Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Contos do Mundo

    (Interculturalidades)

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    3

    A longa viagem comea com um passo (Portugus)

    (Chins)

    Lung cltorie ncepe cu un singur pas (Romeno)linn putnachinaetsya s odnogo shaga (Russo)

    Le long voyage commence par un pas (Francs)

    Viajen lngo ca coma cu passo (crioulo de S. Tom e Prncipe)

    Um viagem e ta cunsa cu um passo cumprido (crioulo da Guin)

    Um grand viagem t comea kon um passe (crioulo de Cabo Verde)

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    Contos do Mundo

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    ndice

    Nota de Abertura Pg. 7

    Prefcio .. Pg. 9

    Introduo Pg. 11

    Glossrio Pg. 13

    Contos do Mundo Pg. 15

    Contos de Portugal

    Portugal . Lenga-lengas .. Provrbios Lendas . Contos Tradicionais ..

    Pg. 17

    Pg. 19

    Pg. 28

    Pg. 37

    Pg. 59

    Contos de Angola

    Angola . Contos Tradicionais . Pg. 83Pg. 84

    Contos do Brasil

    Brasil Mitos Lenga-lengas .. Lendas .

    Pg. 91

    Pg. 94

    Pg. 99

    Pg. 100

    Contos de Cabo-Verde

    Cabo-Verde . Contos Tradicionais ..

    Pg. 101

    Pg. 103

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    Contos da China

    China Lendas . Provrbios

    Pg. 105

    Pg. 108

    Pg. 114

    Contos da Guin-Bissau

    Guin-Bissau .. Contos Tradicionais .

    Pg. 117

    Pg. 119

    Contos de Moambique

    Moambique .. Contos Tradicionais .

    Pg. 131

    Pg. 133

    Contos da Romnia

    Romnia Lendas

    Pg. 149

    Pg. 151

    Contos da Rssia

    Rssia .. Contos Tradicionais

    Pg. 161

    Pg. 163

    Contos de So Tom e Prncipe

    So Tom e Prncipe . Lendas . Contos Tradicionais ..

    Pg. 183

    Pg. 185

    Pg. 190

    Agradecimentos .. Pg. 197

    Bibliografia Pg. 198

    Equipa Tcnica .. Pg. 199

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    Contos do Mundo

    7

    Nota de Abertura

    Moura terra de lendas, terra de contendas, afirma-se hoje como um

    Concelho solidrio e um Concelho que rene e acolhe no seu seio um

    caldo de culturas que o enriquecem e valorizam.

    A publicao deste livro representa o testemunho de diversas formas

    de expresso de raiz popular que, na sua diversidade, compem um

    mosaico de carcter universal, tendo como trao comum a afirmao

    da sua identidade e das suas origens e referncias.

    Ancorados nas suas prprias razes estabelecem laos com outras

    gentes e outras culturas.

    A publicao deste livro, em que as palavras vertidas no papel

    espelham a imaginao dos nossos antepassados, um contributo

    inestimvel para que as novas geraes aprendam o significado dos

    contos e para que estes no se percam na nossa memria. Ficam aqui

    registados para memria futura.

    E faz sentido conhecer contos de todo o Mundo porque, o Mundo, anossa casa comum.

    Presidente da Cmara Municipal de Moura e

    Presidente da Direco da Comoiprel - Ciprl

    Jos Maria Prazeres Ps-de-Mina

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    Contos do Mundo

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    Prefcio

    Era uma vez um homem que um dia, depois de comer, se estendeu de

    ventre ao sol e se ps a cismar...Ter sido nesse dia, talvez em frica, que o nosso av deu um passo

    fundamental, saiu de dentro de si para perseguir um sonho, coisa que

    mais nenhum bicho sua volta conseguiu fazer. O pau, a pedra ou a

    lana podiam chegar aos cus sem esforo algum, derrubando aves

    apetecidas ou ento partirem rente ao cho ao encontro do animal h

    muito desejado. Isso era possvel se o sonhasse. Movido de

    entusiasmo, experimentou pintar a sua divagao numa parede

    utilizando o sangue de uma presa que abatera. E saiu uma cena de

    caa, um desejo colorido, o primeiro sonho pintado, com o acrescento

    mgico (outra sua descoberta) de que, pintando-o, o podia tornar

    realidade. O homem afinal no pintava s um sonho, um desejo, mas

    tambm contava um conto que so coisas nascidas no mesmo bero.

    A partir da nunca mais parou.

    S que precisou de tempo para contar contos de outro modo. Tentou

    ainda escavar a rocha esculpindo animais to perfeitamente que areproduo levada a cabo ainda hoje nos espanta. Sobrepunha o

    mesmo bicho vrias vezes ou sobrepunha-o a outros bichos,

    especialmente de perfil, de p, deitados, feridos por setas. Histrias

    contadas sua maneira com os meios de que dispunha.

    Faltava uma forma mais prtica, mais moderna de expresso, a dos

    sons formando palavras e estas desenhando frases. Com o domnio

    deste instrumento o homem ganhou o mundo, contando o real e oinventado, tudo a seu belo prazer. Nasciam as Odisseias, as Bblias, as

    Tvolas Redondas, o Santo Graal, as Histrias das Mil e uma Noites, as

    Fbulas de Esopo. Tudo narrado de forma oral, passando de velhos

    para novos, numa cadeia que se manteve mesmo depois de inventadas

    as escritas e que perdurou at aos nossos dias. De preferncia em

    forma rimada, que se fixa e se transmite melhor. E como quem conta

    um conto sempre lhe acrescenta um ponto no houve monotonia, as

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    mesmas histrias deram a volta ao mundo com as variantes mais

    espantosas. que os ambientes culturais so diferentes mas os

    homens so sempre os mesmos, com os mesmos anseios, os mesmos

    medos, as mesmas paixes, as mesmas crenas, os mesmos ridculos,

    estes insistentemente explorados por todos,

    Todavia a humanidade no se deteve somente nas histrias com

    princpio, meio e fim. Escolheu palavras terminando no mesmo som e

    f-las rimar, em lengalengas s vezes com aparente falta de sentido. Os

    homens sempre se perderam por ver as coisas voltadas do avesso. So

    formas ldicas, brincadeiras muito ao gosto das crianas, que, de certo

    modo, se vo perpetuando.

    No nosso mundo rural, onde h menos de meio sculo o tempo aindatinha a dimenso dos homens, preenchia-se o tempo que sobrava com

    a voz dos avs contando histrias aos netos. Hoje estes j no tm

    tempo para ouvir, para eles o passado o futuro e os avs que restam

    quase se acanham de murmurar na sua frente o era uma vez. No ecr

    do computador abre-se-lhes o mundo inteiro e pouco lhes interessa o

    Um, dois, trs macaquinho de chins ou O menino da mata e o seu co

    Piloto. Figuras de antropides com picos ameaadores e cores

    repelentes, falando um spero ingls, eliminaram do seu horizonte os

    contidos personagens campestres de linguagens macias. Quer se

    queira quer no, os tempos so outros. face da terra todos os jovens

    vem as mesmas coisas, pouco diferindo nos gostos. a globalizao.

    O que o presente livro faz preservar a memria do conto contado

    como patrimnio dos povos, neste caso at com preocupaes multi-

    culturais, antes de ser triturado pelas redes planetrias, acautelando

    testemunhos culturais a que, com bonomia, todos gostamos de voltarquando a presso tecnolgica nos cansa com o rigor das imagens e dos

    nmeros.

    Bem-haja por isso a equipa que fez e organizou esta recolha.

    Joo Mrio Caldeira

    Fev/2010

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    Contos do Mundo

    11

    Introduo

    Vivemos dentro de um espao, de um tempo e de uma realidade que

    estabilizam as nossas referncias, mas tambm nos limitam e por vezes

    oprimem-nos. Essas fronteiras transmitem-nos segurana, mas

    tambm nos convidam a ultrapass-las num acto em que casem a

    curiosidade e o esprito de aventura. Viver dentro de um referencial

    viver de acordo com uma narrativa que se conta a si prpria, mas por

    vezes experimentamos o desejo e a necessidade de transformar essa

    narrativa, de a reinventar.

    H vrias maneiras de transformar as nossas narrativas, umas maisdestrutivas, outras mais construtivas, como nos ensina um olhar sobre

    a nossa histria e sobre a nossa sociedade. Quando sonhamos,

    enquanto dormimos, deslocamo-nos no tempo. Quando viajamos para

    um pas estrangeiro, por exemplo em frias, deslocamo-nos no espao.

    Quando vemos um filme ou assistimos a uma pea de teatro, estamos

    a entrar noutra realidade, que muitas vezes nos faz esquecer a nossa.

    Quando aumentamos a nossa conscincia acerca de um dado

    fenmeno ou situao, estamos a modificar a realidade, a nossa

    realidade. Transpor os limites do espao, do tempo e da nossa

    realidade so formas de evaso. Ao longo da sua histria, os humanos

    sempre procuram de diversas maneiras essas formas de evaso e de

    expanso dos limites do possvel. As crianas passam o tempo a faz-

    lo. Os adultos, muitas vezes j esqueceram essa possibilidade mgica.

    As lendas, os provrbios, os mitos ou os contos tradicionais so formas

    de construir e reviver outras narrativas e, nesse sentido de vivenciarrealidades alternativas. Transportam-nos para um domnio mitolgico

    e para uma lgica mais devedora imaginao e liberdade de

    pensamento do que aos constrangimentos funcionais que so o

    cimento da nossa sociedade. Povoam o nosso imaginrio e exercem

    um notvel fascnio sobre ns. Mas porqu?

    Talvez porque nos lembram as nossas origens; porque so uma

    referncia mtica do nosso mundo infantil; porque nos recordam um

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    tempo nas nossas vidas em que a imaginao era um dado sensvel, um

    poderoso catalisador de mudanas.

    As lendas, os mitos, as lenga-lengas ou os contos que constam nesta

    publicao so elementos roubados nossa imaginao colectiva, meio

    reais, meio imaginrios. Mergulharmos neles equivale a abraar as

    nossas origens e a desconstruir as nossas estruturas mentais, que

    dividem o mundo em ilhas incomunicveis a no ser atravs de

    processos de dominao.

    Trata-se de uma recolha intercultural, abrangendo textos de Portugal,

    Angola, Brasil, Guin, Moambique, So Tom e Prncipe, Romnia,

    Rssia e China.Parecem-nos urgentes estes mitos da criao humana para sentirmos o

    quanto tudo possvel, ou seja, o quanto a nossa viso das coisas

    relativa e transitria e pode ser alterada.

    Trazer de volta esses elementos eternizar personagens e vivncias

    indispensveis para a compreenso da nossa histria e das nossas

    vidas, imortalizar sentido de liberdade e transgresso que nos

    oferece qualquer fronteira.

