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    Nossa viagem agora ser pelos cafezais.Percorreremos antigas regies de caf dos atuais Estados do Rio de Janeiroe So Paulo. Veremos como um produto pode transformar um lugar, pode

    criar novos hbitos, novas fontes de empregos, novas formas de comunicaoe novas relaes sociais.

    Criar uma grande fazenda de caf no sculo XIX no era nada fcil. Requeriaterras, capitais, mo-de-obra, transporte e mercado. Vejamos como foi possvelreunir todos esses fatores. Depois, vamos acompanhar as mudanas promovidaspela expanso da lavoura cafeeira no pas.

    No interior da provncia do Rio de Janeiro, o caf encontrou timas condi-es para se desenvolver. Da cidade do Rio de Janeiro, ele subiu a serra e alcanouo vale do rio Paraba.

    Zona do Rio de Janeiro

    Zona de Santos

    Ferrovias

    A expansocafeeira

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    Ali havia um clima favorvel e terras disponveis... Mas no to disponveisassim. Muitas vezes, a formao dos grandes cafezais no meio rural flumi-nense foi precedida de uma grande luta pela posse das terras. A regio, contaIlmar Mattos,

    (...) era rea de fronteira aberta, isto , de estrutura fundiria aindano definida, at mesmo em termos jurdicos.

    Os conflitos em razo da aquisio e mesmo dos limites das propriedadesrurais eram, muitas vezes, resolvidos pela fora. Conquistada a proprie-dade pelas armas, tratava-se de legaliz-la.

    Esse era um problema geral, no apenas daquela regio. Tanto que,em 1850, o governo imperial resolveu regular a disponibilidade de terras pormeio da Lei de Terras. S que, naquele momento, boa parte dos cafezaisfluminenses j estava assentada.

    Mas no bastava apenas conquistar a propriedade. Era necessrio prepa-rar a terra, promover o plantio, adquirir equipamentos e mo-de-obra escravae comercializar a safra. Tudo isso requeria uma grande soma de capitaisgrande soma de capitaisgrande soma de capitaisgrande soma de capitaisgrande soma de capitais.Grande parte deles veio ou da transferncia de recursos de outras culturas,

    como a do acar, ou das atividades comerciais impulsionadas com a chegadada famlia real ao Brasil. D. Joo VI, por sinal, foi um dos incentivadoresda lavoura cafeeira no Brasil, promovendo, em 1817, uma distribuio desementes entre os grandes proprietrios de terras. Com o tempo, no entanto,a lavoura cafeeira passou a ser mantida com as prprias rendas.

    A escravido africana foi outro trao fundamental da lavoura cafeeirafluminense. Apesar das constantes presses inglesas, que vinham desdeo incio do sculo XIX, o fluxo de escravos para o Brasil se manteve crescenteat 1850. Esse fato favoreceu a utilizao, em larga escala, da fora de trabalhoescrava africana.

    Nesses primeiros tempos de lavoura cafeeira, o caf era transportado

    por tropas de burros do interior at a cidade do Rio de Janeiro. Mais tarde,a introduo das ferrovias facilitaria enormemente o escoamento da produo.Quando chegava capital do pas, a produo era adquirida pelo comissrio

    de caf e, da, vendida ao exportador.

    Boris Fausto nos fala um pouco sobre o comissrio e suas relaes como produtor de caf:

    (...) a prncpio no Rio de Janeiro e depois tambm em Santos, o comissrioatuava como intermedirio, entre produtores e exportadores. (...)

    Por conta da mercadoria que lhe era entregue, (...) fornecia os bens deconsumo e os instrumentos encomendados pelo fazendeiro, ganhandocomisses sobre o negcio. Estabelecia-se, assim, uma relao de confian-a entre fazendeiro e comissrio. (...) Produtores e comissrios eram,em regra, brasileiros, mas a exportao de caf esteve desde os primeirostempos em mos de grandes organizaes [norte-]americanas e inglesas.

