Maria Isabel Barreno Maria Teresa Horta Maria Velho...

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Maria Isabel Barreno Maria Teresa Horta Maria Velho da Costa NOVAS CARTAS PORTUGUESAS Edição anotada Organização Ana Luísa Amaral Equipa de Investigação Ana Cristina Assis Cacilda Lopes Luís Filipe Costa Lurdes Gonçalves Maria de Lurdes Sampaio Marinela Freitas Marta Pessanha Mascarenhas

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Maria Isabel BarrenoMaria Teresa Horta

Maria Velho da Costa�

NOVAS CARTAS PORTUGUESASEdição anotada

OrganizaçãoAna Luísa Amaral

Equipa de InvestigaçãoAna Cristina Assis

Cacilda LopesLuís Filipe CostaLurdes Gonçalves

Maria de Lurdes SampaioMarinela Freitas

Marta Pessanha Mascarenhas

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Título: Novas Cartas Portuguesas – Edição anotada© 1998, 2010, Publicações Dom Quixote e autorasRevisão: Cristina Pereira

Este livro foi composto em Rongelfonte tipográfica desenhada por Mário FelicianoCapa: Ideias com PesoPaginação: Júlio Carvalho – Artes GráficasImpressão e acabamento: Multitipo

1.a edição: 19721.a edição anotada (9.a edição do texto): Novembro de 2010Depósito legal n.o 315 667/10ISBN: 978-972-20-4011-2Reservados todos os direitos

Publicações Dom QuixoteUma editora do Grupo LeyaRua Cidade de Córdova, n.o 22610-038 Alfragide – Portugalwww.dquixote.ptwww.leya.com

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(leitura longa e descuidada)

Agradecimentos

Desejamos, em primeiro lugar, agradecer às autoras de Novas Car-tas Portuguesas, pela generosidade com que sempre nos acolheram,por se terem prestado a entrevistas várias e pelas informações quenos foram facultando ao longo do tempo de preparação desta edi-ção. A Alexandra Moreira da Silva, um agradecimento especial portodas as traduções do francês para o português. Endereçamos aindauma nota de agradecimento a Ana Paula Coutinho Mendes, IsabelMorujão e Maria Luísa Malato Borralho por alguns esclarecimentos.Agradecemos igualmente às três consultoras do projecto que estevena base desta edição: Gabriela Moita, Maria Irene Ramalho e Mariado Céu da Cunha e Rego. Finalmente, a Paulo Eduardo Carvalho,pela presença sempre amiga: o nosso obrigada e a nossa imensa sau-dade.

Este trabalho foi elaborado no âmbito do Projecto Novas CartasPortuguesas Três Décadas Depois (PIHM/ELT/63706/2005), sediadono Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa da Faculdadede Letras da Universidade do Porto, Unidade I&D financiada pelaFundação para a Ciência e a Tecnologia, integrada no ProgramaOperacional Ciência e Inovação 2010 (POCI 2010), do Quadro Comunitário de Apoio III (POCI 2010-SFA-18-500).

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BREVE INTRODUÇÃO XV

PRÉ-PREFÁCIO(leitura breve por excesso de cuidado) XXVII

PREFÁCIO(leitura longa e descuidada) XXXI

NOVAS CARTAS PORTUGUESAS 1Primeira Carta I 3Segunda Carta I 4Terceira Carta I 6Teresa 8Isabel 9Fátima 11Isabel 15Isabel 17Senhora 18Primeira Carta II 20Segunda Carta II 23Terceira Carta II 26Eis-nos 30Primeira Carta III 32A Paz 36Segunda Carta III 38

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Mensagem de invenção de Mariana Alcoforado 40Terceira Carta III 41Proposta de mim ao trio 43Brinco de Freira 44Cantiga de Mariana Alcoforado a Sua Mãe 46Sela e Cela 48Bilhete de Mariana Alcoforado ao cavaleiro de Chamilly 50Carta de Mariana Alcoforado a sua Mãe 51Carta encontrada entre as páginas de um dos missais de

