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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
NATALIA DE LIMA BUENO
TECNOLOGIA EDUCACIONAL E REIFICAO: UMA ABORDAGEM CRTICA
A PARTIR DE MARX E LUKCS
CURITIBA
2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
NATALIA DE LIMA BUENO
TECNOLOGIA EDUCACIONAL E REIFICAO: UMA ABORDAGEM CRTICA
A PARTIR DE MARX E LUKCS
Tese apresentada ao Programa de Ps Graduao
em Educao, Linha de pesquisa Escola, cultura e
ensino, Setor de Educao, Universidade Federal
do Paran, como requisito parcial obteno do
ttulo de Doutor em Educao.
Orientadora: Prof. Dra. Rosa Maria Cardoso
Dalla Costa
CURITIBA
2013
Catalogao na publicao Fernanda Emanola Nogueira CRB 9/1607
Biblioteca de Cincias Humanas e Educao - UFPR
Bueno, Natalia de Lima Tecnologia educacional e reificao : uma abordagem crtica a
partir de Marx e Lukcs / Natalia de Lima Bueno. Curitiba, 2013. 503 f. Orientadora: Prof. Dr. Rosa Maria Cardoso Dalla Costa
Tese (Doutorado em Educao) Setor de Educao da Universidade Federal do Paran.
1. Tecnologia educacional. 2. Ensino fundamental. 3. Ensino
auxiliado por computador. 4. Reificao. I.Ttulo. CDD 371.33
Dedicatria
Nomia, Ovande (In memoriam), Me, Pai, os primeiros Doutores em minha vida.
Profunda gratido! Aprendi e cresci sobre os ombros de gigantes.
Ao Ser que seria Heloisa: "Amor incondicional".
Nei, por me ajudar a permanecer tolerante, resiliente e persistente.
VI
Agradecimentos
A Deus, Me Divina, Tao.
Ao povo brasileiro que, atravs da Capes, confiou e financiou parte do tempo dessa pesquisa.
Muito Obrigada!
professora Orientadora Rosa Cardoso Dalla Costa por acreditar nessa pesquisa, respeitando
minhas posies. Sua presena nessa fase de minha vida foi marcante. Muito Obrigada!
Em especial aos professores Maria Dativa e Joo Augusto Bastos, por confiarem nessa
pesquisa e entenderem profundamente a possvel contribuio. Com sua sabedoria me
guiaram a perceber melhor o caminho;
Aos professores da Ps-Graduao em educao da UFPR, onde tive a honra de aprender em
suas disciplinas e conviver com seus saberes: Noela Invernizzi, Tais Moura, Jaison Bassani,
Maria Auxiliadora Schmidt, Accia Kuenzer, Glaucia Brito, Rosa Dalla Costa, Regina
Michelotto, Ricardo de S. Ajudaram-me a observar alm!
Aos professores Lgia Klein, Maria de Ftima Pereira e Walter Bazzo, pela brilhante
colaborao no encaminhamento dessa pesquisa na fase de qualificao.
s escolas municipais de Curitiba integrantes dessa pesquisa, em especial aos professores
participantes do trabalho de campo, seus relatos me ajudaram a perceber melhor o objeto de
pesquisa e conferiram vivacidade investigao;
Secretaria Municipal de Educao de Curitiba, atravs do Departamento de Ensino
Fundamental e de Tecnologia Educacional, pela receptividade, seriedade e diplomacia ao
tratarem dessa pesquisa acadmica.
Aos meus irmos(s), por me ensinarem a conviver e crescer na diversidade, na dialtica da
vida entre muitos(as)! Maria, Roberto, lvaro, Fbio, Mauro, Paulo, Jussara e Rui. Cada um
de ns compe a sua histria. E cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz.....;
Eternas(os) amigas(os) irms(os), sempre presentes em minha caminhada e, especialmente,
nesses quatro anos: Mestre Chan, Mestre Wu, Nei, Joo Paulo, Liang, Wuei Chiou, Andr,
Victrio, Miriam, Rafael, Rossana, Endrigo, Eros, Beatriz, Bia, Ivi, Angela, Sandra,
Guilherme, Ktia, Bruna, Lin, Lvia, Joe, Assionara, Jandicleide, Bira e famlia, Bastos,
Regina, Celso e Graciela. Amizade um(a) irmo() que se escolhe!
Aos amigos(as) de longa histria: Silvio, Ana Lcia, Mariclia, Hilria, Raul, Maristela,
Maroly, Glucia, Maria Olinda, Elza, Karina, Emerson e Ana Tereza. A amizade um re-
encontro de afinidades;
Pela prontido em estarem comigo: amado afilhado Gustavo, Louise, Marco, Ayrton, Tia
VII
Zilda, Tio Neno, Nair e Odilo Birk, Silvani, Dirci e Joana Knapp, Beth, Alexandre, Regina,
Reginaldo, Izabel, Danielle, Ivanilda, Jaqueline. A todos, no me esquecerei de seu valoroso
amparo! Trouxeram-me mais conforto nesse perodo;
Aos colegas de Ps-Graduao da UFPR, da turma de 2009. Em especial aos colegas da
representao estudantil, um breve tempo dedicado militncia sempre presente; conscincia
revolucionria permanente! Lvia, Thiago, Cassius, Lucas, Marcelo. Obrigada pelo
aprendizado sempre renovado. Pelo coleguismo e afinidade Rita e Luciano; nos debates
profcuos nas disciplinas Jos e Ademir.
Aos professores da gesto da Ps-Graduao em Educao da UFPR, dos anos de 2009 a
2013. Nesse tempo em que aprendi a perceber o valor de cada um, em encontros rpidos ou
em reunies de colegiado: Tania Braga, Angelo Ricardo, Paulo Vincius, Mnica Ribeiro.
Aos funcionrios da secretaria do PPGE-UFPR, pela prontido e receptividade sempre em me
atender e orientar;
Todos (as) os (as) companheiros da caminhada no movimento social, na educao popular.
Fase fundamental de minha construo profissional e humana. Tal trajetria me permitiu
ampliar a viso de educao, transpondo-a, concretamente, para alm dos muros da escola.
Pude perceber a coerncia e prtica da teoria crtica da educao comprometida com a
emancipao dos sujeitos.
Aos colegas de trabalho da UEPG que ofereceram um fragmento de seu tempo para ouvir os
meus relatos da pesquisa: Regina, Joana, Deborah, Nvio, Beatriz, Alessandra, Andreia,
Cristiane e Marcelo. Obrigada pela acolhida!
Essa pesquisa tambm um estmulo para meus amados(as) sobrinhos(as), que, na
convivncia, ajudaram-me a entender melhor a educao: pequena Nomia, Flvia, Lucas,
Guilherme, Mariana, Letcia, Gustavo, Bruna, Fernanda, Vincius, Louise e Thais, pequeno
Jorge, Betina, Breno, Larissa e Gabriela.
Aos meus alunos da graduao da UEPG, pela convivncia e aprendizado permanentes.
Vocs so a minha esperana na conduo de uma educao mais histrico-crtica e
libertadora. Na formao de educadores que possam olhar alm da aparncia das coisas,
observar mais a realidade concreta e serem sujeitos de transformao;
Aos meus alunos do passado-presente, da persistncia na educao. Do maternal Ps-
Graduao, atravs de vocs eu tenho aprendido muito a ser 'diariamente', uma professora
melhor.
Quem conhece a sua ignorncia
Revela a mais alta sapincia.
Quem ignora a sua ignorncia
Vive na mais profunda iluso.
No sucumbe iluso
Quem conhece a iluso como iluso.
O sbio conhece o seu no-saber,
E essa conscincia do no-saber
O preserva de toda a iluso.
(Lao-Ts)
RESUMO
O objetivo dessa pesquisa foi o de "Investigar os processos de reificao e superao no
desenvolvimento da tecnologia educacional na escola de Ensino Fundamental" e o problema
de pesquisa: Como a escola de Ensino Fundamental, atravs do trabalho dos educadores com
a tecnologia educacional, no uso dos computadores, pode evidenciar processos de reificao e
caminhos superao da lgica de produo capitalista? Focamos o estudo da reificao e
superao a partir da perspectiva em Marx e Lukcs, passando por outros autores que
estudaram a reificao. Optamos pelo caminho da perspectiva crtica em Marx e Lukcs por
entend-la como mais apropriada para o estudo do objeto de pesquisa proposto, qual seja: a
tecnologia educacional na escola de Ensino Fundamental. Tratamos de relacionar a base
terica crtica com autores que discutem a tecnologia e a tecnologia educacional numa
perspectiva histrico-crtica tais como Feenberg, Burris e Vieira-Pinto e a partir do contexto
da escola como Garcia-Vera, bem como, identificar algumas perspectivas da tecnologia
educacional que buscam manter lgica dominante da produo capitalista. Os estudos de
Marx e Lukcs nos permitiram fazer uma reflexo crtica em face do trabalho com a
tecnologia e a tecnologia educacional nas escolas de ensino fundamental. Resgatamos desses
dois autores a discusso da reificao e relacionamos ao avano da tecnologia educacional
presente em projetos nas escolas pblicas, com base nos documentos consultados e,
evidenciado na prtica pedaggica dos professores a partir de seus relatos em entrevistas.
