o Trabalho Em Equipe Como Estratégia Do Ativismo Pedagógico
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O TRABALHO EM EQUIPE COMO ESTRATÉGIA
DO ATIVISMO PEDAGÓGICO; AFINAL, O QUE É
SER COMPETENTE?
THE TEAMWORK AS A STRATEGY OF EDUCATIONAL
ACTIVISM: AFTER ALL, WHAT IS BEING COMPETENT?
Karla Raphaella Costa Pereira¹ Janaína Alves de Andrade²
Daniel Rodrigues Maia³ Susana Vasconcelos Jimenez4
RESUMO
O presente artigo analisa o discurso das competências, com destaque para o trabalho em equipe,
enquanto formador do ativismo pedagógico que descentraliza a responsabilização do Estado perante a
educação e transfere para a escola, principalmente aos professores e gestores o encargo sobre o
sucesso e/ou insucesso do fazer pedagógico. A análise teve como objetivos centrais: analisar as
aplicações do trabalho em equipe propostas por Perrenoud (2000); fazer revisão bibliográfica de obras
marxistas para fundamentar a crítica. O aporte crítico está centrado na ontologia do ser social explicitada
nas obras de Karl Marx e retomada por Lucáks onde ele explicita As bases ontológicas do pensamento e
da atividade do homem (1978), por entender que o trabalho é a categoria fundante do ser social e, por
isso, as relações estabelecidas na escola devem ser estudadas à luz desse referencial, já que o papel da
educação é transmitir ao homem a humanidade historicamente construída. A pesquisa é de natureza
bibliográfica, inicialmente, os estudos voltaram-se para a análise das obras de MÉSZÁROS (2008);
TONET (2008); MARX (2004); LUKÁCS (1978), objetivando a criação do aporte teórico para a análise dos
respectivos objetos de estudo. No segundo momento, as atenções voltaram-se para a crítica das obras
que explicitam o ideário competente na educação e que põem, ao professor, as obrigações e
responsabilidades do Estado. O interesse pelo tema nasceu das leituras realizadas em grupo de estudo
independente e é resultado parcial da elaboração de projetos de pesquisa a serem apresentados à
seleção do Mestrado Acadêmico em Educação CED/UECE. É relevante para esboçar a compreensão do
fenômeno pedagógico no contexto da crise estrutural do capital.
Palavras chaves: Trabalho em equipe. Pedagogia das competências. Crítica marxista.
ABSTRACT
This article analyzes the discourse of skills, with emphasis on teamwork, while trainer activism that
decentralizes educational accountability before the state education and transfers to the school, especially
the teachers and managers the burden on the success and / or failure of the pedagogical. The analysis
had as main objectives: to analyze the applications of teamwork proposed by Perrenoud (2000); make
bibliographic works to support the Marxist critique. The contribution is focused on the critical ontology of
social being explicit in the works of Karl Marx and retaken by Lucáks where he explains The ontological
foundations of thought and activity of man (1978), understanding that work is the foundational category of
social being and therefore the relationships within the school should be studied in the light of this
framework, since the role of education is to transmit to man humanity historically constructed. The
research is a bibliographic initially, studies have turned to the analysis of works by Meszaros (2008);
TONET (2008), Marx (2004); LUKÁCS (1978), aiming at the creation of theoretical support for the analysis
of their objects of study. In the second stage, attention turned to criticism of the works that explain the
ideas competent in education and putting, the teacher, the obligations and responsibilities of the state.
Interest in the subject was born readings performed in independent study group and is the partial result of
the development of research projects to be presented to the selection of the Academic Master in
Education CED / UECE. It is important to outline the pedagogical understanding of the phenomenon in the
context of the structural crisis of capital.
Keywords: Teamwork. Pedagogy of the competence. Marxist criticism.
¹ Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará– UECE e Letras pela Universidade Federal do Ceará – UFC. ² Graduanda em Letras pela Universidade Federal do Ceará – UFC. ³ Graduando em Física pela Universidade Estadual do Ceará – UECE. 4 Professora da Universidade Estadual do Ceará – CED/UECE, coordenadora do Instituto de Estudos e
Pesquisas do Movimento Operário – IMO/UECE e professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará – UFC.