    Estes enredos carregados de sentido mtico insuflem em ns a

    nostalgia de um tempo que no conhecemos mas de que,

    paradoxalmente, sentimos saudade. Fornecem uma explicao

    plausvel, ensaiam um movimento perptuo e circular de expanso dos

    limites do possvel, bebendo da imaginao, da inspirao e da intuio

    as bases para deitar abaixo as falsas fronteiras que a nossa falta de

    imaginao produz e inventar novos laos em que a dominao

    sucumbe ante a cooperao.Esta recolha tem por objectivo recordar-nos o dever de nos

    aproximarmos uns dos outros, at como forma de nos aproximarmos

    de ns mesmos e redescobrir a nossa identidade essencial.

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    Contos do Mundo

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    Glossrio:

    Lenda uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradio oral atravs

    dos tempos.

    De carcter fantstico e/ou fictcio, as lendas combinam factos reais e

    histricos com factos irreais que so meramente produto de

    imaginao humana. Algumas lendas fornecem explicaes plausveis,

    e at certo ponto aceitveis, para as coisas que no tm explicaes

    cientficas comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou

    sobrenaturais. Podemos entender que a lenda uma degenerao domito. As lendas, pelo facto de serem repassadas oralmente de gerao

    em gerao, sofrem alteraes medida que vo sendo recontadas.

    Conto a forma narrativa, em prosa, de menor extenso. Entre suas

    principais caractersticas, esto a conciso, a preciso, a densidade, a

    unidade de efeito ou impresso total. Logicamente a primeira fase a

    oral, a qual no possvel precisar o seu incio: o conto tem origem

    num tempo em que nem sequer existia a escrita; as histrias eram

    narradas oralmente ao redor das fogueiras das habitaes dos povos

    primitivos geralmente noite. Por isso o suspense e o fantstico que

    o caracterizou. O conto necessita de tenso, ritmo, o imprevisto dentro

    dos parmetros previstos, unidade, compactao, conciso, conflito,

    incio, meio e fim; o passado e o futuro tm significado menor.

    Lenga-lenga uma cantilena transmitida de gerao em gerao naqual se repetem determinadas palavras ou expresses. Poderemos

    dizer que uma lenga-lenga conversa fiada, uma ladainha.

    Provrbios sentena de carcter prtico e popular, que expressa de

    forma sucinta, e no raramente figurativa, uma ideia ou pensamento.

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    Mito uma narrativa tradicional com carcter explicativo e/ou

    simblico, profundamente relacionado com uma dada cultura e/ou

    religio. O mito procura explicar os principais acontecimentos da vida,

    os fenmenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de

    deuses, semi-deuses e heris (todas elas so criaturas sobrenaturais).

    Pode-se dizer que o mito uma primeira tentativa de explicar a

    realidade.

    Ao mito est associado o rito. Este o modo de se pr em aco o mito

    na vida do Homem (ex: cerimnias, danas, oraes, sacrifcios...).O termo "mito" , por vezes, utilizado de forma pejorativa para se

    referir s crenas comuns (consideradas sem fundamento objectivo ou

    cientfico, e vistas apenas como histrias de um universo puramente

    maravilhoso) de diversas comunidades. No entanto, at

    acontecimentos histricos se podem transformar em mitos, se

    adquirem uma determinada carga simblica para uma dada cultura.

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    Contos do Mundo

    15Contos do Mundo

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    Contos do Mundo

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    Contos de Portugal

    Portugal

    Localizado no sudoeste da Europa, cujo

    territrio se situa na zona ocidental da

    Pennsula Ibrica e em arquiplagos no

    Atlntico Norte, Portugal possui uma rea

    total de 92 090 km e considerada anao mais ocidental do continente

    europeu. O territrio portugus delimitado a Norte e a Leste por

    Espanha e a Sul e Oeste pelo Oceano Atlntico, e compreende a parte

    continental e as regies autnomas: os arquiplagos dos Aores e da

    Madeira. Possui no total 18 distritos, sendo Lisboa a capital.

    Com uma populao estimativa (2008) de 10.627.250 habitantes e uma

    densidade populacional de 115.3 hab/km

    2

    . O clima temperadomediterrnico e temperado ocenico.

    Durante os sculos XV e XVI, Portugal foi uma potncia mundial

    econmica, social e cultural, constituindo-se o primeiro e o mais

    duradouro imprio colonial de amplitude global.

    hoje, considerado um pas desenvolvido, economicamente prspero,

    social e politicamente estvel e com um ndice de desenvolvimento

    humano muito elevado. Encontra-se entre os 20 pases do mundo com

    melhor qualidade de vida.

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    1Imagens

    1Paisagens do Baixo Alentejo, plancie de Moura, distrito de Beja

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    Contos do Mundo

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    Lenga-lengas

    Um d li tCara de amendo

    Um segredo

    Coloreto

    Quem est livre, livre est

    Um aviozinho militar

    Atirou uma bomba ao ar

    Diga l, meu menino,

    A que terra foi parar?

    Anani, anano

    Ficas tu

    E eu no

    To-balalo

    Cabea de co

    Orelhas de gato

    No tem corao

    No tem corao nem voz nem alento

    Orelhas de gato

    Cabea de vento

    Pirata da perna de pau, olho de vidro e cara de mau!

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    O Rato Roeu a Rolha da Garrafa do Rei da Rssia!

    A criada l de cima

    feita de papelo,

    Quando vai fazer a cama

    Diz assim ao patro:

    Sete e sete so catorze,Com mais sete vinte e um,

    Tenho sete namorados

    E no gosto de nenhum.

    Bichinha gata

    Que comeste tu?Sopinhas de leite

    Onde as guardaste?

    Debaixo da arca

    Com que as tapaste?

    Com o rabo do gato

    Sape, sape, sape!

    Caracol, caracol

    Pe os pauzinhos ao sol

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    Contos do Mundo

    21

    Dedo mindinho

    Seu vizinhoPai de todos

    Fura bolos

    Mata piolho

    Este menino achou o ovo

    Este o assouEste sal lhe deitou

    Este o provou

    Este o papou

    Joaninha voa, voa

    Que o teu pai est em Lisboa

    A tua me no Moinho

    A comer po com toucinho

    Joaninha voa, voa

    Que o teu pai est em Lisboa

    Com um rabinho de sardinha

    Para comer, que mais no tinha

    Lagarto pintado

    Quem te pintou?

    Foi uma velha que aqui passou

    No tempo da eira

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    Fazia poeira

    Puxa lagarto

    Por aquela orelha!

    Janeiro, gear

    Fevereiro, chover

    Maro, encanar

    Abril, espigar

    Maio, engrandecer

    Junho, ceifarJulho, debulhar

    Agosto, engravelar

    Setembro, vindimar

    Outubro, resolver

    Novembro, semear

    Dezembro, nascer

    Nasceu um deus para nos salvar

    Nove vezes nove, oitenta e um

    Sete macacos e tu s um

    Fora eu que no sou nenhum

    Pico, pico serenico

    Quem te deu tamanho bico?

    Ou de ouro ou de prata

    Mete a mo neste buraco

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    Contos do Mundo

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    Pico, pico serenico

    Quem te deu tamanho bico?

    Foi o filho do Lus

    Que est preso pelo nariz

    Pico, pico serenico

    Quem te deu tamanho bico?

    Foi a filha da rainha

    Que est presa na cozinha

    Salta pulga da balana

    E vai ter at Frana

    Cavalinhos a correrMeninas a aprender

    Qual a mais bonita

    Que se ir esconder

    Pim, pam, pum

    Cada bola mata umDa galinha pr per

    Quem se livra s tu!

    Sola, sapato,

    Rei rainha

    Foi ao marBuscar sardinha

    Para a mulher

    Do juiz

    Que est presa

    Pelo nariz;

    Salta a pulga

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    Na balana

    Que vai ter

    At Frana,

    Os cavalos

    A correr

    As meninas

    A aprender,

    Qual ser

    A mais bonita

    Que se vai

    Esconder

    O tempo perguntou ao tempo

    Quanto tempo, o tempo tem

    O tempo respondeu ao tempo

    Que o tempo tem tanto tempo

    Quanto o tempo o tempo tem

    Era uma vez um era no era,

    Que andava lavrando na serra,

    deu por notcia que o pai era morto,

    e a me por nascer,

    deitou-se a um vale abaixo a correr,

    Encontrou-se com uma aveleira carregada de roms,

    Deitou-se a ela a colher mas,

    Veio de l o ladro dos marmelos,

    o que ests tu fazendo, ladro,

    num faval alheio, a colher pepinos?

    Atirou-lhe com um caroo de ginja testa

    E quebrou-lhe o joelho.

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    Contos do Mundo

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    Arco-da-velha,

    Tira-te da,Que as moas bonitas

    No gostam de ti!

    Menina bonita

    No sobe janela

    Que bicho mui feio

    Carrega com ela;

    Se quer alvos ovos,

    Arroz com canela,

    Menina bonita

    No sobe janela.

    L vem o Tio Z Godinho

    A cavalo no burrinho;O burrinho fraco,

    A cavalo no macaco;

    O macaco valente,

    A cavalo na trempre;

    A trempre de ferro,

    A cavalo num martelo;

    O martelo bate sola,

    A cavalo numa bola;A bola vermelha,

    A cavalo numa telha;

    A telha de barro,

    A cavalo num cocharro;

    O cocharro de cortia,

    A cavalo numa chouria;

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    A chouria preta,

    A cavalo numa boleta;

    A boleta doce

    O burrinho deu um couce

    E acabou-se a papa-doce.

    O que est na varanda?

    Uma fita de ganga

    O que est na panela?

    Uma fita amarelaO que est no poo?

    Uma casca de tremoo

    O que est no telhado?

    Um gato malhado

    O que est na chamin?

    Uma caixa de rap

    O que est na rua?

    Uma espada nua

    O que est atrs da porta

    Uma vara torta

    O que est no ninho?

    Um passarinho

    Deixa-o no morno

    D-lhe pozinho.

    Meio-dia batido panela ao lume

    Barriga vazia

    Macaco pintado

    Vindo da Baa

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    Contos do Mundo

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    Fazendo caretas

    D. Maria.

    Eu fui a Viana

    A cavalo numa cana

    Eu fui ao Porto

    A cavalo num burro morto

    Eu fui a Braga

    A cavalo numa cabra

    Eu fui ao Douro

    A cavalo num touro

    Um, dois, trs, quatro

    Foi na rua vinte e quatro

    Que a mulher matou o gato

    Com a ponta do sapato

    O sapato derreteu

    E a mulher morreu

    Arre burro para so Martinho,

    Carregado de po e vinho.

    Arre burro para Loul,

    carregado de gua p.

    Arre burro para Mono,

    carregado de requeijo.

    Arre burrinho arre burrinho,

    sardinha assada, com po e vinho.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Provrbios

    A

    A cavalo dado no se olham os dentes.

    A Csar o que de Csar, a Deus o que de Deus.

    A corda sempre parte do lado mais fraco.

    A curiosidade matou o gato.

    A galinha da vizinha sempre melhor que a minha.

    A grandes males, grandes remdios.

    A justia tarda, mas no falha.

    A mentira tem perna curta.A morte no espera.

