ignorncia organizacional

download ignorncia organizacional

of 16

Transcript of ignorncia organizacional

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    1/16

    1

    Ignorncia Organizacional: Desafios e Oportunidades de Pesquisa

    Autoria:Alcindo Cipriano Argolo Mendes, Joo Teles

    RESUMO

    Este trabalho teve como objetivo verificar o fragmento da literatura que sustenta ainvestigao dos conceitos e efeitos da ignorncia organizacional, identificando oportunidadesde pesquisas. Por meio do mtodo estruturado Proknow-C foram selecionados 24 artigoscientficos que representam o tema Ignorncia Organizacional. Diversos autores entre asdcadas de 1970 e 2000, discutiram os conceitos da ignorncia nas organizaes,apresentando ampla sustentao conceitual, mas somente a partir desse perodo as pesquisasenvolvendo a ignorncia como elemento intrnseco nas empresas passou a ser regular, commais pesquisadores envolvidos. A anlise bibliomtrica indicou pesquisadores de oitonacionalidades diferentes, com predominncia para os americanos e ingleses, e com destaque

    para um grupo de pesquisadores vinculados Universidade de Oklahoma, liderados pelosprofessores Michel G. Harvey e Michael R. Buckley. Tambm se verificou que as publicaesesto concentradas nas reas de psicologia social e sociologia, com poucos trabalhos

    publicados em peridicos da rea organizacional. Na anlise sistmica percebeu-se apredominncia de trabalhos com abordagem conceitual, de tipologia e sobre as fontes daignorncia organizacional. Em contrapartida, ainda so incipientes os trabalhos queapresentam as formas de identificao, consequncias e aes corretivas. Dessa forma, aliteratura aponta para oportunidades de pesquisas empricas envolvendo a observao eanlise mais prxima do fenmeno, como forma de gesto da ignorncia organizacional.

    Palavras chave: Ignorncia, Ignorncia Organizacional, Proknow-C.

    1.

    INTRODUOA base da discusso sobre a ignorncia como um fator subjacente a qualquerconhecimento no descoberta recente e j fazia parte das discusses filosficas de Scrates(CHIA E HOLT, 2007). Com a consolidao do positivismo cientfico como base para oconhecimento, pelo menos no ocidente, os estudos sobre ignorncia como os de De Cusa(Sc.XV) foram considerados irrelevantes, pois o entendimento social era de que ao se buscarum conhecimento naturalmente se reduzia a ignorncia.

    Allport (1924) apresentou o primeiro conceito sobre a ignorncia pluralista, onde umindivduo tem atitudes diferente das suas convices por interpretar erroneamente que aopinio de um grupo diferente da sua. A esse comportamento verifica-se um erro cognitivoque leva a uma atitude de ignorncia. J Smithson (1989) apresentou a taxonomia da

    ignorncia, propondo classificaes quanto a origem da ignorncia.Ignorncia pode ser compreendida como incompletude, erro de cognio ou supressode um determinado conhecimento (SMITHSON, 1989). Complementarmente, Roberts (2013)ensina que a ignorncia nas organizaes um fator associado e que pode ocorrer tanto na

    presena como a ausncia do conhecimento, ou seja, havendo ou no entendimento daignorncia, ela estar presente no ambiente organizacional.

    No ambiente organizacional os estudos normalmente se baseiam em verdadesconhecidas e so representados por uma forma de raciocnio socialmente aceita, totalmente

    baseado no conhecimento cientfico (HARVEY et al, 2001). Nesse sentido, a ignornciaorganizacional pode ser entendida como erro cognitivo, incompletude ou supresso doconhecimento nas empresas.

    Em ambientes dinmicos e complexos, a ignorncia organizacional se potencializa.conhecimentos. Roberts (2013) enfatiza que embora outras reas do conhecimento comofilosofia, antropologia, arqueologia, medicina, economia e direito j estudem os efeitos da

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    2/16

    2

    ignorncia, a rea de gesto de negcios ainda encontra-se incipiente nesse tipo de estudo,mesmo reconhecendo que a ignorncia um elemento intrnseco dentro das organizaes.Alguns pesquisadores comportamentais dessa rea j manifestaram suas preocupaes com oefeito da ignorncia nas empresas como Westphal e Bednar (2005), Halbesleben e Buckley

    (2004) e Kutsch e Hall (2009).Nesse contexto, o objetivo desse trabalho verificar o fragmento da literatura quesustenta a investigao dos conceitos e efeitos da ignorncia organizacional,

    identificando oportunidades de pesquisas. Para construo desse fragmento da literatura foiutilizado o Proknow-C como mtodo estruturado de busca e anlise, utilizados por Ensslin,S.R e Dutra (2014); Ensslin, Ripoll-Feliu, Ensslin e Dutra (2014); Rosa, Ensslin, Ensslin eLunkes (2011), entre outros.

    O presente trabalho contribui com a discusso conceitual sobre ignorncia nasorganizaes, alm de evidenciar o estgio das pesquisas na rea. Como relata Harvey et al(2001) o conhecimento tem sido tratado frequentemente como fonte de vantagemcompetitiva, mas em contexto organizacional sabemos muito pouco sobre o conceito de

    ignorncia.

    2. CONSIDERAES TERICAS SOBRE IGNORNCIA ORGANIZACIONALA ignorncia pode ser vista por dois aspectos, segundo a taxonomia de Smithson

    (1989): (i) ignorncia intencional ou a supresso do conhecimento por convenincia,conhecida como ignorncia deliberada; e (ii) a ignorncia em funo do erro, que adistoro ou incompletude do conhecimento e est relacionada com problemas cognitivos.

    2.1 Ignorncia Deliberada

    A ignorncia deliberada caracteriza-se pela supresso do conhecimento de formaintencional. Um exemplo pode ser visto em Kutsch e Hall (2009), que, ao estudar projetos derisco perceberam uma posio de conflito entre quem elabora o projeto e quem toma adeciso, provocando assim uma supresso de conhecimento por parte dos elaboradores, o quecaracteriza a ignorncia deliberada.

