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Lat. Am. J. Sci. Educ. 1, 13015 (2014)
13015-1
Latin American Journal of Science Education
www.lajse.org
A vivência reflexiva no processo de construção cognitiva sobre
Matemática na formação inicial de professores
Cardoso, Evanil de Almeida,a Darsie, Marta Maria Pontin,b Araujo-Gonçalves, Guacirac
A R T I C L E I N F O
A B S T R A C T
Received: 25 Sept. 2013
Accepted: 10 Oct. 2013
Palavras chave: Formação de professores.
Reflexão Matemática.
E-mail:
ISSN 2007-9842
© 2014 Institute of Science Education.
All rights reserved
Building of this article was motivated in a qualitative research about initial formation of
teachers of a pedagogy course, offered by the Federal University of Mato Grosso, in a
country town, located in the border with the neighboring country, Bolivia. Study this
representative of the course of continuous formation, as it took effect during the
professional qualification at master. It is intended so the socialization of a rewarding
experience with teaching and learning mathematics. Effected by an analysis of the course
of cognitive construction, and overcoming negative beliefs expressed by the subjects of
research on their conceptions of teaching and learning arithmetic in the early grades. The
methodology used was reflexive the experience, guided by the teachings of Perez Gomez
(1985) about the reflexive teacher, and applied to the initial teacher education, with
emphasis on the mathematics. Unknown to, for the Education History, plenty of
opportunities publicized in enabling to the teachers to express their emotions, positive or
negative, about what ails them and that keeps them from establishing a relationship
pleasurable and motivating with the teaching and learning mathematics. Thus, as from the
beginning of the XX century is going be configured, and expressed the concern about
teacher education, beneath the assumption that demand understanding as a process
consisting of previous experiences, momentary and subsequent formal procedure
configured into spaces of reflection on their own work. So the reflective teacher not
confined to that which you learned in initial training period, nor that unearthed in their
early years of practice, the reflection allows teachers to reexamine constantly not just their
goals, but widely, procedures, evidence, and their knowledge. It should be noted the
formation of mathematics teachers who come by configuring, steadily, as one of the more
active research areas, assuming dominant characteristic either in educational events as for
publications of articles and books. It is conceived that formation of teachers demand
relevancy in developing and improvement of skills, not just in the cultural and pedagogical
but of a personal nature and social believes this is incisively for any propositions in order
to transformation educational
A construção deste artigo motivou-se numa pesquisa qualitativa a respeito da formação
inicial de Professores de um Curso de Pedagogia, da Universidade Federal de Mato
Grosso, numa cidade do interior, na fronteira a Bolívia. Estudo no percurso da formação
continuada, vez que se efetivou durante o período de qualificação profissional em nível de
mestrado. Pretende-se então, a socialização de uma experiência gratificante com ensino e
aprendizagem da matemática. Efetivou-se uma análise do percurso da construção
cognitiva, e da superação das crenças negativas expressas pelos sujeitos da investigação,
sobre suas concepções de ensino e de aprendizagem aritmética nas séries iniciais. A
metodologia eleita foi vivência reflexiva, norteada pelos ensinamentos de Perez Gomez
(1985) sobre o professor reflexivo, e, aplicada à formação inicial de professores, com
ênfase na matemática. Desconhecemos, pela História da Educação, abundancia de
oportunidades divulgadas no sentido de possibilitar aos professores a expressão de suas
emoções, positivas ou negativas, a respeito daquilo que os aflige e que os impede de
estabelecer uma relação prazerosa, e, motivadora com o ensino e a aprendizagem da
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matemática. Neste sentido, a partir do inicio do século XX é que vai sendo configurada, e
expressa, a preocupação com a formação de professores, sob a concepção de que demanda
entendimento como um processo constituído de vivências anteriores, momentâneas e,
posteriores ao processo formal, configurado em espaços de reflexão sobre o próprio
trabalho. Desse modo, o professor reflexivo não se limita ao que aprendeu no período de
formação inicial, nem àquilo descoberto em seus primeiros anos de prática; a reflexão
permite ao professor reexaminar, constantemente, não apenas seus objetivos, mas
sobejamente, procedimentos, evidencias e, respectivos saberes. Ressalte-se a formação de
professores de matemática que se vem configurando, paulatinamente, como uma das mais
ativas áreas de pesquisa, assumindo caráter dominante tanto em eventos educacionais,
quanto em publicações de artigos e livros. Concebe-se que a formação de professores
demanda relevância no desenvolvimento e aperfeiçoamento de competências, não apenas
de ordem cultural e pedagógica, mas de ordem pessoal e social, considerando tratar-se
incisiva para quaisquer proposições no sentido de transformação educacional.
I. INTRODUÇÃO
A construção deste artigo motivou-se numa pesquisa qualitativa a respeito da formação inicial de Professores de um
Curso de Pedagogia, da Universidade Federal de Mato Grosso, possibilitado numa cidade do interior, localizada na
fronteira com o país vizinho, Bolívia. Pesquisa esta representativa do percurso de formação continuada, vez que se
efetivou durante o período de qualificação profissional em nível de mestrado. A pretensão deste é socializar uma
experiência gratificante com o ensino e a aprendizagem da matemática. A proposição configurou-se na análise do
percurso de construção cognitiva, assim como da superação das crenças negativas expressas pelos sujeitos da
investigação, sobre suas concepções acerca do ensino e da aprendizagem aritmética nas séries inicias.
