluno) imediatamente lembrasse que ele já viu aquilo algum dia na vida dele, que ele já associasse aquele conhecimento que ele já tem isso é o meu sonho dentro da biologia”. (Prof. 3)

Neste contexto e diante das necessidades da contemporaneidade, cabe à

escola acelerar seu ritmo e caminhar no mesmo compasso evolutivo de toda

sociedade, buscando inovações para que o processo ensino-aprendizagem

aconteça de forma satisfatória, proporcionando aos alunos uma apropriação de

conhecimentos que os possibilitem tomarem decisões conscientes e esclarecidas.

Portanto a partir dos problemas detectados e aqui apresentados

produzimos a Unidade Didática intitulada: “De Olho na Genética: uma maneira

diferente de estudar Biologia”, tendo como objetivo disponibilizar o material

didático produzido, em uma página na internet, para que auxiliasse o professor a

relacionar os conteúdos presentes nas DCE com sua prática pedagógica, a fim de

dinamizar o ensino de Biologia pelo uso das tecnologias disponíveis hoje nas

escolas, no caso o uso da TV-multimídia, como também, buscar um melhor

entendimento dos alunos acerca dos conceitos e fenômenos biológicos que

envolvem o conteúdo de genética.

3 Excertos extraídos das entrevistas realizados com professores de Biologia presentes na Dissertação de Mestrado em Educação em Biologia, sob o título: As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná e os Efeitos de Sentido Produzidos em Professores de Biologia, UFPR, 2009. Orientadora: Profa. Dra. Odisséa Boaventura de Oliveira.

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O Ensino de Biologia x TecnologiaJá é de nosso conhecimento que o homem, durante a sua história,

procurou desvelar os fenômenos da natureza relacionados com o ar, o fogo, a

água e a terra, e a relação destes com os seres humanos e os demais seres

vivos. Contudo ao procurar uma ordem para os fatos, utilizaram-se inicialmente de

métodos não científicos como os mitos e as lendas. Pode-se dizer que neste

momento histórico da evolução e construção do pensamento humano sobre a

Natureza e seus fenômenos mistura-se ao temor de se chegar ao desconhecido

sem limites.

O percurso pela história e filosofia da ciência nos mostra que, tanto a

sistematização do conhecimento científico, quanto à observação das

regularidades percebidas na Natureza, permitiram ao homem sua evolução e

apropriação dos fenômenos que nela ocorrem.

Associado a este pensamento, mas não satisfazendo-se apenas com a

simples compreensão dos fenômenos da Natureza, havia uma constante

preocupação com a descrição dos seres vivos e uma necessidade de garantir sua

sobrevivência, fato que fez com o homem estabelecesse ao longo de sua história

diferentes concepções sobre o fenômeno Vida (PARANÁ, 2008).

As discussões sobre o fenômeno vida conforme Charbel e Emmeche

(2000) somente aparecem no século XVIII, sendo que anteriormente a este

período, ‘vida’ não existia, nem como um conceito científico, nem como uma

ciência biológica, o que se tinha era apenas uma preocupação com a

classificação dos seres vivos e com uma história natural. Assim a origem e o

significado da palavra biologia como sendo o estudo da vida e não como estudo

dos seres vivos nasce deste período.

Ao longo do tempo, na tentativa de se definir a “vida”, ora como

fenômeno, ora por meio de um conjunto de características de seres que possuem

vida, ora sob uma visão mais evolutiva deste fenômeno, determinaram períodos

históricos que marcaram a construção do entendimento sobre o fenômeno vida e

a constituição da biologia enquanto ciência.

Tanto a questão que envolve o fenômeno vida, quanto à questão do

currículo de biologia, constituem pontos que justificam uma reflexão sobre o

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ensino desta ciência, pois nos ajudam a pensar em uma forma de propor um

ensino mais criativo e dinâmico.

Tomando estes elementos e o resultado de nossa pesquisa de mestrado,

apontamos que tanto a bibliografia especializada quanto o professor em sala de

aula afirmam que os problemas encontrados no ensino de biologia estão

vinculados a propostas muito extensas e com conteúdos desvinculados da

realidade da comunidade escolar.

Consta nas DCE a intenção de incorporar a construção de possibilidades

para a emancipação humana e, por conseguinte, o método dialético, pelo qual o

homem conhece o que seja objeto de sua atividade a partir de sua realidade para

transformá-la, uma práxis que valoriza o sujeito enquanto ser construído

historicamente. O que requer uma metodologia e exige uma nova postura

docente, para que ele possa incorporar em sua prática pedagógica estes novos

pressupostos (PARANÁ, 2006).