Mariana Alcoforado 54Cantiga de Mariana Alcoforado à maneira de lamento 56A freira sangrenta 58Primeira Carta IV 66Segunda Carta IV 67Lamento de Mariana Alcoforado para Dona Brites 71Primeira Carta V 75Terceira Carta IV 79Carta do cavaleiro de Chamilly a D. Mariana Alcoforado,

freira em Beja 84Alba 89ALBA 92Conversa do cavaleiro de Chamilly com Mariana Alcoforado

à maneira de saudade 94Segunda Carta V 96Primeira Carta VI 100Carta de uma mulher de nome Maria Ana, da aldeia de

Carvalhal, pertencente à freguesia de Oliveira de Fráguasdo concelho de Albergaria-a-Velha, distrito de Aveiro, a seu marido de nome António, emigrado no Canadá hádoze anos, na cidade de Kitimat, na Costa Oriental,frente às Ilhas da Rainha Carlota e perto da fronteira doAlaska 104

POEMA ESCRITO EM LÍNGUA PORTUGUESAPELO SENHOR DE CHAMILLY NO ANO DAGRAÇA DE MIL SEISCENTOS E SETENTA 107

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Intimidade 108Poema que o cavaleiro de Chamilly enviou no dia da sua

partida à freira Mariana Alcoforado 111Monólogo para mim a partir de Mariana, seguido de uma

pequena carta 112Carta de uma mulher chamada Mariana, nascida em Beja,

para uma mulher de nome Maria, ama de sua filha Ana 115

A Mãe 117Carta de Mariana, sobrinha de Mariana Alcoforado,

deixada entre as folhas do seu diário, para publicação após a sua morte, à guisa de resposta a M. Antoine deChamilly 120

(por virtude do muito imaginar) 125Carta parva VI 127O PAI 129Três meninas outras três 131Carta de D. Joana de Vasconcelos para Mariana Alcoforado

freira no Convento de Nossa Senhora da Conceição emBeja 134

GUERRA 138Extractos do diário de D. Maria Ana, descendente directa

de D. Mariana sobrinha de D. Mariana Alcoforado, e nascida por volta de 1800 139

Resposta de Mariana Alcoforado, freira em Beja, a D. Joana de Vasconcelos 144

Relatório Médico-Psiquiátrico sobre o estado mental de Mariana A. 147

Carta de D. Joana de Vasconcelos para o cavaleiro de Chamilly, na véspera da partida deste para França 150

Carta de D. Joana de Vasconcelos para Mariana Alcoforado 153

Carta de Soror Mariana Alcoforado, freira em Beja, a seu primo menor D. José Maria Pereira Alcoforado 155

Bilhete em envelope lacrado com o sinete dos Alcoforados e dirigido a sua prima Mariana por D. José Maria Pereira

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Alcoforado na madrugada em que seu corpo foi achadoenforcado na maior figueira da cerca da casa de seus pais 159

Poema de D. José Maria Pereira Alcoforado, datado da madrugada de seu suicídio 160

Carta de Maio Amor e Carta Mor 161Monólogo de uma mulher chamada Maria, com a sua

patroa 163De como pode a morte ser mais fácil do que o amor.

Ou lamento de Mónica e Maria 165O Cárcere 169Carta de Mariana Alcoforado para seu cunhado o Conde

de C. 172O Corpo 175Carta de um homem chamado José Maria para António,

seu amigo de infância 177DE PAREDES E FLORES 179Carta enviada a Mariana Alcoforado, por sua ama

Maria 180Carta encontrada num envelope lacrado entre os papéis

de D. Maria das Dores Alcoforado 183Primeira Carta VII 186Carta de uma universitária de Lisboa de nome Mariana

a seu noivo (?) António em parte incerta 188Texto sobre a solidão 191Carta escrita por Mónica M. na manhã do seu suicídio,

a D. Joana de Vasconcelos 194Terceira Carta V 197Extractos do diário de Ana Maria, descendente directa

da sobrinha de D. Maria Ana, e nascida em 1940 198Mónica 206Bilhete que Mónica M. deixou a D. José Maria Pereira

