Apostila de Gestalt

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INDICE

PAGE 14

INDICE

1. A noo de estrutura

pg. 02

2. O elementarismo associacionista

pg. 04

3. A reao filosfica ao elementarismo associacionista

pg. 05

3.1 William James

pg. 053.2 Henri Bergson

pg. 053.3 Wilhelm Dilthey

pg. 064. A reao neurofisiolgica ao elementarismo associacionista

pg. 06

4.1 Karl Lashley

pg. 06

4.2 Hans Driesch

pg. 074.3 Paul Weiss

pg. 074.4 Kurt Goldstein

pg. 07

5. A reao psicolgica ao elementarismo associacionista

pg. 08

5.1 Chistian Von Erenfels e a Gestaltqualitaten

pg. 08

5.2 Escola de Graz

pg. 095.3 A Escola de Leipzig

pg. 095.4 A Escola de Berlim

pg. 105.5 O neogestaltismo de Kurt Lewin

pg. 13

6. A rejeio da hiptese da constncia

pg. 16

7. Kohler e as formas fsicas

pg. 17

8. As formas fisiolgicas e o isomorfismo

pg. 18

9. Campo fsico e campo psicolgico

pg. 19

10. O princpio de contemporaneidade

pg. 20

11. O estudo da percepo

pg. 22

11.1 Sensao e Percepo

pg. 22

11.2 As leis da percepo

pg. 22

11.2.1 Lei da Boa Forma ou da Pregnncia (Pragnanz)

pg. 22

11.2.2 Lei da Proximidade

pg. 23

11.2.3 Lei da Semelhana

pg. 23

11.3 Estrutura do Campo Perceptivo

pg. 23 11.4 Percepo e Experincia Passada

pg. 23

12. O estudo da memria

pg. 24

13. O estudo da inteligncia e do pensamento

pg. 25

1. NOO DE ESTRUTURA

O termo Gestaltismo vem do alemo Gestalt que significa Organizao, Forma, Estrutura. Designa um conjunto de princpios, mtodos, experimentos e teorias em psicologia, resultante do movimento iniciado no comeo do sculo, na Universidade de Berlim, sob a orientao de Max Wertheimer.

Tendo comeado como um estudo do processo perceptivo, a Gestaltypsychologie acabou por abarcar o estudo da memria, do pensamento, do desenvolvimento individual, da motivao, do comportamento dos grupos, constituindo-se como um sistema psicolgico anlogo ao Behaviorismo apesar de lhe ser oposto teoricamente cuja pretenso era a de explicar a totalidade dos processos psicolgicos.

Os grandes sistemas entraram em declnio, mais pela sua pretenso de abrangncia total do que pelo seu contedo terico, e deram lugar a teorias isoladas menos abarcantes e por isso mesmo mais precisas.

Atualmente o termo Gestaltismo utilizado mais para designar uma posio terica do que para designar um sistema integrado semelhana dos grandes sistemas filosficos do passado. O mesmo aconteceu com o Behaviorismo.

No entanto, no simples, do ponto de vista conceitual, estabelecer-se o que deve ser chamado de Gestaltismo, uma vez que o termo Estruturalismo (que uma das tradues possveis para Gestaltismo) aplicado com uma abrangncia que ultrapassa em muito os limites da psicologia.

Como assinala Jean-Marie Auzias em seu livro Chaves para o Estruturalismo, o estruturalismo um pensamento sem pensadores. o pensamento das estruturas tais quais se revelam de qualquer maneira, por si mesmas, atravs das cincias humanas. A dificuldade em se definir os limites do estruturalismo reside no fato de que toda e qualquer realidade, com a condio de no ser completamente amorfa, possui um estrutura.

O termo estrutura tem sua origem no termo latino struere que significa construir. Inicialmente foi aplicado a realidade materiais (estrutura de um prdio) para designar o arranjo de suas partes do ponto de vista arquitetnico; em seguida, foi aplicado aos seres vivos para designar sua organizao interna. Mais tarde o termo passou a ser utilizado pela fsica e pela qumica (estrutura do tomo) designando o agrupamento de diferentes partes de um conjunto e sua coeso interna. Finalmente, no sec. XIX, o termo passou a ser empregado nas cincias sociais com a conotao mais abstrata como estrutura de uma sociedade.

Em seu sentido mais atual, o termo empregado em filosofia, a propsito de um conjunto, de todo constitudo de fenmenos solidrios de modo que cada qual dependa dos demais e no possa ser o que a no ser em relao com eles. Neste sentido, o termo estrutura sinnimo de gestalt ou forma, tal como empregado em psicologia.

Foi a lingstica que definiu mais rigorosamente o termo estrutura como o arranjo interno das unidades que constituem em sistema lingistico ; ela a lei da formao e da inteligibilidade dos diversos conjuntos. Num artigo que se tornou famoso, Jean Pouillon esclarece definitivamente a possvel confuso que possa Ter ficado a respeito dos termos estrutura e organizao. Organizao uma combinao de elementos; pertence ordem do fato e no inteligvel por si mesma...; a estrutura inconsciente, no dado da experincia, refere-se sintaxe de diversas organizaes possveis.

Em psicologia h, segundo N. Moulou, dois aspectos sob os quais podemos considerar a noo de estrutura: o epistemolgico e o ontolgico. Do ponto de vista epistemolgico, considerada estrutural a abordagem em cincia que considera seu objeto de estudo como fazendo parte de um sistema de correlaes. Em nvel mais avanado, essa perspectiva estrutural se afasta de uma atitude de observao e de classificao, para utilizar um formalismo matemtico que lhe permite enfocar a estrutura em funo de um modelo matemtico de relaes estruturais. Esta noo de estrutura vlida para toda e qualquer cincia. O outro ponto de vista, o ontolgico, aquele que considera a prpria realidade emprica estudada pelo psiclogo como sendo estrutural. Neste caso, a estrutura no decorrente de uma atitude metodolgica, mas o prprio comportamento seria estrutural, independente de qualquer mediao conceitual.

Uma outra distino feita por Mucchielli quando afirma que o sentido atual do termo estrutura, quando aplicado a fenmenos psiquicolgicos, deixa de referi-lo a sistemas de correo para dizer respeito unicamente a significaes. Uma estrutura de significao aquilo em relao ao qual um elemento do mundo toa um significado para um sujeito. Mais exatamente, designa uma realidade operante que no tem nada de objetivo nem de consciente e cuja ao converte os dados do mundo em significativos para o sujeito... A estrutura unicamente capaz de dar sentido quilo que ela estrutura. Ela , desde este ponto de vista, uma forma vazia, mas dinmica e bem definida, que d forma e portanto significao ao que vem preench-la.

Esta noo de estrutura estrururante semelhante a que nos oferece Lvi-Strauss em antropologia. Para ele, a noo de estrutura no se refere realidade emprica, mas aos modelos construidos em conformidade com esta. Isto permite, segundo ele, distinguirmos, por exemplo, estrutura social de relaes sociais. Estas, so a matria prima para a primeira. No se pode reduzir a estrutura social ao conjunto das relaes sociais observadas em um caso particular. No pertencem ao plano emprico, mas constituem um modelo aplicado ao emprico.

A Gestaltpsycologia comeou empregando o termo no sentido de que h contextos nos quais o que acontece ao todo no pode ser deduzido das caractersticas dos elementos separados mas, inversamente, o que acontece a uma parte do todo , em casos bem ntidos, determinado pelas leis da estrutura intrnseca ao todo.

Paul Guillaume resume em alguns itens o que significava para a Gestaltpsychologie, a noo de Gestalt : (1) Os fatos psquicos so formas, quer dizer, unidades orgnicas que se individualizam e se limitam no campo especial e temporal da percepo; (2) As formas dependem, no caso da percepo, de um conjunto de fatores objetivos, de uma constelao de excitantes; (3) mas so transportveis, quer dizer, que algumas de suas propriedades se conservam apesar de mudanas que afetam, de certa maneira, todos esses fatores; (4) A percepo de diferentes classes de elementos e das diferentes espcies de relaes, corresponde a diferentes meios de organizao de um todo, que dependem ao mesmo tempo de condies objetivas e subjetivas; (5) Uma parte num todo algo distinto dessa parte isolada ou em outro todo; (6) Toda teoria parte de dados que considera como primeiros. A psicologia clssica partia de sensaes elementares para com elas construir objetos ou fatos mais ou menos organizados, seja pelo mecanismo da associao, seja por operaes sintticas do esprito: a Gestalttheoria parte das formas ou estruturas consideradas como dados primeiros; (7) No h matria sem forma; (8) Se no h motivo para procurar a origem das formas a partir de pretensos elementares, cumpre estabelecer, pela experimentao, as condies dessas formas e as leis das suas transformaes; (9) H um paralelismo entre as formas fisiolgicas e psquica: tal o princpio do isomorfismo.

Para melhor compreendermos o conceito de Gestalt e suas implicaes em psicologia, o aconselhvel seguirmos os caminhos do movimento que se iniciou como uma crtica psicologia associacionista.

2. O ELEMENTARISMO ASSOCIACIONISTA

A Noo de Gestalt apareceu em psicologia no final do sculo XIX, por ocasio do movimento que se iniciou como crtica ao elementarismo associacionista. Este, tem suas origens no empirismo ingls de Locke, Berkeley e Hume. Segundo os associacionistas, a psicologia teria por tarefa principal a anlise dos fatos de conscincia a fim de encontrar seus elementos constituintes. Para o elementarismo associacionista, uma percepo, uma conduta, formada de elementos que so considerados como existentes em si mesmos e que constituem, a matria da qual formado qualquer processo psicolgico. Esses elementos se associam segundo leis determinadas formando conjuntos aditivos que caracterizam a existncia.

Desta maneira, o dado simples e irredutvel a todo e qualquer esforo de anlise, era a sensao, o elemento sensorial, a partir do qual tudo resultaria. O contedo da sensao encontrava-se na imagem que era a reproduo daquela. As imagens tanto podiam se prender a sensaes atuais constituindo nossas percepes como podiam se agrupar de forma mais livre constituindo nossas lembranas ou nossos pensamentos.

Foi David Hartley, na primeira metade do sec. XVIII quem tentou, partindo do elementarismo associacionista, articular os fatos da anatomia e da fisiologia com os da psicologia. Para isto, Hartley utilizou a anatomia tal como era conhecida em sua poca e relacionou-a com o conceito de ao vibratria da fsica de Newton. Meu principal objetivo explicar, estabelecer e aplicar brevemente as doutrinas das vibraes e da associao. A primeira destas doutrinas foi tirada de sugestes referentes ao funcionamento da sensao e do movimento que oferece Sir Isaac Newton no final de seus Principia e nas questes anexas sua tica; a Segunda, do que Locke e outros a partir dele disseram a respeito da influncia da associao sobre nossas opinies e afetos, e sobre seu emprego para explicar tais coisas de maneira exata e precisa; fatos que se atribuem comumente ao poder geral e indeterminado do hbito e do costume. Pode parecer, primeira vista, que a doutrina das vibraes no tem relao com a da associao, no entanto, se de fato se encontra que estas doutrinas contm as leis das capacidades corporal e mental respectivamente, deve-se relacionar uma outra, posto que o corpo e a mente esto relacionados. Pode-se esperar que das vibraes possa inferir-se como efeito a associao e que a associao aponte s vibraes como sua causa (D. Hartley Observations in many his frame, his duty and his expectations; London, 1749).

