Fala, Jesus querido

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QUANDO O PASTOR GREGORY HUNT TEM UMA CRISE VOCACIONAL E DE FÉ, BUSCA NO SENHOR A RESPOSTA PARA SEU PROBLEMA. INFELIZMENTE O QUE ENCONTRA É O SILÊNCIO DO CRIADOR. O QUE FAZER QUANDO JESUS NÃO RESPONDE? O pastor Gregory L. Hunt dedicou praticamente trinta anos de sua vida à carreira pastoral, ajudando as pessoas a encontrar Deus e a dar rumo a suas vidas. Então ele vivenciou sua própria crise de fé e de vocação. Quando se volta para Deus buscando resposta, ele se vê no escuro. Nem mesmo sua formação acadêmica (Ph.D. em Teologia) e seu engajamento religioso puderam prepará-lo para esta experiência. Os dias logo tornaram-se meses. Os meses, estações. As estações se tornaram um ano, depois dois. Ele começou a se perguntar se sua fé era apenas uma ilusão. Deus era real? Durante essa crise, ele tenta desesperadamente encontrá-Lo nas letras vermelhas do Evangelho de Mateus. O resultado é surpreendente e muda sua vida completamente.

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Gregory L. Hunt

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A presença viva de Deus

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Blackbird singing in the dead of nightCopyright c 2013 by Gregory L. HuntCopyright c 2013 by Ágape EditoraPublished under arrengement with

Bettie youngs Publishing Co.Del Mar, CA, USA

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no 54, de 1995)

Hunt, Gregory L. Fala, Jesus querido: a presença viva de Deus / Gregory L. Hunt ; [tradução Luís Fer-nando Protásio]. – Barueri, SP – Ágape, 2013.

Título original: Blackbird singing in the dead of night: what to do when God won’t anawer. Bibliografia

1. Batistas - Clero - Autobiografia 2. Biografia cristã 3. Ceticismo 4. Clero - Esta-dos Unidos - Biografia 5. Fé 6. Hunt, Gregory Lynn, 1954- 7. Oração - Cristianismo I. Título.

12-14784 cdd-248

Índices para catálogo sistemático:1. Batistas : Vida profissional e espiritual : Vida cristã 248

2013Publicado com autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser

reproduzida sem a devida autorização da Editora.EDITORA ÁGAPE

Al. Araguaia, 2190 - 11o andar - Sala 1112CEP 06455-000 - Barueri - SP

Tel. (11) 3699-7107 - Fax (11) 3699-5099www.editoraagape.com.br

Coordenação Editorial Ana Claudia de Mauro Tradução Luís Fernando Protásio Diagramação Edivane Andrade de Matos/Efanet Design Capa Monalisa Morato Preparação Aline Câmara Revisão Vanessa C. Rodrigues

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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Sumário

Agradecimentos ................................................................................................... 9

PrólogoAqui começa a jornada: Deus nos ecos .......................................................... 11

Nota ao leitor........................................................................................................... 24

Parte I: A jornada começaCapítulo 1

Mateus 3:13-17A caminho da luz na noite escura e sombria ................................................ 27

Capítulo 2Mateus 4:1-11Negociando com Deus .................................................................................... 32

Capítulo 3Mateus 4:18-20Vocação e o silêncio de Deus .......................................................................... 39

Capítulo 4Mateus 5:8Uma vida orientada para valores .................................................................. 44

Capítulo 5Mateus 5:10-12Presença não ansiosa ...................................................................................... 50

Capítulo 6Mateus 6:25-34A roupa nova do imperador ........................................................................... 57

Capítulo 7Mateus 7:13-14Siga a receita ................................................................................................... 61

Parte II: A escola do discipuladoCapítulo 8

Mateus 8:1-3Encontrando meu lugar na história ............................................................... 71

Capítulo 9Mateus 8:18-20Nômades e sedentários ................................................................................... 79

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Capítulo 10Mateus 8:23-27Enfrentando os medos .................................................................................... 84

Capítulo 11Mateus 9:1-8Leve-me até Jesus ............................................................................................ 90

Capítulo 12Mateus 9:20-22Segunda ingenuidade...................................................................................... 96

Capítulo 13Mateus 9:35-38Quanto custa cuidar?.................................................................................... 102

Capítulo 14Mateus 10:16A Palavra além da Palavra .......................................................................... 108

Parte III: RelaxandoCapítulo 15

Mateus 11:28-30Descansando em Deus .................................................................................. 115

Capítulo 16Mateus 12:9-14A fé e a dúvida .............................................................................................. 124

Capítulo 17Mateus 13:1-9Aquela voz mansa e delicada ....................................................................... 130

Capítulo 18Mateus 13:44-46Crer para ver ................................................................................................. 138

Capítulo 19Mateus 14:22-27Boa sorte........................................................................................................ 144

Capítulo 20Mateus 14:28-33Descontração e o silêncio de Deus ................................................................ 149

Capítulo 21Mateus 15:29-38Serviço social ................................................................................................. 154

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Parte IV: Montanhas e montesCapítulo 22

Mateus 16:21-23Personalidade e fé ......................................................................................... 163

Capítulo 23Mateus 16:24-27A jornada interior e a jornada para além do eu ......................................... 171

Capítulo 24Mateus 17:1-8Deus é grande, Deus é bom .......................................................................... 175

Capítulo 25Mateus 17:14-20Gritos ao vento .............................................................................................. 180

Capítulo 26Mateus 18:18-20O problema da oração .................................................................................. 185