Alcoforado 209Papel encontrado entre as páginas de um livro pertencente

a D. José Maria Pereira Alcoforado. 210A Filha 212

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De manhã Mariano; de tarde, não 214Carta de um homem de nome António, emigrado no Canadá

há doze anos na cidade de Kitimat, na Costa Oriental,frente às Ilhas da Rainha Carlota e perto da fronteira do Alaska, a sua mulher de nome Maria Ana, da aldeiado Carvalhal, pertencente à freguesia de Oliveira de Fráguas, do concelho de Albergaria-a-Velha, distrito de Aveiro 216

Carta de um soldado chamado António para uma raparigachamada Maria a servir em Lisboa 218

Segunda Carta VIII 220Sonnets from the Portuguese, Elizabeth Barrett Browning,

1856 223Redacção de uma rapariga de nome Maria Adélia nascida

no Carvalhal e educada num asilo religioso em Beja 225

Redacção de uma menina de Lisboa, de nome Mariana,aluna da quarta classe de um estabelecimento de ensinodirigido por religiosas 229

A Luta 231I JOGO 236Ditos de mulher e homem 239MAGNIFICAT 241Carta de uma mulher de nome Maria para sua filha Maria

Ana a servir em Lisboa 244Texto de honra ou de interrogar, escrito por uma mulher

de nome Joana 247Adultério: infidelidade conjugal 251Dois poemas encontrados entre os papéis de Joana – escritos

com sua letra 253Poema encontrado entre os papéis de Mónica M. escrito

e emendado com sua letra 255Carta de uma mulher de nome Joana, para um homem

de nome Noel, francês de nascimento 256Carta de um escriturário, em África, para sua mulher

de nome Mariana a viver em Lisboa 258

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VI e última carta de D. Mariana Alcoforado, freira em Beja, ao cavaleiro de Chamilly, escrita no dia de Natal do anoda graça de mil seiscentos e setenta e um 260

Primeira carta última e provavelmente muito comprida e sem nexo (I) 263

Balada do mal real 265Poema encontrado entre os papéis de Mónica, assinalado por

D. José Maria Pereira Alcoforado 267Poema de uma mulher chamada Mariana, morta por

suicídio em 11 de Agosto de 1971 269Poema do amor que resolve todas as diferenças 270Primeira carta última e provavelmente muito comprida e sem

nexo (cont.) 272Carta VIII 274Passamento 277D. Tareja final 281Elizabeth Regina III 283Segunda carta última 284Meu Poema de Amor à Maneira de Dedicatória 290Primeira carta última e de certeza muito comprida e sem

nexo (te deum) 292Poema de desprezo de uma mulher de nome Ana Maria 296Poema de amor de uma mulher de nome Mariana, morta

em 11 de Agosto de 1971 297Isabel – Final – Irmã 298Final – Fátima – De Rosas 299Três fragmentos do diário de uma mulher de nome Mariana

morta em 11 de Agosto de 1971 300Poema encontrado no diário de uma mulher de nome

Mónica 303Terceira carta última 304Meu texto de amor ou proposto de uma mulher, à maneira

de monólogo 305

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BREVE INTRODUÇÃO1

Ana Luísa Amaral

Está decretada a gravidade desta empresa. O que farei convosco será grave, ainda que paratanto haja que rir-me. Ou, como hoje, nemtanto.

Novas Cartas Portuguesas

Foi em Lisboa, em Maio de 1971, que Maria Isabel Barreno, MariaTeresa Horta e Maria Velho da Costa decidiram escrever um livro aseis mãos, as mesmas mãos a que depois se refeririam como as detrês «aranhas astuciosas» (Barreno / Horta / Costa 2010: 34). Cadauma das autoras havia publicado algum tempo antes livros marca-dos por uma forte dimensão política, que tinham desafiado, de for-mas diversas, os papéis sociais e sexuais esperados das mulheres: se,em Maina Mendes (1969), de Maria Velho da Costa, a protagonista,Maina, perde a fala, reinventando uma outra, nova, em Os Outros Le-gítimos Superiores (1970), de Maria Isabel Barreno, é denunciado o si-lêncio simbólico das mulheres, até pela atribuição do nome genérico«Maria» a todas as personagens femininas, e em Minha Senhora deMim (1971), de Maria Teresa Horta, a voz poética, claramente iden-tificada como feminina, reivindica para si o direito de falar do corpo,do desejo e da sexualidade da mulher.