INTRODUÇÃO
O presente artigo aborda o estudo de Perrenoud sobre o ideário das
competências, com foco no trabalho em equipe, desenvolvendo uma crítica
sobre essas concepções a partir da teoria marxista. O assunto é comum e
bastante discutido, pois aborda as razões para inscrever a cooperação nas
rotinas do ofício de professor. Entende-se que tais afirmações estão presentes
nos variados discursos daqueles que compõem a escola e, por isso, o tema
merece uma análise mais detalhada.
A bibliografia utilizada é pautada em autores que apontam para a
formação voltada para as competências e habilidades, como PERRENOUD
(2000) e autores que trazem a abordagem crítica com base na teoria marxiana,
como mencionado.
Em geral, a proposta de Perrenoud nos remete à alienação das
pessoas em relação à responsabilidade que devem ter para se manterem em
seus trabalhos, responsabilizando-as por quaisquer fracassos que venham a
ter. Para tal, propostas como administrar crises ou conflitos interpessoais são
abordadas.
O livro usado como base foi Dez novas competências para ensinar,
do autor já mencionado, o qual vem dividido em dez capítulos, assim
distribuído: 1º - Organizar e dirigir situações de aprendizagem, 2º - Administrar
a progressão das aprendizagens, 3º - Conceber e fazer evoluir os dispositivos
de diferenciação, 4º - Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu
trabalho, 5º - Trabalhar em equipe, 6º - Participar da administração da escola,
7º - Informar e envolver os pais, 8º - Utilizar novas tecnologias, 9º - Enfrentar os
deveres e os dilemas éticos da profissão e 10º - Administrar sua própria
formação contínua.
O foco deste trabalho volta-se para o capitulo cinco, que trata do
trabalho em equipe e sobre ele apresenta muitas vantagens na instalação de
um grupo eficaz, que ultrapasse a pseudo-organização e alcance o sucesso
escolar através de sua atuação, porém o discurso, se analisado a partir da
totalidade do fenômeno, é consonante com os interesses do capitalismo em
manter sua lógica de exploração.
O trabalho teve como objetivos analisar as aplicações do trabalho
em equipe propostas por Perrenoud e fazer uma revisão bibliográfica de obras
marxistas para fundamentar a crítica.
METODOLOGIA
O presente trabalho é de caráter bibliográfico e tem como suporte
metodológico a ontologia marxista retomada por Lukács, em que explicita As
bases ontológicas do pensamento e da atividade do homem (1978).
Ao compreender a natureza do trabalho como categoria fundante do
ser social, o autor desvela que a sociedade é constituída como um complexo
de complexos e cada um estabelece com o trabalho uma relação. Nesse
sentido, não é possível analisar um fenômeno apenas na superficialidade, ao
contrário, faz-se necessário entender a totalidade a qual ele pertence.
Compreender as chamadas “novas exigências” do mercado de
trabalho que aponta para a aquisição de competências e habilidades não é
possível se não se percebe o papel do trabalho na constituição da humanidade.
O presente estudo nasceu como resultado de grupo de estudos
criado com o objetivo de preparação para seleção do MESTRADO
ACADADÊMICO EM EDUCAÇÃO CED/UECE 2014 e como parte constituinte
da elaboração dos respectivos projetos de pesquisa.
Inicialmente, os estudos voltaram-se para a análise das obras
MÉSZÁROS (2008); TONET (2008); MARX (2004); LUKÁCS (1978),
objetivando a criação do aporte teórico para a análise dos respectivos objetos
de estudo. No segundo momento, as atenções ficaram em torno da crítica das
obras que explicitam o ideário competente na educação e que põem, ao
professor, as obrigações e responsabilidades que não são de sua competência.
A experiência como professores dos membros do grupo foi, também,
determinante para o interesse na temática, pois, na escola, esse discurso é
constantemente veiculado e os docentes levados a defender ideias como
“vestir a camisa da escola”, “afastar-se do muro das lamentações”, “ser
protagonista do ato pedagógico”, “ensinar o aluno a aprender-a-aprender”, “dê
seu jeitinho”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De pseudo-equipe a equipe de fato: tem que ter competência!
Falar de trabalho em equipe não remete, em princípio, a um
problema ou a um fator negativo. Afinal, que mal há em trabalhar em regime de
colaboração, dividir esforços, somar resultados? De acordo com Perrenoud
(2000), a resposta seria “nenhum”. Perrenoud é tácito em defender o trabalho
em equipe, sobretudo no ofício do professor, por acreditar que a especificidade
de funções corrobora com a cooperação e a distribuição igualitária de tarefas.