A situação de rejeição pela matemática, apresentada pelos acadêmicos de pedagogia, nos conduz a encontrar não
respostas, mas alguns caminhos que possam amenizar nossas indagações, então buscamos, por meio da formação de
professores e formação de professores de matemática, elementos que nos possibilitassem discussões que contribuíssem
no entendimento do processo de aprendizagem do aluno e reflexões sobre os possíveis problemas existentes no ensino
de matemática.
Desconhecemos, pela História da Educação, abundancia de oportunidades divulgadas no sentido de possibilitar
aos professores a expressão de suas emoções, positivas ou negativas, a respeito daquilo que os aflige e, por vezes, os
impede de estabelecer uma relação prazerosa, e, motivadora com o ensino e a aprendizagem da matemática. Neste
sentido, percebemos que a partir do inicio do século XX é que vai sendo configurada, e expressa a preocupação com a
formação de professores, sob a concepção de que a formação demanda entendimento como um processo constituído de
vivências anteriores, momentâneas e, posteriores ao processo formal, configurados em espaços de reflexão sobre o
próprio trabalho.
Desse modo, a formação inicial e a continuada vivenciam o desafio de professores que sejam capazes de
identificar e valorizar os saberes que seus alunos possuem, quando introduzidos no universo escolar. Os cursos têm
como desafio formar pessoas que realmente apresentam o desejo de penetrar no mundo da educação, e ainda, estejam
dispostas a se identificarem com seus pares ou se solidarizarem com pessoas que sejam capazes de compreender a
necessidade de seu grupo, para a busca de solução de problemas que deverão enfrentar ao longo de sua carreira,
implicando assim, mudança profunda na sua prática educativa.
Relevante o pensar do sociólogo francês Philippe Perrenoud, quando nos indica que o professor do futuro é
alguém que deve transmitir a cultura e executá-la diferente da que existe hoje na escola, de uma forma interessante,
para que os alunos aprendam. Para isso, é necessário um compromisso conjugado a um saber-fazer especializado. Os
professores precisam acompanhar os percursos individuais de cada aluno, afim de que aconteça efetivamente um
ensino interessante.
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Para Mauri e Gómez (1997) a formação do professorado propõe a modificação da prática, a mudança no sentido
da inovação e sua melhora. Outro autor nos apresenta que os profissionais da educação não podem ser considerados
uma massa sem forma, objeto de ação e formação alheios a eles próprios.
A formação não pode mais se reduzir aos espaços formais escolarizados com esse fim; precisa ser concebida
como algo que pode se dar antes, durante e depois do processo formal, como espaços de reflexão sobre o próprio
trabalho. Ela precisa ainda ser concebida como processo de desenvolvimento que se inicia no momento da escolha da
profissão, percorre os cursos de formação inicial e se prolongam por todos os momentos do exercício profissional,
incluindo as oportunidades de novos conhecimentos.
II. A REFLEXÃO E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Em um curso de formação, o professor conquista metodologias e adquire ferramentas conceituais, respaldados por
diversos saberes mediante a sua interação com outros profissionais que só tem a contribuir para sua formação. O
professor, também constrói novos conhecimentos, que são revestidos na ação, constituídas por uma postura reflexiva.
Postura esta entendida como processo que insere experiências prática e interesses políticos e sociais e que não se limita
ao que aprendeu em seus primeiros anos de prática, o professor constantemente reexamina seus objetivos, seus
procedimentos, suas evidências e seus saberes, ele busca, a partir de seu próprio conhecimento o que é preciso
acrescentar em sua vida profissional e o que é necessário ser descartado, na tentativa de contribuir sempre com a
valorização profissional.
Entendemos que a reflexão implica na imersão consciente do homem no universo da sua existência; um mundo
carregado de conotações, valores, intercâmbios simbólicos, correspondências afetivas e é partir da reflexão de
acadêmicos/professores sobre a prática e suas novas aprendizagens, em um curso de formação inicial, é que se originou
nossa pesquisa. Esta pesquisa foi desenvolvida no Município de Vila Bela da Santíssima Trindade–MT, a 540 km da
capital do Estado de Mato Grosso–Cuiabá.
Os sujeitos pesquisados foram os acadêmicos do VI semestre do curso de Pedagogia que já exercem a função
docente. A coleta de dados ocorreu durante as disciplinas “Conteúdo e Metodologia para o Ensino de Matemática nas
Séries Inicias I e II”, disciplina esta integrante dos conhecimentos teóricos e metodológicos sobre o processo de ensino
e de aprendizagem da matemática do curso de Pedagogia, modalidade parcelada, oferecido pelo Instituto de Educação
da Universidade Federal de Mato Grosso.
Para fundamentar nosso trabalho destacamos como base teórica a Formação de Professores por entendermos que
a formação deve levar em conta a reflexão, de modo que, aprender a ensinar seja realizado através de um processo em
que o conhecimento prático e o teórico possam integrar-se num currículo orientado para a ação. Como enfatiza
Perrenoud (1993), para ensinar bem, não basta ter uma boa formação, sendo ainda necessário que:
1. A formação prepara as pessoas não só a seguirem ideais, mas para conservá-los, face às imposições concretas
da prática;
2. A formação, enquanto mensagem prescrita, não seja constantemente desmentida pelas outras mensagens que os
professores recebem.
