Estado actual das pescas

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Universidade do Porto Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Licenciatura em Ciências do Meio Aquático 2008/09 Ictiologia e Biologia Pesqueira Ana Catarina da Silva Pereira Reis Porto , Setembro de 2009

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Um trabalho teórico que resume os resultados do relatório da FAO: “The State of World Fisheries and Aquaculture – 2008”. Trata a evolução das capturas mundiais, da importância da pesca artesanal para a mitigação da pobreza e avaliação dos actuais stocks de atum.

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Universidade do Porto

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar

Licenciatura em Ciências do Meio Aquático – 2008/09

Ictiologia e Biologia Pesqueira

Ana Catarina da Silva Pereira Reis

Porto, Setembro de 2009

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Índice

Introdução............................................................................................................................................ 3

Estado actual das pescas...................................................................................................................... 4

Produção global da Pesca................................................................................................................. 5

Capturas em águas interiores .......................................................................................................... 9

Usos do pescado............................................................................................................................. 10

Papel da pesca artesanal na diminuição da pobreza ..................................................................... 12

Os atuns ............................................................................................................................................. 13

Descrição das espécies ................................................................................................................... 17

Atum-bonito................................................................................................................................ 17

Albacora ...................................................................................................................................... 19

Atum patudo ............................................................................................................................... 21

Atum-voador ............................................................................................................................... 22

Atum rabilo ................................................................................................................................. 24

Caracterização dos “stocks” de atum ............................................................................................ 26

Conclusão e Discussão ....................................................................................................................... 38

Bibliografia ......................................................................................................................................... 39

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Introdução

Na elaboração de um trabalho, cujo o tema é tão abrangente quanto controverso, tornou-se necessário

seleccionar os tópicos mais influentes na actualidade. Com o desenvolvimento destes tópicos pretende -se

fornecer uma síntese objectiva capaz de servir de base para a formulação de opiniões.

Antes do Homem se dedicar ao cultivo e criação de animais já a pesca era indispensável para a sua

sobrevivência. Com origem na pré-história, os seus métodos evoluiram muito com o passar dos séculos,

sendo o anzol considerado o primeiro verdadeiro instrumento de pesca.

Figura 1. Pesca no antigo Egipto. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Egyptian_fishery3.jpg)

A pesca do atum tem também uma vasta tradição e importância nas sociedades humanas e, como dois

grandes, embora intimamente relacionados, temas, a sua exposição e desenvolvimento encontram-se

subdividida em dois tópicos centrais:

Estado actual das pescas Mundiais – cujas conclusões se baseiam nos resultados apresentados

pela FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) no seu relatório: “The State of

World Fisheries and Aquaculture - 2008”.

Definição e análise dos actuais “stocks” de Atum

Na elaboração deste último ponto apenas são referidas as espécies com mais interesse comercial, para que

o trabalho não se torne demasiado extenso e a informação excessiva e desnecessária.

O termo “stock”, amplamente utilizado, na pesquisa usada para a elaboração do trabalho, nem sempre

corresponde a um grupo isolado a nível genético. Por vezes, refere-se a um grupo de indivíduos que

possuem um fenótipo semelhante e que partilham um percurso de vida idêntico na mesma região

geográfica.

Apesar desta definição parecer um pouco irrealista, uma vez que mesmo estudos genéticos têm tido

dificuldades em diferenciar os “stocks”, a sua atribuição torna-se essencial para a gestão dos recursos

pesqueiros. Área que tem ganho importância nos últimos tempos, com o crescente esgotamento dos

recursos pesqueiro e, por conseguinte, ameaça ao futuro da Pesca tal como a conhecemos.

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Estado actual das pescas

Capturas totais, resultantes do esforço conjunto da Pesca e Aquacultura produziram, em 2006, cerca de

110 milhões de toneladas de pescado (dos quais 47% provêm apenas de Aquacultura), fornecendo um

aparente valor per capita de 16,7 kg, sendo este um dos valores mais elevados alguma vez registados.

Excluindo a China, o alimento proveniente do mar tem crescido a uma taxa de 0,5% per capita por ano.

Embora este aumento represente algo muito positivo, há que ter em conta que a distribuição mundial não

é homogénea, logo, enquanto alguns países gozam de uma certa abundância de pescado, outros poderão

ter um défice do mesmo.

Figura 2. Produção mundial de pescado no esforço conjunto da pesca e aquacultura. (fonte: “The state of world

fisheries and aquaculture – 2008”, FAO)

Actualmente, a produção de pescado tem contribuído com cerca de 15% da proteína animal necessária per

capita. Embora, o seu consumo em regiões com baixos rendimentos familiares seja superior, uma vez que,

nas regiões mais isoladas, muitas das comunidades dependem da pesca para sobreviver. Assim, 18,5% da

proteína animal ingerida, nestas comunidades, provém do pescado.

Figura 3. Comunidade piscatória no Lago Vitória, Kenya. (fonte:

http://www.iec.ac.uk/wifip_%20intro_part1.html)

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Entre os maiores produtores de pescado encontra-se a China, Peru e Estados Unidos da América. Sendo a

China o líder deste sector, com uma produção de 51,5 milhões de toneladas em 2006, e um aparente

fornecimento de 29,4 kg de pescado per capita. Contudo, devido a várias falhas nas estatísticas

apresentadas e devido à grande importância e influência dos seus valores nas estatísticas mundiais, a China

é discutida como um caso aparte.

As capturas de pescado têm-se mantido estáveis na última década, com pequenas flutuações devidas às

inconstantes capturas de anchovas. Estas flutuações na produção de anchova (espécie com maiores

capturas a nível de peso) ocorrem devido à vulnerabilidade desta a alterações, causadas pelo fenómeno –

El Niño (no Pacífico Sudeste). Embora estas flutuações tendam a ser compensadas por variações nas

capturas de outras espécies.

Figura 4. Cardume de anchovas (fonte: http://www.geocities.com/aquasendas/anchovetas01.jpg)

Produção global da Pesca

A produção global das Pescas em 2006, de acordo com o relatório da FAO, foi cerca de 92 milhões de

toneladas. Valor que representa um decréscimo de 2,2 milhões, em comparação com as capturas de 2005.

Tal como se verificou noutros anos, esta variação das capturas foi, maioritariamente causada pela flutuação

nas capturas de anchovas.

As capturas no meio marinho, por seu lado, atingiram os 81,9 milhões de toneladas em 2006, o terceiro

valor mais baixo desde 1994. Apenas em 1998 e 2003 se verificou uma produção inferior e, nestes anos

considera-se que a drástica diminuição na captura de anchovas será o principal responsável.

Enquanto se verificou este decréscimo nas capturas totais e marinhas, as capturas em águas interiores

aumentaram significativamente entre 2005 e 2006. Sendo a região asiática a principal responsável,

capturando cerca de 2/3 do total. Este aumento, terá sido proporcionado por práticas que permitiram uma

melhor exploração dos “stocks”, no entanto, prevê-se que, a melhoria nos métodos de recolha de

informação, onde esta era escassa, terá dado um grande contributo.

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De acordo com análises preliminares apresentadas no relatório da FAO, as capturas mundiais, no meio

marinho (excluindo a China), aumentaram cerca de 3% em 2007 (valores não apresentados no gráfico

abaixo), em comparação com o anterior ano. E contudo, a China mostrou, nesta fase, uma tendência

contraditória, com a diminuição das suas capturas em mais de 2 milhões de toneladas. Estes resultados,

apresentados pela China foram precedidos por um ajustamento ao seu sistema de recolha de dados, assim

sendo, pensa-se que não haverá nenhum decréscimo real, apenas que as estatísticas anteriores eram mais

optimistas que a realidade.