Portanto, para ele, esse modelo de organização é uma necessidade da
profissão, mais ainda, é uma questão de competência.
O discurso da cooperação, se funcionasse segundo o sentido dado
por Marx, de organização da classe proletária para o rompimento com o
sistema capitalista de exploração da força do trabalhador, apontaria para a
emancipação humana. Ora, a aparência do discurso de Perrenoud converge
para o sentido dado pela teoria marxista apenas se lido de maneira superficial
e leviana, pois o autor das competências está intimamente relacionado aos
interesses burgueses. As competências, nesse sentido, colaboram,
sobremaneira, com a alienação do trabalhador.
Além de Perrenoud, outros autores também trabalham a noção de
competência. De acordo com WITTORSKI (2004, p. 77) “[…] a competência é
mais um processo que um estado. Nisso, diremos que a competência é o
processo que gera o produto acabado, que é a performance (ela mesma
mensurável e por vezes medida/avaliada em razão da competência)”. Colocar
em ação as competências resulta na performance, processo pelo qual todo
trabalhador tem que passar. Por essa razão, não basta ser qualificado, tem que
ser competente.
O discurso vigente aponta como competências a serem adquiridas
Competência coletiva: co-elaborada na interação interpessoal.
Competência compartilhada: socializada num grupo de indivíduos.
Competência de ação ou de resultado: pensada na ação […].
Competência de processo: realização de uma análise de sua própria ação (análise da prática). […]
Competência dominada ou intelectualizada: quando de sua produção, é objeto de uma conscientização.
Competência específica: sua produção se realiza numa classe limitada de situações.
Competência incorporada: saber-fazer produzido na/pela ação e não dissociável da ação.
Competência individual: produzida e mobilizada pelo indivíduo sozinho, em interação com as características físicas da situação.
Competência método/metodológica: prática de um método (exemplo: resolução de problema), para realizar uma ação.
Competência transversal: sua produção se realiza numa classe ampla de situações. (WITTORSKI, 2004, p. 91).
Na escola, o ideário competente foi plenamente recebido, além de
aparecer como suporte basilar das políticas, planos e ações governamentais
para a educação, ele está presente no discurso pessoal de gestores e
professores. Formar para as competências tornou-se objetivo e finalidade da
educação.
Dentre as competências exigidas pelo mercado, a capacidade de
trabalhar em equipe ganha destaque. Perrenoud, em seu livro, considera que
ter capacidade para desenvolver um bom trabalho em grupo é uma das
competências mais importantes para o exercício da profissão de professor.
Neste sentido, é sobre o referido capítulo que se esboça a presente reflexão.
Cooperar é uma exigência do mercado de trabalho e a escola,
inserida nesse contexto, se apropria dessas exigências, ao passo que a não
incorporação desses ditames é razão de insucesso. Como assevera Perrenoud
(2000, p. 79), “A evolução da escola caminha para a cooperação profissional”,
ou seja, ter ou não bom relacionamento no trabalho e possuir ou não
capacidade de trabalhar em grupo são características essenciais para o
desenvolvimento de um bom trabalho. O trabalhador deve, então,
inevitavelmente, adquirir tais características, dando-lhes mais importância do
que a própria qualificação para o exercício da função.
O discurso da cooperação é aparentemente inocente se analisado
sem levar em consideração os interesses do capitalismo em manter-se como
sistema, superando as próprias contradições que lhes são inerentes, graças a
sua controlabilidade.
Segundo o dicionário Houaiss Eletrônico (2009), cooperar é “atuar,
juntamente com outros, para um mesmo fim, contribuir com o trabalho,
esforços, auxílio, colaborar”, considerado, também, “sinônimo de ajudar”. Ora,
qual o profissional que se posicionará contra o conceito de cooperação, quando
esse discurso é posto nestes termos: “uma equipe bem sucedida é aquela que
trabalha unida”, “para alcançar o sucesso, é necessário contribuir com o
processo”, “dispor suas habilidades para o trabalho é fundamental”?
Provavelmente nenhum. E aqueles que discordam sofrem a alcunha de loucos.
Ainda no certame do discurso, tem a divisão do trabalho pedagógico
como fator essencial para o trabalho em equipe, supondo que, quanto mais
específica é uma função, melhor será para trabalhar com altos níveis de
cooperação. “Trabalhar em equipe é, portanto, uma questão de competências e
pressupõe igualmente que a cooperação é um valor profissional”
(PERRENOUD, 2000, p. 81).