Segundo Hartley, as vibraes do crebro so efeito e rplica das vibraes dos nervos. Esta correspondncia entre as duas sries de vibraes a razo pela qual as imagens e idias so similares s sensaes originais. Assim, ver uma rvore uma srie de vibraes e ter uma imagem mental de uma rvore outra srie de vibraes; como as duas sries esto correlacionadas, a imagem de rvore cpia fiel da sensao desta rvore. Quando as sensaes e as vibraes que se acompanham se repetem com freqncia, ficam vestgios ou rastros no sistema nervoso. Estas so as idias simples que se renem e formam as idias complexas. Entre as sensaes repetidas freqentemente e suas idias correspondentes, estabelece-se um forte vnculo, de tal maneira que qualquer sensao pode evocar todas as idias originalmente ligadas a ela. Este vnculo explicado em termos fisiolgicos. uma questo de restos permanentes que as diferentes sensaes deixam em diferentes regies do crebro e das conexes nervosas entre estas regies. Uma vez estabelecidas tais conexes, as vibraes que se iniciam em uma parte do crebro reavivam facilmente as vibraes nas demais partes, despertando assim as idias a elas associadas.

Hartley foi buscar em David Hume os princpios de associao que aplica s sensaes e s idias. Segundo Hume, a associao pode dar por semelhana, por contiguidade no tempo e no espao, e por causalidade. Portanto, segundo estes princpios, as imagens ou idias se associam quando as sensaes correspondentes se associam elas mesmas, e que a associao destas ltimas resulta das condies segundo as quais elas se produziram: se duas sensaes se produzem ao mesmo tempo ou no mesmo lugar, ou numa sucesso determinada, elas se tornam associadas; uma evoca a outra, o mesmo acontecendo com as idias derivadas.

No muito difcil reconhecermos a doutrina associacionista nos experimentos de Ebbinghaus sobre a memria, na reflexologia de Pavlov ou no behaviorismo de Skinner. Sua simplicidade e a facilidade com que aplicada ao plano experimental, fizeram com que conhecesse um extraordinrio sucesso mantendo, at hoje seu poder de seduo.

3. A REAO FILOSFICA AO ELEMENTARISMO ASSOCIACIONISTA

Os principais crticos, no plano filosfico, da doutrina associacionista foram: W. James, H. Bergson e W. Dilthey.

3.1. William James (1842-1910) A oposio de W. James ao associacionismo apareceu pela primeira vez em 1884 num artigo intitulado On Some Omissions of Introspective Psychology, que mais tarde foi incorporado ao captulo sobre a corrente da conscincia nos Princpios de Psicologia.

Em oposio tese associacionista que afirmava ser a conscincia formada de tomos psquicos, de elementos mentais que se associavam segundo determinados princpios, sem que houvesse realmente nenhuma relao entre eles, James apresenta sua teoria da corrente da conscincia. O fato fundamental o de que a conscincia ao invs de ser uma sucesso de elementos, um fluir constante sem superao do associacionismo vai se fazer, principalmente, atravs da noo de estados transitivos.

Para W. James, a corrente da conscincia formada de estados substantivos e de estados transitivos. Os primeiros corresponderiam s impresses de Hume, isto , seriam estados de relativa parada nos quais os objetos seriam percebidos durante um perodo de tempo que poderia se prolongar de acordo com as circunstncias; os estados transitivos teriam por funo ligados estados substantivos. Os estados transitivos difcil, at poderiam ser observados introspectivamente, pois suas caractersticas de conjuno e transitoriedade seriam destrudas. Este fato no impede, porm, que os estados transitivos sejam considerados como constituintes da conscincia: eles possuem tanta realidade psicolgica quanto os estados substantivos e sua importncia fundamental, pois eles que do conscincia a caracterstica de ser contnua, eliminando a necessidade dos nexos associativos estabelecidos pelos associacionistas.

3.2. Henri Bergson (1859-1941) A tese que vai servir de base para suas crticas ao elementarismo associacionista e particularmente psicofsica, tem como ponto de partida a afirmao de que os fatos psquicos so qualidade pura, enquanto que as coisas situadas no espao so quantidade e que estas ltimas encontram-se freqentemente associadas s primeiras. Como a inteligncia compreende melhor a quantidade que a qualidade, pois esta no mensurvel, ela exprime as mudanas qualitativas dos estados psquicos em variaes de quantidade, transformando assim uma intensidade que uma modificao qualitativa em uma grandeza espacial susceptvel de medida.

Segundo o ponto de vista associacionista, avaliamos a intensidade de um estado de conscincia graas a uma associao, decorrente da experincia, com o valor aproximado da sua causa. Desta forma, podemos expressar as mudanas qualitativas em variaes quantitativas. Bergson afirma que este o erro resulta do fato de se aceitar arbitrariamente que um estado psquico possa ser decomposto em elementos.

Bergson concebe a conscincia como um fluxo contnuo e ininterrupto, maneira de James, no havendo limite entre um estado e outro. No h dois estados de conscincia iguais, pois a conscincia um puro devir qualitativo e heterogneo.

3.3. Wilhelm Dilthey (1833-1911) Dilthey se coloca entre os grandes crticos do elementarismo associacionista. Segundo ele, esta psicologia explicativa, isto , procura derivar os fatos que se do na experincia interna partindo de um nmero de elementos encontrados analiticamente, determinando a seguir conexes causais existentes entre eles. Entre outras coisas, critica Dilthey o carter excessivamente especulativo do associacionismo que utilizaria um nmero enorme de hipteses destitudas no s de bases factuais como de comprovaes posteriores. Critica ainda sua pretenso a uma explicao causal e quantitativa do fenmeno psquico, para finalmente denunciar o sentido de mutilao do psquico provocado pela atitude elementatista.

Por considerar o fenmeno psquico como significao pura, Dilthey afirma que a psicologia deve ser compreensiva e no explicativa. Deve partir da vida psquica tomada como um todo e no deduzi-la de processos elementares. O elemento de que nos falamos elementaristas uma fico, ele nunca se constitui como dado. O que realmente nos dado experincia imediata a vida psquica em seu conjunto estrutural e no o elemento suposto pela psicologia explicativa. Uma psicologia verdadeiramente positiva tomar este conjunto como ponto de partida, esforando-se por fazer dele uma descrio exata e uma anlise completa. Esta anlise deve ser compreensiva, isto , deve abranger as relaes das partes como todo e no procurar elementos isolados do todo.

4. A REAO DA NEUROFISIOLOGIA AO ELENTARIAMO ASSOCIACIONISTA

O apoio neurolgico e fisiolgico concepo gestaltista da realidade foi dado sobretudo pelas pesquisas sobre as localizaes celebrais, o desenvolvimento dos reflexos, transplantando e regenerao de membros (ver: Hartmann, G.H Gestalt Psychology, N. York, 1935).

A neurologia e a fisiologia clssica defendiam a hiptese de que, para haver ordem num sistema, esta deveria ser decorrente de condies anatmicas especiais e no de uma dinmica prpria do sistema. Wolfgang Kohler, um dos iniciadores da Gestaltpsychologie faz uma comparao com os sistemas fsicos visando esclarecer esse problema. Diz ele que em um sistema fsico os fenmenos so determinados por duas espcies de fatores: os dinmicos e os topogrficos. primeira categoria pertencem as foras que atuam no sistema, Segunda categoria pertencem as caractersticas do sistemas que sujeitam seus processos a condies restritivas. Naturalmente, ambos fatores so responsveis pela ordem do sistema, podendo a predominncia ficar ora com um, ora com outro.

Na fsica de Aristteles, por exemplo, admitia-se que a ordem dos fenmenos celestes s podia ser mantida por condies topogrficas rgidas, da a concepo das esferas de cristal nas quais estavam presos os astros e que lhes impunham movimento uniformes e repetidos. A fsica de Newton substitui esta concepo topogrfica por uma explicao dinmica segundo a qual a ordem e o movimento dos astros so devidos ao campo gravitacional.

A fisiologia foi dominada durante muito tempo por uma concepo de tipo aristotlico. Assim, a fisiologia cerebral procurava explicar a ordem dos processos nervosos atravs de uma morfologia de circuitos anatmicos, de vias de associao, que seriam responsveis pelo carter global e organizado dos processos fisiolgicos. Esta concepo do funcionamento do sistema nervoso comeou a ser abalada com os trabalhos de Lashley, Goldstein, Driesch, Weiss, Marina, Coghill, Minkowiski etc.

4.1. Karl S. Lashley - Lashley foi uma das principais autoridades em fisiologia do sistema nervoso e, apesar de sua adeso ao behaviorismo de Watson, acabou por se afastar dele e a se aproximar da concepo holista de Goldstein, quando Lashley comeou suas pesquisas, seu compromisso com o behaviorismo era evidente em funo de sua afirmao de que a resposta condicionada e o arco reflexo eram perfeitamente adequados para explicar a conduta adaptativa dos organismos. Alguns anos mais tarde, passou a defender um ponto de vista oposto.

Os experimentos que levaram Lashley, juntamente com Shepherd Franz, ao polo oposto de suas convices iniciais, consistia em adestrar ratos, gatos e macacos a escapar de jaulas semelhantes s utilizadas por Thorndike. Quando os animais haviam aprendido e fixado bem este tipo de conduta, eram-lhes estirpados algumas partes do crtex. Apesar disso, os animais continuavam a escapar das jaulas to bem quanto antes da operao. O mesmo acontecia quando eram retirados os lbulos frontais. Em experimentos posteriores, Lashley adestrou ratos para discriminarem variaes de luminosidade. Em seguida, ele operou praticamente todas as zonas do crtex cerebral. Em nenhum dos casos os ratos perderam o que haviam aprendido.

Destes experimentos foram retiradas duas leis: a da equipotencialidade e a da ao de massa. O que elas exprimem pode ser resumido no seguinte: no processo de aprendizagem, h a participao de toda a massa do sistema nervoso e se uma parte do sistema lesado, as partes restantes so equipotenciais para assumir a atividade que originalmente seria devida a uma rea. O importante, afirma Laslhey, a extenso da leso e no o local . O grau de deteriorao da aprendizagem proporcional quantidade do tecido cerebral lesado mas independente da rea do crtex afetada.

Estes experimentos representaram um golpe na concepo associacionista de vias de associao fixas e dos esquemas morfolgicos responsveis pela ordem dos processos nervosos.