    A noite boa conselheira.

    noite todos os gatos so pardos.

    A ocasio faz o ladro.

    A palavra prata, o silncio ouro.

    A palavras loucas, orelhas moucas.

    A pressa inimiga da perfeio.

    terceira de vez.

    A unio faz a fora.

    gua mole em pedra dura tanto bate at que fura.

    guas passadas no movem moinhos.

    Albarda-se o burro vontade do dono.

    Amigos, amigos; negcios, parte.

    Amor com amor se paga.

    Ao menino e ao borracho pe sempre Deus a mo por baixo.Aps a tempestade vem a bonana.

    As paredes tm ouvidos.

    Abril chuvoso e Maio ventoso, fazem o ano formoso.

    A primeira esposa foi vassoura, a segunda senhora.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Contos do Mundo

    29

    B

    Bom filho casa torna.

    Burro velho no aprende.

    C

    Cada cabea, uma sentena.

    Cada louco com sua mania.

    Cada macaco no seu galho.

    Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso.

    Cada um d o que tem.Cada um por si, Deus por todos.

    Cada um puxa a brasa para a sua sardinha.

    Cadelas apressadas, parem ces cegos.

    Caiu na rede peixe.

    Candeia que vai frente alumia duas vezes.

    Co que late no morde.

    Casa arrombada, tranca na porta.

    Casa de ferreiro, espeto de pau.

    Casa onde no h po, todos brigam e ningum tem razo.

    Cesteiro que faz um cesto faz um cento.

    Custa os olhos da cara.

    D

    De Espanha, nem bom vento nem bom casamento.De boas intenes o inferno est cheio.

    De mdico, poeta e louco, todo mundo tem um pouco.

    De pensar morreu um burro.

    De pequenino que se torce o pepino.

    Deitar cedo e cedo erguer d sade e faz crescer.

    Depois da tempestade vem a bonana.

    Depois de casa roubada, trancas na porta.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Deus d nozes a quem no tem dentes e d dentes a quem no tem

    nozes.

    Deus escreve direito por linhas tortas.

    Devagar com o andor, que o santo de barro.

    Devagar se vai ao longe.

    Diz-me com quem tu andas que eu te direi quem tu s.

    Dois bom, trs demais.

    Duas cabeas pensam melhor que uma.

    E

    melhor prevenir do que remediar. preciso ver para crer.

    Em boca fechada no entra mosca.

    Em briga de marido e mulher no se mete a colher.

    Em casa de enforcado, no fales em corda.

    Em casa de ferreiro, espeto de pau.

    Em tempo de guerra, no se limpam armas.

    Em terra de cego, quem tem um olho rei.

    Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.

    Estamos todos no mesmo barco.

    F

    Fia-te na Virgem e no corras.

    Falar fcil, fazer que difcil.

    Fazer o bem sem olhar a quem.F em Deus e p na tbua.

    Feio roubar e no poder carregar.

    Filho de peixe sabe nadar.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Contos do Mundo

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    G

    Gaivotas em terra tempestade no mar.

    Gato escaldado de gua fria tem medo.Gro a gro, enche a galinha ao papo.

    Guarda de comer no guardes que fazer.

    Guarda o melhor tio para a noite de S. Joo.

    H

    H males que vem para o bem.

    Homem pequenino, ou velhaco ou bom danarino.

    Homem prevenido vale por dois.

    J

    Janeiro molhado, se no cria po cria gado.

    L

    Ladro que rouba ladro tem cem anos de perdo.

    Laranja: de manha ouro, tarde prata, de noite mata.

    Lua nova trovejada, trinta dias molhada.

    M

    Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo.

    Mal vir que bem se far.

    Maro marago, de manh Inverno, tarde Vero.

    Mate dois coelhos com uma cajadada.

    Muito riso, pouco juzo.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    N

    No chore sobre o leite derramado.

    No d o peixe, ensine a pescar.

    No faas aos outros aquilo que no queres que te faam.No h bem que sempre dure, nem mal que sempre se ature.

    No h fumo sem fumaa.

    No h domingo sem missa, nem segunda sem preguia.

    No h duas sem trs.

    No h regra sem excepo, nem mulher sem seno.

    No h fome que no d em fartura.

    Nem tanto ao mar, nem tanto terra.

    Nem tudo que reluz ouro.

    No dia de S. Martinho (11/11) vai adega e prova o vinho.

    Nunca digas: desta gua no beberei.

    O

    O barato sai caro.

    O feitio costuma virar contra o feiticeiro.

    O que os olhos no vem o corao no sente.

    O saber no ocupa lugar.

    O seguro morreu de velho.

    Olho por olho, dente por dente.

    Onde come um, comem dois.

    Onde h fumaa, h fogo.

    Os ces ladram e a caravana passa.Os homens no se medem aos palmos.

    Ovelha que berra bocado que perde.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Contos do Mundo

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    P

    Por morrer uma andorinha no acaba a Primavera.

    Paga o justo pelo pecador.Palavra de rei no volta atrs.

    Palavras no enchem barriga.

    Palavras leva-as o vento.

    Pancada de amor no di.

    Para baixo, todos os santos ajudam.

    Para bom entendedor meia palavra basta.

    Para grandes males, grandes remdios.

    Pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita.

    Pela boca morre o peixe.

    Pior cego o que no quer ver.

    Por fora, bela viola, por dentro, po bolorento.

    Pratica o Bem sem olhar a quem.

    Presuno e gua benta, cada um toma a que quer.

    Pscoa em Maro, fome ou mortao.

    Q

    Quando a esmola demais, o santo desconfia.

    Quando a esmola muita, o pobre desconfia.

    Quando a cabea no pensa, o corpo padece.

    Quando a cabea no tem juzo, o corpo que paga.

    Quando Maio chegar, quem no arou, h-de arar.

    Quem ama o feio, bonito lhe parece.Quem avisa amigo .

    Quem anda chuva molha-se.

    Quem boa cama faz, nela se deita.

    Quem brinca com fogo queima-se.

    Quem cala consente.

    Quem canta seus males espanta.

    Quem casa no pensa, quem pensa no casa.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Quem casa, quer casa.

    Quem com os ces se deita, com pulgas se levanta.

    Quem conta um conto aumenta um ponto.

    Quem corre por gosto no cansa.

    Quem d aos pobres empresta a Deus.

    Quem d o que tem a mais no obrigado.

    Quem desdenha quer comprar.

    Quem diz o que quer, ouve o que no quer.

    Quem vivo sempre aparece.

    Quem espera desespera.

    Quem espera sempre alcana.

    Quem fala o que quer, ouve o que no quer.Quem muito se abaixa mostra o rabo.

    Quem os meus filhos beija, minha boca adoa.

    Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita.

    Quem nasceu para dez ris no chega a vintm.

    Quem no arrisca, no petisca.

    Quem no chora no mama.

    Quem no deve no teme.

    Quem no quer ser lobo no lhe vista a pele.

    Quem no tem co caa com gato.

    Quem no trabuca no manduca.

    Quem o feio ama, bonito lhe parece.

    Quem parte e reparte e no fica com a melhor parte, ou burro ou

    no tem arte.

    Quem quer faz, quem no quer manda.

    Quem procura acha.Quem semeia ventos colhe tempestades.

    Quem tem boca vai Roma.

    Quem tem telhado de vidro no atira pedra no telhado do vizinho.

    Quem tem unhas toca guitarra.

    Quem tudo quer tudo perde.

    Quem vai ao (m)ar perde o lugar.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Contos do Mundo

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    Quem v cara no v corao.

    Querer poder.

    Quem diz o que quer ouve o que no quer.

    R

    Ri melhor quem ri por ltimo.

    Ri-se o roto do esfarrapado e o sujo do mal lavado.

    Roma no se fez num s dia.

    Roupa suja lava-se em casa.

    S

    Saco vazio no fica em p.

    Santo de casa no faz milagre.

    Se a barba significasse respeito, bodes no teriam chifres.

    Setembro molhado, figo estragado.

    Sinal no peito, mulher de respeito.

    T

    Tal pai, tal filho.

    Tantas vezes vai o cntaro fonte que deixa l a asa.

    Tempo dinheiro.

    Todos os caminhos vo dar a Roma.

    Toma l d c.

    Tristezas no pagam dvidas.

    Tudo bom quando termina bem.

    Tudo o que demais enjoa.

    Tarda mais no falha.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    U

    Uma imagem vale por mil palavras.

    Uma mo lava a outra, ambas lavam o rosto.Um dia da caa, outro do caador.

    Um homem prevenido vale por dois.

    Um mal nunca anda s.

    V

    Vale mais um pssaro na mo que dois voando.

    Vozes de burro no chegam ao cu.Vo-se os anis, fiquem os dedos.

    Z

    Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Contos do Mundo

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    Lendas

    Lenda da Moura Salquia2

    Em 1165, Moura era uma cidade chamada Al-Manijah, capital deprovncia. Governava ento nessa importante cidade uma formosa

    moura, de nome Salquia, filha de Abu-Assan, que se apaixonou pelo

    alcaide de Arouche, de seu nome Brfama.

    Chegada a vspera do dia das npcias, grande alegria reinava no

    castelo de Al-Manijah. Salquia esperava ansiosamente, no alto da

    torre, ver surgir o seu noivo, entre os

    densos olivedos.

    Entretanto Brfama acompanhado

    de brilhante comitiva, cheio de

    contentamento e desprovido de

    armas, pois ia para um festim e no

    para a guerra, deixava Arouche e

    tomava caminho da terra da sua

    amada, que estava localizada a dez

    lguas de distncia.

    3Imagem

    Todo o Alentejo, ao norte e a oeste

    de Moura j tinha sido conquistado

    pelos cristos.

    El-Rei D. Afonso Henriques, encarregou D. lvaro Rodrigues e D. Pedro

    Rodrigues, dois irmos fidalgos muito valentes e ilustres, de

    2Recolha oral da lenda de alguns habitantes de Moura.

    3Imagem retirada do blog Melody

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    conquistarem Al-Manijah, uma das mais importantes cidades

    muulmanas, alm do Guadiana;

    Estes dois fidalgos, sabedores do que se passava no castelo, foram

    esconder-se com o seu exrcito num olival e a esperaram o

    desventurado alcaide e a sua comitiva para, traioeiramente, matarem

    os infelizes rabes.

    Depois de travada a batalha e de todos estes estarem mortos, os

    cristos despiram-se e vestiram-se com os seus trajes.

    Disfarados de muulmanos e simulando alegres canes mouriscas,

    dirigiram-se pobre cidade que de nada suspeitava.

    Salquia, ao v-los, mandou baixar a ponte levadia, julgando que seunoivo se aproximava e depressa percebeu que tinha sido trada. Os

    invasores ao transporem os muros, baixaram as mscaras de rabes

    honrados e comearam a ferir, sem d, a desprevenida guarnio de

    AL-Manijah.

    Sabedora do que se passava, a alcaidessa preferiu a morte escravido

    e num derradeiro esforo, verdadeiramente herico, tomou as chaves

    do castelo e precipitou-se da torre onde se encontrava.

