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c
RIO T A P A J Ó S
POR
E m c o m m i » s 5 o * è i e n t i f i c a
p e l o
G o v e r n o
I m p e r i a l
R I O DE J A N E I R O
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O
o HÍSTORKO, GEÔGRAPHÍCO S STFÍNGGRAP
DO
DEDIC
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R O
T P J Ó S
SANTARÉM SEUS
ARREDORES
E SEU
HISTÓRICO.
urrente calamo v o u t r a n s c r e v e r a s n o t a s q u e t o m e i
d e s d e
q u e
a v i s t e i
as á g u a s c r i s t a l l i n a s pretas d o s n a -
l u r a e s d o r i o T a p a j ó s ; p o r i s s o s e m b e l l e z a s d e
e s t y l o
a c i l
s e r á o m e u d i z e r f i r m a n d o - m e e m e s t u d o s e n a v e r a
c i d a d e
d o s f a c t o s q u e
o b s e r v e i .
t r a v e s s i a
d a
v i l l a
d e
M o n t e - A l e g r e p a r a
S a n t a r é m ,
a p r e s e n t a i m p r e s s õ e s v i v a s e a l e g r e s .
P e l a s
h o r a s
d a m a n h ã d o
d i a
1 5 d e
M a i o
d e 3 8 7 2 c o
m e c e i
a
d i s t i n g u i r u m a l i n h a n e g r a n a m a r g e m
d i r e i t a
d o
A m a z o n a s , q u e i n d i c a v a a
p r o x i m i d a d e
d o T a p a
jós.
A m e
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O b s e r v e i ,
q u a n d o
p e n e t r e i
n o
r i o
T a p a j ó s , q u e
a n t e s
d a
c o n f u s ã o
g e r a l
d a s á g u a s , s ã o a s d o A m a z o n a s q u e s e i n t r o -
m e t t e m
p e l a s
d o s e u a í í l u e n t e .
C o m e ç a - s e a
o b s e r v a r
n e s t e
q u e a s á g u a s
b a r r e n t a s
f o r m a m a q u i e a l l i m a n c h a s c l a r a s e
d i s t i n c t a s ,
q u e á
m e d i d a
q u e s e a p p r o x i m a m d o A m a z o n a s v ã o - s e
a u g m e n
t a n d o a t é c o n f u n d i r e m - s e . E * n o t á v e l a p r e s e n ç a d e s s a
p o r ç ã o d ' a g u a b r u s c a m e n t e
d i c t i n c t a
d a s á g u a s
n e g r a s ,
f o r m a n d o
c o m o
q u e u m p a n n o p r e t o m a n c h a d o d e p a r d o .
A c o n f l u ê n c i a d a s á g u a s , o
a s p e c t o
d a s m a r g e n s , a n a
t u r e z a ,
t u d o
a l l i
é
d e s l u m b r a n t e .
Q u a n d o
p e n e t r e i
n o T a p a j ó s ,
c o m o
q u e s e n t i m i n h a
a l m a a l e g r a r - s e .
A
c i d a d e
d e S a n t a r é m e s t á s i t u a d a n a m a r g e m d i r e i t a
d o r i o T a p a j ó s ,
q u a s i
n a c o n f l u ê n c i a d o
m e s m o
c o m o
A m a z o n a s , s o b u m a d o c e e m i n ê n c i a , q u e ,
p r i n c i p i a n d o
n a
m a r g e m v a i t e r m i n a r n o s c a m p o s , p r ó x i m o á
s e r r a
q u e a
r o d ê a , a d u a s l é g u a s d e
d i s t a n c i a . F i c a n a l a t .
S 2
o
— 2 4 '
5 2
e n a l o n g .
O 1 1 °
— 3 3 ' — 1 1 .
O c c u p a u m a bela p o
s i ç ã o , d e s c o r t i n a u m
l a r g o
h o r i z o n t e , é
v a r r i d a p e l o s
v e n t o s ,
t e m u m
c l i m a
s a u d á v e l e u m a
t e m p e r a t u r a
q u e , s e
b e m q u e d u r a n t e o d i a
a t t i n j a
d e 3 0
0
a 9 0
0
F a h r . ,
é a m e -
n i s a d a p e l a s b r i z a s
e t e m a s n o i t e s
f r e s c a s
e a g r a d á v e i s ,
n u n c a
e x c e d e n d o o t h e r m o m e t r o d e 8 2
0
O s
d i a s
s ã o
a l e g r e s ,
s e u a l v o r e c e r é
l i n d o
e a s
s u a s
t a r d e s s o b e r b a s . O e s p e c t a c u l o q u e s e r e p e t e t o d a s a s
t a r d e s ,
d u r a n t e
o
a r r e b o l ,
é s e m p r e
v a r i a d o
e m a g e s t o s o .
N u n c a s e
d e i t a
o s o l n o T a p a j ó s s e n ã o
c e r c a d o
d e o u r o e
p u r p u r a . A e l e v a ç ã o d e 1 6 m e t r o s a c i m a d o n i v e l d o m a r ,
c o n t r i b u e p a r a
q u e a s u a s i t u a ç ã o s e j a m a g n í f i c a . D i s t a n d o
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pelos
seus
bellos pontos de vista pela sua
posição,
torna-se
a princeza do Amazonas pela sua
popu lação t ambém
occupa um lugar importante.
Contém
a cidade 2.304
i n d i
v íduos , sendo d. 120 do sexo masculino e 1.184 do f e m i
nino. Nacionaes 2.203 e estrangeiros 101 comprehendendo
207
casados
2.204 solteiros sendo 730 de côr branca
567 tapuyos 659 pardos e 348 pretos. Apenas são escravos
467
i nd iv íduos
e só sabewi ler 586. Todo o
munic íp io
tem
8.643 habitantes sendo brancos 1.098 tapuyos 4.690
de
côr
830 do sexo
masculino 4.191
e do
feminino
4.452.
O boato de que este local é um foco de lepra e elephan-
tiasis dos Á rabes, é
infundado
e custa a crer que autores
taes
como Baena
paraense
no seu
Ensaio corographico
Herdon
no seu
Walley
of the
Amazon
e Agassiz na sua
Voyage
u
Brésil
affirmem
que grassam
estas
molés t ias
entre os naturaes.
Não
sendo bem
informados
esses
autores
tomaram
a nuvem por Juno. Indagando observando por
m im
nr
>mo,
só encontrei dous casos de elephantiasis isto
mesmc m
i nd iv íduos
que
não são
do lugar.
E
verdade que
alguns lephantiacos apparecem ás vezes mas são trazidos
á
cidade a
implorar
a caridade e depois retiram-se para
outras
povoações
onde residem. O testemunho de pessoas
antigas e de
méd i cos
corrobora esta
a s s e rção .
Compõe-se
a cidade de cinco ruas parallelas ao rio
cortadas por
oito travessas
em
ângulos
rectos embellezada
por um largo e duas p r aça s , comprehendendo 300
casas
das
quaes
12 são de sobrados e 65 de palha todas bem
edificadas se bem que algumas antigas e ainda de
r ó tu l a s
e
postigos.
Contam-se entre ellas 36 lojas de fazendas e ta-
vernas 4 padarias 1 botequim 1 typographia 1 bilhar
3 quitandas 3
a çougues ,
3 boticas 1 ferraria
1 fundaria
1 relojoaria
2 lojas de alfaiates 4 marcenarias
1
saboaria
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— 8 —
A casa da câmara é um bonito edifício, espaçoso, tendo
no frontespicio quatro columnas, que formam um
peristyllo
para onde se sobe por uma escadaria que o
rodeia,
e que
dá entrada por tres portas, tendo
duas janellas
de cada lado.
Divide-se da cadêa que es tá no mesmo edif ício por um
pateo quadrado, rodeado de columnas quadrangulares.
Contém
esta
quatro grandes, arejados e limpos comparti-
mentos,
onde actualmente existem 18 presos e condem-
nados, e um
louco.
Foi começada a cons t rucção em 1853 e terminada em
1867. O seu rendimento annual é de 7:000 a 8:000 000.
Um grande e asseado templo serve de matriz, com a invo
cação de Nossa Senhora da Conceição. Se bem que sua parte
architectonica não contenha ricos* ornamentos , póde-se
dizer
que é
ella
a
melhor
igreja
das
pov oações do
Amazonas.
Outr'ora tinha duas torres, po rém essas cahiram. Faz
frente
para o rio e occupa um dos lados do largo que fica quasi no
centro
da cidade. Foi inaugurada ém 1819, e ccnstruida
pelos esforços do vigário de en t ão o padre po r tuguês Manoel
Fernandes Leal e dos c idadãos José Fernandes dos Reis e
Antônio Fernandes dos Reis, porappelido os preguiças. De
pois da
nossa
em ancipação polit ica o mesmo vigário não
querendo adherir a
ella
retirou-se para Lisboa.
Examinando
a igreja, deparei com um c ruci f ixo que para
m im mereceu grande veneração e respeito, porque comme-
moraum milagre, feito quando o Dr. Von Martins, d i r i g in
do-se a
S a n t a ré m naufragou
no dia
18
de Setembro de 1819
no Amazonas, p ró x imo á embocadura do T a p a j ó s . Um
quadro
de ferro fundido com letras em relevo, douradas,
collocado
na base da cruz,
refere
o milagre, da seguinte
f ô r m a : «
O
cavalheiro Carlos Fred. Phil.
de
Martius
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Divina do furor d s ondas do Amazonas junto d villa de
Santarém mandou como monumento de sua pia
gra
tidão ao Todo
Poderoso erigir este crucifixo nesta igr
de Nossa Senhora da
Conceição
no anno de
1846
O C h r i s t o é d e
t a m a n h o
n a t u r a l , d e f e r r o
d o u r a d o ,
c r a
v a d o
e m u m a
c r u z
d e i t a ú b a .
C u m p r i n d o
a
p r o m e s s a
q u e
e n t ã o
f i z e r a ,
o s á b i o b o t â n i c o ,
a p e n a s
c h e g o u á E u r o p a , '
r e m e t t e u
a i m a g e m e o
q u a d r o , s e n d o
e n t ã o
a q u i c o l l o c a d o
n a c r u z
e m
1 8 4 6 .
O r n a
o
p r i m e i r o a l t a r
d a
d i r e i t a .
N ã o
é
o b r a
d e a r t e , m a s e t e r n i s a
d u a s c o u s a s :
« p i a g r a t i d ã o »
d e M a r t i u s
e s u a
v i n d a
a o B r a z i l .
E s t a
é a t e r c e i r a i g r e j a ;
l .
a
,
q u e e x i s t i a n a p r i m i t i v a
a l d ê a , e r a
c o b e r t a
d e t e l h a ,
s e g u n d o
o i n v e n t a r i o q u e
l i
f e i t o
p e l o
p r i m e i r o v i g á r i o , e r a n a r u a
do
C a s t e l l o ,
n a e s q u i n a
f r o n t e i r a
á
a c t u a l
p h a r m a c i a
d o
S r . M a t t o s
,e
f o i
e d i f i c a d a
p e l o
4.° m i s s i o n á r i o o
P a d r e
J o ã o
M a r i a
G o r -
s o n i e m 1 6 8 2 ; 2 . n o
l a r g o
d a
I m p e r a t r i z ,
o n d e
h o j e
a i n d a
s e v ê u m c r u z e i r o . M a l e d i f i c a d a
p e l o
P a d r e
M a n o e l
R a b e l l o ,
f o i
e m 1 7 3 3 r e e d i f i c a d a
p e l o - P a d r e L u i z A l v a r e s ,
q u e a b i m i s s i o n o u
a t é 1 7 4 6 .
E s t a
t i n h a j u n t o u m c o l l e g i o
d i r i g i d o
p e l o s p a d r e s
d a c o m p a n h i a , q u e e x i s t i a , j á a r r u i -
n a d o
e m
1 8 1 4 ,
s e n d o
a b a n d o n a d o
e m
1 8 1 9 ,
d e p o i s
d a
c o n c l u s ã o d a a c t u a l m a t r i z .
N o
c a m p o
e m f r e n t e a o
c e n t r o
d a
c i d a d e ,
e x i s t e o
c e m i
t é r i o ,
t o d o m u r a d o ,
c o m u m a
e a p e l l i n h a ,
e
a l g u n s
t ú m u l o s
d e
m á r m o r e , d e v a l o r .
A d i r e i t a
d a
c i d a d e , s e p a r a d a p o r
u m a e s p a ç o s a p r a ç a á
m a r g e m t a m b é m d o
r i o
e s t á
aldêa,
u l t i m o
v i s l u m b r e
d a
a n t i g a
t a b a ,
d a
q u a l
s ó
r e s t a
u m a
v e l h a t a p u y a
c e n t e n á r i a .
E '
h a b i t a d a p o r t a p u y o s ,
d e s c e n d e n t e s d o s
v e l h o s
T a p a j ó s e
p o r o u t r o s
d e c r u z a m e n t o d e
o u t r a s
t r i b u s .
C o m p õ e - s e d e
s e s s e n t a
e o i t o
p a l h o ç a s , a l g u m a s
a r r u a d a s , o u t r a s
e s p a
8/16/2019 Historia politica economica do reinado do S. Rey D. Jozé I.pdf
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vadindo
o cholera-morbus o Amazonas, ceifou quasi toda a
sua popu lação . Conservam os indígenas ainda uns restos
longínquos dos usos primitivos.
A esquerda da cidade
fica
um outeiro, d onde se goza o
mais bello panorama. Quando
não
fosse
notável
esse ponto
pelo
grande horizonte, e perspectivas variadas que dahi se
gozam,
as ruínas que ahi ainda se vê, de um antigo forte, o
fariam, com as suas recordações
h i s t ó r i cas .
Com
effeito
grossas
porções
<?e
muralhas,
signaes
de
fos
sos, aqui excedendo a mata que já as cobre,
acolá
enco
berta pela mesma, nos lembram o patriotismo de um
abas
tado portuguez e o não menos nobre de seu filho, a quem
cabe a gloria não só da
edif icação,
como do seu commando.
Reinando D. João
I V ,
e temendo alguma invasão defran-
cezes
pela Guyanna, mandou
fortificar
as margens do
Ama
zonas, por
cujo
motivo Francisco da
Moita
Fa lcão ,
o mesmo
que foi ao Maranhão com o Governador Gomes Freire de
Andrade
em 1685, pela revolta de Manoel Beckmann, offere-
ceu-se para fazer quatro fortalezas á sua custa e no curto es
paço de quatro
annos
; pelo que
El-Rei,
por lvará de 15
de Dezembro de 1684, fez
mercê
ao mesmo
indivíduo
de
uma das quatro que se obrigára a fazer, podendo o mesmo
por
sua
morte
passal-a a seus
filhos. Missionava
então a al-
dêa dos Tapajós o padre João Maria Garsoni e fallecendo
Francisco da Motta Fa lcão , deixando apenas principiadas as
mesmas fortalezas, D . J o ã o , por Carta Patente de
1
4 de
Julho de
1716,
fez mercê a seu filho Manoel da Motta de
Siqueira,
do governo vitalício da fortaleza dos Tapa jó s ,
em
recompensa do serviço de tel-as feito à sua custa.
Prestou este, juramento, e rendeu preito e homenagem,
nas mãos do Governador Capitão General Christovão da
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— {{ m
d i a 1 8 d e J u n h o d e 1 7 1 8 , a s s e n t a n d o p r a ç a d e p o i s a 2 6
d e J u l h o
c o m
o
s o l d o
d e
8 0 0 0 0
a n n u a e s ,
p o r
o r d e m
d o
m e s m o
G o v e r n a d o r ,
d a d a
e m
1 5 d o m e s m o m e z e a n n o .
D e z a n o v e
a n n o s
d e p o i s ,
n ã o
p o d e n d o ,
p e l a s m o l é s t i a s q u e
s o f f r i a
e p e l a a v a n ç a d a i d a d e q u e t i n h a , d e 8 0 a n n o s , c o n t i
n u a r c o m o
G o v e r n a d o r
d a
m e s m a
f o r t a l e z a , r e q u e r e u ao
G o v e r n a d o r C a p i t ã o
G e n e r a l ,
q u e e n t ã o
e r a
J o ã o d e
A b r e u
C a s t e l l o
B r a n c o , ( 1 )
q u e
h a v i a
t o m a d o
p o s s e
e m
1 8
d e
S e t e m b r o
d e 1 7 3 7 , q u e , e m
v i s t a
d a c a r t a p a t e n t e
q u e
t i n h a , n o m e a s s e s e u f i l h o J o ã o d a M o t t a d e S i q u e i r a p a r a
s u b s t i t u i l - o .
A t t e n d e n d o o G o v e r n a d o r ,
p a s s o u
e m 8 d e
O u t u b r o d o m e s m o a n n o , u m a c a r t a p a t e n t e a o m e s m o J o ã o
d a M o t t a
d e S i q u e i r a ,
d a n d o - l h e o r e f e r i d o g o v e r n o d a
f o r t a
l e z a
s e m
s o l d o ,
p o r p e r t e n c e r
a
s e u
p a i .
T o m o u
e n t ã o
p o s s e
e m
2 1
d e
O u t u b r o d o
m e s m o a n n o ,
d e p o i s
d e
r e n d e r p r e i t o
e
h o m e n a g e m
a E l - r e i c o m o e r a d e e s t y l o .
P a s s a n d o
a g o v e r
n a r a f o r t a l e z a J o ã o d a M o t t a d e S i q u e i r a e v a g a n d o o p o s t o
d e t e n e n t e p o r p a s s a g e m q u e d e l l e f e z p a r a o d e a j u d a n t e
d e
a r t i l h a r i a D o m i n g o s
R o d r i g u e s , e m 9
d e
N o v e m b r o
de
1 7 4 6 ,
f o i
p r o v i d o
n o
m e s m o
p o s t o
s e u
f i l h o
M a n o e l
d a
M o t t a
d e
S i q u e i r a ,
p o r c a r i a p a t e n t e
d a m e s m a
d a t a , a s s i g n a d a
p e l o m e s m o g o v e r n a d o r
C a s t e l l o
B r a n c o . M e r e c e u e s t e p o s t o ,
p e l o s relevantes s e r v i ç o s
q u e
p r e s t o u c o m o s o l d a d o v o l u n
t á r i o d a c o m p a n h i a d o c a p i t ã o J o ã o P a e s do
A m a r a l , n o
e s p a ç o
d e
u m
a n n o
e o i t o m e z e s .
E n t r o u e m e x e r c i c i o no d i a
1 2 d e
N o v e m b r o
d o m e s m o
a n n o .
C o n s i d e r a v a m - s e
o u t r o r a b o n s s e r v i ç o s , a s rondas sen-
tinellas e guardas l M a n o e l d a M o t t a , f o i t a m b é m J u i z
o r d i n á r i o e d e o r p h ã o s ,
d a
v i l l a d e S a n t o A n t ô n i o d e G u r u p à ,
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Reconhecendo D . Pedro I I o pacifico, os serviços
prestados
por
seu avô, quiz ainda mais galardoal-o nomeando-o
moço fidalgo
de sua Real
Casa
e agraciando-o com o ha
bito de Christo, em quatro g e r a çõe s . Gozam ainda estes
foros, sem o saber ou delles não fazer
caso,
os sete
filhos
que
ainda vivem de
João
Pedro da Motta de Siqueira, que falle-
ceu em 1864 com 70 annos. De pesquiza em pesquiza con
segui saber o histórico do Forte do Tapa jós por documen
tos originaes que
f u i
descobrir nas
mãos
da
viuva
do mesmo,
Theodora Antonia Gomes, moradora no Á r a p ix u n a . 1)
1) DOM
JOÃO
P O R
GR Ç
D E D E O S
R E I
D E P O R T U G A L E DOS
A L G A R V E S
D
Q U E M E
D A L E M
M R E M
Á FR IC
S E N H O R D E
G U I N É
E D C O N Q U I S T A
N A V E G A Ç Ã O C O M M E R C I O D E T I Ó P I A A R Á B I A P É R S I E D Í N D I A E T C .
Faço saber aos que esta minha Carta Patente virem que tendo con
sideração a haver feito merc ê a Francisco da Motta Falcão por
lvará de quinze de Dezembro de mi l e seiscentos oitenta e quatro
de uma das quatro Fortalezas que se havia obrigado a fazer por sua
conta dentro em quatro
annos
pelo Rio das Amazonas acima nas
partes mencionadas, na
provisão
que se havia passado para o dito
effeito, qual t lle escolhesse em sua vida, e por sua morte para um
de
seus
filhos qual elle nomeasse e hora vem representar por parte
de seu
filho
Manoel da Motta de Siqueira fallecer o dito seu Pay sem
dar cumprimento as
condições
com que lhe havia fei o a referida
merc ê e as mais com elle mencionadas e só deixar principiadas algumas
das ditas Fortalezas, e por sua morte tratar o dito Manoel da Moita de
Siqueira
com todo o valor trabalho e
despeza
de
sua... .da
não de
acabar
as taes fortalezas as quaes se acham em sua ultima perfeição
como que tinha i n d i as condições que se haviam dado ao
dito seu pay e mercê de governal-a.
escolhe-se
em sua
vida, e por sua morte ao íilho que nomeasse, e que se devia verificar
no supplicante por ter satisfeito as condições a que o dito seu pay
estava obrigado, e para se lhe passar
o
é
despacho
do Governo da Tal
Fortaleza nomeando logo a dos
Tapajós
que elegia para sua
assis
tência ; e tendo despeito aos documentos que apresentou e ao que
sobre
este
requerimento informou o Governador e Capitão geral do
Estado do Maranhão e respondeu o meu procurador da Coroa a que
se deu vista.
Hei por bem fazer
mercê
ao dito Manoel da Motta de Siqueira do
governo da dita Fortaleza do Tapajós cm sua vida e por sua morte ao
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Ainda em 1852, existia o forte, servindo de quartel e
de cadeia, para onde se entrava por
pontes
que tinha
sobre
os fossos. Formava um quadrado, com 22
b r a ç a s
de cada
de que se f a r á termo nas costas desta Carta Patente que por firmeza
de tudo lhe mandei
passar
por duas vias por mim assigriada e sellada
c o m 0 sei Io grande de mhha* armas, e nos registros do dito A l v a r á se
p o r ã o as verbas n e c e s s á r i a s , e pagou de novo direito quarenta mi l ré i s
da propriedade e outo mil réis da renuncia que se carregaram do
Thesoureiro
A l e i x o
Botelho de Ferreira, a fls. 31 e deu
f i a n ç a
no l i
vro a dobra do papel inutilizou uma linha in-
teira) dão junclica, e não a apresentando no dito tempo pagar pelo
que a junta lhe arbit rar, como constou de seu em forma registado
no registro geral a f l s . 47. Dada na cidade de Lisboa, aos quatorze
dias do mez de Julho. D i o n i z i o Cardoso Pereira a fez, Anno do nasci
mento de Nosso Senhor
Jezuz
Christo de mil e
setecentos
e
dezeseis.
Seguia-se uma assignatura indecifrável).
Assignado) L R E I
Lugar do s c l l o .
Patente
por que Vossa Magestade faz
m e r c ê
a Manoel da
M o t t a
de
Siqueira do governo da fortaleza dos T a p a j ó s em sua vida e por sua
morte ao f i l h o que elle nomear e que com o di to governo haja soldo
de outenta mil
r é i s
cada
anno pagos
pelo rendimento da
í a z e n d a
real,
como nella se declara que vai por duas vias.
Para
Vossa Magestade ver.
Por rezolução de Vossa Magestade de 16 de Março de 1716, em con
sulta do conselho u l t i m o de 13 do dito mez e anuo.
Pagou 400 r é i s .
Joseph de Carvalho Abreu. Joseph Gomes de Azevedo.
Fica
assentada e>ia carta nos
l i v r o s
das
m e r c ê s
e pagou vinte via
e f ica posta a verba que requer. Lisboa 22 de Julho de 1716. Amaro
Nogueira de Andrade.
Registada na c â m a r a mór da corte e reino no l i v r o de otticios e
meio és f l s . 392. L isbòa 23 de Julho de 1716. Innocencio C o r r ê a de
Moura.
Pagou X ré i s por ser via. Lisboa 23 de Julho de 1716. Dom J M i g u e l
Maldonado.
Registada na secretariado conselho ultramarino no l i v r o 1. de
o f f i c i o s
a fls. 12o e
f i ca
posta a verba que requer. Lisboa 23 de Julho
de 1716.
Assignatura [Inintiligivel.)
Cumpra-se como Sua Magestade, que Deus guarde manda ao go
vernador da fazenda real desta capitania Pedro Mendes Vismas lhe
mande sentar
p r a ç a
com soldo de outenta mil
r é i s
como e se
r e g i s t a r á aonde...
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l a d o
d e f e n d e n d o
o s
â n g u l o s q u a t r o
b a l u a r t e s .
T i n h a
e m
r o d a f o s s o s c o m p o n t e s l e v a d i ç a s e
e r a
t o d o c o n s t r u i d o d e
t a i p a d e
p i l ã o .
G e n e r a l d e s t e E s t a d o C h r i s t o v ã o d a C o s t a F r e i r e , h o u v e p o s s e ,
j u r a m e n t o ,
p r e i t o e h o m e n a g e m e m s u a s m ã o s M a n o e l d a M . d e
S i q u e i r a
p e l o g o v e r n o d a F o r t a l e z a
d o s
T a p a j ó s
q u e
S u a
M a -
g e s t a d e q u e D e u s
G u a r d e
p o r m e r c ê d e q u ;> f ô r a t e s t e m u n h a s o
C a p i t à o - M o r d a C a p i t a n i a J o s é V e l h o d e
A z e v e d o
( 1 ) e o C o r o n e l
d a s o r d e n a n ç a s
l l a r i o
d e
M o r a e s
B i t a n c u r t . B e l é m d o P a r á 1 8
d e J u n h o d e 1 7 1 8 .
Antônio Rodrigues Chaves.
F i c a r e g i s t r a d a n o L i v r o q u e s e r v e d e n a f a z e n d a r e a l d e
fl. 2 5 v e r s o e ls 7 e l a n ç a d o o s o l d o d e 8 0 , d e p r i m e i r a p l a y n a
a
fl.
3 3 8 , p o r m i m
e s c r i v ã o
d e l l a ,
e t c .
( A s s i g n a d o ) . Caballeiro.
JO O DE BREU C STELLO BR NCO DO CONSELHO DE SU M GEST DE
G o v e r n a d o r e C a p i t ã o G e n e r a l d o M a r a n h ã o , e t c . F a ç a s a b e r a o s
q u e e s t a m i n h a C a r t a P a t e n t e v i r e m q u e s e n d o - m c a p r e s e n t a d a p o r
M a n o e l d a
M o t t a
d e
S i q u e i r a
u m a
p a t e n t e p a s s a d a e m c a t o r z e d e
J u l h o
d e m i l s e l e c e n t o s e d e z e s e i s , p e l a q u a l S u a M a j e s t a d e
q u e
D e u s
G u a r d e
f o i
s e r v i d o p r o v e l - o
n o
g o v e r n o
d a
f o r t a l e z a
d o
T a p a j ó s e m r e m u n e r a ç ã o d o s s e r v i ç o s q u e h a v i a f e i t o a o d i t o
S e n h o r e d i f i c a u d o á s u a c u s t a q u a t r o F o r t a l e z a s n o R i o d a s A m a
z o n a s e f a z e n d o o u t r o s m a i s s e r v i ç o s e m a t t e n ç à o a o s q u a e s l h e
f o i
c o n c e d i d o
n a m e s m a
P a i e n t e a
m e r c ê
d e
q u e
p o d e r i a n o m e a r
u m d o s s e u s f i l h o s q u a l e l l e e s c o l h e s s e p a r a q u e p o r s u a m o r t e
l i c a s s e c o m o g o v e r n o d a m e s m a F o r t a l e z a e r e q u e r e n d o - m e q u e
p o r s e a c h a r j á m u i t o a d i a n t a d o n a i d a d e , q u e p a s s a d e o i t e n
t a
a n n o s e p e l o s s e u s
a - h a q u e s
t o t a l m e n i e i n h a b i l p a r a p o d e r
a s s i s t i r n a m e s m a
F o r t a l e z a
n e m
f a z e r
n e l l a
a l g u m
s e r v i ç o ú t i l
a
S u a
M a g e s t a d e m e p e d i a
n o m e a s s e
p a r a s u b s t i t u i r a s u a f a l t a a
s e u f i l h o J o ã o d a M o t t a S i q u e i r a , p r o v e n d o - o n o g o v e r n o d a r e
f e r i d a
F o r t a l e z a e a t t e n d e n d o e u a o s b o n s s e r v i ç o s q u e o d i t o
M a n o e l d a M o t t a d e S i q u e i r a t e m f e i t o a S u a M a j e s t a d e , r e c o
n h e c e n d o n a m e s m a p r e z e n ç a a v e r d a d e , d a s u a s u p l i c a p e l o q u e
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— 15 —
O Governo provincial ha poucos annos, gastou infructife-
ramente mais de 20:000^0000 mandando levantar uma
muralha na frente do mesmo, que
ficou
em principios e
que ainda hoje se vê.
e obedeçam as suas ordens como devem e são obrigados. E antes
que o
dito João
da
Motta
Siqueira passe ao governo da
dita forta
leza j u ra r á em
mesmas
maons preito e homenagem. E por íirmeza
de tudo lhe mandei passar
apresente
por mim
assignãda,
sellada
como sinele de minhas armas que se cu mp ri rá tão inteiramente
como
n ella se contetn, é se
reg is t ra rá
onde tocar. Dada
n esta
cidade de
Belém
do
Grão-Pará
aos 8 dias do mez de Outubro do
anno do Nascimento de Nosso Senhor JESUS Christo de 1737.
José Gonçalves da Fonseca, Secretario do Estado a íez.
Assinado— João de Abreu Castello Branco. Carta Patente pelo
Governo da fortaleza dos T a p a j ó s que V. Ex. foi servido man
dar
passara João
da
Motta
Siqueira em nome de Sua Magestade
pelas
razões
acima declaradas.
Regulamento a fls. 18 do L, 1.° do Registro Geral que serve n esta
Secretaria, íica registrada esta Patente. Belém do Pará 8 de
Outu
bro de 1737.
José Gonçalves
da Fonseca.
Aos vinte e um dias do mez de outubro de mil selecentos e
trinta e
sete
nesta
cidade de Belém do Grão-Pará, no Palácio
deste
Governo aonde Governador
Capitão
General
deste
Es
tado João de Abreu Castello Branco, faz preito e homenagem em
suas
maoens
João
da
Motta
de Siqueira do Governo da Fortaleza
do
Tapajós
em que é
provido
pela
Patente
atraz escrita de que fez
assento
no
livro
das homenagens que assignou com o
Capitão-Mór
do Pará Custodio Antônio da Gama e o Coronel Gaspar de Siqueira
Queiroz, que se acham presentes a
este
acto ; e de como fez o
dito preiio
e homenagem se lhe passou
esta cert idão
que eu
José
Gonçalves da Fonseca fiz e assignei. Assig. José Gonçalves da
Fonseca.
Registem-se-;he e se lhe sente praça na fô rma que a mesma patente
declara.
Belém
do
Pará,
3 de Outubro de 1737.
(Assignado), Figueiredo
Registrada nos Livros da Fazenda que servem de Cartas Patentes
f l
76. Vc. 77. Belém do Pará, em 30 de Outubro de 1737.
(Assignado) Pedro Cavalleiro.
JOÃO DE ABREU CASTELLO BRANCO DO CONSELHO DE SUA MAGES
tade Governa dor Capitão General do Estado do Maranhão , etc.
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—
16 —
Collocado como disse em soberba posição como ponto de
vista,
não o é comtudo
m i ü t a r m e n t e
fallando ; porque não
evita
a passagem de vasos de guerra pelo Amazonas, nem
tão pouco fecha a embocadura do rio T a p a j ó s; por haver
entrando e sahindo de guarda, Fazendo rondas e sentinellas com
todo
cuidado e zelo ao
r ea l s e r v i ç o ;
e porque se acha vago o pos
to de Tenente da Fortaleza dos T a p a j ó s por passagem que d elle
fez Domingos Rodrigues que o exercia ao
posto
de Ajudante de
Ar t i lhar ia d es ía pra ça e esperar do dito Alwoel da Motta de Si
queira s irva
com boa
s a t i s f a ç ã o
conforme a
c o n f i a n ç a
que
f a ç o
da
sua
pessoa. Hei por bem provel-o como por esta
f a ç o
ao referido
posto de Tenente da Fortaleza dos T a p a j ó s qne s e r v i r á por tempo
de tres annos emquanto eu houver por bem e Sua Magestade não
ordenar
o contrario com o qual
posto
g o z a r á de todas as honras,
previlegios, liberdades,
i z e n ç o e s
e franquezas que em
r e z ã o
dé
lhe lhe tocarem. Pelo que mando a todas as pessoas que lhe forem
subordinadas
lhe
o b d e ç a m ,
cumpram, guardem suas ordens tanto
de
palavra,
como por
è s c r i t o
como devem e são obrigados e ou-
trosim ordeno ao Procurador da Fazenda Re a l lhe mande formar
seu ascento
para
prevenir o soldo que levaram seus anteccessores,
e o C a p i t ã o da dita
Fortaleza
lhe dará posse e juramento na f ô r ma
do estilo, e por firmeza de tudo lhe mandei passar a presente por
m im
^signada e sellada com o sinete de minhas armas que se
c u m p r i r á
inteiramente como h ella se
c o n t é m
e se
r e g i s t r a r á
onde
tocar.
Dada na cidade de B e l é m do P a r á aos nove dias do mez de
Novembro do anno do Nascimento de Nosso Senhor
J E S U S
Christo de mil
setecentos
quarenta e seis. E eu Malhias Paez de
Albuquerque Ofiicial
da
Secretaria
de Estado a fiz:
Assignado, João de Abreu Castello Branco.
Carta Patente por que V. Ex. ha por bem prover Manoel da
Mõ t t a
de
Siqueira
no
posto
de Tenente da
Fortaleza
dos
Ta p a j ó s
que se acha vago por ler passado Domingos Rodrigues que ser
v ia
ao
posto
de Ajudante de
A r t i l a r i a
d esla
p r a ç a
como n es-
ta se declara,
Para V. E x. ver.
Registrada a fls. 142 do L i v r o que serve n esta Secretaria de E s -
tado de Registo de Patentes militares.
P a r á
9 de Novembro de
18S6.
Mathias Paez de Albuquerque.
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— —
p a s s a g e m f r a n c a p e l o c a n a l d e n o m i n a d o i m p r o p r i a m e n t e
I g a r a p é
a ç u
S a n t a r é m , a m a i o r d a s c i d a d e s d a p r o v í n c i a , é t a m b é m
a e m q u e m a i s s e v ê d e r r a m a d a a i n s t r u c ç ã o . O i t o e s t a
b e l e c i m e n t o s d e e d u c a ç ã o h a a l l i q u a t r o e s c o l a s p u b l i c a s
p a r a o s e x o m a s c u l i n o s e n d o d u a s n o c t u r n a s p a r a a d u l t o s
e e s c r a v o s u m a p a r a o s e x o f e m i n i n o e m a i s
t r e s
o u t r a s
e s c o l a s
p a r t i c u l a r e s
d u a s
p a r a
o
s e x o m a s c u l i n o
e u m a
p a r a
o
f e m i n i n o .
A l é m
d e s t a s s e t e e s c o l a s e x i s t e
u m
c o l -
l e g i o p a r t i c u l a r
j á b e m
m o n t a d o ,
p a r a e n s i n o p r i m á r i o e
s e c u n d á r i o . D i v i d i d o e m i n t e r n a t o e e x t e r n a t o a d m i t t e
p a r a
a m b a s
a s d i v is õ e s
a l u m n o s g r a t u i t o s .
F o i
i n s t a l l a d o
n o
d i a 1 d e
O u t u b r o
d o
a n n o
d e
1 8 7 1 m a t r i c u l a n d o - s e
n e s s e d i a 3 5 a l u m n o s . A c t u a l m e n t e c o n t a 5 0 n u m e r o q u e
p a r e c e d i m i n u t o m a s q u e n ã o é s e a t t e n d e r m o s á
f a l t a
d e
p o p u l a ç ã o e a o f a c t o d e h a v e r e m o u t r a s e s c o l a s t a m b é m
f r e q ü e n t a d a s . 0
a u g m e n t o p r o g r e s s i v o
e o e s t a d o
s a t i s f a c -
t o r i o q u e s e
n o t a m
s ã o
d e v i d o s
a o s e sf o r ç o s d o s e u
d i g n o
d i r e c t o r o t e n e n t e c o r o n e l J o a q u i m R o d r i g u e s d o s S a n t o s e
d o
v i c e - d i r e c t o r
o h o n r a d o e
i n t e l l i g e n t e
C a p i t ã o F e r n a n d o
F è i i x
G o m e s
J ú n i o r .
F r e q ü e n t a m j á o 1 .
0
a n n o
d o c u r s o s e c u n d á r i o
o i t o
a l u m n o s . 0 g o v e r n o
p r o v i n c i a l
s u b v e n c i o n a e s t e e s t a b e l e
c i m e n t o c o m a q u a n t i a d e 4 : 0 0 0 0 0 0 , q u e é s e m d u v i d a
a l g u m a m u i t o p e q u e n a ; a t t e n d e n d o a o s m e l h o r a m e n t o s
q u e s e t o r n a m n e c e s s á r i o s á c a s a q u e é p e q u e n a , j á p a r a
o
n u m e r o
d e
a l u m n o s
e
p a r a o u t r a s r e f o r m a s
d e q u e n e
c e s s i t a
o
m a t e r i a l .
A '
f a l t a
d e m a i o r e s p a ç o
o n d e
n a s h o r a s d e
r e c r e i o
o s
a l u m n o s s e d i v i r t a m d e s e n v o l v e n d o o s e u p h y s i c o é s e n
s í v e l . A c r i a n ç a
q u e r
a r e e s p a ç o , p r e n d ê l - a e m u m
a c a
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— 8 —
praticas das duas primeiras sciencias; porque, qualquer
que
seja
a carreira que tenha de seguir o alumno, o estudo
da
bo tân ica
de mineralogia, geologia, etc., ser-lhe ha
sempre mais
u t i l
do que o da physica e chimica, que
ap ren d e rão
nas faculdades. A maioria dos alumnos natu
ralmente s egu i rá a vida da lavoura, e para esses aproveita
mais a historia natural do que a physica.
