Mono Final
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA
TIAGO XIMENES CABRAL DUTRA
ESTUDOS GEOQUÍMICOS E EM CONCENTRADOS DE BATEIA NA REGIÃO DO GRANITO DE CAMPO
FORMOSO, BA
Salvador 2008
TIAGO XIMENES CABRAL DUTRA
ESTUDOS GEOQUÍMICOS E EM CONCENTRADOS DE BATEIA NA REGIÃO DO GRANITO DE CAMPO
FORMOSO, BA
Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientador: Prof. José Haroldo da Silva Sá
Salvador 2008
TERMO DE APROVAÇÃO
TIAGO XIMENES CABRAL DUTRA
Salvador, 16 de julho de 2008
ESTUDOS GEOQUÍMICOS E EM CONCENTRADOS DE BATEIA NA REGIÃO DO GRANITO DE CAMPO
FORMOSO, BA
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:
Jose Haroldo da Silva Sá - Orientador Doutor em Geologia pela USP UFBA Ernesto Alves da Silva Bacharel em Geologia pela UFPE CBPM Sérgio Augusto de Moraes Nascimento Doutor em Geologia pela UFBA UFBA
AGRADECIMENTOS
Meus primeiros agradecimentos são especialmente a meus pais Marconi e Diva pelo
apoio, amor e crença em minha nova profissão, a meus irmãos Igor e Leo por me
ensinarem a ver que com batalha tudo se vence e a Isabel Fróes pela psicologia,
pedagogia e por sempre enxergar o geólogo existente em mim.
Ao meu professor e orientador Haroldo Sá que sempre foi exemplo para mim, por
suas sugestões e paciência em todas as etapas do trabalho.
A CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral) por todo apoio cedido para
realização deste trabalho e especialmente aos geólogos Ernesto Alves, Violeta e
Esdras Varjão; ao estagiário Felipe (Dilon); aos motoristas Lourival e Joel e aos
funcionários Teresa Cristina, Rosa Amélia e Val.
Ao GPA (Grupo de Petrologia Aplicada) pelos equipamentos cedidos, principalmente
a Maria de Lourdes e Ritinha.
Aos meus amigos e colegas da Universidade: Decrépito, Libório, Aninha, Tiago
Morro, Lucas Tranqüilo, André Caribes, Marco Bento, Davidson (Corôa), Edú
Bakana, Lisálvaro, Cristiano Muller, Monica (por todos os trabalhos de equipe),
Dudilis, Guiga, Jorge Leite (por todo incentivo inicial), Carrapato, André Fumaça,
Mariana Cayres, Luan Krug, Deraldo, Danilo, Igor Gnomo, Lusandra, Mick Summer e
Xalalá; aos professores Félix, Facelúcia, Geraldo Leahy, Marcos Pereira, Antônio
Flávio, Johildo Barbosa, Sergio Nascimento, Aroldo Misi, Simone Cruz, Osmário
Leite e Paulo Avanzo.
“Quando você olhar para algum corpo que não seja tão perfeito, olhe direito, pois cada olhar
contém o seu defeito.”
Catatau
RESUMO
Este trabalho apresenta os resultados de prospecção geoquímica em sedimentos de
corrente e concentrados de bateia realizados na área de exposição do granito de
Campo Formoso que, em princípio, apresenta feições litológicas, estruturais e
geotectônicas favoráveis a existência de mineralizações típicas do magmatismo
plutônico ácido, além de registros anteriores que indicaram a presença de wolframita
no domínio espacial deste granito.
Os resultados geoquímicos e mineralógicos obtidos não apresentam valores
significativos para os elementos pesquisados (W, Sn, Mo, Nb, Ta, Be), indicando
uma baixa potencialidade de mineralizações para o granito de Campo Formoso.
Entretanto em alguns pontos localizados restritamente, observam-se valores
relativamente elevados de estanho, zinco, chumbo, nióbio e ouro que são
recomendados para investigações mais detalhadas.
A coerente correlação verificada entre a geoquímica e os concentrados de bateia
com as litologias da área estudada possibilita a utilização destes parâmetros como
subsídio ao mapeamento geológico.
Palavras-chave: Sedimento de Corrente; Concentrados de Bateia; Granito de
Campo Formoso.
Abstract
This paper presents the results of geochemistry exploration in stream sediment and
pan concentrates, made in the area of exposure of Campo Formoso granite that, in
principle, serves lithological, structural and geotectonic favorable conditions to typical
mineralizations of the plutonic acid magmatism, as well as records earlier that
indicated the presence of wolframite in the space of granite.
The geochemical and mineralogical results obtained not shown significant results to
the elements W, Sn, Mo, Nb, Ta, Be searched, showing a low potential for
mineralizations for the Campo Formoso granite, but in some points located restrict,
there are values relatively high of tin, zinc, lead, niobium and gold that recomends
more detailed investigations.
The consistency of correlations founded in the geochemistry and pan concentrates
with the lithology of the sampled area allows the use of these parameters as
allowance for geological mapping.
Keywords: Stream Sediment; Heavy minerals concentrate; Campo Formoso granite
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 11
1.1 OBJETIVOS 12 1.2. CARACTERÍSTICAS FISIOGRÁFICAS DA ÁREA ESTUDADA 13
1.2.1. LOCALIZAÇÃO 13 1.2.2. GEOMORFOLOGIA 14 1.2.3. CLIMA 15
1.3. METODOLOGIA 16 1.3.1. Revisão bibliográfica 17 1.3.2. Trabalhos de Campo 18 1.3.3. Preparação de amostras 18 1.3.4. Métodos Analíticos 19
1.3.5. Análise e Integração de Dados 20 2. GEOLOGIA 21
2.1. TRABALHOS ANTERIORES 21 2.2. GEOLOGIA REGIONAL 22
2.2.1. Complexo Mairi 23 2.2.2. Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Formoso 24 2.2.3. Greenstone Belt de Mundo Novo 25 2.2.4. Grupo Jacobina 28 2.2.5. Granitos Intrusivos 30 2.2.6. Diques Ultramáficos associados a Serra de Jacobina 30 2.2.7. Coberturas Neoproterozóicas 31 2.2.8. Coberturas Cenozóicas 31
2.2.9. Características Geotectônicas 32 2.2.10. Mineralizações Associadas 34
2.3. GEOLOGIA LOCAL 34 2.3.1. Granito de Campo Formoso 35 2.3.2. Faciologias do Granito 35 2.3.3. Geologia Estrutural 40 2.3.4. Nível de erosão 43
3. MÉTODOS PROSPECTIVOS 45 3.1. SEDIMENTO DE CORRENTE 45 3.1.1. Resultados Obtidos 47 3.2. CONCENTRADOS DE BATEIA 64 3.2.1. Resultados Obtidos 65
4. ANÁLISE, INTEGRAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 77 5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES 79 6. BIBLIOGRAFIA 81
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa de situação e localização da área pesquisada. 13
Figura 2 - Mapa de Climas do Estado da Bahia, fonte SEI (1998). 16
Figura 3 - Mapa de distribuição das amostras estudadas 17
Figura 4 - Mapa geológico da região de Campo Formoso (adap. Rudowski). 22
Figura 5 - Mapa geotectônico dos blocos do cráton do São Francisco. 33
Figura 6 - Mapa magnetométrico do granito de Campo Formoso (CBPM). 42
Figura 7 - Modelo de evolução estrututural de um diápiro. 44
Figura 8 - Mapas de padrões de foliação (em corte horizontal). 44
Figura 9 - Foliações medidas e os limites do granito de Campo Formoso 44
Figura 10 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Wolfrâmio 47
Figura 11 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Estanho 49
Figura 12 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Molibdênio 50
Figura 13 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Boro 51
Figura 14 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Flúor 52
Figura 15 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Lítio 53
Figura 16 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Cobalto 54
Figura 17 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Nióbio 55
Figura 18 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Cromo 56
Figura 19 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Cobre 57
Figura 20 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Níquel 58
Figura 21 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Vanádio 59
Figura 22 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Chumbo 60
Figura 23 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Zinco 61
Figura 24 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Bário 62
Figura 25 - Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Berílio 63
Figura 26 - Mapa de distribuição e concentração de Magnetita. 65
Figura 27 - Mapa de distribuição e concentração de Ilmenita. 67
Figura 28 - Mapa de distribuição e concentração da Turmalina 68
Figura 29 - Mapa de distribuição e concentração da Granada 70
Figura 30 - Mapa de distribuição e concentração da Cromita 71
Figura 31 - Mapa de distribuição e concentração de Berilo 72
Figura 32 - Mapa de distribuição e concentração de Zircão 73
LISTA DE FOTOS E TABELAS
Tabela 1 - Concentração dos elementos químicos em diferentes litotipos 45
baseado em ROSE, HAWKS, WEBB (1979).
Tabela 2 - Tabela de correlação linear de Pearson. 77
Fotos 1 / 2 - Estufa de secagem e material peneirado. 15
Foto 3 - Bandamento composiconal do Complexo Mairi. 23
Foto 4 - Contato do granito Campo Formoso com a Serra de Jacobina. 24
Foto 5 / 6 - Brechas de contato e estratificações cruzadas. 26
Foto 7 - Seqüência sedimentar da Unidade Itapura. 27
Foto 8 - Roof pendents do Grupo Jacobina. 28
Foto 9 - Calcarenitos da Formação Salitre 31
Foto 10 - Contato erosivo entre o Granito e cobertura neoproterozóica. 35
Foto 11/12 - Fácies g1 do granito e zona de fraturamento. 37
Foto 13 - Textura isogranular fina no granito g1’. 37
Foto 14 - Veios de muscovita. 38
Foto 15 - Filões de g2 intrusivos em g1’. 38
Foto 16 - Pegmatitos na fácies g2. 40
Foto 17 - Falha normal truncando o granito de Campo Formoso. 41
Foto 18 - Concentração dos minerais pesados em bateia 64
Fotos 19/20 - Concentrados de magnetita vistos em lupa binocular. 66
Foto 21 - Grão de ilmenita. 67
Fotos 22/23 - Grãos de turmalina vistos no concentrado de bateia. 69
Foto 24 - Detalhe da granada espessartita. 70
Foto 25/26 - Grãos de Cromita. 71
Foto 27/28 - Grãos de zircão. 74
Foto 29 - Grão de apatita. 74
Foto 30/31 - Grãos de topázio e ouro. 75
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1. INTRODUÇÃO
Dentre as características geológicas da porção norte da Serra de Jacobina destaca-
se a presença de vários corpos graníticos gerados no ciclo Transamazônico,
principalmente o chamado granito de Campo Formoso, cuja colocação reflete-se no
modelamento geomorfológico daquela parte da serra, formando uma espécie de
arco com a concavidade voltada para oeste. Além deste granito estão mapeados e
identificados nessa região os granitos de Flamengo, Jaguarari e Carnaíba, este
último associado com os principais depósitos de esmeralda da Bahia e que são
objeto de lavra garimpeira há mais de quatro décadas.
Esses granitos mostram caráter intrusivo tanto no embasamento gnáissico
migmatítico, de composição tonalítica-trondhjemítica-granodiorítica (TTG), como nos
metassedimentos do grupo Jacobina, arcabouço geológico da serra homônima. O
granito de Campo Formoso foi datado pelo método Rb/Sr em aproximadamente 1,97
bilhões de anos (Sabaté et al., 1990). No domínio deste granito encontram-se
também depósitos de esmeralda, na localidade de Socotó, provavelmente originados
pelos mesmos processos formadores dos depósitos similares de Carnaíba, através
de interações entre os fluidos pegmatíticos derivados do magma granítico e rochas
máfico-ultramáficas (Griffon et al. 1967).
Trabalhos recentes realizados naquela região mostraram que os padrões geofísicos
obtidos nos aerolevantamentos patrocinados pela CBPM (Garrido, 2000),
apresentam boas correlações com as unidades litológicas e estruturas identificadas
no granito de Campo Formoso e suas encaixantes (Varjão, 2007). Este autor
também mostrou, com base nessas correlações, os limites mais prováveis para o
corpo do granito de Campo Formoso, e que este não chegou ao estágio de diápiro
maduro. Assim, mantêm-se potencialmente favorável quanto a preservação de
possíveis mineralizações típicas das zonas apicais dos plútons intrusivos.
Além destes fatores, ocorrências de mineralizações de wolframita são listadas pela
CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais) e no mapa metalogenético
do Estado da Bahia (Misi, A.; Teixeira, J. B. G.; Sá, J. H. S., 2006) o que motivou
bastante este trabalho como um princípio de mineralização na região em estudo.