Capítulo 27Mateus 19:27-30Cristãos: difícil com eles; pior sem eles ......................................................... 191

Capítulo 28Mateus 20:20-21A oração de introspecção .............................................................................. 197

Parte V: Espiral para baixo

Capítulo 29Mateus 21:18-22O cultivo e o silêncio de Deus ....................................................................... 203

Capítulo 30Mateus 22:1-10O ritmo da vida ............................................................................................ 209

Capítulo 31Mateus 22:34-40Flertando com o ateísmo – parte I ............................................................... 214

Capítulo 32Mateus 25:14-30Flertando com o ateísmo – parte II.............................................................. 222

Capítulo 33Mateus 26:26-29O pecado e o silêncio de Deus ...................................................................... 229

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Capítulo 34Mateus 26:31-35Desmontando e reconstruindo a fé .............................................................. 234

Capítulo 35Mateus 26:36-38Permanecendo junto a Jesus ......................................................................... 238

Parte VI: Morrendo para a vida

Capítulo 36Mateus 26:39, 42Obstinação contra vontade ........................................................................... 245

Capítulo 37Mateus 26:47-56Desarmado .................................................................................................... 250

Capítulo 38Mateus 27:46Confissão teimosa ........................................................................................ 254

Capítulo 39Mateus 28:1-10Amado ........................................................................................................... 259

Capítulo 40Mateus 28:16-20Viver é bom ................................................................................................... 266

EpílogoMais tarde: vem a claridade profissional .................................................... 273

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Agradecimentos

Devo muito da formação de minha fé aos meus pais, aos meus ir-mãos e às igrejas que frequentei em minha infância. A Igreja Batista de Madison, em Madison, Nova Jersey, ocupa o primeiro lugar entre elas. Também tenho uma dívida de gratidão para com toda a congregação que influenciou minha fé, mesmo enquanto eu as conduzia: A Primeira Igreja Batista de Knoxville, Tennessee; A Igreja Batista de Sanders, Kentucky; a Igreja Batista de Graefenburg, Kentucky; a Primeira Igreja Batista de Shreveport, Luisiana; a Igreja Batista de Holmeswood, Kansas City, Missouri; a Primeira Igreja Batista de Norman, Oklahoma.

Este livro tomou forma em etapas e eu sou grato àqueles que en-corajaram seu desenvolvimento. Os membros da Primeira Igreja Batista de Shreveport responderam positivamente quando comecei a ensinar o Evangelho de Mateus com as anotações de meu diário. Foram eles que deram a ideia de transformar o material em um livro. Quando completei meu primeiro rascunho, coloquei-o nas mãos confiáveis dos primeiros leitores: Gary Baldwin, Maria Gurski, Terry Hamrick, Michael Tutterow e Allen Walworth. O retorno que recebi deles apontou a direção para as primeiras revisões.

No meio do processo de escrita, um velho amigo voltou à minha vida e teve um impacto significativo no desenvolvimento do livro. A visão de Fred McCormick, como escritor e estudante da fé bíblica, empurrou-me para novas profundidades de autoconhecimento e reflexão sobre a fé. Sua participação clarificou o que eu precisava dizer e mostrou o caminho para eu colocá-lo em palavras.

Entrei em contato com Bettie Youngs pela primeira vez em busca de um agente, conhecendo-a como uma escritora de sucesso, não como editora. Sou grato por ela ter visto o potencial de meu livro e ter deci- dido publicá-lo. Desde o início de nosso relacionamento literário, ela tem

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alimentado o projeto com cuidado e atenção. Essencial para esse cuidado foi a excelente equipe de Bettie. A revisão de Elisabeth Rinaldi levantou perguntas e incitou-me a melhorar a linha narrativa que atravessa o livro. A editora Christine Belleris trabalhou com grande bondade e habilidade para me ajudar a polir o manuscrito. Também quero agradecer a designer Jane Hagaman e aos muitos outros que ajudaram a trazer estas palavras à vida.

Ao longo deste livro, presto homenagem às pessoas do passado e do presente. Sinto a marca profunda de sua influência. Quero agradecer em particular ao Dr. E. Frank Tupper que, ao longo da orientação de meu doutorado, influenciou-me mais do que qualquer outra pessoa na forma-ção de meu ponto de vista teológico.

Eu não teria sido capaz de chegar a esta publicação sem o apoio de contribuintes da Directions, Inc. O comprometimento deles com a Priscilla e comigo e o trabalho que fazemos com as organizações, com os casais e com as pessoas tem sido uma tábua de salvação.

Acima de tudo, quero agradecer Priscilla, que não apenas tem sido o grande amor da minha vida, mas também uma fonte inesgotável de sabedoria e encorajamento. Ela viveu essa história comigo e manteve-me são, oferecendo informações essenciais conforme o livro tomava forma. Dedico este livro a ela.

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Prólogo

Aqui começa a jornada: Deus nos ecos

“Senhor, se Você não falar comigo, se não vir diretamente a mim e revelar-Se para mim, então vou ouvir – vou assistir e esperar por Você – nos ecos de Suas palavras ancestrais. Vou ouvir Você, nas palavras de Jesus.”

Assim começou minha viagem através das “letras vermelhas”1 do Evangelho de Mateus.