Existe ahi
t a m b é m
uma sociedade
litterario-scientifica
,
com
o nome de
Sociedade Elhnographica
com um museu
e uma bibliotheca, com mais de 2.000 volumes, que
está
franqueada ao publico. Foi fundada no dia 7 de Setembro
de 1872, pelo humilde autor deste escripto, com a coope
ração
das principaes
pessoas
da localidade, a quem rendo
aqui
um publico testemunho de
g ra t i d ão .
O commercio em San t a rém é grande, e es tá todo nas
mão s dos nacionaes, que procuram o engrandecimento do
seu
t o r r ã o .
O alto
Tapa jós
e o
mun ic íp io abastecem
seu
mercado. Os principaes
gêneros
de
expor tação
são : bor
racha, cacáo cal, gado, couros, g u a r a n á pirarucu peixe),
salsa, vinhos, etc. Outros productos t a m b é m exporta,
porém em quantidade diminuta, como: cavallos, cumaru,
es tôpa
oleo de copahyba,
sebo,
tabaco, etc.
Comparando-se a
exportação
do triennio de 1869 a 1871,
vê-se que diminue, e que provavelmente d i m i n u i r á ainda
mais.
Tendo augmentado gradualmente até 1867, anno
da maior
expor tação começou
de
en tão
para cá a apre
sentar
osci l lações
quando devia ir augmentando progres
sivamente .
Por
este
pequeno quadro dos principaes gêneros expor-
tativos
poder-se-ha
avaliar. 1)
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— 19 —
êneros
1869. 1870. 1871.
arrbs. lbs. arrbs. lbs. arrbs. lbs.
Borracha 7.477 9.240 6.987
Cacáo
16.067 44.590 40.028
Carnes 5.585 5.281 8.928
Couros 6.000 4.000 1.434
Pirarucu peixe)... 10.898 23.460 11.837
Salsa
115 29 199 68 20
Nos
outros
gêneros nota-se tam bém sens ível d im inui
ção .
Duas
t êm
sido as causas : uma natural, contra a
qual
não ha
r em éd io
mas outra que é mister comba
ter quanto
antes.
A primeira
fo i
a abundante chuva dos
úl t imos annos, que impedio a pesca, matou o gado e
destruio
as
p l an t açõ es ;
a segunda é a
extracção
da bor
racha, que fez com que centenares de ind iv íduos aban
donassem suas p lan tações seu commercio, etc. e seguis
sem para o
Alto
Amazonas, onde, procurando um
lucro
fictício
perderam a
s aúde
e algum capital que por ven
tura
possu íam para voltarem miseráve i s quando não fica
vam
sepultados lá.
Famí l ias
inteiras abandonaram tudo e
seguiram para os seringaes.
A p rohib ição expressa
de extrahir-se borracha nas flo
restas do governo, t r a r á nos primeiros cinco annos alguma
para lysação
ao commercio, mas depois as
rendas serão
maiores, h av e rá progresso, lavoura, industria, haverá
finalmente
vida I
Innumeros productos vegetaes são hoje desprezados, o
que não o s er ão e n t ã o ; as madeiras, por exemplo, que
podem abastecer nossos arsenaes e mercados, serão apro
veitadas ; ver-se-hão as margens dos rios cobertas de ser
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Dir -me-hão , talvez, que é impossíve l essa p r o h i b i ç ã o ;
mas assim como se prohibe a pesca da tartaruga no tempo
da postura para não faltar alimento á pobreza), assim
t a m bé m pôde prohibir-se a e x t r a c ç ã o da borracha.
Lavoura
e industria,
póde-se
dizer que não existem em
Sa n t a r é m .
Os fazendeiros são creadores de gado e só
cu l
tivam pequenas porções de terreno para o costeio das
fazendas.
Quanto
industria, não ha
s enão
uma fabrica
de vinhos de frutas do paiz que já exporta annualmente
quasi 2.000 garrafas), algumas redes e uma ou outra
obra de palha grosseira, a não ser a da
colônia
americana
que ahi existe, prosperando muito e a da cal, que se ex
porta para a p rovínc ia do Amazonas. Alguns americanos
do sul, estabelecidos na serra, são os
ún icos
lavradores
que mostram o que
pode rá
ser o
munic íp io
de
San ta rém
quando reconhecerem a necessidade de trabalhar e a
emigração
para ahi
a í í luir .
E
uma
colônia
composta de 19
f amí l i a s , representadas
por quasi 88 i nd iv íduos , sendo 77 norte-americanos e I I in-
glezes. Entre elles existem dous
méd icos ,
quatro
m e c â
nicos,
um padre,
sendo
os outros lavradores. O
Padre
que
o Rev. Sr. Hennington, é tão industrioso que conseguio
fazer por suas
p rópr ia s mãos
lOmachinas, com os recursos
do lugar. São movidas por agua e podem trabalhar
todas a um tempo ou
separadamente.
1)
O
estrangeiro que aporta a
S a n t a r é m ,
é recebido com
agasalho e
affago.
Os
usos
e costumes são os de uma sociedade bem edu
cada apezar de dizer Henrique Bates, naturalista, na sua
obra
he
naturalist
on the
Am azone : primo que a alta
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meio dia, quando o sol es tá a pino e que o calor é insuppor-
tavel,
por
causa
da areia ;
tertio
que nas noites chuvosas
os jacarés
e
onças
chegam á cidade.
As duas
primeiras
asserções
são inteiramente falsas e
filhas
de indisposições
pessoaes^
segundo
0
n
indaguei.
A terceira, t a m b é m é falsa. Bates nunca vio onças dentro
da cidade, mas, aproveitando-se do archivo da
c âmara
municipal,
que teve entre
m ãos a f f irmou
um facto que
não se dava na época em que elle v isi tou Sa nta rém (1851).
V i
que o l ivro 1.° das
actas
das sessões da c â m a r a a f l 43,
que em sessão de 13 de Dezembro de 1830, o vereador
Domingos José
Martins de Albuquerque, propoz, que visto
apparecerem ás vezes animaes ferozes na vi l la se pagas
se
pelas
rendas do conselho da municipalidade a quantia
de 4 a quem
matasse
um dos ditos animaes dentro da ci
dade;
depois de alguma
d iscussão
foi resolvido
pagar-se
somente 4 por cada
onça
e 2 , por qualquer outro
ani
mal . Ahi colheu Bates sua in fo rmação .
Depois do rápido esboço que íiz do estado actual de
S a n t a r é m
apresentarei alguns esclarecimentos sobre o seu
passado.
Foi taba principal dos Tap a jó s que julgo oriundos do
P e r ú d o n d e sahiram talvez pela invasão hespanhola. Não
havendo documento nenhum histórico a tal respeito, a
archeologia
encarrega-se
de mostrar que os
Tapajós
tinham
quasi os mesmos
usos
dos Incas. O uso dos muirakitans,
dos
quaes
depois fa l lare i vem mostrar t a m b é m que, na
descida do Peru, relacioriaram-se com a t r i b u que existia
no Rio Trombetas, e que impropriamente foi chamada
das Amazonas, porOrellana. Habitaram não só a margem
do rio mas t a m b é m as
chapadas
das
serras
que a contor
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—
22 —
conchas, etc. Senhores de toda a margem do rio, com
diversos nomes
á q u e m
das cachoeiras, ainda hoje chamado
pelos tapuyos Tapayú parand rio dos Tapa jós , tinham
sua principal taba na embocadura do mesmo rio.
Por ordem do superior dos frades da companhia, o padre
Antônio Vieira,
em 1661
fundou
a aldeia dos
Tapa jós
o
padre
João
Felippe
Bittendorf,
em
virtude
da ordem
rég ia
de D. Pedro reunindo a estes propriamente ditos os
Urue-
r u c ú s ,
que estavam na outra margem. Sendo governador
Ruy
Vaz de Siqueira e mandando uma
expedição
ao rio
Urubu vingar a morte covarde e
t ra içoei ra
do sargento-
mór Antônio Arnaud Vi le l l a ,
sahio esta no dia 6 de Setem
bro
de 1664, commandada pelo
capi tão
Pedro da Costa
Favilla, que chegou á a ldêa dos Tapa jós em 25 do mesmo
mez e anno, chamando a si alguns dos indios
Tapa jós
que
ainda ahi
v iv iam.
1)
Em
1768, quando o padre Dr.
José
Monteiro de Noronha,
vigário
geral do Rio Negro, escreveu seu Roteiro diversas
tribus
habitavam as margens do rio, uma das
quaes
a dos
Maués ,
ainda hoje ahi se conserva, e os outros gentios eram
os
Tapacorá ,
Carary,
. lacaré tapiyá , Çuar i rana,
Piriquito,
Uarupá , Sapopé , Uaráp i ranga
e
Yauain.
Os
Sapopés
e
Jacaré tap iyá eram antropophagos. Os Uaru p á e Çuar i rana
e
Piriquito, tinham
nas faces
signaes
pretos feitos á ponta
de espinhos e depois
coloridos.
Os Yauain tinham uma
listra larga e da mesma côr desde a raiz dos cabellos na
testa até a barba. Suas tabas eram as povoações de Alter
do Chão, Boim, Pinhel, Vil la
Franca e outras
além
das
cachoeiras, tendo alguns, como os
Sap u p és
e
Uaru p às ,
algumas malocas, no
furo U rar iâ ,
que
deságua
no rio Tu-
pinambaranas, e no Matary, centro dos S a p u p é s .
Habi-
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— 23 —
tavam pelo centro os seguintes: Apaunuariás, Marixitás,
Amanajés Apicur icús Mor ivás Moqui r iás Jacaréuarás
Anjuar iás Senecur iás Necur iás etc, vindo julgo eu, os
A m a n a j é s do rio Tocantins, os quaes usavam no lábio su
perior um fu ro e outros nas orelhas, que eram enfeitados
com pennas amarellas e azues mettidas em um canudinho,
que se adaptava aos mesmos furos. Dous nomes indicavam
a localidade de
suas
tabas,
se
áq u em
ou
a lém
das cachoei
ras : Canicuruz designava os do baixo Tapajós e Yapy
ruara
os do Alto. Mais tarde estas tribus foram exter
minadas pelos M u n d u r u c ú s . Em 1750 a população na aldôa
era de 400 almas pouco mais ou menos.
Em virtude da lei de
G
de Junho de 1754, que mandou
elevar á categoria de v i l la as missões dos jesuitas, já em
estado de prosperidade, po rém sujeitas ao o rd inár io D.
Francisco
Xavier
de Mendonça Furtado, 1) elevou a al-
dêa dos Tapajós a
villa
de S a n t a r é m sendo inaugurada ern
3 de Julho de 1757 pelo seu primeiro v igário o Rev.
Padre Francisco
Xavier
Eleulerio, nomeado por Provisão
do Rev. Bispo D.
Frei
Miguel de Bulhões em 22 de Abril
do mesmo anno. Missionava
en tão
ahi novamente o padre
Luiz Alvares, que no aclo da i n au g u ração poz embargos
dando como motivos o não ler ordem do seu prelado para
dar posse ao mesmo vigário. 2) Tendo lido solemnemente
na Matriz a Provisão que o nomeava, e elevava a aldea a
1) Commendador de Santa
M arinha
da Mata dos Lobos da Ordem
de
Christo
e
capi tão tenente
da
real
marinha
2) Os m i s s i o n á r i o s que
teve
;> aldea dos Tapajós furam os seguintes
padres da Companhia <ie Jesus: t.°
J o ã o
Pliilippe Bitteiuiorf, funda
dor
da
a l d é a ;
2.° Aloysio Gomado; 3.°
An t ô n i o Pe r e ir a ,
que missionou
a n a ç ã o Cayoana,
e reuniu-as em
Araçary , Tapary
e
Borary;
4.°
J o ã o
Maria Garsoni
1680), que
e d i í i c o u
a l .
a
igreja,
porque os autec sso-
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24
villa, o Rev. Parocho lavrou um termo, assignado, não só
pelo
Director dos í n d i o s o Tenente Manoel C o r r ê a Moncada,
como
pelo C a p i t ã o - m ó r Paulo, Principal A n d r é e mais
pessoas que em grande numero assistiram aesseacto. O
m i s s i o n á r i o L u i z Alvares, negou a sua assignatura. 1) Em
24 de Outubro do mesmo anno foi l ida a primeira pastoral,
obrigando
o povo ao
dizimo
de tudo quanto colhessem,
fizessem,
extrahissem, etc. fazendo a sua
primeira
visita
pastoral o arcypreste Dr.
J o s é Monteiro
de
Noronha,
em 29
1) Dom Frei Miguel de BuJhoens da Ordem dos Pregadores por mercê
de Deus
e de
Santa
Sé
Apostólica Bispo
do
Grão Pará
do
Conselho
de
Sua
Ma gestade Fidelissima
etc
Porquanto o Illm.eExm. Francisco Xavier de Mendonça Furia-
d o ,
Governad or e
C a p i t ã o
General do Estado, nos
participou
çue
e m o b s e r v â n c i a
das Reaes leis de Sua Magestade
e r e g i á
na
Aldeia
dos
T a p a j ó s
em
V i l l a
de
S a n t a r é m ,
e na confo rmi dade das f:eaes
Ordens do
dito
Senhor £ da declaração fue os Prelados regulares
deste
Estado
fizeram em junta
de.dez de Feverei ro , competente ao
nosso Pastoral
o f f i c i o
destinar
algum
E c l e z í a s t i c o
subdilo nosso
para Parocho da referida
V i l l a ,
e na
pessoa
do Reverendo Padre
Francisco
Xavier
Eleu te ri o con co rr em todos os requezitos
neces
s á r i o s
para desempenhar as
o b r i g a ç õ e s
deste emprego, o nomeamos
V i g á r i o
interino da nova
V i l l a
de Saiarem, que
s e r v i r á
em quanto
Sna Magestade como Governador e perpetuo
Administrador
do Mes
trado,
Cavallaria e Ordem do nosso Senhor JESUS
Chrislo,
não man
dar o co nt ra ri o e nó s o havermos por bem, ao
qual
recommendamos
administre
a
seus fregueses
os Sacramentos , que lhe pertencem com
aquella
V i g i l â n c i a
eze l loq t i e
c o n v é m
ao
s e r v i ç o
de Deus e ao bem
cper i tua l
das
nossas
ovelhas que
amamos
nas entranhas de
Jesus
Christo
podendo absolver de todos os
peceados
a nós reservados, ob
servando na
a d m i n i s t r a ç ã o
dos mesmos Sacramentos
inviolavelmen-
te a
forma
que dec lar a o Sagrado
Concilio Trideutino
e
Constitui-
ç o e n s
porque se governa este Bispado e
t e r á
um especialismo cuidado
e m
os
ins t rui r
nos
Mysterios
da Nossa Fé e lhes pr opo r a palavra de
Deus aos Domingos e dias Santos
especialmente
nos dias de
maio
res solenidades na
igreja
fazendo-lhes aquellas prat icasesper imaes
que
julgar
mais
ú t e i s
e proporcionadas a direcçâo de
suas
almas em
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— 25 —
de Outubro ainda do mesmo anno. Entre elle o vigário o
Director dos índios e os chefes dos
mesmos
fizeram um
ajuste em que se obrigava o mesmo director pelo povo a dar
annualmente vinte mil réis para guizamentos da Igr eja e
um pote de
manteiga
de tartaruga e
outro
de
azeite
de andi-
roba
para a lâm pa da do sacrario. Varias pastoraes foram
então
expedidas
por D. Miguel de Bulhões exigindo os dí
zimos
sob pena d e e x c o m m u n h ã o maior. Tres annos
Dada
nesta cidade
de B el ém do Grão Par á sob nosso signale sello
das
nossas
armas.
Passada
pela
Ch artcellaria e registrada
aonde pertencer.
Aos 22 de
A bri l de 1757. Assignada. f F r e i Miguel Bispo do Pará .
Registrada. F e r r e i r a Leonardo.
A c h .
a
e sello—400 r s .
Recebi
F e r r e i r a Leonardo.
Auto de posse que tomou o Reveren do Padre Vigário Francisco Xavier
Eleuterio da Igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição da Villa de
Santarém que até agora se chamava aldêa dos Tapajós em nome do
Exm.° e Revm.
0
Sr. Padre Frei Migu el de Bulhõesj do Conselho de
Sua Mag estade F idellissima etc. Bispo desta Diocese.
Aos 3 dias do mez de Julho do anno de mil setecentos e cincoenta
e
sete
na
matriz
da Vi l la de Santarém
onde
s e acharão
presentes
o Director o
Tenente
Manoel Corrêa Moncada o C a p i t ã o - m ó r Paulo
o Capi tão
Jacob;
o Capi tão
Domingos
o Capitão Fellippe e o Ajudante
D a m i ã o e o s moradores e sendo ahi junto o povo da dila Vi l la que
até
agora
se
chamava
Aldeia
dos Ta pajó s ns pr ese nç a de
todos
mandou o Reverendo V i g á r i o Francisco Xa v i e r Eleuterio publicar
u ma p r o v i s ã o d e S u a E x .
a
R e v i n .
a
em que
nomeava
e consiituia
vigário da dita
Freguezia
em
virtude
da
qual tomou posse
da
sobre
dila Igreja em nome de Sua Ex .
a
R e v m .
a
S r . Bispo abrindo e fei-
xando
a porta do Sacrario observando as
mais cerimonias
do Es-
ti 11o a qual o Reverendo Padre m i s s i o n á r i o Lu iz Alvares embar-
gou
dizendo
que tinha
embargos
que por a dita posse
porque
não
linha ordem de seu Prelado para dar posse nem menos quiz assignar.
e só
disse
que fazia
entrega
; o que tudo
entenderam
as pessoas que
se
achavam
presentes
que
abaixo
vã o
assigaadas
e para que a
todo
í e m p o
constasse
da referida posse
mandou
o Reverendo Vigár io
Francisco Xa v i e r
Eleuterio
fazer
este
termo por mini Manoel Bap-
lista de Araújo Escr ivão commissario nomeado pelo dito V i g á r i o
que este llz é
assignei.
Vil la
de Santarém 3 de
Julho
de
1857.—Manoel Baptista
de Araújo .
— O V i g á r i o Francisco X a v i e r E l e u t e r i o . — J o ã o
Baptista
M a r d e l . —
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— 26 —
depois o Bispo D. Frei João de S. José Queiroz, nomeou
o
2.° Vigário
em 17 de Setembro de 1760, o
Padre
Antônio
da Silva. Em 29 de Julho de 1775
foi
nomeado o 3.°
Vigário
Padre
Dionizio da Fonseca, pelo Bispo D. Frei
João
Evangelista Pereira. Foi depois elevada á categoria de
cidade pela
resolução
n.° 145 de 24 de Outubro de 1848,
sendo
presidente o coronel do imperial corpo de enge
nheiros Jeronimo Francisco Coelho. Em 28 de Julho de
1800 porém
já era tal a
imp ortância
da
villa
que o go
vernador D. Francisco de Souza Coutinho, propoz para
Lisboa a creação de uma nova comarca, tendo por séde
a mesma vi l la com outras que deviam formar a nova
jur isdicção. H o je é cabeça de comarca,
sendo
classificada
de 1 / entranciapeloDecr. n.° 687 de 2ü de Julho de 1850
e de 2.
a
pelo Decr.
n .°
5023 de 24 de Julho de 1872. Tem
dous termos, o de Santarém e o de Monte
Alegre,
com
prehendendo 5
munic íp ios :
de
Santa rém Monte
Alegre,
Alenquer,
Villa Franca e Itaituba, com dous collegios elei-
toraes
o de Santarém e o de Monte Alegre. Feito este bos-
quejo,
proseguirei no estudo da natureza.
Logo
depois da minha
chegada,
no dia 17 pela
m a n h ã
comecei a fazer algumas herborisações. Seguindo pelo
centro da
a ldêa
encontrei uma
pequena
capoeira e tomando
um trilho que por ella
passava,
f u i dar ao matadouro pu
blico que consta apenas de um cercado, ou curral com
uma coberta ao lado. O gado é morto na margem do rio.
Sahindo d ahi dei no campo, onde um pequeno
igarapé
forma um lago.
Ahi nas margens
desse
lago, vi pala primeira vez
o jard
(Leopoldinia puichra), que apezar de pouco desenvolvidos,
tinham alguns
cachos
de fructos maduros. Crescem no
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2 7
N a s i m m e d i a ç õ e s
d e s s e l a g o ,
um a
c r u z
i n d i c a
q u e
o u t r o r a
a h i f o i
u m
c e m i t é r i o .
C o m
e l l a
a i n d a e n c o n t r a m - s e
s o b
a v e g e t a ç ã o
a l g u m a s s e p u l t u r a s , c o b e r t a s d e t i j o l o s
g u a r d a n d o o s r e s t o s d o s c h o l e r i c o s q u e a l l i s e s e p u l t a r a m
q u a n d o
h o u v e a
e p i d e m i a d e
1 8 5 5 . N e s s a é p o c a
d e s o -
l a d o r a
o p o v o f e z u m v o t o a S .
Se b a s t i ã o , q u e c o m e ç o u
c u m p r i r - s e em
J u n h o d e 1 8 7 2 , l e v a n t a n d o - s e
o s
a l i c e r c e s
d e
u m a
c a p e l l a
s o b
a
p r o t e c ç ã o d o
m e s m o
S a n t o .
C o m o
p o r m i l a g r e a c a p e l l a v a i s e e r g u e n d o
g r a ç a s a o s e s f or ço s
d o s e u p r o v e d o r o T e n e n t e C o r o n e l J o a q u i m R o d r i g u e s d o s
S a n t o s ,
a u x i l i a d o
p e l o p o v o .
P o u c o é o d i n h e i r o
m a s t ã o b e m
é e l l e
a p r o v e i t a d o
q u e
a o l h o s v i s t o s a p p a r e c e a p r o v a d o
m i l a g r e
d e S .
S e b a s t i ã o . E s t á s e n d o c o n s t r u í d a
n o
b a i r r o
d e n o m i n a d o
Mundo-Novo
q u a s i
e m
d i r e c ç ã o
a o s f u n d o s
d a
C â m a r a M u n i c i p a l .
E x p l o r e i d e p o i s d i a r i a m e n t e
em
t o d a s a s
d i r e c ç õ e s o
c a m p o q u e o c c u p a u m e s p a ç o d e m a i s d e d u a s l é g u a s e m
t o r n o
d a
c i d a d e , c o b e r t o d e i l h a s
o u
c a p õ e s d e v e g e t a ç ã o ,
n o s q u a e s e n c o n t r a m - s e e n t r e a s l e g u m i n o s a s
o s g ê n e r o s
Hecastophyllum
indigofera, cássia, aeschynomene,
co
l h e n d o d e s t e
u l t i m o
a l g u m a s f l o r e s d a
e s p é c i e paniculata;
piperaceas,
v a r i a s e s p é c i e s do g ê n e r o
Artanthe;
mal-
vaceas, g ê n e r o sida,
s p , v a r . ;
bignoniaceas, acanthaceas
a l g u m a s
passifloreaceas
e
apocynaceas,
e n t r e e l l a s a b u n
d a n d o a l g u m a s
t r e p a d e i r a s do g ê n e r o allamanda. o
l i t o r a l
q u e
b o r d a
o
c a m p o ,
o n d e
s e
e n c o n t r a
o
astro-
caryum jauary c r e s c e m s o b r e a s
gramineas
d i v e r s a s con-
volvulaceas
d o
g ê n e r o Ipomasa Pharbitis), de
f l o r e s
r o x a s ,
b r a n c a s e a m a r e l l a s . T r e s e s p é c i e s
àeclitoria,
d e
f l ô r e s b r a n c a s , r o x a s ,
e
b r a n c a s
e
r o x a s , a b u n d a m
p o r
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— 2 8 —
o u t r a a m a r e l l o - a v e r m e l h a d a . V a r i a s r o s a c e a s d o g ê n e r o
hirtella
e myrtaceas f o r m a m a l g u n s c a p õ e s n a p a r t e
s o m b r i a
d o s q u a e s
e n c o n t r a m - s e melastomaceas. N e s t a s
f a m i l i a s
m u i t a s e s p éc i e s s ã o m a d e i r a s d e l e i e t o d a s c o m
p r o p r i e d a d e s
p a r a
o s
d i v e r s o s m i s t e r e s
d a a r t e . E m u m
d o s m o n t e s f o r m a d o s p e l a o n d u l a ç ã o d o t e r r e n o e n c o n t r e i
a l g u n s g e o d o s a r e n o s o s n a e n c o s t a d o l a d o d o N .
N a
p a r t e b a i x a
e
h u m i d a
d e
a l g u m a s m a t a s
e x t e n s a s
q u e f o r m a m a s m a i o r e s
i l h a s
d o c a m p o a v e g e t a ç ã o é f o r t e
a l t a n e i r a
s e r r a d a
e
m a i s
v a r i a d a .
P r e d o m i n a s e m p r e a h i
n o s c l a r o s d e i x a d o s p e l a s a r v o r e s a p a l m e i r a curuá atta-
l
spectabilis) e n c o n t r a n d o - s e
t a m b é m o
cyagrus cocoides,
o astrocaryum acaule, e cenocarpus bamba. N uma d e s t a s
m a t a s
v i
s o b e r b o s
p é s d e i na jà
maximiliana regia)
c o m
e s p i q u e s
d e
m a i s
d e c e m p é s d e a l t u r a .
T r e p a m p e l a v e g e
t a ç ã o a l g u m a s
j a c i t a r a s
desmoncus) e n t r e a s e s p éc ie s q u e
e n c o n t r e i
d u a s s ã o
n o v a s
u m a t e m 0
m
0 4 5 de d i â m e t r o .
D e n o m i n e i - a s D. ataxacanthus e D. oligocanthus. A l g u n s
i g a r a p é s q u e c o r t a m a q u i o u a l l i o t e r r e n o a r e n o s o do
c a m p o
a p r e s e n t a m
em
s u a s
m a r g e n s
a s
aroideas
e
a
mau-
ritia aculeata. Q u a n t o á o r c h i d e a s sò se e n c o n t r a m
n a s a r v o r e s
d o s c a m p o s e
s o b r e
o s j a r á s
a l g u n s
mona-
chanthus viridis, e n a s m a t a s a l g u m a s gongoras.
C a s o s
d e heteranthia t e n h o o b s e r v a d o
b e m
d i s t i n c t o s
n o mona-
chanthus, a p r e s e n t a n d o no m e s m o p s e u d o b u l b o
t r e s g ê -
n e r o s
d i v e r s o s :
t e m
e m
c a d a
h a s t e
f l o r a l
o
monachanthus
o
catasetum
e o myanthus o u n a
m e s m a h a s t e
l ô r e s e u m
e o u t r o g ê n e r o . N o monachantus é
s e m p r e
a
p o l l i n i a
r u -
d i m e n t a l
e m q u a n t o
q u e o
catasetum a p r e s e n t a - s e
e l l a
s e m p r e b e m c a r a c t e r i s a d a c o m o
c a u d i c u l o
e
r e t i n a c u l o .
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29
monachanthus, ainda mesmo depois de secco e fecundado
ou
desenvolvido
o
fructo,
conserva a sua anthera presa do
clinandro.
Apezar de diíferentes na fô rma dos verticillos externos
da flôr, e nos órgãos reproductores, apresentam-se ambos
dando sementes.
Munidos de
cavidades stigmaticas, se bem
que o
funiculo
do gynostomo seja mais
desenvolvido
no
monachanthus,
ambos fecundam-se e
frutificam-se,
não
podendo concordar por isso com a
opinião
de
Charles
Darwin,
que considera o
monachanthus
como a
fêmea
do
catasetum.
Que se não deva
formar
dous
gêneros
como
Lindley
estabeleceu concordo, attenta a circumstancias da
heteranthia, já observada também por Hooker.
Mas, que só frut if ique o monachanthus como R. Schom-
burgk affirma, também não
concordo,
porque
tenho obser
vado na mesma
haste
ambas as
flôres
fecundadas o que é
fácil de ver-se por serem as flôres persistentes.
Notei no Rio de Janeiro a m udança do monachanthus
para o gênero myanthus como também observou o sábio
D r.
C. A.
Serrão
e
catasetum,
enas
observações
que aqui
tenho
feito
tenho notado que o
catasetum tritentatum,
com
a sua
synonymia,
não
pôde
ser considerado
senão
um
monachanthus,
ou
então,
com Reichembach
filho, acabar-
se este gênero e conservar-se o de catasetum com a sua
heteranthia {monachanthus myanthus e catasetum .
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BAIXO
TAPAJÓS
Não só
com
o
fimde conhecer
vegetação
mas apro
fundar t ambém minhas indagações sobre os
usos
e
costumes dos extinctos indios
Tapa jós
tratei
de
explorar
t ambém
parte da serra
do
Piquiatuba, 1) denominada Ta
perinha.
Para esse imacompanhado do Exm. Sr. Dr. An
tônio
Joaquim Gomes do Amaral, em uma grande
iga r i l é
convenientemente preparada, dirigi-me para
esse
ponto.
Fallando pela primeira vez n este bom amigo, cumpre
aqui render um publico testemunho de reconhecimento e
gra t idão pelos auxí l ios que desse distincto cavalheiro e
amigo recebi; já facilitando-me meios de conducção ou
providenciando
para que nada me faltasse na á r d u a tarefa
que desempenho. Em um lugar onde tudo
são difiQculdades,
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— 32 —
Deixando o porto de Santarém, no dia 5 de Junho pelas
2
horas da tarde, demandei a emboeadura do
Tap a jós .
Ainda avistava a mais de quinhentas braças a linha d i v i
sória entre as águas azuladas
d este
e as pardacentas do
Amazonas quando notei outra vez as porções d aguas do
Amazonas destacadas nas do Tapajós ora á superf íc ie ora
no fundo formando grandes malhas barrentas que se não
confundem.
A medida que me aproximava do grande rio,
maiores e mais unidas eram ellas, a té que
finalmente
de
sembocando no Amazonas, seguindo ainda por
longo
espaço
destacadas,
sensivelmente chegaram a confundirem-se.
Depois de uma curta travessia pela margem, onde a corren
teza ainda formava grande marulho, deixei o Amazonas e
penetrei pelo
furo
Ituquy. Antes de entrar
n este,
pouco
abaixo da confluência do Mahicá parei para examinar
alguns astrocaryum jauarys e um igapó que fica junto á
margem.
Encontrei
algumas utricularias muito desenvol
vidas, das quaes colhi algumas com fructos, não podendo
infelizmente colhel-as em flor porque abertas as
flores
ao
alvorecer, apenas se aproxima o meio do dia ellas deixam a
sua
haste
evem matizara agua.
A
poucos
passos
d ahi,
uma
scena
própria da natureza do equador chamou minha
a t tenção. Presa á um grande tronco, cahido nagua, uma
pequena montaria balouçava-se á sombra de um frondoso
ingazeiro e a poucos passos, na parte mais sombria da
mata,
atada
a
duas
arvores uma alva rede encobria o corpo
de uma tapuya, que ahi gozava a natureza, emquanto o seu
pirarucu assava-se num braseiro que lhe ficava p róx imo.
Poético era o lugar, serena a tarde, que gozava em plena
liberdade a filha do filho das selvas. Vulgar é esta scena,
para quem viaja o valle do Amazonas.
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_
33 —
da canarãna, pela sua roupagem. Um facto, nota-se n estas
aves;
ellas,
tinguijam
t amb ém
o peixe. Formado um
bando, levantam um vôo baixo por sobre a superfície
das águas e vão lançan do ifellas uma m a té r ia leitosa excre-
menticia,
que embebeda o peixe fazendo-o subir á tona
d agua. Voltando depois o bando, aproveita
en tão
a
presa
fácil que assim preparou. Os pescadores aproveitam-se
d essa occasião para apanhar t amb ém o peixe.
J á
noite
deixei
o Ituquy e penetrei por um estreito canal
art i f icial denominado Cavado, mas que pela enchente es
tava completamente debaixo d agua;
formando
com o campo
alagado, pelo qual atravessa, um immensolago coberto de
vege tação .
Depois de algumas horas de viagem,
vi-me
per
dido, porque a
luz
que
nos guiava
era a das estrellas, no meio
da
escur idão .
Oraencalhando, ora recuando, assim como que
as apalpadellas, depois de algum tempo de demora encon
t rei
novamente o canal por onde segui. Durante esta tra
vessia vagarosa, porque levava a
igari té então
tocada a
varas, uma musica horrorosa fazia-se
ouvir
em torno de
nós
e como que nos acompanhava. Cantores de todas as vozes
e de todas as idades, pareciam
esmerar-se
em mostrar
o som rouquenho de
suas
enormes guellas. Alguns nas
bordas mesmo da
igari té
animavam-se a deixar se ver e
ouvir. Compunha-se essa gigantesca musica, de j acarés de
todos os tamanhos.
Para assanhal-os,
um dos
apuicuitdras
1)
arremedava-os;
en tão
como que as
águas
animavam-se,
ouvia-se o barulho
d á g u a
batida pelas caudas e um
ruido
infernal atroava os ares, com o ronco de todos a um tempo.
No
meio d estes perigos, aprazia-me comtudo em os mandar
arremedar, para apreciar a revolução que havia no es
paço alagado. O jacaré alligalor) é o saurio mais temivel
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— 3 4 —
d a A m e r i c a d o N o r t e ( g a v i a l e ) , c h e g a n d o a t e r 2 0 p a l m o s ;
t o r n a - s e r e s p e i t a d o p r i n c i p a l m e n t e p e l a e n c h e n t e
o u
p e l a
v a z a n t e
d o s
l a g o s , o n d e e m m o n t e s s o b r e p o s t o s
u n s a o s
o u t r o s ( c o m o d á - s e
n o
l a g o g r a n d e
d e V i l l a - F r a n c a ,
a s s i m
c o m o
q u e
a m o r t e c i d o s e s p e r a m p e l a p r e s a s o b r e q u a l
s e
l a n ç a m l o g o
q u e a t ê m a
s e u a l c a n c e . T e m í v e i s
e m
t e r r a ,
p e r s e g u i d o r e s á t o n a d a g u a ,
s ã o c o m t u d o
i n o f f e n s i v e i s
d e
b a i x o d a
m e s m a .
P r e s o
n a
r e d e
q u a n d o o s
p e s c a d o r e s t i r a m
s e u s
l a n c e s , s ó
s e d e i x a c o n h e c e r p e l o p e s o
p o r q u e t o r n a - s e
e n t ã o i m m o v e l ,
p a r a
f i c a r
f u r i o s o a p e n a s
s e v ê n a
a r e i a ,
s e n d o o s s e u s m o v i m e n t o s p a r a o s l a d o s c o m t u d o v a g a r o s o s ,
p o r c a u s a
d a
p o u c a m o b i l i d a d e
d a s
v e r t e b r a s
s a l i e n t e s
d o
p e s c o ç o . N a g u a , p a r a m e l h o r e n g a n a r
a
s u a p r e s a , e s c o n
d e - s e t o d o d e i x a n d o
s ó
d e
f ó r a o s
o l h o s , c u j a s o r b i t a s f i c a m
m a i s e l e v a d a s
d o q u e o
r e s t o
d a
c a b e ç a .
S ã o
v o r a z e s
e
a l i
m e n t a m - s e d e a v e s p a l u d o s a s
e r i b e i r i n h a s , d e
p e i x e s
e d e
q u a l q u e r
q u a d r ú p e d e ,
n ã o
d e s p r e z a n d o c a r n e h u m a n a
q u a n d o l h e
é
f á c i l
a
p r e s a .
T e m
c o m t u d o
u m
i n i m i g o
a o
q u a l n ã o
r e s i s t e
e p e l o c o n t r a r i o e n t r e g a - s e c o m o
q u e
m a g -
n e t i z a d o . E s s e i n i m i g o
é
o n ç a
Felis
s p .
var.)
q u e s e
a p r a z , a n t e s
d e
c o m e ç a r
d e v o r a l - o , f a z e r - l h e n e g a ç a s ,
c o m o q u e
m o s t r a n d o
o
p o u c o
c a s o
q u e í a z d o s
s e u s
d e n
t e s e d a s u a
f o r ç o s a
e
d e n t a d a c a u d a
p o r
o n d e c o m e ç a
a
c o m e l - o .
T r e s e s p é c i e s s e e n c o n t r a m n o s r i o s
e
l a g o s ,
o
jacaré-açu,
A. sderops) o curúa, s p . n o b . e o jacaré-tinga [ A . p a l
pebrosus. i
q u e é
m u i t o m e n o r , m a i s c l a r o ,
n ã o
o f f e n d e o
h o m e m
e
s e r v e p a r a
o
s e u a l i m e n t o , a p e z a r d e t e r
s u a
c a r n e
u m
c e r t o a l m i s c a r .
A m b o s
p õ e m
o v o s
e m
n i n h o s
n a s
m a r g e n s d o s r i o s ,
q u e o
s o l c h o c a , f i c a n d o
a m ã i
a v i g i a l - o s .
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— 35 —
mais se podia apreciar pela escuridão da noite, a não ser
innumeros pyrilampos que cobriam a
vegetação
que sahia
fóra
d agua.
Mo pertenciam estes á ordem dos coleopteros
gen. lampyres mas eram umas
pequenas
larvas de 0
m
02 de
comprimento, pouco mais ou menos, que immoveis se con
servavam sobre as folhas, com um pequeno luzeiro continuo,
na parte inferior da extremidade opposta á c a b e ç a . Era tal
o numero e t ão forte o luzeiro, que dava uma luz fusca que
deixava ver os objectos.
Depois de ter atravessado o Cavado penetrei no rio
Ayayá onde está situado o engenho do Exm. Sr. Barão de
S a n t a r é m . Depois de algumas horas de viagem por
este
r io cheguei ao referido engenho,
pelas
2 horas da madru
gada.
