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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE AGROTECNOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS
JULIETE CLÉBIA DE SOUZA
EVIDENCIAÇÃO DE ITENS AMBIENTAIS VERSUS INDICADORES DE ENDIVIDAMENTO: um estudo em empresas da BM&FBOVESPA
MOSSORÓ-RN 2013
JULIETE CLÉBIA DE SOUZA
EVIDENCIAÇÃO DE ITENS AMBIENTAIS VERSUS INDICADORES DE ENDIVIDAMENTO: um estudo em empresas da BM&FBOVESPA
Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), Campus Central, para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis.
Orientadora: Prof.ª MSc.Thaiseany de Freitas Rêgo (UFERSA)
MOSSORÓ-RN 2013
Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e catalogação
da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA S719e Souza, Juliete Clebia de.
Evidenciação de itens ambientais versus indicadores de endividamento: um estudo em empresas de BM&FBOVESPA / Juliete Clebia de Souza. – Mossoró, RN: 2013.
56f. : il.
Orientador: Profª. MSc. Thaiseany de Freitas Rêgo.
Graduação (Monografia) – Universidade Federal Rural do
Semi-Árido, Graduação em Ciências Contábeis, 2013.
1. Contabilidade ambiental. 2. Responsabilidade ambiente. 3.
Indicador de Endividamento. 4. Mercado financeiro. I. Título.
CDD: 332.6 Bibliotecária: Marilene Santos de Araújo
CRB-5/1033
À pessoa que mais admiro neste mundo, Cleide Marinheiro de Souza, por ser exemplo de amor e compreensão, por ser aquela que sempre traz um incentivo, por acreditar em mim mais que qualquer outra pessoa, pelas noites em claro, pelos cuidados e pela paciência destinada há
mim nos dias mais difíceis da realização deste trabalho. À senhora dedico esta conquista, minha mãe, meu amor.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço ao meu Deus por ser minha fonte de força e perseverança.
Agradeço ainda aos meus pais, Juarez e Cleide, por confiarem e acreditarem em mim
sempre, por permanecerem ao meu lado nos dias tristes e alegres.
Aos meus tios, Marinilsom e Marivaldo por anos sendo meus pais e meus educadores.
Às minhas tias, Lucineide e Marineide por me acompanharem em tudo o que faço. Ao meu
afilhado, Rodolfo por me ensinar que a desistência não é uma opção. Á minha vó, Luzimar
pelos cuidados e preocupações de todos os dias. Á toda minha família, pelo carinho, apoio e
cuidado.
À Simeão Júnior, pelos finais de semana cedidos para a conclusão desta conquista.
À professora Thaiseany pelo auxílio, paciência, orientação e amizade, indispensáveis
para a conclusão deste trabalho.
Agradeço também a todos os professores que me proporcionaram um mundo de novos
conhecimentos ao logo deste percurso, em especial para Álvaro e Erivando Júnior.
À Mário César, pelos ensinamentos passados dentro e fora da Universidade.
Aos amigos que estiveram comigo nessa jornada, me compreenderam e apoiaram nos
momentos mais difíceis. Em especial a Vanessa, Thattylla, Daniela, Junifran e Luis Claudio.
RESUMO
O propósito desse estudo consistiu em analisar como o índice de evidenciação ambiental é impactado pelos indicadores de endividamento das empresas, que estabelecem relações diretas com o meio ambiente e possuem ações negociadas na BM&FBOVESPA, entre os anos de 2008 e 2012. Para tanto, se utilizou das propostas de evidenciação de itens ambientais discutidas na Resolução CFC n.º 1.003/2004, no CPC 29/2009, bem como as proposições contidas entre os aspectos teóricos da Contabilidade ambiental, para a determinação dos parâmetros para a construção do índice de evidenciação ambiental. Nessa perspectiva, foram analisadas as demonstrações contábeis obrigatórias (BP e DRE), bem como as NE e RA, além do relatório de publicação voluntária (RS). As informações extraídas desses documentos foram utilizadas para a composição do índice de evidenciação. Paralelamente, foi realizada a coleta das informações para a determinação dos indicadores de endividamento e variáveis de controle, para auxiliar no poder explicativo das variáveis. A técnica estatística utilizada para isso foram os dados em painel, rodados no software Gretl. O estudo aponta que o RS é o instrumento de evidenciação mais utilizado para tratar das relações das empresas com o meio ambiente e que os ativos ambientais (bens e diretos) são tratados com mais atenção. Além disso, constatou-se que 75,83% do nível de evidenciação ambiental são explicados pelos indicadores de endividamento CT/CP e IRP.
Palavras-chave: Evidenciação. Meio ambiente. Endividamento.
Área temática: Contabilidade ambiental e responsabilidade social.
ABSTRACT
The purpose of this study consisted of analyze how the environmental disclosure index is impacted by indicators of indebtedness, which establish direct relationships with the environment and have shares traded on the BM & FBOVESPA, between the years 2008 and 2012. For this, we used the proposed disclosure of environmental items discussed in CFC Resolution. nº 1.003/2004, the CPC 29/2009, as well as the propositions contained between the theoretical aspects of environmental accounting, to determine the parameters for building index of environmental disclosure. In this perspective, we analyzed the accounting statements required (BP and DRE), as well as the NE and RA, and the report of voluntary disclosure (RS). The information extracted from these documents were used for the index of disclosure. In parallel, we collected the information for the determination of debt ratios and control variables, to assist in the explanatory power of the variables. The statistical technique used for this were panel data, run the software Gretl. The study indicates that the RS is the disclosure instrument more used for dealing with business relationships with the environment and environmental assets (property and rights) are treated with more attention. Furthermore, was found that 75.83% of the level of environmental disclosure are explained by indebtedness indicators CT/CP and IRP.
Keywords: Disclosure. Environmental. Indebtedness.
LISTAS
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Divisão das empresas rurais .................................................................................... 18
Quadro 2: Demonstrações contábeis ........................................................................................ 28
Quadro 3: Relatórios contábeis................................................................................................. 29
Quadro 4: Classificação dos danos ambientais......................................................................... 31
Quadro 5: Itens ambientais ....................................................................................................... 31
Quadro 6: Obrigações do Passivo Ambiental ........................................................................... 32
Quadro 7: Indicadores de endividamento ................................................................................. 36
Quadro 8: Recomendações para evidenciação de itens ambientais .......................................... 39
Quadro 9: Empresas que estabelecem ações diretas com o meio ambiente ............................. 41
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Aderência a proposta de evidenciação de itens ambientais – Agricultura .............. 43
Gráfico 2: Aderência a proposta de evidenciação de itens ambientais – Madeira ................... 44
Gráfico 3: Indicadores de endividamento – Agricultura .......................................................... 46
Gráfico 4: Indicadores de endividamento – Madeira ............................................................... 47
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Aderência a proposta de evidenciação de itens ambientais – Papel e celulose ........ 45
Tabela 2: Indicadores de endividamento – Papel e celulose .................................................... 49
Tabela 3: Modelos estimados com efeitos fixos (variável dependente: índice de evidenciação
ambiental) ................................................................................................................................. 50
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11
1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E PROBLEMÁTICA ........................................................ 12
1.2 HIPÓTESES DE ESTUDO .............................................................................................. 14
1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 14
1.3.1 Objetivo geral .............................................................................................................. 14
1.3.2 Objetivos específicos ................................................................................................... 14
1.4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................ 17
2.1 AGRONEGÓCIO ............................................................................................................. 17
2.1.1 Conceitos e dimensões do Agronegócio ..................................................................... 19
2.1.2 Contabilidade do Agronegócio .................................................................................. 22
2.2 EVIDENCIAÇÃO CONTÁBIL ....................................................................................... 24
2.2.1 Relatórios empresariais .............................................................................................. 28
2.2.2 Itens ambientais .......................................................................................................... 30
2.3 INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS .......................................................... 35
2.3.1 Indicadores de endividamento ................................................................................... 36
3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 38
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ................................................................................ 38
3.2 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS.............................. 39
3.3 UNIVERSO E AMOSTRA .............................................................................................. 40
3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................................. 41
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................... 43
4.1 DESCRIÇÃO DOS DADOS ............................................................................................ 43
4.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................... 49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES .................................................. 53
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 54
APÊNDICE A– Instrumento de coleta ................................................................................. 57
11
1 INTRODUÇÃO
As atividades agrícolas inicialmente foram desenvolvidas de forma simples, sendo
eminentemente de subsistência, momento em que a natureza era a principal provedora de
alimentos para consumo. Com o passar dos séculos, as comunidades sedentárias foram se
transformando, passando a adotar técnicas mais sofisticadas de plantio, colheita e criação de
animais (ARAÚJO, 2005). As atividades produtoras passaram, então, a se intensificar,
assumindo um papel econômico e social mais forte, voltado ao desenvolvimento de atividades
agroindustriais.
A economia brasileira está interligada ao setor do Agronegócio desde as suas
primeiras relações comerciais, datadas no período colonial. As transações envolviam a
exportação do Pau-brasil, cana-de-açúcar, cultivo de algodão e café. O cultivo do café
destacou-se em razão da estabilidade financeira proporcionada ao país (ANDRADE, 2009).
O desenvolvimento do Brasil foi fortemente influenciado pelas atividades agrícolas,
sendo as plantações adaptadas às necessidades e disponibilidades de cultivo de cada região.
Destaca-se que na região Nordeste desenvolveu-se com o cultivo da cana-de-açúcar, enquanto
que na região Norte destacou-se a extração da borracha. No Centro-Oeste o foco voltou-se
para a criação de gado. Já nas regiões do Sul e Sudeste, em função solo fértil, predominou o
cultivo do café (ARAÚJO, 2005).
Considerando os fatos enumerados, destaca-se que os mesmos não fazem parte de um
passado distante e que a existência de um modelo de produção diferenciado possibilitou a
geração de recursos. Esses recursos condicionaram às possibilidades de aquisição de produtos
complementares as necessidades dos indivíduos, tais como: sal, querosene e temperos.
Destarte, as entidades pesquisadas são compreendidas como empreendimentos que atuam na
atividade de Agronegócio, envolvendo produtos agrícolas e pesquisas biotecnológicas, assim
as atividades de produção agrícola e pecuária da época colonial impulsionaram o país a se
enquadrar em um cenário econômico diferenciado, além de alcançar maior valor no mercado
internacional (ARAÚJO, 2005).
Destaca-se que mesmo com resultados positivos nos últimos dez anos, representado
por um registro de crescimento de 270% em volume nas exportações do Agronegócio. O ex-
ministro da Agricultura, Wagner Rossi, comenta que esse crescimento só tende a aumentar,
tendo em vista a situação econômica alcançada (EXAME, 2011). Apesar disso, os avanços
nas práticas de gestão e gerenciamento da atividade do Agronegócio, ainda são considerados
arcaicos, alicerçados predominantemente no conhecimento operacional das atividades.
12
As ferramentas contábeis aplicadas às atividades rurais podem ser consideradas como
uma diretriz que permite alcançar resultados satisfatórios. Tal fato estimula o empreendedor
rural e o profissional contábil, se colocar como agente transformador junto às atividades de
gerenciamento do Agronegócio. Crepaldi (2011) aponta que cabe ao profissional da área
contábil demonstrar o quanto suas ações podem contribuir no processamento de informações
e agregar conhecimento ao desempenho organizacional.
Com o intuito de auxiliar aos usuários no processo de tomada de decisões, o
profissional da área contábil se utiliza da evidenciação de informações patrimoniais,
econômicas, financeiras, sociais e ambientais nas demonstrações e relatórios empresariais
(TINOCO; KRAEMER, 2008). Todas as informações relevantes para a tomada de decisão
precisam ser evidenciadas de forma coerentes com as necessidades dos usuários, seja
mediante ferramentas de cunho obrigatório ou empresariais. Apesar disso, há um problema no
que diz respeito à omissão de informações sobre o endividamento das entidades.
Considerando isso, destaca-se que o problema reside na existência de falhas
decorrentes do processo de seleção dos itens a serem evidenciados, principalmente quando se
trata de organizações que realizam atividades na área de Agronegócio. O fato é que
praticamente todas as ações concernentes a referida área relacionam-se direta ou
indiretamente com os fatores ambientais, o que torna a publicação das estratégias ambientais
algo essencial. A evidenciação de itens ambientais, por parte das organizações agroindustriais,
requer o desenvolvimento de ações ambientais coerentes com a responsabilidade
socioambiental (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2011).