12
Nos modelos que tratam da metalogênese relacionada ao magmatismo ácido
destacam-se as mineralizações de tungstênio, molibdênio, estanho, cobre, tântalo-
nióbio além de vários tipos de pedras preciosas. Essas mineralizações podem ser de
natureza ortoderivada ou decorrentes de interações entre os fluidos magmáticos e
as rochas encaixantes.
Apesar da expressiva exposição de magmatismo granítico na região da serra de
Jacobina, as mineralizações de valor econômico até hoje conhecidas são os
depósitos de esmeralda de Carnaíba, onde também se recupera molibdenita como
subproduto, e os depósitos de Socotó.
O trabalho de pesquisa realizado deu prosseguimento àquele realizado por Varjão
(op. cit.), possibilitando a verificação e checagem de feições geológicas e estruturais
associadas com expressivas anomalias geofísicas identificadas através daqueles
aerolevantamentos, além de avaliar as potencialidades de mineralizações
associadas ao granito de Campo Formoso através de métodos de prospecção
geoquímica em sedimentos ativos de corrente e em concentrados de bateia e suas
subseqüentes interpretações.
1.1. OBJETIVOS
Tendo em conta a disponibilidade de dados e informações que, em principio,
apontam condições potencialmente favoráveis para mineralizações associadas ao
magmatismo granítico da região da serra de Jacobina, particularmente relacionada
com o granito de Campo Formoso, foi realizado um trabalho de pesquisa no domínio
deste granito, teve como objetivo principal investigar as mineralizações típicas deste
ambiente geológico, através de métodos geoquímicos e em concentrados de bateia
em sedimentos ativos de corrente, e a partir destes interpretar e sugerir um estudo
mais detalhado de áreas mais propícias às diversas mineralizações.
13
1.2. CARACTERÍSTICAS FISIOGRÁFICAS DA ÁREA ESTUDADA
1.2.1. LOCALIZAÇÃO
O município de Campo Formoso está situado ao norte do estado da Bahia, a oeste da
Serra de Jacobina, mais precisamente no piemonte norte do Itapicurú. Apresenta os
limites a norte, com Juazeiro e Sobradinho; a sul, com Antônio Gonçalves, Mirangaba
e Umburanas; a leste, com Senhor do Bonfim e Jaguarari; e a oeste, com Santo Sé
(Figura 2).
Figura 1 – Mapa de situação e localização da área pesquisada.
O acesso à cidade de Campo Formoso é feito, partindo de Salvador, pela BR-324 até
Feira de Santana, seguindo pela BR-116 norte até o entroncamento entre Serrinha e
Tanquinho, continuando pela rodovia Lomanto Júnior até Senhor do Bonfim e depois
pela BA-220 finalizando pela rodovia Herculano Menezes do entroncamento de
Antônio Gonçalves até Campo Formoso.
14
1.2.2. GEOMORFOLOGIA
As feições geomorfológicas regionais, foram estudadas e analisadas, permitindo a
definição de cinco zonas homólogas distintas, sendo elas, relevo montanhoso,
cristas residuais, relevo ondulado, depósitos de tálus e planícies aluvionares as
quais serão descritas a seguir:
• Relevo Montanhoso
O relevo Montanhoso é sustentado predominantemente por quartzitos, e
metaquartzitos nivelados, em média, na cota de 1.100 metros. O relevo é
dissecado por vales profundos e estreitos, podendo apresentar rochas sujeitas a
mais intensa alteração intempérica e erosão, como os ultramafitos e os xistos,
resultando em desníveis topográficos que podem chegar até 500 metros.
Apresentam formas de escarpas abruptas, canyons e topos planos,
caracterizando assim, um relevo pseudo-apalachiano. É representado pela Serra
de Jacobina.
• Cristas Residuais
Relevo formado por cristas alinhadas N-S e E-W, as quais são compostas
predominantemente por veios gigantescos de quartzo. Sua resistência à erosão, é
devido ao seu condicionamento estrutural linear característico e a sua
composição.
• Relevo Ondulado
Apresentam altitudes variando entre 400 e 900 metros, e constituem formas de
relevo arredondado, com desenvolvimento de padrões alveolares e rugosos. Os
principais materiais de degradação nas áreas de relevo ondulado estão
representados pelo granito de Campo Formoso.
15
• Depósitos de Tálus
Consiste em uma mistura de detritos em proporções variáveis, são depósitos de
seixos mal selecionados, inconsolidados, angulosos, oriundos das regiões serranas.
Ocorrem nas margens das cristas residuais e relevo montanhoso. São leques
coluvionais que se desenvolveram através de processos de escoamento superficial
e fluxo gravitacional, com transporte de material “in situ”. Os materiais depositados,
foram desagregados através de processos químicos e mecânicos, decorrente das
variações climáticas bruscas atuantes durante o Pleistoceno Médio Superior.
• Planícies Aluvionares
Desenvolve-se uma ampla várzea extensivamente inundada na época das
chuvas. Quando ocorre o recuo das águas, forma-se um depósito de areias e
argilas, trazidas pelos rios da região. O entalhamento das drenagens modernas
proporcionou e continua proporcionando a deposição de materiais clásticos finos a
grosseiros nas baixadas, os quais se encontram preservados nas margens dos
principais rios da área de estudo. Predomina o modelado de acumulação.
1.2.3. CLIMA
A região estudada apresenta uma variação de altitudes que vai de 350 metros, nas
planícies aluvionares presentes no granito, até 1.400 metros na Serra de Jacobina,
influindo nas duas variedades de climas encontrados de acordo com a classificação
de Kõppen. São elas, o clima Bsh, variando na parte centro-sul da área para Cfa.
• Cfa
Uma faixa de direção SW-NE, localizada na parte mais oriental da área, estendendo-
se até as proximidades de Jaguarari, apresenta clima do tipo Cfa, temperado, úmido,
chuvoso, mesotérmico com verões quentes e sem estação seca. Esse clima é
predominante na Serra de Jacobina: de Jacobina a Jaguarari, e parte ocidental
desta Serra. A temperatura varia entre 18º e 34º C, sendo os meses mais quentes
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dezembro e janeiro e os mais frios, junho a agosto. A pluviosidade oscila entre 600 a
900 mm, distribuída em todo o ano, sendo mais intensa entre novembro e janeiro,
março e abril.
• Bsh
O restante da área é afetado pelo clima Bsh, semi-árido quente, com uma estação
chuvosa irregular de outubro a abril. Ë típico nas regiões de caatinga e do agreste. É
caracterizado por uma temperatura elevada (26º a 27º C em média), sendo o mês
mais quente dezembro ou janeiro (34º C) e o mais frio o de julho (22º C). A
pluviosidade oscila entre 400 e 500 mm anuais, distribuída entre os meses de
novembro a março.
Figura 2 – Mapa de Climas do Estado da Bahia, fonte SEI (1998).
1.3. METODOLOGIA
Visando o objetivo proposto neste trabalho, foi selecionada uma área de
aproximadamente 1400 Km2 composta pelo granito de Campo Formoso e suas
encaixantes utilizando-se a escala 1:100.000, devido ao contexto geológico e as
escalas utilizadas em levantamentos anteriores. A metodologia foi dividida nas
seguintes etapas descritas a seguir:
17
1.3.1. Revisão bibliográfica
Nesta etapa foi levantado um vasto acervo bibliográfico e elaborada uma síntese do
conhecimento sobre a região em estudo. Esses dados foram preparados em
ambiente de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), através do software
ArcGis (Arcview 9.2), com informações sobre a plani-altimetria, rede hidrográfica,
geologia, geofísica e geoquímica.
Figura 3 – Mapa de distribuição das amostras estudadas e os limites do granito de Campo Formoso.
Foi realizado também um planejamento dos trabalhos de campo, com locação dos
pontos de interesse para verificações, coleta de sedimentos de corrente,
concentrados de bateia e levantamentos de campo sobre os mapas base na escala
de 1:100.000 disponibilizadas pelo IBGE/SEI (Figura 1).
18
1.3.2. Trabalhos de Campo
Os trabalhos de campo totalizaram 30 dias, distribuídos em três etapas, durante as
quais foram levantados 115 pontos (localizados com GPS), que foram descritos nas
suas características geológicas, estruturais e geomorfológicas circundantes de
acordo com o planejamento efetuado na etapa anterior.
Em campo foi dada a ênfase na coleta de sedimentos de corrente e concentrados de
bateia e eventuais amostras de rochas para análises litogeoquímicas.
O trabalho de coleta do sedimento de corrente foi realizado com a amostragem de
40 litros de material, retirados de locais estratégicos (traps = armadilhas) variados,
que posteriormente foram homogeneizados, peneirados e quarteados separando-se
dois litros para análise química do sedimento e 20L para concentração dos minerais
pesados em bateia, todos acondicionados e rotulados em sacos plásticos e lacrados
para evitar contaminações.
1.3.3. Preparação de amostras
As amostras destinadas a obtenção de concentrados de minerais pesados foram
selecionadas em uma bateia chinesa resultando na diminuição do material para em
média 10 gramas.
Após os trabalhos de campo as amostras foram secadas em lâmpadas (foto 1) a
temperatura de aproximadamente 80ºC e peneiradas na fração <80 mesh (foto 2)
nos laboratórios da CBPM. A fração <80 mesh foi enviada para análise dos
elementos F, Ta, Nb, Ag, Al, B, Ba, Be, Bi, Ca, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, K, La, Li, Mg, Mn,
Mo, Na, Ni, P, Pb, Sb, Sc, Sn, Ti, V, W, Zn e Zr nos laboratórios da Geologia e
Sondagens Ltda.(SGS/GEOSOL), em Belo Horizonte.
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Fotos 1 e 2 – Estufa de secagem e material peneirado.
1.3.4. Métodos Analíticos
• Sedimento de Corrente
As amostras de sedimentos de corrente (<80#) foram preparadas (pulverizadas,
homogeneizadas) para abertura em água régia, e pesadas em tubos de ensaio
calibrados. Após o preparo são adicionados 5 ml de água régia e aquecidas durante
uma hora em um banho de areia. As amostras são então esfriadas, aferidas com
água deionizada ou com solução de HCl 40% quando requerido análise de Prata. A
leitura foi realizada em espectometria de plasma (ICP/OES) e Absorção Atômica.
Foram realizados em algumas amostras o método de fluorescência de raios-x,
preparadas a partir da fusão da amostra por fundentes básicos (boratos, carbonatos
entre outros), gerando um vidro fundido de estrutura cristalina amorfa e massa
homogênea, numa quantidade suficiente para ser analisado em um espectrômetro
dotado de tubos de Rhodio como fontes de radiação. A tabela com os limites de
detecção de cada elemento para os métodos analíticos utilizados encontra-se em
anexo.
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• Concentrados de Bateia
Foram realizadas análises mineralométricas nos concentrados de bateia utilizando-
se a lupa binocular (120x) sendo observadas as principais propriedades dos
minerais como cor, brilho, forma cristalina, clivagem, fratura, grau de trabalhamento
dos grãos (arredondamento e esfericidade) e estimado seu porcentual na fração por
análise semi-quantitativa relativa.
1.3.5. Análise e Integração dos Dados
Após obtidos os resultados geoquímicos e as análises mineralométricas foi realizada
uma integração de todos os dados e informações obtidos utilizando o software
ArcMap 9.2 para geração de mapas integrados e interpretativos.
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2. GEOLOGIA
2.1. TRABALHOS ANTERIORES
Em 1969 Mascarenhas, J. F. definiu para a Serra de Jacobina, um estilo de
dobramento isoclinal com escamas tectônicas e espessura do pacote sedimentar de
quatro quilômetros.
No ano de 1978, a CPRM publicou o mapa geológico do projeto Serra de Jacobina
em escala de 1:50.000. No texto do referido mapa, obtêm-se uma descrição das
litologias, processos geológicos e características do meio físico de toda a região da
Serra de Jacobina e seu entorno. Couto et al. (1978) individualizou três
compartimentos litoestruturais para a região: (i) Complexo Metamórfico- Migmatítico,
(ii) Complexo Saúde e (iii) Complexo Itapicuru, incluindo as formações Cruz das
Almas (LEO et al., 1964), Serra do Meio, Água Branca (Griffon, op. cit.), e Oliveira,
Serra da Alegria e Varginha de Jordan (1972).
No ano de 1989 Rudowski realizou sua dissertação de doutorado “Petrologie et
geochemie des granites transamazoniens de Campo Formoso et Carnaíba (Bahia,
Bresil), et dês philogopitites a emeraudes associes” onde detalhou com muita
precisão toda a geologia do granito de Campo Formoso, seus limites e mineralizações
sugerindo uma evolução do granito de Campo Formoso, que evolui de um granito a
duas micas para um granito a muscovita-granada e alopegmatitos.