Utilizamos pesquisa bibliogrfica, documental e de campo com base no mtodo dialtico de
anlise. A amostra da pesquisa contou com o cmputo de treze escolas pblicas de Ensino
Fundamental pesquisadas, dispostas em nove Ncleos Regionais de Educao na cidade de
Curitiba, de modo que contemplasse uma realidade escolar por regio na cidade, envolvendo
quinze professores entrevistados na totalidade. Focamos esse estudo no trabalho com a
Informtica na escola, como uma ramificao da discusso da tecnologia educacional, por
apresentar as caractersticas singulares e similares do estudo da mercadoria na perspectiva da
teoria crtica marxista. Apontamos a seguinte tese: "a escola de Ensino Fundamental, em face
do trabalho com tecnologia educacional reproduz o modo de produo capitalista, atravs do
processo de reificao representado na forma de mercadoria, uso dos computadores no ensino,
mas pode revelar caminhos superao da lgica capitalista" e respondemos ao problema de
pesquisa a partir do caminho proposto com base na pesquisa de abordagem dialtica. Tais
caminhos no se mostram abertamente ao olhar do sujeito imerso no sistema econmico
capitalista que se estende na escola de ensino fundamental, requer um esforo permanente que
convoque os sujeitos no interior da escola superao da conscincia reificada apontada por
Lukcs, posto que exige uma formao poltica contnua, trata-se de algo mais do que uma
simples mudana de pensamento, urge uma ao concreta ante o avano da tecnologia no
interior das escolas. No decorrer da pesquisa foi possvel perceber convergncias com as
categorias j evidenciadas nos estudos de Lukcs e Marx e que se reproduzem concretamente
no interior das escolas pblicas de ensino fundamental para propor uma abordagem histrico-
crtica revolucionria tecnologia educacional.
Palavras-chave: Reificao. Tecnologia educacional. Abordagem histrico-crtica. Ensino
Fundamental.
10
ABSTRACT
The objective of this research was to "investigate the processes of reification and overcoming
in the development of educational technology in the Elementary Education school and the
research problem was to check how Elementary School, through the work of educators with
educational technology in use computers, can demonstrate processes of reification and ways
to overcome the logic of capitalist production. We focus on the study of reification and
overcoming from Marx and Lukcs perspective, and of other authors who studied the
reification. We chose the critical perspective of Marx and Lukcs because we understand it as
more appropriate to study the object of intended by this research, namely: educational
technology in the elementary school. We tried to relate the theoretical critique with authors
who discuss technology and educational technology in a historical and critical perspective
such as Feenberg, Burris and Vieira-Pinto and from the context of the school as Garcia-Vera
understand it, as well as to identify some perspectives of educational technology which seek
to maintain the dominant logic of capitalist production. Studies of Marx and Lukcs allowed
us to reflect critically in face of working with technology and educational technology in
elementary schools. We have rescued from these two authors their discussion of reification
and related it to the advancement of educational technology projects present in the public
schools, based on the documents consulted, and clearly showed in the pedagogical practice of
teachers from their reports during the interviews. We used literature, documental and field
research based on the dialectical method of analysis. The survey sample included the
computation of thirteen public schools Elementary researched, disposed in nine Regional
Centers of Education in the city of Curitiba, Paran, Brazil, in order to contemplate a school
reality in the city by region, involving fifteen teachers interviewed altogether. We focus this
study on the work with computers in school, as an offshoot of the discussion of educational
technology to present the unique and similar characteristics of the merchandize study in the
perspective of Marxist critical theory. We point out the following thesis: "The School of
Primary Education, in the face of working with educational technology reproduces the
capitalist mode of production, through the process of reification represented in the form of
goods, the use of computers in teaching, but it may reveal ways to overcome the capitalist
logic" and respond to the research problem from the proposed path-based research of dialectic
approach. These paths do not openly show themselves to the look of the subjects immersed in
the capitalist economic system which extends itself in the elementary school, it requires an
ongoing effort to convene the subjects within the school to overcome the reified
consciousness reported by Lukcs, since it requires a continuous training policy, it is
something more than a simple change of thought, it needs concrete action before the advance
of technology within schools. During the research, it was possible to notice convergences
with the categories already evidenced in studies of Marx and Lukcs which reproduce
themselves specifically within public elementary schools to propose a revolutionary
historical-critical approach to educational technology.
Palavras-chave: Reification. Educational technology. Historical-critical perspective.
Elementary schools.
11
RESUMEN
El objetivo de esta investigacin fue "investigar los procesos de reificacin y superar en el
desarrollo de la tecnologa educativa en la escuela de Educacin Primaria" y el problema de
investigacin: Cmo Elementary School, a travs del trabajo de los educadores con la
tecnologa educativa en el uso ordenadores, pueden demostrar los procesos de reificacin y la
manera de superar la lgica de la produccin capitalista? Nos centramos en el estudio de la
reificacin y la superacin desde la perspectiva de Marx y Lukcs, pasando por otros autores
que han estudiado la reificacin. Hemos elegido el camino de la perspectiva crtica de Marx y
Lukcs entendiendo como ms apropiado para estudiar el objecto de la investigacin
propuesta: la tecnologa educativa en la escuela de primaria. Tratamos de relacionar la crtica
terica con los autores que hablan de la tecnologa y la tecnologa de la educacin en un
contexto histrico-crtica, como Feenberg, Burris y Vieira-Pinto y desde el contexto de la
escuela como Garca-Vera, as como identificar algunas perspectivas de la tecnologa
educativa que tratan de mantener la lgica dominante de la produccin capitalista. Los
estudios de Marx y Lukcs nos permitieron reflexionar crticamente cmo trabajar con la
tecnologa y la tecnologa de la educacin en las escuelas primarias. Rescatamos de los
estudios de estos dos autores la discusin de la reificacin y relacionamos con el avance de
los proyectos de tecnologa educativa presentes en las escuelas pblicas, con base en los
documentos consultados, y lo qu se evidencia en la prctica pedaggica de los docentes de
sus informes en las entrevistas. Utilizamos la literatura, documental y de campo basado en el
mtodo de anlisis dialctico. La muestra de la investigacin incluy el clculo de trece
escuelas pblicas primarias, dispuestas en nueve Centros Regionales de Educacin de la
ciudad de Curitiba, Paran, Brasil, con el fin de contemplar una realidad por la escuela y por
regin de la ciudad, con la participacin de quince profesores entrevistados en total. Nos
centramos el estudio en el trabajo con computadoras en las escuelas, como una rama de la
discusin de la tecnologa educativa, pues presenta las caractersticas nicas del estudio y de
mercancas similares desde la perspectiva de la teora crtica marxista. Destacamos la
siguiente tesis: "La Escuela de Educacin Primaria, en la forma que trabaja con la tecnologa
educativa reproduce el modo de produccin capitalista, a travs del proceso de reificacin
representado en forma de mercancas, el uso de las computadoras en la enseanza, pero
pueden revelar maneras de superar la lgica capitalista" y responder al problema de la
investigacin de la propuesta basada en la investigacin dialctica. Estos caminos no
muestran abiertamente la mirada del sujeto inmerso en el sistema econmico capitalista que se
extiende en la escuela primaria, requiere un esfuerzo continuo para convocar a los sujetos
dentro de la escuela para superar la conciencia cosificada informado por Lukcs, ya que
requiere una contna formacin poltica, es algo ms que un simple cambio de pensamiento, y
instar a la accin concreta ante el avance de la tecnologa en las escuelas. Durante la
investigacin se revel convergncias convergencias con las categoras ya evidenciadas en los
estudios de Marx y Lukcs y se reproducen dentro de las escuelas primarias pblicas y
proponer un enfoque histrico-crtico revolucionario a la tecnologa educativa.
Palabras clave: Reificacin. La tecnologa educativa. Enfoque histrico-crtico. Educacin
Bsica.
SUMRIO
PROLEGMENOS .................................................................................................................................. 14
CAPTULO I ............................................................................................................................................. 26
CONTEXTUALIZANDO O PROCESSO DE REIFICAO E SUPERAO ............................... 26
1. Conceituando reificao: aportes tericos .................................................................................. 27
1.1 O processo de Reificao em Marx: um dilogo permanente com a alienao ............... 32
1.2 A reificao em O Capital: a mercadoria e seu fetiche ...................................................... 53
1.3 A propriedade inerente mercadoria: fetichismo e seu segredo ...................................... 62
1.4 Reificao e a frmula trinitria produo de mercadorias .......................................... 74
2. O fenmeno da Reificao em Lukcs ....................................................................................... 84
2.1 A reificao e a conscincia do proletariado ....................................................................... 94
CAPTULO II - ATUALIDADE DA REIFICAO E SUPERAO ............................................ 128
1. Da teoria da positividade capitalista superao da reificao .............................................. 128
1.1 Uma teoria das relaes reificadas ..................................................................................... 128
1.2 Superao e conscincia de classe ...................................................................................... 135
2. Reificao e outros estudos ......................................................................................................... 147
2.1 Teoria crtica e a reificao ................................................................................................ 147
2.2 Uma leitura sobre o esquecimento e reconhecimento ...................................................... 161
2.3 A relao reificao , Tecnologia Educacional e Novas tecnologias ............................. 166
CAPTULO III ........................................................................................................................................ 183
TECNOLOGIA EDUCACIONAL: ESSNCIA OU APARNCIA? ................................................ 183
1. Essncia e aparncia no estudo da tecnologia e da tecnologia educacional ........................... 183
2. Reificao e as novas tecnologias: a submisso da tecnologia e da tecnologia educacional
ao capitalismo ...................................................................................................................................... 198
3. O hierglifo da Tecnologia Educacional: reificao e superao ........................................... 215
13
4. Uma perspectiva crtica Tecnologia Educacional e s NTIC ............................................... 220
5. Outros caminhos superao .................................................................................................... 236
6. A Informtica educacional e a mediao tecnolgica ............................................................ 241
CAPTULO IV ........................................................................................................................................ 252
REIFICAO E TECNOLOGIA EDUCACIONAL: UMA ABORDAGEM DIALTICA ........... 252
1. Amostra da Pesquisa ................................................................................................................... 274
2. Caracterizao das escolas participantes da amostra .............................................................. 277
3. O Projeto de Tecnologia Educacional da SME-Curitiba: antecedentes histricos ............... 284
4. Projetos de Tecnologia Educacional das escolas pesquisadas ................................................ 295
CAPTULO V - REIFICAO E SUPERAO NA ESCOLA DE ENSINO
FUNDAMENTAL: ANLISE DOS DADOS DA PESQUISA DE CAMPO ..................................... 298
1. Categorias do Mtodo e Categorias de anlise ......................................................................... 300
1.1 Da Reificao ....................................................................................................................... 300
1.2 Da Superao ....................................................................................................................... 302
1.1.1 A reificao da Tecnologia e da Tecnologia educacional: ............................................... 305
1.1.2 A estrutura da reificao e a tecnologia educacional: ...................................................... 319
1.1.3 A liberdade reificada ........................................................................................................... 333
1.1.4 A conscincia reificada ........................................................................................................ 352
1.1.5 Invlucro reificado .............................................................................................................. 380
1.2.1 Conscincia e prtica revolucionrias ............................................................................... 391
1.2.2 O sujeito-histrico do processo: ........................................................................................ 401
1.2.3 A mediao tecnolgica: ..................................................................................................... 413
CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................................. 418
REFERNCIAS ...................................................................................................................................... 435
APNDICES ............................................................................................................................................ 451
ANEXOS .................................................................................................................................................. 488
PROLEGMENOS
Um tese j por natureza uma contradio, pois ao mesmo tempo em que
uma concluso tambm um incio; o fim apenas um comeo. Portanto, no vejo
final, mas incio de uma nova caminhada com a interrogao que se iniciou com essa
tese. Para sair um pouco do tom formal da linguagem acadmica, necessrio para o
fluir da pesquisa, gostaramos de fazer uma breve defesa da tese, antes da jornada na
leitura dessa pesquisa. Se essa pesquisa pudesse ser defendida na explicao de um
conto pequeno escreveramos assim:
Isso apenas uma gota no oceano, mas quando a gota cai no oceano j no
mais gota, mas oceano. Comecei gota e virei oceano! Comecei fragmento e virei
espelho de muitas possibilidades, mas precisei me delimitar para escolher e me
transformei maior do que a chuva quando se dissipa no rio. Por isso no me caibo em
mim mesma, necessito ser compartilhada, preciso sair de mim, mas estou focada em
minha prpria imagem, me aprofundando na essncia para buscar a materialidade do
porvir. Preciso me projetar no mundo, defendendo a ideia da materialidade. Agora
que j me encontrei, tenho que sair de mim mesma e me dividir com os diferentes
olhares, pois j sou mundo no entremeio de mim mesma. Porque me interrogo para
focar e me exalto para fluir. O ttulo desse pequeno conto poderia ser: "Catarse da
tese". Por qu? Porque o devaneio de ideias iniciais da experincia emprica nos
permitiram dizer: me constru, no desvendar da caminhada. Portanto, de uma ideia
primeira me aprofundei na prtica concreta do meu prprio caminho e pude olhar de
fora e de dentro ao mesmo tempo toda a problemtica aqui levantada.