1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E PROBLEMÁTICA
Albuquerque e Oliveira (2011) apontam que atualmente o cenário socioeconômico do
Agronegócio respalda-se no respeito da gestão ambiental e no gerenciamento dos fatores
ambientais de produção. Isso recai sobre a compreensão do meio ambiente como um fator de
produção, capaz de fornecer os insumos necessários para a geração de novos produtos e
serviços. O que é justificado pela forte relação percebida entre a atividade agroindustrial e os
componentes naturais, tais como: solo, água, vegetação, energia solar entre tantos outros. A
contabilidade como ferramenta de auxilio a tomada de decisão, permite com os eventos
ambientais possam ser registrados e percebidos como elementos de gestão.
A contabilidade possui como objeto de estudo o patrimônio, preocupando-se
essencialmente com as suas variações. Dentre as principais variações que chamam a atenção
13
dos gestores, destacam-se as relações existentes nos atos de compra e venda de produtos, ou
prestação de serviços, e seu impacto no resultado econômico e financeiro das empresas. As
informações relacionadas aos eventos contábeis são importantes e a evidenciação (disclosure)
desses elementos, possibilita aos potenciais usuários e tomadores de decisão, o acesso às
informações contábeis (PEREIRA; SILVA, 2002).
Segundo Hendriksen e Van Breda (1999, p. 103), “a consistência da divulgação é mais
importante do que a consistência de procedimentos”. Desse modo, é por meio da evidenciação
que se permite sanar possíveis dúvidas quanto aos procedimentos adotados pelas empresas.
Tal processo retrata acontecimentos significativos, modificações relevantes, tipos de contratos
estabelecidos, dentre outros.
Corroborando com esse entendimento, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis
(CPC), emitiu o CPC n.° 26/2010, que trata sobre a apresentação de informações
empresariais. Esse instrumento contempla elementos relacionados às políticas contábeis e
questões voltadas ao atendimento das características qualitativas da informação. Tomando por
base os conceitos anteriormente citados, compreende-se que é por meio de documentos úteis,
que os usuários podem avaliar a situação econômico-financeira da empresa, a curto e longo
prazo.
A Lei n.º 6.404/1976, em seu art. 176, aponta que ao término de cada exercício social,
a organização precisa elaborar demonstrações contábeis que possam auxiliar na analise
econômico-financeira dos usuários da informação. Tal perspectiva foi reforçada pela Lei n.°
11.638/2007, ferramenta essa que propicia a convergência das demonstrações contábeis
nacionais, aos parâmetros internacionais. Almeida e Freitag (2009) comentam que
paralelamente a essas Leis, foi constituída a Deliberação n.° 488/2005, emitida pela Comissão
de Valores Mobiliários (CVM), e constituídas algumas Normas Brasileiras de Contabilidade
Técnica (NBCT), discutidas e emitidas tanto pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC),
como pelo CPC.
Considerando isso, destaca-se que com o crescimento das empresas e do número de
conglomerados oriundos dos processos de fusão, as informações evidenciadas são utilizadas
como uma ferramenta de apoio a decisão (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Desse
modo, com o intuito de garantir a legalidade das informações evidenciadas, os órgãos
regulamentadores tem se esforçado, no sentido de delimitar o que deve ser tratado nos
relatórios empresariais (ALMEIDA; FREITAG, 2009). Ante ao exposto, o presente estudo
busca responder ao seguinte questionamento: “Como o índice de evidenciação ambiental é
impactado pelos indicadores de endividamento das empresas, que estabelecem relações
14
diretas com o meio ambiente e possuem ações negociadas na BM&FBOVESPA, entre os
anos de 2008 e 2012?”
1.2 HIPÓTESES DE ESTUDO
Considerando as informações enumeradas, apresentam-se as seguintes hipóteses de
estudo:
� Hipótese nula (H0): O nível de evidenciação de itens ambientais é explicado pelos
indicadores de endividamento.
� Hipótese alternativa (H1): O nível de evidenciação de itens ambientais não é
explicado pelos indicadores de endividamento.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo geral
Analisar como o índice de evidenciação ambiental é impactado pelos indicadores de
endividamento das empresas, que estabelecem relações diretas com o meio ambiente e
possuem ações negociadas na BM&FBOVESPA, entre os anos de 2008 e 2012.
1.3.2 Objetivos específicos
� Examinar o que as empresas do setor do agronegócio evidenciam em termos de
itens ambientais;
� Compor o índice de evidenciação dos elementos de preservação ambiental das
empresas estudadas;
� Mensurar o endividamento das empresas agroindustriais, para determinação do
desempenho das empresas estudadas;
� Averiguar como o nível de evidenciação dos elementos de preservação ambiental
influencia no endividamento das empresas;
� Prever qual o comportamento do nível de evidenciação dos elementos de
preservação ambiental em relação ao endividamento das empresas.
15
1.4 JUSTIFICATIVA
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2012), o
segmento de Agronegócio é o responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB)
Brasileiro. O referido setor abarca 37% dos empregos gerados no país, exportando produtos
como: sucos, açúcar, álcool, café, soja, carne bovina, couro e peças de couro. O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013), apontam que no primeiro trimestre de
2013 a economia brasileira cresceu 0,6%. Esse crescimento tem se apresentado abaixo do
esperado, apesar dos avanços da agropecuária, cuja maior alta ocorreu em 1998 (9,7%), como
consumo de grãos.
Em se tratando do ingresso do Agronegócio brasileiro no mercado internacional,
observam-se algumas fragilidades relacionadas à conscientização da sociedade quanto ao
potencial do setor e a compreensão das ações pertinentes à estruturação das redes de
informações e do sistema agroindustrial brasileiro (CALLADO; MORAES FILHO, 2011).
Destaca-se ainda, que essas informações contábeis são importantes no processo de tomada de
decisão, uma vez que a imprecisão de uma determinada informação pode comprometer
diversos setores.
Considerando que a evidenciação contábil propicia às condições mínimas necessárias
a tomada de decisão, Callado e Morais Filho (2011) comentam que os profissionais que atuam
na preparação das demonstrações e relatórios empresariais precisam ser coerentes e
responsáveis quando selecionam as informações que serão divulgadas. Nesse contexto,
Crepaldi (2011) ilustra que um dos maiores problemas concernentes a desenvolvimento do
Agronegócio, reside na indisponibilidade de informações sobre o gerenciamento da atividade.
Tal fato requer do profissional contábil, auxílio nas questões práticas inerentes ao resultado
econômico, financeiro e patrimonial.
Os esforços pertinentes às atividades do Agronegócio não estão diretamente voltados à
formação do preço de venda. Desse modo, dependendo do porte da entidade, existem
situações relacionadas ao desenvolvimento empresarial. A contabilidade aplicada às
atividades de Agronegócio tem possibilitado aos gestores o acesso a informações econômicas
e financeiras sobre a atividade que executam. Apesar disso, os dados fornecidos pela
contabilidade nem sempre interferem nos seus resultados, o que revela a necessidade de se ter
um profissional contábil que discipline os eventos empresariais.
A contabilidade é definida por Atkinson et al. (2000 apud OLIVEIRA, 2010, p. 101)
como “processo de identificar, mensurar, reportar e analisar informações sobre os eventos
16
econômicos das empresas”. As empresas rurais se utilizam de diversos relatórios empresariais
durante o processo de tomada de decisão, com destaque aos que apresentam informações
concernentes as despesas da safra, cálculos de custos por hectare plantado, custos dos
bezerros nascidos por período, dentre outros.
O MAPA (2012) realizou recentemente um estudo com base na safra de 2011/2012,
com a finalidade de projetar para 2021/2022, como se configuraria o Agronegócio no longo
prazo, considerando o cenário econômico. No estudo, mapeou-se o nível de crescimento das
atividades Agrícolas de acordo com a região, o que apontou a continuidade do Estado do Rio
Grande do Sul no topo da produção de arroz (64,5%) e com previsão de aumento para
aproximadamente 27%, nos próximos dez anos. Além disso, estima-se que em 2022 a
produção de soja, um dos produtos mais exportados pelo Brasil, aumente 20% em termos de
área e produção no Mato Grosso. Considerando isso, destaca-se que esses Estados são sedes
das empresas de capital que foram abordadas nesse estudo.
Com base nesses dados, percebe-se um expressivo aumento no volume de atividades
no setor do Agronegócio, o que demanda mão-de-obra qualificada para a atuação direta no
campo e em questões decisórias. Outro ponto interessante é que esse setor movimentou o
mercado de capitais em 2012 com negociações em torno de R$ 1,78 trilhão, o que aponta uma
média diária de movimentações superiores a R$ 700 milhões (BM&FBOVESPA, 2012).
Corroborando com esse crescimento, o Governo Federal lançou em março de 2013, o Plano
Inova, que destina R$ 39,2 bilhões em recursos para investimentos em projetos de setores
diversos, como o agrícola (PORTAL BRASIL, 2013).
17
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Aqui serão discutidos alguns conceitos sobre a atividade de Agronegócio,
principalmente quanto à aplicação da contabilidade como ferramenta de auxílio ao processo
de tomada de decisão. Aborda-se ainda sobre a importância da evidenciação contábil para as
empresas do Agronegócio e seu papel socioambiental. Por fim, discute-se sobre a importância
da informação, para a definição de indicadores de desempenho e análise do desempenho
organizacional.
2.1 AGRONEGÓCIO
Contemporaneamente, a atividade de agronegócio configura-se como um ramo que
envolve muito mais que procedimentos rurais para a obtenção de produtos naturais. Tal fato
se dá em razão das peculiaridades percebidas e das necessidades distintas em relação a outros
tipos de empresas atuantes no mercado nacional e internacional. Isso acaba sendo confirmado
pelas práticas agrícolas desenvolvidas pelos empreendedores rurais e os tipos de relações
comerciais estabelecidas no mercado (CREPALDI, 2011).
Deste modo, nos últimos anos, o complexo agroindustrial tem alavancado a economia
brasileira, o que se reflete em seu crescimento econômico a nível mundial. O fato é que há
muito deixou de ser uma atividade exclusivamente rural e passou a ter uma capacidade
produtiva em larga escala. Segundo Callado e Callado (2011), a atmosfera socioeconômica da
Agroindústria tem se tornando cada vez mais complexa e diversificada, fator esse que
impediu que os estabelecimentos campestres continuassem isolados.
Callado e Callado (2011) apontam que foi com o estudo do ambiente rural que os
profissionais da área de negócios passaram a considerar sua atuação, sob a perspectiva de
Agronegócio. Por sua vez, somente com o reconhecimento da necessidade de investigação do
setor, que se pôde compreender a sua complexidade. A mesma, atrelada ao desenvolvimento
econômico tem estimulado a aplicação de conceitos sistêmicos sobre o Agronegócio.
As relações entre o campo e a cidade, conduziram a agricultura a um estágio que
ultrapassa os limites das propriedades produtoras. Tal fato tem revelado a necessidade de
modernização e mecanização, voltadas à produtividade em larga escala e a qualidade dos
produtos. Esses elementos submetem a atividade de Agronegócio em um conceito de sistema,
que para Mendes e Padilha Júnior (2007), ocorre de maneira distinta e correlacionada, ou seja,
suas atividades podem ou não estarem integradas, como ilustrado no Quadro 1.
18
Quadro 1: Divisão das empresas rurais
ATIVIDADE AGRÍCOLA ATIVIDADE ZOOTÉCNICA ATIVIDADE AGROINDUSTRIAL
Culturas hortícola e forrageira Apicultura e avicultura Agroindústrias não alimentares
Arboricultura Pecuária dentre outros Agroindústrias alimentares
Fonte: Adaptado de Marion (2006, p. 24).
Segundo Bastos (2011) a atividade de Agronegócio representa um setor-chave para a
economia brasileira, e a profissionalização de seus colaboradores se torna um fator
importante, em face da crescente competitividade mercadológica. Contudo, é por meio da
busca por profissionais preparados para a atuação profissional e gerenciamento das políticas
empresariais, que a contabilidade se enquadra. Os relatórios produzidos pela contabilidade
representam instrumentos que revelam a situação empresarial.