Couto et al. (1991) estudou o Complexo Ultramáfico, mineralizado em esmeralda, do
garimpo de Socotó sugerindo para ele alta potencialidade econômica devido as
similaridades dos condicionantes geológicos com o garimpo de Carnaíba, o maior
depósito de esmeralda do estado da Bahia.
Mascarenhas e Silva (1994) definiram uma seqüência vulcanossedimentar, associada
a Serra de Jacobina, denominada de Greenstone Belt de Mundo Novo.
Em 2000 a CBPM realizou o levantamento aerogeofísico, gamaespectométrico e
magnetométrico, na região de Senhor do Bonfim. A partir destes aerolevantamentos
22
Mascarenhas e Silva (2000) sugeriram um modelo conceitual para evolução do
Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Formoso e após furos de sondagem
descobriram embaixo do Grupo Una uma possível seqüência vulcanossedimentar
denominada de Greenstone Belt de Tiquara.
Estes trabalhos foram utilizados como fonte de dados para a elaboração do presente
relatório de importância significativa para a caracterização regional e local.
2.2. GEOLOGIA REGIONAL
Figura 4 – Mapa geológico da região de Campo Formoso (Adaptado de Rudowski, 1989).
23
Tendo em vista que a escala de mapeamento foi regional (1:100.000), neste capitulo
serão descritas todas as litologias presentes na área de trabalho, e no capítulo
geologia local faz-se por uma descrição mais detalhada do granito de Campo
Formoso e suas diversas fácies.
2.2.1. Complexo Mairi
O Complexo Mairi constitui o embasamento do Greenstone Belt de Mundo Novo e
da seqüência detrítica da Serra de Jacobina. Este complexo é composto por rochas
tonalito-granodiorito-graníticas (TTG) migmatizadas e gnaissificadas com
remanescentes isolados de seqüências supracrustais, além de anfibolitos e corpos
estreitos de rochas máfico-ultramáficas. Os afloramentos do Complexo Mairi, muitas
vezes, apresentam bandamento de espessuras variadas, com bandas claras de
minerais félsicos e bandas escuras de minerais micáceos, indicando protólito
sedimentar (foto 3). Todo este conjunto está polideformado e reequilibrado na fácie
anfibolito.
Foto 3 – Bandamento composicional do Complexo Mairi a sudoeste de Campo Formoso.
Na parte oriental da Serra de Jacobina, migmatitos e granitos forneceram idade Rb-
Sr de 2,66 Ga (SATO, 1986 apud MASCARENHAS et al., 1998), enquanto que, na
região de Piritiba-Largo, uma isócrona Rb-Sr em afloramento de gnaisse migmatitico
indica idade de geração em torno de 3,0 Ga (Brito Neves et al., 1980; Melo et al.,
1991).
24
2.2.2. Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Formoso
Este complexo integra um conjunto de corpos máfico-ultramáficos que afloram
desde a região das minas de esmeralda de Carnaíba, a SW de Campo Formoso, até
o maciço de Jaguarari, a NW da cidade de Jaguarari. Faz contato a norte com o
granito de Campo Formoso e gnaisses migmatíticos do embasamento e a sul com
os quartzitos, filitos, filonitos e itabiritos do complexo Itapicuru.
O complexo de Campo formoso é considerado Arqueano com idade entre 2,5-2,7 Ga
(Topitsch, 1993) devido à presença de xenólitos de ultramáficas com cromita dentro
do granito de Campo Formoso e de cromita detrítica nos quartzitos basais do
Complexo Itapicuru (Biondi, 2003). A ocorrência principal deste Complexo localiza-
se nos contatos do Granito de Campo Formoso (Foto 4) e do Complexo Mairi com o
Grupo Jacobina.
Granito de Campo Formoso
Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Formoso
Quartzitos da Serra de Jacobina
Foto 4 – Vista das rochas ultramáficas no contato do granito com a Serra de Jacobina na cidade de
Campo Formoso.
Em geral, na parte sul-sudeste do granito de Campo Formoso aparecem
serpentinitos enriquecidos com mineralizações de cromita e na parte norte-nordeste
são freqüentes talco-clorita xisto e talco-tremolita xisto.
25
Os horizontes de cromititos apresentam-se intensamente deformados por
deslocamentos condicionados por falhas de empurrão sobre o embasamento,
dificultando a reconstituição estratigráfica e suas variações laterais.
2.2.3. Greenstone Belt de Mundo Novo
Este greenstone constitui uma seqüência vulcanossedimentar composta pelas
unidades a seguir: Formação Água Branca, Grupo Jacobina Inferior, ambas
descritas por Griffon (op. cit.), parte do Complexo Itapicuru, de Couto et al. (op. cit.),
Complexo Saúde e Complexo Brejo dos Paulos, ambos de Arcanjo et al. (1978), e
seus prolongamentos para norte, constituintes do flanco oriental do sinclinório de
Curaçá (Jordan, 1971).
O greenstone Belt de Mundo Novo é constituído por litotipos bastante heterogêneos:
filitos, filonitos, formações ferríferas e manganesíferas, metagrauvacas, quartzitos,
metacherts, biotitagnaisses, biotita-muscovitagnaisses, rochas calcissilicáticas,
anfibolitos, metabasitos, serpentinitos e rochas metaultrabásicas não diferenciadas.
Existem dois grupos de rochas ultrabásicas e básicas de origem vulcânica nas
Serras de Jacobina e Saúde, constituintes do greenstone belt (Topitsch, 1993). Um
com características geoquímicas de magma parental komatiitico-peridotítico, e outro
constituído por toleiitos, toleiitos de alto magnésio ou basaltos komatiiticos,
ligeiramente diferenciados. Esses dois grupos não devem ser confundidos com o
complexo máfico-ultramáfico de Campo Formoso, pois este representa fatias
tectônicas do manto.
Segundo Peucat et al. (2002 apud LEITE, 2003) dados geocronológicos fornecidos
por zircão em rochas metavulcânicas félsicas atestam idade de 3,3 Ga (método U-
Pb SHRIMP).
Sugere-se detalhar os Complexos Saúde e Itapicuru pois são os melhores
representantes do greenstone belt de Mundo Novo em contato com o granito de
Campo Formoso.
26
• Complexo Saúde
Este complexo representa uma associação vulcano-sedimentar anteriormente
designada por Griffon (op. cit.) como Pré-Jacobina, metamorfizada na fácies
anfibolito a xisto-verde. Figueiredo (1981) utilizou para o Pré-Jacobina a
denominação de Cinturão Gnáissico de Senhor do Bonfim, admitindo que poderia
representar as partes superiores do Grupo Jacobina submetida a processos de
gnaissificação e migmatização. É encaixado entre rochas charnoenderbíticas de alto
grau do bloco Jequié (Cordani,1973) por seu lado leste e pelos TTG`s do Complexo
Mairi – Bloco Lençóis, a oeste. Nesta região as rochas do Complexo Saúde
apresentam-se na fácies granulíto, retrometamorfoseadas a fácies anfibolito alto,
com introdução de liquido leucocrático contendo granada (Soares). Para norte este
complexo encontra-se sobre o complexo Mairi e entra em contato tectônico por
transpressão sinistral com o Complexo Itapicurú a oeste e o Orógeno Curaçá-Ipirá a
leste (Melo et al., op. cit.).
Esta unidade é composta principalmente por paragnaisses aluminosos incluindo
kingizitos, com presença quase constante de formações ferríferas bandadas e
rochas calcissilicáticas associadas à metabasitos e metaultrabasitos. Os
paragnaisses apresentam normalmente mineralogia composta por cordierita, biotita,
plagioclásio e quartzo como fases principais. Estaurolita, silimanita, granada e
feldspato potássico podem ou não estar presentes. O contato com o Complexo
Itapicurú é marcado por uma região de falhas transpressivas sinistrais, com
formação de brechas (Foto 5).
Foto 5 - Brechas de contato. Foto 6 – Estratificações cruzadas
27
Seu protólito é de origem sedimentar, comprovado pela presença de clastos na
matriz da rocha (grauvaca semipelítica) e estratificações cruzadas de espessuras
variadas (Foto 6).
• Complexo Itapicuru
Este Complexo apresenta duas unidades distintas em função de suas características
genéticas ambas constituintes do greenstone belt de Mundo Novo, são elas:
Unidade Itapura e unidade Mundo Novo.
A unidade Itapura é essencialmente sedimentar, composta de quartzo micaxistos,
metaconglomerados, filitos mangnesíferos e metabasitos intrusivos (Foto 7).
Foto 7 – Seqüência sedimentar da Unidade Itapura nas proximidades da cidade de Saúde.
Sobreposta a Unidade Itapura está a Unidade Mundo Novo, uma seqüência vulcano-
sedimentar eoproterozoíca, composta predominantemente por rochas vulcânicas
intermediárias, intercaladas com sedimentos psamíticos, pelíticos e químicos
exalativos.
O Complexo Itapicurú está estratigraficamente acima do Complexo Saúde e abaixo
do Grupo Jacobina. O contato do Complexo Itapicurú com o Grupo Jacobina é
transpressional sinistral, através da falha de Pindobaçú. Esta unidade é composta
por intercalações métricas de quartzitos silicificados e Formações Ferríferas
Bandadas (FFB’s), prevalecendo os quartzitos em relação aos FFB’s.
28
2.2.4. Grupo Jacobina
Este Grupo é definido como uma bacia sedimentar, metamorfisada e deformada.
Apresenta-se alinhada num trend N-S, numa extensão de 300 Km e largura variável,
e em sua parte norte possui uma forma arqueada devido a intrusão do granito de
Campo Formoso. Suas litologias mergulham fortemente para leste e estão
separadas por falhas originadas por esforços compressivos provenientes do
sudeste, sempre acompanhadas por zonas de cisalhamento dúcteis de transpressão
e transcorrência.
Na região do granito de Campo Formoso ocorrem quartzitos verdes com fuchsita
pertencentes ao Grupo Jacobina e interpretados como “roof pendents” relacionados
à subsidência do batólito (Foto 8).
Foto 8 –Roof pendents do Grupo Jacobina.
Devido a inúmeras controvérsias oriundas da subdivisão estratigráfica deste grupo,
neste trabalho serão usados os conceitos de Mascarenhas et al. (1992) que dividiu
da base para o topo em cinco unidades litoestratigráficas:
• Formação Serra do Córrego (Leo et al., 1964).
Esta formação é representada por uma seqüência de quartzitos e conglomerados,
estes últimos portadores de mineralizações auríferas. Os conglomerados
29
apresentam grande variação quanto a seleção e arredondamento de seus seixos,
porém são oligomíticos.
Essa formação alcança espessuras da ordem de mil metros e pode ser definida em
dois ciclos de conglomerados e arenitos com estratificações cruzadas acanaladas,
indicando paleocorrentes para oeste.
Ocorrem também seixos estirados com geometrias variáveis conseqüências de
eventos deformacionais posteriores.
• Formação Rio do Ouro (Leo et al., 1964)
Esta formação é constituída por arenitos finos a médios, brancos e esverdeados,
quartzitos, e na sua parte basal por níveis conglomeráticos delgados e
descontínuos.
Apresenta estruturas sedimentares como estratificações cruzadas do tipo espinha-
de-peixe, marcas onduladas assimétricas indicadoras do sentido leste para oeste
das paleocorrentes.
• Formação Cruz das Almas (Leo et al., 1964)
É representada por uma associação de cloritaxistos, quartzo-sericitaxistos, filonitos,
filitos e metarenitos, ritmicamente interacamadados, mostrando maior
desenvolvimento na região a noroeste de Pindobaçú, onde alcança largura aflorante
de treze quilômetros.
• Formação Serra do Meio (Griffon, 1967)
Esta formação bordeja o limite oriental do Grupo Jacobina nas regiões de Jacobina,
Pindobaçú e Jaguarari. É constituída por uma seqüência de quartzitos e metarenitos
brancos e puros, com alternâncias de níveis de andaluzitaxistos (com espessura de
no maximo dezenas de metros). Os quartzitos exibem normalmente estratificações
plano-paralela, cruzadas de pequeno e médio porte do tipo espinha-de-peixe e no
seu topo estratificações cruzadas por ondas de grande porte do tipo hummocky.
30
• Formação Serra da Paciência (Mascarenhas et al., 1992)
Esta formação marca o topo do Grupo Jacobina e está restrita a região de
Pindobaçú e a parte centro-norte da Serra de Jacobina, constituindo um grande
corpo de metarenitos e quartzitos que apresentam mergulhos fracos, que refletem
sua estruturação em dobra normal aberta.
2.2.5. Granitos Intrusivos
Esses granitos são de uma forma geral leucocráticos e podem ser homogêneos ou
porfiríticos, apresentando textura de fluxo magmático e/ou milonítica. Como
mineralogia principal tem-se quartzo, feldspato, biotita e granada.
