UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG
Instituto de Ciências da Natureza
Curso de Geografia – Licenciatura
Gabriela Pereira e Silva
O MOVIMENTO DE (RE) ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO
URBANO DE NOVA RESENDE NO PERÍODO DE 1983 E
2009
Alfenas - MG
2013
Gabriela Pereira e Silva
O MOVIMENTO DE (RE) ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO
URBANO DE NOVA RESENDE NO PERÍODO DE 1983 E
2009.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada
como parte dos requisitos para obtenção do
título de Licenciado em Geografia pelo Instituto
de Ciências da Natureza da Universidade
Federal de Alfenas- MG, sob orientação do Prof.
Dr. Evânio S. Branquinho.
Alfenas – MG
2013
Dedico
A minha família e a Nelson José
da Silva, pelo apoio e incentivo
para a realização deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus que me concedeu a oportunidade de concluir mais uma
etapa em minha vida.
Aos professores, pela orientação nos momentos de dúvida e pelo carinho com que
ministraram as aulas.
Aos colegas de curso de graduação, pela agradável convivência, em que a experiência de
muitos serviu para enriquecer ainda mais o curso.
E a todas as pessoas que colaboraram com este trabalho; entre elas estão:
Eliza Maria e Silva José Vitor e Silva
Ereonice de Fátima Pereira e Silva Regina Célia Silva Vilela
Valdeci Vieira Paulino Onofro Berlamino da Silva
Maria Manuelina da Silva Mozar Canato Macedo
Maria Elena de Assis Gabriel José Nicácio Filho
Zoaldo Donizete Madeira José Luiz e Silva
Francisco José Bueno Maria Lúcia Gonçalves da Silva
João Gonçalves Sobrinho Conceição Ferreira Ribeiro
Benedita do Espírito Santo José Sales Ribeiro
Maria Aparecida Cardoso Francisca Lina de Souza
Luiza Divina da Silva Maria Conceição Feliciana
Francisco Tomé Inácio Jordão Ezequiel Estevam
Rosendo Gonçalves de Rezende Filho Padre José Luiz Gonzaga do Prado
Alaor Firmino da Silva Maria da Conceição Evangelista Silva
“O espaço urbano capitalista-fragmentado,
articulado, reflexo, condicionante social, cheio de
símbolos e campo de lutas - é um produto social,
resultado de ações acumuladas através do tempo,
e engendradas por agentes que produzem e
consomem espaço”. (CORREIA, 1995, p. 11)
RESUMO
Esta pesquisa discorre sobre a (re) estruturação do espaço urbano de uma cidade pequena
chamada Nova Resende-MG em dois períodos: primeiro, em 1983 marcado com as transformações
do campo, doações de terras urbanas, instalação da sede da Cooperativa Cooxupé, lei trabalhista de
1943 e a migração do campo para cidade; e segundo, em 2009 caracterizado por uma economia
mais dinâmica, com o aumento da aglomeração populacional na cidade, modernização do campo,
políticas de financiamentos, aumento do preço do café em 1986 e o desenvolvimento de uma nova
atividade econômica, a de confecções de lingerie, modificando o espaço urbano no âmbito do
consumo, produção e circulação no/do espaço.
Dessa forma o objetivo desta pesquisa é explicar através da dialética entre cidade/campo e
urbano/rural, respectivamente, as (re) estruturações do espaço urbano nos períodos
supramencionados a partir, principalmente, de conceitos da geografia urbana necessários para a
explicação do espaço urbano, como rural, urbano, campo, cidade, redes inter e intra urbanas,
cidades pequenas e produção e reprodução do espaço urbano.
Palavras chaves: (re) estruturação do espaço urbano, campo, cidade, rural, urbano, redes inter e
intra urbanas, cidades pequenas e produção e reprodução do espaço urbano.
SUMMARY
This research discusses about the (re) organization of the urban space of a small town called
Nova Resende- MG in two periods: firt, in 1983 marked with the countryside area changes, urban
area property donations, Cooperativa Cooxupé’s headquarters installation, 1943 labor law and the
migration from countryside to the urban area; and second, in 2009 featured by a more dynamic
economy, with the city’s agglomeration raise, countryside modernization, financing politics, raise in
the price of the coffee in 1986 and the development of a new economic activity, the lingerie
manufactures, modifying the urban space under the consumption, production and circulation at/of
the area.
Therefore the goal of this research is explaining through the dialectic between city/country
and urban/rural, respectively, the (re) organizations of the urban area within the abovementioned
periods from, manly, urban geography concepts necessary to the urban area explanation, as rural,
urban, countryside, city, inter and intra urban networks, small cities and production and
reproduction at the urban area.
Key words: (re) organization of the urban area, countryside, city, rural, urban, inter and intra urban
networks, small cities and production and reproduction at the urban area.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Localização do Município de Nova Resende e Juruaia.....................................................14
Figura 2 - Espaço Urbano de Nova Resende.....................................................................................37
Gráfico 1 – Forma de Acesso a Habitação.........................................................................................50
Gráfico 2 - Motivos que levaram a residir na Vila Dorinto Morato...................................................50
Gráfico 3 - Origem da Migração........................................................................................................50
Gráfico 4 – Fluxo de Migração por ano para Vila Dorinto Morato...................................................51
Gráfico 5 - Antes de confeccionar você tinha uma renda estabilizada?.............................................60
Gráfico 6 - Em que ano você aprendeu a fazer lingerie?...................................................................60
Gráfico 7 - Hoje, a confecção emprega a família inteira?..................................................................60
Gráfico 8 - Se não, qual outro tipo de emprego sua família participa?..............................................61
Gráfico 9 – Hoje, a confecção emprega sua família inteira?..............................................................62
Gráfico 10 - Se não, qual outro tipo de emprego sua família participa?............................................63
Gráfico 11 - Antes de confeccionar você tinha uma renda estabilizada?...........................................63
Gráfico 12 - Em que ano você começa a confeccionar lingerie em casa ou outro cômodo?.............63
Gráfico 13 - Você pretende se mudar para cidade?............................................................................63
Gráfico 14 - Se sim, qual o motivo para se mudar?...........................................................................64
Gráfico 15 - O que levou você a confeccionar lingerie?...................................................................66
Gráfico 16 - Em que ano você começa a confeccionar lingerie em casa ou outro cômodo?.............66
Gráfico 17 – Hoje, a confecção emprega sua família inteira?............................................................66
Gráfico 18 - Se não, qual outro tipo de emprego sua família participa?............................................67
Gráfico 19 - Das pessoas que marcaram somente um tipo de emprego.............................................67
Gráfico 20 - Antes de confeccionar você tinha uma renda estabilizada?...........................................67
Gráfico 21 - Total de confecções no ano de 2011 no Município de Nova Resende..........................68
Figura 3 - Nova Resende no ano de 1987...........................................................................................70
Figura 4 - Nova Resende no ano de 2011...........................................................................................70
Figura 5 – Expansão Urbana de Nova Resende.................................................................................71
Figura 6 – Segunda (re) estruturação urbana do município de Nova Resende..................................72
Figura 7 - Verticalização na zona central de Nova Resende, no ano de 2011, através da demolição
de casas antigas...................................................................................................................................74
Figura 8 - Verticalização na zona central de Nova Resende, no ano de 2011, em terrenos vazios....75
Gráfico 22 - Gráficos voltados para lojas de lingerie de Nova Resende (coleta de dados a partir do
dia 07/12/2011 até 23/12/2011)..........................................................................................................78
Gráfico 23 - Gráficos voltados para as confecções de lingerie que ainda se mantêm no Campo -
Nova Resende (coleta de dados a partir do dia 29/12/2011 até 01/07/2012).....................................78
Gráfico 24 - Gráficos voltados para as confecções de lingerie que ainda se mantêm em casa ou
cômodo fechado ao público- Nova Resende (coleta de dados a partir do dia 22/12/2011 até
29/12/2011).........................................................................................................................................79
Gráfico 25 – Gráficos voltados para as confecções de lingerie que ainda se mantêm em casa ou
cômodo fechado ao público- Nova Resende (coleta de dados a partir do dia 22/12/2011 até
29/12/2011).........................................................................................................................................80
Gráfico 26 – Gráficos voltados para as confecções de lingerie que ainda se mantêm no Campo -
Nova Resende (coleta de dados a partir do dia 29/12/2011 até
01/07/2012).........................................................................................................................................81
Gráfico 27 – Gráficos voltados para lojas de lingerie de Nova Resende (coleta de dados a partir do
dia 07/12/2011 até
23/12/2011).........................................................................................................................................82
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - População Residente no município de Nova Resende-MG..............................................58
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................14
1. CONCEITOS E DINÂMICA ENTRE CIDADE E CAMPO; URBANO E
RURAL.............................................................................................................................18
1.1 CIDADE E CAMPO........................................................................................................18
1.2 CIDADE/URBANO E CAMPO/RURAL........................................................................19
1.3 A DINÂMICA ENTRE A CIDADE/URBANO E O CAMPO/RURAL.........................21
2. O CONCEITO DE CIDADE PEQUENA........................................................................22
3. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DO ESPAÇO.............................................................24
4. AS REDES URBANA E INTRA-URBANA E O DESENVOLVIMENTO DA
PEQUENA CIDADE.......................................................................................................25
4.1 OS CONCEITOS DE REDE URBANA E INTRA-URBANA.......................................25
4.2 REDE URBANA BRASILEIRA E SUAS TRANSFORMAÇÕES ..............................26
4.3 REDE URBANA E PEQUENAS CIDADES ................................................................27
4.4 CIDADES PEQUENAS E GLOBALIZAÇÃO: DINAMIZAÇÃO DOS ASPECTOS
INTRA-URBANO E INTER-URBANO........................................................................29
4.4.1 OS AGENTES DO ESPAÇO INTRA-URBANO E INTER-URBANO......................31
5. HISTÓRICO E ESTRUTURA ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE NOVA RESENDE
ANTERIOR A 1983......................................................................................................33
5.1 A CRISE DO CAFÉ E SUAS INFLUÊNCIAS NA ESTRUTURA ESPACIAL DE
NOVA RESENDE..........................................................................................................34
5.2 A ESTRUTURA ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE NOVA RESENDE NO
ÂMBITO DA ECONOMIA LEITEIRA.................................................................36
5.2.1 ESTRUTURA DE UMA ECONOMIA PRINCIPALMENTE LEITEIRA E A
EXISTÊNCIA DE COLÔNIAS......................................................................................40
5.2.2 ESTRUTURA E ATORES DO CAMPO...................................................................41
5.3 ESTRUTURA DA CIDADE FRENTE A UMA ECONOMIA PRINCIPALMENTE
LEITEIRA..............................................................................................................................44
6. A (RE) ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE NOVA RESENDE-
1983........................................................................................................................................48
6.1 LOCALIZAÇÃO DA POPULAÇÃO MIGRANTE DO CAMPO.................................49
6.2 TRANSIÇÃO DE UMA ESTRUTURA DE ECONÔMICA LEITEIRA PARA A
CAFEEIRA.............................................................................................................................51
8. A (RE) ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE NOVA RESENDE-
2009..................................................................................................................................56
8.1. GLOBALIZAÇÃO E TRANFORMAÇÕES NO ESPAÇO INTRA-URBANO E
INTER- URBANO.....................................................................................................56
7.1.1 O ESPAÇO INTRA-URBANO.....................................................................................57
7.1.1.1 AUMENTO POPULACIONAL URBANO...............................................................57
7.1.1.2 NOVAS FUNÇÕES...................................................................................................59
7.1.1.2.1 NOVA ECONOMIA COMO COMPLEMENTO DE RENDA FAMILIAR
PARA UMA PEQUENA PARCELA DA CLASSE MÉDIA BAIXA
URBANA. ..............................................................................................................59
7.1.1.2.2 NOVA ECONOMIA VISTA COMO OPORTUNIDADE DE EMPREGO
DESVINCULADA DO CAMPO..............................................................................62
7.1.1.2.3 NOVA ECONOMIA VISTA COMO OPORTUNIDADE PROFISSIONAL
COMPATÍVEL AOS AFAZERES DE DONAS DE CASA DA CIDADE.............65
7.1.1.2.4 NOVA ECONOMIA: SOFRE INFLUÊNCIA INDIRETA DO MUNICÍPIO
DE JURUAIA-MG ..................................................................................................68
7.1.1.3 EXPANSÃO HORIZONTAL E VERTICAL............................................................69
7.1.2 ESPAÇO INTER- URBANO........................................................................................76
7.1.2.1 FORMA DA REDE URBANA, ALCANCE ESPACIAL ENTRE OS
CENTROS URBANOS.............................................................................................76
7.1.2.2 POLARIZAÇÃO E COMPETITIVIDADE...............................................................77
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................85
ANEXOS................................................................................................................................88
INTRODUÇÃO
Figura 1- Localização do Município de Nova Resende e Juruaia
Fonte: Croqui elaborado por Gabriela Pereira e Silva
O tema deste trabalho refere-se ao município de Minas Gerais, Nova Resende (ver figura 1),
a partir do delineamento e da análise da intensa relação existente entre a cidade/campo e
urbano/rural, respectivamente, e, também, os resultantes desta relação estruturada e (re) estruturada
no espaço geográfico predominantemente na dimensão local. Esta relação sofre, a todo o momento,
constantes influências geográficas, culturais, políticas e econômicas das mais diversas dimensões
(local, regional, nacional e global). E ao longo da história, esta última influência, com o seu
desenvolvimento, refletir-se-á no espaço através do fenômeno da globalização.
A globalização faz parte de um processo histórico da mundialização do capitalismo, que
iniciou no contexto das grandes navegações e chegou a sua fase áurea a partir dos anos noventa,
com o fim da Guerra Fria, em que as transformações do espaço geográfico1 tornaram-se mais
visíveis e complexas. Tais complexidades derivam da aceleração, principalmente dos fluxos (fluxo
financeiro, de capitais produtivos, de turismo e de pessoas) que têm provocado mudanças
econômicas, sociais, culturais, políticas e espaciais em todas as escalas, o que também resultou em
desigualdades sociais.
Assim a globalização traz diversas transformações que abrangem as áreas econômica, social,
cultural, entre outras e que dão vazão a diferentes avaliações, pois o mesmo fenômeno pode ser
avaliado positivamente ou negativamente, dependendo das particularidades de cada espaço do globo
e dos pontos de vista assumidos pelos cidadãos de cada sociedade. Tais transformações poderão
proporcionar facilidades e conforto, melhorando a qualidade de vida da população tanto urbana
como rural e, ao mesmo tempo, desfavorecer o contato direto e o diálogo entre as pessoas, que
passam a ter um contato maior com o mundo por meio dos aparelhos tecnológicos. O
distanciamento entre as pessoas pode facilitar a manipulação política, em todas as escalas, seja
nacional, local ou global.
Considerando o exposto, concluímos que a globalização é um fenômeno que causou muitas
mudanças em todas as dimensões da vida e isso irá refletir em uma configuração mais complexa do
espaço geográfico e, em específico, da cidade. Ao contrário do que se pode imaginar, esta
reconfiguração geográfica não se restringe às grandes cidades, daí o interesse da presente pesquisa
em tematizar este assunto sobre uma cidade de pequeno porte.
As cidades pequenas também sofrem com os problemas característicos da globalização,
inerentes ao sistema capitalista mundial, só que em menor escala quando comparados aos das
cidades maiores, como é o caso da desigualdade social e da centralização de capital. Esta
centralização do capital está estritamente ligada às diferenças econômicas de cada município,
valores culturais, influência de polarização de redes, da política local, entre outros fatores, pois são
estas diferenças que refletirão diretamente ou indiretamente na formação da estrutura urbana de
cada cidade, ou seja, estas diferenças vão proporcionar distinção tanto das formas espaciais como
das dinâmicas entre a cidade e o campo. Possibilitando como resultado municípios em que há o
predomínio da concentração ou não do capital, de latifúndios ou pequenas propriedades, de mão de
obra barata ou especializada, de migrantes ou refugiados, de população aposentada ou ativa, de
indústrias ou produção agrícola, dentre outras. Das dinâmicas entre cidade e campo, resulta a
configuração de municípios com a formação de metrópoles, médias ou pequenas cidades.
1 Segundo as ideias de Milton Santos (1978, p. 148) pode se entender como espaço geográfico o resultado da “[...]
interação de múltiplas variáveis através da história, sua inércia é, pode-se dizer, dinâmica. Por inércia dinâmica
queremos significar que as formas são tanto um resultado como uma condição para os processos. A estrutura espacial
não é passiva mas ativa, embora sua autonomia seja relativa, como acontece nas demais estruturas sociais.”
Deste modo, tanto a formação espacial urbana como a dinamização entre a área rural e a
área urbana de um município dependerão de vários fatores, já expostos anteriormente. Com isso,
fica claro que cada cidade, inclusive as de pequeno porte, têm suas particularidades. São destas
peculiaridades que nascem temas de interesse para os estudos, no caso, da Geografia Urbana, o que,
por sua vez, pode desdobrar-se em importantes descobertas para esta área do conhecimento.
Contudo, defende-se que, não são só estas particularidades, no que tangem a conteúdos sociais,
políticos, econômicos e históricos, que corroboram a importância das pequenas cidades para a
pesquisa científica contemporânea, mas também pelo fato de haver poucos estudos acadêmicos a
respeito delas.
Sendo assim, a motivação do presente trabalho surgiu da junção de três fatores: primeiro, as
cidades pequenas vêm sofrendo constantes transformações pela globalização; segundo, há poucos
estudos no campo da Geografia Urbana sobre pequenas cidades e, por último, existem dois
períodos, plausíveis, que marcam a (re)estruturação do espaço urbano de Nova Resende sendo eles:
1983, (re)estruturação do espaço, marcada com as transformações do campo e a migração do campo
para a cidade; e 2009, marcada pela (re)estruturação do espaço caracterizada por uma economia
mais dinâmica, com o aumento da aglomeração populacional na cidade e o desenvolvimento de
uma nova atividade econômica, a de confecções.
Como já trabalhamos, quanto aos objetivos deste trabalho, pretendemos explicar através da
dialética entre a cidade/campo e urbano/rural, respectivamente, as (re)estruturações do espaço
urbano de Nova Resende, enfatizando estes dois períodos (1983 e 2009), a partir, principalmente, de
conceitos da geografia urbana necessários para a explicação do espaço urbano, como rural, urbano,
campo, cidade, redes inter e intra urbanas, cidade pequena e produção e reprodução do espaço
urbano.
Por possuir um acervo histórico e geográfico muito mais complexo do que exposto no site
do IBGE e outras fontes literárias que permanecem com a mesma informação, este trabalho se
justifica também, por englobar dois fatores principais e importantes nos estudos da Geografia
Urbana: Primeiro, a dinâmica entre o rural e o urbano, campo e cidade; e o segundo, a
(re)estruturação do espaço urbano em dois períodos relevantes, que implicará alguns conceitos
como rede intra-urbana e inter-urbana, produção e reprodução do espaço e pequena cidade.
Explicando melhor estes períodos: o primeiro, em 1983, por compreender a (re)estruturação do
espaço urbano voltado para as transformações do campo e a migração do campo para cidade, por
consequência, principalmente, da lei trabalhista de 1943. Foi neste contexto que surgiu a
necessidade de doação de terras urbanas para atender a população que migrava do campo e a
população do centro que sofria com a especulação imobiliária. É também, neste contexto que se
instala a sede da Cooperativa Cooxupé, que simboliza o fortalecimento da economia do café no
município; e segundo em 2009, por compreender uma segunda (re)estruturação do espaço urbano
voltada para uma economia mais dinâmica do capital, com o aumento da aglomeração populacional
na cidade, modernização do campo, aumento do preço do café em 1986, acesso a políticas de
financiamentos e o surgimento de uma nova atividade econômica (confecções) modificando o
espaço urbano no âmbito do consumo (implantação da confecção e valorização dos terrenos ao seu
redor – aumento da oferta de aluguel), produção (verticalização e surgimento de novos lotes) e
circulação (polarização da região e competitividade com Juruaia, município limítrofe) do/no espaço.
O intuito de recorrer a esses dois fatores é de proporcionar o entendimento da cidade pequena e
esclarecer incógnitas de casos particulares, que ainda não foram estudados no campo da geografia
urbana.
Por isso, esta pesquisa pretende contribuir para o desenvolvimento de estudos na área do
conhecimento de geografia urbana no avanço de pesquisas sobre as pequenas cidades. Uma
pesquisa deste teor pode colaborar para a compreensão do espaço brasileiro, uma vez que focaliza
processos de transformação da globalização que também se refletem nas pequenas cidades. Os
reflexos destes processos aparecem de maneiras distintas em cada espaço, pois dependem da
localização, que é compreendida enquanto acessibilidade a diversos pontos (padaria, banco,
farmácia, hospital, lotérica, regionais de saúde etc), seja dentro da cidade ou entre regiões/ ou
cidades. Este acesso, embutido na definição de localidade, será determinado através das relações de
vários fatores como político, econômico, cultural, social e geográfico, numa constante interação
entre diversas escalas (local, regional, nacional e global). A localização de uma cidade resultará
configurações espaciais específicas que poderão proporcionar cidades especializadas produzindo
confecções, calçados, tecidos, etc; cidades dormitório, cidades de trabalhadores agrícolas, cidades
economicamente agrícolas, etc. Considerando o exposto, corroboramos que a presente investigação
pode apresentar dados relevantes quanto ao município pesquisado, de modo a, como anunciado
anteriormente, cooperar para os estudos sobre o espaço brasileiro.
Por assim justificar, este trabalho possui dois objetivos: o primeiro deles é desenvolver um
estudo sobre três conceitos: cidade e campo; urbano e rural; produção e reprodução; rede intra-
urbana e inter-urbana da pequena cidade, pois proporcionará a compreensão da dinâmica do espaço
urbano do município de Nova Resende em 1983 e 2009. O segundo é investigar as relações entre
os referidos conceitos e como estes se materializam na (re)estruturação da mancha urbana no
município, nos períodos supramencionados.
E para realização deste trabalho, mobilizaram-se instrumentos e referenciais de diferentes
ordens. Primeiramente, utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica. Posteriormente,
lançaremos mão do trabalho de campo como meio de recolher dados mais concretos. Por fim, para
análise do corpus iremos recorrer ao método dialético, que será melhor explicado no item “o
conceito de cidade pequena”.
A metodologia de coleta de informações por meio de pesquisa irá dar-se por meio da análise
de documentos da prefeitura de Nova Resende e de demais órgãos governamentais e associação
vinculada a esse município2, como o IBGE, DATASUS e ACINOR (Associação Comercial
Industrial Agropecuária e Prestação de Serviços de Nova Resende). Ressalta-se que o IBGE fornece
dados insuficientes sobre o município de Nova Resende.
Tenho como um dos procedimentos principais: o trabalho de campo, que é um instrumento
utilizado no levantamento de dados para a fundamentação empírica desta pesquisa, através de
entrevistas e questionários. As entrevistas e questionários foram formulados por perguntas
direcionadas a um foco específico. Tal foco variou a cada grupo social a ser trabalhado
(proprietários de confecções, trabalhadores rurais e cidadãos residentes nas áreas urbana e rural),
com o intuito de conter respostas relevantes para a pesquisa, posto que essa metodologia seja
aplicada de forma a garantir os objetivos esperados, respeitando suas limitações no âmbito do
sujeito (no caso de morte, recusa à identificação – neste caso, identificadas por número na pesquisa
–, recusa à colaboração para a pesquisa, entre outros).
Os gráficos e tabelas são utilizados como forma de exposição dos dados recolhidos em
campo e na facilitação de análises quantitativas e qualitativas.
Os mapas, fotos e fotos aéreas são utilizados para análise espacial; acompanhamento do
desenvolvimento da área urbana; e exposição (representação), localização e dimensão das
(re)estruturações do espaço urbano desse município.
E por fim, utilizamos para o desenvolvimento desta pesquisa o método dialético, sendo este
capaz de suprir as necessidades desta pesquisa, pois é a partir da dinâmica entre o rural e o urbano;
campo e cidade; e redes intra e inter urbanas que ter-se-á compreensão da (re)estruturação urbana e
suas especificidades. Por isso nesta pesquisa serão analisados os vetores políticos (que influenciam
no espaço: leis, financiamentos, etc.), econômico (leiteira e cafeeira) e geográfico (como se
materializa no espaço: formação de bairro, verticalizações, etc.). E para fins de melhores resultados
trabalharemos também a pesquisa fazendo uma constante relação, principalmente, dos aspectos
político e econômico entre a escala local, regional, nacional e global (café).
1 CONCEITOS E DINÂMICA ENTRE CIDADE E CAMPO; URBANO E
RURAL
2 Quanto aos dados dos órgãos DATASUS e IBGE, e em relação ao ano de 2009 e 2010, estão disponíveis em sites dos
próprios.
Os conceitos e a dinâmica entre cidade e campo, urbano e rural, no decorrer do tempo,
foram cada vez se tornando mais difíceis de serem definidos. Essa dificuldade se dá em função do
grau de complexidade tanto da cidade/urbano como do campo/rural que veio aumentando devido e
juntamente com o desenvolvimento do capital. No Brasil, esta complexidade fica mais perceptível
no espaço na segunda metade do século XX, com a ocorrência de grandes transformações, como
por exemplo, a “Revolução Verde” (1960) e o processo de migração campo-cidade.
Segundo Afrânio Garcia e Moacir Palmeira (2001, p. 41).