Figura 5. Produção mundial de pescado na Pesca. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO)

Focando-nos agora nas análise das capturas por Oceano: verifica-se um aumento no Pacífico e Índico

Oestes, e uma diminuição das capturas no Oceano Atlântico. No Índico Este, as capturas voltaram a crescer

em 2006, depois do decréscimo no ano anterior causado pelos efeitos destrutivos do tsunami em

Dezembro de 2004. Pelas estatísticas fornecidas à FAO, os países mais afectados pelos efeitos do tsunami

foram o Sri Lanka (51,1% de decréscimo na produção), Malásia (-12,1%) e Índia (-8,4%). Embora, a parte

Oeste da Indonésia tenha sido fortemente afectada, este desequilíbrio foi compensado com o aumento das

capturas noutras regiões do país.

Figura 6. Costa Oeste da Indonésia, antes (esquerda) e

depois (direita) da passagem devastadora do tsunami em

Dezembro de 2004 (fonte: guardian.co.uk)

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No que diz respeito às capturas por espécie verificou-se um aumento em diversos grupos durante 2006,

com um novo recorde na captura do atum bonito (skipjack tuna), atingindo as 6,4 milhões de toneladas.

Contudo, o mesmo não se verificou no caso do albacora (yellowfin tuna), cujas capturas diminuiram já 20%

desde o máximo atingido em 2003.

Figura 7. Gráfico que ilustra a captura das dez mais importantes espécies do meio marinho em milhões de

toneladas. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO)

As espécies do gráfico anterior, no seu total, contribuem em 30% para as capturas globais no meio

marinho. Os seus “stocks”, submetidos a estudos e análises estatísticas , mostram estar totalmente

explorados ou mesmo sobre-explorados. Sendo o Atlântico Nordeste, Índico Oeste e Pacífico Nordeste as

regiões onde esta tendência é mais preocupante.

A análise geral do estado dos recursos marinhos pesqueiros confirma que, as proporções de “stocks”

sobrexplorados (28%), esgotados (8%) e em recuperação(1%) permanecem estáveis durante os últimos 10-

15 anos. Cerca de 52% dos “stocks” encontra-se totalmente explorado, perto do máximo de capturas e sem

possibilidade de expansão. E apenas 20% permanence moderadamente explorado ou subexplorado, com

uma pequena possibilidade de produzir mais do que produz actualmente.

De acordo com uma visão global da situação prevê-se que, o potencial de exploração pesqueira dos

oceanos terá sido atingido. Assim, torna-se urgente aperfeiçoar as políticas de gestão destes recursos,

particularmente no caso de espécies altamente migratórias (como os atuns) e espécies que são

maioritariamente capturadas em alto mar.

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Apesar deste trabalho tratar apenas o estado actual das Pescas, recentemente tem sido difícil distanciá-las

da Aquacultura. Isto ocorre porque, com a sobre-pesca da maioria dos “stocks” e com o aumento da

população mundial, a Pesca deixará de ser suficiente para suprir as necessidades de todos.

A aquacultura surge como um sector que complementa essas necessidades que, todavia, se encontra longe

de ser uma indústria sustentável, que não danifique os ecossistemas. Este sector é dominado pela região

Pacífico-asiática, responsável por 89% da produção mundial.

No entanto, o seu crescimento tem sido incrivelmente lento, com a crescente preocupação pública sobre as

práticas desta indústria e dúvidas sobre a qualidade real do produto. Em resposta a estas dúvidas,

actualmente, tem-se investido em sistemas integrados de aquacultura (com o cultivo de várias espécies em

simultâneo e reciclagem dos resíduos por organismos filtradores, promovendo sustentabilidade económica

e ambiental) e aquacultura orgânica que, à semelhança da agricultura praticada nesse mesmo estilo

pretende causar o mínimo de impactos negativos no meio ambiente e serenar as exageradas

preocupações, expressas pela população, acerca da qualidade de um produto criado em cativeiro com

alimento artificial.

Figura 8. Cultivo simultâneo de peixe, plantas e crustáceos (na rede), exemplo de uma aquacultura

integrada no Kenya. (fonte:http://www.azote.se/index.asp?q=Max%20Troell&id=14137&p=1&lang=eng)

Para além do papel óbvio que a Pesca e Aquacultura desempenham no fornecimento de alimento, este

sector é uma importante fonte de postos de trabalho. Estima-se que, em 2006, 43,5 milhões de pessoas

estavam ligadas a esta indústria.

Nas últimas três décadas os postos de trabalho criados pela Pesca e Aquacultura superaram o crescimento

da população mundial e o número de postos de trabalho em Agricultura. Todavia, analisando as estatísticas

globais o número de pessoas envolvidas nas Pescas tem vindo a declinar em cerca de 12% no período de

2001-06. Desta forma, o maior contributo na criação de postos de trabalho deve-se à Aquacultura.

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A maioria dos pescadores pratica, ainda, uma pesca artesanal de pequena escala, operando em águas

interiores ou costeiras.

Capturas em águas interiores

Em 2006 as capturas em águas interiores excederam os 10 milhões de toneladas (mais de 10% das capturas

totais), atingindo um novo recorde. Comparado com as capturas em 2004 o presente valor representa um

aumento de 12,8%. Contudo, resta saber se, este aumento se deve às capturas reais ou se, pelo contrário é

o resultado das melhorias nos métodos de recolha de informação.

A nível mundial é a Ásia quem mais se destaca neste sector, com a captura de 2/3 do total referido;

produzindo 2,4 milhões de toneladas a África ganha um segundo lugar nesta contagem, apesar da sua

produção ter diminuido 2,7% em 2006. Enquanto que, o continente Americano dá mostras de uma ligeira

redução na produção de pescado, a Europa mostra uma tendência contrária, recuperando dos reduzidos

valores registados em 2004 (sendo a Rússia responsável por 60% da produção europeia).

Figura 9. Países que apresentam maiores valores na captura em águas interiores. (fonte: “The state of world

fisheries and aquaculture – 2008”, FAO)

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Analisando a produção por país (figura 9) verifica-se que a China, e outros países em vias de

desenvolvimento são responsáveis, no seu conjunto, por 95% de todas as capturas em águas interiores.

Estes resultados não são inesperados, uma vez que, nestes países a pesca artesanal em cursos de água

doce ou estuarina são uma importante fonte de sustento das pequenas comunidades piscatórias.

Pelo contrário, em países desenvolvidos verifica-se uma redução acentuada deste tipo de pesca, dado lugar

ao desenvolvimento em grande escala da pesca desportiva.

Figura 10. Concurso de pesca deportiva de Santo Tirso. (fonte:

http://www.cm-

stirso.pt/index.php?Itemid=247&id=421&option=com_content&task=view)

Uma vez que a pesca em águas interiores não apresenta os mesmos sinais de sobre-exploração do meio

marinho pensa-se que, adoptando uma política de precaução, este sector possa ser mais desenvolvido, sem

riscos para o meio ambiente.

De acordo com diversos estudos efectuados verifica-se que, tanto a pesca como o próprio ecossistema das

águas interiores são altamente complexos. Apesar de tudo, a pesca não parece afectar significativamente o

ecossistema e, desta forma, os “stocks” são principalmente afectados processos ambientais e alterações no

clima, desde flutuações no afluxo de água (cheias, secas, etc.) a variações no “input” de nutrientes (que

pode ser de origem natural ou causado pela poluição).

No entanto, os impactos causados pelo Homem no ecossistema não devem ser ignorados, com a

introdução de espécies exóticas, poluição, fragmentação de habitats (devios de cursos de água, construção

de barragens, etc.), estes frágeis ecossistemas suportam uma pressão antropogénica que poderá reduzir

para além de qualquer esperança os seus preciosos “stocks”.

Em suma, a gestão destes recursos pesqueiros, importante fonte de subsistência em regiões mais isoladas e

empobrecidas, carece de uma abordagem ecossistémica para que possam ser preservados.