4.2. Hans Driesch Driesch realizou uma srie de experimentos sobre desenvolvimento embrionrio cujas concluses coincidem com a interpretao gestaltista do problema da regulao. Num dos experimentos realizados com a larva do ourio, Driesch destruiu uma clula situada rgida, deveria ocorrer um aleijo no decorrer do desenvolvimento, como efeito da lacuna correspondente clula danificada. O que ocorreu foi o aparecimento de um organismo completo cujo tamanho era um quarto do tamanho normal. No houve aleijo algum. Isto foi possvel porque outras clulas assumiram a funo daquela que foi removida.

4.3. Paul Weiss Weiss concorda com a hiptese gestaltista segundo a qual no h uma correlao ponto por ponto entre a periferia e o crtex assim como no tambm uma conexo anatmica rgida e constante entre ambas as partes do sistema nervoso. Num de seus experimentos, Weiss amputou um dos membros de uma salamandra e transplantou sua extremidade colocou-a ao lado de um membro normal. Aps um perodo de inatividade, o membro transplantado recuperou lentamente a motilidade e comeou a funcionar normalmente, de forma idntica ao membro no atingido. O membro normal e a extremidade transplantada, passaram a funcionar juntos como um par bem coordenado.

O carter estrutural deste funcionamento notvel: Se um brao inserido na regio da perna, ele passa a funcionar homologamente ao membro que o hospedou, isto , quando a perna dobra o joelho, o brao dobra o cotovelo; quando a perna dobra o tornozelo, o brao dobra o pulso, etc. Em outro experimento, a parte superior do brao foi removido e o cotovelo foi inserido diretamente no ombro. Aps um perodo de recuperao, a mo continuou a funcionar normalmente como mo, e no como cotovelo (pela sua nova posio). Somente uma concepo dinmica e gestaltista do funcionamento do sistema nervoso, pelo explicar estes casos; nunca a teoria das conexes anatmicas fixas.

4.4. Kurt Goldstein - A teoria holstica de Goldstein teve origem em suas pesquisas sobre leses cerebrais. Para ele, o organismo no uma soma de partes, ele possui uma organizao qualitativa com as caractersticas de um gestalt. Mesmo quando consideramos um reflexo simples, seja ele inato ou condicionado, temos que estud- lo como fazendo parte de uma totalidade, como expresso parcelado funcionamento do organismo como um todo. Isolar esta parte da situao total, fatalmente nos conduzir a uma interpretao errada do fenmeno. Somente o conhecimento do organismo como um todo nos conduzir compreenso das distintas reaes que observamos nas partes isoladas.

Em deste ponto de vista, Goldstein estabeleceu uma distino metodolgica entre as cincias fsicas, que trabalhariam com quantidades, e as cincias biolgicas, que trabalhariam com estruturas qualitativas.

A teoria de Goldstein tem como base o princpio de igualao de energia: tudo o que ocorre em um organismo uma acumulao, distribuio e/ou descarga de energia. Esta energia

no pode acabar, perder- se ou desaparecer; ela se transforma e se transmite de uma a outra parte do organismo ou ento se descarrega quando se instala um estado de hipertenso. Geralmente, num organismo normal, a quantidade de energia constante e distribuda por igual, existindo um estado normal de tenso. Uma vez rompido este equilbrio, seja por estmulos internos ou externos, o organismo atua para restabelecer o equilbrio rompido ou o estado normal ( mdio) de tenso. a este processo que Goldstein denomina igualao de energia.

O princpio de igualao de energia semelhante ao princpio de constncia de Freud, homoestase de Cannon e ao equilbrio da Pavlov. Para Goldstein, o organismo vivo nunca pode estar com ausncia de tenso. O que pode ocorrer, um aumento ou diminuio da tenso para alm de certos limites. Igualao no significa ausncia de tenso, mas equilbrio de tenso.

A igualao de energia se estabelece pela interao entre o organismo e seu ambiente, e nesta interao o organismo funciona sempre como um todo. Para tal, ele possui um certo grau de flexibilidade a fim de poder encontrar os melhores meios possveis de auto-preservao. H certas condutas, mais automticas, que no exigem esta flexibilidade; no entanto, grande parte da conduta executada por um organismo implica em seletividade, numa capacidade de negociar com o ambiente, que se manifesta o carter gestltico do organismo.

Para Goldstein, a distino figura-fundo to enfatizada pelos gestaltistas, da maior importncia. O ser vivo possui, segundo ele, uma aptido para diferenciar seu funcionamento segundo um esquema de figura-fundo no qual a figura determinada pelo objetivo mais imediato a ser atingido e o fundo pelas demais caractersticas do ambiente.

5. A REAO PSICOLGICA AO ELEMENTARISMO ASSOCIACIONISTA 5.1. Chistian Von Ehrenfels e as Gestaltqualitaten - em psicologia, a reao ao modo de pensar associacionista teve incio em 1890 com a publicao do trabalho de Ehrenfels sobre as qualidades de forma (Gestaltqualitaten). O que ele pretende mostrar que uma estrutura mais do que a soma de suas partes. Uma melodia compe- se de sons; uma figura de linhas e pontos. Esses conjuntos que so as melodias a as figuras possuem uma unidade e uma individualidade irredutveis. Isto significa dizer que a experincia destas realidades possui caractersticas que no podem ser explicadas atravs das propriedades das sensaes que lhe so correlatas. Assim, se tomarmos como exemplo uma melodia, verificamos que apesar dela ser composta de sons, ela possui uma unidade que dificilmente poderia ser explicada pelas sensaes isoladas de cada um destes sons. Distinguimos perfeitamente os sons que a ela pertencem e os que lhe so estranhos, mesmo quando estes so intercalados entre os primeiros. Alm disso, a melodia pode ser transposta para outro tom e ser tocada por outro instrumento e, mesmo assim, continua sendo a mesma melodia. No entanto, todos os seus elementos foram alterados. Este fato coloca uma questo importantssima: se, de acordo com o elementarismo associacionista, a totalidade do percebido decorrente da soma de seus elementos constituintes, como explicar o fato de reconhecermos as duas melodias como idnticas se todos os seus elementos foram modificados?

A resposta dada por Ehrenfels que no deixa de ser elementarista a de que alm das qualidades sensveis transmitidas pelos sons isoladamente, havia uma qualidade da forma (Gestaltqualitat) que seria devida a um outro elemento distinto daqueles que constituam os sons isolados. Esta qualidade era a que permitia a transponibilidade estrutural e que fazia com que o conjunto no pudesse ser explicado como uma mera soma dos elementos componentes.

A teoria do Ehrenfels encerrava ainda uma srie de questes no respondidas. Duas tentativas de solues foram dadas pelas Escolas de Graz e de Leipzig.

5.2. A Escola de Graz Alexius Moinong e Vittorio Benussi, principais integrantes da Escola de Graz, deram continuidade doutrina das qualidades da forma iniciada por Ehrenfels. A concluso a que se tinha chegado at ento, era a de que havia duas espcies de realidades psquicas: as qualidades sensveis e as qualidades da forma ( Gestaltqualitaten ). Essas duas qualidades constituam dois estados distintos de conscincia, sendo que os primeiros eram os substratos dos segundos. No caso da melodia, as qualidades sensveis correspondem s excitaes produzidas pelas vibraes sonoras, enquanto que as qualidades formais seriam devidas, segundo pensaram inicialmente Ehrenfels e os integrantes da Escola de Graz, a uma percepo das relaes entre as vibraes. Eram estas relaes, diziam eles, que permaneciam constantes quando a melodia era transposta. Porm, tanto Ehrenfels quanto a Escola de Graz rejeitaram depois a hiptese da percepo de relaes.

De fato, na experincia imediata no h nada que se traduza por uma percepo de relaes. Tanto no caso da melodia como em qualquer outro, percebemos totalidades. As relaes so obtidas posteriormente atravs de uma anlise. No entanto, a conscincia que analisa no a mesma que percebe. A conscincia perceptiva ingnua quanto s relaes possveis de serem construdas sobre uma totalidade percebida. A anlise de uma melodia nos leva a descobrir caractersticas que no so aquelas que nos so fornecidas pela percepo desta mesma melodia. Psicologicamente tratam- se de dois objetos diferentes: a melodia ouvida ingenuamente e a melodia analisada em suas possveis relaes internas, so duas melodias.

Essa ausncia da percepo de relaes na percepo imediata da forma, implicou num problema de difcil soluo para a Escola de Graz: se a forma no resulta da percepo de relaes, como ela surge? O que vem se acrescentar aos elementos primariamente captados e que nos fornece a noo de estrutura?

Meinong e Benussi optaram por uma teoria da produo das formas. Haveria uma duplicidade de planos no processo perceptivo: o primeiro, seria constitudo pelos dados sensoriais como elementos destitudos de organizao e sentido. Estes elementos funcionavam como fundamentos ( Grundlage ) para as formas. Estas por sua vez, constituam o segundo plano produzido a partir da matria prima que eram os elementos sensoriais. Meinong denomina o primeiro plano de Fundierende Inhalte e o segundo de Fundierte Inhalte, enquanto Benussi os chama de Inferiora e Superiora respectivamente. Enquanto os primeiros so dados, os segundos so produzidos. Benussi de opinio que as estruturas perceptivas no so de origem sensorial. No h, nos elementos captados sensorialmente, nada que possa ser responsvel pelo carter estrutural da percepo. Logo, a forma (Gestalt) tem que ser produzida por um processo intelectual e no dada a experincia.

A hiptese da Production Vorgangede Meinong e Benussi foi refutada posteriormente pela Escola de Berlim. Uma das razes desta refutao residia no fato de que a percepo de seres inferiores como galinhas e macacos era tambm organizada. 5.3. A Escola de Leipzig Seus principais representantes so Felix Krueger e Johannes Volkelt. Essa escola est ligada tradio da filosofia alem, principalmente Leibiniz, Kant e Hegel, repudiando a doutrina dos fenmenos psquicos.

O que mais caracterstico desta escola sua concepo segundo a qual a forma primitiva de uma Gestalt um sentimento. Por influncia das idias evolucionistas, Krueger e Volkelt, o estudo do tato mais importante de que o da percepo visual, pela enorme importncia de que se reveste a percepo ttil na primeira infncia.

Outro ponto de divergncia entre as escolas de Leipzig e Berlim diz respeito a no aceitao por parte da primeira da transposio do conceito de forma para os campos fsico e biolgico.

Krueger e Volkelt consideram que apenas os fenmenos psquicos possuem organicidade e significao, ao contrrio dos integrantes da Escola de Berlim que defendem a existncia de estrutura tanto no fenmeno psicolgico como nos fenmenos fsico e biolgico. Apesar de serem ambas gestaltistas, divergem ainda as duas escolas quanto ao papel atribudo ao sujeito no processo perceptivo. Os gestaltistas da Escola de Berlim consideram que na constituio do campo perceptivo, o sujeito no desempenha um papel privilegiado. A constituio de campo depende, em sua maior parte, de condies objetivas. Os gestaltistas da Escola de Leipzig, ao contrrio, concedem importante papel ao sujeito, vendo- o como o responsvel pelas modificaes ocorridas no campo perceptivo.