A segunda metade do século [XX] vai conhecer um movimento contínuo de deslocamento
das residências do campo para as cidades: já em 1980, 70% dos contingentes se situam no
pólo urbano (em 2000, apenas 22% residem no espaço rural). Com resultado da
industrialização acelerada entre 1930 e 1980, o centro dinâmico da economia e os poderes
social, cultural e político vão se localizar nas grandes metrópoles, com a reestruturação do
Estado nacional e a ampliação de suas áreas de intervenção, com a criação de universidades
e a reorganização do sistema de ensino em bases nacionais, com o surgimento de partidos
políticos e movimentos associados em escala especificamente nacionais. As formas de
sociabilidade características do mundo rural se encontram crescentemente referidas a estilos
de vida, concepções do mundo, processos de decisão e modalidades de trabalho que se
elaboram e se modificam além de seus horizontes. Assim, também não é de se estranhar
que ao final do século XX haja disputas explícitas sobre os próprios significados atribuídos
à expressão “futuro do mundo rural”, ou ainda sobre o significado da noção de
“modernidade” para pensar as transformações do campo e, sobretudo, as relações entre
cidade e o espaço rural.
Diante desta dificuldade de definição dos conceitos cidade/urbano e campo/rural e, também
de suas dinâmicas, tentaremos de forma objetiva dar uma noção destes para o entendimento do
trabalho aqui desenvolvido.
1.1 CIDADE E CAMPO
As definições sobre o espaço urbano como também o espaço rural são das mais diversas
formas, pois cada definição segue uma linha de pensamento distinto. Essas distintas definições
surgiram da complexidade que tanto o espaço urbano como o rural carrega a partir da mencionada
divisão do trabalho, enfatizada pelo pensamento marxista. Tais complexidades fazem com que a
cidade/urbano e campo/rural se aproximem de tal forma que muitas vezes fica difícil de separar o
que é cidade/urbano e o que é campo/rural.
Essa complexidade, decorrente da divisão do trabalho, que dificultou uma generalidade da
definição do espaço está posta no estágio de desenvolvimento técnico a partir dos anos 70, chamado
por Milton Santos de período técnico-científico-informacional. Período este em que se têm grandes
avanços: “O território ganha conteúdos e impõe novos comportamentos, graças às enormes
possibilidades da produção e, sobretudo, da circulação dos insumos, dos produtos, do dinheiro, das
idéias e informações, das ordens e dos homens” (SANTOS e SILVEIRA, 2001, p. 52-53). Trazendo
em seu bojo uma superação material e cultural tanto do espaço urbano como do espaço rural, e ao
mesmo tempo trazendo uma aproximação, entre ambos, principalmente nos hábitos cotidianos.
Portanto,
A inserção no mercado de consumo tem construído hábitos comuns. A possibilidade de
adquirir determinados produtos e serviços aproxima realidades que outrora eram bem
contrastantes. Mercadorias são adquiridas por moradores do campo e da cidade, seja para
suprir necessidades, divertir ou simplesmente enfeitar. O próprio consumo tornou-se um
hábito comum aos espaços rurais e urbanos (BAGLI, 2006, p. 94).
Devido a essa aproximação do campo e da cidade, através de aspectos cotidianos em
comum, fica difícil de definir o que realmente pertence a cada uma das categorias: cidade e campo,
pois parecem ser homogêneas. Tais conceitos são vistos como estruturas que irão distinguir segundo
sua forma, que para Milton Santos (2008, p. 69) “[...] é o aspecto visível de uma coisa. Refere-se,
ademais, ao arranjo ordenado de objetos, a um padrão.” [que insere tanto o novo como o velho num
mesmo instante – as Rugosidades].
Entretanto, cidade e campo podem ser diferenciados na existência de aspectos particulares
de cada um. Para isso, devemos considerar que em conjunto com a cidade e o campo existem o
urbano e o rural, respectivamente. E essa conjuntura é essencial para que possamos saber distinguir,
atualmente, o que realmente pertence ao campo e à cidade.
Para melhor compreensão das categorias campo e cidade, sintetizamos o entendimento do
espaço urbano e do espaço rural na perspectiva da urbanidade e ruralidade, respectivamente.
1.2 CIDADE/URBANO E CAMPO/RURAL
De acordo com as reflexões de Endlich, a transformação do rural (cultural e material) fica
clara quando se faz uma comparação da vida rural antiga, retratando uma época que ainda não
estava sujeita à presença do “urbanismo” atual, e o rural atual, sujeito à presença desse “urbanismo”
desfigurando a ruralidade.
A ruralidade antiga é caracterizada como uma sociedade extremamente autoritária e
permeada por costumes e expressões de disciplina coletiva. Sobre este último aspecto, como
Antônio Cândido retrata em seu estudo sobre caipiras paulistas, de uma vida rural onde se tem
A necessidade de ajuda, imposta pela técnica agrícola e a sua retribuição automática,
determinava a formação duma rede ampla de relações, ligando uns aos outros os habitantes
do grupo de vizinhança e contribuindo para sua unidade estrutural e funcional. Este caráter
[...] aparece talvez ainda mais claramente nas formas espontâneas de auxílio vicinal
coletivo, que constituíam modalidade particular do mutirão propriamente dito (CÂNDIDO,
2001, p. 89).
As transformações dessa cultura rústica da sociedade rural ocorrem, na medida em que o
urbano tradicional também deixa de existir parcialmente, com a chegada da modernização marcada
principalmente pela industrialização e modernização da agricultura, onde começa a ação da
indústria cultural e a formação de uma “nova ruralidade” que ainda tenta resistir conservando
algumas ilhotas. Como Lefebvre (1969, p. 19) aponta:
Os mais conhecidos dentre os elementos de sistema urbano de objetos são a água, a
eletricidade, o gás (butano nos campos) que não deixam de se fazer acompanhar pelo carro,
pela televisão, pelos utensílios de plástico, pelo mobiliário “moderno”, o que comporta
novas exigências no que diz respeito aos “serviços”. [...] os costumes, a rápida adoção da
moda que vêm da cidade. [...] Entre as malhas do tecido urbano persistem ilhotas e ilhas de
ruralidade “pura” [...]
As transformações produzidas nas comunidades do campo pelo processo de urbanização,
reafirmadas segundo Cândido, são marcadas por proposição ou imposição, ao homem rústico, de
[...] certos traços de cultura material e não-material. Impõem, por exemplo, novo ritmo de
trabalho, novas relações ecológicas, certos bens manufaturados; propõe a racionalização do
orçamento, o abandono das crenças tradicionais, a individualização do trabalho, a passagem
à vida urbana (CÂNDIDO, 2001, p. 272, 273).
Em suma, o campo só existe por carregar consigo uma cultura, um cotidiano próprio da
sociedade rural (ruralidade) e por ter uma relação mais próxima à natureza. Esta cultura, tanto do
rural como do urbano, está estritamente ligada com o conceito de gênero de vida. Segundo as ideias
de La Blache, gênero de vida é definido como “conjunto de técnicas e costumes, construído e
passado socialmente e que exprime uma relação entre a população e os recursos [...] [Tal gênero de
vida é construído] historicamente pelas sociedades” (MORAES,1986, p. 69). A diferença entre os
gêneros de vida rural e urbano é que cada um se constituiu historicamente de modos distintos, pois
se desenvolveram em espaços e a partir de necessidades diferentes.
Por isso, mesmo que hoje este campo se aproxime do espaço urbano em alguns aspectos,
como o consumo de objetos em comum, ele continua sendo campo por manter outros aspectos,
como a maior aproximação com a natureza, que se caracteriza mais ao campo-rural.
A partir dessa breve reflexão sobre o espaço rural e suas transformações opta-se como
melhor definição do conceito de campo/rural o que é colocado por Priscila Bagli (2006, p. 87), a
partir de um olhar sobre o uso da terra.
Nos espaços rurais, as relações cotidianas são construídas tendo como base uma intensa
ligação com a terra. O sustento da família é assegurado pelo trabalho sobre ela produzido,
seja por intermédio dos produtos cultivados (para venda ou consumo), seja por intermédio
da criação de animais (pastagem e outras fontes de alimento). A terra não é mero chão, mas
a garantia de sobrevivência.
Como o conceito de campo, o de cidade também só existe se considerarmos que cidade e
urbano são categorias que não se separam. E também como o rural, o urbano passou por algumas
transformações, que como já posto anteriormente, se deu acompanhando a industrialização. Na
medida em que se vem aprimorando esta industrialização e com isso modificando as formas de
trabalho e o conjunto de técnicas e costumes historicamente construídos e passados pelas
sociedades, vê-se uma transformação das relações urbanas para um grau mais complexo, onde se
ampliam a divisão de classes e os conflitos entre elas.
As relações urbanas tendem a ser mais
[...] impessoais e fragmentadas, ou seja, não são estabelecidas diretamente entre pessoas. O
sujeito é reconhecido mais pela função que desempenha como diretor, funcionário ou
cliente do que pela sua pessoa. Embora a interação no meio urbano seja mais ampla e
complexa, ela não é construída por personalidades integrais como ocorre no campo, mas
pelo fragmento construído a partir da função que desempenha no processo produtivo
(FABRINI, 2009, p. 139).
Assim, entendemos o espaço urbano segundo Roberto Lobato Corrêa (1995, p.11) que o
define procurando mostrar sua complexidade e razões pela qual se dá tal complexidade da seguinte
maneira:
O espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social cheio
de símbolos e campo de lutas – é um produto social, resultado de ações acumuladas através
do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. São agentes
sociais concretos, e não um mercado invisível ou processo aleatório atuando sobre um
espaço abstrato. A ação destes agentes é complexa, derivando da dinâmica de acumulação
de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de produção, e dos
conflitos de classes que dela emerge.
1.3 A DINÂMICA ENTRE A CIDADE/URBANO E O CAMPO/RURAL
A dinâmica entre as categorias de cidade/urbano e o campo/rural é extremamente constante,
pois estas categorias são criadas numa forte dependência a partir de uma necessidade constante de
sobrevivência e das mais diversas reproduções, seja ela social ou material. Por isso, são
consideradas por Castells como um “continuum” e impossíveis de serem estudadas separadamente.
O rural e o urbano são pólos de um “continuum” em cujo seio podem constatar-se,
empiricamente, situações completamente diferentes e matizadas, mas que no fim das contas
possuem em comum dois traços essenciais: situam-se todas nesse “continuum” e evoluem
todas do rural para o urbano (CASTELLS, 1975 apud ROSA; FERREIRA, 2006, p. 195).
Para se ter uma ideia da dependência entre essas categorias, tomamos como exemplo a
cidade pequena. Quando se olha para uma cidade de pequeno porte, pode-se observar que é
predominante a área rural em relação ao urbano, pois o espaço urbano ainda se encontra em
desenvolvimento inicial e suas relações urbanas não atuam sem a dependência do rural. Assim fica
claro, por um lado, que o crescimento urbano se dá no intuito de suprir as necessidades do rural, por
outro lado, gera dependência econômica de produtos agrícolas para a movimentação e crescimento
da renda municipal.
Portanto, Milton Santos (1979, p. 73 apud SOARES; MELO, 2008, p. 324) aponta que: [...] para que exista uma cidade deve haver necessidade que exijam ser satisfeitas
regularmente – necessidades quase sempre impostas de fora da comunidade – mas é
necessário, por outro lado, que exista criação de atividades regulares especialmente
destinadas a responder a essas necessidades.
As informações postas anteriormente nos esclarecem que tanto os conceitos cidade/urbano e
campo/rural como suas dinâmicas, atualmente, são difíceis de serem tomadas por conceitos
genéricos, pois estamos diante de um processo de desenvolvimento do capital, denominado de
globalização. Este processo traz consigo uma dinâmica mais complexa do espaço seja ele urbano ou
rural e com isso parece que esses se tornam homogêneos. Entretanto, como vimos, no meio desta
homogeneidade ainda permanecem aspectos particulares de cada espaço, proporcionando diferenças
nas práticas sociais e nas paisagens entre cidade e campo. E é também na existência destes aspectos
particulares que cidade e campo se tornam complementares e dependentes.
2 O CONCEITO DE CIDADE PEQUENA Ao longo do processo histórico houve transformações no espaço geográfico devido a vários
fatores que para o entendimento deste trabalho serão analisados principalmente três deles. Primeiro,
o econômico considerando o desenvolvimento do sistema capitalista; segundo, o político na
formação constantemente de novas ações que surgem na maioria das vezes para alimentar e
favorecer o sistema capitalista; e por último, o geográfico na perspectiva da rede urbana regional e
intra-urbana e produção e reprodução do espaço. Tais fatores foram se desenvolvendo ao longo do
tempo e aumentando seus graus de complexidades numa constante interação entre estes. Destas
constantes interações, resulta um espaço geográfico mais complexo, que para muitos autores ganha
mais consistência a partir da segunda metade do século XX.
Concomitantemente e devido a este processo histórico, o conceito de cidade também veio
ganhando um grau de complexidade que dificultou sua definição genérica. Se antes poderia definir
uma cidade apenas por existir um excedente e um puro e simples sistema de troca, hoje, esta
definição por si só não dá consistência para a definição de cidade, pois, durante a história houve um
aumento da divisão do trabalho e com isso o campo/rural ficou mais dinâmico e parecido com a
cidade/urbano, como já visto no capítulo anterior. Daí uma das dificuldades de tentar separar,
atualmente, o que é cidade/urbano e o que é campo/rural.
Assim, existem vários tipos de definições do conceito de cidade na tentativa de elaborar um
conceito genérico que dê conta da realidade atual e que, como já visto, não é tão simples assim
defini-lo devido a algumas complexidades. E isso vale também para a definição de cidades
pequenas, só que um pouco mais difícil de fazê-lo, pois para isso é preciso considerar três
elementos que dificultam a formação de um conceito genérico. Primeiro, existe uma aproximação
tensa entre a cidade/urbano e o campo/rural; segundo, o Brasil tem uma realidade socioespacial
heterogênea; e, por último, existe uma carência de parâmetros de definição, caracterização e estudos
de cunho técnico-metodológicos sobre pequena cidade (SOARES e MELO, 2008, p. 322).
Devido a estes elementos que dificultam a definição do conceito de cidade, que refletem no
conceito de pequena cidade, foram elaboradas várias definições seguindo diferentes critérios como,
por exemplo, no Brasil uma cidade se define a partir de critérios administrativos, como colocado,
conforme o Decreto Lei3 número 311 de 02 de março de 1938 nos artigos 11 e 12 que determina
duzentas moradias para sede municipal e trinta para os distritos.
A definição demonstrada anteriormente e muitas outras que seguem uma linha político-
administrativa a partir de um método quantitativo não levam em consideração a pesquisa qualitativa
até porque, como já posto, é muito complexo fazer esta análise propondo um conceito genérico,
sendo que para isso devem se levar em consideração os dois primeiros elementos abordados
anteriormente. Por não fazer uso do método qualitativo, estes conceitos não são suficientes quando
aplicados na realidade brasileira, pois estes não abrangem a realidade heterogênea do espaço social
brasileiro. Isso se afirma nas palavras de Alegre (1970, p. 3, apud SOARES e MELO, 2008, p. 326).
[...] evidente que não se pode usar sem perigo de graves erros uma definição baseada
apenas num critério numérico. Como já apontamos anteriormente, a cidade moderna
compreende atividades as mais diversas e cada qual corresponde a certas funções e
necessidades, refletindo formas de organização econômica e social, que um simples número
não poderá definir. [...] É possível encontrar aglomerações com bom equipamento urbano e
atividades caracteristicamente urbanas da maioria dos moradores, sem, todavia, possuir
10.000 habitantes. E o inverso também é verdadeiro.
Por isso, ao escolher o método de estudo deste trabalho, optamos pelo método dialético,
pois é através deste que será possível fazer uma análise qualitativa da cidade pequena escolhida e
abordando as especificidades do espaço local sem deixar de considerar os contextos regional,
nacional e global, não na tentativa de abordar um conceito de cidade pequena, mas sim utilizá-lo no
entendimento da dinâmica de uma cidade pequena específica.
3 PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DO ESPAÇO
O espaço está em constante transformação, produzindo-se e reproduzindo-se ao longo do
tempo e em consequência deixam impressas as rugosidades, que Milton Santos (2004, p. 173)
define com
[...] espaços construídos, o tempo histórico que se transformou em paisagem, incorporando
ao espaço. As rugosidades nos oferecem, mesmo sem tradução imediata, restos de uma
divisão de trabalho internacional, manifestada localmente por combinações particulares do
capital, das técnicas e do trabalho utilizados.
Em resumo, as rugosidades são espaços construídos que se tornam antigos à medida que se
reconstroem novos espaços e assim obtêm como resultado uma mistura do novo e do velho num
mesmo espaço. Por isso, o espaço aqui não pode ser compreendido somente como palco das ações
humanas e nem tão-somente um fator, mas sim “[...] ao mesmo tempo, um suporte e um fator [...]”
3 Disponível em http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=32235
(SANTOS, 1978, p. 152). Consequentemente, o homem aparecerá como elemento e sujeito ao
mesmo tempo, pois
“o espaço é a matéria trabalhada por excelência. Nenhum dos objetos sociais tem tanto
domínio sobre o homem, nem está presente de tal forma no cotidiano dos indivíduos. A
casa, o lugar de trabalho, os pontos de encontros, os caminhos que unem entre si estes
pontos, são elementos passivos que condicionam a atividade dos homens e comandam suas
práticas sociais” (SANTOS, 1978, p. 137).
O termo produção, aqui, não se refere somente à produção de coisas, mas também, de dois
fatores: primeiro, “a criação de obras (incluído o tempo e o espaço social)”, ou seja, a criação de um
certo significado social que se emprega na construção das coisas no decorrer da história e se
materializando no espaço. Assim, essas coisas se tornam únicas e cheias de significados para
determinada população, num certo momento da história, dando origem a um espaço particularizado,
como por exemplo, a construção de uma igreja no inicio do século XIX, que carrega consigo todo
um significado para a sociedade que a construiu e transformou todo o espaço ao seu redor, de
acordo com suas crenças; e segundo, que complementa a primeira, “a produção do “ser humano”
por si mesmo, no decorrer do seu desenvolvimento histórico. Isso implica a produção de relações
sociais” (LEFEBVRE, 1991, p. 37-38).
Assim, a produção envolve a reprodução “não há apenas reprodução biológica (e
consequente aumento demográfico), mas também reprodução material dos utensílios necessários à
produção, instrumentos técnicos e, ainda, reprodução das relações sociais. Até que uma
desestruturação as quebre” [provocando o surgimento do novo] (Ibidem, p. 37-38) Tais relações
irão modelar o espaço de acordo com suas necessidades e irão se reproduzir num movimento
complexo (Ibidem, p. 37-38). Esses movimentos incluem dois tipos de intervenções: primeiro as
que vêm de cima para baixo, ou seja, as ideológicas provocadas por diversos elementos, como a
indústria cultural, a econômica, a política, etc.; e, segundo, as que vêm de baixo para cima, ou seja,
da vida cotidiana. Este último é considerado tanto como resíduo (de todas as atividades
determinadas e parcelares que podemos considerar e abstrair da prática social) como o produto do
conjunto social (Ibidem, p. 37-38). Ou seja, a vida cotidiana é o resumo de todos os saberes e por
isso é também de todas as intervenções possíveis provocadas pelo sistema capitalista. Portanto,
todos esses movimentos ideológicos surgem a partir do cotidiano e ao mesmo tempo este sofre
ações destas ideologias e é capaz de fornecer o novo.
Diante disso, entendemos que para melhor compreender a produção e reprodução do espaço,
no âmbito deste trabalho, a melhor metodologia a se aplicar é a de entrevistas abertas, que permitem
a leitura da vida cotidiana e, só então, resgatar a História maior4 da época, pois como visto parte do
cotidiano.
4 AS REDES URBANA E INTERA-URBANA E O DESENVOLVIMENTO
DA PEQUENA CIDADE
4.1 OS CONCEITOS DE REDE URBANA E INTRA-URBANA A Rede Urbana segundo Roberto Lobato Corrêa (2006, p. 311) é:
[...] entendida como um conjunto de centros funcionalmente articulados, constitui-se em
um reflexo social, resultado de complexos e multáveis processos engendrados por diversos
agentes sociais. Destas complexidades emerge uma variedade de tipos de redes urbanas,
variadas de acordo com combinações de características, como o tamanho dos centros, a
densidade deles no espaço regional, as funções que desempenham, a natureza, intensidade,
periodicidade e alcance espacial das interações e a forma da rede. Pode-se, em realidade,
identificar, entre outras, redes urbanas dos tipos solar, dendríticos, christalleriano, axial,
circular e de múltiplos circuitos, conforme já apontaram, por exemplo, Smith (1976) e
Corrêa (1989b;1997a e 1997b), ou ainda redes urbanas organizadas segundo a
periodicidade dos mercados (Skinner, 1964) ou de acordo com os dois circuitos da
economia urbana (Santos, 1979).
Assim, segundo o mesmo autor, a rede urbana é considerada, ao mesmo tempo, reflexo e
condição social. Reflexo, pois a rede é resultado de um dinamismo complexo que é produzido por
diversos agentes sociais internos; e Condição, pois ao mesmo tempo está submetida a dinamismos
externos a cada rede urbana específica que proporciona condição para a vida social local se
desenvolver. A partir destes dinamismos, tanto interno como externo, podem ser alterados o
tamanho, a densidade e as funções dos centros urbanos, assim como a natureza, intensidade,
periodicidade e o alcance espacial das interações, e a forma da rede (Ibidem, p. 312).
4.2. REDE URBANA BRASILEIRA E SUAS TRANSFORMAÇÕES
A rede urbana brasileira se transformou acompanhando a desenvoltura do capital. Segundo
Roberto Lobato Corrêa (2006, p. 317) as transformações sociais se instauram, principalmente, a
partir de 1950 e, consequentemente, estas afetarão a rede urbana brasileira, reflexo e condição da
sociedade brasileira em sua dinâmica.
Segundo o mesmo autor, por volta de 1960, a rede urbana do Brasil apresentava,
principalmente, por três principais características associadas entre si: primeira, pequena
4 História maior é um conceito usado por José de Souza Martins (1992, p. 14) em sua obra “Subúrbio” onde significa
História advinda da industrialização, História alienada, de um saber sem raiz, de uma cultura sem base de sustentação. É
“[...] a história dos “ primeiros”: o primeiro nascimento, o primeiro enterro, o fundador, o primeiro alfaiate [...]. No
vazio dessas banalidades todas, a condição de “primeiro” ganha a importância de uma qualidade pessoal ( e estamental),
pré-capitalista, que nada tem a ver com a sociedade em que essas pessoas vivem ou viveram, pois se pauta por outros
critérios e concepções.[...] São idéias que vingaram através de um sistema escolar que durante muito tempo foi
instrumento de difusão de uma concepção de história que é na verdade veículo ideológico do pode.”
complexidade funcional dos centros urbanos; segunda, pequeno grau de articulação entre os centros
e, por último, o padrão espacial com que a rede estava construída.
A pequena complexidade funcional dos centros urbanos derivava da pequena divisão territorial
do trabalho. Diante disso, o Brasil retratava o começo de uma efetiva integração nacional,
apresentava nítidas hierarquias, que abaixo de duas claras metrópoles nacionais (Rio de Janeiro e
São Paulo) apareciam metrópoles regionais consolidadas, como Porto Alegre, metrópoles regionais
em formações, como Belo Horizonte, inúmeras capitais regionais, centros sub-regionais, centros de
zona e centros locais. Muitos destes centros desempenhavam funções de coletas, beneficiamento e
comercialização de produtos agrícolas produzidos em seu interior locais ou regionais e por isso ao
definir uma capital regional era definir seu papel no conjunto da rede urbana brasileira. (Ibidem, p.
313-314)
O pequeno grau de articulação entre os centros está relacionado com um padrão de interações
espaciais predominantemente regionais que se faziam através, por exemplo, das redes ferroviárias,
que se destinavam sempre a uma metrópole; e os bancos, que refletiam e condicionavam a
organização da rede urbana em células regionais pouco integradas entre si. (Ibidem, p. 314-316)
Os padrões espaciais com que a rede estava construída eram pouco articulados de células
regionais e se caracterizavam em dois tipos: primeiro, dendrítica, decorrente de uma estrutura
colonial, que se formava a partir de um ponto no litoral e ia em direção ao interior do Brasil; e
segundo, chistalleriano encontrados no interior do Brasil e centralizados a partir da metrópole
polarizando os demais núcleos urbanos em hierarquias (Ibidem, p. 316-317).
Decorrentes dos modos diferenciados que o Brasil insere-se no processo de globalização e
constitui sua integração nacional, todas estas características da rede urbana brasileira se
transformam e ganham uma nova forma espacial a partir de 1950. Entretanto, estas transformações
ocorreram de forma diferenciada no espaço. Os primeiros lugares a receber em estas transformações
foram as metrópoles já consolidadas e em formação, a partir destas caminham para outros centros
de forma hierarquizada.(Ibidem, p. 317-318)
Segundo Corrêa (1999, p. 46-47), estão associados a esta inserção do Brasil no processo de
globalização e integração nacional os seguintes itens:
(a) industrialização [...]; (b) urbanização, tanto em termos quantitativos como qualitativos
[...]; (c) uma maior estratificação social que, entre outros aspectos, incidiria sobre uma
maior complexidade na esfera do consumo; (d) uma melhoria geral e progressiva na
circulação de mercadorias, pessoas e informações [...]; (e) industrialização do campo [...];
(f) incorporação de novas áreas e refuncionalização de outras [...]; (g) mudanças na
organização empresarial [...]; (h) mudanças no setor de distribuição atacadista e varejista
[...].
