PENTEADO, Francisco. Como Se Fala a Bordo

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Glossário de terminologia usada em navios. Como se fala a bordo.

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NDICE

Prefcio3Introduo5Idea geral do navio6Mastreao8Massme11Poleme15Velme20Classificao dos navios23Galera24Barca25Brigue26Lugre27Lugre-barca28Patacho29Lugre-patacho30Escuna31Lugre-escuna32Palhabote33Hiate34Chalupa35Caque36Cter37Algumas vozes e comandos mais vulgares38PREFCIOH uns quarenta anos, sob o estmulo da proclamao da Repblica e dos deveres de melhoramento da instruo popular que ela envolvia, iniciou uma casa editora de Lisboa, Livraria Profissional, uma coleo de opsculos educativos de difuso cientfica, terica e prtica, intitulada OS LIVROS DO POVO, Noes de tudo. Formavam essa coleo 16 seces: Educao infantil, Educao geral, Educao cvica, Educao profissional, Educao fsica, Higiene prtica, Domnios de Portugal, Arte e literatura, Portugal na histria, Vida social, Vida no campo, Vida comercial, Vida martima, Vida industrial, Vida colonial e Vida militar. A 13., Vida martima, era dirigida por Francisco Penteado, oficial da marinha de guerra, e apresentava o seguinte programa: Como se fala a bordo, Como se fazem velas, Navegao junto a terra, Reboques e rebocadores, O ensino martimo em Portugal, Desportos nuticos, As estaces do ano, Como o marinheiro adivinha o tempo, Mars e Correntes martimas, Como se distinguem as estrelas, Os cometas, Os eclipses, O mergulhador, Barcos de pesca, Como se fazem redes, Pesca de sardinha, Pesca de atum, Pesca do bacalhau, Pesca da lagosta, etc. etc.Cada tominho custava quarenta ris ou quatro centavos, quantia de que dificilmente podero fazer uma ideia valorativa as modernas geraes. Este preo vil era j uma inovao importante da simptica iniciativa, mas no era a principal. Havia, de fato, uma norma nova de verdadeira transcendncia: os volumitos no seriam redigidos por vulgarizadores irresponsveis ou proletrios das letras que procuram trabalho fcil, como os editores procuram trabalho barato: seriam compostos por especialistas autorizados, pessoas de categoria na cincia, no ensino e nas profisses, pessoas que se no dedignavam de descer ao nvel da plebe da inteligncia, a repartir com ela o seu po do esprito ou o saber de que eram devotos obreiros. Bastar-lhes-ia comungar na devoo cvica e adaptar-se um pouco quela misso pedaggica uma pedaggica de ar livre, em que o povo era a grande criana que se havia de conduzir ao altar de Minerva.

