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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ FAESPI CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA ANGELO RAFAEL DE SOUSA NETO O PSICÓLOGO ESCOLAR NA ATUAÇÃO E COMPREENSÃO DOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM CAUSADOS PELA DISLEXIA TERESINA PI 2017

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ – FAESPI

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

ANGELO RAFAEL DE SOUSA NETO

O PSICÓLOGO ESCOLAR NA ATUAÇÃO E COMPREENSÃO DOS DISTÚRBIOS

DE APRENDIZAGEM CAUSADOS PELA DISLEXIA

TERESINA – PI

2017

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ANGELO RAFAEL DE SOUSA NETO

O PSICÓLOGO ESCOLAR NA ATUAÇÃO E COMPREENSÃO DOS DISTÚRBIOS

DE APRENDIZAGEM CAUSADOS PELA DISLEXIA

Monografia apresentada a Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia. Orientador: Prof.º Me. Carlos Antônio dos Santos.

TERESINA – PI

2017

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ANGELO RAFAEL DE SOUSA NETO

O PSICÓLOGO ESCOLAR NA ATUAÇÃO E COMPREENSÃO DOS DISTÚRBIOS

DE APRENDIZAGEM CAUSADOS PELA DISLEXIA

Monografia apresentada a Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia.

Aprovado em: 19 /12 / 2017.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________ Prof.º Me. Carlos Antônio dos Santos

Orientador Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

__________________________________________________ Prof.ª Me. Kamila Lopes de Lira

1ª Examinadora Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

__________________________________________________ Prof.º Esp. Aislan Luis da Rocha Leal

2º Examinador Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI

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Dedico aos meus professores, aos colegas de curso, aos meus orientadores, aos meus alunos, amigos e principalmente a toda minha família que foi o alicerçe para que eu chegasse a essa vitória.

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AGRADECIMENTOS

De maneira singela, agradeço a todos que encontrei no meu caminho e que

me ajudaram a realizar essa desafiadora tarefa que culminou na elaboração desse

trabalho monográfico.

Agradeço a Deus, por ter me concebido a graça maravilhosa de estar

concluindo a mais uma difícil etapa acadêmica.

À Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI, que proporciona a

oportunidade de adentrar ao universo das pesquisas científicas.

À minha professora Ruth, ministrante da disciplina TCC, que de maneira

sistemática, norteou a execução deste trabalho.

Ao meu mestre e orientador, professor Carlos Antonio dos Santos, pela

paciência em orientar, corrigir, aconselhar e motivar-me a chegar à reta final.

À minha esposa Josélia e minhas lindas e compreensívas filhas Thirza e

Thafnes, que mesmo na minha ausência estavam sempre presentes, contribuindo

em todos os sentidos para esta feliz realização.

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“Quando leio, somente escuto o que estou lendo e sou incapaz de lembrar a imagem visual da palavra escrita”.

(Albert Einstein).

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RESUMO

A dislexia é um distúrbio de aprendizagem que afeta crianças em todos os níveis educacionais, dificultando a leitura, escrita e a compreensão das palavras, assim sendo, o objetivo principal desta pesquisa foi descrever a atuação do psicólogo escolar diante dos distúrbios disléxicos na aprendizagem dos alunos. Para atingir estas informações foi realizada a presente pesquisa para verificar os diversos conceitos de dislexia, bem como diagnosticar e trabalhar com essas crianças, identificando o papel do psicólogo na escola, e quais métodos para facilitar o aprendizado dessas crianças disléxicas como resultado da atuação dos psicólogos na sala de aula. Para a construção deste trabalho, a metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, com revisão de literatura narrativa ( tendo como fonte de pesquisa: livros, revistas, periódicos e outras fontes), de caráter exploratório com uma abordagem qualitativa, sendo que, foram selecionados trabalhos científicos publicados em português do ano de 2010 a 2017, encontrados com os descritores: Dislexia, Psicólogo Escolar e Dificuldades de Aprendizagem, sendo que os trabalhos científicos selecionados estavam disponíveis em bases de dados Scientific Eletronic Libraey Online (SCIELO) e Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PEPSIC). Os portadores de dislexia podem desenvolver aprendizagens e terem sucesso na vida escolar, principalmente se forem diagnosticados precocemente e receberem orientação adequada. Este distúrbio que existe com frequência em sala de aula, é de difícil diagnóstico, e por este motivo o aluno por ele acometido passa a ser mal interpretado, sofrendo preconceito no ambiente da escola. Com isso se faz necessário que o psicólogo escolar interfira no processo de aprendizagem, orientando esses alunos, pais e também os professores, para que os mesmo fiquem atentos na identificação de crianças disléxicas, evitando assim um diagnóstico tardio, que dificulta uma intervenção para a atuação do psicólogo escolar. Portanto a presente pesquisa será mais uma ferramenta que ensejará a necessária e urgente discussão sobre a importância da diminuição das deficiências no atendimento de alunos com dislexia na aprendizagem no quadro da educação brasileira. O que foi importante ressaltar também nessa pesquisa, diz respeito a ausência de psicólogos escolares nas escolas públicas brasileiras. Essa realidade precisa ser transformada imediatamente nas escolas brasileiras. Palavras-chave: Aprendizagem. Distúrbio. Dislexia. Psicólogo Escolar.

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ABSTRACT

Dyslexia is a learning disorder that affects children at all levels of education, making it difficult to read, write and understand words, so the main objective of this research was to describe the performance of the school psychologist in the face of dyslexic disorders in student learning. To achieve this information, the present research was carried out to verify the different concepts of dyslexia, as well as to diagnose and work with these children, identifying the role of the psychologist in school, and what methods to facilitate the learning of these dyslexic children as a result of the psychologists' performance in the classroom. For the construction of this work, the methodology used was the bibliographical research, with a review of narrative literature (having as a research source: books, journals, periodicals and other sources), with an exploratory character with a qualitative approach. published in Portuguese from the year 2010 to 2017, found with the descriptors: Dyslexia, School Psychologist and Learning Difficulties, and the scientific papers selected were available in Scientific Eletronic Libraey Online (SCIELO) and Periodicals Electronic in Psychology ( PEPSIC). People with dyslexia can develop learning and succeed in school life, especially if they are diagnosed early and given appropriate guidance. This disorder, which often exists in the classroom, is difficult to diagnose, and for this reason, the student he is affected by is misinterpreted, suffering prejudice in the school environment. This makes it necessary for the school psychologist to interfere in the learning process, orienting these students, parents and also teachers, so that they are attentive in the identification of dyslexic children, thus avoiding a late diagnosis, which makes it difficult to intervene of the school psychologist. Therefore, the present research will be a tool that will provide the necessary and urgent discussion about the importance of reducing deficiencies in the care of students with dyslexia in learning within the framework of Brazilian education. What was also important to highlight in this research is the absence of school psychologists in Brazilian public schools. This reality must be transformed immediately into Brazilian schools. Keywords: Learning. Disturb. Dyslexia. School Psychologist.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES E DE TABELAS

Quadro 1 Dados gerais dos artigos pesquisados ............................................ 40

Quadro 2 Tipos de pesquisa e descritores dos artigos pesquisados ............... 42

Quadro 3 Objetivo principal das pesquisas e seus resultados ......................... 44

Quadro 4 Número de Psicólogos escolares atuando por região ...................... 48

Tabela 5 Reflexão teórica referente à formação ............................................. 48

Tabela 6 Reflexão teórica referente a atuação ............................................... 49

Tabela 7 Relato de experiência de estágios ................................................... 49

Tabela 8 Relato de experiências da atuação dos profissionais ...................... 50

Tabela 9 Currículos e estágio em Psicologia Escolar ..................................... 50

Tabela 10 Atuação dos profissionais em Psicologia Escolar ............................ 51

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 10

2 DESENVOLVIMENTO ............................................................................. 16 2.1 METODOLOGIA ...................................................................................... 16

3 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................... 19 3.1 DEFINIÇÃO DE DISLEXIA ...................................................................... 19 3.2 HISTÓRICO ............................................................................................. 20 3.3 CAUSAS DA DISLEXIA ........................................................................... 21 3.4 DISLEXIA COMO DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM ............................ 22 3.4.1 O Psicólogo escolar na aprendizagem do aluno disléxico ................ 26 3.5 O PAPEL DO PSICOLOGO ESCOLAR .................................................. 29 3.6 A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR NUMA PERSPECTIVA

CLÍNICA ...................................................................................................

31 3.7 A AÇÃO DO PSICOLOGO ESCOLAR NA SALA DE AULA .................... 34

4 RESULTADO E DISCUSSÃO ................................................................. 37

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 53

REFERÊNCIAS ....................................................................................... 56

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1 INTRODUÇÃO

Uma experiência fundamental na vida escolar da criança diz respeito à forma

como ela aprende no seu dia a dia, onde cada vez mais a família, a sociedade e os

órgãos responsáveis pela educação estão totalmente comprometidos com crianças

que são precocemente letradas e inseridas num contexto educacional competitivo.

Varias crianças possuem dificuldades em conseguir tomar posse deste código de

linguagem tão facilmente, devido a distúrbios que muitas vezes não são detectados

em sala de aula durante o processo de ensino aprendizagem.

Este trabalho, ora apresentado, relatou que crianças que possuem esta falha

em aprender e também dificuldades para identificar a leitura e a escrita possuem

uma grande possibilidade de serem disléxicas, conseguindo até não serem

percebidas em meio a dificuldades de apropriação da linguagem.

Através de um vasto conhecimento e uma análise bem aprofundada, séria,

pode-se, então, identificar e diagnosticar a dislexia como dificuldade de

aprendizagem problematizando: De qual forma o profissional psicólogo, dentro do

ambiente escolar pode agir para identificar a dislexia e intervir no cotidiano da

escola, tomando decisões sobre como deverá proceder para direcionar o

aprendizado do aluno com distúrbio de dislexia.

O objetivo geral desta pesquisa foi analisar na literatura a atuação do

psicólogo escolar nos processos relacionados às crianças com disléxicas, e como

objetivos específicos: averiguar a maneira como a literatura psicológica educacional

discorre sobre a dislexia e as dificuldades de aprendizagem, rever as estratégias,

técnicas e métodos que contribuem para a diminuição das dificuldades de

aprendizado das crianças onde o psicólogo escolar deverá atuar e agir no ambiente

escolar e, ainda, averiguar na literatura quais os principais fatores associados com a

dificuldade de aprendizagem em crianças disléxicas.

As crianças acabam rotuladas no seu meio de convivência o qual poderia

ser um ambiente que trouxesse paz, alegria, acolhimento e aceitação, como a

escola. Com o desconhecimento da dislexia, os professores associam-na como

dificuldades na leitura e escrita, má alfabetização, desatenção, baixa condição

socioeconômica, desmotivação, desinteresse, evasão escolar. Porém, baseado no

que foi apresentado até aqui, se faz necessário uma reflexão, análise, ajustes,

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mudanças de pensamento sobre o processo de aprendizagem da criança disléxica

dentro de uma perspectiva pedagógica.

A partir desta compreensão sobre a dificuldade de aprendizagem

relacionada à dislexia, percebe-se, de maneira bem profunda, clara e com

significado, as causas, sintomas, tratamentos, metodologias psicopedagógicas e

como a escola deve participar do processo de atendimento ao disléxico. Porém,

crianças com dislexia possuem inteligência, são habilidosos que surpreendem,

todavia tem problemas com a linguagem. Mas a dislexia geralmente é vista como

“uma forma de descompromisso da criança, que deseja assim mascar o seu

problema”. (MASSI, 2007, p. 18).

Quando se analisa e se estuda, de forma séria a dislexia, então passa-se a

entender várias situações que contribuem para que as crianças tenham dificuldades

em entender e compreender a linguagem, como por exemplo, o péssimo

funcionamento na armazenagem de informações e como acontece esse processo na

região cerebral. Dentre outros processos que podem ser identificados como

sintomas de um estado disléxico.

Para Santos (2011), dentre todos os transtornos de aprendizagem que

atingem crianças e adolescentes, a dislexia é, sem dúvida, o mais pesquisado e

difundido. Nos últimos anos, milhares de pesquisas foram desenvolvidas a esse

respeito. Como resultado, existem hoje dados robustos sobre a natureza, etiologia,

diagnóstico, formas de tratamento e evolução desse distúrbio que afeta a vida de

tantos indivíduos em todo o mundo.

Apesar disso, “a sensação que se tem é que ainda há dificuldade em se lidar

adequadamente com esse transtorno, principalmente no contexto escolar. Como

consequência, não é incomum se ter de um lado o professor, que se sente frustrado

e impotente por não saber lidar adequadamente com essa problemática, e de outro,

o aprendente e outros profissionais, como é o caso do psicólogo que atua no

ambiente da escola, que vivenciam o constante sentimento de apreensão no curso

do seu desenvolvimento” (ZORZI, 2008).