    Avent e Steen (2010) discutiram a relao entre ignorncia, incerteza e risco. Buscaramtambm na taxonomia da ignorncia de Smithson (1989) os conceitos da ignorncia a partirda incerteza, relacionados com a probabilidade, a vagueza e a ambiguidade. Os autores citama avaliao de riscos em projetos como uma importante ferramenta para minimizao dessesriscos, mas relatam que a ferramenta ser sempre vista como falha, enquanto se acreditar queela apresentar resultados de preciso. Isso ocorrer porque a influncia da incerteza(ignorncia) sempre estar presente, provocando indecises.

    2.2

    Ignorncia em funo de erroA ignorncia em funo do erro, como proposto por Smithson (1989) est maisrelacionada a problemas cognitivos (ROBERTS,2013). Esses erros ocorrem em funo daausncia do conhecimento, da incompletude do conhecimento ou distoro do conhecimento.

    Roberts (2013) ainda explica que, normalmente, os estudos envolvendo ignornciaorganizacional so limitados porque buscam apenas a eliminao da ignorncia como formade elevar o conhecimento. A autora trouxe uma importante contribuio ao traar um quadroconceitual relacionando a fonte com o tipo de ignorncia organizacional, conforme Tabela 1.A partir do quadro possvel verificar que a origem do erro ocorre tanto com a ausncia comocom a presena do conhecimento.

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    3/16

    3

    Tabela 1: Tipologia da ignorncia

    Fonte da ignorncia Tipo Definio

    Ausncia doConhecimento

    No percepo daignorncia

    Desconhecimento da ausncia do conhecimento

    Percepo daIgnorncia

    Conhecimento incompleto

    Ignorncia sobre aexistncia doconhecimento

    Percepo dodesconhecimento

    Reconhecimento da incompletude do conhecimento

    No percepo dodesconhecimento

    Incapacidade de reconhecer a incompletude doconhecimento

    Erros Equivocidade sobre a incompletude do conhecimento

    Ignorncia com asupresso doconhecimento

    TabuIgnorar o conhecimento por causa de proibiessociais

    Negao Ignorar o conhecimento por ser doloroso saber

    SigiloSupresso do conhecimento por parte de indivduosou grupos

    Privacidade Indivduos ou grupos restringem o seu prprio acesso

    Fonte: Adaptado de Roberts (2013)

    Direcionando as discusses sobre ignorncia para o ambiente organizacional, vriosautores como Harvey et al (2001), Halbesleben, Wheeler e Buckley (2005 e 2007), ); Kutsche Hall (2009), McGoey (2012), Roberts (2013) tm voltado seus esforos de pesquisa na

    busca dos efeitos da ignorncia no contexto das organizaes, no qual a primeira autoradenominou Ignorncia Organizacional.2.3

    Ignorncia Organizacional

    A melhor forma de as empresas serem competitivas e geis em suas decises contratarpessoas inteligentes e fazer com que elas conversem. Mas mesmo que isso ocorra, oconhecimento nas organizaes complexo em suas conceituaes, e no se pode negar aimportncia dos conceitos da ignorncia (DAVENPORT e PRUSAK, 1998).

    Conhecimento e ignorncia so visto na maioria das vezes como fatores antagnicos domesmo fenmeno (McGOEY,2012). como se o conhecimento fosse um fator positivo e aignorncia um fator negativo. Contudo, a autora contesta esse conceito, mostrando que emdiversas situaes as organizaes utilizam da prpria ignorncia para fatores positivos. Em

    muitos casos, empresas que arriscaram e acabaram por perder recursos ou mesmo entrar emprocesso de falncia, alegaram o desconhecimento de aes tomadas por gerentes. Porm, aoque parece, essa ignorncia era conveniente para aceitar determinadas aes de alto risco.Reconhecer os limites do conhecimento tambm reconhecer a ignorncia, segundo astradies socrticas (CHIA E HOLT,2007). Em pesquisa recente elaborada por Harvey et al(2001) foi sugerido quatro tipos de ignorncia relacionadas ao erro da taxonomia de Smithsone que podem interferir no contexto organizacional: ignorncia pluralista, ignorncia populista,ignorncia probabilstica e ignorncia pragmtica. Entre elas, a ignorncia pluralista a quevem despertando maior interesse entre os pesquisadores organizacionais.

    2.3.1 Ignorncia Pluralista

    A ignorncia pluralista ocorre quando um indivduo concorda com uma posio

    divergente sua opinio por achar, equivocadamente, que o grupo compartilha dessa opiniodivergente. O conceito inicial desse tipo de ignorncia foi atribudo aos estudos do psiclogoFloyd Allport na dcada de 1920. Katz (1931) e Schank (1932) foram dois dos mais brilhantes

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    4/16

    4

    alunos de Allport que ajudaram a difundir o conceito da Ignorncia Pluralista. SegundoHalbesleben e Buckley (2004), aps um perodo adormecido a discusso reemergiu com aTeoria da Comparao Social, apresentada por Festinger (1954) e ainda evoluiu a partir dosestudos sobre segregao racial apresentados por Hubert OGorman na dcada de 1970. Mais

    recentemente, Miller e McFarland (1987) utilizaram os conceitos de Ignorncia Pluralista paraestudarem padres de consumo de lcool entre estudantes da Universidade de Princeton.O primeiro estudo envolvendo ignorncia pluralista em uma organizao foi o de Savell

    (1977), que verificou a aceitao de militares em realizar misses menos desejveis(HALBESLEBEN e BUCKLEY, 2004). Savell verificou que mais soldados esto dispostos aaceitar as misses de risco do que se imaginava. Outro estudo o de Daniel e Rogers (1981)sobre a Sndrome de Bournout em sacerdotes de igrejas catlicas nos EUA, referindo-se aatitudes depressivas em funo de esgotamento profissional. J Beckley, Harvey, e Beu(2000) descreveram que empresas americanas tinham a percepo que seus concorrentesutilizavam de prticas antiticas.

    Vrias aplicaes dos conceitos de ignorncia em organizaes foram propostas por

    Halbesleben e Buckley (2004). Temas como regras inconsistentes que se estabelecem emgrupos de trabalho, dificuldades de alinhamento entre valores individuais e organizacionais,questes de assdio moral e sexual, liderana com valores equivocados e relaes trabalhistasentre sindicato, empresa e trabalhadores podem ser estudados sob a tica da ignorncia

    pluralista segundo os autores.Westphal e Bednar (2005) apresentaram um estudo sobre o comportamento de membros

    do conselho de administrao de 174 empresas pblicas americanas de porte mdio econstataram que esses membros tendem a no se manifestar nas reunies por acharem queseus pares no compartilham com suas preocupaes em relao estratgia atual daempresa. Esse comportamento tambm encontra apoio na ignorncia pluralista.