Como demostrado, acima, as mudanças provindas de uma nova era do capital: chamado
Globalização refletem muitas transformações no espaço brasileiro. Tais transformações trouxeram
também para a rede urbana complexidade que antes não existia. Algumas mudanças contribuíram
para esta complexidade como quatro exemplos, postos por Roberto Lobato Corrêa (2006, p. 323-
327): Primeiro, a continuidade de criação de novos núcleos urbanos, por consequências da
incorporação de novas áreas e refuncionalização de outras; Segundo, a crescente complexidade
funcional dos centros urbanos, decorrente de uma efetiva divisão territorial do trabalho, que se da
com ajuda, particularmente, de grandes empresas, tanto no campo como na cidade, e elites locais,
que promove uma melhor circulação e organização empresarial. Com isso requer também,
ampliação da distinção dos centros que se especializam em determinada função como de calçados,
maquinário agrícola, entre outras; Terceiro, a crescente articulação entre centros e regiões que
derivam da crescente complexidade dos centros urbanos. Agora tais articulações estão isentas de
fronteiras e proporcionam aos centros, em maior ou menor grau, articulação a longa distância no
âmbito nacional e internacional; e por último, a complexificação dos padrões espaciais da rede de
múltiplos circuitos e as novas formas de urbanização, que geram coalescências como, por exemplo,
uma metrópole e um corredor litorâneo.
Em resumo, a rede urbana brasileira se desenvolveu de acordo com as transformações
sociais econômicas, pois como já vimos, a rede urbana é reflexo e condição da sociedade em sua
dinâmica. Por isso ao entender o desenvolvimento da rede urbana brasileira virá a ser mais
compreensível a geografia de cada cidade como o tamanho, a densidade, suas funções, a natureza,
intensidade, periodicidade, o alcance espacial das interações e a forma da rede. No caso deste
trabalho, o foco de compreensão local é o município de Nova Resende-MG e para isso haverá a
necessidade de se entenderem as transformações da rede urbana brasileira vinculada à rede de
pequenas cidades.
4.3. REDE URBANA E PEQUENAS CIDADES
Segundo Roberto Lobato Corrêa (2006) a elevada e notória densidade de cidades pequenas,
no Brasil, se localiza, entre outras, no agreste pernambucano, no sul mineiro e alto Uruguai, no Rio
Grande do Sul. Esta densidade, que forma uma rede de pequenas cidades, é provocada,
principalmente, pela “pequena mobilidade espacial da população, associada aos transportes pré-
mecânicos e mesmo ferroviários, sendo inexistentes ou pouco usuais o caminhão e o automóvel. A
pequena mobilidade implica na ampliação, ainda mais, do número de pequenos centros de
mercado.” (Ibidem, p. 259). A distância entre tais pequenas cidades será proporcional à densidade
demográfica da região em que se localiza. Quanto mais povoada a região, menor a distância entre as
cidades.
Segundo o mesmo autor, esta rede de pequenas cidades como todo o espaço brasileiro
sofrerá grandes mudanças, entretanto desigual, com uma nova era do capital: a globalização. “Trata-
se de uma reestruturação espacial que se manifesta, no plano mais geral, na recriação das diferenças
entre regiões e centros urbanos, assim como nas articulações entre ambos e entre os centros.”
(Ibidem, p. 256)
Assim a rede urbana será impactada, principalmente, por dois meios: primeiro, através de
criações urbanas recentes e segundo, por funcionalização dos centros preexistentes.
As criações urbanas de inúmeros núcleos de povoados da ênfase no último quartel do século
XX. Tais criações se dão através de vários agentes, Roberto Lobato Corrêa (2006, p. 262-263) cita
três deles: Primeiro, núcleos urbanos planejados, diretamente ou indiretamente, por grandes
empresas; Segundo, núcleos criados pelo Estado, como, por exemplo, através do INCRA no estado
de Rondônia; e Terceiro, núcleos espontaneamente, criados por fazendeiros e “peões”. “Estes são
núcleos de concentrações de força de trabalho rural, locais de agregação, retenção, manipulação e
reprodução de “peões.”” (Ibidem, p. 263)
A refuncionalização de centros preexistentes ocorre, distintamente, em todos os centros
urbanos. Em pequenas cidades essa refuncionalização se dá por meio de duas possibilidades
maiores: Primeiro, a perda relativa ou absoluta da centralidade e, na maioria dos casos, se
desenvolvem novos tipos de funções não-centrais e ligadas diretamente à produção no campo. Neste
caso, se tornando cidade do campo, pois é constituída parte do complexo industrial. Isto ocorre, no
Brasil, devido a dois itens: à modernização do campo, que provoca redução da população deste
local e, consequentemente, diminui demanda de bens e serviços para a população, e à ampliação da
acessibilidade entre os centros através do acesso ao automóvel. A junção desses dois itens tem por
consequência dificuldades e maior competição dos centros menores com centros mais
desenvolvidos. Isto faz com que esses pequenos centros urbanos cheguem a uma perda de mercado
e centralidade e tomem uma nova função, como, por exemplo, reservatório de mão de obra (Ibidem,
p. 264-265).
Segundo, o núcleo urbano se especializa a partir de novas atividades, criadas no âmbito da
industrialização do campo, que faz ampliar sua centralidade através do aumento da divisão
territorial do trabalho. Tais atividades podem ser tanto de fora, através de empresas, como
internamente, por meio da elite local, que necessita encontrar outras atividades que lhes permitam
manter-se como tais, ou por ações de grupos sociais emergentes que dispõem de um potencial
técnico aprendido a partir de outras atividades (Ibidem, p. 267-268). Neste caso, o pequeno núcleo
se torna cidade no campo, pois está dissociada a agricultura mantendo suas relações distantes e a
longa distância.
Em suma, a globalização trouxe grandes mudanças na rede urbana de pequenas cidades. Tais
mudanças provocaram a criação de novos centros urbanos e forçaram centros, já criados, a se
refuncionalizar: estagnando-se ou especializando-se de alguma forma. Entretanto, todas estas
mudanças ocorrem de forma distinta em cada espaço e trouxeram a formação de particularidades
que neste trabalho, uma destas será explorada e mostrará a refuncionalização de um pequeno centro
urbano, não a partir somente das duas opções mencionada por Corrêa, mas a partir de uma
intermediária ao levar em consideração o surgimento de uma nova economia não-rural a partir de
quatro itens sem necessariamente perder sua população e a centralidade econômica do café:
Primeiro, como um complemento de renda, de uma pequena parcela da população de classe média
baixa urbana, que vê este novo ramo como um meio de garantir e complementar a renda familiar;
Segundo, pela falta de emprego na zona rural e a procura por empregos desvinculados do campo,
com tentativa de se manter no novo espaço rural; Terceiro, como oportunidade profissional
compatível aos afazeres de donas de casa da cidade; e por último, por influência indireta do
município de Juruaia-MG que se faz por meio da publicidade do curso magistral, voltado para a
confecção de lingerie, atraído pela economia desenvolvida, há mais tempo, neste município
4.4. CIDADES PEQUENAS E GLOBALIZAÇÃO: DINAMIZAÇÃO DOS
ASPECTOS INTRA-URBANOS E INTER-URBANO.
Para se compreender uma cidade atualmente, é necessária uma análise da dinamização deste
espaço. Para isso, é de grande importância o entendimento de dois espaços: intra-urbano e inter-
urbano que estão diretamente interligados, tudo o que ocorre sobre um interfere sobre o outro.
Na tentativa de ajudar o leito a entender estes espaços dinâmicos, dedicaremos alguns
parágrafos para o esclarecimento de alguns conceitos principais: localização, valor de uso e valor de
troca da terra.
Os conceitos acima serão trabalhados segundo as ideias de Flávio Villaça (2001). Tal autor
coloca que todos esses estão interligados e para que se entenda melhor, começaremos a analisar o
conceito de localização no espaço urbano.
A localidade de um terreno vazio, por exemplo, dentro de uma cidade faz toda diferença na
hora de comercializá-lo, pois é a partir da localização que será calculado o preço de tal terreno.
Quando analisamos este terreno, devemos levar em consideração dois valores que fazem parte
deste: o valor de uso da terra e o valor de troca da terra.
O valor de uso da terra é derivado da aglomeração urbana, pois são considerados o tempo e a
distância gastos da localidade (exemplo: terreno vazio) até os serviços oferecidos pela cidade como
a padaria, o trabalho, o banco, mercado, etc e também a acessibilidade ao centro. Estes serviços só
são oferecidos através do desenvolvimento da cidade (aglomeração) e quanto mais próximos do
centro e ou dos serviços em outros pontos menores vão ser o tempo e a distância gastos e maiores
serão o valor de uso e o valor de troca da terra e, portanto o preço, desconsiderando aí a oscilação
entre oferta e procura.
Segundo Villaça (2001, p. 78) toda localidade ou ponto do espaço intra-urbano
[...] condicionam a partir do seu ocupante tanto na força produtiva social5 representada pela
cidade como na absorção, através do consumo, das vantagens da aglomeração. É esse o
valor de uso do ponto- sua capacidade de fazer com que se relacionem entre si os diversos
elementos da cidade. Esse “relacionamento” se dá diversas formas e por meio de diversos
fluixos- o transporte de mercadorias, de consumidores, de força de trabalho ou as
comunicações-, os quais têm importância e papéis diferentes conforme se trate de espaços
regionais ou intra-urbanos.
O valor de troca da terra, mais simples de ser compreendido, é o valor calculado sob o
volume posto acima do solo que se devem levar em consideração dois fatores: primeiro, a estrutura
que a localidade oferece, por exemplo: apartamento, habitações, peças, andares, terraço, piscinas,
quadras de tênis, etc; e segundo, o encadeamento das operações mercantis: oferta e demanda.
Assim a localidade e a acessibilidade são importantes tanto no determinante do valor da
localidade como em direcionar o crescimento da cidade e seus ocupantes. Pegamos como exemplo a
expansão de São Paulo-SP, que ilustra bem esta importância. A expansão de tal cidade se dá ao
longo de trechos não muito apropriados por causa de dois fatores: Primeiro, há vantagens sobre a
acessibilidade permitida neste ponto; e segundo, pelo fato de as classes populares preferirem se
expandir ao longo de vias regionais na Zona Sul, onde na época se ofertavam serviços de trens
suburbanos. Esta preferência das classes populares se dava por dependerem destes serviços que
facilitavam o acesso ao centro. Já a classe burguesa que não dependia de serviços públicos, pois
possuía automóveis particulares para se locomoverem, preferia procurar privilégios em espaços
mais isolados que proporcionassem ar puro e higiene que não eram oferecidos próximos às vias
regionais na Zona Oeste de São Paulo. (Ibidem, p. 93)
4.4.1. OS AGENTES DO ESPAÇO INTRA-URBANO E INTER-URBANO
No espaço intra-urbano inclui-se a dinâmica complexa entre todos os agentes6 (os
proprietários dos meios de produção, proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado
e os grupos sociais excluídos) no espaço. Cada um deles tem uma função que modifica o espaço a
partir de suas ações, porém tais agentes por si só não comandam estas modificações. Tais agentes
também estão a todo momento sendo influenciados por diversos fatores em diferentes escalas (local,
5 A força produtiva social é a força de trabalho feita em cooperação por toda a população que resultará um conjunto de
forças de trabalho: a aglomeração, ou seja, a “concentração é sempre acréscimo da parcela da capacidade de trabalho
que cada indivíduo pode empregar na construção de estradas, além de seu trabalho particular; mas não é somente
acréscimo. A utilização de suas forças aumenta suas forças de produção; entretanto, isso não significa de maneira
alguma o mesmo que dizer que todos numericamente somados, possuiriam a mesma capacidade de trabalho que teriam
se não trabalhassem em conjunto, portanto, se à soma de sua capacidade de trabalho não fosse acrescentado o excedente
existente somente no e através de seu trabalho unificado e combinado.” (Marx, ano 1977, p. 528 apud VILAÇA, 2001,
p. 77)
6 Mais detalhes sobre cada um desses agentes consultar Roberto Lobato Corrêa (2004, p. 11-35).
regional, nacional, global) como fatores econômicos, políticos, culturais, geográficos e os
decorrentes da indústria cultural.
O resultante de toda a dinâmica intra-urbana de uma cidade que não inclui somente os
especificados ditos anteriormente, mas também as dinâmicas entre o rural/ campo e o
urbano/cidade, já colocadas no item “CONCEITOS E DINÂMICA ENTRE CIDADE E
CAMPO; URBANO E RURAL.”, é um espaço totalmente complexo e dinâmico com novas
morfologias espaciais típicas desta nova era do capital. Tratando-se aqui especificamente da cidade
pequena, os resultantes principais são: um crescente populacional urbano, novas funções
econômicas e intensidade desta e expansão horizontal e vertical.
O crescente populacional na cidade está relacionado diretamente com a modernização do
campo. À medida que aumenta o acesso às novas tecnologias voltadas para o campo como as
colhedoras de milho, soja, café e etc, sementes produzidas em laboratórios e inseticidas é forjada a
migração da população do campo para cidade, pois tais maquinários diminuem a demanda por
trabalho braçal no campo. Entretanto não são somente estas novas tecnologias voltadas para o
campo que desencadeiam a migração do campo, mas também outros fatores que vão atuar junto
como: o aumento dos latifúndios e ação do ciclo exploratório do agronegócio.
As novas funções econômicas e a intensidade destas variam de cidade para cidade. Como já
exposto, nessa interação da nova ordem do capital com o espaço serão produzidas as
particularidades de cada cidade. Tais produções, em específico, na cidade pequena, serão
provocadas conforme a dinamização da cidade com seu espaço inter-urbano, ou seja, com a
dinamização da rede urbana em que está inserida. No item anterior, detalhamos sobre as
transformações da rede urbana de pequenas cidades segundo Roberto Lobato Corrêa e podemos
chegar à conclusão de que com as transformações da rede urbana houve a formação de novas
pequenas cidades e a refuncionalização das já existentes. Estas últimas podem estagnar seu
crescimento transformando-se, por exemplo, em cidades dormitório ou se especializarem em uma
nova economia como de calçados, confecções de roupas, etc.
A expansão de uma cidade pode-se dar de forma horizontal e vertical e o que vai determinar
é o conjunto dinâmico, que inclui tanto o externo como o interno da cidade. O crescimento
horizontal se dá na transformação de terras rurais em urbanas com o desdobramento de novos lotes
e está diretamente ligado com a mecanização do espaço rural e migração dos camponeses. Tais
desdobramentos se fazem por meio dos agentes produtores do espaço, já mencionados, que “adotam
estratégias para comercializar os lotes produzindo como mercadoria, [...] aprovando processos de
especulação fundiária quando o preço de venda, além de incorporar o lucro devido ao agente,
incorpora “externalidades” pelas quais nada se pagou” (SPOSITO, 2008, p. 28). A expansão
vertical se dá através da ideia de aproveitar o máximo do espaço urbano através da construção
subterrânea e andares superiores.
As estratégias utilizadas pelos agentes para propiciar o crescimento horizontal são muito
semelhante ás observadas no caso do crescimento vertical. A incorporação de novos lotes
para a construção de edifícios residenciais ou de serviços é uma constante em cidades
grandes ou mesmo em cidades de porte médio. Esses novos lotes, que desenham o
crescimento horizontal da cidade, nem sempre são decorrentes de novos loteamentos,
podendo ser locais já ocupados, que têm seu uso modificado na própria cidade, próxima ou
distantes do centro ou de núcleos comerciais (de shopping center, por exemplo)”(Idem).
O espaço inter-urbano se refere principalmente a forma da rede urbana, o alcance espacial
das interações entre centros urbanos, polarização e competitividades.
A forma da rede urbana, como já vimos, obteve transformações como todo espaço brasileiro.
Anterior a este novo capital, como já vimos, existia uma forma de redes hierárquicas e isoladas em
células. Neste período havia uma estrutura precária de transporte, que não facilitava o acesso entre
os centros urbanos. O principal meio era o trem de ferro que se voltava mais para o transporte de
carga. Atualmente a forma desta rede está muito mais dinâmica e complexa, pois com as novas
formas de acessibilidade entre os centros urbanos através da rodovia, aviação, meios de
telecomunicação, etc; ocorre uma competição e articulação maior entre os centros urbanos.
Toda esta nova forma urbana está vinculada ao maior alcance espacial das interações entre
centros urbanos que atualmente ultrapassa a antiga interação hierárquica entre cidades, pois permite,
por exemplo, a comunicação direta entre uma pequena empresa localizada em uma pequena cidade
com um grande fornecedor de matéria prima de uma metrópole sem, ao menos, depender da
intermediação de uma cidade média.
A polarização entre cidades está ligada com uma maior competitividade entre elas. Antes do
aprofundamento da globalização, a acessibilidade entre as cidades era difícil, pois as estradas
atendiam aos transportes de cavalos e carros-de-boi e a ferrovia voltava-se mais para transporte de
carga e limitada aos seus trajetos e às estações. Entretanto, mesmo pequena e difícil, comparada
com os dias de hoje, a polarização hierarquizada ainda se fazia em cada célula isolada polarizando,
segundo Roberto Lobato Corrêa (2006, p. 313-314) na seguinte ordem: metrópoles nacionais,
metrópoles regionais consolidadas, metrópoles regionais em formações, inúmeras capitais regionais,
centros sub-regionais, centros de zona e centros locais. O problema é que nessa época,
principalmente em centros urbanos pequenos, era privilégio para uma minoria populacional o
acesso a estes tipos de transportes. Assim impedia que a população de uma cidade consumisse
mercadorias de outra cidade mais desenvolvida a custos mais baratos. Esta estrutura hierarquizada e
pouco articulada fez desenvolver novos centros urbanos para atender às necessidades populacionais
do interior de seus futuros municípios e/ou concentrar e aumentar o comércio municipal e diminuir
a competitividade entre os centros já existentes e/ou dos novos centros.
Com o avanço da globalização, os acessos entre os centros ficaram mais funcionais para a
maior parte populacional e por consequência houve um aumento na competitividade entre as
cidades. Como, já posto, agora as interações entre cidades “desenham-se relações que vamos
caracterizar como transversais. Elas podem assim ser chamadas porque extrapolam a própria rede
em que se inserem” (SPOSITO, 2007, p. 237), ou seja, as relações entre cidades não têm mais
fronteiras, porém não deixou de existir a polarização hierarquizada, por exemplo, uma pequena
cidade tem acesso direto com uma metrópole internacional e nem por isso deixa de ser polarizada
pela cidade média, através de serviços especializados. Toda essa facilidade de acesso vai trazer, não
só, mais principalmente, para os pequenos centros urbanos um grande desavio de sobrevivência
neste mercado mais dinâmico e competitivo, pois agora estes devem concorrer com cidades mais
desenvolvidas e que oferecem mais opções aos consumidores.
Em resumo, com a globalização, o espaço ganhou mais dinamização e complexidade. Em
particular, na cidade, estas mudanças ocorreram tanto em sua estrutura espacial intra-urbana como
em sua estrutura inter-urbana, pois ambos espaços estão diretamente ligados e não permitem um
estudo coerente separando-os. Entretanto, estas mudanças atingiram o espaço de forma distinta e fez
nascerem particularidades que são relevantes para a compreensão de todo o espaço brasileiro.
5 HISTÓRICO E ESTRUTURA ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE NOVA
RESENDE ANTERIOR A 1983
Nova Resende teve origem a partir de políticas de incentivo à posse de terras quilombolas de
1759. Os quilombolas que ocupavam estas terras foram exterminados pelo poder da capitânia num
período de 1746 a 1760 e levado a segredo de Estado.
As terras pertencentes hoje a esse município era atinente ao Quilombo do Caeté ocupado em
1800, primeiro, pela família portuguesa Rezende. Tal família difunde na localidade a economia
cafeeira que é predominante até os tempos atuais.
Para não fugir do tema deste trabalho não entraremos em detalhes históricos do município7,
apenas fizemos um resumo superficial com o objetivo de dar ao leitor uma noção da origem desse
município.
5.1. A CRISE DO CAFÉ E SUAS INFLUENCIAS NA ESTRUTURA
ESPACIAL DE NOVA RESENDE
7 Para mais informações sobre o histórico de Nova Resende-MG consulte o artigo “formação histórica e geográfica de
Nova Resende-MG: a importância do Quilombo do Campo Grande” da autora Gabriela Pereira e Silva, disponível em
http://www.unifal-mg.edu.br/geres/coloquios.
Como vimos, a ocupação do território de Nova Resende, após o povoado do Quilombo do
Caeté, foi de imigrantes, que difundiram uma economia, predominante cafeeira na região.
Entretanto, esta economia teve suas crises no decorrer da história que provocou, em alguns
períodos, mudanças na economia de Nova Resende, passando a liderança econômica de cafeeira
para leiteira e vice versa.
Uma dessas crises foi a de 1929 que provocou um descontrole na comercialização do café
devido ao excesso deste no mercado. Como afirmam Maria da Conceição Evangelista Silva e Alaor
Firmino (29/05/2012), filho do Coronel Joaquim Firmino da Silva, que vivenciaram esta crise:
O café chegou quase acabar! Não dava preço. Ali perto de Guaxupé tem um lugar que
chama Japi! Ali o Getúlio mandou queimar não sei quantas sacas de café. Aqui em Nova
Resende toda vida produziu muito café. A vida de Nova Resende foi em torno do café! O
dia que o café acabar ela não sobrevive e o povo vai sofrer muito!
Nova Resende, além das consequências desta crise, já vinha enfrentando dificuldades na
cafeicultura devido à falta de mão de obra escrava, que deu início após a lei Áurea de 1888. Essas
dificuldades podem ser percebidas na mudança de ramo de muitas famílias agrícolas locais, como a
família Rezende que vinha desenvolvendo uma economia cafeeira e passou a ser comerciante na
cidade, como relata Rosendo Gonçalves de Resende Filho (02/06/2012).
[...] Em Nova Resende foram os italianos que vieram pra cá e vieram para trabalhar na
lavora, porque aqui já tinha muita lavora de café. E nessa época já não era lavora exclusiva
dele (Major Francisco Anacleto de Rezende) já tinha outras, já tinha outros cafeicultores,
outros produtores! O meu avô filho dele, que veio para Nova Resende (espaço urbana)
(deixou a agricultura, explica) [...] Essa história de deixar a agricultura. As pessoas que
tinha mais dinheiro punha os filhos para estudar fora. Na época um orgulho muito grande
“ser advogado” né! Então punha para ser advogado, para ser um médico, engenheiro, para
estudar em fim. E o meu avô, João Gonçalves de Rezende, [...] veio para cá e foi ser coletor
estadual, do Estado que tinha as coletorias, era uma pessoa importante, porque ele
representava o governo com todas as forças dentro do município e meu avô veio e foi ser
coletor. E já era outra mente e não quis saber de agricultura, não queria mexer com
agricultura não! Na agricultura era muito difícil não tinha mão de obra! faltava gente para
trabalhar! Ele então foi mexer com coletoria, com comercio e foi. Quando ele abriu a loja
Rezende que foi minha por 30 anos, do meu pai 53 anos, e dele por uns 15 anos. [...]. Nesse
comércio vendia de tudo e quando você tinha a loja de primeiro você vendia a açúcar a
rapadura, a carne e a banha, não existia óleo! Seria o básico, vendia arroz, feijão as outras
coisas. Tudo! Era uma loja que vendia confecções, produtos industrializados de São Paulo e
grande parte do vinho também! E era um empório que vendia secos e molhados. Eu me
recordo que na época que vendia (carne de) vaca [...] não tinha um plástico, um saquinho de
plástico para por dentro, não tinha nada enfiava um barbante na carne e a pessoa saia
carregando a carne pela rua [...] e parece que o povo tinha mais saúde, apesar da falta de
higiene muito grande.
Portanto, com essas consequências, principalmente, na economia do café muitos agricultores
procuraram uma nova forma de obter renda e deixaram de investir totalmente no café e passaram a
produzir mais leite e, por consequência, se tem a predominância de uma economia leiteira
substituindo as lavouras de café desde então. Entretanto, alguns sitiantes ainda continuaram a
persistir nas lavouras de café, mesmo que não alcançasse preço e produzisse pouco em comparação
à produção depois do acesso às novas técnicas, como os adubos químicos e herbicidas. Isso é
mostrado na fala de uma sitiante acerca do período anterior à década de 1980:
Meu marido plantou bastante café! Ele não mexeu com leite, porque achou que não
compensava! As terras eram de café [...]! O café dava renda para nós! Isso anterior a 1980.
[...] Nós colhíamos pouquinho [...]! Ai nós guardávamos lá mesmo e vendia para os outros
[...]! Não havia cooperativa [...]! O café era pouco [...]! Era a conta do gasto! Só tirava
renda do café! [...] O café produzia pouco! E dava para sustentar, porque nós plantávamos
arroz, feijão, milho [...] Se fosse para só viver do café não dava, porque era pouco [...]! [...]
depois que nós plantamos bastante! Depois do adubo! Com um saco de café a gente
comprava bastante coisa! O café era barato e as coisas eram baratas! Dava para comprar
bastante coisa, mais se fosse para comprar tudo lá, arroz, feijão [....] ai não dava! Nós
éramos em sete pessoas numa casa, um saco de café dava para comprar umas duas compras.
[...] 8
Em suma, o município de Nova Resende no período anterior a 1983 passou por diversas
mudanças em sua estrutura espacial. Em cada época, o formato de tal estrutura respondeu a
influências diferenciadas de todos os fatores, seja ele político, econômico, geográfico, etc. e em
todas as esferas (local, regional, nacional e global). Assim, ao analisarmos, principalmente, pelo
viés econômico percebemos que a estrutura espacial do município, de inicio, atendeu a uma
economia predominante cafeeira, que entra em transição estrutural em 1929, com a crise do café,
passando para uma economia predominantemente leiteira. Esta última irá prolongar-se até 1943,
com a elaboração da lei trabalhista, onde a estrutura espacial passa, novamente, a moldar-se para
atender uma economia cafeeira.
5.2. A ESTRUTURA ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE NOVA RESENDE NO
ÂMBITO DE UMA ECONOMIA LEITEIRA.