Várias são as explicações para tal realidade, porém chama-se a atenção

para o desconhecimento sobre o transtorno e a ideia errônea de que a intervenção

na dislexia é objeto apenas daqueles que atuam na clínica, ou seja, os profissionais

da psicopedagogia e da psicologia.

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Diante disso, Pennington (2014), afirma que há necessidade de que o

profissional da psicologia da educação adote uma nova postura em relação ao

processo ensino-aprendizagem das crianças com dificuldade na leitura e escrita,

secundárias (ou não) à dislexia. Tal postura exige capacidade de identificar

precocemente aquelas que não estão evoluindo conforme o esperado, avaliar

fatores de risco para o transtorno e elaborar e executar trabalho interventivo voltado

para as dificuldades encontradas.

Isso pressupõe, entre outras coisas, conhecimento sobre os aspectos que

envolvem a aprendizagem da leitura/escrita e seus transtornos; domínio de

diferentes métodos e/ou abordagens de ensino e capacidade de sistematização do

processo interventivo. Com isso, o psicólogo escolar terá meios para analisar a

evolução do seu aluno-paciente e poderá, quando necessário, encaminhar com mais

segurança a criança que provavelmente possua o distúrbio de dislexia para que seja

feita uma avaliação e investigação no contexto interdisciplinar para diagnóstico

diferencial.

Nessa perspectiva, “o psicólogo escolar e o professor deixam de ser meros

expectadores e passam a serem sujeitos atuantes, não só no processo de

identificação e diagnóstico da dislexia, mas também na sua intervenção, que será

necessária durante todo o processo de escolarização formal do indivíduo”

(TOPCZEWSKI, 2011, p. 71).

É preciso questionar as instituições de ensino que promovem a inclusão dos

alunos com dislexia e observar se realmente estas instituições colaboram de forma

incentivadora, para que estas dificuldades possam ser ultrapassadas, possibilitando

situações para que tudo isso possa acontecer. Embora se tenha consciência das

complexidades de fatores decorrentes das dificuldades de aprendizagem, pode-se

afirma que serenidade, organização, responsabilidade, trabalho e empenho da

equipe escolar ajudam a enfrentar os desafios de combate aos distúrbios da dislexia.

O psicólogo escolar é um colaborador dos educadores, auxiliando-os a

focarem, não a dificuldade, porém oferecendo situações que ajudem a superar os

limites e o desenrolar das deficiências. Os profissionais da educação, que estão

totalmente envolvidos, família, precisam estar e serem mais sensíveis com as

crianças que possuem dificuldades em aprender, e, no caso exposto, a dislexia, para

que venham “compreender e aceitar a forma de ser da cada criança, sem cobranças

comparativas entre elas” (IANHEZ; NICO, 2012, p. 76).

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Percebe-se que, a sociedade e as instituições de ensino procuram

estabelecer formas e moldes, impossível de serem alcançados pelas crianças, pois

negligenciam o fato de que existem ritmos diferentes de se aprender e pela falta de

aplicação de métodos adequados para acompanhar os mais variados casos de

Dislexia que podem se manifestar.

Devido a toda esta falta de informação relacionada ao distúrbio de dislexia, o

profissional psicólogo escolar deva dar valor às potencialidades que as crianças

possuem no processo de alfabetização bem como promover a autoestima delas e

dar oportunidades para que o processo ensino-aprendizagem possa se concretizar.

É importante salientar que a “Psicologia no contexto da escola é uma área

da Psicologia Aplicada que tem proporcionado diversas formas de refletir,

relacionadas à identificação de profissionais que atuam nessa área, especificamente

sobre ser necessário se redefinir qual a função do psicólogo no contexto escolar

bem como se rever a sua formação na academia” (SANTOS, 2011, p. 21).

O início desta modalidade de atuação na área educacional esteve ligada à

psicometria, principalmente em se aplicar testes de cunho psicológico, onde

predominou uma visão clínica na atuação do psicólogo escolar voltado para o

diagnóstico dos problemas de aprendizagem, enfatizando os fatores cognitivos do

indivíduo em oposição às causas ligadas aos fatores institucionais, sociais e

pedagógicos.

Andrade (2009) desenvolveu pesquisa relacionada à maneira de atuar do

psicólogo no contexto da escola, no Brasil, onde observou a impossibilidade de se

ter um perfil do mesmo considerando os diversos ramos teóricos, afirmando que há

um grande distanciamento do papel que deva exercer o psicólogo escolar com as

necessidades reais e urgentes, a que se chama de demanda que acontecem no dia

a dia da do ambiente escolar. O autor aponta, também, que se faz necessário

realmente colocar este profissional, de forma ativa, com base na realidade que exige

a educação do país.

Algumas pesquisas mostram que “o psicólogo escolar não admite as

possibilidades de qualificação na sua área, e a qualidade da informação recebida na

academia é importante para que sua ação como profissional de Psicologia atenda às

necessidades, afirmando ser necessário que órgãos de Ensino Superior, deem

prioridade bem como direção a seus trabalhos objetivando produzir conhecimento e

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dar instrumentos para que seus alunos se apropriem de competências e habilidades

técnicas e pessoais”. (FONTANA, 2011).

A urgente necessidade de definir a atuação profissional psicólogo escolar e

a definição de sua atuação nos processos de ensino-aprendizagem de alunos

disléxicos, encontra-se assim na dificuldade em delinear um perfil de atuação deste

profissional, bem como de articular a prática à teoria são questões discutidas por

vários pesquisadores no campo da psicologia na escola.

Segundo Novaes (2012), a ausência de relação entre teoria e prática tem

sido interligada às deficiências na formação do profissional, que não possui uma

formação consistente. Ele então propõe a introdução do ensino de pesquisa no

contexto da graduação universitária como requisito essencial à formação do

psicólogo escolar.

No entendimento de Zórzi (2008), para os psicólogos o aprendizado objetiva

o desenvolvimento da cognição, intelectualidade, afetividade, aspecto social bem

como aperfeiçoamento da capacidade do ser humano, pois cada pessoa possui seu

tempo e forma que ajudará a desenvolver todos os aspectos necessários. Portanto,

o psicólogo escolar deva ver o aprendente de forma respeitosa e deva crer que são

capazes de desenvolver-se, dentro do seu tempo e limite.

O psicólogo, para realizar um trabalho de maneira adequada, “precisa

estudar cautelosamente as relações que se dão no ambiente escolar, para entender

esta realidade, e a partir destes conhecimentos, procurar intervir de modo a

contribuir para a solução dos problemas existentes na escola, utilizando como base

o contexto escolar e da comunidade, ou seja, o psicólogo não pode olhar para

apenas uma queixa do professor, mas ter uma visão mais ampla possível do todo e

assim compreender as partes do todo e como elas se relacionam” (BRANDÃO,

2015).

Além de contribuir para a melhoria das relações entre os profissionais e

entre os professores e educandos, o profissional psicólogo que atua no ambiente

escolar tem que ser efetiva sua presença e participação, para a identificação das

dificuldades tanto de educadores quanto dos educandos, para que a partir delas ele

possa criar estratégias para a superação das mesmas.

Diante do exposto, é importante a realização da presente pesquisa para os

profissionais de psicologia escolar, podendo assim esta discussão trazer elementos

para um possível aprofundamento do estudo desses problemas aqui levantados,

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pois se está ciente de que na maioria das escolas a atuação deste profissional é

imprescindível para se ter um olhar mais profundo na identificação de alunos

portadores de Dislexia. A identificação dessas crianças contribuirá para que se tenha

uma escola mais cuidadora e justa com sua clientela no que tange à potencialização

do aprendizado.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 METODOLOGIA

Para a construção deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica,

com revisão de literatura narrativa ( tendo como fonte de pesquisa: livros, revistas,

periódicos e outras fontes), de caráter exploratório com uma abordagem qualitativa.

Foram revisadas obras que retratam o cotidiano escolar, objetivando

proporcionar auxílio ao professor a superar as dificuldades encontradas em sala de

aula, já que são muitos os desafios presentes nas práticas docentes no que diz

respeito ao aspecto ensinar e aprender. Também, buscou-se “compreender melhor o

papel do psicólogo escolar e as contribuições que ele pode dar ao aprendizado e à

superação do aluno frente à dislexia, visando, com isso, uma prática educativa

eficaz, que promova o desenvolvimento das aprendizagens do aluno disléxico e,

assim, ter um aprendizado prazeroso e não excludente”. (DEBRAY, 2009).

A revisão bibliográfica, ou revisão da literatura, é a análise crítica, meticulosa

e ampla das publicações correntes em uma determinada área do conhecimento. A

pesquisa bibliográfica procura explicar e discutir um tema com base em referências

teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos e outros. Busca também, conhecer

e analisar conteúdos científicos sobre determinado tema. (GIL, 2010, p. 31).

A pesquisa bibliográfica é um processo importantíssimo no que diz respeito

à pesquisa de cunho científico, pois vai influenciar os outros aspectos do trabalho

científico, tendo o referencial teórico como o embasamento para o mesmo. Para

Andrade (2009),

Podemos somar a este acervo as consultas a bases de dados, periódicos e artigos indexados com o objetivo de enriquecer a pesquisa. Este tipo de pesquisa tem como finalidade colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto. (ANDRADE, 2009, p. 67).

Neste aspecto, conforme acima citado, a pesquisa de cunho bibliográfico

possibilita com que seja examinado e observado uma temática com uma nova visão,

onde se pode chegar a fins desafiadores com aspectos inovadores. Gil (2010),

completa dizendo que a ideia da pesquisa é de induzir o contato pessoal do aluno

com as teorias, por meio da leitura, levando à interpretação própria.

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Neste estudo adotou-se a revisão narrativa que é um dos tipos de revisão de

literatura, pela possibilidade de acesso à experiências de autores que já

pesquisaram sobre o assunto. Segundo Andrade (2009), a revisão narrativa não é

imparcial porque permite o relato de outros trabalhos, a partir da compreensão do

pesquisador sobre como os outros fizeram.

A revisão literária é descrita por Gil (2010) como sendo uma ação sobre

material já produzido, respeitando e seguindo os seguintes itens:

• Fazer um histórico sobre o tema.

• Atualizar-se sobre o tema escolhido.

• Levantar contradições sobre o tema.

• Evitar repetição de trabalhos já realizados.

Os dados foram levantados considerando que a função do psicólogo na sala

de aula é de fundamental importância para a construção da aprendizagem para o

aluno com problema de dificuldades de aprendizagem, e no contexto, o distúrbio de

dislexia, podendo contribuir para que o professor possa descobrir se um aluno

precisa de ajuda.

Fez-se uma pesquisa, onde foi realizado um levantamento bibliográfico num

período de 08 (oito) anos, utilizando livros de autores com temas relacionados às

dificuldades específicas de aprendizagem, os sinais e características da dislexia, nos

quais se investigou a respeito de: Dificuldades de Aprendizagem; Histórico da

Dislexia; Psicologia Escolar, Família e Atuação do Psicólogo; Trabalho do Psicólogo

na Escola e Atuação Frente à Dislexia.

Os trabalhos científicos selecionados estavam disponíveis em base de dados

como: Scientific Eletronic Libraey Online (SCIELO) e Periódicos Eletrônicos em

Psicologia (PEPSIC) e revistas de institutos de graduação e pós-graduação. Ao todo

foram encontrados 180 estudos científicos, porém após uma leitura dos títulos e

resumos dos mesmos, foram selecionados quinze (quinze) trabalhos científicos,

sendo que todos são artigos apresentados em seminários e publicados em revistas,

todos abordando a temática investigada.

A forma como os dados foram analisados envolveu uma análise de conteúdo

que, após uma leitura flutuante e aprofundada, estabeleceu-se três categorias com

base nos conteúdos recorrentes trazidos pelos autores, as quais são: histórico da

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dislexia, o psicólogo escolar na aprendizagem do aluno disléxico e a atuação do

psicólogo escolar.

19

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 DEFINIÇÃO DE DISLEXIA

O distúrbio de dislexia preocupa os educadores no ambiente escolar devido

ao fato de que acontece bastante com os alunos que as frequentam. Como

consequência, Em decorrência disso tem-se aprofundado bastante em assuntos que

tratem sobre a dislexia e suas consequências no desenvolvimento de distúrbios que

afetam o processo de aprendizagem das crianças na escola.

Segundo Santos (2011), a dislexia do grego dys, (mal) e lexis (palavra frase)

é, em sentido amplo, qualquer dificuldade que se verifique no aprendizado de leitura

e da escrita. (p. 3). Para compreendermos a dislexia, verificamos que a razão do

problema encontra-se na codificação e decodificação da linguagem escrita,

resultando em uma linguagem incompreensiva. Neste sentido, Topczewski (2011)

faz a relação entre a leitura e escrita: “[...] A dislexia é definida como dificuldade

relacionada à aquisição e ao desenvolvimento da leitura. Atualmente o sentido é

mais abrangente, pois considera a dislexia relacionada também à escrita”.