Nesse encontro de Maio de 1971, ficou acordado que, para a es-crita em conjunto, as autoras partiriam do romance epistolar LettresPortugaises, publicado anonimamente por Claude Barbin, em 1669,e apresentado como uma tradução, anónima também, de cinco car-tas de amor endereçadas a um oficial francês por Mariana Alcofo-rado, jovem freira enclausurada no convento de Beja. A autoria das

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1 Todas as traduções são da minha responsabilidade.

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cartas era (e é ainda) polémica – com a crítica dividindo-se entre aprópria Mariana e Gabriel-Joseph de Guilleragues –, mas o impactoque elas tiveram no século XVII continuou a fazer-se sentir ao longodos séculos que se seguiram a essa primeira publicação. Sujeitas aconstantes traduções e reedições em várias línguas, as cartas de Ma-riana seriam, trezentos anos depois, em 1969, publicadas em ediçãobilingue pela Assírio & Alvim, com o título Cartas Portuguesas, e emtradução de Eugénio de Andrade. Foi essa a edição utilizada porMaria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.

Mais relevante do que saber a verdadeira autoria de Cartas Portu-guesas, foi o facto de a figura de Mariana Alcoforado passar de «umasombra textual anónima» para «uma identidade pessoal e uma ge-nealogia, familiar e nacional, que a configurou (…) como epítome nacionalmente representativo da feminilidade e, aos olhos dos Por-tugueses, da identidade nacional em geral» (Klobucka 2006a: 19)1.Essa questão do mistério relativamente à autoria viria a ser de extremaimportância para a recepção do livro Novas Cartas Portuguesas – afinal,as autoras nunca revelaram publicamente quem assinava parcelar-mente os textos –, desestabilizando as noções fixas de autoria e de au-toridade. Não menos relevante para a concepção de Novas Cartas terásido a escolha de Cartas Portuguesas como texto matricial justamentepelo peso simbólico de que se revestia a figura de Mariana e pela ima-gem feminina que delas emergia: o estereótipo da mulher abando-nada, suplicante e submissa, alternando entre a adoração e o ódio, epraticando um discurso de paixão avassaladora por aquele (o cava-leiro) que se apaixonara também, mas partira depois, para não mais regressar. É esta relação de amor e devoção, de subserviência e auto-vitimização que as três autoras, três séculos depois, aproveitando-lheos contornos mais gerais, vão desmontar e re-montar, estilhaçandofronteiras e limites, quer das temáticas, quer da própria linguagem.

À data desse encontro entre Maria Isabel Barreno, Maria TeresaHorta e Maria Velho da Costa, em 1971, Portugal era dominado por

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1 Para um estudo excelente e inovador de Cartas Portuguesas como mito cultural, verAnna Klobucka (2006a).

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uma ditadura fascista. Afastado do governo devido a um hematomacraniano que o deixaria incapacitado, António de Oliveira Salazarfora substituído, em 1968, por Marcelo Caetano. Salazar morreriaem 1970 e o governo de Marcelo Caetano, que anunciara uma aber-tura política, continuava de facto a praticar uma idêntica governaçãoditatorial e repressiva, alheia aos processos de descolonização e daslutas pelos direitos cívicos que haviam eclodido durante toda a dé-cada de sessenta na Europa e nos Estados Unidos da América. O go-verno português mantinha teimosamente as chamadas «provínciasultramarinas». Em 1961, eclodira uma guerra que havia, na altura do25 de Abril de 1974, mobilizado quase 150 000 homens, na grandemaioria jovens. No decurso da escrita de Novas Cartas Portuguesas, du-rante esse ano de 1971, os sentimentos de injustiça e revolta quantoà causa da guerra colonial aumentavam entre os militares e as suas fa-mílias. Muitos desertavam. «Angola é nossa», o mote que dominaramanifestações montadas a favor do regime, não surtia já qualquerefeito num país que, nos últimos dez anos, havia visto quase dois mi-lhões dos seus habitantes atravessar as fronteiras, muitos deles clan-destinamente e arriscando a própria vida, e ir construir bairros delata em países mais prósperos. «Que força é essa amigo / que te põede bem com outros / e de mal contigo», cantava Sérgio Godinho, noseu primeiro álbum Sobreviventes. A linha que havia de revitalizar amúsica portuguesa, seguida por Sérgio Godinho, havia sido iniciadapor José Afonso, e a sua canção «Vampiros» era bem conhecida nesseano de 1971, o mesmo ano em que um país apático assistia ao Festi-val da Eurovisão com Tonicha a cantar «Menina do Alto da Serra».Fora de Portugal, em Janeiro desse ano, tinha lugar a terceira aluna-gem, a da nave Apolo 14, e o Vietname do Sul invadia o Laos; em Abril,meio milhão de norte-americanos manifestava-se, em Washington,contra a guerra do Vietname; em Julho, era inaugurada a torre suldo World Trade Center; em Outubro, a Assembleia Geral das Na-ções Unidas admitia a República Popular da China; e, em Dezem-bro, Pablo Neruda ganhava o Prémio Nobel da Literatura.