Nesse contexto, destaca-se que as atividades desenvolvidas pelas agroindústrias
caminham no mesmo sentido das demais empresas participantes do cenário econômico,
apesar das dificuldades enfrentadas com as oscilações próprias do setor agrícola. Dentre essas
dificuldades, Crepaldi (2011) aponta a questão da:
� Influência do clima: condiciona diretamente as atividades agrícolas determinando
época para plantio, colheita e escolha do que será produzido;
� Interligação entre o tempo de produção e o tempo de trabalho: no agronegócio o
tempo para alcance do produto final não é o mesmo da mão-de-obra visto que
algumas fases produtivas não necessitam de trabalho físico;
� Estar sujeito às condições biológicas: o ciclo produtivo na agroindústria mesmo que
seja interrompido ou acelerado ainda é dependente das condições biológicas;
� Terra como participante produtivo: a terra no agronegócio não é apenas um espaço
onde se estabelece as atividades de produção, está diretamente ligada ao processo e,
portanto são necessários estudos e análises na mesma;
� Paralização na produção: no setor agrícola a realização de uma atividade independe
da outra, sendo visto positivamente pela gestão, pois para que se execute uma tarefa
não se para outra. Por outro lado o fato da maior parte do trabalho ser realizada ao
ar livre está sujeita às paradas em decorrência de frio, chuvas ou mesmo o calor
excessivo;
19
� Incidência de riscos: o agronegócio também está exposto a riscos, porém estes vão
além das flutuações de preços, os perigos pode ser causados por fenômenos da
natureza muitas vezes não controláveis;
� Competitividade econômica: no ramo agrícola há pouca diferenciação entre os
produtos, há uma grande quantidade de produtores assim como de consumidores e a
criação ou saída de uma empresa na área pouco altera o cenário;
� Produtos variados: devido às questões biológicas tratadas anteriormente não há
como uniformizar o produtos rurais e o empreendedores rurais encontram
dificuldades com padronização além de custos quando não alcançam o objetivo
produtivo esperado;
� Custos elevados na entrada e/ou saída: no agronegócio existe um alto custo de
investimento para se entrar no ramo, destarte a desistência da produção ocasiona
um prejuízo muitas vezes maior que o investimento.
Considerando ambiente rural e os fatores anunciados, destaca-se que o Brasil tem
superado as suas próprias expectativas, em razão de sua integração efetiva com a economia
internacional. Isso tem demonstrando o quanto a atividade de Agronegócio é importante em
ambientes onde se estabelecem relações (CALLADO; CALLADO, 2011). O fato é que o
Agronegócio tem impulsionado a economia brasileira, gerando renda para os indivíduos que
atuam na atividade rural, bem como sustentando o país em momentos de instabilidade.
2.1.1 Conceitos e dimensões do Agronegócio
Segundo dados divulgados pelo MAPA (2012), o Brasil tem liderado o ranking da
produção agrícola, se comparado com a América Latina e o Caribe, e esta acima da média
mundial. De acordo com a Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA, 2013), o
setor agroindustrial (não alimentar) iniciou o ano de 2013, com um saldo positivo de 7,5
toneladas de unidades produzidas, o que representa um aumento de 4,8% em relação ao
mesmo período do ano anterior. Desse modo, considerando o aumento no número de negócios
voltados as atividades rurais, faz-se necessário distinguir conceitos habitualmente utilizados
em outros segmentos econômicos como indústria, serviço e comércio. Tal fato se dá em razão
da necessidade eminente em se compreender como se ocorre o dia-a-dia no campo, em meio
às atividades de plantio, cultivo e criação de animais.
20
Araújo (2005) aponta essa conjuntura econômica se enquadra melhor como atividade
de agribusiness, disseminada na década de 50 nos Estados Unidos da América. No Brasil,
essa compreensão do campo como ambiente de negócio ocorreu em 1980, momento em que
foi batizado como atividades de agronegócio, complexo agroindustrial, cadeias agro-
econômicas e sistemas agroindustriais. Apesar disso, o Paiva Junior (2011, p. 50) destaca que
a terminologia “Agronegócio” vem sendo utilizada no sentido de gerar “produção,
comercialização e distribuição de matérias-primas, insumos, produtos e serviços
agropecuários”.
O sistema agroindustrial abarca empresas que possuem relações diretas de
dependência com o meio ambiente e qualquer atividades inadequada pode causar danos e/ou
consequências ao setor, para Araújo (2005) a cadeia agro-econômica dispõe sobre:
• Produtividade agropecuária;
• Suprimento à produtividade do agronegócio;
• Transformações;
• Disposição produtiva;
• Armazenagem;
• Processo distributivo;
• Consumo;
• Serviços que completem os demais.
Para que as atividades inerentes ao complexo agroindustrial possam se desenvolver,
destaca-se a necessidade de se proporcionar condições mínimas para que as empresas rurais
possam atuar dentro de uma visão sistêmica de negócio. Isso ocorre, principalmente, com vias
a estabelecer condições que lhes permita transformar o ambiente rural em uma economia com
características de autossuficiência, que fornece produtos primários aos seus potenciais clientes
(ARAÚJO, 2005). Destaca-se que esse campo de atuação encontra-se diretamente relacionado
a fatores que não podem ser contidos, mas que são capazes de serem aproveitados ou
contornados, principalmente no que tange a sazonalidade produtiva e as influentes ações
biológicas decorrentes da produção agroindustrial.
Nesse contexto, observa-se a necessidade de se estudar bem o ambiente em que se
deseja desenvolver qualquer atividade rural, de modo a compreender os pontos positivos e
negativos da região. Isso permite ainda que se observem as condições de maximização as
21
oportunidades de negócio e minimizar potenciais riscos. Esse pensamento sistêmico sobre o
agronegócio é imprescindível para o desenvolvimento do setor, o que segundo Callado e
Callado (2011) observam o que ocorre antes da porteira, dentro da porteira e depois da
porteira.
Callado e Callado (2011) destacam que as atividades que ocorrem antes da porteira
indicam o ponto de partida para o sistema agroindustrial. Essa etapa é subdividida entre o
processo de fabricação e disponibilização de insumos agroindustriais, e de prestação de
serviços voltados para o complexo industrial. A relação dos insumos produzidos é
condicionante que viabilizam a execução da atividade agroindustrial, incorporando elementos
tais como: máquinas, equipamentos, profissionais capacitados, os fornecedores de insumos e
implementos (ARAÚJO, 2005).
No que diz respeito à prestação de serviços, na atividade de agronegócio, Callado e
Callado (2011) destacam que as atividades desenvolvidas com o intuito de melhorar o
processo de produção, observam a realização de pesquisas em termos de medicamentos e
tecnologias de coleta. Isso ocorre em razão dos processos demandarem eficiência, o que exige
dos profissionais que atuam no processo de produção e de assessoria uma maior intensificação
nas ações.
Quanto ao segundo estágio, dentro da porteira, Callado e Callado (p. 6, 2011) aponta
que o mesmo abarca “todas as atividades produtivas propriamente ditas, representando
distintas formas de exploração econômica dos fatores produtivos disponíveis para os
diferentes sistemas agroindustriais”. Esse processo demanda por atividades próprias do ramo
de agronegócio, tais como: agricultura, pecuária, atividades de processamento e fabricação,
serviços agrícolas e atividades complementares.
Para Callado e Callado (2011) o estágio depois da porteira observa o produto já pronto
para uso ou consumo. Nessa etapa, destaca-se a necessidade de constituição de canais de
comércio e logística para distribuição do produto. Tais atividades seguem uma sequência
operacional de produção, que propicia a o estabelecimento de uma cadeia produtiva. Araújo
(2005) destaca que essa cadeia produtiva possibilita a construção de um ambiente favorável
ao retorno informacional, uma vez que observa a:
� Descrição da cadeia produtiva por completo;
� Reconhecimento da tecnologia dentro da cadeia;
� Elaboração de trabalhos de integração;
� Avaliação das politicas agroindustriais;
22
� Entender a matriz de insumo-produto para cada produto agroindustrial.
Avaliando as informações que podem ser geradas nesse ambiente, destaque precisa ser
dado às relações estabelecidas dentro do processo produtivo. Nesse ínterim, há sistemas
agroindustriais de produção, que complementam os sistemas de informação organizacional e
o processo de tomada de decisão (ARAÚJO, 2005). Corroborando com a concepção de
integração produtiva, Callado e Callado (2011) apontam que as iniciativas geradas em
ambientes produtivos podem ser segregadas, observando as políticas de integração horizontal
e vertical.
� Análise de integração horizontal: método cooperativo que ocorre dentro da mesma
cadeia produtiva e em níveis semelhantes, que se encontram mais próximos de
ambientes em que há o compartilhamento de tecnologias, habilidades e
infraestrutura;
� Análise de integração vertical: método de cooperação que possui níveis distintos,
dentro de uma mesma cadeia de produção e que se subdividem em informações,
habilidades, tecnologias e infraestrutura, de modo a estabelecer um padrão de
qualidade e possibilitar o alcance de metas pré-definidas.
A cooperação do tipo horizontal e vertical precisa ser trabalhada em conjunto, haja
vista as possibilidades de interação que podem gerar benefícios para a organização. Destaca-
se que essas configurações são essencialmente constituídas com o intuito de possibilita o
crescimento e desenvolvimento das organizações. Isso ocorre em razão das condições
estabelecidas para o desenvolvimento de habilidades e competências técnicas de gestão.
2.1.2 Contabilidade do Agronegócio
A contabilidade aplica-se em diversos setores, seja de maneira ampla ou de forma
específica, como é o caso da contabilidade rural ou aplicada ao Agronegócio. Para se
trabalhar contabilmente com esse setor, faz-se necessário que os profissionais estejam
familiarizados com os acontecimentos e nomenclaturas específicas da área. Tal fato revela a
necessidade dos profissionais da área se inteirar a respeito das interferências climáticas e
biológicas, sobre o resultado final do produto (OLIVEIRA, 2010).
23
Para alcançar seus objetivos, a empresas que atuam em meio rural, devem reunir
informações do ambiente e das próprias atividades operacionais que executa. Para Oliveira
(2010), ao compreender esses elementos, as informações disponíveis devem ser íntegras e
abarcar funções distintas. Tal fato se dá em razão da necessidade de auxiliar os produtores no
controle da entidade, no que diz respeito aos custos da safra ou produto, bem como do setor
administrativo e de planejamento estratégico.
A necessidade de se obter informações confiáveis, que sejam voltadas ao atendimento
das premissas do meio rural, observa desde a aquisição dos insumos até o produto está pronto
para venda. Esses fatos requerem um sistema de controle sistematicamente organizado, bem
como que detenha informações úteis ao processo de tomada de decisão. Ao analisar o termo
controle, Oliveira (2010) deixa clara a resistência desse elemento, especialmente por parte dos
empregados. Ocorre que os mesmos se sentem constantemente observados, embora sejam
evidentes que os controles permite a detecção de falhas e acertos no processo de produção,
além de indicarem o caminho para o desenvolvimento organizacional.
No mesmo sentido, Callado e Moraes Filho (2011) comentam sobre as dificuldades
encontradas pelo Administrador rural, quando se trata das irregularidades naturais das
atividades e de outros trabalhos relacionados à gestão no Agronegócio. Destarte, o
gerenciamento pode ser compreendido externa e internamente à empresa, configurando-se
como um procedimento que auxilia no processo de coleta e utilização de dados, para a tomada
de decisão. As operações internas são relativas ao processo de produção. Essas intervenções
abrangem questões relacionadas aos procedimentos de manutenção, escolhas, coordenação e
execução de atividades. Os processos externos abordam relações comerciais da empresa,
como a aquisição de insumos, venda de produtos e operações financeiras diversas.
Considerando esses pontos e a competitividade enfrentada atualmente pelas empresas
rurais, o auxílio do profissional contábil tornou-se cada vez mais necessário. Contrapondo
esse entendimento Crepaldi (2011, p. 45), comenta que a contabilidade funciona “como
subfunção da administração financeira”. Desse modo, o empresário rural precisa compreender
elementos da área de finanças e contabilidade, ou solicitar o auxílio de um profissional
devidamente habilitado para esse tipo de tarefa.
Entretanto, destaca-se que a maioria das empresas rurais não possui, ao seu dispor,
serviços contábeis satisfatórios. Isso ocorre em razão da falta de divulgação de informações
econômico-financeiras, bem como pelos gastos com a manutenção de informações contábeis
confiáveis (CREPALDI, 2011). Com a globalização, constata-se que todos os setores da
24
economia encontram-se diretamente relacionados à contabilidade, o que no Agronegócio não
é diferente.
A atividade de gestão nessa área precisa se revelar como competente e confiável,
respaldada em dados que retratem a realidade da empresa e forneçam elementos que
subsidiem a tomada de decisão. Compreendendo que a contabilidade se configura como uma
ciência que estuda o patrimônio e suas mutações, as ideias de interação entre a contabilidade e
a administração rural, torna-se fundamentais (CREPALDI, 2011). A atividade nesse ramo
revela o quão importante é o tratamento dos recursos (econômicos e financeiros) e a o
processo de tomada de decisão, em termos de investimentos e financiamentos.