Usos do pescado

De acordo com dados de 2006, cerca de 77% das capturas mundiais tiveram como destino final o consumo

humano. Quanto à restante produção, esta foi aplicada em produtos não-alimentares, como as farinhas e

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óleos de peixe. A quantidade de pescado usado no fabrico de farinha de peixe superou os 20 milhões de

toneladas, apresentando, apesar de tudo, uma queda de 14% desde 2005.

Do pescado usado para consumo humano, 48,5% foi comercializado na forma viva ou fresca (produtos que

atingem os maiores preços no mercado). Enquanto que, 54% de toda a produção mundial sofreu algum tipo

de processamento: 74% do peixe processado foi usado para consumo humano directo (congelado, curado

ou preparado) e o restante para usos não alimentares.

O congelamento, é o principal processo utilizado na preservação de produtos destinados a consumo

humano, alcançando 50% de todos os produtos processados, seguido de produtos preparados ou pré-

cozinhados (29%) e produtos fumados (21%). Apesar de que, em Portugal este último tipo de

processamento em pescado não ser muito tradicional e poucos destes produtos serem vendidos com êxito

no nosso país (se calhar, com a excepção do salmão fumado).

Figura 11. Principais usos do pescado. (fonte: “The state of world fisheries and aquaculture – 2008”, FAO)

O processamento do pescado tem sofrido várias alteração ao longo das passadas duas décadas,

influenciado tanto pelos avanços na tecnologia, logística e transporte como também pela crescente

importância que a indústria coloca nos gostos dos consumidores.

Uma importante aplicação do pescado surgiu na área farmacêutica, com a exploração do pescado como

fonte de moléculas bioactivas.

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Papel da pesca artesanal na diminuição da pobreza

“The concept of poverty includes different dimensions of deprivation.”

Definir o conceito de pobreza revelou-se uma tarefa complexa, contudo, é aceite que a pobreza representa

várias dimensões de privação. Estas relacionam-se com os vários graus da necessidade humana, como o

poder de compra, segurança (incluindo alimentar), saúde, educação, direitos, dignidade e trabalho decente.

Os pescadores vivem, geralmente, em comunidades remotas e isoladas. Estas regiões caracterizam-se por

estar mal organizadas, sem representação política e, geralmente mais expostas a desastres naturais. O

isolamento social faz com que não tenham a oportunidade de melhorar os serviços que, em comunidades

desenvolvidas são dados como garantidos.

Desta forma, o seu estilo de vida nem sempre depende das capturas pesqueiras. Apesar de, nalgumas

comunidades a sobre-exploração provocar a pobreza, o que se verifica na maioria dos casos é que, mesmo

com um número razoável de capturas, os cidadãos continuam sem ter acesso a serviços essenciais que

permitam melhorar o seu nível de vida.

O facto da maior parte destas comunidades piscatórias (principalmente em África e Ásia) serem nómadas

aumenta a sua exposição a condições de privação e pobreza. Para além das óbvias privações na saúde e

acesso a condições sanitárias decentes, estas comunidades nómadas tendem a ser marginalizadas pela

restante sociedade por não terem “voz” e, por vezes se caracterizarem por crenças muito próprias e

fechadas. Apesar de serem ainda incompreendidas e pouco se saber acerca do seu contributo real para a

economia, as suas condições de vida são vulneráveis e, por isso devem ser protegidas.

Tendo em conta os impactos negativos que a pesca pode ter num ecossistema, sabe-se que, em pequena

escala esta pode representar algumas vantagens, comparando com uma escala industrial:

Menos impactos ambientais;

Capacidade de partilhar a riqueza e os benefícios sociais obtidos de forma descentralizada;

Forte contributo para a herança cultural, devido aos seus grandes conhecimentos sobre o

funcionamento dos ecossistemas.

As medidas que dão acesso preferencial aos Pescadores de pequena escala podem, de facto proteger os

recursos. Um exemplo foi a implementação de uma lei que dava prioridade aos pequenos Pescadores , nos

mares Java e Sumatra, pelo governo da Indonésia em 1980. Esta decisão ajudou a preservar os recursos do

Java, aumentando a criação de postos de trabalho e uma maior e equilibrada distribuição da riqueza.

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Figura 12. Barcos de pesca num porto do Mar de

Java. (fonte: http://www.planetpinkngreen.com/when-we-

ceased-vacationing-and-started-traveling/)

Os atuns

Os atuns assumem um papel de importância nas sociedades humanas desde há milhões de anos, sendo tal

facto comprovado por achados arqueológicos que datam de há 6 000 anos.

Contudo, o seu valor não parece ter diminuido ao longo da história, pelo contrário, actualmente este

continua a ser dos peixes mais capturados e consumidos. Encontra-se disponível nas mais variadas formas:

Cru;

Fumado;

Seco;

Enlatado (sendo esta a forma preferencial de consumo), etc.

Figura 13. Fotografia que ilustra o aspecto que

adquire o atum enlatado. (fonte:

http://www.alibaba.com/product/yehudama-11371177-10894041/Canned_Tuna.html)

Mas não é apenas no sector do consumo humano que estas espécies adquirem importância. As suas

adaptações a um estilo de vida em constantes migrações, tanto horizontais como verticais, não deixam de

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nos surpreender. A par dos espadins e espadartes, os atuns são os únicos peixes ósseos conhecidos capazes

de conservar o calor interno (metabólico), associando a função muscular ao sistema circulatório. Esta

capacidade designa-se de endotermia.

Para entender o seu papel e lugal na escala evolutiva, encontra-se, de seguida, detalhada a sua classificação

taxonómica.

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Classe: Actinopterygii

Infraclasse: Teleostei

Supra ordem: Acanthopterygii

Ordem: Perciformes

Família: Scombridae (constituída por 2 sub-famílias)

Sub-família: Scombrinae (constituída por 4 tribos)

Tribo: Thunnini

Género: Katsuwonus (espécie: K. pelamis)

Género: Thunnus

Espécies: T.alalunga

T. maccoyii

T. obesus

T. thynnus

Subespécie: T. thynnus thynnus

T. thynnus orientalis

T. albacores

T. atlanticus

T. tonggol

Quanto à sua distribuição pelos oceanos, é sabido que, o Pacífico reúne cerca de 67% das unidades

populacionais de atuns, enquanto que o Índico reúne apenas 21% e, ao Atlântico restam uns meros 12%.

As capturas, são altamente influenciadas por esta distrbuição natural. De acordo com estatísticas de 2000,

é no Pacífico que decorre a sua maioria (cerca de 60%), com a excepção do atum rabilo. Das zonas do

Pacífico, a zona central oeste é a responsável pela maior parte da produção referida, cerca de 30% da

produção mundial.

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Figura 14. Capturas de atum por oceano. (fonte:http://www.fao.org/docrep/005/y4499e/y4499e05.htm#bm05.2)

Analisando as tendências dos métodos de captura, verifica-se que cerca de 65% do atum é capturado

usando preferencialmente redes de cerco, contra os restantes métodos de pesca com linhas que não

permitem capturas em grandes quantidades.

Figura 15. Pesca de atum com rede de cerco com retenida. (fonte: http://tunaseiners.com/blog/wp-

content/uploads/2009/07/purse-seine-net.jpg)

Analisando atentamente o anterior gráfico (figura 14) verifica-se que, no caso do Oceano Índico, antes dos

anos 80, este era responsável pela captura de apenas 8% do atum, sendo o Sri Lanka e as Maldivas os

países que maior contributo deram para esta estatística. Contudo, no princípio dessa década, as frotas

pesqueiras Francesas e Espanholas, enfrentando a crescente escassez de capturas no Atlântico, expandiram

a sua exploração ao Índico oeste, com o aumento exponencial nas capturas de bonito e albacora.

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Com este investimento, das frotas europeias no Índico, a produção de atum aumentou para 20%. Sendo o

bonito e o albacora as espécies mais capturadas, alcançando os 80% nas capturas totais neste oceano.