Quér pela sua pos ição qu ér pela boa d irecção do
estabelecimento, assim como
pelas
suas
sól idas
e
espaçosas
accommodações é o primeiro do m u n i c í p i o . A grande casa
de vivenda, de telha, é inteiramente
separada
do engenho,
que lhe fica quasi fronteiro e que é todo igualmente de te
lh a Com machinas p rópr ias para o fabrico do
assucar
e
aguardente, movidas
pelas
águas de um a ç u d e que são tra
zidas por um longo canal
a r t i f i c ia l
pelo qual navega uma
montaria,
fabrica annualmente avultada quantidade desses
gêneros que são vendidos no mercado de San t a rém ou ex
portados. Além dos productos p rópr ios do engenho, fabrica
t a m b é m excellentes vinhos de laranja, cacáo canna, c a jú
etc. que nada deixam a
desejar.
Cult iva também o m i lho o
arroz, o fe i jão o fumo, a mandioca, o cacáo etc. Dirigido
pelo intelligente Norte-Americano Rhome e
sócio
do mesmo
Barão o estabelecimento es tá n um estado prospero e pa
rece que muitos melhoramentos tem de soffrer, pela
acti-
va adminis t ração do mesmo Rhome. Assentado na margem
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— 3Í6
m>
conduzida a canna que tem de ser moida. Tem aproxima
damente 400 pés de altura
esta
calha.
No mesmo dia da minha chegada, depois de percorrer o
estabelecimento e suas dependênc ias tomando uma mon
taria,
segui pelo referido canal, que de certa distancia em
diante passa por baixo da mata, e f u i ao lago que dá origem
ao mesmo canal. Está situado
esse
lago no meio da flores
ta que o rodeia, espraiando
suas
á g u a s
por baixo delia, e
é coberto quasi que litteralmente por
nympheaceas
e
ca
bombaceas. Ahi encontrei um ún ico pé de uma uiricularia
de flores côr de rosa. As margens estão cobertas de assahy-
zeiros e
c a r a n â s .
De
volta
notei que o canal
estava
aberto
por meio do que chamam mina de cernamby 1) e de que
já
estava
informado. Aproveitando-me da o c c a s i ã o f u i exa-
minal-a.
Depois de percorrer toda a super f í c ie occupada
pela mina, que
es tá
coberta de uma camada de terra vege
t a l
onde já cresce vigorosa
vegetação
deixando em alguns
lugares transparecer a mesma, pude, estudando a natureza
e d isposição do terreno, conhecer que affectaa f ô r m a mais
ou menos regular e pronunciada de um cone, cuja base
abrange
u m espaço
de mais de
vinte
b raças
de
d iâm et ro . No-
te i que a lém desta, havia mais outras muito menores. A
primeira impressão que causou-me um cór te de mais de
duas b raças de profundidade, feito pouco a cima da base
do referi do cone, f o i que essa immensa quantidade de con
chas ahi reunidas em
camadas,
certificava-me a
passagem
de
ág uas
em tempos immemoriaes que ahi formaram
esse
de-
sito, mas examinando as conchas notei serem modernas,
e ainda com
representantes
nas á g u a s do Amazonas e Ta
p a j ó s . Geologicamente fallando, quanto a m i m
esse
depo-
posito
só
attesta
o deslocamento das á g u a s do Amazonas, e
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37
o curso do Tapa jós e não um deposito feito por ellas. Exa
minando a parte excavada e fazendo outras
excavações
reu
nindo as circumstancias que me vieram ao conhecimento e
encontrei,
pude chegar a uma conclusão que se não é ver
dadeira, ao menos satisfaz-me e julgo não ser e r r ô n e a . Creio
que esse deposito
foi
feito pelos antigos selvicolas, servindo
t a m b é m de sepultura aos
seus
cadáveres como
passo
a
provar.
Entre as innumeras conchas que formam
esse
deposito,
só quatro ou cinco espécies pude
distinguir
predominando
uma espécie dos gêneros Castalia Unio eHyarea que são
oleraceas. Entre as
mesmas,
formando os stractus, encon
t re i alguns fragmentos de l o u çad e barro, alguns com
signaes
de fu l igem assim como
pequenos
fragmentos de ossos
de peixe-boi, e de d iori to da mesma qualidade do dos
machados encontrados por mim nas.
serras
das c i rcum-
v iz in h an ças . Se
fosse
um deposito, feito por correntes
d aguas, geologicamente fallando, grande seria o numero
de gêneros e espécies de molluscos que ahi se encontrariam,
porque grande é o seu numero nas águas amazônicas e não
seriam transportados os
gêneros
mencionados, todos
p ró
prios á a l im e n t a ç ã o . Os fragmentos de louça provam que
não houve deposito feito
pelas
á g u a s
pelas
circumstancias,
não só da sua exis tência ahi, sem mostras de ter sido ro
lados, como a
ausênc ia
de outro qualquer corpo ou seixo
rolado, assim como a identidade na comparação fei ta com
outros fragmentos encontrados na serra que fica sobran-
ceira. Os fragmentos de d iori to é outra circumstancia que
dá ao meu espirito a convicção de que fosse obra dos gen
tios. Duas outras circumstancias, acabaram depois de
convencer-me: o encontro de alguns craneos de indios,
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—
38 —
para os gentios que habitavam a serra. Finalmente, a fi
gura
que
representa
a
referida mina,
é a de ter
sido
for-
mada pelos homens e não por
agentes
da natureza. Se em
vez de uma
figura
conica, que geralmente apresenta os de
pósitos
feitos pelo homem, fosse um plano horizontal,
talvez trouxesse alguma duvida, mas tal qual hoje existe
convence-me que fo i feitura de indios o dito deposito, que
hoje tem
o
nome de mina, porque dahi, como de uma mina
calcarea extrahe o seu
p ropr ie tá r io
o material com que fa
brica excellente cal. Uma
objecção
apparece, onde foram
os indios
buscar
tantas
conchas
? Para que queriam as
mes
mas
Como puderam fazer esse monte que mede algumas
cinco b raças
de profundidade? Julgo responder assim: Como
disse
os
gêneros astalia
e
Unio que mais abundam
são
alimentieios, naturalmente fariam
esses
molluscos parte
da
a l imen tação
dos gentios, que muito perto se encontravam
nas águas do Amazonas, que en tão tinha o seu leito nas pro
ximidades e fizeram ahi
nesse
lugar um deposito,
não só
para
os restos
das
que comiam, como para aquellas
que
apodre
ciam, servindo depois paranelle enterrar-se os mortos. (1)
quantidade não admira, porque grande
popu lação em
largos annos poderia fazer ainda maior deposito do que
existe. ^ tmàm^um . - >(^fct fa
A
verdade é que esses molluscos dão mais luz á ethno-
graphia do que á geologia,
fo i
a
opinião
que
formei
depois
de alguns dias de invest igações e estudos. Mostrando um
dos
usos
da
extincta
t r ibu que
outr ora habitava
estas re
giões mostra t a m b é m
esse
deposito de conchas,
que
havia
facilidade no encontro dos molluscos, nas á g u a s Amazoni-
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9 —
eas, que então pelo Ayayá passavam, banhando um terre
no,
que calculo
estar
cincoenta
pés
acima do actual
nivel
do Amazonas, en tão desobst ru ído das ilhas baixas e de
terras de a l luvião, que hoje separam estes das fraldas da
serra. O que chamam rio Ayayá, não é mais do que a reu
nião das águas dos I g a r a p é s : Urumary, M ahycá, Mararu,
Diamantino, T in ingú e lgarapé-açú , que juntos formam um
desaguadouro no Amazonas, do qual é separado por ilhas
de modernas fo rmações , de que acabo de fa l lar . Natural
mente sendo
pescadora
a t r ibu ahi existente en tão , a Tapa
jós , (o que se deprehende pela form ação do monte de conchas
e por alguns fragmentos das mesmas que encontrei no alto
da serra,) e habitando esta o mesmo alto, prova que
esse iugar procuravam para evitar os p ân t an o s , que haviam
de
existir
nas
actuaes
terras firmes baixas, e as
enchentes
haviam de lavar as
mesmas,
ficando esse deposito conchi-
fero
na praia; porque pequena é a distancia que o separa
da aba da serra
k
estando actualmente em terra f i rme , dis
tante das águas do Ayayá.
Para ter sido levantamento de terreno em que houvesse
deposito
d agua
nesse
lugar, é um absurdo, por não serem
as conchas fosseis,e não ter havido revo lução geológica mo
derna que
pudesse
trazer alguma duvida á questão.
verdade que revoluções contemporâneas do homem
moderno têm havido, que têm levantado terrenos acima
das á g u a s , formando depósitos conchiferos, alguns ficando
a té em cima das montanhas, como se encontrou na Euro
pa—na
Sardenha,
Sicilia,
e nos antigos Estados
pon tifícios,
porém nunca n elles
foram
achados ossos humanos. A pre
sença dos fragmentos das rochas com que foram fabrica
dos os machados, que se encontram na serra, assim como
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— 4 0 •
A l o u ç a c o n t e m p o r â n e a d a d a s e r r a é m a i s u m a p r o v a q u e
c o n f i r m a
a
m i n h a
o p i n i ã o .
J u l g o t e r e s c l a r e c i d o
a e x i s t ên c i a d e s s a c h a m a d a m i n a ,
p o r é m e s p í r i t o s
m a i s
e s c l a r e c i d o s e
c o m p e t e n t e s
q u e j u l -
g u e m
e d e c i d a m , p o r q u e q u a n t o a m i m , a a p p a r i ç ã o e m
u m
p e q u e n o
l o c a l
d e u m d e p o s i t o c o n s t i t u í d o e x c l u s i v a
m e n t e d e m o l l u s c o s , n ã o p r o v a f o r m a ç ã o d e c a m a d a s
f e i t a s
p o r
p h e n o m e n o s g e o l ó g i c o s , n ã o
h a v e n d o
o u t r o s
v e s t í gi o s
e m p a r t e
a l g u m a
d e l l e s .
P o n d o
d e
p a r t e
e s t e a s s u m p t o , c o n t i n u o a m i n h a e x c u r -
ç ã o .
D e p o i s d e c h e g a r á c a s a e t e r c o n v e n i e n t e m e n t e a c o n d i -
c i o n a d o
a l g u m a s a m o s t r a s d o s
m o l l u s c o s
q u e a c i m a f a l l e i
q u e p u d e
c o l h e r
p e r f e i t o s , e u m a p o r ç ã o d o s q u e c o m p õ e m
q u a s i a t o t a l i d a d e d a m i n a ,
i s t o é ,
d o s j á e s t r a g a d o s , m e t -
t i - m e em u m a
p e q u e n a
m o n t a r i a e
f u i e x a m i n a r
o igapó
q u e c o b r e a b a i x a d a s
t e r r a s
n a f r e n t e d o e n g e n h o . A v e g e
t a ç ã o a q u á t i c a a h i , é a m e s m a q u e e n c o n t r e i n o s l a g o s d e
S a n t a r é m . C o m p õ e - s e de d u a s e s p é c i e s * d e
pontederias
u m a d e f o l h a s
l a r g a s
e
o u t r a
d e f o l h a s
e s t r e i t a s :
s e n d o
a
p r i m e i r a
c o n h e c i d a
n o
R i o
d e J a n e i r o , d e u m a e s p é c i e
d e utricularia d e
f l o r e s
a m a r e l l a s , d e v a r i a s
nympheaceas,
e n t r e e l l a s u m a e s p é c i e , q u e
e s t a v a
e n t ã o e m f l o r e q u e
j u l g o s e r a
nymphaea
alba. B o r d a e s s e i g a p ó , a s s i m c o m o
q u a s i t o d a a m a r g e m d o A y a y á ,
a
c a n a r ã n a , q u e é u m a
graminea,
q u e c r e s c e q u a s i s o b r e a a g u a n o s l u g a r e s b a i
x o s , o n d e a s r a í z e s p o s s a m
t o c a r
o s o l o , e q u e
s u b s t i t u o
o
c a p i m
d A n g o l a ,
d o s u l .
D e s t a c a n a r ã n a é q u e s ã o f o r m a d a s q u a s i
t o d a s
a s
i l h a s
q u e m a t i z a m
o A m a z o n a s .
A s s e m e l h a - s e
á
c a n n a
c r i o u l a ,
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41
que em alguns lugares apparecem com f reqüênc ia e mesmo
aos bandos, eomo a piassoca e a
ga rça .
Duas
espécies
de mar
f i m
pescador, alcedo) tenho encontrado nas margens dos
rios, uma grande e outra pequena, dando-se aqui a ambas o
nome de ariramba. Decahia en tão a tarde quando vo l te i
tendo então occasião de ver e ouvir o grasnar, como que
latido, de algumas
c au in t ah ú s
(1)
palamedea comuta)
que estavam sobre
i g ap ó .
Despertas pelo
ruido
das
ág u as
batidas pelos remos, levantaram ligeiras o vôo, não me
dando tempo de
atiral-as
Dizem os indios que quando o c a i n t a ú o u cauintahu es tá
bebendo agua, nenhuma outra ave, desce a beber, sem que
elle
tenha primeiramente acabado. A crista cornea que
tem perto do
bico,
segundo a opinião geral tem certas v i r -
tudes : preserva de ataques de estupor e cura-os, é anti-
doto para o veneno de cobra, etc. Sustenta-se de hervas
principalmente do grelo da aninga.
No dia seguinte pelas 6 horas da m a n h ã tomando um
animal,
subi ao cume da serra, para examinar a floresta.
D ahi goza-se um soberbo panorama, vendo-se
a té
perder-
se nas nuvens
do
horizonte,
innumeros
iga rapés
que correm
pelas terras baixas, distinguindo-se bem o Tapa jós asso
berbado tudo pelo volume do Amazonas ; apresentando o as
pecto geral, de um mar coberto de ilhas e
p en ín su l a s
de
verdejante
vege tação . Depois de por algum tempo, gozar
as delicias de uma, das brilhantes paginas da natureza do
Equador,
segui, tendo á minha esquerda um grande ca
çoai onde ouvia-se c â n t a r o j a p ú {cassicus cristatus), e á
minha direita
um immenso canavial, occupando ambos a
chapada da serra ou a terra preta, chamada. Geralmente
observei, que as
chapadas
das serras, são dotadas de uma
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— 42 —
forte camada de úmus que toma uma côr ennegrecida, e
que é
favorável
a toda e
espécie
de cultura ; por
essa
razão
penso, os antigos habitantes das florestas, os Tupayus,
procuravam de preferencia essas paragens como pude ave
riguar pelos vestígios que delles tenho encontrado. D'esta
serra, (Taperinha) foram me communicados alguns f rag-
mentos de machados, pelo Sr. Rhome, entre ellesum dif-
ferente dos que até
en tão
encontrara, que pelo mesmo Sr.
foram achados quando passou-se o arado nas terras. Feito
da mesma rocha, dos que já tive occasião de descrever, ap-
parentando quasi o mesmo fei t io afasta-se, p o r é m na
maneira por que são feitos os encaixes, por onde deviam
passar
as p r isões que o uniam ao cabo.
Apeando-me
;
á entrada da mata, f u i puxando o anima
por entre ella, para melhor observar e colletar. Pouco
depois de deixar o lugar cultivado, comecei insensivel
mente a
descer,
á sombra de um immenso docel de verdu
ra
que a
cenlenares
de pés ficava acima de minha
cabe
ç a . Tinha por companheiro o bom amigo Dr. Amaral e
alguns tapuyos, que nos serviam de guia. Logo que co
mecei a caminhar deparei com um grande pé de
inajd
que media mais de cem pés, pelo calculo que fizemos,
medindo um outro que jazia por terra já
secco,
derrubado
pelo vento, e que tinha iguaes d i m e n s õ e s . Descendo,
entrei
num vallehumido, coberto igualmente por fechada
floresta,
mas cuja vegetação não a t t ingía ás p ro p o rçõ es
da da vertente da serra e era
en tão
mais
e n t r e l a ç a d a
de
s i pó s .
Ahi encontrei muitos exemplares de griffini e
uma mus ce cujas flores senti não poder aproveitar por
estarem estragadas, não só pelo tempo como pelos insec-
tos. Abunda ahi a caça grande, tanto que por mais de
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—
43 —
os vestígios frescos que a cada passo encontrávamos. O ma
caco de prego
cebus cirrhifer?)
ahi é
t a m b é m
vulgar, por
que por mais de uma vez encontrei alguns bandos. Sendo
já
tarde comecei a subir, voltando pelo mesmo caminho.
Compondo-se a floresta de uma grande variedade de ma
deiras
reaes, p rópr ias
para
const rucçao
e marcenaria, que
seria enfadonho enumeral-as, basta só dizer, que
tive
oc:
s i ã o d e
medir uma itauba
acrodiclidium)
que na altura
de um homem apresentava um
d i âme t ro
de onze palmos,
com
uma altura correspondente. Pobre mostravam-se-me
os galhos
d esses
madeiros em orchideas, pois que nem uma
só
encontrei; assim como em palmeiras que só quatro es
pécies
achei, o
inajd
que abunda, a
mumbaca
( astroca-
r y u m ,
um ou outro
(raro) jatá
/cyagrus) e alguns
maraja-y
(bactris)
que estavam
então com
fructos,
entre elles um no
vo
que denominei
B
monticola.
No
dia seguinte,
deixei
o Engenho da Taperinha e
fu i
visitar
um outro
sitio,
notando que abunda na margem
em que está assentado o m e s m ó engenho, uma verbeneacea,
a vitex tarumã. Deixando o Engenho, vem a p ropó-
sito
patentear os bons
serviços
que como amigo me tem
prestado o seu Exm.
propr ie tár io , serv iços ,
que a
gra t idão
guarda no
co ração ,
e só patentea-os quando
impei lida
pe
lo
mesmo.
A
mesma natureza, a mesma
vegetação,
quasi as mesmas
scenas, notei
durante dous dias de
excursões
que
fiz
pe
los
lugares que depois
percorri,
antes de
voltar
para San
t a r é m ,
onde cheguei no dia 10.
A h i
tive occasião,
na
véspera
do dia de S.
Jo ão ,
de ver
dous costumes antigos, que vão cahindo em desuso, mas
que um não deixa de ser pittoresco. Um delles é o
Çairé
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—
44 —
exemplo, o padroeiro é Santo Antônio; em Santarém, porém,
ainda
conservam a antiga
devoção.
Escrevendo as minhas
impressões
de viagem e fazendo um estudo dos costumes
da provincia, não posso deixar de dizer o que é o ça i ré .
Como
disse,
procissão
ou festa, é ainda hoje
feita
pelos ta
puyos e indios, que para
esse
fim, preparam na aldeia
uma
grande coberta ou rancho de palha onde termina a
festa.
Dão
a
esse
rancho o nome de
ramada
porque anti
gamente era com effeito^ uma ramada que preparavam.
Feito também
com
antecedência
o
tarubd
bebida
espiri-
tuoza
preparada c o m b e i j ú s d e mandioca ralada, no dia pró
prio sahe o çairé em procissão acompanhado por grande
numero de mulheres, por ser festa privativa dellas. O
çairé é um semicirculo
de madeira de 5 a 6 palmos de
d iâ
metro,
contendo dentro dous outros menores, collocados
um
a par de outro sobre o
d iâmetro
do grande; cada um
d elles com um raio perpendicular ao mesmo d iâme t ro ,
rematando por uma cruz.
Estes
arcos são cobertos de al
godão batido, enfeitados de
fitas,
espelhinhos e biscoutos,
sahindo da cruz que orna o cimo do arco exterior uma
fita
comprida.
Seguram
este
arco tres mulheres velhas, sendo a
do meio denominada mestra que são as cantoras e uma quar
ta
segue
a t rás ,
entre as
duas
primeiras segurando na
fita
de que fallei. Ao lado segue uma outra, que pôde ser mo
ça, e leva o tamborinho pequeno tambor rasticamente
feito
e enfeitado de fitas,
assim com a vaqueta, e que é leva
do debaixo do braço esquerdo.
Segue
na frente o
çairé,
precedido de uma bandeira
branca com uma figura mal pintada, que representa o
Santo
protector,
e a t rás em morno silencio, grande numero
de mulheres, que ouvem o canto triste e m onótono das ve
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os
juizes
da festa, elevam-os para a igreja, assim
como
o
v igá-
r i o
que são levados depois para a ramada. Este depois de
benzer a mesa, que preparam para obsequiar os
convivas,
retira-se acompanhado pelo mesmo ça i ré e pelo jantar que
lhe oí ferecem. Segue-se depois um ceremonial entre os
Juizes, procuradores, mesarios, etc.
fastidioso
de descre
ver terminando a festa por dansas, que vão até o dia se
guinte, acompanhadas de l ibações de t a r u b á e d'agua-ar-
dente, que põe todos mais ou menos em um estado pouco
lisongeiro. Na igreja, nas casas onde vão, ou pelas ruas,
nunca
cessa
a cantiga, que é cadenciada pelo
tamborinho
e pela inc l inação para frente ou para traz, que dá a fita ao
ça i ré movida pela mulher que
segue
dansando e pulando
de um para outro lado. Por mais que tenha procurado a
origem
ou
etymologia
da palavra
ça i ré
ainda não pude
descobrir. S e r á s o i r é e que por
corruptela
chegasse a ç a i r é?
O
que representa
? n in g u ém
o
sabe.
Parece comtudo segun
do
uma
versão
que
ouv i
que é um emblema para
perpetuar a l e m b r a n ç a do dilúvio solidificando a rel igião
O arco, s ignificará a arca, os espelhos, a luz que depois se
fez os biscoutos, a a b u n d â n c i a e o tamborinho, o ruido
das á g u a s em torno da arca. Será
esta
a origem ? O que é
verdade é que para
o
indio e o tapuyo o
ç a i r é
é um motivo
para se porem bem com
Deus,
no Céo e regalarem-se com
as mulheres na terra. Esta festa tive occasião de estudal-a
na
véspera
de S.
João.
Pelas 8 horas dessa
noite,
apresen
tou-se em
minha
casa uma
m u l t i d ão
precedida pelo
ç a i r é
que entrando agglomeraram-se as mulheres num lado da
sala,com
o ç a i ré á frente, e num tom baixo e monó tono co
m e ç a r a m a cantar. Sendo uma festa de tapuyos, todo o can--
to
era na lingua geral, o que para
m im
era mais enfadonho
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—
4t> —
estavam com .coroa de flores naturaes e algumas artificiaes,
assim como que os tapuyos traziam coroas nos
seus
cha-
péos
perguntei se era
aquillo p rópr io
da mesma
dansa
ou
p roc i s s ão ; responderam-me que era um antigo uso, p r ó
prio do dia.
Com effeito,
sahindo a percorrer a cidade vi que muitas
mocas de
familias
distinctas, assim como mancebos, traja-
vam
vestidos brancos, e
tinham
aquellas as frontes e
estes
os seus chapéos de palha coroados. Uso antigo, en tão
muito apreciado pela juventude e mocidade, que se ufana
vam
de saltar a
fogueira
assim coroados, hoje
desapparece,
como
vão desapparecendo cs usos e costumes innocentes
do povo.
Este costume era, e ainda é, seguido de outro em
que entra uma das tantas
supers t i ções
que a noite
des
se dia traz; umas doces, outras amargas ao co ração umas
de
e sperança
e outras de realidade. E
crença
entre a po
pulação
que
o
banho tomado na madrugada do dia de S.
João
cura e evita as molés t i as pelo que quasi todos armados
de b raçados de plantas aromaticas, como a periperioca, o
trevo
e a pataqueira,
antes
de alvorecer se
dirigem
para
a margem do
r io
e
apenas
desponta
o
dia
l ançam-se
n agua.
A
praia
fica
coberta de
indivíduos
de ambos os sexos, e de
todas as idades e cores, que levados pela fé, assim
termi
nam
o festejo do Santo.
No
dia 29 de Junho, pelas 4 horas da madrugada, to
mando o vapor Inm
deixei
o porto de
S a n t a r ém
e subi
o
Tapa j ó s .
Este que se
lança
no Amazonas como
vimos,
por uma foz estreita, passando a cidade de San t a rém co
meça
a alargar-se, formando uma ampla bacia denominada
de
Vi l la F rança
por ahi
ficar
situada na margem esquerda
a
vi l la
deste nome. E antiga aldeia de Cumaru ou dos
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n ú c l e o d e s t e s i n d i o s , d e s c i d o d o r i o d o m e s m o n o m e q u e
p r ó x i m o d e s á g u a . C o m p u n h a - s e
a
a l d e i a
d e
i n d i o s
A r a -
p i u n s , C o m a n d y , G o a n a c u á s ,
M a r x a g o a r a s ,
A p ua t i á s , A r a -
p u c u s ,
A n d i r á g o a r e s
e o u t r a s . E m v i r t u d e d a
l e i
d e 6 d e
J u n h o
d e
1 7 5 5 ,
f o i p e l o g o v e r n a d o r F r a n c i s c o X a v i e r d e
M e n d o n ç a F u r t a d o e l e v a d a á V i l l a e m M a r ç o d e 1 7 5 8 . P a r a
o
N d a v i l l a
f i c a
o e x t e n s o l a g o g r a n d e
d e V i l l a
F r a n c a o u
d a s
C a m p i n a s ,
a n t i g o
T u c u m á ,
o n d e
h o u v e
u m
g r a n d e
p e s q u e i r o
r é g i o ,
a p p r o v a d o p o r
p r o v i s ã o
d o
E r á r i o
d e 2 8
d e J u l h o d e
1 7 8 3 .
E r a n o t á v e l e s t a v i l l a p e l a
i n d u s t r i a
q u e a h i h a v i a d e t e
c i d o s d e p a l h a , q u e h o j e
está e x t i n c t a .
T e m p o r o r a g o a
m a t r i z N o s s a S e n h o r a
d a C o n c e i ç ã o . A s u a p o p u l a ç ã o é d e
3 . 6 7 2
i n d i v í d u o s,
s e n d o
1.75.6
h o m e n s ,
e
1 . 9 1 6
m u l h e r e s :
s ã o n a c i o n a e s 3 . 6 6 5
e
e s t r a n g e i r o s 7 , q u e
f o r m a m
5 5 2 f a -
t í í í í t á •
'
W i
'
l
í
v
^ B
?
:
*
> ;
^ • ' • fyt^f-
vt
U m a q ue s t ã o g e o g r a p h i c a c o n v é m a q u i e s c l a r e c e r ,
v i s t o
c o m o
e r r a d a m e n t e a l g u n s
v i a j a n t e s
e
e s e r i p t o r e s
t ê m
aífir-
m a d o , l a n ç a r - s e o T a p a j ó s n o A m a z o n a s p o r u m
d e l t a ,
o
q u e n ã o é e x a c t o .
O q u e
n a t u r a l
m e n t e t o m a m
c o m o
o u t r a b o c a d o m e s m o
r i o n ã o é m a i s d o
q u e
o c a n a l d e
q u e
a c i m a f a l l e i . P e r
c o r r e n d o t o d a a
r e g i ã o b a n h a d a
a h i p e l o
T a p a j ó s
e
A m a z o
n a s , e s t u d a n d o a q ue s t ã o , a o p a s s o q u e o b s e r v a v a a v e g e -
t a ç ã o , c h e g u e i a o c o n h e c i m e n t o d e q u e p o r u m a s ó
b o c a ,
e s t a m e s m a b a s t a n t e e s t r e i t a , e m r e l a ç ã o á m a s s a d á g u a
g e r a l , q u e a t é n a
r e g i ã o
d a s c a c h o e i r a s o c c u p a m a i o r
e x t e n c ã o
c m l a r g u r a , s e
l a n ç a
o m e s m o n o
A m a z o n a s .
M a i s d e t a l h a d a m e n t e
p r o v a r e i
o q u e a d i a n t o .
O
r i o T a p a j ó s
c h e g a n d o e m
f r e n t e
á
V i l l a
F r a n c a a l a r g a -
8/16/2019 Historia politica economica do reinado do S. Rey D. Jozé I.pdf
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—
48 —
ir um canal denominado furo do Veado que corre e lan-
ra-se
no
Arapixuna
na
d i recção
de O N 0. Este rio não é
mais do que um desaguadouro do lago Cara r iacá que pelo
fu ro
do mesmo nome recebe as
ág u as
do Amazonas e vae
lançar-se
no
Tapa jós
com o nome de rio Jary dirigindo-se
a
principio
de N a S e depois para S 0< Da foz do Jary
que recebe sempre as ág u as do Amazonas começa a costa
das
raras
que
forma
quasi um
t r i ângu lo
equilatero tendo
por base
o canal ou
f u ro S u r u r ú
que une o Jary á bahia
das Araras.
Em continuação
da grande
enseada semi-circular
que ahi
o rio
forma
encontra-se a chamada ponta dos
Piriquitos
e
logo depois a bahia do mesmo nome que
forma
uma
longa pen ínsu la
banhada a S E pelo canal impropria
mente chamado Igarapé-açú que communica o Amazonas
com o Tapa jós trazendo suas águas barrentas que correm
pelo Tapa jós
ao
longo
da costa que termina na Ponta Negra
l imi te
N da foz do mesmo
T a p a j ó s .
Pelo que acabo de
expôr vê-se que nenhum b raço lança o Tapa jós para o Ama
zonas
visto
como não se
pôde
considerar
b r a ç o s
nem o
Jary nem o
Igarapé-açú
por receberem
águas amazôn icas
e não levarem as do
Tapa jós .
Considerado mesmo geogra-
phicamente
e attendendo á
d i recção
dos dous rios e á
sua grande correnteza
vê-se
que naturalmente ambos
estes
canaes seguem o rumo S O que
indicam
a
força
da cor
rente levada pelo Amazonas que leva en tão a de N S
Quando não houvesse a côr das
á g u a s
á
d i recção
geogra-
phica
não era
possível
admittir-se que úm rio que segue
uma di recção lançasse braços
levando
suas ág u as
para
traz. A parte denominada Ponta Negra é a extremidade
S da
ilha
quasi triangular que
firma
a bocca do
Tapajós
8/16/2019 Historia politica economica do reinado do S. Rey D. Jozé I.pdf
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_ 4 9 —
c e r m a i s m i n h a o p i n i ã o a p r e s e n t o a i n d a a f o r m a ç ã o d e d u a s
p e q u e n a s
i l h a s ,
n a
f o z
d o
m e s m o
I g a r a p é - a ç ú .
C o m o é
s a
b i d o ,
o
A m a z o n a s c o n s t a n t e m e n t e f o r m a
e
d e s l r o e i l h a s
n o
s e u c a m i n h a r e
q u e
s e n ã o d á i s s o e m o u t r o s r i o s , s o b r e
t u d o
n o
T a p a j ó s
q u e
p e l a n a t u r e z a
d e s e u
t e r r e n o ,
n ã o
c o n s e n t e t a e s f o r m a ç õ e s p o i s
b e m n o
T a p a j ó s
o n d e a s
m a r g e n s s ã o a r e n o s a s a s s i m c o m o o s e u l e i t o f o r m a r a m -
s e
d u a s
i l h a s
n ã o d e
a r e i a ,
m a s
d e m a t é r i a s
s e d i m e n t o s a s
d a m e s m a n a t u r e z a
d a s
d o
A m a z o n a s
q u e
s e
c o b r i r a m d e
u m a
v e g e t a ç ã o p r ó p r i a
d o
g r a n d e
r i o
e
q u e n ã o
e x i s t e
e m
t o d o
o
c u r s o
d o T a p a j ó s . F o r m a d a s
a s
i l h a s d e
g r o s s o s
m a d e i r o s , c a n a r ã n a m u r e r ú c o b e r t a s d e p o i s p o r c a m a d a s
d e s e d i m e n t o , a
p r i m e i r a
v e g e t a ç ã o q u e a p r e s e n t a ,
é
l o g o
a
d e
u m a
e s p é c i e
d e
chorão
o u
salgueiro
a
salix
Martiana>
d e n o m i n a d a Âyorana p o i s
b e m
e s s a v e g e t a ç ã o
é
q u e lít—
t e r a l m e n t e
j á
c o b r e
a s
d u a s i l h a s
d o
T a p a j ó s
q u e
a s s i m a t - -
t e s t a m
u m a
f o r m a ç ã o a m a z ô n i c a .
A
p r ó p r i a v e g e t a ç ã o
d a s m a r g e n s d o
I g a r a p é - a ç ú
é a .
m e s m a q u e s e e n c o n t r a n a s á g u a s d o
r i o
A m a z o n a s . s
i l h a s
d a
c a n a r a n a s
o u
periantans
t r a z i d a s
p e l a s c o r r e n t e s , .
e n t r a n d o p e l o
I g a r a p é - a ç ú
f o r m a m h o j e l i n d a s
c a m p i n a s
q u e o r l a m t o d a a m a r g e m
d o m e s m o
a s s i m c o m o a cecro-
pia scabra q u e
é p r ó p r i a
d a s m a r g e n s
do g r a n d e r i o .
a h i p r e d o m i n a . O q u e é e x a c t o é q u e g e o l o g i c a m e n t e f a l - >
l a n d o
a
p e n í n s u l a c o m p o s t a
d e i l h a s
f o r m a d a s p e l o s i g a r a
p é s o u a n t e s c a n a e s , e q u e c o m e ç a n o A r a p i u n s , o u t r o r a
n ã o e x i s t i a , p o r q u e t o d a a s u a f o r m a ç ã o
é
d e s e d i m e n t o ,
e p e l a v e g e t a ç ã o a t t e s t a s e r e m
t e r r a s
a m a z ô n i c a s .
f o z
d o T a p a j ó s
q u e
h o j e é a p e n a s
d e
1 . 2 0 0 m e t r o s , o u t r o r a
t i n h a m a i s
d o t r i p l o e
d e v i a f i c a r
p o u c o
a b a i x o d o r i o A r a
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50
tram-se
aves,
que não se encontram no Tapajós e sim no
Amazonas, como o
carard
plotus anhinga, os
arapapds
canchromacochlearia eos
mergulhões
colymbus.
Raiava o dia quando passávamos a ponta do Cururu, lugar
onde torna-se a estreitar o rio a que um elevado monte de
fôrma
conica, para quem
começa
a subir o rio, dá um as
pecto
bonito
á entrada da
enseada
onde
está
plantada a
vi l la
de
Alter
do
Chão
que confusamente se avista de bordo,
na margem oriental. Esta povoação está em completa de
cadência ; reina a m iséria e ás vezes mesmo a fome. Consta
de quarenta
casas
de palha. Tem uma escolla publica
f r e -
qüentada
por 28 alumnos. Os habitantes empregam-se na
pesca ou na extracção da borracha, para que abandonam
os
seus
lares. Lavoura não existe, a não ser rocinhas de
mandioca ou de bananas, para o sustento p rópr io assim
como não ha industria alguma; quando, entretanto possuem
terras
férteis
e a
proximidade
da cidade e do centro com-
mercial os convida ao trabalho.
Alter
do
Chão
dista 4 a
5 léguas
da cidade de
Sa n ta r é m .
A
igreja que é de telha, mas pobre em ornatos e alfaias
está
estragada.
Tem
a
invocação
de Nossa Senhora da
Sa ú de .
Conta
hoje
uma
população
de 593
indivíduos formando
100
famíl ias sendo
317 homens e 297 mulheres, dos quaes
são nacionaes
592.
Foi a
antiga
aldeia Borary ybyrayb 1) ou Hibirabibe 2)
fundada pelo 3.
0
missionário
jesuita, o padre
Antônio
Pe
reira
com indios
Cayoanas
e Tapaipurus. Em 1729,
10.° m issionário o padre Sebastião Fusco, chamou os indios
para a aldeia dos
Tapajós sendo abandonada
aquella. Em
1738 porém
por ordem do
vigário provincial
o padre
José
de Souza,
passou
o padre Manoel Ferreira, 12.° mis
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o s T a p a j ó s , e n t ã o e m n u m e r o d e c e r c a d e 4 0 0 , p o r t e r e m s i d o
d e s i m a d o s
p o r u m a
e p i d e m i a
d e
c u r s o s ,
s e g u n d o
r e f e r e
o
m e s m o M a n o e l F e r r e i r a
e m u m s e u e s c r i p t o .
F o i e l e v a d a á
v i l l a e m
1 7 5 8 ,
p o r é m
h o j e
é f r e g u e z i a . N a s
s u a s
t e r r a s
a n t i g a m e n t e e a i n d a
h o j e , m a s
é
r a r o ,
e n c o n t r a
v a m - s e c o n t a s d e f e l d s p a t h m u i r a k i t a n s ) p e l o q u e m u i t o s
e m v e z d e
B o r a r y q u e r e m
q u e
s e j a
Puerary.
1 )
m a s c o m o é
c o n h e c i d a
é
p e l o p r i m e i r o
n o m e .
D e s t a s
c o n t a s ,
u s a d a s
p e l o s
T a p a j ó s ,
d e p o i s f a l t a r e i . P a s s a n d o
a e n s e a d a , o
m o n t e
q u e
s e n o s
a f i g u r a s e r t o d o c o n i c o ,
c o m e ç a a
e s t e n d e r - s e ,
p e r d e a f ó r m a d e q u e f a l l e i , e a p r e s e n t a o c u m e a c h a t a d o .
O
r i o a p r e s e n t a s u a s m a r g e n s o r l a d a s
d e u m a
c a d e i a
d e
m o n t a n h a s , s e n d o p o r é m a o r i e n t a l m a i s a c c i d e n t a d a e o n
d u l a d a c o b e r t a s
d e v e g e t a ç ã o .
C o m e ç a m o s
a d o b r a r
a
p o n t a d o J a g u a r a r y
á s 9
4
/ 2 h o r a s ,
o n d e
c o m e ç a u m a
e n s e a d a g r a n d e d e n o m i n a d a P i q u i a t u b a ,
p o r q u e a h i
v e m
m o r r e r
a
s e r r a
d o
m e s m o n o m e ,
d e
q u e
j á
t i v e o c c a s i ã o d e f a l l a r . S e p a r a e s t a e n s e a d a , d e u m a o u
t r a ,
o i g a r a p é
M a r a h y ,
q u e d á s e u n o m e a
e s t a .
A h i
a s m o n t a n h a s
s ã o
b a i x a s
e s e m
a c c i d e n t e s ,
q u e
t o r
n e m n o t á v e l
e s t a p a r a g e m ,
a n ã o
s e r
u m g r a n d e
b a n c o
d e
a r e i a , q n e f i c a
f r o n t e i r o
a u m o u t r o d e
p e d r a ,
n a m a r g e m
o p p o s t a , n a p o n t a c h a m a d a S u r u q u á ,
b a n c o s
e s t e s q u e n o
t e m p o
d e
s e c c a ,
s ã o
c o b e r t o s a p e n a s
p o r
4
o u 5
p a l m o s
d a g u a , d e i x a n d o e n t r e t a n t o e n t r e a s p e d r a s u m c a n a l q u e
n a m a i o r v a s a n t e s e m p r e
m e d e 1 5 a 1 8
p a l m o s
d e p r o f u n d i -
d e .