3. O funcionamento do sistema escolar seja tal que os professores tenham interesse pessoal de pôr em prática a
formação recebida. (1993)
O autor comenta que a formação não pode substituir as experiências contra a vontade do sistema escolar, pois
conservaria o seu poder sobre a concretização da formação do professorado que pretende a modificação da prática, a
mudança no sentido da inovação e sua melhora.
A preparação de professores é, provavelmente, a área mais sensível às transformações. Para Nóvoa: “... aqui não
se formam apenas profissionais: aqui se produz uma profissão” (1992 p.26).
Ao longo de sua história, o mecanismo mental dos professores tem oscilado entre moldes acadêmicos, centrados
nas instituições e em conhecimentos fundamentais, e modelos práticos, centrados nas escolas e em métodos aplicados.
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É preciso ultrapassar esta dicotomia, que não tem hoje qualquer pertinência, adaptando modelos profissionais,
baseados em soluções de acordo entre as instituições de ensino superior e as escolas, com um reforço dos espaços de
tutoria e de alternância. Esta opção segundo Nóvoa (1992):
Obriga a instauração de novos mecanismos de regulação e de tutela da formação de professores, o que passa pela
autonomia da universidade e das escolas e pela celebração de acordos que traduzam a diversidade de interesses e
de realidades institucionais.
É preciso trabalhar no sentido da diversificação dos modelos e das práticas de formação, instituindo novas
relações dos professores com o saber pedagógico e cientifico. A formação passa pela experimentação, pela inovação,
pelo ensaio de novos modos de trabalho pedagógico e por uma reflexão crítica sobre a sua utilização. A formação passa
por processos de investigação, diretamente articulados com a prática educativa.
Para Hameline (1991), apud Nóvoa: “o esforço de formação passa sempre pela mobilização de vários tipos de
saber: saberes de uma prática reflexiva; saberes de uma teoria especializada; saberes de uma militância pedagógica”
(1992, p.28). Logo, a análise de evolução do saber escolar possibilita uma fundamentação para uma prática pedagógica
reflexiva e uma melhor compreensão do saber científico e de seus valores educativos.
Perrenoud (1993) afirma que não basta que uma peça de vestuário esteja bem cortada, que tenha cores bonitas e
um tecido agradável. É necessário que resista à lavagem. Assim, a formação de professores deverá possibilitar ao
futuro professor debater, argumentar, posicionar-se politicamente, trocar os saberes, experiências, e também perseguir
outros novos conhecimentos. Neste sentido, argumenta Freire que:
Nada disso é fácil de ser feito e não gostaria de dar a impressão de que basta querer para mudar o mundo. Querer é
fundamental, mas não é suficiente. É preciso também saber querer [...] implica aprender, a lutar politicamente com
táticas adequadas e coerentes com os nossos sonhos (Freire, 1994, p.70).
Em matéria de contribuir para fazer o nosso mundo melhor, concordamos que não temos porque distinguir entre
ações modestas ou mirabolantes. Tudo o que se puder fazer com competência, clareza, e persistência são importantes.
Assim, mais uma vez, nos pautamos em Perrenoud (1993) ao afirmar que a formação de professores não é, e nem
deveria ser um evangelho; é certo, contudo, que são sugeridos, aos professores, modelos de ensino que supostamente
possam garantir a aprendizagem, o desenvolvimento e a alegria dos alunos. A formação de professores é algo que
devemos tomar como parâmetro, para que possamos melhorar gradativamente tanto nosso conhecimento como nossa
prática pedagógica.
Vemos que a profissão docente vem exigindo do professor o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de uma
variada gama de competência, não só de ordem cultural e pedagógica, mas também de ordem pessoal e social.
Há uma forte predominância em defesa da prática docente reflexiva, sugerindo a ação direta do aluno, futuro
professor, na realidade escolar.
Acerca da natureza do processo de reflexão Gómez fala que:
1. A reflexão não é determinada biológica ou psicologicamente, nem é pensamento puro, antes expressa uma
orientação para a ação e refere-se às relações entre o pensamento e ações nas situações históricas em que nos
encontramos.
2. A reflexão não é uma forma individualista de trabalho mental, que seja mecânica ou especulativa, antes
pressupõe e prefigura relações sociais.
3. A reflexão não é nem independente dos valores, nem neutral, antes expressa s servem interesses humanos,
políticos, culturais e sociais particulares.
4. A reflexão não é indiferente nem passiva perante a ordem social, nem propaga meramente valores sociais
consensuais, antes reproduz ou transforma ativamente as práticas ideológicas que estão na base da social. (1985).
5. A reflexão não é um processo mecânico é uma prática que exprime o nosso poder para reconstruir a vida social,
ao particular na comunicação, na tomada de decisões e na ação social. (Gómez, 1985, p.148-149).