Nessa pequena explicao transformada figurativamente em conto podemos
resumir um pouco da trajetria dessa pesquisa que comea por pequenas observaes
na vivncia da trajetria profissional, surge a partir de nossa prtica concreta atuando
em projetos de tecnologia educacional, das constataes no cotidiano e amadurece se
aprofundando teoricamente. Isto posto, parece acertado dizer que essa pesquisa pode
tranquilamente ser lida comeando pela anlise da pesquisa de campo para depois
chegar na parte terica, pois ao exame do contexto das entrevistas logo se percebe
que o modo como a tecnologia educacional chega s escolas , pode determinar um
modo reificado da prpria tecnologia, dos sujeitos e, por certo, das escolas. o
mesmo que afirmar o modo como a tecnologia, a tecnologia educacional chegam nas
15
escolas de Ensino Fundamental no deveria ser como a realidade concreta nos
evidencia, mas a partir dessa realidade que traamos nossas anlises para encontrar
a raiz de tudo isso. Logo nos deparamos que a raiz mais profunda do que se
imaginava. Isso somente demonstra como foi a trajetria dessa pesquisa que partiu
em primeiro lugar do que vinha acontecendo nas escolas, como os professores no
trabalho com tecnologia educacional, comeamos a perceber as contradies
inerentes implantao dos laboratrios nas escolas pblicas de Ensino Fundamental
para poder, aps buscar sustentao na base terica, afirmar que deve existir outras
possibilidades. Essa contradio nos impulsionou a buscar outras leituras e
percepes. Depois de algum tempo atuando com projetos de tecnologia educacional,
acompanhando cursos de professores, pudemos perceber a necessidade de se
aprofundar teoricamente para entender a totalidade do processo de insero dos
computadores nas escolas, atravs da rea especfica da Tecnologia educacional.
Portanto, enraizado na realidade concreta que se inicia a construo dessa
pesquisa. Posteriormente vamos construindo as relaes necessrias teoria em Marx
e Lukcs sobre reificao. Tal realidade aparece primeiro na constatao, pela
experincia vivida, de que havia um processo alienado do professor ante o trabalho
com tecnologia educacional, qual seja, condiciona o conceito de tecnologia a coisa
objeto-computador. Com efeito, construmos nossa pesquisa a partir da experincia e
prticas de dez anos no trabalho com tecnologia educacional e depois recorremos s
fontes tericas para sustentar nosso olhar ainda obscurecido, mas questionador e
problematizador para comear nossa reflexo.
Ao exame disso podemos afirmar que vivemos um tempo em que se impe a
anlise crtica sobre o modelo econmico-poltico-social mundial em que se
questiona que tipo de sistema econmico este que no atende a uma demanda cada
vez mais significativa de excludos socialmente. A resposta histrica traz na raiz do
capitalismo a natureza da relao explorador, explorado, opressor, oprimido; em
outras palavras a origem do capitalismo a origem da desigualdade social
contempornea; posto que a origem da diferena social a propriedade privada. Em
verdade, a lgica capitalista, como nos apontam vrios pesquisadores perversa.
Nesse contexto de desigualdade lanamos outras perguntas: onde se encontram
escola, educadores e tecnologia? Que relaes tm a leitura universal da produo
16
capitalista com a percepo singular da produo escolarizada e o uso da tecnologia
educacional?
Alertando para essas questes alguns pesquisadores, como por exemplo,
SINGER (2003) prope outra alternativa econmica para um modelo to desgastado e
que faz alargar cada vez mais as diferenas sociais impostas tambm pelo avano
contnuo do desenvolvimento tecnolgico. Um modelo que j no responde s reais
necessidades sociais criadas por uma lgica competitiva e desumanizada sob a gide
das polticas econmicas mundiais. Com efeito, tambm se questiona, que alternativa
tecnolgica temos?
um fato que o avano tecnolgico proporcionou muitas vantagens e
confortos para a sociedade, colocou o ser humano num patamar de desenvolvimento
da cincia inimaginvel, confirmado cada vez mais com as novas descobertas
cientficas, como tambm mister dizer que trouxe consigo um reforo das
desigualdades sociais, onde h um contingente que produz, compra e desenvolve
tecnologia e outro que somente consome. Paira uma aura em torno da tecnologia, o
endeusamento da tecnologia trouxe consigo uma pasteurizao da prpria vida, da
humanizao. Correntes cientficas caminham para contnuas buscas sobre novas
formas de inovao da tecnologia e colocam em papel coadjuvante o ser humano.
Posto que a tecnologia desumanizada o puro conceito distorcido de uma sociedade
que coisifica a prpria vida. Com isso, parece acertado novamente inquirir: a
tecnologia a servio do que, de quem, para que, para quem? Nessa mesma senda se
localiza a tecnologia educacional a que podemos depreender os mesmos
questionamentos.
Segundo BORN (1998, p. 104) "este formidvel avano cientfico e
tecnolgico vai continuamente fragmentando o social e potencializando as polticas
conservadoras, condenando grande parte da populao marginalidade". Nesta
perspectiva, a relao, tecnologia, trabalho, educao e escola, configuram-se como
uma vertente cada vez mais necessria investigao. Os descaminhos da educao
neste sculo promovem cada vez mais o avano da sociedade capitalista que coloca o
professor-trabalhador como ser que somente consome tecnologia, no se coloca como
sujeito do contexto tecnolgico. Tal professor, do Ensino Fundamental que aqui
propomos investigar em seu contexto de trabalho, est cada vez mais relegado
17
condio de alienado perante o avano tecnolgico. Ao escolher recursos
tecnolgicos a sua prtica educativa, cada vez mais os escolhe por questes tcnicas
ou imposies, no polticas, torna-se, neste sentido, um perifrico da mquina que o
conduz a consumir recursos, mas no a questionar o que, como, por que e em
detrimento de qu? possvel inferir com isso que tanto professor,quanto tecnologia,
escola e tecnologia educacional se reificam. Com isso, a tecnologia no ambiente
escolar, assume o discurso, a imagem, a forma e o simbologia da sociedade
capitalista de produo e consumo e, por conseguinte, todo o contexto histrico
humanizado, que pressupe ser a tecnologia, torna-se algo muito distante da
interpretao de cada educador, transformando a tecnologia como coisa, algo
sinnimo de mquina.
verdade que os recursos tecnolgicos sempre estiveram presentes nas
escolas, sobretudo, a partir da dcada de 1970, com termos adotados como recursos
audivisuais na educao, depois na dcada de 1980 com o grande avano da
Informtica na educao e com as pesquisas em tecnologia na educao, novas
discusses colocam a escola na berlinda dessa discusso. Portanto, discutir a
tecnologia educacional hoje no seria mais novidade, mas a partir da perspectiva que
propomos pensar nessa tese coloca novamente a escola, a tecnologia educacional na
berlinda. No entanto de modo a questionar o modo como chegou nas escolas e como
trabalhando, propondo olhar uma outra faceta, o da tecnologia submetida lgica
capitalista e os caminhos decorrentes disso. Trazendo tona um questionamento
importante a essa tese: estaria todo o processo escolar j reificado, atravs do
trabalho com tecnologia educacional? Procuramos desvelar isso na trajetria dessa
pesquisa.