Ainda, segundo este documento, o objetivo é construir um currículo

voltado para a melhoria do Ensino e promover uma nova relação professor-aluno-

conhecimento (PARANÁ, 2006).

Portanto, as Diretrizes de Biologia foram escritas com o pressuposto de

levar o professor a uma maior compreensão sobre a História e a Filosofia da

Ciência, bem como, entender o dinamismo da construção do conhecimento

histórico, desmistificando a idéia de que os fatos/acontecimentos científicos

tenham ocorrido isoladamente, pontualmente, vistos como descobertas, ou seja,

pretende mostrar ao professor a não linearidade dos fatos científicos (PARANÁ,

2008).

Ao percorrer o documento observa-se que o objeto de estudo desta

disciplina está pautado no fenômeno Vida e influenciado pelo pensamento

historicamente construído. Assim a proposta curricular de Biologia toma como

base estrutural quatro modelos interpretativos deste fenômeno. São eles: o

pensamento biológico descritivo, o mecanicista, o evolutivo e o pensamento

biológico da manipulação genética.

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Cada um deles deu origem a um dos quatro Conteúdos Estruturantes4,

permitindo conceituar o fenômeno Vida em diferentes momentos da história da

humanidade. Com o intuito de auxiliar o professor a entender o homem no seu

momento histórico atual como parte da Ciência, enquanto construção humana, os

Conteúdos Estruturantes foram assim definidos: Organização dos Seres Vivos;

Mecanismos Biológicos; Biodiversidade; Implicações dos Avanços Biológicos no

Fenômeno Vida.

Deste modo, ao tomar a Ciência como construção histórica, as DCE de

Biologia procuram apontar como fundamentação teórico–metodológica uma

abordagem crítica da construção do conhecimento científico apoiada nas rupturas

ocorridas na construção do conceito do fenômeno vida e conseqüentemente do

pensamento biológico. Propõem também, que os conteúdos sejam abordados de

forma integrada, com ênfase nos aspectos essenciais do objeto de estudo da

disciplina dentro do contexto histórico, social, político, econômico e cultural em

que estão inseridos os sujeitos da aprendizagem (PARANÁ, 2008).

Portanto, as DCE de Biologia apresentam uma metodologia que propicia

a este campo de ensino a superação da característica conteudista, memorística e

comportamentalista, a partir do momento que procura articular os conhecimentos

da cultura científica e socialmente valorizada, com o contexto histórico-social e os

interesses políticos dominantes do período em que estes conhecimentos foram

instituídos.

O ensino médio, neste caso, é projetado sob o discurso de uma

metodologia mais significativa e contextualizadora, que busca a formação de um

perfil de professor condizente com as características desta sociedade

transformadora, contribuindo assim, para formar sujeitos críticos, reflexivos,

analíticos e atuantes de modo a superar a ideologia neoliberal que vem se

tornando hegemônica em nosso mundo contemporâneo.

Desse modo, para dar suporte a estas necessidades além dos recursos

corriqueiros existentes nas escolas, dispomos também das ferramentas

4 Entende-se por conteúdos estruturantes os saberes – conhecimentos de grande amplitude, conceitos ou práticas – que identificam e organizam os campos de estudos de uma disciplina escolar, considerados e fundamentais para as abordagens pedagógicas dos conteúdos específicos e consequentemente compreensão de seu objeto de estudo e ensino (PARANÁ, 2008, p.55).

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tecnológicas, que se utilizadas dentro dos parâmetros pedagógicos contribuem

na mediação, aquisição, (re)construção dos conhecimentos.

Porém Brito e Purificação (2006) afirmam: “só o uso [das tecnologias

educacionais] não basta se estas não forem bem utilizadas, [pois] estas garantem

a novidade só por algum tempo, mas não uma melhoria significativa na educação”

(p.31)

Portanto, quando a tecnologia perpassa os muros da escola, esta assume

mais um de seus papéis, o da alfabetização digital. Porém, sabe-se que não é

fácil a incorporação das tecnologias no cotidiano escolar, pois essa relação é bem

mais complexa do que possamos imaginar.

Assim, para que a tecnologia5 seja vista como tecnologia educacional6 e

alcance seu objetivo, é imprescindível que o professor tenha previamente uma

formação para o uso dos programas de forma competente, vindo a auxiliá-lo de

maneira efetiva em sua prática pedagógica. Pois, independentemente do

professor trabalhar numa escola com maior ou menor número de tecnologias, o

alcance delas reside no domínio pelo professor e pelo aluno e na criatividade para

inovar suas formas de utilização.