    Halbesleben, Wheeler e Buckley (2005) realizaram uma pesquisa com 80 estudantes degraduao em gesto de negcios e perceberam que disciplinas de educao tica podemreduzir atitudes antiticas caso haja a reduo de ignorncia pluralista. Os mesmos autores em2007, na busca pelo entendimento dos efeitos da ignorncia pluralista nas organizaes,discutiram vrios aspectos como a omisso de opinio para manter a aceitao do grupo,grupos com caractersticas etnogrficas diferentes, desmotivao, rotatividade de funcionriose decises de grupo equivocadas. Esses fatores so subsdios importantes para explicardiversos fenmenos dentro das organizaes. Os autores ainda relatam que, emboraimportante, o fenmeno da ignorncia pluralista no fcil de ser detectado dentro dasorganizaes. Estabelecer grupos de controle para verificar essa situao sempre uma

    preocupao para os pesquisadores.

    Muitas empresas nos ltimos anos tm flexibilizado o horrio e at o local de trabalho,entendendo que essas caractersticas trazem benefcios produtivos como a criatividade. Emgeral, as organizaes acreditavam que isso seria um atrativo para bons funcionrios, que

    poderiam aproveitar o benefcio para adaptar-se s necessidades familiares. Aos trabalhadoresque tm essa flexibilidade foram denominados de flexworks. Ao estudar a percepo detrabalhadores em relao aos flexworkers nosEUA, Munsch, e Williams (2014)perceberamque muitos trabalhadores no percebem como positiva essa flexibilidade tanto quanto asempresas acreditavam. A essa verdade que se estabeleceu, os autores buscaram explicao naignorncia pluralista.

    3. TRABALHOS SEMINAIS

    A base para discusso da ignorncia em ambiente organizacional, est ancorada nosconceitos da teoria da comparao social e no paradoxo de Abilene, relacionado com os

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    5/16

    5

    estudos de Allport (1924) como descreve Miller & McFarland (1987) quando discutem osmotivos que levam ao fenmeno da ignorncia pluralista.

    3.1. Teoria da Comparao Social

    Os estudos de Festinger (1954) deram origem teoria da comparao social. O autor

    partiu de um conjunto de pressupostos para a discusso sobre como as pessoas avaliavamhabilidades e opinies, conforme Tabela 2.

    Tabela 2: Pressupostos da Teoria da Comparao SocialPressuposto Conceito Exemplo/Explicao

    1Cada pessoa possui uma unidade prpria demedida para avaliar a sua habilidade, quedepende de sua opinio.

    A capacidade de uma pessoa em escreverpoesias, depender em grande parte da opinioque outros fazem sobre poesias.

    2

    Se os valores sociais no estiveremdisponveis para a avaliao, as pessoastendem a avaliar com base na comparao deoutras pessoas.

    Poderia se testar o quanto um objeto frgilbatendo nele e verificando sua resistncia, mascomo verificar o quanto uma pessoa frgil?

    3 As pessoas em geral buscam comparaocom pessoas que possuem caratersticasequitativas.

    Um jogador de xadrez iniciante no ircomparar o seu jogo com um mestre enxadrista

    4H uma unidade unidirecional para cima nocaso das habilidades, mas no hcorrespondncia em relao opinio.

    Pessoas tendem a distinguir entre superior einferior em relao s habilidades, mas no ofazem em relao a uma determinada opinio.

    5

    H restrio no-sociais que tornam difcilou mesmo impossvel para a capacidade demudana no nvel da habilidade, e que essasrestries no so correspondentes emrelao a mudana de opinio.

    Ainda que uma pessoa acredite que possa corrermais rpido, no to fcil que isso ocorraapenas pela crena.

    6

    Quando a comparao feita com umindivduo que est supostamente em um

    nvel superior, o indivduo tende a reagircom hostilidade.

    As pessoas, em geral, no so receptivasquando colocadas em posio de inferioridade

    em comparaes.

    7

    Qualquer fator que aumente a importncia deuma habilidade ou opinio, vai aumentar apresso dentro do grupo em relao a essefator.

    Uma opinio sobre um indivduo em um partidopode ser muito diferente em ano de eleio doque em outros anos.

    8

    Os indivduos de um grupo, tendem acompetir entre si, quando percebem que ascaractersticas so equitativas, mas quandopercebem diferenas discrepantes, tendem ano haver disputas.

    Estudantes de graduao normalmente nodisputam conhecimento com estudantes de ps-graduao, mas disputam entre si.

    9

    Quando o grupo divergente em opinies, se

    houver opinies alinhadas, mesmo que sejamminoria no grupo, elas sero mais fortes emprovocar a mudana de opinio do grupo emsua direo.

    Em uma reunio entre condminos, se trs ou

    quatro se organizarem, tendem a angariar aopinio dos demais participantes.

    Fonte: Adaptado de Goodman (1977)

    Trazendo o conceito da teoria da comparao social para o contexto organizacional, possvel imaginar situaes onde os indivduos buscam comparaes. Por exemplo, umaumento de 10% no salrio pode ser considerado bom ou ruim? Depende da comparao comoutros fatores sociais. Esse foi um exemplo trazido por Goodman (1977) para ilustrar que emdiversas situaes a teoria da comparao social estar presente nas organizaes. Sistemas de

    avaliao de desempenho e de recompensas esto sujeitos a comparao por parte dosenvolvidos e so sempre sistemas crticos nas organizaes. O trabalho de Goodman trouxe os

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    6/16

    6

    mesmos conceitos propostos por Festinger (1954), porm com uma discusso especfica parao contexto organizacional.