A dislexia traz dificuldade para ler e escrever, pronunciar e soletrar, e, esta

dificuldade de aprendizagem, constituindo-se, portanto, em muitas alterações, como

citado acima.

Para Villamarin (2014),

Em sentido amplo, essa síndrome se caracteriza por dificuldade para pronunciar, ler ou escrever corretamente as palavras, porém em sentido estrito. Pode-se concluir então que a dislexia possui diversas consequências que acarretam situações prejudiciais a vida do disléxico. (VILLAMARIN, 2014, p. 203).

Já na definição apontada por Debray (2009),

A dislexia é uma dificuldade duradoura na aprendizagem da leitura e a aquisição de seu automatismo, em crianças normalmente inteligentes, normalmente escolarizadas e isentas de distúrbios sensoriais. Estima-se a sua frequência entre 5% a 10% dos escolares. (DEBRAY, 2009, p. 89).

Conforme afirmação acima, a dislexia tem se constituído em objeto de

estudo em diversos países, recebendo outras nomenclaturas no decorrer dos anos

tais como: dificuldade de aprendizagem, dificuldade de leitura e escrita, problemas

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de aprendizagem, dislexia da evolução, dislexia do desenvolvimento, dislexia

especifica da evolução ou dislexias caracterizadas pelo uso da escrita.

Em relação às dificuldades de aprendizagem, Condermarin e Blomquist

(2014), ressaltam:

O termo dislexia se aplica a uma situação na qual uma criança é identificada como incapaz de ler com a mesma com facilidade com a qual leem seus coleguinhas, apesar de sua inteligência ser normal, como também a saúde e órgãos sensoriais intactos, liberdade emocional motivação e incentivos normais, bem como instrução adequada. (CONDERMARIN, BLOMQUIST, 2014, p. 21).

Portanto, o distúrbio de aprendizagem relacionado à dislexia, leva o

aprendente (aluno) a possuir grande dificuldade de conseguir ler o que está escrito e

consequentemente não consegue escrever. Inicialmente, estes problemas

acontecem no período da alfabetização, dificultando o aluno a ler e escrever, sendo

confundido com alguém que não foi ou está sendo alfabetizado corretamente.

3.2 HISTÓRICO

Consta nos estudos de Ajuriaguerra (2009) que esse distúrbio foi identificado

em 1881 por Berklan e a nomenclatura “Dislexia” foi criada em 1887 pelo

oftalmologista Rudolf Berlin Stuttgart, na Alemanha, ao atender um jovem que tinha

dificuldades de aprendizagem, mas o nível de inteligência e habilidades intelectuais

eram normais como todos os outros jovens.

Pringle Morgan em 1896, físico Britânico de Seaford, identifica e estuda a

dificuldade de assimilação da aprendizagem, classificando-o com o seguinte titulo:

cegueira congênita da palavra, divulgando o resultado no British Medical Journal. O

artigo retratava a dificuldade de um menino de 14 anos, que não conseguia se

apropriar da escrita, pois naquela época descobriu-se que o mesmo era uma criança

dotada de clara inteligência, executando as mais variadas atividades como todas as

crianças de sua idade na época. (MASSI, 2007, p. 98).

Lanhez e Nico (2002) destacam que:

Em 1917, James Hishelwood citou a dislexia mais uma vez, quando da publicação de sua monografia “Cegueira Verbal Congênita”. Pesquisando adultos afásicos (pessoas com problemas de leitura e escrita, advindos de lesão cerebral), Hishelwood encontrou distúrbios infantis com sintomas parecidos, baseado nestas semelhanças, sugeriu que esses problemas

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fossem orgânicos e possivelmente hereditários. (IANHEZ; NICO, 2002, p. 35).

Segundo ainda Ajuriaguerra (2009), Samuel T. Othon, neurologista que

trabalhou com vitimas de traumatismo, foi um dos primeiros a estudar a dislexia. No

ano de 1925, o neurologista associou o caso de um menino que tinha sintomas

semelhantes a de uma pessoa que foi vitima de traumatismo e não sabia ler. Através

de pesquisas e estudos, Othon conclui que traumas neurológicos não tinham relação

alguma com a deficiência de aprendizagem. Othon garante que a visão não é

responsável pelas dificuldades de aprendizagem e, sim, a dificuldade se dá pela

lateralização cerebral, ou seja, dominância cerebral.

Isto é explicado pelos autores Condemarin e Blomquist (2014), quando

afirmam que a escrita em espelho seria explicada por uma luta entre dois

hemisférios, em função da predominância da lateralidade. “Também postulou a

mesma explicação para o atraso na linguagem e gagueira” (p. 29). Othon criou o

termo Strephosymbolia, significando “símbolo invertido”, para caracterizar a dislexia.

Foi no início do século vinte que educadores (quer psicólogos e professores)

não ligavam muito para o problema de aprendizagem de dislexia, os médicos

também não davam crédito aos acontecimentos em sala de aula, o que veio a

dificultar bastante para que os alunos fossem tratados, ajudados.

3.3 CAUSAS DA DISLEXIA

Por traz da dislexia, o distúrbio implica em causas que resultam na ausência

da compreensão da linguagem. Topczewski (2011, p. 102) ressalta que “há

publicações citando a dislexia como sendo determinada por alterações dos

cromossomos 2, 6 e 15”. O momento da divisão celular resultou na possível

alteração, nisto é comprovado uma das possíveis causas da dislexia.

Outra causa existente acontece no campo cerebral, “já que para ler precisa-

se de integridade funcional de dois sistemas posteriores principais do hemisfério

esquerdo-circuito dorsal, circuito ventral, quando um desses posteriores é

interrompido, uma pode ter problema em quaisquer das tarefas que envolvem o ato

de ler e escrever”. (CIASCA; CAMPELLINI; TONELOTTO, 2013, p. 58).

Contudo, é justificado que se cada uma das duas partes do cérebro sofrer

interrupções na conexão cerebral, as conseqüências afetam a aprendizagem do

22

individuo. A dislexia pode ser herdada geneticamente, ou seja, se há casos de

disléxicos na família, o individuo poderá ter o transtorno. Pennigton (2014) declara

que as causas da tal disfunção neurológica podem ser genéticas e adquiridas.

Dentro desta perspectiva, a dislexia pode ocorrer também durante a

gestação devido a extensas doses de testosterona no feto (hormônio masculino).

Existem os seguintes tipos de dislexia:

• Dislexia adquirida: pode ser adquirida através de um acidente vascular

cerebral, lesão cerebral e traumatismo de crânio.

• Dislexia Congênita ou Inata: de causa hereditária, o individuo já nasce

com o distúrbio.

• Dislexia ocasional: caracteriza-se por alteração no sistema nervoso, TPM,

hipertensão e sobrecarga de atividades. Apesar das dificuldades

estabelecidas diante da defasagem do exercício da leitura e escrita e sua

assimilação, a deficiência não afeta a inteligência. Dentro deste contexto,

as causas da dislexia podem ser uma incógnita e seus sintomas podem

ser transitórios, assim a dislexia vem sendo (in) definida uma vez que

suas causas são desconhecidas e seus sintomas temporários,

acometendo crianças somente enquanto estariam aprendendo a ler e a

escrever. (MASSI, 2007, p. 44).

A dislexia pode ocorrer devido à complexidade durante o parto, e também

através do desequilíbrio alimentar resultante de uma alimentação deficiente o que

afeta o sistema nervoso central, em suma, comprometendo a aprendizagem e o

desenvolvimento intelectual da criança. “O processo neuropsicológico que a criança

atravessa para adquirir a linguagem sua compreensão e coordenação pode ser

impedido devido ao mau funcionamento ou atraso na maturação e perturbação nos

neurônios” (ZORZI, 2008, p. 89).

3.4 DISLEXIA COMO DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM

Geralmente, qualquer distúrbio de linguagem apresentado pelo aluno já

acredita-se que seja o distúrbio de dislexia. A Associação Brasileira de Dislexia -

ABD (2014) caracteriza essa deficiência como:

➢ Dislexia é uma falta de habilidade na linguagem que se reflete na leitura.

23

➢ Dislexia não é causada por uma baixa de inteligência. Na verdade, há

uma lacuna inesperada entre a habilidade de aprendizagem e o sucesso

escolar. O problema não é comportamental, psicológico, de motivação ou

social.

➢ Dislexia não é uma doença, é um funcionamento peculiar do cérebro para

o processamento da linguagem. As atuais pesquisas, obtidas através de

exames por imagens do cérebro, sugerem que os disléxicos processam

as informações de um modo diferente. Pessoas disléxicas são únicas;

cada uma com suas características, habilidades e inabilidades próprias.

Segundo Tavares (2008) as crianças disléxicas confundem visualmente o “p”

e “b” ou “d” e “q”, eles escrevem de maneira espelhada. Seu pior desempenho é nas

disciplinas de Português e Redação. A dificuldade de interpretar textos atrapalha

também o aprendizado de matérias que exigem leitura, como história e geografia.

Para Martins (2009), os diagnósticos que ocorrem de forma excludente,

eliminando outros problemas que possam causar dificuldade de aprendizagem,

precisam ser realizados por uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos,

fonoaudiólogos, psicopedagogos e neurologistas, pois, o quanto antes a dislexia for

diagnosticada, mais cedo esta criança poderá ser tratada adequadamente, a fim

minimizar-nos o problema, visto que dislexia não tem cura.

Segundo Moura (2013) essa dificuldade geralmente é mais perceptível no

inicio da alfabetização e facilmente é confundida com inteligência baixa ou

desmotivação, tal dificuldade é caracterizada pela dificuldade em ler, soletrar,

compreender um texto, reconhecer fonemas, exercer tarefas relacionadas a

coordenação motora. A dispersão é a primeira característica a ser percebida entre a

criança disléxica.

Num processo de avaliação de contexto psicopedagógico é importante que o

profissional responsável esteja atento a alguns aspectos, como histórico familiar, tipo

de escrita, tipo de leitura, sinais neurológicos, aspectos emocionais. No estudo do

histórico individual da criança com dificuldade de aprendizagem relacionada à

dislexia, é fundamental observar se existe um membro da família, que seja próximo

e que tenha dificuldade com a linguagem, teve dificuldade no parto, foi ou é portador

de doença infectocontagiosa, se teve algum atraso na aquisição da linguagem,

atraso na locomoção ou problemas de lateralidade.

24

Quanto à leitura, Topczewski (2011) afirma que crianças disléxicas

apresentam leitura lenta, trabalhosa, feita pausadamente, trazendo dificuldades na

interpretação do texto, dificuldade de identificação das linhas na hora da leitura,

necessitando assim de uma forma diferenciada de cuidar, acompanhando de

maneira mais cuidadosa, exigindo dos variados profissionais, professores e da

equipe multidisciplinar um acompanhamento técnico e especializado.

Existem diversas características na escrita de uma criança disléxica, como

por exemplo: ao escrever as letras, uma por uma, fazendo confusão na ordenação

das letras, omitindo palavras pequenas, tendo dificuldade em lembrar as formas das

letras, dificuldade em copiar e reescrever, confusão entre direita e esquerda, acima

e abaixo.

Figueira (2012) diz que para aprender é necessário o surgimento de

estratégias que permitam associar uma determinada forma escrita, nova ou já

conhecida, à forma oral correspondente e parte (ou não) do vocabulário da criança.

Essas etapas não são obrigatórias e não ocorrem de modo sequencial.

A criança disléxica apresenta uma dificuldade significativa para compreender

a estrutura fonológica, possui problemas para compreender correspondência entre

os fonemas e as letras que os representam. Não há nenhum método único para se

trabalhar com os alunos disléxicos, assim é necessária depois de diagnosticada a

dislexia, que o Educador pesquise e estude diversos métodos, que será eficaz à

criança.

Segundo estudos da Sociedade Brasileira de Dislexia - ABD na sua

Avaliação Escolar para Alunos Disléxicos (2008),

A variedade de técnicas oferecidas hoje para o desenvolvimento da aprendizagem do disléxico é variada, pois assim ele precisa: olhar atentamente, ouvir atentamente, atentar aos movimentos da mão quando escreve e prestar atenção aos movimentos da boca quando fala. Assim sendo, a criança disléxica associará a forma escrita de uma letra tanto com seu som como com os movimentos falar – ouvir – ler - escrever são atividades da linguagem. Falar e ouvir são atividades com fundamentos biológicos. (AVALIAÇÃO ESCOLAR PARA ALUNOS DISLÉXICOS, 2008).

Segundo Zorzi (2008), o ensino de rotinas como ler e identificar as horas

para um disléxico é mais eficaz o uso de um relógio digital, assim a aprendizagem

da criança é bem mais construtiva do que se usar materiais mais complexos como

25

gravador, diante disso, se ele ouvir o material em sala de aula e fazer o uso desse

material, o aluno poderá montar sua própria versão do material de alfabetização.