A h i o
r i o
t e m d e l a r g u r a
c i n c o m i l h a s , f i c a n d o e s t e s
d o u s p o n t o s d i s t a n t e s
d e S a n t a r é m 3 2
m i l h a s
e d e A l t e r d o
C h ã o ,
2 0 .
A s 1 0 * / 2
p a s s e i
a
p o n t a
d e
S.
T h o m é ,
c h e g a n
d o a B o i m á s 1 1 h o r a s .
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52 —
feitas de palha, tendo só cinco de telhas em nm só l a n ço . A
igreja,
que temas
paredes
feitas
de
páo
a pique, é coberta,
igualmente de palhas, está muito arruinada, e tem por pa
trono Santo Ignacio.
Foi
fundada no
lago
Uaicurapá no canal
Ramos ou Tupinambaranas pelo padre Jesuíta Antônio da
Fonseca, em 1669, com
indios
Tupinambás e mudada de
pois para o rio Ande rá onde se aggregaram os
indios
do
mesmo nome, e ahi permaneceu
até
o anno de 1737,
época
em que foi mudada pelo padre Manoel Lopes da mesma
Companhia, para o
lugar
que hoje occupa. Emquanto esteve
no lago Uaicurapá teve por orago Santa Maria Maior e de
pois
Santo
Ignacio
de
Loyola. Hoje
ainda a população é de
indios
e tapuyos, que levados pela indolência natural, e os
fallazes lucros da extracção da borracha, deixam suas ter
ras em abandono, nada cultivam, e contentes com alguma
farinha
que lhes dá algumas braças de terra r o ç ada vivem
fóra de toda a sociedade, desconhecendo os principaes de-
veres de um c i dadão . Levados por uma péssima e duca ç ão
vivem sujeitos, porque se
julgam
incapazes de por si se
d i r i -
girem.
Amam a liberdade, mas não a comprehendem. E
habitado
o
districto
por 103
familias,
com 600
individuos,
dos
quaes
260 são homens
e
340 mulheres, sendo 594 nacio-
naes. Ahi assisti, ao que denominam elles
varrição
da
festa
que consiste em andar pelas ruas homens e mulheres
atrás de duas bandeiras,
e
de um tambor, acompanhados
de cracachd i) cantando de casa em casa, no dia seguin
te à festa de
algum
Santo.
Tinham
festejado S. Pedro na
véspera
e quando corria a povoação encontrei-me com
^varrição que depois de correr algumas casas, precedi
dos de duas bandeiras, branca e encarnada, e de um enorme
tambor, entraram em uma casa onde sobre uma tosca
8/16/2019 Historia politica economica do reinado do S. Rey D. Jozé I.pdf
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— òó
lenço de seda roxa. Collocando-se em frente á mesa, come
çou
o
ind iv íduo
que levava o tambor a tocar e a cantar,
ficando aos lados as duas bandeiras. Algumas mulheres
ahi ficaram, mas quasi
todas
se retiraram deixando-o na
sua devoção. Trajavam todos
vestes
domingueiras.
O aspecto geral da povoação é bonito, es tá bem situada,
abrange bastante espaço e a baixa vegetação campestre que
a circunda a distingue das outras do baixo Tapa jós . Dista
esta
freguezia 186 léguas da capital, 24 de S a n t a r é m 13
de Pinhel e 13 de Itaituba.
Acima
da povoação encontram-
se alguns sitios á margem do rio rodeados pela vegetação
natural, sem apresentarem
indicio
algum de lavoura. Pas
sando a ponta Itapuama (1) o rio alarga
bastante,
e apre
senta as margens
elevadas
perpendicularmente, uns 200
pés
acima do rio. Cobre as
mesmas
uma
vegetação
alta-
neira, que pelas abertas que deixa, vê-se argilla vermelha
de que são compostas. Diversa é a f ô rma das arvores que
ahi observei, das do Al to Tapajós sendo estas esguiase
quasi sem copas, emquanto que as que cobrem as margens,
na reg ião das cachoeiras, são frondosas e de um verde mais
negro. Em Itapuama, existiam outr ora os indios Napai-
purus e Cu ra ré s que tendo se mudado para Jaguarary,
foram
levados depois pelo 6.° m iss ionár io o padre José de
Souza, para Borary. Foram aldeiados em Itapuama pelo
padre Manoel Rabello, p o r é m tendo sido ahi os Curarés
amarrados por um Paulo Ferreira cunhado de Manoel da
Motta e levados captivos para o P a r á os restantes se
mudaram. (2)
Na margem oriental, 193 l éguas distante da capital, 31
acima da cidade de S a n t a r é m e a 6 á q u e m de Itaituba, es tá
situada a Freguezia de
Aveiros,
antiga povoação fundada
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— 54 —
chamado Magoary e elevada á villa em 1781 pelo Gover
nador
José
de
Nápoles
Tellode Menezes. Tendo
l ido
como
suas c on t e m porâ ne a s a categoria de v i l l a fo i depois rebai
xada
pelo estado
de regresso em que estava pela lei n.° 148
de 18 de Novembro de 1848. Com effeito hoje Aveiros é
uma povoaçãosinha em abandono cercada de matos com
posta de uma só rua parallela ao r i o , com 30 casas tendo só
duas
de telhas.
A
matriz que tem por padroeira Nossa
Senhora da Conceição, é pequena baixa sem torres de
telha porém completamente estragada tendo na frente já
aberturas por onde se
devassa
o interior. Em 1700
flores
ceu porque en tão era grande o commercio que tinha com
os Cuyabanos que em grandes monções ahi aportavam.
A
população do districto de Aveiros éde 1.972 ind iv íduos ,
dos quaes 915 são do sexo masculino e 1.057 do feminino
formando 30C f a m í l ia s . São nacionaes 1.955.
Proveito
algum usufruem de suas terras e de suas ma
tas e a
pesca
que poderia ao menos prevenir a fome é lam
bem
despresada.
Entregue á inacção sabe a sua população
tapuya dessa inérc ia e semi-brutalidade em que vive, quan
do aproxima-se o
ve rão ,
que parte
e n t ã o ,
para a
vida
im-
moral
e desregrada que os lança na m i sé r i a e locupleta a
outros; seguem para os seringaes. Uma verdadeira praga
afflige a população ,é a formiga de
fogo
myrrn ica rubra) que
algumas
vezes
afugenta a população , porque e tal a qual i
dade
que chega a
cobrir
o chão das casas e da rua.
Na
margem
occidental
duas
léguas
acima
desta
Freguezia
a seis de
Itaituba
está plantada numa p lan íc ie sobre uma
e m i nê nc i a , a extincta m issão de Santa Cruz. Pittorescoé o
lugar aprazível
suas
praias e excellentes florestas cobrem
suas uberrimas terras. Fica-lhe fronteira a ilha do mesmo
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i r >
nho em 1799; e sujeita a jurisdiceão da ex-villa de Pinhel,
que lhe
fica
distante rio abaixo, 3
l éguas .
Cahiu em
deca
dência
e
fo i
novamente
creada
em 1848,
sendo
nomeado o
seu miss ionár io em 8 de Novembro do mesmo anno. Hoje é
uma maloca de Mundurucus semi-civilizados, que ahi vivem
na ociosidade, quando não estão na extracção da borracha.
Dezanove palhoças accommoda uma po pulação de cem almas
emquanto que em 1855, tinha 609 indivíduos,
sendo
349
adultos, 165 homens, e 184 mulheres e 260 menores
dos quaes 141 eram do sexo masculino,
sendo
só casados
99indios.
Habitava então esta população 48 pa lho ças.
Uma pequena capella, por assim dizer abandonada, con
serva ainda a
Sagrada
Cruz, ahi plantada pelos padres da
Companhia. Outr ora mais populosa,
com
maior numero de
casas
tinha alguma
im po r tânc ia,
pelo commercio que fa
ziam os indios com a
salsa,
o cravo, etc. mas
hoje
em com
pleto abandono, attesta mais o
regresso
do importante rio,
que pela natureza é destinado a
figurar
a par dos mais ricos.
Pouco acima de
Santa
Cruz, na mesma margem fica a
ponta Pêca-açú (I) que f ô rma um grande promontorio.
Deságua
quasi em frente a
este,
o
r io
Cupary que dizem ser
abundante em borracha, e pelo qual Bates, em Agosto de
1851 subiu, e estudou a sua fauna. A i lha de Uruará fica-
lhe quasi fronteira. Ao anoitecer cheguei á i lha de Urucuri-
tuba, um dos lugares em que o vapor aporta. Ahi tem um
portuguez alguma lavoura, com um engenho movido a
animaes, para fabrico da aguardente e assucar. Commer-
cia com os
indios
e tapuyos e exporta muita
gomma
elástica.
E um dos pontos apraziveis e onde encontrei sobre uma
crescentia cujete
um bonito exemplar do
epidendrun va~
nillosmum.
Ahi pernoitando, segui
viagem
no dia seguin
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—
minada Brasilia Legal, por ter sido um ponto onde alguns
c i d a d ã o s voluntariamente se armaram contra os Cabanos,
em 1836. Informaram-me que ainda em 1848, haviam ahi
perto de vinte pa lhoças mas que hoje não tem nem um terço
desse
numero. Pela lei n.° 266, de 16 de Outubro de 1854,
foi-lhe conferida a categoria de freguezia e de v i l l a mas
não correspondendo ella a essa honra, foi-lhe depois tirada
pela lei n.° 290 de 15 de Dezembro de 1865.
Passando esta
encontrei as ilhas das Guaribas, dos
Papa
gaios e as do Gu a ran á sal que são em numero de quatro.
Pouco acima
destas
ilhas, na margem oriental, ha uma
ponta formada de pedras calcareas que tem o nome de
Ip áp ix u n a (1). E
bastante
elevado, e algumas rochas es-
boroadas
pela
acção
do tempo se amontoam sobre a praia.
Tres qualidades de rochas ahi se apresentam dando cal, de
differentes
qualidades.
Destas
rochas é que se
fabrica
a cal
em San ta rém que tem grande consumo em todo o
Ama
zonas .
Na enseada formada pela ponta da
Brasilia Legal,
uma
l égua acima da ex-missão de
Santa
Cruz, e a 34 de Santa
rém f ica uma outra povoação formada de í n d io s e ta
puyos, que fo i outr ora uma outra m i s sã o
creada
no mes
mo anno. Fica
assentada
na margem esquerda do r io Cury,
que ahi deságua se compõe de um pequeno numero de
palhoças das quaes algumas es tão
abandonadas.
O lugar
das orações é uma pequena capella de palha, onde se ve
nera, como em
Santa
Cruz, o lenho do Salvador. Não ha
ahi lavoura ou industria, entregues á indolência professam
esses indios uma moral que muito pouco abona a educação
que foi legada pelos primeiros que commerciaram no Tapa
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hoje
só conta algumas f amí l i as que por amor ao lugar ou por
outra qualquer circumstancia, não têm deixado o lar, pelos
lucros fallazes do seringal. Em 1858 ainda contava uma
população de 282 ind iv íduos
sendo
adultos 166, dosquaes
86 eram homens e 116 menores, destes 64 eram do sexo
masculino Habitavam 14 fogos.
Em frente á ponta do Ipa-pixuna, ficam as Barreirinhas,
onde existe um canal entre as
mesmas
e uns escolhos,
formados por um banco de areia e rochas. Deste ponto
para cima começam a ser mais p ró x imas as ilhas. Acima
da i lha das Barreirinhas, vê-se na margem Occidental em
terra f i rme algumas habi tações .
Passando a ilha das Pederneiras, nome que tem de muito
s l x que se encontra formando
grandes
rochas, contorna-
se a i lha de Camarury, pelo b raço oriental do r i o onde íica
pouco acima, a povoação de Mundurucus Uix i tuba antiga
missão d i r ig ida pelo Capuchinho
Frei
Egydio de Garezio,
em 1849, que missionava t a m b é m Cury e
Santa
Cruz, sob
o nome de missão do Tap a jó s . Dista do Cury urna l égua
e quasi duas de Itaituba e 35 de S a n t a r é m . A causa da ex-
t incção d esses fócos
de
civilização
encarrega-se
de dizer o
finado
general Conselheiro Jeronymo Francisco Coelho.
quando
destas
missões trata no seu Rela tór io apresentado
em 1849, a pag. 82. Diz elle : « Em geral os indios
destas
tres
aldeias, em
suas
r eu n iõ es festivaes en t regão-se a ex
cessos
de embriaguez, e neste estado to rnão-se momen
taneamente iusubordinados. T a m b é m pessoas estranhas
v ã o f r e q ü e n t e m e n t e ás aldeias plantar a desmora l ização
seduzir e lezar os indios. Grande parte delles de ambos os
sexos se acha fó ra a t i tulo de
aggregados
em serviço de
particulares, que com elles tem sempre abertas contas leo
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a
competência
do
miss ionár io
sobre os
indios
e recusam
entregal-os o que são outras
tantas
causas de contrarie-
dade para o augmento tranquiilidade e bôa ordem dos
aldeamentos.
Cumpre
advertir que esta mesma
d e sm o ra l i s ação
se-
d u c ç õ e s
e traficancias se praticam não só nestas aldeias
mas em todos os pontos da p rovíncia onde ha indios ou
a ld êad o s
ou em
suas
malocas e os principaes corruptores
dos
ind ígenas
são
essas
esquadrilhas de canoas de rega-
tões
mascates ou quitandeiros dos rios que os cruzam e
penetram por todas as partes incutindo falsas
idêas
no
animo dos indios illudindo-se com embustes suscitando-
Ihes m ã o s conselhos para os afastar da o b ed iên c ia aldea-
mento regular
apresentando-se
como
seus
amigos
p o rém
com ardiloso e perverso disignio de conservarem o
exclu
sivo
monopólio de suas re lações commerciaes a fim de os
poderem lezar á vontade e impunemente visto que os in
dios
não tem claro conhecimento dos valores dos
g ê n e r o s
que
p e r m u t a m . »
As especulações
commerciaes e a descoberta dos
seringaes
neste
rio fizeram com que essas m issões de en t ão para cá
desapparecessem; quando ainda em 1855 prosperavam e
tinham 1.503 indios apezar da epidemia que as d i z im o u .
Começou a decadência em 1858.
Passando a povoação uns escolhos que da mesma margem
se dirigem para o
r io d i f íi cu l tam
a
navegação
porque um
grande banco ou
i lha
de areia lhe
fica
quasi
fronteiro dei
xando um canal por onde
em b arcaçõ es
de maior calado
passam.
Em frente a
esta
i lha ou banco fica a vi l la de Itaituba
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f' 59 — . ,
Não me sendo possível ir a esta freguezia, comtudo tomei
algumas
in fo rmações
que não
posso
deixar de dal-as, na
ráp ida descr ipção que faço do Rio T a p a j ó s . Distante de
S a n t a r é m 30 lég u as , e uma de Aveiros, está edificada na
margem opposta a esta a freguezia de Pinhel, antiga aldeia
de S. José de Matapus, fundada pelo padre Jesu í ta José da
Gama em 1722, que en tão missionava Arapiuns. Foi ele
vada a vil la em 1758, p o rém pela Res. n.° 233 de 21 de
Dezembro de 1853 foi-lhe tirada essa categoria, em vista
do atrazo e da decadência em que
estava.
Compõe-se de 35
casas de palha, quasi todas tapuyas.
A
igreja tem por orago S. José . Es tá em decadência como
todas
as povoações do T ap a jó s ; d ecad ên c ia que se não pôde
attribuir,
senão á ex t racção da borracha, porque
antes
da
popu lação entregar-se a ella, todos esses lugares floresce
r a m , eram mais populosos e havia mais industria e la-
Trinta e sete léguas, acima da cidade de Santarém, e
cento e noventa e nove da capital, na margem occidental
do Tapa jós , a 4
o
19' 25" 4 ct. S e 12° 2' 10' Long. Occ.
do meridiano do Rio de Janeiro,
está
edificada a
Vi l la
de
Itaituba.
(1) Tendo por origem o estacionamento de for-
ças legaes pela revolução de 1835, que chamou muitos
individuos e animou o lugar, a actual vi l la que en tão t i
nha poucos moradores foi se desenvolvendo, tornando-se
o ponto commercial mais importante do T a p a j ó s . Esta i m
p o r t ân c i a levou o presidente da Provincia que então era o-
Tenente Coronel do Corpo de Engenheiros (2J Henrique de
Beaurepaire Rohan, a transferir pela Lei n . ° 290 de 15de
Dezembro de 1856, a categoria de freguezia e de.villa,
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— 60
conferida pela Lei n.° 260 de 16 de Outubro de 1836 a po
voarão
de Brasilia Legal, para Itaituba. A 3 de Novembro
de 1857 celebrou a Gamara M unicipal a sua primeira sessão
sendo
esta de
in s ta l l ação posse
e juramento, presidindo
então
a
Província
o Doutor
João
da Silva
Ga r rão .
Como
as mais
povoações
de que tenho
fallado,
a de Itaituba
t a m b é m
cahe, porque compondo-se
ella
hoje de uma só
l i -
nha de
casas
parallela ao rio, outr ora tinha mais outra
da qual ainda se notam ves t íg ios . Tem 37 casas, sendo
16 cobertas de telha e 21 rusticamente feitas com palhas
de c u r u á das quaes muitas es tão
muito
arruinadas. Sete
destas casas es tão oecupadas
por estabelecimentos commer
ciaes, dos
quaes
dous são de commerciantes estrangeiros.
Além das casas commerciaes, tem mais o commercio am
bulante, formado por 12
canoas
de r eg a tõ es das quaes são
nacionaes
oito. Ainda
outras
casas
existem
fóra
da
villa
negociando clandestinamente, que segundo f u i informado
« tem por fim
i I l u d i r
as Repar t i ções publicas que s ão . i n cu m -
bidas de cobrar os impostos municipaes e provinciaes. »
A
matriz
es tá
em
cons t rucção
tendo já as paredes late-
raes
e da (rente principiadas, celebrando-se os
ofiicios
di
vinos
n uma choupana nos fundos da Igreja. Tem actual-
mente por padroeira Santa Anna,
sendo
em 1845 Santo
A n -
tônio
e outrora Nossa Senhora da
Conceição .
A população
do
munic íp io
pelo recenseamento de 1 de
Agosto de 1872 é de 7.873 almas, que assim estavam
d i v i -
didas :
Em
Itaituba
No Seringal
No
Baccabal (mundurucus)
1.573
800
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- 6 1
C o n t a - s e e n t r e o s 1 . 5 7 3 h a b i t a n t e s d e I t a i t u b a 8 5 7 h o
m e n s , 7 1 6
m u l h e r e s
d o s
q u a e s
2 9 0
c a s a d o s
6 8 v i ú v o s e
1 . 2 1 3 s o l t e i r o s
a v u l t a n d o
n e s s e n u m e r o a s c r i a n ç a s d e
a m b o s
o s s e x o s .
Q u a n d o é t ã o g r a n d e o n u m e r o d e
c r i a n ç a s ,
e m e s t a d o
d e f r e q ü e n t a r e m a s e s c o l a s n o t a - s e e n t r e t a n t o q u e s ó h a
u m a e s c o l a p u b l i c a q u e t e m m a t r i c u l a d o s 1 7
a l u m n o s ,
n ã o
s e n d o
f r e q ü e n t a d a
p o r
m a i s
d e 1 0 .
N ã o é p o r
f l t
d e g o s t o o u a p t i d ã o , q u e s e n o t a e s s a
f l t
d e f r e q ü ê n c i a e d e
m a t r i c u l a
m a s s i m p e l a s
d i s t a n c i a s
l
. á v e n c e r . . { ; • ^$' $MW$-
C o r r i t o d o s o s
s i t i o s
e h a b i t a ç õ e s d e t a p u y o s m a l o c a s d e
i n d i o s
e p e r g u n t a n d o
s e m p r e
p o r q u e n ã o p u n h a m o s
f i l h o s
n a e s c o l a
r e s p o n d i a m - m e ,
c o m o
s e
h o u v e s s e
c o m b i n a ç ã o :
« s e n t i m o s n ã o p o d e r m a n d a r n o s s o s f i l h o s d i a r i a m e n t e
p o r q u e
a
e s c o l a
é
l o n g e
s e e l l e s p o d e s s e m l á
d o r m i r
c o m
m u i t o g o s t o m a n d a r i a m o s . »
S e h o u v e s s e , p o i s e m v e z d e u m a s i m p l e s e s c o l a p a r a
e x t e r n o s u m a q u e r e u n i s s e a s d u a s c l a s s e s d e a l u m n o s
i n t e r n o s
e
e x t e r n o s
s e r i a
e s s a
e s c o l a m u i t o
f r e q ü e n t a d a e
p r e s t a r i a
i n n u m e r o s
s e r v iç o s á c a u s a d a
c i v il i z a ç ã o .
N ã o
s e e x i g i r m u i t o d o a , l u m n o , o s i m p l e s e n s i n o p r i m á r i o ,
s a t i s f a z
a s n e c e s s i d a d e s e p o r c e r t o a b r i r á
m a i s
o s o l h o s
d e s s e s i n d i v i d u o s q u e c e g o s p e l a e d u c a ç ã o r e c e b i d a d e
s e u s a v ó s , n ã o s e
c o n t a m
n o n u m e r o d e
c i d a d ã o s .
Q u e
a l é m d o
e n s i n o
p r i m á r i o , é
e s t a
a
p a r t e
m a i s
e s s e n c i a l
o
p r o f e s s o r e m u m a h o r a d e p r e l e c ç ã o d iá ri a , i n i c i a s s e o s
a l u m n o s n o s
d e v e r e s
q u e t e m o h o m e m
p a r a
c o m D e u s e
p a r a c o m a s o c i e d a d e n o s d e v e r e s d o c i d a d ã o , n a s l e i s q u e
o p r o t e g e m n o c o n h e c i m e n t o d a
n o s s a
c o n s t i t u i ç ã o po lít i
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este sempre a doutrina chrislã com as garantias e regalias
que tem
homem
religioso
na sociedade em que
vive.
Mostrar
que perante Deus todos são iguaes, que o nascimento não
obriga
este a ser escravo daquelle, que todos devem tra
balhar
em
commum
para
gloria
de Deus e prosperidade da
pá t r ia .
Dous
internatos um na
villa
de
Itaituba,
outro em San
t a rém
trariam
não só o desenvolvimento
morSl
do Tapa
jós
como daria
importância
ao lugar augmentando o seu
commercio
e a sua lavoura, porque a
f reqüênc ia
dos pais
e parentes dos alumnos para
esses
lugares, trariam ani
mação
dariam
lugar a especulações commerciaes,chamaria
população
e portanto
á v i d a
que
falta
agora.
Com
pouco dispendio faria o governo a
despeza
com a
construcção de casas, que não exigem luxo mas commo-
didades,despeza que talvez os particulares a fizessem. As '
mensalidades, com um pequeno
auxilio
do Estado
chegarão
para alimentação e mesmo ves tuár io para aquelles alum
nos que
forem
extremamente pobres. Para
este
a
classe
de
gratuitos
é indispensável.
Estes
internatos estabelecidos
um
em
Itaituba
para a
população
do
Alto Tapajós
outro
em Santarém seria
muito
f r eqüentado e ainda mais serão
si
as autoridades não á
força
mas por meios persuasivos,
empregarem a sua» influencia para com aquelles que
não prestarem-se a remetter seus f i lhos. Um aux ilio an-
nual
de 1:200 para cada internato, e uma
despeza
de
4:000 00O
a 6:000 para
construcção
de cada
casa,
não
é
dispendio que não
possa
fazer uma
província
da ordem
da do
Pará .
Despeza que se
fará
annualmente sem pesar aos
cofres,
si se der providencias enérgicas para que se pro
cedam
ás cobranças
dos impostos que ha, de maneira
a n ã o
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tende ao engrandecimento da
prov í nc i a .
Si se quizer in-
s t rucção
na
provínc ia ,
creem-se
os internatos que só assim
se r á ella derramada e evi t a rá o escândalo da educação de
o r p h ã o s
por particulares.
Tendo sido elevada a vil la em 1856 só se
começou
a
cobrar impostos em Itaituba no anno de 1869, isto é,
quinze annos depois, perdendo assim a
Provínc ia
e a Câ
mara, mais de 140:000^000 estabelecendo por
base
as
quantias de 3:300 000 de rendimentos municipaes e
6:000 00Ô de provinciaes, que foram os do exercício de
1871
a 1872, da
c â m a r a municipal
ecollectoria.
O
rendimento do
mun i c í p i o
poderia ainda
attingir
ao
t r i p l o , si a a r r e c a da ç ã o de impostos fossem effectuadas re
gularmente e se empregassem as
disposições
das posturas
eas leis que o regem.
O
commercio que havia ha alguns annos em grande escala
com
a
provínc ia
de Mato Grosso, para onde se exporta
vam
milhares de arrobas de
g u a r a n á ,
agora vai
d i m i n u i n -
do a ponto de descer a
expor tação
a 180
@
em 1872; de
vido á
ext racção
da borracha que occupa todos, os que
outr'ora se occupavam na
industria
do gua ra ná .
Diminuindo o fabrico do mesmo artigo, augmentou a
expor tação
da gomma
elást ica
para a capital, que pare
cendo á primeira vista trazer melhoramento e
a bun dâ nc i a
para o lugar, por ser grande o commercio que se faz
desse
g ê n e r o , não veio mais do que trazer a misé r i a para as
naturaes. ,
Collocada sobre uma doce
e mi nê nc i a ,
a
v i l l a ,
apresen
ta vista do rio um
aspecto
a gra dá ve l , e delia se goza uma
bella
paisagem, formada pela serra que se eleva na mar
gem
opposta, e pelas ilhas que matizam as
á g u a s .
Em
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—
6o —
encontrava quér soltos entre a areia e seixos quér em al
gumas pedras trazidas pelas correntes.
A hi
apanhei varias
espécies dos molluscos representantes dos terrenos Devo-
nianos e
carbonifero
dos
gêneros Orthis^roductus atrypa
terebralula rhynconella spirifera
o
clymenia.
Alguns polypeiros
dos
gêneros cyathophilwn
e
enchen-
tes
imperfeitos
e um gasteropode do gênero bellerophon
t a m b é m
ahi achei. Fragmentos de varias
espécies
de
sílex
encontram-se em
ab u n d ân c i a
entre os seixos de quartzo e
agatha que são trazidos de mais longe e ahi se accumulam
formando
assim uma das praias mais ricas geologicamente
fallando.
Percorrendo outras praias
cont inuações
da de
Itaituba
v i que
d i f fer iam
desta por serem umas arenosas e outras
só
ricas em seixos. Nestas como na de
Itaituba
encontrei
t a m b é m
alguns fragmentos de machados de
d iori to
e mes
mo
alguns perfeitos da mesma
f ô rma
dos que já havia
encontrado nas
immediações
de
S a n t a r é m
assim como pe
quenos fragmentos de louça pintada de vermelho que ap-
parecem desenterradas pelas
águas
da
chuva
e que provam
que ahi
existio
uma maloca.
No
dia 4 pelas 6 horas da
m a n h ã
subindo o rio e cos-
teando a margem occidental
dirigi-me
para o riacho Bom
Jardim acima da v i ll a uma légua. Lança-se este no T apajós
por
uma bocca de 6 á 8
b raças
durante a cheia ede uma
a
duas
depois do escoamento das
ág u as
depois de ter
passado por lugares baixos por onde se espraia formando
p a ú e s
e de um curso de
duas
léguas
pouco mais ou menos
originando-se
segundo os
indios Mauhés
no lagoCapituan.
Pouco acima de sua
foz tem
uma
ilha
quasi circular cober
ta de v egetação baixa.
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— fiC —
Pela acção das águas a parte inferior da pedreira fôrma
grandes abobadas, e grutas de
f ô rmas
caprichosas.
Apresenta ahi seis s t ra t i f icações perfeitamente horizon
tais, cobertas de 3 a 4 palmos de terra vegetal e de cores
mais ou menos claras. A primeira
não
é
calcinavel,
é cor
tada por pequenos veios de quartzo e ornada de geodos de
erystal
de aragonita, com a
espessura
de um metro.
A
segunda é formada de
silex,
com 0,1 de
espessura
sobreposta á tereeira, que calcina perfeitamente, dando
eal bastante alva. N esta encontram-se muitos molluscos
fosseis dos gêneros terebralula stringocephalus spiri-
fera relzia pentamerus atrypa calceola productus.
Como
a primeira a quarta não calcina, emquanto que
a quinta calcinando bem, dá cal grosseira. Como a terceira
s t ra t i í icação a sexta produz cal que nada deixa a desejar
pelas suas propriedades e alvura.
Sobre esta pedreira estabeleceu um italiano, um
forno
de pequenas
d imenções
mas que lhe tem produzido cal
que em quantidade exporta, dando-lhe muito interesse.
Subindo o r io cujas margens são Cobertas de baixa vege
tação
encontrei a 150
b raças
de distancia, no mesmo lado
outra
pedreira, mas que deixa
fóra
d agua só dous stratus,
sendo o primeiro de uma cor cinzenta e o segundo ama-
rellado. A vegetação rachitica que a cobre, mostra ape
quena profundidade do h úm u s e a grande ex tensão que
tem
a mesma para o interior. Ambos os stratus calcinam
bem
pela
exper iência
que fiz. Continuando a subir, na
margem opposta começa a apparecer outra pedreira com
tres stratus, de pedra in fer ior mas calcinaveis, tendo
o
primeiro
e terceiro itmumeros molluscos fosseis, sendo
os do primeiro de gênero diverso dos do terceiro. Encontrei
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— 67 —
do rio navegável que percorri, mais de meia légua, en
contram-se signaes da ex is tência do calcareo, já pela vege
t ação já pela apparencia das rochas em alguns lugares,
que o pouco
h úmu s
que as cobre deixa a descoberto, mos
trando que de ambas as margens para o interior existe
a
con t inuação
das rochas.
Deixa de ser navegável o riacho, porque espraiando,
fica todo obs t ru ído
pelos
vegetaes,
e
apresenta en tão
tam
bém
pouco fundo. Ahi encontrei pela primeira vez um
bando de lontras, lutra braziliensis Scientifica e com-
mercialmente
fallando, este riacho por si só constitue
uma riqueza, que hoje
desprezada, poderá
para o fu
turo
constituir um ramo de industria
muito lucrativa.
Distrahidos
hoje os naturaes, com a ex t racção da borracha,
-
não dão fé do que perdem,
será
tarde, talvez, quando
vier o arrependimento O que hoje desprezas, aman h ã o
estrangeiro
ap re sen t a rá
como
t i tu lo
de riqueza.
Passando
o dia
neste
iga rapé occupado em colher
amostras, voltei já tarde para a v i l la encontrando quasi
na embocadura do mesmo um bando de mais de duzentas
ciganas
(opistocumus cristatus).
Constando-me que em um sitio p róx imo ao rio P i racanã
existiam
algumas igaçauas (1) para elle me d i r ig i na ma
drugada do dia 6 de Julho, tomando para isso uma mon
taria
tripolada por dous tapuyos, e indo amanhecer na
ponta da
i lha
de Camararury que divide o
Tapa jós
em
dous b raços estendendo suas praias por elle a dentro em
1)
Corruptella de
yucdçam
do verbo
yucd
matar, com a termi-
ção
verbal áua hoje ába) que faz çauá ou çába por terminar o verbo
em vogai; significa, o lugar onde se mata, ou se enterra um morto, e
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— 68 —
grande extensão. Querendo conhecer a vegetação que orna
as margens,
q u é r
da
i lha quér
do rio,
nesse
lugar, tomei
pelo b raço que costeia a ilha pela margem
esquerda
e desci.
Tomando nota das plantas que estavam em flor ou
mais abundava nas margens, notei que uma ou outra
soqueira de jauary apparecia, rompendo a espessa ramada,
feita
de algumas plantas sarmentosas, que ahi crescem
em abundânc ia tornando inaccessivel as margens, sem au
xi l io
de algum instrumento que abra passagem. Come
çando a
vasar
o rio, comtudo as águas beijavam ainda as
raizes e ramas
dessa
longa sipoada, d entre a qual e a l ém
via-se romper e
apparecer
grandes pés de tachy do igapó (1),
uma polygoneacea do gênero t r ip lar is e que julgo ser a
triplaris Bomplandiana que embellezava a floresta com
suas
flores
brancas
e avermelhadas, quando velhas, que
apresentavam quasi suas copas inteiramente cobertas de
flores; são arvores altas, mas cuja madeira não tem em
prego, senão para ca rvão . Com seus troncos mergulha
dos n agua e firmados na areia se an tepõe a essa cipoada,
innumeros pés de
myrtaceas
dos
gêneros psidium
e
u-
genia.
Entre
estas
espécies alguns pés de vitex tarumã e
uma malpighiacea do gênero Iannsia estavam t a m b é m
em flor. ofvn
Costeando a i lha dobrei a sua ponta norte e comecei a su
b ir o rio pelo outro b raço chegando ao sitio ás 10 horas
da m a n h ã .
Collocado este
sobre uma e levação oecupa um grande
espaço do terreno denominado terra preta hoje coberto
por um cafezal quasi abandonado.
Em frente â
casa
que es tá quasi beira-rio, deparei logo
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— 69 —
com innumeros vestígios de igaçauas compostos de fragmen
tos de louça uma grosseira e sem desenhos e outra
mais fina e com desenhos a í fec tando fô rmas geomét r icas e
coloridos com tinta encarnada. Pelos mesmos cheguei a
ajuizar que as f ô rmas das mesmas aproximavam-se das
das panellas. Procedendo logo a uma escavação a ver
se encontrava alguma perfeita f u i informado en tão pelos
habitantes do
sitio
que nenhuma encontraria por ter
sido
esse
lugar todo escavado pelo Professor Hart que t i rou
quantas igaçabas encontrou. Vendo mallogrado o meu in
tento internei-me pelo cafezal a ver se encontrava outros
vestígios sendo ainda in fruct i fero o meu trabalho pois
nem um só t raço dellas encontrei.
Para
compensar o tempo perdido o
acaso
fez-me
depa
rar com um machado de d ior i to compacto o mais bello e
bem acabado que encontrei . Tinha de comprimento 0
m
25
sobre 0
m
09de largura. O córte bem aguçado contrastava
com os lados arredondados que se prolongavam a lém da
abertura dentada que p ró x ima ao alvado tinha para pren
der o cabo.
Pesava
mais de 4 libras e é um dos machados
mais raros que se encontra no
Alto T ap ajó s. Além
deste
outros ainda encontrei porém pequenos
achatados
e se
melhantes aos que já havia encontrado anteriormente
Sendo
informado
que quasi toda a parte elevada dessa mar
gem era de terra preta lugar onde habitavam de prefe
rencia os antigos gentios pelas provas que existem e pelos
seus
vestígios
só se encontrarem
nesses
terrenos comecei
a percorrer todos os sitios dessa margem que me pagaram
o trabalho com alguns exemplares dos mesmos machados
mais ou menos perfeitos.
Pelas
f ô r m a s pela natureza da
pedra e pela s eme lh an ça q u é r da qualidade desenho e
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. 0
g | ^_ 7 —
:
r
M;;ií
V a r i a s m a l o c a s
e x i s t i r a m c o m o j á
t i v e o c c a s i ã o
d e f a l l a r
e m
a m b a s
a s
m a r g e n s
c o m
d i v e r s o s
n o m e s
e m e s m o
c o s
t u m e s
m a s
c r e i o q u e
a l g u m a s
e r a m s u b- di v i s ões d o s T a
p a j ó s ,
q u e n ã o h a b i t a r a m s ó a f o z d o
r i o
q u e t o m o u - l h e o
n o m e .
^
A
m a r g e m d e s t e l a d o t e m
a m e s m a
v e g e t a ç ã o , q u e
a
d o
o u t r o
d i f f e r e n ç a n d o - s e c o m t u d o
e m
n ã o s e r t ã o a b u n
d a n t e
o
t a c h y
e m
a p p a r e c e r m a i s
leguminosas,
t r i b u
f a b a -
c e a e n c o n t r a r e m - s e v u l g a r m e n t e m u i t a s
convolvulaceas,
d o g ê n e r o jacquemontia.
E s t a n d o
o
d i a a b r a z a d o r 2 8 R e a u m ) ,
a
a t m o s p h e r a
b a i x a
e n u v e n s
c a r r e g a d a s p a r a
o S
a m e a ç a n d o m u d a n ç a
d e
t e m p o ,
p e l a s
3
h o r a s d a t a r d e
d i r i g i - m e
p a r a I t a i t u b a .
D e p o i s d e
u m a
h o r a
d e
v i a g e m
c o m e ç o u a
s o p r a r
o
v e n t o
q u e c r e s c e n d o
s e m p r e ,
e n c a p e l l o u a s á g u a s , q u e
a
c u s t o p o
d i a
a f o r ç a d e d o u s r e m o s r o m p e l - a s . S o b r e v i n d o d e p o i s
c h u v a a c o m p a n h a d a d e r e p e t i d o s r e l â m p a g o s
e
t r o v õ e s ,
f o r m o u - s e
u m
v e r d a d e i r o t e m p o r a l a c o m p a n h a d o
d e
f u -
r a c õ e s ,
q u e
m e
o b r i g o u a a r r i b a r
a u m a
p r a i a
c o m
g r a n d e
d i í ü c u l d a d e ,
j á
m o l h a d o
n ã o s ó
p e l a c h u v a
c o m o
p e l a
a g u a
q u e e n t r a v a n a c a n ô a o c e a s i o n a d a p e l a q u e b r a d a s v a g a s d e
e n c o n t r o
a o s e u c o s t a d o . E n t ã o , t i v e o c c a s i ã o
d e
o b s e r v a r
o t e m p o r a l
s e m
r i s c o d e
v i d a u m
d o s m a i o r e s q u e c o s t u
m a m
a s s o l a r e s s a p a r a g e m . A c h u v a c e s s á r a .