Havia uma tradio nacional desta forma de educao popular. Os positivistas, com Tefilo Braga, Teixeira Bastos e Consiglieri Pedroso frente, j haviam empreendido coisa semelhante, mas restrita ao campo das ideias. E fora com a doutrina desses panfletos de propaganda e difuso que se alimentara a oposio monarquia e sua inabilidade. Agora as realidades concretas sobrepunham-se s ideias abstratas e ao esprito filosfico, porque a massa popular era chamada a intervir na governao pblica e a pr os seus problemas vivos. Quem se propuser continuar a bem conhecida Histria da Instruo Popular em Portugal, de D. Antnio da Costa (1824 1892), dever mencionar com estima esta coleo dos Livros do Povo, que por sua vez se props continuar a benemrita influncia da Biblioteca do Povo e das Escolas, de grata memria em Portugal e no Brasil.O primeiro tomo da seco martima, que se publicou, foi do prprio diretor da seco, que era nem mais menos que um ilustre oficial da marinha de guerra ou, melhor, um jovem oficial que veio a tornar-se brilhantemente ilustre na milcia martima e no ensino nutico: Francisco Penteado (1886 1947). H dezenas de anos que muito cuidadosamente guardo essa brochurinha, Como se fala a bordo, porque nela se contm informaes tcnicas, preciosas para um profano na vida naval, que obrigado a ler e reler a opulenta literatura martima da lngua portuguesa. E tenho desejado pr esse opsculo ao alcance das pessoas animadas do mesmo interesse profissional ou mesmo de simples curiosidade de amador por esssas leituras. Mas s agora me surgiu a boa oportunidade, graas constante boa-vontade dos rgos de governo da Faculdade, aos quais uma vez mais tenho de expressar o meu rendido agradecimento. Assim se pde reproduzir o velho tominho da coleo Os Livros do Povo, de grata memria e permanente utilidade.Os cronistas dos sculos XV e XVI, principalmente os de matria ultramarina, os roteiros de viagens martimas, os prprios Lusadas, a Histria Trgico-martima, toda a moderna literatura histrica e novelesca do mar, Ignacio Quintella, Celestino Soares, Francisco Morais Bordallo, Bernardo Mesquitella, Braz de Oliveira e at um pouco o japonista Wenceslau de Moraes, no prescindem, para a compreenso integral dos seus textos e das suas peculiaridades mais pitorescas, de terminologia naval, da sua fraseologia expressiva e mesmo da nomenclatura e de rpidos esboos dos tipos de navios. Nem a todos ser dado visitar o incomparvel Museu Seixas, de Lisboa, nem ler a eruditssima monografia do Comandante Quirino da Fonseca, A Caravela Portuguesa, de 1934. Mas, que o fizessem, ainda assim no colheriam as informaes precisas para a boa inteligncia dos velhos textos, porque o museu um mestre mudo e atordoa pela abundncia de unidades navais quem estranho histria da navegao; e o volume do Com. Fonseca uma reivindicao histrica em torno de um s tipo de navio, aquela caravla, indelvel na histria do progresso da civilizao. O tominho de Francisco Penteado ministra o quantum satis. E os mestres da filologia portuguesa tero ali definies precisas para os seus estudos de lxico, definies s vezes ilustradas com desenhos muito elucidativos. Rigorosamente, deveria dizer quase o quantum satis, porque o carter prtico e atual do opsculo, atualidade dos primrdios do sculo XX, excluiu o aspecto histrico da matria, histrico ou obliterado, referente aos sculos hericos da navegao. A nomenclatura privativa dos sculos XV e XVI ter o leitor curioso de a procurar noutras fontes de erudio. E assim reconhecer a necessidade de um dicionrio nutico exaustivo.Como disse antes, o autor deste apontamento sobre a linguagem viva da navegao vela, jovem tenentinho quando o redigiu, veio a tornar-se um oficial verdadeiramente ilustre. Participou com relevo em campanhas coloniais memorveis, na Provncia de Angola; foi professor e diretor da Escola Naval, e co-diretor da marinha mercante, comandou vrias unidades e, durante a Segunda Guerra, foi comandante martimo do Arquiplago dos Aores o que tudo lhe valeu condecorao e louvoures, e, mais que isso, a estima e o respeito pblicos.A presente reproduo foi expressamente auto rizada pela sua herdeira, Sra. D. Maria da Graa Ramos Pereira e por seu pai e testamenteiro de Penteado, Sr. Coronel de Engenharia, Vasco Lopes de Mendona, filho do insigne dramaturgo Henrique Lopes de Mendona (1856 1931), irmo da D. Virgnia Lopes de Mendona, autora de livros de literatura infantil muito apreciadas, sobrinho-neto do crtico e folhetinista do Romantismo, A. P. Lopes de Mendona (1826 1865). Assim nos conduz este modesto opsculo entranha da sociedade portuguesa e a alguns nomes da sua nata moral e intelectual.Em nome dos meus discpulos, agradeo ao Sr. Coronel Vasco Lopes de Mendona e a sua Exma. filha os termos gentilmente compreensivos da sua autorizao.So Paulo, 11 de agosto de 1950.Fidelino de Figueiredo.NOTA No texto respeitou-se a ortografia do original.

A reviso das provas ficou a cargo do assistente da Cadeira.

INTRODUOO homem do mar fala uma linguagem especial, uma gria sua, cheia de termos incompreensveis para aqueles que no so do ofcio, cujo conhecimento se torna indispensvel aos que queiram seguir qualquer ramo da carreira martima, ou ainda queles que se interessem pela pitoresca vida do do mar.Todas as coisas tm os seus nomes e por eles que temos de design-las, para nos fazermos estender. por isso que vamos dar neste livro uma poro de frases e de termos martimos, explicando-os e definindo-os tanto quanto for possvel.Referir-nos-emos quase sempre aos navios de vela, j porque ainda hoje so numerosos na marinha mercante, onde ocupam um logar importantssimo, j porque melhor se prestam a um estudo mais completo.Em todo o caso limitaremos a nossa exposio s frases mais correntes na vida de bordo e descrio das peas mais visveis e de maior importncia, que entram na composio de um navio, porque de outro modo seramos levados a escrever grossos volumes.

I

IDEA GERAL DO NAVIONum navio, a extremidade do casco, destinada a cortar as guas na sua marcha, chama-se proa. A extremidade oposta chama-se popa. Nesta existe uma pea de madeira, denominada leme, que serve para guiar o navio no seu percurso, recebendo movimento por meio de uma roda, a que se chama roda do leme, ou por meio de uma vara, a que d o nome de cana do leme.Estando virado para a proa ou para vante e, portanto, de costas para a popa ou para r, chama-se ao lado esquerdo bombordo e ao lado direito estibordo.Costado a parte externa do casco, que est fora da gua e que tambm se denomina obras mortas; querena ou obras vivas a parte externa do casco que fica debaixo da gua. As paredes internas e latereais do casco chamam-se amuradas.No fundo do navio, a todo o seu comprimento e pela parte exterior, h uma pea de madeira de seco rectangular, chamada quilha, formada de vrios tales, fortemente ligados uns aos outros, por meio de cavilhas. Roda de proa um forte madeiro curvo, que vem ligar-se quilha, como se fosse a sua continuao e que forma a proa do navio, elevando-se at ao convez, isto , at ao pavimento superior do navio. No extremo oposto da quilha h uma outra pea colocada ao alto e que serve de suporte ao esqueleto da popa: o cadaste. Nos navios de ferro, tanto a roda de proa como o cadaste, so de ferro macio.De um e outro lado ligam-se quilha umas peas de madeira ou de ferro, recurvadas, que se chamam balisas e que servem de suporte s tbuas ou chapas que formam as amuradas. Ao conjunto das balisas d-se o nome de ossada do navio.Se compararmos a constituio de um navio com a de um animal, poderemos dizer que a quilha e as balisas correspondem neste espinha dorsal e costelas.As balisas no tm igual abertura, em virtude do adelgaamento dos navios nas extremidades, havendo uma a balisa mestre que ocupa aproximadamente a parte mdia, que se chama seco mestra e que representa a mxima largura do navio, que se denomina boca.Para fixar bem as balisas e conseguir uma boa travao, coloca-se sobre elas uma grossa pea de madeira ou de ferro, cavilhada para a quilha e correndo ao longo desta, qual se chama sbre-quilha.Todas estas peas so cobertas interiormente pelo forro interior, que em geral no existe nos navios de ferro e que no mais do que um tabuado, revestindo o navio at altura do primeiro pavimento, que sustentado, como todos os outros, por vigas de madeira ou cantoneiras de ferro, ligeiramente arquedas, que se denominam vaus, cujos extremos assentam numas pranchas, que correm de popa proa, por dentro das balisas, as quais se chamam dormentes.