O material deste livro originou-se de um experimento por vezes de-sesperado de devoção. Eu era um pastor na época e tinha construído mi-nha vida e meu trabalho em torno da relação com um Deus vivo. Sempre contei com a presença de Deus. Na época dessas conversas com Jesus, eu particularmente ansiava pela orientação vocacional de Deus. O que tive, todavia, não foi nem a orientação de Deus, nem a presença de Deus. Quando a questão interior de minha vida era que caminho eu deveria se-guir, o sentido do silêncio de Deus começou a levantar uma dúvida ainda mais profunda: “Afinal de contas, Você realmente está aí?”.

1 A Bíblia King James adota as “letras vermelhas”; as palavras pronunciadas por Jesus são impressas em tinta vermelha.

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Uma época produtiva

Uma confluência de fatores levou-me a essa encruzilhada de minha vida profissional e espiritual. Eu tinha sido líder da Primeira Igreja Ba-tista de Shreveport, em Luisiana, Estados Unidos, desde o verão de 2002, primeiro no cargo de pastor interino e, a partir de março de 2003, no cargo de pastor sênior. Aquele parecia um trabalho particularmente im-portante em uma das igrejas Batistas mais antigas. Era uma igreja que ainda representava uma força reconhecida na cidade, entre os batistas e para além – apesar de suas lutas recentes.

A igreja havia chegado a um ápice de força e crescimento quarenta anos antes e encontrou dificuldades para manter esse impulso nos anos seguintes. Em 2001, uma tempestade de conflitos culminou com a par-tida de seu pastor e de outras três pessoas fundamentais para a equipe, além de um número significativo de seus membros – muitos deles jovens adultos com suas famílias, o sangue vital da congregação. Fui convidado para o papel pastoral um ano depois dessa tempestade congregacional, e a igreja experimentou um ano com bons resultados: havia trabalhado nas fendas relacionais, enfrentado as causas subjacentes do conflito e come-çado a traçar um novo rumo para o futuro.

Para minha esposa Priscilla e eu, a chegada em Shreveport veio como um compromisso de retorno. Havíamos chegado pela primeira vez à Primeira Igreja Batista de Shreveport em 1985, com dois filhos peque-nos. Eu havia acabado de defender um doutorado no seminário e tinha servido como pastor associado da igreja durante quatro anos, antes de aceitar a oportunidade de servir como pastor sênior da Igreja Batista de Holmeswood, em Kansas City. Durante esse tempo, forjei uma conexão com as pessoas e com a comunidade de Shreveport que desafiava a dis-tância e o tempo. Essa relação tornou o retorno bem mais atraente. A igreja teria um líder com quem eu já tinha uma ligação, e Priscilla e eu construiríamos nosso lar em um território familiar, entre pessoas que já conhecíamos e amávamos. Robert Frost, certa vez, escreveu a famosa frase: “O lar é o lugar onde, quando você tem que ir para lá, as pessoas o

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acolhem”2, forma vigorosa de celebrar a força dos laços de relação dura-douros e incondicionais da vida. Isso é o que senti em nosso retorno para Shreveport, era como voltar para casa.

Mergulhei na obra da igreja e na vida da cidade com grande entusias- mo, grato por estar em um contexto cultural em que o clero ainda era bem-vindo em seu importante papel de liderança e que via a Primeira Igreja Batista como uma força influente para fazer o bem. Além de orien-tar a congregação para o cumprimento de seus objetivos, rapidamente encontrei-me envolvido com o Rotary Club e com os conselhos de al- gumas organizações locais que estavam preocupadas com as necessi- dades sociais, econômicas e espirituais de Northwest Luisiana. Priscilla e eu voltamos a ter contato com velhos amigos e regozijávamos com o desenvolvimento de novas amizades.

Como pano de fundo, os anos de participação na vida Batista expan-diam minha rede de relacionamentos e abriam as portas do envolvimento em nível regional e nacional. Servi no Comitê Executivo do Conselho do Seminário Teológico Batista Central e tive uma variedade de papéis na Sociedade Batista Cooperativa, um movimento progressista que concen-tra suas energias missionárias em levar a presença de Jesus aos lugares mais difíceis do mundo e aos mais necessitados.

Digo tudo isso para acentuar o fato de que aqueles anos em Shreveport levaram-me a um momento particularmente fértil em minha vida profis-sional: uma espécie de horário nobre profissional, quando toda a minha experiência, formação e construção de relacionamento reuniram-se de forma produtiva.

InquietaçãoPor que, então, a inquietação? O que poderia ter interrompido meu

contentamento com o que, em face disso, deveria ter sido um tempo pre-cioso de minha vida? Os prazeres simples dessa época foram interrompi-dos por um empurra e puxa interno: o “empurra” do estresse relacionado 2 FROST, Robert. The death of the hired man. In: The poetry of Robert Frost. Nova York:

Holt, Rinehart, & Winston, 1979. p. 38.

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à liderança congregacional e o “puxa” de minha atração para novas pos-sibilidades em outros lugares.

Pastorear a Primeira Igreja Batista revelou-se uma atividade parti-cularmente desafiadora. O progresso veio lentamente. Mortes e partidas continuaram a atravessar a nova participação. Diferenças permeavam o culto (tradicional, contemporâneo ou eclético?), a filiação denominacional (Batista do Sul, Batista Cooperativa ou nenhuma dessas alternativas?) e prioridades congregacionais (focar-se internamente nos interesses dos membros ou focar-se externamente nas necessidades de pessoas no mun-do que nos rodeia?).