Entendemos que a reflexão não é um conhecimento puro, mas sim um conhecimento contaminado pelas
contingências que rodeiam e impregnam a própria experiência. Um professor reflexivo não para de refletir a partir da
ocasião em que consegue e sobrevive na sala de aula, no momento em que se obtém compreensão melhor da sua tarefa
ou ao sentir diminuído sua angústia. Um profissional reflexivo não se limita ao que aprendeu no período de formação
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inicial, nem ao que descobriu em seus primeiros anos de prática. A reflexão permite ao professor reexaminar,
constantemente, seus objetivos, seus procedimentos, suas evidências e seus saberes. Ele ingressa em um ciclo
permanente de aperfeiçoamento, já que teoriza sua própria prática, seja consigo mesmo, seja com uma equipe
pedagógica.
Um professor reflexivo faz perguntas, tenta compreender seus fracassos, projeta-se no futuro; decide proceder de
forma diferente, estabelece objetivos mais claros, explicitando suas expectativas e seus procedimentos. A reflexão é
atribuída ao autoconhecimento. Refletir significa voltar-se para si mesmo.
Realçamos também, neste artigo, a formação de professores de matemática que se vem configurando,
paulatinamente, como uma das mais ativas áreas de pesquisa, assumindo caráter dominante tanto em eventos
educacionais, quanto em publicações de artigos e livros. Concebemos que a formação de professores demanda
relevância no desenvolvimento e aperfeiçoamento de competências, não apenas de ordem cultural e pedagógica, mas
de ordem pessoal e social, considerando tratar-se incisiva para quaisquer proposições no sentido de transformação
educacional.
Tratamos de compreender a matemática, apoiando-nos em D’Ambrósio (2003), que a vê como uma estratégia
desenvolvida pela espécie humana ao longo de sua história, para explicar, para entender, para manejar e conviver com
a realidade sensível, perceptível e com o seu imaginário, dentro de um contexto cultural.
Desse modo, ser professor de matemática envolve o entendimento do ser humano e da própria disciplina, vista
como um corpo de conhecimento organizado, segundo uma lógica específica, possuidor de uma linguagem peculiar de
expressão, revelador de certos aspectos do mundo. O professor de matemática apresenta, assim, diferentes modos de
trabalhar e de expressar o conhecimento, os quais devem ser entendidos à luz da sua unidade em relação as outras áreas
do conhecimento humano.
Apoiamo-nos, ainda, em Darsie (1998), cujas palavras revelam-nos que enquanto a matemática for um mistério,
algo que está fora do sujeito, para ser aprendida arbitrariamente, não será possível amá-la. É preciso aprendê-la,
construí-la, conhece-la para aprender a amá-la.
III. A TRAJETÓRIA DE CONSTRUÇÃO DOS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS
Para contemplar nosso referencial teórico apresentamos nossos procedimentos metodológicos, a partir de uma
compreensão de pesquisa qualitativa. Descrevemos a trajetória observada, os instrumentos utilizados para coleta de
dados, a caracterização dos sujeitos de nossa investigação e a forma como procedemos para organizar e analisar os
dados.
Ao elaborar este trabalho de investigação, optamos por desenvolver uma “postura” de pesquisa qualitativa,
tomando a definição por Bogdan e Biklen: “Um termo genérico que agrupa estratégias de investigação que partilham
de determinadas características: ricos em pormenores descritivos relativos a pessoas, locais e conversas” (1994, p.16).
Nosso procedimento de busca, ao contrário do quantitativo, não se estabeleceu mediante a operacionalização
de variáveis, ou com o objetivo de responder questões prévias ou testar hipóteses. Mas sim, foram formuladas questões
com a intensão de analisar, em toda sua complexidade e em contexto natural da sala de aula, o que revela as reflexões,
nos registros dos acadêmicos/professores, acerca da própria aprendizagem sobre o quê e o como ensinar matemática
nas séries iniciais.
Entendemos a sala de aula como um local de atividade social, com sujeitos específicos, localizados num lugar
do tempo e do espaço. Nesse contexto, enfatizamos a descrição, a interpretação, análise e registros dos dados coletados
como características centrais de nossa pesquisa.
Para efetuarmos nossa coleta de dados participamos assiduamente das aulas, pois acreditamos ser o local em que
ocorrem, além da produção, as suas reflexões a respeito da aprendizagem, do quê e de como ensinar matemática nas
séries iniciais. Juntamos argumentos que foram registrados no caderno de campo, que são originados nas aulas e
atividades extras aulas.
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Para a coleta dos dados, usamos os seguintes instrumentos: o primeiro desenho/imagem da matemática, o
primeiro texto (produção dos alunos e refere-se às informações do desenho/imagem), questionário 1 (Q1), e os diários
reflexivos, (são recursos didáticos pedagógicos utilizados pela professora formadora para o desenvolvimento das
atividade em aulas e nos foram cedidos para empregá-los como instrumento de coleta de dados), entrevista (E),
questionário 2 (Q2). Para complementar o conjunto de informações contidas nos dados selecionados, um depois da
primeira pesquisa retornamos o contato com os professores/acadêmicos e solicitamos um segundo desenho/imagem da
matemática e um segundo texto.
Para analisar os dados a pesquisa foi dividida em três momentos: momento A, momento B e momento C. E
ainda, cada momento subdividido em blocos. Assim, no primeiro bloco, também subdividido em A, B e C, os dados
dos instrumentos são: imagem/desenho da matemática, o primeiro texto e as respostas do questionário 1 (Q1).