Nestes pavimentos fazem-se diversas aberturas, chamadas escotilhas, que servem, no s para estabelecer a comunicao entre eles, como tambm para lhes dar luz e ar. Todos os pavimentos so escorados a meio navio por colunas de madeira ou de ferro, chamadas ps de carneiro. Estes pavimentos so divididos por meio de anteparas em compartimentos que tomam diversos nomes, segundo o fim a que se destinam. Assim se diz o paiol dos mantimentos, o paiol do pano, o poro da aguada, o poro das amarras, o paiol da plvora, etc. semelhana do forro interior, tambm pela parte de fora esta ossada revestida por tabuado ou chapas de ferro formado o forro exterior, que ligado quele por cavilhas metidas atravs das balisas. Este forro exterior, como natural, para evitar a entrada da gua, cuidadosamente clafetado com estopa e massa. Tambm, a cobrir exteriormente toda a parte que anda mergulhada, costumam empregar-se nos navios de madeira folhas de cobre, pregadas sobre feltro embebido em breu, protegendo a madeira e pondo-a assim em condies de durar mais tempo.No costado h vrias aberturas, que, segundo a sua forma e o fim que tm em vista, tomam diferentes nomes. Chamam-se vigias s que servem para ventilar e dar claridade aos compartimentos internos de um pavimento coberto. So, em geral, aberturas circulares e pequenas, fechadas por um vidro grosso com uma virola de metal apertada por meio de parafuso e porca. Chamam-se resbordos s aberturas rectangulares, que servem para carga e descarga de material e que so fechadas por meio de portas vedadas. proa h duas aberturas circulares uma de cada bordo chamadas escovens, destinadas a dar passagem s amarras do navio e que por isso so forradas por mangas de ferro. H navios grandes que tm mais de dois esconvens. Em viagem, so fechados por umas tampas, que se chamam buchas dos esconvens, que tm por fim impedir a entrada da gua do mar. Tambm se v, junto linha de gua, uma srie de buracos, que se chamam embornais e que, do sada s guas da baldeao e das chuvas, que se acumulam nos pavimentos superiores. Ainda por fora do costado, existem uns canos de folha de ferro, semelhantes aos que os prdios tm para esgoto das guas da chuva, e que servem aqui para conduzir os despejos do navio para o mar: so as dalas.Nalguns navios h na popa e na proa umas construes ligeiras, que, em geral, servem para alojamentos e que tomam respectivamente os nomes de tombadilho e castelo. No pavimento superior destes, existem vrias peas, que, pela sua importncia, merecem referncia especial.

No castelo h uma mquina, que se chama cabrestante, destinada principalmente a recolher a amarra, arrancando do fundo a ncora. A amarra vem do seu poro, atravessa os vrios pavimentos por aberturas que se chamam gateiras e chaga finalmente ao castelo, cuja gateira munida de mordedouro, que, como o seu nome est indicando, serve para a morder, aguentando-a e .evitando que ela continue a correr. H ainda umas colunas de ferro, de pequena altura, mas muito fortes, que tm o nome de abitas, onde se enrola a amarra e que servem para evitar que o esforo daquela se faa todo sobre o mordedouro, quando o navio est fundeado, isto , quando a ncora enterrada no fundo. Alm destas h umas peas, muito semelhantes s abitas, tanto avante como r, dispostas aos pares e chamadas cabeos (Fig. 1), onde se amarram quaisquer cabos, quando haja necessidade.Chama-se comprimento de um navio distncia que vai da roda de proa ao cadaste. A sua maior largura chama-se boca, com j vimos. A altura desde a quilha at borda chama-se pontal. Calado de gua a distncia vertical desde a quilha at ao plano de flutuao, isto , ao plano que a gua atinge, quando o navio esta no mar. O calado marcado em ps ou em decmetros na roda de proa e no cadaste e, em geral, maior, r do que avante.IIMASTREAO