Para alfabetizar um disléxico “é necessário que o Educador use diversos

recursos como: quebra-cabeças, labirintos, alfabeto embaralhado e outros. No início

necessita de grandes espaços para desenhar as letras. É necessário que o

professor trate o aluno disléxico como qualquer outra criança, pois todos têm uma

forma diferenciada de aprender e o aluno portador de dislexia também tem,

certifique-se que a linguagem apresentada ao aluno seja clara e que foi

eficientemente compreendida”. (BRANDÃO, 2015, p. 154).

O disléxico necessita escutar de forma atenta, olhar atentamente, prestar

muita atenção no movimento das mãos quando escreve e no movimento que se faz

com a boca quando se está falando. A pessoa com dislexia associa a forma escrita

de uma letra tanto com seu som com os movimentos.

Segundo Davis (2014) para compensar a dificuldade, as crianças se utilizam

da linguagem oral e visual. Dessa forma, os métodos multissensorias, indicados

para crianças mais velhas que apresentam fracasso escolar e métodos fônicos e

para crianças no início da alfabetização, privilegiam o uso de visão, audição e tato.

O método mais adequado tem sido o fonético e montagem de cartilhas de

alfabetização apropriada para a criança disléxica.

O sucesso da aprendizagem da criança disléxica “está baseado em

aprender pelo uso de todos os sentidos, fazendo a combinação da visão, audição e

o tato. O uso da repetição do aprendente coopera para que seja memorizado o

conteúdo, é importante a criança mesma ouça sua voz durante a aprendizagem.

Não se deve fazer lição no quadro de giz para a criança com dislexia, para ela é

sempre um problema. Não usar cor vermelha de caneta vermelha para corrigir falhas

que se apresentem nas tarefas nem faça críticas os erros apresentados, em alta

voz, para toda a sala ouvir. O Educador também deve abusar de cores quando

escrever na lousa”. (MASSI, 2007).

O disléxico é tão inteligente quanto ou até mesmo mais que os outros

aprendentes, mas têm dificuldades de percepção de origem neurológica, ele

necessita de variedade, flexibilidade, paciência e tolerância por parte do professor,

ele não comete os seus erros por estar disperso.

26

3.4.1 O psicólogo escolar na aprendizagem do aluno disléxico Segundo Shaywitz (2013) o psicólogo e o professor precisam trabalhar juntos

para que a criança possa ter seu problema minimizado. Diante disso, há

necessidade de que o profissional da educação adote uma nova postura em relação

ao processo ensino-aprendizagem das crianças com dificuldade na leitura e escrita.

Tal postura exige capacidade de identificar precocemente aquelas que não estão

evoluindo conforme o esperado, avaliar fatores de risco para o transtorno e elaborar

e executar trabalho interventivo voltado para as dificuldades encontradas.

Desta forma, o Conselho Federal de Psicologia, em sua Resolução

013/2007, dispõe sobre possibilidades do psicólogo com especialização em

psicopedagogia desenvolver suas atividades na escola em parceria com a

comunidade escolar. Dentre estas atividades, se encontram:

VIII Psicólogo especialista – em Psicopedagogia Atua na investigação e intervenção nos processos de aprendizagem de habilidades e conteúdos acadêmicos. Busca a compreensão dos processos cognitivos, emocionais e motivacionais, integrados e contextualizados na dimensão social e cultural onde ocorrem. Trabalha para articular significado dos conteúdos veiculados no processo de ensino, com o sujeito que aprende na sua singularidade e na sua inserção no mundo cultural e social concreto. Na relação com o aluno, o profissional estabelece uma investigação que permite levantar uma série de hipóteses indicadoras das estratégias capazes de criar a intervenção que facilite uma vinculação satisfatória ou mais adequada para a aprendizagem. Ao lado desse aspecto, o profissional também trabalha a postura, a disponibilidade e a relação com a aprendizagem, afim de que o aluno torne-se o agente de seu processo, aproprie-se do seu saber, alcançando autonomia e independência para construir seu conhecimento e exercitar-se na tarefa de uma correta

autovalorização. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA-CFP.

RESOLUÇÃO 013/2007. p. 28).

Nessa perspectiva, o professor, o psicólogo ou o psicopedagogo deixam de

ser meros expectadores e passam a ser sujeitos atuantes, não só no processo de

identificação e diagnóstico da dislexia, mas também na sua intervenção, que

será necessária durante todo o processo de escolarização formal do indivíduo.

(SHAYWITZ, 2013).

A intervenção psicopedagógica deve ocorrer quando o profissional se sente

seguro teoricamente para praticar atividades que atuem diretamente nas

dificuldades dos educandos disléxicos, disgráficos e disortográficos. A intervenção

psicopedagógica é uma capacidade, advinda da experiência, de fazer algo com

eficiência. Em geral, é um período em que alunos deixam, em algumas horas do seu

27

tempo regular de estudo escolar, na própria instituição de ensino, a sala de aula e

passam a receber treinamento específico para a superação de suas dificuldades.

Dificuldade de aprendizagem “não se refere exclusivamente a um único

fator, mas sim a vários, que direta e indiretamente afetam a aprendizagem, indo

desde problemas neurológicos, psicológicos, como também a maneira como cada

um aprende, sendo assim as dificuldades estão ligadas às esferas cognitivas,

afetivas, sócio-histórico-cultural”. (SHAYWITZ, 2013, pag. 213).

Ainda na visão de Shaywitz,

Dificuldade de Aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades na aquisição e usa da escuta, fala escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Esses transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se devido à disfunção do sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto com as dificuldades de aprendizagem, problemas nas condutas e autorregulação percepção social e integração social, mas não constituem por si próprias, uma dificuldade de aprendizagem. (SHAYWITZ, 2013, p. 243).

As dificuldades de aprendizagem mais evidentes são os problemas de

linguagem, percepção visual, habilidade psicomotora fina e a dificuldade de se

manter atento, focalizando a atenção em determinada atividade observada no

cotidiano da sala de aula.

Crianças tendem a possuir comportamentos que intensificam as dificuldades

de aprendizagem, a hiperatividade 5. É o comportamento mais conhecido e utilizado

quando se fala em dificuldade de aprendizagem, porém vai além, onde pode-se

colocar também a dificuldade de manter o foco, a atenção, dificuldade de se

concentrar em instruções, imaturidade social, dificuldades na fala, distração e

habilidades sociais deficitárias. (TAVARES, 2008, p. 79)

No DSM V- Diagnóstico de Saúde Mental (2014), as dificuldades de

aprendizagem constam na categoria de Transtorno Específico de Aprendizagem,

onde as dificuldades são categorizadas com relação aos transtornos que possuem

início no desenvolvimento na infância, o qual chama atenção quando esta criança se

insere no contexto escolar. (DSM-V, 2014).

Os problemas de aprendizagem podem ser de ordem neurológica, biológica

ou hereditária, devido a fatores ambientais como, por exemplo, a influência no meio

familiar, escolar, social, como citado anteriormente, onde a cultura influencia

28

diretamente estas crianças e consequentemente podem estar ligadas as dificuldades

apresentadas no desempenho escolar.

Muitos acreditam quando se fala em aprendizagem, que dificuldades de

aprendizagem e transtornos de aprendizagem são iguais, porém são distintas, tanto

em seu significado como em seu tratamento. Ambas fazem parte dos problemas de

aprendizagem, que engloba tudo que afeta o desenvolvimento escolar.

A dificuldade de aprendizagem ocorre através de fatores extrínsecos ao

indivíduo, ou seja, o processo de aprendizagem recebe interferência do meio ao qual

a criança está inserida, sendo assim o ambiente social, este principalmente

representado pela escola e os processos de ensino, onde a condição de ensino, a

metodologia, didática, projetos e acompanhamentos, interferem neste processo,

assim como a interferência da cultura e da afetividade, pelos laços afetivos com

seus familiares. (TAVARES, 2008, p. 109).

Os Transtornos de Aprendizagem ocorrem por interferência intrínseca, ou

seja, genético, devido alguma disfunção no sistema nervoso central, que provocarão

alterações na maneira como se desenvolve a fala, a leitura, escrita e o raciocínio.

Ainda para Tavares,

Nos transtornos de aprendizagem, os padrões normais de aquisição de habilidade estão perturbados desde estágios iniciais do desenvolvimento, ou seja, não são adquiridos em decorrência de estimulação adequada ou qualquer forma de traumatismo ou doença cerebral [...] Por definição, esses transtornos não tem uma causa definida, são totais ou parcialmente irreversíveis, levando-se a suposição de fatores biológicos para a etiologia. Qualquer fator que possa alterar o desenvolvimento cerebral do feto facilita o surgimento de um quadro de transtorno de aprendizagem. (TAVARES, 2008, p. 134).

O que demonstra a importância desse olhar para o todo, verificando o

contexto sócio-histórico-cultural, escolar e familiar, ao qual a criança se encontra,

assim como as relações estabelecidas dentro do ambiente escolar.

Pennington (2014) encerra a discussão afirmando que,

O problema, a deficiência, o transtorno, a dificuldade e as dificuldades de aprendizagem apontam para o desejo de capturar a estrutura e o funcionamento da função simbólica. O caráter semiótico do desenvolvimento humano faz a diferença. Essa mudança de olhar introduz a perspectiva de futuro e lança uma meta para transpor a ideia da dificuldade de aprendizagem como entidade abstrata e descontextualizada do mundo simbólico. (PENNINGTON, 2014, p.122).

29

A psicologia escolar vem para contribuir, pois colabora para a ampliação da

atuação do psicólogo dentro da escola, uma vez que entende o aluno como um ser

biopsicossocial e por estar ganhando espaço no ambiente escolar, especificamente

quando tratamos da valorização da aprendizagem.

3.5 O PAPEL DO PSICÓLOGO ESCOLAR

Já há algum tempo os especialistas vem considerando a Psicologia Escolar

“como uma área secundária da Psicologia, vista como área simples, não requerendo

muito preparo, nem experiência profissional. No contexto da escola é pouco

valorizada, até mesmo dispensável, haja vista a inexistência de serviços dessa

natureza, enquanto os de Orientação educacional e Supervisão escolar são

previstos e regulamentados por lei”. (BRANDÃO, 2015. p. 76).

Para Fontana,

A literatura que tem sido publicada na área escolar tem ressaltado a importância de se refletir sobre os aspectos relacionados à especificidade da atuação do psicólogo escolar devido ao fato de existir uma superposição de papéis e funções dos profissionais que atuam no contexto educacional, em que vários deles reivindicam para si o mesmo espaço profissional. Segundo Jobim e Souza (1996), há uma miscigenação de papéis entre o psicólogo, o pedagogo e o psicólogo escolar e a atuação do psicólogo deve ser realizada de maneira crítica e contextualizada. (FONTANA, 2011, p. 42).

Na escola, “o profissional trabalha contribuindo com uma visão mais

integrada da aprendizagem, possibilitando a recondução e integração do aluno na

dinâmica escolar facilitadora de seu desenvolvimento. Contribui na detecção de

problemas de aprendizagem do aluno, atendendo-o em suas necessidades e

permitindo sua permanência no ensino regular”. (TAVARES, 2008).

Nesse sentido sua intervenção possibilita a redução significativa dos índices

de fracasso escolar. Atua utilizando instrumental especializado, sistema específico

de avaliação e estratégias, capazes de atender o aluno e sua individualidade,

auxiliando em sua produção escolar e para além dela, colocando-os em contato com

suas reações, diante da tarefa e dos vínculos com o objeto do conhecimento. Dessa

forma, resgata, positivamente, o ato de aprender.

Para Moura (2013),

O psicólogo especialista em psicopedagogia, nesse processo, promove: o levantamento, a compreensão e análise das práticas escolares e suas relações com a aprendizagem; o apoio psicopedagógico a todos os

30

trabalhos realizados no espaço da escola; a ressignificação da unidade ensino/aprendizagem, a partir das relações que o sujeito estabelece entre o objeto de conhecimento e suas possibilidades de conhecer, observar e refletir, a partir das informações que já possui; a prevenção de fracassos na aprendizagem e a melhoria da qualidade do desempenho escolar. (MOURA, 2013, p. 176).

Esse trabalho, ainda segundo Moura (2013), pode ser desenvolvido em

diferentes níveis, propiciando aos educadores conhecimentos para:

➢ a reconstrução de seus próprios modelos de aprendizagem, de modo que,

ao se perceberem também como “aprendizes”, revejam seus modelos de

ensino;

➢ a identificação das diferentes etapas do desenvolvimento evolutivo dos

alunos e compreensão de sua relação com a aprendizagem;

➢ o diagnóstico do que é possível ser melhorado no próprio ambiente

escolar e do que precisa ser encaminhado para profissionais fora da

escola;

➢ a percepção de como se processou a evolução dos conhecimentos na

história da humanidade, para compreender melhor o processo de

construção de conhecimentos dos alunos; as intervenções para a

melhoria da qualidade do ambiente escolar;

➢ a compreensão da competência técnica e do compromisso político

presentes em todas as dimensões do sujeito.