Com efeito, os impactos do modo de produo capitalista desde o sc. XVIII
vm criando alternativas eficazes, intensifica-se o trabalho do professor, produzem-
se variados recursos tecnolgicos que so aceitos ingenuamente pelas escolas e, por
certo, condicionam manuteno da tecnologia e do ser humano condio de
objeto. possvel, contudo, aferir, que tais condies e contradies do atual
sistema capitalista que so reproduzidos no ambiente de trabalho do educador, faz
com que a tecnologia educacional, quando assume um discurso de inovao
educativa, possa tambm contribuir com a alienao, a reificao do educador e da
18
escola, imperioso pensar que no a reificao sozinha, como j afirmou Marx, 'o
capitalismo em si no a reificao', resulta num processo muito mais amplo de
relao explorador e explorado e tudo isso se corporifica pela ao e pelos conceitos
do educador.
Nesses termos possvel pensar que, tanto as formas de organizao escolar,
os conceitos atribudos tecnologia, a tecnologia educacional pelos educadores,
como as polticas pblicas em torno da insero da tecnologia em ambientes
escolares, podem reforar o pensar a tecnologia reificada e, por sua vez, professor
cada vez mais alienado. Suas condies de trabalho que, por um lado cobram deste
trabalhador cada vez mais a utilizao de recursos tecnolgicos, para ser sinnimo
de um educador contemporneo, por outro lado, no lhe permite decidir que
recursos, para que, como, contribuem cada vez mais para sua alienao diante do
contexto tecnolgico. ANTUNES (1997, p. 34) fazendo uma anlise das condies de
alienao do trabalhador no capitalismo aponta: o que e como produzir, no
pertence aos trabalhadores, esse no pertencimento explcito ao conceito de
alienao em Marx, qual seja, o produto do esforo do trabalhador no lhe pertence,
j lhe estranho. Nesse sentido, o ambiente de trabalho que condiciona o educador
condio de coisa e, contribui para a manuteno do sistema capitalista, poder
reforar que todo o trabalho utilizando tecnologias educacionais depender cada vez
mais da mquina e no do educador. essa sensao de algo estranho a sua atividade
de trabalho que coloca tal educador frente ao trabalho com tecnologia educacional
como algo que no lhe pertence concretamente, pois est alheio s suas condies de
trabalho, uma de nossas preocupaes na produo dessa pesquisa.
Investigar o ambiente de trabalho deste educador do Ensino Fundamental
diante da insero da tecnologia educacional, buscando identificar o fenmeno da
reificao, torna-se cada vez mais essencial. Posto que necessrio repensar as
alternativas de mediao frente tecnologia na escola a fim de que o modo como a
tecnologia imposta e consumida seja repensada e se transforme num elo de relao
entre ser humano, desenvolvimento tecnolgico e formas de superao da sociedade
capitalista. Nessa senda, estudar como os educadores interpretam a tecnologia
podemos refletir de que modo a tecnologia educacional est continuamente
reproduzindo a sociedade de desigualdades, consumista e oportunizando a criao de
19
um fascnio sobre a mentalidade daqueles que continuam a alimentar a naturalizao
da sociedade capitalista de produo; sob o argumento de que no h outro caminho a
ser seguido, necessrio se adaptar. Para tanto, os relatos dos educadores sujeitos
conscientes ou reificados do processo de insero da tecnologia na escola se torna
objeto de anlise dessa pesquisa.
Pretendemos com isso evidenciar caminhos dialticos, desvelando o processo
da reificao e as formas de superao diante do trabalho do educador, mas a partir
dos conceitos atribudos tecnologia, tecnologia educacional, concretamente ao
uso do computador na escola. Com isso poder apontar alternativas que contribuam
superao da reificao e, por certo, de sua condio de alienado diante da influncia
do capitalismo no desenvolvimento tecnolgico, dos recursos tecnolgicos.
Se por um lado, as pesquisas sobre uso de recursos tecnolgicos pelos
educadores e o desenvolvimento da tecnologia educacional, avanam
substancialmente para tratar cada vez mais dos novos aparatos tecnolgicos
oferecidos no mercado, ao nosso olhar ainda obnubilada a noo da tecnologia no
espao da escola como reprodutora da sociedade capitalista de produo e consumo,
impedindo, desta forma, a possibilidade de proporcionar aos educadores uma
reflexo mais profunda da tecnologia e de suas questes histricas, polticas, sociais
e ideolgicas, impedindo-os de assumirem o papel de sujeitos do processo e no de
objetos. Decifrar o papel dos sujeitos na escola, focando no trabalho do educador
tambm nossa preocupao a partir das concepes apontadas em Marx e Lukcs.
O que pretendemos com os caminhos dessa tese avanar nessas questes,
propondo re-pensar um educador conscientizado e no robotizado, sujeito da histria
da tecnologia educacional e no puramente usurio, capaz de contribuir com uma
outra tecnologia; de tecnologia educacional crtica que pressuponha coloc-la como
possibilidade de mudar tambm o movimento da lgica da produo capitalista que
usa da tecnologia como meio eficaz na manuteno das desigualdades sociais ; capaz
de opinar em torno do projeto poltico-pedaggico da instituio pblica inserindo
conscientemente os aspectos tecnolgicos da sociedade contempornea sem,
entretanto, mitificar, endeusar, tampouco se alijar destas questes. Trata-se de
avanar na perspectiva da totalidade e no da fragmentao do sujeito educador, da
tecnologia, da tecnologia educacional e da cincia.
20
Portanto, torna-se importante evidenciar o outro lado, o da contradio, pois
ao mesmo tempo em que se pretende colocar a tecnologia educacional como
necessria ao ambiente de trabalho do educador, por outro lado sem um olhar crtico,
contribui no mesmo sentido para sua reificao e manuteno da reproduo e
fortalecimento do sistema capitalista, mas possvel aferir que h meios superao.
Com efeito, nossa proposta de pesquisa evidencia tais questes.
Essa pesquisa parte do seguinte pressuposto: os conceitos atribudos
tecnologia, tecnologia educacional, a partir do relato de educadores, suas
experincias levam ao desenvolvimento da tecnologia educacional reificada,
tornando a escola, e o educador coadjuvantes do processo tecnolgico. Reificados,
portanto, alijados de uma leitura crtica do avano tecnolgico e impossibilitados de
serem sujeitos de interveno social, portanto, obnubilados da totalidade histrica.
No entanto, pode-se apontar que a superao dessa da viso reificada da tecnologia,
da tecnologia educacional, quando o professor se coloca como sujeito do processo
e circunscrito a um espao coletivo de trabalho leva a uma prtica consciente e
revolucionria. Essas afirmaes se tornam o arcabouo da tese aqui apresentada com
esse Relatrio de pesquisa, qual seja: 'H processos de reificao e superao na
escola de Ensino Fundamental a partir da viso de seus professores no trabalho com
tecnologia educacional". Portanto, os pressupostos tericos adotados pela escola e
revelados na fala dos sujeitos que trabalham com tecnologia educacional no interior
da escola de Ensino Fundamental podem demonstrar uma perspectiva tcnica-
instrumental ou uma perspectiva crtico-social ou contra-hegemnica, a partir do que
se prope apontar. Em outras palavras, pode tanto desvelar processos de reificao
ou superao da fragmentao da tecnologia, da tecnologia educacional submetida
lgica da sociedade capitalista.
Isto posto a Tese ora apresentada : "a escola de Ensino Fundamental, em face
do trabalho com tecnologia educacional reproduz o modo de produo capitalista,
atravs do processo de reificao representado na forma de mercadoria, uso dos
computadores no ensino, mas pode revelar caminhos superao da lgica capitalista".
Buscamos responder tal afirmao com base nos pressupostos tericos adotados - a pesquisa
bibliogrfica - , com a pesquisa de campo apresentada, bem como, com a pesquisa
documental.
21
Nessa senda lanamos como problema de pesquisa o seguinte questionamento: Como
a escola de Ensino Fundamental, atravs do trabalho dos educadores com a tecnologia
educacional, no uso dos computadores, pode evidenciar processos de reificao e
contraditoriamente caminhos superao da lgica de produo capitalista?
Destacamos que, como caminho da pesquisa, algumas questes norteadoras se mostraram
naturalmente trajetria terica e da pesquisa de campo, a saber:
a. As condies e contradies do atual sistema capitalista que manifestado no
ambiente de trabalho do educador (escola), faz com que a tecnologia educacional,
quando assume um discurso de inovao educativa, contribua tambm com a
reificao do educador e da escola;
b. As formas de organizao do trabalho do educador, bem como, as propostas
pedaggicas em torno da insero da tecnologia em ambientes escolares, reforam o
pensar reificao da tecnologia e, por sua vez, o trabalhador educador cada vez mais
alienado;
c. O modo como o educador trabalha com a tecnologia educacional (o
computador) pode se constituir num processo de reificao;
d. Atravs da anlise do relato dos professores entrevistados, no trabalho com a
tecnologia educacional, pode-se verificar processos de reificao ou superao;
e. A proposta pedaggica adotada pela escola de Ensino Fundamental pode
demonstrar contradies quando se analisam os conceitos do educador no trabalho
com tecnologia educacional.
Nosso objeto de pesquisa despontou em primeiro plano tecnologia educacional (uso
do computador na escola), e no mesmo bojo, a escola de Ensino Fundamental e o educador
das sries iniciais, especificamente aqueles que trabalham com projetos de Informtica
educacional; portanto, uma relao entre esses trs aspectos objetos a partir da anlise da
tecnologia educacional.
Para problematizar o objeto escolhido propusemos o seguinte objetivo de
pesquisa: Investigar os processos de reificao e superao no desenvolvimento da
tecnologia educacional na escola de Ensino Fundamental.
As fases dessa caminhada se desenvolveram a partir de objetivos especficos traados
e revistos exaustivamente durante a pesquisa, da seguinte maneira: 1. descrevemos os
pressupostos tericos da reificao com base na teoria crtica, em Marx e Lukcs, atualizando-
22
a em relao tecnologia educacional; 2. revelamos os processos de reificao e superao da
tecnologia educacional a partir da abordagem terica escolhida. Posteriormente, 3. coletamos
informaes a respeito das concepes dos educadores do trabalho com tecnologia
educacional, no uso da Informtica na educao, a fase da pesquisa de campo. 4.