Passemos agora a ver, tambm muito rapidamente, como o marinheiro designa a mastreao de um navio de vela.Os trs mastros de um navio de vela recebem a denominao geral de mastros reais, mas tm nomes especiais.O mastro de proa o mastro de traqute; o do centro a mastro grande; o da popa o mastro da mezena ou mesmo da gata.So compridas e grossas vergonteas arredondadas (Fig. 2), excepto na parte superior, em que conservam a seco quadrada, que se chama calcez (a); terminam em baixo por um adelgaamento que tem o nome de mecha (b), cujo fim fixar o mastro, para o que tem de entrar numa cavidade, aberta na sobrequilha e chamada carlinga.Os mastros diferem uns dos outros por terem maior ou menor espessura, isto , por terem mais ou menos palha, e pela sua altura, a que o marinheiro d o nome de guinda.Qusi a chegar ao topo superior, o mastro tem um engrossamento (c), chamado rom, onde fixam dois pequenos madeiros (d), que se chamam curvates, sobre os quais ho de assentar perpendicularmente duas outras peas de madeira, os vaus reais.Sobre este conjunto ficam os cestos de gvea (Fig. 3), colocados com a curvatura para vante, feitos de tabuado, deixando duas aberturas, uma de cada lado do mastro (a), que se denominam claras de gvea e que servem para dar passagem gente e aos cabos do aparelho. Alm destas, h ainda outras, duas das quais, tm grande importncia: a abertura (b) por onde passa o calcez do mastro e a casa do mastaru (c), em que se aloja a mecha do mastaru.No extremo do calcez h outra mecha, semelhante do topo inferior do mastro, onde se fixa uma pea chamada pega real (Fig. 4) por meio de uma abertura quadrada (a); alm desta abertura, tem ainda um; buraco circular (b) por onde enfiam outras vergonteas, que formam os prolongamentos dos mastros e que tomam o nome de mastarus, designando-se o de proa por mastaru de velacho, o de r por mastaru da gata e o do mastro grande por mastaru de gvea, expresso que tambm se usa como denominao geral, abrangendo-os a todos.A estes mastarus ainda se seguem outros, ligados aos primeiros por processos semelhantes ao que acabmos de ver e que recebem o nome de mastarus de joanete. Tanto os mastros como os mastarus so ainda aguentados por cabos dispostos no sentido longitudinal do navio, a que se chamam estais, e no sentido transversal, que tomam o nome de brandais.Tambm, do topo, de cada mastro, para um e outro bordo, partem uns poucos de cabos, chamados ovens, afastando-se uns dos outros medida que se aproximam da borda do navio, onde se fixam fortemente. Nestas pernadas colocam-se horizontalmente uns cabos mais delgados, semelhana de degraus, a que se chamam enfrexates. A todo este conjunto d-se o nome enxrcia, que tem por fim fixar o mastro, servindo ao mesmo para a subida de pessoal quando seja necessrio faz-la para a execuo de qualquer manobra.H umas peas que cruzam com os mastros e mastarus, que se chamam vergas, e que tomam os nomes daqueles com que se cruzam. As vergas so mais grossas na parte mdia, o tero da verga , adelgaando para uma e outra extremidade, isto , para o lais da verga,H ainda uma espcie de vergas no topo dos mastros (no no topo dos mastarus), adaptando-se-lhes por meio de uma semi-circunferncia, a que se chama boca de lobo, colocadas no sentido de popa proa e formando com os mastros um ngulo agudo; estas vergas tomam o nome de caranguejas e tm a forma indicada na Fig. 5.Muito semelhante s caranguejas uma vara colocada na parte inferior do mastro da mesena e que, pelo seu comprimento, passa para fora da popa do navio: a retranca.Prolongado pela proa fora h o gurups (que pertence categoria mastros reais), ao qual se segue o pau da bujarrona e, fazendo ainda a sua continuao, o pau da giba, ligados uns aos outros por processo semelhante quele por que os mastarus se ligam aos mastros.Quem olha para um navio ainda v, no seu costado, prximo da proa e um de cada bordo, dois paus colocados horizontalmente, que se chamam paus de surriola e que servem para amarrar as embarcaes do navio, quanto esto no mar.

Estes paus em viagem, graas a serem fixados ao costado por meio de articulaes, dobram-se para cima, ou sobre o costado do navio, prolongando-se com ele, movimento que lhes so transmitidos por trs cabos; os amantilhos levantam-nos, os gaios e os patarrazes prolongam-nos, com o costado, respectivamente para vante e para r.As embarcaes so suspensas por meio de umas peas de ferro recurvadas, chamadas turcos (Fig. 6), que tm disposio para girar, virando-se para dentro do navio e trazendo comsigo a embarcao depois de iada, a qual pode ento descanar sobre umas peas de madeira ou de ferro, que se chamam picadeiros.Resumiremos agora, na estampa da pgina seguinte a disposio e normas das peas de mastreao que acabmos de descrever.

Estampa I

Mastros reais.1 Gurups

2 Mastro do traquete

3 Mastro grande

4 Mastro da mezena

Mastarus de gvea.

5 Pau da bujarrona

6 Mastaru do velacho

7 Mastaru da gvea

8 Mastaru da gata

9 Pau da giba

Mastarus de joanete.10 Masteru do joanete de proa11 Mastaru do joanete grande

12 Mastaru da sbre-gata

Vergas de papafigo.13 Verga do traquete

14 Verga grande

15 Verga seca

Vergas de gvea.

16 Verga do velacho

17 Verga da gvea

18 Verga da gata

Vergas de joanete.

