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Balança Alimentar Portuguesa 2008-2012 1/25 02 de abril de 2014 Balança Alimentar Portuguesa 2008-2012 Padrão das disponibilidades alimentares altera-se privilegiando os hidratos de carbono e cortando nas proteínas As disponibilidades alimentares per capita atingiram em média as 3 963 kcal no quinquénio 2008-2012 (+2,1% que no período 2003-2008), o que permite satisfazer as necessidades de consumo de 1,6 a 2 adultos, tendo por base o aporte calórico médio recomendado (2 000 a 2 500 kcal). De referir, contudo, que a análise ao quinquénio 2008/2012 revela dois períodos marcadamente distintos: até 2010 um período de expansão caracterizado por elevadas disponibilidades alimentares e calóricas e a partir de 2010 com reduções acentuadas das disponibilidades alimentares. O ano de 2012 detém os níveis mais baixos de disponibilidades alimentares de carne de bovino dos últimos 10 anos. Seria igualmente necessário recuar 13 anos, para se encontrar um nível semelhante de disponibilidades alimentares de carne de suíno, passando a carne de aves, pela primeira vez de que há registos estatísticos, a garantir a principal disponibilidade de carne em Portugal. Idêntica tendência se verificou com as disponibilidades de frutos, laticínios e pescado, e que revelam em 2012, respetivamente, mínimos de 20, 9 e 8 anos. Em termos médios, no período 2008-2012, verificaram-se decréscimos de 5,9 Kg de carne/hab, 3,2 Kg de pescado/hab, 7,6 l de vinho/hab (período 2009-2012) e 8,3 l de cerveja/hab, a que se juntam reduções de 4,0% nas disponibilidades de laticínios, 10,6% nos frutos (período 2009-2012). Em contrapartida observaram-se aumentos nos cereais (+2,1%), nos hortícolas (+5,8%) e nos produtos estimulantes (café e sucedâneos, cacau e chocolate, +4%). A comparação da distribuição das disponibilidades diárias per capita da Balança Alimentar Portuguesa com o padrão alimentar preconizado pela Roda dos Alimentos continuou em 2012 a evidenciar distorções, apontando para excesso de produtos alimentares dos grupos “Carne, pescado e ovos” (com tendência acentuada para decréscimo), e “Óleos e Gorduras” e défice em “Hortícolas”, “Frutos” e “Leguminosas secas”. Este desequilíbrio continua a ser potencialmente pouco saudável, com uma predominância de proteínas de origem animal e excesso de gorduras. Estas disponibilidades alimentares traduzem para 2012 um índice de adesão à dieta mediterrânica 1 de 1,10, sendo que um índice superior a 1 revela uma predominância de calorias provenientes de produtos típicos de uma dieta mediterrânica. Este índice, embora com tendência crescente desde 2006, situa-se contudo abaixo dos valores alcançados no início da década de 90. 1 Ver notas explicativas

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    02 de abril de 2014

    Balana Alimentar Portuguesa

    2008-2012

    Padro das disponibilidades alimentares altera-se privilegiando os hidratos de carbono e cortando nas protenas

    As disponibilidades alimentares per capita atingiram em mdia as 3 963 kcal no quinqunio 2008-2012 (+2,1% que no

    perodo 2003-2008), o que permite satisfazer as necessidades de consumo de 1,6 a 2 adultos, tendo por base o aporte

    calrico mdio recomendado (2 000 a 2 500 kcal). De referir, contudo, que a anlise ao quinqunio 2008/2012 revela

    dois perodos marcadamente distintos: at 2010 um perodo de expanso caracterizado por elevadas disponibilidades

    alimentares e calricas e a partir de 2010 com redues acentuadas das disponibilidades alimentares. O ano de 2012

    detm os nveis mais baixos de disponibilidades alimentares de carne de bovino dos ltimos 10 anos. Seria igualmente

    necessrio recuar 13 anos, para se encontrar um nvel semelhante de disponibilidades alimentares de carne de suno,

    passando a carne de aves, pela primeira vez de que h registos estatsticos, a garantir a principal disponibilidade de

    carne em Portugal. Idntica tendncia se verificou com as disponibilidades de frutos, laticnios e pescado, e que

    revelam em 2012, respetivamente, mnimos de 20, 9 e 8 anos.

    Em termos mdios, no perodo 2008-2012, verificaram-se decrscimos de 5,9 Kg de carne/hab, 3,2 Kg de pescado/hab,

    7,6 l de vinho/hab (perodo 2009-2012) e 8,3 l de cerveja/hab, a que se juntam redues de 4,0% nas disponibilidades

    de laticnios, 10,6% nos frutos (perodo 2009-2012). Em contrapartida observaram-se aumentos nos cereais (+2,1%),

    nos hortcolas (+5,8%) e nos produtos estimulantes (caf e sucedneos, cacau e chocolate, +4%).

    A comparao da distribuio das disponibilidades dirias per capita da Balana Alimentar Portuguesa com o padro

    alimentar preconizado pela Roda dos Alimentos continuou em 2012 a evidenciar distores, apontando para excesso de

    produtos alimentares dos grupos Carne, pescado e ovos (com tendncia acentuada para decrscimo), e leos e

    Gorduras e dfice em Hortcolas, Frutos e Leguminosas secas. Este desequilbrio continua a ser potencialmente

    pouco saudvel, com uma predominncia de protenas de origem animal e excesso de gorduras.

    Estas disponibilidades alimentares traduzem para 2012 um ndice de adeso dieta mediterrnica1 de 1,10, sendo que

    um ndice superior a 1 revela uma predominncia de calorias provenientes de produtos tpicos de uma dieta

    mediterrnica. Este ndice, embora com tendncia crescente desde 2006, situa-se contudo abaixo dos valores

    alcanados no incio da dcada de 90.

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    A Balana Alimentar Portuguesa (BAP), enquanto instrumento analtico de natureza estatstica, permite retratar as

    disponibilidades alimentares e sua evoluo em Portugal, em termos de produtos, nutrientes e calorias, e no a

    caracterizao dos consumos alimentares dos residentes no pas. No entanto, dado que os coeficientes de correlao

    entre a BAP (disponibilidades alimentares) e o Inqurito s Despesas das Famlias - IDEF (quantidades adquiridas pelas

    famlias residentes), apresentaram nos perodos de referncia comuns (2005 e 2010) correlaes positivas, elevadas e

    estatisticamente significativas, as disponibilidades alimentares constituem uma forma indireta de caracterizao do

    consumo alimentar1.