Mas não se tratava apenas dos problemas da igreja. O contínuo es-tresse da congregação alimentava meu próprio estresse, e comecei a me perguntar sobre minha competitividade eficaz. Um senso de vocação di-vina levou-me para a Primeira Igreja Batista. Esse chamado, eu pensava comigo mesmo, poderia ter alcançado seu prazo de validade. Eu me per-guntava se a igreja não precisava de um novo líder.

Essa questão interna sobre meu futuro com e na Primeira Igreja Ba-tista alimentou e foi alimentado pelo tema amplo da ambivalência pro-fissional que tinha aumentado e diminuído ao longo de meu curso de trinta anos de ministério. Apesar de décadas de trabalho, muitas vezes gratificante, eu nunca tinha ficado plenamente satisfeito com minha car-reira profissional. Há muito tempo eu pensava em deixar o ministério pastoral antes da idade normal de aposentadoria para perseguir o desejo alternativo de escrever, fazer palestras e dar consultoria. Ao retornar para Shreveport, em 2002, reconheci a possibilidade de que as circunstâncias poderiam mudar – que a vida e o trabalho podem revelar-se tão produti-vos e prazerosos que eu decidiria prolongar o meu tempo no pastorado. Por outro lado, eu igualmente imaginava que iria, após um período de tempo, mudar para um trabalho diferente.

Na verdade, a minha esposa Priscilla e eu tínhamos criado uma orga-nização sem fins lucrativos no final de 2001 – a Directions, Inc. – com essa finalidade e eu tinha saído do ministério pastoral para o que pensei que seria uma mudança permanente no meu foco profissional. Durante um

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intervalo de um ano entre pastorear a Primeira Igreja Batista de Norman, Oklahoma, e chegar à Primeira Igreja Batista de Shreveport, demos à or-ganização algo que acabou sendo um teste. Nós a nomeamos Directions, Inc. por causa da missão de servir as pessoas conforme elas encontrassem a direção para suas organizações, relacionamentos e vidas. Eu fornecia serviços de consultoria a um pequeno número de organizações sem fins lucrativos; Priscilla e eu coordenávamos a Iniciativa de Casamento e Família da Sociedade Batista Cooperativa, liderávamos algumas confe-rências, retiros e seminários, além de oferecermos consultoria. Nossa experiência de um ano nos deu a confiança de que podíamos fazer a organização funcionar financeiramente, e nós amávamos estar de volta ao subúrbio de Kansas City, onde tínhamos vivido durante os dez anos em que servi como pastor sênior da Igreja Batista de Holmeswood. To-davia, a natureza única da nossa relação com a Primeira Igreja Batista de Shreveport e a sensação de que tínhamos recebido um chamado es-pecífico de Deus nos desviaram do curso que tínhamos estabelecido no ano anterior.

Que caminho devemos seguir?Agora, o futuro tornou-se incerto novamente. Todos os fatores – as

satisfações e os estresses da situação atual e a espera de uma alternativa nos bastidores criavam um conflito interno sobre a direção de nossas vidas. Que caminho devemos seguir? Priscilla desempenhou um papel importante nas conversas sobre essa questão, mas também sabia que o dilema era especialmente pessoal. Ela me deu espaço para lidar com o as-sunto, enquanto continuávamos a vida que criávamos exatamente onde estávamos. Senti que tinha em minha cabeça várias vozes clamando por minha atenção, cada uma delas com suas próprias ideias do que seria o melhor. Em circunstâncias como essas, eu tinha aprendido a inclinar-me para a minha espiritualidade, uma espiritualidade centrada no amor e na orientação de um Deus vivo. Eu queria tirar minha sugestão de uma voz única e dominante que pudesse varrer todas as outras vozes de uma maneira simples e unificada. Em outras palavras, eu estava contando

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com um dos principais benefícios do que os cristãos chamam de uma vida dirigida pelo Espírito3.

As coisas tornaram-se ainda mais complicadas precisamente nesse ponto. Conforme concentrava-me na busca da orientação de Deus, tor-nava-me desconfortavelmente ciente de um “silêncio” que na verdade começara antes mesmo de eu tê-lo percebido.

Como isso pôde ter acontecido? Como eu poderia ter seguido em frente na ausência de um sentido da presença de Deus e não ter percebido isso? Como isso pode acontecer a alguém para quem a espiritualidade estava no coração do trabalho de sua vida, alguém que cultivava padrões regulares de oração, meditação e estudo espiritual? Apenas posso res-ponder a isso dizendo que minha espiritualidade nunca descansou na premissa de uma experiência ininterrupta de intimidade emocional com Deus. Não sou um místico, não tenho vivido com um sentido pulsante da presença de Deus constante. Estou de acordo com isso até certo ponto. Fui ensinado desde os primeiros estágios de minha vida a viver pela fé, não pelos sentimentos, o que significava que, embora meus sentimentos sobre a proximidade de Deus pudessem variar, eu continuaria a levar os padrões de vida que a fé havia inspirado em mim.

Porém, a honestidade obriga-me a reconhecer algo mais. O atraso em minha consciência de um problema na conexão divino-humano tam-bém relacionava-se com outras realidades: os hábitos de minha espiri- tualidade tornaram-se um pouco rotineiros e as ocupações de minha vida haviam me atraído para fora, para o mundo da ação, mais do que para dentro, para o mundo da alma. Eu havia deixado um certo afinamento espiritual se desenvolver.

Afinal de contas, Você está aí?Quando chegou a hora de enfrentar meus problemas profissionais, fi-

quei ciente do problema mais fundamental. Experimentei uma espécie de 3 Fui profundamente influenciado por Thomas Kelly na formação dessa concepção

de espiritualidade. Cf. KELLY, Thomas. The simplification of life. In: A testament of devotion. Nova York: Harper & Row, 1941. p. 115-116.