Com a crise do café e o surgimento de uma nova economia, havia em Nova Resende uma
dinâmica espacial lenta. Onde o espaço urbano ainda se encontrava pouco dinâmico e extremamente
dependente do campo, através, principalmente, de uma economia leiteira. Nesta época, na cidade
havia poucas casas, sendo algumas de sapé, e um espaço permeado de pobreza e miséria.
O Padre José Luiz Gonzaga do Prado (03/06/2012), que veio para Nova Resende em 1970,
descreve a estrutura do espaço urbano da seguinte forma (ver figura 2):
A cidade também era bem menor [...]! A cidade começava na onde começa o calçamento de
paralelepípedo na (rua) Delfim Moreira, ali perto do ginásio, era só de lá pra cá (Praça
Santa Rita). Terminava até o Lava Pés, mas não era tão longo não, e vinha para cá e seguia
até (a casa do) [...] João Silva, que morava lá em cima [...]! [...] e lá adiante no bairro Lava
Pés [...] não tinha aquela vila São João! Não tinha nada! Era só aquela rua principal e
mesmo aquela saída para o lado da Petúnia, não tinha! Tinha muito pouca coisa [...]!
8 Morador, número 6, do Bairro Dorinto Morato em 2012.
Era assim: Rua mestra, a Delfim Moreira, rua de cima, a Olegário Maciel, rua do
meio, a Quinze de Novembro e a de baixo Major Francisco Anacleto. Acabo! Só isso! Rua
São Paulo era uma ocupação de gente bem pobre que morava lá. Era só gente pobre! E
faziam as casinhas no terreno do Rosendo, mais de vez em quando tinha uma disputazinha,
eles queriam tirar o pessoal de lá [dos terrenos] [...] Era muito poucas [casinhas], ali era que
concentrava os pobres: na Rua São Paulo e no Morro do Lava Pés. [...] Ali do lado de cima
do ginásio, aquelas casas ali tinham uma ou outra, mais ai depois já fazia parte do terreno
do Alaor Firmino, era pasto! Mas então as irmãs cuidavam das catequeses na ponta da rua,
que era ali perto do ginásio. [Perto do Ginásio] eram as ultimas casas do lado de cima,
porque do lado de baixo tinha muito pouca coisa.
Figura 2- Espaço Urbano de Nova Resende Fonte: Mapa elaborado por Gabriela Pereira e Silva
A maioria do povo que morava na cidade passava muitas dificuldades, mal dava para manter
uma alimentação básica e saudável e a água para beber e para os serviços domésticos era carregada
de uma mina. Os pobres se instalaram na periferia da cidade e as famílias de pessoas mais
importantes moravam no centro e não se misturavam. As estradas que davam acesso às casas mais
pobres eram muito precárias só passavam carros-de-boi, como explica Alaor Firmino (29/03/2012),
por volta desse período:
Na Rua São Paulo morava um povo meio medonho! Era muita doença! Era o povo mais
pobre que tinha. Nós tínhamos medo de passar lá! Era um povo leproso! O povo doente se
concentrava lá! Eles por si se afastavam. Ali [subindo para o hospital] não passava
caminhão! Só passava carro de boi. No rumo da casa do Maurício tinha até uma mina
d'água no meio do tope [morro]. Tinha uma mina no meio da rua e tinha uma estrada que
chegava lá. E aqui o povo usava muita água da Fonte da Paulina. Eu nasci e criei com água
da Fonte da Paulina. O maior trazia uma lata de água nas costas e o menor dois litros de
agua na mão. Essa fonte era lá no becão. Essa fonte é famosa e muitos poetas fizeram
versos sobre ela. A água que tinha era lá! depois pegava naquele biquinho do pasto do
Rosendo.
Diante de tantas dificuldades, foi numa forte fé que a maioria do povo procurava forças
numa busca constante de uma vida melhor. E no campo, a situação não era diferente, também havia
muita pobreza. Entretanto, o homem rural passava uma vida mais digna em vista do homem da
cidade. Isto fica claro nas palavras de João Gonçalves Sobrinho (16/03/2012) morador rural, que
migrou para cidade em 1965 e arrependeu-se:
Em 1965 eu vim [para cidade], porque lá na roça [bairro Matão] estava muito difícil![...] eu
falei assim: eu vou para cidade, porque as vezes melhora! Eu vim pra cidade! cheguei na
cidade e fiquei alugando casa na rua São Paulo, sabe! Era uma casa que eu vou falar para
você! Fiquei dois anos ali na cidade lutando! Não tem condição mais vamos embora! Juntei
a mulher com as crianças e fui embora para roça. Na hora que nos acabamos de colocar os
trem [utensílios da casa], que eu já falei, não tinha nada! E colocou dentro do trator os trem
[utensílios da casa], que hoje não serve nem para queimar! A casa caiu! E nos ainda pagava
aluguel!
[A vida na cidade] era assim. Aparecia um servicinho a gente fazia [...]! Pegava
foça para furar! Não tinha nada para comer, sabe! [...] Sabe o que eu fazia? Comia inhame!
Lá na horta tinha muito inhame! A gente ia lá arrancava inhame, descascava e cozinhava o
inhame e comia! [...] [A alimentação aqui na cidade] era feijão, arroz, (etc). Era pouquinho
de mais! Era difícil! Passava fome! Se comece até encher hoje o outro dia passava fome!
Você tinha que controlar as coisas. Estava pior que na roça! Não me arrependi de ter saído
lá das terras do meu pai não. [...] depois arrependi! e fui para lá de novo. Meu pai falo
assim: há, eu tenho uma casinha na porta da sala de pau- a- pique, sabe! hoje você quase
não vê mais! [Para fazer uma casa de pau-a-pique] Punha bastante pau [...] e amarrava os
bambus e vai enche de barro, tudo de barro! [...] eu voltei pra lá [para roça]! Na época meus
meninos estavam tudo doente [...].
. Nesta época, as únicas formas de transporte eram carro de boi, cavalo e a pé. Poucos tinham
acesso ao automóvel, era muito caro este tipo de transporte! E isso dificultava a vida de muita gente
que ficava doente e precisava de médico em outra cidade, pois a saúde, no município, era precária.
O único lugar de atendimento de saúde era a fundação, que mesmo assim não tinha muitos recursos
para atender a população. Os casos de saúde, sendo a maioria, eram encaminhados para as cidades
vizinhas com mais recursos, como Juruaia e Guaxupé. O transporte era por conta da pessoa doente,
por isso, muitas pessoas morriam sem recurso e/ou se tratavam em casa com medicamentos caseiros
e/ou vendia tudo que tinha e/ou ficava devendo para se tratarem em outra cidade. Isso se afirma
com a história da mãe de Francisco José Bueno (10/03/2012) que morava na roça e ficou
necessitado de atendimento médico:
Minha mãe morreu com 70 anos [...] deu derrame nela! levei ela para Guaxupé. Ela ficou
internada 60 dias lá! [...] Nos tínhamos quatro alqueires [de terra]! Nos vendemos [as
terras] e foi a conta [para pagar as contas no hospital]. De primeiro, as coisas era só no
dinheiro! [...] nos vendemos para pagar e comprar remédio para ela [...]! Juruaia não servia!
Achamos melhor ir em Guaxupé [...]! Lá tinha mais recurso [...] Em Juruaia só atendia
umas coisas mais simples. [...] eu fiquei sem terra! [...]
Isto também se confirma nas palavras de João Gonçalves Sobrinho (16/03/2012) que morava
na cidade:
[...] Os dois [filhos doentes], ruim! Mais ruim mesmos! O dinheirinho que eu ganhava era à
conta do remédio. [...] nos íamos tratar aqui mesmo, o hospital era na Fundação, na Praça
Santa Rita. Não existia esse hospital aqui não! E quando não tinha condição de tratar aqui,
mandava para Juruaia! Os doentes iam para Juruaia! Se não tinha condição de comprar os
remédios! Fazer o que [...]! Ficava naquela situação mais difícil! Era difícil o transporte,
não tinha condução! Quando tinha um doente, ai mandava para outra cidade para mandar
internar. A pessoa não tinha dinheiro para pagar carro para levar! A prefeitura não tinha
carro! fazer o que? Tinha que ficar devendo para os outros! Arrumava dinheiro emprestado
para mode poder mandar. [...]
Com esta dificuldade de deslocamento por falta de locomoção, as pessoas ficavam, muitas
vezes, isoladas no seu bairro ou dentro somente da cidade e seu entorno. O município como um
todo e as cidades vizinhas eram desconhecidos para muitos. As pessoas do campo se deslocavam
pouco para a cidade, pois havia a dificuldade decorrente da distância entre sua moradia e a cidade
que era, geralmente, grande. João Gonçalves Sobrinho (16/03/2012), da zona rural, que antes tinha
um pedacinho de terra no bairro Matão e depois virou colono numa fazenda no bairro Serra do
Forno, em sua fala afirma estas dificuldades de locomoção:
Nessa época quase não saia! Outros municípios não conhecia! Nunca fui em festa! Não ia
na cidade! Só vinha aqui na cidade para comprar algumas coisas aqui no mercado e já
voltava para trás! Eu vinha na média de dois a três vezes por mês! [Isso quando estava no
Bairro Serra do Forno] antes [disso] nem ia na cidade! Daqui na Serra do Forno da sete
quilometro agora até o Matão da vinte e dois quilômetros! [Quando estava no Matão] tinha
que andar a pé! Não existia condução! Tinha que ir e voltar a pé! Você fazia uma compra
punha no saco e punha nas costas e ia para lá na roça de a pé! Nesta época nos não tinha
cavalo! Não tinha nada! Já na Serra do Forno já tinha um cavalo! Só vinha fazer compra as
fezes! [...] Pedia para ele [o patrão] fazer a compra e levar para gente! Na maioria das fezes
era eu que vinha fazer [as compras]!
As estradas rurais atendiam a passagem de carros-de-boi, pois estas não eram feitas para a
passagem de automóveis. E isso se confirma com as palavras do Padre José Luiz Gonzaga do Prado
(03/06/2012), que encontrava dificuldade de se locomover em 1970:
Quem me levava nas roças era o teu avô, o Ditão. Ele tinha jipe [...]! Nem todo mundo
tinha acesso ao carro e depois carro não ia nesses lugares. As estradas eram ruins. Extrata
ali era de carro de boi, valetas de um lado e do outro. O carro ia raspando de baixo, tinha
que ir meio tombado. Tinha que ir era de jipe mesmo! [...]
Portanto, nesta época, as dificuldades da vida social eram muitas, tanto da vida na cidade
como no campo. Entretanto, não eram tantas as dificuldades encontradas na vida nas fazendas. A
Professora Maria da Conceição Evangelista Silva (29/05/2012), filha do fazendeiro Joaquim
Beraldo Evangelista, relata como foi sua vida.
Eu morava na roça! [Na fazenda] tinha boa alimentação! Já vestiário não tinha muita opção,
nem muitos calçados. Saia muito pouco de casa! Não tinha festa, não tinha nada! Quando
tinha, o pai era meio bravo não deixava ir. Eu nasci no município de Monte Belo em uma
fazenda perto de Monte Belo era vinte quilômetros mais ou menos, chamava Grama. Fiquei
lá até uns dez anos mais ou menos, tinha uma escolinha lá na roça e depois meu pai mi
matriculou em Muzambinho e ai naquela época era Tuiuti não era Juréia. [...] quando eu fui
eu fui a cavalo até Tuiuti, lá peguei um trem, a rede Mogiana que é a de Muzambinho. Era
duas redes em Monte Belo: a Mineira e a Mogiana. Ai eu pegava a Mogiana! Ai eu fui para
Muzambinho e fiquei numa pensão em frente ao grupo Cesário Coimbra e lá eu fiz o
primário com dez anos, fiz primeiro ano, fiz segundo ano. [...] na parte da manhã a
professora falo para eu tentar fazer o terceiro ano junto. Na parte da manhã eu ia no terceiro
ano e na parte da tarde eu ia no segundo ano. [...] depois no fim do ano eu passei para
quarto ano meu pai me matriculo aqui em Nova Resende. [...] meu pai já tinha mudado da
roça, lá da Grama, para fazenda onde é o Zé do Baldo hoje, do lado da usina. Chamava
fazenda Boa Vista. Ai eu acabei de estudar fui para o colégio em Guaxupé no internato.
Formei para professora em 1951 e casei em 1952. Meu pai foi vereador aqui diversas
vezes! Foi um bom administrador e na época, assim que casei, vendeu a fazenda. Meu pai
colaborou muito com o crescimento de Nova Resende, preocupava com a educação, porque
naquela época ninguém punha criança na escola. Depois no governo que saiu entrou depois
o Zé Dorico para governar o município [o nome certo é] José da Silveira castro, que foi
meu padrinho de casamento. [...] meu pai era muito amigo dele, ele [seu pai] propôs: se ele
[seu pai] desse a escola ele [José da Silva] arrumava professora. Meu pai trabalhava o dia
inteiro e depois saia para as roças para ver se tinha criança para matricular. Ai fez uma
escola9 onde é [as terras] do meu pai que é no município de Nova Resende. Essa escola
meu pai construiu e deu para prefeitura. [...] aquela moça lá [ da foto] é a Rufina minha
irmã lecionava para as criançadas tudo da escolinha. Hoje não tem mais [a escola]! Tinha
três turnos, tantas horas para o primeiro ano, tantas para o segundo e tantas para o terceiro e
tantas para o quarto. Isso foi mais ou menos na quadra de 1950. [...]
Todas estas vidas sociais moldaram o espaço do município, e fizeram a história de acordo
com suas decisões e necessidades e ao mesmo tempo receberam influências deste espaço numa
intensa interação entre as mais diversas esferas, seja a política, a econômica e geográfica e nas mais
diversas dimensões (local, regional, nacional e global). Essas interações resultaram uma estrutura
espacial particular do município e da época. E para entendermos essa particularidade, separaremos
aqui em itens, que serão explorados a seguir.
5.2.1 ESTRUTURA DE UMA ECONOMIA PRINCIPALMENTE LEITEIRA
E A EXISTÊNCIA DE COLÔNIAS.
Em Nova Resende, por volta de 1970, predominava a economia leiteira e uma estrutura
espacial que atendia a esta economia. No campo havia relação colonial de trabalho, camarada e
familiar, mantida através das relações de “trama” ou através somente da subsistência, esta última
era uma realidade apenas da maioria dos sitiantes. Tais relações formavam em consequência de um
sistema econômico leiteiro que era sustentado através destas relações de trabalho, sendo estas
alimentadas pelos grandes fazendeiros produtores de leite. A produção de leite era destinada, muitas
vezes, para as cidades vizinhas ou mesmo, num período de tempo, para uma filial da Cooperativa
Agropecuária de Muzambinho (COOMAM), que por alguns anos recebeu a produção de leite e
café. A COOMAM, segundo Alaor Firmino, cooperado desta, “foi implantada após 1970”
(29/05/2012). Tal cooperativa era uma opção de emprego para muitas pessoas urbanas que viviam a
mercê de serviços temporários rurais e escassas ofertas de serviços urbanos (babá, furador de fossas,
9 Ver figura 2 em anexo.
etc.), mas mesmo sendo fixo, o salário oferecido era baixo. Isso se confirma na fala de Valdeci
Vieira Paulino (09/03/2012) que era funcionário da COOMAM da época:
Trabalhava na Cooperativa Agropecuária de Muzambinho – COOMA. A COOMA era uma
filial de Muzambinho [localizada] no centro [da cidade de Nova Resende] e a cede era em
Muzambinho. Eu trabalhava de vendedor, era fixo [o emprego]. Minha renda variava de
mês em mês! Como no mês de safra de adubo tinha um salário de sorte e quando acabava a
época de adubo era menor o salário. Registrado mesmo era um salário e a gente trabalhava
com comissão. O salário, não! Não dava para pagar o aluguel, o mês que dava
comissão maior dava (para pagar o aluguel) antes não! Mais para mim comprar um terreno
na época não dava! Dava para manter a casa, mais fica pagando aluguel o resto da vida!
Não sobrava para fazer negócio! [...] Era a conta. [...]
5.2.2 ESTRUTURA E ATORES DO CAMPO
As estruturas espaciais do campo constituíam-se por quatro atores: O fazendeiro (em média
de 50 a 400 alqueires de terra)10
, o sitiante ( em média de 4 a 20 alqueires), o colono, o meeiro (em
média menos de 4 alqueires de terra) e o camarada.
Os fazendeiros possuíam vaca leiteira, gado de corte, plantava para subsistência e, muitos
deles tinham uma pequena lavoura de café, muares e cavalos para se locomoverem. Como é
retratada a vida de seu patrão e outros fazendeiros na fala de João Gonçalves Sobrinho
(16/03/2012), que era meeiro na época:
O patrão que nós trabalhávamos tinha na base de cinquenta a sessenta alqueires de terra e
era considerado fazendeiro na época! Os que eram considerados médios tinham cinco a
quatro alqueires de terra. Esse patrão que tinha cinquenta a sessenta alqueires de terra tinha
muita boiada e carro de boi bom! dezoito boi, nove junta de boi [...]! Engenho! Tinha tudo
na fazenda ali! [...] As pessoas aqui no Córrego da Pedra que nós considerávamos
fazendeiro só andavam naquelas mulonas. Não existia carro! Não existia carro! Era só
aquelas mulonas boas! Os patrões montavam naquelas mulonas arriadas que até balançava
e brilhava aquela coisa chique, sabe! Naquela época não existia calçado! Nem os
fazendeiros tinham. Hoje não! Melhoro muito no sentido de comer e beber! [...] eles [os
fazendeiros] não olhava muito estas coisas [de alimentação de qualidade] eles olhavam de
segurava muito as coisas que tinha. Eles não eram de abriam mão! Eles eram de
economizar [...]!
Nessa época que nós estávamos lá para matão. [...] Não existia café! O que tinha um
moinho de café. Um pouquinho! Era só alguns! Nesta época, não tinha adubo era só aqueles
que tinham uma situação boa que tinha! Assim mesmo não eram todos. O povo mechia
mais com vaca, com boi de carro.
E para tocar seus retiros, as boiadas, preparar o pasto, plantar grãos para vender e para sua
alimentação, zelar do pouco de café que tinha e enfim zelar de sua fazenda e produzir seu lucro
eram necessárias pessoas que se submetessem a ganhar pouco em troca do seu trabalho. Essas
pessoas, de maneira geral, eram o colono, o meeiro e o camarada.
O colono era aquele que vivia na própria fazenda a troco de alimentação básica e moradia. A
alimentação fornecida era um armazém que o próprio fazendeiro fazia e para complementar este,
10
Considerando que 1 alqueire Mineiro = 48.400 m2
geralmente, o patrão deixava plantar de meia. Isso se confirma na fala de Francisco José Bueno que
viveu como colono em 1960.
Eu trabalhei lá de colono! Lá era por dia. Nós trabalhávamos fazia o armazém para nós e
era a conta do armazém. O armazém era o salário meu! Eles [o patrão] que fazia a compra.
Era muito difícil pegar o dinheiro! Ele (o patrão) deixava eu planta muito pouco. Ai não era
de amei! [...]
O meeiro, que normalmente tinha um pedacinho de terra, para sobreviver e ter pelo menos o
que comer todos os dias, ia cultivar de meia e através do sistema de “trama” na fazenda. Este tinha
uma vida de trabalho familiar dentro do seu pedaço de terra e muitas vezes trocava dia com outras
pessoas para tocar o pouco que tinha em sua propriedade. Isso se confirma na fala de um senhor
meeiro e seu filho mais velho que viveu esta realidade anterior a 1959.
[fala do Senhor] Minha esposa já tinha uma condição melhor, o pai dela era rico! Mais a
família era grande! sobrou só seis litros de terra11
para cada um. Ai, nós casamos e fomos
morar lá numa casa de pau-a-pique: (Essa casa tinha) [...] as paredes de banbu e rebocada
com o barro e teia comum, nós moramos uns tempos dormindo num colchão de paia, um
pulgueiro! A casa de chão! Nossa eu levantava cedo para trabalhar a camisa enfestada de
bosta de porco. Tive os filhos e continuei na mesma casa, até vim para cá [cidade]. Nós não
tínhamos oportunidade de comprar terra, nós éramos pobres! Nós não tínhamos condição
de comprar nada! Sabe o que é nada! Ao redor de nós tinha gente pior! Muita gente pior
que a gente que morava ali perto e que morava num pedacinho de terra deles também!
Na realidade, depois que dividiu as terras, morava ali tudo pertinho! Meu pai e os
tios e tias eles tinham a mesma coisa! Ai tinha os que tinham mais terra. Nossa ali perto
tinha uns três a quatro fazendeiros e eles tinham bastante terra. Os vizinhos ajustavam nós,
os filhos. Eles tinham um pedacinho para morar, mais não tinha colônia não! Ajustava para
trabalhar mais em café, lavora de arroz, milho, feijão, para lá tinha retiro mais era
pouquinho!
[fala do filho do senhor] Nós trabalhávamos de ameia na terra de varias pessoas, né!
Nós não tínhamos uma pessoa certa, né! Era nas terras ali por perto. Uma hora ia para um e
outra para outro. Normalmente era para pessoa que tinha mais terra, era [para] fazendeiro!
Eram vários fazendeiros que ficavam neste bairro. Tinham bastante! Os que nós
conhecíamos tinham seis a sete no bairro ali. Só trabalhava eu e o pai, porque eu sô o mais
velho, né! Não era dinheiro que nós ganhávamos não! Era “trama”, não tinha dinheiro né!
[Fala do senhor] [Como funciona a “trama”] já trabalhei o dia inteirinho, quando eu
era mais moço, assim que eu casei sabe, para ganhar três maços de rapadura, porque não
existia açúcar naquele tempo. Eu fui nascido em 1933, então eu trabalhei um dia por seis
litros de arroz com casca, um dia por três litros de feijão e um dia por um quilo de toicinho.
Agora pensa que vida nós passamos! Naquele tempo não dava arroz! O povo não sabia
plantar e eles mediam era na xícara: pegava a vasilha de arroz e enxia uma xicrinha de bebe
café, sabe, de arroz, punha na cova e aquilo lá não dava para plantar! Virava aquela
moitona e não dava arroz. Então arroz era só para o gasto que colhia. Isso foi quando eu
não tinha ele [seu filho] ainda, ai depois já melhorou um pouquinho! Já conheceu aquele
arroz quebradinho, a quirerinha. Então ele [seu filho] estava molecão na escola nós
comíamos aquele arroz quirerinha. E não era todo dia não era algum dia.
A maior dificuldade era a condição de serviço! Você trabalhava e plantava para
comer! Tinha ano que dava muito sol o arroz quase não produzia [...]! Você engordava um
porco para gordura, a carne que você comia era o seguinte: [as criações] [...] que você
matava lá (na roça era) com dois anos três no máximo! [...] você comia frango só no
domingo e no meio da semana comia só verdura! Pensar em comprar carne de vaca! Você
não podia nem pensar que você não tinha dinheiro! Ele (seu filho nasceu em 1959) já tinha
11
A unidade principal é o alqueire que corresponde a uma medida ideal variável de acordo com o número de litros ou
pratos de plantio de milho que comporta, segundo os costumes locais. Daí a expressão de alqueire de tantos litros [...].
Litro. É a área do terreno em que se faz a semeadura de um litro (capacidade) de sementes de milho debulhado, num
compasso de um metro quadrado, para cada cinco ou seis grãos, cobrindo uma área de 605 metros quadrados. Esta
quantidade de semente de plantio varia muito de região para região, de um mínimo de 20 litros a um máximo de 320
litros [...]. [Assim] [...] o alqueire [...] equivalente a 36,27 litros [...].
pegado a época melhor! Ainda comia arroz quirerinha, né! Agora eu comia angu com feijão
(15/03/2012).
Confirma-se também, na fala do meeiro João Gonçalves Sobrinho (16/03/2012), quando
relata sua vida anterior a 1977.
[...] nos pegamos e compramos essas terras dela [de dois alqueires]. Nós fomos formando
virando rapazinho já para trabalhar [...]! Nós começamos a trabalhar no Córrego Santo
Antônio. Para o Antônio Gabriel! Aqui no córrego Santo Antônio! Nós éramos moleque
ainda! Nós íamos para escola e depois quando chegava da escola corria e ia apanhar
[colher] café e ganhava dois maços de rapadura do meio dia para tarde até o sol entrar [...].
Quando nós plantávamos não existia terra para prantar arroz no seco assim. Era no brejo!
Tinha que roçar o brejo, a taboa, queimar, estoca aquilo lá, queimar e plantar no brejo. Não
dava mantimento no seco! Era só no brejo! Você Plantava 100 quilos de arroz e colhia
mixaria. Não dava nada! Não tinha adubo não! Tinha nada nessa época! Ninguém mexia
com adubo. Plantava arroz a meia! Nós plantávamos e tinha que dar metade para o patrão.
Não tinha como tocar tua vida sem trabalhar para o outro, sabe! Você pegava para
você plantar de a meia! Era metade para o patrão e metade para gente. Nesta época era
muito pouquinho café! Quase ninguém tinha lavoura de café! Era muito pouco. Alguns
tinham [café]! [como] aqueles que falavam que era rico mesmo ou mais ou menos! As
vezes alguns mexiam com lavoura de café! As vezes alguns mexia com gado, mais era
difícil. Você via mais era só pasto não tinha nem lugar de plantar. Eles davam alguns
pedacinhos, muito pouco para você prantar! Tinha mais no brejo! No brejo tinha até de
mais sabe!
[No Matão] cada um tinha seus pedacinhos [de terra], só que cada um trabalhava no
seu. Não existia “a dó” naquela época! Não tinha aquele negócio de dividir o que tinha.