A partir da eficiência constatada na prática profissional, o psicólogo estrutura

um corpo de conhecimentos e um vasto campo de interligação e produção de

conhecimento sobre os fenômenos envolvidos no processo de aprendizagem

humana.

Essa perspectiva, que parece bastante equivocada e inadequada, talvez

provenha do fato de que, historicamente, a área escolar tenha caracterizado-se

como um desmembramento da área clínica, o que gerou a visão de uma Psicologia

Escolar clínica distante do cotidiano escolar. Outra abordagem seria a da ação

preventiva da Psicologia Escolar. Prevenir significa "antecipar-se a", "evitar", "livrar-

se de", "impedir que algo suceda". No contexto da escola o que se pretende evitar

ou impedir é a existência de problemas, dificuldades ou fracassos (NUNES, 2000).

A conotação por vezes encontrada parece ser a de evitar desajustes ou

desadaptações do aluno. Para Novaes (2012), ao defender a importância da

31

formação adequada do psicólogo escolar e sua responsabilidade profissional, afirma

que "dado o caráter preventivo da atuação do psicólogo escolar, essa orientação

(psicológica) merece tanto ou mais cuidado do que qualquer outra, pois tem como

meta principal o ajustamento do indivíduo". Caberia aqui discutir e esclarecer a

natureza de tal ajustamento.

Dada a possibilidade de se interpretar a perspectiva de prevenção como

uma questão meramente adaptativa no presente estudo procurou analisar duas

abordagens frequentemente encontradas com relação ao papel do psicólogo

escolar, e propôs-se uma terceira alternativa, que é a deste profissional “como

agente de mudanças, atuando na escola de forma integrada e dinâmica, inclusive

participando com os profissionais dentro da sala de aula” (FONTANA, 2011, p. 37).

3.6 O PSICÓLOGO ESCOLAR NUMA PERSPECTIVA CLÍNICA

O psicólogo escolar tem a prerrogativa de adaptar sua atuação dentro de um

campo de visão preventiva, evitando assim os métodos clínicos com uma

perspectiva curativa. Dentro da escola, a atuação do psicólogo deve ter uma postura

de interação com a comunidade escolar no sentido de acompanhar individualmente

cada aluno, conhecendo assim profundamente a situação histórico-social de cada

um, facilitando a aplicação de diagnósticos clínicos.

Davis (2014) afirma que,

Está implícita nessa visão de Psicologia Escolar uma vinculação com a área de saúde mental, onde os problemas são equacionados em termos de saúde x doença, o que na escola se retraduz como problemas de ajustamento e adaptação social. O que nos parece estar subjacente, mas nem sempre claro, nessa perspectiva, é a idéia de que a escola como instituição é tomada como adequada, como cumprindo os objetivos ideais a que se propõe numa perspectiva histórico educacional. (DAVIS, 2014, p. 76).

Desta forma, os currículos e as técnicas de ensino-aprendizagem

empregadas, bem como a adequação da relação estabelecida entre o psicólogo, o

professor e o aluno sofrem algumas alterações. Esta é, portanto, uma visão

conservadora e adaptativa, uma vez que os problemas surgidos ficam centrados no

aluno, isto é, a responsabilidade dos insucessos e dos fracassos recai sempre sobre

o educando. O papel do psicólogo escolar seria então o daquele profissional que

32

tem por função tratar estes alunos-problema e devolvê-los à sala de aula “bem

ajustada”. (DAVIS, 2014, p. 87).

Na medida em que os problemas são equacionados em termos de saúde x

doença, Fontana (2011), identifica que o papel do psicólogo é investido de um

caráter onipotente, uma vez que seria o portador de soluções mágicas e prontas

para as dificuldades enfrentadas. Por outro lado, acaba por estabelecer uma relação

de assimetria, verticalidade e poder dentro da instituição, uma vez que lhe é

atribuída a decisão e o julgamento a respeito da adequação ou inadequação das

pessoas em geral.

São as duas faces de uma mesma moeda — de um lado o mágico, o

salvador, e do outro, um elemento altamente persecutório e ameaçador. Essa dupla

imagem que o psicólogo escolar adquire ou transmite (?) em função deste tipo de

abordagem ou da sua própria postura, leva, com frequência, a uma atitude

ambivalente e de resistência por parte da instituição escolar, que muitas vezes

dificulta ou até impede a continuidade dos serviços de psicologia. (NUNES, 2000).

Na perspectiva em que observa Moura (2013),

Podemos apontar outra consequência que nos parece importante denunciar dentro dessa visão, ou seja, a de que o professor, ao entregar o seu "aluno difícil" nas mãos de um profissional tido como mais habilitado que ele para lidar com a questão, se exime da sua responsabilidade para com este aluno. Passa então a considerá-lo como um problema que não é seu e que deveria ser solucionado fora do contexto de sala de aula, que é o seu ambiente de trabalho, a saber, no gabinete de Psicologia. Na realidade, porém, a criança que apresenta dificuldades, mesmo quando atendida por outros profissionais, enquanto aluna continua sendo problema do professor e da sua turma e como tal deve ser assumida. (MOURA, 2013, p. 201).

Práticas tradicionais no trabalho clínico do psicólogo escolar, como o uso de

testes variados, desde as medidas de QI até provas de personalidade, com

elaboração de diagnósticos e orientação bastante minuciosa e aprofundada. Ocorre,

entretanto, que este trabalho todo se torna infrutífero e sem sentido, pois é comum

as famílias se recusarem a aceitar a orientação, preferindo atribuir as causas do

insucesso escolar à própria instituição, que é então acusada de ineficiente.

Para Selikowitz (2011), é claro que, ao buscar uma orientação psicológica,

todo cliente passa por um processo, frequentemente longo e ambivalente, de lidar e

aceitar as suas próprias dificuldades ou deficiências. Ora, na medida em que a

escola toma a iniciativa de realizar esse processo, através do serviço de Psicologia

33

Escolar, sem uma conscientização gradativa e espontânea da família a respeito do

seu filho-problema, o resultado deverá ser ou um recusa de colaborar até mesmo na

fase inicial de diagnóstico, ou uma rejeição clara e aberta da orientação oferecida.

Outra dificuldade é a de os dados obtidos através de exames psicológicos

nem sempre revertem para a escola sob a forma de orientações concretas e

acessíveis. “Num congresso sobre pré-escolas, realizado em julho de 2013,

promovido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, na cidade de São

José do Rio Preto, recebeu-se veementes queixas de professores de que, sob o

pretexto de sigilo sobre os resultados dos testes psicológicos aplicados em seus

alunos, só passíveis de serem manipulados por psicólogos, as escolas ficavam

praticamente sem nenhuma informação a respeito dos exames realizados”.

(BRANDÃO, 2015).

No entendimento de Fonseca (2005), deve-se detectar um impasse

comumente enfrentado com relação aos exames psicológicos que é o da dificuldade

de se encontrar instituições que promovam pesquisas no âmbito da psicologia

escolar que possibilitem o levantamento e a concretização das orientações no

sentido de detectar parâmetros de forma acessível para o levantamento de dados

para o diagnóstico de portadores de dislexia na maioria da população escolar. Desta

maneira, o diagnóstico e a orientação realizados perdem a sua utilidade e, portanto,

o seu sentido.

Observa-se assim um aspecto a se questionar, ou seja, a instalação de

serviços de atendimento psicológico dentro da instituição-escola, com a intenção de

oferecer Psicoterapia para os portadores de distúrbios emocionais e de conduta e

Psicomotricidade para aqueles que apresentassem deficiências de ordem motora.

Com relação à primeira hipótese, como ainda observa Fonseca (2005)

acredita esse especialista ser totalmente inviável a sua realização dentro do

contexto escolar por duas razões fundamentais:

1. Como tal tipo de tratamento fica ligado, pelo senso comum, à doença

mental, corre-se o sério risco de discriminar e estigmatizar aqueles alunos

que se beneficiassem desta forma de assistência;

2. Como a escola é uma organização complexa, onde a privacidade é

bastante restrita por ser um grupo onde as pessoas convivem por longo

tempo, diariamente por várias horas e durante anos, fica muito

34

comprometida à questão de sigilo, não por parte do profissional,

evidentemente, mas por parte dos próprios alunos.

Com relação à Psicomotricidade, visando atingir principalmente as

populações de baixa renda, que não têm acesso às terapêuticas desta natureza,

tem-se pensado num trabalho integrado com a área pedagógica, no sentido de

incluir, nessas aulas, exercícios de equilíbrio, coordenação motora ampla etc. “Com

relação aos aspectos de motricidade fina, a montagem de pequenos grupos de

atendimento paralelo talvez pudesse ser levada a efeito dentro do próprio ambiente

da escola”. (MOURA, 2013).

Em matéria de sofisticação, a abordagem clínica pode transformar-se numa

consultoria de saúde mental, com o enfoque básico voltado para a prevenção já

mencionada no início deste tópico. “O psicólogo escolar não se restringiria apenas à

aplicação de testes e à realização de terapia dentro do contexto escolar, mas

pretenderia difundir a saúde mental, procurando alcançar um maior número possível

de pais, administradores e professores, que por sua vez atingem o maior número

possível de crianças” (FONTANA, 2011).

3.7 A AÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR NA SALA DE AULA

Uma alternativa que parece mais adequada e que não exclui, pelo contrário,

se beneficia das contribuições da Psicologia clínica e da Psicologia acadêmica,

segundo Zimerman (2009), seria a do psicólogo escolar como agente de mudanças

dentro da instituição-escola, ou seja, na sua atuação direta na sala de aula, onde

funcionaria como um elemento catalizador e observador de reflexões e ações dos

alunos in loco, um avaliador dos papéis representados pelos vários grupos que

compõem as inúmeras técnicas e metodologias aplicadas em sala de aula.

Nessa perspectiva Patto (2014) afirma que,

É fundamental um profissional competente, com formação ampla e diversificada, já que a Psicologia escolar é encarada como semelhante a Psicologia clínica e a Psicologia organizacional, por trabalhar e lidar com uma instituição social complexa, hierarquizada, resistente à mudança que é a escola. Nessa perspectiva é importante considerar o aluno sem perder de vista, entretanto, sua inserção no contexto mais amplo da comunidade escolar. (PATTO, 2014, p, 143).

Um trabalho eficiente nessa linha teria que partir de uma análise da

instituição, levando em conta o meio social no qual se encontra e o tipo de clientela

35

que atende, bem como os vários grupos que a compõem, sua hierarquização, suas

relações de poder, passando pela análise da filosofia específica que a norteia, e

chegando até a política educacional mais ampla.

Tem-se procurado atuar junto ao corpo docente e discente, bem como junto

à direção e à equipe técnica, tentando conscientizá-los da realidade da sua escola,

refletindo com eles sobre os seus objetivos, sobre a concepção que subjaz ao

processo educacional empregado, sobre as expectativas que têm de seus alunos,

sobre o tipo de relação professor-aluno existente, enfim sobre a organização como

um todo.

As queixas básicas comumente encontradas junto à instituição-escola

referem-se à dispersividade e desatenção, desinteresse, apatia, agitação, baixo

rendimento e fraco nível de aprendizagem, rebeldia e agressividade, bem como

dificuldades na relação professor-aluno e entre os próprios educandos. Tais

problemas têm aparecido na forma mais ou menos intensa em todos os graus, o que

vem caracterizar uma crise aguda e profunda pela qual a instituição vem passando.

(PATTO, 2014).

No entendimento de Zimerman (2009), a tendência geral da escola é centrar

as causas de tais dificuldades nos alunos. As medidas que vêm sendo utilizadas

para tentar resolvê-las ou contorná-las resumem-se basicamente em:

1. Encaminhar os "casos-problema" ao Serviço de Orientação Educacional

ou ao Serviço de Psicologia, como se os profissionais destas áreas

tivessem soluções mágicas e prontas para tais casos;

2. Criar mecanismos de controle cada vez mais rígidos e repressivos sobre o

comportamento dos educandos através de inspetores de aluno,

comunicações aos pais, reduções nas notas, multiplicação das avaliações

etc.

Já para Moura (2013), com relação aos Serviços de Orientação Educacional,

com exceções evidentemente, temos observado alguns aspectos:

a. Não conseguem dar vazão ao crescente número de casos difíceis

encaminhados;

b. Buscam contatos com os pais, numa tentativa, na maioria das vezes

infrutífera, de transferir a resolução dos problemas para o âmbito familiar;

c. Desenvolvem trabalhos junto ao corpo discente através de aulas

tradicionais onde são desenvolvidos temas, com uma conotação quase

36

sempre de caráter moral, discorrendo sobre a necessidade de "comportar-

se bem, ser bom aluno, bom filho" etc., numa tentativa de fazer com que

os educandos venham a preencher as expectativas que a instituição,

especialmente os professores, tem deles.