Ainda que, muitos professores mostrem adversidade, quanto à inserção

destas “novas propostas”, por receio de serem substituídos pelas máquinas,

aparelhos, ou por todos os acessórios tecnológicos disponíveis, vale ressaltar a

incoerência deste pensamento, uma vez que o professor é o mediador do

processo educativo, aquele que intervém direcionando o ensino e a

aprendizagem, sendo, portanto, insubstituível.

Para tanto é preciso que o professor busque conhecimentos, tome

consciência de sua práxis e utilize-se das tecnologias educacionais. Moran (1995,

p.25) faz a seguinte ressalva: “As tecnologias de comunicação não mudam

necessariamente a relação pedagógica (...) não substituem o professor, mas

modificam algumas de suas funções”.

5 Conceitua-se Tecnologia como sendo um conjunto de conhecimentos especializados, com princípios científicos que se aplicam a um determinado ramo de atividade, modificando, melhorando, aprimorando os ‘produtos’ oriundos do processo de interação dos seres humanos com a natureza e destes entre si. (BRITO e PURIFICAÇÃO, 2006, p.18)6 Entende-se por Tecnologia Educacional [não somente o computador], mas todos os recursos tecnológicos disponíveis [retroprojetor, projetor de slides, episcópio, microscópio], desde que em interação com o ambiente escolar no processo ensino-aprendizagem. (BRITO e PURIFICAÇÃO, 2006, p.30).

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No campo da Biologia há muitos recursos tanto de natureza teórica,

quanto de natureza metodológica, que estão disponíveis para tornar a aquisição

do conhecimento prazerosa e contextualizada. Porém estes invariavelmente são

pouco utilizados, ou até desconhecidos tanto pelos estabelecimentos escolares,

quanto por alguns professores.

Um exemplo é o tratamento que se dá aos conhecimentos hoje

produzidos em biologia molecular, sob a perspectiva dos avanços da

biotecnologia com vistas na possibilidade de manipular o material genético dos

seres vivos e permitir questionar o conceito biológico da Vida (PARANÁ, 2008).

Em recentes pesquisas sobre o ensino de genética no Ensino Médio em

escolas estaduais e particulares, Bonzanini e Bastos (2007) trazem como

resultado os seguintes aspectos: a escassez de fontes atualizadas e materiais

didáticos adequados ao desenvolvimento do conteúdo; o domínio insuficiente de

conteúdos por parte do professor e uma grande dificuldade metodológica na

abordagem de temas polêmicos. Também afirmam, baseados em dados de

outras pesquisas, que nos últimos anos o ensino de genética tem sua estrutura

pautada na resolução de exercícios referentes à primeira e segunda leis de

Mendel e a temas ligados a sua expansão.

Justina e Barradas (2003) ao investigarem a opinião dos professores de

biologia sobre o ensino de genética, observaram que os professores estão muito

distantes das inovações que acontecem com a ciência Genética e continuam

passando os conceitos contidos nos livros didáticos, muitas vezes conceitos

ultrapassados e errôneos, porém, a grande maioria acredita que podem ocorrer

mudanças no ensino se houver um aperfeiçoamento (cursos) para os professores

e se eles tiverem acesso ao uso de metodologias diferenciadas.

Silveira e Amabis (2003) relatam que em pesquisas também relacionadas

com o ensino de genética, os alunos do ensino médio próximos de concluírem

seus estudos ainda confundem cromossomo/gene e célula/gene além de

afirmarem que os genes são maiores que os cromossomos.

Portanto, considerando as dificuldades dos professores em fazer uso das

ferramentas tecnologias e os anseios dos alunos ingressos no Ensino Médio,

aspira-se “contribuir para uma aprendizagem integradora, que junta teoria e

prática, que aproxima o pensar do viver” (MORAN, 2007, p.21).

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O Material Didático ProduzidoRefletindo sobre as questões apresentadas diante da dificuldade dos

alunos em construir conceitos sobre genética e dos professores em ensinar tais

conceitos, construímos e disponibilizamos um material didático em uma página na

internet.

Nesta página produzida, apresentamos como a internet e a TV –

Multimídia podem se tornar fontes de pesquisa e de suporte metodológico para o

professor, a fim de tornar sua aula mais dinâmica e interativa, promovendo para o

aluno, um maior entendimento acerca dos conteúdos de genética e dos conceitos

relacionados com este conteúdo, inclusive no que diz respeito aos aspectos

bioéticos dos avanços biotecnológicos.

Portanto, o professor ao acessar a página na Web

(http://geneticaluliotti.pbwiki.com/FrontPage)7 terá acesso a um material didático-

pedagógico com recursos possíveis, para a utilização da TV-multimídia, como

também, terá outras sugestões de atividades e diferentes estratégias de ensino

possibilitando a aplicação de diferentes metodologias durante o desenvolvimento

do conteúdo - genética.