    Neste Destaque, o INE atualiza e divulga a BAP para o perodo 2008-2012, recorrendo anlise comparativa com a

    informao relativa edio anterior (2003-2008) e, sempre que se justifica, dcada de 90.

    Est disponvel em www.ine.pt, um conjunto de indicadores estatsticos harmonizados e comparveis sobre a BAP no

    perodo de 1990 a 2012.

    1. RODA DOS ALIMENTOS E DISPONIBILIDADES DIRIAS DE PRODUTOS ALIMENTARES

    As disponibilidades alimentares per capita aumentaram 2,1% face s da BAP 2003-2008, atingindo em

    mdia 3 963 kcal no perodo 2008-2012. Este aporte calrico permite satisfazer as necessidades de

    consumo recomendadas para 1,6 a 2 adultos. O desequilbrio das disponibilidades alimentares face

    Roda dos Alimentos evidencia um padro estrutural que se tem mantido ao longo dos anos, caracterizado

    por excesso de produtos alimentares do grupo da Carne, pescado e ovos e leos e Gorduras e dfice

    de Hortcolas, Frutos e Leguminosas secas.

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    No perodo 2008-2012, a Balana Alimentar Portuguesa (BAP) revelou um aporte calrico dirio mdio disponvel, por

    habitante de 3 963 kcal (na BAP 2003-2008 este valor era 3 883 kcal), considerando o total de produtos alimentares e

    de bebidas disponveis para consumo. Contudo, ao longo deste perodo, verificou-se um decrscimo mdio anual de

    0,7% no total de calorias apuradas, sendo 3 882 calorias em 2012, ainda assim um aporte calrico claramente

    excessivo quando comparado com o aporte calrico dirio mdio aconselhado para um adulto (2 000 a 2 500 kcal).

    A comparao da distribuio das disponibilidades dirias per capita, em 2012, dos diferentes grupos alimentares da

    BAP com o padro alimentar preconizado pela Roda dos Alimentos, permite constatar, tal como j se havia verificado

    na edio anterior da BAP, uma distoro do padro alimentar em Portugal.

    Os grupos de produtos alimentares com desvios mais acentuados so Carne, pescado e ovos com uma disponibilidade

    10,4 p.p. acima do consumo recomendado (pouco oscilou relativamente ao da BAP 2003-2008 11,3 p.p.) e os grupos

    dos Hortcolas e dos Frutos com disponibilidades deficitrias de 7,9 p.p e 8,0 p.p. respetivamente (na BAP 2003-

    2008 os desvios eram -9,6 p.p e -6,3 p.p).

    Os grupos dos Cereais, razes e tubrculos e dos Lacticnios continuaram a apresentar disponibilidades prximas do

    padro alimentar recomendado, no entanto manteve-se deficitria a disponibilidade para as Leguminosas secas

    (-3,4 p.p.) e excedentria para o grupo dos leos e gorduras (+4,0 p.p.).

    Entre 2008 e 2012, o nico grupo de produtos alimentares cujas disponibilidades dirias per capita aumentou foi o dos

    Produtos hortcolas (+5,8%), ainda assim no em quantidade suficiente para corrigir o desequilbrio deste grupo face

    ao recomendado pela Roda dos Alimentos. Dos restantes grupos, destacam-se os decrscimos das disponibilidades das

    Leguminosas secas (-13,9%) e dos Frutos (-9,5%), o que contribuiu para agravar ainda mais o dfice destes grupos

    face s recomendaes de consumo. De referir ainda que os decrscimos verificados nos grupos Carne, pescado e

    ovos (-8,2%) e leos e gorduras (-2,5%) no foram suficientes para baixar substancialmente as disponibilidades

    excedentrias destes grupos.

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    2. DISPONIBILIDADES ALIMENTARES FACE S RECOMENDAES DE UM PADRO ALIMENTAR SAUDVEL

    Entre 2000 e 2012, as disponibilidades de produtos de origem vegetal perderam importncia no total das

    disponibilidades alimentares, enquanto as disponibilidades dos produtos de origem animal se mantm

    sistematicamente acima das observadas na dcada de 90.

    Tendo em conta as disponibilidades dirias de produtos de

    origem vegetal e animal, os vegetais registaram, em mdia

    entre 2000 e 2012, uma importncia de 63,9% face ao total de

    produtos alimentares, quando na dcada de 90 essa proporo

    era de 66,1%, o que resulta numa perda de importncia dos

    produtos vegetais face aos produtos animais de 2,2 p.p. entre

    estes dois perodos. Em contrapartida, desde o incio do sculo

    XXI que as disponibilidades dos produtos alimentares de

    origem animal se situam acima das observadas na dcada de

    90.

    Em 2012, verificou-se um decrscimo generalizado das disponibilidades alimentares (-2,9%, face a 2011), pelo que esta

    relao foi atenuada (64,4% de disponibilidades dirias de produtos de origem vegetal em contraponto com 35,6% de

    disponibilidades de produtos de origem animal), dado que as disponibilidades alimentares dos produtos de origem

    animal decresceram 2,5%, enquanto as resultantes de produtos de origem vegetal aumentaram 0,5%.

    Disponibilidades de protena invertem e agravam o padro alimentar saudvel recomendado (60% de

    protenas vegetais vs 40% de protenas animais).

    A proporo entre as disponibilidades de produtos de origem

    animal e de origem vegetal torna-se particularmente

    importante quando se analisa a origem das protenas

    disponveis, j que a combinao tima para um padro

    alimentar saudvel 40% de protenas animais e 60% de

    protenas vegetais.

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    Na dcada de 90, as disponibilidades alimentares j contrariavam esta relao, invertendo-a totalmente, dado que, esta

    proporo era, em mdia, de 59,8% de protenas animais e de 40,2% de protenas vegetais.

    No perodo entre 2000 e 2008, a importncia das protenas animais foi ainda mais reforada, passando a representar

    62,5% do total da protena disponvel, face aos 37,5% da protena de origem vegetal. De 2008 a 2012, esta relao foi

    62,8% vs 37,2%, o que demonstra um afastamento progressivo da combinao tima para um padro alimentar

    saudvel.

    O aumento da importncia da protena de origem animal

    resultou no aumento da contribuio da gordura animal para

    as quantidades totais de gordura disponveis para consumo

    no perodo 2000 a 2008, face dcada de 90 (+3,2 p.p.,

    equivalente a mais 9 g de gordura).