    Depois da morte da alcaidessa e da conquista da cidade, os irmos

    Rodrigues, pelo que parece, quando vieram referir-se a Al-Manijah

    diziam a terra de moura, a vila (que nesse tempo significava cidade) de

    Moura.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Contos do Mundo

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    Serpente do Rio Anas4

    Imagem5

    Na parte mais ocidental da Europa, a Ibria,

    ainda era conhecida por esse mundo alm,

    por a terra das Serpentes. No sabemos se

    com razo ou sem ela, o que certo que a

    Serpente tambm entra na lenda da

    fundao de Serpa. Na verdade, vem de

    tempos muito recuados, dos tempos emque Serpa era s charneca, a lenda de que

    as suas terras e as das vizinhanas eram

    domnio de uma serpente alada, forte,

    vigorosa, que at parecia deitar lume pelas

    ventas e que vivia acoitada nas fragas do rio

    Anas, hoje chamado Guadiana. Logo que

    sentia Serpa em perigo ela se aprestava para

    vir em socorro das suas terras, e as defendia, vitoriosamente, de quemviesse para lhes fazer mal. Deve ter tido muito que lutar, mas o certo

    que Serpa sobreviveu a todos os perigos e hoje uma vila bonita,

    muito castia, que sabe guardar as suas belezas e tem uma Serpe no

    seu braso a recordar a sua guardi de outros tempos.

    4Arquivos de Serpa - Edio Cmara Municipal de Serpa

    5Imagem de Joo Almeida

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    A Cobra da Quinta do Fidalgo

    Era uma vez uma dama muito linda, fidalga, chamada Ana, que estava

    encantada e transfigurada em cobra, diferente das outras cobras por

    apresentar uma cabea com farta cabeleira e uns olhos de fogo, muito

    vivos e brilhantes. Refugiava-se a Cobra junto de uma frondosa figueira

    ali, na Quinta do Fidalgo, entrada da Vila. Esta Cobra aparecia na

    manh de S. Joo, com um tesouro, muito rico de ouro e prata, para

    dar pessoa que a desencantasse. Para se dar o desencanto a Cobra

    dizia: " Eu no engano ningum e quem for corajoso que venhadesencantar-me". Na verdade era precisa muita coragem para se

    desencantar a cobra da Quinta do Fidalgo, como aqui se conta.

    Primeiro era preciso gritar o nome da dama encantada: "Ana".

    Ao ouvir este nome a cobra transformava-se em touro que marrava a

    torto e a direito. Se o homem corajoso que chamasse pela dama "Ana"

    no mostrasse medo o touro transformava-se em Co Preto. Se o

    homem continuasse a no manifestar receio o Co Preto transfigurava-se em Cobra encantada que se aproximaria dele e se lhe enroscaria

    cintura dando-lhe um beijo na face. Se o homem corajoso desse,

    ento, sinais de medo ou repugnncia a cobra mord-lo-ia e o encanto

    continuaria. Se o homem valente no mostrasse qualquer temor dar-

    se-ia o desencanto, a cobra transformar-se-ia novamente na linda e

    nobre Senhora chamada Ana e o homem sem medo ficaria rico para

    toda a vida com o tesouro de ouro e prata.

    Esta a lenda da Cobra da Quinta dos Fidalgos e h muitos anos que j

    se no fala nela. Ningum sabe se apareceu o homem sem medo que

    tenha desencantado a dama chamada Ana.

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Contos do Mundo

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    A Lenda da Costureirinha6

    Entre as crenas que algum dia existiram no Baixo Alentejo, a da

    costureirinha era uma das mais conhecidas. No difcil, ainda hoje,

    encontrar pessoas de alguma idade, e no tanta como isso... que

    ouviram a costureirinha. O que se ouvia, ento? Segundo diversos

    testemunhos, ouvia-se distintamente o som de uma mquina de

    costura, das antigas, de pedal, assim como o cortar de uma linha e at

    mesmo, segundo alguns relatos, o som de uma tesoura a ser pousada.

    Um trabalho de costura, portanto. O som trepidante da mquina podiaprovir de qualquer parte da casa: cozinha, quarto de dormir, a casa de

    fora, e at mesmo de alpendres. De tal modo era familiar a sua

    presena nos lares alentejanos que no infundia medo. Era a

    costureirinha.

    Mas quem era ela? Afirma a tradio que se tratava de uma costureira

    que, em vida, costumava trabalhar ao domingo, no respeitando,

    portanto, o dia sagrado. esta a verso mais conhecida no Alentejo.

    Outra verso afirma que a costureirinha no cumprira uma promessa

    feita a S. Francisco. Esta ltima verso aparece referenciada num

    exemplar do Dirio de Notcias do ano 1914 em notcia oriunda de

    aldeias do Ribatejo. Pelo no cumprimento dos seus deveres religiosos,

    a costureirinha fora a condenada, aps a morte, a errar pelo mundo

    dos vivos durante algum tempo, para se redimir. No fundo, a

    costureirinha uma alma penada que expia os seus pecados, de

    acordo com a crena que os pecados do mundo, o desrespeito pelascoisas sagradas e, nomeadamente, o no cumprimento de promessas

    feitas a Deus ou aos Santos podiam levar errncia, depois da morte.

    J no se houve, agora, a costureirinha? Terminou j o seu fado, expiou

    o castigo e descansa em paz? A urbanizao moderna, a luz elctrica,

    os seres da TV, afastaram-na do nosso convvio. Desapareceu,

    6Lenda retirada da obra Contos tradicionais e populares de Moura

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    naturalmente, com a transformao de uma sociedade rural arcaica,

    que tinha os seus medos, os seus mitos, as suas crenas e o seu modo

    de ser e de estar na vida.

    Imagem7

    A menina e o lobo8

    Naquele ano eram os

    princpios de Maio. Sara do

    povoado uma mulher montada

    num burrico, levando testeira

    da albarda uma filhinha que,

    de anos, teria meia dzia.Deixando para trs o outeiro

    da Penha Ventosa, enveredou

    pelo velho caminho de cabras,

    em direco a um barranco l para os lados de Fornilhos.

    () Para alm de umas velhas azinheiras l estava um regato

    gorgolejando guas para o Ardila.

    () Espera, filha, segura-te! Vamos descer e lavamos aqui! Boa gua,

    boa lenha para levarmos tarde!

    () A pequenita que se rebolara nas ervas e entretivera a apanhar

    flores de margaa, ouviu um grilo que trilava talvez a uns dois metros.

    Aproximou-se. Com o rudo dos seus passitos o grilo calou-se e a

    pequenita ficou ouvindo outro grilo a maior distncia. Insistindo na

    curiosidade, tambm esse se calou e logo outro por detrs de um

    silvado se fazia ouvir. Desanimando de ver o bicho, que cantava por

    entre as ervas, foi surpreendida pela msica de um melro folgazo eassim foi andando na sua curiosidade e no emaranhado dos matagais

    at afastar-se da me e perderam-se uma outra. Quando esta deu

    pela falta da filha, correu por entre o bosque, chamando e gritando em

    7Imagem de autoria de Jos Santana - aluno da Escola Profissional de Moura,

    de nacionalidade portuguesa8Lenda retirada da obra Contos tradicionais e populares de Moura

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    Contos do Mundo

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    pranto, mas a mida vencida pelo sono, no ouvia a me que em vo a

    procurou.

    Correu a mulher aflita aldeia e com vizinhos e caadores, toda a noite

    e dias seguintes e procurou mas de balde. At que muitos dias depois,

    foi encontrada por um pastor, brincando muito contente como se nada

    a preocupasse, dizendo apenas que queria ir me, o que logo

    sucedeu. A criana explicou ento que uma senhora lhe aparecia a dar

    de comer e lhe dera tambm uma vara para se defender dos bichos

    maus. Isto foi tomado como um grande milagre de Nossa Senhora e

    pintado em quadro e oferecido Senhora do Carmo de Moura onde se

    via a menina com a vara afugentando um lobo.

    Lenda do Sino e de Nossa Senhora9

    Uma mulher que vivia no Castelo, ouvia os mais dos dias o toque de

    um sino, uma msica suave para a parte da ermida de Santa Ana

    (ermida junto ao Castelo, entre o Norte e o Poente e nos tempos

    antigos pouco frequentada). Examinando com muita curiosidade o que

    ouvia mais se certificava, o que fez presente a algumas pessoas que

    curiosas acreditavam naquele sitio, e no desmentindo a sua diligncia

    no efeito, o mesmo que a mulher afirmava, investigaram mais curiosos

    o stio e vieram a entender que no era na ermida, mas sim junto da

    porta dela, cavaram a terra, acharam os princpios de um poo,

    seguiram-no abaixo e no fundo descobriram a imagem Santssima de

    Nossa Senhora que a que est na Capela-Mor, e um sino que o que

    serve de relgio. Colocaram a imagem no altar da mesma ermida eficou continuando em seu culto e devoo dos poucos moradores.

    O sino que se achou no poo, quiseram levar para o Convento de

    Lisboa e que chegando a carreta em que o levaram, a levaram a pouca

    distncia na estrada da Barca, se quebrou por trs vezes, e no lugar em

    9Lenda retirada da obra Contos tradicionais e populares de Moura

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    que o sino cara, se abrira a fonte que vemos naquele lugar com o

    nome da Santa.

    O sino o mesmo que existe neste ano de 1721, fundiu-se de novo, por

    se haver quebrado.

    A menina e a velha10

    rom etirmi i uma irm; u Z irmi` e from a curr mundu, i a

    ficarom a ela . Ela um dia fi a lab ali a um barrancu i e tir uma

    toca que lebaba, y byu uma guia i e l leb; i agora ela e foi

    correndu, i dizendu: guita, d-mi a minha tuquita. A guia le dizia:Anda mi para dianti, que ondi hto u`teuz irmi ta d. A guia foi

    i a dx caenima duma xa, i a rapariga xig l, abriu a porta da

    xa i e dx ht ali ata que bieromu Z irmi, i logu noiti berom.

    Elinunca mau quizeronm que ela e fi, para que ficai ali tratando

    deli. Dali logu a treh diafi a buhc aelga, y encontro uma blha, i le

    dice: N bya t longi, dxa que eu lebu aqui e te d. I la e fi, i

    noite, quandu bierom u z irmiehtiberom jantandu, maz ela n tinhabontadi, i n cumu. tro dia e lebant i ehtabom u z irmi -

    ftuem boi, i logu ela n tbi mairemediu que lebalua cum plu

    campu.

    Dali a di z treh diafoi, pao por um caminhu dondi a biu u Rei, i le

    die purqu ehtaba ela ali, i ela le ehtebi contandu. U Rei anto le die

    que e dexe eht ali ubida num arbu, que eli ia leb uboii bltaba a

    buhc-la. Debxu du arbu ehtaba uma fonti ela bia a ombra dela, y

    por acazu beyu uma blha a buhc gua, i b a ombra, dizia: t

    guapa i t furmozaBipur agua aqui poa!