    Boris Fausto,Boris Fausto,Boris Fausto,Boris Fausto,Boris Fausto, Histria do BrasilHistria do BrasilHistria do BrasilHistria do BrasilHistria do Brasil,,,,, p. 189p. 189p. 189p. 189p. 189

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    A presena de ingleses e norte-americanos na exportao de caf no erafruto do acaso. O caf significava bom negcio, e um negcio em expanso. Nadcada de 1820, correspondia a cerca de 18% das nossas exportaes. Nadcada de 1830, esse nmero j subira para cerca de 43%. O principal impor-tador do caf brasileiro eram os Estados Unidos da Amrica.

    Na primeira metade do sculo XIX, no se plantava caf apenasna provncia do Rio de Janeiro. Os cafezais seguiram o curso do rio Parabae alcanaram as terras paulistas. Em 1836, a provncia de So Paulo produziacerca de 25% do caf brasileiro.

    O caf tambm avanou por terras mineiras, no sul e na Zona da Mata,que se transformaram, no dizer do historiador Ilmar Mattos, em uma extensoextensoextensoextensoextensodo vale fluminensedo vale fluminensedo vale fluminensedo vale fluminensedo vale fluminense. Embora a provncia de Minas Gerais possusse um grandenmero de escravos durante boa parte do Imprio, a produo cafeeira mineiraera pequena se comparada produo fluminense.

    O predomnio da provncia do Rio de Janeiro permaneceria ainda poralgum tempo. Em 1865, os cafezais fluminenses eram responsveis por mais3/4 partes de todo o caf que se exporta (dados de Sebastio Soares citadospor Ilmar Mattos, Tempo saquarema, p. 61)

    A primeira grande onda verdeonda verdeonda verdeonda verdeonda verde do caf teve importantes efeitos econ-

    micos. O primeiro deles foi o reequilbrio da balana comercial brasileira.Depois de um longo perodo de dficitsdficitsdficitsdficitsdficits, as nossas exportaes passaram,a partir da dcada de 1860, a superar as importaes.

    Ocorreu tambm o que o historiador Caio Prado Jr. chamou de melhoraparelhamento tcnico do pasaparelhamento tcnico do pasaparelhamento tcnico do pasaparelhamento tcnico do pasaparelhamento tcnico do pas:

    Refiro-me a estradas de ferro e outros meios de comunicaoe transportes, mecanizao das indstrias rurais, instalaode algumas manufaturas (...).

    Caio Prado Jr.,Caio Prado Jr.,Caio Prado Jr.,Caio Prado Jr.,Caio Prado Jr., Histria econmica do Brasil,Histria econmica do Brasil,Histria econmica do Brasil,Histria econmica do Brasil,Histria econmica do Brasil, p. 173p. 173p. 173p. 173p. 173

    A expanso urbana foi outro importante efeito do impulso modernizadorimpulso modernizadorimpulso modernizadorimpulso modernizadorimpulso modernizador

    produzido pela economia cafeeira. Nas aulas seguintes, veremos como tudo issocontribuiu para criar inmeras cidades e modificar a face de algumas delas,como foi o caso da cidade do Rio de Janeiro.

    A expanso cafeeira contribuiu tambm para a mudana do eixo econmi-mudana do eixo econmi-mudana do eixo econmi-mudana do eixo econmi-mudana do eixo econmi-co brasileiro do Nordeste para o Sudesteco brasileiro do Nordeste para o Sudesteco brasileiro do Nordeste para o Sudesteco brasileiro do Nordeste para o Sudesteco brasileiro do Nordeste para o Sudeste. bom lembrar que o avano doscafezais pelo vale do Paraba fluminense e depois paulista ocorreu em meioa sucessivas perdas de mercado sofridas pela lavoura aucareira principalproduto de exportao nordestino.

    Isso no quer dizer, no entanto, que a lavoura aucareira tenha deixadode ser importante para a economia brasileira. s acompanhar o quadro abaixopara perceber que caf e acar juntos, em 1860, representavam cerca de

    60% das nossas exportaes.

    1831-1840

    Caf ................. 43,8%Acar .............. 24,0%Algodo ............ 10,8%Couros e peles .. 07,9%

    PORCENTAGEM DOS PRINCIPAIS PRODUTOS DE EXPORTAO

    1821-1830

    Acar .............. 30,1%Algodo ............ 20,6%Caf ................. 18,4%Couros e peles . 13,6%

    1841-1850

    Caf ................. 41,5%Acar .............. 26,7%Couros e peles .. 08,5%Algodo ............ 07,5%

    Fonte: Nelson Werneck Sodr, Histria da burguesia brasileira,

    Civilizao Brasileira, Rio de Janeiro, 1964, pgina 78.

