ERICK DE MEDEIROS NUNES
BLUES NO ESTILO DE WES
MONTGOMERY
Projeto de pesquisa para a disciplina Monografia
da Faculdade Santa Marcelina, em cumprimento
parcial s exigncias para a obteno do ttulo de
Bacharel em Msica Popular (guitarra).
Orientador: Prof. Ms. Sergio Augusto Molina
So Paulo
11/2010
2
AGRADECIMENTOS
Aos professores Srgio Augusto Molina pelas aulas de Histria e Anlise, Paulo
Tin pelas aulas de Harmonia e guitarra e Fernando Corra pelas aulas de guitarra. Foi
o conhecimento adquirido nestas aulas que possibilitou a realizao deste trabalho e a
compreenso deste contedo.
A Wes Montgomery por tocar essa msica capaz de inspirar tantas pessoas que
desejam aprender e entender a linguagem do jazz.
A minha famlia por apoiar e entender a importncia deste trabalho no meu
desenvolvimento musical.
3
RESUMO
Este trabalho estuda a influncia do blues no estilo do guitarrista de jazz Wes
Montgomery. Sob esse ponto de vista a gravao de "West Coast Blues", de 1960,
analisada tanto em seus aspectos composicionais quanto interpretativos em seus
nove choruses de improvisao.
Palavras-chave: Guitarra; Jazz; Blues; Wes Montgomery; Improvisao;
Composio.
ABSTRACT
This is a research project on the style of the jazz guitar player Wes Montgomery
focusing on the influence of the blues on his compositions and improvisations.
its transcription shows the approach of a jazz musician over a blues, both as a
composer and as a performer of nine choruses of improvisation.
Keywords: Guitar; Jazz; Blues; Wes Montgomery; Improvisation;
Composition.
4
SUMRIO
Lista de Figuras...........................................................................................................05
Introduo.........................................................................................................................10
1. Aspectos Histricos e Biogrficos
1.1 A Tradio do Blues presente no Jazz....................................................................11
1.2 A Guitarra Jazz.......................................................................................................13
1.3 Wes Montgomery...................................................................................................16
2. West Coast Blues
2.1 A Composio........................................................................................................19
2.2 Anlise Harmnica.................................................................................................23
2.3 Anlise Meldica...................................................................................................27
3. A Improvisao em West Coast Blues
3.1 Single Note.............................................................................................................33
3.2 Oitavas....................................................................................................................52
3.3 Chord Melody.........................................................................................................60
Consideraes Finais..................................................................................................68
Bibliografia.................................................................................................................69
Anexos.........................................................................................................................71
- Partitura com a transcrio completa da parte de guitarra executada por Wes
The Best of Wes
Montgomery de Wolf Marshall.
- CD contendo a gravao da
Wes Montgomery em seu disco The Incredible Jazz Guitar of Wes Montgomery.
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Graus da escala correspondentes a sonoridade blues............................p.13
Figura 2.1 Estrutura harmnica do blues tradicional..............................................p.20
Figura 2.2 ............................p.21
Figura 2.3 do livro The Best of Wes
Montgomery de Wolf Marshall..................................................................................p.22
Figura 2.4 Os trs acordes utilizados na harmonia do blues tradicional.................p.23
Figura 2.5 Estrutura harmnica dos quatro primeiros compassos no blues
tradicional..................................................................................................................p.24
Figura 2.6 Estrutura harmnica dos quatro primeiros compassos da composio
............................p.24
Figura 2.7 Estrutura harmnica da segunda parte do blues tradicional (quinto ao
oitavo compasso).......................................................................................................p.26
Figura 2.8
(quinto ao oitavo compasso)......................................................................................p.26
Figura 2.9 Estrutura harmnica da terceira parte do blues tradicional (nono ao
dcimo segundo compasso).......................................................................................p.27
Figura 2.10
............................p.27
Figura 2.11 Primeira frase da melodia da composio
Figura 2.12
Figura 2.13
Figura 2.14 Melodia da compos
Figura 2.15
Figura 2.16
Figura 2.17 Acordes executados no final da primeira exposio do tema (dcimo
segundo compasso)...................................................................................................p.32
Figura 3.1 chorus de
improvisao..............................................................................................................p.35
6
Figura 3.2 Trecho da improvisao em single note: utilizao da blue note e