Tanto a escola de Graz quanto a escola de Leipzig se constituem dessa maneira, em importantes crtica psicologia de inspirao associacionista. , porm, com a Escola de Berlim, com Wertheimer, Kohler e Koffka, que o gestaltismo vai se afirmar definitivamente como uma posio terica fundamentalmente divergente da associacionista.

5.4. A Escola de Berlim O fato que marca o incio da Escola de Berlim, teve lugar no em Berlim mas em Frankfurt, no ano de 1911. Foi o experimento feito por Max Wertheimer (1880-1934) sobre o fenmeno ou movimento estroboscpico.

Durante uma viagem a Frankfurt, Wertheimer comprou um estroboscpio de brinquedo. Este brinquedo consistia basicamente em figuras fixas que pareciam se mover quando apresentadas numa certa seqncia temporal. o mesmo princpio do cinema. H uma quantidade razovel de brinquedos infantis que exploram o movimento estroboscpico. Wertheimer substituiu os cavalinhos do estroboscpio de brinquedo por linhas. O resultado pode ser resumido no que se segue.

O experimento teve lugar no laboratrio do Instituto de Psicologia de Frankfurt e contou com a colaborao de dois jovens professores : Wolfgang khler (1887-1949), assistente neste laboratrio e Kurt Koffka (1886-1941). O resultado deste experimento foi publicado no ano seguinte com o ttulo de Experimentelle Studien Uber das Schen von Bewegung.

Wertheimer simplificou ao mximo as figuras do estroboscpio reduzindo- as a duas linhas que eram apresentadas uma aps a outra em posies diferentes. Variando a durao do intervalo, verificou que quando este era muito longo, o sujeito via uma linha imvel e em seguida, outra linha imvel. Diminuindo o intervalo para menos de 1/5 de segundo, o sujeito percebia um movimento da primeira linha (vertical) no sentido da Segunda (oblqua). Quando o intervalo era de 1/15 de segundo, o sujeito percebia uma nica linha se movendo da posio da primeira para a Segunda. Com um intervalo menor que 1/15 de segundo nenhum movimento era mais percebido, mas apenas duas linhas imveis ao lado uma da outra.

Da mesma forma, se projetarmos dois pontos luminosos em uma tela, com um intervalo temporal, vemos primeiro um ponto fixo e depois outro ponto fixo. Se formos diminuindo o intervalo at um ponto ideal ( aproximadamente 1/15 de segundo ), perceberemos apenas um ponto luminoso se movendo; se diminuirmos ainda mais o intervalo, passaremos a ver dois pontos fixos e simultneos.

A primeira concluso a que chegou Wertheimer foi a de que as explicaes baseadas na persistncia de imagens retinianas e no movimento dos olhos no eram capazes de responder pelos fatos analisados nos experimentos. O fenmeno estroboscpico - ou movimento aparente como era chamado uma percepo original: no nem uma soma de sensaes nem o resultado de uma interpretao sobre dados sensoriais. Isto quer dizer que o movimento estroboscpico um movimento real, psicologicamente falando, e no um movimento aparente. No um falso movimento que ganha realidade atravs de um procedimento posterior realizado pelo sujeito; ele originariamente um movimento verdadeiro.

A defesa deste ponto de vista por Wertheimer da maior importncia para a psicologia, pois pela primeira vez no se subordinava a realidade psicolgica, realidade fsica. Dito de outra maneira: o fenmeno psicolgico irredutvel ao fenmeno fsico. Por que o movimento estroboscpico um movimento aparente do ponto de vista da fsica, no quer dizer que ele no seja real do ponto de vista da psicologia.

Wertheimer foi ainda mais longe ao afirmar que os prprios processos fisiolgicos concomitantes ao processo psicolgico estudado, no poderiam ser explicados em termos associacionistas; que o processo neurolgico, tal como a percepo, deve ser um todo unificado e no uma integrao de atividades separadas, de unidades neurais distintas. H um isomorfismo entre a nossa percepo e os processos neurofisiolgicos que lhe so correlatos, isto , existe um paralelismo de formas entre os processos psicolgicos e os processos fisiolgicos.

Outra importante afirmao de Wertheimer foi a de que o fenmeno psicolgico deve ser considerado como uma totalidade organizada, como uma gestalt , e que esta ser sempre a melhor possvel para as condies dadas. Tal como no princpio de Le Chtelier, pode-se dizer que na medida em que as condies o permitam, um sistema tende espontaneamente estrutura mais equilibrada. Como diz Wertheimer: a forma to boa quanto possvel nas condies atuais(lei da boa forma ou da pregnncia).

O trabalho de sistematizao das teorias gestaltistas coube mais a Kohler e Koffka do que a Wertheimer.

Wolfgang Kohler tornou-se famoso por seus estudos sobre o comportamento inteligente dos chimpanzs, publicados com o ttulo de The Mentality of Apes (Intelligenzprufungen na Anthropoiden, 1917). Durante a Primeira Guerra Mundial, Kohler foi enviado pela Academia Prussiana de Cincias ilha de Tererife aonde ela mantinha um centro de estudos sobre antropides. As pesquisas de Kohler foram publicadas em 1917 pela Academia de Berlim e traduzidas para o ingls em 1925.

A caraterstica geral dos experimentos de Kohler com chimpanzs, era a de que neles o experimentador apresentava uma situao problema na qual a soluo era obtida quando o animal superava um obstculo que o impedia de atingir um determinada objetivo. Algumas vezes isto implicava apenas em contornar o obstculo, outras vezes o animal tinha que fazer uso de instrumentos tais como pedaos de pau, varas que encaixavam umas nas outras, caixotes, etc. Em todos os casos, porem, os meios necessrios para resolver o problema estavam ao alcance dos chimpanzs e, o que mais importante, o problema podia ser percebido como problema pelo chimpanz (Uma das crticas que Kohler fazia a psicologia da aprendizagem americana, era que nela os problemas apresentados aos animais eram problemas para os pesquisadores, mas no podiam ser percebidos como problemas pelos animais).

Num experimento muito significativo quanto natureza estrutural da percepo dos animais, Kohler treinos macacos e galinhas a reagirem a um carto cinza claro (c-1) e a no reagirem a um carto cinza escuro (c-2). Quando os animais estavam bem treinados o no cometiam nenhum erro na discriminao dos cartes, Kohler substituiu o carto cinza escuro (c-2) por um outro (c-0) mais claro que o primeiro (c-1). Se a teoria associacionista estivesse correta, o animal continuaria escolhendo o carto c-1 (cinza claro) pois que segundo ela, o animal responde a estmulos absolutos (positivos para o carto c-1 e negativo para o carto c-2). O que aconteceu foi que em todas as vezes os animais escolheram o carto c-0 que nunca havia sido mostrado antes. Tal fato mostra que os animais respondem no a estmulos isolados e absolutos (tal ou qual carto) mas a uma configurao de estmulos, isto , eles responderam ao carto mais claro e no ao carto c-1 para o qual haviam sido treinados. Este experimento foi repetido com diferentes animais, em diferentes situaes e com diferentes objetos. Em todos os casos ele foi confirmado.

Em 1920, aps suas pesquisas em Tenerife, Kohler publicou um trabalho sobre as formas fsicas (Die Physischen Gestalten in Ruhe und im stationaren Zustand) sobre o qual falaremos mais adiante e, em 1929 publicou em ingls a primeira exposio de conjunto da nova escola psicolgica (Gestalt Psychology).

Aps Ter mudado para os Estados Unidos, Kohler alm da pesquisa, dedicou-se ao aprofundamento da teoria do isomorfismo psicofisiolgico e aos problemas metodolgicos e filosficos ligados teoria gestaltista.

O terceiro membro do grupo fundador da escola, Kurt Koffka (1886 1941), publicou um importante trabalho sobre a psicologia do desenvolvimento (The Growth of the Mind, 1925), no qual so aplicados os mesmos princpios tericos que orientaram os trabalhos de Wertheimer. Neste trabalho, Koffka analisa sobretudo a maneira segundo a qual ocorrem certas modificaes no comportamento da criana durante o seu desenvolvimento. O clssico problema da oposio entre hereditariedade e meio, traduo psicolgica da oposio (nativiosmo-empirismo), magnificamente tratado por Koffka que no aceita colocar o problema em termos de excluso. Para ele cada comportamento o resultado tanto de fatores internos (hereditrios) quanto de fatores tanto de fatores externos (meio), sendo que ambas as categorias de fatores so pensadas estruturalmente. Mesmo os instintos, diz Koffka, so gestalten: uma ao instintiva no uma cadeia de reflexos, mas um processo estrutural no qual cada atividade est determinada por sua relao com a atividade total.

Uma outra importante contribuio de Koffka, foi a distino que ele fez entre meio geogrfico e meio comportamental : o primeiro o meio enquanto realidade fsica em si, o segundo o meio enquanto realidade percebida. Koffka, no entanto, chamou a ateno para o fato de que isto no implicava num retorno ao dualismo cartesiano entre res extensa e res cogitans , pois se a palavra conscincia introduzida para representar o meio comportamental, ela ser entendida de forma inteiramente diferente daquela tomada, por exemplo, pelos behavioristas quando a criticam. A conscincia o prprio meio comportamental. Desse modo, a conscincia de um cachorro a perseguir uma lebre seria uma-lebre-correndo-pelo-campo, isto , a conscincia no algo interior ao animal ou ao homem, mas o prprio mbito da conduta tal como percebido por ele.

Este ponto de vista, que rigorosamente fenomenolgico, foi integrado teoria da forma como um de seus princpios bsicos.

Coube a Koffka realizar a maior obra de sistematizao dos trabalhos da escola: o Principles os Gestalt Psychology, publicado nos estados Unidos em 1935.

Apesar de Kohler e Koffka terem se tornado mais conhecidos do pblico americano do que o fundador da escola, Wertheimer continuou sendo a fonte de inspirao terica para os trabalhos desenvolvidos por suas discpulos. Seu nome est definitivamente ligado ao tema da percepo, mas talvez o seu trabalho mais importante seja o Productive Thinking, publicado postulado e dedicado ao problema do pensamento criador. Mesmo antes de iniciar suas pesquisas no campo da percepo do movimento, Wertheimer j havia escrito um trabalho sobre o silogismo, contrariando a tese de Stuart Mill segundo a qual esta forma de raciocnio improdutiva por ser tautolgica.

Em Productive Thinking, Wertheimer analisou a forma como se dava a soluo de problemas que implicavam na utilizao de pensamento criador, que ele investiga em crianas e em adultos. Abandonando os problemas de tipo prtico como os propostos pela escola funcionalista e os de condicionamento utilizados pelos behavioristas , o trabalho de Wertheimer se situa dentre os primeiros estudos sobre o comportamento inteligente no homem.