    No quinqunio 2008-2012, calorias provenientes de gorduras saturadas excederam as recomendaes da

    Organizao Mundial de Sade em 5,1 p.p.. Disponibilidades energticas dirias de protenas e acares

    em linha com as recomendaes da OMS.

    Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS), um padro alimentar saudvel no deve exceder 10% de calorias

    provenientes de gorduras saturadas (maioritariamente de origem animal), dado que o consumo excessivo destas

    gorduras est associado ao aumento do risco de doenas dos aparelhos circulatrio e cardaco. semelhana da ltima

    edio da BAP (2003-2008), tambm entre 2008 e 2012 a proporo das calorias provenientes destas gorduras (15,1%

    em mdia) foi superior ao recomendado. De salientar, no entanto, que neste perodo, esta contribuio decresceu

    0,5 p.p..

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    Tendo em conta recomendaes da OMS no que diz respeito contribuio dos macronutrientes para o aporte calrico

    das disponibilidades alimentares, verificaram-se desvios no perodo 2008-2012 face ao recomendado e que parecem

    adquir carter estrutural, uma vez que j tinham sido diagnosticados na edio anterior da BAP.

    Considerando um padro alimentar saudvel, todos os macronutrientes tm um papel importante na satisfao das

    necessidades de energia de cada individuo, assim como ao nvel de outras funes no organismo, desde que sejam

    respeitados os valores recomendados. No caso das gorduras, de acordo com a BAP, entre 2008 e 2012, a contribuio

    para o aporte calrico das disponibilidades alimentares foi superior ao limite mximo recomendado para o consumo

    (15-30%)2, atingindo 33,9% em 2012. A contribuio dos hidratos de carbono foi 50,4% neste ano, situando-se abaixo

    do intervalo recomendado (55-75%)2. As protenas apresentaram uma contribuio energtica (12,4%) dentro do

    intervalo recomendado (10-15%)2.

    Outra questo importante relativamente ao padro alimentar saudvel a contribuio dos acares para o aporte

    calrico dirio, dado que o seu consumo excessivo pode ser prejudicial para a sade. As calorias que provm dos

    aucares so designadas por calorias vazias e com pouco interesse nutricional, dado que na sua composio no

    entram outros nutrientes, como acontece com os restantes produtos alimentares. As recomendaes da OMS indicam,

    assim, que no mximo os acares contribuam com 10% para o aporte calrico dirio. J na BAP, as calorias

    disponveis atravs dos acares, em 2012, situaram-se abaixo do limite recomendado com 8,3%.

    2 Recomendaes da Organizao Mundial de Sade (OMS) e da Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao (FAO) no mbito do

    Joint WHO/FAO Expert Consultation.

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    3. ORIGEM DAS DISPONIBILIDADES DE MACRONUTRIENTES E CALORIAS

    Em 2012, as principais fontes de protenas foram os grupos Carne, pescado e ovos com 44,2% (BAP 2003-2008,

    44,9%), Cereais, razes e tubrculos com 28,4% (BAP 2003-2008, 27,4%) e Laticnios com 14,6% (BAP 2003-2008,

    14,8%). Destes, apenas os Cereais, razes e tubrculos apresentaram uma variao positiva do contributo para as

    disponibilidades dirias per capita de protenas (+0,9%) no perodo 2008-2012.

    Entre os produtos com menor peso nas disponibilidades de protenas, destacaram-se em 2012 as bebidas alcolicas

    (0,6%) e as no alcolicas (0,1%), apesar destas ltimas apresentarem valores elevados de capitao dirias.

    Relativamente s disponibilidades dirias per capita de gordura, cerca de 62,2% resultaram, em 2012, da contribuio

    do grupo leos e gorduras (BAP 2003-2008, 60,9%), que apesar de ter uma disponibilidade diria para consumo

    menor que a maioria dos grupos representados, foi o principal fornecedor de gorduras.

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    Com menor expresso, surgem os grupos Carne, pescado e ovos com 19,0% (BAP 2003-2008, 19,5%) e Laticnios

    com 9,7% (BAP 2003-2008, 10,1%), ambos com variaes negativas, entre 2008 e 2012, da sua contribuio para as

    disponibilidades de gordura, respetivamente -6,7% e -6,0%.

    Em termos das disponibilidades dirias per capita de hidratos de carbono, o grupo dos Cereais, razes e tubrculos

    contribuiu com cerca de 62,6% para estas disponibilidades (BAP 2003-2008, 61,6%), com uma variao de 1,0% na

    sua contribuio entre 2008 e 2012. Seguiram-se os grupos dos Acares com 16,5% (BAP 2003-2008, 16,8%), dos

    Frutos com 5,5% (BAP 2003-2008, 6,3%) e dos Laticnios com 3,7% (BAP 2003-2008, 3,9%), todos com variaes

    negativas, face a 2008, na sua contribuio para as disponibilidades de hidratos de carbono, respetivamente -0,1%,

    -11,3% e -8,1%. As Bebidas no alcolicas, responsveis por 4,7% das disponibilidades deste macronutriente em

    2012 (BAP 2003-2008, 4,6%), apresentaram um acrscimo de 2,7% no perodo em anlise, assim como os Hortcolas

    com uma contribuio de 2,5% (BAP 2003-2008, 2,2%) e uma variao positiva de 5,3%.

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    Para o aporte calrico dirio per capita disponvel em 2012 contriburam principalmente os grupos Cereais, razes e

    tubrculos (36,2%), leos e gorduras (21,4%), Carne, pescado e ovos (12,0%), Acares (8,3%) e Laticnios

    (7,0%). Apenas o grupo dos Cereais, razes e tubrculos aumentou a sua contribuio energtica, entre 2008 e 2012,

    em cerca de 0,9%.

    Os grupos com menor contribuio para o aporte calrico dirio de 2012 foram Leguminosas secas com 0,8% e

    Hortcolas com 1,9%, sendo tambm os grupos que maiores variaes apresentaram na sua contribuio. O grupo

    Hortcolas, contribuiu com mais 5,7% em 2012, face a 2008, e as Leguminosas secas com menos 16,7% no mesmo

    perodo.

    4. DISPONIBILIDADES ALIMENTARES POR TIPO DE PRODUTO

    Disponibilidades de carne decresceram 5,9 kg por habitante em quatro anos e fixaram-se em

    69,8 Kg/hab/ano, o valor mais baixo desde 2006. Em 2012 e pela primeira vez, as disponibilidades de

    carne de animais de capoeira superaram as de suno.