Escolhemos para a apresentação do material uma página da web chamada

de wikispace, pois este é um espaço de escrita colaborativa on-line, onde é

possível várias pessoas colaborarem na edição do trabalho. Esta ferramenta está

relacionada às necessidades pedagógicas da educação brasileira, dada as

dimensões do país, em que, a educação à distância, pode proporcionar uma

revolução no conhecimento da população.

A forma de organização do material pretende um novo olhar para o ensino

de biologia, tendo a perspectiva de ser um material de apoio ao professor e de

proporcionar aos alunos, através da realização dos exercícios práticos

diferenciados e do material produzido para a TV - multimídia, a compreensão de

mecanismos físicos e bioquímicos celulares.

A página produzida apresenta sugestões de conteúdos e estratégias

metodológicas especificamente para o processo de ensino e de aprendizagem da

do Conteúdo Estruturante – Implicações dos Avanços Biológicos no Fenômeno

Vida – Genética, sendo composto por 4 (quatro) temas:7 Ressalta-se que a página está em construção e, portanto, tem alguns de seus itens ‘vazios’, pois somente estarão completos e finalizados após a Publicação da Proposta na Página do PDE.

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1. Os Seres Vivos e a Célula;

2. Hereditariedade;

3. Mendel e a Genética;

4. Segunda Lei de Mendel.

Cada tema possui uma cor de identificação, um layout diferente para

facilitar o trabalho do professor na hora da escolha do tema.

O professor, após ter escolhido o tema, visualizará que cada um contempla

uma página de abertura da aula a ser desenvolvida, contendo:

• O título do tema;

• Os objetivos da atividade em questão;

• Uma apresentação teórica (curta) sobre o tema;

• Atividades de reflexão do conteúdo;

• Arquivo da apresentação para TV - Multimídia, contemplando o

tema;

• Sugestões de avaliação;

• Dicas para o professor com sugestões de visitas, de sítios,

hipertexto, que poderá ser desenvolvida ou não, como

complementação da atividade proposta e;

• Referências.

O professor terá também a opção de levar os alunos ao laboratório de

informática da escola para trabalhar a aula, visualizando a apresentação do tema

no próprio computador, ou ainda, o professor poderá realizar a gravação da pasta

do tema em seu pen-drive para ser desenvolvido em sala, utilizando a TV -

multimídia.

O Universo da Pesquisa: o campo de análise e o material Didático em sala de aula

Compreendendo o professor como um sujeito leitor da sua realidade, do

mundo e de suas ações e com o intuito de acentuar a discussão entre os colegas

sobre o papel dos novos aparatos tecnológicos, em especial a TV–Multimídia, e

suas potencialidades como instrumental didático, consideramos os conteúdos,

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disponíveis em nossa página da internet, adaptados ao contexto da escola da

Rede Pública de Ensino Paranaense.

Portanto, para avaliar se o material didático construído estava adequado

ao Nível Médio de Ensino e se as atividades propostas articulavam-se às práticas

pedagógicas do professor com o uso das ferramentas tecnológicas, esta pesquisa

utilizou como metodologia para coleta de dados a técnica de observação

participante.

Escolhemos trabalhar com a, observação participante, pois segundo,

Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (1990), no âmbito da investigação qualitativa,

esta é a técnica em que o pesquisador pode compreender o mundo social do seu

interior, pois partilha a condição humana dos indivíduos que observa, permitindo,

portanto ao pesquisador compreender um meio social, que lhe é estranho, mas

que, progressivamente vai integrando-se nas atividades das pessoas que nele

vivem.

É importante ressaltar também, segundo Ludke e André (1986), que a

observação participante é um procedimento metodológico que envolve não

somente a observação, mas compreende também os seguintes aspectos: a

extensão do período de observação, o grau de envolvimento do pesquisador, o

processo de registro e a utilização de entrevista e de questionário como fonte de

dados complementares.

A implementação da proposta ocorreu no Colégio Estadual Professora

Luíza Ross, pois este é o estabelecimento de ensino em que está nossa lotação.

O colégio é de porte médio com 1344 alunos e está situado em um bairro

de periferia do Município de Curitiba. É muito organizado possui uma excelente

infraestrutura tanto no apoio pedagógico, quanto ao material técnico disponível.

Possui: xerox, salas de aula com cortinas e sala de laboratório de biologia e física

que ocupam o mesmo espaço (para a utilização é realizado um agendamento

prévio). É interessante ressaltar que o laboratório de informática da escola possui

conexão banda larga de internet. Não há laboratorista em nenhum laboratório

citado, isto é feito pelo próprio professor ou por um funcionário administrativo.