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silêncio de morte. O mais próximo que posso chegar da explicação desse sentimento é por meio de uma analogia: parecia a versão espiritual do que acontece quando você está em uma sala e o ventilador é desligado. O zumbido no fundo para. O ar fica parado, a sala fica abafada. Enquanto antes tínhamos nos tornado insensíveis ao som do zumbido, agora esta-mos bem conscientes de sua ausência.

Não é por acaso que em hebraico e em grego, as línguas de nascimento da fé judaico-cristã, a palavra para Espírito também pode ser traduzida como “respiração” e “vento”. O Espírito de Deus sopra a vida em nós e não apenas uma vez, em nosso nascimento (Gn 2:7), mas continuamente. Como o apóstolo Paulo afirmou em uma de suas audiências, Em Deus vivemos, nos movemos e existimos (At 17:28).

O sentido disso tornou-se claro para mim novamente quando eu já não sentia a brisa do Espírito de Deus. Não apenas Deus não falava em minha situação sobre o futuro, como também não estava falando em mi-nha vida de modo algum.

Agora eu tinha um dilema perturbador duplo em minhas mãos. Se fosse apenas sobre um futuro nublado, eu poderia ter lidado com isso muito mais facilmente. Mas não se tratava apenas de um futuro nebuloso, tratava-se agora de uma inquietação. Em termos espirituais – em termos de minha impressão sobre esse momento –, eu estava sozinho. O Sopro de Vida não soprava mais em mim.

Essas eram as circunstâncias nas quais eu carregava a minha vida, o meu trabalho e meus relacionamentos. Minha pessoa pública persistiu imperturbável durante a maior parte do tempo, mas sob a superfície de minha calma, de meu comportamento envolvido, geralmente otimista, uma sensação de inquietude, às vezes até mesmo de terror diante das coisas, alastrava-se.

O passado não é o profeta do futuroEm outros momentos decisivos de minha carreira, eu tinha experi-

mentado a presença e a orientação de Deus de muitas maneiras: através de conversas com os outros, de leituras, de momentos de reflexão, e sempre também através do que a Bíblia se refere como uma voz mansa

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e delicada (1Rs 19:12) – momentos de clareza em que parecia que Deus se comunicava diretamente no meu ouvido. Em 1995, por exemplo, o comitê de busca de uma igreja muito respeitada de outra cidade – eu era pastor na Igreja Batista de Holmeswood na época – perguntou se eu poderia me apresentar a seus membros para a eleição como pastor sê-nior. Priscilla e eu lutamos para chegarmos a uma decisão, e eu final-mente tive um sopro de claridade após conversar com um confidente. Meu confidente simplesmente fez uma série de perguntas para me ajudar a pensar em voz alta, e eu não conseguia tirar uma dessas perguntas de minha mente: “Em que medida esse flerte com outra igreja é semelhante a um caso de amor?”. A questão estourou a bolha romântica que havia encoberto minhas considerações. Logo depois, senti o que pareceu uma resposta de Deus às minhas orações para a orientação. Curiosamente, minha experiência com a voz interior foi realmente como um sentimento sem palavras de direção divina e não veio tanto como um “não” ao con- vite, quanto como um renovado “sim” para Holmeswood.

Nunca experimentei nada tão dramático quanto a cruz no céu que levou à conversão do imperador Constantino, mas eu tinha, uma vez ou duas, na verdade, ouvido um sussurro interior. Minha vocação para o mi-nistério, quando eu tinha dezesseis anos, aconteceu assim: eu realmente ouvi uma voz em minha cabeça dizendo: “Greg, seja um pregador.” Além disso, eu sempre contava com a confiança fundamental de estar navegan-do em um mar de graças. Mesmo na maré emocional de minha vida, eu presumia a proximidade de Deus.

Não dessa vez. Apesar do requerimento constante, tudo o que expe-rimentei foi o silêncio de Deus. Dias transformaram-se em meses. Meses transformaram-se em estações. Estações passaram uma após a outra até formarem um ano, e depois dois.

Pedi a Deus força para suportar os desafios de minha vida. Pedi a Deus graça para animar a igreja que eu servia. Pedi clareza de direção para todos nós. Pedi por compreensão sobre o que estava errado e como fazer direito. Em última análise, pedi algum tipo de palavra – qualquer mensagem que me dissesse se Deus queria que eu persistisse ou seguisse em frente. Não obtive nenhuma resposta.

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O que estava errado?Caso você tenha sido um cético ao longo da vida ou se por qualquer

outro motivo não viveu com uma impressão subjacente da proximidade de Deus, a ideia do silêncio de Deus pode fazê-lo dar de ombros. “E daí?”, você poderia dizer.

Para mim, o sentido da ausência de Deus era uma aflição real, às ve-zes até um pânico. Eventualmente, isso levou-me a questionar a estrutura básica de minha fé. Depois de ter passado uma vida inteira falando com Deus, encontrei-me considerando seriamente a possibilidade de eu ter falado para as paredes, para as estrelas, para o céu.

Implorei e implorei. Barganhei. Gritei. Chorei. Confessei e pedi mi-sericórdia. Nada.