Entre estes granitos os mais representativos são o de Campo Formoso e Carnaíba,
gerados no ciclo Transamazônico (RUDOWSKY, op. cit.). Os outros são
leucogranitos peraluminosos conhecidos como: Flamengo, Jaguarari, Brejão das
Grotas e Mirangaba.
2.2.6. Diques Ultramáficos associados a Serra de Jacobina
Esta unidade trunca toda a seqüência metassedimentar anteriormente citada.
Apresenta-se como uma rocha de coloração escura e dura quando sã, alterando
para uma cor esverdeada e de dureza baixa. Quanto a composição mineralógica é
constituída de microcristais de piroxênios e anfibólios ricos em ferro e magnésio,
muitas vezes oxidados, caracterizando peridotitos e piroxenitos de protólito ígneo.
Suas exposições estão em relevos negativos, instaladas em vales meridianos, com
presença de vegetação densa. Possui espessuras da ordem de dezenas de metros
e mergulho subvertical.
Estas rochas podem possuir mineralizações auríferas erráticas, quando cortam os
sedimentos da Formação Serra do Córrego.
31
2.2.7. Coberturas Neoproterozóicas
• Grupo Una
Este grupo é dividido nas Formações Bebedouro e Salitre. A Formação Bebedouro
encontra-se na base do Grupo Una e é interpretada como de origem glacial, sendo
constituída por diamictitos com seixos de gnaisses, granitos, quartzitos, siltitos e
calcários em matriz fina gradando para arenitos no topo. Essa Formação também é
constituída por ardósias contendo seixo pingado.
A Formação Salitre consiste em rochas carbonáticas e pelíticas, classificadas como:
calcilutito, calcissiltito e calcarenitos finos com intercalações dolomíticas e finas
lâminas pelítico-carbonática (Foto 9). Em menor quantidade ocorrem metadolomitos,
metargilitos calcíferos, margas e metarenitos.
Foto 9 – Calcarenitos intercalados com lentes pelítico-carbonáticas finas da Fm. Salitre
2.2.8. Coberturas Cenozóicas
• Formação Caatinga
Esta formação constitui coberturas horizontais a subhorizontais constituídas por
brechas calcíferas, com seixos de clacário cinza-escuro e calcrete/travertinocalcários
depositados em depressões topográficas, conseqüentes dos processos da dinâmica
32
superficial que afetaram as rochas da Formação Salitre durante o Tércio-
Quaternário.
• Formação Capim Grosso
Esta formação constitui coberturas tércio-quaternárias areno-argilosas, de cor
creme, incosolidados formada por grãos mal selecionados, variando desde seixos
dominantemente centimétricos a argila, apresentando em sua base, níveis
conglomeráticos com granulometria decrescente da base para o topo.
A Formação Capim Grosso está topograficamente localizada em terrenos, planos,
baixos, com desenvolvimento de morrotes de topo aplainado. Sua formação deve-se
a fluxo fluvial de material sob clima árido.
2.2.9. Características Geotectônicas
Toda geologia da região da Serra de Jacobina está situada no Cráton do São
Francisco (ALMEIDA et al., 1984), sendo este formado a partir da amalgamação dos
blocos Gavião, Serrinha, Jequié e do cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá (SABATÉ et
al., 1990,1991; BARBOSA; SABATÉ, 2003), com idades arqueana distintas (figura
9).
Esses blocos possuem evidências geológicas, principalmente estruturais,
metamórficas e cronológicas que sugerem a colisão destes durante o
paleoproterozóico, resultando na formação do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá.
O colagem dos blocos ocorreu devido a uma compressão NW-SE, demonstrada por
falhas de empurrão e zonas transcorrentes com cinemática em geral sinistral.
Durante as fases iniciais da colisão foram geradas rampas frontais com tectônica
tangencial devido a sobreposição do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá no Bloco
Jequié e ambos no Bloco Gavião. O metamorfismo de alto grau Paleoproterozóico
possui pressões médias de 7 Kbar e temperaturas na faixa de 8500 C, e idade de
pico em aproximadamente 2,0 Ga (BARBOSA; SABATÉ, 2003).
33
No Bloco Gavião podem ser observadas evidências dessa colisão como o Grupo
Jacobina gerado em uma bacia tipo foreland (LEDRU et al., 1997) constituído por
xistos, formações ferríferas bandadas (BIF`s), formações manganesíferas,
quartzitos, conglomerados e intrusões máfico-ultramáficas (MASCARENHAS et al.,
1992), onde metassedimentos siliciclásticos contem zircões detríticos de idade
mínima de 2,1 Ga (Conglomerado Jacobina) e pela Formação Areião composta por
arcóseos e arenitos que também contem zircões detríticos de 2,1 Ga (sedimentos
detríticos do Complexo Contendas Mirante) pelo método U-Pb SHRIMP (NUTMAN et
al., 1994).
Todos estes eventos arqueanos e paleoproterozóicos ocorreram entre 3,4 e 1,9 Ga,
mas somente entre 2,4 e 1,9 Ga houve a formação de rochas, tectonismo,
metamorfismo, intrusão e erosão que indicam um ciclo geotectônico. Este ciclo é
denominado de Transamazônico e deformou e modificou intensamente os registros
de deformações e metamorfismos anteriores tendo seu ápice entre 2,1 e 2,0 Ga.
Figura 9 – Mapa geotectônico da colagem dos blocos do cráton do São Francisco.
CINTURÃO ITABUNA-SALVADOR-
CURAÇÁ BLOCO JEQUIÉ
BLOCO SERRINHA
Salvador
N
BLOCO GAVIÃO
Granitóides paleoproterozóicos
Supracrustais paleoproterozóicas
Greenstone belts arqueanos
0 100 km
Cinturões Brasilianos
Coberturas cratônicas
Conf. a partir de Barbosa et al. (2003)
34
2.2.10. Mineralizações Associadas
As mineralizações associadas a Serra de Jacobina estão dentre as mais antigas
conhecidas no Estado da Bahia, principalmente as representadas pelos depósitos de
ouro, cromo, manganês e barita. Outros minerais importantes são a alexandrita,
molibdenita, scheelita, calcopirita, pirrotita, pirita maciça, cristal de rocha, ametista,
apatita, amianto, turquesa e esmeralda, mas não passam de pequenas ocorrências,
sem perspectivas de aproveitamento econômico (GRIFFON et al., 1967; COUTO et
al., 1991; SANTANA et al., 1995).
A área em estudo apresenta como principais mineralizações as de esmeralda e
cromo, detentora dos principais depósitos do estado da Bahia.
O cromo encontra-se associado ao Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo
Formoso, e a esmeralda às rochas ultramáficas alteradas por atividade
metassomática, desenvolvida durante a intrusão do granito de Campo Formoso visto
nas minas de cromo da Ferbasa e no garimpo de Socotó, respectivamente.
Existem pequenas ocorrências de sulfetos de chumbo em veios de calcita nos
calcários da Formação Salitre, mas que estão fora da área estudada.
Foram observados enclaves de rochas ultramáficas do Complexo de Campo
Formoso dentro do granito homônimo com ocorrência de calcopirita (sulfeto de
cobre).
Ocorrências na forma de pintas de ouro foram verificadas neste trabalho associadas
à zonas de falhamentos dentro do granito de Campo Formoso, estando,
provavelmente relacionadas a atividades hidrotermais.
2.3. GEOLOGIA LOCAL
Nesta parte do trabalho busca-se uma descrição mais detalhada do granito de
Campo Formoso e de suas diversas litofácies.
35
2.3.1. Granito de Campo Formoso
Este granito é um batólito de forma grosseiramente elíptica com grande dimensão
chegando a 25 Km na direção N-S e 20 Km na direção E-W.
Segundo Rudowski (op. cit.), o maciço granítico é formado por intrusões polifásicas
constituídas de granitos a duas micas (biotita e muscovita), granitos a muscovita-
granada e aplopegmatitos.
Os contatos do granito com as rochas encaixantes se dão de forma intrusiva, exceto
na parte oeste que é mascarado pela cobertura neoproterozóica onde o contato é
erosivo (Foto 10). Ao sul o granito encontra-se em contato com o Complexo Máfico-
Ultramáfico de Campo Formoso, esse contato é marcado por um nível de anfibolito a
hornblenda-quartzo-plagioclásio-esfênio e epídoto sobre o qual se desenvolve uma
biotita castanha resultante de um metamorfismo potássico de contato (Rudowski, op.
cit.).
Formação SalitreGranito C. Formoso
Foto 10 – Contato erosivo entre o Granito e cobertura neoproterozóica.
2.3.2. Faciologias do Granito
Baseado nos trabalhos de Rudowski (op. cit.) pode-se dividir o maciço granítico em
duas partes principais baseado na sua estrutura concêntrica, uma unidade periférica
externa composta pelas fácies g1 e g1’’ e uma unidade interna principal composta
pela fácies g2 (Figura 4).
36
Os contatos intrusivos são muito difíceis de identificação em campo, mas a partir de
alguns afloramentos representativos, pode-se contar a historia evolutiva do granito,
evidenciada por enclaves e filões graníticos. Rudowski (op. cit.) reconstituiu a
cronologia relativa das diferentes intrusões em duas gerações:
- Uma primeira geração do granito a duas micas g1, g1’, g1’’ e uma primeira
geração de granitos a granada g1G, g1G’ e aplopegmatitos.
- Uma segunda geração de granito a duas micas g2 seguido de uma segunda
geração de granito a granada g2G e aplopegmatitos.
As fácies g1’, g1G, g1G’, g2G e os aplopegmatitos representam uma porcentagem
muito baixa do volume do maciço granítico e por isso não podem ser mapeados em
escalas inferiores a 1:50.000.
• Granito g1
A fácies g1 é caracterizada como um granito a duas micas de coloração clara
(branco a cinza), textura grosseira (tamanho dos grãos entre 0,3 - 3 cm) e se
cararacterizam (e são possivelmente distintos das outras fácies) por apresentar
grande abundância de grandes cristais de muscovita que chegam a dimensões de 4
cm (Foto 11).
Foto 11 – Fácies g1 do granito. Foto 12 – Zona de fraturamento
Esta unidade encontra-se com sinais de deformação bem desenvolvidos, devido a
sua posição no bordo do maciço, evidenciadas por zonas de intenso fraturamento
37
(Foto 12). Esta fácies aparece na parte sul-sudeste do granito e encontra-se em
contato com o Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Formoso e com o Grupo
Jacobina. O contato de g1 com g2 é intrusivo sendo observados enclaves de g1 em
g2.
• Granito g1’
A fácies g1’ é composta por um granito a duas micas, caracterizado por uma textura
isogranular fina com tamanho dos grãos entre 1-5,0 mm (Foto 13). Apresenta-se sob
a forma de filões com tamanhos inferiores a dois metros ou como enclaves mais ou
menos angulosos em g2. Não é comum sua ocorrência sob a forma de grandes
massas representativas (ocupando apenas dezenas de metros quadrados),
impossibilitando sua representação no mapa geológico deste trabalho de escala 1:
100.000. Esta fácies é normalmente truncada por diques do granito g2.
Foto 13 – Textura isogranular fina no granito g1’.
• Granito g1”
Esta fácies é representada como um granito a duas micas de coloração clara (cinza
a bege), textura isogranular e caracterizado por conter grande quantidade de cristais
de muscovita. Observa-se raramente um desenvolvimento de veios de muscovita
(Foto 14) e às vezes pequenos veios de greisen. Seus contatos com as outras fácies
não foram observados em campo mas Rudowski (op. cit.) conseguiu realizar um
trabalho cartográfico preciso delimitando os contatos com as fácies g1 e g2.
38
Foto 14 – Veios de muscovita.
• Granito g2
Esta é a fácies mais representativa do granito de Campo Formoso, constituindo
cerca de 70% deste. Composta por um granito a duas micas com muscovita mais
rara, possuindo coloração mais escura que g1. Apresenta textura porfirítica com
cristais de feldspato potássico entre 3 e 4 cm de comprimento
São observadas neste granito zonas de acumulação de fenocristais de feldspato, as
quais foram interpretadas por Rudowski (1989) como resultado do movimento de
convecção do magma gerando localmente zonas cumuláticas. Além disso o granito
g2 assume forma de filões intrusivos em g1 e g1’ (Foto 15).
Foto 15 – Filões de g2 intrusivos em g1’.