O que denominados segundo bloco refere-se ao período transcorrido durante o desenvolvimento das aulas
propriamente ditas, que foi subdividido em A, B e C, dos quais destacamos episódios do diário reflexivo (o diário é um
caderno, que ao termino de cada aula o aluno escreve o que aprendeu e como aprendeu e seus avanços; quais suas
maiores dificuldades, se a não-aprendizagem está relacionada ao conteúdo ou metodologia do professor). Respostas de
entrevista e fragmentos de fala contidos no caderno de campo.
Para viabilizar a pesquisa em tempo hábil, adotamos mais um critério de seleção, objetivando reduzir o número
dos sujeitos da pesquisa. Assim, usamos os diários reflexivos, por acreditarmos que estes favorecem maiores
possibilidades para percebermos as reflexões desencadeadas pelos professores/acadêmicos, por ser o instrumento que
consideramos trazer detalhado conjunto de informações quanto aos dados coletados.
Os dados existentes nos diários reflexivos tiveram um peso na análise que nos possibilitou compreender o
processo de aprendizagem e reconstrução pelo qual passaram os professores. Entre os onze professores/acadêmicos
selecionados, face aos critérios adotados para análise, encontramos dois tipos de diários. Vejamos:
a) Tipo relato: Neste grupo encontramos diários que trazem no primeiro momento, apenas relatos de atividades
desenvolvidas em, sala de aula e posteriormente apresentam reflexões de aprendizagem dos conteúdos
matemáticos.
b) Tipo reflexivo: São diários que apresentam uma abrangência maior de conteúdos de reflexão. Nestes
encontramos reflexões que contemplam a aprendizagem da matemática, a aprendizagem do ensinar matemática e
com elas uma reflexão sobre práticas de ensino. Além disso, estes diários integram reflexões sobre história de vida
escolar dos sujeitos como alunos e como professores (Darsie, 1998).
Concordamos com Zabalza (1994) apud Darsie (1998), quando este afirma que não podemos falar de bons ou
maus diários. No entanto, segundo este mesmo autor: “poderia falar de um maior ou menor nível de informatividade e
potencialidade formativa do diário” (1994). Sem dúvida tanto os diários do tipo A como os do tipo B, segundo Darsie
(1998): “fornecem importantes processos de reflexão e de desenvolvimento profissional dos alunos-professores”. A
tarefa de desenvolvimento profissional, bem como a investigação sobre esse desenvolvimento, fica facilitada e é então
que, para nós, assim como para Zabalza (1994) apud Darsie: “o diário, como instrumento de acesso ao pensamento e a
ação adquire toda a força” (1998, p.129).
Vimos que, em Darsie (1998), os diários reflexivos encontrados revelam a trajetória da construção do
conhecimento dos acadêmicos/professores pelo processo de reflexão e são os diários reflexivos, os mais reveladores,
em detalhes e conteúdo dessa reflexão, por trazerem maior explicitação desse processo.
Quatro professores/acadêmicos que foram analisados são aqueles, cujos diários apresentaram maior conjunto
informativo.
Os sujeitos Gil, Ere, Sol e Nil, foram os selecionados para análise de nossa pesquisa por encontrar, em seus
diários, maior abrangência de reflexão.
As definições teóricas que apoiariam nosso trabalho, como a formação de professores e, em especial, as
definições que possibilitaram a compreensão da reflexão sobre a própria aprendizagem e a prática docente durante a
formação inicial, nos permitiu responder o problema de nossa pesquisa.
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Em nossa análise, predominou o ensaio interpretativo, na tentativa de compreender o processo de reflexão na
formação dos acadêmicos/professores sobre a aprendizagem do quê e do como ensinar matemática e o que esta
reflexão revela.
Nas trajetórias analisadas foi possível encontrarmos em cada um dos sujeitos, o conteúdo de reflexão que se
apresenta em seguida:
A reflexão de Gil nos revelou a tomada de consciência do quê não sabia de conteúdos matemáticos: a
insuficiência de seus conhecimentos, causada por um ensino baseado na transmissão e recepção; ela não sabia ensinar;
reconhecendo, assim que não sabia matemática. Como podemos observar em seu primeiro desenho.
FIGURA 1. O primeiro desenho/imagem de Gil.
Em suas reflexões constatamos a significativa evolução do como? Ela aprendeu com esta disciplina. Gil compreende
agora, que a matemática não é uma ciência pronta e acabada. Aprendeu também, novas metodologias e mais, que
existem várias maneiras de se ensinar matemática, por meio de atividades lúdicas, brincadeiras, com materiais
didáticos, com o contexto do aluno, apresentando uma matemática significativa.
Os registros e reflexões nos mostram a superação das crenças negativas, Após a disciplina e pautado no quê e no
como aprendeu, ela superou suas crença negativas, afirma agora gostar desta disciplina e atribui uma nova imagem e
um novo nome à matemática e a reconhece como construção.
Nos dados apresentados e analisados, Gil revela-nos evolução em suas crenças, que entendemos garantir que
adotará uma nova postura perante o ensino de matemática, ou seja, refletindo, reformulará sua prática. Quando à sua
aprendizagem, ela revela por seus registros, que a compreende como um processo de construção, que passa por
modificações e que está sempre em evolução.
Esta compreensão da aprendizagem da matemática como um processo de construção desenvolvido pelo
indivíduo, leva-nos ao entendimento de que Gil compreendeu a natureza epistemológica desse conhecimento e revela
compreendê-la como um conhecimento historicamente construído.