O
v e n t o
m u -
g i a p e l a f l o r e s t a l e v a n d o a n t e s i i n n u m e r a s
f o l h a s f l o r e s e
g a l h o s ;
a s
á g u a s
e n c a p e l l a d a s p a r e c i a m
r e f l u i r
c o m
r a p i
d e z o r u i d o
d a
c h u v a
e d o s
t r ov õ e s e r a
a t e r r a d o r e n
t r e t a n t o
o
s o l
e s t a v a f ó r a, a
t a r d e c l a r a
e s ó g r o s s a s n u v e n s
c o r r i a m p e l o h o r i z o n t e
d e S
p a r a
N .
E r a
u m
e s p e c t a c u l o s o b e r b o q u e s e
m e
o f f e r e c i a
e q u e
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ras, depois de lutar
muito
com* a corrente que ainda sentia-
se do
temporal,
cheguei a Itaituba, onde o vento tinha
feito
garrar algumas montarias, canoas de cachoeira e atirado
com outras para terra.
No
dia seguinte, ao alvorecer, torneia
d i recção
da mata
que
fica
á esquerda da
v i l l a ,
onde encontrei muitas
maxi-
milianos régias
e uma variedade de
bactris macroacantha
de porte menor, que estava comfructos verdes. Próximo
a um lago que ahi ha coberto de
aninga
encontrei alguns
pés de syphonia seringueiras) e de Dipterix odorata
cumaru)
que estavam
t ambém
com fruetos. Estes servem
de alimento aos morcegos, que comem a polpa do mesocar-
po e abandonam o resto.
Distante do cumaruzeiro encontram-se sempre lugares
eobertos
destes
restos, que mostram, que os fruetos
foram
para ahi levados pelos morcegos n ão comendo elles os mes
mos no p é , mais sim longe
deste.
Abunda ahi t ambém a cyagrus cocoides e algumas ma
deiras de l ei ; formando uma floresta que, se bem
bastante
elevada, mostra que é de nova
a ppa r i ção .
Voltando ás 10 horas da m a n h ã tomei uma montaria e
me
d i r i g i
para
Uix i tuda.
1)
A vista da
v i l l a
de Itaituba,
po rém
quasi duas
l éguas
abaixo, es tá
assentada
na margem occidental, a povoação
de Uixituba, antiga missão cuja população é toda de indios
mundu r u c ú s .
Muito
mais antiga do que Itaituba, esta
povoação
que
em
1855 tinha uma
população
de 500
i nd iv íduos ,
sendo
234
homens e 260 mulheres, divididas em 48 fogos, está hoje
reduzida a 8 p a lhoças , das quaes 5
abandonadas,
contendo
apenas uns vinte ind iv íduos que formam tres famí l ias .
Ainda recorda o seu
passado
a igreja, com a invocação
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na, tem
e legância
mas
com
o resto da
povoação está
em
m i
nas e é habitada pelos morcegos, que têm infestado o seu in
terior. As hervas e os arbustos tomaram conta das antigas
ruas, que
formam
hoje uma verdadeira capoeira ou serra-
dão. Correndo as choupanas dos indios, tive occasião de
ver
preparar e provar uma bebida repugnante, mas que
para elles é deleitosa, o
t a r u b á .
Ralada a mandioca, mettem a massa no
t ip i ly
e extrain
do
o sueco, de que se prepara o tucupy, fazem delia gran
des beijus de forno, denominados b e i j u s -açú . Estes vão
depois de borrifados com agua para um paneiro, onde são
accumulados uns sobre outros, tendo entre elles folhas de
curumi-caa,
e depois cobertos com
folhas
de assahy; assim
conserva-se por dous ou tres dias, findos os quaes, depois
de apodrecidos os beijus,
são
mettidos em um pote , d onde
sahe
depois a
massa
quando delia se querem servir, dissol
vida n agua e
passada
em peneira, que constitue
en t ão
o
t a r u b á . E uma bebida agri-doce
muito
estimada entre in
dios
e tapuyos.
Geralmente
t a m b é m
se usa o
tucupy,
(1) que
n ã o
é mais
do
que o sueco da mandioca, extrahido o
po lv i lho
cozido
ao fogo ou ao sol, misturado com agua, e que se emprega
em
molhos para peixe e mesmo para carne.
O
tucupy que é
essencialmente venenoso antes da
ex t racção
do
polvilho
e
de cozido, que tem
en tão
o nome de
m a n y p u ê r a
torna-se
depois
inoffensivo
e
ag radáv e l
pela
evaporização .
Com a
massa deixada pelo tucupy prepara-se o
arubé
que é
feito
com
sal, pimenta, alho, que tudo socado, produz uma
massa
semelhante á mostarda. Cozido o tucupy com sal, pi
menta e outros ingredientes entra na
composição
do
tacacd
que não é mais do que gomma da fecula da mandioca.
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Gomo
a praia tie
Itaituba
a de
Uixituba
é
também
co
berta
de seixos rolados e encontram-se
t ambém
algumas
amostras de
ferro
que indicam haver por ahi alguma
m i
na que
não
pude descobrir. Sahindo de
U ixituba
costean-
do
sempre a
margem
observei que a
vegetação
que ha pela
parte arenosa e fôrma o l imite das matas que se estendem
das montanhas até ahi é composta de myrtaceas
gêneros
eugenia
e
psidium ;
de
caparidaceas
entre as
quaes
ha o
catauary
uma arvore
baixa cujo f ructô
e casca socada
emprega-se como cáustico nas moléstias que o reclamam
e que
julgo
ser a
crataeva Bentham i;
de
leguminosas
t r ibu fabaceas e o gênero inga representado por varias es
pécies
de algumas
malpighiaceas
sarmentosas ; de varias
apocinàceas do gên ero ambliantera
e
taberna e montana.
Por entre a copada
folhagem
das arvores da
floresta
que da baixa se
estende
à serra
destacam-se
as frondas
dos
muca já s
;
crocomia sclerocarpa
e dos
ina jás maxi-
miliana régia
que
ahi assoberbados
se apresentam.
\im alguns lugares a costa é pedregosa estendendo-se
em
frente
á Itaituba pelo rio a formar recife; que duran
te a cheia
estão
cobertos pelas
águas
e na vasante
formam
praia.
Alguns sitios
ha nesta margem
porém
sem
lavoura
a
não ser a pequena
cultura
da mandioca e de algumas ba
naneiras. A laranja o
cacáo
e outras
frutas
apparecem
aqui
ou
all i
como planta de
luxo. Voltando
á tarde
gozei
ainda
do espectaculo magestoso do
arrebol
nas
águas
Ta-
pajonicas.
Raiava
o sol do dia 8 quando eu já seguia a
explorar
a
margem
occidental
acima do
igarapé Bom
Jardim.
Pouco
acima
deste desembarcando
f u i
examinar a chapada que
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v e r s a . S ã o m a i s g r o s s o s e c o m p r i d o s l e n d o a
m e t a d e
d a
l a r g u r a
d a q u e l l e s
s e n d o
d e
i g u a l
f ô r m a d o
g r a n d e e n c o n
t r a d o n o P i r a c a n ã . S e g u i n d o p e l o r i o n o l u g a r l l a p e u a ( 1 )
d e p a r e i c o m o u t r o s m a c h a d o s d e i g u a l f ô r m a , n u m s i t i o
q u e a h i
f i c a
s o b r e a e l e v a ç ã o . A t é a h i a m a r g e m a p r e s e n
t a
p r a i a s c o b e r t a s d e s e i x o s r o l a d o s d e v a r i a s n a t u r e z a s
a p p a r e c e n d o m u i t o p o u c o s f o s s e i s e c o b r e m - s e a s r i b a n
c e i r a s d e m y r l a c e a s e o u t r a s p l a n t a s j á m e n c i o n a d a s n a s
p r a i a s
a n t e r i o r e s
p r e d o m i n a n d o
a s
fabaceas.
A h i o
r i o
c o m e ç a a f o r m a r u m a e n s e a d a s e m i - c i r c u l a r q u e s e c o m -
m u n i c a a u m l a g o f o r m a n d o u m a p o n t a a o S
d o n d e
c o m e
ç a a m a r g e m a e l e v a r - s e q u a s i p e r p e n d i c u l a r m e n t e f o r m a
d a d e r o c h a s c a l c a r e a s . A t é a p a r t e b a n h a d a p e l a s á g u a s
a s u p e r f í c i e d a s
r o c h a s a p r e s e n t a m c i n c o
s t r a t i fi c a ç õe s ,
s e n d o a s q u a t r o p r i m e i r a s h o r i z o n t a e s e a u l t i m a d e u m a
s t r u c t u r a d i f f e r e n t e
f o r m a n d o t a l u s s u c c e s s i v o s e
i r r e g u
l a r e s q u e m o s t r a m q u e d e p o i s d e u m rem niement do
f u n d o d o
r i o
c o m e ç a r a m a s á g u a s a
c o r r e r
t r a n q u i l l a m e n l e
f o r m a n d o a s p r i m e i r a s s t r a t i f i c a ç õ e s . p r i m e i r a é
c o m
p o s t a
d e
s e i x o s r o l a d o s c o n s o l i d a d o s p o r
u m a a m á l g a m a d e
g r é s , a p r e s e n t a n d o
i n d i c i o s
d e
o x y d o
d e
f e r r o . A t t r i b u o
e s t a c o n s o l i d a ç ã o a o c a r b o n a t o d e c a l q u e o á c i d o c a r b ô
n i c o t i n h a e m s o l u ç ã o e q u e d e p o i s e v a p o r o u - s e .
A i n d a n a s p r a i a s e n c o n t r a m - s e s e i x o s
f r a g m e n t o s d e
r o c h a c o b e r t o s d e c a r b o n a t o d e
c a l .
A
s e g u n d a
s tr a t i f i c a ção t e m u m a c ô r
a m a r e l l a d a
a
t e r
c e i r a é b r a n c a e a q u a r t a p a r d a c e n t a n ã o s e n d o n e n h u m a
c a l c i n a v e l .
E s t a s r o c h a s s ã o c o b e r t a s d e u m a c a m a d a d e
h ú m u s d e d o u s a q u a t r o p a l m o s d e p r o f u n d i d a d e . N a s e g u n
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—
75 —
Grandes blocs, que se despegaram da massa geral, com
f ô r m a s
mais ou menos
geomét r icas
e regulares, enchem o
r io
que ahi é
fundo,
mas que
ficam
a descoberto pela va
sante . ,
t
, JSIÉ&^S'fi ?*Bm' '
A vegetação que cresce no h ú m u s é
baixa,
destacando-se
a
piteira, agave americana Linn.
que nestas
regiões
vi
pela primeira vez, por entre as
polypodeaceas aroideaceas
e bromeliaceas. Aqu i ou a l l i sombream com sua basta fo -
lhagem,
alguns
pés
de sumauma,
eriodentfrum sumauma.
Algumas orchideas ahi apparecem, representadas, pela
Brassavola Amazônica por uma
variedade
do epidendrum
vanillosmum
e por um
oncidium
que
não
estava em
flor
com
o habitus do
oncidium pumilum
mas de grandes
d i -
m en sõ es
e com as folhas excessivamente coriaceas e mos-
queadas
de
carmim,
que
julgo
ser o
Lanceanum.
Termina
a parte elevada da margem n um grande apuyseiro,
ficus
sendo
dahi
em diante baixa e coberta de
vegetação
quasi
toda
dicotyledonea.
Pela f ô r m a que apresentam as rochas,
denominaram os naturaes esse
lugar
P a r e d ã o .
Depois
de um
bello
dia, armou-se á tarde um
temporal
de vento e trovoada, corno são ahi costumados, que
ob r i -
gou-me de volta, a chegar á
vi l la
ás 8 horas da
noite.
No
dia 10 tornei a ir ao
P a r e d ã o
e chegando ao sitio de
nominado
Sumauma, ahi
fiquei
para no dia seguinte ex
plorar
as margens dahi para
cima.
Com effeito, no dia
seguinte,
ao alvorecer, depois de percorrer um
pouco,
a
margem
occidental
que ahi é pedregosa, e abunda em çe
cropias
atravessei o rio que apresenta
en tão
uma largura
de tres a quatro
milhas.
No centro encontra-se a i lha de Itacapam (\) que apre
senta uma ponta a SSO talhada a prumo sobre o rio,
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de uma grande e l evação formada de um s ó b l o c de por-
phyro, com
sa l iências
angulosas
que lhe dão o
aspecto
de
uma
fortaleza
abandonada. Toda da mesma rocha, é cober
ta, comtudo, de mato na sua parte superior, de grami-
neas e bromelias. Depois de costeal-a dirigi-me para outra
margem e desembarquei, n uma
extensa
praia arenosa,
chamada do Painim. Ahi encontrei milhares de uacuráos
caprimulgus)
de uma
só espécie
que cobriam
espalhados
a praia. Eram pardos, com o peito branco, e quando pousa
dos sobre a areia
achatavam-se
de tal maneira que torna
vam-se á pouca distancia quasi imperceptiveis.
Os seus ninhos s ão covas na areia, onde depositam dous
ovos brancos, que cobertos pela areia são chocados pelo
sol. Pouco acima desta praia íica um
sitio
com o mesmo
nome de Painim, que tem uma excellente
casa
de telha.
Seguindo sempre a margem, encontrei 2 milhas acima
deste
sitio uma alta barranca formada de l â m i n a s de
schisto, de
tres
consistencias, sendo a primeira escessiva-
mente
molle
e pardacento e a terceira enuegrecida e
bas
tante dura.
Acima
d esta
extensa barranca encontrei algumas tillan-
dsias e
duas
orchideas, a maxillaria rufescens e um epiden,-
drum, que pelo corymbo secco que apresentava pareceu-
me ser
o
chomburgkii. Quasi na embocadura do rio Ta-
p a c o r à - a ç ú que ahi afflue, encontrei novas
barrancas
de? schisto, onde na
segunda
camada, t a m b é m molle, en
contrei,
póde-se
dizer, uma mina de
sulphureto
de
fer
ro, tal é a quantidade que ahi se encontra encravado no
schisto. Entre estas barreiras, a margem é argillosa forman
do
t a m b é m
duas camadas que se distinguem
pelas
cores,
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choeirado para o interior,
fica
a
ilha Itapocu
(1) da
qual
fallarei
mais adiante.
O Tapaco r á - a çú tem cerca de 50 braças de
largo,
e
suas margens são ricas em madeiras de l e i e com terras
apropriadas, principalmente, para a
cultura
da canna e do
ca f é .
Atravessando
em frente á
Ilha Itapocu
tomei a margem
occidental, voltando para a v i l l a . Ahi grandes arvores ob
struíam a margem, cabidas
por
desmoronamentos, causados
pela enchente.
Passando
em frente à praia do Painim, en
contrei
o denominado lago Capituam, (2) que não é mais do
que um grande saco, formado pelo Tapa jós ficando
este
um
pouco
ao N do
Igarapé
do mesmo nome, que
deságua
onde
termina a barranca calcarea. E um riacho de grande exten
são porém
estreito, e cheio de
v ege t ação .
omeçando a anoitecer
pernoitei
no sitio Sumauma,
don
de sahi pelas 10 horas da manhã do dia 12.
Devido,
julgo eu ao excessivo sol que apanhei, os dias
que se seguiram, não pude trabalhar, comtudo no 16,
achando-me
melhor,
f u i novamente ao sitio do Piracanã ver
se podia descobrir
ainda alguma
i g açaua
mas
infelizmente,
ahi chegando f u i accommettido por um ataque de febres in-
termittentes, ou sezões que levou-me á cama.
Voltando
á
tarde assim mesmo doente f u i a alguns sitios onde havia
deixado anteriormente encommendas de machados de pe
dras, e pude alcançar alguns. •
Agravando-se-me a molés t ia pude conhecer quanto é
falta de recursos a
v i l l a
de Itaituba, não havendo ahi me
dicamentos, á excepção de pílulas do Dr. Capper, que em
vez de minorar-me os
soffrimentos,
agravou-os.
Depois de alguns dias de intensa febre dia e
noite,
com
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— 78 —
alguns medicamentos que levava em botica portátil con
segui debellar a febre e entrar em
co n v a l e scen ça .
No dia
4 de Agosto sahi pela primeira vez a tomar
ares
tendo
então occasião de assistir a uma maneira de pescar ahi
usada.
Consiste em fazer primeiramente uma cova no
fundo
do rio onde se deposita alguma comida e passado
horas vae o indio pescar. Leva comsigo uma linha ar
mada de anzol em uma extremidade tendo ahi um ponta-
lete amarrado e uma vara. Chegando á praia amarra a
extremidade sem anzol na vara que espeta na areia e pondo
isca no anzol atira-se ao rio levando
este
preso nos dentes
e mergulhando vae espetar dentro da cova pelo pontalete
o anzol e
nada apressado
para terra onde vem segurar a
ponta da linha que ficara amarrada e ahi puxa o peixe
que não tarda a pegar no anzol por estar ahi sevado.
Quantos são os peixes pescados
tantas
são as vezes que se
repetem a scena do mergulho. Alguns dias depois de ahi
pescar-se a pesca torna-se abundante porque acostu
mam-se elles á
seva
que ahi se deita.
Achando-me mais forte nos dias 5 e 6 fiz algumas ex
cursões
pelos campos que correm
a l ém
da mata que mar
gina a costa occidental atraz da v i l l a de
itaituba.
São cam
pos rasos com capões ou uma outra vegetação mirrada
composta quasi que exclusivamente de duas espécies de
muruchy byrsonima), de jutahy hymencea), e de alguns
pés de baccaba OEnocarpus distichus) e I n a j á [maximi-
liana régia), po rém
sendo
estes
infezados.
O
terreno
é t o d o
argilloso crescendo mesmo ahi mal as gramineas.
Passando
este
campo que se
estende
por algumas l ég u as co meça
a floresta que occupa um terreno mais baixo cortado por
alguns i g a rap és e em alguns lugares semeado de igapós .
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O Enocarpus distichuse a max im i l i a n a r é g ia ahi não só
abundam, como tomam um desenvolvimento
ex t r ao rd iná -
r i o . Medi ahi um pé de maximiliana, cabido seceo por ter
ra ou pelos
annos
ou por temporaes, que attingia ao enor_
me comprimento de 135 p é s com 2 */t palmos dediametro,
Nos igapós apparece a aninga caladium), e o c a r a n ã
r
mauritia armata), que não só não altinge á e levação que
lhe
é
p rópr ia
como morrem muitos
p é s
antes
do completo
desenvolvimento.
Em
alguns lugares humidos,
cresce
o
m a r a já
bactris)
que se estende por alguns e spaços . Goza-se ahi na floresta
uma frescura ag radáve l emquanto que no campo, apezar
de alguma v iração o calor é insupportavel. Ahi anima a
floresta um pequeno pássaro
esverdeado
do gênero tana-
gra, que com seu canto assoviado e repetido por centenares
de companheiros, occultos
pelas
folhas no alto das ar
vores, forma uma harmonia que dá vida ao sombrio lugar.
Tendo ahi colhido algumas flôres do Enocarpus, passei
o dia 8 desenhando-as e em preparativos de viagem para a
r eg i ão das cachoeiras.
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TO T AP A JÓ8
Depois de feitos os preparativos
n ecessários,
para uma ex
pedição
á
região
das cachoeiras, arriscada
porém
cheia de
encantos pelo lado scientifico, pelas 10
horas
da
ma nhã
do
dia
10 de Agosto de 1872, n unia canoa
própria
de ca
choeiras, tripolada por quatro indios,
tres
mundurucus e
um
mauhe, pilotados por um cuyabano pratico do rio,
e interprete, sahi da
vi l la
de Itaituba.
Passando
ás
tres horas
da tarde em frente ao
Igarapé
Itapéua 1), que deságua na margem
occidental
meia légua
acima do do Bom Jardim, ahi apanhei um forte temporal,
que, emmarulhando as á gua s , a todo o momento atiravam-
as para dentro da canoa, o que retardou-me a viagem;
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—
82 —
As canoas usadas para a navegação das cachoeiras, pouco
differem
das
iga ri tés 1); têm
mais do que
estas,
uma tolda
baixa
na proa, que serve para accommodar as cargas, e
uma
puxada na popa, onde vai o
piloto
de pé, segurando
o leme, que tem o
fei t io
de um remo de voga, pouco mais
ou menos, com uma larga pá, p o rém mais grosso, que por
uma correia é preso á canoa. Como na subida do rio, a
viagem
é sempre pelas margens,
não
usam remos, mas sim
dezingas, que são varas de 2 1/2
b r a ç a s
de
comprimento,
com
as pontas ferradas, que servem para
t a m b é m
nas ca
choeiras desviar a canoa das pedras, e
forçal -a
a subir a
corrente.
O
sol do dia 11, quando despontou no horizonte, veio
encontrar-me, na entrada do canal Itapocu (2), que na
parte occidental tem a margem coberta de jauarizeiros.
Este canal é formado pela
i lha
do mesmo nome, que se
estende em
fôrma
de crescente por mais de tres quartos
de
l ég u a ,
terminando a S O em uma extensa praia, que
se prolonga a formar um
baixio.
E coberta esta por uma
densa floresta,
onde se acoutam, depois de atravessarem o
rio
muitos porcos do mato.
O
canal que nesta
época
dá passagem franca apezar de
innumeros
baixios, que se estendem a formar occidental-
mente
extensas
praias, pelo
verão
quasi secca inteiramen
te.
Bonitas paisagens ahi se encontram, animadas por al
guma
rez, que descendo do campo, vem á margem beber
agua. Sahindo do canal, pouco acima, a margem se eleva
formando
um
p a red ão
de schisto de mais de 50
pés ,
que a
acção das á g u a s escava, sobre o qual crescem muitos Eno-
carpus distichus
e
mauritias armatas.
Na parte sombria
medram
algum
lichem
e
gramineas,
assim como
destaca-
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— 83 —
se um uu outro pé de cecropia digitala que na barranca
se
b a l o u ç a
sobre algumas
aroideas.
Fronteando um£
branca praia do lado
oriental,
o
p a red ão
se eleva mais, co
bre-se litteralmente de
felices
e
licopodiaceas,
torna-se
humido, e apresenta nos lugares sombrios alguns pés de
cyatheas e alsophilas, arborecentes, magestosas, que pro
vam
estar
esse
lugar a mais de 400
p és
acima do
n ível
do
mar.
Alguns
capões
cobrem as
vezes
o
alto,
predominando
entre as arvores a cupiuba
[myrcia)
e
o arapary,
que pelas
suas
folhas vistas de baixo pareceu-me ser uma legumi-
nosa. Pela encosta
vê -se t am bé m
o uauassu
atalea
spe-
ciosa),
e o
v indicaá
ou cardamomo,
amom um sylvestre.
Toda
esta parte schistosa tem o nome de
Itapocu,
até
o
de
nominado porto do Pindoval, donde começa a margem a
denominar-se
Tayácoara
(.1), nome tirado de um riacho
que ahi despeja
suas á g u a s . Dahi
até uma pequena
casca
ta
tem
essa d en o m in ação passando en tão
a ter a de Bar-
reirinha.
Neste
espaço
a costa é baixa, tem uma vegeta
ção
serrada abundando a caxinguba
{pharmacosyseal)
e
o
p a r i c á r a n a mimosa. Aos
lados da pequena
cascata
encon
t re i
alguns
pés
de catauary,
crataevaBenthamii,
arvore me
dicinal
empregada pelos tapuyos: usando das
cascas
do lenho
e das frutas,
socadas,
como
c áu s t i co .
O
l imite
da deno
m in ação
Barreirinha,
é um bonito
sitio
sobre uma peque
na
collina
coberta por um Inajasal, contornada por um
pequeno lago, que se
tornou
celebre, pela
forte res is tênc ia
que oppuzeram ahi os
Cubanos
contra a
força legal
em
1835
que
inundou
de sangue a bella campina que hoje
ainda
existe. Continua a margem dahi com o nome de
Jaca
r é .
A s 2 horas da tarde passei em
frente
da I lh a U aru p á
que se divide por.um
baixio;de
areia, outr ora habitada pelos
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8 4
A b a c a x i z e C a n u m á q u e d e s a g u a m n o U a r a r i á c o n f l u e n l e d o
T u p i n a m b a r a n a s ,
f o r a m p a r a a s i m m e d i a ç õ e s d e A v e i r o s ,
e d a h i s a h i n d o a m a l l o c a r a m - s e n e l l a .
F o r a m
e x t e r m i n a
d o s p o r u m l a d o p e l o s M a u h é s e p o r o u t r o p e l o s M a m p á s ,
c o m t u d o a i n d a a o i t o a n n o s e x i s t i a u m a f a m i l i a d e l l e s .
T i n h a m
as f a c e s p i n t a d a s d e p r e t o , e e r a m b o n s
n a v e
g a n t e s , c o n h e c e d o r e s
d o
r i o s e n d o e l l e s o s q u e e n s i n a r a m
a n a v e g a ç ã o p e l a s c a c h o e i r a s , a o s c i v i l i z a d o s .
O t e r r e n o
a t é
a h i ,
a l é m
d a z o n a
f l o r e s t a l q u e
m a r g i n a
o r i o , c o b r e - s e d e p i r i q u i t e i r a s 1 ) bombax q u e s e m
f o l h a s a p r e s e n t a v a m - s e c o m p l e t a m e n t e
a m a r e l l a s p e l a s
s u a s i n n u m e r a s f l o r e s .
A p p a r e c e m
a l g u m a s bromeliaceas
e a b u n d a a
brassavolla Martiana.
D e s á g u a e m
f r e n t e
a
e s t a
i l h a
p o r
u m a
b o c c a
d e 5 0
b r a
ç a s ,
o
r i o
J a c a r é , q u e
é
o c a m i n h o m a i s
s e g u i d o p a r a
a s
t e r r a s d o s M a u h e s . D a h i p a r a c i m a c o m e ç a a m a r g e m
a
s e r a r g i l l o s a , a b u n d a n t e e m
c a r a i p é - r a n a ,
lecithidea P e l a s
m a r c a s q u e se n o t a m n a s a r v o r e s r i b e i r i n h a s ,
o
r i o a t é
e s t a d a t a
t e m
d e s c i d o
1 0
p a l m o s .
A t r a v e s s a n d o
o
r i o , p e l a s
7
h o r a s d a t a r d e c h e g u e i
á
i l h a
T r a c u á 2 ) , q u e c o r r e d o N a S e
f i c a
f r o n t e i r a á d o
U a r u p á , n um d o s p o n t o s e m q u e s e a l a r g a o r i o . A s s u a s
p r o x i m i d a d e s são c h e i a s d e b a i x i o s , e n t r e a s q u a e s c o m
p o u c o f u n d o , se p ô d e n a v e g a r .
H o s p e d e i - m e
e m
c a s a
d e
u m
C u y a b a n o
q u e
a h i r e s i d e ,
o S r . S i l v e r i o d e A l b u q u e r q u e A g u i a r , m a i s c o n h e c i d o p o r
L e v e r g e r ,
q u e
p e l a s s u a s m a n e i r a s f r a n c a s e a t t e n c i o s a s ,
s a b e a n g a r i a r s y m p a t h i a s .
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—
83 —
Deixando este ponto no dia 12, pelas 9 horas da manhã
comecei a navegar em
direcção
á
primeira
cachoeira, cujo
estrepito já ouvia surdamente. Um quarto de légua de
pois,
começam
as ilhas do Maranhãosinho, nome da
p r i -
meira cachoeira.
A primeira está no meio do braço esquerdo do rio, for
mado pela ilha do Tracuá , e estende-se para esta deixando
um
canal entre ellas. Esta
ilha
tem a
fôrma
de tres pe
quenos montes, entre os quaes nas cheias se navega. Nella
abunda a Jacitara, (1) desmoncus que em Mato Grosso tem
o nome de urubamba. A esquerda da ponta desta ilha fica
a dos Ananazes, quasi toda arenosa, coberta de bromelias
e jauarys, onde me demorei, para a
tripolação
apanhar
cipós, (ituá
e
m ucun ã ,
que deviam servir na cachoeira •
como sirga. As praias destas ilhas são elevadas, cobertas
de areia finíssima e alva que formam montes como dunas.
Dahi atravessei para a margem esquerda onde a corrente
já
é forte, e penetrei por um canal pedregoso, com algu
mas ilhotas de
pedras
soltas.
Passando estas ilhas, entrei na cachoeira. Bonito golpe
de vista, e rizonha natureza
A
cachoeira não é mais do
que um archipelago, por assim dizer, pedregoso, sobre o
qual
ha pouca e rasteira vegetação, por entre o qual, as
águas correm e rolam impetuosas formando aqui grandes
corredeiras, que se passam sem perigo, com cuidado e
bom
piloto,
e a l l i remansos e rodamoinhos em lugares não
navegáveis.
Dista
esta
cachoeira de Itaituba 18
léguas .
Durante o
inverno
o
aspecto
geral da cachoeira muda, com o engros-
samento das águas, que submergem muitas ilhotas e ro
chedos, que agora
estão
descobertos ; assim como
desappa-
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—
86
bem a corrente tornando mais difficil a navegação. O declive
ahi das águas é de 10°, n um espaço de trinta a quarenta
b r a ç a s .
O encont
ro
das águas por canaes differentes, ahi
formam grandes marulhos, que difíicuitam a travessia,
mas nunca formam verdadeira cachoeira.
Na ponta denominada Santa Rita,
fica
a embocadura do
canal Pocu 1), falsamente chamado
i g a r a p é .
A h i a corren
te não é tão
forte
porque são mais distanciadas as
ilhas,
o
que faz com que seja também mais profundo o leito do
r i o . Acima da bocca do Pocu,
fica
uma grande
ilha
de ro
chedos, que me
affirmam
os práticos ficar submergida du
rante as cheias, onde agora a corrente é bastante forte.
Neste ponto não ha
ilhas,
o rio alarga-se consideravel
mente, apresenta
suas
margens montanhosas,
diminue
a
cor
renteza e começa se a avistar a serra do Coatá pela frente.
Esta parte desobstruída de ilhas é sobremaneira
pitto-
resca. Poucas palmeiras ahi se avistam, a não ser um
ou
outro jauary. Parando fiz uma
excurção
pela baixa
floresta da margem esquerda, onde deparei com uma
aspasia e uma cactacea para mim nova, que cresce com
as folhas alternas
apegadas
á casca das arvores, d onde
brotam algumas raizes, assim como do rhyzoma, que as
tem mais fortes e compridas. As folhas são ellipticas> lo-
buladas, tendo no angulo dos lobulos feixes de aculeos
pequenos. Dão um aspecto ao tronco sobre o
qual
nascem
e se enroscam, muito caprichoso.
As
margens
nesse
e spaço ,
de um quarto de
l égua ,
têm
as praias ora
arenosas
ora pedregosas. A s 12 1/4 da tarde
cheguei à entrada da cachoeira Maranhão Grande.
Nota-
se então a differença da natureza desta que é por toda
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—
87 —
vada. Chegando ao « rabo da cachoeira» como denomi
nam
os naturaes a entrada da mesma, saltei sobre os ro
chedos e f u i em busca de um canal que ahi ha, secco ago
ra
inteiramente,
mas de grande
profundidade
pela enchen
te onde,
diziam
os meus indios, havia um grande pé de
jauary,
com diversos galhos. Sobre os rochedos medram
algumas bromelias, e na parte arenosa que ha entre elles
o cyagrus cocoides
Não crendo que
pudesse
haver palmeiras de galhos, no
gênero astrocaryum, tomei por fábula o dito dos indios, mas
como
me assegurassem que ahi havia um exemplar, como
quem procura um thesouro assim procurava o jauary de ga
lhos, quando saltei em terra.
Com
effeito
depois de duas horas de um calor abrazador,
exposto ao sol, sob um
solo
arenoso ou pedregoso, deparei
com um grande jauarizeiro com quatro magnificos ga
lhos, ornados todos de bellas frondas, com espadices de
fruetos, já seccos.
Para
m i m
e
julgo
mesmo que para a sciencia, esta aber
r ação
é nova, o que levou-me a desenhar immediatamente
o pé, e cortal-o para com vagar estudar a
r am i f icação
dos
tecidos. E uma a b e r r a ç ã o da natureza, mas que segundo
f u i
depois
informado, repete-se
com f r eq ü ên c i a nos jaua-
rizaes do
Tap a jó s .
Depois
de acondicionar o meu thesouro, segui na canoa
a té a ponta fronteira á i l h a grande onde a corrente é impe
tuosa A hi dobrou a ponta a canoa, ajudada por espia,
que levavam dous indios, saltando de rocha em rocha, e
impellida pelas zingas dos dous que ficaram dentro
delia. | { iíhm
Custou
essa passagem 20 minutos, de luta entre a força
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— 88 —
esta cachoeira, penetrei n um canal todo de rochas,
pelo qual seguindo
fui
dar na cachoeira das Furnas (t),
que não é mais do que um immenso poço onde desaguam
vários
canaes, que atravessando por entre innumeras
ilhotas de rochedos, em todas as direcções ahi se lançam
com grande marulho, redomoinhando as águas que lisas
apparentemente ás vezes,
forma
vários redomoinhos, que
principiam
por pequenos
círculos
se alargam, apro
fundando
consideravelmente, a
abrir
enormes gargantas
em fôrma de
f u n i l
que quando se
fecham
é com um grande
estrondo levantando grande jorro d agua. Ai da canoa
que tocar n um dos círculos impetuosos
E immediata-
mente sorvida com toda a carga, e mui longe vai apparecer
toda
desmantelada. Formam-se assim
neste
lugar
vários
redomoinhos,
destes, que em um minuto afundam quasi
ao leito do rio e em menos, tomam o seu
estado
natural.
Durante
a cheia dizem ser medonha
essa
paragem pelas
innumeras e repetidas
furn s
que incessantemente for-
mam-se e desfazem-se, com horrível estampido.
À í 2 1/2 horas da tarde estava sobre as Furnas, marcan
do então o
Therm.
25°
Reaum.
Apenas passam-se estas, varias ilhas de rochas de fôrmas
caprichosas, formam outros tantos canaes, por onde se
escoam com rapidez as águas da cachoeira do Coatá. Corre
esta
entre a grande
ilha
do mesmo nome e outras peque
nas. Tres obstáculos nella se encontram, que são duas
quedas
e uma
rápida
correnteza num pequeno cabo
for-
mado pela ilha. Afíluindoa maior força dágua num canal
de 200 braças com declive, na passagem por cima de um
recife
que corre de lado a lado fôrma a
primeira
queda, que
não tem mais de um
metro
de altura.
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formam nova queda, de menos altura e cuja passagem é
menos trabalhosa.
Quando cheguei á
ilha,
para evitara cachoeira que
fica-
lhe
á esquerda de quem sobe, penetrei n um estreito canal
de 4 a 5 braças entre rochedos, que costea-lhe a direita, e
subindo por elle cheguei a um ponto, que pela sua peque
na quantidade d agua, impediu-me de seguir e obrigou-
me a pernoitar ahi, visto como,
sendo
tres horas da tarde,
não tinha tempo de transpor a cachoeira, para onde tinha
de voltar. Sendo ainda cedo tomei a minha caixa de
herborização e f u i visitar a
ilha
e ver a cachoeira do Apuhy,
cujo estrondo ouvia.
Penetrando pela floresta que cobre a
ilha,
na sua parte
elevada, ahi encontrei uma outra espécie de Vitex, de flores
muito
maiores, das que a
tarumã,
ede côr azul, que tem
o nome de pã d arcorâna.
Pela semelhança externa*da
f l o r
os
naturaes
dão a
essa
verbeneacea
esse
nome, por
assemelhar-se
ás do páo d arco,
que é uma bignoniacea. Deparei com algumas orchideas
minhas conhecidas antigas, como a dichaza, a aspasia,
encontrando todavia
duas
outras, o
oncidium lanceanum
e um epidendrum, que pelo porte, me era estranho e esta
va
infelizmente sem flores. Algumas bifrenarias auran-
tiacas, ahi haviam também sem
florescência.
Entre as pal
meiras só encontrei algumas baccabeiras e um ou outro
specimen de bactris.
Sahindo a praia, avistei a poucos passos a magestosa ca
choeira do Apuhy, magestosa não pela queda da agua, mas
pelo caprichoso panorama que se goza. Que soberba natu
reza O estampido das
quedas,
e o
sussuro
das águas que
depois se
precipitam
umas após outras no r emanço casam-
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— 9
Começando a anoitecer, dirigi-me pela restinga pedre
gosa que
f ô r m a
o canal, ahi
en tão
totalmente secco, e me di
r i g i para a praia onde ficara a c an ô a . Quando ahi cheguei,
já
a
minha
rede estava armada em duas
mag n í f ica s
arvores,
e junto
delia
a
minha
arma de dous canos. Na parte mais
sombria
da floresta, n um ponto donde se avistava a canôa,
o meu piloto escolheu para
nossa
dormida.
A
frescura, o som nunca
interrompido
da cachoeira, a
lua que magn í f i ca coava sua luz por entre a folhagem, o
cr i -c r i -c r i dos insectos e a voz sonora de um caprimulgus
que animava a natureza, fizeram-me gozar de uma das
noites
maisbellasda
vida
nas r eg iõ es equatoriaes .
Ao romper d alva do dia 13, os cantos e gritos de ban
dos de araras, papagaios e
m a r a c a n ã s ,
que por sobre a
minha cabeça passavam para i r em para a comedia vieram
despertar-me. Uma frescura a g r a d á v e l me convidava a
um passeio, pela mata, o que f i z , aproveitando o tempo
em
que ás costas se carregava a bagagem para a praia da
v
mesma i lha opposta á em que eu dormira e acima da ca
choeira do Coatá . Pelas 8 horas, po rém, t ive de embarcar
para
descer
o canal, por onde na
véspera
subira, para en
trar
na cachoeira.
Podia f icar na praia onde estava a bagagem e esperar
a canôa , mas preferi montar a cachoeira, soffrer a impres
são que causa ver o trabalho que dá e passar os mesmos
riscos
dos que me acompanhavam, para poder avaliara
subida
de uma cachoeira.