Não tinha! Se você fosse na casa do patrão, dinheiro era difícil! você tinha que trabalhar em
troca de comida! Você tocava as coisas em troca de armazém. Aquele que tinha não abria
mão não! O dinheiro que você precisava. Tinha que ir para o pasto arrancar moita. Era
muito pasto! Você ia lá e ia roçar o pasto [...] [e] o patrão ia mantendo o armazém! Ele ia
soltando [liberando] o armazém conforme você ia trabalhando [...]! [...] você acabava de
roçar o pasto e tirar a moita. Você olhava no final [do armazém] já não tinha nada. Você já
tinha comido tudo! O patrão que fazia a compra! [...] quando não deu mais para fazer isso,
nós mudamos!
[Em Matão] [...] Nessa época, era muito difícil quase ninguém tinha (terra)! Era uma
época que você comprava um alqueire de terra, mais não era qualquer um que comprava.
Era uma época que as pessoas vendiam terra em troca até de toicinho! Tinha um detalhe
[...]! [A pessoa trabalhava para o patrão num sistema de barganha- em troca do armazém]
[...] A pessoa ficava devendo! Não tinha condição de pagar! [...] [Então] passava aquelas
terra para pessoa que devia. Era um causo que acontecia com muitas pessoas desse jeito
[...]! Hoje tem muita gente rica porque comprava terra dos outros no preço de capado,
toicinho e rapadura! Não tinha condição de comer e nem beber. Vendia aquilo lá! [...]
Vendendo, vendendo e comendo e acabava com tudo! Isso chegou a situação de muitas
pessoas! Muitos ficaram ricos! Era rico e ficou mais rico e o pobre ficou mais pobre! Na
época era difícil e a consciência era pouco! Era uma época que você trabalhava, mais o dia
que o patrão mandava você embora tinha que ir! Não deu certo! O patrão fala: você vai
embora. Acabou! saia com um braço um adiante e outro atrás! Nessa época o povo vivia a
maior parte [ da vida] em cima do outro! Você conhecia fulano. Então vou levar você para
trabalhar no meu sítio! Depois te mandava para outro lado! Ficava andando que nem
cigano!
O camarada, normalmente, era o que trabalhava no retiro, morava lá na fazenda e ganhava
um salário pelo seu trabalho, sendo uma opção plantar de a meia. Mesmo trabalhando em troca de
dinheiro, tinha um salário baixo. Isso se confirma na fala do Zoaldo Donizete Madeira (10/03/2012)
que trabalhou muito tempo no retiro.
Depois que vim do Paraná eu morava nas roças! As vezes era de colono, as vezes
não [...]! Era tudo fazendeiro! [...] era diferente, não era de a meia! A gente morava lá na
terra da pessoa trabalhava por dia ou por mês e [ela] deixava nós morarmos lá. Era livre!
Eles deixavam nós plantarmos para o gasto, mais geralmente nós não plantávamos, porque
se fosse plantar era de a meia e ficava ficando pior para gente! Então preferia viver com que
eles davam. Não era muito não era um valorzinho ai por dia. Tinha uns que pagava até um
salário mínimo! Fazia conta do salário mínimo e pagava só aquilo por dia para gente. Dava
mais ou menos para vim fazer compra na cidade, mais eu vinha fazer. A gente mesmo
quase que vinha na época [...]! Há nós passávamos apertado [...]! Quem morava comigo era
meu pai. Para roça só veio eu, meu pai, e meu irmão, só! O resto já tinha casado. O que
recebia era á conta das despesas! Ha gente ficava andando de fazenda em fazenda para ver
se tinha uma milhora, mais não tinha!
Depois eu casei e vim morar na fazenda planalto.[...] O dono dela morava em
Atibaia. Hoje ele até é falecido! Eu morava numas terras que não era minha! Para mim ficar
lá eu ganhava um salário e meio na época, trabalhava tirando leite. Só com gado, tirando
leite e mexendo com os gados! O leite para meu filho não pagava não, mais aluguel pagava!
Toda casa tinha que pagar. Então eu achei que não estava bom assim [dessa forma].[...]O
aluguel não era tão auto, era pouquinho! A gente já não ganhava muito, mais o aluguel que
descontava e uma coisa e outra ficava difícil á vida [...]! Não sobrava! Chegava no final do
mês, dez dia antes de terminar o mês, já acabava tudo e já ficava difícil.
Depois que sai da fazenda planalto já trabalhei em outras fazendas. Ai já dava o leite
e a casa. Já era melhor! [...] eu já trabalhava por mês e já pagava melhor! Lá [na fazenda
planalto] eu só trabalhava de retireiro [ordenhador] mesmo. Não plantava por que não tinha
jeito mesmo! Quando nós pegávamos o serviço de retireiro não sobrava tempo para mais
nada [...]! O salário era melhor e já sobrava dinheiro!
Já o sitiante, que por possuir uma quantidade de terras maior do que o meeiro, normalmente,
trabalhava somente em suas terras a partir de uma agricultura familiar mantendo uma vida de
qualidade sem muitas dificuldades. Isso fica claro no relato de uma sitiante do bairro Caninana.
[Na roça] tudo que nós comíamos era de lá! Tinha até um engenho mecânico lá! Nós
tínhamos vaca só para o gasto! Nós plantávamos arroz, plantava feijão [...] nós tínhamos
café. Tudo que nós tínhamos foi de herança minha! Eram cinco alqueires! As terras de
meus vizinhos eram tudo assim. Eles eram tudo igual nós mesmos, por que era meu irmão e
minha irmã, né! Eram tudo da família as terras! O bairro é Caninâna! Não tinha fazendeiro!
Tinha dono de sete alqueires para baixo. O maior que tinha lá era sete alqueires! Nós só
trabalhávamos na roça!
Todo mundo ali tinha vida igual! Todo mundo plantava, comprava na cidade açúcar,
sal [...]. Lá nós tirávamos tudo para nós comermos. Nós não trabalhávamos para os outros!
Só lá no nosso sitiozinho mesmo e os nossos vizinhos só para eles.
Não faltava nada! A alimentação era boa! A mistura que nós fazíamos no almoço
nós não fazia na janta, era diferente! Nós plantávamos tudo e colhia. Nós tínhamos de tudo
para comer! Nós plantávamos a semente do paió e tratávamos de porco, galinha, [...]. Em
terra dos outros nós nunca trabalhamos! Nós trabalhamos dentro das nossas terras com a
minha família!(10/03/2012)
Em suma, a estrutura do espaço rural se organizava de modo a manter dois sistemas: o de
colonato nas fazendas e o extra-colônia. O primeiro estaria englobando as relações de trabalho do
colono e do camarada; e este último incorporando as pequenas propriedades que existiam perto das
fazendas, onde moravam os meeiros.
5.3. ESTRUTURA DA CIDADE FRENTE A UMA ECONOMIA
PRINCIPALMENTE LEITEIRA.
O espaço urbano era totalmente dependente do campo, pouco desenvolvido, com uma
reprodução espacial lenta e longe de sanar a demanda por serviços comerciais e públicos, como
saúde. José Nicácio Filho (10/03/2012) relata a falta de oferta de serviço em 1970.
Na época tinha pouco emprego. [...], na prefeitura era bem menos funcionário do que tem
hoje. De primeiro emprego em Nova Resende era difícil! Naquele tempo não existia nada
de informação como hoje existe e é mais fácil, mais emprego que tinha na época era na
prefeitura! Emprego na parte de construção não existia igual tem hoje, né! Eu me alembro
que era muito difícil tinha só um pedreiro! Servente? Não se falava em servente. Não tinha
profissão! De servente e pedreiro tinha muito pouco!
A dificuldade de encontrar emprego se confirma no relato de Valdeci Vieira Paulino
(09/03/2012) que com muito custo chegou a trabalhar na Cooperativa Agropecuária de
Muzambinho - COOMAM em 1985. Neste trecho mostra, também, as relações sociais típicas de
cidades pequenas que condicionavam as relações de trabalho como, por exemplo, indicar parentesco
para a ocupação de cargos de trabalho.
Tive muita dificuldade de encontra emprego! Faltava emprego para todo mundo e quando
vim [para cidade] não tinha registro e o pessoal tinha medo quando não conhecia as
pessoas! Tinha medo de empregar as pessoas e depois levar na justiça as vezes e pagar
depois alguma coisa. A dificuldade era essa! Eu e meus irmãos também! Eles vieram e
passava muita dificuldade.
Dificuldade é que o pessoal mesmo não arrumava emprego para gente, por que não
tinha estudo. No serviço que eu fazia [na COMAM] não precisava de estudo, mais eles não
dava serviço mais era por falta de conhecimento! Cidade pequena todo mundo conhecia e
só dava serviço para quem conhecia. A gente vinha de lá da roça! Então não conhecia [a
gente] ai se tinha dificuldade [de arrumar emprego]. Isso que estou falando era antes da
cooperativa! Depois da cooperativa, ai fazia tempo que nós já morávamos aqui [na cidade].
Então já era mais fácil! Na cooperativa comecei em 1985 e nos outros lugares foi antes de
1978 até 1985.
Havia uma segregação e discriminação espacial clara de classes ao longo da cidade e o
poder típico local era feito por coronéis. A população do município mantinha contato com as
cidades vizinhas por vias municipais que atendiam a locomoção através de carros-de-boi e a pé.
Como descreve a professora Maria da Conceição Evangelista Silva e seu marido Alaor Firmino da
Silva (29/05/2012) que era revendedor de café na época.
[Alaor] Nós preparávamos o café no armazém12
e as cinquenta catadeiras de café que era
mulher, moça e mocinha beneficiavam [o café] e [depois] levava [este] para Santos e para
São Paulo. Embarcava [o café] na Jureia no trem de ferro [linha] do Ituiuti e até o Ituiuti
levava de carro de boi e depois começou levar de caminhão. De primeiro era de carro de
boi! Não tinha ainda esta estrada de Nova Resende a Muzambinho. Essa estrada construiu
em 1956.
Antes desta estrada (Nova Resende/Muzambinho feita em 1956) tinha outras vias: a
Jureia13
e para Guaxupé são estradas municipais descendo pela Serra do Forno. Tinha
comunicação com as cidades vizinhas, mais eram estradas municipais! Só que não tinha
estradas asfaltadas! A saída para Conceição da Aparecida foi o Quita [que abriu]. [Quita] se
chamava José Gonçalves de Rezende que era irmão do Rosendo. [Ele] foi prefeito e tinha
apelido de Quita na época da ditadura do Getúlio.
[Maria] A rua principal era Delfim Moreira o Lavapés era puro mato! Essa Rua
Olegário Maciel foi feita pelo prefeito José Sureti que abriu [esta rua] em 1934 e o povo
doou os terrenos. E ela (a Rua Olegário Maciel) não se chamava rua, se chamava avenida.
Eu tinha um decreto que mostra o ano certo que abriu essa rua. Até nesta mesma lei fala
que foi construída a igreja Matriz nesta rua e parece-me que fala que é 25 de abril de 1934 e
fez a pracinha da igreja matriz. Até essa praça o nome dela não é Praça Santa Rita não! Ali
nessa praça é Praça Frei Colombo!
12
Ver figura 2 em anexo. 13
Ver figura 5 no texto anterior.
Ai fala que abriu essa Rua Olegário Maciel e foi até o Sítio Belo Horizonte, que é
nosso, de lá foi em direção do caminho para Jureia. Ali onde é o ginásio tinha uma porteira
(que) primeiro se chamou a porteira do Cristiano e depois se chamou porteira Coronel
Joaquim Firmino. A Rua Delfim Moreira ia até em frente o supermercado do BOLO, era do
mesmo tamanho da outra [Rua Olegário Maciel], ia até na porteira do Zé Gomes. O senhor
da porteira foi uma pessoa importante! Até tem uma rua no nome dele: Rua Vereador José
Gomes de Avelar. Os mais ricos toda vida moraram nessas ruas ou na praça! Eu nasci e
criei na Praça Capitão Joaquim Anacleto. Os outros coronéis também toda vida moraram e
continuam aqui no centro! [E] na Rua São Paulo morava um povo meio medonho! Era
muita doença! Era o povo mais pobre que tinha.
Valdeci Vieira Paulino (09/03/2012) complementa relatando o que a cidade fornecia de serviços
para a população em 1978-1985. E com isso confirma um comércio e uma polarização local da rede
urbana que refletem a condição da sociedade brasileira em sua dinâmica por volta de 1960. Como já
foi discutido na base teórica deste trabalho, segundo Roberto Lobato Corrêa que caracteriza esta
rede por três principais características: pequena complexidade funcional dos centros urbanos;
pequeno grau de articulação entre os centros e o padrão espacial com que a rede estava construída.
Nestes sete anos era só serviço de roça mesmo! No comércio não tinha nada! Nem
cooperativa não tinha! Mercearia tinha, mas eu falo assim mercearia trabalhava só família
não arrumava gente. Era muito pouca mercearia![...]. Banco acho que tinha era do Brasil!
Era um posto, não era agência bancária! Era um posto de atendimento, mas tinha. O
hospital era ali na fundação! Quando estava doente a gente tinha que ir para Juruaia.
Inclusive minha mãe quando faleceu. [...] Faleceu lá em Juruaia! Aqui não tinha, foi
atendida lá!
As dificuldades enfrentadas no campo e a crescente busca desta população por uma vida
melhor fez com que muitos migrassem para a cidade sem o reconhecimento da realidade desta
localidade. Essa falta de reconhecimento da cidade era consequência das dificuldades de locomoção
frente à distância entre sua moradia e a cidade. Nesta época, as pessoas se isolavam no cotidiano da
redondeza de sua moradia e dificilmente iam à cidade, devido algumas dificuldades já discutidas
aqui.
Esses imigrantes chegaram à cidade e se deparavam com uma realidade que os fizeram
passar mais dificuldades do que as enfrentadas no campo, como a falta de emprego, aluguel alto
frente sua renda, dificuldade em manter horta e criação de animais de pequeno porte, etc. Com isso,
muitos voltaram para o campo e outros ainda persistiram em continuar na cidade passando muitas
dificuldades e até fome. Esta realidade pode ser retratada por uma senhora que sobrevivia como
meeira junto com seu pai e depois casou e foi morar de aluguel na cidade com o marido. Este já era
morador da cidade e trabalhava na prefeitura e ela em serviços temporários na roça. Tal realidade,
também, mostra a tentativa de reprodução da ruralidade14
na cidade e as dificuldades de reproduzi-
la. Esta tentativa de reproduzir a ruralidade expressa a precária circulação monetária, pois estes
14
Mais detalhes sobre o conceito de ruralidade consultar JOSÉ ELI VEIGA (2001, p.8-56).
migrantes sentem a necessidade de reproduzi-la para sobreviver na cidade que não oferecia
emprego e tão pouco salário que possibilitasse estes migrantes pagar o aluguel, assegurar suas
necessidades básicas e juntar um dinheiro para comprar uma casa ou terreno.
Quando veio a pagar aluguel eu não trabalhava, por que meus filhos eram pequenos e não
tinha jeito. Para uns era fácil para outros mais difícil! [...] Quem tem estudo é mais fácil de
conseguir um emprego melhor. Não tinha bastante emprego nessa época! Tinha pouco de
mais!
O dinheiro que ganhava era a conta! Comer, não comia o que era necessário! Comia
mal né! Tinha mais arroz e feijão! Carne não comia [...]! Macarrão, ovo e verdura [comia]
quando tinha! Nem verdura nós não tinha, porque não tinha jeito de plantar! Porque
[também] ás vezes ficava um certo tempo tinha que sair [da casa]! Tinha algumas casas que
nem horta tinha [...]!
O aluguel pegava maior parte do salário [...]. A casa de aluguel era uma tapera! Era
um purgueiro! Pelo jeito da casa [o aluguel] era caro [...]!
[O locador] ás vezes era uma pessoa que alugava casa e mudava para roça para as
terras dos outros [...]. As vezes mudava para ter uma vida melhor! Era pessoa que recebia
de enrança [a casa] que alugava! Os fazendeiros não tinha casa para locar! [Quem locava]
eram pessoas simples. Não tinha opção! Era difícil arrumar uma casa para alugar.
Foram seis anos de aluguel no centro. Quem ajudava na despesa era só nós dois. As
casas melhores eram mais cara! O aluguel era caro para todo lado! Tinha mais gente com
casa própria [na cidade]! Muita gente passava pelas mesmas dificuldades como a gente [...].
Quem tinha casa própria tinha condição melhor!
A falta de dinheiro impedia a compra de terreno. [...] Tinha terreno para comprar
sim! [Entretanto] Não cheguei a procurar porque não tinha dinheiro mesmo [...]! Na época
não tinha estas coisa de empréstimo! (09/03/2012)
Esta realidade é complementada também, por José Nicácio Filho (10/03/2012) que chegou a
migrar, em 1970, para outra cidade devido à falta de emprego em Nova Resende. Esta falta de
emprego estava atrelada com a estrutura econômica voltada para uma economia principalmente
leiteira e um centro urbano pouco desenvolvido que ofertava apenas empregos públicos e outros
temporários (babá, furador de foça e etc)
Eu casei em 1970, morei em Limeira-SP [e] paguei aluguel. Em 1975 mudei para Nova
Resende e paguei aluguel até consegui a minha casa. Fiquei vinte anos pagando aluguel!
Quando eu casei em 1970 eu morava na roça [perto da cidade] e fui para Limeira-SP. O
motivo foi arrumar um emprego para trabalhar! Meus cunhado morava lá [em Limeira] e
me chamou para ir para lá [...]. Ai eu comecei a trabalhar de pedreiro, passei a trabalhar no
posto de gasolina e depois tirei carta e comecei a fazer entrega no supermercado. Ai eu
voltei para cá [Nova Resende] comprei uma kombe [e] não deu certo [de trabalhar] ainda.
Ai eu comecei a trabalhar no posto de gasolina e depois fui trabalhar na aviação NASSA e
depois fui para prefeitura e agora! Eu aposentei em 2011 na prefeitura.
[Na época que eu fui para Limeira-SP] [...] emprego aqui [em Nova Resende] era
difícil arrumar. Para começar em 1970 para quem lembrar nem lavora de café tinha! Não
tinha igual tem hoje o café! Eu lembro que na região aqui nos campos, onde mora os
Zuanete, [e] na fazenda planalto não tinha café. A produção era meio largada. Depois
aumento a produção de café e Nova Resende cresceu como cresce hoje. E hoje tem
emprego! Porque eu mesmo aposentado eu estou trabalhando de novo [...].
Como vimos e confirmaremos na fala a seguir estas dificuldades encontradas na cidade eram
difíceis de as pessoas sanarem, pois não havia ajuda financeira através de politicas públicas como
tem hoje. Isso só foi acontecer em 1983 quando o prefeito da época elabora políticas para atender à
construção do segundo bairro da cidade: Bairro Dorinto Morato. O objetivo era doar as terras e
sanar os grandes problemas urbanos, como a grande taxa de mendigos e a alta especulação
imobiliária, decorrentes da crescente migração da população do campo para cidade. A maior onda
de migração do campo ocorreu a partir de uma forte mudança da estrutura econômica leiteira em
1983. Tudo isso pode ser retratado, com a explicação mais detalhada, na fala de José Nicácio Filho
(10/03/2012) que conseguiu um terreno neste bairro.
[Quando volto de Limeira e venho para Nova Resende pagar aluguel] [...] o aluguel era
barato. O difícil, na época, aqui em Nova Resende não era [o aluguel] caro. [ Este] se
tornava caro pelo o que a gente ganhava [...]! Se fosse hoje [...] o aluguel não tá barato não,
mais hoje eu posso falar pela prefeitura [que] é difícil alguém paga aluguel. Antes quando
eu entrei na prefeitura tudo pagava aluguel! Então o aluguel se tornava caro sim, [mas] pelo
tanto que a gente ganhava! Não sobrava nada [do salário]! Hoje o inquilino que paga
aluguel recebe o salário e emprega na casa! [...] Até hoje eu emprego meu salário na casa,
mais é minha! [...].
Na época do Nobral, em Nova Resende, não tinha como tirar (carteira de
habilitação). Caso eu não tivesse ido [para Limeira-SP] eu tinha que trabalha na roça! Não
tinha opção!
Naquela época que eu pagava aluguel. [o aluguel] era caro para todo mundo, porque
não existia renda! Na prefeitura até que pagava bem, mais tinha corrupção [...]. Mais era só
prefeitura [que dava emprego], mais nada [...]. E os comércios quem tocava era família! Era
difícil você ver funcionário. Opção de casa [para alugar] tinha, mais [era] cada uma quando
a gente procurava! [...] o problema de aluguel tinha dois motivo: Quando tinha uma casinha
ou ele [o locador] pedia a casa ou ele aumentava o aluguel. Nunca foi na minha casa para
dizer que ia abaixa o aluguel!
Quem locava a casa era normalmente a pessoa que tinha de sobra! Normalmente era
de casa que vinha de herança [e] pessoa da roça que tinha terra. As pessoas que eu paguei
aluguel tem casa para loca até hoje.
Tinha muita gente simples que recebia de herança e cobrava aluguel. Quem tinha
muita terra mexia com leite e não com o aluguel.
Eu posso dizer que pela turma de colega de trabalho lá na prefeitura [...] que foi em
80 [...] aquilo tudo pagava aluguel. E hoje acho que não tem quase ninguém que paga
aluguel! Porque ganha bem? Não! mais porque houve uma ajuda na época do prefeito Zebié
que deu os terrenos [para construir casa]. Então houve uma ajuda! Então houve Muita gente
[que] passo o que eu passei. Então com ajuda [...] principalmente de Deus, saímos do
aluguel [...].
Era no dinheiro! Na época não tinha opção de comprar [terreno] e também não tinha
dinheiro. Não existia nada de ajuda na época! Na época tinha uma ajuda da LBA para
compra cimento, tinha e também a doação do terreno.
6. A (RE) ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE NOVA
RESENDE- 1983
Como colocado na base teórica, o espaço está constantemente produzindo e reproduzindo
através de ações feitas pela vida social local que recebe influência de vários fatores, como a política,
econômica e geográfica, em diferentes escalas (local, regional, nacional e global).
E esta constante produção do espaço resulta uma particularidade espacial da localidade, que
no caso aqui estudado é o município de Nova Resende. Já vimos até aqui que Nova Resende vinha
adequando seu espaço de acordo com a economia predominante da época, que após a crise do café
em 1929, reproduz voltando-se para uma economia leiteira predominante.
Em consequência, dessa estrutura espacial leiteira, a população rural se vê forçada a migrar
para a cidade, como o meeiro que migra devido às dificuldades encontradas no campo. Isso fica
claro na fala de um meeiro que não se arrepende por ter mudado para a cidade mesmo enfrentando
muitas dificuldades.
[na cidade] fui pagar aluguel! Ai ficou melhor, por que tinha bastante serviço [...]. Ganhava
bem nas panha [colheitas de café]! Termina a panha tinha serviço o tempo inteiro se
quisesse trabalhar de capina. Isso foi 1978. [...] Quando nós viemos para cá [na cidade] nós
viemos morar no porão, pagando aluguel! [O dono da casa] era do cafundó, porem não era
parente. Ele era um fazendeiro médio! Ele, o Orlando, mexia com café na roça, ele era
vereador conseguiu um dinheiro e compro uma casa [...]! Depois nós maramos em outras
casas [...].
[Então] quando não tinha panha [colheita de café] era capina. [...] Acabo a troca [o
sistema de “trama”] e era trabalho por dia! [...] já tinha condição de comprar uma carninha
no final do mês! O dinheiro nunca sobrou, mais dava para come carne. [Fala do filho] [...]
minha mãe trabalhava na panha [colheita de café] [...]! Eu não trabalhava eu era pequeno.
Não foi muito tempo que nós ficamos pagando aluguel não! depois nós construímos uma
casa! [...] Depois eu casei que vim para cá [para Vila Dorinto Morato]![...] Meu pai depois
vendeu [a casa] e veio morar aqui comigo! [Fala do pai] A casinha [da cidade] era muito rui
era ali na baixada, para fazer a casinha nós vendeu as terras da mulher [esposa] [que era] os
seis litros [de terra]. Nós ficamos mais ou menos uns quatro anos pagando aluguel. Nos não
queria voltar não ( para roça)!
Portanto, a migração maior só veio a ocorrer devido, principalmente, à elaboração da lei
trabalhista nº 5.452, de 1º de Maio de 194315
e o fortalecimento da produção de café no município.
A partir daí, inicia-se uma nova estrutura do espaço do município, que começa a transitar para uma
economia cafeeira predominante.
Em suma, diante de tantas produções e reproduções tanto do campo como da cidade se vê,
em relevância, formar a primeira (re)estruturação do espaço urbano de Nova Resende, abordada
neste trabalho, que ocorre em 1983 com o surgimento de dois principais símbolos espaciais: o
primeiro, o surgimento do Bairro Dorinto Morato para atender a primeira migração, que já
enfrentava na cidade dificuldades com o aluguel e falta de emprego, e a segunda maior migração da
população rural; e segundo, a instalação da Cooperativa Cooxupé.
6.1. LOCALIZAÇÃO DA POPULAÇÃO MIGRANTE DO CAMPO
Como já foi dito, 1983 marca a primeira (re) estruturação do espaço urbano por
consequência da migração campo/cidade que ocorre devido a dois principais motivos. O primeiro,
decorrente da própria estrutura leiteira, predominante, da época; e o segundo devido,
15
Em 1943, o Presidente da República Getúlio Vargas elabora a lei trabalhista nº 5.452, de 1º de Maio de 1943 que
garante os direitos dos trabalhadores rurais frente aos seus patrões, como o direito ao Salário mínimo que segundo essa
lei Art. 76, p.12: [...] é a contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo empregador a todo trabalhador,
inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada
época e região do país, as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte.
principalmente, à lei trabalhista de 1943. Para tanto, o prefeito da época vê como causa de urgência
a construção do loteamento de casas populares Vila Dorinto Morato com o objetivo de ajudar essa
população carente vinda do campo.