Dependendo da tradição de fé, há diferentes explicações para o que eu estava experimentando:

•Fraqueza da fé? Há uma história na vida de Jesus na qual ele encon-tra um pai desesperado em busca da cura de seu filho (Mc 9:14-27). Se você puder, diz o pai, por favor, cure-o! Jesus responde quase in-dignado: Se você pode! Todas as coisas são possíveis para aqueles que acreditam! A resposta do pai tornou-se um clássico: Eu acredito. Ajude-me em minha incredulidade! Será que o meu dilema origina-va-se de uma fraqueza de fé?

•Algum obstáculo moral? O profeta Isaías registra Deus dizendo que nossos padrões de vida moral podem nos separar Dele (Is 59:1-2). Eu tinha permitido a possibilidade que minhas escolhas na vida criassem uma barreira. Na verdade, levei essa possibilidade muito a sério e tinha muito material de uma vida imperfeita para enfrentar.

•Noite escura da alma? O místico do século XVI, São João da Cruz, escreveu sobre períodos semelhantes a esse como uma dádiva di-vina, por mais estranho que possa parecer. Esses períodos de seca nos purificam da dependência de emoções. Eles nos purificam do orgulho, da ganância, da raiva e da vontade. Eles animam as vir-tudes cardeais da fé – a esperança, o amor, a prudência, a justiça,

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o autocontrole e a coragem. Chamam-nos mais profundamente a uma vida madura do Espírito. Ele chamou essas experiências de “a noite escura da alma”4. Isso explicaria meu dilema?

•Desenvolvimento da fé? Minha tese de doutorado concentrou-se na ideia de desenvolvimento da fé, com especial atenção ao dis-curso do pioneiro teórico sobre o desenvolvimento da fé, James Fowler. Ele, que define a fé como “a busca de sentido”5, argumenta convincentemente que nossa fé se desenvolve em estágios e pode se alternar entre períodos de relativa estabilidade e períodos in-quietantes de instabilidade, quando um estágio de fé dá lugar a outro. Podemos alcançar pontos em nossa experiência humana em que nossa fé, como construto, não se prova adequada, não fun-ciona mais. E se eu tivesse superado a estrutura de minha fé? Será que preciso de um quadro mais maduro para uma nova etapa de minha vida?

•Projeção da imaginação? O filósofo alemão Ludwig Feuerbach concluiu que nossas noções de Deus são nada mais do que fruto da nossa imaginação projetada no pano de fundo do universo6. De uma forma ou de outra, todos os ateus dizem que não há Deus ou qualquer outro Ser Divino na extremidade oposta da oração. Será que eu estava simplesmente diante de uma realidade a qual eu resisti durante toda a minha vida? Estava finalmente despertan-do para a descoberta desagradável de que Deus não existe? Posso dizer que nunca lutei com essa possibilidade mais séria, mais pro-funda e mais pessoalmente do que durante o período de seca no

4 St. John of the Cross. Dark night of the soul. Londres: Baronius Press, 2006. 5 Para a apresentação seminal desse pensamento de Fowler, cf. Stages of faith: the

psychology of human development and the quest for meaning. São Francisco: Harper & Row, 1981. Fui também profundamente influenciado por seu trabalho subsequente, Becoming adult, becoming christian: adult development and christian faith. São Fran- cisco: Harper & Row, 1984.

6 Cf. Ludwig Feuerbach. The essence of christianity. Trad. George Eliot. Nova York: Prometheus Books, 1989. Para um tratamento sério da perspectiva de Feuerbach, cf. a análise de Hans Kung em Does God exist? An answer for today. Trad. Edward Quinn. Nova York: Doubleday & Co., 1980. p. 191–216.

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qual as entradas de diário contidas neste livro foram escritas pela primeira vez7.

Eu não conseguia saber ao certo qual dessas explicações fazia mais sentido para mim e, em um momento ou outro, experimentei todas elas.

As letras vermelhas de JesusNesse meio tempo, aventurei-me na única estratégia que eu conse-

guia pensar para fazer contato com Deus. Eu tinha crescido ouvindo falar que a Bíblia é “a Palavra de Deus”. Eu tinha crescido Batista, uma tradi-ção que pensa na Bíblia como a revelação da vontade e dos caminhos de Deus – até mesmo como a autorrevelação Dele. De acordo com essa convicção, a Bíblia não é apenas um registro das palavras de Deus e de feitos do passado, mas também uma expressão viva da presença Dele e do propósito de hoje. A Palavra de Deus, incluindo aquela registrada nas páginas da Bíblia, é viva e eficaz, mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes (Hb 4:12).

Além disso, essa tradição de fé atribui importância especial às pala-vras de Jesus, aquele que foi Deus em carne humana, a autorrevelação de Deus. Tão valorizadas são as palavras de Jesus, que os editores de certas Bíblias as destacam em tinta vermelha, para que elas apareçam ainda mais.

Estudiosos contemporâneos debatem se Jesus realmente falou todas aquelas palavras. Como um estudioso da Bíblia treinado e teólogo, eu estava ciente desse debate, mas, no caldeirão da minha crise existencial, 7 Determinado a levar a sério essa alternativa, decidi ler os best-sellers dos que estão

sendo chamados de “os novos ateus.” Li: DAWKINS, Richard. The God delusion. Nova York: Mariner Books, 2006; DENNETT, Daniel. Breaking the spell: religion as a natural phenomenon. Nova York:

Penguin Group, 2006; HARRIS, Sam. The end of faith: religion, terrorism and the end of reason. Nova York:

Norton, 2004; e LOFTUS, John W. Why I became an atheist: A former preacher rejects christianity.