O Atlântico, por seu lado, produz apenas 14% do atum a nível mundial, sendo que 11,2% das capturas

ocorrem no Atlântico Este. Apesar da pesca artesanal destas espécies existir desde o século XII

(especialmente sob a forma de armadilhas no Mediterrâneo), apenas a partir dos anos 50 se verificou um

forte investimento na pesca em grande escala.

Nesta altura, as capturas aumentaram lentamente até aos inícios dos anos 80, quando as frotas pesqueiras

partiram para explorar os recursos no Índico, e, desde aí mantiveram-se estáveis.

Analisando as tendâncias nas capturas por espécie, verifica-se um crescimento regular, em todas elas, ao

longo de todo o período representado. A partir de 1984, ocorre um aumento na taxa de crescimento,

devido à exploração de novos locais de pesca no Pacífico e Índico Oestes. Embora este sector não dê

mostras do seu enfraquecimento, desde 1990 que não são descobertos novos locais de pesca (de

dimensões relevantes) e, grande maioria dos existentes encontra-se ameaçado pela poluição e sobre-

pesca. Desta forma, os aumentos das capturas foram uma consequência do avanço tecnológico e melhorias

nas artes de pesca.

Figura 16. Captura de atuns por espécie ao longo do tempo. SKJ – bonito; YFT – atum amarelo; BET – atum

patudo; ALB – atum voador. (fonte:http://www.fao.org/docrep/005/y4499e/y4499e05.htm#bm05.2)

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Descrição das espécies

Atum-bonito

Nome científico: Katsuwonus pelamis

Figura 17. Ilustração do bonito. (fonte: http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/SkipjackTuna/SkipjackTuna.html)

Nomes comuns: bonito, gaiado, listado, barriga-listada, bonito-de-ventre-raiado, sarrajão.

Dimensões: pode atingir os 108 cm de comprimento e os 35 kg, contudo as suas dimensões mais comuns

não ultrapassam os 75 cm e dos 23 kg de peso.

Longevidade: 4,5-8 anos, aos 1,5anos atingem a maturidade sexual, quando chega aos 45cm de

comprimento e 1,5Kg de peso.

Distribuição geográfica: superfície de águas tropicais e subtropicais de todos os oceanos, principalmente

entre as latitudes 20ºN e 10ºS. No Atlântico está presente em toda a costa europeia até ao Mar do Norte,

contudo está ausente no Mediterrâneo e Mar Báltico.

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Figura 18. A zona a vermelho no mapa marca a distribuição geográfica do atum bonito. (fonte:

http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/SkipjackTuna/SkipjackTuna.html)

Habitat: espécie epipelágica, em águas com temperaturas de 14,7 a 30ºC. Durante o dia permanece à

superfície, enquanto que de noite pode mergulhar até aos 260m. Forma com frequência cardumes

agrupados por tamanhos. Pensa-se que, os indivíduos de menores dimensões, não são capazes de

acompanhar as grandes velocidades dos atuns maiores, por isso ficam na “cauda” do cardume . Estes

podem ser mono ou multi-específicos, sendo frequente a sua associação com mamíferos marinhos,

tubarões e mesmo objectos flutuantes.

Alimentação: predador oportunista, essencialmente ictiófago, embora se alimente também de crustáceos

e moluscos. O pico da alimentação ocorre no final da madrugada e ao cair da noite. Os indivíduos de

menores dimensões normalmente alimentam-se em grupo, enquanto que os maiores são mais solitários.

Reprodução: espécie ovípara, com desovas múltiplas durante todo o ano nos trópicos, contudo, estas

tornam-se mais espaçadas, no tempo, à medida que as populações se afastam do equador. A fecundidade

parece estar dependente do tamanho da fêmea, cada uma pode produzir cerca de 80.000 a 2.300.000

óvulos em cada postura. O desenvolvimento larvar dura cerca de 20 dias.

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Albacora

Nome científico: Thunnus alcabacares

Figura 19. Ilustração do albacora. (fonte: http://www.pattyanncharters.com/image/yellowFin%20Tuna.jpg)

Nomes comuns: albacora, atum-de-galha-à-ré, alvacor, atum-de-barbatana-amarela, atum-amarelo.

Dimensões: peixe de crescimento rápido, pode chegar aos 170-200cm de comprimento e aos 175-200 kg

de peso.

Longevidade: 7,5 anos e alcança a maturidade sexual aos 2,5-3 anos, quando atingem os 105 cm.

Distribuição geográfica: Presentes em águas tropicais e subtropicais, com uma distribuição contínua,

preferencialmente entre as latitudes 35ºN e 20ºS. Ausente no Mar Mediterrâneo e raramente visto nos

mares continentais de Portugal.

No Atlântico os Açores marcam o limite norte da distribuição desta espécie.

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Figura 20. Mapa que marca a distribuição (vermelho) do albacora. (fonte:

http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/Descript/YellowfinTuna/yellowfintunabasemap.JPG)

Habitat: espécie epipelágica, habita os primeiros 100m da coluna de água, onde o oxigénio é mais

abundante e as temperaturas variam dos 18 aos 31ºC. Forma com muita frequência cardumes, agrupados

essencialmente por tamanhos, com os espécimens de maiores dimensões na dianteira. Associam-se

frequentemente com outras espécies de atuns, como os bonitos e atum-patudo, e, no Pacífico chega a

associar-se a golfinhos, comportamento pouco frequente noutros oceanos. Muitas vezes associam-se a

objectos flutuantes, comportamento explicado por várias hipóteses: o objecto serve como substrato para a

postura de ovos, local de remoção de parasitas (pelos organismos que vivem neste substrato) ou pode

mesmo ser visto como mais um indivíduo integrante do cardume.

Em mergulhos profundos estes cardumes têm a tendência a dissociar-se, uma vez que há menos ameaças

de predadores e esta formação deixa de ser benéfica.

Alimentação: à semelhança das outras espécies de atuns, é um predador não selectivo, alimentando-se

geralmente de peixes, cefalópodes (lulas) e crustáceos. Ao capturar as suas presas perto da superfície

indica que esta espécie depende da sua desenvolvida visão para se alimentar.

Reprodução: espécie ovípara, cuja época de desova está limita a 6 meses no ano, durante os meses de

maior calor, diferentes em cada hemisfério. As posturas ocorrem em alto mar e cada fêmea pode libertar

até 6.000.000 óvulos. A desova, contudo, será influenciada pela temperatura e salinidade, com 26ºC a

constituir o limite inferior para que esta ocorra. O desenvolvimento larvar decorre durante 28 dias, com as

larvas a apresentar características muito particulares: um único ponto de pigmento ne gro debaixo do

“queixo” e a ausência de pigmentação na barbatana caudal.

Page 21: Estado actual das pescas

21

Atum patudo

Nome científico: Thunnus obesus

Figura 21. Ilustração do atum patudo. (fonte: http://www.pattyanncharters.com/Montauk%20Offshore%20Fish.html)

Nomes comuns: atum patudo, albacora, atum-de-olhos-grandes, atum-obeso, atum-da-ilha-da-madeira,

atum-das-canárias, atum-fogo.

Dimensões: pode alcançar os 239 cm de comprimento e uns 225 kg em peso. No entanto, o peso mais

comum situa-se entre os 160-180 kg.

Longevidade: vive cerca de 6 anos e atinge a maturidade sexual aos 3,5 anos com 115-130cm de

comprimento.

Distribuição geográfica: habita águas tropicais e subtropicais, com uma distribuição contínua, exceptuando

no Mar Mediterrâneo onde está ausente. Os Açores constituem a fronteira norte na sua distribuição, no

entanto esta espécie é mais frequente na Madeira.

Figura 22. Mapa ilustra a distribuição do atum patudo. (fonte: FAO)

Page 22: Estado actual das pescas

22

Habitat: espécie epi e mesopelágica em águas com com temperaturas entre os 17 e 22ºC. Podem atingir

profundidades na ordem dos 1000m, contudo em média não ultrapassam os 450m. Habitualmente forma

cardumes agrupados por tamanhos, que podem ser tanto mono como multi-específicos (associados a

espécies como o albacora e bonito), por vezes podem associar-se também a objectos flutuantes.