Desse modo, independentemente da área em que atua, o gestor deve estar integrado
com a contemporaneidade que permeia o Agronegócio brasileiro, o que conforme aponta
Callado e Moraes Filho (2011) tratam a respeito de:
� Perda de autossuficiência;
� Dependência de insumos e serviços terceirizados;
� Busca por especialização dos profissionais em determinadas atividades;
� Separação concreta entre propriedades produtoras e centro consumidor;
� Logística mais diversificada e melhor elaborada para as necessidades da empresa
rural;
� Interdependência entre os mercados internacionais concretizadas.
Ante ao exposto, destaca-se que o sucesso no empreendedorismo rural brasileiro pode
ser alcançado com o equilíbrio entre o bom gerenciamento e a aplicação tecnológica
adequada. Tais fatores contribuem sobremaneira com o desenvolvimento econômico no
cenário Agroindustrial nacional.
2.2 EVIDENCIAÇÃO CONTÁBIL
O processo de evidenciação contempla elementos que propiciem o prestação de
contas, o que exige dos gestores, uma divulgação clara e adequada quanto às necessidades dos
seus usuários, fornecendo resultados condizentes com as ações organizacionais. Para Almeida
e Freitag (2009, p. 267), a “evidenciação está diretamente ligada à tipificação do usuário da
contabilidade”. Essa ação pressupõe a necessidade de se construir elementos que atendam as
demandas dos usuários em termos econômicos, financeiros e/ou sociais.
25
Considerando isso, essa abordagem pressupõe a necessidade de definição do grupo de
usuários das informações, o que de acordo com Hendriksen e Van Breda (1999), precisa ir ao
encontro de seus interesses, bem como compreender elementos fiscais, comportamentais e
sociais. Para a Contabilidade, a evidenciação representa uma prática que torna transparente e
compreensível os fatos e mutações patrimoniais ocorridos nas entidades. Esse processo ocorre
por meio das publicações efetuadas em termos de demonstrações e registros contábeis, de
cunho voluntário ou compulsório.
O Comitê de Pronunciamentos Contábeis n.º 00 (CPC n.º 00), a Contabilidade busca
fornecer aos seus usuários informações de natureza econômica, financeira e Patrimoniais e
suas mutações. Essas informações permitem que os empresários detenham uma visão ampla
do negócio e possam melhor gerenciá-los.
Com isso, destaca-se que a quantidade e qualidade das informações se configuram
como um elemento que vem sendo discutido entre os profissionais que atuam na área contábil.
Entretanto, não é o volume de informação que garante uma boa gestão, mas que a
disponibilidade e acesso a elas podem se revelarem como favoráveis ou não para a empresa.
Para Hendriksen e Van Breda (1999), a ausência de informações, ou seu excesso, podem gerar
elementos irrelevantes, ou de pouco valor, para os gestores.
Atrelado a isso, Hendriksen e Van Breda (1999, p. 515) comentam que a “quantidade
de informação a ser divulgada depende, em parte, da sofisticação do leitor que a recebe”. O
nível de conhecimento contábil e as atividades desenvolvidas pelas organizações são fatores
relevantes na escolha do que precisa ser divulgado. Nesse contexto, o nível de divulgação
deve contemplar pelo menos uma das indicações enumeradas a seguir:
� A divulgação adequada é a mais utilizada, esta evidencia o menor número de
informações possíveis buscando demonstrativos verídicos da situação da empresa;
� A divulgação justa por sua vez utiliza de um objetivo ético e subentende que seus
usuários possuem o mesmo conhecimento;
� A divulgação completa incentiva a evidenciação do máximo de informações, desde
que alguém as considere relevante, pecando em muitas vezes no excesso.
Desse modo, os demonstrativos precisam equilibrar informações úteis e
compreensíveis para que qualquer usuário possa tomar decisões. Considerando a capacidade
do setor contábil em fornecer quantidades diversas de informação e as mais distintas áreas de
atuação, faz-se necessário que esse tipo de profissional exponha o que for relevante para a
26
entidade. Essa relevância também precisa está atrelada ao atendimento das características
qualitativas fundamentais e de melhoria. Assim, compreende-se que a evidenciação deve ser
realizada de forma contínua, e que as entidades pertencentes a um mesmo mercado precisam
divulgar informações padronizadas para garantir a comparabilidade (CFC n.° 774/1994).
Um aspecto que tem dificultado a técnica de evidenciação é a existência de dois níveis
de divulgação: voluntário e compulsório. A evidenciação voluntária aponta que as empresas
devem expor o mínimo possível de informações, como anunciado por Hendriksen e Van
Breda (1999):
� Auxílio para as empresas concorrentes;
� Permite que os sindicatos tenham total conhecimento financeiro e, portanto obtenha
vantagens nas negociações salariais;
� Confusão por parte dos acionistas em detrimento de não conhecimento das práticas
contábeis;
� Alto custo envolvido na publicação das informações pelas demonstrações
contábeis;
� Desconhecimento do que é importante evidenciar na visão dos investidores;
� Possibilidade de evidenciação por outros métodos que não sejam os
demonstrativos.
Apesar disso, mesmo que as empresas busquem divulgar poucas informações, a
globalização e as relações com o mercado externo têm exigido o atendimento de demandas
internacionais, de modo a garantir uma maior credibilidade junto aos investidores. Dentre as
informações observadas pelos acionistas e credores, no sentido de optar ou não por um
investimento, Padoveze, Benedicto e Leite (2012) destacam:
� Analisar primeiramente se o negócio é ou não rentável e se possui capacidade
lucrativa;
� Averiguar quanto tempo levaria para obter retorno no investimento;
� Avaliar o caixa operacional;
� Estimar a capacidade de cumprimento das obrigações da empresa.
De modo a atender essas demandas, a promoção da harmonização contábil
internacional está a cargo da International Accouting Standards Board (IASB). Esse órgão
27
trabalha no sentido de elaborar e divulgar relatórios financeiros padronizados
internacionalmente. São essas normas que se reportam a compreensão do que é útil para
compor as demonstrações de modo a permitir a compreensibilidade, confiabilidade,
relevância e comparabilidade (PADOVEZE; BENEDICTO; LEITE, 2012).
Para Almeida e Freitag (2009) a padronização dos itens evidenciados se faz
necessária, para que se possam compreender as diferenças existentes entre os relatórios e
demonstrações contábeis. Os relatórios contábeis configuram-se como instrumentos que
evidenciam informações de cunho legal e voluntário, já as demonstrações contábeis divulgam
apenas o que está previsto em lei. Desse modo, destaca-se que a evidenciação do tipo
compulsória ocorre de acordo com as necessidades dos investidores e do fisco bem como o
desejo individual da organização. Tal fato varia conforme o país e seus preceitos éticos,
fiscais e jurídicos.
Contrapondo-se a essa concepção, Padoveze, Benedicto e Leite (2012) defendem que
as empresas precisam divulgar apenas informações requeridas por força de lei, tendo em vista
o custo-benefício da informação e a interferência que pode ser gerada no processo de
comunicação. Tudo isso de modo que se promovam condições para:
� Melhorar e aumentar a transparência nas informações divulgadas para distintos
mercados;
� Diminuir os custos na elaboração de relatórios contábeis;
� Extinguir diferentes resultados gerados;
� Tornar viável os investimentos estrangeiros;
� Simplificar o processo de consolidação das demonstrações;
� Estabelecer relações entre investidores nacionais e estrangeiros.
Considerando esses aspectos e a necessidade de atendimento as características
qualitativas da informação, observa-se que há um esforço nacional, liderado pelo Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC). Tudo isso de modo a propor comunicados e resoluções
que venham a convergir às internas as normas internacionais de contabilidade (PADOVEZE;
BENEDICTO; LEITE, 2012). Com isso, percebe-se que o objetivo primordial do processo de
evidenciação consiste em se utilizar das demonstrações contábeis, com o intuito de fornecer
informações econômico-financeiras sobre a situação real da empresa.
28
2.2.1 Relatórios empresariais
O CPC n.° 26/2010, ilustra em seu art. 9, que as demonstrações configuram-se como
“uma representação estruturada da posição patrimonial e financeira e do desempenho da
entidade”. Esses instrumentos são de responsabilidade do profissional contábil, sendo cada
um deles elaborados com a finalidade de adequar as ações ocorridas na organização e com
isso moldar o processo de tomada de decisão. As demonstrações são constituídas com o
intuito de revelar a situação econômica, financeira e patrimonial da organização, como pode
ser visualizado no Quadro 2
Quadro 2: Demonstrações contábeis
DEMONSTRAÇÃO FINALIDADE
Balanço Patrimonial (BP)
Este relatório demonstra em resumo a situação patrimonial da entidade após o termino de um período de execução de suas atividades, sendo formado por contas do Ativo, Passivo e Patrimônio líquido.
Demonstração do Resultado (DRE)
Este demonstrativo divulga o que compõe o resultado da empresa num determinado período, conferindo despesas, receitas, custos e possíveis perdas e/ou ganhos.
Demonstração da Mutação o Patrimônio
Líquido (DMPL)
Esta demonstração tem por finalidade apresentar todas as movimentações ocorridas com o Patrimônio Líquido da organização, sendo útil também para as empresas que utilizam o método de equivalência patrimonial para avaliar seus investimentos.
Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC)
Permite ao usuário compreender situações contrárias dentro de uma empresa, confrontar um bom resultado com um caixa baixo ou mesmo o contrário.
Notas Explicativas (NE)
São demonstrações complementares às demais e são posicionadas para o esclarecimento de situações patrimoniais e relativas ao resultado obtido no período.
Fonte: Adaptado de Almeida e Freitag (2009).
No que diz respeito à estrutura das demonstrações, o CPC n.° 26/2013, indicar que
quando da apresentação de uma demonstração, faz-se necessário especificar o nome da
organização a qual pertence às demonstrações, bem como se a mesma se trata de uma
sociedade ou empresa individual, a data de encerramento, questões de arredondamento e
moeda utilizada. No que diz respeito ao BP, o IAS n.° 1 sugere a adoção das nomenclaturas
corrente e não corrente, ou circulante e não circulante. De modo a garantir parâmetros
mínimos de comparabilidade, o CPC n.° 26/2010, recomenda que seja realizada a elaboração
de dois balanços por período, um no início e outro no final.
A DRE preocupa-se essencialmente em expressar informações de acordo com a
natureza das despesas ou por funcionalidade, cuja apresentação observa a utilidade da
informação e o confronte entre receitas e despesas. Já a DMPL, observa elementos que
retratam as modificações ocorridas no patrimônio da organização, recebendo contribuições
29
advindas do resultado líquido da DRE (CPC n.º 26/2010). Quanto a DFC, a mesma vem em
substituição a Demonstração das Origens e Aplicações de Resultado (DOAR), fornecendo
informações úteis a respeito da liquidez da organização.
Considerando a postura assumida pelos países que recebem influência do Modelo da
Europa Continental, destaca-se que o Brasil recebe fortes influências do Poder público. Isso
acontece principalmente no que tange a definição e regulamentação das práticas contábeis,
como destacado na Deliberação n.° 488/2005 da CVM. Outro ponto importante de divulgação
refere-se à necessidade de construção do Relatório da Administração (RA), com a finalidade
de elencar elementos concernentes ao negócio e aos fatores que possam influenciar no
desempenho econômico da empresa.
Quando o assunto é os demonstrativos voluntários, Almeida e Freitag (2009) apontam
que as informações contidas nesse instrumento precisam ser evidenciadas no sentido de
permitir publicações socioambientais passíveis de comparação. Dentre os principais
instrumentos adotados com a finalidade de apresentar informações adicionais, destacam-se o
Balanço Social (BS) e o Relatório de Sustentabilidade (RS). Considerando que esses
relatórios abarcam informações complementares aos demonstrativos tradicionais, cabe indicar
a finalidade de cada um deles, como ilustrado no Quadro 3.
Quadro 3: Relatórios contábeis
DEMONSTRAÇÃO FINALIDADE
Relatório de sustentabilidade (RS)
Observam elementos relacionados ao desempenho ambiental da organização, bem com as ações inerentes as principais atividades operacionais desenvolvidas em relação ao meio ambiente.
Relatório da administração (RA)
Compreende um relatório que busca avaliar e examinar a gestão empresarial abarcando questões ambientais ligadas às atividades da entidade, metas, melhoras e resultados obtidos na gestão ambiental.