Sendo abundante o peixe nesta paragem, ia de pé na
prôa da canôa um dos indios, armado de arco e flexa, para
matar alguns, mas
infelizmente,
só um pacú pôde-se
í lexar . E n o táv e l a presteza com que despedem a flexa
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m ~
A h i e s t a v a u m n e g o c i a n t e c o m u m a g r a n d e c a n ô a d e s c a r
r e g a d a s o b r e
u m a s
p e d r a s l a v a d a p e l a s
á g u a s ,
h a v i a m
j á
o i t o
d i a s s e m q u e
p o d e s s e m l i v r a l - a
d o
p e r i g o . D e i x a n d o
a m i n h a c a n ô a
n u m a
p e q u e n a e n s e a d a m a n d e i a m i n h a
t r i p o l a ç ã o
a j u d a r
a t i r a r a c a n ô a d o
p e r i g o
e m q u e
e s t a v a
e
f a z e r p a s s a l - a t o d o s o s o b s t á c u l o s. E s t a v a e s t a s o b r e a s
r o
c h a s d o r e c i f e d e q u e f a l l e i q u e f ô r m a a
p r i m e i r a q u e d a
o u
q u e d a
g r a n d e
d o C o a t á , c o m o
s e d e n o m i n a
j u n t o á s
r o c h a s d a m a r g e m d i r e i t a . J u n t a a t ri p o laç ão d a s d u a s c a
n o a s p a r t e
a t i r o u - s e n a g u a e p a r t e
d e p o i s
d e
s i r g a d a
a
c a n ô a , t o m o u a l o n g a s i r g a e e s t e n d e u - s e p e l a s r o c h a s d a
m a r g e m .
A c o s t u m a d o s
a o
t r a b a l h o
n a s
c a c h o e i r a s
o s i n d i o s e
t a
p u y o s n ã o d e r a m m o s t r a s d e s o f f r e r a
c o r r e n t e
e u n s a q u i
m e r g u l h a n d o o u t r o s
a l l i b a n h a n d o - s e
m o s t r a v a m - s e
s a
t i s f e i t o s .
E s t e n d i d a
a s i r g a q u e
l e v a v a m
t o m o u o m e u p i l o t o o
l e m e
a
g e n t e
q u e
e s t a v a n a g u a m e t t e r a m - s e u n s p o r b a i x o
d a c a n ô a o n d e e s t a o p e r m i t t i a o u t r o s p e l o s l a d o s e c o m e
ç a r a m á f o rç a a
s u s p e n d e l - a
u n s c o m a s
c o s t a s o u t r o s
c o r o a s m ã o s ,
e m q u a n t o
e r a t a m b é m p u x a d a p e l a s i r g a .
D e p o i s
d e i n a u d i t o
t r a b a l h o
d e
m a i s
d e d u a s
h o r a s c o n
c o r d o u - s e
e m
f a z e l - a d e s c e r
o
r i o p a r a s u b i r p e l o l a d o
o p -
p o s t o o n d e
s e b e m q u e a c o r r e n t e f o s s e m a i s c a u d a l o s a
t i n h a m e n o s p e d r a s .
C o m e f f e i t o i m p e l l i n d o - s e a c a n ô a p a r a b a i x o e s t a c o m
a l g u m c u s t o s a f o u - s e
e
s e r i a
l e v a d a p e l a
c o r r e n t e
s e
n ã o a
s u s t e n t a s s e m á
s i r g a .
E n t ã o
p a s s a n d o
a t r i p o l a ç ã o p a r a
e l l a c o m u m a v e l o c i d a d e i n c r i v e l d e s c e u i n c l i n a n d o - s e
p a r a
a m a r g e m
o p p o s t a o b e d e c e n d o
a o
l e m e
q u e o m e u
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92 —
da primeira vez, foi a canôa sirgada e impellida pela
força
dos
indios,
que com agua acima da cintura a
sus
pendiam
e
imp e l l i am.
Depois de meia hora de trabalho
galgou
a queda e entrou pelo
r eman ço .
Gritos en t ão
de
alegria,
coroaram a passagem; conduzida
depois a zinga, transpoz sem
muito
trabalho as outras
passagens,
indo fundear na praia onde estavam as cargas.
Descendo por sobre as rochas,
voltou
a
t r ipo lação
a buscar
a minha
c an ô a
que pelo mesmo processo passou, mas sem
tanto
trabalho por ser
muito
menor.
Estando a t r ipolação canç ada para embarcar as muitas
cargas
do negociante, e tendo de ajudal-o a
passar
a ca
choeira
do Apuhy,
falhei esse
dia. Sendo cedo, internei-me
pela mata depois de ter examinado algumas
podostemeas
que ahi cobrem as rochas, já
seccase
completamente
inu -
tilizadas.
Algumas bonitas e em
f lôr
avistava no centro
da corrente sobre rochas onde era
imposs ível
chegar-se.
A i lha
é elevada e cobre-se de
vegetação
inteiramente
diversa
da que
cresce
na
a r êa
entre as rochas da praia,
que é composta de
rosaceas
e
myrtaceas
grandes arvores,
soberbas
palmeiras
co mp õ em
a mata. A
dipierix odorata
e
lecythis ollaria
ahi predominam. O
asirocaryum
jauary maximiliana regia cenocarpus distichus
são as
palmeiras da parte elevada, emquanto a
bactris marajá
e
geonoma paniculigera
e
mulliflora
crescem em algumas
baixas. Algumas orchideas encontrei, das mesmas que
já refer i
encontrando mais uma
burliagtonia
uma
sehom-
hurgkia
e uma variedade da
maxillaria uncata.
Voltando tarde depois de uma
refe ição l igei ra
me di
r ig i
para a cachoeira do Apuhy, para ver o
b raço
que deita
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tei-me admirando o abysmo revolto que se abria a meus
pés .
Ao cahir da noite d ir igi-m e para a praia onde encontrei no
grande areai que ahi existe a minha rede armada em duas
zingas entre outras dos companheiros.
Quando as trevas deviam cobrir a natureza a lua apre
sentou-se com todo o b r i lho argentando as á g u a s e dando
encanto ás areias das praias. Deitado ao relento adormeci
ao som do hyrono gigante que entoava a cachoeira ao
Creador.
No
dia seguinte
atravessou-se
as
cargas
para a
i lha
do
Apuhy
que fica fronteira e fo i conduzida a t r a v é s da floresta
que a cobre para a margem de um
b r a ç o
da cachoeira do
Apuhy que mansa e suavemente corre por entre pedras.
Passando-se
parte do dia
neste
transporte não pude seguir
viagem
e
aproveitei
a
m a n h ã
para correr a floresta.
A hi abunda o cumaru de duas espécies dipterix odo-
rata
e
oppositi folia
varias
lecythideas siphonia elástica
e algumas palmeiras. Ahi desenhei a f lo r do jauary e
encontrei
uma variedade nova da
bactris simplicifrons
com
o habitus e
f ruct i f ica ção igual
mas afastando por
ser aculeada que denominei a
gracilis.
Entre as orchideas
crescem sobre alguns troncos a mesma espécie de epi-
dendrum
que
e n c o n t r á r a
no
Coatá.
Examinando á tarde as rochas que formam a cachoeira
notei que quasi todas eram de
d ior i to
e
d ior i to
compacto
vindo
esclarecer-me um ponto ethnographico. Diziam-me
n ã o existir na p rov ínc ia as rochas de que eram feitos os
machados que se encontram dos antigos habitantes das
selvas e este encontro veio mostrar-me a origem delles
pelo
menos dos que tenho encontrado que são de rocha da
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cidas pelo
brilho
que apresentam. Esta.
espécie
de
oxydação
cobre todas as rochas, dando-lhe um tom avermelhado.
Colhi diversas amostras, que t ive occasião de remetter
depois ao Governo
I m p e r i a l .
A cachoeira que abrange a
largara do rio é dividida por tres ilhas, que formam quatro
canaes,
sendo os tres da margem direita os que formam
grandes corredeiras, e m b a r a ç a d a s por pedras e com mais
declive, como o primeiro da direita, o Frechal. Fica esta na
L 4
o
, 32', O , e na L o n g . 55°, 54', 23 .
No dia 15, depois de passar a m a n h ã em algumas inves-
igações fui
atacado
de febre que levou-me á rede.
A
par da bella natureza, e das riquezas
vegetaes
e na-
luraes que se encontram ahi, ha uma praga, que torna
insupportavel a viagem por
essas
paragens. E' a dos piuns
e borrachudos, que em nuvens nos cobre o corpo, e cujas
mordeduras causa
in í l ammação
nas
m ã o s
e rosto ; chega a
suppurar e leva o
viajante
á cama com febres. O p ium é um
diplero quasi impercep t íve l cuja mordedura fica assigna-
lada por uma pinta vermelha, como a dos borrachudos.
Alimentando-se quasi que exclusivamente do nectar das
flores
do assacu, causam as
suas
mordeduras, quando em
a b u n d â n c i a
os mesmos symptomas de envenenamento,
dos produzidos pelo veneno da planta.
A ausênc ia dos pássaros e
aves
torna no tável a reg ião
das cachoeiras, a não ser o canto, ao c r e p ú s c u l o do
crá -chué
(i)
turdus),
e os
gritos
dos papagaios, araras ema-
racanãs
nenhum mais se houve. Sendo
en tão
o tempo dos
tucanos, apenas um ouv i cantar. Se a fauna por esse
lado
é pobre nas margens, não o é quanto ás
o n ças felis
jaguapara, L ia is
felis concolor que ahi abundam.
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— 95 —
senoa das guaribas, mycetes tal é a voz desses primates,
produzida
pelo grande
hyoide,
que as caracterisa. Duas
espécies ahi vivem em sociedade, occupando cada uma,
um a das margens do r i o a preta e a vermelha. Habitam
estas a margem direita e aquellas a esquerda.
Dizem
que
entre os pássaros notam-se t ambém modi f icações nas
cores, sendo mais vivas as da margem oriental.
Nesse mesmo dia, emquanto a febre consumia-me,
fazia-se a passagem das canoas. Principiando ás 8 horas
da m a n h ã a sirgar-se as mesmas, só ás 3 horas da tarde
chegaram ellas ao canal u l t im o da esquerda, hoje medindo
u m
palmo a tres de
profundidade,
mas de perigosa pas
sagem no tempo das enchentes. Existe ahi uma ponta de
pedra denominada Cabo Uno que é a parte mais per i
gosa do canal, por arrastarem para
ella
as correntes todas
as canoas, qué não havendo muita pratica e cuidado
nella
naufragam. 1)
Tira
o seu nome do de um cuyabano que
ahi
primeiro naufragou.
A custo atravessando a mata da
i lha na margem desse canal
pernoitei.
No dia 16 depois de embarcada a mesma bagagem, des
pedi-me do negociante que
a j u d á r a
a subir, e pelas
11 horas segui
viagem.
Depois de atravessar o canal
Cabo Lino, que tem seu leito todo pedregoso, sahi no rio,
que en tão alarga-se consideravelmente e
apresenta-se
se
meado de ilhas cobertas de
jauary
s. A margem esquerda
ahi
cobre-se de pdo
d arco
bignonia), que se destaca das
outras arvores pela sua copa coberta de
flores
amarellas.
Pelas
2 1/2 horas da tarde atravessei em
frente
da emboca-
dura do I g a rap é Pimental, que deságua na mesma margem
pouco abaixo da cachoeira
U r u á
2). Passando este, d i r i -
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—
f
gi-me pelo meio do rio para a margem direita, demoran-
do-me algum
tempo em uma
ilha,
onde em volta
delia
mandei pescar. A s 3 1/2 chegava ás corredeiras do
Uruá ,
impropriamente chamadas cachoeiras, porque não
constituem
ellas mais do que grandes
massas
d agua, que,
apertadas entre os recifes que se atravessam irregular
mente de uma a outra margem, mais ou menos parallelos,
se
precipitam
impetuosamente sem
formarem
quedas.
Corre esta ora de N a S, ora de S E a N O.
Tendo atravessado ellas, ora á sirga, ora á
zinga,
cheguei
ás 5 horas da tarde á ultima, onde sobre uma
ilha
ahi
passei a
noite.
Atada a minha rede a uma grande arvore
secca,
que ahi eslava, preparava-me para deitar-me levado
pelas dores que no corpo me
tinha
deixado a
febre,
quando
de uma fenda que
ella
tinha, começou a sahir uma quanti
dade prodigiosa de morcegos, que em alguns minutos
formou uma grande nuvem, que atravessou por sobre as
cachoeiras. A lua que estava magestosa, e harmonia das
águas na sua rápida carreira, deram-me uma agradável
noite,
que compensou o soí rimento do dia.
No dia seguinte, pelas 6 horas da ma nh ã , deixei o Uruá
e segui viagem pela mesma margem. Notei que as ilhas
que aformoseam o rio dahi para cima, eram cobertas
de vegetação mais basta, e vi campeando por sobre a
f l o -
resta da margem, muito para o
interior,
gigantescos pés
de palmeiras, u u ssus I ) , (atalea excelsa).
Algumas
barracas de seringueiras apparecem pela
margem ; de homens que alraz de um lucro fallaz, sujei
tam-se a passar lodo o verão na mata, sem um só com
panheiro,
vivendo
vida de condemnado, e de animal. Pelas
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— 97 —
Quasi fronteira, fica-lhe uma pequena ilha, arenosa,
coberta de astrocaryum jauarys, que se cobrem de
tillan-
dsias. Pelas 2 horas da tarde cheguei á maloca de indios
Mundurucus, chamada do Bo b u ré . Chegando gravemente
doente, não pude seguir viagem.
Quasi deserta, hoje a maloca do Boburé não é mais do
que um pequeno centro de tres f am í l ias compostas de vinte
a
trinta
ind iv íduos
de ambos os
sexos,
representantes
da
grande t r i b u dos Mundurucus. Meio
civilizados,
não fal iam
comtudo ainda o portuguez, e quasi todos deixaram os
seus usos p r imi t ivos . Poucos são os que são pintados.
Chegando entre elles, f u i bem recebido e agazalhado, não
me deixando o velho t u c h á u a quasi que um só instante.
Entre elles
passei
a noite, seguindo no dia seguinte
pelas
7 horas para cima. Ao deixar o porto da maloca, encontrei
algumas pontederias que estavam em f lôr e algumas
nympheaceas. A s 8 1/2 comecei a montar a cachoeira do
B o b u r é que são
semelhantes
ás do Uruá porém
apresen
tando comtudo algumas
quedas,
entre os recifes que a
c o m p õ e m correndo de O para L. Tendo de descarregar-se
a
canôa
para subir algumas
quedas,
saltei em terra, na
margem direita. Correndo os rochedos que aqui e
al l i
entre a areia formam immensas chapadas, encontrei sobre
alguns diversos e differentes sulcos, uns já gastos, outros
ainda perfeitamente v is íveis que mostravam ter sido feitos
pela mão do homem.
Examinando com
a t t enção
as
suas
f ô rmas
comparando
uns com outros, medindo as suas profundidades, cheguei
a convencer-me de que ahi é que eram aperfe içoados os
machados de pedra que se encontram nas margens do Ta
p a j ó s .
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—
99 —
algumas araras, que numa enorme
c ieir de m c co
lecythis),
das frutas da mesma
faziam
seu pascigo. Ahi
passei a noite felizmente sem febre.
Tendo armado a minha rede no copiar
I
da
casa,
pude
apreciar o
lindo
luar, não conseguindo
conciliar
o somno
senão
depois de uma hora da
noite,
por causa do canto me
lancólico
do
yuru-tahy 2)
ou
uru-tahy,
que sem querer
procurava ouvir.
Yuru-tahy é um fissirostro nocturno do gênero capri-
mulgus,
cujo
canto,
sendo
melancó l ico , como
que arremeda
um a
gargalhada de mofa e compassada ;
começando
forte
as primeiras notas e
diminuindo
progressivamente as ul
timas.
Com pequenos intervallos repete o canto, que no
silencio
da noite ouve-se longe, e
causa
mais ou menos
im p res são ,
chamando a
a t tenção
para
elle.
E
r
para os
indios
um Deus submettido á
Yacy,
lua, que é a
deusa
dos vegetaes. Contam as velhas tapuias, que é um
pás -
saro
folgazão ,
e que o seu canto isso demonstra.
Dizem
ellas, que outr'ora,
passando
uma mulher, que
voltava da
roça ,
por cima de um tronco que estava cahido,
atravessado no caminho, teve de, para passal-o, levantar
u m
pouco a perna, e que passando
t a m b é m
momentos
depois o Yuru-tahy, ao tronco fez esta pergunta :
4 Mu i rá a tu çaçáu a
neara
rupi ?
(3)
Ao
que respondeu logo o tronco :
— T u r u ç u
cera cunhan
yuru n e a u é
catu. (4)
Gostando elle da
p i lhér ia , soltou
uma grande garga
lhada : Uá
Uá
I
Uá . . . Uá
1
Hoje
quando o luar é claro, pela calada da noite dizem
que elle recorda-se do facto e solta a gargalhada.
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— 100 —
E grande com a plumagem toda pedrez, olhos negros,
grandes e salientes, bocca extremamente rasgada com o
bico
superior muito pequeno e
unciforme
quasi occulto
por pennas que
terminam
capilliforme e o pescoço semi-
pardacento. Pousa perpendicularmente na ponta dospáos
seccos, e isolado com a cauda entre pernas, de maneira
que pareça a continuação do mesmo. Pouco e svoa ç a
deixando
somente o seu
poleiro
para
a r remeçar-se
sobre
as suas presas, que são sempre insectos, voltando para
elle d onde solta o seu canto ou gargalhada. Não faz
ninho, desova em qualquer ôco de páo.
Sahindo
no dia seguinte pelas 6 horas da m a n h ã notei
que
dahi
em diante as margens têm florestas que chegam
á praia, não sendo tão elevadas. Apparecem poucos re
cifes, sendo
o
leito pedregoso. Muitas sumaumeiras, emas-
sarandubas do igapó ahi apparecem. Da ponta dos Encan
tados que fica na margem esquerda, fronteira a um recife
da margem direita que se entromette pelo r io começam a
apparecer algumas ilhas pedregosas, com pouca vegetação
que infelizmente não
florescia.
A vegetação das margens
do Boburé
para
cima
é m a i s
virente.
A s 7 1/2
entrei
n um
canal
formado por uma grande
ilha
com basta
vegetação
junto
á margem
direita;
entre
esta
e uma outra menor
coberta
de gramineas e arenosa, ha
outro
canal, pedregoso,
onde o rio corre com grande velocidade, formando uma
pequena queda que fôrma a que chamam o rabo do mergu-
Ihão. O
canal por onde passei que desemboca, onde o rio
em toda sua largura tem 2 1/2
milhas,
é também our içado
de pequenos rochedos, por entre os quaes o rio corre com
velocidade com águas desencontradas. A 1/2 milha depois
de se entrar
neste
canal, encontra-se uma
ilha
em
fô rm a
de
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— 101 —
um bosque de astrocaryum jauarys. Pouco acima desta
i lha
á margem direita (terra
firme)
apresenta
um
espaço
de 20 b raças em quadro, onde a mata fo i derrubada, ja
zendo ainda por terra os troncos, entre os quaes encontrei
algumas sepulturas, cobertas de
japds
(1), ou por
varas
deitadas longitudinalmente do comprimento da sepultura.
Uma cruz de páo pintada de preto, pia promessa de algum
viajante talvez, nos indica ser ahi a
ultima
morada de alguns
viajantes c h r i s tão s . Victimas de nauf rág ios ou de m olés t ias
para ahi têm sido conduzidos aquelles que por
essa
região
morrem.
Sendo
um lugar de tristeza, como que a natureza não
quiz impressionar o viajante que ahi toca, pois desdobra
suas
galas
em torno, de maneira, que f ô rma ahi um dos
pontos mais risonhos da reg ião das cachoeiras. Descendo
á praia depois de visitar aquelles que, como eu, nave
gavam^ ahi pereceram, encontrei dous ninhos de t r aca j á s
[emys , contendo um 16 ovos e outro 24. As t raca jás
como as tartarugas, desovam nas praias, mas não em
bandos como estas. Cavam uma cova na areia, depositam
os ovos, cobrem-os com a mesma areia, que calcam depois
com
o peito. O calor
choca-os
e quando apparece alguma
chuva sahem os
pequenos
t r a c a j á s . Um facto nota-se no
viver
desses
chelonios, que passam a mór parte do seu
viver
debaixo d agua, sahindo somente algumas vezes
para sobre as pedras seccarem-se ao sol, e é que, logo
depois de uma forte trovoada, sempre apparecem elles á
superf íc ie das á gua s ou sahem para as praias.
Os pescadores não deixam
escapar esta
circumstancia,
e no dia seguinte a uma noite de trovoada, sahem a fazer
a pesca, que sempre en tão é abundante.
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— 1 0 2 —
N ã o t e n d o e n c o n t r a d o a t é a h i s e n ã o a l g u n s m o l l u s c o s d o
g ê n e r o unio
e n c o n t r e i
e n t ã o
a l g u n s r e p r e s e n t a n t e s
d o g ê
n e r o
castalia, d e
v a r i a s
e s p é c i e s e
t a m a n h o s . C o n t i n u a n d o
v i a g e m n o t e i q u e e s t e c a n a l q u e t e m a s a h i d a m u i t o m a -
r u l h a d a p o r
a t r a v e s s a r
a
c o r r e n t e e n t r e
i l h o t a s d e r o
c h e d o s é u m d e s v i o p a r a
e v i t a r
a c a c h o e i r a d o
Meryulhão
q u e l h e
f i c a p a r a l l e l a . A h i a
t e m p e r a t u r a
a s 9
h o r a s
d a
m a n h ã
e r a
d e 2 4 ° R e a u m . L o g o
d e p o i s
d a
s a h i d a p a r e i
e m u m a b e l l a e n s e a d a , o n d e a l m o c e i e e n c o n t r e i a l g u m a s
p o n t e d e r i a s .
F i c a - l h e d e f r o n t e
u m a
p e q u e n a
i l h a d e r o
c h e d o s c o m t r e s a r v o r e s d e s p i d a s d e f o l h a g e m c a r u n -
c h o s a s
m a s d e u m
a s p e c t o m u i t o
a g r a d á v e l . U m d o s
m a i s
r i c o s
t r i b u t á r i o s d o A m a z o n a s , é l a m b e m o T a p a j ó s u r n d o s
m a i s
b e l l o s
e q u e
m a i s
v a r i a d a s
e
i n t e r e s s a n t e s
s c e n a s
a p r e s e n t a s o b r e t u d o
á m e d i d a q u e s o b e
p a r a s u a s n a s
c e n t e s . A s 1 1 h o r a s p e n e t r e i n o v a m e n t e e m r i o m o r t o
d o n d e s e
a v i s t a m i n n u m e r a s f r o n d a s
d e
u a u a s s u s
q u e s e
e l e v a m
a c i m a
d a
f l o r e s t a .
A s 2 h o r a s d a t a r d e c h e g u e i a o
s i t i o
d e n o m i n a d o
S.
F r a n c i s c o
d e
P a u l a s a h i n d o
á s 4
h o r a s
c o m u m a
t e m p e r a t u r a
d e 2 8 ° R e a u m .
F i c a e s t e s i t i o f r o n t e i r o á e m b o c a d u r a d o r i o J u a n X i m .
A s 4 */a c o m e ç o u a t r o v e j a r
z u n i n d o v e n t o
S .
A c a l m a n d o
u m p o u c o
e s t e
c o m e ç a r a m a s e
a g i t a r
a s á g u a s , p a s s a n d o
a
t e m p e r a t u r a
a 2 4 ° R e a u m . A s 5
h o r a s
a t r a v e s s e i a i l h a
Boia-açú 1 ) ,
q u e
f i c a
a 3 2 0 b r a ç a s d a
t e r r a f i r m e
n a m a r g e m
d i r e i t a ,
o n d e h a u m
l a g o
e m q u e
d i z e m m o r a r
a
m ã i
d agua o u boia-açú, o u bicho o fundo, q u e é a
m e s m a c o u s a .
S u p e r s t i c i o s o
c o m o é o p o v o d o
i n t e r i o r
d a p r o v í n c i a a d m i t -
t e , c o m o u m f a c t o i n c o n t e s t á v e l , a e x i s t ên c i a d e u m
e n t e
s o b r e n a t u r a l q u e v i v e s o b a f ô r m a d e u m a i m m e n s a c o b r a
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—
103 —
lago, as águas desapparecem eo caminho por onde passa,
vai-se transformando em canal, ás
vezes
de 20, 30
braças
de largura, que corresponde ao d i â m e t r o da mesma. Sa~
hindo nos grandes
rios,
as ág u as encapellam-se , faz sos-
sobrar as canoas, carrega com as ribanceiras , e causa
i n u n d a ç õ e s . C r é d u l o s ,
não procuram averiguar a causa
desses
phenomenos, e attribuem-os á mãi
d á g u a ,
que
nunca foi vista e que todos a
evitam.
Sedimentosos como
são
os terrenos da margem do Amazonas, não é para
admirar
os
factos,
de aberturas de canaes e de
formações
de lagos. Entretanto todos acreditam na
b o i a - a ç ú ,
não
admittem
queda ex is tência delia se duvide, apezar de con
tar-se delia factos inverosimeis, verdadeiras historias do
Barão
de Munkausen.
As
pessoas
mais
sensatas,
não crendo na mãi
d á g u a ,
julgam que a
ficção
mais se enraiga no espirito da gente
c r é d u l a , por apparecer com f reqüênc ia algumas sucur i jús
Euneles murinus)
de tamanho
fóra
do
comumm.
Se
fora
a
referir aqui,
o que se diz ter praticado a
boia-açú ,
muitas
paginas me seriam precisas; por isso, deixando esta
fábula
tradicional,
passo
a continuar a minha viagem.
Da
pequena bocca que communica o lago
Boia-açú
com
o rio,
começa
a apparecer
junto
á margem muitas
ponte-
derias,
que se
prolongam
por mais de tres quartos de
l égu a .
Ah i apanhei alguma chuva, que era seguida de forte
tro
voada, fazendo-me gozar o espectaculo variado e maisbello
que a natureza sóe apresentar. Atravessando por entre
serrada chuva, avistava-se o sol que se recolhia n um leito
de purpura e
an i l ,
como que
a t ravés
de um véo, unido o
Armamento
ás
á g u a s
por uma linha de nevoa branca.
A
chuva cessou, e o sol appareceu depois quasi a sumir-se
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/
— 104 —
Quando admirava a sublimidade da scena, que por lodo
o horizonte se
apresentava,
o meu
piloto
que já por al
guns momentos estivera, como que reconcenIrado, e não
perdia de vista as ág u as como que procurando alguma
cousa, me disse: —
P a t r ã o
não acredita na
Oyoára.
Vendo
que tratava-se de algum facto tradicional, pedi-
lhe que me explicasse o que significava a Oy o á ra . (1) To
mando
en tão
um ar, que revelava receio, e ao mesmo
tempo vontade de desabafar-se, começou em tom baixo a
narrar uma lenda, que para elle era uma realidade.
Assim c ô m o d o s indios prim it ivos da America do Norte, e
dos da Asia e Oceania, ha lendas e t rad içõ es que entretem
hoje as familias muitas vezes em
seus
s e rões assim t a m b é m
os
nossos
auctothones, legaram-nos
t rad ições
que n um
povo
ainda não muito civilizado como são os t a p a j ó s e os
indios
que ainda conservam alguns usos p r imi t ivos passam
por realidades, e in í lue muito no seu v iver . Cheias algu
mas de poesia, outros de c renças jesuiticas plantadas pelos
colonos portuguezes, hoje servem para mostrar a indole e
conservar ainda alguns dos costumes antigos. Fó ra da luz
derramada pela
civilização essas c renças
calam no animo
do tapuyo, e não ha arredal-o dellas.
A Oyoára como a sereia dos antigos, é a nympha, ou o
gênio dos iga rapés seductora dos mancebos tapuyos. E
uma mulher linda; a alvura de seu rosto, seus meigos
olhos negros e sua bocca de coral, formam um conjuncto,
rea lçado
pelos
seus
cabellos negros e
ondeados
que
pelas
espaduas se derramam como um manto.
Seu corpo é um complexo de f ô r m a s encantadoras, que
contrastam com as negras f ô r m a s do boto que toma da c in-
tura para baixo.
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— 105 —
dos igarapés, ou depois de um temporal á tarde, no des-
cahir da noite, e que o
c repúscu lo
com
suas
doces
e va-
riegadas cores, embellezam a natureza,
en tão
a
Oyoára
apparece na superf íc ie das á g u a s , sacode seus cabellos
presos por flores de m o r e r ú (1) e entoa o seu canto. Can
to
de amor e de
volúpia
que ai daquelle que ouve cega
mente embriaga-se e atira-se nos
b raço s
daquella que
o seduziu, que apenas tem em seus braços a presa, des-
apparece com ella, levando-a para os abysmos das águas
onde tem os seus palácios de ouro e pedraria.
Todos evitam o encontro da Oyoára. O i tacára (2) pelas
noites de luar, foge dos lugares onde dizem que
ella
mora
ou pode encontral-a ; todos temem o seu canto, entretanto
que fugindo-se delia, sem nunca
n inguém
a ter visto,
assim mesmo quantos não dizem ter
sido—peg o
pela
Oyoára?
Qualquer molést ia cerebral, ou nervosa, é produzida
por eífeito da Oyoára , das
quaes
se curam com fum igações
de alho, pimenta malagueta ou disciplinando-se com cor
das d'arcos. Dizem que uma
espécie
de
raiva, ataca
os
que
soffrem
o encanto da
Oyoára , d i f ferençando-se porém ,
cm que
esta
faz o indiv íduo procurar a agua.
Esta raiva, encanto da O yoára, não é mais do que effeito
da
imag inação
escaldada pela
t rad ição .
Pondo de parte a
t r ad i ção ,
continuarei na
descripção
da natureza. O rio ahi corre para O e a temperatura
baixou,
a 20° depois da trovoada. Chegando ás 6 horas da
tarde ao
T u c u n a r é
cuara (3),
f u i
aboletar-me na
casa
de
uma
famí l ia
Mauhe, onde sobre um grande
muquem
(4)
varias espécies de caça estavam se assando. Dem recebido
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pelo
Mauhe, chefe da
f am í l i a
passei parte da noite to
mando algumas notas sobre a sua
g i r ia .
Sahindo no dia seguinte pelas 6 horas da
m a n h ã
passei
pela pequena
i lha
do
T u c u n a r é
que
fica
fronteira e paral-
lela á do Bom Fim, mais comprida, e quasi junta á mar
gem esquerda.
Temperatura entã o 19°
Reaum. Entre
estas duas
ilhas, ha
u m
grande banco arenoso.
Passando-se
a
ilha
do Bom Fim
varias outras, pequenas, que
formam
um canal de 33
braças
de largura. Em frente á ponta da
i lha
do
T u c u n a r é
deságua o canal do mesmo nome, com 6 b r a ç a s de bocca,
e de pequeno curso.
Entrando
por elle
tive
de
voltar,
por não ter agua
su f f i -
ciente á
l ivre navegação
da minha
canôa
e costeando
depois a i l h a Tu cu n a ré entrei por um b r a ç o do rio que se
une ao igarapé quasi na sua embocadura, e separa a ilha
da terra
f i r m e .
Descendo por este canal,
f u i
dar a um pe
queno
porto,
onde desci para tomar por terra o caminho
para as terras dos Mauhes, isto é, onde estes indios têm as
suas
malocas. Este canal é estreito coberto de matas com
leito
arenoso, onde abunda a
castalia.
Grandes jauarys
apparecem na parte arenosa, assim como
vivem
ahi soce-
gadamente bandos de
opisiocumus cristatus
de mais de
duzentos
ind iv íduos
que ao aproximar-se a canoa, fazem
ouvir o seu grasnar. Seguindo logo para os Mauhes tive
de atravessar
uma.
grande floresta, por entre a qual é sem
pre o caminho, se caminho
pôde
chamar-se a passagem
por
entre a
vegetação
fechada, que se anda desviando, ora
dos espinhos, ora dos
cipós.
O
terreno todo accidentado obrigava-me, ora a subir ora
a
descer, passando igapós
e
i g a rap és .
Rica em palmeiras
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—
107 —
grandes claros, emquanto outras elevavam suas frondas
acima das
copas
mais altas das arvores.
Bonita
floresta,
animada por innumeros cantos de uma
espécie
de tana-
gra que em bandos escondiam-se entre a folhagem.
A h i
encontrei uma
euterpe assahysinho
que por ser
nova
denominei
longibracteata.
Por felicidade encontrei muitos exemplares, uns com
fruetos,
outros com flores em
vários gráos
de desenvolvi
mento. V i ta m b é m
ahi pela primeira vez a Enocarpus mi-
nor
mas sem
flor.
Depois de meio dia de uma
agradável
e u t i l travessia pela flcresta cheguei á primeira maloca,
denominada do Sahy, nome tirado do do
t u c h á u a .
Está
situada no alto de uma serra, em cuja fralda corre
um l indo igarapé
sobre um
espaço
descampado, mas já
invadido por nova vegetação que oceulta algumas
casas.
Compõe-se
de varias
cabanas,
e é habitada por umas 10
familias, comprehendendo cerca de oitenta pessoas. Guia
do
pelo
t u ch áu a d ir ig i -me
á mata, onde me mostrou elle
o
sipó
que entra na
p reparação
do tabaco
par icá aimbé
na
g ir ia
delle, e a folha que serve para sua
to rrefacção
uma
myristicacea do
gênero eoceulus. Voltando
assisti ao
curativo
de um doente, por meio do
putuipe
instrumento
que descreverei, ao tratar dos costumes dos indios
Mau
hes, assim como do preparo do p a r i c á .
Passando
a noite
entre elles, no dia seguinte
voltei
por me achar
bastante
doente. Sendo informado que as outras malocas eram
iguaes a esta desisti de visital-as.
Usam
elles ahi já de roupas, mas v ivem qu ér homens,
q u é r
mulheres quasi nús, conservando ainda
seus
usos
pr imi t ivos .
São affaveis, obsequiadores, e muitos
in te l l i -
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—
108 —
Estando a temperatura em 24° Reaum. ás 11 horas da
manhã
segui viagem.
Sahindo pelo mesmo canal, entrei novamente no rio,
que
então
é muito largo, e completamente morto, o b s t r u í -
do por alguns bancos. A 1 1/4 comecei a
costear
a ilha
do Mamboahy, ou Namboay, que é coberta por uma
densa
floresta. Ao frontear-se esta um longo recife, destaca-se
da margem e se prolonga pelo canal. A s 2
horas
cheguei
ao
sitio
de um mulato cuyabano, homem que a poder de
immoralidades e vilanias tem conseguido dominar, escra-
visando grande numero de tapuyos, que trabalham para
augmentar sua fortuna. (1) A s 3 1/2
passei
pelo
ribeirão
Mamboahy, que tem actualmente 5
braças
de emboca-
dura, com um curso de mais de 20 l é gua s e pelo qual se
vai também
ás terras dos Mauhes. Na sua foz, encontrei
grande numero de
pontederias
A margem ahi cobre-se
de algumas rochas, que se destacam das arvores que che
gam á praia; sendo algumas de quartro. Ahi o rio é com
pletamente morto e corre a OSO. Marcando o Therm.
6°
Reaum. ás 5 horas, começou a
essa
hora uma forte
tro
voada, acompanhada de vento S que obrigou-me a deman
dar o porto do sitio de um Mauhe.
Sendo
a casa
pequena,
e estando ahi o
tucháua
da maloca do
Açará
com muita
gente, preferi
dormir
á sombra das arvores, a beira rio.
No dia 2 1
pelas
7 1/2, sahi acompanhado pelo
tucháua
e parte de sua gente, que seguiam-me em uma grande
c anôa .
Ao chegar â ponta da
ilha,
a margem que lhe
f i r a
fronteira apresenta uma barranca argillosa de 20 a 30 pal
mos de altura. Começa então a
apparecer
novas
pequenas
ilhas
de rochedos, semeadas pelo canal. A s 9 horas che
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Ahi assisti á lümigação da gomma elástica, e tirei o re
trato do
t u c h á u a
cujo nome
chr is tão
é Paulo.
Inteira
mente pintado, com a maior facilidade e sem cerimonia
t i r o u as ca lças e poz-se nú para eu poder desenhar as
lis
tas da parte inferior do corpo. Depois de ter tomado alguns
apontamentos ahi, segui viagem, chegando a outra maloca,
porem
de
Mauhés
ás 4 1/2 da tarde (1).
Chama-se
esta
maloca, do
José
Pocu.
Passando
a noite
nesta,
que
apenas
hoje
conta duas familias, sahi no dia seguinte pelas 5 horas
da m a n h ã chegando ao lugar denominado Fechos
d
Mon-
tanha às 6 1/2 horas.
A hi o rio estreita-se
muito
e
ambas
as margens
são
mon
tanhosas.
Pequenas ilhotas de rochedos salpicam o mesmo,
que
en tão
é morto. A s 10 horas cheguei à pequena ca
choeira do
A c a r á .
Uma
successão
de rochedos baixos
fô rma vár ios canaes, Onde as á g u a s se
precipitam
espu
mosas
com pequeno declive. De
ambas
as margens, ahi
adiantam-se pontas, que estreitam
muito
o rio, formando
en tão
o verdadeiro fecho. Sobre os rochedos, cobertos pela
agua crescem muitas podostemeas e pascigam algumas
g a r ç a s .
As
á g u a s
bramem ahi com estrondo, na sua
pas
sagem por um leito pedregoso e de encontro aos rochedos
que procuram impedir-lhe a marcha. A
passagem fo i
feita
â sirga e com muita d i í iicu ldad e porque o embate da cor
rente offerecia a cada momento eminente perigo. Pas
sada
a cachoeira, continua o
r io
a ser
obs t ru ído
por lages
de rochas, até em frente á maloca do
A cará
onde cheguei
á s 10 3/4.
Fica esta assentada á margem do rio, na fralda da mon
tanha, e compõe-se de 12 casas,
sendo
a principal a do
t u c h á u a ao lado da qual ha um grande rancho, onde
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— 110 —
estão em serviço. 0 uso geral do guaraná entre os Mauhes
ainda é observado com todas as formalidades.
Desde
o
romper do dia até ás 5 horas da tarde leva uma
mulher
que é rendida quando e s t á can çad a a ralar o
g u a r a n á
no centro do rancho emquanto as outras cosem
ou catam-se assentadas em linha.
Os homens deitados nas redes que pendem^de todos os
esteios que sustentam o mesmo rancho fumam o tauary
ou se embalam.