Nove meses após Maio de 1971, em Lisboa, já no início de 1972,Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa

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punham termo à escrita de Novas Cartas Portuguesas, escrevendo, emcarta penúltima: «Em boa verdade vos digo: que continuamos sósmas menos desamparadas» (Barreno / Horta / Costa 2010: 304). E, em Abril de 1972, o livro seria publicado, com a chancela dos Es-túdios Cor, então com direcção literária de Natália Correia, que,mesmo tendo sido instada a cortar partes da obra, insistiu em a pu-blicar na íntegra. A história que rodeou a publicação e primeira re-cepção da obra é conhecida por entrevistas dadas aos jornais,sobretudo por uma das suas autoras, Maria Teresa Horta: sabe-seque essa primeira edição foi recolhida e destruída pela censura deMarcelo Caetano, três dias após ter sido lançada no mercado; sabe--se do processo judicial que foi instaurado às três autoras, por teremescrito, em colaboração, mediante prévia combinação, um livro aoqual deram o nome de Novas Cartas Portuguesas, posteriormente con-siderado de «conteúdo insanavelmente pornográfico e atentatórioda moral pública»; sabe-se dos interrogatórios da PIDE/DGS, a queas três autoras foram sujeitas, separadamente, na tentativa de se des-cobrir qual delas havia escrito as partes consideradas de maior aten-tado à moral, e também da recusa das três (que até hoje se mantém)em o revelar; sabe-se do julgamento, que se iniciou a 25 de Outubrode 1973, e que, após sucessivos incidentes e adiamentos, só não terialugar devido à Revolução de Abril (cf. Vidal 1974).

Pensar a génese de Novas Cartas Portuguesas, integrando-as no con-texto histórico, político, social e literário do Estado Novo, ajuda acompreender o seu impacto na sociedade portuguesa pós-25 deAbril e a sua recepção internacional, despoletada pela quase ime-diata tradução da obra em vários países ocidentais e pela sua proe-minente repercussão junto de vários grupos e figuras ligadas aofeminismo internacional, ou ao mundo literário em geral. Será derecordar, depois da apreensão do livro e do processo instaurado àstrês autoras (um processo que, deve dizer-se, foi movido pelo pró-prio Estado português), a solidariedade da comunidade literária eintelectual portuguesa e estrangeira, os protestos e as manifestaçõesem prol da causa das «três Marias», como viria a ficar conhecido o processo. Essas manifestações depressa tomariam proporções

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inimagináveis: desde a cobertura do julgamento feita pelos meiosde comunicação internacionais (como os jornais Le Monde, Times,New York Times, Nouvel Observateur, L’Express, Libération, e redes de televisão como a CNN), até às manifestações feministas em váriasembaixadas de Portugal no estrangeiro, passando pela defesa pú-blica da obra e das autoras levada a cabo por nomes como Simone deBeauvoir, Marguerite Duras, Christiane Rochefort, Doris Lessing,Iris Murdoch ou Stephen Spender, foram várias as acções que fize-ram com que este caso fosse votado, em Junho de 1973, numa con-ferência da National Organization for Women (NOW), em Boston,como a primeira causa feminista internacional.1

