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PARALISIA DE LARINGE ASSOCIADA A MEGAESÔFAGO EM CÃO DA RAÇA

LABRADOR RETRIEVER

LARYNGEAL PARALYSIS ASSOCIATED WITH MEGAESOPHAGUS IN DOG OF

BREED LABRADOR RETRIEVER

Fabiana Saueia Arakaki GOBBO¹, Carolina MEIRELLES² 1 Diretora clínica e coordenadora da UTI do Centro Veterinário Cambuí, [email protected] 2 Médica veterinária anestesista e intensivista do Centro Veterinário Cambuí

Resumo:

A paralisia de laringe é uma enfermidade das vias aéreas superiores, apresentando-

se de forma unilateral ou bilateral, culminando na ausência de abdução das

aritenóides no momento da inspiração. A forma adquirida e idiopática em cães de

meia idade a idosos e de porte grande são as mais encontradas. Determinado grau

de disfagia e megaesôfago podem vir acompanhados à essa enfermidade, o que

gera uma predisposição a pneumonia aspirativa, principalmente após a correção

cirúrgica. As opções terapêuticas cirúrgicas são escolhidas de acordo com o grau e

dificuldade respiratória apresentada pelo animal, afim de minimizar o esforço

respiratório causado pela obstrução.

Palavras-chave: Cão, Labrador Retriever, megaesôfago, paralisia de laringe.

Keywords: Dog, Labrador Retriever, megaesophagus, laryngeal paralysis.

Introdução:

A paralisia de laringe idiopática é caracterizada como uma atrofia neurogênica dos

músculos laríngeos por degeneração progressiva dos nervos laríngeos recorrentes

(STANLEY et al., 2010). É uma condição comum em cães de grande porte de meia

idade a idosos, sendo uma doença progressiva e com alta morbidade, na qual os

cães afetados desenvolvem obstrução das vias aéreas superiores (STANLEY et al.,

2010; WILSON e MONNET, 2016). A paralisia de laringe pode estar associada a

diversas condições, porém comumente a causa específica não é identificada e então

usa-se o termo “idiopática” (WHITE, 1989; WILSON e MONET, 2016).

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Anais do 38º CBA, 2017 - p.0238

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O sinal clínico mais evidente dessa enfermidade é a distrição respiratória, e ocorre

devido a flacidez das cartilagens aritenóides e consequentemente a ausência do

movimento de abdução na inspiração. Isso resulta em maior resistência ao fluxo de

ar e aumento da turbulência na rima glótica, resultando em estridor, intolerância ao

exercício e angústia respiratória. Além disso, a incapacidade de aductar ativamente

a glote no momento da deglutição diminui a proteção das vias aéreas, podendo levar

à aspiração (BUREAU e MONNET, 2002; STANLEY et al., 2010). O diagnóstico

definitivo é feito através da laringoscopia (SMITH, 2000; RADLINSKY et al., 2009).

A condição de dilatação generalizada ou segmentar do esôfago é conhecida como

megaesôfago e também está relacionada a distúrbios neuromusculares,

promovendo uma motilidade diminuída ou ausente, podendo estar associada à

paralisia de laringe. Com essa condição, a regurgitação e refluxo gastroesofágico é

ainda mais frequente (TWED et al., 1997; SHELTON e SLATTER, 1998; JONES et

al., 2000).

O tratamento para a paralisia de laringe é cirúrgico, o qual o objetivo é a

desobstrução laríngea através da lateralização da cartilagem aritenóide (WHITE,

1989; BUREAU e MONNET, 2002).

Relato do caso:

Um canino, da raça Labrador Retriever, macho, 12 anos, foi admitido em

atendimento emergencial no Centro Veterinário Cambuí, devido à distrição

respiratória. Foi referido que, há aproximadamente duas semanas, animal

apresentava engasgos e regurgitações após alimentação, além de ruídos e sibilos

respiratórios, sendo estes exacerbados neste dia. No pronto atendimento, foi

realizado neuroleptoanalgesia (morfina 0,1mg/kg associado a acepromazina

0,02mg/kg IM), em seguida iniciada oxigenioterapia via cateter nasal e resfriamento

do paciente. Ao exame físico constatado leve hipertensão arterial sistólica (160

mmHg), mucosas congestas, auscultação pulmonar limpa em todos os quadrantes,

saturação de oxigênio (SpO2) 92% pela oximetria de pulso (em oxigenioterapia) e

hipertermia (39.4ºC). Realizou-se exames laboratoriais: hemograma, metabólitos

renais, enzimas hepáticas e eletrólitos, sendo todos sem alterações relevantes. Em

radiografia torácica se descartou pneumonia aspirativa ou outras enfermidades de

via aérea respiratória inferior. A hemogasometria arterial demonstrou insuficiência

respiratória leve do tipo 1 (hipoxemia): pCO2 38.7, pO2 75.9, Sat 90.8%, FiO2 28%.