19 Verga do joanete de proa

20 Verga do joanete grande

21 Verga da sbre-gata

Vergas de sobre.22 Verga do sobre de proa

23 Vergas do sobre grande

24 Verga da sbre-gatinha

Caranguejas dos latinos.25 Carangueja do traquete latino26 Carangueja da rebca ou do latino grande27 Carangueja da vela r ou da mezena28 RetrancaVaus reais e cestos de gvea.29 Vaus do traquete e cesto do velacho30 Vaus grandes e cesto da gvea31 Vaus da mezena e cesto da gataPegas reais.32 Pega do traquete ou do velacho33 Pega grande ou da gvea

34 Pega da gata ou da mezenaVaus de joanete.35 Vaus do joanete de proa

36 Vaus do joanete grande

37 Vaus da sbre-gata

38 Pega do joanete de proa

Pegas de joanete.39 Pega do joanete grande

40 Pega da sbre-gata

41 Pega do gurups.

42 Aro do pau da bujarrona.

43 Pau de surriola.III

MASSME reunio de todas as coisas que a bordo servem para fixar ou para manobrar as diversas peas da mastreao chama-se aparelho, que se divide em trs grandes partes: massme, poleme e velme.Todas as cordas de um navio se chamam cabos, e a reunio de todos os cabos toma o nome de massme. As extremidades de um cabo so os chicotes e a parte mdia o seio. A sua grossura chama-se bitola e mede-se pelo comprimento de uma linha que o abrace, isto , pela sua circunferncia.Tambm se distinguem os cabos pelo nmero de cordes que os compem. Estes cordes so formados de fios torcidos, de modo a ficar o cabo bem apertado. A esta operao de torcer os fios e os cordes chama-se coxar e assim se diz, por exemplo, que um cabo bem coxado.Para que os chicotes dos cabos no se descoxem, usa-se enrolar-lhes um bocado de fio; chama-se a isto falcassar o cabo e s voltas de fio d-se o nome de falcassa. Quando estas voltas so muitos bem unidas e dadas nos seios de dois cabos com o fim de os unir, ou num s cabo dobrado pelo seio, tomam o nome de boto. Abotoar dois cabos passar-lhes um ou mais botes, de modo a uni-los um ao outro.Os cabos podem ser de trs, de quatro ou de nove cordes. Os de trs ou quatro cordes chamam-se cabos de massa; aos outros d-se o nome de cabos calabroteados. Os de quatro cordes so coxados em torno de outro, que toma o nome de madre; os de nove so formados por trs cabos de trs cordes cada um, isto , so formados por trs cabos de massa.Os que se usam a bordo so feitos de linho branco ou alcatroado, de pita, de cairo, de couro e de arame, segundo os fins a que se destinam.O cabo de maior bitola que h a bordo e que serve para os trabalhos de mais fora como, por exemplo, amarrar o navio a um cais ou a uma bia, chama-se virador. Ostaxa tambm um cabo valente, mas de menor bitola que o virador, assim como a espia, que, por sua vez, ainda tem menor bitola e que em geral de cairo, enquanto aqules dois so de linho.Estes cabos esto, em geral, enrolados em sarilhos. D-se este nome a uns tambores de madeira, semelhantes na forma, aos carros de linha, que giram em torno de um eixo e em cuja parte central se enrola o cabo.Todo o cabo cria voltas e feitios, a que na linguagem do marinheiro se chamam cocas e que se desfazem, estendendo o cabo no convs, esticando-o e tambm pegando-lhe pelo seio e andando com ele de roda, dando-lhe voltas em sentido contrrio ao da coxa, como se pretendssemos descox-lo. A esta operao chama-se desbolinar o cabo e deve fazer-se sempre que ele acabe de servir, para em seguida se colher. Colh-lo enrol-lo circularmente, de modo que as voltas fiquem sobrepostas, formando-se assim o pandeiro de cabo.Todos os cabos, que existem a bordo, soltos, no fazendo parte do aparelho do navio e que esto prontos a servir em qualquer ocasio, chamam-se cabos solteiros.Os cabos que entram no aparelho de um navio dividem-se em duas categorias: cabos fixos, que servem para segurar a mastreao e cuja designao exprime por si s claramente as suas funes e cabos de laborar, que so os destinados a mover os mastarus, as vergas e as velas.Alar um cabo puxar por ele e esta operao pde fazer-se a bordo de trs maneiras: de leva-arriba, quando a gente que o ala caminha com ele sem parar; lupa, quando feito sem a gente sair do seu logar, aos puxes, com intervalos, sendo neste caso preciso ir aguentando o chicote do cabo, com volta num ponto fixo do navio, durante esses intervalos, enquanto os homens mudam a posio das mos, operao aquela a que se chama aguentar o socairo; e de mo em mo, quando a gente o ala sem sair do seu logar e sem descanar, pegando-lhe ora com uma, ora com outra mo.Quando se manda dar volta a um cabo, os homens que o tm seguro nas mos devem fix-lo em qualquer dos pontos destinados a esse fim, cabeos, cunhos, etc. enrolando-o a com voltas, que s a prtica ensina a fazer.Diz-se que um cabo est brando, quando est folgado. Em oposio, quando um cabo est muito esticado, bem esperto, como se chama em linguagem nutica diz-se que est bem rondado. Assim vulgar ouvir a bordo mandar-se rondar o brando a um cabo.Um cabo bem rondado e que est com volta, por exemplo, nuns cabeos (Fig. 1) ou num cunho (Fig. 7), pde ser arriado de vrias maneiras: tirando-lhe as voltas todas de repente e soltando-o por completo do cabeo, o que se chama largar o cabo por mo; desfazendo algumas das voltas, deixando ficar apenas uma ou duas, de maneira a que ele possa recorrer, o que se denomina arriar o cabo sob volta; e no desfazendo nenhuma das voltas, mas aliviando-as, isto , afrouxando-as, de modo a que ele recorra vagarosamente, o que se chama solecar o cabo.A bordo usa-se uma variedade muito grande de ns e voltas, que s a prtica ensina a fazer e a usar. Em todo o caso, a ttulo de curiosidade, aqui deixamos mencionados os nomes dos principais, acompanhando-os de desenhos, a ver se conseguimos dar uma idea rpida das suas formas.Estampa II