Rodeada de grandes cuias com agua quando a mulher
diz
que o
g u a ra n á e s tá
prompto levantam-se homens e
mulheres cada um por sua vez com uma pequena cuia e
vem
bebel-o indo logo
após
para o seu lugar. Acabado
este
começa
logo novamente a fazer-se outra
p o rção
e
assim
passam
o dia de minuto em minuto bebendo o gua
r a n á .
Os Mauhes são hospitaleiros intelligentes e mais
vivos
que os Mundurucus
sendo
um typo mesmo diverso.
São mais claros têm olhos mais vivos notando eu que
geralmente as mulheres são bonitas apezar de soffrerem
quasi todas um pouco de strabismo convergente. A ceri
monia
do
pa r icá
que alguns dizem só se
e í fec tuar
em oc-
casiões solemnes n ã o é exacto tomam sempre em qualquer
occasião em que estejam atacados de cons t ipação ou
molleza.
Empregam-se hoje na
ex t racção
da borracha ; e cultivam
algum terreno do qual colhem o mi lho a mandioca e
algum a lgodão que fiam para o fabrico das suas redes.
Amando
a
i n d ep en d ên c i a
não quizeram seguir os con
selhos dos miss ionár ios que por ahi passaram reunindo a
população
dispersa para formarem um centro para a ca-
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tinha comtudo a importância da grande festa da tocan-
dyra,
por faltarem dous dos principaes elementos; o
cachiry e a tocandyra. Não havia enthusiasmo por isso,
assim como porque
diminuto
era o numero de
dansantes.
Fiquei
todavia satisfeito, por ficar conhecendo
essa
dansa,
ainda muito mal conhecida, e o uso dos instrumentos que
nella
entram.
A
noite
dormi
entre elles, alumiado pela luz produzida
pela resina de jutahy e breu, de que se servem, fazendo-a
arder sobre um cepo, que ha
fincado
no meio do rancho.
Pela madrugada do dia seguinte, seguindo viagem,
cheguei ás
G
horas á cachoeira da Montanha.
E esta uma das mais bellas e também a mais perigosa,
depois da do
Apuhy.
Uma grande
ilha
quasi circular, de
200 pés de altura, coberta de densa floresta, embellezada
por
algumas palmeiras, divide o rio em dous
b r a ços ,
que
formam as duas cachoeiras, ou antes famosas corredeiras
por
entre recifes, que produzem um fragor medonho. Ahi
a canôa sobe á sirga, com a tripolação n agua para empur-
ral-a
ou suspendôl a quando é preciso. Passando a ca
choeira o rio volta-se subitamente.
Chegando ahi a
essa
ponta vi que arriscava sem gloria
minha
vida
se continuasse a subir, porque gravemente
doente, sem recursos a morte era inevitável ;
resolvi
por
tanto
descer
novamente o rio. Dista esta cachoeira de
Itaituba 75 léguas e da maloca do Acará uma. Ahi as
margens são elevadas e cobertas de matas.
Voltando á maloca a despedir-me desses bons amigos,
ahi me demorei um pouco, de maneira que passei a ca
choeira do Acará ás 12 horas, chegando ao Tucunaré ás
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112 —
a do Uruá e ás 3 passei a do Apuhy, dormindo na ilha do
mesmo nome.
E ad m i ráv e l
a rapidez com que se desce, e como o
proeiro
ajudado pelo
piloto
em um segundo desvia a
canôa
de um perigo eminente. Nas cachoeiras, a queda da
canôa
é ráp ida
como o pensamento.
Sensação
singular se experimenta
e n t ã o ;
é um
mix to
de orgulho e medo, de prazer e alegria.
Sahindo ás 6 horas da m a n h ã do dia 26, passei logo a
cachoeira do
Coatá
e ás 9 1/2 a do
M aranh ão
Grande.
Chegando a esta,
tomei
pelo canal estreito de margens
pedregosas, que tem uma pequena queda, na margem
esquerda, e algumas ilhas de rochedo pelo centro. Este
canal evita a passagem pelo
M aran h ão s in h o ,
que demanda
na descida
muito
cuidado pelos innumeros
canaes
entre
rochas, para as
quaes
chama acorrente. Esta cachoeira
tinha
outrora o nome de
Piracaú
(1) alludindo ao peixe
que se encontra ás
vezes
morto ou de
bubuya
(2) sobre as
á g u a s
pelo embate das mesmas nas pedras.
Quando davam 2 horas da tarde chegava eu á
i lha
T r a c u á ,
d onde sahi ás 3 horas, chegando a um
sitio
de um
seringueiro na margem esquerda ás 6 1/2 da tarde. Ahi
tomando alguns apontamentos, passei a noite até a 1 1/2
hora;
sahindo
en tão
em
d i recção
a Itaituba.
Rompeu
o sol do dia 27 para mim quando atravessava a
embocadura
do Tapa corá-açú , vindo d e scan ça r
e t ratar-me
da
molés t ia
apanhada nesta
ex cu r são
ás 10 horas da
m a n h ã .
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I V
G E O G R A P I I I A
E E T H U Í O G R A M I I A
r
0
r o
T a p a j ó s o u P r e t o c o m o v u l g a r m e n t e é a p p e l l i d a d o
p e l o s h a b i t a n t e s
de
s u a s
m a r g e n s ,
p e l a
s u a i m p o r t â n c i a
n a t u r a l e p e l o f u t u r o q u e o f f e r e c e a q u e l l e s q u e d e s u a s
r i q u e z a s s e q u i z e r e m
a p r o v e i t a r
g e o g r a p h i c a m e n t e m e r e c e
u m a r t i g o e s p e c i a l p o r q u e s e b e m q u e j á f o s s e t r a t a d o
p e l o
C o n d e
C a s t e l n a u
e
p e l o e n g e n h e i r o p o r t u g u e z R i c a r d o
F r a n c o d e A l m e i d a S e r r a a i n d a h o j e é q u a s i d e s c o n h e c i d o
a n ã o
s e r p e l o s n e g o c i a n t e s
q u e
p o r
e l l e
n a v e g a m
a n n u a l -
m e n t e
c o m m e r c i a n d o . 1 )
N ã o f a ç o u m a d e s c r i p ç ã o c i r c ü m s t a n c i a d a d e t o d o o s e u
c u r s o
m a s
i n d i c a r e i
c o m e x a ct i d ã o o q u e
s e i p e l a s
i n f o r
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114 —
rio, pelo que pude observar, e pelo que consta já escrip-
to . Occupando um lugar distincto entre os t r ib u t á r io s do
Amazonas,
farei
por
corr ig i r
alguns erros que se têm
vul~
garisado sobre elle. Simples será a'minha exposição e
conscienciosa a indicação do que sei e observei. Como todo
o commercio hoje é
feito
pelo
Arinos,
descreverei este e
não tratarei do Juruena.
O rio Tapa jós , que propriamente assim é chamado, nas
ce da união de dous grandes a f í l u en t e s , o Arinos e o Ju
ruena, depois de ter recebido o S. Manoel. As fontes
principaes destes dous afí luentes es tão nos altos campos dos
Parecys, vulgarmente chamados serra dos Parecys, a 14°
e 42' 30 Lat. S 63° 3' Lo n g . O de Paris. O Arinos
abrangendo um
espaço
de 100
lég u as
de E a O com
duas
ramif icações
que se cruzam com as
á g u a s
que correm para
o Paraguay e seus af í luen tes , tem verdadeiramente sua
principal
nascente a 15
léguas
da Vi l la do Diamantino.
A
fazenda do Estivado, onde esteve Castelnau, pôde ser
considerada a
linha divisória
entre as
á g u a s
que correm
para os rios do N e as que correm para os do S. O
rio
Preto
uma das principaes fontes do
Arinos, fica
3 a 4 lé
guas da
Vi l la
e o seu porto a 5 ou 6 da mesma. Por ahi
navegam as
canoas
que vão de Itaituba para o Diamantino,
apezar de ser um rio estreito, com 10 a 45 b r a ç a s de lar
gura e geralmente o b s t ru íd o de p á o s .
Passam por elle canoas
carregadas
com 1 a 2.000 arro
bas.
Dahi começa o A rinos, que perpetua o nome de uma t r ibu
de indios, hoje desconhecida, que já vem com 20 a 25 bra ça s
de largura, ficando logo abaixo na margem esquerda o
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gem direita
o rio dos
Patos
onde habitam os indios Ba-
cairis.
Vinte léguas
abaixo do Porto do Rio Preto
fica
a
embocadura do
Sumidouro
por onde desceu em 1747
João
de Souza de Azevedo e não
João
da Cunha Azevedo,
como dá Lacerda no seu Diccionario, que em companhia
de Pascoal Arruda vinham em busca de ouro; por elle
t a m b é m desceu em 1805 João Viegas e em 1812 Antônio
T h o m é
de
F r a n ç a .
Sendo o
primeiro
navegante do
T apajós ,
o portuguez
filho
da
I lha
da Madeira Leonardo de
Oliveira,
segundo refere o
Padre José
de Moraes, na sua
Historia
o
Estado
o
Maranhão
I . pag. 511. Tem a barra deste rio
15 b r aças pouco mais ou menos de largura,
sendo
sua
corrente
r áp id a
e d'agua crystallina. Fica na Lat. S13°
23
30 e na-
l ong .
O 56° 17' 30 . As margens do Su
midouro
são habitadas pelos indios Parecys, que como
os Mundurucus, usam t a m b é m de uma capa de palha, para
encobrir
o
ó rgão
sexual. Passando-se a
i lha
do
Cyriaco
que recorda o nome de um viajante que ahi morreu,
chega-se
a uma grande campina á
direita,
onde dizem
habitar
os indios Mambyuaras e Tapanhonas.
Trinta léguas
abaixo do Sumidouro
deságua
o rio
Tapanhonas
que tem
pouco mais ou menos 20
b r aças
de bocca.
A hi
e pelas bar
reiras do
Genipapo
mais abaixo aparecem os Tapanhonas.
Pela
a b u n d â n c i a
que ha da
fava,
chamada de Santo Ignacio,
existe ahi um lugar denominado
Faval.
Doze
léguas
abaixo
fica
o
Barranco vermelho
abaixo do qual existem
algumas ilhas.
Dahi
em diante
começam
a apparecer
matas
pelas margens, mais frondosas. Ha ahi uma arvore, que se
encontra t a m b é m no baixo T a p a j ó s , denominada pelos
Cuyiabanos
Tu cu r i ,
que se emprega no fabrico de
ubãs
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4 6
o rio que corria placidamente começa a ser obstruído por
cachoeiras e saltos.
Abaixo deste ponto milhares de escolhos ou ilhas de
rochas, formam um labyrintho de canaes, que vem depois
formar a cachoeira da Figueira que não formando quéda
é comtudo
muito
marulhosa, só dando
passagem
pela parte
direita. Segue-se
depois o Boqueirão que é um canal
muito revolto.
Em continuação recifes entre os quaes ha grande corren
teza, formando a cachoeira do Rebojinho que é
ins ign i f i -
cante, e menos perigosa, do que os baixios que se lhe se
guem Consta haver ouro nesse lugar.
O rio dahi para baixo é cheio de pedras, havendo uma
no centro de 24 palmos de altura, com lüO de
circumferen-
cia. O maior tributário do Arinos ahi deságua algumas
léguas abaixo, na margem direita, que é o
rio o
Peixe
com 40 braças de largura, pouco mais ou menos. Ahi a
largura
do Arinos é de umas 100
b r a ç a s .
As cachoeiras do
Rebojinho e Meia carga têm uma rápida correnteza, que
obriga
a serem sirgadas as
canoas.
Passadas
estas
o
rio
tor
na-se
morto, e faz numerosas voltas, até encontrar-se com
uma ilha longa, que fica quasi defronte da foz do Juruena.
De
Pouzo Alegre á foz do Juruena, são 42 l é gua s tendo
esta de largura 180 b r a ç a s emquanto que o Arinos ahi
apparece só cem 100 de largura, porém unidas as á gu a s
apresentam uma largura de mais de meia
milha,
semeada
de ilhas que encobrem ao observador uma das margens.
Fica a junção de 10° 24' 30 de Lat. S e 58° 2' 45
de Long. 0. Desta união para baixo o rio continua com o
nome de Juruena, impropriamente, porque dahi é que deve
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— 117 —
pelo que
esse
lugar se denomina
Lages
ficando a 6
léguas
pouco mais ou menos da
j u n ç ã o .
Abaixo
desse
ponto
fica
uma extincta
a ldèa
de
App iacás
com o nome de Largo da Povoação.
Cinco l éguas abaixo a Sirga do espinho que é uma ag-
g lomeração de recifes e ilhas, que formam as margens e o
leito do r io e occultam a foz do rio S João da Barra que
ahi deságua
na margem esquerda.
Começam
a apparecer
as montanhas que
vão
dar ao Salto Augusto,
chegando-se
depois ao Taguaralzinho onde es tão aldeiados os A ppia cás .
A
posição
geographica desse ponto é o parallelo 9
o
2'
cruzado pelo meridiano 58° 16' 40 .
Os Appiacás são ahi os melhores auxiliares da navega
ção
já vendendo aos navegantes os
seus
productos e com^
prando os que precisam, já guiando as canoas e empre
gando as suas fo rças no transporte de cargas. Cultivam
a mandioca, a canna de assucar, o
a lgodão
a batata doce*
as bananas e o m i lho que plantam em roda de suas caba-
nas ou a pouca distancia, e colhem
t a m b é m
a salsa e a
borracha. Usam um quadrado preto pintado em torno aos
l áb ios . Sahindo dos cantos da bocca uma
linha
da mesma
côr
que termina nas orelhas e duas outras, uma partindo
das azas do nariz a juntar-se na orelha com a
primeira,
e
a outra sahindo
dessa
j u n ção e terminando no queixo,
onde dobra-se em angulo para o beiço como tive occasião
de ver. São bonitos, trabalhadores e activos, e faliam bem
a
lingua
geral.
Hoje
é pequena a
t r i b u
porque muitos têm sahido para
emprego com particulares, e mesmo porque a maior parte
delles, não querendo entreter re lações com os brancos, re
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—
H S -
Os Appiacás têm uma outra aldêa, em uma ilha abaixo.
Passando a embocadura do S.
J oão
da Barra, existe uma
grande cachoeira, de forte correnteza, podendo calcular-se
a velocidade das
á gua s
em 8 a 12 milhas por hora.
Uma légua abaixo, está a Salto Augusto ou Salto Gran-
de De Itaituba a este ponto,
gasta
uma canôa escoteira
um mez, e carregada dous.
Fica
na Lat. S 8
o
53' 15 e na
Long.
O 58
9
15'. Ahi
existe outro aldeiamento de Appiacás pertencentes como
os outros á
p rovíncia
de Mato Grosso,
sendo
ahi que natu
ralmente todos dão o l imi te da provincia do P a r á .
Lsta é a barreira maior que encontra o navegante, que
passa de uma para outra
p rov ínc i a
que pelas cheias do
inverno
torna-se medonha e faz desanimar todo aquelle
que não conhece a sua n avegeção . Sendo ho r r íve l ahi o
estampido da agua, precipitada, por tres canaes, dos
quaes
o da direita, se bem que não seja o mais alto, é o que tem
maior volume d'agua e ha entretanto encanto em contem
plar-se a effervescencia das águas que se despenham.
O
canal da
direita
mede quasi 40
b r a ç a s
de largura, em-
quanto que o da esquerda não tem mais de 25. O terceiro
tombo fica muito
mais abaixo.
As
canoas não
t r an spõem
ahi o salto, mas servem-se de
um varadouro, por onde carregam as cargas às costas.
Dahi começa uma serie, quasi que não interrompida de
cachoeiras, mais ou menos perigosas, mas pelas
quaes
se
desce, ajudado á sirga, ou somente à zinga, que t e rmi -
nam-se
no Salto de S.
S imão .
Pela ordem natural são
estas:
Tucurizal,
Furnas, Salsal, Rebojo, Banquinho,
Lage de S. Lucas, Saival, Dob ra rão S. Gabriel, 8. Ra-
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— 149 —
começa a espraiar-se. E' de difficil transito e fica a 8
o
3°
50
Lat. S e a
57°
59' 15
Long.
0.
A cachoeira de Todos os Santos f ica uma l é g u a abaixo,
e marca umas vinte l é g u a s do Salto Augusto. A h i o rio
estreita-se, alargando-se p o r é m muito na embocadura do
r io
S.
T h o m é , , q u e
tem 25
b r a ç a s
de bocca, seguindo de
pois placidamente, até a foz do rio S. Manoel. Tem este
na sua embocadura a largura de 280 b r a ç a s pouco mais
ou menos, engrossando assim o rio, a alargar-se uma
milha, emquanto que anteriormente á j u n çã o , só tem umas
180 braças , se tanto. Medeia entre estee o rio S. Th o mé
2 0 l é g u a s .
Antigamente
fazia-se a navegação por ahi, mas
por causa das innumeras cachoeiras, e dos
indios
Bida-
pirapes,
ou barbados, muito ferozes, que ás vezes infes
tavam
suas
margens,
f o i
abandonada.
Dahi para baixo, as á g u a s deixam a côr olivacea, que
tinham e tomam a preta, razão por que dahi começa-se a
chamar rio Preto ou T a p a j ó s . A foz do S. Manoel fica
7
o
21' Lat. S e 37° 47' 30 Long. 0.
Descendo encontra-se logo abaixo um grande I g a r a p é , de
nominado
Agua Pona
por onde se vai ás campinas, onde
es tá a grande taba dos Mundurucus.
Subindo por
este
I g a r a p é , depois de
seis
dias de viagem,
chega-se
ao
t
porto, onde co meçam as campinas, mas, dis
tante ainda das malocas meio dia de viagem, por terra.
Abaixo deste igarapé f ica um outro chamado Pesqueiro
sendo ahi o rio muito tranquillo por espaço de algumas
l é g u a s . Junto ao I g a r a p é Tri fica uma a l d ê a de Mundu
rucus .
Deságua na margem esquerda o i g a r a p é acarécanga
1), .onde perto ha outra a ldêa dos mesmos í n d i o s . Obs
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mais de duas l éguas , toma
esse
lugar o nome de Baixio
das
Capoeiras
ficando á sua direita o
Iga r apé Cabruâ .
Algumas l éguas abaixo, fica o
baixio
do Chacorão muito
perigoso no tempo da vasante. Ahi o rio mede 1/2 légua
«te largo, e conta-se até o S. Manoel 20 l é g u a s . Depois
de algumas l éguas do r io morto passa-se o lago das Piranhas
(1), para vir se encontrar na mesma margem direita) os
Igarapés Cadiriry
e
Cabet/atu
dando
este
u l t im o
entrada
para as campinas.
Passando-se duas malocas de Mundurucus, hoje aban
donadas,
apparece
o rio das Tropas antigo Paitú-uvy.
E notável
este
rio por nos recordar um facto que mostra
perfeitamente a índole destes indios, e que deu lugar á
m u d a n ç a do nome
deste
rio. Os portuguezes acostumados
a escravisar todos os povos com quem tratavam, com o fim
de satisfazer á amb ição que l h e s é innacla, fizeram em 1773
uma expedição ao Al to Tapajós , chegando até este rio.
Ahi
fizeram propostas de compra de escravos, e como os
Mundurucus
n ão quizessem acceder á proposta, romperam
em hostilidades, com o fim de fazerem prisioneiros, que
depois seriam captivos. Os Mundurucus pegaram
en tão
em
armas
e pela numerosa popu lação fizeram tal resis
tência , que obrigou a tropa p o r tu g u éza a debandar pelo
rio abaixo, tendo-lhes faltado m u n i ç õ e s . Os indios en tão ,
sem perda de tempo, puzeram-se no encalço dos portuguezes
e vieram devastando tudo quanto encontraram, levando a
logo
e flecha tudo, até o forte de
S a n t a r é m
onde se
refugiou
a tropa, que ficou sitiada por elles.
In t rép idos como eram os Mundurucus, guerreiros te
midos em todo o valle do Tap a jó s , comtudo não escalaram
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—
121 —
julgaram mais acertado propor paz, sendo aceita pelos na-
turaes.
Encontrei
uma testemunha
deste
facto na
ilha
do
Tracuá,
em
casa
do Sr. Silverio de Albuquerque Aguiar.
E uma velha tapuya, hoje cega, de cabellos todos brancos,
que conta
talvez
mais de cento e quarenta annos, conser
vando todavia as suas faculdades. Diz
ella
que estava
então
em
Alter çlo Chão,
d onde
é filha,
quando elles pas
saram devastando
tudo.
Que era tal o terror que só o
nome
de m u n d u r u c ú inspirava, que todos fugiam aban
donando o que possuiam. Disse-me mais que depois que
elles
voltaram, fo i
ella
para Santa rém, que então era só
povoado
por indios, e ajudou a carregar pedras para a
segunda igreja, que então os padres da Companhia de
Jesus
estavam
edificando.
Já
vimos
no cap. l.°, em que
época foi
edificada a igre
ja , e por elle vê-se que esse facto fo i pelos annos de 1733.
Passando-se
o rio das Tropas, entra-se n um esteiro de
grande correnteza, interceptado de rochas, abaixo do qual
deságua o igarapé Pacú (1). Na margem esquerda mais
abaixo entra-se na cachoeira do Mangabalzinho que n ão é
mais do que uma grande
corredeira,
entre
recifes.
Segue-se
o baixio de Cantagallo onde estão alguns seringueiros,
pelas margens do rio.
Na mesma margem, esquerda, deságua o rio Crepury
com 30 braças de boca e em frente a uma i lha . Este rio dá
t a m b é m entrada para as campinas dos
Mundurucus;
é todo
encachoeírado,
sendo as mais
notáveis,
seguindo da
foz
:
a J aua r i té (2), a Pacú (3), a Curimatá (4), a J aca ré , e a
Cuicuiápe (5), que são as cinco primeiras. E
muito
pis-
coso e abundante de
caça .
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122 —
Contam os navegantes até á foz deste rio, trinta léguas,
donde
segue
rio morto,
passando
uma
légua
abaixo pelo
morro
do Cuatdcuara buraco de
Cuatá,
alludindo-se acir-
cumstancia de apparecerem muitos
macacos
cua tás , Ateliês
sobre os barrancos e mesmo nos buracos que existem neste
morro, feitos pela acção do tempo.
Abaixo um pouco, fica na margem direita a missão do
Bacabal fundada em 1870, por
Frei
Pelino de Castrovalva
e
Frei Antônio
de Albano, com os indios que ahi já exis
t iam. Esse lugar tinha o nome de Ponta grossa.
Estão
hoje aldeiados nesta
missão
cerca de 700 indios
Mundurucus,
missionados por esses dous capuchinhos
italianos.
A
posição
da
missão
é uma das mais bellas do
Tap ajós ,
pela
elevação
em que
está ,
e pelo grande horizonte que
alcança. Contém 16 grandes barracões , onde estão alojados
os indios,
além
de outras
barracas com fornos
para farinha.
Tem uma boa capella
feita
de páo a pique e
duas casas
para
escolas de ambos os
sexos.
Uma grande
casa
de sobrado,
envidraçada, serve
de
residência
aos
missionários .
Tem um
campanário
de 60 palmos de altura com dous sinos, um de
8 e outro de 14 arrobas.
Suas
terras são fé r te is . Os indios
entregam-se
á lavoura, e
lavram
um terreno de quasi quatro
l é gua s . As doenças que ahi reinam são ordinariamente os
pleurizes, e a dysenteria, que ceifam annualmente de 15 a
20 vidas. As escolas são f reqüentadas por 45 alumnos do
sexo masculino e 40 do
feminino.
Abaixo fica a grande cachoeira do Mangabal, antes gran
de corredeira por entre recifes, de mais de
tres léguas
de
extensão. Tira
o seu nome de innumeras mangabeiras, que
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— 1 2 3
a n t e r i o r ,
q u e s ão B o b u r é , M e r g u l h ã o , U r u á , A p u h y , C u a t à ,
F u r n a s ,
M a r a n h ã o
G r a n d e
e M a r a n h ã o s i n h o .
P o u c o
a c i m a
d o B o b u r é , c o m o d i s s e d e s á g u a o
Juanxin r i o
b a s t a n t e
r i c o
em m a d e i r a s e s e r i n g a e s ;
é
e n c a c h o e i r a d o , f i c a n d o a
p r i m e i r a
c a c h o e i r a ,
d e n ome
B e b a l ,
a 2 l ég ua s d a
f o z ;
a s
o u t r a s s ã o a s
c h a m a d a s ,
C a p ã o ,
U a p u h y ,
U r u b u c u a r a ,
P a c ú ,
C a h y 1 ) .
D e s t a s
p a r a
c i m a o r i o é
c o b e r t o
d e
b a i x i o s ,
f i c a n d o
a s c a c h o e i r a s
p r ó x i m a s
umas
á s
o u t r a s ,
n u m e sp a ç o
d e
u m a l é g ua e
u m q u a r t o , c o n s e r v a n d o
o r i o
q u a s i
s e m
p r e a mes ma l a r g u r a d a f o z .
G a s t a - s e
n a v i a g e m d e
I t a i t u b a
a o
S a l t o A u g u s t o ,
s e m
c a r g a s
2 0
d i a s , e
c o m
c a r g a s
6 0
d i a s ,
e
d a h i
a o D i a m a n
t i n o 2 0 o u 3 0 , s e v a e - s e d e s c a r r e g a d o o u c a r r e g a d o .
S e g u n d o
o
S r . C h a n d l e s s ,
n a s
s u a s
Notes
onrivers Ari-
nos Juruena and
Tapajós p ó d e - s e a v a l i a r o c u r s o d o
T a p a j ó s ,
c o m
o s s e u s d o u s r a m o s
p r i m i t i v o s e m
4 . 2 0 0 m i l h a s
i n g l e z a s , o u 3 4 8 l ég u a s b r a z i l e i r a s , q u e
a s s i m
estão
i v i -
d i d a s
D o
P o r t o V e l h o
à
B o c c a
d o
S u m i d o u r o
, 80
« d o
R i o
T a p a n h o n a s
420
A l t o d a s c a c h o e i r a s d o A r i n o s 400
B o c c a
do A r i n o s 420
S a l t o A u g u s t o 140
B o c c a d o R . S. T h o m é
65
« d o S.
M a n o e l
0
l .
a
A l d e i a
d e
M u n d u r u c u s 80
B o c c a d o R .
C r e p u r y 100
C a c h o e i r a d o
A p u h y
120
I t a i t u b a 25
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—
124 —
Conta poiso Tapajós, propriamente dito, como tributá
rios,
na margem
oriental,
os rios seguintes por ordem geo-
graphica, da sua foz:
Mapiri ,
que é engrossado pelo
I ru rà ,
Igarapé-açú, Marahy, Cupary, Tapacorá-açú, Juá nx im ,
Crepury, Pacú,
Pimental, das Tropas ou Paitu-ury, Cabe-
tutu, Cadiriry, I r i , Pesqueiro, Agua Pona, finalmente S.
Manoel. O Cupary é engrossado pelo
Cupary-açú,
em
cujas
cabeceiras
estão
os
indios
Jacaré-u aras , t r i bu
errante,
feroz,
perseguida pelos
Mundurucus.
Chega-se a essa t r i
bu também pelo Tapacorá-açú, um dos afíluentes mais r i
cos
do
Tapajós Na margem
occidental,
poucos e não tão
importantes são os afíluentes que ahi desaguam, assim
denominados : Uarapiuns, Cury, Piracanã , Bom Jardim,
Itapeua, Capituam, Tajacuara,
Jaca ré , Tam anduá ,
Tucu
n a r é ,
Mambuahy e
Jacaré-acanga .
Da primeira cachoeira para cima, as suas margens r i -
zonhas, ricas e
fér te is ,
não
são
habitadas,
senão
por al
guns seringueiros pelo verão, e pelos indios Mundurucus e
Mauhés, que ahi
vivem
em aldeiamenlos.
Contam-se entre os
primeiros
as seguintes malocas, por
ordem geographica: Cury, Santa Cruz, Uxituba (nestas
os
indios
estão semi-civilizados), Boburé , duas na cachoeira
da
Montanha, Igapó,
na cabeceira da Mangabal, Baccabal,
Boa-Vista
(abaixo do P acú , Chacorão, Capoeiras e as do
I r i . A
mais populosa
destas
é a do Baccabal, havendo algu
mas extinctas, como a da embocadura do Juanxim, e a do
meio
da cachoeira
Mangabal.
Poucas
malocas contam os
Mauhés ahi, porque, perseguidos outr ora pelos
Munduru
cus, refugiaram-se para o
interior,
entretanto além de al
gumas familias dispersas, encontram-se as malocas:
Boia-
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— 125 —
extracção da gomma elástica, que os negociantes obrigam
a
tiral-a,
para pagamento dos
gêneros
que ahi vendem por
preços fabulosos. A moeda entre elles quasi não é conhecida
porque todo o commercio é feito por permuta de gê
neros.
Antes
de descrever os usos e costumes
destes indios,
con
vém mencionar os que habitaram outr ora as margens
deste
formoso rio. Dividiam-se, como já tive
occasião
de
dizer,
em Canicuruz e
J a p i r u á r a ;
tendo a primeira deno
minação
todas as tribus que habitavam o baixo
Tapajós
e
a segunda
os
da
regiãos
da cachoeiras.
Dominava
o baixo
Tapajós
os Tapayu ou
Tapajós tr ibu
da
qual já
fallei tratando de
Santarém porém
que apresenta
re i agora alguns de seus usos.
Augmentada
com o correr dos annos foi
esta
t r ibu
se
estendendo, principalmente pela margem direita até á
cachoeira do Bo buré tomando varias denom inações porém
conservando os mesmos costumes.
Para chegar a
esse
conhecimento,
tive
de fazer um es
tudo
particular, sobre dezoito qualidades de machados de
pedras, que
encontrei
desde
as
serras
que
circumdam
San
ta rém
até á cachoeira do
Boburé ;
assim como sobre frag
mentos de louça encontrados
neste
espaço. Da referida
cachoeira para cima, os machados têm fôrmas inteiramen
te differentes, dos que se encontram nas terras pretas on
de
existiram
as malocas.
Nesse espaço
em uma qualquer
das malocas os machados que se encontram sempre são
dos mesmos
feitios
e de rocha da mesma natureza,
dio
r i to
emquanto que os que se encontram, rarissimos, do Bo
buré para acima aífectam outra f ô rm a . Comparando a louça
encontrada na serra do P iquiá tuba onde habitavam sem
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dura
do rio
até a cachoeira acima referida nas
chapadas
das serras nos lugares hoje denominados
terras pretas
Usavam de igaçauas duplas para guardarem os
ossos
dos seus.
Collocavam estes
dentro de uma
espécie
de panella que
era mettida dentro de um pote ornado de desenhos de
linhas
com
fôrmas
mais
ou
menos
geom étr icas
feitas
com
tinta
vermelha que
julgo
ser caragiru com oleo de co-
pahyba ou castanha. Destas
igaçáuas
encontrei fragmen
tos no
Piracanã
como já disse anteriormente. Eram enter
radas
umas junto
ás
outras
com a
bocca para
cima.
Pelos
fragmentos encontrados as maiores poderão ter quando
muito tres palmos de d i â m e t ro . Fragmentos iguaes encon
t re i
perto da cachoeira
Apuhy
e alguns nas praias
trazi
dos pelas correntes. Acima
do Bo buré
não encontrei frag
mento algum. Usavam para o córte das arvores de ma
chados de
vários
tamanhos assim como para a guerra
além do arco e flecha hervada de massas de diorito com
a
fôrma
de dous cones unidos pela
base.
Dous fragmen
tos
destes
encontrei um no Piquiatuba e outro em
I t a i tu -
ba. Tinham idolos imitando a fôrma humana assim como
na
louça
de uso
doméstico
usavam de ornatos
com fôrmas
de pássaros e reptis. A parte exterior de panellas ou
vasos era ornada com
desenhos
resultantes da com
pressão
de tecidos de palmeiras de encontro à
superfície
dos objectos quando ainda frescos; de maneira que eram
estes
tão variados quanto
pôde
ser variado o mesmo
tecido.
Pacificamente viviam no baixo Tapa jós até a época
em
que os portuguezes
começaram
a estender a sua
con
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— 27 —
t u d o
o
s a r g e n t o - m ó r B e n t o M a c i e l
f i l h o
d o
g o v e r n a d o r
B e n t o M a c i e l P a r e n t e
o m e s m o
q u e
f r a c a
e
v e r g o n h o s a
m e n t e e n t r e g o u
a
J o ã o C o r n e l l e s c o m m a n d a n t e d o s h o l -
l a n d e z e s
e m 2 7 d e
N o v e m b r o
d e
1 6 4 1
a
c i d a d e
d e S .
L u i z .
f
-
fi
V
:
V
M
^ f ^ ^ l l H i l j t e
F r e i C h r i s t o v ã o d e A c u n a , q u e
f o i
n o m e a d o p e l o C o n d e
C h i n c h o n
v i c e - r e i
d o P e r u p a r a ap e rf ei ço a r a p l a n t a d o
A m a z o n a s , l e v a n t a d a p e l o m e s m o c a p i t ã o P e d r o T e i x e i r a
n a s u a s u b i d a
a
Q u i t o
c h e g a n d o c o m o m e s m o
q u a n d o
s e
d i r i g i a m
p o r B e l é m ,
a o
T a p a j ó s
e m
1 6 3 9 d i z : q u e
p a
r a n d o
n a
a l d e i a
d o s
T a p a y ú , e n c o n t r o u
u m a p a r t i d a d e
p o r t u g u e z e s
q u e
a h i e s t a v a m
q u e
t i n h a m s i d o
b e m
r e
c e b i d o s p e l o s
i n d i o s e
t r a t a d o s
c o m
p r o v a d e c o n fia n ç a
e
b o a v o n t a d e
d e t r a f i c a r e m .
A p e z a r p o r é m d e s e r e m
b e m
r e c e b i d o s
t e r e m r e c e b i d o i n n u m e r a s oífertas,
e
s e r e m
c o n v i d a d o s p a r a v i r e m s e
e s t a b e l e c e r n a a l d e i a c o m t u d o
f o r t i f i c a r a m - s e
v i s t o o s n a t u r a e s
n ã o
q u e r e r e m y e n d e r
s e u s
i r m ã o s .
A c u n a p r o c u r o u d i s s u a d i r o s p o r t u g u e z e s
d o
i n t u i t o
e m q u e
e s t a v a m
d e
a t a c a r
o s
i n d i o s
e
c h e g o u
m e s m o a
o b t e r
d o
c o m m a n d a n t e
d a
e x p e d iç ã o ,
q u e e r a
e n t ã o B e n t o M a c i e l
a
s u a p a l a v r a
d e
h o n r a c o m o
n ã o
f a r i a
m a l a l g u m a o s i n d i o s ; p o r é m a p e n a s A c u n a r e t i r o u - s e
c a h i o s o b r e e s t e s b a r b a r a e
t r a i ç oe i r a m e n t e ,
d e m a n e i r a
q u e b a t i d o s d e s o r p r e z a e n t r e g a r a m o s s e l v a g e n s s u a s
f l e c h a s
e m
s i g n a l
d e
s u b m is s ã o. D e s a r m a d o s
o s
i n d i o s
m e t t e r a m o s p o r t u g u e z e s e s t e s e m u m a e s p é c i e d e
c u r r a l e c o m e ç a r a m a c o m m e t t e r e x c e s s o s d e b a r b a r i
d a d e
e v a n d a l i s m o p r i n c i p a l m e n t e c o m a s m u l h e r e s .
8/16/2019 Historia politica economica do reinado do S. Rey D. Jozé I.pdf
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mero, soltaram os chefes e conduziram os captivos para a
capital. 1)
1)
Dou aqui a data de alguns decretos prohibindo a
e s c r a v i d ã o
e
na sua integra um bando.
Um Decreto de D. Carlos de 7 de Julho de 1550 e um outro de
21 de Setembro de 1556 declararam
livres
os
indios
do B r a z i l .
Em
20 de
Março
de 1570 D.
Sebast ião
publicou
um Decreto
declarando que nenhum
indio
seria considerado escravo salvo sendo
aprisionado em guerra aberta por elle autorizada exceptuando-se
os
A y m o r é s
e as tribus mais ferozes que costumam assaltar as outras
e os portuguezes. para comer. Foi confirmada por segunda Lei de 22
de Agosto de 1587; que declarava que os
indios
que trabalhassem
para os portuguezes não deviam olhar-se como escravos mas sim
como jornaleiros livres a
cujo
a r b í t r i o
ficava
trabalhar ou não se
gundo lhes conviesse. Felippe I em 11 de Novembro de
1593,
declarou
que seriam só escravos os
indios
capturados em hostilidades por elle
ordenadas e pelas
Leis
de 5 de Junho de 1605 e 30 de Julho de 1609
prohibiu
escravizal-os em caso algum. D. João IV renovou a plena
abol ição da escravatura e o Governador Balthazar de Souza Pereira
veio para o
P a r á
com ordens de emancipar todos os indios que es
tivessem escravizados. D. José pela Lei de 6 de Junho de 1755 fez
observar as leis de seus antecessores e mandou declarar por edita es
pregados nos lugares mais públ icos das cidades de Belém e S. Luiz do
Ma r a nhã o , « que os indios como livres e isentos de toda a e sc r a v i dã o ,
podem
dispòr de suas
pessoas
e bens como melhor lhes parecer sem
outra
su je i ção
temporal que não seja a que devem ter ás minhas
leis
para á sombra dellas
viverem
na paz e u n i ã o c h r i s t ã , e na socie
dade c i v i l , em que mediante a Div ina Graça , procuro manter os
povos que Deus me c o n í i o u ; nos quaes
ficaram
incorporados os re
feridos indios
sem d i s t incção ou excepção alguma para gozarem de
todas as honras pr iv i l ég ios e liberdades de que os meus vassallos
gozam actualmente conforme as suas respectivas g r a d u a ç õ e s e ca-
bedaes
».
O Papa Benedicto XIV em 1741
promulgou
a bulla Pastorum contra
a
e sc rav idão
dos
indios prohibindo
comprar vender dar ou receber
em escravidão os indios.
José de Nápoles Telles de Menezes do Conselho de Sua Magestade
Fidelissima Governador do Estado do G r ã o - P a r á e Rio Negro etc.