resoluo da melodia na tera maior do acorde maior com stima menor
(Ab7)..........................................................................................................................p.36
Figura 3.3 Trecho da improvisao em single note: utilizao do modo mixoldio,
aproximao cromtica na mudana de acordes e utilizao da escala
bebop..........................................................................................................................p.37
Figura 3.4 Escala bebop dominante........................................................................p.38
Figura 3.5 Trecho da improvisao em single note: utilizao da dcima terceira
maior e da nona maior sobre o acorde maior com stima menor
(Ab7)..........................................................................................................................p.39
Figura 3.6 Trecho da improvisao em single note: utilizao da dcima terceira
menor, nona menor e de nona aumentada sobre o acorde maior com stima menor
(F7)............................................................................................................................p.39
Figura 3.7 Trecho da improvisao em single note: utilizao do modo mixoldio
sobre o acorde maior com stima menor (Bb7).........................................................p.40
Figura 3.8 Trecho da improvisao em single note: padro rtmico......................p.40
Figura 3.9 Trecho da improvisao em single note: utilizao do arpejo do acorde de
Ab7sus seguido de aproximaes cromticas............................................................p.41
Figura 3.10 Trecho da improvisao em single note: utilizao do arpejo do acorde
de Bb7sus seguido de aproximaes cromticas.......................................................p.41
Figura 3.11 Trecho da improvisao em single note: utilizao do arpejo do acorde
de Bm7 seguido de aproximaes cromticas sobre o acorde de E7.........................p.42
Figura 3.12 Trecho da improvisao em single note: desenvolvimento a partir de um
motivo meldico........................................................................................................p.42
Figura 3.13 Trecho da improvisao em single note: utilizao de aproximaes
cromticas superiores e inferiores..............................................................................p.43
Figura 3.14 Trecho da improvisao em single note: utilizao de um extenso arpejo
passando por todas as notas (exceto Solb) do modo de Solb mixoldio....................p.44
Figura 3.15 Trecho da improvisao em single note: utilizao do modo mixoldio
com quarta aumentada sobre o acorde de F maior com stima menor
(F7)............................................................................................................................p.44
Figura 3.16 Trecho da improvisao em single note: utilizao da blue note atravs
da aproximao cromtica.........................................................................................p.45
7
Figura 3.17 Trecho da improvisao em single note: utilizao de dois extensos
arpejos passando por todas as notas (exceto Lab) do modo de Lab
mixoldio....................................................................................................................p.45
Figura 3.18 Trecho da improvisao em single note: utilizao das tcnicas de
vibrato e bend............................................................................................................p.47
Figura 3.19 Trecho da improvisao em single note: utilizao de saltos meldicos
entre notas mais dista.................................................................................................p.47
Figura 3.20 Trecho da improvisao viso em single note: utilizao da escala bebop
dominante b13/b9 sobre o acorde maior com stima menor (F7).............................p.48
Figura 3.21 Trecho da improvisao em single note: utilizao do modo mixoldio
com quarta aumentada sobre o acorde maior com stima menor
(B7)............................................................................................................................p.48
Figura 3.22 Trecho da improvisao em single note: utilizao da tera maior (Do)
sobre o acorde maior com stima menor do segundo compasso
(Ab7)..........................................................................................................................p.49
Figura 3.23 Trecho da improvisao em single note: desenvolvimento do mesmo
motivo meldico sobre dois acordes (Eb7 e Ebm7)..................................................p.50
Figura 3.24 Trecho da improvisao em single note: utilizao da tcnica de
trill.............................................................................................................................p.50
Figura 3.25 Trecho da improvisao em single note: utilizao do mesmo arpejo
executado sobre dois acordes diferentes (Cm7 e F7)................................................p.51
Figura 3.26 Trecho da improvisao em single note: utilizao da tcinica de
ligadura com a presena da dcima terceira menor (Reb) sobre o acorde maior com
stima menor (F7)......................................................................................................p.51
Figura 3.27 Trecho da improvisao em single note: utilizao do arpejo do acorde
de Gb7M....................................................................................................................p.52
Figura 3.28 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao da blue note e resoluo
na nona maior do acorde maior com stima menor (Ab7)........................................p.53