O primeiro desenho/imagem representa, para os acadêmicos/professores, o significado da Matemática antes da disciplina: Conteúdos e
Metodologia para o ensino da Matemática nas séries iniciais.
O segundo desenho/imagem representa, para os mesmos, a Matemática, um ano depois de a disciplina ser ministrada.
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FIGURA 2. Segundo desenho/imagem de Gil.
Outro sujeito de nossa pesquisa é Ere.
Inicialmente, Ere revelou que a matemática representava pavor, medo e insegurança, como podemos observar
pelo desenho da aluna.
Os dados analisados revelaram-nos uma significativa evolução dos conhecimentos do que aprendeu com a
disciplina Conteúdos e Metodologia para o ensino de Matemática, nas séries iniciais I e II. Este sujeito analisado tem
consciência acerca da construção de importantes conhecimentos, necessários à sua profissão. Como o que aprendeu
sobre a importância do professor ser um profissional, saber ensinar e não só dar aulas. Aprendeu, também, sobre a
história da matemática, sobre o conhecimento formativo e o informativo. Conheceu os vários tipos de jogos usados no
ensino da matemática, aprendeu, ainda, que primeiro o aluno deve ter a ideia de quantidade para depois o professor
ensinar a efetuar; aprendeu, também, sobre o sistema de medidas e como as civilizações antigas usavam os
instrumentos para medir. Com o que aprendeu, Ere revela segurança perante seus novos conhecimentos, como ela
mesma diz: para mim a matemática acaba de ganhar sentido, vou ensinar o que aprendi neste módulo.
FIGURA 3. Primeiro desenho/imagem de Ere.
Sobre o como ensinar matemática ela nos revela significativas construções. Quando a professora formadora apresentou
as diversas metodologias para ensinar a matemática, Ere se encantou com as aulas, e como aprendeu a trabalhar a
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matemática achou riquíssimas essas novidades, demonstrando total segurança com o que aprendeu. Compromete-se em
incluí-las em sua prática pedagógica. Por estes e por outros episódios, a aluna revela que com os conflitos estabelecidos
diante de uma nova aprendizagem, ela adota uma nova postura frente a sua prática escolar.
São significativas as evoluções na aprendizagem da aluna como nos é revelado pelo processo reflexivo e tomada
de consciência.
O primeiro desenho/imagem representa, para os acadêmicos/professores, o significado da Matemática antes da
disciplina: Conteúdos e Metodologia para o ensino da Matemática nas séries iniciais.
O segundo desenho/imagem representa, para os mesmos, a Matemática, um ano depois de a disciplina ser
ministrada.
FIGURA 4. Segundo desenho/imagem de Ere.
Com a conclusão da pesquisa ficou evidenciada a superação negativa, de Ere ao afirmar que se sente vitoriosa, e
conclui dizendo que ninguém ensina o que não sabe. Ela enfatiza, ainda, que não quer que seus alunos passem por todo
pavor que a disciplina de matemática ou quem lhe ensinou, a fez passar. Ere revela, também, em sua trajetória, que
adotou uma nova postura, sua auto estima está em alta, demonstrando estar satisfeita com a nova aprendizagem e, isto é
revelador, pela forma como apresenta sua nova relação com a matemática.
Outro sujeito de nossa pesquisa é Sol.
Os dados apresentados a analisado de Sol revelam que a aluna, em sua trajetória de aprendizagem e reflexão, foi
gradativamente reelaborando seus conhecimentos do que aprendeu de conteúdos matemáticos, pois, ocorreu a tomada
de consciência quando reconheceu que o que sabia não era suficiente para ensinar; aos poucos ela percebe o quanto
estava enganada em vários aspectos, pois, a partir do momento que começou uma nova aprendizagem ela também
percebeu o que ensinou de errado por pura falta de conhecimento demostrando mudança de postura frente ao que
aprendeu.
Na trajetória de sua reflexão encontramos também, revelado por sua trajetória, a construção de suas novas
aprendizagens do como ensinar, por meio de metodologias criativas, dinâmicas que só contribuíram para a construção
de seus conhecimentos. Com sua nova aprendizagem Sol tem garantia de mudanças em sua prática pedagógica tudo em
benefício de seus alunos, pois, agora ela aprendeu a ensinar, reconhecendo que não será mais a mesma professora de
matemática.
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FIGURA 5. Primeiro desenho/imagem de Sol.
A evolução na aprendizagem de Sol permite repensar o papel do professor e rever as práticas pedagógicas realizadas na
escola. Como podemos observar no segundo desenho de Sol.
Sol nos revelou que: após a disciplina de Conteúdos e Metodologia para o Ensino de Matemática nas Séries
Iniciais do Ensino Fundamental pude perceber, ou melhor, pude enxergar a matemática com outros olhos. Ficou
muito mais fácil compreender e ensinar matemática, pois me possibilitou inúmeras alternativas de trabalhar os
conteúdos da matemática, buscando, desde a sua origem, sua história, até o momento atual, sempre contextualizando
e utilizando recursos lúdico-pedagógico.
FIGURA 6. Segundo desenho/imagem de Sol.
Outro sujeito de nossa pesquisa é Nil.