Balanço social (BS) Trata-se de um demonstrativo que auxilia na gestão evidenciando informações contábeis, socioeconômicas e ambientais das atividades da empresa para o máximo de usuários possível.
Balanced Scorecard
(BSC) Trata-se de uma ferramenta de auxilio na elaboração de estratégias e de comunicação entre os departamentos de uma empresa.
Demonstração do Valor Adicionado (DVA)
Esta demonstração é um instrumento que amplia a capacidade de análise do desempenho econômico e social da empresa utilizando-se do valor econômico.
Fonte: Adaptado de Tinoco e Kraemer (2008); Kaplan e Norton (1997).
Logo, observando as demandas dos potenciais investidores, Tinoco e Kraemer (2008)
comentam que o indivíduo tem assumido uma postura mais pró-ativa em relação à escolha do
tipo de organização em que pretende investir. Isso ocorre, principalmente, quando da
30
percepção de maximização dos recursos em organizações em prol de ações socioambientais.
Tal fato leva a compreender que as demonstrações e relatórios contábeis interferem no
processo de gestão, podendo garantir condições confiabilidade aos quanto aos dados
divulgados.
2.2.2 Itens ambientais
Com a forte demanda da sociedade em relação às ações sociais e ambientais, destaca-
se que as mesmas tem se tornado cada vez mais importantes, principalmente no que diz
respeito ao poder de decisão embutido no processo de evidenciação. Nesse contexto, a
evidenciação de itens ambientais precisa considerar o que for relevante para a maioria dos
usuários (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Dentre os quais se destacam os Relatórios
Ambientais, Administrativos e o Balanço Social (TINOCO; KRAEMER, 2008).
Nas últimas décadas, as atividades operacionais das organizações têm gerado impactos
ambientais significativos. Essas modificações ao meio ambiente acabaram por provocar o
desenvolvimento de ações de conscientização ambiental em uma parcela expressiva da
sociedade. Segundo Tinoco e Kraemer (2008), no ano de 1972, na cidade de Estocolmo na
Suécia, foi realizada a primeira Conferência Mundial Sobre o Meio Ambiente, cujo propósito
consiste em promover ações de fiscalização e defesa do meio ambiente.
Considerando que os impactos ambientais podem interferir negativamente na
sustentabilidade dos ecossistemas existentes, a mensuração dessa interferência torna-se
necessária, uma vez que exprime qual a sua relação com ações de a responsabilidade
socioambiental. Os problemas ambientais causados pela ação humana configuram-se como
danos ambientais, como os listados no Quadro 4. Apesar de tais danos poderem ser
observados facilmente no meio ambiente, os mesmos ainda não são devidamente tratados pela
legislação nacional.
31
Quadro 4: Classificação dos danos ambientais
PELA AMPLITUDE DO BEM PROTEGIDO
PELA REPARABILIDADE E
INTERESSE
POR MEIO DE SUA EXTENSÃO
PELOS INTERESSES ALMEJADOS
� Sua proteção pode ser feita essencialmente pelo ecossistema;
� Pode atingir a sociedade, o meio ambiente de forma geral;
� Proteção para o atingido e não para os valores ambientais.
� Trata do lesado primordialmente e não do meio ambiente atingido;
� Trata antes do macro bem ambiental e posteriormente dos interesses individuais.
� Refere-se à restituição do bem ambiental quando se trata de materialidade;
� Trata-se de todo o prejuízo causado à sociedade pela lesão ambiental.
� Há interesse coletivo na preservação ambiental;
� Quando um indivíduo se interessa em defender o bem ambiental para o coletivo;
� Ocorre quando a lesão é de interesse particular.
Fonte: Adaptado de Queiroz, Braga e Santos (2007).
Considerando que a classificação anunciada, destaca-se que os danos ambientais
precisam ser evitados. Apesar disso, um ponto que precisa ser observado é que esse tipo de
preocupação não deve residir apenas em razão dos preceitos éticos, mas por questões
econômicas, financeiras e patrimoniais refletidas nas demonstrações das empresas
(QUEIROZ; BRAGA; SANTOS, 2007). Tais resultados vêm exigindo dos profissionais da
área contábil, a busca constante por soluções e/ou alternativas que pudessem minimizar os
impactos relacionados ao meio ambiente.
Nesse contexto, as atividades inerentes à contabilidade passaram a ser compreendidas
como um instrumento de gestão socioambiental para as empresas, cujas principais
preocupações se refletem em questões éticas e de transparência. De modo a propiciar ações
dessa natureza, foram criados grupos de contas patrimoniais e de resultado especiais, que
refletem a situação da empresa em face de suas relações com o meio ambiente, como pode ser
visualizado no Quadro 5.
Quadro 5: Itens ambientais (continua)
ITENS DEFINIÇÃO
Ativo ambiental (AA)
Benefícios econômicos, de natureza ambiental, futuros e prováveis, obtidos ou controlados por uma dada entidade em consequência de prevenção, recuperação, monitoramento e reciclagem;
Passivo ambiental (PA)
São contingências formadas em longo período, podendo passar despercebidos pela gerência da empresa por um longo espaço de tempo;
Receita ambiental (RA)
São receitas obtidas em consequência das atividades operacionais da entidade e de uma gestão ambiental aplicada à organização;
Custo ambiental (CA)
São os gastos aplicados na atividade produtiva da empresa, que de alguma maneira resultem positivamente para o meio ambiente;
32
Quadro 5: Itens ambientais (conclusão)
ITENS DEFINIÇÃO
Despesa ambiental (DA)
São gastos que de alguma forma agem na prevenção e/ou proteção do meio ambiente, porém não são aplicados no processo produtivo, ao menos não diretamente;
Fonte: Adaptado de Silva et al. (2007) e Tinoco e Kraemer (2008).
Dentre os principais itens que podem ser enquadrados no grupo de Ativo ambiental,
têm-se as peças, máquinas, equipamentos e acessórios utilizados no processo de produção
e/ou prestação de serviços, que detém o potencial de reduzir os danos causados ao meio
ambiente (TINOCO; KRAEMER, 2008). Os itens de ativo ambiental também podem ser
representados por direitos relacionados a estudo que possam reduzir as agressões ao meio
ambiente.
Silva et al. (2007) chama a atenção para a necessidade de se distinguir os ativos
ambientais, dos ativos normais da empresa. Isso se faz necessário tendo em vista a finalidade
do bem adquirido, como no caso de possibilita a prevenção, redução ou recuperação dos
danos causados ao meio ambiente. Esses itens podem ser classificados de acordo com a
natureza como imobilizado (aparelhos e tecnologias) ou diferido (projetos).
Segundo Tinoco e Kraemer (2008), o Passivo Ambiental sinaliza que as organizações
podem está desenvolvendo ações que geram impacto negativo ao meio ambiente. Apesar
disso, os gastos relativos ao meio ambiente somam também investimentos voltados a atitudes
de responsabilidade, e cujas obrigações encontram-se listadas no Quadro 6.
Quadro 6: Obrigações do Passivo Ambiental
OBRIGAÇÕES LEGAIS OU IMPLÍCITAS
OBRIGAÇÕES CONSTRUTIVAS
OBRIGAÇÕES JUSTAS
Surge quando a empresa possui uma obrigação por meio de instrumento de Lei em consequência de um evento anterior.
Ocorre de maneira espontânea sem influência da legislação ou por eventos causados no passado.
Demonstram a responsabilidade socioambiental da entidade, por seus valores morais e éticos
Fonte: Adaptado de Tinoco e Kraemer (2008).
Quanto à classificação dos Passivos Ambientais, os mesmos podem ser divididos em
normais e anormais. Os de natureza normal abordam o resultado nocivo ao meio ambiente.
Para Tinoco e Kraemer (2008) um exemplo que retrata isso, é a transformação do álcool em
vinhoto, antes prejudicial ao meio ambiente e hoje utilizado na irrigação dos plantios de cana-
de-açúcar. Já os de natureza anormal são definidos como atos que seguem além do controle da
entidade, como fenômenos naturais que resultam em desastres.
33
Considerando esses fatores, destaca-se que os fatores ambientais precisam escriturar e
mensurar todo e qualquer evento, que venha a causar algum tipo de dano ao meio ambiente.
Tinoco e Kraemer (2008) apontam que tais eventos são capazes de originar Passivos
Ambientais, ainda que sua mensuração seja difícil de executar. Tinoco e Kraemer (2008)
comentam que grande parte das empresas só reconhece às exigibilidades ambientais, no
momento em que ocorre o efetivo desembolso financeiro, justificado por estudos técnicos.
Alguns exemplos de ações que observam esses preceitos são:
� Ativos permanentes de natureza ambiental: são os bens contraídos capazes de
resultar num passivo ambiental, geralmente com equipamentos utilizados para
amenizar os efeitos nocivos ao meio ambiente por parte do processo produtivo da
empresa;
� Riscos ambientais potenciais: trata-se dos riscos e incertezas que entidade pode
sofrer assumindo desta forma características contingenciais, podendo ocorrer por
iniciativa própria da empresa, por reivindicações de terceiros e pela legislação
ambiental.
Desse modo, depreende-se que existem obrigações interligadas a algum evento
passado, e no qual as contingências se relacionam com eventos futuros. Hendriksen e Van
Breda (1999) comentam que embora a maioria das provisões esteja baseada em eventos
futuros e que a probabilidade de ocorrência seja próxima de zero, a evidenciação
contingencial deve ser feita em notas explicativas. Observações mais acuradas possibilitam a
elaboração de atividades de prevenção e correção (TINOCO; KRAEMER, 2008).
Segundo Hendriksen e Van Breda (1999) as receitas representam valores oriundos do
produto gerado por uma empresa e reconhecida após um evento crítico ou término do
processo de venda, já os ganhos são oriundos de eventos periféricos que ocorrem fora das
atividades operacionais da organização. Considerando isso, há uma diferenciação substancial
entre os conceitos de ganhos e receitas, que observa a questão da vinculação com a
operacionalidade da ação geradora. Em termos de receitas ambientais, Silva et al. (2007)
comenta que as mesmas “provém da atividade ambiental da entidade, que está diretamente
vinculada à atividade operacional”. Tinoco e Kraemer (2008) indicam que dentre os principais
eventos que podem gerar receitas são:
� Prestação de serviços de gestão ambiental;
34
� Comercialização de produtos elaborados das sobras dos insumos usados no
processo de produção;
� Venda de artigos reciclados;
� Receita através do bom emprego de calor e gases;
� Diminuição da utilização de matérias-primas;
� Redução da energia consumida;
� Diminuição da água consumida;
� Participação na receita bruta da empresa pela atuação na área ambiental.
Tinoco e Kraemer (2008) expõem que os ganhos de mercado devem ser obtidos pela
empresa, no instante em que a opinião pública reconhece suas politicas de preservação
ambiental e passam a preferir seus produtos aos de empresas que atuam sem uma política de
gestão ambiental concreta. Nesse contexto, destaca-se que com a modelagem socioambiental
pode provocar a redução de algumas despesas e custos, o que torna a gestão ambiental uma
ação positiva. Com base nisso, destaca-se que a necessidade de se compreender e distinguir
corretamente os custos e despesas organizacionais.
Para Hendriksen e Van Breda (1999, p. 232), as despesas funcionam como “o gasto de
serviços de fatores relacionados direta ou indiretamente à produção e venda do produto da
empresa” enquanto que os custos estariam relacionados diretamente com o processo produtivo
da entidade. Silva et al. (2007) aponta que os custos devem está vinculados as atividades que
executam, tais como:
� Tratamento de resíduos;
� Preservação e recuperação de áreas afetadas;
� Depreciação, amortização e exaustão de equipamentos utilizados na preservação
ambiental;
� Mão-de-obra empregada nas atividades de controle, preservação ou recuperação
ambiental;
� Arrumação dos resíduos poluidores.
Logo, percebe-se que independentemente da obrigatoriedade de evidenciação de um
demonstrativo, faz-se necessário ampliar os conhecimentos inerentes ao meio ambiente,
principalmente no que diz respeito ao processo de decisão de investimentos e financiamentos
que venham a gerar problemas ambientais. Desse modo, cabe frisar que as informações
35
ambientais são importantes no processo de gestão de obrigações ambientais e de receitas
diversas, oriundas da relação organizacional com o meio ambiente.
2.3 INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS
A análise das demonstrações contábeis padronizadas permite identificar qual a
situação patrimonial, econômica e financeira de uma organização. Apesar disso, Moreira
(2003) destaca que as informações expostas nem sempre conseguem revelar, por si só, como
está o nível de endividamento da organização. Seguindo uma perspectiva, Assaf Neto (2007)
sugere a adoção de indicadores econômico-financeiros para determinar o quão sólida é a sua
base financeira.