Figura 3.29 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao do mesmo arpejo sobre
dois acordes (Bm7 e E7) na forma descendente e ascendente, respectivamente.......p.53
Figura 3.30 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao de graus conjuntos sobre
duas cadncias IIm7 V7 (Dm7 G7 e Dbm7 Gb7)......................................................p.54
Figura 3.31 Trecho da improvisao em oitavas: padro rtmico...........................p.54
8
Figura 3.32 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao de uma idia arpejada
sobre a cadncia IIm7 V7 (Cm7 F7)..........................................................................p.55
Figura 3.33 Trecho da improvisao em oitavas: padro rtmico...........................p.55
Figura 3.34 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao de um motivo sobre a
mesma nota (Bb)........................................................................................................p.55
Figura 3.35 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao de uma idia rtmica
sobre a mesma nota (Bb) resolvendo na nona maior do acorde maior com stima
menor
(Ab7)..........................................................................................................................p.56
Figura 3.36 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao de saltos de oitava sobre
um padro rtmico......................................................................................................p.56
Figura 3.37 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao da tcnica de
glissando....................................................................................................................p.57
Figura 3.38 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao da quarta aumentada
(La) e da quarta justa (Lab) sobre o acorde maior com stima menor
(Eb7)..........................................................................................................................p.58
Figura 3.39 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao de aproximaes
cromticas..................................................................................................................p.58
Figura 3.40 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao da tcnica de
glissando....................................................................................................................p.59
Figura 3.41 Trecho da improvisao em oitavas: utilizao de aproximao
cromtica na resoluo da frase (Mib para Reb).......................................................p.59
Figura 3.42 Trecho da improvisao em chord melody: utilizao do acorde
diminuto e a preparao da quarta justa (Mib) para a tera maior (Re) criando a
cadncia Bb7sus para Bb7.........................................................................................p.61
Figura 3.43 Trecho da improvisao em chord melody: tcnica de movimentao
paralela dos acordes...................................................................................................p.62
Figura 3.44 Trecho da improvisao em chord melody: utilizao da movimentao
paralela na cadncia IIm7 V7 (Bm7 E7)...................................................................p.62
Figura 3.45 Trecho da improvisao em chord melody: utilizao de um padro
rtmico envolvendo tercinas.......................................................................................p.64
Figura 3.46 Trecho da improvisao em chord melody: utilizao de ttrades sem
fundamental e quinta justa.........................................................................................p.64
9
Figura 3.47 Trecho da improvisao em chord melody: padro rtmico................p.65
Figura 3.48 Trecho da improvisao em chord melody: utilizao da ttrade com
dcima terceira maior no acorde maior com stima menor (Bb7).............................p.65
Figura 3.49 Trecho da improvisao em chord melody: utilizao da tcnica de
sobreposio...............................................................................................................p.66
Figura 3.50 trecho da improvisao em chord melody: utilizao de um motivo
sobre as cadncias IIm7 V7 do stimo ao nono compas............................................p.66
Figura 3.51 Trecho da improvisao em chord melody: utilizao da ttrade em
posio fechada (Gb7M) e da quarta aumentada no acorde maior com stima menor
(B7)............................................................................................................................p.67
10
INTRODUO
O blues sempre esteve presente no repertrio dos principais msicos de jazz e a
sonoridade obtida a partir deste gnero musical tambm pode ser encontrada em
diversas composies ou trechos de improvisao de msicos como Charlie Parker,
Miles Davis e John Coltrane.
Wes Montgomery segue os mesmos caminhos destes grandes msicos no que
diz respeito tradio do blues, incorporando em sua linguagem e adequando-a
particularidade de seu instrumento, indo do swing ao bebop, do bebop ao cool, do cool
ao modal, do modal ao free e etc...
Seguindo esta lgica podemos entender que a guitarra evoluiu e alcanou seu
auge nas mos de Wes Montgomery que foi capaz de mostrar o que era possvel
realizar neste instrumento, firmando-se ao lado destes e de outros grandes msicos
como a principal referncia em seu instrumento quando falamos de jazz.
estilo de Wes Montgomery de uma maneira mais ampla com o objetivo de apresentar
seu lado compositor e tambm toda sua capacidade criativa atravs da anlise da
improvisao.