Ao iniciar a disciplina Nil nos apresentou sua primeira imagem relacionada à matemática. Tratava-se de uma
imagem negativa, um monstrinho de chifres com os cabelos espetados. A palavra que atribui á matemática foi Medo.
Os dados apresentados e analisados de Nil são reveladores da evolução de sua concepção de aprendizagem, pois,
a disciplina de Matemática nas séries iniciais I e II, oportunizou-a na compreensão de vários conteúdos, revelando a
tomada de consciência ao reconhecer a importância e domínio ao ensinar matemática, superando a crença da
aprendizagem por acúmulo de fatos a serem memorizados.
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FIGURA 7. Primeiro desenho/imagem de Nil.
As reflexões de Nil nos revelaram também o que ela aprendeu com a disciplina, sobre a história da matemática e sua
evolução, as correntes epistemológicas, o empirismo, o racionalismo e o interacionismo e, ainda, como ocorre a
avaliação nessas três corrente. No decorrer de sua construção de novas aprendizagens ela também destaca outros
conteúdos que aprendeu como a proposta do programa Etnomatemática. Aprendeu, também, sobre o conhecimento
informal e formal, conceito de números, sobre subtração, fração e, ainda, problemas envolvendo frações. Suas
revelações são surpreendentes, pois ela aprendeu todos os conteúdos que são ensinados nas séries iniciais.
FIGURA 8. Segundo desenho/imagem de Nil.
Nil, agora, nos apresenta sua nova imagem da Matemática, revelando uma nova postura, e atribui a matemática uma
nova denominação: ideia iluminada, uma clara evidência de superação de suas crenças negativas, proporcionada por
um ensino reflexivo, pautado numa concepção construtiva, de forma que, o aluno possa ser orientado em sua
aprendizagem, priorizando o processo de construção de novos conhecimentos.
Nil nos diz que esta disciplina teve um grande significado em sua vida, porque a oportunizou na compreensão de
vários conteúdos. Antes ela apresentava certo pavor (medo) da matemática, por não ter compreender alguns conteúdos.
No decorrer da disciplina, suas crenças foram modificando, isso porque as dificuldades que tinha com alguns
conteúdos estavam sendo sanadas gradativamente. Como constatamos em suas palavras: hoje para mim a matemática é
como se fosse uma luz, clareou a minha mente, proporcionando-me uma aprendizagem mais significativa.
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IV. CONCLUSÕES
Partindo do pressuposto de que todo conhecimento se dá por um processo de construção, buscamos encontrar a
evolução dos conhecimentos esperados. Neste sentido, nossa análise dos dados centrou-se em traçar uma trajetória de
evolução dos conhecimentos, ou de construção dos sujeitos, enfatizando a fase inicial, a fase intermediária e a fase final
de cada uma delas.
Nossa análise revelou-nos uma progressiva evolução dos conhecimentos das alunas, desencadeada pelo processo
de reflexão sobre estes conhecimentos. É possível dizer ainda que, as alunas, ao refletirem sobre a própria
aprendizagem, obtiveram a tomada de consciência acerca do processo e, assim, construíram um novo conhecimento.
O próprio processo de aprendizagem ocorrido durante as aulas implica num processo de evolução dos
conhecimentos. Aprendizagem esta, também compreendida como tomada de consciência e construção do
conhecimento sobre o que ensinar e o como ensinar.
A análise dos dados possibilitou-nos acompanhar a reflexão e a evolução do conhecimento de Gil, Ere, Sol e Nil
sobre suas aprendizagens sobre conteúdo e metodologias da matemática das séries iniciais. Por esta reflexão e, seu
registro, os sujeitos tomam consciência da insuficiência de seus conhecimentos para ensinar a matemática nas séries
iniciais, construindo um novo conhecimento, a partir do conhecimento prévio de cada uma delas.
A reflexão sobre seus conhecimentos prévios e sobre a nova aprendizagem possibilitou a Gil, Ere, Sol e Nil
explicarem, também, suas crenças negativas relacionadas à Matemática. Estas crenças, como demonstraram os
registros, podem ser geradas pela não compreensão dos conteúdos e metodologias da matemática em suas experiências
escolares anteriores.
Pudemos observar, ainda, que a reflexão e evolução dos conhecimentos das alunas atingiram graus diferentes, já
que ela tem seu início e desenvolvimento suscetível às variáveis como, conhecimento prévio, interesse, necessidade,
experiências escolares anteriores e variam, para cada sujeito, podendo um evoluir mais que o outro.
A leitura cuidadosa dos dados e suas análises mostraram-nos a contribuição do trabalho reflexivo para a
aprendizagem do ensinar matemática. Neste processo fica evidente o quanto a aprendizagem do quê e do como ensinar
se torna relevante para os acadêmicos/professores. A importância do domínio do conteúdo, como condição para ensinar
é evidenciada quando acadêmicos/professores refletem sobre o ensinar matemática. Estes reconhecem que aprender a
ensinar significa saber o que ensina saber este, que supera a compreensão de aprendizagem mecânica e de
memorização de conceitos. Uma aprendizagem que requer a construção de significados, elas revelaram ter construído.
Esta aprendizagem foi reforçada pelo processo de reflexão desencadeada numa disciplina do curso de graduação que
permitiu aos alunos reverem suas aprendizagens de matemática.