Estampa IIIIV

POLEME

Todas as peas de madeira ou de ferro, que servem, a bordo dos navios, para a pasagem e retorno dos cabos constituem o poleme.Divide-se em duas clases: poleme surdo, quando no tem roldanas, limitando-se as peas a ter uns furos, que tambm se chamam claros ou olhos, por onde passam os cabos fixos e poleme de laborar, quando tem roldanas, sobre as quais deslisam os cabos de laborar.A cavidade da pea de poleme, dentro da qual gira a roldana, tem o nome de gome, e os cavados exteriores em forma de meia-cana, chamam-se goivados ou goivaduras. Nestes goivados entra a ala. um bocado de cabo, cujos chicotes se unem, formando assim uma argola, dentro da qual caiba muito vontade a pea de poleme que se pretende alcear. Metida a pea dentro do cabo, ajusta-se este de encontro s goivaduras, apertando-o bem com um ou mais botes. Fica assim formada uma nova argola mais pequena, que serve para fixar a pea onde for necessrio.Em vez da ala, algumas peas do poleme de laborar tm uma chapa de ferro que as abraa, qual est ligado Um gancho que se chama gato e por meio da qual aquela se fixa em qualquer ponto.Estas peas distinguem-se das que descrevemos anteriormente, chamando-lhes ferradas e quelas alceadas.O poleme surdo compreende as bigotas, sapatas e caoilos, que tm as formas indicadas na Estampa IV.

Estampa IV

O poleme de laborar compreende os moites, cadernais, pols, patercas e papoilas, cujas formas vo indicadas na Estampa V, dispensando assim qualquer descrio.

A operao de enfiar um cabo nos gomes toma o nome de gornir.Para suspender pesos, empregam-se a bordo aparelhos formados com moites ou cadernais e um cabo comprido neles gornido (Fig. 8). Um dos chicotes do cabo fixo numa destas peas, formando o que se chama a arreigada; O outro, por que se ala, o tiradr.Estes aparelhos tomam diversos nomes, segundo entram na sua composio moites ou cadernais variando, portanto, a maneira de gornir o cabo, visto o nmero de gornes ser diferente.

Teque Formado por dois moites. Faz-se a arreigada num deles; o tiradr passa no gorne do outro e vem depois gornir no primeiro. O esforo aplicado no tiradr multiplicado por trs.

Talha singela Formada por um moito e um cadernal de dois gornes. Faz-se a arreigada no moito; o tiradr passa num dos gornes do cadernal, vem gornir depois no moito e volta ao cadernal, saindo pelo gorne ainda livre. O esforo aplicado no tiradr multiplicado por quatro.Talha dobrada Formada por dois cadernais com dois gornes cada um. Faz-se a arreigada num deles; o tiradr passa primeiro num gorne do outro cadernal, vem a um dos gornes do primeiro. Volta depois a gornir no segundo cadernal e finalmente sai pelo gorne ainda livre do primeiro. O esforo aplicado no tiradr multiplicado por cinco. A fig. 8 representa uma talha dobrada.Estralheira singela Formada por dois cadernais, um de dois gornes e outro de trs. O tiradr entra por um dos gornes do cadernal de trs gornes; vai gornindo depois alternadamente num e noutro cadernal, at ir fazer a arreigada no cadernal de dois gornes. O esforo aplicado ao tiradr multiplicado por seis.

Estampa V

Estralheira dobrada Formada por dois cadernais, ambos de trs gornes. O tiradr entra por um dos gornes de qualquer cadernal; vai depois gornindo alternadamente num e outro cadernal, at fazer a arraigada naquele por cujo gorne primeiro entrou. O esforo aplicado no tiradr multiplicado por sete.Resumiremos esta parte, para maior clareza, no quadro seguinte:

NomeComposioOnde se faz a arreigadaPor onde sai o tiradr

TequeDois moites.Num deles.Pelo gorne daquele em que se fez a arreigada.

Talha singelaUm moito e um cadernal de 2 gornes.No moito.Por um dos gornes do cadernal.

Talha dobradaDois cadernais de 2 gornes.Num deles.Por um dos gornes daquele em que se fez a arreigada.

Estralheira singelaUm cadernal de 2 e outro de 3 gornes.No cadernal de 2 gornes.Por um dos gornes do cadernal de 3 gornes.