Do ponto de vista literário, o facto de o livro consistir em 120 tex-tos que entrecruzam cartas, poemas, relatórios, textos narrativos,ensaios e citações, escritos colectivamente por três autoras que, con-tudo, não os assinam individualmente, problematizava já, esba-tendo, as noções estabelecidas de autoria e de géneros literários. Aomesmo tempo, do ponto de vista histórico-social, as críticas que olivro tecia à sociedade contemporânea portuguesa, abordandotemas censurados ou temas tabu, como a guerra colonial, o enqua-dramento institucional da família católica, ou o estatuto social elegal das mulheres, gerou, no contexto do Estado Novo, fortes reac-ções por parte daqueles ligados ao poder. Mas o escândalo que ro-deou a publicação de Novas Cartas e o julgamento das autoras, quetrouxe o livro à atenção da comunidade internacional, assim comoo forte envolvimento dos meios de comunicação internacionais,teria também um número de consequências perversas, sendo a maisproeminente a ideia – sobretudo generalizada em Portugal – de quetanto o livro como o seu significado cultural mais vasto são de umaordem datada, isto é, que «a cronologia é estática e não em devir eque a sua importância histórica é sincrónica e não diacrónica» (Klo-bucka 2006b). Por outras palavras, apesar da repercussão significa-

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1 Para um elucidativo e indispensável estudo da recepção de Novas Cartas Portugue-sas, consultar a dissertação de doutoramento de Manuela Tavares (2008), esp. pp. 189--207.

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tiva nos anos setenta de Novas Cartas, a sua devida importância estáainda por reconhecer, uma vez que o livro tem sido frequentementetreslido e tomado ora por uma visão ultrapassada ora por um mani-festo feminista hoje fora de moda. As recensões ao livro nos anos no-venta ainda o apresentavam como um mero «documento histórico»,«talvez mais valioso (…) do que uma obra literária», «reflect[indo] o entusiasmo e as limitações da sua geração» (Publisher’s Weekly1994). E, todavia, como Linda Kaufman já havia afirmado nos anosoitenta, «as três Marias não (…) celebram meramente a “mística fe-minina”»; nem subscrevem as teorias “essencialistas” de algumas dasfeministas francesas suas contemporâneas relativamente à naturezada mulher» (Kaufman 1986: 295), ou seja, o livro que escrevem abrecaminho para questões da ordem do universal, que ultrapassam umaideia cristalizada de mulher, mantendo-se extraordinárias na sua actualidade.

Desmontando, como se referiu já, as noções de autoria e autori-dade, o livro exibe, do ponto de vista literário, três característicasprincipais que viriam a ser centrais para a literatura contemporâ-nea: a intertextualidade, a hibridez e a alteridade (Seixo 1989). A dimensão intertextual, o carácter híbrido e o modo como NovasCartas Portuguesas lidam com o «corpo social do discurso» (Seixo1998) criam instâncias de disrupção e transgressão raramente vis-tas na literatura ocidental contemporânea, uma disrupção tão forteque, como refere Maria de Lourdes Pintasilgo no Prefácio ao livro,«a sua primeira abordagem só pode ser feita à luz do que elas nãosão. Novas Cartas não são uma colectânea de cartas, embora se re-conheça nelas o estilo tradicionalmente cultivado pelas mulheresem literatura. Não são um conjunto de poemas esparsos, emboraem poesia se converta toda a realidade retratada. Não são tão-poucoum romance, embora a história vivida (ou imaginada) de MarianaAlcoforado lhes seja a trama principal. São talvez um pouco de tudoisso. E ainda mais: uma forma nova de dizer a pessoa humana e o seumodo de estar no mundo (…)» (Barreno / Horta / Costa 2010: XXVII).Por isso podem Novas Cartas ser ainda analisadas à luz de novas len-tes teóricas.

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Apesar de ensinado actualmente num número considerável deuniversidades estrangeiras, e apesar de ter sido, no estrangeiro, objecto de estudo de dissertações, ensaios e artigos de imprensa, olivro carece de uma visão englobante da sua génese e da total com-preensão das suas propostas e desafios. As leituras políticas do livrosão frequentes, mas raramente têm em conta «o contexto das teo-rias linguísticas ou pós-estruturalistas» (Kaufman 1986: 307); tambémraramente foi sublinhado o potencial do livro para fazer «explodir asdicotomias em que assentam identidades e papéis sexuais, e, comelas, a própria rigidez atribuída à periodização histórica» (Amaral2001: 82); e raramente a obra foi entendida como «um novo discursocrítico sobre a re/apresentação, a subjectividade e o desejo da mu-lher, desempenhando a função de definir o feminismo, nas palavrasde Teresa de Lauretis, como um “horizonte de possíveis significa-dos” num determinado ponto da história» (Owen 2000: 26).