    As quantidades totais de carne disponveis para consumo

    decresceram a uma taxa mdia anual de 1,8% entre 2008 e

    2012, sendo que, entre 2009 e 2012, esta tendncia

    acentuou-se, em mdia, 2,7% ao ano, correspondendo a

    uma reduo das disponibilidades dirias per capita absolutas

    em 16,2 g por habitante e equivalentes a menos 5,9 kg por

    habitante nestes quatro anos.

    As carnes que mais contriburam para esta evoluo negativa

    foram as carnes de bovino e de suno.

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    No caso da carne de bovino, o decrscimo ocorreu de forma sustentada no perodo em anlise, com o ano 2012 a

    representar uma disponibilidade diria de 37,0 g/hab/dia, 6,6 g inferior a 2008 e equivalente a menos 2,4 kg por

    habitante entre 2008 e 2012. Seria necessrio recuar dez anos, at 2002, para se encontrar um valor inferior a esta

    disponibilidade diria per capita, ano em que as quantidades disponveis de carne de bovino para consumo foram

    36,7 g/hab/dia.

    A carne de suno, aps um ligeiro aumento das disponibilidades para consumo em 2009 face a 2008, apresentou um

    decrscimo de 11,6% entre 2009 e 2012, equivalente a uma reduo das disponibilidades dirias em 8,5 g por

    habitante neste perodo, ou seja, menos 3,1 kg de carne por habitante em 4 anos, com 2012 a atingir uma

    disponibilidade de 64,9 g/hab/dia, a mais baixa dos ltimos 13 anos.

    A carne de animais de capoeira foi a nica a apresentar um aumento das quantidades disponveis dirias per capita

    para consumo (+6,2% entre 2008 e 2012), reforando a tendncia de aumento da procura deste tipo de carne nos

    ltimos anos. A disponibilidade diria per capita desta carne, aumentou 3,9 g/hab, o que equivale a mais 1,4 kg por

    habitante nestes cinco anos. Em 2012, e pela primeira vez desde que existem registos estatsticos da Balana Alimentar

    Portuguesa, as disponibilidades absolutas desta carne ultrapassaram as disponibilidades de carne de suno, at ento a

    carne com maior quantidade disponvel para consumo em Portugal.

    Em termos de provenincia deste produto alimentar, em

    mdia e para o perodo em anlise, 70,9% das

    disponibilidades de carne para consumo tiveram origem na

    produo nacional. Por tipo de carne, verifica-se que 85,3%

    da carne de animais de capoeira disponvel, em 2012, teve

    origem na produo nacional, assim como 57,6% da carne

    de suno e 70,4% de outras carnes (incluindo carne de

    ovino e caprino), enquanto que 47,7% da carne de bovino

    disponvel foi importada.

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    Disponibilidades de pescado para consumo diminuram 3,2 kg em cinco anos. Disponibilidades de

    bacalhau e outros peixes salgados secos aumentaram 12,5% no mesmo perodo.

    As disponibilidades dirias per capita de pescado diminuram

    13,0% entre 2008 e 2012, o que equivale a uma perda de

    8,7 g/hab nestes cinco anos (menos 3,2 kg de pescado

    disponvel para consumo per capita em 5 anos). Para esta

    tendncia contriburam os decrscimos verificados nas

    disponibilidades absolutas do peixe para consumo (-13,3%

    para o perodo 2008-2012) e de crustceos e moluscos

    (-27,2% para o mesmo perodo).

    O bacalhau e outros peixes salgados secos, que em anos anteriores tinham perdido importncia na estrutura das

    disponibilidades para consumo de pescado, registaram um aumento de 12,5% entre 2008 e 2012, na quantidade diria

    per capita disponvel para consumo, e consequentemente um aumento de 3,8 p.p. na estrutura das disponibilidades

    para consumo. Em 2012, estes produtos alimentares foram responsveis por 17,0% das disponibilidades dirias totais

    de pescado para consumo, substituindo parcialmente a perda de importncia do peixe (-0,2 p.p. na estrutura das

    disponibilidades de pescado em 2012) e dos crustceos e moluscos (-3,7 p.p.). No obstante esta perda relativa de

    importncia, as disponibilidades absolutas de peixe e crustceos e moluscos para consumo (64,1% e 18,9% em 2012,

    respetivamente), continuaram a ser superiores s do bacalhau e peixes salgados secos.

    Decrscimo de 4,0% nas disponibilidades de laticnios para consumo, em particular de leite e queijo.

    Entre 2008 e 2012, as disponibilidades dirias per capita de

    laticnios decresceram 4,0%.

    O leite, produto lcteo que representou 66,9% destas

    disponibilidades em 2012, apresentou um decrscimo de

    6,1% entre 2008 e 2011, infletindo esta tendncia em 2012

    com um aumento, ainda que tnue, das disponibilidades

    para consumo (+0,7%). Esta evoluo positiva foi suportada

    pelo acrscimo da produo nacional em 2012 (+0,9%)

    decorrente de contratos especficos entre a produo e a

    indstria de lacticnios que permitiram o escoamento do leite

    nacional.

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    Os iogurtes, o segundo produto lcteo com maiores quantidades disponveis para consumo em Portugal, foram

    responsveis por 17,6% das disponibilidades dirias per capita destes produtos em 2012, reforando a sua posio na

    estrutura das disponibilidades para consumo em 1,7 p.p. face a 2008. Apesar deste acrscimo, o comportamento das

    disponibilidades dirias para consumo foi irregular ao longo do perodo em anlise e dependente das importaes, as

    quais representaram em mdia, no mesmo perodo, cerca de 62,9% das quantidades disponveis de iogurtes para

    consumo.

    Reala-se ainda o decrscimo de 5,4% nas disponibilidades dirias de queijo para consumo per capita entre 2008 e

    2012. O diferencial foi canalizado para exportao, a qual aumentou cerca de 82,9% no perodo em anlise,

    equivalente a mais 5 mil toneladas de queijo e a cerca de 13,2% da produo nacional em 2012 (+ 6,0 p.p. face a

    2008).

    O leite em p foi o produto com maior variao negativa em termos de disponibilidades no perodo em anlise

    (-25,5%), mas com uma reduzida expresso no total das disponibilidades dos lacticnios em 2012 (1,2%).