    Partiu u cntaru, i e foi a caza. Aim beyu di z tr dia, at que beyu

    c um de lata; i ehti j no era cap de partilu; i tantugolpile deu, que

    a rapariga e riu. A blha, au b-la le die: Que fzi z a ubida ? I

    anto a rapariga lehtebi cntandu que ehtaba hperndu u Rei. E ela

    10Histria escrita na pronncia de Barrancos

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    le die: Bxa-te, que te penteyu para que ehrejamiguapa, quandu

    eli benha. A rapariga e f czu, i quandu a ehtaba pentiandu le tanx

    um alfineti na cabea: e f numa pomba i e foi buandu; e dpoia

    blha ubiu ncima du arbru, i ehper u Rei. Quandu ehti beyu, i a biu,

    le die: T gupa que te dx, i t fa que te teipthu! I ela le

    rehpondeu: Bnc tantu e ti tardadu. Que u ol me t~ei turrado U

    ri anto a leb, i e caz cula. Lgu dpoid algum tempu

    apareia a pomba u jardim i cantaba aina: Cmu bai u ri com ua

    rica mra? Bei, inhra! I u mininu canta xra? Canta,

    inhra. Ieu pur ehiticampu i u m trhti z irmanituacariandu c i

    terra para u campu da Mra! U ri u bi ihtu, trat de culh a pomba,ma z li armaba u lau i a blha u tiraba; ata que um dia a culhu. Eli a

    trataba muntu bi, a blha que trataba m. Um dia ehtaba u rei

    paandu a mo pela cabea da pomba, i au b um bltu na cabea

    pux, i era u alfineti. Anto foi, e f furmza u mehmu que era, i

    lehrebi cntandu tudu; e cazarom e matarom a blha; i ali ficaram

    bibendu.

    Traduo (resumo)

    Sete irmos foram correr mundo, ficando em casa a irm. Um dia ela

    foi lavar e uma guia levou-lhe a touca. Pediu-a guia, que a levou

    tambm cabana onde estavam os manos. Eles quiseram que ela

    ficasse a trabalhar para eles. Dias depois foi apanhar acelgas e

    encontrou uma velha que lhe deu das que ela levava. Ao jantar, a moa

    no quis comer, mas os irmos sim, ficando eles transformados em boi.

    E ela teve de os levar a pastar. Encontrou o rei e contou-lhe o que sepassara e ele disse-lhe que fosse ela para cima de uma rvore e o

    esperasse, que ele levaria os bois e voltaria. Por baixo da rvore havia

    uma fonte e foi l uma velha que acabou por convencer a moa a

    deixar-se pentear. Ela deixou e a velha espetou-lhe um alfinete na

    cabea, transformando-a numa pomba. Foi ento ela para cima da

    rvore. Quando veio o rei estranhou a diferena e ela respondeu que

    ele demorara tanto que o sol a queimara. E levou-a com ele. Depois, no

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    jardim apareceu a pomba a fazer-lhe perguntas. Conseguiu o rei

    apanh-la e ao passar a mo pela cabecinha encontrou o alfinete e

    tirou-o. Apareceu ento a moa. Mataram a velha e viveram felizes

    para sempre.

    A Lenda de Beja11

    H muitos, muitos anos atrs, no local onde se encontra hoje a cidade

    de Beja, vivia um pequeno povo em cabanas de colmo. Todos os

    campos lavrados e semeados que hoje avistamos, em redor da cidade

    de Beja, eram em tempos longnquos, um grande

    matagal, onde o homem, em alguns stios,quase no conseguia entrar. Assim, o povo que

    aqui habitava sobrevivia da caa que fazia na

    vasta floresta, que albergava um grande

    nmero de animais.

    Entre os animais que viviam nesta grande

    floresta, havia uma serpente monstruosa,

    maior do que podemos imaginar. Esta serpente

    gigante percorria todo o matagal que existia em

    redor da pequena povoao, devorando e destruindo tudo o que

    encontrava no seu caminho.

    Os habitantes viviam em constante sobressalto, pensando no dia em

    que poderiam encontrar nas suas caadas a terrvel serpente que, sem

    d nem piedade, os devoraria num abrir e fechar de olhos, alis, o que

    j acontecera a algumas infortunadas pessoas que saram para as suas

    caadas e nunca mais voltaram.Mas certo dia, um dos habitantes desta pequena povoao, conhecido

    pela sua coragem e mestria na resoluo de problemas, teve uma

    brilhante ideia: envenenar um toiro e deit-lo para a floresta onde

    existia a tenebrvel serpente.

    11Beja capital do distrito de Beja, da regio do Baixo Alentejo

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    Este valente homem reuniu o povo e explicou a sua ideia de envenenar

    um toiro e lev-lo para a floresta, onde seria certamente devorado pela

    serpente, que morreria envenenada ao comer o pobre animal. Depois

    de um longo debate, todos concordaram com esta arriscada ideia.

    Ento, envenenaram um robusto toiro, que era visto

    esperanosamente como o salvador desta amedrontada gente, e

    partiram para a arriscada tarefa de coloc-lo na grande e perigosa

    floresta, onde a monstruosa serpente costumava fazer as suas vtimas.

    Com muito custo, l conseguiram deixar o toiro na floresta. Contou que

    ouviu que, entre a serpente e o toiro, ainda houve uma tremenda luta,

    pois o toiro ainda estava vivo quando fora encontrado pela horrendaserpente. Mas o toiro foi vencido pelo efeito do veneno e foi devorado

    pela gigantesca serpente.

    Passados alguns dias, a serpente foi encontrada morta ao lado dos

    restos do toiro salvador.

    Diz-se ento que a cabea de toiro que se encontra no braso da

    cidade de Beja originou desta lenda e representa tambm a riqueza da

    regio em cabeas de gado.

    A Lenda da Serpnia

    Era uma vez uma jovem e linda Princesa, chamada Serpnia, que vivia

    nas longes terras do outro lado da Ibria, l para os altos Pirineus. Seu

    pai, Cfilas, rei dos trdulos, tribo da Ibria, era um homem bom.

    Num Pas vizinho, vivia um outro rei, de raa, celta, que era cruel e

    muito ambicioso, Rolarte de seu nome, que quando viu a formosa

    princesa quis casar com ela. Mas a princesa no se agradou dele.

    Um dia um Prncipe, Orosiano, visitou o Rei Cfilas e a sua filha

    Serpnia. Os dois prncipes gostaram um do outro e combinaram casar.

    Mas o rei Rolarte, quando soube, no gostou que Serpnia fosse dada

    em casamento a Orosiano e jurou vingar-se tratando logo de reunir os

    seus soldados e de fazer guerra a Orosiano.

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    O Noivo de Serpnia morreu e Rolarte ficou ferido.

    O Rei dos Celtas no ficou satisfeito com a morte de Orasiano a jurou

    fazer guerra ao pai de Serpnia, mas este, informado do que Rolarte

    preparava, abalou para as longnquas paragens da outra banda da

    Pennsula Ibrica.

    E andaram, andaram at chegarem a um stio onde a Princesa se sentiu

    encantada com as formosas Terras que seus belos olhos avistavam.

    Campos recobertos de luxuriantes verduras, flores campestres a

    perfumarem os ares que respirava, tudo prenunciando abundncia de

    gua, de terras frteis, ubrrimas.

    Serpnia logo deu parte a seu pai de que gostava destes stios. Cfilas

    examinou a regio. Tudo aparentava terras fartas e amenidade declima. Perto corria o Ana. Por toda a parte se viam Oliveiras, muitas

    Oliveiras, a garantir alimento, untura, tempero e luz na candeia.

    E logo ali acamparam e escolheram local para construir uma cidade

    que ficou a ser a capital de novo reino. E em homenagem a Serpnia, a

    formosa filha do Rei Cfilas, nova cidade se ficou chamando Serpe.

    Esta seria a capital da Turdetnia, o novo reino criado na regio do

    Ana, hoje chamado Guadiana, e que se estendia at ao mar.

    Tempos depois chegou a Serpe a notcia da vinda at um Porto do

    Ana, aonde chegavam as guas salgadas do mar, de barcos Fencios -

    povo de navegadores que vivia no Norte de frica. Cfilas, Rei dos

    Trdulos, fez aliana com os chefes Fencios e, naquele porto,

    construram uma cadeia a que deram o nome de Mirtilis, em honra da

    Deusa Mirto, sua me que o teve de Mercrio.

    Em um dos barcos vinha um Prncipe, jovem, guerreiro e bem parecido,

    que ao ver Serpnia se apaixonou por ela. E Serpnia amou Polpio, obelo Prncipe Fencio. E logo ficaram noivos.

    Polpio regressou Fencia. E Serpnia, enquanto esperava o seu noivo,

    dedicava-se caa pelo que seu pai lhe construiu, beira do Rio

    Limosine, que ia desaguar no Ana, um castelo onde ela ficava quando

    ia caar. Ali havia muitos loendros e Serpnia deu sua nova casa o

    nome de Castelo de Loendros.

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    Imagem12

    Serpnia j tinha esquecido

    Rolarte, mas Rolarte noesquecera Serpnia, nem a

    vingana de que lhe jurara.

    E uma noite, noite escura como

    breu, o Castelo dos Loendros foi

    atacado por Rolarte e os seus

    soldados. Mas o Rei dos Celtas foi

    vencido pelos soldados de Cfilasque guardavam o castelo de

    Serpnia. Com medo de novos

    ataques a princesa mandou aviso

    ao pai, que estava em Mirtilis, que

    hoje se chama Mrtola, o qual regressou com muitos soldados, e que

    esporeando os seus corcis corriam a toda a brida na companhia de

    Polpio, o prncipe noivo, que j tinha regressado da Fencia para as

    bodas com Serpnia.Rolarte voltou a assaltar o castelo mas este, que tinha agora muita

    tropa, venceu os soldados de Rolarte e o Rei dos Celtas fugiu e foi

    morrer afogado no Ana. Serpnia casou com Polpio e os noivos foram

    para a Fencia. Serpe, que recorda a linda princesa Serpnia e que

    sempre manteve o seu nome, hoje a Serpa em que vivemos.

    12Imagem de Lucas Fracalossi

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    Nossa Senhora das Pazes13

    H uma lenda antiga

    Que conheo desde criana,

    E em que a crena popular

    Inspira confiana,

    Que nos conta

    Que, em tempos idos,

    J muito distantes

    E por todos esquecidos,

    Houvera uma brigaNos terrenos constantes

    Entre Ficalho e Chana.

    Eram aos montes, os

    feridos,

    E imensos os gemidos!... 14

    Imagem

    No havendo esperanaDe a luta parar,

    Nem de se esboar

    Uma leve bonana,

    A luta crescia, crescia!...

    Era cada vez mais forte!...

    Para muitos,

    J tinha chegado a morte!

    O povo olhava,

    Assustado e aturdido, aquela luta sem igual, julgando-se

    Perdido

    O prprio torro natal.