Relacionamos as formas de trabalho alienado em relao tecnologia educacional,
identificando a reificao do educador, da tecnologia educacional e da escola de Ensino
Fundamental. 5. Identificamos algumas alternativas de superao dos processos de reificao
do educador e da escola no trabalho com a tecnologia educacional, com base no relato dos
educadores e a abordagem terica tratada.
Para que os objetivos se efetivassem destacamos as categorias prvias de anlise da
pesquisa de abordagem dialtica, ou seja, as categorias do mtodo dialtico. Reificao e suas
correlaes com a tecnologia educacional, a escola e o trabalho do educador. Superao,
como anlise contraditria, dialtica categoria reificao. No desenvolvimento dos projetos
de tecnologia educacional, do computador. Como caminho alternativo frente s evidncias
dos processos de reificao na escola de Ensino Fundamental. Dessa reflexo em torno das
categorias do mtodo buscamos verificar em campo as categorias que surgiram a partir dos
argumentos apontados pelos entrevistados e, relacionamos aos termos adotados por Lukcs.
O estudo da reificao em relao tecnologia educacional, s novas tecnologias e,
especificamente ao uso do computador na escola se torna fundamental ante o avano da
implantao de projetos de tecnologia educacional descontextualizados de uma dimenso
epistemolgica, filosfica e poltica, portanto, desconectados da viso de totalidade resultando
em pura mecanizao e instrumentalizao. Nesse sentido, afirmar: se o capitalismo j fosse
superado no seria mais pertinente resgatar e se aprofundar em suas contradies e categorias
substanciais de anlise. Com o avano da tecnologia, percebe-se que se intensificam as formas
do capitalismo, levado ao ambiente escolar atravs de diferentes recursos tecnolgicos. Urge
esclarecer todo o processo de reificao, a partir dos pressupostos em Marx, para apontar que
necessrio entender o processo capitalista a partir do estudo da mercadoria. Nessa lgica se
faz necessrio estudar a reproduo do capitalismo de mercado na escola atravs do uso
singular das ferramentas tecnolgicas, na forma dos computadores no ensino.
A insistncia no aprofundamento da anlise da 'reificao', nosso objeto de interesse
desde a concluso da pesquisa de mestrado, quando tivemos a oportunidade de verificar a
dificuldade dos educadores em atribuir um conceito mais amplo tecnologia, a tecnologia
23
educacional, colocando-as no patamar da coisificao, obnubilando a possibilidade de
enxergar alm da forma, da mquina. Desta inquietao surgiu o interesse em aprofundar e
entender que tal conceito velado, revela o que concretamente? Nossa caminhada profissional
apontou surpresas, que em muitos ambientes, pblicos ou privados, nveis de escolarizao e
formao de educadores e educandos, os conceitos se reproduziam. Portanto, continuvamos
nosso questionamento: O que est por trs dessa invisibilidade necessrio, urgente revelar,
pois h algo alm da aparncia. Nessa reflexo apontamos as questes; por que se torna
fundamental aprofundar a temtica reificao para tentar entender da o processo tecnolgico
inerente ao processo escolarizado? No que se transformou a escola? No que se transformou a
tecnologia educacional a partir do uso dos computadores no ensino? Mais precisamente, por
que importante o resgate e atualizao do fenmeno - para Lukcs - e da categoria reificao
em Marx? Percebemos que, como alguns autores destacam, ainda no avanamos para alm
do capitalismo, nessa caminhada histrica da civilizao moderna, houve um
aperfeioamento, uma intensificao das formas do capitalismo de produo e no que
concerne s novas tecnologias, a tecnologia educacional somente uma imerso naquilo que j
existia. Nessa pesquisa, nos propomos a repensar em que contexto histrico, a tecnologia
educacional na escola, precisa ser estudada. Para tanto, organizamos a pesquisa da seguinte
maneira:
No captulo I tratamos de aprofundar desde os conceitos em Marx, Lukcs focando
nossa opo de anlise a partir dos argumentos de Marx e Lukcs. Nesse momento
resgatamos tanto nos escritos do Capital como nos Grundrisse algumas reflexes em torno da
reificao necessrios atualidade. No mesmo captulo apontamos a discusso sobre
reificao na obra de Lukcs e identificamos algumas categorias que serviram de base
anlise da pesquisa de campo nos captulos posteriores.
No captulo II trazemos tona a atualidade do estudo da reificao, apresentando
outros pesquisadores que estudaram a reificao e das reflexes em torno da reificao e a
superao para que pudssemos relacionar aos estudos de Marx e Lukcs. No mesmo captulo
com o objetivo de adentrar-se ao prximo captulo fazemos uma breve correlao reificao e
tecnologia educacional a partir dos apontamentos de Burris e Garcia-Vera.
O captulo III se traduz numa inteno de reforar os argumentos do captulo I em
relao ao captulo II, mas a partir das reflexes especficas da tecnologia educacional e da
submisso dessa ao modo de produo capitalista, enfatizando, contudo, que h um 'hierglifo
24
da tecnologia educacional' que precisa ser desvelado luz da teoria crtica de Marx e Lukcs,
portanto, a partir de uma abordagem dialtica aos estudos da tecnologia educacional.
Defendendo com isso que possvel e urgente uma teoria crtica da tecnologia educacional.
No captulo IV, com o tema: 'Reificao e tecnologia educacional: uma abordagem
dialtica' apresentamos a metodologia e procedimentos adotados, os instrumentos de coleta de
dados, bem como, a caracterizao do universo pesquisado, a partir de uma abordagem
dialtica da pesquisa em educao. Revelando com isso a necessidade de relacionar o mtodo
dialtico com as pesquisas em Tecnologia educacional e das Novas tecnologias. A
organizao da pesquisa tomou como base a pesquisa bibliogrfica, de campo e documental.
A amostra da pesquisa contou com a participao de quinze entrevistados, envolvendo treze
escola pblicas de Ensino Fundamental na cidade de Curitiba, dispostas em nove Ncleos
Regionais de Educao.
No captulo V nos propomos a analisar a pesquisa de campo, com a temtica prvia:
'Reificao e superao e tecnologia educacional na escola de Ensino Fundamental'
apresentamos a anlise das entrevistas em consonncia com a proposta terica escolhida,
portanto, retomando as bases tericas em Marx e as categorias de anlise, os termos adotados
da anlise de Lukcs ao fenmeno da reificao e relacionando tecnologia educacional, bem
como, com a anlise dos documentos consultados. Com isso as categorias de anlise nos
permitiram um maior aprofundamento na realidade da escola de Ensino Fundamental a partir
do relato dos entrevistados.
No captulo VI, apresentam-se os encaminhamentos finais dessa pesquisa.
Demonstramos at onde pudemos responder ao problema da pesquisa apontado inicialmente,
como pudemos avanar, quais as limitaes da pesquisa e das possibilidades de contribuies
para outras pesquisas convergentes. Reafirmando com isso a necessidade emergencial do
resgate da categoria reificao em face do avano da tecnologia na escola.
Por fim, trazemos as referncias bibliogrficas citadas no relatrio de pesquisa e das
obras consultadas.
Apndice dessa pesquisa constam os seguintes documentos:
1. Protocolo de entrevistas I/Pesquisa exploratria (primeiro protocolo aplicado no
estudo piloto)
2. Protocolo de entrevistas II (segundo protocolo definitivo aplicado, aps leituras
tericas e fase experimental)
25
3. Questes de anlise para o protocolo de entrevistas (o que nos propomos analisar
quando elaboramos cada pergunta);
4. Tabela/Sntese do documento Projeto Pedaggico das escolas pesquisadas - anos 2006
a 2008 - alguns apontamentos relacionados tecnologia educacional.
5. Quadro Sntese do Perfil dos Entrevistados
Os anexos desse Relatrio de pesquisa so os seguintes:
I - Tabela Sntese de alguns dados do Projeto de Informtica educacional da
parceria das escolas pesquisas com uma das empresas prestadora de servios;
II - Estabelecimentos da Rede Municipal de ensino, por tipo, segundo Ncleo
Regional de Curitiba 2012;
III Distribuio dos Ncleos Regionais de Educao do Municpio de Curitiba.
26
CAPTULO I
CONTEXTUALIZANDO O PROCESSO DE REIFICAO E SUPERAO
Introduo:
Vrios estudos1 apontam a metamorfose que o capitalismo vem demonstrando ter
desde a produo de Marx e, que detectam suas formas de proliferao e fortalecimento,
gerando na sociedade determinadas mudanas sociais. Outros ainda, seguindo a mesma
descrio dos autores apontados, ressaltam a grande influncia que a educao vem sofrendo
e se alterando para servir a um sistema de reproduo ou caminhos de superao. Nesta senda
unnime entre os pesquisadores afirmar que o capitalismo vem, em sua raiz histrica desde
a crtica de Marx, manifestando a contnua explorao do trabalho, portanto, se intensificando
e manifestando novas e at inovadoras formas de se reproduzir, mantendo a lgica do
mercado e transformando e - embora, os tipos de trabalho tambm tenham se modificado -
as formas de explorao somente se transformaram, mas se mantm. Para uns evidente uma
crise estrutural, para outros ainda possvel enxergar possibilidades de superao. Nestes
termos, podemos aferir que ainda estamos imersos num sistema econmico que determina as
condies sociais e, certamente, influencia a educao, a escola. Com efeito, podemos ainda
afirmar - a partir dos argumentos dos autores citados - que muito embora algumas categorias
de anlise do mtodo dialtico em Marx foram se atualizando, elas ainda se mantm. Em
outras palavras dizer que se estivssemos imersos em outro sistema econmico, poderamos
at repensar todas as categorias de anlise abordadas por Marx e aprofundadas por estudos
posteriores. No entanto, ntido que a humanidade ainda no superou as formas
determinadas e determinantes pelo modo de produo capitalista, neste sentido, justo seguir
uma anlise das condies de trabalho, sociais, educacionais circunscritas ao entendimento de
que a lgica da economia capitalista permeia todas as instncias. Isto posto, no coerente
desconsiderar esta via de anlise e, certamente, criar possibilidades de se aprofundar e
atualizar suas categorias, pois uma categoria deve ser analisada ao longo de seu
desenvolvimento histrico.