Iudícibus (2009) comenta que em situações de análise, a definição temporal precisa ir
ao encontro dos objetivos almejados pela organização. Dentre as principais definições
temporais, destacam-se as avaliações voltadas ao público externo, que comumente são
definidas em termos anuais e trimestrais, enquanto que para as análises internas observa-se
um período de tempo menor, ao mês. Nessa perspectiva, observa-se que o cálculo dos índices
econômico-financeiros é importante para que se possa definir como está ocorrendo o
gerenciamento dos bens, direitos e obrigações institucionais.
Os indicadores auxiliam os potenciais usuários na obtenção de informações
importantes sobre as condições existentes para a realização de investimentos ou busca por
financiamentos. Sanvicente (2008) aponta que a adoção desse tipo de ferramenta é essencial
para que os potenciais usuários da informação contábil possam ampliar as suas possibilidades
de análise. Corroborando com essa compreensão, Iudícibus (2009) comenta que a combinação
dessas técnicas permite ao usuário traçar um perfil mais confiável sobre o desempenho da
organização, bem como tomar decisões mais acertadas sobre o assunto.
Iudícibus (2009) aponta ainda, as limitações concernentes ao processo de análises das
demonstrações decorrem da diversidade de informações evidenciadas, bem como pela
natureza financeira dos dados. Com base nisso, destaca-se que a forma com que os dados são
evidenciados reflete diretamente na determinação dos indicadores econômico-financeiros.
Essa preocupação ocorre em razão de alguns profissionais da área contábil se deterem mais a
estética das demonstrações, do que em atender a característica qualitativa da relevância
informacional, o que gera problemas relacionados ao window dressing ou manipulação dos
dados.
36
Nesse contexto, destaca-se que os índices econômico-financeiros são subdivididos em
três grandes grupos: liquidez, endividamento ou estrutura e rentabilidade. Segundo Assaf
Neto (2007) estes indicadores são utilizados basicamente para mensurar a capacidade de
pagamento das dívidas da organização, seu grau de endividamento em relação a terceiros,
além da capacidade de retorno da empresa. Desta maneira os dois primeiros indicadores
refletem a situação financeira da entidade enquanto que o último revela seu real
posicionamento econômico. Considerando esses aspectos e a preocupação em compreender a
influência da evidenciação, em itens que preocupam os investidores, como o nível de
rentabilidade e endividamento, o estudo se restringe a esses grupos de indicadores.
2.3.1 Indicadores de endividamento
No atual cenário econômico-financeiro destaca-se a importantes que os investidores
têm dados as informações contábeis, no sentido de ter parâmetros de decisão sobre possíveis
investimentos. Nesse contexto, destaca-se o quanto os indicadores de endividamento podem
contribuir no processo de análise das principais fragilidades do negócio e na definição de
soluções que venham a melhorar o desempenho da organização. Os referidos indicadores
também recebem a denominação de indicador de estrutura, sendo utilizados no sentido de
medir como se encontra o grau de comprometimento da organização para com os credores
(ASSAF NETO, 2007).
Considerando isso, os indicadores de endividamento propiciam a análise estrutural da
organização, definindo como se encontra a distribuição do capital de terceiros em relação ao
capital total da organização. Tal fato permite revelar quais as condições de autossuficiência da
organização, bem como identificar se a mesma é capaz de manter suas atividades
operacionais, como discutido no Quadro 7.
Quadro 7: Indicadores de endividamento
INDICADORES FÓRMULA FINALIDADE
Relação de Capital de Terceiros/Capital Próprio
(CT/CP)
PL
PC+PNC
Indica o risco e a dependência de capital de terceiros, ou seja, quanto de capital próprio entidade dispõe para cada capital de terceiros.
Relação de Capital de Terceiros/Passivo Total
(CT/PT)
PC
PC + PNC
Indica o percentual de recursos totais da empresa que são financiados por terceiros, ou seja, mede quanto dos recursos obtidos pela empresa provém de terceiros.
Imobilização de Recursos Permanentes (IRP)
ANC – PNC
PL Indica quanto a empresa aplicou do capital próprio no ativo não circulante excetuando o realizável a longo prazo.
Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2007).
37
O indicador das relações de capitais de terceiros em relação ao capital próprio,
expressa percentualmente quanto do ativo financeiro total é financiado por terceiros em
relação ao seu capital próprio. Desse modo, em uma perspectiva em longo prazo, quando a
entidade se compromete com o CT, a mesma pode gerar uma situação financeira
desconfortável, com elevadas despesas financeiras (IUDÍCIBUS, 2009). Essa prerrogativa
permite compreender a relação de dependência da organização, bem como alertar os gestores
sobre a necessidade de se adequar suas práticas para o gerenciamento dos recursos.
Quanto ao indicador das relações de capitais de terceiros utilizados nas atividades da
empresa ou “Debt Ratio”, destaca-se que o mesmo propicia a identificação do volume de
recursos de terceiros, que são captados para atender as demandas da organização. No entanto,
analisando esse índice os dados apontam para o retorno resultante dessas aplicações na
formação de itens do ativo, bens e direitos (ASSAF NETO, 2007). Isso revela, em termos
percentuais, o nível de endividamento da organização em relação aos seus fundos totais, que
quanto menor melhor.
No que diz respeito à questão da IRP, observa-se que esse indicador expressa o quanto
do passivo não circulante foi realmente aplicado no ativo operacional da organização. Com
isso, quanto maior do que 1 (um), isso indica que a organização tem dificuldade em
disponibilizar os recursos permanentes necessários para financiar suas aplicações (ASSAF
NETO, 2007). Desse modo, esse indicador revela a incapacidade da organização em realizar
aplicações financeiras, sem abrir mão de contrair empréstimos e/ou financiamentos, que
costumam comprometer o orçamento para saldar as obrigações.
Assim, a determinação dos indicadores de endividamento pode ocorrer de acordo com
as necessidades dos indivíduos e a situação vivenciada pela organização. Isso revela que nem
sempre os indicadores de capitais de terceiros comprometem a situação da organização, o que
varia de acordo com as condições estabelecidas para a obtenção dos recursos investidos. Isso
revela o quanto a organização precisa ser cautelosa no momento da aquisição de recursos
advindos de terceiros, bem como maximizar a utilização dos recursos disponíveis.
38
3 METODOLOGIA
Nessa seção, são apresentados elementos relacionados aos aspectos metodológicos do
estudo, considerando para isso a classificação do estudo quanto aos objetivos, procedimentos
e problema de pesquisa. O estudo discute ainda os parâmetros necessários para a construção
do instrumento de coleta e processo de obtenção dos dados, além de definir o espaço amostral
em termos de quantidade de organizações e recorte temporal. Por fim, são apresentados os
aspectos adotados para o tratamento dos índices calculados e o processo de análise de dados
em painel.
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratório-descritiva e
explicativa. Segundo Gil (2009), as pesquisas exploratórias permitem ao pesquisador se
familiarizar com o problema em questão, podendo torná-lo explícito e construir hipóteses.
Com o intuito de examinar os itens ambientais evidenciados pelas empresas do setor
Agropecuário, torna-se interessante compor um índice de evidenciação quanto aos elementos
de preservação ambiental.
A pesquisa configura-se ainda como um estudo descritivo, o que para Gil (2009),
consiste na descrição das características de determinada população e/ou no estabelecimento de
relações entre as variáveis. Neste estudo, procedeu-se com o registro e interpretação dos
dados obtidos na parte exploratória da pesquisa. O trabalho ainda pode ser considerado como
explicativo, haja vista que busca identificar os fatores que determinam, ou contribuem, para a
ocorrência de fenômenos empresariais. Para isso, procedeu-se com o estudo exercido sobre os
níveis de evidenciação de preservação ambiental, em relação aos indicadores econômico-
financeiros (GIL, 2009).
Quanto aos procedimentos este estudo configura-se como do tipo documental
(BEUREN, 2004). Essa classificação ocorre em razão da análise realizada no conteúdo dos
principais instrumentos utilizados no processo de evidenciação das ações desenvolvidas pelas
organizações que possuem ações negociadas na BM&FBOVESPA, tais como: BP, DRE, RA,
NE e RS. Tudo isso para elencar opções de análise, que pudessem abarcar demonstrações
obrigatórias, que passam pelo processo de auditoria (BP, DRE e NE), bem como relatórios
compulsórios (RA) e voluntários (RS).
39
No que diz respeito ao problema de pesquisa, esse estudo caracteriza-se como
quantitativo. Segundo Beuren (2004), isso possibilita a utilização de instrumentos estatísticos
no processo de análise dos dados. Dentre as técnicas utilizadas, destaca-se a análise descritiva
e de dados em painel, o que permite identificar qual o tipo de instrumento de evidenciação
mais utilizado, bem como indicar se o desempenho organizacional recebe influências dos
itens ambientais publicados.
3.2 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
Considerando as fortes relações das empresas do ramo do Agronegócio com o meio
ambiente, construiu-se um instrumento de coleta com base em orientações de evidenciação de
itens ambientais, discutidos na Resolução CFC n.º 1.003/2004, “NBCT 15 – Informações de
natureza social e ambiental”, no CPC 29/2009, “CPC 29 – Ativo biológico e produto
agrícola”, e na proposta de itens ambientais tratada por Tinoco e Kraemer (2008), como pode
ser visualizado no Quadro 8.
Quadro 8: Recomendações para evidenciação de itens ambientais
PROPOSTAS ITENS RECOMENDADOS
Resolução CFC n.º 1.003/2004
Investimentos para melhorias, preservação e recuperação do meio ambiente
Investimentos em ações educativas
Investimentos em projetos ambientais
Processos e multas ambientais
Contingências ambientais
CPC 29/2009
Ganhos e perdas com ativos biológicos
Descrição dos ativos biológicos
Investimentos em ativos biológicos
Método de depreciação utilizado
Tinoco e Kraemer (2008)
Ativos ambientais (bens e direitos)
Passivos ambientais (obrigações para com terceiros e o meio ambiente)
Receitas ambientais (créditos)
Custos ambientais
Despesas ambientais
Fonte: Adaptado da Resolução CFC n.º 1.003/2004, CPC 29/2009 e Tinoco e Kraemer (2008).
40
Com o levantamento dos itens recomendados para o processo de evidenciação,
apresentado no Apêndice A, passou-se para a definição das demonstrações e relatórios,
obrigatórios e voluntários, a serem analisados. Dentre os instrumentos enunciados nesse
estudo, adotou-se como objeto, as demonstrações contábeis obrigatórias auditadas (BP, DRE
e NE), além de relatórios não auditados, como o RA (obrigatório) e o RS (voluntário).
Quando da busca de informações concernentes a esses instrumentos, determinou-se o recorte
temporal de 2008 a 2012, considerando a disponibilidade conjunta dos instrumentos
anunciados como objeto de estudo.
Com os instrumentos listados, iniciou-se o processo de coleta dos dados para a
construção do índice de evidenciação, utilizando-se da variável dummy. A referida variável
permite constatar a presença (1) ou ausência (0) de informações sobre o meio ambiente nos
demonstrativos e relatórios. Segundo Missio e Jacob (2007), a variável dummy auxilia o
pesquisador a ampliar seu poder de análise e na construção de indicadores, o que possibilita a
análise de variáveis, independentemente de elas serem ou não quantitativas.
Em seguida, elencaram-se os elementos necessários para o cálculo dos indicadores
econômico-financeiros de rentabilidade e endividamento. As informações para a
determinação desses indicadores foram extraídas das demonstrações contábeis tradicionais,
BP e DRE. Dentre os principais elementos extraídos, destacam-se os valores de: passivo total,
passivo circulante, passivo não circulante, patrimônio líquido, ativo não circulante, lucro
operacional gerado pelos ativos, ativo total médio, investimento médio e o patrimônio líquido
médio. Contudo, destaca-se que para a definição desses índices, fez-se necessário ampliar o
recorte temporal em mais um ano, ou seja, de 2007 a 2012, e isso se deu em razão da
necessidade de cálculo dos valores médios concernentes aos indicadores de rentabilidade.
3.3 UNIVERSO E AMOSTRA
De acordo com Beuren et al. (2004) o universo ou população de um trabalho trata-se
de um conjunto de elementos diferentes que assumem características semelhantes e
determinantes para o estudo. Como nem sempre é possível trabalhar sob a perspectiva de
analisar todo o universo, os estudiosos se utilizam de técnicas de amostragem. Considerando
isso, a amostra restringe-se as empresas que estabelecem relações diretas com o meio
ambiente e possuem ações negociadas na BM&FBOVESPA, cujas informações estão
disponíveis concomitantemente no período de 2008 a 2012, como pode ser visualizado no
Quadro 9.