Alimentação: predadores não selectivos, que se alimentam tanto de dia como durante a noite, perseguindo

peixes pelágicos, crustáceos e cefalópodes.

Reprodução: desova ocorre durante apenas 3 meses, duas vezes ao ano. Em cada postura múltipla uma

fêmea pode libertar até 6.300.000 óvulos, contudo este número é significativamente afectado pelo

tamanho da fêmea.

Atum-voador

Nome científico: Thunnus alalunga

Figura 23. Ilustração do atum voador. (fonte: http://www.spc.int/OceanFish/html/SAM/albacore.htm)

Nomes comuns: atum-voador, atum-branco, atum-de-galha-comprida, albacora, albacora-branco, tombo,

germão, ilhéu, asinha.

Dimensões: espécie de pequeno porte, com um comprimento máximo de 140cm, raramente alcançando os

80 kg de peso.

Longevidade: vivem cerca de 9,5 anos e aos 4,5 anos com cerca de 90cm e 25kg atinge a maturidade

sexual.

Page 23: Estado actual das pescas

23

Distribuição geográfica: considerada cosmopolita em águas subtropicais e temperadas, principalmente nas

latitudes 50ºN e 40ºS, incluindo no Mar Mediterrâneo. Enquanto adultos apresentam uma característica

muito peculiar que facilmente os distingue das restantes espécies: as barbatanas peitorais são muito

longas, ultrapassando em comprimento a origem na segunda barbatana dorsal, embora, comparativamente

o atum patudo apresente barbatanas de maior comprimento.

Figura 24. Mapa que ilustra a distribuição mundial do atum voador, a verde estão demarcados os principais

locais de exploração pesqueira. (fonte: http://www.fao.org/docrep/009/a0653e/a0653e05.htm)

Habitat: espécie epi e mesopelágica, vivem em águas cujas temperaturas variam entre 16 e 20ºC, contudo,

são capazes de tolerar até aos 9,5ºC durante curtos períodos de tempo. Executam curtos mergulhos de

profundidade, podendo alcançar entre os 380 e 600m. Podem formar cardumes, ocasionalmente

associados a albacoras, bonitos e atum-rabilo, sendo também encontrados junto a objectos flutuantes.

Alimentação: predador voraz não selectivo, que se alimenta de peixes, cefalópodes (lulas e chocos) e

crustáceos; organismos que pode perseguir até aos 500m de profundidade.

Reprodução: a época de desova ocorre sazonalmente durante cerca de 3 meses no ano. Cada fêmea pode

libertar até 2.500.000 óvulos, e o tamanho da mesma não parece influenciar estes números, tal como

ocorre noutras espécies.

Page 24: Estado actual das pescas

24

Atum rabilo

Nome científico: Thunnus thynnus thynnus

Figura 25. Ilustração do atum rabilo. (fonte: http://www.pattyanncharters.com/Montauk%20Offshore%20Fish.html)

Nomes comuns: atum rabilo, rabil, albacora-azul, atum-de-direito, atum-de-revés, rabão, atum-vermelho,

atum-legítimo, atum-verdadeiro.

Dimensões: atinge um comprimento máximo de 458 cm e um peso máximo de 684 kg. No entanto, os

valores mais vulgares situam-se entre os 300-400cm.

Longevidade: vive cerca de 20 anos, sendo a espécie de atum de crescimento mais lento e, a sua

maturidade sexual ocorre por volta dos 4-5 anos ao atingir o comprimento de 115-150cm e o peso de

200kg.

Distribuição geográfica: distribui-se pelas águas temperadas e subtropicais do Pacífico e Atlântico,

essencialmente entre as latitudes 35ºN e 60ºN, com temperaturas entre os 17 e 22ºC. No Atlântico Norte

alcança as maiores latitudes, chegando até às águas frias da Noruega. Podem efectuar longas migrações

horizontais, mesmo exclusivamente transatlânticas.

Page 25: Estado actual das pescas

25

Figura 26. Mapa que demarca a vermelho a distribuição do atum rabilo. (fonte:

http://www.flmnh.ufl.edu/fish/gallery/descript/bluefintuna/bluefintuna.html)

Habitat: espécie pelágica veloz que pode atingir os 70 km/h em súbitos arranques, vive sobretudo em alto

mar, contudo verificam-se algumas aproximações sazonais a águas costeiras. Executam mergulhos

profundos, podendo alcançar mais de 1000 m de profundidade. Verifica-se um forte impulso para formar

cardumes, especialmente enquanto jovens, estes agrupamentos surgem tanto de dia como de noite o que

sugere que esta espécie possui um sistema de linha lateral desenvolvido. Normalmente associam-se a

albacoras, bonitos, atuns patudos e voadores.

Alimentação: predador voraz e não selectivo, alimenta-se nas águas mais frias do Atlântico. Exibem

diferentes estratégias de predação de acordo com a presa, atingindo grandes velocidades na perseguição

de cardumes (por exemplo, de anchovas), e agindo quase como filtradores quando se trata de presas que

pouco se movimentam. Alimentando-se também de crustáceos e cefalópodes (lulas, polvos e Nautilus).

Reprodução: espécie ovípara, cuja época de desova se encontra mais limitada que nas outras espécies de

atum. No Atlântico migra para as águas temperadas do Mediterrâneo, Adriático e Golfo do México para

desovar, enquanto que no Pacífico se dirige para as águas costeiras das Filipinas. A época está limitada a 3

meses e ocorre em alturas diferentes consoante o local de desova. Cada fêmea pode libertar até 6.000.000

óvulos em cada postura múltipla, sendo que o desenvolvimento larvar ocorre em 28 dias, findos quais a

larva evolui para alevim (com as mesmas características que os adultos mas de menores dimensões).

Page 26: Estado actual das pescas

26

Caracterização dos “stocks” de atum

Bonito (Katsuwonus pelamis)

Esta éspecie, apesar de não pertencer ao género Thunnus (os apelidados verdadeiros atuns), dentro da

tribo a que ambos pertencem é o género que mais se aproxima a nível filogenético. A razão pela qual foi

incluida neste trabalho liga-se à sua importância na actualidade.

Actualmente, o bonito é das espécies mais importantes no sector da pesca a nível mundial, representando

40% de todas as capturas mundiais. O principal método usado para a sua captura são as redes de cerco,

sendo comercializado na forma de enlatado, fresco e mesmo seco, esta última modalidade praticada

essencialmente no Japão.

Figura 27. Venda de bonito no mercado do peixe. (fonte:

http://www.fmap.ca/ramweb/media/management_effectiveness/h

ome.php?sub=34)

É no Pacífico Ocidental, que esta espécie apresenta um maior índice de captura (55%), enquanto que no

Atlântico atinge uma quota de apenas 13% (contra 67% em todo o Pacífico e 20% no Índico).

Identificar e contabilizar as populacções de bonito revelou-se uma tarefa bastante complicada, sendo uma

espécie com um ciclo de vida curto e uma elevada e variável produtividade (todos os anos o recrutamento

de novos indíviduos para os “stocks” representa uma grande porção da biomassa destes), sendo difícil

detectar o efeito da pesca nos “stocks”. A sua grande produtividade parece tornar as populações menos

susceptíveis aos fenómenos de sobre-pesca, com grandes recrutamentos que repõe os níveis desgastados

pela pesca.

Contudo, com o significativo aumento do esforço de pesca, o peso médio por indivíduo capturado t em

vindo a declinar desde 2000. Os estudos realizados não são conclusivos, e, pelos dados actuais, sabe-se que

estes fenómenos podem não estar relacionados e que esta diminuição pode ser a consequência do

aumento do recrutamento (mais densidade populacional).