Esta escola possui um professor de Biologia, o qual foi o aplicador da

proposta na escola.

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O primeiro encontro foi direcionado para o conhecimento e adaptação da

pesquisadora ao Colégio. Nesta fase foi possível conhecer e sistematizar as

características do contexto de estudo, apresentar o material desenvolvido à

Equipe Pedagógica e ao professor titular que se propôs a aplicá-lo em sala de

aula, como também, selecionar a turma que participaria do processo a fim de

proporcionar aos sujeitos envolvidos uma adaptação à figura do pesquisador.

A turma que participou da pesquisa foi escolhida pelo dia e número de

aulas que se adaptavam melhor aos horários do professor titular e da

pesquisadora. Esta turma pertencia ao 3º ano do Ensino Médio, possuía 35

alunos, mas apenas 28 frequentavam as aulas regularmente.

A carga horária destinada à Biologia da Rede Estadual de Ensino do

Estado do Paraná compreende entre duas e três aulas semanais com duração de

50 minutos cada aula. A escolha da carga horária depende da matriz curricular

elaborada pela escola. No caso observado, os terceiros anos possuem três aulas

semanais de Biologia, portanto foram observados, durante o primeiro trimestre (de

março a junho de 2009), um total de 26 aulas, sendo escolhidos para análise oito

(8) encontros de duas aulas cada.

No segundo encontro iniciamos a observação em sala de aula, nos

apresentando e explicando aos alunos sobre a proposta de trabalho que iria

desenvolver junto com o professor regente naquele semestre. Aplicamos um

questionário com o intuito de diagnosticar o que os alunos entendiam por:

cromossomo, célula, gene e hereditariedade. Temas que seriam apresentados

para os alunos em aulas posteriores.

No terceiro encontro foram apresentados à turma, pelo professor de

Biologia regente, os slides elaborados pela pesquisadora, para a TV - Multimídia,

acerca dos temas: “Os seres vivos e a Célula” e “Hereditariedade”. A observação

destas aulas permitiu analisar, de modo mais detalhado e aprofundado,

determinadas demandas da prática pedagógica e o entendimento dos alunos em

relação aos assuntos de genética, bem como avaliar o layout e o conteúdo

exposto nos slides.

O tema “Os seres vivos e a Célula”, foi utilizado pelo professor com o

objetivo de revisão do conteúdo: célula, DNA, gene. A metodologia utilizada para

apresentação do tema foi a dialógica, momento em que ora o professor lia os

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slides e questionava os alunos, ora os alunos ao acompanharem os slides

levantavam questionamentos, os quais o professor procurava responder

relacionando-o com algum fato do seu cotidiano, e ou com assuntos

desenvolvidos anteriormente. Percebemos também que, durante a aula alguns

alunos faziam anotações. Ao finalizar esta aula, a professora destacou a

importância da compreensão estes conceitos, pois seriam necessários nas aulas

futuras.

No quarto encontro foi desenvolvido o tema “Hereditariedade”, introduzido

a partir das semelhanças e diferenças entre os indivíduos, sejam eles animais ou

plantas. Novamente, a mediação do professor se deu por meio de

questionamentos presentes nos slides. Ao término da aula, o professor solicitou a

resolução de um exercício presente no livro didático e que trouxessem para a

próxima aula reportagens relacionadas ao tema estudado.

No quinto encontro ocorreu a avaliação dos temas abordados para

diagnosticar as readequações necessárias no material. Os alunos responderam a

um questionário de avaliação sobre os slides e também emitiram sugestões para

possíveis reformulações. Este foi um momento importante, pois propiciou aos

atores do processo, professor e alunos, expressassem suas opiniões a respeito

do material didático por nós produzido. Aproveitamos a oportunidade também

para apresentar nossas anotações sobre o observado nesse período.

Após este encontro de avaliação foram realizados os ajustes sugeridos de

forma a possibilitar maior interação entre professor, alunos e a TV - multimídia.

No sexto encontro foi desenvolvido o tema “Mendel e a Genética” com o

propósito de revisar os conteúdos de genética já estudados. A utilização do

material se deu de maneira interativa a partir dos questionamentos presentes nos

slides. Pudemos constatar que as alterações realizadas foram adequadas e

aprovadas pelos alunos e professor, uma vez que foi comentada, sua contribuição

para a aprendizagem daqueles conteúdos.

No sétimo encontro foi desenvolvido o tema “Segunda Lei de Mendel”.

Observamos nesta aula que o professor desempenha importante papel na

escolha de estratégias de ensino que possibilitem a aprendizagem significativa de

seus alunos. Tal observação se deveu ao fato de que a professora, após a

exploração do conteúdo, organizou a turma em grupos e distribuiu a eles livros,

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revistas e textos sobre os temas de genética abordados nas últimas aulas.