Estralheira dobradaDois cadernais de 3 gornes.Num deles.Por um dos gornes daquele em que se fez a arreigada.

com estes aparelhos que a bordo se iam as embarcaes e todos os objectos pesados. As peas de poleme tm, em geral, gatos com disposio para girar, que, por esse facto, tomam o nome de gatos de tornel. Quando se rreceia que uma destas peas se desengate, amarra-se-lhe um fio com algumas voltas, de modo a fechar a abertura do gato, e a que se chama barbela.

Antes de nos servirmos de uma talha, e nesta designao quero incluir todos os aparelhos, deve haver o cuidado de a desembaraar, porque muitas vezes tem os, cabos torcidos e metidos uns pelos outros, devido a qualquer volta dos cadernais. Do-se ento voltas em sentido contrrio, at se conseguir que os cordes fiquem paralelos, deixando de roar uns nos outros; a esta operao chama-se pr a talha clara.Tocar uma talha puxar os cabos de modo a afastar os cadernais um do outro, at o aparelho atingir o comprimento que se deseja.

V

VELME

Ao conjunto de todas as velas de um navio chama-se velme.Os tecidos de que so feitas as velas diferem entre si pela espesura e tm os nomes de lona, meia-lona e brim, sendo o primerio o mais forte. Cada um destes tecidos ainda tem variantes, que so designadas por nmeros.Envergar uma vela coloc-la no seu logar prprio. Ha velas que se envergam, ficando dispostas transversalmente, de bombordo a estibordo, nas vergas: so as velas redondas, ou, como tambm se diz, o pano redondo. Outras ha que so envergadas longitudinalmente, no sentido de popa proa, nas caranguejas, por exemplo: so as velas latinas, a que tambm se chama pano latino. As suas formas so completamente diferentes, como se v nas figuras da Estampa VI, nas quais est indicada por um trao mais grosso a face por onde a vela envergada.As faces das velas tambm tm nomes, que, para maior simplicidade, indicamos nas prprias figuras; os cantos (p, p) recebem o nome genrico de punhos, nalguns dos quais se vo fixar cabos de laborar, que tm a seu cargo os movimentos das velas, sendo o seu nmero varivel segundo a forma daquelas.As manobras de velas mais vulgares so as seguintes:Caar uma vela alar pelos cabos dos punhos da esteira, que se chamam escotas, de maneira a estic-la, expondo-a bem aco do vento. Assim se manda entrar a escota ou folgar a escota, segundo se deseja a vela mais ou menos caada.Carregar uma vela colh-la sobre si abafando-a e subtraindo-a ao do vento. Ferrar uma vela dobr-la muito bem, enrolando-a de modo a ficar prolongada com o mastro ou com a verga, passando em volta um cabo ou atando-a de espao a espao com bocados de fio, que se chamam bichas.As velas tomam diversos nomes, segundo o logar que ocupam. Na Estampa VII da pgina seguinte damos a disposio e nomes das principais velas de um navio.Estampa VI

Estampa VII

1 Giba.

2 Bujarrona.

3 Vela de estai.

4 Sbre de pra.

5 Joanete de pra.

6 Velacho.

7 Traquete redondo.

8 Traquete latino.

9 Sbre grande.

10 Joanete grande.

11 Gvea.

12 Vela grande.

13 Latino grande.

14 Sbre-gatinha.

15 Sbre-gata.

16 Gata.

17 Vela r ou mezena.

VI

CLASSIFICAO DOS NAVIOS

Mal pareceria que o marinheiro no soubesse classificar os navios no mar pelo seu aspecto e armao.Por isso vamos agora dar uma idea geral da maneira como eles se distinguem e se designam.Quanto ao fim a que se destinam, dividem-se em navios de guerra e navios mercantes.Os tipos de navios de guerra, desde o couraado at ao submarino, so hoje to diversos, que impossvel dar aqui noes a tal respeito, mas o seu aspecto exterior, desde a pintura, em geral cinzenta, at s disposies para a artilharia, no permite de modo nenhum a confuso com os navios, mercantes a quem uma vez j viu uns e outros.Quanto ao meio empregado para se moverem, dividem-se em navios de vapor, navios de vela e navios mixtos.Navios de vapor so os que dispem de mquinas que vo pr em aco os hlices ou as rodas, que lhes do movimento.Os navios de vela movem-se pela aco do vento sobre as suas velas.Chamam-se navios mixtos aos que dispem de mquinas e de velas, podendo empregar na sua navegao um ou outro meio, ou mesmo os dois, auxiliando-se mutuamente.Os navios de vela tomam diferentes nomes segundo a maneira como so aparelhados. Dividem-se em duas grandes categorias: navios redondos e navios latinos, conforme neles predomina o pano redondo ou o pano latino.Navios redondos so, por exemplo, galeras, barcas, brigues e patachos, enquanto lugres, escumas, palhabotes, hiates e chalupas so navios latinos.A seguir, damos uma srie de desenhos representativos das principais armaes, indicando as suas caractersticas e diferenas.Galera

Navio redondo. Trs mastros com vergas. Cada mastro tem dois mastarus (de gavea e de joanete). Os mastros tm caranguejas com velas latinas. Algumas galeras tm apenas vela-r; os outros dois latinos so substitudos por velas semelhantes s de proa, colocadas entre os mastros e que por isso recebem o nome genrico de velas de entre-mastros.Barca