Desta maneira ser possvel entender como ele era capaz de passar por todas as
sonoridades encontradas no jazz, desde o blues mais enraizado at as sofisticaes
meldicas do
11
CAPTULO I
ASPECTOS HISTRICOS E BIOGRFICOS
1.1 A Tradio do Blues presente no Jazz
O blues est presente em diversos gneros e estilos musicais e pode ser
considerado fundamental na formao no s do jazz, mas tambm de outros gneros
para o surgimento Bob Dylan e os Beatles seriam
inconcebveis sem o blues
Para o msico de jazz essa influncia parece funcionar como um pr-requisito,
pois apresenta um esquema formal, meldico, harmnico e interpretativo capaz de
guiar o msico que deseja entender a essncia da abordagem jazzstica. Esse
conhecimento sobre o blues apontado pelo pianista Billy Taylor como algo
indispensvel.
Eu desconheo um s grande msico de jazz, de qualquer perodo, que no tenha
profundo respeito e identidade pelo blues mesmo quando no o toca. (BERENDT,
1975, p. 124)
Vrias caractersticas tornaram o blues um gnero nico e de identidade forte.
Sua estrutura harmnica, por exemplo, sempre serviu de base para a criao de novas
composies e as letras so de fcil identificao por retratar a realidade das pessoas.
No caso do blues instrumental, notamos a expressividade do msico ao interpretar as
12
melodias em seu instrumento, alm da liberdade para a improvisao. Mesmo com
todas essas possibilidades podemos apontar como caracterstica mais marcante a blue
note, pois este aspecto meldico do blues poder ser aplicado em qualquer estilo
musical. A criao da blue note foi analisada acusticamente por Joachim E. Berendt
como o resultado do encontro de duas escolas musicais distintas.
Ela resultou da confrontao de dois sistemas acsticos, o pentatnico (escala de cinco
notas apenas) que os negros trouxeram da frica e o tonal (temperado) de origem
europia (de sete notas). Muito rapidamente, porm, os negros assimilaram o sistema
tonal, sendo que apenas duas notas da escala que conhecemos permaneciam, para eles,
ainda com uma entoao dbia: a terceira e a stima nota da escala tonal [...] eles no
sabiam se cantavam mi ou mi bemol e si ou si bemol [...] por fim, os negros passaram a
usar, em tonalidades maiores, condues meldicas menores. (BERENDT, 1975, p. 125)
Em outro exemplo (fig. 1.1) do livro de Joachim E. Berendt podemos ter uma
idia mais prtica de como surge a sonoridade do blues a partir da blue note com a
com base e uma linha meldica descendente de d a d, com os graus da escala
abaixados, correspondentes s blue notes (si bemol, mi bemol uma seta) a flatted
fifth (sol bemol
de bebop1, entre outros consideravam a quinta nota bemol (flatted fifth) como um tipo
de blue note.
1 Estilo jazzstico surgido nos anos 40 do sculo passado que valorizava a passagem por
intervalos dissonantes como a quinta diminuta, alm de melodias executadas em alta velocidade.
Transformou a abordagem dos msicos em relao aos standards de jazz teve como principais
expoentes o saxofonista Charlie Parker e o trompetista Dizzy Gillespie.
13
Figura 1.1 Graus da escala correspondentes a sonoridade blues.
1.2 A Guitarra Jazz
A guitarra comea sua trajetria no jazz sendo utilizada como um instrumento
rtmico/harmnico que cumpria a funo de acompanhamento. Nos anos 20 e 30, seu
toque era totalmente influenciado pela sonoridade do banjo e apesar de ambos os
instrumentos serem amplamente utilizados pelos cantores de folk e de blues,
inicialmente, no jazz tradicional a preferncia era pelo banjo.
A identidade da guitarra como conhecemos hoje comea a se desenvolver com o
surgimento de Freddie Green, conhecido pelo trabalho realizado na seo rtmica da
orquestra de Count Basie.
Ele , em grande parte, responsvel pelo famoso som compacto da seo rtmica de
Basie. Em nenhum outro conjunto da msica do jazz a seo rtmica foi to sound como
no caso da orquestra de Basie. O responsvel por isso a guitarra de Green, um msico
extremamente solicitado por todos, mas que nunca deixou de atuar com Basie.