A migração campo/cidade é comprovada quando analisamos os quatro gráficos a seguir, que
confirmam a necessidade de construir a vila Dorinto Morato:
Gráfico 1 – Forma de Acesso a Habitação Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela Pereria e Silva
Gráfico 2 – Motivos que levaram a residir na Vila Dorinto Morato Fonte: Trabalho de campo realizado por
Gabriela Pereria e Silva
0 20 40 60 80 100 120
Doação
Troca
Aluguel
Compra
Não consta
total
Forma de Acesso a Habitação
%
0 20 40 60 80 100 120
Em Busca da Casa Própria
Trabalho
Saúde
Não consta
Motivos que levaram a residir na Vila Dorinto Morato.
%
Gráfico 3 – Origem da Migração Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela
Pereria e Silva
Gráfico 4 – Fluxo de Migração por ano para Vila Dorinto Morato Fonte: Trabalho de campo realizado por
Gabriela Pereria e Silva
Como mostram os gráficos, entre as pessoas residentes em 2010 na Vila Dorinto Morato,
30% migraram para a cidade entre os anos de 1975-1989 e 41% entre os anos de 1989-2003. Isso
comprova que houve dois grandes fluxos migratórios que ocorreram por motivos diferenciados. O
primeiro foi decorrente da lei trabalhista de 1943 que só foi causar problemas urbanos em 1983; e o
segundo, como será desenvolvido mais adiante, ocorrerá em 1990 devido à modernização do
campo.
No total desses habitantes, 44% receberam os terrenos através de doações (ver gráfico 1)
devido, principalmente, às dificuldades encontradas no espaço rural e com o objetivo de realizar o
sonho da casa própria (ver gráfico 3). Sendo que 41% têm origem camponesa e 35% veio do
espaço urbano e pagava aluguel. Considerando que este último também veio do campo, mas devido
às dificuldades desenvolvida pela própria estrutura leiteira anterior a 1943.
Portanto, ao analisar os gráficos tem-se a confirmação da incidência de dois grandes fluxos
migratórios que permeiam, junto a outros, nesses últimos vinte e nove anos, na formação de duas
grandes (re)estruturações do espaço do município de Nova Resende.
0 20 40 60 80 100 120
Zona Rural
Migrante
Centro(pagava aluguel)
Urbano(não pagava aluguel)
Não consta
Total
Origiem da Migração
%
0
10
20
30
40
1933:1947 1947:1961 1961:1975 1975:1989 1989:2003 2003:2017
Fluxo de Migração por ano para Vila Dorinto Morato
%
6.2. TRANSIÇÃO DE UMA ESTRUTURA ECONÔMICA LEITEIRA PARA
A CAFEEIRA
Como referindo acima, a lei trabalhista n° 5.452, de 1° de Maio de 1943, causou enormes
mudanças na estrutura espacial do município de Nova Resende, formado até então pela economia
leiteira. Os fazendeiros demitiram seus colonos, pois agora ficava caro mantê-los dentro de sua
propriedade, e passaram a contratar por dia, sem dar garantia de emprego aos seus trabalhadores,
que agora, eram temporários. E os colonos migram para a cidade sem dinheiro e sem morada,
encontrando muitas dificuldades. Esta passagem se comprova na fala do colono Maria Manuelina
da Silva (09/03/2012), que passou muitas dificuldades migrando para a cidade em consequência de
ter sido demitida.
Eles [o patrão] queriam vender as terras e nós morávamos de favor dos outros [...]! Naquele
tempo o povo precisava da gente para trabalhar e dava casa para gente morar. Mais [...]
depois eles falou que não queria aceitar nossa proposta mais. Achava melhor vender! Mais
não vendia nada! Era só para poder se ver livre da gente. E até hoje tem umas casinhas boa
lá para morar e não dá para ninguém morar! [...] Não queria saber de colônia mais! [...] foi
um povo para uma banda [e] outro para outra. Foi desse jeito! Os que tinham dinheiro para
comprar casa, compravam! Os que não tinham, pagava aluguel! Nós mesmos pagamos
aluguel muitas vezes. As vezes não tinha dinheiro nem para fazer compra e fazer almoço.
Tinha que dar para pagar aluguel e ficava sem nada para comer.
[Então] eles acharam melhor pegar o povo na cidade, de turma [para trabalhar].
Quando nós morávamos lá na colônia a responsabilidade era muita! Nós moramos em cada
casa horrível! Até rebocava o chão para as crianças não sujar, sabe! Agora se for para mora
nas casas que a gente morou o povo ferra [...] [o patrão]. Hoje não pode! Então eles
acharam melhor vender e puxar os outros para trabalhar! Quando nós morávamos lá não
puxava panhador [pessoas para colher o café]! Nem nós! Tinha que ir de a pé! Ir e volta!
Tinha dia que dava aquela dor na perna que a gente até pousava no meio do café memo.
Estava nem aguentando andar e a gente tinha que trabalhar! Sem pode reclamar! Tinha dia
que estava doente e tinha que ir assim mesmo [trabalhar]! Agora hoje não! A gente tem a
casa da gente tem liberdade não é igual de primeiro.
João Gonçalves Sobrinho (16/03/2012), que viveu em colônia no Bairro Serra do Forno por
três anos, também explica como acabaram as colônias nas fazendas.
[As colônias nas fazendas acabaram quando] saiu uma lei que o povo começa a contar tempo
[...]! Quem morasse no sítio a hora que saísse o camarada levava o patrão na lei para cobrar o
tempo! Ai nisso foi zangado [atrapalhando]! Essa lei saiu a favor dos camaradas, mais para
mim saiu ao contrario! Ela prejudicou o trabalhador! O patrão já começou! Porque agora levar o camarada para o sítio e lá depois na hora
de [ir] embora o camarada levava o patrão na lei. Se bobiar [brincar] toma até o sitio do
patrão! Isso aconteceu com muitas pessoas!
Ai foi na onde o patrão foi cortando! Não teve como ajudar mais (o empregado)!
Foi na época que eu comecei a ganhar salário. Até na época eu [já] sai do sítio [e] fiquei dois
mês na cidade. Estava muito bem lá [...]! E o patrão foi lá [na minha casa na cidade] [...] para
mim trabalhar para ele na lavora de café. Eu voltei! [...]. [...] Ele chamo [eu] até lá no
sindicato [...] para nós acertar. [...] eu falei para ele : o que eu trabalhei eu já recebi! [...] Ele
falo: Não! Você tem um direito lá! E tá lá no sindicato para o senhor recebe! [...] eu fui lá no
sindicato e falei: Não, Não quero nada!! [...] ele falo: o dinheiro tá aqui! Vô arrumar os
papéis para você assinar! Eu falei que o que eu trabalhei para ele eu já recebi! E tá tudo
certinho! Eu devo obrigação demais para ele! E falei lá dentro do sindicato: o que ele fez para
mim nem meu pai fez! O povo ficou tudo cismado falando: ele é bobo!
[...] O emprego continuou a mesma coisa. [...] O negócio era o seguinte: você ia
trabalhar uma semana para um patrão [e] uma semana para o outro patrão. [...] O patrão já
não começou a manter o camarada direito o ano inteiro no serviço sabe. Trabalhava uma
semana para um e a outra para o outro patrão e recebia pouco. [...] Essa época também era
difícil até para o patrão! Porque estava começando a lavora [de café]. Era a época mais difícil
para os patrões! Quando estava na época da panha [colheita] a lavora, se brincar com ela, [...]
come tudo que você faz. O café você tem que pagar o preço que o camarada quer! Se não
você não panha [colher]!
[...] saiu uma lei na época que tinha uma taxa na cooperativa. Veio uma para cá
[Nova Resende] até na época da safra para contratar camarada para você poder panhar
[colher] café. Tinha que registrar! O povo daqui não era acostumado! Era colônia. Até hoje
ninguém trabalha por salário! É cada um para si! [...] (com a lei) diminuiu um pouco os
emprego! Quem estava na roça saiu em bora para cidade. Se o patrão desse o direito do
camarada trabalhar o ano inteiro. Ele tinha uma responsabilidade em cima das costas dele!
Agora não! Se trabalhar uma semana para um [e] outra para outro o patrão não tem
compromisso com você. Ele (o patrão) vai da só o direito do camarada! O camarada mora na
cidade e o dia que tiver um servicinho para ele [...] vai lá (na roça) e trabalha!
[...] Foi apertando o povo! Foi saindo da roça, porque não tem como o patrão levar o
camarada lá na lei! O que vai fazer! Tem que pagar a lei hoje! E hoje o povo ai na cidade
passa aperto, porque não tem onde morar. Antes tinha uma fazenda para você morar! Agora
hoje não, hoje o cara paga o aluguel da casa [e] daqui a pouco não tem jeito de tira ele da
casa, porque ele não tem condições.
Entretanto, não foram somente os colonos que ficaram sem garantia de trabalho mas,
também, trabalhadores assalariados, como as catadeiras de café que trabalhavam para a família de
Alaor Firmino no beneficiamento do café16
. Estas acabaram indo embora, pois a taxa de desconto
em seus salários tornava-os muito baixos a ponto de não compensar trabalhar no estabelecimento.
Isso fica claro na fala de Alaor Firmino que declara fechamento do estabelecimento para beneficiar
o café, que funcionou de 1930-1960, devido à falta de trabalhadores.
Simplesmente parou (com a catação)! Chegou a registrar um pouco das mulheres!
Só que elas não quiseram mais e foram em bora. Elas não queriam mais, porque tinha que
pagar o NPS! Tirava (do salário) 8% do camarada e 12% da patroa! Era 20% que tinha que
paga de NPS! Se eu registro elas 12% eu pago e 8% tira do ordenadinho delas! Só que
depois recebem (de volta). Tinha muitas crianças que catavam o café e não podiam mais
catar o café! As mães levavam as crianças para catar café! É igual hoje que não pode levar
mais para as panhas (colheita do café).
[..] não teve muito prejuízo para nós! Só que não catou mais café e vendia o café
mais barato. Então tinha um prejuízo, por que quando catava o café vendia o café limpinho.
Mais papai não tinha muito prejuízo! Descontava na saca de café quando ele comprava. [...]
o produtor vendia o café (para nós) mais barato. Papai falava: agora não posso mais catar
café! [...] descontava no preço (da venda do café para o papai)! [...] eles (os produtor)
achavam ruim! [...] o papai largou mão (e fechou o estabelecimento)!
Entre tantas revoltas de colonos e assalariados encontram-se pessoas que se beneficiaram,
depois de algum tempo, com as consequências da lei trabalhista e mudaram de vida, como o
ordenhador Zoaldo Donizete (10/03/2012) Madeira que só conseguiu juntar dinheiro e construir a
casa própria, localizada no Bairo Dorinto Morato, depois que trabalhou no café temporariamente.
Isso se confirma nas suas próprias palavras:
Nós apanhávamos [colhíamos] café para todo mundo! [...] vai uma semana para um [e]
outra para outro, porque quando nós trabalhávamos de retireiro [ordenhador] a gente tem
que morar lá [na fazenda]. [...] quando eu estava morando aqui não estava trabalhando de
16
Ver figura 3 em anexo
retiriero [ordenhador] mais! Trabalhei cinco anos [de ordenhador] num sitiozinho, em 1994
até 1998, indo para Muzambinho e depois em 1996 acabou as vacas e ainda fiquei um
tempo lá. [...] [Depois] eu vim para cidade! [...] eu já tinha a casa aqui [na Vila Dorinto
Morato] estava esperando terminar a casa pagando aluguel. O que me ajudou mais a
construir a casa foi mais trabalhando no café do que de retireiro [ordenhador].
Assim, desde 1943, devido principalmente à lei trabalhista, veio aos poucos (re)
estruturando-se o espaço do município de Nova Resende voltando-se, lentamente, agora, para uma
economia cafeeira, que floresce, intensamente, mais tarde, diante de incentivos provocados pela
modernização do campo, trazendo mais garantia financeiramente ao produtor que
consequentemente aumenta suas lavouras e produção. E toda essa (re) estruturação causou na
cidade muitos problemas urbanos que explodiu em 1983 quando o prefeito José Gabriel Cardoso
(26/12/2009) se sentiu na obrigação de elaborar políticas públicas para sanar os problemas. Como
se resume a explicação do prefeito da época.
Em 1983, foi uma época de mudanças e crescimento para o município de Nova
Resende. Época da inauguração do hospital, da Cooxupé e junto à vila Dorinto Morato.
A vila foi construída pelo fato da exploração excessiva das imobiliárias. O aluguel
era muito alto para a renda da população. No terreno17
que a vila se localiza já era da
prefeitura que tinha projeto para construção de casas populares. Tal projeto não foi
realizado, pois a CAIXA estava sem verba.
Diante disso José G. Cardoso formulo um novo projeto: A CASA MULTIRÃO.
Tal projeto foi realizado com a ajuda da prefeitura, que fez doação de madeira, e do LBA.
O início da construção do Bairro Vila Dorinto Morato ocorreu em 1983. Sendo que cada
morador ergueu suas casas, que no total são 50, com terrenos e madeiras doadas pelo
projeto e no momento só havia luz e não tinha água tratada, asfalto, esgoto e etc.
O terreno escolhido para a construção foi intencional, pois na mesma época estava
sendo construindo o hospital, que situa do lado da Vila. Este necessitava da implantação
obrigatória da rede de esgoto. Aproveitando isso, já no mandato de Paulo Geraldo Cardoso
(1993- 1997), ligaram a rede de esgoto para toda a Vila, concluindo sua infra- estrutura no
mandato do Mauro Roberto Martins (2001-2005) , com o asfalto. A partir daí a vila só veio
a se valorizar. Hoje um terreno com casa vale em torno de 50mil e só o terreno 20 mil para
cima.
Tais problemas públicos só vieram a crescer devido, também, à migração que já vinha
ocorrendo muito antes daquela maior que teve início em 1943. Esta última veio intensificar os
problemas urbanos, pois eram muitos os colonos, na época, que foram mandados embora aos
poucos das fazendas por consequência da lei trabalhista. O ordenhador Zoaldo Donizete Madeira
(10/03/2012) relata, mostrando, a quantidade expressiva de colono frente aos camaradas, que
também moravam nas fazendas:
Era comum na cidade ver muito colono. Principalmente nas grandes fazendas!
Aquela carreira de casa para morar de colono era só nas grandes fazendas, nos sítios não
tinha! Não tinha muito retireiro [ordenhador]. Eram poucos! Era mais colono! Para ser um
[ordenhador] tinha que ter um certo conhecimento, não bebe cachaça [e] tinha que faze o
serviço direitinho. Não era qualquer um!
17
Este terreno primeiro foi do Dorinto Morato, que duo para o Asilo. Depois, o Asilo vendeu para a prefeitura com a
intenção de arrecadar verba para construção de seu pavilhão.
Como já vimos, anterior a 1943, a cidade não oferecia muitos serviços públicos como
emprego, mas mesmo assim esses problemas ainda eram controlados, pois a população urbana
ainda era muito menor que a rural. Assim, quando recebeu uma grande maça de pessoas do campo,
que foram aos poucos se acumulando na cidade, surgiram problemas urbanos, que antes não eram
tão gritantes, como a falta de moradia e emprego. Nesta época, havia um total populacional de
9.936. Deste total, 3.638 de habitantes moravam na cidade e 6.298 na zona rural. Entretanto, mesmo
com um maior índice de pessoas vivendo no campo, houve com a massa populacional migrante do
campo, pressões para que forçassem a (re) estruturação do espaço urbano na tentativa de se
atenderem todas essas pessoas que passavam por dificuldades na cidade.
A oferta de trabalhos na cidade se torna problema agora, porque levando-se em consideração
dois itens: Primeiro, as lavouras de café eram ainda muito poucas em comparação com as
pastagens; e segundo, os serviços oferecidos, pela economia leiteira eram poucos e menos
lucrativos para o trabalhador comparados aos fornecidos pela agricultura cafeeira mais tarde.
Os serviços oferecidos no café só vieram a melhorar quando os produtores receberam certos
incentivos através do aumento do preço da saca do café, em 198618
, e acesso aos insumos
industriais e novas técnicas de manejo, como o adubo e o trator respectivamente, que só veio ser
usado, primeiro, pela elite da cidade entre o período de 1965-67. Isso pode ser observado na fala de
Rosendo Filho (02/06/2012) que conta como seus camaradas reagiram ao verem colocar pela
primeira vez o adubo químico no milho.
Eu plantei milho em torno de 1965 a 1967 e a gente pegava esterco de vaca no meio
do pasto [e] punha um pouquinho na cova do milho. E eu fui umas das pessoas que usei
adubo! Todo mundo, o pessoal que trabalhava na fazenda do meu pai, morreram de ri.
Acharam uma loucura da minha parte quando eu cheguei com dois saquinhos de amônia
para por no milho! Acharam que eu estava perdendo o juízo! Onde já se viu aquele troço, a
uréia, vai colocar no meio do milho e fazer cresce. Isso ai eles fizeram criticas, disseram
[...] que eu estava ficando louco!
Se eu não me engano! Eu comprei em Muzambinho (esse adubo) e mesmo assim
comprei pouco para experimentar, porque eu também tinha medo! Eu não sabia se aquilo
ali ia funciona direito e se matasse todo o milho da minha roça? O prejuízo era muito
grande! Então eu coloquei numa parte para ver o desenvolvimento e a coisa foi um
espetáculo! E os outros diziam que isso era coisa do capeta, do demônio! Como pode fazer
crescer deste tanto! Então as pessoas mais ignorantes achavam que aquilo era coisa do
demônio!
Eu arei muita terra com boi puxando o arado! Quando nós compramos o trator que
foi o segundo trator que entrou em Nova Resende. Quando nós chegamos com o trator aqui
o povo tirou sarro! Falou que era um absurdo andar com um troço desse de pneu no meio
do pasto para arar terra. Muita gente via a gente arar e não acreditava! Isso já foi em 1967 a
1968. [...] no ano seguinte os vendedores da região começaram a vender adubo aqui [...]!
18
Segundo JEAN STEPHANO GOULART, 2009, O café teve seu pico máximo (entre o período de 1979-
2009) em janeiro de 1986 atingindo o preço de R$1.619,87 por saca. Na safra 1986/87 a produção brasileira foi de 13,5
milhões de sacas e em 1987/88 de 42,9 milhões de sacas conforme a Conab (2008). Após cinco anos, em 1992, com
mais uma produção elevada (24 milhões de sacas) o café atinge seu menor valor em agosto do mesmo ano (R$148,14).
Em 1967, os sitiantes ainda colocavam esterco de vaca no café e só foram ter acesso ao
adubo químico e outras novas técnicas de manejos mais modernos no final da década de XX. Isso
fica claro no relato de um sitiante:
Não tinha maquinário! No começo não punha adubo no café! Era bosta de vaca
mesmo. Faz vinte e seis anos para cá que eu ponho adubo e veneno. Sem por adubo,
veneno, suprimento, essas coisas. Se não por! Cai [o café]! Parece que o café vai
murchando, morrendo [e] não da café! Agora não! Nós pomos [suprimentos químicos]! Ele
[o pé de café] da bastante café [grão]. Fica verdinho [ o pé de café]! No começo o adubo até
que não era muito caro não, [...] depois deu uma alta! Mais sobra muito [café]! A gente que
trata do café bem tratado da bem [café] para gente (10/03/2012).
Portanto, o aumento tanto da lavoura como da produção de café só alcança seu auge após a
revolução verde, que segundo o ecologista Carlos Vicente19
tem “início em 1960 e se acentua em
1990”. Tal revolução possibilitou inovações no campo com o desenvolvimento de sementes
adequadas para tipos específicos de solos e climas, adaptação do solo para o plantio e
desenvolvimento de máquinas. Essas inovações só atingiram os produtores menores, como os
sitiantes, após 1990. Isso se comprova na fala de um sitiante que só teve acesso ao adubo quando
abriu, em Nova Resende, a sede da Cooperativa Cooxupé em 1983.
Nós só começamos por adubo lá na roça quando tinha a Cooperativa Cooxupé e a Verde
Grão. O primeiro adubo que comprei foi na Cooxupé! Essa [cooperativa] dava
financiamento para comprar o adubo (10/03/2012).
A fala do ordenhador Zoaldo Donizete Madeira (10/03/2012) mostra as melhoras na lavoura
de café depois do acesso às inovações da revolução verde.
Em 1990 não tinha nada de maquinário para colher o café, mais trator, adubo estas
coisas tinha! Antes quando não tinha tanto [inovações] para cuidar do café como tem hoje,
aquelas coisas de aplicar no café, quando terminava de colhe o café de cinco anos ficava
mortinho! Parecia que tinha morrido tudo [os pés de café]! Hoje não quando termina de
colher uma lavoura desta daí tá boa! tá verdinha! fica a mesma coisa! Já tinha adubo antes
de 1996 depois que teve mais acesso! [Em] 1990 os mais ricos já tinham adubo e veio
melhorando os recursos para o café até 1998 [ano que] deixa as vacas [e passa a investir
mais em lavouras de café]. [Dai por diante] Adubo todo mundo tinha!
Em suma, a (re) estruturação do espaço percorreu todo o município de Nova Resende a
partir da vigência da lei trabalhista de 1943, passando da predominância de uma economia leiteira
para a cafeeira. As mudanças foram muitas e fáceis de serem notadas no espaço urbano, através,
principalmente, da construção do Bairro Dorinto Morato e da implantação da sede da Cooperativa
Cooxupé. Após essa primeira (re) estruturação do espaço urbano, o município passa a se
desenvolver a partir, especialmente, do preço do café e começa a moldar a segunda (re) estruturação
urbana que se inicia a partir de 2009 com as primeiras mudanças notórias no espaço.
19
O ecologista Carlos Vicente participa de uma entrevista na UOL sobre “Revolução verde: uma promessa fracassada”,
disponível no site: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=12909&cod_canal=49
7. A (RE) ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE NOVA
RESENDE- 2009
7.1 GLOBALIZAÇÃO E TRANFORMAÇÕES NO ESPAÇO INTRA-
URBANO E INTER-URBANO.
Como já citado na base teórica com a nova era do capital: Globalização, o espaço se
transforma de forma distinta. Em específico na pequena cidade, há criação de novos centros urbanos
e a (re)funcionalização das já existentes. Com a (re)funcionalização, a pequena cidade pode
estagnar ou promover uma nova economia, que vai defini-la como “cidade do campo” ou “no
campo” dependendo da especialização desta. No caso estudado, haverá a (re)funcionalização urbana
com a especialização na confecção de lingerie, mas sem a extinção da economia cafeeira
predominante.
Esta nova especialização fará com que uma nova estrutura urbana seja projetada no espaço.
E para compreender esta nova especialização, daremos o nome a está nova projeção de segunda (re)
estruturação urbana, que modificará o espaço urbano de Nova Resende em três aspectos: consumo
(implantação da confecção e valorização dos terrenos ao seu redor – aumento da demanda por
cômodos de aluguel), produção (verticalização e surgimento de novos lotes) e circulação
(polarização regional e competição com Juruaia) do espaço. Entretanto, não é apenas esta nova
economia que proporcionará pontos de mudança neste espaço urbano, mas também, a modernização
do campo e aumento populacional urbano; e polarização indireta de Juruaia-MG.
7.1.1 O ESPAÇO INTRA-URBANO
7.1.1.1 AUMENTO POPULACIONAL URBANO
O aumento populacional urbano está diretamente relacionado com a modernização do
campo. Como já vimos na base teórica, a modernização do campo é uma das novas mudanças
provocadas pela globalização e que atinge cada lugar em graus e tempos diferenciados. Em Nova
Resende, as consequências da modernização só ganham maior visibilidade, hoje em 2012, com o
aumento de máquinas coletoras de café, por exemplo, que diminuem o tempo da colheita e oferta de
trabalho braçal.
Um senhor e seu filho20
(entrevistados dia 15/03/2012), trabalhadores rurais temporários e
residentes na cidade, que juntos conseguem boa parte do sustento de sua família na época da
colheita do café, percebem que neste ano diminuiu muito a oferta do trabalho, na colheita do café
20
Morador, número 7, do Bairro Vila Dorinto Morato em 2012.
que é colhido mais rapidamente, ocupando pouca mão-de-obra, consequentemente, há redução do
dinheiro retirado da colheita para passar o ano, mesmo que utilize a maquininha manual de colher
café. Segundo o mesmo senhor, isso ocorreu pelo aumento de maquinários utilizados na colheita do
café, como a coletora empregada nos lugares mais planos do município. Em decorrência desta
mecanização, foram oferecidos na maioria das lavouras, localizadas perto da área urbana, somente
lugares muito íngremes para coleta manual. Assim, além de diminuir a oferta de emprego, diminuiu
também, de certa forma, o rendimento do serviço manual para quem tem problemas na coluna, por
exemplo, devido às áreas oferecidas. (Entrevistado dia 05/07/2012)
Luíza Divina da Silva, filha de administrador de fazenda e migrante do estado de São Paulo,
desde 1986 acompanha em Nova Resende as transformações no campo e, também, visualiza hoje, a
modernização nas lavouras de café, diminuição do emprego rural e redução de tempo de serviço.
Desde que nós viemos pra cá (Nova Resende) foi com o trator, adubo, veneno essas
coisas forte que ele (meu pai) punha no café [...]. Inclusive quando nós mudamos o café
estava seco! Não tinha uma folha no café! [...] o proprietário já mando comprar veneno,
compra adubo e foi cuidando. De repente, o [pé de] café ficou verdinho! Já brotou e
começou a produzir só com adubo, veneno [e] trator. Só isso!
Teve muita falta de emprego [...]! Veio o trator [...]! O serviço que um trator faz
quantos homens podia tá lá fazendo. Rua mesmo no café meu pai arruava só com o trator.