Solicitou que pesquisassem nos textos: as informações mais relevantes, a fonte

de pesquisa utilizada pelo autor e se o grupo era favorável ou não às conclusões

apresentadas. No início da atividade alguns alunos ficaram com dúvidas sobre as

solicitações, mas através de perguntas dirigidas aos alunos que costumeiramente

expunham suas opiniões nas aulas, os demais começaram a participar também.

Ficou evidente a iniciativa do professor em estimular a participação dos

alunos e eles responderam de forma bastante satisfatória.

O oitavo encontro foi o momento de avaliação da implementação. Foram

respondidos três questionários, um pelos alunos e os outros dois pelo professor.

As perguntas objetivavam levantar dados empíricos mais objetivos

complementares à observação participativa, além da possibilidade de fazerem

comentários mais subjetivos.

Os questionários respondidos pelo professor regente relacionavam o

conteúdo do material didático, nos quais poderia expressar sobre a adequação ao

nível de ensino proposto, sobre as atuais condições tecnológicas que o professor

tem na escola e sua utilização. O questionário dos alunos tinha por objetivo

avaliar os últimos temas desenvolvidos e verificar se as readequações realizadas

nos slides tinham sido satisfatórias a ponto de provocar mudanças na apreensão

dos conceitos sobre genética, já que poderíamos comparar às manifestações

obtidas no questionário diagnóstico.

Posteriormente foi realizada uma reunião com a Equipe Pedagógica da

escola enfocando todos os momentos da implementação da proposta, bem como

o preenchimento do Parecer de Acompanhamento da atividade pela orientadora,

finalizando o trabalho no semestre.

Análise das Observações e dos Dados EmpíricosAs respostas emitidas pelos alunos no questionário diagnóstico no início

do processo, revelaram que apesar deles terem estudado os conceitos básicos

referentes à estrutura e fisiologia dos seres vivos, nos seus vários níveis de

organização durante sua vida escolar, eles ainda apresentavam idéias

espontâneas, alguma vezes destituídas de significados.

15

Ao perguntar para os alunos “O que é Genética”, 80% responderam que

é a parte da Biologia que estuda a hereditariedade. Apresentaram idéias que

demonstravam saber que as estrutura relacionadas com a hereditariedade estão

presentes na célula em alguma estrutura. Por exemplo: “Que as características hereditárias são passadas de pai para filho pelo DNA”;

“As características são transmitidas através de um complexo que compõem uma célula onde se encontram as informações de nossas características físicas”.

Mas, quando solicitados para explicar como as características hereditárias

são transmitidas, 52% dos alunos emitiram conceitos espontâneos e de senso

comum, 8% não responderam e 40% não souberam explicar.

Percebemos durante as observações em sala de aula, que os termos

DNA, gene, cromossomo eram utilizados pelos alunos com muita naturalidade,

pois fazem parte tanto do conteúdo escolar, como também das reportagens

constantemente veiculadas na mídia.

Porém, quando solicitados para exporem seu entendimento acerca das

funções dessas estruturas celulares, apenas 20% dos alunos apresentaram um

conceito adequado respondendo, por exemplo: “Os genes estão nas moléculas de DNA que constituem os cromossomos”;

“Os genes estão codificados na molécula de DNA, que por sua vez constituem os cromossomos”.

Do restante, 44% não responderam e 36% não sabem conceituar ou

confundem os termos, afirmando que:“DNA é uma célula responsável pela transmissão das características de pai para filho”;

“O DNA é o ácido desoxiribonucléico, o cromossomo é o pedaço do DNA e os genes comandam o funcionamento das células”.

“O DNA leva dentro de si a característica de uma pessoa para seu filho”.

Através desta análise foi possível constatar que a maioria dos alunos

constrói explicações próprias para os fenômenos biológicos durante o processo

ensino-aprendizagem e, muitas vezes por falta de conexão entre os conceitos

estudados e a compreensão empírica destes fenômenos tornam suas explicações

incompletas ou incoerentes com os princípios científicos.

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Isso nos leva a refletir sobre a importância do professor ter domínio não

somente do conhecimento específico, mas saber como ocorrem os processos de

ordem pessoal que envolve a aprendizagem. Neste sentido, Pedrancini et al

(2005, p.5) afirmam que:Quando o sujeito se apropria de uma palavra, não significa que se apropriou do conceito [...] ele pode utilizar o mesmo termo, por exemplo, material genético, porém com significados diferentes [...] o que pode resultar numa pseudo-aprendizagem, uma vez que o aluno se apropriou da palavra, mas não necessariamente do conceito.