    3.2. O paradoxo de Abilene

    O paradoxo de Abilene foi descrito por Harvey (1974) para explicar um fato ocorrido

    em sua famlia no vero de 1974. Ele, a sua esposa, seu sogro e sua sogra estavam em casanuma tarde quente de domingo, quando o seu sogro props a ida para a cidade de Abilenepara jantar. Como a sua esposa concordou com a ideia para no contrariar o pai, ele tambmdisse ser uma boa ideia. Sua sogra, vendo o que parecia a vontade de todos, tambmmanifestou-se positivamente. Depois de quatro horas em uma tempestade de areia e umacomida muito ruim no restaurante, todos estavam de volta. Quando Harvey fez um comentriosobre a viagem, todos se manifestaram negativamente e disseram que no queriam ir. Comoquatro pessoas adultas e sensatas, fizeram algo que no gostariam de fazer? Esse o

    paradoxo!Nos anos seguintes Harvey tambm observou que frequentemente empresas tomam

    decises diferentes do que realmente gostariam de fazer, assim como o pequeno grupo de

    Abilene. Os sintomas que caracterizam o paradoxo em organizaes so descritos pelo autorda seguinte forma:

    (1) Os membros da Organizao concordam em particular, como indivduos, quanto natureza da situao ou problema enfrentado pela organizao.

    (2) Os membros da Organizao concordam em particular, como indivduos, com asmedidas que seriam necessrias para lidar com a situao ou problema queenfrentam.

    (3) Os membros da Organizao no conseguem comunicar com preciso os seusdesejos e crenas individuais. Na verdade, eles fazem exatamente o oposto e, assim,cada indivduo no percebe corretamente a realidade coletiva.

    (4) Com informaes invlidas e imprecisas, os membros da organizao tomamdecises coletivas que os levam a tomar atitudes contrrias ao que elesindividualmente querem fazer, provocando aes contrrias aos interesses da

    prpria organizao.(5) Como resultado da adoo de medidas contrrias aos interesses da organizao, os

    indivduos sentem frustrao, raiva, irritao e insatisfao com a prpria empresa.

    Portanto, fenmenos observados pela teoria da comparao social e pelo paradoxo deAbilene levam a diversas situaes de ignorncia nas organizaes. Essas situaes deignorncia podem ser do tipo deliberada ou por erro de cognio, como prope Smithson(1989) e ainda podem ter origem tanto na ausncia como na presena do conhecimento, de

    acordo com Roberts (2013).Nesse sentido, os autores desse trabalho adotam como filiao terica o conceito deignorncia organizacional como sendo: ausncia, distoro ou incompletude e supresso doconhecimento em contexto organizacional, provocados por fenmenos equiparados comparao social e ao paradoxo de Abilene. (ALLPORT, 1924; FERSTINGER, 1954,SMITHSON, 1989; ROBERTS, 2013).

    4. PROJETO DE PESQUISA E METODOLOGIAVisando conhecer o fragmento da literatura que sustente a pesquisa sobre ignorncia

    organizacional, utilizou-se o mtodo construtivista estruturado Proknow-C. O mtodo visagerar conhecimento ao pesquisador sobre um tema especfico a partir de um conjunto de

    publicaes relevantes e disponveis, gerando conhecimento suficiente para conhecer, discutire identificar oportunidades de pesquisa sobre esse tema, como destacam Ensslin, Ensslin e

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    7/16

    7

    Dutra (2014), Silva et al (2014); Valmorbida et al (2014), Ensslin et al(2014); Lacerda et al(2012), Rosa et al(2011) e Dutra et al (2014).

    O mtodo de investigao cientfica Proknow-C, conforme descrito na Figura 1, possuibasicamente quatro etapas: (1) construo estruturada e refinamento do portflio

    bibliogrfico, (2) anlise bibliomtrica, (3) anlise sistmica e (4) identificao dasoportunidades de pesquisa.

    Figura 1: Etapas do processo estruturado - Proknow-C

    Fonte: Adaptado de Ensslin, Ensslin e Dutra (2014)

    O primeiro passo na construo do conhecimento sobre o fragmento da literaturacientfica que representao tema ignorncia organizacional foi a busca pelo banco de artigos

    bruto. Inicialmente, foram definidosdois eixos centrais. Embora o tema ignorncia sejaamplamente estudado em diversas cincias, para esse trabalho o que se pretende verificar ainfluncia da ignorncia nas organizaes.

    Nesse sentido os dois eixos centrais foram: Ignorance e Organizational. A partir dadefinio dos eixos, foi preciso verificar as palavras-chave que representassem a busca paraesses eixos. Segundo Ensslin, Ensslin e Dutra (2014), as palavras-chave a serem utilizadas na

    pesquisa apresentam alinhamento com o tema de interesse a ser estudado segundo os critriose viso de mundo estabelecidas pelos pesquisadores.

    Para o eixo Ignorance foram determinadas as palavras-chave (i) ignorance, (ii)pluralistic ignorance, (iii) populisitic ignorance, (iv) probabilisitic ignorance, (v) pragmatic

    ignorance como prope Harvey, Novicevic, Buckley e Ferris (2001). J para o eixoOrganitional, foram usadas as palavras-chave (i) organizational e (ii) managementrepresentando o tema ignorncia no ambiente organizacional.

    A partir das delimitaes dos eixos e das palavras-chave, determinou-se a seguintesintaxe de busca: ("ignorance" or "pluralistic ignorance" or "populistic ignorance" or"probalistic ignorance" or "pragmatic ignorance") and ("organizat*" or "management").Para a palavra-chave organizational foram observadas as variaes de sufixo representadas

    pelo smbolo organizat*.Em seguida foram definidas as bases que se fariam as buscas de acordo com as

    caractersticas das publicaes. Inicialmente foram verificadas 8 bases: SCOPUS, ISI,EBSCO, EMERALD, WILEY, PROQUEST, COMPENDEX e SPELL. Para a base

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    8/16

    8

    Compendex verificou-se que no havia alinhamento de rea de conhecimento e no caso daSpell, inicialmente acreditava-se encontrar trabalhos de autores brasileiros sobre o tema. Mas,aps a busca, verificou-se que o tema ainda encontra-se desconhecido por parte dos

    pesquisadores no Brasil.

    Para o incio das buscas tambm foram determinados a delimitao temporal e atipologia dos documentos. Para a delimitao temporal, foram considerados inicialmentetrabalhos com datas de 2000 a 2014. Quanto ao tipo adotou-se que somente seriamobservados para essa pesquisa os artigos cientficos disponveis nas bases determinadas

    porque outros materiais como livros e jornais acabam sendo representados indiretamente poresse tipo de publicao. Assim, foram retiradas as duas bases do escopo da pesquisa. Com a

    primeira busca o retorno foi de 1.402 artigo, conforme Figura 2.