39
• Granitos com granada
Esta fácie é encontrada raramente em pequenos volumes a leste do maciço e por
isso não pôde ser mapeada na escala deste trabalho. São compostas por múltiplas
gerações, divididas por Rudowski (op. cit.) em:
- A fácie g1G, formada por um granito de duas micas e granada de coloração
escura, com biotita abundante e textura isogranular. Apresenta estruturas de
acamadamento que se alternam de modo regular desde camadas escuras
compostas por biotita-muscovita e granada com cerca de um a dois centímetros a
camadas claras constituídas por muscovita-biotita e granada mais raras que as
camadas escuras.
- A fácie g2G composta por um granito com muscovita e granada,
hololeucocrático de granulometria fina, com coloração variando de branco a rosa e
textura isogranular, se apresentando na forma de filões. O granito g1G’ possui os
mesmos aspectos petrográficos, mas está associado a enclaves em g2.
• Aplopegmatitos
São rochas de cor muito clara geralmente a muscovita e granada, podendo ser
observadas na maioria dos afloramentos na forma de filões em direções variáveis. A
largura desses filões varia de poucos centímetros a dois metros e sua espessura
pode chegar a dezenas de metros. Os aplopegmatitos foram formados a partir de
três gerações segundo Rudowski (op. cit.):
- A primeira é posterior a g1 e anterior a g2.
- A segunda posterior a g2 e anterior a g2G.
- A terceira posterior a g2G.
A primeira é facilmente identificável devido a sua coloração rosa avermelhada que a
distingue de todas as outras gerações de aplopegmatitos que possuem cor branca.
Os aplitos e os pegmatitos podem ser encontrados em um mesmo filão ou
separadamente.
40
Em certos casos, os pequenos veios de quartzo estão orientados paralelamente as
bordas do filão e separados das partes aplíticas e pegmatíticas. A individualização
dos aplitos e pegmatitos em filões indicam a separação de uma fase fluida do
magma por saturação. Podem ser observadas no meio dos aplitos algumas faixas
enriquecidas com granada interpretadas como estratificações magmáticas
(Rudowski, op. cit.).
A observação da interface aplito/pegmatito são correlacionadas a estruturas de
formação pegmatítica desenvolvidas preferencialmente na interface granítica,
geralmente no ápice das cúpulas graníticas (Charoy, 1979; Fonteilles e Pascal,
1985).
Foto 16 – Pegmatitos presentes na fácies g2.
2.3.3. Geologia Estrutural
O arcabouço estrutural da área de pesquisa é composto basicamente por estruturas
relacionadas a fase de intrusão do batólito granítico de Campo Formoso geradas por
forças de volume, associadas a diferença de densidade entre o material crustal
totalmente fundido do granito e suas encaixantes.
Análises em lâminas delgadas das estruturas associadas ao granito e suas
encaixantes sustentam a idéia de um modelo de diapirismo para intrusão do batólito
granítico de Campo Formoso (Varjão, op. cit.).
41
Sabaté et al. (1994) definiram a colocação do granito como relacionada a
transcorrência N-S sinistral, pós-transpressão do Cinturão Jacobina com pull-apart
NW-SE.
As principais estruturas relacionadas com a intrusão granítica são: foliação
magmática (fluxo magmático), foliação deformacional na borda do granito, lineação
de estiramento mineral de alto rake, falhas normais nas encaixantes. Estruturas de
natureza rúptil foram observadas truncando o granito e suas encaixantes sugerindo
uma fase de natureza distencional, evidenciada por falhas normais (Foto 17).
Essa fase distencional é evidenciada por gigantescos veios de quartzo leitoso com
direção WNW-ESSE e algumas vezes NNE-SSW, que truncam o granito de Campo
Formoso e o Complexo Mairi. Essas estruturas são anteriores a transgressão dos
calcários do Grupo Una.
Foto 17 – Falha normal truncando o granito de Campo Formoso, com atitude 130/56 SW.
A partir do mapa magnetométrico do granitóide de Campo Formoso, cedido pela
CBPM, foram interpretadas falhas não observadas em campo. Estas falhas são
caracterizadas por fortes contrastes magnéticos nitidamente alinhados e não podem
ser confundidas com diques de rochas ultramáficas associadas a Serra de Jacobina,
devido aos resultados geoquímicos de sedimentos de corrente e de concentrados de
bateia não apresentarem nenhuma correlação com este tipo litológico nestes pontos.
As falhas comprovam uma fase rúptil com direções N045 e N140 preferenciais que
42
truncam os veios de quartzo leitoso, granito de Campo Formoso, Complexo Mairi e
os carbonatos do Grupo Una.
Figura 5 – Mapa magnetométrico do granito de Campo Formoso e suas falhas (CBPM, 2004).
Para validar o modelo diapírico são necessárias duas características unívocas
associadas a esse fenômeno geológico (Choukroune, 2000):
- O planos de foliação no granito e suas encaixantes devem ser
extremamente dispersos, pois a foliação pode ter todas as direções
com um determinado mergulho e todos os mergulhos para uma
determinada direção.
43
- O pitch da direção de λ1 em relação a direção do plano de foliação
deve ser próximo a 90°.
Outros fatores adicionais referentes ao granito de Campo Formoso e suas
encaixantes concordam com o modelo diapírico adotado pelo fato do granito g1
apresentar-se deformado com forte estiramento do quartzo e cristais flexuosos que
contornam os cristais de feldspato menos deformados. Podem ser também
evidenciados o estiramento da moscovita e recristalização dos cristais de feldspato
potássico (Rudowski, 1989), sugerindo condições deformacionais em fácies
anfibolito. Mediante o fato dos Complexos Mairi e Itapicuru estarem na mesma fácies
de metamorfismo pode-se inferir que o gradiente térmico não foi elevado entre o
granito de Campo Formoso e suas encaixantes, razão pela qual o mecanismo de
movimentação vertical foi favorecido pela diferença de densidade.
2.3.4. Nível de erosão
Baseado no modelo estrutural de evolução de um diápiro infere-se, com base na
distribuição das estruturas coletadas, o estágio de evolução do diápiro (Figura 6) e o
nível de erosão ao qual foi submetido (Figura 7). O granito de Campo Formoso
provavelmente corresponde ao estágio 2 de evolução, pois as foliações encontradas
nas encaixantes não correspondem ao padrão que é observado num diápiro
maduro.
A partir do mapa geológico estrutural da área foi analisado o padrão de distribuição
das foliações e comparativamente ao modelo de Choukroune (op. cit.), infere-se que
o batólito granítico de Campo Formoso paralisou sua evolução nos primeiros
estágios de sua evolução, não chegando a ser um diápiro maduro. Em relação ao
nível de erosão comparando as estruturas presentes com a figura 8, infere-se que
este se encontra muito próximo da cúpula granítica (Varjão, op. cit.).
Figura 6 – Modelo de evolução estrututural de
um diápiro, com o padrão de distribuição das
foliações nos diversos estágios
(Choukroune,2000)
Figura 7 – Mapas de padrões de foliação (em
corte horizontal) relativos a três níveis de
observação de um domo diapírico
(Choukroune, 2000)
Figura 8 – Padrão das foliações medidas e os limites do granito de Campo Formoso.
3. MÉTODOS PROSPECTIVOS
45
O conhecimento sobre a metalogênese dos granitóides (exemplificada nos muitos
depósitos distribuídos em todos os continentes), mostra que essas rochas tem
estreita relação com mineralizações de Sn, Mo, Cu, Ta, Nb, F, Li, Be, Cs, Au além
de um grande numero de pedras preciosas e semi-preciosas. Essas mineralizações
são, via de regra, geradas nos estágios finais da evolução magmática, quando esses
elementos atingem concentrações favoráveis nos fluidos residuais, enriquecidos em
voláteis, formadores das fases pegmatítica e hidrotermal, podendo-se cristalizar
diretamente a partir desses fluidos mineralizados, ou devido as interações químicas
com as rochas que eles percolam. As mineralizações geralmente ocorrem em forma
de veios e/ou disseminações irregulares, alojadas tanto nas zonas superiores dos
granitóides, como nas suas rochas encaixantes (Sá, 2007).
Considerando as possibilidades de mineralizações associadas ao granito de Campo
Formoso, foi realizada nesse trabalho uma campanha de prospecção geoquímica
utilizando-se os métodos de sedimento de corrente e concentrado de bateia.
3.1. SEDIMENTO DE CORRENTE
O método de sedimento de corrente é um dos mais usuais para o trabalho de
geoquímica exploratória. A partir deste podem ser identificadas áreas alvos que
apresentam anomalias para os elementos pesquisados.
Neste trabalho foram escolhidos os elementos Nb, Ta, Sn, W, Mo, Li, F, Be, Ba, Zr,
de fundamental importância para estudo da área, relacionados às condicionantes
geológicas e metalogenéticas típicas de granitóides. Também foram estudadas as
concentrações e distribuições dos elementos V, Cr, Ni, Cu, Co estreitamente
associados as rochas máfico-ultramáficas que frequentemente ocorrem como
enclaves
Devido a inexpressiva quantidade de elementos que mostraram concentrações
acima do limite inferior de detecção dos métodos analíticos utilizados, relacionados
as possíveis mineralizações do granitóide, não foram usados os padrões estatísticos
mais usuais que identificam valores anômalos. Assim a divisão das classes
utilizadas neste trabalho, foi realizada com base em uma tabela de valores médios
46
dos principais elementos em rochas graníticas, folhelho (devido a fração utilizada ser
<80mesh), solo, rochas máficas e rochas ultramáficas (tabela 1), baseado em
ROSE, A. W; HAWKES, H. E. e WEBB, J. S. (1979). A partir destes padrões podem
ser realizadas comparações entre a geoquímica e os diferentes litotipos presentes
na área, identificando assim possíveis valores anômalos.
A seguir trataremos os dados obtidos para cada elemento, cujos resultados
geoquímicos encontram-se na tabela de resultados analíticos em anexo.
Rochas Graníticas
(ppm)
Rochas Máficas
(ppm)
Rochas Ultramáficas
(ppm)
Folhelho
(ppm)
Solo
(ppm)
Nb 20 20 1 20 15
Sn 3 1 <1 6 10
Mo 2 3 1 4 4
Ta 4 0,5 <1 4 4
W 3 1 <1 4 1
Cr 4 170 3000 90 43
Ni 4 130 2000 68 17
Zr 175 140 45 160 270
Cu 12 72 42 42 15
Pb 18 4 1 25 17
V 44 250 40 130 57
Zn 51 94 58 100 36
Li 40 17 <1 66 22
F 810 420 20 680 300
Ba 840 2 330 550 300
Be 3 1 <1 3 3
B 10 5 3 100 30
Co 1 48 110 19 10
Tabela 1 – Teores médios dos elementos químicos em diferentes litotipos baseado em ROSE, A. W;
HAWKES, H. E. e WEBB, J. S. (1979).
3.1.1. Resultados obtidos
47
A seguir serão apresentados individualmente os resultados das concentrações e
distribuições de cada elemento analisado. Estes resultados estão lançados sobre
base geológica que mostra as diferentes fácies do granito de Campo Formoso e
suas encaixantes possibilitando, assim, um melhor entendimento da relação entre os
diferentes litotipos e os resultados obtidos.
• Concentração e distribuição do Wolfrâmio (W)
Figura 10 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de wolfrâmio (W).
48
Este elemento foi, em grande parte, o propulsor deste trabalho devido aos registros
de ocorrências listadas pela CPRM em 1984 e pelo mapa metalogenético do estado
da Bahia (op. cit.).
Nenhuma amostra obteve resultado acima do limite inferior de detecção do método
analítico utilizado (10 ppm). Este fato indica pouca possibilidade de mineralização de
wolfrâmio no âmbito do granito de Campo Formoso.
Entretanto possíveis anomalias podem existir com valores abaixo do limite de
detecção devido ao teor médio de W em granitos ser de 3 ppm. Mas comparando
esses valores com os teores médios de 152 ppm registrados nos granitóides
mineralizados de Falls Creek descarta-se a importância dessas possíveis anomalias.
• Concentração e distribuição do Estanho (Sn)
O estanho é encontrado mais comumente na forma de cassiterita disseminado em
rochas félsicas porfiríticas intrusivas, e apresenta os elementos W, F, Pb e Zn
associados em sedimentos de corrente (Sinclair, 1995).
Na área estudada não ocorrem muitos valores de estanho acima do limite de
detecção do método analítico (10 ppm). Em apenas seis pontos amostrados foram
encontrados valores acima do limite de detecção (figura 11). Dentre esses apenas
um se diferencia acima dos valores médios para amostras de solo (10 ppm)
apresentando um teor de 23 ppm. Os valores de estanho encontrados em rochas
graníticas associadas com depósitos desse elemento variam entre 64-556 ppm
(Groves, 1972).