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    Todo esse processo de modernizao teve por base uma lavoura que preser-vou as principais caractersticas da tradicional estrutura produtiva brasileira:

    a grande propriedade monocultora e escravista. Pelo menos at a primeira metadedo sculo XIX , a cafeicultura, mais do que simplesmente manter, teve o papelde reforar o sistema escravista de produo. Nas palavras de Caio Prado Jr.:

    Graas ao amparo de um artigo como o caf, de largas facilidadesde produo no pas e de considervel importncia comercialnos mercados mundiais, aquela estrutura [tradicional], momentanea-mente abalada pelas transformaes sofridas pelo pas na primeira partedo sculo, consegue se refazer e prosperar mesmo consideravelmenteainda por muito tempo.

    Caio Prado Jr.,Caio Prado Jr.,Caio Prado Jr.,Caio Prado Jr.,Caio Prado Jr., Histria econmica do BrasilHistria econmica do BrasilHistria econmica do BrasilHistria econmica do BrasilHistria econmica do Brasil, p. 173, p. 173, p. 173, p. 173, p. 173

    A existncia de terras e escravos disponveis fez com que a produo cafeeirado vale do Paraba assumisse caractersticas tradicionais. No houve grandespreocupaes com o aumento da produtividade e com a introduo de maqui-narias mais modernas. O caf ainda era o escravo.

    Mas quem agia e pensava dessa forma? Quem era esse fazendeiro de caf?Tratemos agora de estudar alguns dos principais agentes dessa primeira ondacafeeira.

    Releia a aula e estabelea relaes entre a expanso cafeeira e o processode modernizao da economia brasileira.

    O cafezal

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    Quanto mais me aproximo da capitania do Rio de Janeiro, mais consi-derveis se tornam as plantaes. Vrias delas existem, tambm muitoimportantes, perto da vila de Resende. Proprietrios desta redondezapossuem 40,60, 80 e at 100 mil ps de caf. Pelo preo do gnero, devemestes fazendeiros ganhar somas enormes.

    Como se pode perceber pelas palavras de Saint-Hilaire, a expanso cafeeirano produziu apenas riqueza material para o Imprio do Brasil. Com ela surgiu,especialmente na provncia fluminense, uma nova elite econmica.

    Nos diversos centros produtores da provncia do Rio de Janeiro (comoResende, Barra Mansa, Vassouras, Valena e Cantagalo) formaram-se impor-tantes famlias que logo se tornaram, nas palavras de Ilmar Mattos, verdadei-ras dinastias cafeeirasdinastias cafeeirasdinastias cafeeirasdinastias cafeeirasdinastias cafeeiras. Os chefes dessas famlias passaram a ter influnciano poder local e regional.

    Eles participavam das reunies das cmaras municipais; elegiam-separa a Assemblia Provincial; formavam na Guarda Nacional; casavam

    suas filhas com bacharis que deveriam represent-los junto ao governogeral; (...) recebiam ou compravam ttulos de nobreza, tornando-sebares do caf; construam luxuosos palacetes ou casas slidas e vastasna Corte. Como Estvo Ribeiro de Resende, baro, conde e marqus deValena; como Peregrino Jos de Amrico Pinheiro, baro e viscondede Ipiabas; como Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, baro de Patide Alferes; ou como Francisco Jos Teixeira Leite, baro de Vassouras.

    Ilmar Mattos e Mrcia de Almeida Gonalves,Ilmar Mattos e Mrcia de Almeida Gonalves,Ilmar Mattos e Mrcia de Almeida Gonalves,Ilmar Mattos e Mrcia de Almeida Gonalves,Ilmar Mattos e Mrcia de Almeida Gonalves, OOOOO iiiiimprio da boa sociedademprio da boa sociedademprio da boa sociedademprio da boa sociedademprio da boa sociedade, p. 50, p. 50, p. 50, p. 50, p. 50

    Mais do que proprietrios de terras e escravos, osbares do cafbares do cafbares do cafbares do cafbares do caf foram seconstituindo em importante fora social e poltica. Em geral, defendiamo governo imperial e a ordem escravista. Em pouco tempo, tornaram-se uma dasprincipais bases polticas do Partido Conservador.