No desenvolvimento do trabalho dos psicólogos escolares, nessa

perspectiva de agente de mudanças, “tem-se voltado basicamente para a

constituição de grupos operativos com alunos, professores e equipe técnica, no

sentido de encaminhar uma reflexão crítica sobre a instituição, incluindo o processo

de ensino-aprendizagem, a relação professor-aluno, as mudanças sociais que estão

ocorrendo, evidenciando com isso, a defasagem cada vez maior que se estabelece

entre a escola e a vida”. (FIGUEIRA, 2012).

Dessa maneira, procuram desfocar a atenção sobre o aluno como única

fonte de dificuldades, como o único responsável e culpado pela crise geral pela qual

a escola passa, propiciando uma visão mais global e mais compreensiva desta crise,

procurando considerar todos os seus aspectos e, conjuntamente, encontrar formas

alternativas de enfrentá-la.

Parece importante, para Santos (2011), esclarecer que não excluíram nessa

abordagem pesquisas voltadas para os processos dos indivíduos, pois de fato

encontraram inúmeros casos onde as dificuldades encontradas são do próprio aluno

e não da instituição. Tais casos necessitam de um enfoque mais clínico, que,

quando se faz necessário, é levado a efeito, sem perder de vista o aspecto

institucional da questão.

Da oportunidade que se tem tido de atuar na área de Psicologia escolar,

esta vem-se configurando como um campo de ação extremamente rico, porém

inexplorado, desvalorizado e até mesmo pouco conhecido, não só dentro das

escolas, mas também dentro da própria categoria de psicólogos. O papel do

psicólogo escolar acha-se, portanto, mal delimitado e mal definido, e o que se

pretende aqui, com essas primeiras anotações, é encaminhar e aprofundar a

discussão sobre esse tema. (ZIMERMAN, 2009, p, 79).

37

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A dislexia surge realmente dentro de um ambiente escolar, onde os alunos

que possuem esta dificuldade apresentam as mesmas, sendo que, em outras

situações e locais também se apresentam, mas jamais como no ambiente

educacional, pois é ali que ler e escrever faz parte da vida da criança. Com certeza

que crianças com distúrbio de dislexia sempre existiram dentro do ambiente escolar.

Sempre houve disléxicos nas escolas. Entretanto, a escola que se conhece

certamente não foi feita para o disléxico. Portanto, toda a estrutura educacional

montada para o aluno não faz parte do contexto do aluno com dislexia, por isso a

grande quantidade de evasão escolar, reprovação, e ainda, mais, que os mesmos

não são alunos que a escola deseja cuidar. Os alunos com dislexia que conseguem

aprovação é porque, na maioria das vezes adotam formas espertas para serem

aprovados, vencendo todos os obstáculos a eles colocados devido à estrutura

educacional enrijecida.

A dislexia afeta cerca de 7% das crianças brasileiras, a maioria meninos.

Apesar da grande incidência, muitas escolas e professores ainda não estão

preparados para lidar com esse transtorno, de difícil diagnóstico. De origem

neurobiológica e genética, a dislexia pode comprometer o desenvolvimento das

habilidades de escrita, decodificação e pronunciação das palavras. Se tratado a

tempo, no entanto, o distúrbio não chega a prejudicar a aprendizagem das crianças.

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA-ABD, 2014).

Embora a atuação do psicólogo escolar tenha se modificado, continua

apresentando inúmeros problemas que serão analisados à luz dos resultados deste

estudo, tanto em função do sistema educacional brasileiro (que está distante das

condições de excelência no ensino) como pela formação oferecida aos futuros

profissionais da Psicologia da educação que atuarão nesse campo.

É preciso discussão e a análise de vários problemas que se depreendem da

atuação do psicólogo escolar nas escolas do país, levando-se em conta várias

nuances e significados do que foi exposto. A formação geralmente deficiente dos

profissionais de psicologia escolar não contempla as especificidades presentes nos

processos educacionais e no contexto escolar (NOVAES, 2012). A literatura

especializada utiliza diferentes denominações para se referir ao psicólogo escolar e

38

psicólogo educacional que agem dentro do ambiente escolar e ao sistema

educacional proposto.

O primeiro psicólogo, o escolar, seria aquele que, atuando diretamente na

escola, ocupa-se das questões práticas a ela referentes, enquanto o segundo, o

psicólogo educacional, seria aquele ocupado em pensar, refletir e pesquisar sobre

os processos educacionais em geral. Este seria uma espécie de produtor de

conhecimentos a serem utilizados pelos psicólogos escolares (BRANDÃO, 2015, p.

165).

Apesar das intensas e profundas discussões, se tem atualmente diversos

autores como (FONSECA, 2005; PATTO, 2014) que não concordam com as

denominações dadas ao psicólogo ao atuar na escola, pois consideram que o

psicólogo escolar ou educacional é aquele que se ocupa tanto da prática como do

pensar sobre os processos educacionais, estando esses presentes ou não no

contexto escolar.

Porém é necessário que o psicólogo escolar ou educacional centre seu foco

de atenção nos processos educacionais, especialmente nas condições de ensino e

aprendizagem, para que sua atuação não se confunda com a realizada por outros

psicólogos que também atuam nestas instituições, com diferentes focos, podendo

ser organizacionais, hospitalar, específicos e etc. (MOURA, 2013).

O profissional da psicologia escolar no Brasil desfalca a maioria das escolas

do país, pois em sua grande maioria o mesmo não está presente por inúmeros

fatores que se pode colocar em análise discursiva. Hoje 90% das escolas públicas

no Brasil não contam com a presença de um psicólogo escolar entre seus

profissionais e comunidade escolar, fazendo deste profissional uma realidade longe

de ser alcançada.

Em sua falta de atuação, devido a falhas no planejamento educacional

brasileiro, o psicólogo não pode se esquecer das questões econômicas e políticas

envolvidas nesse processo de déficit desses profissionais na escola. Assim, ser

psicólogo escolar ou educacional no Brasil exige conhecer as necessidades das

milhões de crianças portadoras de alguma deficiência como a dislexia, não

importando o contexto ou as condições sociais ou políticas em que estejam

inseridas, sejam elas: ricas, pobres, capacitadas, deficientes, abandonadas ou

acolhidas por suas famílias. (ZIMERMAN, 2009).

39

O psicólogo busca defender os direitos do indivíduo no atendimento de suas

necessidades educacionais e promover seu desenvolvimento, sem discriminação ou

intolerância de qualquer tipo ou grau, tendo o cuidado de não reproduzir formas de

dominação. Neste sentido, é preciso que educador, no caso, o psicólogo escolar,

tem que estar envolvido no contexto no qual esses processos ocorrem como

conheça aspectos históricos, econômicos, políticos e culturais da população e da

comunidade que atende.

Para os autores consultados nessa pesquisa, o papel do psicólogo na escola

não está bem definido, pois a comunidade escolar tem a percepção do profissional

como alguém que pode dar conta dos problemas existentes no aluno. E, de certa

forma, o próprio profissional tem participação nisso, de modo que, na maioria das

vezes, nem para ele está claro o seu papel, o que se torna um entrave para efetivar

sua atuação.

Para isso, ele precisa: a) atuar em uma equipe multidisciplinar; b) estar

constantemente estudando e participando de eventos da área e trocando

experiências com os pares; c) sair do gabinete para olhar a realidade tal como ela se

apresenta, confusa e inexplicável, fora de controle e desafiadora (NUNES, 2000).

Este profissional deve conscientizar- -se de que há muito trabalho pela frente e

muitas formas de atuar na escola.

Essas análises demonstram uma realidade conhecida por autores da área

que discutem o perfil do psicólogo escolar. Guzzo (2013) reconhece que não existe

um modelo de atuação difundido e estudado desse profissional, o que dificulta uma

prática competente no contexto educacional e alarga a fragilidade desse profissional.

Já Correia (2014), ao analisar a estrutura de inserção do psicólogo na

escola, aponta algumas dificuldades encontradas para a prática do psicólogo no

cenário educacional. Para ela, o conhecimento ou o “não conhecimento” da

profissão pela comunidade escolar é considerado um grande desafio para atuação

do psicólogo. De acordo com a autora, um grande desafio para o psicólogo escolar é

o de se fazer reconhecer pela comunidade escolar como detentor de contribuições

relevantes para agir como mediador do processo educativo (CORREIA, 2014). No

entanto, esse desafio só poderá ser alcançado à medida que esses psicólogos

escolares se firmarem nesse processo.

De fato, pesquisadores indicam a necessidade de a atuação do psicólogo

escolar se efetuar no local em que os fenômenos ocorrem, para que ele não se

40

aliene (NOVAES, 2012). Apesar disso, ainda hoje é possível encontrar muitos

“psicólogos escolares” que se ocupam de problemas de aprendizagem, de desvios

de comportamento apresentados no contexto escolar a partir de atividades

realizadas apenas em seus consultórios, sem conhecer as realidades e as

condições nas quais estas questões se produzem, ou seja, dentro da escola.

O psicólogo escolar vem atuando de diferentes formas, ele vêm promovendo

grupos de discussão e outras formas de atendimento que não se centram apenas

em práticas avaliativas ou clínica terapêutica.

Para Guzzo (2013), o psicólogo escolar luta pela compreensão social de sua

função e esbarram em dois desafios, quais sejam: afirmar-se em seu espaço de

trabalho, ou seja, incluir-se na escola de forma que seu “trabalho não termine

distorcido ou limitado no campo competitivo que envolve a afirmação de papéis de

poder”; e desenvolver sua atuação preventiva, não apenas curativa ou voltada para

clínica, devendo envolver escola, família e comunidade.

Reforçando a pesquisa, para efeito de análise do que foi estudado, a busca e

seleção dos periódicos estabelecidos aconteceu nos meses de setembro a

dezembro de 2017, onde foram selecionados trabalhos científicos publicados em

português do ano de 2010 a 2017, encontrados com os descritores: Dislexia,

Psicólogo Escolar e Dificuldades de Aprendizagem, sendo que os trabalhos

científicos selecionados estavam disponíveis em bases de dados Scientific Eletronic

Libraey Online (SCIELO) e Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PEPSIC). Ao todo

foram encontrados 180 estudos científicos, porém após uma leitura dos títulos e

resumos dos mesmos, foram selecionados quinze (quinze) trabalhos científicos,

sendo que todos são artigos apresentados em seminários e publicados em revistas,

todos abordando a temática investigada, como segue:

Quadro1 - Dados gerais dos artigos pesquisados

N° TÍTULO AUTORES ANO

MODALIDADE DO

TRABALHO

CIENTÍFICO

1

Concepção de professores do

ensino fundamental sobre a

dislexia do desenvolvimento.

TABAQUIM, Maria de

Lourdes Merighi et al.

2016 Artigo

2

Desempenho de crianças com

distúrbio de leitura após o treino

auditivo.

VATANABE, Tatiana

Yoshie et al.

2014

Artigo

41

3

Desempenho ortográfico de

escolares com dislexia do

desenvolvimento e com dislexia

do desenvolvimento associado

ao transtorno do déficit de

atenção e hiperatividade.

ALVES, Débora

Cristina; CASELLA, Erasmo

Barbante e FERRARO,

Alexandre Arcanjo.

2016

Artigo

4

Perfil de linguagem e funções

cognitivas em crianças com

dislexia falantes do Português

Brasileiro

BARBOSA, Thais et al.

2015

Artigo

5

Perfil linguístico, familial e do

gênero de escolares com

diagnóstico de dislexia de uma

clínica escola.

SILVA, Nathane Sanches

Marques e CRENITTE,

Patrícia Abreu Pinheiro.

2014

Artigo

6

O papel do psicólogo escolar:

Concepções de professores e

gestores.

PEREIRA-SILVA, Nara

Liana; ANDRADE, Jaqueline

Ferreira Condé de

Melo; CROLMAN, Sarah

Rezende e MEJIA, Cristina

Fuentes.

2017

Artigo

7

Psicologia Escolar na

concepção de professores de

Educação Infantil e Ensino

Fundamental.

BASTOS, Caroline

Benezath

Rodrigues e PYLRO,

Simone Chabudee.

2016

Artigo

8

Formação em psicologia e

educação inclusiva: um estudo

transversal.

BARBOSA, Altemir José

Gonçalves e CONTI,

Carolina Ferreira.

2011

Artigo

9

A representação social de

alunos de escolas da rede

particular de ensino acerca do

papel do psicólogo escolar.

CARVALHO, Isaura

Santana Costa e SOUZA,

Maria Veracy Moreira de.

2012

Artigo

10

Representações sociais sobre a

atuação do psicólogo

escolar: um estudo com

profissionais da educação.

RAMOS, Daniela Karine. 2011

Artigo

11

Criança com dificuldade de

aprendizagem: o processo de

construção de uma guia de

encaminhamento de alunos com

queixas escolares a serviços de

saúde.

FREDERICO NETO,

Francisco et al.

2015

Artigo

12

Psicomotricidade no contexto da

neuroaprendizagem: contribuiçõ

es à ação psicopedagógica.

MORAES, Sonia e MALUF,

Maria Fernanda de Matos.