Lá ainda tinha um pouquinho de serviço, porque tem lugar que o trator não entra [trabalha]
[...]. Mais era muito pouco os lugares que precisavam de gente! Depois disso ai já começou
a vim [ter acesso a] quantos implementos de trator [...]. [...] o feijão, antigamente, você
plantava o feijão tudo na mão [e] agora não! Já tem um negócio que vai lá arrancar o feijão!
O algodão já tem um negócio que apanha [colhe]! O milho tem a apanhadeira! Lá mesmo
na onde nós morávamos [na primeira fazenda] muitas vezes já ia a apanhadeira de milho
[que] já ia quebrando e já saía tudo pronto [...]! Na segunda fazenda já mexia [plantava]
mais com café! Depois logo já veio as apanhadeiras de café! Tirando o ganho de quantas
pessoas! Agora olha aqui! Eu mesmo apanhei [colhi] café em Nova Resende! Em
novembro era horário de verão ainda estava apanhando [colhendo] café. Agora o máximo
que da para apanha [colher] café é setembro [...]! Por causa das apanhadeiras [de café]!
Entretanto, estas consequências da modernização do campo já vinham sendo desenvolvidas
e trazendo dificuldades para pequenos produtores rurais. Em 2008, há manifestação por empregos
desvinculados do campo por alguns camponeses que sentem a necessidade de prevenir dificuldades
em tempos de instabilidade econômica do café, pois com a modernização do campo, desvincula o
agronegócio, que mantém as primícias do capitalismo e dificulta a vida de pequenos camponeses. E
esta manifestação contribuiu na progressão das confecções de lingerie em Nova Resende que serão
melhor explorada a diante.
Outro fator que revela a modernização do campo em Nova Resende é a análise da tabela 1, a
seguir, que mostra a redução populacional do espaço rural e o aumento, desta no espaço urbano no
decorrer dos anos. Esta redução populacional no campo é resultante da migração campo/cidade de
camponeses que buscam uma vida melhor devido às dificuldades enfrentadas no campo, como a
falta de emprego.
Tabela 1 - População Residente no município de Nova Resende-MG
ANO
POPULAÇÃO URBANA
POPULAÇÃO RURAL
TOTAL
1980 3.638 6.298 9.936
1991 5.272 6.470 11.742
2000 7.118 6.769 13.887
2010 8.858 6.516 15.374
Fonte: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?ibge/cnv/popmg.def
Ao analisar a tabela 1, observa-se que em 1980 a população rural era predominante sobre a
urbana com diferença de 2.660 pessoas morando no campo. Já no ano de 2000, a população urbana
ultrapassa a rural com diferencial de 349 habitantes de um total de 13.887 habitantes no município.
Percebe-se que houve um aumento populacional urbano em relação ao rural em 2000 e após
este ano só vieram concentrar pessoas no espaço urbano. Observa-se que os primeiros indicadores
de um novo espaço rural, como a procura de empregos desvinculado do campo, ocorre após o ano
de 2000 e adensa a medida que o campo se moderniza e obriga muitas pessoas a migrarem para a
cidade.
Em suma, a modernização do campo em Nova Resende chegou recentemente, apesar de ser
visível no espaço Brasileiro, como apontam muitos autores, a partir da revolução verde em 1960.
Neste município, tal modernização é visualizada através de dois indicadores: primeiro, através de
manifestações por emprego desvinculado do campo, como a confecção de lingerie, na tentativa de
sobreviver neste novo espaço rural e, também, recentemente, através da diminuição da
disponibilidade de empregos e tempo de serviço na colheita do café, que é considerada para muitas
pessoas residentes na cidade como a principal garantia da renda familiar; Segundo, por identificar a
contínua retração da população rural e concentração de pessoas na cidade na medida em que se
acentuam, num mesmo espaço de tempo, as mudanças no campo e, consequentemente, seus
resultados, como o primeiro indicador já citado anteriormente.
7.1.1.2 NOVAS FUNÇÕES Nova Resende (re) estrutura seu espaço urbano especializando-se em uma nova economia:
confecção de lingerie, mas não deixa de existir a economia cafeeira que ainda é forte no município.
Esta nova economia surge a partir de quatro motivos principais:
Primeiro, como um complemento de renda, de uma pequena parcela da população de classe
média baixa urbana, que vê este novo ramo como um meio de garantir e complementar a renda
familiar; Segundo, pela falta de emprego na zona rural e a procura por empregos desvinculados do
campo, com tentativa de se manter no novo espaço rural; Terceiro, como oportunidade profissional
compatível aos afazeres de donas de casa da cidade; e por último, por influência indireta do
município de Juruaia-MG que se faz por meio da publicidade do curso magistral, voltado para a
confecção de lingerie, atraído pela economia desenvolvida, há mais tempo, neste município.
7.1.1.2.1 NOVA ECONOMIA COMO COMPLEMENTO DE RENDA
FAMILIAR PARA UMA PEQUENA PARCELA DA CLASSE MÉDIA BAIXA
URBANA.
A complementação da renda familiar, vinda principalmente do café, através da confecção de
lingerie é uma alternativa que nasce através de uma parcela menor, da classe média baixa que passa
por instabilidade financeira, principalmente, entre os anos de 2008 e 2009. Isso se confirma através
dos dois seguintes dados: Primeiro, aponhamos nos gráficos a abaixo que mostra a instabilidade
financeira, desta parcela populacional entre os períodos supramencionados, a concentração destas
num mesmo período na inserção da prática de confeccionar lingerie e a forte dependência da renda
retirada do campo.
Gráficos voltados para lojas de lingerie de Nova Resende (coleta de dados a partir do dia 07/12/2011
até 23/12/2011)
Gráfico 5- Antes de confeccionar você tinha uma renda estabilizada? Fonte: Trabalho de campo realizado por
Gabriela Pereria e Silva
Sim
Não
Total
0 20 40 60 80 100 120
Antes de confeccionar você tinha uma renda estabilizada (tinha uma vida tranquila sem a necessidade de outra fonte de renda)?
%
Gráfico 6- Em que ano você aprendeu a fazer lingerie? Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela
Pereria e Silva
Gráfico 7- Hoje, a confecção emprega a família inteira? Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela
Pereria e Silva
Gráfico 8- Se não, qual outro tipo de emprego sua família participa? Fonte: Trabalho de campo realizado por
Gabriela Pereria e Silva
Observamos que desta população urbana de classe média baixa, que hoje mantém loja e
confecção, de um total de 13 proprietária de lojas entrevistadas, das 18 existentes em 2011, 69,23%
dos proprietários destas confecções não mantinham uma renda estabilizada, anterior à nova
economia, que era retirada do café (ver gráfico 5) e 40% iniciaram a prática de confeccionar nos
anos de 2008 e 2009 e o restante desconcentra em diversos anos ( ver gráfico 6).
Ao analisarmos os gráficos 7 e 8, entendemos que 90,69% das famílias dos proprietários não
retiram renda através somente desta nova economia, mas também da zona rural na própria chácara
No ano de 1985
No ano de 1992
No ano de 1998
No ano de 2000
No ano de 2004
No ano de 2005
No ano de 2007
No ano de 2008
No ano de 2009
Total
0 20 40 60 80 100 120
Em que ano você aprendeu a fazer lingerie?
%
Sim
Não
Total
0 20 40 60 80 100 120
Hoje, a confecção emprega a família inteira?
%
Marcaram mais de um tipo de emprego
Marcaram somente um tipo de emprego
Total
Na zona rural(trabalho temporário)
Na zona rural em minha própria chácara produzindo somente pra o gasto básico familiar
Meu marido e f ilhos trabalham na própria lavoura de café
Na cidade em serviços temporários
Na cidade em serviços f ixos
Na cidade em nossa loja voltado para outro tipo de comércio
Outros
Total
0 20 40 60 80 100 120
Se não, Qual outro tipo de emprego sua família participa? Pode assinalar mais de uma opção.
%
produzindo somente para o gasto e da própria lavoura de café, sendo respectivamente 41,18% e
23,53% do total. Nesta última porcentagem, devemos levar em consideração que a maioria dos
entrevistados retira sua principal renda do campo e não tem diversidade de fonte de renda, já que
somente 30,77% apontaram mais de uma opção.
Segundo, é neste período que esta pequena parcela da classe média baixa interessada nesta
nova economia, corre atrás de cursos, em Juruaia-MG, para melhorar a especialização dos
interessados na área como recorda uma proprietária de loja e confecção de lingerie que teve um
papel importante no crescente desta nova economia.
Apareceu em Nova Resende uma propaganda do curso magistral do Paraná (20,00 inscrição
e 150,00 o curso de 8 horas). Como vi que a demanda foi muito grande, várias pessoas se
inscreveram, fizeram o curso e não aprendeu nada. Sentindo a necessidade de ajudar as
pessoas procurei a presidente da ACINOR Silvia Helena e fomos até Juruaia buscar
alternativas, conseguimos a instrutora e como na época eu era presidente do grupo Alegria
de Viver e emprestamos o clube para montar o curso. E daí para frente muita coisa tem
mudado. (Entrevista feita em 2011)
Assim, esta pequena parcela da classe média baixa é considerada aqui como fator principal
que engendrou esta nova economia no município dando acesso á profissionalização nesta área.
Entretanto, esta pequena parcela da classe média baixa não atuou sozinha, pois como já citado
acima, na fala da proprietária de loja e confecção de lingerie, havia uma demanda muito grande de
interesse pela área de lingerie. Por isso, houve a participação de outra parte desta classe social,
também interessada nesta nova economia, pertencente ao campo e, também, à cidade. Tais partes
ingressaram nesta nova economia por dois motivos distintos: Primeiro, pela falta de emprego rural e
a procura por empregos desvinculados do campo, com tentativa de se manter no espaço rural; e por
último, por uma forma de conceder interesse próprio às donas de casa que viram na confecção de
lingerie uma oportunidade profissionalizante compatível com seus afazeres.
7.1.1.2.2 NOVA ECONOMIA VISTA COMO OPORTUNIDADE DE
EMPREGO DESVINCULADO DO CAMPO
A falta de emprego no campo é resultante de vários fatores que permeiam sua modernização,
decorrente da chamada globalização. Como já discutido na base teórica, as transformações do
espaço, sejam na cidade ou no campo, pela globalização se dão em graus e tempos distintos em
cada lugar. Em Nova Resende, a modernização do campo e, consequentemente, a escassez de
emprego rural e as dificuldades de se manter no campo como pequeno agricultor só começaram a
ser percebidas, recentemente, a partir do ano de 2008.
Um dos indicadores locais que mostram o início desta falta de emprego rural e a procura por
empregos desvinculados do campo, com tentativa de se manter no espaço rural, é o interesse de
camponeses, sendo maioria mulheres, que procuram na nova economia uma oportunidade de
emprego desvinculado do campo, mesmo mantendo uma renda estabilizada, pois tenta prevenir
dificuldades em tempos de instabilidade econômica do café. Este interesse é confirmado através da
análise dos seguintes gráficos.
Gráficos voltados para as confecções de lingerie que ainda se mantem no Campo - Nova
Resende (coleta de dados a partir do dia 29/12/2011 até 01/07/2012)
Gráfico 9 – Hoje, a confecção emprega sua família inteira? Fonte: A própria Autora
Gráfico 10- Se não, qual outro tipo de emprego sua família participa? Fonte: Trabalho de campo realizado
por Gabriela Pereria e Silva
Gráfico 11- Antes de confeccionar você tinha uma renda estabilizada? Fonte: Trabalho de campo realizado
por Gabriela Pereria e Silva
sim não Total
0
50
100
150
Hoje, a confecção emprega sua família inteira?
%
Marcaram mais de um tipo de emprego
Marcaram somente um tipo de emprego
Total
Na zona Rural ( trabalho temporário)
Na zona Rural em minha própria chácara produzindo somente para o gasto básico familiar.
Meu marido e f ilhos trabalham na própria lavoura de café.
Meu marido e f ilhos trabalham na próprio Retiro
Outros. Especif ique: Arrendamento
Total
0 20 40 60 80 100 120
Se não, Qual outro tipo de emprego sua família participa? Pode assinalar mais de uma opção.
%
sim não Total
0
20
40
60
80
100
120
Antes de confeccionar você tinha uma renda estabilizada ?
%
Gráfico 12- Em que ano você começa a confeccionar lingerie em casa ou outro cômodo? Fonte: Trabalho de
campo realizado por Gabriela Pereria e Silva
Gráfico 13- Você pretende se mudar para cidade? Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela Pereria e
Silva
Gráfico 14 – Se sim, qual o motivo para se mudar? Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela Pereria e
Silva
Observa-se que das oito proprietárias de confecções entrevistadas entre as dez existentes, no
ano de 2011, mesmo sendo inferior às existentes na cidade, ainda da mesma forma é forte a
dependência da economia cafeeira. Esta dependência fica clara ao analisarmos o gráfico 9 em que
87,5% responderam que a confecção não emprega a família inteira e 50%, destes, retiram renda da
própria lavoura de café. (ver gráfico 10)
Ao analisarmos o gráfico 11, percebemos que 62,5% declaram não passarem por
instabilidade financeira antes de confeccionarem e 50% do total começam a confeccionar entre os
anos de 2009 e 2010. (ver gráfico 12) Sendo que 37% do total principiam a confecção de lingerie
por falta de emprego no campo e 25% declararam iniciarem a confecção de lingerie por interesse
anterior a 2008 Entre 2009 e 2010 Após 2010 Total
0
20
40
60
80
100
120
Em que ano você começa a confeccionar lingerie em casa ou outro cômodo (seja alugando ou não)?
%
sim não Total
0
20
40
60
80
100
120
Você pretende se mudar para cidade?
%
Esta difícil a vida na roça, mesmo com a lingerie a renda ainda é curta.
Na roça as coisas são muito longe! Fica difícil ir à cidade buscar matéria prima para confeccionar a lingerie.
Total
0 20 40 60 80 100 120
Se sim, qual o motivo para se mudar?
%
próprio, pois, segundo este último, ao mesmo tempo em que se encontra dependente da economia
cafeeira percebe instabilidade nesta e interessa obter um emprego independente do campo que
garanta um complemento para a renda familiar em épocas de instabilidade, como a forte geada em
200021
.
Assim, mesmo que não esteja passando por instabilidades financeiras esta parcela
camponesa percebe dois fatores, que afetam ainda em pequeno grau, sua renda familiar: primeiro,
há falta de emprego no campo e, segundo, a instabilidade na economia cafeeira. Tais fatores fazem
com que essas pessoas encontrem na nova economia uma oportunidade de emprego desvinculado
da zona rural e que garanta uma renda financeira sem deixar o campo, pois ainda têm forte
dependência da renda retirada do café.
Esta dependência fica ainda mais clara quando 75% das confecções que ainda se mantem no
campo declaram não quererem se mudar para a cidade e somente 25% diz o contrário, pois passa
por dificuldades financeiras e encontra problemas de acessibilidade a cidade devido à distância, que
atrapalha na busca de matéria prima para confecção de lingerie (ver gráfico 13 e 14). Isto significa
que esta nova economia para este grupo de camponeses é vista como forma de emprego
desvinculado do campo e garantia da renda familiar com a tentativa de se manter no espaço rural,
apesar das consequências do campo moderno, como a falta de emprego, que ainda é muito recente
no município.
Portanto esta nova economia aparece como uma das atividades urbanas que se insere no
campo transformando-o em um campo com mais influência do urbano, ou seja, em um novo rural
que por consequência de um lado incha ainda mais as periferias dos centros urbanos de camponeses
e de outro consolida estes no campo através da diversidade de renda. Tal atividade aparece como
forma dos pequenos agricultores diversificarem as fontes de renda de forma a se consolidar neste
novo campo, pois quanto mais diversificada a renda dos pequenos agricultores (com os comuns
abaixo de 100 hectares) menos sensíveis a alternância econômica e haverá por consequência mais
densidade ocupacional no campo (VEIGA, 2001, p. 29-33).
7.1.1.2.3 NOVA ECONOMIA VISTA COMO OPORTUNIDADE PROFISSIONAL
COMPATÍVEL AOS AFAZERES DE DONAS DE CASA DA CIDADE
A confecção de lingerie abriu oportunidades para as donas de casa da cidade, pertencentes à
classe média baixa, se profissionalizarem sem deixarem seus afazeres em casa, pois tal profissão dá
21
Reportagem disponível no site: http://www.coffeebreak.com.br/noticia/3140/Cooxupe-faz-avaliacao-sobre-geada-
em-Guaxupe.html. Acesso em 24/08/2012
flexibilidade de horários, local de trabalho, exige o básico escolar, etc. Tais donas de casa integram
este novo mercado, anterior e no ao ano de 2008, (ver gráfico 16) por interesse próprio (ver gráfico
15) vendo a nova economia como um meio de alcançar uma independência financeira.
O gráfico 17 mostra que 18 das confecções de lingerie entrevistadas, que ainda se mantêm
em casa ou cômodo fechado ao público, entre as 20 existentes em 2011, 92,86% não emprega a
família inteira. Destas 57,14% retiram sua renda de serviços urbanos e 35,71% se dividem em
serviços voltados para o campo. (ver gráfico 19)
Devemos observar que do total de confecções, apenas 21,43% marcaram mais de uma opção
de empregos dos quais a família participa, o que revela o vínculo duplo de serviços, tanto urbanos
como rurais entre somente 3 confecções. Assim, dos 78,57%, que marcaram somente uma opção,
ainda permanecem 57,14% ligados a serviços somente urbanos. (ver gráfico 18) Isso mostra que a
maioria das famílias das donas de casa não mantêm forte vínculo com nem uma atividade
econômica rural e, consequentemente, não estão sujeitas às instabilidades e desafios que o pequeno
produtor rural enfrenta no campo, como a falta de emprego e a instabilidade financeira, pois 85,71%
do total declara que tinha uma renda estabilizada antes de confeccionar. (ver gráfico 20)
Portanto, tais donas de casa se tornam importantes na formação e expansão desta nova
economia por dois motivos: Primeiro, por ter peso na demanda por cursos anterior e no 2008 (ver
gráfico 16) e se tornar, em 2011, a maior parcela de confecção atuante na cidade; (ver gráfico 21) e
segundo, por alcançar um mercado maior no estado de São Paulo do que na própria região e
sobressair às demais confecções, que ainda atendem com maior intensidade o mercado regional.
Este último motivo será discutido no item POLARIZAÇÃO mais adiante.
Gráficos voltados para as confecções de lingerie que ainda se mantem em casa ou cômodo fechado ao
público - Nova Resende (coleta de dados a partir do dia 22/12/2011 até 29/12/2011)
Por gostar
Por curiosidade
por interesse próprio
Por falta de emprego
Por Amigos de associações de confecções
outros. Especif ique: oportunidade, ramo interessante
Total
0 20 40 60 80 100 120
O que levou você a confeccionar lingerie?
%
Gráfico 15- O que levou você a confeccionar lingerie? Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela
Pereria e Silva
Gráfico 16- Em que ano você começa a confeccionar lingerie em casa ou outro cômodo?
Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela Pereria e Silva
Gráfico 17- Hoje, a confecção emprega sua família inteira? Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela
Pereria e Silva
Gráfico 18- Se não, qual outro tipo de emprego sua família participa? Fonte: Trabalho de campo realizado
por Gabriela Pereria e Silva
anterior a 2008
Entre 2009 e 2010
Após 2010
Total
0 20 40 60 80 100 120
Em que ano você começa a confeccionar lingerie em casa ou outro cômodo (seja alugando ou não)?
%
sim
não
Total
0 20 40 60 80 100 120
Hoje, a confecção emprega sua família inteira?
%
Marcaram mais de um tipo de emprego
Marcaram somente um tipo de emprego
Total
Na zona Rural ( trabalho temporário)
Na zona Rural em minha própria chácara produzindo somente para o gasto básico familiar.
Meu marido e f ilhos trabalham na própria lavoura de café.
Na cidade em serviços temporários (faxina, servente, pedreiro, pintor, etc) especif ique: pedreiro
Na cidade em serviços f ixos(secretária, cobrador, balconista, no banco, na Cooxupé, etc) especif ique: costureira
Outros. Especif ique: caminhoneiro, aposentado, mercearia,bar e universitários
A confecção emprega sua família inteira
Total
0 20 40 60 80 100 120
Se não, Qual outro tipo de emprego sua família participa? Pode assinalar mais de uma opção.
%
Gráfico 19- Das pessoas que marcaram somente um tipo de emprego Fonte: Trabalho de campo realizado
por Gabriela Pereria e Silva
Gráfico 20 – Antes de confeccionar você tinha uma renda estabilizada? Fonte: Trabalho de campo realizado
por Gabriela Pereria e Silva
Gráfico 21 – Total de confecções no ano de 2011 no Município de Nova Resende Fonte: Trabalho de campo
realizado por Gabriela Pereria e Silva
7.1.1.2.4 NOVA ECONOMIA: SOFRE INFLUÊNCIA INDIRETA DO
MUNICÍPIO DE JURUAIA-MG
Juruaia-MG e Nova Resende-MG são municípios vizinhos (ver figura 1) que têm em comum
as confecções de lingerie. O que diferencia tais municípios é que o primeiro desenvolve a economia
de lingerie desde 1994 e hoje corresponde à “[..] produção de 10% das peças comercializadas no
mercado nacional (com) todo o processo de confecção, da criação ao acabamento, incluindo
Retiram sua renda de serviços rurais
Retiram sua renda de serviços urbanos
Que não insere em nem uma destas opções
total
0 20 40 60 80 100 120
Das pessoas que marcaram somente um tipo de emprego
%
sim
não
Total
0 20 40 60 80 100 120
Antes de confeccionar você tinha uma renda estabilizada ?
%
Lojas e Confecções de lingerie no espaço urbano
Confecções de lingerie que ainda se mantem em casa ou cômodo Fechado ao público na cidade
Confecções de lingerie que ainda se mantem no campo
Total
0 20 40 60 80 100 120
Total de confecções no ano de 2011 no Município de Nova Resende-MG
%
modelagem, [...] desenvolvido pelas empresas locais22
”. Já o segundo, esta economia surge
recentemente na passagem do ano de 2008 para 2009 e para isso teve influência indireta de Juruaia,
entretanto não é a mais relevante para expandir o mercado de lingerie em Nova Resende, pois,
como vimos, o principal motivo que impulsionou a nova economia é a atuação efetiva de uma
pequena parcela da classe média, que passa por instabilidades financeiras no ano de 2008 e 2009.
A influência indireta provocada por Juruaia se faz por meio da publicidade do curso
magistral, com origem no estado do Paraná, voltado para a confecção de lingerie. Tal curso foi
atraído pela economia maior de Juruaia e acabou irradiando para Nova Resende em 2008. Segundo
a fala de uma proprietária de loja e confecção de lingerie, já citada, tal curso oferecido não provoca
realmente uma profissionalização na área de qualidade no município. E por compreender, na época,
uma demanda grande pelo curso, houve a necessidade de buscar cursos especializados, com
parceria da ACINOR (Associação Comercial Industrial Agropecuária e Prestação de Serviços de
Nova Resende), em Juruaia. Observe-se que é somente após o curso de lingerie vindo do Paraná que
a pequena parcela da classe média local, por si própria e, como vimos, por passar por instabilidades
financeiras, resolve pedir parceria à ACINOR e buscar especialização em Juruaia.
E devido a esta forma de como se implanta a ideia de confeccionar lingerie, concluímos que
essa confecção em Nova Resende não surge por influência direta de Juruaia, pois é somente a partir
da situação em que se encontra a classe média local que surge a necessidade da própria buscar
especialização profissional em Juruaia. Por isso, entendemos que o surgimento desta nova economia
não está diretamente ligado com a economia desenvolvida em Juruaia, mas sim a partir de três
fatores: como um meio de se garantir e complementar a renda familiar, pela falta de emprego na
zona rural e pela procura por empregos desvinculados do campo, como oportunidade profissional
compatível aos afazeres de donas de casa da cidade e por influência indireta do município de
Juruaia.
7.1.1.3 EXPANSÃO HORIZONTAL E VERTICAL
Com a refuncionalização do município de Nova Resende, através de uma nova fase do
capital: globalização, a cidade ganha novas morfologias. Em relação às formas de expansão da
cidade, como já mostrado na base teórica, existem duas: horizontal e vertical. O que determina a
intensidade e o tipo destas expansões é o conjunto dinâmico, que inclui tanto o externo como o
interno de cada cidade.
22
Retirado da reportagem feita em 20 de agosto de 2008. Disponível no site:
http://www.juruaia.com.br/site/noticias/50-festlingerie-movimenta-juruaia-e-gera-empregos.html. Acesso no dia
24/08/20112.
No espaço urbano do município estudado, identificamos mudanças na intensidade e no tipo
de expansão desenvolvido em decorrência da globalização. Evidenciamos duas principais mudanças
no espaço: Primeiro, o adensamento do espaço urbano e expansão horizontal que estão
estreitamente relacionados com a modernização do campo. Segundo, a expansão vertical que está
ligada, principalmente, com o surgimento da nova economia: confecção de lingerie.
O adensamento urbano, como já explorado anteriormente no item AUMENTO
POPULACIONAL URBANO, é uma das consequências da modernização do campo que provoca
uma grande onda migratória campo/cidade. Entretanto, não é somente esta a única onda migratória
provocada em Nova Resende, porém a mais importante. Como já vimos, anterior a esta, houve outra
importante onda migratória campo/cidade que provocou a primeira (re) estruturação urbana em
1983. Entretanto, colocamos a migração devido à globalização como a principal migração
campo/cidade capaz de intensificar o adensamento do espaço urbano do município, pois esta é a
maior onda migratória. Esta importância é comprovada, como já visto, através da análise do
aumento populacional urbano que ultrapassa o rural no ano de 2000 e chega a alcançar em 2010
uma diferença de 2.342 habitantes residentes no espaço urbano levando em consideração um
aumento populacional municipal de 1.487 habitantes.