49
Figura 11 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Estanho (Sn)
• Concentração e distribuição do Molibdênio (Mo)
O molibdênio é um elemento muito comum em depósitos pegmatíticos e
hidrotermais. Os resultados obtidos não registraram nenhum valor acima do limite de
detecção (1 ppm), indicando haver poucas possibilidades de mineralizações deste
no granito de Campo Formoso.
50
Figura 12 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Molibdênio (Mo)
• Concentração e distribuição do Boro (B)
O Boro é um indicador para presença de turmalina, e tem sua gênese relacionada a
fase pegmatítica do granito de Campo Formoso (Rudowski, 1989).
Apenas quatro pontos estudados obtiveram valores superiores ao limite de detecção
do método analítico (10 ppm), mas estes não despertam interesse devido aos seus
teores serem muito próximos ao valor médio encontrado em rochas graníticas.
51
Figura 13 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Boro (B)
• Concentração e distribuição do Flúor (F)
Os valores encontrados para flúor variam entre 21 e 387 ppm, por isso não foi
registrado nenhum valor anômalo visto que o teor médio em granitos é de 810 ppm.
O flúor é um importante constituinte dos fluidos residuais gerados nas fases
pegmatítica e hidrotermal, a carência deste elemento indica uma grande
impossibilidade de mineralizações deste tipo.
52
Figura 14 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Flúor (F)
• Concentração e distribuição do Lítio (Li)
Todos os valores de Lítio registrados se encontram na faixa de teores médios de
rochas máfico-ultramáficas (1-18 ppm), por isso não foram listadas anomalias. O Li
esta associado a rochas graníticas, pegmatitos e depósitos hidrotermais.
53
Figura 15 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Lítio (Li)
• Concentração e distribuição do Cobalto (Co)
O cobalto é um elemento comum em rochas máfico-ultramáficas. Todos os
resultados obtidos apresentam valores entre os teores médios presentes em
granitos, folhelhos, solos e rochas M-UM (3-69 ppm). Os valores entre 3 e 10 ppm
localizados no granito de Campo Formoso (figura 16) podem ter sido gerados em
razão dos enclaves de rochas M-UM presentes neste.
54
Figura 16 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Cobalto (Co)
• Concentração e distribuição do Nióbio (Nb)
Para o Nióbio encontram-se contrastes interessantes visto que as ocorrências deste
são mais comuns em rochas graníticas. No domínio dos TTG`s do Complexo Mairi
os teores não ultrapassam 5 ppm e no granito de Campo Formoso compreendem
entre 5 a 42 ppm.
Os valores entre 5 e 25 ppm encontrados estão na faixa média das rochas
graníticas, solos e folhelhos mas ocorre em uma amostra um valor anômalo de 42
ppm visto na figura 17.
55
Figura 17 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Nióbio.
Normalmente o nióbio ocorre associado com o tântalo, mas este fato não é
observado nas amostras analisadas visto a ausência de valores acima do limite de
detecção do método analítico para tântalo (10 ppm).
• Concentração e distribuição do Cromo (Cr)
Os altos teores de cromo são correlacionados a rochas ultramáficas, como pode ser
verificado na figura 18, confirmando uma boa correlação litogeoquímica. Neste
trabalhou buscou-se uma relação desses teores como um possível subsídio ao
mapeamento dos enclaves de rochas ultramáficas presentes no granito, mas os
56
valores encontrados (entre 5 e 43 ppm) não possibilitam uma correlação direta com
esses corpos, indicando somente a presença destes com certo distanciamento da
área fonte comprovado pela diluição das concentrações de cromo.
Figura 18 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Cromo.
Os maiores valores de cromo ocorrem associados às conhecidas minas de cromo da
Ferbasa, a sudoeste da cidade de Campo Formoso e encontram-se entre os valores
médios de concentração destes em rochas máfico-ultramáficas.
57
• Concentração e distribuição do Cobre (Cu)
Figura 19 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Cobre.
O cobre esta distribuído em toda a área de maneira praticamente homogênea,
nenhum valor registrado foi considerado anômalo, pois se encontram na faixa de
teores médios encontrados em rochas graníticas e solo. O ponto com maior teor
está correlacionado as rochas ultramáficas da porção norte, porém não se aproxima
aos valores médios de cobre nessas rochas (42 ppm).
58
• Concentração e distribuição do Níquel (Ni)
Figura 20 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Níquel.
O níquel possui grande afinidade com as rochas ultramáficas que possuem teor
médio de 2000 ppm (tabela 1). Os maiores valores obtidos não podem ser
considerados anômalos, pois se encontram entre os teores médios das rochas
máfico-ultramáficas (130-2000 ppm), mas demonstram ótimas correlações entre as
litologias presentes (figura 20), visto que os valores mais baixos estão presentes no
granito de Campo Formoso e os mais elevados no domínio do Complexo máfico-
ultramáfico de Campo Formoso.
59
• Concentração e distribuição do Vanádio (V)
Figura 21 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Vanádio.
O vanádio é um elemento bastante comum nas amostras coletadas. A concentração
deste varia em sua maior parte de 3 a 40 ppm, demonstrando-se adequada as
concentrações médias em rochas graníticas.
Alguns pontos apresentam valores mais altos (58-69 ppm), mas não foram
considerados anômalos devido aos valores serem muito próximos a concentrações
médias em solo e folhelho. Estes valores são bem coerentes visto que estão
relacionados às amostras situadas sob rochas máfico-ultramáficas, detentoras de
altas concentrações de vanádio (teores médios vistos na tabela 1).
60
• Concentração e distribuição do Chumbo (Pb)
Figura 22 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Chumbo.
O chumbo é um elemento que se encontra associado às rochas graníticas (teor
médio de 18 ppm), folhelhos (25 ppm) e solos (17 ppm). Este fato está bem
comprovado na figura 22 onde as maiores concentrações localizam-se na fácie G2
do granito de Campo Formoso.
Altas concentrações de chumbo podem ser observadas em 12 amostras. Estas
concentrações foram padronizadas em duas faixas entre 26-50 ppm e 51-678 ppm.
A primeira faixa considerada anômala porem sem grande significado e a segunda
com concentrações elevadas. Os valores acima de 600 ppm merecem uma melhor
61
investigação devido ao seu trend, mas podem estar associados a falsas anomalias
geradas provavelmente pela ação antrópica, como atividades de caça.
• Concentração e distribuição do Zinco (Zn)
Figura 23 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Zinco.
As concentrações de zinco ocorrem em sua maioria, na faixa entre 1 e 36 ppm. Um
ponto encontra-se distoante e merece atenção devido a sua alta concentração com
valor de 108 ppm (figura 23). Esse valor encontra-se próximo aos teores médios
encontrados em rochas máficas e por isso não pôde ser considerado anômalo.
62
• Concentração e distribuição do Bário
Figura 24 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Bário.
O bário é um elemento bastante comum em rochas graníticas com concentração
média de 840 ppm nestas. Na figura 24 pode ser observado que os altos valores de
bário estão na fácie g2 do granito de Campo Formoso.
Os valores encontrados estão muito abaixo dos valores médios de todas as litologias
presentes, por isso não expressam interesse maior.
63
• Concentração e distribuição do Berílio (Be)
Figura 25 – Mapa de distribuição e concentração geoquímica de Berílio.
As concentrações de Berílio são muito escassas na área em estudo, onde somente
quatro amostras obtiveram valores acima do limite de detecção do método analítico
(1 ppm). Estes valores não ultrapassam 1,8 ppm, e por isso não foram considerados
como anomalias já que a concentração média deste em rochas graníticas é de 3
ppm.
64
3.2. CONCENTRADO DE BATEIA
Este método é baseado na concentração de minerais resistentes ao intemperismo
químico (pesados) com elevada densidade. Os minerais pesados possuem
densidade igual ou superior a 2,9 e os minerais leves, inferior a 2,9 sendo o quartzo
e o feldspato seus principais representantes.
O trabalho de coleta é baseado no sistema de sedimentação, onde em virtude da
perda de energia do rio são depositados os sedimentos mais densos. São
preferenciais para amostragem os pontos chamados trapas (do inglês trap =
armadilha). O equipamento de concentração dos minerais pesados utilizado foi a
bateia chinesa.
Depois de concentrado o material foi identificado utilizando-se a lupa binocular (com
aumento de até 120x), sendo observadas as principais propriedades dos minerais
tais como cor, brilho, forma cristalina, clivagem, fratura, dureza e mais o grau de
trabalhamento dos grãos (arredondamento e esfericidade) e estimar seu porcentual
na fração.
Foto 18– Concentração dos minerais pesados em bateia chinesa.
Foram selecionados os minerais de magnetita, ilmenita, turmalina, granada, cromita,
monazita, berilo, zircão e outros presentes nos concentrados de bateia para um
detalhamento maior devido a coerência entre as litologias presentes e as diversas
fácies do granito de Campo Formoso.
65
A divisão das classes utilizadas foi realizada por classificação semi-quantitativa
relativa por freqüência. As concentrações denominadas de traço foram determinadas
pela quantidade de grãos variando entre 1 e 25, as baixas de 25 a 50, as médias
entre 50 e 150 e as altas com mais de 150 grãos dentro da totalidade amostrada.
3.2.1. Resultados obtidos
Os dados de concentração e distribuição dos minerais pesados foram também
lançados na base geológica com as diferentes fácies do granito e suas encaixantes.
• Concentração e distribuição de Magnetita
Figura 26 – Mapa de distribuição e concentração da Magnetita.
66
A magnetita foi encontrada em quase todas as amostras. Como principais critérios
de identificação foram utilizados um imã de mão para separação dos outros minerais
devido a sua alta susceptibilidade magnética e a sua forma octaédrica (fotos 19 e
20).
As rochas máfico-ultramáficas possuem, em geral, maior concentração de
magnetita, mas existem partes do granito muito enriquecidas desta. Os estudos
aerogeofísicos demonstraram que o granito apresenta zonas de acumulação de
magnetita, e veios de quartzo com magnetita (associados a zona de falha) com
anomalias magnéticas que são as principais fontes de magnetita no domínio do
granito de Campo Formoso.
Na figura 26 esses padrões podem ser observados, as mudanças de concentração
também podem estar associadas a locais mais favoráveis a acumulação mediante
características geomorfológicas.
Fotos 19 e 20 – Concentrados de magnetita vistos em lupa binocular.
• Concentração e distribuição de Ilmenita
A ilmenita é um mineral característico de granitos do tipo-S (PEREIRA, 2005), e no
caso do granito de Campo Formoso ocorre como mineral acessório da fácie g2
(RUDOWSKI, 1989). Seu principal constituinte é o titânio.
A ilmenita pôde ser identificada em alguns casos por sua forma tabular, mas na
maioria das vezes se apresentou sem forma definida (foto 21).
67
As altas concentrações de ilmenita podem estar relacionadas, além da fácies g2 do
granito, com as rochas máfico-ultramáficas. A figura 27 demonstra, em geral, uma
elevada concentração em todas as litologias.
Figura 27 – Mapa de distribuição e concentração da Ilmenita.
Foto 21 – Grão de ilmenita.
68
• Concentração e distribuição de Turmalina
Figura 28 – Mapa de distribuição e concentração da Turmalina.
A turmalina é encontrada principalmente em pegmatitos, e podem conter
importantes associações com depósitos hidrotermais de Sn-W relacionados a rochas
graníticas.
Nos concentrados estudados as principais turmalinas encontradas foram a schorl,
dravita e elbaíta, todas com muita freqüência (foto 22 e 23).
No granito de Campo Formoso observa-se uma alta correlação da turmalina com as
fácies g1 e g1’’ (figura 28). Isto provavelmente se deve ao fato das zonas periféricas
69
serem as partes mais preservadas da cúpula granítica, preservando assim as
maiores zonas hidrotermalizadas.
Foto 22 e 23 – Abundância de grãos de turmalina no concentrado e detalhe da dravita.
• Concentração e distribuição de Granada
A granada presente nos concentrados de bateia é proveniente das fácies g1G, g1G’
e g2G do granito de Campo Formoso.
Foto 24 – Detalhe da granada espessartita.
As concentrações de granada encontram-se bastantes dispersas (figura 29), mas
observam-se altas concentrações situadas no contato entre o granito de Campo
Formoso e o embasamento. Isto se deve ao fato da granada ser um acessório muito
comum nas rochas do Complexo Mairi.
70
Figura 29 – Mapa de distribuição e concentração da Granada.
• Concentração e distribuição de Cromita
Por ser um mineral de alta temperatura a cromita (espinélio cromífero) encontra-se
essencialmente relacionado às rochas ultrabásicas (peridotitos e serpentinitos) e sua
ocorrência já é bem conhecida na área de trabalho.
Por possuir forma octaédrica a cromita pode ser confundida com a magnetita, porém
não é atraída pelo imã de mão (foto 25 e 26).