41
Quadro 9: Empresas que estabelecem ações diretas com o meio ambiente
SUBSETOR SEGMENTO EMPRESAS
Agropecuária Agricultura
Renar Maçãs S.A.
SLC Agrícola S.A.
Vanguarda Agro S.A.
Madeira e papel
Madeira Duratex S.A.
Eucatex S.A. Indústria e Comércio.
Papel e celulose
Celulose Irani S.A.
Cia Melhoramento de São Paulo
Fibria Celulose S.A.
Klabin S.A.
Santher Fab e Papel Sta Therezinha S.A.
Suzano Papel e Celulose S.A.
Fonte: Informações extraídas do site da BM&FBOVESPA.
As empresas analisadas foram selecionadas em razão de suas relações diretas com o
meio ambiente, haja vista que para a sua efetiva produção, faz-se necessário utilizar de
elementos oriundos da natureza, tais como: solo, água, energia solar, fatores climáticos, dentre
outros. Destaca-se que as organizações Agropecuárias se enquadram no setor de consumo não
cíclico da BM&FBOVESPA, setor esse que recebe poucas interferências das crises
econômicas e é considerado um dos mais seguros para a realização de investimentos. As
demais organizações atuam no setor de materiais básicos, com ações diretas voltadas a
sustentabilidade, o que segundo a BRACELPA (2013) a sua produção é toda oriunda de
florestas plantadas, que propiciam a redução do aquecimento global e a sua certificação como
entidade socioambiental.
3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS
Os dados foram organizados de modo a permitir o cálculo dos indicadores ambiental
de endividamento e rentabilidade. Considerando para o primeiro a proporção de 1 para 57
possibilidade. Todo esse processo foi realizado em uma planilha eletrônica do Microsoft Excel
(Office 2007). Em seguida os dados foram transferidos para o Statistic Package for Social
Sciencies (SPSS 19.0), com a finalidade de eliminar possíveis dados perdidos ou observações
atípicas, bem como condicionar o tratamento estatístico apenas os casos considerados como
válidos.
42
Com a conclusão dessa etapa, procedeu-se com a análise descritiva dos dados
coletados, observando entre os instrumentos de evidenciação, qual foi adotado com maior
frequência e em que momento os itens ambientais são divulgados com maior intensidade.
Além disso, observaram-se quais itens são evidenciados com maior freqüência e se as
organizações primam pela divulgação de informações com caráter mais positivo ou negativo.
Em seguida, os casos válidos foram dispostos em séries temporais empilhadas, com 11
unidades de secção-cruzada, observadas em 5 períodos (2008-2012), o que resultou na
combinação de 55 observações. Esses dados foram todos transportados para o software Gretl,
o que permitiu proceder com a definição da análise de regressão com dados em painel.
Segundo Gujarti (2006) essa é uma técnica que se vale da regressão de dados para explicar as
relações entre as variáveis: dependente (índice de evidenciação ambiental), independente
(indicadores de endividamento) e de controle (ativo total e lucro líquido).
43
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Nessa seção são abordados pontos inerentes ao tipo de informação ambiental mais
divulgada e o principal instrumento utilizado no processo de evidenciação. Também são
apresentados os indicadores de endividamento das empresas estudadas. Além disso, discuto-
se o poder explicativo que o nível de evidenciação propõe para as variáveis de endividamento.
4.1 DESCRIÇÃO DOS DADOS
Ponderando a respeito dos achados, observa-se a relação entre os itens ambientais
divulgados e os principais instrumentos utilizados com essa finalidade. O Gráfico1 aponta que
dentre as possibilidades de evidenciação de itens ambientais, que a SLC Agrícola desenvolve
mais ações para propiciar isso, com destaque para os anos de 2010 a 2012.
Gráfico 1: Aderência a proposta de evidenciação de itens ambientais – Agricultura
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Considerando que a SLC Agrícola foi à organização que mais se destacou em termos
de evidenciação de itens ambientais no setor de Agricultura, constatou-se que isso ocorreu em
razão do seu forte envolvimento, a partir de 2009, com ações direcionadas a preservação
ambiental e melhorias no processamento dos recursos disponibilizados. Esse aumento foi
percerbido também em razão da publicação de “Ativos biológicos”, uma vez que essa
organização trabalha sob a perspectiva de produção e comercialização de soja, café, milho,
algodão e trigo. Outro ponto destacado pela empresa é o reconhecimento de processos
jurídicos abertos em razão de danos ambientais, ocasionado em 2009.
44
Na empresa Renar Maçãs, observou-se o inverso, haja vista que de 2008 a 2010, a
empresa evidenciou mais itens ambientais do que nos dois anos subsequentes, esse fato pode
ser compreendido por terem ocorrido investimentos em termos de produtividade e de não se
ter percebido a existência de parâmetro de evidenciação ambiental. Apesar da atividade
principal da empresa ser a produção de maçãs e sua comercialização in natura, pouco se
evidenciou sobre as questões de processamento e transformação da fruta em polpas. Destaca-
se que a empresa Vanguarda Agro, mantem o processo de evidenciação de seus itens ao longo
do tempo, sendo intensificado após a promulgação do CPC 29.
Destaca-se ainda que quando se trata da escolha de evidenciação dos itens ambientais,
a Vanguarda Agro prioriza a adoção do RS (78%) como fonte principal para indicar ações
voltadas para a preservação e manutenção das águas de rios e mananciais, que se localizam
dentro da própria propriedade, além da manutenção como reserva de parte das plantas nativas.
Outro ponto divulgado, diz respeito ao reaproveitamento de materias para gerar receitas
ambientais, como sobras de soja, algodão e milho, que são comercializados para ração animal.
Considerando isso, Tinoco e Kraemer (2008) comentam que o RS configura-se como um
instrumento essencial para a divulgação de ações voltadas ao meio ambiente.
As empresas do setor de Madeira primam pela evidenciação de itens ambientais em
relatórios de cunho voluntário, apresentando mais informações de natureza positiva, como
ações de sustentabilidade voltadas a atividade de reflorestamento e projetos de monitoramento
das águas, esse fator pode ser observado no Gráfico 2:
Gráfico 2: Aderência a proposta de evidenciação de itens ambientais – Madeira
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
45
Analisando as ações ambientais e sociais da Duratex, observou-se que a mesma
divulga informações contábeis junto aos relatórios de sustentabilidade. Nesse instrumento,
constata-se que as principais informações são relacionadas as ações sociais desenvolvidas,
bem como os métodos de diferenciação dos produtos, por meio da prática de estratégicas de
marketing voltadas a conquista de clientes preocupados com o meio ambiente. Já a Eucatex
apresentou um índice de evidenciação ambiental menor, apesar da mesma já vir realizando
atividades sócio-ambientais desde de 1996. Outro ponto interessante é que dentre os itens
anunciados como essenciais para esse processo, que as atividades administrativa integrada ao
meio ambiente são fortes, o que é comprovado pelo selo verde e as certificações (ISO 14001 e
ISO 9001) disponibilizado no próprio endereço eletrônico da empresa.
Destaca-se ainda que dentre os instrumentos de evidenciação mais expresivos tem-se
as NE e os RS. A Duratex divulga informações sobre as ações desenvolvidas em prol da
preservação do hábitat natural, economizando recursos hídricos e trabalhando apenas com
madeiras certificadas, de florestas plantadas ou replantadas, dentre as quais destaca-se contas
de ativo, receitas, despesas, custos e passivos ambientais. Já a Eucatex as divulga grande parte
de suas relações com o meio embiente em NE e no próprio endereço eletrônico da empresa,
priorizando itens referentes aos “Ativos biológicos”.
Analisando as empresas do setor de Papel e celulose, constatou-se que as mesmas
evidenciam mais itens ambietais do que os demais setores estudados. Destaca-se que isso
pode está ocorrendo em razão do próprio campo de atuação das empresas, que se reveste de
forte pressão em relação às atividades serem de extração. Outro ponto importante a ser tratado
é que as mesmas também buscam conquistar clientes por meio do desenvolvimento de
práticas sócio-ambientais, conforme pode ser verificado na Tabela 1:
Tabela 1: Aderência a proposta de evidenciação de itens ambientais – Papel e celulose
EMPRESA 2008 2009 2010 2011 2012
Celulose Irani 17% 17% 23% 23% 20%
Cia. Melhoramento 12% 18% 24% 24% 24%
Fibria Celulose 5% 9% 25% 32% 30%
Klabin 21% 21% 22% 21% 15%
Santher 13% 13% 25% 25% 25%
Suzano 23% 26% 17% 23% 11%
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
46
O estudo aponta que a Celulose Irani é uma empresa que se preocupa em desenvolver
ações sócio-ambientais ao longo do período analisado (2008-2012). O índice de aderência
dessa empresa pode ser explicado em razão de sua preocupação em manter políticas voltadas
ao meio ambiente, com o plantio de mudas para se abastecer de matéria-prima necessária a
sua produção, bem como a adoção de políticas contra o desmatamento de plantas nativas e
produção de créditos de carbono.
A Klabin também demonstrou uma forte preocupação em divulgar as suas relações
com o meio ambiente, uma vez que se preocupa em plantar e colher sua matéria-prima de
forma sustentável e com adoção de práticas de reciclagem e preservação do meio ambiente.
Observa-se ainda que essa empresa também se utiliza dos relatórios para publicas e promover
as suas ações ambientais.
Nesse contexto, a Celulose Irani prioriza a divulgação de seus procedimentos, técnicas
e ações voltadas à gestão ambiental, o que é reforçado pelo fato dessa organização ter a
prática de divulgar ações ambientes no RS desde o ano de 2006, o que revela a sua forte
preocupação com os impactos que suas atividades podem ocasionar ao meio ambiente e a
sociedade.
Considerando que para responder aos questionamentos tratados no início do estudo,
fez-se necessário utilizar os indicadores de endividamento, que retratam o comportamento do
indicador de influência do capital de terceitos, como pode ser visualizado no Gráfico 3:
Gráfico 3: Indicadores de endividamento – Agricultura
3.a: CT/CP 3.b: IRP
Fonte: Dados da Pesquisa (2013).
Considerando que o indicador de interferencia de capitais de terceiros no ativo total da
empresa gera uma maior cobrança por parte dos investidores, por sinalizarem a capacidade de
solvência das empresas, os dados apontam que as empresas que compõem o setor de
47
Agricultura possuem relações diferentes com esse indicador. A Vanguarda diminuiu de forma
significativa esse indicador entre os anos de 2008 e 2009, ao passo que a Renar Maçãs teve
aumento em seu nível de endividamento, o que pode ser justificado por investimentos
mantidos com capital de terceiros.
No que diz respeito a imobilização de recursos permanentes, observou-se que as
empresas tem investido cada vez mais em suas atividades operacionais. Apesar disso, a Renar
Maçãs, apresent resultado insatisfatórios, o que sugere que a mesma possui dificuldades em
gerenciar seus investimento operacionais.
Analisando a relação entre o capital de terceiros e o capital próprio, observa-se que o
setr de Madeira possuem comportamentos semeslhantes. No entanto, nos últimos três anos
destaca-se que a Eucatex apresenta uma maior independência financeira no ano de 2012, ao
passo que a Duratex aumentou o seu grau de dependência de recursos oriundos de terceiros,
como pode ser verificado no Gráfico 4:
Gráfico 4: Indicadores de endividamento – Madeira
4.a: CT/CP 4.b: IRP
Fonte: Dados da Pesquisa (2013).
No que diz respeito à imobilização dos recursos permanentes, destaca-se que as
empresas do setor de Madeira, em especial a Duratex, aponta que possui um maior volume de
recursos próprios investidos em suas atividades operacionais. Já a Eucatex, tem um menor
índice de imobilização, o que aponta que seus bens são adquiridos por meio da utilização de
capitais de terceiros, como financiamentos.