2015

Artigo

42

13

Resiliência e insucesso

escolar: uma reflexão sobre as

salas de apoio à aprendizagem.

OLIVEIRA, Francismara

Neves de e MACEDO, Lino

de.

2011

Artigo

14

Investigação sobre estresse em

crianças com dificuldade de

aprendizagem.

GONCALVES, Lívia

Caroline Souza; CANAL,

Cláudia Patrocínio

Pedroza e MISSAWA,

Daniela Dadalto Ambrozine.

2016

Artigo

15

Prevenção e remediação das

dificuldades de aprendizagem:

adaptação do modelo de

resposta à intervenção em uma

amostra brasileira.

ALMEIDA, ROSELAINE

PONTES DE; PIZA,

CAROLINA JULIEN

MATTAR DE

TOLEDO; CARDOSO,

THIAGO DA SILVA

GUSMÃO e MIRANDA,

MÔNICA CAROLINA.

2016

Artigo

Quadro 2- Tipos de pesquisas e descritores dos artigos pesquisados

N° TÍTULO TIPO DE

PESQUISA PALAVRAS-CHAVE

1 Concepção de professores do ensino fundamental sobre a dislexia do desenvolvimento.

Estudo de Caso

Dislexia; aprendizagem; docentes.

2 Desempenho de crianças com distúrbio de

leitura após o treino auditivo.

Estudo de Caso

Dislexia; Percepção auditiva; Tempo de reação; Criança;

Leitura.

3

Desempenho ortográfico de escolares com

dislexia do desenvolvimento e com dislexia

do desenvolvimento associado ao

transtorno do déficit de atenção e

hiperatividade.

Pesquisa de

Campo

Dislexia; Transtorno do Déficit

de Atenção e Hiperatividade;

Escrita Manual;

Aprendizagem; Avaliação.

4

Perfil de linguagem e funções cognitivas em

crianças com dislexia falantes do Português

Brasileiro

Estudo de Caso

Dislexia; Cognição; Criança; Leitura; Linguagem.

5

Perfil linguístico, familial e do gênero de

escolares com diagnóstico de dislexia de

uma clínica escola.

Estudo

Transversal

Dislexia; Linguagem; Aprendizagem.

6 O papel do psicólogo escolar: Concepções de professores e gestores.

Estudo de Caso Psicólogo escolar; educação;

psicologia escolar.

7 Psicologia Escolar na concepção de professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Pesquisa de Campo

Psicologia Escolar; psicólogo escolar; atuação do psicólogo.

8 Formação em psicologia e educação inclusiva: um estudo transversal.

Estudo Transversal

Educação especial; inclusão escolar; psicologia escolar.

43

9 A representação social de alunos de escolas da rede particular de ensino acerca do papel do psicólogo escolar.

Pesquisa de Campo

Estudantes; psicólogo escolar; representação social.

10 Representações sociais sobre a atuação do psicólogo escolar: um estudo com profissionais da educação.

Pesquisa de Campo

Psicólogo Escolar; Representação social; Função

do psicólogo.

11

Criança com dificuldade de aprendizagem: o processo de construção de uma guia de encaminhamento de alunos com queixas escolares a serviços de saúde.

Relato de Experiência

Comunicação Interdisciplinar; Guia de encaminhamento;

Dificuldade de Aprendizagem; Saúde da Criança.

12

Psicomotricidade no contexto da neuroaprendizagem: contribuições à ação psicopedagógica.

Revisão Bibliográfica

Desenvolvimento motor; Aprendizagem;

Psicomotricidade; Psicopedagogia;

Neuroaprendizagem; Dificuldades de aprendizagem.

13 Resiliência e insucesso escolar: uma reflexão sobre as salas de apoio à aprendizagem.

Pesquisa de Campo

Educação; Dificuldades de aprendizagem; Resiliência;

Significações; Fracasso escolar.

14 Investigação sobre estresse em crianças com dificuldade de aprendizagem.

Estudo de Caso Estresse; Escolares;

Dificuldade de Aprendizagem.

15

Prevenção e remediação das dificuldades de aprendizagem: adaptação do modelo de resposta à intervenção em uma amostra brasileira.

Estudo de Caso

Dificuldade de aprendizagem; prevenção; remediação; resposta à intervenção.

Quadro 3 – Objetivo principal das Pesquisas e seus resultados

N° TÍTULO DA

PESQUISA OBJETIVO PRINCIPAL

RESULTADO DA

PESQUISA

1

Concepção de

professores do ensino

fundamental sobre a

dislexia do

desenvolvimento.

Caracterizar o nível de

informação sobre a dislexia de 27

professores de língua portuguesa

da 5ª à 8ª série do ensino

fundamental, sendo 17 da rede

estadual e 10 da particular.

O nível de informação dos docentes participantes foi insuficiente para identificar sinais de risco para o transtorno disléxico.

2

Desempenho de

crianças com distúrbio

de leitura após o treino

auditivo.

Verificar o desempenho de leitura e da habilidade auditiva de resolução temporal em crianças com dificuldades de leitura, após o treino auditivo.

O treino auditivo foi efetivo para a melhora de desempenho nas habilidades auditivas temporais e de leitura em crianças que apresentam dificuldades de leitura.

3

Desempenho ortográfico

de escolares com

dislexia do

desenvolvimento e com

dislexia do

desenvolvimento

associado ao transtorno

Analisar e classificar o desempenho ortográfico, de acordo com a semiologia dos erros, de crianças com dislexia do desenvolvimento e com dislexia do desenvolvimento e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade em relação a um

Os dados da presente pesquisa contribuem para o delineamento de melhores programas interventivos para a população estudada.

44

do déficit de atenção e

hiperatividade.

grupo de crianças sem queixas de aprendizagem escolar.

4

Perfil de linguagem e

funções cognitivas em

crianças com dislexia

falantes do Português

Brasileiro.

Verificar o perfil de linguagem e de habilidades cognitivas de crianças com dislexia, contribuindo para o diagnóstico desse quadro em leitores de uma ortografia regular, como o português brasileiro.

O perfil de alteração de habilidades fonológicas foi a principal dificuldade encontrada nas crianças com dislexia nesse estudo, sendo esse resultado compatível com investigações realizadas em outras línguas. Isso sugere que, independente da regularidade da língua, a avaliação das habilidades fonológicas é fundamental para o diagnóstico da dislexia.

5

Perfil linguístico, familial

e do gênero de

escolares com

diagnóstico de dislexia

de uma clínica escola.

Traçar o perfil dos pacientes com diagnóstico de dislexia quanto ao gênero, recorrência familial para distúrbios da comunicação ou dificuldade escolar, presença de alteração de linguagem oral e quanto à presença de alteração nas habilidades de memória de trabalho fonológica, memória visual e consciência fonológica na primeira avaliação fonoaudiológica, por meio da análise de prontuários de indivíduos.

O perfil dos pacientes diagnosticados com dislexia, na Clínica Escola da instituição de origem, se caracteriza, preferencialmente pelo gênero masculino, pela presença de recorrência familial para distúrbios da comunicação ou dificuldades escolares e por apresentarem alteração de memória de trabalho fonológica e consciência fonológica durante a primeira avaliação fonoaudiológica.

6

O papel do psicólogo

escolar: Concepções de

professores e gestores.

Descrever as concepções de

professores e gestores sobre o

papel do psicólogo escolar.

Concebem o psicólogo escolar

como um ‘especialista’, mas

também como um profissional

‘auxiliar’. Além disso, houve

relatos de desconhecimento das

funções do psicólogo.

7

Psicologia Escolar na

concepção de

professores de

Educação Infantil e

Ensino Fundamental.

Verificar o papel da Psicologia

Escolar de acordo com a

concepção de professores de um

Centro Municipal de Educação

Infantil (CMEI) e de uma Escola

Municipal de Ensino Fundamental

(EMEF).

O psicólogo escolar deve intervir de forma ampla com todos os envolvidos no processo de desenvolvimento e de ensino e aprendizagem do aluno, incluindo a própria escola, os profissionais e toda a comunidade.

8

Formação em psicologia

e educação inclusiva: um

estudo transversal.

Efetuar um estudo transversal

sobre a formação de psicólogos e

a preparação recebida durante a

graduação para atuar em escolas

inclusivas.

A graduação em Psicologia não tem sido capaz de alterar o posicionamento dos estudantes quanto à educação inclusiva e de prepará-los para serem psicólogos escolares em escolas inclusivas.

9 A representação social

de alunos de escolas da

Compreender a representação

social que os alunos de escolas

Os alunos percebem o

psicólogo escolar basicamente

45

rede particular de ensino

acerca do papel do

psicólogo escolar.

da rede particular de ensino têm

acerca do papel do psicólogo

escolar.

como um profissional que está

capacitado a solucionar

conflitos.

10

Representações sociais

sobre a atuação do

psicólogo escolar: um

estudo com profissionais

da educação.

As representações sociais que os

profissionais da educação têm

sobre quem é o psicólogo escolar

e qual é a sua função na escola.

O psicólogo escolar tem o papel de evitar desajustes e desadaptações do aluno, revelando a crença de que a presença de um psicólogo é solução para muitos problemas e também como um agente de mudança que atua junto a toda comunidade escolar e sobre problemas psicossociais, visando favorecer o processo de ensino e de aprendizagem.

11

Criança com dificuldade

de aprendizagem: o

processo de construção

de uma guia de

encaminhamento de

alunos com queixas

escolares a serviços de

saúde.

Compartilhar a experiência de

construção de uma guia de

encaminhamento de alunos com

queixas escolares.

O aprimoramento da guia melhorou a comunicação entre as escolas e o serviço, facilitou a discriminação das queixas pelos professores e permitiu uma melhor compreensão inicial da queixa escolar do aluno encaminhado.

12

Psicomotricidade no

contexto da

neuroaprendizagem: con

tribuições à ação

psicopedagógica.

Compreender como se

desenvolve o processo de

aprendizagem na criança.

Os artigos selecionados e

analisados confirmam os

benefícios do diagnóstico e

intervenção precoces aos

pacientes em situação de risco,

ou que apresentem dificuldades

ou transtornos de aprendizagem

já instalados.

13

Resiliência e insucesso

escolar: uma reflexão

sobre as salas de apoio

à aprendizagem.

Analisar as significações de

dificuldades de aprendizagem de

30 alunos, 8 professores e um

membro do núcleo de educação

além dos documentos normativos

da sala de apoio à aprendizagem.

As significações de alunos e

professores sobre dificuldades

de aprendizagem são

correspondentes às dos

documentos, nas quais persiste

a culpabilização do aluno e de

sua família pelo não aprender. A

ausência de estratégias mais

resilientes para o aprender tem

relação com os procedimentos

dos alunos em situações de

aprendizagem

14

Investigação sobre

estresse em crianças

com dificuldade de

aprendizagem.

Investigar a manifestação de

sintomas do estresse infantil em

crianças com dificuldades de

aprendizagem e como esse

estresse é percebido por essas

Relatou-se uma prevalência de

manifestação de sintomas

psicológicos em detrimento dos

físicos, mas ainda assim ambos

foram evidentes, demonstrando

46

crianças. sinais de estresse infantil nas

crianças avaliadas.

15

Prevenção e remediação

das dificuldades de

aprendizagem:

adaptação do modelo de

resposta à intervenção

em uma amostra

brasileira.

Adaptar e colocar em prática no

contexto brasileiro um dos

modelos mais aceitos de

prevenção e remediação das

dificuldades de aprendizagem, a

resposta à intervenção (RTI).

Os resultados do presente

estudo mostram que esse pode

ser um modelo adequado ao

contexto brasileiro, sendo uma

alternativa para avaliar e intervir

nas necessidades dos alunos.

Após a exposição e apresentação dos resultados obtidos dos estudos

científicos utilizados, foi feita uma releitura dos mesmos para não se perder a

essência desse estudo. Assim a partir das informações encontradas, e para melhor

compreensão e discussão dos resultados obtidos, fez-se uma apresentação

detalhada, com base em toda a temática até aqui analisada, trazendo como suporte,

evento que aconteceu no primeiro semestre de 2015, onde aconteceu o III

Congresso Nacional de Psicologia Escolar, realizado pela Universidade Estadual do

Rio de Janeiro – UERJ/ABRAPEE em parceria com o Conselho Federal de

Psicologia-CFP, onde dentre muitos trabalhos categorizados e discussões feitas,

tiveram vários temas que dizem respeito à atuação do psicólogo escolar no contexto

do processo de ensino-aprendizagem nas escolas brasileiras.

É importante ressaltar que essas discussões se deram sem especificar o tipo

de atendimento, como os alunos com deficiências específicas como a Dislexia. A

atuação do Psicólogo Escolar foi amplamente discutida e analisada nos aspectos da

formação, atendimento, presença desse profissional nas escolas e sua participação

na comunidade escolar.