    Disponibilidades de cereais aumentaram 2,1% ao longo do perodo em anlise, enquanto a batata

    continuou a perder importncia nas disponibilidades totais do grupo dos cereais, razes e tubrculos.

    As disponibilidades de cereais em Portugal esto fortemente dependentes da importao. No perodo em anlise, em

    mdia, 75,5% das necessidades de cereais foram suportadas pela importao.

    O perodo em anlise caracterizou-se por condies adversas a nvel climatrico, com invernos muito chuvosos que

    prejudicaram sementeiras e comprometeram a produo nacional de cereais, particularmente em 2010 e 2011. A

    produo nacional de cereais de outono/inverno atingiu um mnimo em 2010, ainda assim superior ao verificado

    aquando da seca de 2005, mas sem impacto ao nvel das disponibilidades de cereais para consumo devido

    importncia que as importaes tm no abastecimento de cereais a Portugal.

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

    13/25

    Desta forma, as disponibilidades dirias per capita de cereais

    para consumo aumentaram, de forma progressiva, 2,1% ao

    longo do perodo em anlise.

    A quantidade de trigo disponvel para consumo continuou a ser

    a mais importante no total das disponibilidades de cereais para

    consumo (71,6% em mdia para o perodo 2008-2012), e

    tambm a mais estvel, registando um crescimento mdio

    anual de 0,2% entre 2008 e 2012.

    Destaca-se a evoluo positiva das quantidades disponveis para consumo de milho (+7,1%) e do arroz (+6,7%) entre

    2008 e 2012, sendo estes cereais responsveis em 2012 por 8,2% e 15,2% do total disponvel de cereais para

    consumo. No caso do arroz, a evoluo positiva das disponibilidades resultou num total de disponibilidades dirias per

    capita de arroz branqueado de 49,3 g/hab/dia, equivalente a 18,0 kg/hab/ano.

    Apesar do milho ser o cereal com maior volume de produo em Portugal (849 mil toneladas em 2012), s uma

    pequena parte se destina a alimentao humana, j que o principal destino a alimentao animal.

    Com tendncia contrria, as disponibilidades de razes e tubrculos para consumo decresceram 5,8% entre 2008 e

    2012, reforando a tendncia das ltimas dcadas. A batata representa a quase a totalidade destes produtos, cerca de

    98,9% em 2012. Portugal tambm muito dependente das importaes de batata, as quais garantiram 62,1%, em

    mdia, das disponibilidades de batata no perodo em anlise.

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    Disponibilidades de frutos para consumo decresceram 10,6%, entre 2009 e 2012. Ma continuou a ser o

    principal fruto nas disponibilidades deste grupo alimentar, mas perdeu importncia no perodo em

    anlise.

    Em 2009 registou-se, face a 2008, um aumento de 1,3% das

    disponibilidades dirias per capita de frutos, frescos e de

    casca rija, devido a um bom ano de produo nacional. A

    partir deste ano e at 2012, o decrscimo verificado foi de

    10,6%.

    Esta situao justifica-se pelo decrscimo das importaes

    de frutos entre 2009 e 2012 (-10,1%) e pelo aumento das

    exportaes entre 2008 e 2012 (+38,4%), sendo que, em

    mdia e no perodo 2008-2012, cerca de 66,9% das

    necessidades nacionais de frutos foram asseguradas pela

    produo nacional.

    A ma continuou a ser o fruto com maiores quantidades disponveis para consumo, cerca de 26,4% da quantidade

    total de frutos disponveis em 2012, apesar de ter perdido alguma importncia (-2,0 p.p.) na estrutura das

    disponibilidades dos frutos no perodo em anlise.

    A laranja, com 17,7% do total das quantidades disponveis de frutos para consumo em 2012, reforou a sua

    importncia na estrutura das disponibilidades de frutos em 3,4 p.p., assim como a pera com mais 1,1 p.p., face a 2008,

    como consequncia do aumento das disponibilidades dirias destes frutos em, respetivamente, 12,9% e 1,4% no

    perodo em anlise.

    Em relao aos frutos secos, as disponibilidades dirias per capita para consumo diminuram cerca de 23,4% entre

    2008 e 2012, representando estes frutos apenas 3,9% do total das quantidades de frutos disponveis para consumo em

    2012.

    Aumento das disponibilidades de hortcolas para consumo no perodo em anlise

    As disponibilidades dirias per capita de hortcolas

    apresentaram uma tendncia de crescimento entre 2008 e

    2012 de 5,8%.

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    No perodo 2008-2012, 63,4% dos leos e gorduras foram provenientes de outros leos vegetais e

    outras gorduras de origem animal, como por exemplo a banha e o toucinho.

    As disponibilidades de azeite aumentaram 4,1% em 2012, face a 2008, enquanto as disponibilidades de outras

    gorduras de origem animal (incluindo banha e toucinho) e as margarinas apresentaram os maiores decrscimos no

    perodo em anlise.

    As quantidades disponveis de leos e gorduras para

    consumo aumentaram entre 2008 e 2010 cerca de 1,3%,

    perodo aps o qual decresceram 3,7%.

    Os outros leos vegetais foram o produto com maiores

    quantidades disponveis para consumo, 36,0% do total de

    leos e gorduras em 2012, seguidos de outras gorduras de

    origem animal (27,4%), azeite (19,5%), margarina (13,0%)

    e, por ltimo, manteiga (4,2%).

    As outras gorduras animais (incluindo banha e toucinho) foram as que apresentaram o maior decrscimo (-7,1%) nas

    disponibilidades dirias per capita, no perodo em anlise, decorrente da menor produo suna.

    At 2010 e face a 2008, o azeite e os outros leos vegetais aumentaram as quantidades disponveis para consumo em

    7,1% e 0,5%, respetivamente. A partir de 2010, registaram decrscimos de 2,8% e 1,8%, respetivamente. No entanto,

    o azeite ficou acima dos nveis de disponibilidades de 2008, enquanto os outros vegetais desceram abaixo desses

    nveis.

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    A margarina reforou a tendncia de decrscimo das disponibilidades para consumo dos ltimos anos, com uma

    reduo de 5,5% ao longo do perodo em anlise. No caso da manteiga, o produto com menor expresso na estrutura

    das disponibilidades para consumo deste grupo, as disponibilidades no se alteraram.

    O azeite aumentou o seu peso na estrutura das disponibilidades para consumo dos leos e gorduras em 1,2 p.p., entre

    2008 e 2012, em consequncia do aumento da produo de azeite nacional (+48,6% entre 2008 e 2011).