Reescrevendo, pois, as conhecidas cartas seiscentistas da freiraportuguesa, Novas Cartas Portuguesas afirma-se como um libelo con-tra a ideologia vigente no período pré-25 de Abril (denunciando aguerra colonial, o sistema judicial, a emigração, a violência, a situa-ção das mulheres), revestindo-se de uma invulgar originalidade e actualidade, do ponto de vista literário e social. Comprova-o o factode poder ser hoje lido à luz das mais recentes teorias feministas (ouemergentes dos Estudos Feministas, como a teoria queer), uma vezque resiste à catalogação, ao desmantelar as fronteiras entre os gé-neros narrativo, poético e epistolar, empurrando os limites até pon-tos de fusão. Comprova-o o facto de, passados mais de trinta anos,vir ao encontro de questões prementes na agenda política actual,como a feminização da pobreza, identificada como obstáculo à pro-moção da paz e ao desenvolvimento mundial. Pelo seu amplo signi-ficado em termos políticos e estéticos, o livro foi – e permanece –uma obra fundamental na nossa literatura e cultura contemporâ-neas, revelando-se um contributo inestimável para a história das mu-lheres, no sentido mais lato, e para as questões relativas à igualdadee à justiça. Esse significado teve um reconhecimento além-frontei-ras que nunca foi devidamente assinalado, nem estudado em Por-

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tugal, reconhecimento evidente no número espantoso de traduçõespara outras línguas, que o coloca entre os livros portugueses maistraduzidos no estrangeiro. Tendo estado esgotado durante mais dedez anos, o livro veria uma reedição, pela Dom Quixote, em 1998, e depois em 2001, também hoje completamente esgotada.

* * *

A ideia para esta edição anotada de Novas Cartas Portuguesas nas-ceu no decurso de um seminário do curso de mestrado em Literaturae Cultura Comparadas, dinamizado pelo Instituto de LiteraturaComparada Margarida Losa, da Faculdade de Letras da Universi-dade do Porto. O seminário (que continua a fazer parte dos cursosde pós-graduação oferecidos pela FLUP) intitulava-se «Dos EstudosFeministas à Teoria Queer», e nele Novas Cartas Portuguesas era o livroutilizado como texto aglutinador da matéria discutida, já que o seuestudo intensivo revelava um documento múltiplo, complexo e pro-dutivo que se abre a diversas camadas de leitura e interpretação (in-formado que é pelo diálogo estabelecido com Cartas Portuguesas),passível de gerar novos entendimentos entre a literatura e o mundo.Nesse sentido, o livro provou ser uma ferramenta valiosa para exemplificar e praticar várias teorias relacionadas com áreas de co-nhecimento desenvolvidas sobretudo em França e no universoanglo-americano nos últimos quarenta anos, e ainda emergentes naacademia portuguesa – os Estudos Feministas, os Estudos de Gé-nero e a Teoria Queer.

A edição disponível aos estudantes do seminário (a de 2001, da Dom Quixote), apresentava, contudo, vários problemas. Não sóomitia um texto fundamental incluído na edição anterior do livro(Moraes, 1980), o Pré-prefácio e Prefácio de Maria de Lourdes Pin-tasilgo, mas exibia ainda erros factuais e imprecisões. Porém, maisimportante do que isso, os textos apresentavam algumas dificulda-des de leitura que, à medida que o curso progredia, mostravam que,para uma geração mais nova, a escassez de conhecimentos relativosao período de escrita do livro prejudicava a sua fruição. Ficou, pois,

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claro que, passados que são mais de trinta anos sobre o 25 de Abril,é compreensível que muitas das referências sócio-culturais oumesmo literárias presentes nesta obra não sejam acessíveis a um pú-blico mais jovem.