Navio redondo. Trs mastros, no cruzando vergas o da mezena. Este tem apenas um mastaru, que se chama mastaru de gaff-top; os outros tm dois mastarus (de gvea e de joanete). Como a galera, tambm pode deixar de ter carangueja no mastro do traquete, tendo ento entre este e o mastro grande velas de entre-mastros.Faz diferena de galera em no cruzar vergas no mastro da mezena.Brigue

Navio redondo. Dois mastros com vergas. Cada mastro tem dois mastarus (de gvea e de joanete). Tem velas de entre-mastros, e no mastro de r carangueja com vela latina.Faz diferena da barca em no ter o mastro da mezena.Lugre

Navio latino. Trs mastros com mastarus de gaff-top, tendo em todos caranguejas com velas latinas.No tem nenhuma vela redonda.Lugre-barca

Navio redondo. Trs mastros, no cruzando vergas no da mezena, que tem apenas mastaru de gaff-top; os outros dois tambm s tm um mastaru. Tem caranguejas em todos os mastros com velas latinas.O mastro da mezena igual ao da barca.Esta armao pouco usada.Patacho

Navio redondo. Dois mastros, no cruzando vergas no de r; este tem apenas mastaru de gaff-top. O mastro do traqute tem dois mastarus (de gvea e de joanete). Tem velas de entre-mastros.Faz diferena do brigue no mastro grande, que aqui no cruza vergas e tem mais guinda.Lugre-patacho

Navio redondo. Trs mastros, cruzando vergas s no traqute, que tem dois mastarus; os outros dois tm apenas mastarus de gaff-top e caranguejas com velas latinas.Entre os mastros do traqute e grande usa velas de entre-mastros.Faz diferena da barca no mastro grande.Escuna

Navio latino. Dois mastros, cruzando vergas s no do traqute, que tem um mastaru; o de r tem mastaru de gaff-top. Ambos os mastros tm caranguejas com velas latinas.Faz diferena do patacho em ter no mastro do traqute apenas o mastaru do velacho, e serem as velas de entre-mastros substitudas aqui por um traqute latino.Lugre-escuna

Navio latino. Trs mastros, cruzando vergas no do traqute; este usa apenas mastaru de velacho. Os outros mastros tm s mastarus de gaff-top. Tem caranguejas nos trs mastros com velas latinas.Faz diferena da escuna em ter mais o mastro da mezena.Palhabote

Navio latino. Dois mastros com mastarus de gaff-top. Ambos tm caranguejas com velas latinas. Usa uma vela de entre-mastros e, em viagens largas, pode cruzar uma verga no mastro do traqute, pouco acima da borda, onde enverga uma vela redonda.Faz diferena do lugre em no ter o mastro da mezena.Hiate

Navio latino. Dois mastros, em geral, com inclinao diferente, qusi sempre sem mastarus de gaff-top. No mastro grande tem em geral um mastaru, onde no enverga vela, que se chama vara de combate e serve para iar sinais de bandeiras.Chalupa

Navio latino. Dois mastros com caranguejas, onde envergam latinos. O mastro do traqute tem mastaru de gaff-top. O latino de r chama-se mezena ou catita.Caque

Navio latino. Dois mastros com vergas e latinos triangulares, a que vulgarmente se chama bastardos. Pode ter gurups com uma vela.Cter

Navio latino. Um s mastro com carangueja e vela latina e mastaru de gaff-top. Este muitas vezes quadrangular, como est representado na figura.Como os palhabotes, tambm s vezes usa uma vela redonda em navegao larga.Faz diferena da chalupa em no ter o mastro de r. Esta armao foi muito usada na antiga marinha de guerra; hoje exclusiva dos barcos de recreio.Modernamente, alm destes tipos que acabamos de descrever, usam-se navios de vela de grande tonelagem, em que se aumentou o nmero de mastros, para assim se obter maior nmero de velas. Assim h navios de quatro e cinco mastros, para os quais no temos designao especial e a que damos o nome de clippers ou de lugres de quatro ou de cinco mastros, quando as suas armaes so exclusivamente latinas.VIII

ALGUMAS VOZES E ORDENS MAIS VULGARES

Todos estes termos, que figuram no texto do nosso livrinho e que, como j dissemos, so os mais vulgares, entram constantemente nas vozes e ordens, dadas a bordo dos navios.Para mostrar a forma, por vezes muito caracterstica, da construo dessas frases, aqui deixamos algumas de uso mais vulgar:Pe o leme todo a bombordo.Fecha o mordedouro.Tira as cocas a esse cabo.Desbolina esse cabo.Passa uma falcassa nesse cabo.Abotoa esses cabos.Ala esse cabo de mo em mo.Ronda o brando dessa espia.Toca essa talha e pe-na clara.Pe gente ao tirador da talha e um homem ao socairo.Ronda a talha.Ronda o gaio do pau de surriola.D volta ao cabo nesse cunho.D volta a esse cabo pelo chicote.Volta ao amantilho do pau de surriola.Colhe esses cabos.Larga o virador.Larga o cabo por mo.Arriando esse cabo sob volta.Soleca esse cabo que est muito esperto.Folga o patarraz.Passa uma barbela nesse gato.Folga a escota.Caa as velas de proa.Carrega o latino grande.