    13Esta lenda pertence Freguesia de Vila Verde de Ficalho, concelho de Serpa,

    distrito de Beja14

    Imagem retirada do blog Fotos de Ficalho

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    Tudo ficou em completa inaco.

    A Virgem Maria,

    Que,

    Nessa viso,

    Era das Pazes,

    Em amigos os convertia.

    Foi dessa viso feliz,

    Que esta lenda datou,

    Que o povo de Ficalho,

    Segue,

    Crente,A f que criou.

    Para consagrar a apario,

    No lugar da contenda

    Numa ermida se ergueu

    Bela e alvinitente.

    E com devoo,

    O povo contente,

    Ante a alegria pura dos rapazes,

    Celebra em cada ano,

    A festa das Pazes.15

    15Texto de autoria de Rigo Valente, de nacionalidade portuguesa.

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    A lenda de Nossa Senhora das Necessidades16

    Num fraguedo de uma herdade

    Em cima de uma rochinha

    Apareceu a Virgem das Necessidades

    Do tamanho de uma bonequinha

    Um pastor que por ali passou

    Com o seu gado a pastar

    Ao ver a bonequinha to lindaTratou logo de a levar

    Andou todo o dia muito contente

    A pensar na alegria que ia dar

    Levar to linda bonequinha

    Para sua filhinha brincar

    J tarde ao chegar malhada

    Muita alegria disse para a filha:

    Hoje trouxe-te uma boneca

    Vai v-la que est dentro da mochila

    A mida muito contente

    A bonequinha foi logo buscar

    Mas ao ver a mochila vaziaEla se ps a chorar

    16Retirado da obra Lendas e Narrativas de Santo Aleixo da Restaurao

    Santo Aleixo da Restaurao pertence ao concelho de Moura, distrito de Beja.

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    O pastor muito aborrecido

    Sem saber que pensar

    Disse-lhe: No chores filha

    Que eu amanh a vou procurar

    De manh cedo com o seu gado

    Pelos mesmos passos a foi procurar

    Depois de o terreno ter percorrido

    Em cima da rochinha a foi encontrar

    Ele logo a apanhou

    E na mochila a meteuMas ao chegar malhada

    O mesmo caso se deu

    A outro pastor que estava prximo

    Ele foi contar o sucedido

    O pastor muito srio lhe disse:

    Isto milagre meu amigo

    No dia seguinte o caso foi contado

    A todos que por ali passaram

    Todos quiseram ir certificar-se

    Porque em milagre no acreditaram

    Quando iam j muito prximo

    A Santinha todos puderam verMas ao dela se aproximarem

    Todos a viram desaparecer

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    A olhar uns para os outros disseram:

    Ela Santinha mesmo a valer

    E ela quer aqui uma Igreja

    E ns todos lhe a vamos fazer

    E muito em breve de tudo foram tratar

    Mas vendo o terreno da frente mais direito

    Resolveram fazer ali a igreja

    Porque ficava melhor e fazia mais jeito

    Todos comearam logo a trabalhar

    Com muita f e muita devoo

    Mas ao l chegarem no dia seguinte

    Todo o seu trabalho eles viram no cho

    Sem zangas nem azedumes

    Comearam novamente a trabalhar

    Mas novamente no outro dia

    Tudo cado eles foram encontrar

    Foi ento quando um deles disse:

    A Santinha no quer a Igreja aqui

    Ela quer que se faa onde ela aparece

    E ns vamos faze-la ali

    Depressa tudo para l mudaram

    Comeando logo todos a trabalhar

    Ela parecia-lhe que no faziam nada

    Mas o seu trabalho eles viam aumentar

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    Muito em breve a Igreja ficou pronta

    Com a imagem da Santinha e seu altar

    Todos l iam com muita f e devoo

    Aos ps da Santinha ajoelhar e rezar

    A Santinha rejeitou melhor terreno

    Por de Barrancos ela no querer ser

    Ela preferiu rochas e fraguedos

    Para a Santo Aleixo ela pertencer

    Outro grande milagre a Santinha ali fez

    Quando os de Santo Aleixo l andaram a ceifarEles viram vir um fogo com muita rapidez

    J muito prximo deles a chegar.

    Logo eles correram a pedir Santinha

    Para lhes valer em to grande necessidade

    Que lhe salva-se todas as searas

    E os livra-se de to grande calamidade

    No astro logo apareceu uma nuvem

    Que em uma trovoada se transformou

    Apagando imediatamente todo o fogo

    E todas as searas ela salvou

    Todas as searas ela salvou

    Algumas delas j ardidasMas s as palhas o fogo queimou

    Ficando as lindas louras espigas

    Com maior f e devoo

    Santinha todos foram agradecer

    Chamando-lhe Nossa Sr. das Necessidades

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    Por em to grande necessidade era lhes valer

    Em honra de Nossa Sr. das Necessidades

    Pois assim se continuou a chamar Santinha

    Todos os anos em Agosto lhe faziam uma festa

    Conhecida pela festa da Tomina

    De toda a parte vinha muita gente

    Alguns at as suas festas traziam

    Traziam tambores, guies e a mocidade

    E ao p da azinheira Benta dormiam

    De manha cedo todos abalavam

    Com muita pressa e devoo

    Todos queriam chegar l a horas

    De acompanhar a Santinha na procisso

    Muitos portugueses e espanhis

    Nenhum ano queriam faltar

    Eles continuavam sempre a dizer

    Que era a melhor festa de Portugal

    Depois fizeram l um Convento de Frades

    O Convento da Tomina como todos diziam

    Passando a vir muita gente de todas as localidades

    Pois de toda a parte Padres e Frades para ali iam

    A herdade passou a ser a Coutada dos Frades

    Nome que ainda hoje continua a ter

    Ainda vem muita gente ver as runas

    Porque elas so dignas de se ver

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    Quando acabaram ali os Frades

    O Convento comearam a saquear

    Os de Santo Aleixo foram buscar a Santinha

    Com receio que lhe a fossem roubar

    Em Santo Aleixo a festa se continuou a fazer

    Com o mesmo respeito e a mesma f

    De toda a parte vinha muita gente

    E muitos de bem longe aqui vinham a p

    Na horta de cima entrada da aldeia

    Passaram ento as festas ali a ficar

    Na vspera de manh cedo abriam os portes

    E todo o dia ali se viam festas a chegar

    Depois as festas foram deixando de vir

    Mas de oito ainda eu me lembro bem

    E de vir a grande filarmnica de Brinches

    E grupos de cantares alentejanos tambm

    Hoje as festas j deixaram de vir

    Mas a festa ainda se continua a fazer

    Ainda vem muita gente de toda a parte

    E os nossos emigrantes c vm comparecer

    Nossa Senhora das Necessidades

    Santinha linda e milagrosa

    Tu sers sempre protectora

    Desta Terra gloriosa

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    Contos Tradicionais

    Capuchinho vermelho17

    Era uma vez uma menina que vivia numa casinha perto da floresta. O

    passatempo preferido da menina era apanhar flores para oferecer

    me e av. A av desta menina tambm vivia numa casa do outro

    lado da floresta. Para visitar a av, a menina tinha que andar muito

    pois no podia atravessar a floresta a direito por causa de um lobo que

    l vivia e que apanhava e comia todas as pessoas que por l passavam.

    Um dia, a me da menina chamou-a e disse-lhe que ela tinha de levar

    um lanche a casa da av porque ela estava doente e no podialevantar-se. A me avisou

    bem a menina para no

    entrar na floresta e no se

    demorar muito pelo

    caminho. A menina colocou

    a sua capa com um capuz

    vermelho, pegou no cesto

    do lanche e saiu para casa

    da av.

    18Imagem

    A meio do caminho pensou que seria bom levar um raminho de flores

    av para a alegrar. Viu umas bem bonitas no caminho na orla dafloresta e comeou a apanh-las. De repente, junto de uma rvore l

    mais adiante, viu umas flores amarelas que ela nunca tinha visto.

    17Obra de Charles Perrault, adaptada para portugus

    18Imagem retirada do blog Tukakubana

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    Para apanh-las tinha que entrar um bocadinho na floresta mas

    pensou que se aparecesse algum, ela teria tempo de fugir.

    Entusiasmada com as flores, nem reparou que j tinha entrado

    demasiado na floresta e que as rvores e arbustos no a deixavam

    encontrar o caminho de volta.

    Quando procurava a estrada por onde tinha ido, sentiu algum atrs

    dela. Voltou-se e deu com o focinho do lobo mesmo encostado a ela. O

    lobo estava j a pensar que tinha encontrado um belo petisco para

    aquele dia mas resolveu conversar um pouco com a menina antes de a

    comer. Perguntou-lhe onde ia e quando ouviu dizer que ela ia visitar a

    av ficou todo contente e comeou a pensar na maneira de comer asduas.

    Sugeriu menina divertirem-se um bocadinho e fazerem uma corrida

    at casa da av. A menina comeou a pensar que o lobo, afinal, no era

    to mau como se dizia e aceitou fazer a corrida com ele. Partiram os

    dois e o lobo, que conhecia muito bem todos os caminhos da floresta,

    foi por um atalho e chegou rapidamente a casa da avozinha. Bateu

    porta e disfarou a voz para fingir que era a menina. Quando entrou,

    foi logo para o quarto da av que ficou muito assustada e desatou aos

    gritos.

    O lobo abriu a boca e engoliu a av de uma s vez. Depois, vestiu uma

    das camisas de dormir da av, ps uma touca na cabea e deitou-se na

    cama espera que a menina chegasse para comer a sobremesa.

    Quando a menina chegou, bateu porta pensando que tinha ganho a

    corrida. O lobo mandou-a entrar fazendo uma voz fininha para fingir

    que era a av. A menina ficou admirada por ver a av com um aspectoto diferente do habitual e pensou que ela devia estar mesmo muito

    doente. Perguntou-lhe porque tinha uns olhos to grandes e o lobo

    respondeu, sempre disfarando a voz, que era para ver melhor a sua

    querida netinha. Depois, a menina perguntou porque tinha ela as

    orelhas to grandes e o lobo respondeu que era para a ouvir melhor.

    Em seguida, a menina perguntou-lhe porque tinha ela a boca to

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    grande e o lobo, j sem disfarar a voz, disse que era para a comer

    melhor e saltou da cama para fora para engolir tambm a menina.

    Ela conseguiu sair a correr do quarto antes que o lobo a comesse e

    correu para a rua a gritar por socorro. Um caador que passava ali

    perto ouviu os gritos e correu para junto da casa da av. Assim que viu

    o lobo quase a apanhar a menina, apontou-lhe a espingarda e

    disparou. O lobo caiu no cho e a menina ouviu os gritos da av que

    estava dentro da barriga do lobo comilo.

    O caador abriu a barriga do lobo com uma faca e a avozinha saiu l de

    dentro muito contente por ainda estar viva. Fizeram uma grande festae comeram os trs o belo lanche da av. A partir desse dia toda a gente

    podia passear vontade pela floresta, pois j no tinham que ter medo

    do malvado do lobo.