Assim, podemos ter uma idéia da evolução do adensamento e a persistência de vazios
urbanos dentro da cidade comparando as seguintes fotos tiradas de uma mesma localidade no ano
de 1987 e 2011 e complementar com a leitura dos mapas das figuras 5 e 6.
Figura 3 - Nova Resende no ano de 1987 Figura 4 - Nova Resende no ano de 2011
Fonte: Casa da Cultura de Nova Resende-MG Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela Pereria e Silva
Não é via de regra, primeiramente, o adensamento do espaço urbano e depois a expansão
horizontal. O adensamento vai depender de como é feita a especulação dos terrenos urbanos (oferta
e demanda). O resultado desta especulação pode gerar vazios urbanos ou adensamento deste e em
ambos os casos pode promover ao mesmo tempo a expansão horizontal e vertical. Isso vai
depender, como já visto na base teórica, de como os agentes produtores do espaço irão ser
influenciados pelos fatores, como o econômico e político, nas mais diversas escalas (local, regional,
nacional, global) e, ao mesmo tempo, atuar no espaço através de suas estratégias.
No caso estudado, percebemos um adensamento urbano e ao mesmo tempo uma expansão
horizontal e vertical após o ano de 2009. A partir do mapa das figuras 4 e 5, visualizamos um
adensamento até o ano de 2009 e uma expansão horizontal pouco perceptível neste período. Deste
ano para frente, percebemos a expansão horizontal mais representativa, mesmo não ultrapassando o
perímetro urbano de 2009, e também, a expansão vertical no centro da cidade.
As informações de expansão urbana, postas no mapa, foram construídas a partir de fotos aéreas. Através destas fotos pode-se
identificar que todas as quadras em vermelho apontam presença de residências nos períodos indicados, com exceção do
loteamento esverdeado, presente no período de 2006 a 2009, que somente iniciará alguma ocupação após o ano de 2009.
Figura 5 – Expansão Urbana de Nova Resende Fonte: A própria Autora
Figura 6 – Segunda (re) estruturação urbana do município de Nova Resende Fonte: Mapa elaborado por Gabriela
Pereria e Silva. Fotos fornecidas por Photo by Marcelo Vaz e Evânio Braquinho: Projeto da Pipa
Observamos esta expansão horizontal com a criação de nove loteamentos, no período de
2009 a 2012. Isto se dá através da junção, principalmente, de dois fatores: primeiro, por receber
influência do programa Minha Casa Minha Vida, do Governo de Minas em parceria com a Caixa
Econômica Federal, lançado em 25 de março de 2009, que permite o beneficiamento às famílias que
possuam renda entre 3 a 10 salários mínimos. Estas têm até 300 meses para pagar o financiamento
com prestações mensais que não ultrapassam 30% do valor da renda bruta do cidadão;23 Segundo, há
uma demanda por moradia no espaço urbano decorrente do aumento populacional urbano originado
da migração campo/cidade. Um exemplo deste aumento populacional urbano derivado do campo e
intercalado com este programa é a construção do maior lote, localizado na periferia da cidade em
2011 (ver figura 6). Esta construção é um projeto do Governo de Minas, junto à prefeitura do
município e o projeto Minha Casa Minha Vida, de casinhas populares e doações de terrenos
destinados para população de baixa renda. O surgimento deste lote é um indicador, principalmente,
de um problema urbano que já vinha sendo gerado anterior a 2011 por consequência da migração
campo/cidade, que intensifica, como já vimos, após o ano de 2000, devido à modernização do
campo.
23
Disponível no site: http://www.noticiaki.com/minha-casa-minha-vida-programa-habitacional.html. Acesso em
29/08/2012
Entretanto, cinco dos nove novos lotes feitos entre 2009 a 2011 (ver figura 6) não foram
ocupados pela população até meados de 2012. Isso ocorre pela falta de renda da população perante
o valor de comercialização de cada terreno, ou seja, devido à valorização excessiva (especulação)
do terreno urbano decorrente da demanda tanto por parte da população migrante do campo como da
provocada por incentivos do programa Minha Casa Minha Vida.
Já a expansão vertical pode ser visualizada com o adensamento na zona central da cidade
com a construção de sobrados que revaloriza o espaço central através da demolição de casas antigas
e construção de sobrados (ver figura 7) ou, apenas, a construção em terrenos vazios (ver figura 8.).
Esta zona segundo o zoneamento morfológico de Oswaldo Bueno, Amorin Filho e Nelson de Sena
Filho (2007) pode ser identificada pela presença de uma praça, rua principal, delegacia, cartório e
residências da elite local. Sendo este centro o único núcleo polarizador, por concentrar os principais
estabelecimentos comerciais, serviços, e a gestão política e administrativa do município.
Figura 7 - Verticalização na zona central de Nova Resende, no ano de 2011, através da demolição de casas
antigas. Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela Pereria e Silva
3
2007
Figura 8 - Verticalização na zona central de Nova Resende, no ano de 2011, em terrenos vazios.
Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela Pereria e Silva
No caso estudado nesta zona central é identificado o adensamento de lojas/confecções de
lingerie e também, empresas voltadas para atenderem esta nova economia, como lojas de
aviamento, lojas de máquinas de costuras e manutenção destas, etc. (ver figura 6) Tais
lojas/confecções e empresas demandam, principalmente, no fim do ano de 2008 e início de 2009
por cômodos comerciais localizados no centro da cidade, pois é este o espaço mais visitado pela
população de uma pequena cidade que está à procura de serviços, estabelecimentos comerciais,
gestão e administração municipal, etc. Na tentativa de satisfazer esta demanda e aproveitar o
máximo possível dos terrenos nesta localidade, devido à valorização deste por dois motivos:
Primeiro, pela própria demanda por cômodos nesta localidade; e segundo, pelo projeto Minha Casa
Minha Vida que impulsiona a verticalização através de financiamentos, resulta na verticalização da
área central de Nova Resende.
Em resumo, o aumento repentino da expansão horizontal e vertical após o ano de 2009 está
ligado, principalmente, a três fatores que estão interligados entre si: Primeiro, a uma influência
política nacional, que é o programa Minha Casa Minha Vida do Governo de Minas em parceria com
a Caixa Econômica Federal, que impulsiona, principalmente, as duas expansões: horizontal e
vertical; Segundo, a demanda por casa no espaço urbano decorrente tanto do aumento populacional
urbano local originado da migração campo/cidade como da provocada por incentivos do programa
3V
2006
2011 2011
Minha Casa Minha Vida; Terceiro, com o surgimento da nova economia (confecções de lingerie)
que tem provocado demanda por cômodos de aluguel voltados para o comércio, localizados no
centro da cidade. Esta demanda aumenta na medida em que amplia a nova economia com o
surgimento de mais lojas de lingerie/confecção e implantações de empresas ligadas a esta nova
economia como fábricas de bojo, lojas de máquinas de costuras e consertos destas e lojas de
aviamentos; e por último, a valorização do terreno urbano de maneira geral. Tal valorização está
ligada com todos os três fatores anteriores e resulta, principalmente, na zona central o
aproveitamento, ao máximo, do terreno com a construção de sobrados de até três pavimentos e no
restante da cidade é identificado, em alguns pontos dentro desta, vazios urbanos e em cinco dos
novos lotes é constatado um despovoamento da área.
7.1.2 ESPAÇO INTER- URBANO
7.1.2.1 FORMA DA REDE URBANA, ALCANCE ESPACIAL ENTRE OS
CENTROS URBANOS, COMPETITIVIDADE E POLARIZAÇÃO
O espaço inter-urbano , como já discutido na base teórica, está totalmente ligado com o
espaço intra-urbano e como este último também sofre transformações com a nova ordem do capital.
No âmbito da pequena cidade, percebemos modificações em três fatores totalmente interligados:
Primeiro, na forma da rede urbana; Segundo, no alcance espacial entre os centros urbanos; Terceiro,
na competitividade e polarização do município estudado.
Como já analisado na base teórica, a forma da rede urbana de pequenas cidades é originada
através da pequena mobilidade espacial da população. A pequena mobilidade era provocada pela
inexistência ou pouco usuais de transportes pré-mecânicos e mesmo ferroviários feita pela
população brasileira. Com a globalização esta mobilidade fica acessível, mais intensa, rápida e
dinâmica através das mais variadas formas de locomoção, como o automóvel, internet e os aviões.
Entretanto, no Brasil, esta mobilidade, como todas as transformações, provocadas pela nova ordem
do capital, não se faz de forma igualitária e semeia as diferenças entre regiões e centros urbanos,
assim como a articulação entre ambos e entre os centros.
A rede urbana de Nova Resende se modifica trazendo mais acessibilidade entre os centros
urbanos e regiões através da mobilidade mais intensa, rápida e dinâmica. O resultante destas
modificações nesta rede urbana é o aumento da dinamização e competitividade entre os centros
urbanos. Este aumento fará com que a pequena cidade estudada se refuncionalize surgindo a
confecção de lingerie como uma nova economia no município, na tentativa de sobreviver neste
novo espaço transformado pela globalização.
A partir desta nova economia, podemos identificar as mudanças feitas pela nova ordem do
capital no âmbito do alcance espacial entre os centros urbanos: polarização e competitividade.
7.1.2.2 POLARIZAÇÃO E COMPETITIVIDADE
Usado como ponto de análise a confecção de lingerie, percebemos uma polarização pelo
centro urbano estudado predominantemente regional. Esta polarização se faz por meio de lojas e
sacoleiras através da comercialização de lingerie em cidades da região, como Juruaia-MG,
Muzambinho-MG, Monte Belo- MG, Areado-MG, Conceição da Aparecida-MG, Bom Jesus-MG,
Alfenas-MG, Passos-MG, Guaxupé-MG, Poços de Caldas-MG, Alpinópolis-MG e Guaranésia-MG.
Nos gráficos 22, 23 e 24, percebemos que dentre as proprietárias de confecções do
município, entrevistadas, mais de 84,62% declararam revender seus produtos, somente na região.
Entretanto, 50% do grupo de confecções de lingerie que ainda se mantém em casa ou cômodo
fechado ao público que tem sua marca sendo revendida na região declaram comercializar seu
produto, também em outras cidades do estrado de Minas Gerais e de São Paulo. Isso mostra que
mesmo sendo uma economia recente já está aumentando seu alcance espacial além de sua região, já
que, tal grupo, é o maior entre as confecções do município com 41,67% do total de confecções. (ver
gráfico 21)
Sim Não Total
0
20
40
60
80
100
120
Sua marca está sendo revendida na região?( Em Alfenas, Passos, Juruai, Conceição da Aparecida, Areado, Monte Belo, Muzambinho, Guaxupé, Bom Jesus, Poços de Caldas, entre outras.)
%
Gráfico 22 – Gráficos voltados para lojas de lingerie de Nova Resende (coleta de dados a partir do dia 07/12/2011 até
23/12/2011 . Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela Pereria e Silva
Gráficos 23 - Gráficos voltados para as confecções de lingerie que ainda se mantêm no Campo - Nova Resende
(coleta de dados a partir do dia 29/12/2011 até 01/07/2012) Fonte: Trabalho de campo realizado por
Gabriela Pereria e Silva
3 lojas
Entre 3 e 5 lojas
mais de 5 lojas
somente sacoleiras. (3 sacoleira)
sacoleira e lojas (varia de 1 a 400 sacoleiras e de 1 a 80 lojas)
Total
Cidades que estão revendendo as lingerie
Classes
Na região:Alfenas, Passos, Juruaia, Conceição da Aparecida, Areado, Monte Belo, Muzambinho, Guaxupé, Bom Jesus e Poços de Caldas
Em outras cidades: São Sebastião do Paraíso-MG, Cássia-MG e Guaranésia-MG
Em outras cidades e na região: Mococa-SP, Botelhos-MG e Conceição da Aparecida-MG
Total
0 20 40 60 80 100 120
Se sim, quais cidades e quantas lojas ( “ou sacoleiras”) estão revendendo seu produto?
%
sim não Total
0
20
40
60
80
100
120
Sua marca está sendo revendida na região?
%
Na região e em outras cidades:MG e SP
Na região:Alfenas, Passos, Lavras, Guaranésia, Alpinópolis e Poços de Caldas
Total
Somente Lojas. ( 5 lojas)
somente sacoleiras. (varia de 2 a 5 sacoleira)
sacoleira e lojas (varia de 4 a 10 sacoleiras e de 3 a 9 lojas)
Total
0 20 40 60 80 100 120
Se sim, quais cidades e quantas lojas ( “ou sacoleiras”) estão revendendo seu produto?
%
sim
não
Total
0 20 40 60 80 100 120
Sua marca está sendo revendida na região?
%
Gráficos 24- Gráficos voltados para as confecções de lingerie que ainda se mantêm em casa ou cômodo fechado
ao público- Nova Resende (coleta de dados a partir do dia 22/12/2011 até 29/12/2011) Fonte: Trabalho de campo
realizado por Gabriela Pereria e Silva
A polarização está estritamente ligada com a competitividade entre centros urbanos. Na
medida em que há o desenvolvimento da nova economia se tem o aumento da área de polarização e
competitividade entre os centros urbanos que, no caso em específico, principalmente, com o
município de Juruaia-MG que confecciona lingerie desde 1994.
Frente a uma reestruturação produtiva econômica e de uma rede urbana mais complexa,
Nova Resende vem buscando se desenvolver e expandir com sua nova economia (confecções de
lingerie). Mesmo que Nova Resende esteja polarizando e competindo com Juruaia o espaço micro-
regional ela ainda esta com um desenvolvimento inicial e não oferece margem para afirmação de
uma tendência de dominação do espaço micro- regional, pois ainda se desenvolve para atender mais
seu município. Como, também, Juruaia não permite, mesmo que tenha um desenvolvimento mais
avançado comparado com Nova Resende, afirmar uma tendência para um futuro domínio do espaço
nacional. Entretanto não impede que Nova Resende estabeleça fluxos além do seu espaço local e
nem que Juruaia estabeleça fluxos acolá de sua migro-região, pois com uma rede urbana mais
complexa irá proporcionar aos pequenos núcleos urbanos ligação com cidades maiores sem
necessariamente passar por uma cidade média e isso exigirá destes núcleos mais resistência a uma
maior competitividade entre todos os centros urbanos (pequenos, médios, grandes, metrópoles e
megalópoles). E, também, proporcionará diminuição da dependência de serviços destes pequenos
núcleos urbanos oferecidos por centros maiores e, consequentemente, aumentar a oferta de serviços
para seu município.
Entretanto, não deixa de ter competitividade entre ambos os municípios, pois Juruaia é
antiga no ramo e reconhecida no mercado regional.
Na região e em outras cidades: MG e SP
Na região:Alfenas, Passos, Juruaia, Conceição da Aparecida, Areado, Monte Belo, Muzambinho, Guaxupé, Bom Jesus e Poços de Caldas
não sabe ( atacadistas)
Total
só trabalho com atacadistas
somente sacoleiras. (varia de 1 a 10 sacoleira)
sacoleira e lojas (varia de 2 a 30 sacoleiras e de 1 a 15 lojas)
Total
0 20 40 60 80 100 120
Se sim, quais cidades e quantas lojas ( “ou sacoleiras”) estão revendendo seu produto?
%
Toda esta competitividade econômica entre, principalmente, estes dois pequenos centros
urbanos resulta em dificuldades para o município de Nova Resende se desenvolver e crescer
economicamente com a produção de lingerie. Nos gráficos 25 e 26 percebemos que das confecções
que ainda se mantêm em casa ou cômodos fechados ao público ou no campo, 50% não pretende
abrir uma loja devido a pouca renda retirada da confecção de lingerie. Os outros 50% dos que ainda
se mantêm no campo e quer em abrir uma loja declararam abrir uma em outra cidade como Juruaia,
pois consideram que as confecções em Nova Resende ainda são desunidas e não atraem tantos
consumidores como em outras cidades.
Estas dificuldades, também, podem ser observadas na renda livre retirada por estas
confecções que ainda não abriram lojas. 50% das confecções que ainda se mantêm no campo
retiram como renda livre um salário mínimo e das que confeccionam em casa ou cômodo fechado
ao público 35,71% declaram o mesmo. (ver gráficos 24 e 26) Observe-se que 35,71% das
confecções que ainda se mantêm em casa ou cômodo fechado e 38,46% das que mantêm lojas
produzem mais de 3 mil peças por mês. (ver gráficos 26 e 27) Mesmo que ambas sejam diferentes
ao receberem o consumidor aproximam-se no percentual, na produção por peças e na renda livre
mensal, que varia de um a três salários. Isso nos mostra que não é motivador para as que ainda não
têm lojas chegarem a abri-la, já que não ganham um diferencial na renda livre.
Assim, a nova economia vem polarizando, principalmente, o espaço regional e com isso
aumenta a competitividade com Juruaia. Em consequência desta competitividade aparecem
dificuldades para a nova economia entrar e ser reconhecida no mercado regional, porém não deixa
de crescer economicamente, pois já inicia uma polarização, mesmo que pequena, além do espaço
regional.
sim não Total
0
50
100
150
Você pretende abrir uma loja?
%
Gráficos 25- Gráficos voltados para as confecções de lingerie que ainda se mantêm em casa ou cômodo fechado
ao público- Nova Resende (coleta de dados a partir do dia 22/12/2011 até 29/12/2011) Fonte: Trabalho de campo
realizado por Gabriela Pereria e Silva
Gráficos 26- Gráficos voltados para as confecções de lingerie que ainda se mantêm no Campo - Nova Resende ( coleta de
dados a partir do dia 29/12/2011 até 01/07/2012) Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela Pereria e
Silva
menos de 400 peças
400 a 500 peças
500 a 600 peças
600 a 700 peças
900 a 1000 peças
mais de 3000 peças
Total
Em relação à produção mensal (por peça):
menos de dois salário mínimo
dois a três salários mínimo
três a quatros salários mínimos
quatro a cinco salários mínimos
cinco a seis salários mínimos
dez a quinze salários mínimos
quinze a vinte salário mínimos
mais de vinte salários mínimos
Total
Em relação à renda bruta:
um salário mínimo
dois a três salários mínimo
três a quatros salários mínimos
quatro a cinco salários mínimos
cinco a seis salários mínimos
oito a nove salários mínimos
mais de dez salários mínimos
Total
Renda Livre:
0 20 40 60 80 100 120
Hoje qual a média de produção mensal. (por peça)
%
sim não Total
0
20
40
60
80
100
120
Você pretende abrir uma loja?
%
menos de 400 peças
400 a 500 peças
800 a 900 peças
900 a 1000 peças
2000 a 3000
Total
Em relação à produção mensal (por peça):
menos de dois salário mínimo
dois a três salários mínimo
três a quatros salários mínimos
quatro a cinco salários mínimos
cinco a seis salários mínimos
Total
Em relação à renda bruta:
Menos de um salário mínimo
um salário mínimo
dois a três salários mínimo
Total
Renda Livre:
0 20 40 60 80 100 120
Hoje qual a média de produção mensal. (por peça)
%
Gráfico 27-Gráficos voltados para lojas de lingerie de Nova Resende (coleta de dados a partir do dia 07/12/2011
até 23/12/2011) Fonte: Trabalho de campo realizado por Gabriela Pereria e Silva
Em resumo, as mudanças proporcionadas pela globalização, que percorreram o espaço inter-
urbano de Nova Resende fazem com que seu pequeno núcleo urbano se refuncionalizar,
provocando uma nova economia( confecção de lingerie). Analisando através desta economia
podem-se perceber as mudanças no espaço inter-urbano em três fatores que se inter-relacionam:
forma da rede urbana, alcance espacial entre os centros urbanos, competitividade e polarização do
município estudado. A forma da rede urbana foi modificada tornando-se mais dinâmica e acessível
(rede complexa) e com isso aumentou a polarização e competitividade entre os centros urbanos. A
polarização de Nova Resende está vinculada com a competitividade com Juruaia, pois à medida em
que aumenta seu alcance regional através da confecção de lingerie, cresce a competitividade
econômica com Juruaia e dificuldades na sobrevivência da nova economia neste espaço mais
dinâmico.
Menos de 400 peças
De 400 a 500 peças
De 500 a 600 peças
De 800 a 900 peças
De 1000 a 2000 peças
Mais de 3000 peças
Total
menos de dois salário mínimo
2 a 3 salários mínimo
3 a 4 salários mínimos
7 a 8 salários mínimos
8 a 9 salários mínimos
10 a 15 salários mínimos
15 a 20 salário mínimos
mais de 20 salários mínimos
Não Sabe ou não quis responder
Total
Em relação à renda bruta mensal:
1 salário mínimo
2 a 3 salários mínimo
4 a 5 salários mínimos
5 a 6 salários mínimos
mais de 10 salários mínimos
Não Sabe ou não quis responder
Total
Em relação à renda livre ( o lucro) mensal:
0 20 40 60 80 100 120
Hoje, com a loja, sua renda e produção mensal é de quanto?
%
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O município de Nova Resende passou por duas (re)estruturações do espaço urbano,
analisadas neste trabalho: primeiro em 1983, por consequência principalmente da lei trabalhista de
1943 que provocou uma migração campo/cidade, transformação do campo, doações de terras
urbanas e instalação da sede da Cooperativa Cooxupé; e segundo, em 2009 devido principalmente
ao aumento da aglomeração na cidade, modernização do campo, políticas de financiamentos,
aumento do preço do café em 1986 e o surgimento de uma nova atividade econômica (confecções
de lingerie). Há também uma melhor articulação da rede urbana, pela melhoria dos transportes e das
vias de circulação.
Comparando as duas (re)estruturações do espaço urbano podemos concluir que a pequena
cidade de Nova Resende-MG encontra-se em 2012 com um espaço mais dinâmico. As principais
mudanças são a modernização do campo, crescimento da cidade e de sua população, uma
especialização produtiva de uma economia não-rural (confecção de lingerie) e aumento da
polarização espacial.
A modernização do campo e suas consequências só podem ser melhor percebidas em 2012,
com o aumento de máquinas coletoras de café, por exemplo, que diminuem o tempo da colheita e
oferta de trabalho braçal. Isso mostra a forma diferenciada que os processos da globalização
revigoram por todo o território brasileiro, embora desigualmente. Mesmo que recente as
consequências desta modernização, está causando modificações na estrutura da cidade e do campo
através da colaboração para o surgimento de uma nova economia (a de confecções de lingerie) que
modifica a cidade no âmbito do consumo, produção e circulação. Causa, também, ondas migratórias
do campo para cidade devido as dificuldade de sobrevivência do pequeno agricultor no novo campo
e por consequência um aumento da aglomeração de pessoas na cidade e também o adensamento
desta.
O adensamento da cidade está ligado com a expansão horizontal que se faz com a criação de
nove loteamentos, no período de 2009 a 2012. Isto se dá através da junção, principalmente, de dois
fatores: primeiro, por receber influência do programa Minha Casa Minha Vida, do Governo de
Minas em parceria com a Caixa Econômica Federal; segundo, há uma demanda por moradia no
espaço urbano decorrente do aumento populacional urbano originado da migração campo/cidade,
por consequência da modernização do campo. Entretanto, nem todos os lotes que foram abertos
estão sendo ocupados, pois ocorre uma valorização excessiva dos terrenos urbanos decorrente da
demanda tanto por parte da população migrante do campo como da provocada por incentivos do
programa Minha Casa Minha Vida.
Nova Resende é uma particularidade que permite uma nova forma de pensar a (re)
funcionalização do espaço urbano frente a uma dinâmica mais complexa do espaço geográfico.
Destacando uma nova especialização econômica que tem origem não a partir da elite local, como
colocado hipoteticamente anterior a esta pesquisa, mas através da classe média baixa que recorre à
nova economia (confecção de lingerie) por três motivos: primeiro, como um complemento de renda,
de uma pequena parcela da população de classe média baixa urbana, que vê este novo ramo como
um meio de garantir e complementar a renda familiar; segundo, pela falta de emprego na zona rural
e a procura por empregos desvinculados do campo, com tentativa de se manter no novo espaço
rural; e por último, como oportunidade profissional compatível aos afazeres de donas de casa da
cidade. E, também, por influência indireta do município de Juruaia-MG, que se faz por meio da
publicidade do curso magistral, voltado para a confecção de lingerie, atraído pela economia
desenvolvida há mais tempo neste município. Esta nova especialização irá demandar por cômodos
destinados para aluguel e isso junto às políticas de financiamentos causará uma verticalização do
centro da cidade e consequentemente irá reestruturar este centro.
A polarização está estritamente ligada com a competitividade entre centros urbanos. Na
medida em que há o desenvolvimento da nova economia se tem o aumento da área de polarização e
competitividade entre os centros urbanos. No caso estudado a nova especialização vem ganhando
um espaço no mercado regional e aumentando sua competitividade com outros centros,
principalmente com Juruaia-MG, pois esta já é atuante no mercado regional de lingerie desde 1994.
Esta competitividade com Juruaia irá dificultar a sobrevivência da nova economia neste espaço
mais dinâmico que estes pequenos centros estão inseridos.
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em: 11 de janeiro de 2013
ANEXOS
ANEXO A - FIGURA 1: Escola localizada nas terras de Joaquim Beraldo Evangelista e Feliciana Maria da
Conceição em 1948. Pai e mãe de Maria da Conceição Evangelista Silva. Fonte: Em álbum de Maria da Conceição
Evangelista Silva.
ANEXO B - FIGURA 2: Local de catação do café pertencente á família de Alaor Firmino da Silva. Funcionou de
1936-1960. Fonte: Em álbum de Alaor Firmino da Silva.
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