Portanto, de acordo com as DCE, se o ensino de Biologia pretende

superar a característica conteudista, memorística e comportamentalista por muito

tempo desenvolvido por esta área de ensino, procurando articular o conhecimento

da cultura científica e socialmente valorizada, com o contexto histórico-social dos

alunos, as aulas de Biologia devem propiciar aos alunos esta possibilidade. Pois,

a apropriação e o entendimento destes conceitos são fundamentais para a

compreensão de questões presentes no dia-a-dia dos alunos.

Percebemos em nossa participação em sala de aula a importância do

papel do professor em utilizar estratégias de ensino que visam à aprendizagem

significativa. Neste sentido, principalmente no terceiro e sétimo encontro pudemos

observar que no início das discussões os alunos estavam inibidos, porém à

medida que o professor insistia nos questionamentos, eles mostraram-se, no

decorrer da aula, mais dispostos a opinar, havendo ao final uma participação ativa

e uma demonstração de interesse pela temática em estudo.

Porém, este fato não significa dizer que este interesse pela aula foi

despertado somente pelos conceitos apresentados em genética. Muitas vezes,

este interesse pode ter surgido no âmbito social, por uma simples curiosidade ou

notícia veiculada pela mídia. Portanto, como nos diz Bonzanini e Bastos (2007,

p.7): “o aluno não precisa necessariamente saber de genética para se interessar

pelos avanços recentes, contudo, é necessário que conheça os conceitos de

genética básica para que compreenda esses assuntos”.

Neste sentido, a avaliação final apresentada pelo professor regente com

relação ao material didático, slides e as sugestões de atividades, foram

satisfatórias.

17

Ao responder os questionários de avaliação, pontuou que a organização,

a apresentação e o conteúdo dos slides favorecem o papel do professor na sala

de aula e que após as adequações sugeridas ao material gráfico este facilitou e

organizou melhor a aprendizagem dos alunos, pois, segundo sua avaliação: “o

material permite uma aula diversificada, principalmente para professores

iniciantes, proporcionando desafios pedagógicos que mantém e estimulam o

interesse do aluno”.

Aponta como fator relevante, para que os professores desenvolvam aulas

que utilizem as tecnologias de informação e comunicação (TIC), a promoção de

cursos de formação continuada sobre o uso de programas em informática e

relacionados ao manuseio da TV - multimídia; a melhoria da velocidade de

navegação na Internet nos laboratórios da escola; a afinidade e domínio das

ferramentas e linguagens tecnológicas pelos alunos e adequação da

compatibilidade dos programas e aplicativos com o Sistema Operacional Linux.

Esta relevância foi também percebida nas respostas do questionário de

avaliação do material utilizado em sala de aula (slides) respondido pelos alunos

ao final do processo. Neste questionário, além das questões de múltipla escolha,

havia um espaço para que os alunos escrevessem outras observações sobre o

material, no qual foram registrados os seguintes aspectos:

a) Com relação material produzido:

Lembrando que um dos objetivos deste trabalho era o de verificar se o

material produzido estava adequado ao nível médio de ensino e despertava

curiosidade, alguns alunos os avaliaram dizendo:

“Para mim está ótimo, com este material pude visualizar e entender melhor as estruturas da molécula de DNA”;

“Parabéns professora! Esse material para mim está muito bom, pois ele me ajudou a entender mais a genética”.

Diante dos depoimentos, acreditamos que ao incorporar as sugestões

dadas pelos alunos e pelo professor ao material desenvolvido ainda no início da

pesquisa, estas contribuíram para diversificar a metodologia de sala de aula,

sendo entendido como um estímulo diferenciado à aprendizagem.

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Houve, portanto, um acréscimo à satisfação relativa ao material e à

aprendizagem dos alunos, ressaltada por eles próprios, avaliando-o como

satisfatório e facilitador da aprendizagem.

Mas, mesmo diante de uma avaliação satisfatória, alguns alunos ainda

contribuíram para a melhoria do material sugerindo aspectos a serem melhorados

com relação ao seu layout, dizendo: “Para melhorar a aula, seria bom se tivesse para cada tema abordado um material escrito para o aluno estudar em casa”;

“Seria interessante se possível inserir áudio ao texto escrito”

Observamos nas falas selecionadas, que mesmo o material produzido

sendo aceito pelos alunos e facilitando a aprendizagem, ainda, na visão dos

alunos, necessita de adequações. Porém, ressaltamos que não era a intenção da

pesquisadora em produzir material áudio-visual, mas sim trabalhar com a

melhoria da visualização de estruturas complexas presentes no conteúdo de

genética.

b) Com relação aos conteúdos abordados:

Foi possível verificar em algumas falas, que os conteúdos apresentados

nos slides aos alunos foram por eles considerados adequados, sendo vistos como

um auxílio em sua aprendizagem. Vejamos o que os alunos disseram:

“Os conteúdos selecionados para serem apresentados nos slides, foram interessantes e apresentaram algumas curiosidades com relação ao assunto”;

“Agora entendi que os genes têm a função de definir as características das pessoas”.