    Os trs porquinhos19

    Era uma vez, na poca em que os animais falavam, trs porquinhos que

    viviam felizes e despreocupados na casa da me.

    A me era ptima, cozinhava e fazia tudo pelos filhos. Porm, dois dos

    filhos no a ajudavam em nada e o terceiro sofria em ver a sua me

    trabalhando sem parar.

    Certo dia, a me chamou os porquinhos e disse:

    - Queridos filhos, vocs j esto bem crescidos. J hora de terem

    mais responsabilidades e para isso, bom morarem sozinhos.

    A me ento preparou um lanche reforado para os seus filhos edividiu pelos trs as suas economias, para que pudessem comprar

    material e construrem uma casa.

    19Obra de Joseph Jacobs, adaptada para portugus

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    Estava um bonito dia, ensolarado e brilhante. A me porca despediu-se

    dos seus filhos:

    - Cuidem-se! Sejam sempre unidos! - desejou a me.

    Os trs porquinhos, ento, partiram pela floresta em busca de um bom

    lugar para construrem a casa. Porm, no caminho comearam a

    discordar em relao ao material que usariam para construir o novo

    lar.

    Cada porquinho queria usar um material diferente.

    O primeiro porquinho, um dos preguiosos foi logo dizendo:

    - No quero ter muito trabalho! D para construir uma boa casa com

    um monte de palha e ainda sobra dinheiro para comprar outras coisas.O porquinho mais sbio advertiu:

    - Uma casa de palha no nada segura.

    O outro porquinho preguioso, o irmo do meio, tambm deu o seu

    palpite:

    - Prefiro uma casa de madeira, mais resistente e muito prtica.

    Quero ter muito tempo para descansar e brincar.

    - Uma casa toda de madeira tambm no segura - comentou o mais

    velho - Como te vais proteger do frio? E se um lobo aparecer, como te

    vais proteger?

    - Eu nunca vi um lobo por estas bandas e, se fizer frio, acendo uma

    fogueira para me aquecer! - respondeu o irmo do meio - E tu, o que

    pretendes fazer, vais brincar connosco depois da construo da casa?

    - J que cada um vai fazer uma casa, eu farei uma casa de tijolos, que

    resistente. S quando acabar que poderei brincar respondeu o mais

    velho.O porquinho mais velho, o trabalhador, pensava na segurana e no

    conforto do novo lar.

    Os irmos mais novos preocupavam-se em no gastar tempo

    trabalhando.

    - No vamos enfrentar nenhum perigo para ter a necessidade de

    construir uma casa resistente disse um dos preguiosos.

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    Cada porquinho escolheu um canto da floresta para construir as

    respectivas casas. Contudo, as casas seriam prximas.

    O Porquinho da casa de palha, comprou a palha e em poucos minutos

    construiu a sua morada. J estava descansado quando o irmo do

    meio, que havia construdo a casa de madeira chegou, chamando-o

    para ir ver a sua casa.

    Ainda era manh quando os dois porquinhos se dirigiram para a casa

    do porquinho mais velho, que construa com tijolos sua morada.

    - Ainda no acabaste! No est nem na metade! Ns agora vamos

    almoar e depois brincar disse irnico, o porquinho do meio.O porquinho mais velho porm no ligou aos comentrios nem s

    risadas, continuou a trabalhar, preparava o cimento e montava as

    paredes de tijolos. Aps trs dias de trabalho intenso, a casa de tijolos

    estava pronta, e era linda!

    20Imagem

    Os dias foram passando,at que um lobo

    percebeu que havia

    porquinhos morando

    naquela parte da floresta.

    O lobo sentiu a sua

    barriga a roncar de fome,

    s pensava em comer os

    porquinhos.

    20Imagem retirada do site Cultura e Diverso

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    Foi ento bater na porta do porquinho mais novo, o da casa de palha.

    O porquinho antes de abrir a porta olhou pela janela e avistando o lobo

    comeou a tremer de medo.

    O lobo bateu mais uma vez, o porquinho ento, resolveu tentar

    intimidar o lobo:

    - Vai-te embora! S abrirei a porta para o meu pai, o grande leo! -

    mentiu o porquinho cheio de medo.

    - No sabia que o leo era o pai do porquinho. Abre j essa porta

    disse o lobo com um grito assustador.

    O porquinho continuou quieto, tremendo de medo.

    - Se no abrires por bem, abrirei fora. Eu vou soprar muito forte e atua casa ir voar.

    O porquinho ficou desesperado, mas continuou resistindo. At que o

    lobo soprou uma vez e nada aconteceu, soprou novamente e da palha

    da casinha nada restou, a casa voou pelos ares. O porquinho

    desesperado correu em direco casinha de madeira do seu irmo.

    O lobo correu atrs.

    Chegando l, o irmo do meio estava sentado na varanda da casinha.

    - Corre, corre e entra dentro da casa! O lobo vem a! gritou

    desesperado, correndo o porquinho mais novo.

    Os dois porquinhos entraram a tempo na casa, o lobo chegou logo

    atrs batendo com fora na porta.

    Os porquinhos tremiam de medo. O lobo ento bateu na porta

    dizendo:

    - Porquinhos, deixem-me entrar s um bocadinho! - De forma alguma

    lobo, vai-te embora e deixa-nos em paz - disseram os porquinhos.- Ento eu vou soprar e soprar e farei a casinha voar. O lobo ento

    furioso e esfomeado, encheu o peito de ar e soprou forte a casinha de

    madeira que no aguentou e caiu.

    Os porquinhos aproveitaram a falta de flego do lobo e correram para

    a casinha do irmo mais velho.

    Chegando l pediram ajuda ao mesmo.

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    - Entrem, deixem esse lobo comigo! - disse confiante o porquinho mais

    velho.

    Logo o lobo chegou e tornou a atorment-los:

    - Porquinhos, porquinhos, deixem-me entrar!

    - No vais entrar seu lobo mau! - respondeu o porquinho mais velho.

    - J que assim, preparem-se para correr. Esta casa em poucos

    minutos ir voar! O lobo encheu seus pulmes de ar e soprou a casinha

    de tijolos que nada sofreu.

    Soprou novamente mais forte e nada.

    Resolveu ento jogar-se contra a casa na tentativa de derrub-la. Mas

    nada abalava a slida casa.O lobo resolveu ento voltar para a sua toca e descansar at o dia

    seguinte.

    Os porquinhos assistiram a tudo pela janela do andar superior da casa.

    Os dois mais novos comemoraram quando perceberam que o lobo foi

    embora.

    - Calma, no comemorem ainda! Este lobo muito esperto, ele no

    desistir antes de aprender uma lio - advertiu o porquinho mais

    velho.

    No dia seguinte bem cedo o lobo estava de volta casa de tijolos.

    Disfarado de vendedor de frutas.

    - Quem quer comprar frutas fresquinhas? - gritava o lobo

    aproximando-se da casa de tijolos.

    Os dois porquinhos mais novos ficaram com muita vontade de comer

    mas e iam abrir a porta quando o irmo mais velho entrou na frente

    deles e disse:- Nunca passou ningum vendendo nada por aqui antes, no suspeito

    que na manh seguinte do aparecimento do lobo, surja um vendedor?

    Os irmos acreditaram que era realmente um vendedor, mas

    resolveram esperar mais um pouco.

    O lobo disfarado bateu novamente na porta e perguntou:

    - Frutas fresquinhas, quem vai querer?

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    Os porquinhos responderam:

    - No, obrigado.

    O lobo insistiu:

    - Trs sem pagar nada, um presente.

    - Muito obrigado, mas no queremos, temos muitas frutas aqui.

    O lobo furioso se revelou:

    - Abram logo!

    Os porquinhos nada responderam e ficaram aliviados por no terem

    cado na mentira do falso vendedor.

    De repente ouviram um barulho no tecto. O lobo havia encostado uma

    escada e estava subindo ao telhado.

    Imediatamente o porquinho mais velho aumentou o fogo da lareira, naqual cozinhavam uma sopa de legumes.

    O lobo enfiou-se pela chamin, na inteno de surpreender os

    porquinhos entrando pela lareira. Foi quando ele caiu bem dentro do

    caldeiro de sopa fervendo.

    - AUUUUUUU!- Uivou o lobo de dor, saiu correndo disparado em

    direco porta e nunca mais foi visto por aquelas terras.

    Os trs porquinhos decidiram ento morar juntos daquele dia em

    diante. Os mais novos concordaram que precisavam trabalhar alm de

    descansar e brincar.

    Pouco tempo depois, a me dos porquinhos no aguentando as

    saudades, foi morar com os filhos.

    Todos viveram felizes na linda casinha de tijolos.

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    Gato das botas21

    Era uma vez um moleiro que tinha trs filhos. Um dia, chamou-os para

    lhes dizer que ia repartir por eles todos os seus bens.

    Ao mais velho deu o moinho, ao do meio deu o burro e ao mais novo

    deu o gato.

    O filho mais novo ficou muito triste porque o pai no tinha sido justo

    para com ele.

    Mas, surpresa das surpresas, o gato comeou a falar!

    - D-me um saco e um par de botas.

    O rapaz ficou muito espantado e obedecendo ao pedido do gato no dia

    seguinte, l foi comprar um saco e umas botas.- Aqui esto, meu amigo! - disse ele.

    O gato calou as botas, pegou no saco e l foi floresta fora. Como era

    muito esperto, no demorou muito a apanhar uma lebre bem

    gordinha, que a ps dentro do saco.

    Com o pesado saco s costas, o gato dirigiu-se ao castelo do rei e

    ofereceu-lhe a lebre, dizendo:

    - Majestade, venho da parte do meu amo, o marqus de Carabs,

    trago-lhe esta linda lebre de presente.

    O rei ficou muito impressionado e contente com aquela atitude e disse:

    - Diz ao teu amo que lhe agradeo muito!

    Da em diante o gato repetiu aquele gesto vrias vezes, levando vrios

    presentes ao rei e dizendo sempre que era uma oferta do seu amo.

    Um dia, diz o gato a seu amo:

    - Senhor, tomai banho neste rio que eu trato de tudo.

    O gato esperou que a carruagem do rei passasse junto ao rio onde oseu amo tomava banho e ps-se a gritar:

    - Socorro! Socorro! O meu amo, o marqus de Carabs, est a afogar-

    se! Ajudem-no!

    O rei mandou logo parar a carruagem e ajudou o marqus, dando-lhe

    belas roupas e convidando-o

    21Obra de Charles Perrault, adaptada para portugus

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    a passear com ele e com a filha, a princesa, na carruagem real.

    O gato desata ento a correr frente da carruagem. Pela estrada fora,

    sempre que via algum a trabalhar nos campos, pedia-lhes que

    dissessem que trabalhavam para o marqus de Carabs.

    O rei estava cada vez mais impressionado!

    O gato chega por fim ao castelo do gigante, onde todas as coisas eram

    grandes e magnficas.

    O gato pede para ser recebido pelo gigante e pergunta-lhe:

    - verdade que consegues transformar-te num animal qualquer?