Nova York: Prometheus Books, 2008. O livro de Dennett destacou-se entre esses quatro por sua imparcialidade. Ao contrário

de Dawkins e Harris, Dennett resiste à tentação de disparar contra quem se atreve a acreditar em Deus. Ele se concentra em mostrar uma visão naturalista do mundo.

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decidi cortar todas as complexidades da academia e estabelecer-me em uma estratégia simples de fé simples.

Eu experimentaria a possibilidade de ter um encontro pessoal com Jesus por meio de suas palavras. Olhar para o Evangelho de Mateus pelo puro e simples motivo de as palavras de Jesus aparecerem pela primeira vez lá, na Bíblia. Se eu não pudesse ouvi-lo falar diretamente ao meu ouvido interno, gostaria de ouvi-lo no contexto das histórias de sua vida, permitindo que minha imaginação me transportasse para os tempos e para os lugares em que suas palavras foram ditas pela primeira vez. De acordo com a tradição da qual eu faço parte, eu permitiria que suas pala-vras revivessem, falassem diretamente para mim no aqui e agora.

Como forma de resposta a essas palavras, todas as manhãs eu conti-nuava o meu exercício de escrever no diário, um hábito que desenvolvi durante os anos do Ensino Médio. O diário daria forma aos meus pen-samentos e sentimentos. Normalmente dirigidas a Jesus, essas entradas preservariam minha jornada de fé, incerteza, anseio e esperança.

A forma do que se segueO que segue são trechos curtos de quarenta entradas de meu diário

durante minha experiência com as letras vermelhas de Jesus e quarenta reflexões que as acompanharam, escritas depois de minha crise. Por ra-zões práticas, as letras vermelhas foram convertidas em negrito. Selecio-nei os trechos com cuidado para capturar o fluxo de minha excursão de oito meses através do Evangelho de Mateus. Escolhi o número quarenta por duas razões. Em primeiro lugar, incluir todas as mais de duzentas entradas teria deixado este livro muito longo. Segundo, o número qua-renta tem um lugar de honra na tradição judaico-cristã, significando um momento de aprimoramento e preparação. Para Moisés, Jesus e muitos outros através dos séculos, o número quarenta representa um intervalo desértico, a animação suspensa entre o que foi e o que está por vir. Dada a natureza de minha experiência, o número quarenta parecia particular-mente apropriado.

As peças de reflexão que acompanham as entradas de meu diário abrem uma conversa mais profunda sobre os temas que surgem nas en-tradas, temas relacionados à busca de Deus e à busca por aquilo que Jesus

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chamou de vida abundante (Jo 10:10): uma vida rica em amor, alegria e sentido. Essas peças olham mais de perto as minhas experiências durante minha luta espiritual. Elas transmitem as perguntas e as suadas lições que vieram durante o que foi uma perigosa jornada de fé. O tom é confessio-nal e autobiográfico, em vez de individual e onisciente.

Aqui está minha lógica. Não posso fingir que não tenho um inte-resse imparcial nesses tópicos. Sim, trago minha formação teológica e meus anos da pregação, ensino e aconselhamento para a conversa, mas também trago minhas esperanças, meus temores e minhas lutas pes-soais. Continuei minha experiência não como um intelectual encerrado em uma torre de marfim, ponderando sobre abstrações, mas como uma pessoa de fé no meio de uma luta de fé.

Há um sem número de livros maravilhosos sobre teologia e sobre a fé bíblica que você, caro leitor, pode ler sem conhecer as histórias pes-soais por trás deles. Eu ficaria feliz de fornecer uma bibliografia, caso queiram. Mas se o diretor italiano Frederico Fellini estava certo – e eu acho que ele estava – ao pensar que toda arte é autobiográfica, não faz sentido aplicar essa concepção à arte de conversar sobre assuntos de má-xima importância? Não parece valer a pena uma experiência de tirar o elemento autobiográfico do esconde-esconde e colocá-lo abertamente no fluxo da conversa?

Isso é o que este livro faz, o que explica o fato de que o que se segue não seja uma prescrição organizada para buscadores espirituais, mas um registro irregular da busca de Deus e de uma vida com propósito. Minha luta particular, como registrado aqui, não é apenas sobre respostas; tra- ta-se também de perguntas. Na verdade, este livro é tanto sobre a busca quanto sobre o encontro da verdade. Às vezes, ao que parece, a viagem é o destino disfarçado.

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Nota ao Leitor

Concebi este livro não apenas para capturar minha experiência du-rante uma época transformadora de minha vida, mas também para con-vidar outras pessoas para a reflexão aprofundada sobre suas próprias vidas e relacionamentos com Deus. Encorajo a todos a marcar as palavras e as frases que lhes atingem de uma forma responsiva. Encorajo a todos também a fazer uma pausa entre os capítulos e perguntar: Que pensa-mentos, sentimentos, desejos e ações este capítulo evoca em mim?

Alguns escolhem ler o livro direto. Outros preferem ler um capítulo por dia, transformando sua experiência de leitura em um processo de quarenta dias de desenvolvimento pessoal. Alguns podem até decidir dar a si mesmos a chance de reproduzir minha experiência com as letras vermelhas de Jesus. Grupos de leitura encontrarão ao longo deste livro muitos pontos para discutir. Um conjunto de perguntas é oferecido no final para uso pessoal ou para conversas em grupo.