1 Mszros (2008, 2009, 2011), Sader (1995), Oliveira (1995), Kuenzer (2007, 2008, 2009), Frigotto (1995, 2003, 2008, 2010) , Therborn
(1995), Antunes (1995), Harvey (1992), Born (1995), MacLaren (2002) Gentili (1995, 2001, 2008), Saviani (1994), Bauman (2010), entre outros.
27
Neste contexto que situamos a necessidade de aprofundamento da categoria
reificao e seu contrrio, qual seja, a possibilidade de 'superao' em relao educao e a
tecnologia educacional no interior das escolas. No encontrando um termo especfico para
contrapor a reificao, poderamos at usar desreificao2, no entanto, ainda encontraramos
circunscrito a ideia da 'superao' encontrada nos argumentos de alguns autores que
estudaram e se aprofundaram na reificao, desde Marx, e, apontaremos mais frente. Com
efeito, unnime entre os autores que estudaram a reificao que o termo ' superao' de suas
formas mais coerente descrever, haja vista, que estudar a reificao no se resume a
encontrar uma palavra-chave unicamente, um antnimo ou sinnimo, mas entender suas
ramificaes, portanto, entend-la como um processo mais amplo, que faz parte de um
processo histrico caracterizado pela luta de classes.
Para que possamos desvelar o processo tecnolgico no interior da escola de Ensino
Fundamental necessrio olhar alm da aparncias que todo o aparato tecnolgico pode
revelar. Da que optamos neste estudo em tirar o vu, ou seja, evidenciar como a reificao e a
possibilidade de superao no estudo da tecnologia educacional pode ser profundamente
necessrio para o avano dos estudos nesta rea especfica da educao.
1. Conceituando reificao: aportes tericos
Aparentemente muito simples o conceito de reificao, que deriva do latim res =
coisa, reifis, tornar coisa, coisificar, portanto, pensar em algo j formatado, uma coisa um
objeto, uma ao materializada que toma vida prpria, no entanto, somente a partir de uma
perspectiva dialtica, da teoria de Marx que a reificao ganha um carter mais significativo,
identificada e analisada luz de uma concepo crtica de sociedade capitalista.
Em BOTTOMORE3 (2001, p. 315), com base no estudo do pensamento marxista, a
reificao :
o ato ( ou resultado do ato) de transformao das propriedades, relaes e aes humanas em
propriedades, relaes e aes de coisas produzidas pelo homem, que se tornaram
independentes (e que so imaginadas como originalmente independentes) do homem e
governam a sua vida. Significa igualmente a transformao dos seres humanos em seres
semelhantes a coisas, que no se comportam de forma humana, mas de acordo com as leis do
mundo das coisas. A reificao um caso "especial" de alienao. sua forma mais radical e
generalizada, caracterstica da moderna sociedade capitalista.
2 termo adotado por Feenberg (2010)
3 BOTTOMORE, Tom. Dicionrio do pensamento Marxista. Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed., 2001.
28
A personificao das coisas e a reificao das relaes de produo a anlise central
do pensamento marxiano. BOTTOMORE4
lembra, contudo, que "Como equivalente a
expresso Verdinsglichung Marx usa expresso Versachlichung, e, para o oposto de
Versachlichung, ele usa o termo Personifisierung [...] Considera como contrapartida
ideolgica da "reificao" e da "personificao", o "materialismo grosseiro", e o "idealismo
grosseiro" ou "fetichismo".
Neste sentido, os estudos marxistas, sobretudo, os Manuscritos Econmicos-
filosficos (2004) e O Capital revelam objetivamente e subjetivamente a reificao a partir do
modo de produo capitalista. Em Marx o estudo da mercadoria, dotado do carter reificante,
ganha um espao central no desvelamento do capitalismo e conjuntamente a isto a reificao
em dilogo com a categoria alienao.Fazendo um paralelo na reificao inserida na condio
da mercadoria e por conseguinte estendendo ao trabalho humano, ao ser humano que
coisificado, reificado se encontra imerso em todo o modo capitalista de produo. Nos
Grundrisse (2011) revela o carter coisificado que o dinheiro tem na sociedade capitalista e,
neste sentido, dotado do entendimento de mercadoria. Mais tarde Lukcs (2003), considerado
o fundador da esttica marxista, retoma esta categoria fundamental dos estudos marxistas para
investigar o capitalismo na modernidade e os movimentos revolucionrios em pleno sculo
XX. Ampliando e detalhando o conceito fundamental teoria de Marx (1818-1883), que
demonstra ser um processo histrico inerente s sociedades capitalistas, evidenciado na
atividade produtiva e por todas as relaes sociais inerentes ao processo de produo.
Lukcs, em seu livro mais contestado Histria e conscincia de classe aponta uma
objetividade e subjetividade ao desvelamento da categoria reificao para relacion-la
conscincia de classe e ao movimento revolucionrio da poca. Mais tarde vamos encontrar,
tambm, a categoria reificao nos estudos da Escola de Frankfurt, sobretudo, pelos escritos
de Adorno e Horkheimer (1985) focados na investigao da dialtica do esclarecimento,
inserido a esta obra as discusses sobre a indstria cultural no sculo XX. Tambm Kosik
(2002) em seu estudo sobre Dialtica do concreto discorre sobre uma base metodolgica
fundamental ao estudo da reificao. Outros pesquisadores ainda no sculo XX, retomam a
categoria reificao para desvelar mais ainda sua complexidade inerente s mudanas sociais
contemporneas, alguns deles: Axel Honneth (2005), focando as novas tecnologias, Val
Burris (1998), Feenberg (2002), em funo do discurso da ps-modernidade e a atualizao da
4 Ibid, p. 315
29
categoria reificao, Harvey (1994) e Mszaros (2009) como discpulo de Lukcs resgata os
estudos da reificao de seu mestre e se aprofunda numa categoria dialgica com a reificao,
a alienao. No caso do Brasil temos concretamente os estudos de Netto (1981) propondo
refletir sobre uma teoria da positividade capitalista, Nobre (2001) desvelando, luz da teoria
em Lukcs,os limites e a superao da reificao, e aqueles que estudaram especificamente a
trajetria de Lukcs e demonstraram em suas obras uma influncia evidente do fenmeno da
reificao, como Konder (1980), Lwy (1979 e 1988) e outros estudos como o de Lessa
(1993) que reconhecemos fundamental ao estudo da categoria de totalidade em Marx, mas
no foram objeto de aprofundamento em nossa pesquisa nesse momento. Bottomore5 contudo
destaca que:
Grande controvrsia tem se manifestado sobre a relao entre reificao, alienao e
fetichismo da mercadoria. Enquanto alguns autores identificam a reificao ou com a
alienao, ou com o fetichismo da mercadoria (ou com ambos) outros tentaram manter os trs
conceitos separados. Ao passo que alguns consideram alienao um conceito "idealista" que
deve ser substitudo pelo conceito "materialista" de "reificao", outros a entendem como um
conceito filosfico cuja contrapartida sociolgica a reificao.
A partir desta reflexo que propomos uma contextualizao da categoria reificao
numa viso crtica-dialtica. Muito embora relatemos brevemente os estudos de alguns
autores citados anteriormente, apontamos que o foco da pesquisa ter como abordagem
terica os estudos de Marx e Lukcs, Burris e Garcia-Vera por conta da discusso em torno da
tecnologia educacional e das novas tecnologias. Algumas reflexes do que aponta Feenberg e
sucintamente as afirmaes de Harvey sobre a intensificao da produo de mercadorias na
ps-modernidade, com o intuito de resgatar tal categoria. nossa leitura a reificao se
configura como um processo mais amplo correspondendo a dimenso ontolgica do ser
humano como expressada no pensamento de Lukcs, para mais frente correlacion-la com a
tecnologia educacional, s novas tecnologias, na expresso da Informtica educacional, do
uso do computador na escola e, nesse sentido optamos em manter os trs conceitos juntos,
quais sejam: reificao, alienao e fetichismo6. Muito embora. o foco de nossa pesquisa seja
evidenciar a reificao no encontramos possibilidade de desconectar esses trs conceitos,
enfatizando a opo pela categoria de anlise 'reificao', haja vista que nosso objeto de
estudo a escola de Ensino Fundamental em relao tecnologia educacional e que, ao nosso
5 Ibid, p. 316
6 Netto(1981) j evidenciou em seus estudos a impossibilidade de desvelar separadamente as trs categorias, reificao, alienao e fetichismo, pois esto diretamente relacionadas teoria ampla de Marx.
30
olhar, tendem mais para uma evidncia do fenmeno da reificao - ante o contexto de
constante produo de aparatos tecnolgicos utilizados, por vezes mecanicamente, no interior
das escolas - o que trataremos mais frente.
pertinente, contudo, arrolar uma breve trajetria dos estudos sobre reificao, aps
os escritos de Marx e Lukcs e que optamos como base terica para relacionar ao estudo da
tecnologia educacional mais frente. Netto (1981)7 ao se aprofundar no estudo da reificao
situa a discusso a partir da base marxiana e demonstra uma teoria das relaes reificadas que
no sendo submetida a uma teoria crtica, significa uma positividade capitalista, e com base
em Mszaros e Vasquez, aponta (p. 73):
Sem uma teoria da alienao impossvel pensar a problemtica do fetichismo. Para Marx, o
fetichismo uma modalidade de alienao. Todavia, quando a concretizao histrica
alcanada pela reflexo a partir de 1857-1858 permite-lhe colocar integralmente o problema
do fetichismo, a teoria da alienao torna-se um complexo terico-crtico que passa a abarcar
um amplo conjunto categorial onde desempenhar papel-chave a noo de reificao.