    514

    558

    159

    112

    30

    29

    SCOPUS

    ISI

    EBSCO

    EMERALD

    WILEY

    PROQUEST

    Figura 2: Banco de artigos retornados em 26/09/2014

    Fonte: Autores

    Ainda cumprindo a primeira etapa do Proknow-C, que foi a busca pelo portfliobibliogrfico com auxlio do software EndNote, foram retirados os artigos que estavam emduplicidade por estarem contidos em mais de uma base, resultando em um banco de 1.278artigos. Nessa primeira etapa, tambm foi feito a filtragem desse banco de artigos verificandoo seu alinhamento sequencial por ttulo, resumo e texto completo. Aps o alinhamento porttulos foram selecionados 164 artigos e aps o alinhamento pelo resumo 36 artigos. Com aleitura integral do texto e ainda estabelecendo a relevncia de acordo com as citaes foramselecionados 14 artigos primrios, considerados alinhados e com representatividadecomprovada pela comunidade cientfica. Em ltima anlise, foram verificadas as referncias

    bibliogrficas dos artigos primrios e a partir da relevncia de citaes foram selecionadosmais 10 artigos importantes para o tema resultando em um portflio final de 24 artigos. Oconjunto de artigos so apresentados, conforme Tabela 3.

    Tabela 3: Portflio Bibliogrfico definido a partir do mtodo Proknow-C

    Ttulo Autor Ano Peridico

    1The abilene paradox: The management ofagreement J. B. Harvey 1974 Organizational Dynamics

    2Social comparison processes inorganizations P. S. Goodman 1977

    New Directions inOrganizational Behavior

    3 Pluralistic ignorance: When similarity isinterpreted as dissimilarity D. T. Miller and C.McFarland 1987 Journal of Personality andsocial Psychology

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    9/16

    9

    4The role of pluralistic ignorance in theperception of unethical behavior

    M. R. Buckley, M. G.Harvey and D. S. Beu 2000

    Journal of BusinessEthics

    5

    A historic perspective on organizationalignorance

    M. G. Harvey, M. M.Novicevic, M. R. Buckley

    and G. R. Ferris

    2001Journal of ManagerialPsychology

    6

    Ignorant theory and knowledgeable workers:Interrogating the connections betweenknowledge, skills and services

    P. Thompson, C. Warhurstand G. Callaghan 2001

    Journal of ManagementStudies

    7

    Rational ignorance, rational voterexpectations, and public policy: A discreteinformational foundation for fiscal illusion R. D. Congleton 2001 Public Choice

    8

    Pluralistic ignorance: An overlookedvariable in the performance appraisalprocess

    J. R. B. Halbesleben and M.R. Buckley 2001

    Annual Meeting of theSouthern ManagementAssociation

    9

    Pluralistic ignorance: historical developmentand organizational applications

    J. R. B. Halbesleben and M.R. Buckley

    2004 Management Decision

    10The Abilene Paradox after thirty years: Aglobal perspective

    M. Harvey, M. M.Novicevic, M. R. Buckleyand J. R. B. Halbesleben 2004 Organizational Dynamics

    11

    Pluralistic ignorance in corporate boards andfirms' strategic persistence in response tolow firm performance

    J. D. Westphal and M. K.Bednar

    2005Administrative ScienceQuarterly

    12 Learning through teaching C. G. Cortese 2005 Management Learning

    13

    Everybody else is doing it, so why Can't we?Pluralistic ignorance and business ethicseducation

    J. R. B. Halbesleben, A. R.Wheeler and M. R. Buckley

    2005Journal of BusinessEthics

    14

    Understanding pluralistic ignorance inorganizations: application and theory

    J. R. B. Halbesleben, A. R.Wheeler and M. R. Buckley

    2007Journal of ManagerialPsychology

    15Deliberate ignorance in project riskmanagement

    E. Kutsch and M. Hall 2009 International Journal ofProject Management

    16The concept of ignorance in a riskassessment and risk management context

    T. Aven and R. Steen 2010Reliability Engineering &System Safety

    17 Varieties of ignorance A. Abbott 2010 American Sociologist

    18A Stupidity-Based Theory of Organizations M. Alvesson and A. Spicer 2012

    Journal of ManagementStudies

    19The logic of strategic ignorance

    L. McGoey 2012British Journal ofSociology

    20

    Knowledge management and successionplanning in SMEs

    G. Schiuma, S. Durst and S.Wilhelm 2012

    Journal of KnowledgeManagement

    21 Strategic unknowns: Towards a sociology ofignorance L. McGoey 2012 Economy and Society

    22Organizational ignorance: Towards amanagerial perspective on the unknown J. Roberts 2013 Management Learning

    23

    Pluralistic Ignorance and the FlexibilityBias: Understanding and MitigatingFlextime and Flexplace Bias at Work

    C. L. Munsch, C. L.Ridgeway and J. C.Williams 2014 Work and Occupations

    24

    To specialize or to innovate? An internalistaccount of pluralistic ignorance ineconomics R. De Langhe 2014 Synthese

    Fonte: Autores

    4.1.

    Anlise BibliomtricaNessa etapa busca-se conhecer as caractersticas do portflio bibliogrfico querepresenta o fragmento da literatura sobre o tema, segundo Ensslin et al (2014); Lacerda,

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    10/16

    10

    Ensslin e Ensslin (2012). Caractersticas como evoluo das publicaes, peridicos onde osartigos forma publicados, pas de origem podem indicar caractersticas importantes sobre otema de pesquisa e sero extradas dos 24 artigos que compem o portflio.

    4.2.Anlise Sistmica

    No processo do Proknow-C a anlise sistmica configura-se como uma reflexo a partirdo estudo do portflio bibliogrfico. De acordo com Ensslin e Dutra (2014); Valmorbida et al(2014) essa reflexo se d por meio de uma afiliao terica que delimita como ascaractersticas intrnsecas sero analisadas e age como uma lente para que seja definido oolhar que o pesquisador dar para a literatura encontrada.

    Portanto, a afiliao terica adotada nesse trabalho entendida como IgnornciaOrganizacional estabelecida a partir dos conceitos da Ignorncia Pluralista de Allport (1924) eda Teoria da Comparao Social de Festinger (1954). Para essa afiliao terica esse trabalho

    buscar oportunidades de pesquisa a partir das lentes, conforme demostrado na Tabela 4.