A reflexão, segundo Perez Gómez (1995), não é apenas um processo psicológico individual, passível de ser
estudado a partir de esquemas formais, independentes do conteúdo, do contexto e das interações. A reflexão implica
imersão consciente do homem no mundo da sua experiência; um mundo carregado de conotações, valores,
intercâmbios simbólicos, correspondências afetivas, interesses sociais e cenários políticos.
Neste sentido, acreditamos que ao trazer a reflexão como componente da formação inicial, estamos encorajando
o desenvolvimento da autonomia do aluno enquanto agente da própria aprendizagem, além de autor de sua própria
história de vida. Assim é que os dados revelam que ao refletir sobre sua aprendizagem, elas refletem sobre sua prática.
A análise das reflexões de acadêmicos/professores nos revelaram: conflitos estabelecidos entre conhecimento
prévio e novo conhecimento – reflexão sobre a prática a partir da nova aprendizagem – imagens e crenças negativas
sobre a matemática seu ensino e sua aprendizagem – superação das crenças e imagens negativas – tomada de
consciência da construção do novo conhecimento – reflexão sobre como aprender e como ensinar matemática é
encontrado em todas as trajetórias analisadas.
Observamos que através das reflexões dos acadêmicos/professores há uma inquietante determinação por
mudanças de postura, de atitude diante da sala de aula. A análise revelou, igualmente, que a reflexão sobre a própria
prática leva à tomada de consciência e à construção de novos conhecimentos. Evidenciou, ainda, que num curso de
formação inicial, quando os alunos são levados a refletir sobre a própria aprendizagem e sua prática, concretiza-se a
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superação de crenças e imagens negativas, assim como, dos desencantos com relação à disciplina de matemática a
priori detectada.
Quando às crenças e imagens negativas, acreditamos que são geradas pelo não-domínio do conteúdo
matemático, decorrente de um ensino pautado no velho modelo tradicional de transmissão de conhecimento e que
sustenta a ingênua esperança de que o aluno possa aprender apenas memorizando regras, fórmulas e algoritmo.
Demonstrando, através das reflexões, medo, angustia e insegurança em relação à disciplina de matemática.
Um curso de formação demanda também, ser capaz de possibilitar que o professor seja mais audacioso, crie e
recrie. Neste sentido, destacamos o pensamento de Lawn (1991) apud Nóvoa (1992 p.39):
Eu quero professores que não se limitem a imitar outros professores, mas que se comprometam (e reflitam) na
educação das crianças numa nova sociedade: professores que fazem parte de um sistema que os valoriza e lhes
fornecem os recursos e os apoios necessários a sua formação e desenvolvimento; professores que não são apenas
técnicos, mas também criadores. Lawn (1991) apud Nóvoa (1992 p.39).
Diante do exposto, cremos que devemos formar professores capazes de pensar a prática, bem como, as formas de
existência individual e coletiva.
A análise dessas questões permitiu que pudéssemos discutir sobre a formação inicial de professores, pois
acreditamos ser uma das mais importantes contribuidora para a melhoria do ensino. A formação inicial está
vivenciando uma crescente conscientização de futuros professores insatisfeitos e descontentes com a qualidade de
ensino, não sabem a quem recorrer ou culpar; não sabem se é falta de investimentos por parte dos gestores ou se é
porque os professores continuam achando que o seu papel é apenas receber formação, não se assumindo, ainda, como
protagonista que deveriam ser neste processo.
A formação inicial é um suporte fundamental do desenvolvimento profissional. Ela deverá constituir novos
domínios de ação e investigação de grande importância para o futuro da sociedade, numa época de acelerada
transformação do ser humano, que busca desenvolver seus projetos de vida, de cidadania.
No mundo globalizado exigem-se da profissão docente competência e compromissos não só de ordem cultural,
científica e pedagógica, mas, também, de ordem pessoal e social, influindo nas concepções sobre educação.
Estas concepções levam as instituições formadoras a repensarem as diretrizes dos cursos de formação inicial,
passando a considerar a reflexão do professor sobre sua prática e seu desenvolvimento profissional.
A reflexão é vista como um processo em que o professor analisa sua prática descreve situações, elabora teorias,
programa, avalia e compartilha suas ideias com colegas e alunos.
Refletir sobre suas experiências escolares pessoais e sobre a própria aprendizagem, tomar consciência do que
aprendeu, e como aprendeu, reorganizando assim, seus conhecimentos e podendo desta maneira generalizá-los, é
um procedimento metodológico que traria benefícios, se desencadeado conscientemente em sala de aula, sendo
assim os cursos de formação de professores devem incluir em seu currículo a reflexão nesta dupla dimensão:
componente metodológico e conteúdo dessa mesma formação. Darsie (1998).
Nesta perspectiva, devemos continuar a refletir com os colegas, quais os atuais problemas da educação, pois
acreditamos que com a reflexão sobre a própria prática o professor possa encorajar o desenvolvimento de ações
concretas que modifiquem sua prática pedagógica.
Acreditamos, também, que a formação inicial não deva gerar produtos prontos e acabados, mas, sim deve ser
encarada como a primeira fase de um longo processo de desenvolvimento profissional onde a reflexão seja um dos
fatores sempre presentes na vida do professor.
REFERÊNCIAS
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