Para o autor o estudo da teoria da alienao em Marx abarca o fetichismo e a partir do
aprofundamento terico em Marx o estudo da coisificao, reificao se torna mais amplo
circunscrito a teoria da alienao e problematizando toda a produo capitalista de consumo,
alienao-fetichismo, reificao. Nestes termos, pensar em estudar o processo de reificao
implica diretamente estudar o problema da alienao e do fetichismo na sociedade capitalista.
ntido para este autor que o estudo da reificao no pensamento marxista ficou relegado a
coadjuvante do estudo do processo capitalista de produo, pois foi dada pouca importncia a
tal categoria to subjacente e para alguns subliminar, pois "os problemas conexos do
fetichismo e da reificao, estiveram por tanto tempo confinados aos pores do pensamento
socialista revolucionrio"8. na discusso do capitalismo tardio que o processo de reificao
retoma centralidade, com o avano, intensificao e requinte da produo de mercadorias foi
inevitvel no repensar e retomar tal categoria como fundamental anlise do processo de
produo capitalista.
Para Netto, Lukcs foi o primeiro a estudar a reificao extrada da raiz marxiana, no
entanto, h um nmero considervel de autores que relacionam a teoria da reificao ao
fetichismo e teoria da alienao. Alguns, a saber: Schaff na obra La alienacin, Lefebvre, na
7 NETTO, Jos Paulo. Capitalismo e reificao. So Paulo: Livraria Editora Cincias Humanas, 1981.
8 Ibid, p.18
31
obra Critique, tericos da Escola de Frankfurt9 como Horkheimer na obra Eclipse da razo de
1979, destacando a citao "A reificao um processo cuja origem deve ser buscada no
comeo da sociedade organizada e do uso de instrumentos". Para Netto, nos escritos
marxistas de 1844 no fica ntida uma distino entre alienao e reificao. Fato este que
evidenciaremos mais frente, quando trataremos resumidamente do dilogo alienao e
reificao.
Em Honneth (2005)10
encontramos uma breve trajetria terica apontando autores da
Sociologia, da Filosofia, Antropologia e, ainda, da Psicologia, neste ltimo, sobretudo, da
rea especfica da neuro-psicologia e que no optamos em aprofundar em funo do objeto e
categoria de anlise pautada numa viso crtica aqui destacada, pois no identificamos uma
viso crtica que reconhea a influncia do capitalismo de produo. O autor destaca que aps
a II guerra o diagnstico da categoria reificao foi esquecido, pois em funo do terror do
Holocausto muitos tericos passaram a se dedicar a estudos sobre a eficincia da democracia
e justia, sem fazer relaes com patologias sociais como, ao que afirma o autor, ser tambm
a reificao. leitura do autor que a partir de 1960, com crescimento dos movimentos
estudantis, sociais, Adorno resgata tal anlise desta categoria, portanto, o projeto de anlise da
reificao mostrou uma parte do passado. Evidenciando um estudo sobre a cultura e o
pertencimento11
. Para Honneth, atualmente, surge um nmero crescente de estudos
demonstrando que o estudo da reificao se evidencia e, "como filosoficamente uma pepita
no explorada a categoria reificao tem emergido e retomado o lugar do discurso terico"12
.
Exemplo disso o que o autor destaca como crescente o nmero de romances que discorrem
sobre a aura esttica da comercializao na vida cotidiana. Entendemos com isso que tal
resgate deve-se ao fato de que a intensificao da sociedade capitalista de produo gera
continuamente uma mudana social e, consequentemente interfere nas relaes sociais,
portanto, nossa leitura esse resgate da categoria possivelmente "esquecida" desde Lukcs,
demonstra unicamente que o argumento de Marx ainda se mantm, qual seja, para aprofundar
o estudo do capitalismo h que se aprofundar tambm, no estudo da mercadoria, ou seja, da
9 Para o autor os tericos da Escola de Frankfurt desenvolveram uma peculiar teoria da reificao, rastreando fenmenos nas formas
elementares da sociedade. Portanto, a crtica da reificao se transforma visivelmente numa crtica do intelecto, da cincia e tecnologia. 10 HONNETH, Axel. Reification: A recognition-theorical view. The tanner lectures on human values. Delivered at University of
Califrnia, Berkeley, March 14-16-2005. 11 Entendemos que o que j foi apontado nos estudos de Adorno sobre indstria cultural, por exemplo.
12 Ibid, p. 92
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reificao. Honneth tambm aponta que alguns estudos atualmente concebem a reificao
presente numa atmosfera de humor e outros estudos recentes de Sociologia analisam a
reificao como uma forma modificada de comportamento. Aponta outros estudos de
Sociologia e Psicologia que discutem a sociologia da cultura e psicologia que tm
demonstrado uma enorme tendncia da uma parte subjetiva de um certo sentimento de
fingimento ou desejo para razes oportunistas decorrentes da personalidade13
. Reconhece que
outras abordagens tambm demonstram a anlise da economia utilizando o mesmo termo
adotado por Marx sobre "objetificao" e alienao, resgatando rapidamente a categoria
reificao. Com efeito, ainda discorre sobre o estudo da reificao relacionado ao
desenvolvimento da vida social contempornea e, neste aspecto, exemplifica os estudos da
bio-psicologia.
Isto posto, apontamos e optamos nesta pesquisa em discorrer sobre a raiz da reificao
inserida numa concepo da sociedade capitalista que historicamente se metamorfoseia e
acreditamos, mantm a categoria reificao muito acesa e se espalhando em vrias instncias,
a exemplo do que apontaremos no universo da escola de Ensino Fundamental mais frente.
1.1 O processo de Reificao em Marx: um dilogo permanente com a alienao
Para discutir acerca da reificao se faz necessrio apontar a que contexto estamos nos
referindo. Destacar que reificao descolada dos processos de alienao, j arrolado em Marx,
seria leitura e reflexo ingnua quando a inteno , justamente, refletir em torno da
reificao inserida nos processos de contradio do modo de produo capitalista. Assim
como a anlise da totalidade inerente em todo o processo de produo capitalista, revelado
nos escritos de Marx, na mesma medida lcito reconhecer que tanto reificao como
alienao - para alguns categoria de anlise em toda a obra marxiana, para outros, trata-se de
um processo que deve ser estudado detalhadamente e em convergncia - caminham no mesmo
compasso da anlise da totalidade do processo de produo capitalista. Em outras palavras,
afirmar que estudar a obra de Marx esquecendo da viso de totalidade, alienao e reificao
como passar em brancas nuvens e em plcido repouso adormecer ante uma grandiosa obra
de desvelamento da realidade da explorao e expropriao do trabalho a que o ser humano
esteve e est submetido ante o avano da economia capitalista.
No foroso ressaltar que, para alguns pensadores no crticos, a teoria da alienao
13 Como exemplo o autor aponta o argumento de Lukcs sobre o trabalho dos jornalistas.
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em Marx no passaria de pura utopia terica, desconsiderando toda a questo da prtica
concreta explcita na sociedade dialtica capitalista. Vieira (2002) vai nos apontar que ainda
hoje existem tentativas de 'enterrar' o pensamento marxista a partir de duas perspectivas, uma
factual e outra epistemolgica. Assim descreve:
A primeira constata o fracasso da experincia socialista em certos pases, da encontrando a
confirmao definitiva para demonstrar que o marxismo no uma teoria susceptvel de ser
concretizada, estando mais no nvel de uma teoria abstrata do que realizvel. A segunda
perspectiva, a epistemolgica, visa a demonstrar os problemas tericos da teoria social de
Marx e sua inaplicabilidade realidade social. Assim, algumas categorias, como alienao,
no teriam qualquer valor terico ou prtico, estando privadas de qualquer sentido
revolucionrio, porque no fundariam nada de concreto.14
Para Bottomore (2001, p. 315) "apesar de o problema da reificao ter sido discutido
por Marx em O Capital [...] essa anlise da reificao foi negligenciada durante muito tempo".
Nestes termos, nos propomos a arrolar em que medida o processo de reificao est bifurcado
com a alienao, muito embora, a todo o momento em sua obra Marx relaciona estas duas
categorias de anlises, pois falar de alienao do processo de trabalho e do trabalhador
implica reconhecer, por exemplo, que para se encontrar alienado de seu prprio processo
produtivo - o trabalhador - j se encontra reificado, coisificado. Isto posto, no possvel
desvelar o processo de reificao - oriundo na anlise marxiana da produo de mercadoria -
desconsiderando o estado de alienao do trabalho e do trabalhador.
Em uma de suas obras tambm conhecida como Manuscritos de Paris15
, Marx se
desdobra numa minuciosa crtica tica e poltica ao capitalismo, economia nacional da
poca. Escrito em 1844 e antecede os estudos de O Capital, quando Marx estava com 26 anos,
permanecendo inditas em quase cinqueta anos depois de sua morte, o que, serviu de apoio
reestruturao de outras teorias trazendo o marxismo como base de apoio. possvel aferir,
contudo, que serve como base dos argumentos retomados em O Capital. Tal obra foi
descoberta por D. Riazanov - aponta Raniere na introduo dos Manuscritos de Paris junto
com Kautsky e Berstein trabalhando na investigao e ordenamento dos materiais deixados
por Marx em Engels. Lukcs, segundo vrios pesquisadores, foi aquele que se debruou
exaustivamente na anlise da reificao no capitalismo moderno e foi muito influenciado por
14 Cf. : In www. Unicamp.br/cemarx/antoniovieira.htm, 2002. acessado em 2006, conferido em 23/11/2012.
15 MARX, Karl. Manuscritos Econmicos-Filosficos. Traduo Jesus Ranieri. So Paulo: Boitempo, 2008.
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estes escritos, declarando mais tarde16
:
Quando estive em Moscou, em 1930, Riazanov me mostrou os textos escritos por Marx em
Paris, em 1844. Vocs nem podem imaginar minha excitao, a leitura desses manuscritos
mudou toda a minha relao com o marxismo e transformou minha perspectiva filosfica. (...)