Segundo Wertheimer, pensar consiste basicamente em se Ter uma viso de conjunto, aprender aspectos estruturais e trat-los estruturalmente. Pensar consiste pois em reestruturar perceptivamente o campo; ou ainda, pensar consiste em se realizar uma metamorfose na realidade. Dois exemplos retirados de Guillaume esclarecero as questo. No primeiro, pede-se que seja determinada a rea de um tringulo retngulo issceles cujo lado A . Depois de uma srie de tentativas infrutferas, percebemos, de repente, que esse tringulo a metade de um quadrado. Se a rea do quadrado a A2 , a rea do tringulo retngulo issceles A 2/2 (metade da rea do quadrado). a metamorfose da figura que constitui o raciocnio. No segundo exemplo, dado um nmero do tipo ABC.ABC (238.238, 742.742, 395.395 etc. ), isto , um nmero tal que a classe dos milhares seja igual a das unidades. Trata-se de provar que qualquer nmero deste tipo divisvel por 13. Nenhum dos sujeitos aos quais o problema apresentado, conhece matemtica alm do que nos ensinado no ginsio. A dificuldade inicial do problema removida se efetuarmos uma certa transformao da noo do nmero em questo, se realizarmos um descentramento que lhe dar uma nova estrutura. Assim, a classe dos milhares desse nmero escreve-se como a das unidades mas vale mil vezes mais. Podemos portanto escrev-lo das seguintes maneiras:

Abc.abc ou abc x 1000 + abc ou ainda: abc x 1001

Quando o nmero se apresenta sob esta ltima forma, o problema est praticamente resolvido. Basta verificar se 1001 divisvel por 13, que qualquer nmero multiplicado por ele tambm o ser. De novo, a metamorfose operada sobre a realidade que vai caracterizar o pensamento criador.

Apesar de ser considerado um neo-gestaltista, Kurt Lewin (1890-1940) participou intensamente do movimento gestaltista. Tendo se dedicado inicialmente fsica, qumica e filosofia , obtm em 1914 seu doutoramento em psicologia na Universidade de Berlim. Depois de Ter trabalhado durante dez anos com Wertheimer, Kohler e Koffka em Berlim, foge para os Estados Unidos para no ser enviado para um campo de concentrao pelos nazistas. Durante dois anos ensina na Universidade de Stanford passando depois para a de cornell. Em 1935 convidado a ocupar a ctedra de psicologia infantil e a direo do Child Welfare Research Center da Universidade de Iowa. Nessa poca comea a se dedicar a pesquisas sociais procurando, com sua formao terica-cientfica adquirida em Berlim, lanar as bases de uma pesquisa ativa (action reseach) aplicada aos problemas sociais americanos. Em 1940, torna-se professor da Universidade de Harvard, quando ento j era bastante conhecido pelos seus trabalhos sobre grupos minoritrios e particularmente sobre minorias raciais (judeus e negros). Sob sua orientao so elaborados e colocados em prtica numerosos projetos para combater o preconceito racial. Em 1945, a pedido de N.I.T. (Massachusetts Institute of Technology), funda o Research center for Group Dynamics.

O prximo item contm uma exposio mais detalhada da contribuio terica de Lewin ao movimento gestaltista.

5.5. O neogestaltismo de Kurt Lewin Enquanto os fundadores da psicologia da Gestalt se preocupavam em estudar processos tais como percepo, aprendizagem, Kurt Lewin desenvolveu o que ele denominou de teoria de campo, aplicando-a a reas pouco estudadas pelos primeiros, isto , motivao , personalidade e processos sociais. Da a expresso neogestaltismo.

A teoria de campo no se constitui num domnio particular da psicologia, nem deve ser considerada como um tipo geral de teoria que abrange outros setores. Caracteriza-se melhor como um mtodo de analisar relaes causais e de construir teorias cientficas. Esse mtodo reflete a influncia sofrida por Lewin na poca em que integrava o grupo da Escola de Berlim. Segundo ele, os atributos que caracterizavam uma teoria de campo so os seguintes: a) a utilizao de um mtodo de construo e no de classificaes; b) um interesse pelos aspectos dinmicos dos acontecimentos; c) uma perspectiva psicolgica e no fsica; d) uma anlise que comea com a situao como um todo; e) uma distino entre problemas sistemticos e histricos; f) uma representao matemtica do campo.

Um dos princpios bsicos da teoria de campo consiste em afirmar que qualquer comportamento ou qualquer mudana no campo psicolgico de pendem somente do campo naquele momento. (no item 10 este princpio ser abordado em maior detalhe).

Segundo Lewin, uma situao psicolgica pode ser representada por dois grupos de conceitos que, uma vez associados, fornecem a estrutura de sua psicologia. O primeiro grupo formado por conceitos matemticos tais como: regio, limite, fronteira, conexo, interseo etc.; o segundo, por conceitos de contedo psicolgico. Os conceitos matemticos podem ser aplicados em psicologia somente se forem coordenados corretamente a contedos psicolgicos que devem ser definidos atravs de procedimentos observveis.

A partir de um ponto de vista matemtico, os problemas psicolgicos podem ser divididos em dois grupos: a) problemas topolgicos os que dizem respeito estrutura de dimenso do campo psicolgico; b) problemas vetoriais os que se referem s tenses e campos induzidos.

Lewin considera que a topologia permite determinar quais eventos so possveis ou no num dado espao de vida, enquanto que os conceitos vetoriais possibilitam determinar, dentre esses eventos possveis, qual o que poder ocorrer num caso especfico. A topologia um ramo no quantitativo da matemtica que trata das relaes espaciais susceptveis de serem estabelecidas em termos de parte-todo. Seu objetivo a analise das propriedades das figuras geomtricas que mantm, mesmo quando deformadas a ponto de se alterarem todas as suas propriedades mtricas. , portanto, uma geometria no-mtrica que representa as relaes parte-todo, conexo, posio, etc, sem levar em considerao as noes de tamanho e de direo.

Uma das principais noes da psicologia topolgica a de espao-de-vida. Ela designa a totalidade dos fatos que determinam o comportamento de um indivduo num determinado momento. O espao de vida inclui a pessoa e seu meio. Assim, dizendo que C=F(P,M), isto , o comportamento (C) funo da pessoa (F) e de seu meio (M).

Tanto a pessoa como o meio so considerados regies psicolgicas, quer dizer, so partes do espao-de-vida. Ambos podem ser divididos em sub-regies. Como sub-regio do meio consideram-se: um grupo social, uma ocupao, a esfera de influncias da pessoa, a regio de diverses, a famlia, etc. a pessoa pode, por sua vez, ser dividida em duas regies: a intrapessoal e a perceptomotora. A regio perceptomotora ocupa uma posio de zona de fronteira entre a regio intrapessoal e o meio. Lewin ao fazer esta distino, baseia-se no fato de que as regies intrapessoais (necessidades, por exemplo) afetam o meio apenas atravs de uma expresso corporal que se realizam mediada pela regio motora (fala, por exemplo). Por sua vez, a influncia do meio sobre as regies intrapessoais se faz atravs de uma regio intermediria que corresponde ao sistema perceptivo.

Inicialmente, o espao de vida foi considerado bi-dimensional. No entanto, tornou-se depois necessrio consider-lo tri-dimensionalmente. A razo desse acrscimo foi a importncia atribuda por Lewin ao nvel de irrealidade. A conduta humana pode-se dar tanto no nvel de realidade como no de irrealidade: atravessar uma rua movimentada ao geralmente considerada de maior realidade do que um desejo indefinido ou uma fantasia. preciso ressaltar, contudo, que psicologicamente ambos os nveis so reais. O que se pretende caracterizar com essa distino o fato de que h maior fluidez no chamado nvel de irrealidade de que no nvel de realidade. As barreiras no nvel de realidade so mais rgidas e mais difceis de serem transpostas. Nos sonhos e nas fantasias, os problemas so resolvidos muito mais facilmente. No entanto, ambos os nveis so importantes para a compreenso do comportamento individual.

A topologia de extrema importncia quando se quer determinar a estrutura do espao psicolgico, mas insuficiente no que se refere dinmica do campo psicolgico. Para satisfazer tal necessidade, Lewin distingue entre conceitos geomtricos e conceitos dinmicos. Refere-se aos geomtricos como constructos de primeira ordem sobre os quais se fundamentariam os dinmicos ou constructos de segunda ordem. Enquanto as propriedades geomtricas do comportamento seriam diretamente observveis, as dinmicas estariam relacionadas s causas do comportamento e seriam propriamente constructos (ex: instinto, libido, fora, tenso, motivao, etc.).

O conceito bsico da psicologia vetorial o de fora psicolgica, que se refere s causas de comportamento. Sempre que houver um comportamento, esta ser resultante de um campo de foras. A definio de fora psicolgica ter que conter as propriedades conceituais do conceituais, podem-se apontar: a) direo; b) intensidade; c) ponto de aplicao. As duas primeiras propriedades podem ser representadas matematicamente por um vetor.

Como definio coordenada, pode-se estabelecer que, se a resultante das foras psicolgicas que atuam numa regio maior do que zero, haver uma locomoo na direo da fora resultante, ou a estrutura da situao mudar de tal forma que a mudana seja equivalente a tal locomoo.

Lewin caracteriza vrios tipos de foras. Uma distino a ser feita entre foras impulsoras e foras frenadoras. As primeiras provocam a locomoo, as segundas significam obstculos locomoo (barreiras). Outra distino se faz entre foras pessoais, induzidas e impessoais. As primeiras correspondem a necessidades do prprio indivduo, as segundas aos desejos de outra pessoa, e finalmente h as foras que so determinadas pelo contexto social.

Tanto a direo como a intensidade das foras que atuam sobre o indivduo dependem da valncia de uma regio do meio psicolgico. Uma regio O, que possui uma valncia Va (O), definida como uma regio do espao de vida que atrai ou repele esse indivduo. Quando atrai, a valncia positiva; quando repele, a valncia negativa. A valncia de uma regio pode ser devida aos mais variados fatores, tais como fome, constelao social, estado emocional, etc. A intensidade da fora depende de pelo menos dois fatores: a) da intensidade da valncia; b) da distncia entre a pessoa e a valncia.

Quando ocorre uma situao caracterizada pela oposio de foras de igual intensidade, verifica-se um conflito. H trs tipos bsicos de conflito: a) quando a pessoa se encontra entre duas valncias positivas e tem que escolher entre uma delas, como no caso da pessoa que necessita optar entre dois empregos que deseja muito; b) quando a pessoa se encontra entre uma valncia positiva e uma negativa, a exemplo de que ocorre com a criana que deseja jogar bola apesar da proibio da me; c) quando a pessoa se encontra entre duas valncias negativas, por exemplo: o indivduo ameaado de punio se no realizar uma tarefa que lhe desagradvel.

O que s denomina campo psicolgico o espao de vida considerado dinamicamente, isto , como um campo de foras, e que compreende a totalidade dos fatos coexistentes e mutuamente interdependentes. O campo psicolgico se constitui de: a) espao-de-vida, que compreende todas as variveis psicolgicas, possuindo duas regies distintas pessoa e meio; b) zona de fronteira, que a zona de incidncia das variveis no psicolgicas (biolgicas, sociais, fsicas).