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Parte I

a Jornada começa

Levar Jesus a sério significa ouvir quando Ele fala, considerar Sua extraordinária visão da realidade e seguir o caminho com Ele, rumando sem saber exatamente para onde. E quem pode dizer de antemão aonde esse caminho leva? Confesso que, quando lancei-me nessa jornada, a esperança e a dúvida andaram de mãos dadas como companheiras na maior parte do caminho.

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Capítulo 1

Não procure mais: Venha a mim... com sua Palavra.Vou aceitá-la. Vou permitir que meu coração faça dessa dimensão de

sua presença um júbilo de confraternização. Você estará diante de mim naquilo que diz. Sua palavra será mais do que um eco na página, mais do que a quimera de uma presença anterior. Fale, Senhor Jesus, seu servo O recebe em sua vida, seu servo O escuta.

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Encontrei minha primeira Bíblia na prateleira de minha sala na igreja e a trouxe para casa ontem. Em toda a minha coleção, essa é a úni-ca Bíblia cujas palavras estão impressas em letras vermelhas. Vovô e vovó Standridge deram para meus irmãos e para mim o mesmo tipo de Bíblia em nossos aniversários na década de 1960. Meu nome está escrito em relevo na capa de couro sintético preto. É uma versão King James, com papel de seda e ilustrações de histórias bíblicas intercaladas entre as pá- ginas. Ainda posso ver os sinais evidentes do que lhe aconteceu logo de-pois que a ganhei: certa vez, quando, debaixo de uma chuva torrencial, eu corria para o carro, deixei-a cair nas águas da enxurrada que lavavam o meio-fio. Agora, descansando sobre o braço de minha poltrona de couro, está minha permanentemente enrugada Bíblia com letras vermelhas8.

Mateus 3:13-17Então Jesus veio da Galileia ao Jordão para ser batizado por João. Mas João se recusava, justificando: Sou eu quem precisa ser bati-zado por ti, e vens tu a mim?

8 Para facilitar para o leitor contemporâneo, substituí as referências à Versão King James, que usei originalmente nas entradas de meu diário, pela Nova Versão Internacional (NIV): http://www.bibliaonline.com.br/nvi.

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Jesus, entretanto, declarou: Deixe assim por enquanto; pois assim convém que façamos, para cumprir toda a justiça. E João concordou. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre Ele. Em seguida, uma voz dos céus disse: Este é meu Filho amado, em quem muito me agrado.

Jesus, suas letras vermelhas começam aqui. O Senhor fala com João Batista em resposta às objeções que ele demonstrava ao batizá-lo.

A Nova Versão Internacional (NVI) traduz as palavras de Jesus para João como “Deixe assim por enquanto”9, ao que a versão King James diz “Suporte por agora”10. Penso que os tradutores elisabetanos tinham razão: ceder a uma ordem inexplicável é suportar. Deixar estar é experimentar a dor intensa de diminuir o controle sobre a situação.

“Simplesmente caminhe ao meu lado”, o Senhor diz, e eu, que estou amarrado por causa de meu rigoroso controle sobre a vida, devo relaxar, devo “des-contrair” até que sinta a liberdade e a libertação.

É interessante estar pensando nessa disciplina espiritual esta semana, depois de ter passado por um susto durante a reabilitação do meu joelho após uma cirurgia reconstrutiva. Ao dobrar o joelho, enquanto deslizava pesarosamente rumo ao closet de nosso quarto, alonguei os músculos do quadríceps, que tinham ficado tensionados por nove dias desde a cirur-gia. Isso provocou uma dor extrema e causou um estalo que me assustou, exatamente porque eu não sabia do que se tratava. Temi ter ferido nova-mente o joelho mas, por fim, aquilo acabou por ser um grande avanço em vez de um retrocesso: a “des-contração” dos músculos que estavam retesados por conta da implacável contração.

Você me envolve em seus propósitos e, ao fazer isso, conduz-me a esses tipos de avanços, alongando-me para que eu relaxe as amarras no-dulosas que se formam por conta do incansável esforço para manter o 9 N. T.: Em inglês, Let it be so now.10 N. T.: Suffer it to be.

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controle sobre a vida. Suporte por agora. Provoque a dor ou, mais especi-ficamente, relaxe seu controle autocontraído sobre a vida conforme eu o guio e o alongo. Não tema o estalo. Sei o que estou fazendo.

Pai, Filho e Espírito Santo, peço que me encontre na correnteza em que estou agora e guie-me de modo que eu faça a sua vontade. Trabalhe comigo para que eu possa participar com abdicação de sua vida e de seu trabalho. Estou pronto e disposto a ser um servo de sua vontade – inde-pendente de quão grande ou de quão pequena seja minha participação –, mostrando-me, assim, fiel às pequenas coisas e fidedigno de outras mais.

A caminho da luz na noite escura e sombria[Os subtítulos dos capítulos foram escritos

após a crise de fé e de vocação]

Olhando em retrospecto para minha crise de fé através das lentes da canção Blackbird, dos Beatles, percebi como a letra repercutia profun-damente a angústia que o coração humano sente quando está perdido na escuridão, naquilo que o místico do século XVI, São João da Cruz, chamou de a noite escura da alma.

Blackbird

Pássaro NegroPássaro Negro cantando na calada da noitePegue estas asas quebradas e aprenda a voar

Toda a sua vida,Você apenas esperou por esse momento para voar

Pássaro Negro cantando na calada da noitePegue esses olhos fundos e aprenda a enxergar

Toda a sua vidaVocê apenas esperou por esse momento para ser livre

Pássaro negro, voe. Pássaro negro, voeA caminho da luz na noite escura e sombria

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