    Tabela 4: Lentes para anlise sistmica do portflio bibliogrfico

    Lente Pergunta Base TericaAbordagemconceitual

    Quais conceitos sustentam a IgnornciaOrganizacional?

    J.Harvey (1974); Goodman (1977);Harvey et al (2001)

    TipologiaQuais tipos de ignorncia esto presentes nasorganizaes?

    Harvey (2001); Roberts (2013)

    Fonte Quais as origens da ignorncia nas organizaes? Roberts (2013)

    IdentificaoComo identificar uma situao dentro dasorganizaes?

    Halbesleben e Buckley (2004); Westphale Bednar (2005);

    ConsequnciasQuais as consequncias da ignornciaorganizacional?

    Miller e McFarland (1987); Halbeslebenet al (2005); Kutsch e Hall (2010)

    AesQuais as aes podem ser tomadas pelas empresaspara administrar as situaes de ignornciaorganizacional?

    Roberts (2013)

    Fonte: Autores

    5. RESULTADOS5.1.Anlise Bibliomtrica

    Na primeira anlise foi verificado o nmero de citaes por artigo, conforme Tabela 5.O trabalho de Miller & McFarland (1987) que verificou o efeito da ignorncia pluralista naformao de grupos de estudantes foi observado por diversos pesquisadores, assim comoThompson, Warhurst e Callaghan (2001) que verificaram a conexo entre conhecimento,habilidade e a qualidade dos servios de call-centers. Mas a base para esses trabalhos estsustentada na teoria da comparao social de Festinger (1954) ou no paradoxo de Abilene

    proposto por Harvey (1974). J para o ambiente organizacional os trabalhos de Goodman,(1977) e mais recentemente o de Westphal e Bednar (2005) tiveram destaque entre ospesquisadores.

    Tabela 5: Citaes por artigoAutor Citaes Autor Citaes

    D. T. Miller and C. McFarland 279 L. McGoey 27P. Thompson, C. Warhurst and G.Callaghan 214

    M. Harvey, M. M. Novicevic, M. R.Buckley and J. R. B. Halbesleben 19

    J. B. Harvey 169 J. R. B. Halbesleben and M. R. Buckley 18

    P. S. Goodman 149M. R. Buckley, M. G. Harvey and D. S.Beu 16

    J. D. Westphal and M. K. Bednar 144 J. R. B. Halbesleben, A. R. Wheeler andM. R. Buckley 12

    E. Kutsch and M. Hall 72 T. Aven and R. Steen 11

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    11/16

    11

    R. D. Congleton 57 L. McGoey 9C. G. Cortese 53 J. R. B. Halbesleben and M. R. Buckley 3

    M. Alvesson and A. Spicer 40C. L. Munsch, C. L. Ridgeway and J. C.Williams 1

    J. R. B. Halbesleben, A. R. Wheeler and

    M. R. Buckley 35 G. Schiuma, S. Durst and S. Wilhelm 0M. G. Harvey, M. M. Novicevic, M. R.Buckley and G. R. Ferris

    29J. Roberts 0

    A. Abbott 29 R. De Langhe 0

    Fonte: Autores

    De fato, foram aproximados 30 anos de pesquisa a partir do trabalho seminal de Harvey(1974) at que os pesquisadores associassem o paradoxo de Abilene com a teoria dacomparao social de Festinger (1954) e a ignorncia pluralista de Allport (1924) e

    percebessem que esses conceitos poderiam explicar diversos eventos nas organizaes. Apartir da dcada de 2000, conforme indica a Figura 3, um grupo maior de pesquisadores tem

    dedicado seus esfores para a ignorncia organizacional.

    Figura 3: Evoluo histrica do Portflio Bibliogrfico que representa o fragmento da

    literatura sobre ignorncia organizacional.

    Fonte: Autores

    Outra caracterstica interessante que so 32 pesquisadores envolvidos nas publicaescontidas no portflio bibliogrfico selecionado. Desses, 16 esto no EUA, 7 na Inglaterracomo indica a Tabela 6. Embora pesquisadores isolados estejam voltando sua ateno paraestudos organizacionais envolvendo a ignorncia, um impulso recente parece ter ocorrido como grupo da Oklahoma University, sobre as orientaes de Michael Harvey e Michael RonaldBuckley.

    Tabela 6: Autores por pas do portflio bibliogrfico.Autores por pas

    EUA 16 Liechtenstein 2Inglaterra 7 Canad 1

    Esccia 2 Holanda 1Noruega 2 Itlia 1

    Fonte: dados de pesquisa.

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    12/16

    12

    Os artigos que compem o portflio bibliogrfico foram publicados em diversosperidicos, como podem ser vistos na Figura 4. Observa-se que as publicaes esto divididasnas reas de psicologia, sociologia e negcios. Esse fato justifica a demora temporal para ouso dos conceitos em ambientes organizacionais. As primeiras publicaes que formam a base

    conceitual estavam principalmente na rea da psicologia social.

    Figura 4: Publicaes por peridico do portflio bibliogrfico

    Fonte: Autores

    As caractersticas do portflio apontam para informaes importantes, mas faz-senecessrio ainda uma anlise sistmica para identificao das lentes que definem a

    perspectiva de observao da ignorncia organizacional e apontem oportunidades parapesquisa.

    5.2.

    Anlise Sistmica

    Na abordagem conceitual (lente 1), o objetivo foi verificar os artigos que abordaram aevoluo conceitual da ignorncia e sua aplicao no conceito gerencial. Uma sntese deevoluo pode ser verificada na Figura 5.

    Figura 5: Evoluo conceitual da Ignorncia Organizacional

    Fonte: Autores

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    13/16

    13

    Para a tipologia (lente 2), Harvey, Novicevic, Buckley e Ferris (2001) abordam adiscusso de quatro tipos de ignorncia que podem estar contidas no ambiente organizacional.Alm da ignorncia pluralista definida por Allport (1924) tambm foi abordado a ignorncia

    populista com uma perspectiva social da ignorncia provocada por comportamento em massa.