A noo de campo tornou possvel a utilizao da construo sistema de tenso. O conceito de tenso se refere a um estado de uma regio intrapessoal que, por se encontrar acima ou abaixo do nvel timo, tendo a se modificar no sentido de se tornar igual ao estado das regies vizinhas. Sempre que ocorrer uma necessidade psicolgica, haver no indivduo uma regio em estado de tenso.

Como j foi dito, o comportamento funo da pessoa (P) e do meio (M): C=F(P,M). No entanto, pessoa e meio no so independentes um do outro: tanto o meio funo da pessoa como a pessoa funo do meio. Pessoa e meio devem ser considerados como uma constelao de fatores interdependentes, chamada espao-de-vida. A psicologia lewiniana considera o espao de vida como um campo e no como um conjunto de fatores independentes.

Segundo Lewin, os fatores dinmicos bsicos do meio so: a) a estrutura cognitiva de meio, isto , a posio relativa das partes do campo; b) as valncias; c) as foras. Os fatores bsicos da pessoa so: a) a estrutura da pessoa; b) a tenso.

O modelo utilizado por Lewin para explicar o comportamento supe um estado de equilbrio entre o indivduo e o meio. Uma vez rompido esse equilbrio, ocorre uma locomoo, que uma tentativa de restabelecer o equilbrio rompido. Essa procura de equilbrio no caracterstica apenas dos processos psicolgicos; d-se tambm ressaltar que um estado de equilbrio no implica ausncia de tenso. Um sistema pode estar em equilbrio e sob tenso. O que se supe a ausncia de um nvel timo de tenso que, uma vez alterado (para mais ou para menos), faz surgir a tentativa de restabelec-lo.

Uma necessidade correspondente a uma tenso intrapessoal e portanto a uma alterao do equilbrio. Desde que se atinja o objetivo correspondente a essa necessidade, a tenso descarregada e surge o equilbrio. A satisfao de uma necessidade tanto se pode dar diretamente, atravs do objetivo original, como indiretamente, atravs de um objetivo substituto. No segundo caso de extrema importncia o nvel de irrealidade.

Lewin transporta para a psicologia social a posio bsica adotada em relao psicologia de indivduo. Assim como o indivduo e seu ambiente forma um campo psicolgico, o grupo e seu ambiente formam um campo social. O campo social portanto uma totalidade dinmica e estruturada em funo da posio relativa das entidades que compem. O comportamento social resulta da inter-relao dessas entidades, tais como: grupos, sub-grupos, membros, barreiras etc., e da distribuio de foras em todo o campo.

O conceito de grupo social sofreu grandes modificaes e uma delas foi decorrente do sentido conferido ao conceito de todo pelo movimento gestaltista. Uma das discusses a respeito da noo de grupo social girava em torno de se saber se o grupo era ou no uma entidade parte do indivduo.

Partindo da noo de gestalt, Lewin concebe o grupo como um todo dinmico que no resulta da soma dos seus integrantes, mas possuidor de propriedades especficas enquanto todo. Surge da uma importante distino entre grupo social e classe social. Enquanto o grupo se caracteriza pela interdependncia dinmica de seus membros, a classe se caracteriza pela semelhana de seus integrantes (semelhana de sexo, idade, raa, etc.). Essa distino permitiu que se estudasse o grupo e seu meio como um campo.

Uma das grandes contribuies de Lewin foi a transformao da psicologia social numa cincia experimental. O procedimento de Lewin consiste numa pesquisa experimental denominada pesquiso-ao (action-research) ou laboratrios sociais (work-shops). O prprio mtodo de pesquisa um mtodo de provar transformaes sociais e seu objetivo a aplicao do mtodo experimental a situaes reais de grupo.

A pesquisa social lida com dois tipos de problemas: o estudo das leis gerais da vida dos grupos e o diagnstico de uma situao especfica. O primeiro se refere a situao possvel, isto , relao entre condies possveis e resultados possveis; o diagnstico diz respeito ao carter especfico de uma situao particular. O planejamento tem como ponto de partida uma idia geral referente a um objetivo que nem sempre, de incio, muito claro. Essa idia geral serve de guia elaborao de um plano global para atingir o objetivo. No decorrer do processo, etapas anteriores sero reexaminadas luz dos resultados ento obtidos. A pesquisa ao tem incio com a organizao de grupos cujos participantes so ao mesmo tempo sujeitos e objetos da experincia. O pesquisador deve preocupar-se mais com as relaes entre as partes do que com as caractersticas dessas partes consideradas em si mesmas. Isso significa que as partes no devem ser consideradas como elementos, o sim nas suas inter-relaes dinmicas.

A tcnica da pesquisa ao era vista por Lewin como um dos instrumentos mais poderosos no estudo da dinmica de grupos. Quem quer que se dedique ao estudo dos grupos sociais no poder deixar de reconhecer que as pesquisas que se realizam atualmente nesse campo tm seus fundamentos no esforo desenvolvido por Kurt Lewin no sentido no s de integrar as cincias sociais, mas tambm de lhes fornecer um instrumento cientfico produtivo.

6. A REJEIO DA HIPTESE DA CONSTNCIA

A hiptese da constncia est na base de toda teoria dualista da percepo. Segundo esta hiptese, a relao entre um estmulo local especfico e a sensao, persiste inalterada com a condio de que no haja mudana no receptor. Isto eqivale afirmar uma estrita localizao da estimulao sensorial e uma exata correlao entre o estmulo perifrico e a experincia imediata, de tal modo que no caso da percepo de uma figura, cada elemento da figura evocaria uma sensao particular no crebro, sendo o quadro total, o resultado da soma de sensaes elementares.

Tanto von Ehrenfels como os integrantes da Escola de Graz, admitiam a hiptese da constncia. As Gestaltqualittene os fatores figurais dependem das sensaes, pois que eles so fundados e sustentados por eles, enquanto que as sensaes bastam- se a si mesmas. As sensaes no so em nada afetadas pelos fatos sensveis de ordem superior que elas fundam e sustentam.

Kohler foi o primeiro dos gestaltistas a analisar a hiptese da constncia e a mostrar que ela insustentvel. Em Gestalt Psychology, Khler afirma que o abandono da hiptese da constncia justifica a orientao descritiva da teoria da percepo. Todos os aspectos da percepo devem ser tratados sob o mesmo aspecto: todos devem ser considerados como dados e fatos da experincia.

claro que existe uma relao entre o estmulo perifrico e a experincia imediata, mas isto no implica em que o primeiro explique o segundo. Se a hiptese da constncia fosse verdadeira, seria necessria uma quantidade enorme de experincias para que uma figura humana pudesse ser reconhecida. Isto porque, supondo- se realmente que houvesse uma relao constante e punctual entre o estmulo perifrico e a experincia imediata, s poderamos reconhecer uma figura humana se se repetisse a mesma soma de excitantes quando esta figura foi apresentada pela primeira vez. Considerando- se que as condies de luz e sombra, de distncia espacial, de posio, de gestos e expresses, de vesturio e um nmero enorme de outras variveis, se modificam a cada vez que percebemos uma pessoa, seria praticamente impossvel que a reconhecssemos. O mesmo se poderia dizer da melodia transposta de tom e executada por outro instrumento. Enfim, a se aceitar como vlida a hiptese da constncia, a nossa experincia cotidiana seria extremamente catica, posto que a mais tnue organizao s se daria aps uma repetio exaustiva de cada situao.

necessrio no confundir a hiptese da constncia, que enfaticamente rejeitada pelos gestaltistas, com a constncia( da forma, da cor, do tamanho) que parte integrante da teoria da Gestalt. Esta, diz respeito manuteno das caractersticas gerais de um percepto quando ocorrem modificaes no contexto. Um mesmo homem colocado a dois metros de distncia de ns e depois a vinte metros, no parece Ter- se tornado dez vezes menor ( apesar de sua imagem retiniana ser, no segundo caso, dez vezes menor).

Como assinala Guillaume, o que ficou claro a partir da anlise gestaltista da hiptese da constncia, foi a certeza de que da percepo que devemos partir, tomando- a tal qual , com suas variedades, sem decidir a priori, em nome de uma fisiologia arbitrria, que tal de suas propriedades provm da educao e que tal outra deve ser considerada como primitiva. Vamos encontrar- nos, desde logo, em presena de fatos organizados; nosso objetivo descrever essa organizao e procurar suas leis, fazendo variar as condies experimentais.

7. KHLER E AS FORMAS FSICAS

Em seu estudo sobre o movimento estroboscpico, Wertheimer j havia colocado a questo do isomorfismo, isto , de que no apenas o fenmeno psicolgico mas tambm seu correlato fisiolgico, seriam estruturais. H gestalt tanto no nvel psicolgico como ao nvel fisiolgico. Num livro publicado em 1920 ( Die Physischen Gestalten in Ruhe und stationren Zustand), Khler pergunta se no existiro tambm no mundo fsico conjuntos cujas propriedades no possam ser construdas por adio, isto , que sejam algo mais que a soma de suas partes. Naturalmente ele sabia da existncia de conjuntos fsicos constitudos de partes independentes, de tal forma que se tirssemos uma de suas partes o todo no se alteraria. Podemos tirar um livro de uma estante sem que com isso os outros livros se modifiquem. Assim, tambm conforme o exemplo de Guillaume, trs pedras distantes uma da outra, uma na Amrica, uma na frica e outra na Austrlia, formam um conjunto aditivo; uma pedra pode ser deslocada sem que as outras sejam afetadas por isso. Nestes exemplos, o todo fsico no tem realidade prpria; existe somente porque me agrada considerar unidos pelo pensamento certos elementos escolhidos arbitrariamente.

Porm, alm destes agrupamentos aditivos, existem fatos fsicos cujas partes se alteram em funo do agrupamento, possuindo, portanto, caractersticas estruturais. Tais so os conjuntos estticos em equilbrio, os processos estacionrios ( Steady-state ) e os processos quase estacionrios. Os primeiros so aqueles em que nenhuma mudana ocorre durante um perodo relativamente longo de tempo. Os processos quase estacionrios so aqueles em que h uma mudana cujo regime permanece constante uma vez iniciado o processo. Os processos quase estacionrios so aqueles em que h uma mudana lenta controlada por um fator limitante.

Se considerarmos, por exemplo, um condutor homogneo com uma forma determinada e lha comunicarmos uma carga eltrica, esta vai distribuir- se pela superfcie do condutor, sendo que a forma de sua distribuio depender da forma do condutor. Se exercermos uma modificao em qualquer uma de suas partes, ocorrer uma redistribuio da carga implicando numa alterao da totalidade dos pontos da distribuio. A natureza estrutural deste fenmeno evidente. Da mesma maneira, se considerarmos o sistema solar como um conjunto em equilbrio, uma alterao em qualquer uma de suas partes( se retirssemos, por exemplo, um de seus planetas) provocar uma alterao na distribuio do conjunto enquanto tal; o mesmo ocorrer em relao a uma estrutura atmica. As partes so, portanto, membros orgnicos do todo, sendo que suas propriedades so funo da estrutura total e vice versa.