71
Figura 30 – Mapa de distribuição e concentração da Cromita.
Foto 25 e 26 – Grãos de Cromita.
Na figura 30 observa-se grande coerência entre altas concentrações de cromita e as
rochas M-UM. As concentrações médias de cromita que estão presentes no granito
72
podem estar relacionadas aos enclaves de rochas M-UM observados em campo,
que devido ao distanciamento da fonte podem demonstrar menores teores.
• Concentração e distribuição de Berilo
Figura 31 – Mapa de distribuição e concentração de berilo.
As ocorrências de berilo estão associadas a pegmatitos ácidos, greisens, xistos
ultramáficos, gerados principalmente da interação dos fluidos magmáticos com as
rochas encaixantes.
73
Nos concentrados de bateia o berilo se apresentou como esmeralda e em
pouquíssimos casos como água-marinha. As ocorrências de esmeralda na região
são conhecidas a muito tempo nos garimpos de Socotó e Carnaíba.
Nas amostras coletadas existem poucas ocorrências de berilo, mas elas
demonstram a influencia das rochas M-UM, também em forma de enclaves no
granito de Campo Formoso.
• Concentração e distribuição de Zircão
Figura 32 – Mapa de distribuição e concentração de zircão.
74
O zircão é um mineral acessório de todas as fácies do granito de Campo Formoso,
comprovado por estudos petrográficos realizados por Rudowski (1989). Ele esta
presente em quase todas as amostras coletadas.
Foto 27 e 28 – Diferentes formas de ocorrência dos grãos de zircão.
Os resultados obtidos demonstram a presença do zircão preferencialmente no
domínio do granito (figura 32).
• Outros Minerais
Outros minerais aparecem nos concentrados de bateia de forma muito escassa e
serão listados sucintamente a seguir.
A hornblenda foi encontrada nas zonas de contato do granito, demonstrando sua
relação direta com os anfibolitos presentes no Complexo Mairi e as rochas máfico-
ultramáficas.
A apatita é um mineral acessório de todas as fácies do granito (Rudowski, 1989),
mas possui resistência menor ao intemperismo químico. Ela só pode ser encontrada
em amostras que indicam grande proximidade da fonte.
75
Foto 29 – Grão de apatita.
A monazita e o xenotímio são fosfatos de terras raras e aparecem como minerais
acessórios da fácie g2 do granito de Campo Formoso. Em granitos alcalinos podem
indicar associação com a cassiterita e a columbita (Pereira, 2005).
Foram encontrados grãos de topázio (foto 30) em algumas amostras. O Topázio é
um mineral acessório relativamente comum em pegmatitos graníticos e, também, é
característico na paragênese de greisens mineralizados com cassiterita.
Foto 30 – Grão de topázio. Foto 31 – Grãos de ouro.
Um fato muito interessante observado nos concentrados de bateia foi a presença de
ouro (foto 31) em duas amostras. Para não haver dúvidas de possíveis confusões
com alguns sulfetos amarelos (pirita, calcopirita) foi realizado um ataque ao grão
com ácido nítrico, onde ele resistiu ao ataque comprovando a identificação visual.
As ocorrências de ouro estão associadas as principais falhas presentes no granito
de Campo Formoso, inferidas a partir do mapa magnetométrico (figura 33). O ponto
76
localizado a sudoeste do granito encontra-se relativamente distante da falha, mas a
direção da drenagem a qual se encontra favorece o transporte para este, devido ao
ouro ser muito estável em ambiente exógeno. Isto pode ser um indicativo importante
que o ouro teve sua gênese relacionada a processos hidrotermais.
Figura 33 – Mapa magnetométrico com indicação dos pontos de ocorrência de ouro em amarelo.
77
4. ANÁLISE, INTEGRAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Para uma melhor integração e correlação entre os resultados analíticos obtidos nos
sedimentos de corrente, foi utilizado o método estatístico de correlação linear de
Pearson (tabela 2), visando estabelecer as correlações entre os principais elementos
analisados.
F Ba Cr Cu La Li Ni V Y Zn
F
Ba 0,151
Cr -0,169 -0,142
Cu -0,208 -0,128 0,488
La 0,449 0,498 -0,268 -0,170
Li 0,379 0,105 0,160 0,414 0,218
Ni -0,163 -0,089 0,860 0,567 -0,184 0,205
V -0,226 -0,162 0,761 0,669 -0,255 0,298 0,607
Y 0,063 0,108 0,125 0,449 0,503 0,449 0,238 0,381
Zn -0,193 0,623 -0,058 0,264 0,002 0,117 0,023 -0,012 0,052
Tabela 2 – Tabela de correlação linear de Pearson.
Os resultados obtidos mostram correlações positivas entre os elementos
cromo/níquel, cromo/vanádio, cobre/níquel, cobre/vanádio e níquel/vanádio havendo
assim uma coerência com os valores encontrados, considerando as afinidades
geoquímicas entre esses elementos que se concentram preferencialmente em
rochas máfico-ultramáficas (ROSE, A. W.; HAWKES, H. E.; WEBB. 1979).
A alta correlação positiva entre Bário/Zinco é normalmente observada em ambientes
hidrotermais. Assim o ponto P-51 (UTM: 350567/ 8838208) que apresenta altos
valores para Ba/Zn/Pb sugere a possibilidade de atividades hidrotermais nesta área.
A correlação entre os terras raras ítrio e lantânio comprovam o que foi visto nos
concentrados de bateia, onde as presenças de monazita e xenotímio são constantes
na fácies g2 do granito de Campo Formoso.
78
Os baixos teores de boro encontrados nos resultados geoquímicos se contrapõe as
elevadas ocorrências de turmalina presentes nos concentrados de bateia, este fato
pode estar relacionado a maior concentração deste em granulometrias mais
grosseiras.
A baixa concentração encontrada para os elementos F, B nas análises de sedimento
de corrente indicam a baixa interação de fluidos, enriquecidos em voláteis,
responsáveis pelas principais mineralizações de Sn, Mo, Be, Cu, Li, Ta, Nb.
79
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Os resultados obtidos com os trabalhos de prospecção geoquímica e de
concentrados de bateia na área de exposição do granito de Campo Formoso
mostram um baixo potencial para as mineralizações, tipicamente associadas com o
magmatismo ácido plutônico, sobretudo para as concentrações de wolfrâmio que
estão registradas na literatura anterior sobre aquela área. Este baixo potencial
metalogenético é corroborado por estudos recentes baseados em critérios
petrográficos, petrológicos e geoquímicos (Campinho, 2008).
Por outro lado a grande coerência entre os resultados geoquímicos e mineralógicos
obtidos e a diversas litologias presentes na área de estudo possibilitou a utilização
destes parâmetros como subsídio ao mapeamento geológico, comprovando as
litologias e limites estabelecidos por Rudowski (op. cit.) e Varjão (op. cit.) para o
granito de Campo Formoso, Complexo Mairi e Complexo Máfico-Ultramáfico de
Campo Formoso.
Apesar dos resultados obtidos não confirmarem a existência de alvos anômalos
significativos, deve-se destacar que em alguns pontos foram encontradas
concentrações geoquímicas/mineralógicas relativamente expressivas. Estes pontos
embora localizados isoladamente merecem investigações mais detalhadas, e dentre
eles destacam-se os seguintes:
O ponto P-89 (UTM: 350434/884319) mostra uma concentração de estanho (23
ppm), relativamente muito acima da concentração média encontrada em rochas
graníticas (3 ppm).
Altas concentrações de zinco (108 ppm), bário (276 ppm) e chumbo (29 ppm) são
vistas no ponto P-51 (UTM: 350567 / 8838208), onde a que desperta maior interesse
esta relacionada ao zinco. Esta elevada concentração é muito superior a média
deste em rochas graníticas (51 ppm). Esta associação é um indicativo da ocorrência
de depósitos hidrotermais.
80
No ponto P-23 (UTM: 345110 / 8844314) encontra-se a maior concentração de
nióbio (42 ppm), caracterizando assim um ponto anômalo visto que este valor
equivale a mais do dobro do valor médio encontrado em rochas graníticas (20 ppm).
Nos pontos P-02 (UTM: 356097 / 8859880) e P-09 (UTM: 349041 / 8872094) os
valores de chumbo encontrados são extremamente altos (acima de 600 ppm),
contrastando com o valor médio de chumbo em granitos (18 ppm). Neste caso não
se pode descartar a idéia de anomalias oriundas da ação antrópica.
Os registros de ouro encontrados nos concentrados de bateia nos pontos P-62
(345581 / 8839625) e P-132 (346081 / 8848956) parecem estar relacionados a
zonas de falhamento como mostrado na figura 33, merecendo uma especial
investigação dessas zonas.
81
6. BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA.F.F.M. 1977; O Cráton do São Francisco. Revista Brasileira de
Geociências. São Paulo, v.7, n.4, p. 349-364.
BARBOSA, J. S. F.; SABATÉ, P. 2003; Colagem paleoproterozóica de placas
arqueanas do Cráton do São Francisco na Bahia. In: Revista Brasileira de
Geociências, v.33, p. 7-14.
BIONDI, J. C. 2003; Processos metalogenéticos e os depósitos minerais brasileiros.