    Mas alguns deles no perdiam de vistadeterminados problemas. Na dcada de 1840,em pleno apogeu da produo cafeeira dovale do Paraba, o problema da substituioda mo-de-obra escrava pela livre estava naordem do dia. A Inglaterra pressionava for-

    temente pelo fim do trfico internacional deescravos, e estavam sendo iniciadas algu-mas experincias de imigrao estrangeira.

    Para algumas lideranas dosbares dobares dobares dobares dobares docafcafcafcafcaf, como Francisco Werneck, o problemano era de fcil soluo. Werneck, em 1847,chamava a escravido de

    grmen roedor do Imprio do Brasil,que s o tempo [poderia] curar.

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    Ele afirmava que no havia condies para a adoo do trabalho livre, poiso imigrante logo fugiria e iria trabalhar por conta prpria. Assim, dizia ele,

    v-se a necessidade de continuar com esse cancro roedor, cujo preo noest em harmonia com a renda que dele se pode tirar; ainda maisse acresce a imensa mortandade a que esto sujeitos e que devorafortunas colossais (...).

    Francisco P. de L.Francisco P. de L.Francisco P. de L.Francisco P. de L.Francisco P. de L.Werneck, citado por Ana Luiza Martins,Werneck, citado por Ana Luiza Martins,Werneck, citado por Ana Luiza Martins,Werneck, citado por Ana Luiza Martins,Werneck, citado por Ana Luiza Martins, O imprio do cafO imprio do cafO imprio do cafO imprio do cafO imprio do caf, p. 63, p. 63, p. 63, p. 63, p. 63

    O problema estava na mesa. Para Werneck, a questo era ou permanecercom o peso de uma mo-de-obra cara e atrasadacara e atrasadacara e atrasadacara e atrasadacar a e atrasad a, como a escrava africana,ou ento partir para uma experincia pouco segura, inquietantepouco segura, inquietantepouco segura, inquietantepouco segura, inquietantepouco segura, inquietante, coma utilizao da mo-de-obra livre. Nos cafezais do vale do Paraba, comoveremos nas prximas aulas, a tradio falou mais alto e a escravidoafricana permaneceu preponderante.

    Releia a aula e explique a expresso: O Imprio era o caf e o caf erao vale do Paraba.

    Nesta aula pudemos estudar como o caf do vale do Paraba se tornou a basede sustentao econmica do Imprio brasileiro. Vimos que a produo cafeeiraestruturou-se em moldes tradicionais, possibilitando, inclusive, a ampliaoda utilizao do trabalho escravo.

    Acompanhamos ainda a formao de um importante ncleo econmicoe social, que teve importante papel na afirmao do projeto conservadorprojeto conservadorprojeto conservadorprojeto conservadorprojeto conservadorinstitudo por determinados setores das elites imperiais.

    Finalmente, pudemos verificar que, em plena ascenso da produo cafeeira,colocava-se na ordem do dia a questo da substituio da mo-de-obra escrava

    pela livre. Nosso maior aliado externo, o Imprio Britnico, endurecia o jogoe exigia o fim do trfico negreiro.

    Como o Imprio encaminhou esse problema? Como seria possvel manterem plena carga a produo cafeeira e, ao mesmo tempo, atender s exigncias

    britnicas?Na prxima aula, acompanharemos tudo isso. E mais: veremos que, em meio

    a esse intenso jogo de poder, a sociedade brasileira passava por importantesmudanas.

    Exerccio 1Exerccio 1Exerccio 1Exerccio 1Exerccio 1

    Releia o item A formao da economia cafeeiraA formao da economia cafeeiraA formao da economia cafeeiraA formao da economia cafeeiraA formao da economia cafeeira e identifique os principaisfatores responsveis pela expanso da lavoura cafeeira fluminenseno decorrer sculo XIX.

    Exerccio 2Exerccio 2Exerccio 2Exerccio 2Exerccio 2Releia o item Os bares do cafOs bares do cafOs bares do cafOs bares do cafOs bares do caf e explique por que cafeicultores comoFrancisco Werneck defendiam a permanncia da escravido africananas fazendas de caf.

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