A educação é dever do Estado. Professores, gestores e comunidade
não podem assumir a responsabilidade pelo sucesso ou insucesso da
educação, já que não lhes cabe, por exemplo, traçar os planos, as metas e as
ações governamentais.
Termos como “protagonismo” e “ativismo” são caros a essa
perspectiva. A escola, por mais precária e sem recursos que seja, não pode
parar. Professores, alunos e comunidade devem dedicar suas atenções para
resolver os problemas da escola, a exemplo dos “amigos da escola”, que
atuam no voluntariado e os “professores nota 10” que dedicam horas extras
para desenvolver projetos na escola.
O trabalho em equipe, no fazer pedagógico, serve para alcançar,
segundo o discurso analisado, o sucesso escolar. “[…] a cooperação é um
valor profissional” (idem). Organizar-se em equipe para otimizar o trabalho
educativo, é um valor profissional, ou seja, possuir tal habilidade é parte do
currículo do professor, sua formação profissional não pode abrir mão dessas
competências.
Perrenoud define quatro tipos de equipe: pseudo-equipe, equipe lato
sensu, equipe stricto sensu – coordenação de práticas, equipe stricto sensu –
corresponsabilidade de alunos. Desses quatro tipos, a pseudo-equipe é que
não consegue manter-se coletivamente, porque não obedece ao critério da
divisão de trabalho, se tornando incapaz de resolver questões simples que
surgem. Dentro das competências defendidas pelo autor, está a transformação
de pseudo-equipe a equipe de fato, como na citação a seguir
1. Saber trabalhar eficazmente em equipe e passar de uma ‘pseudo-equipe’ a uma verdadeira equipe.
2. Saber discernir os problemas que requerem uma cooperação intensiva. Ser profissional não é trabalhar em equipe ‘por princípio’, é saber fazê-lo conscientemente, quando for mais eficaz. É, portanto, participar de uma cultura de cooperação, estar aberto para ela, saber encontrar e negociar as modalidades ótimas de trabalho em função dos problemas a serem resolvidos.
3. Saber perceber, analisar e combater resistências, obstáculos, paradoxos e impasses ligados à cooperação, saber se auto-avaliar, lançar um olhar compreensivo sobre um aspecto da profissão que jamais será evidente, haja vista sua complexidade. (THURLER, 1996a, p. 151 apud PERRENOUD, 2000, p. 82)
Combater resistências, paradoxos mina a capacidade crítica do
indivíduo, sua subjetividade. Além disso, por trás de tudo ainda há o stress em
torno da manutenção da função. O trabalhador se vê pressionado em cumprir
esses padrões, em buscar desenfreadamente desenvolver essas
competências, tornando-se competitivo, afastando-se da real proposta do
trabalho em equipe. O trabalho, para ele, torna-se um fardo, tal como
asseveram os autores
Primeiro, que o trabalho é externo ao trabalhador, isto é, não pertence ao seu ser, que ele não se afirma, portanto, em seu trabalho, mas nega-se nele, que não se sente bem, mas infeliz, que não desenvolve nenhuma energia física e espiritual livre, mas mortifica sua physis e arruína o seu espírito. O trabalhador só se sente, por conseguinte e em primeiro lugar, junto a si [quando] fora do trabalho e fora de si [quando] no trabalho. […] O seu trabalho não é portanto voluntário, mas forçado, trabalho obrigatório. (MARX & ENGELS, 2004, p. 82).
As linhas desenhadas pelo ideário das competências tomam
proporções catastróficas, levando o indivíduo a um estado de completo mal-
estar no desempenho de suas funções devido ao desgaste a que é submetido.
O trabalho deixa de ser prazeroso e é reduzido a um simples meio para
satisfação das necessidades. “O trabalho é um ato de pôr consciente e,
portanto, pressupõe um conhecimento concreto, ainda que jamais perfeito, de
determinadas finalidades e de determinados meios” (LUKÁCS, 1978, p. 8). Mas
da forma que está posto, o trabalho deixa de ser um ato de “pôr consciente”
culminando na desumanização do homem.
Trabalhar em equipe não é, de fato, nenhum problema, mas a
chamada das competências para a realização deste é que o torna fadado ao
fracasso, ou melhor, conduz ao fracasso aqueles que estão imersos nessa
lógica.