Enquanto que o recrutamento aumenta, certamente em resposta ao aumento da taxa de exploração, não

são visíveis (por enquanto) quaisquer efeitos negativos nas populações.

Page 27: Estado actual das pescas

27

Oceano Pacífico

O bonito, em termos de capturas por peso é a espécie dominante no Pacífico. Alguns estudos genéticos

mostram algum grau de mistura entre os “stocks”, no entanto, para efeitos de gestão consideram-se duas

populações independentes:

1. “Stock” do Pacífico Oeste.

2. “Stock” do Pacífico Este.

Esta divisão é suportada por alguns estudos onde se procedeu à marcação e rastreio de indivíduos de

ambas as populações, verificando que os movimentos entre as duas são bastante limitados.

De acordo com um estudo conduzido pela SPC (Secretariat of the Pacific Community), o “stock” Oeste

parece não ter realizado todo o seu potencial e pensa-se que ainda será possível aumentar as capturas nos

próximos tempos.

Contudo, aumentando o esforço de pesca, principalmente se as artes forem pouco selectivas, há risco de

aumentarem, paralelamente as capturas de albacora e atum patudo, uma vez que estas podem viver em

associação com o bonito.

Oceano Índico

As capturas de bonito neste oceano têm vindo aumentar de forma estável desde a introdução das redes de

cerco provenientes de França e Espanha. Contudo, os seus níveis não são muito elevados, nem constituem

um importante contributo para a produção mundial.

O bonito neste Oceano encontra-se distribuido num único “stock” que, apesar de não aparentar quaisquer

sinais de sobre-exploração, pensa-sa que um aumento do esforço de pesca poderá trazer consequências

perigosas e imprevisíveis.

Oceano Atlântico

Em termos de peso, as capturas de bonito neste oceano adquirem um grande importância, sendo a espécie

de atum que alcança mais toneladas por ano. Com 85% das capturas no Atlântico Este e as restantes nas

águas costeiras do Brasil.

A população de bonito é distribuida em dois “stocks” distintos:

1. “Stock” do Atlântico Este.

2. “Stock” do Atlântico Oeste.

Page 28: Estado actual das pescas

28

Apesar de alguns estudos mostrarem que estes “stocks” estão sub-explorados, com a possibilidade de

aumentar as capturas, em anos recentes, outros estudos mostram uma perspectiva bem diferente. Mesmo

com a diminuição do esforço de pesca os “stocks” estarão ameaçados pelas crescentes mortalidades na

pesca, devidas ao aumento do poder de pesca dos próprios navios – situação que deve ser cuidadosamente

controlada.

Albacora (Thunnus albacares)

O albacora é uma espécie bastante apreciada pela sua carne mais clara, principalmente no seio da indústria

conserveira e de restauração.

Maioritariamente pescado no Pacífico Este (25%) e em menor escala no Oceano Atlântico, onde atinge uma

cota de apenas 15% (60% em todo o Pacífico e 25% no Índico). Analisando as capturas por peso verifica-se

que esta é a segunda espécie mais importante a seguir ao bonito, constituindo cerca de 30% das capturas

mundiais.

Apesar da sua alargada distribuição, o albacora parece confinado a águas tropicais em menores latitudes.

Em comparação com o bonito, esta espécie vive mais tempo e alcança maiores dimensões.

O método preferencial de captura são as redes de cerco, contudo, ao contrário do bonito o método dos

palangres flutuantes é também amplamente usado.

Figura 28. Ilustração da pesca de atum com palangre flutuante. (fonte:

http://www2.convention.co.jp/maguro/e_maguro/e_tuna_facts.html)

Page 29: Estado actual das pescas

29

Oceano Pacífico

Desde 1990 as capturas de albacora têm-se mantido relativamente estáveis, após um grande período de

aumento das mesmas. A população de atum divide-se em dois “stocks” neste oceano:

1. “Stock” do Pacífico Oeste.

2. “Stock” do Pacífico Este.

Sendo que, a longitude 150ºW demarca a fronteira entre ambos os “stocks”, Oeste e Este.

No Pacífico Oeste, apesar das poucas evidências de sobre-exploração dos “stocks”, a diminuição das taxas

de capturas e do peso por indivíduo capturado, alertam para essa possibilidade, sendo que devemos estar

atentos a qualquer modificação mais significativa.

Por outro lado o Pacífico Este encontra-se completamente explorado, produzindo muito próximo do seu

máximo, desta forma, já não é possível aumentar o eforço de pesca sem causar efeitos nefastos e a longo

prazo. A pesca de albacora de grandes dimensões apresenta uma mortalidade significativa de golfinhos que

estão a eles associados em grandes cardumes. A utilização de objectos flutuantes na pesca destes atuns

poderá reduzir o impacto nas populações de golfinhos, apesar de este método capturar espécimens de

menores dimensões.

Oceano Índico

As capturas aumentaram rapidamente aquando da chegada das frotas Espanholas e Francesas, atingindo

um máximo em 1993, desde então os seus níveis têm-se mantido estáveis.

Considera-se que o Índico possui um único “stock” em toda a sua extensão, contudo, para efeitos de gestão

se os considerarmos dois “stocks”, um Oeste e outro Este acredita-se que ainda é possível aumentar

ligeiramente as capturas na parte Este, de forma sustentável.

Oceano Atlântico

Neste oceano cerca de 60% do albacora é capturado usando redes de cerco, contudo os palangres

flutuantes e os navios que pescam usando engodo são também métodos de captura muito comuns.

Os indivíduos com um comprimento inferior a 40cm são muitas vezes descartados, pelo seu reduzido valor

commercial. Com o aumento do uso de objectos flutuantes na pesca de albacora, verifica-se um aumento

da captura de espécimens de pequenas dimensões.

Page 30: Estado actual das pescas

30

A população de albacora constitui, no Atlântico, um único “stock”, cuja postura ocorre nas regiões

equatoriais do Atlântico central. Quando os alevins atingem um determinado comprimento iniciam a sua

migração para a zona Oeste do oceano, podendo migrar para Este quando alcançar perto dos 110cm.

As capturas têm vindo a decrescer desde 1990, com os maiores valores obtidos no Atlântico Este. Estudos

recentes indicam que o “stock” se encontra muito perto do seu máximo de capturas sustentáveis, e, que

qualquer aumento na mortalidade poderá rapidamente levar a situação de sobre-pesca.

Apesar do esforço de pesca não ter aumentado em anos recentes, prevé -se que o aumento da eficiência

das embarcações não está a ser devidamente contabilizado, o que conduz a resultados ilusórios. Desta

forma, existe uma pequena possibilidade do “stock” estar já na fase de sobre-exploração sem que sejamos

capazes de o perceber.

Devido à crescente captura de albacora de pequenas dimensões, o ICCAT ( International Commission for the

Conservation of Atlantic Tunas) restringiu a pesca deste com objectos flutuantes, de Novembro a Janeiro,

para reduzir os efeitos nefastos desta prática nas populações.

Figura 29. Pesca com objecto flutuantes que agregam populações de atum. (fonte:

http://www.gap1.eu/Case_Studies/France_Spain.htm)

Em conclusão, verifica-se aumento nas capturas de albacora em todos os oceanos, excepto no Atlântico,

em que as capturas têm vindo a declinar nos últimos 20 anos.

Atum patudo (Thunnus obesus)

O patudo é uma das espécies de atum mais pescada e apreciada no Japão, sendo utilizado como um

substituto do atum rabilo, na preparação das especialidades como sushi – produto de grande importância

Page 31: Estado actual das pescas

31

no mercado oriental, atingindo o seu pico de vendas por volta do Natal. Este peixe é, na sua maioria

pescado no Pacífico Este (37%), seguido pelos 25% de capturas no Atlântico (ao todo no Pacífico atinge os

60% e apenas 15% no Índico).