Pelos meus conhecimentos de filosofia, trabalhei determinando quais palavras ou letras que
desapareceram; vezes havia palavras comeando com g e terminando com s e ns tnhamos
de adivinhar o que havia no meio. Penso que a edio publicada saiu muito boa sei porque
colaborei nela. Riazanov era o responsvel por esse trabalho; no era um terico, mas um
grande fillogo.
Na Crtica Economia Poltica, Marx revela a histrica reproduo da indstria no
capitalismo. Desta obra traamos um conceito fundamental reflexo desta pesquisa, como
alienao - com a discusso do trabalho estranhado - e reificao, categorias fundamentais e
que ocupam todos os escritos de Marx em o Capital, muitas vezes subjetivo, outras vezes
expondo outro conceito inerente a estes. O componente ideolgico e histrico inerente
economia poltica j fora descoberto por Marx. Segundo Ranieri 17
o componente humano
nada mais era do que um componente da atividade capitalista de produo o trabalho
humano igualado a qualquer outro elemento da produo de mercadorias, uma vez que no
processo predomina a percepo do indivduo isolado, puro ente subordinado ao territrio das
determinaes.
Continua Raniere afirmando que h nos Manuscritos uma discusso acerca dos
conceitos extrados de Hegel, um princpio para o entendimento dos elementos das relaes
capitalistas de produo, qual seja, distino (e similitude) entre alienao (Entusserung) e
estranhamento (Entfremdung). Portanto, pela descoberta da contradio interna da
propriedade privada que se estruturam em Marx todos os desdobramentos do estranhamento
do trabalho. Para Raniere (2008)18
a marca maior dos Manuscritos se encontra na
"apresentao do estranhamento genrico do ser humano sob a gide do trabalho subordinado
ao capital".
Tal obra de Marx inicia uma anlise estruturada do modo de produo capitalista. Com
efeito, tal trabalho surge como categoria fundamental aos estudos de Marx, como modo que
concretiza o ser social e amplamente desenvolvido. possvel entender que na medida em
16 Cf. em Nota edio de Ivana Jinking, 2004. Citando entrevista concedida sucursal da New Review em Budapeste, em 1968, e publicada no nmero 68, em 1971. Em MARX, Karl. Manuscritos Econmico-filosficos. Traduo Jesus Ranieri. 2. Reimpresso. So
Paulo: Boitempo, 2008.
17 Apud MARX, Karl. Manuscritos Econmicos-Filosficos. Traduo Jesus Ranieri. So Paulo: Boitempo, 2008.
18 Ibid, p. 14
35
que a produo se enriquece, a produtividade aumenta, resultando na sofisticao do processo
de trabalho. Portanto, o trabalho sob as relaes da produo capitalista traz a impossibilidade
da superao do estranhamento, pois seu controle determinado pela necessidade da
apropriao privada do trabalho alheio.
Ranieri lembra, ainda 19
, que acerca da traduo da obra, vale uma informao com
relao aos termos fundamentais de todo o seu trabalho, qual seja, alienao, estranhamento.
Nesta traduo h uma distino sugerida entre os termos Entusserung (alienao) e
Entfremdung (estranhamento), a saber:
muito comum compreender-se por alienao um estado marcado pela negatividade, situao
essa que s poderia ser corrigida pela oposio de um estado determinado pela positividade
emancipadora, cuja dimenso seria, por sua vez, completamente compreendida a partir da
supresso do estgio alienado, esse sim aglutinador tanto de Entusserung quanto de
Entfremdung. No capitalismo, os dois conceitos estariam identificados como formas de
apropriao do excedente de trabalho e, consequentemente com a desigualdade social, que
aparece tambm nas manifestaes tanto materiais quanto espirituais da vida do ser humano.
Assim, a categoria alienao cumpriria satisfatoriamente o papel da categoria universal
servindo de instrumento para a crtica de conjunto do sistema capitalista. (RANIERI, Apud,
MARX, 2008, p. 15)
Nestes termos, Entusserung significa remeter para fora, extrusar, passar de um estado
a outro qualitativamente distinto. Igualmente despojamento, realizao de uma ao de
transferncia, carregando consigo, portanto, o sentido da exteriorizao, segundo Ranieri20
que no texto traduzido, uma alternativa amplamente incorporada, uma vez que sintetiza o
movimento de transposio de um estgio a outro de esferas da existncia, momento de
objetivao humana no trabalho por meio de um produto resultante de sua criao.
Entfremdung, enfatiza o autor21
:
ao contrrio objeo socioeconmica realizao humana, na medida em que veio,
historicamente determinar o contedo do conjunto das exteriorizaes ou seja, o prprio
conjunto de nossa sociedade atravs da apropriao do trabalho, assim como da
determinao dessa apropriao pelo advento da propriedade privada.
Portanto, os dois termos apontados se referem ao poder do estranhamento sobre o
conjunto das alienaes humanas, ou seja, h uma ideia de conjunto das alienaes inerente
ao conjunto da sociedade, pois no se resumem a um nico tipo de alienao e o
19 Id, Ibid p. 15
20 Ibid, p. 16
21 Id
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estranhamento se sobressair no conjunto, O que segundo Ranieri22
, para Marx possvel
perceber pela relao concreta entre as duas categorias, pois as exteriorizaes surgem no
interior do estranhamento, mesmo impossvel de eliminar da existncia social com base no
trabalho humano.
O trabalho inserido no modo de produo capitalista sempre vai gerar um
estranhamento, uma exteriorizao, da a impossibilidade de ignorar da existncia social, pois
o trabalho por natureza conduz existncia das relaes sociais. Por certo, o trabalho
estranho, que no pertence ao homem, produz exteriorizaes, alienaes, desvincula-se de
sua existncia social, ou seja, o trabalho no tem outro sentido para o trabalhador na lgica
capitalista - se no unicamente criar produtos, no possui sua identidade, assim lhe estranho
e ao se apresentar desta maneira produz modos de alienao dependendo do contexto em que
se circunscreve o trabalhador.
J no prefcio do Caderno I, dos Manuscritos Econmico-Filosficos (2008) Marx,
quando argumenta sobre o salrio, aponta que o homem inserido no sistema capitalista de
produo resulta em mercadoria a servio dos caprichos dos ricos. Faz a sua primeira
exposio da relao homem reificado pelo universo capitalista. Ao se referir ao salrio
lembra que o homem sendo uma mercadoria para o capitalista seu salrio ser pago na medida
em que atender seus interesses, assim se no h interesse do trabalhador pelo salrio ofertado,
outra mercadoria-homem pode substitu-lo. Assim expe (p. 24):
A procura por homens regula necessariamente a produo de homens assim como de
qualquer outra mercadoria. Se a oferta muito maior que a procura, ento uma parte dos
trabalhadores cai na situao de misria ou na morte pela fome. A existncia do trabalhador ,
portanto, reduzida condio de existncia de qualquer outra mercadoria. O trabalhador
tornou-se uma mercadoria e uma sorte para ele conseguir chegar ao homem que se interesse
por ele. E a procura, da qual a vida do trabalhador depende, depende do capricho do rico e
capitalista.
Na medida em que seja retirado das mos do trabalhador seu produto de trabalho, pois
este uma coisa a ser usada pelo capitalista - e no dono de sua fora de trabalho, qui do
produto produzido - , seu trabalho se defronta com algo alheio, concentrando cada vez mais
seus meios de existncia, pois existe pela relao social de trabalho, nas mos do capitalista.
O trabalhador transformado condio de mquina pela diviso do trabalho, que o
mantm sempre mais dependente do capitalista e, igualmente transformado condio de
22 Id
37
objeto de um sistema, que ao mesmo tempo eleva a fora produtiva do trabalho
empobrecendo-o, nega sua condio de sujeito do processo produtivo. Marx iniciando sua
crtica economia nacional revela que tal sistema a economia - reconhece no trabalhador
apenas uma condio de subservincia, como um animal de trabalho. Est, contudo,
apontando todas as condies de explorao do trabalhador em vrios pases, sobretudo, na
Alemanha, Inglaterra e Frana, a ponto de questionar (2008, p. 32) at que ponto os homens
trabalham com mquinas, ou at que ponto eles trabalham como mquinas. 23
Sua crtica economia nacional na poca evidenciou a condio de coisa, mercadoria
estendida ao prprio trabalho do trabalhador; retoma ao conceito de reificao anteriormente
revelado. Assim afirma (2008 p. 35) A economia nacional considera o trabalho
abstratamente como uma coisa; o trabalho uma mercadoria; se o preo alto, a mercadoria
muito procurada; se baixo, [a mercadoria] muito oferecida; como mercadoria, o trabalho
deve baixar cada vez mais de preo". Marx estava revelando com esta afirmao, que a
mercadoria j estava no bojo da anlise do sistema capitalista de produo. Neste sentido,
abstrai-se o processo de reificao da raiz de seus escritos anteriores ao Capital,
complementado e ampliado com esta obra. Admitindo, contudo, que o trabalho sendo a vida,
o sentido da vida do trabalhador precisa permutar todos os dias em comida, em produtos de
suas necessidades bsicas. Sendo vida, denota da, que a existncia e continuidade da
existncia do ser humano dependem da continuidade de seu trabalho. No entanto, para que
esta vida seja uma mercadoria o trabalho como vida - necessrio, no entendimento de
Marx, admitir a escravido. Neste aspecto possvel aferir que tal escravido se refere s
condies de trabalho, dentro do sistema capitalista de produo que condiciona o trabalhador
intensa produtividade, por um salrio irrisrio, mas submetido para garantir a sua prpria
vida, no lhe restando alternativa.
No captulo II, Marx analisa que o ganho de capital explora as condies em que se
baseia o capital, qual seja, a propriedade privada dos produtos do trabalho alheio. Trabalho
este expropriado da fora do trabalhador, condicionando-o situao de coisa. Marx, ainda
nesta via, destaca que o cap