CONCLUSÃO
É por isso que é necessário romper com a lógica do capital se quisermos
contemplar a criação de uma alternativa educacional
significativamente diferente.
Mészáros, 2008
Não é possível, dentro do atual sistema econômico-social, falar de
uma verdadeira emancipação humana, visto que essa só seria possível em
uma sociedade de produtores livremente associados, onde os interesses de
classe não prevaleceram e contaminaram o fazer pedagógico por não haver
divisão de classes.
No interior da sociabilidade hodierna, os interesses da classe
dominante sempre prevalecerão sobre os trabalhadores. Nesse sentido, as
teorias, por mais bem intencionadas que sejam, servirão para colaborar cada
vez mais com a desumanização devido à negação ao indivíduo da aquisição
dos elementos que o constituem como ser social. Sua relação com o trabalho
se torna cada vez mais estranha.
A formação dada pela escola atualmente caminha de braços dados
com tais ideologias e, em nome da aquisição de competências e habilidades,
excetua-se a aquisição de conhecimentos. Há tempo para toda sorte de coisas
no currículo escolar e cada vez menos tempo para ensinar ou aprender.
O professor deve, portanto, aprender a gerenciar seu fazer, sua
atuação para otimizar os processos educativos, unir forças com os colegas
para resolver os problemas da escola, não ficar de braços cruzados esperando
que a solução venha “de cima”, trabalhar em equipe em nome da busca do
sucesso.
No entender deste trabalho, não é a prática do trabalho em equipe
que se critica, mas os interesses por traz do discurso que despolitiza, modela e
deforma o professor, que perde a dimensão ontológica do seu agir e adere aos
discursos neoliberais que impedem que a educação realize seus verdadeiros
papéis que é, dentre eles, de “importância vital para romper com a
internalização predominante nas escolhas políticas circunscritas à legitimação
constitucional democrática do Estado que defende seus próprios interesses”
(MÉSZÁROS, 2008, p. 61).
Superando essa lógica despolitizante, o professor pode se orientar
para a “adoção da tarefa de superar a alienação por meio de um novo
metabolismo reprodutivo social dos produtores livremente associados” (idem, p.
60).
O comunismo não é para Marx uma antecipação utópico-ideal de um estado de perfeição imaginada à qual se deve chegar; ao contrário, é o início real da explicitação das energias autenticamente humanas que o desenvolvimento ocorrido até hoje suscitou, reproduziu, elevou contraditoriamente a níveis superiores, enquanto importantes realizações da humanização. (LUKÁCS, 1978, p. 14)
Compreender tais processos é importante para “criar condições
materiais necessárias para o livre emprego de si”. (idem, p. 16).
Ser competente, como pondera a teoria aqui apresentada, é ir contra
esses processos, é entrar na briga por resultados muito mais individuais que
coletivos, lançando por terra o verdadeiro objetivo do trabalho cooperado.
Tornar-se uma equipe verdadeira não é uma questão de seguir receitas, seguir
saberes. Numa sala de aula, por exemplo, não dá pra chegar com os
esquemas prontos, achando que todos os alunos são iguais. Tem que respeitar
as individualidades tanto como em uma equipe de trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DICIONÁRIO ELETRÔNICO HOUAISS. Ed. Objetiva, 2009.
LUKÁCS, Georg. As bases Ontológicas do Pensamento e da Atividade do Homem. In: NOGUEIRA, M. A.; BRANDÃO, G. M.; CHASIN, J.; SODRÉ, N. W. (orgs.). Temas de Ciências Humanas. Vol. 4. Ed. Ciências Humanas, São Paulo, 1978.
MARX. Karl; ENGELS, Friedrich Manuscritos econômico-filosóficos. [tradução: Jesus Ranieri]. São Paulo: Boitempo, 2004.
_____________. Burgueses e Proletários. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Estud. av., São Paulo, v. 12, n. 34, Dec. 1998 .
MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. São Paulo: Boitempo, 2009.
____________. A educação para além do capital. [tradução Isa Tavares]. – 2. Ed. – São Paulo: Boitempo, 2008.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Trad. Patrícia
Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artmed, 2000.
TONET, IVO. Educação e formação humana. In: JIMENEZ, S.; OLIVEIRA, J. L. de; SANTOS, D. (orgs.). Marxismo, educação e luta de classes: teses e conferências do II Encontro Regional Trabalho, Educação e Formação Humana. Fortaleza: EdUECE/IMO/SISTSEF, 2008.