Figura 30. Sushi (conjunto de arroz com

carne/peixe crus) e sashimi, referente à fina

fatia de peixe (normalmente atum) cru no

topo do bolo de arroz. (fonte:

http://www.nytimes.com/2008/01/23/dining/23sushi.ht

ml)

O atum patudo é muito semelhante ao albacora a nível morfo e fisiológico, sendo que alguns pescadores

confundem estas duas espécies frequentemente.

Este atum habita águas abaixo da termoclina e, uma das suas mais notáveis adaptações à vida em

profundidade, consiste numa espessa camada de gordura subcutânea, que os isola das frias águas

profundas. Esta camada de gordura torna o patudo um produto de muito valor no mercado de sashimi.

Sendo uma espécie de profundidade, os métodos usados na captura das outras espécies de atuns tiveram

que ser adaptadas. Desta forma, por volta dos anos 70 surgiu o método do palangre fundeado, que,

aplicando o mesmo princípio do flutuante permitiu a captura de atum em profundidade. Com este método

as capturas começaram a aumentar bastante.

Oceano Pacífico

Durante os anos 80 foram desenvolvidos novos métodos de pescas que permitem uma mais eficaz captura

do atum patudo, esses métodos envolvem o uso de objectos flutuantes (para atrair os atuns), sonares (para

identificar os cardumes) e redes profundas para os capturar.

Figura 31. Esquema que ilustra o

funcionamento e disposição dos palangres

fundeados. (fonte:

http://www.afma.gov.au/information/students/metho

ds/demersal.htm)

Page 32: Estado actual das pescas

32

Embora, o atum capturado por este método seja, em geral mais pequeno que aquele que é capturado

usando os palangres. Para além destes dois métodos mencionados, as redes de cerco também são usadas

na pesca de patudo.

Com o aumenta da captura de patudo à superfície (atraído pelos objectos flutuantes) verificou-se um

declínio na pesca em profundidade; o que poderá também ter sido causado pela sobre-exploração do

próprio método. Contudo, o problema torna-se mais grave ao pensarmos no seu efeito no mercado, com o

atum de maiores dimensões (o de maior valor comercial) a aparecer cada vez menos o efeito na economia

de um país ou região poderá ser devastador.

Esta crescente preocupação levou a IATTC ( Inter-American Tropical Tuna Commission) a adoptar medidas

de conservação que restringam a captura de patudo usando objectos flutuantes, durante uma parte do

ano.

As capturas de atum patudo encontram-se bastante próximo do máximo sustentável, indicando que

futuros aumentos no esforço pesca poderão conduzir à sobre-pesca dos “stocks”. No Pacífico distribuem-se

em:

1. “Stock” Pacífico Oeste.

2. “Stock” Pacífico Este.

Oceano Índico

Também neste oceano, se verificou o declínio do uso de navios que praticavam a captura por palangre

fundeado, para dar lugar a capturas à superfície. Contudo, o estado da população de atum no Índico ainda

não é claro. Dado as semelhanças na situação do Pacífico e Índico, tudo indica que neste último as capturas

superficiais devarão ser controladas, para que não ocorra sobre-pesca.

As relações entre as populações das diferentes regiões do Índico são ainda desconhecidas, desta forma,

para efeitos de gestão e estudos científicos considera-se que neste oceano existe um único “stock”.

Oceano Atlântico

O atum patudo está confinado num único “stock”, apesar da pouca informação disponível que o possa

confirmar. Tradicionalmente, neste oceano o atum era capturado usando palangres, com a introdução das

redes de cerco as capturas cresceram em 30% (apenas no ano em que começaram a ser utilizadas)

continuando com esta tendência nos anos seguintes. Contudo, a partir de 1990, grande parte deste

aumento ocorreu devido ao crescente esforço de pesca, e uso de objectos flutuantes que resultaram, mais

tarde, no aumento de captura de peixes de pequenas dimensões.

Page 33: Estado actual das pescas

33

Estudos recentes mostram que o “stock” está perto da sobre-pesca, desta forma, as estratégias de gestão

deste precioso recurso terão de ser repensadas. Apesar de o ICCAT ter imposto, à uns anos, um peso

mínimo de capturade 3,2kg esta medida revelou-se ineficaz, uma vez que recentemente 55% do atum

capturado tem um peso inferior.

Esta preocupação, em preservar os “stocks” de atum diminuindo a pesca de pequenos exemplares, é

expressa não só pelos cientistas, mas também por algumas frotas pesqueiras. Estas, recentemente, impõe a

si mesmas limites nas capturas e evitam o uso objectos flutuantes para atrair pequenos atuns.

Atum voador (Thunnus alalunga)

Este peculiar atum apresenta uma carne muito clara, sendo também apelidado “frango-do-mar”. O Pacífico

Norte tem as maiores cotas de captura, 40%, seguido do Atlântico e Mediterrâneo, cujas captura abrangem

uma cota de 25%. Todo o Pacífico é responsável pela captura de 60% de todo o atum, enquanto que no

Índico as produções se ficam pelos 15%.

A carne clara e muito apreciada do atum voador levou a todo um desenvolvimento da indústria dos

enlatados, sendo dos primeiros atuns a ser consumido e comercializado nesta forma. Com o aumento da

demanda, e devido à quantidade limitada deste recurso, começou-se a usar o albacora e bonito como

matérias-primas no fabrico de enlatados, para que esta nova indústria pudesse continuar a crescer.

O atum voador é uma espécie de águas temperadas, que realiza extensas migrações em busca das

condições óptimas para se alimentar e reproduzir. Devido ao seu carácter altamente migratório, as

capturas anuais sofrem imprevisíveis flutuações. Desta forma, não é possível avaliar as tendências das

capturas, nem determinar se os “stocks” estão em sobre-pesca.

Os principais métodos de captura dos atuns desta espécie

são os palangres flutuantes e “trolling”, ambos métodos de

captura à superfície.

Figura 32. Método de captura designado de”trolling” (fonte:

http://www.kongregate.com/forums/2/topics/44070)

Oceano Pacífico

Existem dois “stocks” distintos neste oceano:

Page 34: Estado actual das pescas

34

1. “Stock” do Pacífico Norte (entre o equador e a latitude de 40ºN).

2. “Stock” do Pacífico Sul (entre as latitudes 15º e 40ºS, desde a costa do Chile à costa da Nova Zelândia).

Apesar das grandes flutuações nos valores das capturas, verifica-se que a maior parte (60%) provém do

Pacífico Norte. Embora, muitos estudos científicos afirmem que este “stock” se encontra perto da sobre-

pesca, pensa-se que as alterações climáticas vão desempenhar o papel mais importante no valor da

produção futura deste atum.

Por outro lado, são pouco claras as conclusões quanto ao “stock” do Pacífico Sul. Alguns estudos afirmando

que este não se encontra numa situação de sobre-pesca, contudo, os efeitos do aumento das capturas são

ainda difíceis de prever.

Oceano Índico

A introdução de “gillnets” pelágicas como método de captura do atum,

aumentou bastante a produção do “stock”, até este ser banido, devido ao seu

carácter não selectivo que lesava o ecossistema.

Figura 33. Ilustração de “gillnets” pelágicas. (fonte:

http://www.greenpeace.org/international/seafood/understanding- the-problem/fisheries-

problems-today/midwater-gillnets-2)

Como consequência, as capturas diminuiram novamente e, actualmente, considerando-se que existe um

único “stock” neste oceano, não se conhecendo o seu estado actual, e sendo incerto o resultado de um

aumento do esforço de pesca.

Oceano Atlântico

Á semelhança do que ocorre nos restantes oceanos, as capturas de atum não evidenciam nenhuma

tendência, positiva ou negativa. A população atlântica de atum voador divide-se em três “stocks”:

1. “Stock” Atlântico Norte.

2. “Stock” Atlântico Sul.

3. “Stock” do Mar Mediterrâneo.