H no entanto, formas fracas e formas fortes, isto , encontramos diferenas de grau no que se refere relao de subordinao parte- todo. Um outro exemplo de Guillaume esclarecer este ponto: suponhamos dois corpos carregados eletricamente e suficientemente afastados um do outro para no exercerem influncia considervel um sobre o outro. Admitamos ainda que estes corpos estejam ligados entre si por fios de massa desprezvel. Nesta situao, cada carga se constitui numa forma forte, quer dizer, sua estrutura e a do campo que a cerca dependem da configurao total do corpo. Esta propriedade se mantm mesmo quando os corpos esto unidos entre si por meio de fios. Estes, porm, permitem o estabelecimento de um equilbrio quantitativo entre os campos dos diferentes corpos. Os dois corpos considerados em conjunto formam um sistema nico sendo que a grandeza da carga em cada um deles depende da estrutura do sistema total. Porm, a distribuio destas cargas em cada um dos corpos depende exclusivamente da forma geomtrica do prprio corpo, e no da forma geomtrica do sistema total. Dizemos que o conjunto desses corpos uma forma fraca, constituda por corpos, cada um dos quais uma forma forte.

Vale a pena reafirmar que o gestaltismo no pretende de modo algum que toda a realidade seja gestltica, mas afirma que podemos encontrar tanto estruturas quanto agrupamentos aditivos, e mesmo dentre os primeiros encontramos diferenas de grau caracterizando formas fracas e fortes.

8. AS FORMAS FISIOLGICAS E O ISOMORFISMOSe o mundo fsico apresenta caractersticas gestlticas, no h razo para que estas no sejam encontradas tambm nos fenmenos fisiolgicos e o prprio Kohler, juntamente com Wertheimer, que vai procura das formas fisiolgicas. Kohler considera que o organismo, ao invs de reagir aos estmulos locais, reage ao padro de estmulos aos quais est exposto, e que esta reao um processo unitrio, um todo funcional, que oferece na experincia uma cena sensorial e no um mosaico de sensaes locais. Nos experimentos feitos por Wertheimer sobre o movimento estroboscpico, verificou ele que, se dois estmulos so projetados em sucesses sobre pontos diferentes da retina, a pessoa v um movimento que comea no local do primeiro e termina no segundo.

Wertheimer conclui que este fato no poderia ser explicado por uma fisiologia elementarista que reduz o sistema nervoso a um mosaico de sensaes isoladas, mas que ele revela uma importante dinmica cerebral. A tentativa de explicar o movimento aparente pelo movimento dos olhos falhou a partir do momento em que Wertheimer apresentou linhas se movendo em direes contrrias, no podendo, portanto, os olhos acompanharem, simultaneamente, os dois movimentos. A explicao dada por ele foi a de que h isomorfismo entre a experincia fenomenal e seu correlato fisiolgico, os processos cerebrais. Isto significa que os caracteres estruturais do fato perceptual devem corresponder a caracteres igualmente estruturais do fato cerebral que lha correlato.

O desenvolvimento da teoria do isomorfismo foi feita principalmente por Khler. Segundo ele, a substncia cinzenta do sistema nervoso central forma uma rede de tal modo constituda que permite uma grande difuso do influxo nervoso. Experimentos fisiolgicos mostram que mesmo ao nvel do receptor perifrico, a unidade funcional do campo sensorial um fato indiscutvel. Assim, se por meio de um estmulo luminoso excitarmos uma regio da retina do olho estirpado de uma r, poderemos constatar, com um galvanmetro, que se estabelece imediatamente uma diferena de potencial entre a zona iluminada e a no iluminada. Desta maneira, verificamos que o fato fisiolgico no funo da modificao local da parte excitada, mas sim da diferena de potencial que se estabelece entre ela e a parte no excitada, ou excitada de forma diferente.

O rgo responde como um todo, a excitao determina uma estrutura do campo tico total.

Apesar das dificuldades implicadas num estudo experimental dos fatos fisiolgicos, no h dvidas, atualmente, do carter gestltico do funcionamento do sistema nervoso e da validade da afirmao inicial de Wertheimer sobre o isomorfismo psicofisiolgico.

9. CAMPO FSICO E CAMPO PSICOLGICOA noo de campo foi explorada inicialmente por Kohler, mas sua origem est nos trabalhos desenvolvidos, em fsica, por Faraday e Maxwell no sc. XIX e que determinaram uma nova concepo da realidade, diversa da oferecida pela mecnica clssica.

A formao fsica de Kohler muito contribuiu para a transposio destas idias para o campo da psicologia. A crtica desenvolvida pelos gestaltistas a uma viso do mundo mecanicista e elementarista se expressou em psicologia atravs da formulao de uma teoria que se negava a encarar a realidade psicolgica como composta de partculas elementares que se associavam maneira de um mosaico.

O modelo dominante em cincia, era o newtoniano. Segundo Newton, a realidade era formada de corpos materiais que poderiam ser divididos infinitamente e que agiam uns sobre os outros por gravitao. Assim, entre duas partculas quaisquer de matria, h uma fora diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distncia entre elas. Essa fora era entendida por Newton como exercendo sua ao distncia, sendo que a influncia do meio no era levada em conta.

Por sugesto dos trabalhos experimentais realizados por Faraday no campo da eletricidade, Maxwell apresentou em forma matemtica os resultados da ao do meio sugeridos pelos trabalhos do primeiro. A partir da, Maxwell forneceu as bases para se conceber a luz como um fenmeno eletromagntico constitudo por ondas eletromagnticas. Foi necessrio ento passar a se pensar em funo de regies ou campos nos quais se propagavam as foras eletromagnticas. No se poderia mais conceber um campo como mera justaposio de elementos tal como supunha a fsica de Newton. A imagem do mundo fornecida pela fsica do sc. XIX era a de um mundo formado de tomos que se movem no espao e no tempo e que segundo sua disposio e movimento recprocos produzem os fenmenos do nosso mundo sensvel. Da, a fsica partiu para uma concepo da realidade da qual no mais matria, mas o campo de foras o que se impe como realidade verdadeira e nica.

A viso que Maxwell nos oferece de sua perspectiva a seguinte: Ns estamos habituados a considerar o universo como sendo formado de partes, e os matemticos comeam ordinariamente por considerar uma partcula isolada para, em seguida, conceberem relaes de umas com as outras, e assim por diante. Comumente se pensa que este o mtodo mais natural. Mas, para se conceber uma partcula, necessrio operar uma abstrao, pois todas as nossas percepes se referem a corpos extensos e, portanto, a idia de todo de que ns temos conscincia num momento dado, pode muito bem ser to primitiva como a de um objeto tomado individualmente. Pode portanto, existir um mtodo matemtico no qual ns procederamos do todo para as partes, em lugar de irmos das partes para o todo.

Nas pesquisas eltricas, ns podemos empregar frmulas onde figuram as distncias de certos corpos e suas cargas ou as correntes que a atravessam, ou bem ns podemos empregar frmulas onde figuram outras quantidades que sejam contnuas no espao.

O mtodo de Faraday parece intimamente ligado a Segunda maneira de operar. Jamais considera os corpos como existentes sem que haja nada entre eles a no ser sua distncia e como agindo um sobre o outro em funo desta distncia. Mas ele concebe o espao inteiro como um campo de foras onde as linhas de fora so geralmente curvas; aquelas que so devidas a um corpo se estendem em todos o sentidos a partir deste corpo, e sua direo modificada pela presena de outros corpos. Ele fala mesmo de linhas de foras pertencendo a um corpo, como se elas fizessem de alguma maneira parte dele de modo que no se pudesse dizer que na sua ao sobre os corpos afastados, um corpo age no local aonde ele no est. Mas esta no uma idia dominante em Faraday. Acredito que ele teria dito que todo o campo do espao cheio de linhas de foras no qual o arranjo depende do arranjo dos corpos no campo e que a ao mecnica ou eltrica que se exerce sobre cada corpo determinada pelas linhas que os ligam.

indiscutvel a semelhana que existe entre a noo de campo desenvolvida em fsica e a que caracterizou pouco tempo depois a abordagem gestltica dos fenmenos psicolgicos.

A noo do campo psicolgico foi elaborada por Kurt Lewin. O ponto de partida para a noo de campo psicolgico a noo de espao da vida. Lewin define o espao de vida como a totalidade dos fatos que determinam o comportamento do indivduo num certo momento. Ele inclui a pessoa e o meio e representa a totalidade dos eventos possveis. Porm, pessoa e meio no podem ser definidos nem tratados como duas entidades separadas e independentes: o meio s meio tal como a pessoa o percebe, isto , em sua realidade fenomenal, e a pessoa s pessoa em funo desse meio. Ambos se constituem mutuamente e no se pode explicar o comportamento por referncia apenas a um deles. Segundo a frmula de Lewin, C=F(P,M), o comportamento uma funo de pessoa e meio, assim como P=F(M), e M=F(P) ou seja, a pessoa uma funo do meio e vice versa.

O que se denomina campo psicolgico o espao da vida considerado dinamicamente, isto , a totalidade dos fatos coexistentes e mutuamente interdependentes, compreendendo tanto a pessoa como o meio. Este campo psicolgico entendido, tal como o campo fsico de Maxwell, como um campo de foras que ser explicado em termos de tenses e valncias.

Assim, o objeto da psicologia, para Lewin, no a pessoa ou a relao pessoa-meio, mas uma realidade estruturada composta de duas partes ( pessoa e meio ) e que funciona como uma gestalt, como um todo integrado. Preocupado com a formalizao matemtica da psicologia, Lewin divide os problemas psicolgicos em dois grupos: o primeiro, constitudo por problemas topolgicos e que dizem respeito estrutura e dimenso do campo psicolgico ( so tratados mais especificamente em seu livro Principles of Topological Psychology ),; o segundo grupo, diz respeito aos problemas vetoriais e se referem s tenses e campos induzidos ( tratados em The Conceptual Representation and the Measurement of Psychological Forces ).Enquanto a topologia nos permite determinar quais so os eventos possveis num dado espao de vida, os conceitos vetoriais nos possibilitam determinar, dentre estes eventos possveis, qual o que poder ocorrer num caso especfico.

10. O PRINCPIO DE CONTEMPORANIEDADE

Um dos princpios bsicos da teoria de campo de Lewin, afirma que qualquer comportamento ou qualquer mudana no campo psicolgico depende somente do campo naquele momento. Este princpio foi introduzido em psicologia por Kurt Lewin.

Segundo Lewin, a maioria dos psiclogos concorda em que no se pode derivar o comportamento a partir do futuro: isto implicaria num finalismo que repudiado pelos cientistas em geral. A explicao como meta a ser atingida, fazia parte de uma atitude metafsica que a cincia no aceita mais.