Ponderando a respeito das empresas do setor de Papel e celulose, no geral, observa-se
que sua relação em termos de capital de terceiros e o capital próprio também detém igualdade
49
de quanto aos recursos advindos de meios externos. Apesar disso, a Santher vem aumentoa ao
longo do tempo a sua dependência financeiros, como demonstrado na Tabela 2:
Tabela 2: Aderência a proposta de evidenciação de itens ambientais – Papel e celulose
EMPRESA 2008 2009 2010 2011 2012
CT/CP IRP CT/CP IRP CT/CP IRP CT/CP IRP CT/CP IRP
Celulose Irani 10,50 1,20 1,41 1,09 1,44 1,02 1,55 0,98 1,66 0,97
Cia. Melhoramento 4,08 1,03 1,47 0,95 1,08 0,99 0,83 1,00 0,80 1,00
Fibria Celulose 1,16 0,15 1,14 0,94 0,97 0,90 0,92 0,87 0,85 0,85
Klabin 2,43 0,87 1,42 0,79 1,72 0,68 1,57 0,80 1,60 0,78
Santher 3,25 1,02 3,04 1,23 5,00 1,43 7,19 1,41 12,54 1,33
Suzano 2,40 0,41 1,87 0,39 1,20 0,32 1,24 0,29 1,30 0,30
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Dentre as empresas produtoras de Papel e celulose, no geral, percebe-se que as
mesmas se utilizam mais de seus recursos de terceiros para financiar suas atividades
operacionais do que buscam por financiamento. A exceção da empresa Suzano, cujos
investimentos operacionais são financiados por seus próprios recursos.
4.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Com o intuito de analisar se o nível de evidenciação de itens ambientais é impactado
pelos indicadores de endividamento, adotou-se a técnica de dados empilhados, com
parâmetros fixos. Para Gujarati (2006) essa técnica auxilia na compreensão das relações entre
as variáveis (dependente, independente, controle), valendo-se para isso da análise de
regressão dos dados. Considerando-se isso, apresenta-se a Equação (1), que observa em seu
conteúdo, elementos de: heterogeneidade (ai), dinâmica das regressões (Xit), eficiência dos
estimadores (β) e erro (εit).
Yit = ai + Xitβ + εit (1)
Para tanto, procedeu-se com a elaboração do modelo de dados em painel (Yit) com o
auxílio do software Gretl. Destaca-se que na metodologia de análise, adotaram-se os Mínimos
Quadrados Ordinários (MQO), que observa o empilhamento dos dados coletados. Segundo
Gujarati (2006) esse método não distribui pesos entre as variáveis e nem geram modelos
tendenciosos.
50
Iniciando-se o processo de análise, observou-se a necessidade de além da variável
dependente e das independentes, a necessidade de inclusão de mais algumas variáveis de
controle (MODELO 1), que pudessem gerar maior ajustamento ao modelo, como pode ser
visualizado na Tabela 3.
Tabela 3: Modelos estimados com efeitos fixos (variável dependente: índice de evidenciação ambiental)
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3
Variáveis Coef. p-value Coef. p-value Coef. p-value
CT_CP - 0,00748 0,05306* - 0,00766 0,04825** - 0,00765 0,04557**
CT_PT - 0,00060 0,94564 - 0,00067 0,93724
IRP 0,16808 0,00194*** - 0,17239 0,00706*** 0,17259 0,00626***
AT 3,31851 0,26609 3,31449 0,26046
LL - 3,81769 0,02190** - 3,81750 0,02026**
R2 0,79461 0,82106 0,82103
R2 Ajustado 0,72949 0,75224 0,75839
SQ Res 0,08016 0,06984 0,06985
DW 1,28898 1,29017 1,29344
Akaike - 175,123 - 178, 705 - 180,696
Schwarz - 147,02 - 146,588 - 169, 052
Modelos Índ. Evid. Amb. = a0 +
CT_CP + CT_PT + IRP+ ε
Índ. Evid. Amb. = a0 +
CT_CP + CT_PT + IRP + AT + LL + ε
Índ. Evid. Amb. = a0 +
CT_CP + IRP + AT + LL + ε
* Significativo a 10%. ** Significativo a 5%. *** Significativo a 1%.
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Ao analisar o Modelo 1 observou-se que o índice CT_CP, que sinaliza o grau de
dependência de capitais de terceiros, é significante a 10% (p-value = 0,05306), assim como o
IRP é significante a 1% (p-value = 0,00194), o que indica que esses indicadores financeiros
são relevantes quando se trata da evidenciação de itens ambientais. Entretanto, ao analisar o
CT_PT (p-value = 0,94564), que retrata o nível de independência financeira da empresa,
observou-se que o mesmo não apresenta significância estatística, e que conseqüentemente não
ajuda a explicar o nível de evidenciação ambiental.
Considerando esses achados, observa-se que o R2, que mede a força das variáveis
dentro da regressão (GUJARATI, 2006), explica 79,46% das relações estabelecidas no
Modelo 1. Analisando as relações significantes, destaca-se que o indicador CT_CP, estabelece
uma relação indireta com o índice de evidenciação, enquanto que o IRP aponta uma relação
51
direta. Entretanto, ao compreender que R² Ajustado possibilita uma análise mais segura sobre
a regressão (GUJARATI, 2006), observa-se que o poder explicativo é de 72,95%.
Avaliando os achados obtidos com o “teste d” (d = 1,28898), Durbin-Watson (DW),
que detecta a correlação existente entre as variáveis, embasada nos resíduos estimados
(GUJARATI, 2006), contatou-se um DW ruim, o que aponta que há uma auto-correlação
entre as variáveis (dL = 1,452 < d < dU = 1,681). Quanto ao critério de informação de Akaike
(-175,123), que relata qual o melhor modelo (GUJARATI, 2006), observou-se para o Modelo
1, um nível indesejável entre as previsões, dentro e fora da amostra. De forma adicional o
critério de informação de Schwarz (-147,02), também indica o quanto o Modelo 1 não satisfaz
ao poder explicativo desejado para o estudo haja vista em razão de deter um parâmetro
explicativo maior do que nos demais modelos.
Com o intuito de reduzir os problemas do Modelo 1, acrescentou-se algumas variáveis
de controle, ativo total e lucro líquido, para rodar um novo modelo. Com a análise do Modelo
2, constatou-se que o indicador CT_CP, tornou-se significante a 5% (p-value = 0,04825), o
que revelou que estatisticamente esse indicador é uma boa medida para ajudar a explicar a
relação proposta no estudo. O IRP permaneceu significante a 1% (p-value = 0,00706),
estabelecendo uma relação inversa entre o índice de evidenciação ambiental e os recursos
imobilizados pelas empresas estudadas.
Analisando as variáveis de controle, constatou-se que o Ativo Total (AT) não
apresenta significância, ou seja, o aumento na evidenciação dos itens ambientais ou não
interfere no valor do ativo total das empresas. Já a variável de controle referente ao Lucro
Líquido (LL) apresentou significância estatística a 5% (p-value = 0,02190). Partindo disso,
contatou-se um sensível aumento no R2 Ajustado (75,22%). O DW (d = 1,29017) também se
modificou, o que se justifica pelo aumento no número de variáveis independentes. No que se
refere aos critérios de informação, dados pelo teste de Schwarz (- 146,588) e Akaike (- 178,
705), observa-se que a relação explicativa é inversa.
Partindo dessa perspectiva, construiu-se uma nova relação, por meio do Modelo 3, que
combinou os itens significantes nos modelos anteriores. Destarte, o indicador CT_CP
apresentou coeficiente significativo a 5% (p-value = 0,04557) e estabelece uma relação
inversa com o índice de evidenciação ambiental. Analisando o IRP, observa-se um nível de
significância a 1% (p-value = 0,00626) e uma relação direta com o índice de evidenciação
ambiental. Em relação ao teste de Schwarz (- 169,052) no Modelo 3 foi o que melhor foi
explicado, esse modelo aponta um poder explicativo de 75,83%, o que sugere a confirmação
52
da Hipótese nula (H0), de que a evidenciação ambiental é explicada pelo índice de
endividamento, especialmente o de CT_CP e IRP.
53
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
O estudo objetivou analisar como o índice de evidenciação ambiental é impactado
pelos indicadores de endividamento das empresas, que estabelecem relações diretas com o
meio ambiente e possuem ações negociadas na BM&FBOVESPA, entre os anos de 2008 e
2012. Utilizando-se para isso das discussões advindas com a Resolução CFC n.º 1.003/2004,
“NBCT 15 – Informações de natureza social e ambiental”, o CPC 29/2009, “CPC 29 – Ativo
biológico e produto agrícola”, e a proposta de itens ambientais tratada por Tinoco e Kraemer
(2008). Nesse contexto, analisaram-se o nível de evidenciação de itens ambientais das
empresas, em relação às recomendações propostas.
Os dados apontam que as empresas do setor Agropecuário tem mais cuidado em tratar
sobre a evidenciação ambiental, conforme preceitua o CPC 29/2009. Outro ponto interessante
é que apesar de já existirem recomendações anteriores para tratar da evidenciação de itens
ambientais, que isso se intensificou a partir do ano de 2010, principalmente quanto aos itens
referentes aos “Ativos biológicos”. Além desse item, destaca-se ainda que essas divulgam
informações referentes as ações de preservação ambiental e provisões para contingências.
No que diz respeito às empresas que atuam no ramo Madeireiro e de Papel e celulose,
observou-se que as mesmas também divulgam ações de preservação, bem como itens
referentes às receitas oriundas de reaproveitamentos. Além disso, essas empresas demonstram
ter estratégias voltadas ao investimento de formar mais seguras de produção.
Ponderando sobre dos indicadores de endividamento das empresas, o estudo aponta
que as empresas não apresentaram muita dependência de recursos oriundos de terceiros.
Apesar dos investimentos em procedimentos tecnológicos. Outro aspecto interessante é que as
empresas buscam divulga suas ações e projetos sócio-ambientais, prioritariamente em
relatórios voluntários. Partindo desses achados, o estudo revelou que há relação direta entre os
níveis de evidenciação de itens ambientais e os indicadores de endividamento CT/CP e IRP.
Ante ao exposto, e com base nas limitações desse estudo, recomenda-se o
desenvolvimento de trabalhos, considerando outros indicadores econômico-financeiros, como
os de liquidez. Fazer um estudo considerando observando a questão da volatilidade das ações,
em razão da maior ou menor evidenciação de itens ambientais. Sugere-se ainda, que esse tipo
de estudo seja expansivo a outros setores da BM&FBOVESPA e que sejam considerados
recortes temporais mais extensos e outros instrumentos de evidenciação ambiental.
54
REFERÊNCIAS
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57
APÊNDICE A– Instrumento de coleta
EMPRESA: ______________________________ ( ) DEM ( ) NE ( ) RA ( ) RS
ATIVO AMBIENTAL 2008 2009 2010 2011 2012 Amortização acumulada ambiental Benfeitorias ambientais Ativo biológico (CPC 29) Depreciação acumulada ambiental Desenvolvimento de produtos ecológicos Equipamentos ambientais Estoque de matérias-primas ambientais Estoques de produtos acabados/reciclados Estoques de produtos acabados/reciclados Estoques de produtos em processos ambientais Exaustão acumulada ambiental Filtros ambientais Florestamento e reflorestamento ambiental Florestamento e reflorestamento para proteção do meio ambiente Investimento em gestão ambiental Investimentos em áreas de conservação ambiental Investimentos em máquinas e equipamentos ambientais Investimentos em unidades florestais Obras e instalações ambientais Pesquisas ambientais Programas e projetos ambientais Projetos para redução de energia Projetos para utilização/reutilização de água Reserva florestal Tecnologia ambiental Treinamento ambiental
PASSIVO AMBIENTAL Acidentes ambientais Convênios ambientais Financiamentos ambientais Fornecedores de bens ambientais Indenizações ambientais Obrigações fiscais ambientais a pagar Resíduo sólido Resíduo não tóxico Resíduos para produção de energia Resíduos tóxicos
RECEITAS AMBIENTAIS Aproveitamento de biomassa Aproveitamento de resíduos industriais Redução do consumo de água e efluentes Redução do consumo de óleo Redução no consumo de energia
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RECEITAS AMBIENTAIS 2008 2009 2010 2011 2012 Redução no consumo de matérias-primas Reutilização e reciclagem de matérias renováveis e recicláveis Venda de biomassa Venda de créditos de carbono Venda de resíduos Venda de seus subprodutos
CUSTOS AMBIENTAIS Custo com controle de emissão de resíduos Custo com recuperação de áreas degradadas Custos com treinamento ambiental Gastos com despesas ambientais Gastos com reflorestamento
DESPESAS AMBIENTAIS Despesa com multas e indenizações ambientais Despesa com o tratamento de efluentes Despesa com Programa de Educação Ambiental Despesa com proteção/conservação ou preservação ambiental Despesa com recuperação ambiental Seguros ambientais
TOTAL