De forma geral, as capturas com palangres flutuantes têm vindo a decair, sendo compensadas por um

maior esforço usando outras técnicas. Apesar dos estudos pouco esclarecedores, acerca do estado dos

“stocks” acredita-se que, o Atlântico Norte está perto da total exploração, sem possibilidade de aumentar

esforços de pesca para níveis sustentáveis.

Page 35: Estado actual das pescas

35

No caso do Atlântico Sul, as populações não aparentam estar a sofrer sobre-pesca, contudo, devido à

incerteza inerente aos dados usados nestes estudos, foi decidido que o esforço de pesca não deverá ser

aumentado. Quanto ao “stock” do Mediterrâneo, os estudos realizados não mostram qualquer resultado

conclusivo.

Atum rabilo (Thunnus thynnus thynnus)

Espécie de crescimento lento e vida longa, alguns indivíduos podem viver mais de 25 anos. As capturas

deste peixe, em termos de peso, são as menos importantes. Contudo, devido às suas caracteríticas únicas:

tamanho, cor, textura e alto conteúdo em gordura tornam este peixe na principal matéria prima para o

mercado do sashimi, atingindo os maiores preços no mercado.

Figura 34. Venda de atum rabilo, no mercado do peixe de Tóquio, Japão. (fonte:

http://coexploration.org/ngs/EarthDay/fishmarket_with_bluefin_lined-up300.jpg)

Para diferenciar as populações de atum novas técnicas têm vindo a ser desenvolvidas, uma delas consiste

na análise de otólitos.

Os otólitos são uma interessante fonte de informação que, ao precipitar durante o crescimento do peixe

vão integrar elementos do meio, numa matriz de aragonite e proteína. Desta forma, a análise dos

elementos pode dar-nos uma ideia do espaço e do tempo que o indivíduo percorreu. Embora, a principal

função destes componentes ósseos seja a audição e equilíbrio.

Figura 35. Fotografia de um otólito de atum rabilo (fonte:

http://www.science-in-salamanca.tas.csiro.au/themes/tuna.htm)

Page 36: Estado actual das pescas

36

A análise de otólitos tem tido uma crescente utilização na diferenciação de “stocks” (não apenas para o

caso do atum rabilo), uma vez que estes constituintes são metabolicamente inertes, não sendo absorvidos

pelo organismo. Desta forma, a sua estrutura mantém-se e não sofre alterações ao longo do tempo, apenas

passa a integrar novos elementos sem afectar a constituição anterior.

Oceano Pacífico

No Pacífico poucos são os estudos que elucidam acerca da composição e localização dos “stocks” , contudo,

para efeitos de gestão consideram-se duas regiões distintas:

1. “Stock” Pacífico Noroeste.

2. “Stock” Pacífico Este.

No primeiro “stock” as maiores capturas ocorrem perto do Japão. Este peixe de elevada importância e

preço no mercado japonês é capturado utilizando diversas técnicas, desde cerco, palangres e mesmo

armadilhas fixas. Somente o Japão é responsável pela captura de 60% do total de atum rabilo produzido

pelo Pacífico.

Com a progressiva diminuição da captura de atum no Pacífico Este, a taxa de migração deste peixe para

esta região decaiu, uma vez que, a própria pesca parece estimular os “stocks” aumentando os

recrutamentos após anos de grandes capturas; isto se, os níveis forem dentro dos limites sustentáveis.

Oceano Atlântico

De acordo com observações recentes, dos movimentos dos atuns neste oceano, existe um certo grau de

mistura entre os dois “stocks” de rabilo. Sendo que mesmo estudos genéticos têm tido dificuldade em

contrariar a hipótese de um único “stock” no Atlântico.

Contudo, e para efeitos de gestão, ainda se considera que a população do Atlântico se divi de em dois

“stocks” pela longitude 45ºW:

1. “Stock” Atlântico Oeste.

2. “Stock” Atlântico Este (incluindo o Mediterrâneo).

Com o declínio das capturas no Atlântico Oeste o ICCAT decidiu impor limites, definindo cotas, que

variavam entre 2 e 3 mil toneladas. Embora estudos recentes demostrem que as cotas têm que ser

inferiores para que o “stock” possa repor os seus níveis iniciais de biomassa.

No Atlântico Este a situação é um pouco diferente, com o declínio das capturas a partir de 1996, verificou-

se que a produção do Mediterrâneo começou a aumentar e, actualmente é o maior responsável pela

produção actual desta região do Atlântico.

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No entanto, as capturas no Mediterrâneo têm atingido níveis preocupantes com os cientistas a prever uma

situação de sobre-pesca e completo esgotamento do “stock”. Com as frotas pesqueiras a capturarem atum

indiscriminadamente, ignorando quaisquer recomendações científicas.

Figura 36. Pesca de atum rabilo no Mediterrâneo com redes de cerco. (fonte:

http://www.wildlifeextra.com/go/news/bluefin-tuna829.html#cr)

Em comparação, o “stock” Este cobre uma maior área que o Oeste , desta forma, mesmo que o grau de

mistura entre ambos seja limitado prevê-se que, a sobre-pesca no Atlântico Oeste possa afectar

negativamente os programas de conservação no outro lado do oceano. É por esta razão que muitos

cientistas acreditam que nos programas de gestão e conservação o Atlântico devia ser considerado um

único “stock”.

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Conclusão e Discussão

Actualmente, a pesca encontra-se muito perto de uma crise global, com a maioria dos “stocks” importantes

a enfrentarem o desafio da sobre-pesca e das frotas insaciáveis e, por vezes, ilegais, que não estão ainda

cientes da fragilidades destes recursos.

O combate contra a pesca ilegal, não reportada e não regulamentada deve tornar-se uma prioridade para

os governos, uma vez que ainda carecemos de leis e normas que protejam os “stocks” no alto mar. Nestas

zonas, não contempladas na “Convenção das Nações Unidas sobre os direitos do Mar” (Lei do Mar), são

essencialmente capturadas espécies migratórias como o Atum. Para além disso, há também a carência de

uma entidade reguladora que tenha direitos em alto mar para controlar as capturas desmesuradas e a

pirataria.

A quebra das capturas mundiais não irá só afectar a economia, as suas consequências serão muito mais

profundas, afectando as regiões piscatórias que dependem inteiramente da pesca para sobreviver.

Deixando estas comunidades sem sustento e os milhões de trabalhadores do sector da pesca sem

emprego.

As comunidades piscatórias vivem, muitas vezes, à margem de uma sociedade que não as compreende e

tem dificuldades em as aceitar. As artes de pesca e conhecimento sobre o funcionamento da natureza são

passados de geração em geração, acumulando observações de anos, mesmo séculos de trabalho. Se os

recursos se esgotarem, nestas comunidades, para além de ficarem sem a sua fonte de sustento, o seu

conhecimento acabará por cair no vazio, pois certamente terão que investir noutras áreas para poderem

sobreviver.

Embora, actualmente, se comece a investir na Aquacultura como forma de obtenção de pescado, os

progressos feitos estão longe de ser desejáveis. Com uma indústria que provoca ainda grandes alterações

no ecossistema e, com os preços elevados e a incorporação de farinhas de peixe nas rações, diria que ,

ainda faltam alguns anos até que as fórmulas ideais e uma alternativa viável à farinha sejam descobertas.

Contudo, até lá, deve-se investir em campanhas de sensibilização da população e valorização da pesca

artesanal, que, apesar de pouco produtiva, está em equilíbrio com o ecossistema, provocando nele poucas

alterações.

Os “stocks” de atum enfrentam também o problema da sobre -pesca, agravado pela falta de

regulamentação em alto mar, onde são muitas vezes capturados. Estas espécies são parte importante da

cultura de muitas sociedades, sendo a indústria de enlatados uma grande fonte de postos de trabalho. No

caso do atum rabilo, usado no Japão como matéria prima do sushi e sashimi, é um dos pilares de uma

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cultura rica e inesgotável, contudo, a demanda incansável e exploração insustentável deste recurso cedo

levarão à sua extinção se não forem controlados.

Bibliografia

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