Portanto, estas falas dos alunos mostram que as idéias anteriores acerca

da concepção de DNA e gene foram superadas, revelando que as estratégias

metodológicas utilizadas pelo professor associadas ao material (slides) utilizado

em aula, contribuíram para a melhoria da aprendizagem.

Diante dos dados apresentados na avaliação diagnóstica, a primeira

avaliação do material e a avaliação final, podemos afirmar que houve uma

compreensão maior sobre os conteúdos de genética, promovendo uma

aprendizagem e compreensão efetiva destes fenômenos pelos alunos, pelo fato

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deles apresentarem explicações próprias para os fenômenos biológicos durante o

processo de ensino-aprendizagem.

Confirmamos, portanto que ao associar as tecnologias aos processos

educacionais temos a possibilidade de propiciar aos alunos e professores um re-

encantamento pela aprendizagem e consequentemente pelo espaço escolar .

Com relação a isto Moran (1995), afirma que:As tecnologias permitem [...] ao professor estar mais próximo do aluno. Pode receber mensagens com dúvidas, pode passar informações complementares para determinados alunos. Pode adequar a sua aula para o ritmo de cada aluno. Pode procurar ajuda com outros colegas sobre problemas que surgem, novos programas para a sua área de conhecimento. O processo de ensino-aprendizagem pode ganhar assim um novo dinamismo, inovação e poder de comunicação inusitados (p.26).

Portanto, acreditamos que ao associar novas metodologias educacionais

aos conteúdos e associando estes com as tecnologias presentes hoje em sala de

aula, podemos afirmar que o material produzido pode ser entendido como um

meio facilitador e promotor da aprendizagem.

Considerações FinaisTendo em vista que esta pesquisa visava investigar a utilização da

tecnologia como uma metodologia alternativa no Ensino de Biologia, constatamos

que a utilização das ferramentas tecnológicas como mediadoras no processo de

ensino e aprendizagem pode contribuir na abordagem e aprendizagem de

conteúdos de natureza complexa e abstrata, como a genética.

Ainda no início da pesquisa identificamos que as dificuldades

apresentadas pelos alunos ao conceituarem cromossomo, célula, gene eram as

mesmas, apresentadas na pesquisa de Silveira e Amabis (2003), quando relatam

a dificuldade que um aluno do ensino médio tem em estabelecer diferenças

conceituais entre componentes celulares.

Ao mesmo tempo em que, vimos a possibilidade de utilizar a tecnologia

educacional como ferramenta, para auxiliar o professor a dinamizar o ensino de

Biologia pelo uso das tecnologias disponíveis hoje nas escolas e buscar um

melhor entendimento dos alunos acerca dos conceitos e fenômenos biológicos

que envolvem o conteúdo de genética. Pois, como nos diz Moran (1995): “As

tecnologias de comunicação não substituem o professor [...], mas permitem um

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novo encantamento na escola ao abrir suas paredes e possibilitar que alunos

conversem e pesquisem com outros alunos da mesma cidade” (p.26).

Assim, diante da análise das avaliações e dos relatos apresentados, tanto

pelos alunos como pelo professor regente sobre o material produzido,

acreditamos que o uso das ferramentas tecnológicas pode contribuir para

amenizar algumas dificuldades com conteúdos que envolvam aspectos

microscópicos e de natureza complexa e abstrata, além de ser um auxílio para

gerar questionamentos e discussões em sala de aula. No entanto, há que se

ressaltar que as tecnologias educacionais no cotidiano escolar, são apenas mais

um recurso metodológico.

Portanto, destacamos que o material produzido é apenas mais um meio

pelo qual o professor poderá desenvolver suas aulas, pois a aprendizagem não se

dá somente pelo uso de recursos como: livro, revistas, computador, TV -

multimídia, mas pela relação que o professor estabelece do conteúdo com outras

esferas do conhecimento, como por exemplo, o cotidiano, a história, a política, a

religião, enfim o contexto social.

REFERÊNCIASBONZANINI, T. e BASTOS, F. A Formação de Professores de Biologia e os Avanços Científicos Recentes: demandas da prática pedagógica. In: VI ENPEC - Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Florianópolis, 2007,

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