Alguns resultados visualizados nas tabelas abaixo foram retirados do

Relatório final deste III congresso Nacional, dados levantados analisando a

verdadeira e efetiva participação e atuação do Psicólogo Escolar no dia a dia do

atendimento de alunos por psicólogos escolares que atuam nas escolas do Brasil,

considerando a total falta de compromisso dos setores governamentais ligados a

educação, no que tange a formação, a aprovação e a implantação de leis e normas

que tornem a presença do psicólogo na escola uma forma efetiva de

complementação da equipe de profissionais para uma educação de qualidade.

Pode-se vislumbrar no quadro 4, o baixo número de psicólogos escolares no

Brasil como um todo. A tabela mostra que a região sul e sudeste é onde existe o

47

maior número de profissionais e escolas onde atuam, demonstrando uma quase

falência desta modalidade de psicologia atuando junto às escolas brasileiras.

Quadro 4: número de Psicólogos escolares atuando por região

Região Número de Psicólogos escolares

Número de escolas em que atuam

Região sul 356 167

Região norte 29 04

Região sudeste 849 68

Região centro oeste 135 20

Região nordeste 271 43

Fonte: UERJ/ABRAPEE/CFP

No que se refere à formação, podemos avaliar as opiniões apresentadas

na tabela 2, dizem respeito as questões acadêmico-institucionais da área de

Psicologia Escolar, onde se destacam, principalmente as deficiência entre teoria e

prática na formação acadêmica dos profissionais de psicologia escolar. Observamos

que no quesito da necessidade de reformulação dos currículos, 34% dos

participantes apontaram essa deficiência.

Analisando a tabela 3, temos a apresentação dos dados no que se referem à

formação dos profissionais em Psicologia atuando nas Escolas. Estes dados indicam

que há amplas discussões sobre a atuação desses psicólogos, sendo que a maioria

dos temas mostra a não adaptação dessa atuação do psicólogo escolar,

predominando o modelo curativo ao preventivo. A atuação do psicólogo no âmbito

das relações interpessoais professor-aluno é pouco expressiva, assim como a

atuação no interior da escola diretamente com os alunos.

48

Analisando a tabela 4 que diz respeito aos estágios realizados na área da

psicologia escolar, os dados apontam que 23,52% desses estágios realizaram-se

sob a forma de atuação institucional preventiva, tendo também ocorridos 11,76%

deles de forma planejada, sendo executados após observação das condições e

necessidades da instituição.

A tabela 5 nos mostra a experiência dos profissionais de psicologia escolar

que atuam nas escolas brasileiras, demonstrando a pouca participação do mesmo

junto à comunidade escolar. Só 45,83% atuam junto a essa comunidade,

caracterizando haver uma maior preocupação dos psicólogos escolares em planejar

formas de intervenção que não estão concentradas exclusivamente no aluno.

49

As pesquisas na área de Psicologia Escolar, com foco nos currículos de

graduação, conforme a tabela 6, possuem a tendência de analisá-los como

deficitários e pouco adequados à formação do psicólogo escolar, correlacionando os

estágios com uma tendência voltada para a prevenção e a valorização dessa

experiência do estágio como fundamental para o exercício profissional.

Existe uma necessidade urgente de reformulação desses currículos

devendo-se isso à inclusão de disciplinas teórico-práticas para a devida formação do

profissional da psicologia escolar. É imprescindível que as noções de educação e

psicologia estejam interligados com o desenvolvimento e aplicação de técnicas

psicoeducacionais para a devida atuação do psicólogo escolar na solução de

inúmeras deficiências.

50

Concernente a tabela 7, o tema levantado na pesquisa sobre a atuação

profissional concentraram-se nas dificuldades e falta de competência dos psicólogos

escolares para o exercício profissional. Alguns subtemas levantam questões como a

difícil compreensão da função do psicólogo na escola, atuação preventiva no

processo de ensino-aprendizagem.

Com relação à formação do psicólogo escolar, 60,86% das intervenções

realizadas discutiram a urgência na reestruturação da grade curricular da graduação

do curso de psicologia voltado para a atuação nas escolas, destacando a

necessidade de uma maior interação entre teoria e prática. No que se refere à

atuação, 46% defenderam a necessidade de uma prática profissional integrada no

contexto sócio educacional brasileiro.

Sendo assim, tiveram relatos de experiências onde 17,64% dos estágios que

dizem respeito às demandas governamentais e 35,29% no contexto de outros

campos de atuação, indicam uma grande confusão e atropelos formas de atuação

na área de Psicologia Escolar. Existem posturas que se chocam e divergem quando

comparadas aos dados obtidos nas reflexões teóricas com os dados obtidos nos

relatos de experiência.

Quando a pergunta se refere à atuação profissional do psicólogo em sua

interação com os professores, 58,33% dos relatos mostram a comprovação de uma

interação efetiva no trabalho do psicólogo junto aos professores, à comunidade

escolar e sua atuação em parceria com o professor e o aluno. A análise desses

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dados permite constatar que as observações da teoria e prática, não acompanham

as mudanças que estão ocorrendo nas práticas dos psicólogos no trabalho nas

escolas, tanto no âmbito da formação acadêmica quanto no trabalho profissional,

mostram evidências da necessidade urgente de mudanças.

Nessa pesquisa sobre a atuação profissional, quando se avaliam os

currículos, se identifica fatores que os tornam inadequados e confirmam cada vez

mais a relevância dos estágios curriculares no desenrolar da profissão. No entanto,

esses estágios, pelo que se observa com os dados levantados, já estão se

orientando para modelos de atuação mais parecidos com a realidade de demandas

que demonstram a carência sócia escolar brasileira: permitindo avaliar que existe

uma falha de avaliação nos estudos e pesquisas sobre a atuação profissional do

psicólogo escolar, pois não estão refletindo as transformações mais recentes

ocorridas em muitos cursos de graduação em psicologia escolar.

A dificuldade de inserção do psicólogo escolar no mercado de trabalho,

como também a sua falta de competência, pode indicar tanto uma formação

inadequada ou insuficiente quanto uma resposta dos psicólogos às exigências

imperiosas de um mercado de trabalho escasso ou, também, tentativas de resposta

a uma série de demandas, muitas vezes idealizadas.

Assim, percebe-se que em sua atuação o psicólogo escolar se preocupa

com a consideração dos processos institucionais que estão produzindo formas de

subjetivação nos diferentes atores e no desenvolvimento dos processos

educacionais. Como indicado anteriormente, a literatura referente à Psicologia

Escolar traz uma preocupação ética muito grande com a atuação do psicólogo

(DAVIS, 2014).

Nesse sentido, alguns autores, dentre eles (GUZZO, 2013; PATTO, 2014),

apontam que o psicólogo escolar, além de desenvolver atividades práticas de

maneira crítica, deve atuar como um pesquisador e reprodutor de conhecimentos.

Guzzo (2013) indica que há muito a ser investigado e produzido nessa área,

principalmente em relação a modelos de atuação para a realidade brasileira. A

autora indica que frequentemente a atuação do psicólogo escolar se mostra

descontextualizada, pois os modelos são importados de outros países.

No Brasil, na tentativa de garantir atendimento de psicólogos e assistentes

sociais em instituições de educação pública básica, foi proposto o Projeto de Lei

3.688, apresentado na Câmara dos Deputados no ano de 2000. Desde então o

52

referido projeto sofreu diversas alterações e emendas e tramitou no Senado Federal

como o Projeto de Lei Complementar PLC 60/2007, que foi aprovado nessa

instância em 2010 e aguarda a sanção presidencial.

O projeto dispõe sobre a prestação de serviços de psicologia e de

assistência social nas escolas públicas de atenção básica aproveitando-se os

serviços da rede, de forma a não sobrepor atendimentos. Assim não estabelece,

como disposto no projeto inicial de 2000, a obrigatoriedade da presença destes

profissionais no quadro de funcionários da escola, até porque não haveria como

custear isso.

O que se pode deduzir da discussão do tema desenvolvida nesta pesquisa,

é que fica claro que a atuação do psicólogo escolar diante de crianças disléxicas é

cada vez mais necessária, principalmente devido aos conflitos que têm existido

devido a pouca presença do psicólogo na escola. Além disso, o fluxo estressante da

atividade dos professores levam os alunos a necessitar cada vez mais de

intervenções psicológicas que produzam revisão de suas práticas disciplinares e

educativas. Resta perguntar até que ponto esse quadro estimula graduados em

Psicologia a desejarem se especializar na área escolar.

53

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para concluir, considera-se que o campo de atuação da psicologia do

ambiente da escola encontra-se em consolidação. É necessário utilizar os

conhecimentos psicológicos já adquiridos e buscar novos conhecimentos dentro da

própria Psicologia e em outros domínios, como a Educação, a Sociologia, a

Filosofia, etc., para que as técnicas e metodologias que contribuem para a

aprendizagem de crianças disléxicas se desenvolvam cada vez mais nas escolas.

Com vista a uma atuação eficaz, envolvida com os processos de ensino-

aprendizagem em suas dimensões históricas e políticas, o psicólogo escolar não

deve ser aquele que traz um saber ou uma resposta pronta para o aluno disléxico

ele vai interagir com esses alunos para construção de um método de aprendizagem

no contexto do processo educacional da escola.

Os resultados obtidos neste estudo demonstram que os psicólogos

escolares concebem suas atividades como multifacetadas. O trabalho interdisciplinar

foi destacado pelos psicólogos como importante para a prática profissional, bem

como o desenvolvimento de atividades integrando aluno, professores e família.

No entanto, vale destacar a desarticulação existente entre teoria e prática

profissional, que pode ser observada pelo distanciamento entre o que os psicólogos

relatam como sendo seu papel, e a sua prática profissional. O fato de apenas

poucos psicólogos terem formação na área escolar educacional revela-se como forte

implicação para uma prática desarticulada da teoria.

Com base na análise dos dados pode-se perceber que a área de psicologia

escolar ainda não consolidou a sua identidade profissional. Isso fica evidente nas

concepções dos psicólogos acerca de sua atuação nas escolas, já que para eles a

comunidade escolar tem uma visão equivocada de seu trabalho.

A crise de identidade que atinge o psicólogo escolar pode ser superada

incluindo a diversificação de práticas que visam à aprendizagem escolar, buscando

um encontro entre psicologia e educação. A atuação do psicólogo no âmbito escolar

diante do tratamento de crianças disléxicas, através de técnicas e metodologias de

ensino-aprendizagem, é de fundamental importância diante do processo educativo

específico para essas crianças.

Entende-se que um grande desafio para o psicólogo escolar é o de se fazer

reconhecer pela comunidade escolar como detentor de contribuições relevantes

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para agir como mediador do processo educativo de crianças disléxicas, tal como

propôs Correia (2014). No entanto, esse desafio só poderá ser superado à medida

que os profissionais se firmarem nesse processo e conhecerem melhor suas

possibilidades de contribuição para demonstrá-las à comunidade escolar e

consolidar sua atuação profissional.

A partir dos resultados obtidos nessa pesquisa, sugere-se que outros

estudos possam ser realizados, pois muitas indagações ainda permeiam esse

campo de conhecimento. Propõe-se que futuros estudos utilizem um maior número

de participantes, no objetivo de caracterizar e melhor conhecer as realidades e

formas de atuações desses profissionais em seus contextos de atuação.

Com análises profundas como foi à retirada do Congresso da UERJ, com os

resultados discutidos nessa pesquisa, pode-se demandar que o completo abandono

das escolas públicas brasileiras pelas autoridades educacionais no que diz respeito

à necessidade de termos o psicólogo escolar atuando nas escolas é gritante e

escandaloso.

Todos os especialistas ligados ao processo de ensino-aprendizagem de

crianças com algum tipo de deficiência criticam veementemente esses descasos das

autoridades em relação à ausência de psicólogos escolares no processo

educacional. O que não se entende é a presença de normas, leis, decretos que

reconhecem a falta desses profissionais nas escolas e a imprescindibilidade deles

para a readaptação e inclusão de alunos, principalmente disléxicos, na inclusão

social dos mesmos em busca de uma existência mais digna.

O atendimento de alunos com necessidades especiais educacionais (ANEE)

é uma realidade no mundo inteiro. O Brasil já realizou muitos avanços nessa área,

mas continua com inúmeras falhas quanto ao aparelhamento das escolas tanto com

relação a presença do psicólogo na escola, quanto à formação do mesmo para atuar

no ambiente escolar. O número de psicólogos contratados através de concursos é

ínfimo diante da demanda de alunos com disfunções disléxicas, causando um

enorme prejuízo para os pais e para a inclusão dessas crianças e jovens.

Percebe-se neste contexto de estudo, ser urgente uma reavaliação da

presença de ações e planejamento para a realização de uma pesquisa abrangente

sobre o número exato de psicólogos que hoje atuam nas escolas brasileiras,

levantando a demanda sobre a quantidade de alunos com deficiências que estão

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desassistidos, bem como o déficit de profissionais de AEE que desfalcam as equipes

multidisciplinares dessas escolas. E isso é urgente.

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