    Disponibilidades de produtos estimulantes aumentaram no perodo 2008-2012 (+4,0%), acrscimo

    suportado pelo aumento das disponibilidades de caf para consumo.

    Verificou-se, entre 2008 e 2012, um aumento de 4,0% das quantidades disponveis para consumo de caf e seus

    sucedneos e de cacau e chocolate. Para este aumento contriburam essencialmente o caf e seus sucedneos, com

    um acrscimo de 8,0% no mesmo perodo, dado que as quantidades absolutas de cacau e chocolate estabilizaram.

    O caf representou, entre 2009 e 2012, em mdia cerca de

    50,6% das quantidades disponveis para consumo dos

    produtos estimulantes.

    Disponibilidades anuais de vinho e cerveja para consumo decresceram entre 2008 e 2012,

    respetivamente, 7,6 l e 8,3 l.

    Em 2012, as quantidades dirias disponveis per capita de

    bebidas alcolicas para consumo foram 261,4 ml/hab/dia,

    revelando um decrscimo progressivo de 13,2%, face a

    2008. A cerveja continuou a ser a bebida alcolica com maior

    quantidade disponvel para consumo, 53,4% das quantidades

    totais disponveis para consumo destas bebidas em 2012

    (139,5 ml/hab/dia), seguida pelo vinho com 42,0% (109,9

    ml/hab/dia).

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    Todas as bebidas alcolicas registaram um decrscimo nas quantidades disponveis para consumo sendo o decrscimo

    apresentado pela cerveja o mais expressivo (-14,0%). Esta evoluo foi equivalente a uma reduo de 22,7 ml na

    disponibilidade per capita diria entre 2008 e 2012 (menos 8,3 l de cerveja por habitante de disponibilidade anual per

    capita, nestes cinco anos).

    O vinho, aumentou 5,1% em 2009, face a 2008, das quantidades disponveis para consumo dirio per capita, mas

    apresentou um decrscimo acentuado de 15,9% no perodo subsequente, equivalente a menos 20,8 ml por habitante

    na disponibilidade diria per capita, entre 2009 e 2012 (menos 7,6 l de vinho por habitante de disponibilidade anual per

    capita, nestes cinco anos).

    Destaca-se ainda a evoluo negativa acentuada das quantidades disponveis para consumo de todas as bebidas

    alcolicas de 2010 a 2012 (-14,0%). O aumento do IVA nas bebidas poder ter contribudo para este decrscimo.

    Por outro lado, o setor das bebidas alcolicas reforou a importncia no mercado externo, sendo que, entre 2010 e

    2012, as exportaes nacionais destas bebidas aumentaram 30,0%, face a um decrscimo de 22,4% das importaes

    destes produtos no mesmo perodo. As exportaes de cerveja e de vinho aumentaram respetivamente 34,7% e 26,2%

    neste perodo, sendo responsveis por 48,5% e 50,7% respetivamente do total de bebidas alcolicas exportadas em

    2012.

    Disponibilidades de bebidas no alcolicas decresceram 8,1%, entre 2010 e 2012, sobretudo ao nvel dos

    refrigerantes.

    Relativamente s bebidas no alcolicas (sumos,

    refrigerantes e guas engarrafadas), a evoluo das

    quantidades dirias disponveis para consumo per capita

    seguiu dois perodos distintos. At 2010, verificou-se um

    aumento destas disponibilidades em 14,7%, aumento esse

    generalizado a todas as bebidas no alcolicas (+13,3%,

    guas; +18,6%, refrigerantes; +3,4%, sumos). De 2010 a

    2012, as quantidades disponveis para consumo destas

    bebidas decresceram 8,1%. Este decrscimo foi maior no

    caso dos refrigerantes (-12,5%), seguidos pelos sumos

    (-6,0%) e por ltimo pelas guas engarrafadas (-5,0%). Esta

    evoluo poder justificar-se, semelhana das bebidas alcolicas, pela crise econmica e aumento do IVA.

    Apesar da evoluo negativa das disponibilidades para consumo das bebidas no alcolicas, a estrutura das

    disponibilidades de consumo manteve-se inalterada, sendo a gua engarrafada a bebida disponvel em maior

    quantidade em 2012, com 56,1% do total das disponibilidades (109,7 l/hab/ano), seguida pelos refrigerantes com

    38,0% (74,3 l/hab/ano) e pelos sumos com apenas 5,8% (11,4 l/hab/ano).

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    5. DIETA MEDITERRNICA

    Portugal est, desde dezembro de 2013, registado pela 2 vez (a primeira foi com o Fado) na lista de patrimnio da

    UNESCO, com a Dieta Mediterrnica que foi distinguida como patrimnio imaterial da humanidade, partilhada com

    Espanha, Marrocos, Itlia, Grcia, Chipre e Crocia. Considerou-se pertinente relacionar, na medida do possvel, as

    disponibilidades alimentares com o perfil alimentar da dieta mediterrnica, o que justifica a incluso desta temtica

    neste destaque.

    No obstante a definio de dieta mediterrnea no ser consensual, em parte porque este padro alimentar bastante

    heterogneo entre os pases do Mediterrneo e tambm dentro dos prprios pases, genericamente pode afirmar-se

    que o termo mediterrnico na expresso Dieta mediterrnica refere-se normalmente a um espao que integra o mar

    Mediterrneo e as terras vizinhas desta regio. A alimentao mediterrnica deve ser encarada nesta perspetiva onde a

    cultura, a geografia, o clima, a flora e a fauna concorrem para a construo de um padro alimentar tpico. Apesar de

    Portugal no ser banhado pelo Mediterrneo, partilha muitos destes traos e a alimentao tradicional tem as mesmas

    caractersticas que passam pela gesto eficiente de um conjunto de alimentos e tcnicas culinrias.

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    A definio de dieta mediterrnica teve por base os hbitos alimentares da Grcia e de Itlia dos anos 50 e 60 do

    sculo XX, contudo este padro alimentar estende-se a um vasto territrio da orla mediterrnica, que inclui pases da

    Europa Meridional, em que Portugal se integra, da sia Ocidental e do Norte de frica.

    Mais que um padro alimentar saudvel, a dieta mediterrnica traduz um estilo de vida, recorrendo simplicidade e

    variedade dos alimentos que privilegiam os produtos frescos, locais e da poca. Azeite extra-virgem, vinho tinto com

    moderao e peixe so os produtos de eleio, a que se juntam os gros de cereais, vegetais frescos, frutos secos e

    laticnios magros. Refeies partilhadas, celebraes e tradies e exerccio fsico moderado, favorecido pelo clima

    ameno, completam um modelo de vida saudvel.