(BERENDT, 1975, p.227)
Com o passar do tempo a guitarra comeou a integrar outros grupos e orquestras
e atravs do desenvolvimento tecnolgico, evoluo dos captadores e da amplificao
14
passou a se destacar tambm como instrumento solista, capaz de realizar improvisos
como os instrumentos de sopro.
O primeiro msico que conseguiu adaptar o fraseado, a tcnica e a sonoridade
jazzstica dos instrumentos de sopro guitarra foi Charlie Christian, considerado o
verdadeiro fundador da guitarra jazz.
importante lembrarmos que nessa mesma poca Django Reinhardt realizava
um trabalho de extrema importncia na Europa influenciando diversos msicos de
jazz, mas no que diz respeito sonoridade da guitarra jazz podemos considerar o som
de Christian mais revolucionrio. Uma comparao feita por Joachin E. Berendt
meldicas que ele (Django) executava na
guitarra comum resultavam bastante estridentes a partir do momento em que passou a
eletrificar seu instrumento. Charlie Christian foi quem descobriu uma tcnica
adequada do toque desse instrumento eletrificado [...] tcnica, harmnica e
melodicamente, Christian abriu novos terrenos [...] foi o primeiro a improvisar no
sobre harmonias bsicas dos temas mas tambm sobre um sem-nmero de acordes
bstituir o
toque stacatto da guitarra anterior pelo som legatto -230).
Muitos guitarristas importantes vieram depois de Christian, entre eles podemos
citar Barney Kessel, Tal Farlow e Jim Hall, porm o mais importante pode ser
considerado Wes Montgomery. Foi atravs de sua tcnica e musicalidade que a
todos os guitarristas reavaliaram sua abordagem ao instrumento com o objetivo de
incorporar uma srie de elementos utilizados por Wes, como a tcnica de oitavas, os
15
tocar com swing. A msica executada na guitarra jazz pode ser definida como antes e
depois de Wes no que diz respeito ao conceito e o nvel da performance [...] a sua
abordagem inclua todos os estilos de jazz assim como msica Afro-cubana, Latina,
Clssica, Funk e Pop. Wes Montgomery trouxe um frescor e vitalidade para a guitarra
que ainda no foi ultrapassado ou -5; Traduo
do Autor).
A influncia do estilo de Wes pode ser encontrada em diversos msicos dos
mais variados estilos como Santana, Eric Johnson e Pat Metheny, para citar apenas
alguns.
Desde ento a guitarra vem sendo utilizada como um instrumento principal e
integrante das principais bandas e orquestras de jazz, naturalmente passando pelas
transformaes do processo evolutivo do prprio jazz como gnero musical.
Podemos considerar a fuso do jazz com o rock, no final da dcada de sessenta,
como outro ponto importante dentro da histria da guitarra jazz e o msico John
McLaughlin (1942) como principal expoente, sendo que neste perodo diversos estilos
musicais eram trazidos para o universo jazzstico e o rock era o que mais destacava a
utilizao da guitarra.
Os guitarristas mais importantes de jazz no cenrio musical atualmente, ainda
so os msicos formados nessa poca ou at mais antigos e entre eles podemos citar
Jim Hall, Pat Martino, Pat Metheny e John Scofield.
16
1.3 Wes Montgomery
John Leslie Montgomery nasceu no dia 6 de Maro de 1923 na cidade de
Indianpolis, Indiana, nos Estados Unidos da Amrica e com seu jeito nico de tocar
guitarra ficou conhecido mundialmente como Wes Montgomery.
Wes tinha dois irmos que eram msicos e participaram diretamente do seu
desenvolvimento musical, sendo que seu irmo Monk Montgomery deu a ele (aos
treze anos de idade) sua primeira guitarra. Nessa poca, a msica e o contato com o
instrumento eram encarados apenas como lazer e a aspirao profissional como
msico aconteceria alguns anos depois.
Apesar da admirao por outros guitarristas como Django Reinhardt e Les Paul,
foi em Charlie Christian que ele encontrou uma sonoridade sofisticada e capaz de
inspir-lo a se tornar um msico. Foi nessa poca, por volta dos vinte anos de idade
que ele comprou um amplificador e uma guitarra e resolveu se dedicar completamente
msica.