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84
ANEXOS
85
Limites de detecção para amostras preparadas em abertura de água régia:
Elemento Limite de Detecção Limite Superior Expressão de
Resultados
Alumínio 0.01% 10% decimais
Antimônio 3ppm 5000ppm nenhum decimal
Arsênio 3ppm 5000ppm nenhum decimal
Bário 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Berilo 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Bismuto 10ppm 5000ppm nenhum decimal
Boro 10ppm 5000ppm nenhum decimal
Cádmio 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Cálcio 0.01% 10% decimais
Cromo 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Cobalto 3ppm 5000ppm nenhum decimal
Cobre 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Ferro 0.01% 10% decimais
Lantânio 10ppm 5000ppm nenhum decimal
Chumbo 3ppm 5000ppm nenhum decimal
Lítio 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Magnésio 0.01% 10% decimais
Manganês 0.01% 10% decimais
Molibdênio 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Níquel 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Fósforo 0.01% 10% decimais
Potássio 0.01% 10% decimais
Escâncio 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Prata 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Sódio 0.01% 10% decimais
Estrôncio 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Estanho 10ppm 5000ppm nenhum decimal
Titânio 0.01% 10% decimais
Tungstênio 10ppm 5000ppm nenhum decimal
Vanádio 3ppm 5000ppm nenhum decimal
Ytrio 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Zinco 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Zircônio 1ppm 5000ppm nenhum decimal
Sample ID F Ag Al B Ba Be Bi Ca Cd Co Cr Cu Fe K La Li Mg Mn Mo Na Ni P Pb Sb Sc Sn Sr Ti V W Y Zn Zr
P-01 124 1 0,94 10 30 1 10 0,01 1 7,5 183 8,5 1 0,05 16 8 0,19 0,01 1 0,01 46 0,01 56 5 3 10 1 0,01 19 10 3 13 2
P-02 97 1 0,58 10 43 1 10 0,01 1 3 1 6,4 0,51 0,04 13 3,9 0,02 0,01 1 0,01 2,9 0,01 678 5 3 10 1 0,01 17 10 2,5 13 1
P-03 114 1 0,42 10 35 1 10 0,01 1 3 32 5,3 0,28 0,06 17 2,4 0,02 0,01 1 0,01 17 0,01 54 5 3 10 1 0,01 8,7 10 2,9 14 1,5
P-05 105 1 0,58 10 21 1 10 0,01 1 3 5,9 4,5 0,53 0,07 20 3,5 0,06 0,01 1 0,01 4,5 0,01 3 5 3 10 1 0,01 14 10 5,5 12 1
P-08 117 1 0,55 10 11 1 10 0,01 1 3 1 3,2 0,59 0,07 14 2,8 0,05 0,01 1 0,01 1,4 0,01 30 5 3 10 1 0,01 15 10 2,8 8,3 1,4
P-09 135 1 1 10 37 1 10 0,01 1 14 8,4 15 1,5 0,19 26 6,8 0,21 0,05 1 0,01 17 0,01 662 5 3 10 5,1 0,02 32 10 5,9 32 1
P-10 103 1 0,67 10 30 1 10 0,01 1 5,8 7,3 6,3 0,81 0,07 20 2,9 0,04 0,04 1 0,01 6,3 0,01 4,1 5 3 10 1 0,01 19 10 4,9 12 1
P-14 263 1 0,56 10 63 1 10 0,01 1 3 1 1,5 0,45 0,09 18 4,4 0,06 0,01 1 0,03 1 0,01 3 5 3 10 1 0,01 3,5 10 1 18 3,5
P-17 264 1 1 10 46 1 10 0,01 1 3 9,3 3,3 0,17 0,05 30 7 0,01 0,01 1 0,02 1,4 0,01 9,1 5 3 10 1 0,01 3,8 10 1,9 15 4,2
P-18 157 1 0,62 10 24 1 10 0,01 1 3 1 1,4 0,16 0,03 19 5 0,01 0,01 1 0,01 1 0,01 44 5 3 10 1 0,01 3,6 10 1 13 2,7
P-19 112 1 0,61 10 13 1 10 0,01 1 3 1 2,5 0,12 0,02 10 3 0,01 0,01 1 0,01 1 0,01 5,1 5 3 10 1 0,01 3 10 1 3,5 2
P-23 108 1 1,6 10 181 1 10 0,01 1 3 1 1,5 0,17 0,06 60 8,5 0,04 0,01 1 0,09 1 0,01 18 5 3 10 1 0,01 4 10 6 3 11
P-27 153 1 1,1 10 37 1 10 0,01 1 5 15 7,3 1 0,07 14 7,8 0,11 0,02 1 0,01 10 0,01 3 5 3 10 1 0,01 24 10 3,7 9,6 1,4
P-28 285 1 0,95 13 23 1 10 0,01 1 6,3 8,8 7,3 0,9 0,09 15 7,8 0,15 0,02 1 0,01 8,8 0,01 3 5 3 10 2,6 0,01 20 10 3,4 15 1
P-31 130 1 0,81 10 9,5 1 10 0,01 1 3,2 10 6,9 0,83 0,09 14 4,2 0,11 0,01 1 0,01 4,6 0,01 3 5 3 10 1 0,01 21 10 3,7 14 1,4
P-37 177 1 0,5 10 23 1 10 0,01 1 3,4 70 4,3 0,43 0,06 20 4,8 0,08 0,01 1 0,02 19 0,01 3 5 3 12 1 0,01 9,6 10 2,4 12 1,4
P-42 128 1 0,4 10 18 1 10 0,01 1 3 35 3,3 0,26 0,04 12 3,3 0,03 0,01 1 0,01 7,9 0,01 3 5 3 10 1 0,01 5,1 10 1,4 4,7 1,4
P-43 112 1 0,29 10 20 1 10 0,01 1 3 1 3 0,01 0,04 16 2 0,01 0,01 1 0,01 1 0,01 3 5 3 10 1 0,01 3 10 1 2 1
P-48 173 1 0,69 10 110 1 10 0,01 1 3 1,2 2,3 0,32 0,05 29 5,9 0,04 0,01 1 0,05 1 0,01 5,7 5 3 10 1 0,01 6,4 10 2,3 7,7 4,5
P-51 119 1 1,1 12 276 1 10 0,01 1 4 1 7 1,3 0,07 20 4,5 0,06 0,12 1 0,16 2,5 0,03 29 5 3 10 7,5 0,01 5,5 10 1 108 2
P-57 111 1 0,3 10 55 1 10 0,01 1 3 55 3,5 0,57 0,02 10 2,5 0,01 0,02 1 0,01 5,5 0,01 3 5 3 10 1 0,01 12 10 1 9,5 1,5
P-75 234 1 2 10 69 1 10 0,01 1 15 256 12 2,6 0,08 34 11 0,42 0,02 1 0,01 66 0,02 3 5 5,2 10 1,6 0,01 57 10 8,4 22 1,9
P-83 121 1 0,82 10 1 1 10 0,01 1 3 114 3,2 0,79 0,01 10 3,2 0,01 0,01 1 0,01 6,9 0,01 3 5 3 10 1 0,01 20 10 1 3,7 1
P-84 200 1 0,46 11 25 1 10 0,01 1 3 1 2 0,07 0,05 24 3,5 0,01 0,01 1 0,02 1 0,01 11 5 3 10 1 0,01 3 10 1 12 2
P-85 177 1 0,49 10 24 1 10 0,01 1 3 1 1 0,06 0,04 17 2 0,01 0,01 1 0,02 2 0,01 3 5 3 10 1 0,01 3 10 1 7,3 2,4
P-86 167 1 0,58 12 32 1 10 0,01 1 3 48 9,7 0,25 0,05 16 3,7 0,01 0,01 1 0,02 6 0,01 7,9 5 3 10 1 0,01 5,6 10 1 16 2,3
P-87 299 1 0,56 10 14 1 10 0,01 1 3 28 9,4 0,32 0,05 10 7,9 0,05 0,01 1 0,01 6,4 0,01 3 5 3 10 1 0,01 9,4 10 1,5 5,9 1
P-88 267 1 0,26 10 24 1 10 0,01 1 3 1 1,5 0,02 0,05 17 2 0,01 0,01 1 0,03 1 0,01 3 5 3 10 1 0,01 3 10 1 6,9 2,5
P-89 155 1 0,4 10 21 1 10 0,01 1 3 1 5,5 0,01 0,03 28 1,5 0,01 0,01 1 0,04 1 0,01 3 5 3 23 1 0,01 3 10 1,5 6,4 2,5
P-90 195 1 0,91 10 76 1 10 0,01 1 3 1 6,5 0,41 0,06 33 5 0,03 0,01 1 0,03 1 0,01 3 5 3 10 1 0,01 16 10 2,5 21 5
P-91 271 1 0,8 10 29 1 10 0,01 1 3 4,5 6 0,12 0,03 17 5 0,01 0,01 1 0,01 1 0,01 3 5 3 10 1 0,01 6 10 1 3 1,5
P-92 80 1 0,68 10 1 1 10 0,01 1 3 62 8,7 1,6 0,01 10 2,4 0,01 0,01 1 0,01 8,3 0,01 3 5 3 15 1 0,01 38 10 1 7,8 1,5
P-93 70 1 0,45 10 2,8 1 10 0,01 1 3 37 2,3 0,5 0,01 10 1,4 0,01 0,01 1 0,01 6,8 0,01 3 5 3 10 1 0,01 15 10 1,8 2,3 1
P-94 128 1 1,9 10 36 1 10 0,01 1 69 1165 18 4 0,01 11 7,9 0,8 0,08 1 0,01 410 0,01 3 5 8,4 14 1 0,01 63 10 4,7 17 1
P-95 249 1 1,4 10 34 1 10 0,01 1 7 21 10 1,3 0,13 26 6,5 0,19 0,02 1 0,01 11 0,02 3 5 3,5 14 10 0,01 26 10 7 18 1
87P-96 170 1 1,9 10 32 1 10 0,01 1 11 14 14 1,9 0,26 31 9,1 0,24 0,05 1 0,01 18 0,01 3 5 4,3 11 12 0,02 34 10 7,2 26 1
P-97 111 1 1,1 10 67 1 10 0,01 1 22 133 9,1 1,8 0,06 10 4,5 0,16 0,05 1 0,01 47 0,01 3 5 4 10 1 0,01 42 10 3 10 1
P-24 313 1 1,4 10 160 1,2 10 0,09 1 3 4,2 4,2 0,61 0,06 61 5,7 0,04 0,01 1 0,01 1,7 0,02 32 5 3 10 14 0,01 15 10 4,7 7,9 3,1
P-25 336 1 0,71 10 49 1 10 0,05 1 3 4,4 5,1 0,33 0,08 43 4,4 0,05 0,01 1 0,01 3,4 0,01 15 5 3 10 8,5 0,01 3,9 10 3,8 8,8 1,5
P-33 214 1 0,58 10 31 1 10 0,15 1 4,7 73 5,2 0,55 0,07 20 4,9 0,09 0,01 1 0,01 18 0,02 10 5 3 10 13 0,01 11 10 4,1 25 1
P-35 386 1 1,2 10 39 1,3 10 0,04 1 3 3,6 1 0,14 0,05 41 5,3 0,03 0,01 1 0,07 1 0,01 21 5 3 10 7,7 0,01 3,1 10 3,9 1 4,8
P-45 339 1 1,6 10 133 1,3 10 0,07 1 3 6,1 2,4 0,35 0,07 49 6,6 0,06 0,01 1 0,04 1,9 0,02 30 5 3 10 13 0,01 5,7 10 5,1 3,1 2,1
P-46 279 1 0,93 10 79 1 10 0,06 1 3 3,2 2,2 0,25 0,06 33 4,4 0,03 0,01 1 0,01 1,1 0,01 28 5 3 10 7,9 0,01 7,1 10 5 4,1 1,4
P-47 268 1 0,9 10 117 1 10 0,15 1 5,5 4,6 3,4 0,48 0,08 45 5,2 0,08 0,02 1 0,11 2 0,02 20 5 3 10 16 0,01 6,7 10 3,2 26 1,8
P-59 312 1 1 10 47 1 10 0,31 1 5,1 24 4,7 1 0,08 14 18 0,38 0,02 1 0,33 9,2 0,01 9,3 5 3 10 28 0,02 22 10 2,9 26 1,1
P-65 250 1 0,77 10 49 1 10 0,04 1 3 14 2,8 0,18 0,05 13 2,8 0,03 0,01 1 0,03 1,9 0,01 17 5 3 10 7,3 0,01 4,4 10 1 1 1
P-66 258 1 0,6 10 47 1 10 0,05 1 3 13 2,1 0,1 0,05 17 4,2 0,05 0,01 1 0,07 4,2 0,01 14 5 3 10 8,2 0,01 < 3 10 1,3 1 1,6
P-68 140 1 0,82 10 22 1 10 0,02 1 7,7 908 7,9 1,7 0,02 10 4,3 0,14 0,01 1 0,01 87 0,02 7,8 5 5,4 10 2,5 0,02 53 10 1,8 2,6 1
P-69 387 1 1,4 10 88 1,8 10 0,12 1 3,2 16 10 0,85 0,08 33 12 0,07 0,01 1 0,05 3,9 0,03 32 5 3 10 17 0,01 6,3 10 2,7 13 2,3
P-70 268 1 0,96 10 130 1 10 0,07 1 3 8,8 4 0,5 0,05 38 5,7 0,05 0,01 1 0,05 2 0,01 23 5 3 10 13 0,01 8,8 10 2,9 2,5 2,2
P-98 344 1 1,5 10 180 1 10 0,09 1 3 5,4 1 2,1 0,06 22 2,2 0,05 0,01 1 0,13 2 0,03 32 5 3 10 18 0,01 13 10 1,6 13 3,4
P-99 248 1 1 10 30 1 10 0,06 1 3 13 4,6 0,3 0,05 15 4,5 0,05 0,01 1 0,07 2 0,01 23 5 3 10 10 0,01 6,3 10 1,3 9,2 1,2
P-100 354 1 0,86 10 28 1 10 0,02 1 3 8,1 3,4 0,3 0,08 26 7,4 0,05 0,01 1 0,01 1,3 0,01 16 5 3 10 5,4 0,01 5,6 10 1,6 4,1 1,5
P-101 161 1 0,43 10 18 1 10 0,02 1 3 65 3,8 0,65 0,02 < 10 3,9 0,02 0,01 1 0,01 7 0,01 7,5 5 3 10 2,6 0,01 14 10 1 1,6 1
P-102 215 1 0,24 10 26 1 10 < 0.01 1 3 3,5 1,1 0,05 0,02 26 1,9 0,01 0,01 1 0,01 1 0,01 11 5 3 10 4 0,01 3 10 1 1 1
P-103 331 1 1,8 10 66 1 10 0,06 1 3 5,4 3,1 1,7 0,06 22 6,1 0,03 0,01 1 0,02 1,5 0,05 33 5 3 10 12 0,01 18 10 2,1 3 3,4
P-104 252 1 0,53 10 26 1 10 0,02 1 3 32 4,1 0,27 0,03 20 4,5 0,01 0,01 1 0,01 2 0,01 12 5 3 10 4,2 0,01 7,7 10 1 1 1
P-105 198 1 0,75 10 33 1 10 0,05 1 3 27 6,3 0,69 0,04 12 7,3 0,02 0,01 1 0,01 2 0,02 17 5 3 10 5,8 0,01 12 10 1 1 1,2
P-106 189 1 1,3 10 21 1 10 0,02 1 3 447 7,7 1,7 0,01 < 10 5 0,02 0,01 1 0,01 16 0,02 9,1 5 3,6 10 4,1 0,01 69 10 1 1 1,1
P-107 214 1 0,88 10 36 1 10 0,03 1,5 17 742 7,6 4,4 0,05 10 7,8 0,15 0,05 1 0,01 112 0,02 7,9 5 5,3 10 3,4 0,02 58 10 3,9 8,4 2,3
P-108 247 1 1,3 10 201 1 10 0,15 1 10 7,5 1 2,7 0,06 33 4,4 0,08 0,11 1 0,06 2,4 0,03 19 5 3 10 29 0,01 15 10 2,8 13 3,2