    Os autores tambm retratam a ignorncia probabilstica explicando a dificuldade deindivduos assimilarem experincias passadas. Por fim, a ignorncia pragmtica que discute asdecises tomadas em ambiente de presso por fatores como complexidade, ambiguidade erestrio de tempo.

    Quanto fonte (lente 3) da ignorncia organizacional, Roberts (2013) discorre sobre aignorncia quando h ausncia do conhecimento. O indivduo pode ter cincia ou no do seudesconhecimento. Tambm h ignorncia com a presena do conhecimento como os erros decognio, por exemplo. Outro caso citado pela autora so as situaes onde h a supresso doconhecimento (ignorncia deliberada), muito discutida nas cincias jurdicas.

    Para a identificao (lente 4) da ignorncia nas organizaes, Halbesleben e Buckley(2004) trazem uma discusso histrica sobre ignorncia e em seguida apresentam diversas

    aplicaes prticas em ambiente organizacional. Westphal e Bednar (2005) apresentamobservaes sobre como a ignorncia pluralista est presente no comportamento de membrosdo conselho de administrao nas empresas.

    Alguns trabalhos relatam as consequncias (lente 5) da ignorncia nas organizaes.Miller e McFarland (1987) trazem uma boa discusso acerca da dissimilaridade provocada

    pela ignorncia onde o indivduo se sente pressionado a concordar com a posio de um grupopara que seja aceito no mesmo. Kutsch e Hall (2009) aborda a influncia da ignornciadeliberada em projetos de risco e Halbesleben, Wheeler e Buckley (2005) abordam ocomportamento tico com estudantes de escolas de negcio.

    Algumas aes (lente 6), que podem tratar tanto da extino quanto da manuteno daignorncia organizacional em favor das empresas so apresentadas por Roberts (2013),embora essas discusses ainda sejam incipientes e necessitem de mais estudos que verifiquemempiricamente a eficincia dessas aes.

    A autora ainda relata que a gesto da ignorncia organizacional pode ser to importantepara as empresas quanto gesto do conhecimento e que ainda no foram estudadas aes quepossam controlar a ignorncia organizacional, como por exemplo, sistemas de mensurao eavaliao de desempenho podem provocar diversas bases de comparao e provocarinfluenciar o comportamento dos indivduos. Auditores e conselheiros podem ter sua opinioinfluenciada fortemente por opinies da mdia assim como o uso ou no de determinadasferramentas gerenciais podem ser influenciados por situao de ignorncia organizacional,seja por ausncia, incompletude ou supresso do conhecimento.

    6. CONIDERAES FINAISA partir da conexo da Ignorncia Pluralista de Allport (1924) e da Teoria da

    Comparao Social de Festinger (1954) foram desenvolvidos os conceitos que levaram Ignorncia Organizacional. Embora estudos relevantes como os de Harvey (1974) eGoodman (1977) tenham trazidos esses conceitos para as discusses de fenmenosorganizacionais, pouco o que se conhece sobre a tipologia, a fonte, a identificao, asconsequncias e as aes das organizaes em relao essa ignorncia. A maioria dostrabalhos apresentam a evoluo conceitual que explicassem os fenmenos de ignorncia.

    Nesse sentido, esse trabalho buscou a formao de um portflio bibliogrfico queevidenciasse o caminho percorrido pelos pesquisadores em relao ao tema e permitisse a

    visualizao de novas oportunidades de pesquisa. Foram selecionados um portflio de 24artigos que fornecem uma base para a discusso sobre a Ignorncia Organizacional.

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    14/16

    14

    Com a anlise bibliomtrica, verificou-se que pesquisadores dos EUA e Inglaterra temapresentado mais trabalhos sobre ignorncia e seus efeitos nas organizaes. Tambm foivisto que a partir da dcada de 2000 as publicaes se tornaram constantes, com destaque parao grupo ligado Universidade de Oklahoma nos EUA.

    A anlise sistmica permitiu formar uma lgica da evoluo conceitual sobre o tema apartir da abordagem conceitual. Essa anlise tambm proporcionou e visualizao de tiposdiferentes de ignorncia nas organizaes como proposto por Harvey et al (2001) alm dadiscusso sobre as fontes de ignorncia organizacional sugerida por Roberts (2013).

    Autores como Halbesleben, Wheeler e Buckley (2007) apresentaram discusso sobre asdificuldades de identificao da ignorncia dentro das organizaes. As consequncias daignorncia organizacional podem ser nocivas ao rendimento da empresa. Entretanto, emalguns casos, algumas aes podem se beneficiar desse prprio fenmeno como discutido notrabalho da Roberts (2013).

    Por fim, pode-se observar que embora o portflio bibliogrfico selecionado a partir domtodo Proknow-C fornea uma base terica que sustente a discusso sobre ignorncia

    organizacional, existem vrias lacunas no explicadas. Poucos trabalhos apresentaramresultados empricos consistentes sobre as consequncias da ignorncia organizacional,embora seja consenso da presena e importncia dentro das organizaes. Isso pode ser

    justificado pela dificuldade dos pesquisadores em identificar o fenmeno e definir mtodos depesquisa como explica Halbesleben, Wheeler e Buckley (2007).

    Verifica-se que o tema discutido predominantemente no campo da psicologia social eda sociologia, o que dificulta ainda mais o avano nos estudos organizacionais. Praticamenteinexistem trabalhos que forneam conhecimento sobre as aes a serem tomadas em relaoao fenmeno.

    Tambm foi percebido que ainda no h respostas para questes como: (i) como aignorncia organizacional altera decises especficas nas organizaes? (ii) qual o impacto daignorncia organizacional na avaliao de desempenho da empresa e das pessoas? (iii)auditores e conselheiros podem ser influenciados pela ignorncia organizacional? (iv) aignorncia organizacional interfere no planejamento estratgico em suas diversas etapas? (v) ono uso, uso indevido ou distoro na utilizao de instrumento de gesto e controleencontram explicao na ignorncia organizacional?

    O portflio bibliogrfico final foi determinado a partir dos parmetros indicados pelosautores para utilizao do processo estruturado do Proknow-C. Esses parmetros foramestruturados a partir da viso de pesquisa dos autores, o que pode ser caracterizado como umalimitao do trabalho. Novos autores podem incluir novas buscas mais abrangentes, assimcomo assumir uma filiao terica divergente a partir desse mesmo portflio. Apesar de uma

    limitao, as restries adotadas nesse trabalho tambm levam a oportunidades futuras depesquisas como apontadas anteriormente.Esse trabalho espera contribuir para que outros pesquisadores entendam a importncia

    desse fenmeno para as organizaes e utilizem um conjunto de trabalhos que possam apoiara evoluo das discusses relacionadas ao tema.