Em uma entrevista concedida a Ralph J. Gleason, o prprio Wes afirmou ter
aprendido sozinho a tocar os solos de Christian em menos de um ano e se apresentava
tocando apenas esses mesmos solos.
Com o passar do tempo John Coltrane se tornou uma importante influncia [...] ele
tambm apontou Miles Davis e os grandes cantores de baladas como Sinatra, Nat Cole e
Tony Bennett como influncias significantes. (INGRAM, 1985, p. 50; Traduo do
Autor)
Indianpolis, a cidade onde morava era muito ativa musicalmente,
proporcionando uma boa exposio para os msicos que atuavam por l. A habilidade
de Wes foi o que chamou a ateno de Lionel Hampton, fazendo com que esse
17
vibrafonista, reconhecido por sua importncia na poca do swing o convidasse para
tocar em sua orquestra.
Durante dois anos ele trabalhou com Hampton (1948 a 1950) viajando
constantemente e realizando diversas apresentaes. Aps essa experincia ele
retornou Indianpolis, onde passou um perodo de cinco anos atuando em clubes
locais, at que finalmente se reuniu com seus irmos como integrante dos
. nessa fase da carreira de Wes encontramos suas primeiras
gravaes.
Foi atravs de uma recomendao do saxofonista Cannonball Adderley que Wes
comeou a gravar pelo selo Riverside lanando por essa mesma gravadora o disco The
Incredible Jazz Guitar of Wes Montgomery (1960) onde encontramos a gravao de
Durante esse perodo gravando pela Riverside Wes lanou diversos lbuns que
marcaram sua trajetria e redefiniram a guitarra jazz.
Ele pavimentou o caminho para a nova gerao de guitarristas isto evidente no
trabalho de George Benson, Pat Martino, Pat Metheny, Emily Remler e praticamente
todos ps-1959. (MARSHALL, 2001, p.5; Traduo do Autor)
O sucesso comercial veio aps sua transferncia para outra gravadora a A&M
Records, poca em que popularizou o som de sua guitarra tocando temas da msica
pop e apesar das crticas, foi nessa poca que ele ganhou um Grammy por sua
18
Wes Montgomery morreu em 15 de Junho de 1968 e podemos dizer que at hoje
o seu estilo permanece atual. Suas gravaes demonstram seu alto nvel criativo e
tcnico, servindo de exemplo para quem deseja aprender sobre a guitarra jazz.
19
CAPTULO II
2.1 A Composio
A referncia musical mais marcante encontrada no estilo de Wes Montgomery
o blues. Quando ouvimos suas gravaes encontramos essa influncia presente na
escolha do repertrio de seus discos e apresentaes, nas suas improvisaes e suas
composies.
o do disco
The Incredible Jazz Guitar of Wes Montgomery gravado em 1960 pela gravadora
Riverside com Wes Montgomery na guitarra acompanhado dos msicos Tommy
Flanagan (piano), Percy Heath (baixo) e Albert Heath (bateria). Utilizaremos tambm
a transcrio contida no livro The Best of Wes Montgomery em que Wolf Marshall faz
uma breve introduo analisando alguns aspectos composicionais e classificando a
cas da costa oeste
dos E.U.A. (West Coast Changes) com uma inteno de valsa (jazz-
(MARSHALL, 2001, p. 24; Traduo e Adaptao do Autor)2.
O termo West Coast faz referncia a um estilo de jazz conhecido como cool e de
acordo com Carlos Calado
original, um bop esfriado [...] na verdade o termo west coast freqentemente
2 udio disponvel no CD anexo.
20
substitudo por cool
(CALADO, 1990, p. 160 162).
A msica segue a forma tradicional do blues de 12 compassos (fig. 2.1) que
103). 3
Figura 2.1 Estrutura harmnica do blues tradicional.
Apesar de apresentar algumas diferenas no aspecto rtmico (compasso 6/4) e
harmnico (West Coast Changes), a composio de Wes Montgomery trabalha com os
elementos mais importantes do blues, tendo se firmado dentro desse gnero e
aparecendo com freqncia no repertrio dos msicos de jazz.
3 Os algarismos romanos representam os graus da escala e o nmero 7 indica o tipo de acorde a
ser usado (maior com stima menor) durante a progresso.