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Anais do 38º CBA, 2017 - p.0239

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Após admissão em internação e análises de exames, suspeitou-se de paralisia de

laringe. Realizou-se sedação do paciente com midazolam 0,3mg/kg associado ao

cloridrato cetamina 1mg/kg e através da inspeção por laringoscopia foi observado a

ausência dos movimentos de abdução das aritenóides.

A partir disso, escolheu-se a técnica de lateralização unilateral da aritenóide por

pexia cirúrgica com o auxílio de endoscopia para correção da enfermidade. No pós-

operatório imediato, o paciente permaneceu intubado durante 2 horas para proteção

das vias aéreas e retorno gradual do despertar anestésico, assim, apresentou

melhora significativa do padrão respiratório, bem como a correção da insuficiência

respiratória, observada na hemogasometria: pCO2 38.9, pO2 117, Sat 98%, FiO2

28%.

Devido ao quadro clínico associado e relatado pelos tutores de regurgitações após

alimentação, durante o procedimento de correção da laringe foi realizado

endoscopia esofágica, onde se observou dilatação do esôfago. Foi orientado o

manejo alimentar lento e em posição bipedal, no qual apresentou melhora

significativa do quadro, cessando os quadros de regurgitação.

Discussão:

Segundo White, 1989b; Stanley et al., 2010; Wilson e Monnet, 2016, a paralisia de

laringe comumente é uma condição idiopática, encontrada em cães de porte médio a

gigante, de meia idade a idosos e acometendo frequentemente mais em machos, o

paciente descrito era um cão da raça Labrador Retriever, porte grande, macho e de

idade avançada.

O paciente foi admitido apresentando o sinal clínico mais evidente de acordo com

Bureau e Monnet, 2002 e Stanley et al., 2010, que é a distrição respiratória. Esses

mesmos autores falam que a paralisia de laringe é a ausência de abdução das

aritenóides no momento da inspiração, gerando resistência ao fluxo de ar,

resultando em estridor e angústia respiratória, o que foi presente no momento da

admissão do paciente. Além disso, segundo Stanley et al., 2010 a incapacidade de

aductar ativamente a glote no momento da deglutição diminui a proteção às vias

aéras, podendo causar engasgos e aspiração, entretanto, o paciente relatado

apresentava somente os engasgos.

A dilatação segmentar do esôfago é uma condição associada que o paciente

possuía; de acordo com Jones et al., 2000 ela decorre de distúrbios

neuromusculares que prejudicam a motilidade.

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A polineuropatia idiopática é a causa mais comum de paralisia de laringe em cães e

tem sido diretamente relacionada com a presença de disfunções esofágicas

(MACPHAIL e MONNET, 2001).

De acordo com Ettinger et al., 1997; Slatter et al., 1998; Jones et al., 2000, o

aumento da pressão negativa gerada pela disfunção da laringe pode contribuir para

o refluxo gastroesofágico e posterior aspiração de conteúdo estomacal. Foi relatado

pelos tutores e observado no período de internação que o paciente apresentava

regurgitações principalmente após a alimentação. Segundo Stanley et al., 2010 se a

condição esofágica foi determinada a tempo, no diagnóstico da paralisia de laringe,

é possível prever o risco de aspiração e, como descrito no caso, o paciente não

havia sinais radiográficos de pneumonia aspirativa.

O meio de diagnóstico correspondeu ao que Radlinsky et al., 2009 refere ser o mais

eficaz, isto é, a laringoscopia propriamente dita.

O tratamento escolhido para o paciente foi a laringoplastia, a qual se lateralizou e

fixou a cartilagem aritenóide. Segundo White, 1989b; Stanley et al., 2010; Bureau e

Monnet, 2002 essa técnica é uma das mais realizadas para adequar o padrão

respiratório e aliviar os sinais clínicos, uma vez que com uma posição abduzida

aumenta permanentemente a rima glótica.

Conclusão:

No caso relatado se identificaram as características mais comuns relatadas em

estudos sobre paralisia de laringe (idade, sexo, porte do animal e sinais clínicos). É

uma condição que, se não diagnosticada em tempo, pode resultar em complicações

graves do sistema respiratório. O paciente descrito ainda não apresentava sinais

radiográficos de pneumonia aspirativa, possivelmente devido à precoce intervenção

corretiva, realizada a partir do momento que houve o diagnóstico preciso.

De acordo com estudos, a disfunção comumente está associada a uma

polineuropatia idiopática, associando a paralisia de laringe e o megaesôfago.

A técnica para correção da paralisia de laringe é a de escolha dentre os estudos, e

associada ao manejo alimentar lento e bipedal devido ao megaesôfago, resultou em

melhora significativa do padrão respiratório e cessamento das regurgitações,

oferecendo qualidade de vida adequada ao paciente.

Referências:

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Anais do 38º CBA, 2017 - p.0241

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Anais do 38º CBA, 2017 - p.0242