    Reconhece-se que este padro alimentar, em conjunto com a prtica de exerccio fsico regular, traz benefcios sade,

    quer por ser equilibrado e diversificado, quer por garantir um aporte de macronutrientes adequado. Alm disso, fornece

    gorduras com elevado teor de cidos gordos insaturados, hidratos de carbono complexos, fibra e substncias

    antioxidantes, combinao que tem benefcios ao nvel da preveno de doenas cardiovasculares, entre outras.

    Com a alterao dos hbitos alimentares dos tempos atuais, importante verificar at que ponto o padro alimentar

    das disponibilidades alimentares para consumo apresentam uma adeso elevada ou no a esta dieta.

    No sendo ainda possvel quantificar as pores da Pirmide para se efetuar uma anlise comparativa com a Roda dos

    Alimentos, a Associao Portuguesa dos Nutricionistas recomendou, em alternativa, a anlise do Mediterranean

    Adequacy Index (MAI) (ndice de Adeso Dieta Mediterrnica) que mede o grau de adeso ao padro alimentar

    mediterrnico e que foi proposto pela primeira vez por Fidanza et al3. Este ndice resulta do quociente entre a

    percentagem de energia proveniente de grupos de alimentos tipicamente mediterrnicos pela percentagem de energia

    fornecida por grupos de alimentos designados como no mediterrnicos. Um ndice superior a 1 revela uma

    predominncia de calorias provenientes de produtos ditos mediterrnicos. Assim, quanto maior for o ndice, mais o

    padro das disponibilidades alimentares se aproxima do ideal do padro alimentar mediterrnico.

    Em Portugal, este ndice apresentou uma tendncia de

    decrscimo entre 1992 e 2006, com uma variao de -13,1%,

    evidenciando um afastamento das disponibilidades

    alimentares para consumo em relao ao padro da Dieta

    Mediterrnica. Para esta evoluo contribuiu o decrscimo em

    2,7% das calorias provenientes dos produtos da Dieta

    Mediterrnica, essencialmente Batata, e o aumento de 9,5%

    das calorias provenientes de produtos que no fazem parte

    desta dieta, em particular da carne, gorduras animais e

    alimentos ricos em acar.

    3 - Alberti A., Fruttini D., Fidanza F. (2009) - The Mediterranean Adequacy Index: Further confirming results of validity. Nutrition, Metabolism & Cardiovascular Diseases (2009) 19, 61-66.

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    S a partir de 2006 se verificou uma inverso de tendncia, que se traduziu nalguma recuperao, atingindo o valor de

    1,10 em 2012, mas ainda longe dos valores alcanados no incio da dcada de 90. Esta inflexo foi promovida pelo

    aumento de 2,5% das calorias provenientes dos produtos tpicos da Dieta Mediterrnica, principalmente dos cereais,

    hortcolas e azeite, e pelo decrscimo em 2,3% das calorias provenientes dos restantes produtos, nomeadamente dos

    laticnios, das carnes, das gorduras animais e das bebidas alcolicas (excluindo vinho).

    Comparando os ndices de adeso dieta mediterrnica dos

    diferentes territrios da Europa, entre 1990 e 2009 (ltimo

    ano disponvel na Organizao das Naes Unidas para a

    Alimentao e a Agricultura - FAO), verifica-se, como seria

    expectvel, que os valores mais elevados do ndice se

    encontram na Europa do Sul, ou seja, entre os pases da orla

    mediterrnica. Ainda assim, o ndice da Europa do Sul

    apresentou um decrscimo de 9,6% entre 1990 e 2005,

    refletindo um perda em termos da adeso destes pases ao

    padro da dieta mediterrnica. Entre 2005 e 2009, apesar de

    pouco expressivo, o ndice apresentou uma variao positiva

    (+3,6%).

    Na Europa do Leste, entre 1990 e 1997, o ndice de adeso neste territrio aumentou 23,8%, decrescendo

    posteriormente, at 2008 (-13,8%), o que determina um afastamento do padro da dieta mediterrnica e que poder

    estar em parte relacionado com o impacto da democratizao que atingiu vrios pases do Leste Europeu e que levou a

    uma maior ocidentalizao dos costumes, nomeadamente dos hbitos alimentares.

    Os valores mais baixos do ndice de adeso verificaram-se na Europa do Norte e Ocidental, mas, no perodo em anlise,

    o ndice da Europa do Norte aumentou 21,1%, enquanto o da Europa Ocidental se manteve estvel entre 1990 e 1997

    e com um acrscimo de 13,4% entre 1997 e 2006. De referir que ambos os territrios apresentam ndices inferiores a

    1, entre 1990 e 2009, o que significa que os produtos que no so tpicos do padro alimentar mediterrnico

    predominam sobre os que fazem parte desta dieta.

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    Considerando os Estados Membros da Unio Europeia, observa-se que os pases com o maior ndice de adeso dieta

    mediterrnica em 1990 eram a Grcia, Litunia, Itlia, Estnia, Espanha, Romnia e, em stimo lugar, Portugal.

    Em 1990, a Grcia surgia com o maior ndice de adeso, em contraponto, os Pases Baixos eram o pas com o menor

    ndice, correspondente a um valor inferior a 0,5, posies relativas que mantiveram em 2009.

    Em termos de evoluo, verificou-se uma tendncia para que, em termos mdios, os pases com maior ndice em 1990,

    (acima de 1) tivessem apresentado em 2009 valores inferiores a 1990. Por sua vez, os pases com ndices de adeso

    mais baixos em 1990, apresentaram acrscimos nos seus ndices de adeso dieta mediterrnica.

    As maiores descidas em termos da posio relativa, no conjunto dos pases europeus, verificaram-se no Chipre

    (4 posies), Litunia (7 posies), Alemanha e Letnia (8 posies). Por sua vez, as maiores subidas ocorreram na

    Irlanda (8 posies), Luxemburgo (7 posies), Polnia e Malta (6 posies). Os pases que apresentavam em 1990

    ndices de adeso dieta mediterrnica mais elevados, com exceo da Litunia, mantiveram posies relativas nas 6

    primeiras posies, nomeadamente a Grcia, a Itlia, Romnia, Espanha, Eslovnia e Portugal.