    - ! disse o gigante.

    Ento o gato pede-lhe que se

    transforme num rato. E assim foi.O gato que estava atento, deu um

    salto, agarrou o rato e comeu-o.

    O rei, a princesa e o marqus de

    Carabs chegam ao castelo do

    gigante, onde so recebidos pelo

    gato:22

    Imagem

    - Sejam bem vindos propriedade do

    meu amo! diz o gato.

    O rei nem queria acreditar no que os

    seus olhos viam:

    - Tanta riqueza! Tem que casar com a minha filha, senhor marqus - diz

    o rei.

    E foi assim que, graas ao seu gato, o filho de um moleiro casou com aprincesa mais bela do reino.

    22Imagem retirada do site O Globo

  • 7/22/2019 Contos+Do+Mundo+ +Interculturalidades

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    A Carochinha e o Joo Rato23

    Era uma vez uma carochinha que estava a varrer a casa. Depois de

    muito bem varrida, foi limpar o p dos mveis e, com tanta sorteachou cinco ris no canto duma gaveta.

    Acabado este trabalho domstico, que tantas vezes ela costumava

    fazer, foi lavar-se, pentear-se e toucar-se e, em seguida, ps-se janela

    a ver quem passava na rua.

    No tardou que um co, que seguia o seu caminho, no passasse por

    baixo da janela onde estava a carochinha muito formosa e lavadinha.

    Vai da, o co vendo-a to formosa e linda deu-lhe os bons dias e disse:

    - Bom dia, Carochinha, to formosa e bonitinha que ests! J sei:

    achaste cinco ris no canto da gaveta, queres casar comigo?

    - Como a tua voz? perguntou-lhe ela.

    - A minha voz esta: o, o, o

    - Ai, - lhe diz a Carochinha que feia que ela ! No quero, no, que

    tenho muito medo!

    Alguns minutos depois passou um gato que, agradando-se tambm da

    formosura da carochinha, lhe perguntou:- Carochinha, queres casar comigo?

    - Ento como a tua voz? perguntou ela.

    - A minha fala respondeu-lhe o gato esta: miau, miau, miau,

    renhau, nhau

    - Ai, que feia que ela ! no quero, no!

    Em seguida, passou pela rua um burro que, igualmente, gostou da

    Carochinha e lhe perguntou se ela queria casar com ele.E, quando a Carochinha lhe pediu que desejava ouvir a sua voz, ficou

    horrorizada e cheia de medo quando o burro, abrindo a boca enorme,

    soltou um zurro potente e bem timbrado que se fez ouvir distncia.

    - No quero, no, tenho muito medo!

    23Histria retirada de contos populares portugueses, de Adolfo Coelho e

    adaptada.

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    Passaram ainda pela rua um porco, um carneiro e um boi, aos quais ela

    disse-lhes que no casava com eles porque eram feios e tinham vozes

    to desagradveis que metiam medo.

    Finalmente passou um rato que, vendo

    to formosa como bela Carochinha, se

    apaixonou logo por ela e lhe props

    casamento.

    - Carochinha, queres casar comigo?

    - Ento como a tua fala?

    - A minha fala diz-lhe o rato esta:

    chiu, chiu, chiu

    Imagem24

    - Ai que bela voz que tu tens, quero sim,

    quero!

    Com grande entusiasmo e satisfao dos

    noivos e de suas famlias fez-se o casamento, que decorreu, como era

    de esperar, no meio de grande alegria e animao.

    Era a Carochinha muito devota e crente em Deus, por isso no havia

    missa nem festa de igreja a que ela no assistisse.

    Vai da, no primeiro domingo logo a seguir ao casamento, ela depois de

    se lavar, pentear, de se toucar devidamente e pr perfume no cabelo e

    no lencinho que costumava meter na manga do vestido, quando saa,

    disse para o marido, o Joo Rato (era este o seu nome) que se

    preparasse de chapu alto de plo, de casaca e botas pretas, e foram

    ambos de brao dado missa.

    Chegados igreja, a Carochinha notou que se havia esquecido dasluvas brancas e pediu ao Joo Rato que fosse, depressa, a casa busc-

    las, mas que no demorasse muito.

    Tambm lhe lembrou que no se assomasse panela que estava ao

    lume a ferver, no fosse caso escorregarem-lhe os ps e cair dentro

    dgua.

    24Imagem retirada do site Sonhos Contados

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    Depois de ouvir com muita ateno o recado e conselho da esposa, o

    Joo Rato correu a casa a buscar as luvas. Mas, guloso e desobediente

    como certos meninos, o Joo Rato, depois de ter tirado duma das

    gavetas do toucador as lindas luvas brancas, rendadas e perfumadas da

    Carochinha, no tendo mo em si, correu cozinha a ver a panela que

    estava ao lume a ferver a bom ferver. Nela tinha a Carochinha deitado

    a carne da galinha, a linguia e o toucinho para se cozerem.

    O maroto do Joo Rato, rpido como o vento, trepou ao fogo e, com

    certo esforo, pois a panela estava muito quente, destapou-a.

    A gua fervia em cacho, a bom ferver, e vai da o cheiro a carne cozida

    era to delicioso que fazia criar gua na boca ainda aos menosgastrnomos, o que mais e mais espevitava o apetite devorador de

    Joo Rato.

    Subindo com dificuldade at borda da panela, pois estava muito

    quente, o nosso homem, olhando com olhinhos muito espertos e finos

    como os de um rato, j se v, para dentro e para o fundo da panela, via

    surgir superfcie da gua para logo desaparecer e mergulhar at ao

    fundo, a linguia, o toucinho e a carne da galinha.

    A tentao de Joo Rato pela carne era grande e, quando o toucinho

    ou a linguia surgiam superfcie da gua a ferver, logo ele lhes atirava

    a patinha para a puxar para si. E, tantas vezes repetiu a odisseia que,

    escorregando-lhe as patas, caiu na gua a ferver.

    Vendo, em sobressaltos, que o seu Joo Rato j tardava, a Carochinha,

    dando-lhe pancada o corao, decidiu tirar-se de dvidas e correu a

    casa.

    Foi ao quarto, chamou pelo marido, e ele no respondeu. Foi sala devisitas, e copa, e casa-de-banho, e nada de ver o marido.

    Por fim, foi cozinha e, como a panela do jantar destapada, assomou a

    ela e verificou, com grande pesar seu, que Joo Rato estava morto e

    cozido dentro dela. Soltou um grande grito de desespero e, cheia de

    comoo, lamentava-se deste jeito:

    - Ai o meu Joo Rato, cozido e assado no caldeiro!

    - Ai o meu Joo Rato, cozido e assado no caldeiro!

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    O Frade e a Sopa de Pedra25

    Um frade andava ao peditrio; chegou porta de um lavrador, mas

    no lhe quiseram a dar nada. O frade estava a cair com fome, e disse:

    Vou ver se fao um caldinho de pedra. E pegou numa pedra do cho,

    sacudiu-lhe a terra e ps-se a olhar para ela para ver se era boa para

    fazer um caldo. A gente da casa ps-se a rir do frade e daquela

    lembrana. Diz o frade:

    Ento nunca comeram caldo de pedra? S lhes digo que uma coisa

    muito boa.

    Responderam-lhe: Sempre queremos ver isso.

    Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, disse:

    Se me emprestassem a um pucarinho.

    26Imagem

    Deram-lhe uma panela de

    barro. Ele encheu-a de

    gua e deitou-lhe a pedra

    dentro.

    Agora se me deixassem

    estar a panelinha a ao p

    das brasas.

    Deixaram. Assim que a panela comeou a chiar, disse ele: Com um bocadinho de unto que o caldo ficava de primor.

    25Este conto tem origem em terras escalabitanas, mais concretamente de

    Almeirim, de onde surgiu a lenda do frade.26

    Imagem com a esttua dedicada ao frade da lenda da sopa da pedra, emAlmeirim. Fonte: wikipdia

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    Foram-lhe buscar um pedao de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa

    pasmada para o que via.

    Diz o frade, provando o caldo:

    Est um bocadinho insosso; bem precisa de uma pedrinha de sal.

    Tambm lhe deram o sal. Temperou, provou, e disse:

    -Agora que com uns olhinhos de couve ficava que os anjos o

    comeriam.

    A dona da casa foi horta e trouxe-lhe duas couves tenras. O frade

    limpou-as, e ripou-as com os dedos deitando as folhas na panela.

    Quando os olhos j estavam aferventados disse o frade: Ai, um naquinho de chourio que lhe dava uma graa...

    Trouxeram-lhe um pedao de chourio; ele botou-o panela, e

    enquanto se cozia, tirou do alforge po, e arranjou-se para comer com

    vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beio;

    depois de despejada a panela ficou a pedra no fundo; a gente da casa,

    que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:

    senhor frade, ento a pedra?

    Respondeu o frade:

    A pedra lavo-a e levo-a comigo para outra vez.

    E assim comeu onde no lhe queriam dar nada.

    O conto do periquito27

    Era uma vez um periquito e uma periquita. E a me mandou o

    periquito ao azeite e a periquita ao vinagre, dizendo-lhes quem cchegar primeiro, ganha uma coisinha.

    Como o periquito foi mais rpido, chegou primeiro. E sua me que

    estava sua espera, matou-o e com ele fez o almoo. E quando a

    periquita chegou disse-lhe a sua me vai levar o almoo ao teu pai. E

    27Recolha oral gentilmente facultado pela D. Maria Carrasco aluna da

    Universidade Snior de Moura.

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    quando l chegou, entregou o almoo a seu pai que o comeu e deitou

    os ossos do periquito para baixo de uma laranjeira. E eis que nasce o

    periquito carregado de laranjas. E a me pede-lhe d-me uma

    laranja, ao que o filho responde no que me mataste; e o pai pede

    d-me uma laranja, e o filho responde no que me comeste. E

    pede-lhe a irm d-me uma laranja e o irmo responde a ti dou-te

    todas pois me salvaste. E diz-se que a esta hora esto os dois irmos

    comendo po com amoras.

    "Atiro a porta me?"

    Vivia um menino pobre, com sua me, nas ltimas casas de uma aldeia.A me ia trabalhar, todos os dias, deixando o menino sozinho. Antes de

    sair recomendava-lhe:

    - No abras a porta a ningum, nem mostres as nossas vernicas!

    O menino respondia-lhe que fosse descansada, porque ele faria

    conforme ela lhe estava a recomendar.

    Mas, certo dia, uns homens, que pareciam boas pessoas bateram

    porta e perguntaram ao rapazinho se l em casa haveria alguma coisabonita que ele lhes pudesse mostrar.

    O menino correu a buscar as vernicas, que a me guardava na

    cmoda do quarto. Os ladres porque era isso que eles eram

    pegando no saco, imediatamente se foram embora.

    Pouco depois, chegou a me. O menino estava triste e confessou-lhe o

    que se tinha passado. A pobre mulher, vendo-se sem o seu tesouro,

    lanou mos cabea e comeou a correr estrad