Lewin insiste em que deduzir o comportamento do passado no menos metafsico, porque os fatos passados no existem agora e portanto no podem influenciar neste momento. O efeito do passado sobre o comportamento s pode ser indireto; o campo psicolgico passado uma das origens do campo presente e este por sua vez afeta o comportamento. Relacionar o comportamento atual com o campo passado pressupe, portanto, conhecer suficientemente como o fato passado mudou o campo naquele momento e se no meio tempo outros fatos modificaram ou no novamente o campo. A causa de um comportamento sempre presente. Nenhum comportamento atual pode ter sua causa no passado.

Freqentemente ouvimos a afirmao do que a psicanlise, por exemplo aceita a causalidade passada porque explica os fatos presentes por fatos passados ocorridos na infncia. H a um engano. Freud no considera que a causa de um determinado distrbio atual seja um fato localizado na infncia. Uma coisa a gnese histrica deste fato, isto , como ele se localiza num processo histrico individual que teve origem no nascimento e de que maneira ele se relaciona com outros acontecimentos ou momentos destes processo; outra coisa a pergunta sobre a causa deste fato, isto , qual a distncia da situao presente que tem como resultante o comportamento em questo. Na verdade, para Freud no fazia qualquer diferena se o fato passado apontado como causa do atual sequer tivesse acontecido realmente ou no. Ele considera que um histrico uma pessoa que sofre de reminiscncias. Portanto, a sua referncia a um passado que est afetado e no este passado considerado em si mesmo.

Quando Lewin afirma que qualquer mudana no campo psicolgico depende somente do campo naquele momento, no significa isto dizer que ele se recuse a aceitar os fatores histricos. comum ouvirmos a afirmao de que sua posio assim como a do gestaltismo em geral a histrica. A ser verdadeira esta crtica, ela implicaria em que Lewin rejeitava completamente o papel da experincia passada na estruturao de uma determinada situao. Nada poderia ser mais errado afirma Lewin na realidade os tericos de campo esto bastante interessados em problemas de desenvolvimento e em problemas histricos, e contriburam para ampliar o campo temporal de experimento psicolgico, em relao ao experimento clssico de tempo de reao que dura somente alguns segundos, para situao experimentais que contm uma histria sistematicamente criada atravs de horas e semanas.

A confuso decorre do fato de no ser levado em conta que um campo possui uma espessura temporal que pode variar de segundos a um tempo extremamente longo. Quando Lewin fala em situao num determinado momento, no pretende ele que este momento seja o momento abstrato sem nenhuma extenso temporal, mas um momento real concreto que implica numa certa durao.

Admitindo-se que o termo comportamento compreende qualquer mudana no campo psicolgico, poderemos dizer que: Ct = F(St) , ou seja que o comportamento C num tempo T funo da situao S somente naquele tempo T. tambm possvel relacionar o comportamento C indiretamente a uma situao passada S t-n ou a uma situao futura S t+n, no caso de serem sistemas fechados e se as mudanas nos perodos intermedirios puderem ser explicadas por leis conhecidas. O que nos permite considerar um sistema como fechado o fato de que as suas partes mantm uma relao funcional, umas em relao s outras, e que estado que caracteriza uma parte do sistema afeta o estado de todas as outras partes. Lewin diz que nesse sentido que Kohler fala de sistema fsico ou forma fsica.

Para que pudssemos explicar uma situao presente por uma situao passada, teramos que estar tratando com sistemas fechados; precisaramos Ter conhecimento de todos as caractersticas da situao passada, das leis segundo as quais essa situao se transforma durante o desenrolar do processo.

Para se aprender o significado de um fato psicolgico, devemos considerar um certo perodo de extenso temporal. Tal extenso depende da finalidade da situao. Assim, quanto mais macroscpica ela for, mais extenso o perodo de tempo que tem que ser levado em considerao. Em psicologia lidamos com unidades situacionais que podem ser concebidas como possuindo uma extenso nas suas dimenses de campo e nas suas dimenses de tempo.

Quando Lewin fala em campo num determinado momento, no est excluindo o papel que o passado e o futuro possam desempenhar no presente. O indivduo no v apenas sua situao presente; tem certas expectativas, desejos, medos, devaneios em relao ao futuro. Sua maneira de ver seu prprio passado e o resto do mundo fsico e social, mesmo sendo errada, constitui seu nvel de realidade. Tanto o futuro, enquanto expectativa, desejos e medos, como o passado, enquanto visto pelo indivduo, constituem o campo psicolgico num determinado momento T.

O que seria incorreto, para Lewin, levarmos em conta um passado em si, imutvel, que mecanicamente fosse a causa de uma situao presente. O que importa para ele, no o passado como verdadeiramente se deu, mas a viso que o indivduo presentemente tem desse passado.

Feud repetidas vezes salientou a importncia da fantasia na constituio da neurose. Considera que cometeu um erra quando, na investigao analtica, sobrestimou o papel da seduo na iniciao sexual infantil como fonte das manifestaes neurticas, verificando mais tarde que tais sedues eram fantasias de seus pacientes, no correspondente a nenhuma seduo real. Na situao analtica , importa muito mais como o paciente v o seu passado atravs da fantasia, do que o passado tal como verdadeiramente se deu, pois essa viso presente de passado que se vai constituir como parte do campo atual.

Um aspecto importante na constituio temporal do campo psicolgico, o do papel desempenhado pela dimenso realidade-irrealidade. Para uma criana pequena, a realidade essencialmente presente, seu mundo restrito tanto especialmente quanto temporalmente. O passado e o futuro desempenham um papel muito pequeno na sua conduta, passando a ser mais significativo medida em que maior nmero de fatos do passado e do futuro afetam o comportamento presente. O nvel de realidade do passado, presente e futuro psicolgico, correspondem a uma situao como realmente existiu, existe e existir segundo a crena do indivduo.

11. O ESTUDO DA PERCEPOVimos que foi no campo da percepo que tiveram incio os trabalhos que deram origem Gestaltpsychologie. Veremos em seguida, resumidamente, as principais contribuies do movimento gestaltista nos campos da percepo, da memria e da inteligncia.

11.1. Sensao e Percepo A primeira grande contribuio dos gestaltistas foi a

distino feita por eles entre sensao e percepo. Durante muito tempo, a psicologia pretendeu ser possvel reduzir, em nvel explicativo, a percepo sensao. Baseava seu argumento no fato de que a sensao era a base sobre a qual se estruturava o processo perceptivo, logo, era ao nvel do processo sensorial que se encontraria a explicao do processo perceptivo. O que escapava aos psiclogos participantes desse ponto de vista, era o fato de que ao reduzirem a percepo sensao, portanto, ao reduzirem o processo psicolgico a um processo fisiolgico, eles estavam descaracterizando o fenmeno psicolgico e se furtando a explic-lo na sua especificidade. Sensao um fenmeno fisiolgico, percepo um fenmeno psicolgico. Explicar um pelo outro, equivalente a explicarmos a Revoluo Francesa pela fsica por que nela houve tiros, deslocamentos de corpos, consumo de energia, sem os quais a revoluo no seria possvel. Esta ltima afirmao verdadeira, na exata medida em que todo comportamento tem um correlato fsico, corporal, mas no nos habilita a reduzir um fenmeno poltico social, histrico ou psicolgico a fenmeno fsicos.

Para os gestaltistas, a percepo um dado original, irredutvel, sob pena de ser destrudo. O mesmo valido para a memria o pensamento, a motivao, etc. Sem isto no h psicologia. Da a afirmao muitas vezes repetida pelos gestaltistas: o ponto de partida de toda psicologia a experincia imediata. E repetimos aqui o que j foi afirmado no item 5.4 : da percepo que devemos partir, tomando-a tal qual , com suas variedades umas to reais quanto outras, sem decidir, a priori, em nome de uma fisiologia arbitrria, que tal de suas propriedades provm da educao e que tal outra deve ser considerada como primitiva. Vamos encontrar-nos, desde logo, em presena de fatos organizados; nosso objetivo descrever essa organizao e procurar suas leis.

11.2. As Leis da Percepo Coube a Max Wertheimer elaborar os princpios fundamentais segundo os quais se estrutura a percepo. Estes princpios foram mais tarde aplicados a todos os processos psicolgicos eles podem ser expressos da seguinte maneira:

11.2.1. Lei da Boa Forma ou da Pregnncia (Pragnanz) o princpio mais geral e expressa a tendncia que cada estrutura possui de se organizar psicologicamente segundo uma forma to completa e perfeita quanto as condies do momento o permitam. Isso quer dizer que a estrutura psicolgica tender sempre a ser a melhor possvel nas condies dadas. Este princpio abrange as seguintes variaes:

a) Lei da Boa Continuidade a tendncia dos elementos a acompanharem outros, de modo que permitam a continuidade de um movimento apenas insinuando, numa direo j estabelecida, no sentido de alcanar a melhor forma possvel, a mais estvel estruturalmente;

b) Lei da Simetria agrupamentos simetricamente organizados tendem a ser mais facilmente percebidos do que os agrupamentos assimtricos;

c) Lei do Fechamento ou da Closura exprime a tendncia de formas imperfeitas ou incompletas virem a se fechar ou se completar no sentido de alcanarem o maior grau de regularidade ou de estabilidade;

d) Lei do Destino Comum exprime a preferncia pelo agrupamento de elementos que

se movem ou se transformam numa direo comum e assim se distinguem dos que tem outras direes de movimento ou mudana de campo.

Alm da lei da boa forma e de suas variaes, dois princpios regulam os processos

perceptivos.

11.2.2. Lei da Proximidade em condies iguais os estmulos em maior proximidade (espacial ou temporal) tero maior tendncia a serem agrupados.

11.2.3. Lei da Semelhana em condies iguais, os estmulos mais semelhantes entre si (pela cor, tamanho, peso, forma, etc.) tero maior tendncia a serem agrupados.

11.2. ESTRUTURA DO CAMPO PERCEPTIVO - Segundo a teoria da forma, se pode

haver percepo de alguma coisa se houver uma diferenciao mnima no campo perceptivo. Um campo completamente homogneo praticamente impossvel de ser encontrado em condies naturais. Um psiclogo dinamarqus, E. Rubin, no pertencente escola gestaltista, deu uma contribuio neste campo que a escola absorveu imediatamente. Para ele, todo objeto percebido, s o em relao a um certo fundo que lhe concede relevo. Isto vlido no somente para a percepo visual, mas tambm para a percepo auditiva, ttil, etc. Portanto, s haver percepo se houver figura e fundo. A figura ter sempre uma forma, um contorno, uma organizao; o fundo por sua vez ser sempre uma continuidade amorfa, indefinida, indiferenciada. Uma mancha no papel, um grito na noite, uma notcia no meio de um programa musical, so exemplos de figura-fundo. Nada em s, figura ou fundo; num determinado momento uma determinada parte do campo figura e o resto fundo; no momento seguinte a situao se inverte.

Antes de Rubin, William James escreveu sobre as zonas focal e franjal (ou marginal) do campo da conscincia e nos ofereceu uma bela descrio fenomenolgica da dinmica da alternncia foco-margem. A distino figura-fundo fundamental para a nossa vida cotidiana; graas a ela que estabelecemos uma hierarquia em nosso campo perceptivo de modo a perceb