    REFERNCIAS

    Allport, F. (1924). Social Psychology.Houghton-Mifflin.Alvesson, M., & Spicer, A. (2012). A Stupidity-Based Theory of Organizations. Journal of

    Management Studies, pp. 1194-1217.

    Avent, T.; Steen, R. (2010). The concept of ignorance in a risk assessment and riskmanagement context.Reliability Engineering and System Safety, pp. 1117-1122.

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    15/16

    15

    Beckley, M., Harvey, M., & Beu, D. (2000). The Role of Pluralistic Ignorance in thePerception of Unethical Behavior.Journal of Business Ethics, 23, pp. 353-364.

    Chia, R.; Holt R. (2007). Wisdom as learned ignorance. In: Kessler E.; Bailey J. (eds)Handbook of Managerial and Organizational Wisdom. Thousand Oaks, CA: SAGE, 505

    526.Davenport, T.; Prusak, L. (1998). Working Knowledge. Cambridge, MA: Harvard BusinessSchool Press.

    De Cusa, N. (2012). A Douta Ignorncia. Fundao Calouste Gulbekian.

    De Langhe, R. (2014). To specialize or to innovate? An internalist account of pluralisticignorance in economics. Synthese, pp. 2499-2511.

    Dutra, A.; Ripoll-Feliu, V.M.; Fillol, A. G.; Ensslin, S. R.; Ensslin, L. (2014). Theconstruction of knowledge from the scientific literature about the theme seaport

    performance evaluation, International Journal of Productivity and PerformanceManagement, v. 64, iss 2, p. 243 269, 2015. http://dx.doi.org/10.1108/IJPPM-01-2014-

    0015.Ensslin, L., S.R, E., & Dutra, A. (2014). Prokonow-C: um processo para gerao de

    conhecimento e identificao de oportunidades de pesquisa cientfica. (UFSC, Ed.)Pesquisa Avanada em Contabilidade (CCN - 410026).

    Ensslin, S., Ripoll-Feliu, V., Ensslin, L., & Dutra, A. (2014). Performance evaluation tosupport the university management activity.Pensse Journal, pp. 2-17.

    Festinger, L. (1954). A Theory of Social Comparison Processes.Human Relations.Goodman, P. (1977). Social Comparison Processes in Organizations. New Directions in

    Organizational Behavior.Halbesleben, J., & Buckley, M. (2004). Pluralistic ignorance: historical development and

    organizational applications.Journal of Menagement History, 42(ISS 1), pp. 126-138.Halbesleben, J., Wheeler, A., & Buckley, M. (2005). Everybody Else is Doing it, So Why

    Cant We? Pluralistic Ignorance and Business Ethics Education. Journal of BusinessEthics, 56, pp. 385-398.

    Halbesleben, J., Wheeler, A., & Buckley, M. (2007). Understanding pluralistic ignorance inorganizations: application and theory.Journal of Managerial Psychology, pp. 65-83.

    Harvey, J. (1974). The Abilene Paradox: The Management of Agreement. OrganizationalDynamics.

    Harvey, M., Novicevic, M., Buckley, M., & Ferris, G. (2001). A historic perspective onorganizational ignorance.Journal of Managerial Psychology, 16, pp. 449-468.

    Katz, D., & Allport, F. (1931). Student Attitudes. Craftsmen Press, Syracuse, NY.

    Kutsch, E., & Hall, M. (2009). Deliberate ignorance in project risk management.International Journal of Project Management, pp. 245-255.Lacerda, R., Ensslin, L., & Ensslin, S. (2012). Uma anlise bibliomtrica da literatura sobre

    estratgia e avaliao de desempenho. Gesto e Produo (Online), pp. 59-78.McGoey, L. (2012). The logic of strategic ignorance. The British Journal of Sociology, pp.

    553-576.Miller, D., & McFarland, C. (1987). Pluralistic Ignorance: When Similarity is Interpreted as

    Dissimilarity.Journal of Personality and Social Psychology, pp. 298-305.Munsch, C., C.L, R., & Williams, J. (2014). Pluralistic Ignorance and the Flexibility Bias:

    Understanding and Mitigating Flextime and Flexplace Bias at Work. Work andOccupations, pp. 40-62.

    Roberts, J. (2013). Organizational ignorance: Towards a managerial perspective on theunknown.Management Learning, pp. 215-236.

  • 7/26/2019 ignorncia organizacional

    16/16

    16

    Rosa, F., Ensslin, S., Ensslin, L., & Lunkes, R. (2011). Gesto da evidenciao ambiental: umestudo sobre as potencialidades e oportunidades do tema. Eng. Sanitria Ambiental, pp.157-166.

    Schanck, R. (1932). A study of a community and its groups and institutions conceived of as

    behaviors of individual.Psychological Monographs, pp. 1-133.Silva, R. V.; Ensslin, S.R.; Ripoll-Feliu, V.M.; Soler, C.C. (2014). E-government and PublicAccounting Information: Bibliometric and Systemic Analysis. International ResearchJournal of Finance and Economics, v.1, Issue 122, p.76-91.

    Smithson, M. (1989). Ignorance and Uncertainty: Emerging Paradigms. Springer.Thompson, P., Warhurst, C., & Callaghan, G. (2001). Ignorant Theory and Knowledgeable

    Workers: Interrogating the connections between knowledge, skills and Services.Journal ofManagement Studies, pp. 923-942.

    Valmorbida, S. M. I.; Ensslin, S. R.; Ensslin, L.; Ripoll-Feliu, V. M. (2014). Avaliao deDesempenho para Auxlio na Gesto de Universidades Pblicas: Anlise da Literatura paraIdentificao de Oportunidades de Pesquisas. Contabilidade, Gesto e Governana, v. 17,

    p. 4-28.Westphal, J., & Bednar, M. (2005). Pluralistic Ignorance in Corporate Boards and Firms'

    Strategic Persistence in Response to Low Firm Performance. Administrative ScienceQuarterly, pp. 262-298.