Foi assim que tomou corpo aquilo que se tornaria depois um pro-jecto, com o título Novas Cartas Portuguesas Três Décadas Depois, aco-lhido pelo Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, daFaculdade de Letras do Porto, e financiado pela Fundação para aCiência e a Tecnologia, cujo objectivo fundamental era o de contri-buir para a divulgação de Novas Cartas Portuguesas em Portugal, nospaíses lusófonos e naqueles onde a língua portuguesa é ensinada.Para isso afigurou-se necessária a elaboração de uma edição da obraque, para além de resgatar o Pré-Prefácio e o Prefácio, escritos porMaria de Lourdes Pintasilgo e publicados originalmente em 1980,contemplasse um aparato crítico constituído por notas de fim detexto, nas quais se esclarecessem alusões, citações e diálogos inter-textuais com a literatura e cultura portuguesas e as de outros países.Seguiu-se para a edição agora apresentada o texto original da pri-meira edição, a de 1972, dos Estúdios Cor, tendo-se procedido auma cuidadosa revisão (que contemplou correcções de gralhas e deerros pontuais), ausente nas edições até agora dadas à estampa. In-cluiu-se ainda um índice e referências bibliográficas.

Não posso deixar de recordar o entusiasmo com que a ideia deelaborar uma edição anotada de Novas Cartas Portuguesas foi recebida,nem a imensa disponibilidade que todos os intervenientes no pro-jecto sempre demonstraram ao longo do trabalho. E é de referir queesse projecto deu frutos colaterais: no seu decurso, uma das investi-gadoras, Marta Mascarenhas, escreveu a sua tese de mestrado sobreCartas Portuguesas e Novas Cartas Portuguesas, a partir do pensamentode Judith Butler, uma outra, Ana Cristina Assis, escreveu a sua dis-sertação sobre o pensamento da autora do Prefácio de Novas CartasPortuguesas, Maria de Lourdes Pintasilgo, lendo-o a partir do ecofe-minismo, e um terceiro membro da equipa de investigação, Luís Fi-lipe Costa, encontra-se, à data de escrita desta Breve Introdução, atrabalhar também em Novas Cartas Portuguesas. Igualmente à data da

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elaboração desta introdução, está constituída uma equipa interna-cional para estudar o impacto de Novas Cartas Portuguesas em paísestão diversos como os Estados Unidos da América, o Reino Unido, aFrança, a Alemanha, a Espanha, a Suécia, a Itália, a Holanda, a Ir-landa, o Brasil, os países da América Latina de língua espanhola e osPaíses Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

Organizar esta edição anotada, e fazê-lo em equipa, provou quese Novas Cartas Portuguesas era já um documento extraordinário comofoco de análise à luz das teorias existentes, permitia ainda o desen-volvimento de novas inflexões teóricas, que enriquecem as suas pos-sibilidades interpretativas nas áreas quer da literatura quer dodesenvolvimento social. Provou-se ainda que se tornava urgente o reconhecimento devido a esta obra que desestabilizou o tecidopolítico e social português e, ao chamar a atenção de outros países,ajudou a denunciar o regime fascista ao mundo. Daí a importânciadesta edição, que oferece informação na forma de notas (separadasdo texto, que é mantido intacto, para quem o quiser fruir sem a in-tromissão de referências numéricas), mapeando diálogos e alusõesculturais, sociais e literários, intimamente ligados aos processos deescrita revelados pela estética da obra.

Espera-se, assim, que, ao nível académico e para o leitor em geral,esta nova edição de Novas Cartas Portuguesas se possa revelar útil paramotivar e promover a pesquisa em áreas e matérias ainda novas nopanorama crítico-literário português e para manter viva a consciên-cia social sobre a violência, a injustiça e as várias desigualdades. Es-pera-se ainda que esta edição possa ajudar a valorizar a herançadeixada por um livro que marcou a literatura portuguesa do séculoXX e a consciência política da segunda metade desse século. E quecontinua a marcá-las, numa dimensão estética que vai muito alémdo documental, no seu legado de aprendizagem de uma nova geografia social e humana, da promoção da solidariedade e na cons-trução de novos mapas de entendimento e de uma humanidadecomum.

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