    O INE expressa os seus agradecimentos ao Instituto Nacional de Sade Dr. Ricardo Jorge e Associao Portuguesa

    dos Nutricionistas pela colaborao prestada neste projeto estatstico.

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    Notas explicativas

    BALANA ALIMENTAR PORTUGUESA (BAP)

    Projeto de divulgao quinquenal que tem como perodo de observao o ano civil e que, em termos de campo

    de observao, integra todos os produtos da agricultura, pescas e indstria alimentar, cuja principal aptido

    seja a alimentao humana, sistematizados na classificao para efeitos de balana alimentar portuguesa.

    O clculo das disponibilidades alimentares de cada um dos grupos de produtos alimentares e bebidas

    estabelece-se com base em equilbrios entre recursos e empregos a nvel to desagregado quanto possvel,

    sendo traduzidos em termos de parte edvel e posteriormente em macronutrientes (protenas, gorduras,

    hidratos de carbono, lcool) e calorias, considerando para o efeito a Tabela de Composio dos Alimentos,

    elaborada em conjunto com o Instituto Nacional de Sade Dr. Ricardo Jorge para efeitos da Balana Alimentar

    Portuguesa 1980-1992 e atualizada nas edies posteriores da Balana.

    Os dados relativos a disponibilidades alimentares da BAP incluem as quantidades disponveis de produtos

    alimentares e bebidas para consumo dos residentes em Portugal, quer seja a nvel dos alojamentos familiares

    quer fora dos alojamentos (restaurao, cantinas, hospitais, prises, etc.).

    Disponibilidades alimentares = Produo + Importao - Exportao - Sementeira/Ovos para Incubao - Alimentao

    animal - Utilizao Industrial - Transformao industrial - Perdas - Variao de existncias.

    Aporte calrico das disponibilidades alimentares - contedo energtico, expresso em calorias, das disponibilidades

    alimentares (inclui produtos alimentares e bebidas).

    Os dados da BAP relativos a 2008 foram revistos face edio anterior (2003-2008), por se tratar de informao

    provisria.

    INQURITO S DESPESAS DAS FAMLIAS (IDEF)

    O IDEF um inqurito realizado por entrevista direta presencial junto de uma amostra aleatria representativa

    de cerca de 16 800 alojamentos localizados em todo o Pas, prevendo-se atualmente a sua realizao de cinco

    em cinco anos. So recolhidos dados sobre a caracterizao dos alojamentos e os bens de conforto e

    equipamentos neles existentes, sobre o tipo e o valor das receitas monetrias dos membros dos agregados

    familiares, sobre as despesas dirias efetuadas pelos agregados na respetiva quinzena de inquirio e, de uma

    forma retrospetiva, sobre as despesas do agregado cuja probabilidade de realizao superior quinzena. Os

    dados sobre despesas incluem quantidades, valores, bem como o tipo de estabelecimento e pas onde foi

    realizada a aquisio. A classificao e codificao das despesas de consumo utilizam a Classificao

    Internacional do Consumo Individual por Objetivos (COICOP-HBS).

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    Os dados recolhidos permitem uma aproximao dieta alimentar dos residentes em Portugal atravs do

    estudo das quantidades de bens alimentares adquiridas.

    1. Para a comparao entre as disponibilidades alimentares em Portugal calculadas a partir da BAP e as

    quantidades brutas consumidas pelos residentes em Portugal obtidas a partir do IDEF, procedeu-se ao

    tratamento dos dados do IDEF para converso dos produtos transformados em produtos primrios

    correspondentes, semelhana do que feito na BAP (ex.: converso de po em cereal gro). A estimativa

    dessas quantidades em parte edvel e em macronutrientes foi efetuada aplicando a metodologia da BAP.

    2. Para o clculo da correlao entre as quantidades disponveis alimentares e das bebidas para consumo da

    BAP e as quantidades estimadas de consumo alimentar e de bebidas tendo por base os dados do IDEF,

    utilizou-se o coeficiente de correlao Spearman, ou rank correlation, calculado pela seguinte expresso:

    Onde di a diferena entre os nmeros de ordem das observaes xi e yi, isto , di=n de ordem de xi - n de

    ordem de yi. O coeficiente de correlao rs adimensional e situa-se no intervalo -1 r 1.

    Para o efeito, consideraram-se as disponibilidades dirias e consumos dirios (g/hab/dia) para 16 grupos de

    alimentos (cereais, razes e tubrculos, frutos frescos, frutos secos, leguminosas secas, hortcolas, carne,

    pescado, ovos, laticnios, leos e gorduras, acar, bebidas alcolicas, refrigerantes, sumos de fruta, guas) e

    para os macronutrientes protenas, hidratos de carbono e gorduras.

    No obstante os coeficientes de correlao entre a BAP (disponibilidades alimentares) e o Inqurito s

    Despesas das Famlias - IDEF que pretende caracterizar o padro do consumo alimentar, apresentarem nos

    perodos de referncia comuns (2005 e 2010) correlaes consistentemente positivas, elevadas e

    estatisticamente significativas (o clculo atravs do coeficiente de correlao de Spierman apresentou uma

    correlao de 0,8809 em 2005 e 0,8824 em 2010), as diferenas de mbito e ao nvel das definies

    recomendam que a anlise entre as duas fontes no seja diretamente comparvel, mas utilizadas

    complementarmente.

  • Balana Alimentar Portuguesa - 2008-2012

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    NDICE DE ADESO DIETA MEDITERRNICA

    Este ndice corresponde proporo entre as calorias fornecidas (kcal/hab/dia) pelo total dos produtos que

    fazem parte da Dieta Mediterrnica e as calorias fornecidas pelos produtos que so menos frequentes nesta

    dieta.

    O ndice calculado teve por base o ndice Mediterranean Adequacy Index4, considerando os seguintes

    produtos:

    Produtos tpicos de uma dieta mediterrnica - cereais, batata, hortcolas, frutos, pescado, azeite e vinho.

    Produtos que no fazem parte de uma dieta mediterrnica, ou presentes em quantidades menores - carne,

    ovos, laticnios, leos vegetais (excluindo o azeite), produtos ricos em acar, produtos estimulantes, bebidas

    alcolicas (exceto vinho) e gorduras animais.

    4 - Alberti A., Fruttini D., Fidanza F. - The Mediterranean Adequacy Index: Further confirming results of validity. Nutrition, Metabolism &

    Cardiovascular Diseases (2009) 19, 61-66.