Sendo-me presente o escandaloso abuso que com a mais reprehen-
sivel t r a n sg r e s sã o das Sagradas
leis
e o í d e n s de Sua Magestade
tantas vezes mandadas publicar pelos meus Exms. Predecessores
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— 129 —
Os
Tapajós
que eram temidos pelos portuguezes, por
causa
de
suas
flechas serem hervadas,
soffreram
muitas
tentativas da parte da gente de a l ém mar, com o fim de re-
duzil-os
á e sc rav idão mas sempre sem effeito, porque não
se sujeitavam, elles selvagens, a essa lei selvagem dos
brancos;
estando
p o r é m promptos, como homens livres, a
Que da
p u b l i c a ç ã o
deste
em diante nenhuma
pessoa
de qualquer
qualidade, estado, ou
c o n d i ç ã o
que seja, possa recolher, conservar,
ou
servir-se nas
suas casas,
rossas e fazendas de
indio
algum que não
lhe
haja sido concedido por uma legitima Portaria minha por escrito
com
que declare o tempo e
f ô r m a
da
dita c o n c e s s ã o ;
E que todo o
que, sem
este i n d i s p e n s á v e l
documento constar, que contrario pra
tica, fique
pelo dito facto incurso nas penas do Bando de 12 de Feve
reiro
de 1754 mandado
l a n ç a r nesta
cidade pelo
I l l m .
e Exm. Sr. Fran
cisco
Xavier
de
M e n d o n ç a
Furtado com que determina;
Que todos os que assim se acharem sem Portaria de
P e r m i s s ã o s e r á
condemnado o sujeito, que os retiver a pagar
a l é m
da soldada a
quantia de 2$000 por mez, a metade para o mesmo
i n d i o
e a outra
metade para os cativos na
forma
do Regimento dos
o r p h ã o >
como
t a m b é m p a g a r á
mais 3$000 applicados para a obra de um hospital, etc.
E
igualmente nas do outro Bando de 3 de
Maio
de 1764 mandado pu
blicar
pelo
I l l m .
e Exm. Sr. Fernando da Gosta de Athayde Teive,
com
que ampliando as
penas
assim a Ordena que toda a
pessoa
com-
prehendida no
a b o m i n á v e l
crime de consentir no seu
s e r v i ç o
indios
de um e outro sexo, sem os justos
t í t u l o s
que prescrevem ás Leis e
Ordens de Sua Magestade alem das referidas
penas
s e r ã o
condemnados
em
mais um mez de
p r i s ã o
e 5 000 havido summariamente por cada
indio
para o denunciante. Com a
a d v e r t ê n c i a p o r é m
que se os ditos
denunciantes por
ó d i o s
e
v i n g a n ç a s fizerem
denuncias falsas, e que
assim se verifiquem,
s e r ã o
castigados, como
f a l s á r i o s
com as penas
que lhe competem. Cujas denuncias se
f a r ã o
perante o Dr. Intendente
Geral
e
t e r ã o
principio findo o tempo de dous mezes que lhes assigno
da data
deste
em diante para declararem os indios que
tiverem
sem
legitimo
t i t u l o
de Portaria de
c o n c e s s ã o
ou Termos de soldada, por
que fazendo-o dentro no referido Termo,
s e r ã o
absolvidos das sobre-
ditas
penas.
E para que chegue a
noticia
de todos, e não possam allegar
igno
r â n c i a
se
a f f l x a r á este
Bando por editaes nos lugares
p ú b l i c o s desta
cidade, e nos de todas as mais
villas
de moradores brancos
desta
Capitania
e depois de registrado nos
livros
da Secretaria do Estado,
da
C â m a r a
Contadoria da junta da Real Fazenda, Intendencia do
Commercio
e do Juizo dos
O r p h ã o s .
Dada
nesta
cidade de
B e l é m
do
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commerciar
com elles em termos pacíficos.
Estas
e outras
expedições
fizeram
com que os
Tapajós
fossem se
re fu
giando para o interior e se tornassem
inimigos
figadaes
dos portuguezes. Os indios que passaram para cima for
maram diversas malocas em diversos pontos com outras
denominações. Victimas desta inimizade foram também
os inglezes quando tentaram subir o r io que destroçados
por elles até deixaram a sua bandeira que os indios
guardavam como tropheo.
Estas
expedições resumiram muito a população destes
indios de maneira que valorosa como era não podia re
sistir
aos ataques repetidos dos mundurucus que domi
navam o alto Tapajós trazendo t ambém sempre as outras
tribus que haviam na região das cachoeiras foragidas.
Em 1661 quando appareceram os m issionários jesuítas
e começaram a catechisal-os fundando para isso missões
diminuto
era seu numero tanto que muitos outros indios
a estas missões se chegaram. Captivos uns foragidos
outros levados pela morte o resto
esta
bella t r ibu extin-
guio-se deixando perpetuada a sua memór ia no nome do
mais bello rio do Amazonas.
Recordações
ainda
hoje
temos
pelos seus machados pela sua louça e pelos seus
muird
kitans. 1)
A época do desapparecimento dos Ta pajó s começou em
1750 com uma epidemia de cursos de sangue que appa-
receu eem 1798
elles
já não existiam senão cruzados com
outros.
Tive occasião
de
estar
com
uma velha
Tapajós
em
Santarém e nella v i pela primeira vez em seu pescoço um
grosso m u i r á k i t a n que guarda como uma re l íquia e diz
ser boa para dores de garganta. Disse-me
ella
que em
certa época do anno partiam alguns companheiros para
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Referio-me que os Tapajós foram quasi todos exter
minados por dysenteria e febres que appareceram, que
matava-os ás
dúzias
por dia.
Durante o tempo do domínio dos Tapayús no baixo
Tapajós viviam também pelas
margens do rio e para o
interior outras tribus que mais tarde foram exterminadas
pelos Mutirucus, hoje
Mundurucus;
ou fugiram para outros
pontos da
província.
Entre ellas, como disse dando o histórico de Sa n ta r é m
haviam
as seguintes: Apaunuariás Amanajás Marixitás
Apicuricus,
Moquir iás Anjuariás Jararéuaras Apecurias,
Cenecuriás Motuari Anjuariás Uarupás
Periquitos e Sua-
riranas.
1)
üesapparecendo estas
tribus,
só existiam
em 768 as
tres
ultimas,
e um diminuto numero de
Tapayús apparecendo
comtudo outras, que viviam quasi sempre em luta. Eram
estas
as dos
Tapacorás
Cararys,
Jacaré tapiás Sapopés
Iauains, Uarapirangas, e
M auhés.
Os
Sapopés
vieram das
immediações do rio Matary, assim como os Periquitos. Os
Uarupás habitavam, antes de se estabelecerem no Tapajós
os rios Abacaxiz e
Canumá
que desembocam no
furo
Uarariá que dá no Tupimnabarânas .
No século X V I I
varias
missões
fundaram os
jesuí tas
pelo rio Tapajós com os nomes de S. José deMatapus,
Cumaru, Cury, Santo Ignacio, e Borary, como vimos, que
depois algumas foram elevadas a villas e ainda hoje con
servam
essa
categoria, se bem que não
mereçam
pelo
seu atrazo, pequena população e desenvolvimento intellec-
tua l .
Algumas com justa
razão
viram-se privadas dessa
categoria, por leis provinciaes.
As
que ainda conservam os
t í tulos
de
villa
são as que
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A população destas m issões nunca chegou a ser a bravia
catechisada mas sim a de indios já meio
civilizados
que
vinham de outros lugares e procuravam esses aldeiamentos
onde havia mistura de diversas tribus.
Quando em 1773 fundou-se a segunda igreja com colle-
gio, na aldeia dos Tapayús , hoje cidade de Santarém,
haviam ainda nas
cercanias
duas tribus de Tapayús, a dos
Pa ra uá s e a dos A riréaçus .
Os indios de algumas das tribus que habitavam outr ora
o r io , tinham
signaes
que os distinguiam por exemplo : os
Iauains tinham um
listão
preto nas faces
desde
a raiz do
cabello á barba; os Uarupás, Çuariranas e Periquitos
tinham as faces pintadas com listas. Alguns eram anthro-
pophagos como os Sapopés e Jacaré-tap iyás e Ua rupá s . Dos
seus
ritos
usos
e
costumes nada
hoje consta tudo per
deu-se
com o tempo que até da memór ia dos naturaes
apagou a sua le m bra nç a .
Depois de 1774
appareceu
no alto Tapajós uma tr ibu
também anthropophaga denominada Mampás, que foi a
principal
causa
do exterminio dos
Uarupás ,
que se
viam
também perseguidos pelos Mauh és. Os U arup ás viviam pelas
vizinhanças das aldeias de Santo Ignacio e S. José .
Em
1835 havia ainda uma
famil ia uarupá
em Aveiros
e ha poucos annos outra na ilha U aru pá .
Os indios que habitam hoje o Tapajós são , os Parin-
t intins, Parabitetés, Appiacás, Têlêuates, Tuparurus Iau-
r i tés ,
Tapaiunas Andiraz ou Jaca réua ras , Amaneius e
Parauaritis. Todos estes vivem errantes pelas florestas do
centro á excepção dos Appiacás, Parabitetés e Andiraz
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—
133 —
rivalidade entre dous irmãos tuchâuas (l) Mundurucus,
que aspiravam
o
lugar de
m u r u u i c h à u a
(2), nasceu esta
t r i b u , como mais adiante explicarei. Usam grandes arcos
de paxiuba e zarabatanas, en tan içadas com jacitara e
depois pintadas de preto. As flechas
destas
são hervadas,
emquanto que as dos arcos,
feitas
de tabocas,
n ão
o
s ão .
(3)
E
a
ún ica t r ibu
do
Tapa jós ,
que
não
quer
commercio
com o
homem
civilizado
e que sempre o ataca, quando o encontra.
Dizem que
faliam
o dialecto
Mundurucu,
com
excepção
de
duas
palavras.
Os
Appiacás
e
P a rab i t e t é s ,
que são
i rm ã o s ,
oriundos do
mesmo tronco, usam, como já disse, um risco negro circum-
dando os
l áb io s ;
os Tuparurus enfeitam-se com tres riscos
verticaes dentre as sobrancelhas á raiz dos cabellos; os
I a u a r i t é s
tornam-se garbosos com as
suas
tres linhas que
fogem
do canto dos
lábios
angularmente; os Tapaiunas,
para
evitarem
as mordeduras dos insectos, pintam-se com
o sueco da casca do fruetodogenipapo; os Parauaritis
são
pintados quasi como os
App iacás. Os Ja ca réu ár as ,
por dous
que vi e segundo varias
pessoas
conceituadas que com
elles estiveram, são indios excessivamente alvos e que
parecem ser albinos, pela circumstancia de não poderem
soffrer
a luz do dia. Esta particularidade, junta á sua ma
neira
de viver, fez com que merecessem o nome de
Anderás
morcegos ,
pelo qual são geralmente conhecidos. E digno
de notar-se os
seus
costumes.
Não
andam durante o dia,
que passam nas
suas
cabanas,
não deitados em redes, mas
pendurados pelas pernas, com a
cabeça
para
baixo,
em
traves que cruzam as cabanas de lado a lado. Assim dor
mem durante o dia e assim flecham á
noite,
quando sahem
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— 4 4
para suas excursões. Logo que presentem caça, sobem ás
arvores e pendurados
pelas
curvas das pernas aos galhos
matam-a. Andam completamente nús, e não usam pin
tar-se. Como já disse, têm o seu aldeiamento nas
nascentes
do rio Cupary.
Além destes
indios, ha
duas
outras
grandes
tribus, que
formam a base da
população
de todo o rio
Tapa jós
e que
figuram entre as mais antigas: a dos Mutiricus ou Mun
durucus e a dos
Mauhés
antigos M aguês 1)
Dispersos em malocas pelas margens do r io têm os p r i
meiros a sua taba
principal
na margem
esquerda
perto
das campinas, que unem a
província
do
Pa rá
á de Goyaz e
Mato Grosso.
Calcula-se a
população
dos Mundurucus em 48 a
20.000 almas,
sendo
5.000, já semi-civilizados e d is t r i
buídos
pelas
malocas, ea dos Mauhés em 700 a 1.000,
divioidas em 51 malocas, exparsas
pelas
florestas que se
unem á Província do Amazonas, limitadas pelo rio Mau-
he-açú
que vulgarmente tem o nome de
terras dos Mauhés
No Pará
as principaes malocas são:
Acuai Su curé-ed itú
Uirauacê
Terra-nova,
Amocahy,
Pererema,
Mangarê-puitá
Jutahy, Apocuitá
Mirity
Pacoval, Açahysal Tucuman,
Pantinady, Peredy, Suruby, Undy, Sururu pa i tà Guaranà -
putira,
Etê-caucé Paratáudy Cuvucá Araticú
Pindobal,
Araçá Panacú Sápiady
Sahahy, Inajatuba, Tucumahy,
Majurú Laranjá l
Cupahyba-pixuna,
Ara t icú-miry
Pirahy,
Xibuhy Paricatuba, Meruy, Sary, Muperam, Saricam ,
Açancê
Apeteguy, Curupira, Poeira-piranga ,
A r a ç a r y
Aipaçahy Paicá Udecan, Acará Tu cun aré-cuára .
A t r ibu
dos Mundurucus é a mais numerosa e a mais
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135
feita no trabalho de
pennas.
São homens fortes, muscu-
losos, bastante morenos, de um olhar sombrio e triste, com
olhos rasgados, e com os
ossos
faciaes bem proeminentes.
Indolentes, como todo o
indio
da região equatorial, são
comtudo mais trabalhadores. São os
braços
dos nego
ciantes e os seus melhores freguezes.
A
t r ibu hoje existente nas campinas
fôrma
uma
taba
composta de 32 malocas,
sendo
as principaes:
Cab ruá ,
Uary
l),Aruduby
2), Acupary 3), Curucupi 4), Ari-
tairy 5), Decudemo 6), Imburariry, Sampraribi, Aipucá
7),
Dauapone 8),
Dassêpaqueti,
Carênaurari , Paraby 9),
Saapicpic 10), Capicpic 11), Baurim,
Quiminbicá ,
Aitic
12), Arucuré , Uassairamtim, Biamsobu, Apissânaiqui ,
Arubadury 13J, Dairy, üaréry 14), ainda outras menos
importantes ;
sendo
a maior a Dauapone. No tempo em que
todas
as malocas obedeciam a um só chefe, tinha elle sua
residência
na margem do rio das Favas, em Biamsobu ;
hoje esse lugar está vago, e não é preenchido, porque es
peram pela volta do seu rei que perdeu-se em uma batalha.
São
Sebastianistas
Pelo rio
Tapajós dão lhes
o nome
também
de caras-
-pretas pelo costume que têm elles de se pintarem.
Com
effeito os homens, talvez que para sua
presença
ser
mais respeitada, usam pintar a
cara desde
a raiz dos ca-
bellos,
até á maxilla superior toda de preto e dahi até a
i
Rio de Machado.
2) T e r ra de papagaio.
3) Rio de páo de
mo r r ã o
4 Lugar onde desce a r a r a
5) Rio de I n a j á
6) Sahida
d
Coa tá
7) Sumauma.
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— 136 —
inferior, principiando das orelhas listadas angularmente a
formar pequenos rhomboides. O pescoço até ás claviculas
é listado verticalmente até o encontro de tres linhas que
passam por
essa
região e por
sobre
as omoplatas, hor i
zontalmente ; o peito e braços são listados t ambém angular
e perpendicularmente, de maneira que formam uma serie
de t r iângulos uns unidos aos outros. As costas e
pernas
são listadas verticalmente até os tornosellos, exceptuan-
do-se
a parte anterior das canellas, que não tem
lista
alguma. Usam os cabellos raspados, em roda da cabeça
deixando-os crescer somente no alto, pintando a parte
raspada com uma massa,
chamada ser d
1)
As mulheres pintam a
cara
com uma
banda
negra que
parte de uma a outra orelha passando por cima do beiço
superior e pelo angulo do queixo; da parte terminal in
ferior dessa banda segue
para baixo do queixo outra
porção
igual á mesma porém listada em t r iângulos que são cheios
por linhas parallelas a um lado dos
mesmos
t r iângu los .
IJOS ângulos externos dos olhos partem linhas para as
orelhas, assim como os internos são unidos por
sobre
o
nariz por uma, que dá uma apparencia de usarem todas
as mulheres de óculos. Por
sobre
as claviculas, passando
pelas
omoplatas tres linhas parallelas, formam um collar
que dá-lhes algum realce. De cima da região abdominal,
partem linhas perpendiculares e parallelas que se terminam
sobre
o púbis e verilhas. Todas as mulheres que observei,
assim eram pintadas;
somente
os homens, alguns va
riavam
de pintura, não na
fôrma
mas na quantidade de
linhas. Uns eram pintados até os
seios,
outros até as ve
rilhas. A razão é esta: na idade de 1 4 annos começam a
pintar-se, mas como é dolorosa a operação e causa inf lam
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—
137 —
mações e febre, só depois de seccas as feridas produzidas é
que procedem a nova pintura; em geral é annualmente
feita esta
operação
o que leva muitos
annos,
de maneira
que só depois de 20 annos es tão completamente pintados.
Além do tempo que levam a pintar-se, acontece que alguns
riscos que têm são indicativos de
serviços
feitos á
t r i b u .
Alguns,
se bem que velhos, não chegam a ficarem todos
pintados, porque não prestaram os
serviços
que dão lugar
á pintura, ou porque pela sua pouca idade ainda não t i
veram
occasião
de prestal-os.
O processo que empregam para esse fim é b á r b a r o e
doloroso. Depois de t r aça rem sobre a pelle uma linha de
tinta,
com uma espécie de pincel
feito
de espinhos de mu-
rumuru que das palmeiras são os mais venenosos), mo
lhado na mesma tinta, começam a picar a pelle.
Este
pincel
é proporcionado â largura da lista, e pelo numero
de espinhos fura a pelle quasi que poro por poro.
Nesse
mesmo dia e no seguinte,
esta
parte assim pintada fica in-
flammada e produz uma ferida que custa a cicatrizar.
A tinta empregada ê assim fabricada: deitam dentro de
uma panella o breu produzido por uma Burseracea do
gêne ro
icica
a que se dá o nome vulgarmente de
breu
branco
e
l ançam- lhe fogo;
depois do
breu acceso
collocam
o
fundo
de uma outra panella
sobre
a bocca da primeira,
de modo que recebe todo o fumo produzido pelo breu in
cendiado. Depois de extincto o breu, raspam o pó que o
fumo
accumulou no fundo da panella e juntam-o em uma
vasilha. Emquanto arde o breu fervem em uma outra
panella as folhas de uma convolvulacea, a
convolvulus
edulis
com a
casca
de uma leguminosa, por elles chamada
chiriri
e o pericarpo do
Assahy-zinho euterpe
longibrac-
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mordente. Esta tinta é geralmente guardada n um caroço
de
tucumã-açú.
Divide-se
a t r ibu em tres grandes famíl ias a Aririchá,
ou branca, a Ipápacate, ou vermelha, e a Iasumpaguate,
ou preta..
Estas
tres cores são puramente convencionaes, porque
na côr da pelle não fazem elles
d i í ferença
mas indicam
uma diíferença
de nascimento; assim os mancebos não
podem
receber por companheiras raparigas da mesma fa
mília
ou côr, por serem consideradas
i r m ã s .
O branco
nunca procura para ter a seu lado,
senão
a mulher da
fa
mília das côres preta ou vermelha; e assim acontece ao
das outras
côres .
O
filho varão
sempre é da
condição
do
pai; se
este
é
vermelho,
o
fi lho também
o é.
Vivem
em malocas separadas, no centro da qual ha
sempre um grande quartel onde dormem e vivem todos
os homens, emquanto que as [mulheres moram em ca
banas separadas. Desde a idade de 9 annos, começam os
meninos a
dormir
no
quartel.
Nelle é que são feitos todos
os trabalhos dos indios, e nelle se guardam todos os
ins
trumentos, quér de guerra, quér de caça. Tem esse quartel
o nome de exça. E uma grande meia agua coberta de
palha
de palmeira, tocando o telhado o chão sempre com
a frente para o nascente, e dividido por duas linhas de
esteios, que partindo do fundo vem terminar muito fóra
do
mesmo quartel. Em cada uma
destas divisões
moram
os guerreiros da mesma
famíl ia
cuja
distincção vê-se
na
côr
dos esteios; são pintados os brancos com tabatinga,
os vermelhos com
u ru c ú bixa orellana,)
e os pretos com
um a tinta feita
de diversas plantas.
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Ha quarté is habitados por mais de quatrocentos indios.
As
cabanas
das mulheres têm os telhados cobertos ou
de sapé anatherium bicorne ou de caranã-y lêpydoca-
rium
e as
paredes feitas com
pannos da casca do tauary,
couratari cosidas umas ás outras com cipós e são presas
a
travessas
horizontaes
postas
pela parte de dentro.
No quartel tocam continuadamente das 5 ás 8 horas da
ma nhã
e ás mesmas horas da tarde o
ufuá;
que é um
instrumento
guerreiro, feito de uma taboca de 2 a 3 pol-
legadas de diâmetro e 3 a 4 palmos de
comprimento,
com
um bocal da mesma taboca, porém fina preso com cêra
virgem e que produz um som forte e
vibrante.
Andam todos nús usando os homens, continuadamente,
o
iráipêman
(1) e do
erdrêpê. O
primeiro
é uma pequena
bolça
conica,
feita
de
um foliolo
da
palmeira curuá
ornado
de
pennas
ou elythros de coleopteros, que serve para es
conder a
cabeça do
membro v i r i l ; e o segundo é uma cinta
estreita tecida de
algodão
que serve para levantar
o
mesmo
quando se banham ou têm de atravessar qualquer rio.
Trazem tres furos nas orelhas, sendo o inferior maior,
pelos
quaes
passam; no primeiro uma penna de arara e
nos dous úl t imos tibias de mutum, ou rolletes de páo .
Obedecem a um ou dous
tucháuas
que ha em cada
maloca, mas veneram muito a
Muirá tucu
o seu rei que
desappareceu, mas que ainda esperam.
Estes
tuchauas
governam
independentemente uns dos outros e têm direito
de
vida
e de
morte
sobre os
seus
subditos.
O viajante entre elles é sempre bem recebido e se lhe
offerece logo o Ddú que é uma comida feita de castanhas
assadas em
puqueca
(2) no muquem e depois
socadas.
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— 140 —
é
mal visto afastam-se delle e recusam-lhe os presentes
que costumam fazer quando é aceita a offerta de
pássaros
de quadrúpedes etc. Al.mentam-se de caça com be jús
em
vez de farinha.
Alguns desertores que ha entre elles e que se sujeitaram
a
soffrer
serem pintados ensinaram respeitar o dia de
Sexta
feira
Santa que por elles é chamada Tupanabê.
( )
A religião delles é só a crença em um Ente que tudo
creou
e sobre o qual ha varias
t radiçõ es.
Deus
caruçá-caraibê
segundo a sua
c rença
andou entre
elles
com um
filho
chamado
Rairú
antes da
creação
do
céo
que
fo i
depois da do homem. Contam a
creação
do
homem e suas differentes raças
da seguinte
f ô rm a : Ca ruçá -
Caraibê detestava seu f i lho por querer usurpar-lhe o seu
poder pelo que resolveu desfazer-se delle por varias
vezes sahindo Ra i rú sempre vencedor.
Uma
vez depois de flechar a extremidade de uma folha
de tucumã-açú uma alta palmeira coberta de espinhos
ordenou
a seu
filho
que subisse para
tirar
a
flecha
certo
de que ficaria elle todo
ferido
e cahiria quando subisse
sobre a folha para tirar a flecha; porém Ra i rú chegando
á palmeira tocou-lhe com os dedos o que fez com que
todos os espinhos se abaixassem e sem perigo algum subio
e trepou sobre a folha donde t i rou a flecha que entregou
a seu
pai .
Este mais enraivecido por ter ainda uma vez
seu
f i lho
mais poder do que elle deixou passar alguns
dias
para usar outro estratagema.
Fez
então
de uma
porção
de barro um
t a tú
enterrou-o
deixando só de fóra a cauda e ordenou a seu filho que
tirasse o ta tú para f ó r a . Segurando pela cauda Ra i rú
empregava todas as
suas forças
para
puxal-o
mas eram
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— 141 —
caraibê desfructava o seu isolamento depois de alguns
dias apparece-lhe novamente
R a i rú
sem que diga a tra
dição por que meios chegou elle a sahir do fundo da
terra
communicando que ahi encon trára uma mul t idão
de homens e mulheres e que seria bom fazer com que
elles sahissem para cultivar a terra.
Aceitando
a proposta de R airú Caruçá lanço u na terra
uma semente que germinando produzio um algodoeiro.
Esta é a origem do algodão entre elles. Crescendo
este
do
algodão produzido Deus fez uma extensa corda na extre
midade da qual atou
Ra i rú
e pelo buraco
feito
pelo
t a tú
deixou-o descer.
No fim de alguns minutos começaram a subir pela corda
os
individuos
escolhidos nas entranhas da terra por
R a i rú .
Os
primeiros
que sahiram eram pequenos e
feios
porém
progressivamente
foram
sahindo depois homens esbeltos e
mulheres formosas porém infelizmente quando sahiam
as mais lindas a corda já gasta e não supportando mais o
grande
peso
dos que por ella ainda subiam arrebentou-se
e
foram
precipitados no fundo da terra.
Deus então dividiu
essa
mu ltidão que havia sabido em
differentes tribus; distinguindo-as com desenhos de
fôrmas e côres differentes que até hoje ainda conservam.
Assim
explicam
a sua pintura que é sempre a mesma e não
arbitraria. Ficando
dessa
gente uma porção
feia
e ra-
chitica Deus então disse fazendo-lhes um traço vermelho
sobre o nariz:
«Vms.
não são dignos de
viverem
com a
raça humana; sejam
antes
animaesI» E transformou-os
em mutuns-açú que
desde
então vivem pelas matas sol
tando seus sentidos gemidos.
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meios de reapparecer, pelo que ainda seu pai empregou
outro estratagema para ver-se l ivre delle. Encontrando na
margem
de um rio uma pedra
escavada
pelas
á g u a s
em
f ô r m a de forno; ordenou a seu f i lho que a
puzesse
sobre a
cabeça
a fim de
leval-a,
para
nella cozinharem.
Obedecendo
R a i r ú poz a pedra na cabeça porém apenas o fez com eçou
a mesma acrescer e a subir arrebalando-o da terra. Tal
crescimento teve que
fo rmou
a abobada celeste. Pelo seu
Gênesis
assim foi creado o Armamento. Ainda Caruçá-
cara ibê andou por algum tempo sobre a terra, p o rém
depois desappareceu.
Pela rigorosa observânc ia que fazem da f ami l i a a que
pertencem, o seu typo ainda não es tá degenerado; de ma
neira que o mundurucu conserva ainda a sua indole e a
belleza
primit iva. Muito
moralizados, não admittem a
convivência
entre estrangeiros e
suas
mulheres e se por
acaso alguma cahe em qualquer
falta
é immediatamente
expulsa da
t r ibu .
Não são polygamos, mas podem desfazer-se da mulher
quando cheguem a aborrecer-se
delia,
e tomar outra, sem
pre de outra famil ia porque como disse, todo o mundurucu
encara a mulher da sua
côr
como uma
i r m ã
e só estes la
ços admittem.
Como
todos os indios do
Valle
do Amazonas, a mulher é
quem
mais trabalha; os
serv iços
de
roça
são feitos por
ella,
assim como todos os mais; o homem reserva para si os tra
balhos mais nobres, como sejam o fabrico de intrumentos
para a guerra, a caça etc. As mulheres tudo quanto carre
gam é em cestos compridos, sustentados pela cabeça por fi
bras
vegetaes e que apoiam-se nas
costas;
a estes ces
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Guerreira como é a t r ibu dos mundurucus, explica a tra
dição
esta indole bellicosa, e
o
costume que
têm
de cortarem
a cabeça aos vencidos depois de ama batalha.
Dizem
que
outrora, dous i rm ão s disputavam o p u t á sceptro) de mu
r u u i c h á u a mas que sendo escolhido um chamado Mu i râ tu -
cu o outro desgostoso f u g i u da t r i bu com sua famil ia . O mu-
r u u i c h á u a mandou-o chamar, accedendo o fugi t ivo ao cha
mado ; po rém tempos depois continuando a desintelligencia
entre elles,
tornou
o
i rm ão
a sahirda
t r i b u
acompanhado
pela f am i l ia e pelos amigos, que
formavam
en tão um par t i
d o . O m u r u u i c h á u a vendo o i rm ão partir, com gente, da
qual elle era t u c h á u a n ã o consentiu que elle formasse nova
t r i b u impedindo com um estratagema t rág ico que depois
tornou-se um costume. Alguns dias depois da partida, sa
bendo o
t u c h á u a
onde seu
i rm ão
estava acampado, man
dou
o convidar para uma grande
c a ç a d a .
Este accedeu ao
convite,
n ão
pensando na cilada em que ia cahir.
No
dia da
caçada depois de effectuada esta, quando se d ir igia só para
o acampamento, tres mundurucus mandados por Muirá tucu
o
flexaram,
e por conselho dos pagés para provarem ao
seu
m a n d a t á r i o
que tinham
cumprido
as ordens, cortaram
a
cabeça
do morto, que f o i levada e guardada como um tro-
pheo, entre elles.
Dahi
en tão começaram as hostilidades
entre os Mundurucus e a nascente t r i b u dos Parentintins.
Dias
depois vieram os que perderam o seu chefe, já
com
outro eleito á frente atacar o
m u r u i c h á u a
fratricida
e refugiaram-se novamente na mata depois de tomarem
esta
v ingança
suppondo
talvez
que os mundurucus não os
perseguissem. Mas, se havia odio de i rmão para i r m ã o
dahi
nasceu o de
t r i b u
a
t r i b u
de
f ô rm a
que no anno se
guinte quando não esperavam foram atacados pelos mun
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Este costume mereceu-lhes o nome de Paiquicé 1), ou
corta
cabeças
que lhe dão os outros
indios.
A guerra tra
dicional
que ainda fazem a outras tribus, depois de ter
exterminado
algumas, hoje é com um duplo fim, o de
perpetuar o odio de r aça eode trazer mulheres para si .
Sahem todos os
annos expedições
de guerra, commum-
menle nos mezes de Fevereiro ou
Março
dando cada maloca
um certo numero de arcos. 2) Quinze dias
antes
da par
tida, passam
a cantar e a
dansar
em frente dos
qua r t é i s
e na véspera da partida, t i ram dos mesmos, onde guardam,
os instrumentos de guerra dos que succumbiram nas bata
lhas do anno anterior e enfeitam-os.
No dia seguinte, quando partem, são estes levados de
mão em mão como que em p rocissão com gritos de v in -
gança e choro e grita das mulheres, que acompanham os
guerreiros, levando as suas armas e maquyras. 3) No p r i -
meiro
encontro que ha com o
in imigo
muitas vezes a cen-
tenares de
l éguas
da maloca, estes, instrumentos são que
brados nas
costas
dos primeiros
inimigos
que cahem, em
signal de sat isfação de v i ngança . Generosos na guerra
para com as mulheres e
c r i an ça s
são
b á r b a r o s
para com
os homens, os
quaes
são todos mortos á flexa ou a massa.
Usam na guerra vár ios instrumentos. No primeiro en
contro
servem-se do irari 4) e da
ubê
5); mas
apenas
a
luta trava-se peito a peito, servem-se do bd y 6); sempre
a peleja é animada pelo som vibrante âopem-y que é uma
espécie
de cometa, de dous palmos de comprimento,
feita
de duas porções de cerne de madeira, cavados e depois
«)
Corruptella
d ePayéqu i c é ,
isto é faca de pagés porque segundo
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v
— 145 —
e n t a n i ç a d o s . S o p r a - s e por um f u r o l a t e r a l . Ufuá é que
o s g u i a
a o
c o m b a t e .
T e r m i n a d a u m a b a t a l h a o s m u n d u r u c u s v e n c e d o r e s r e
c o l h e m
o s
d e s p o j o s a s s i m
c o m o a s c a b e ç a s d o s
i n i m i g o s
o q u e t u d o é t r a z i d o p a r a o s e u a c a m p a m e n t o . L o g o q u e
•
u m
i n i m i g o c a h e o v e n c e d o r p a s s a - l h e u m a m ã o a o s c a -
b e l l o s e c o m a o u t r a a r m a d a
d e
u m a
f a c a f e i t a d e
u m
p e
d a ç o d e t a q u a r a c o m a m a i o r d e s t r e z a o d e g o l a .
N o d i a
s e g u i n t e
a o d o
c o m b a t e
e m p r e g a m - s e e m
a r
r a n c a r
o s d e n t e s d e a l g u m a s c a b e ç a s i n i m i g a s e e m m u -
q u e a r o u t r a s .
O
p r o c e s s o p a r a s e c c a r e m
as c a b e ç a s é
s i m p l e s
5 d e p o i s d e e x t r a h i r e m a
m a s s a
e n c e p h a l i c a p e l o
b u r a c o
o c c i p i t a l
e d e a r r a n c a r e m o s
o l h o s
m e t t e m - a s e m
a z e i t e d e
a n d i r o b a e
e x p õ e m - a s a o f u m e i r o .
O
or ifíc io d o s
o l h o s é c h e i o d e b r e u o n d e c o l l o c a m d o u s d e n t e s d e c u t i a
p a r a a n i m a r
o r o s t o . C o m
t a l h a b i l i d a d e f a z e m e s t a s o p e
r a ç õ e s ,
q u e a
c a b e ç a
c o n s e r v a - s e p e r f e i t a m e n t e a s s i m
c o m o o s
c a b e l l o s
q u e são a n t e s p e n t e a d o s . D e n o m i n a m
e l l e s e s t a s
c a b e ç a s
pariuá-á q u e d e p o i s são c o n d u z i d a s
e m u n s e s p e t o s d e p ã o , c h a m a d o s pariuá-á-renape G a r -
b o s o s l e v a m d e p o i s e s t e s
h o r r í v e i s t r o p h e u s
p a r a
a
m a l o c a
e n ã o s e s e p a r a m d e l l e s s e n ã o d e p o i s d a g r a n d e f e s t a d a
t e r m i n a ç ã o d a
g u e r r a .
C o m o é
c o n s i d e r a d o
g u e r r e i r o
v a
l e n t e
o
i n d i o q u e
t r a z e s t a
c a b e ç a n ã o
t r a b a l h a e m q u a n t o
n ã o se f a z a g r a n d e f e s t a e é
r e s p e i t a d o
e p r e s e n t e a d o
p o r t o d o s . P a r a o n d e v a i
a l e v a e
q u a n d o d o r m e , p e l o
p a r i u á - á - r e n a p e
a
e s p e t a
j u n t o
á
r e d e .
P o r
s o m m a
a l g u m a
s e d e s f a z d e s t e
t r o p h e u
a n t e s
d e s e c e l e b r a r a
d i t a
f e s t a .
E m q u a n t o o s g u e r r e i r o s
a p a n h a m o s
d e s p o j o s
a s
m u
l h e r e s r e c o l h e m o s c o m p a n h e i r o s iuem-nates f l e o s
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O s a c h i r á u s s ã o c o n d u z i d o s p a r a a m a l o c a ; m a s c o m o
h a g r a n d e s d i s t a n c i a s
a
v e n c e r , -
n ã o
l e v a m - o s i n t e i r o s ,
m a s
s i m
e m
q u a r t o s
m o q u e a d o s
C h e g a n d o
a o s
q u a r t é i s , s e
p a r a m
a s
c a r n e s
d o s
o s s o s
e
m e t t e m e s t e s , d e p o i s
d e b e m
l i m p o s , d e n t r o
d e u m
c e s t o c h a m a d o
achiráu-irupd e
g u a r
d a m n o s m e s m o s q u a r t é i s .
D e p o i s
d e
v o l t a r e m t o d o s
o s
g u e r r e i r o s p a r a s u a s m a l o
c a s , e
c u r a d o s
o s f e r i d o s ,
c e l e b r a - s e
a
f e s t a
d a s r e c o m p e n
s a s
E m
c e r t o d i a d e t e r m i n a d o ,
r e u n e m - s e
e m u m a m a -
l o c a
t o d o s
o s m u n d u r u c u s ,
p a r a a s s i s t i r e m
a o
f a b r i c o
e
r e c e b e r e m
o
pariudte-ran 1 ) ;
q u e
c o n s i s t e
e m u m a
c i n t a
d e i t / 2 p o l l e g a d a
d e l a r g u r a , t e c i d a d e i o
e a l g o d ã o , t e n d o
n a p a r t e
i n f e r i o r
u m a
f r a n j a
f e i t a c o m t o d o s o s d e n t e s d e
u m a
q u e i x a d a i n i m i g a . D e p o i s
d a
c h e g a d a
d e
t o d o s
o s
m u n d u r u c u s ,
o
t u c h á u a
o r d e n a
u m a
g r a n d e
c a ç a d a ,
a f i m
d e h a v e r c o m e s t i v e i s p a r a
o s
c o n v i d a d o s .
N a
n o i t e d e s s e
m e s m o
d i a , c o m e ç a
a
c o n f e c ç ã o
d a
c i n t a ,
q u e é
p r i v a t i v a
d o s t u c h a u a s .
E m q u a n t o e s t e s t e c e m
a s
c i n t a s ,
o s
i n d i o s a r r a n c a m
o s
d e n t e s
d a s
m a x i l l a s
d o s
i n i m i g o s
q u e
t r o u x e r a m , l u s t r a m ,
e f u r a m ,
c o m o
d e n t e
d o
p e i x e rd-chéua
o u
rubd
n a
l i n g u a
g e r a l .
E m q u a n t o
u n s
f u r a m
o s
d e n t e s , o u t r o s l u s t r a m
e o u -
t r o s ,
p a s s a m a o s t u c h a u a s , q u e , p a r a c a d a d e n t e
q u e
p r e n
d e á
c i n t a
t e m u m
c a n t o ,
o u u m a
q u a d r a
e m q u e
d e s p e r
t a
o s
b r i o s
d a
m o c i d a d e , l e m b r a
a o s
m a i s v e l h o s
o s
s e u s
s o f f r i m e n t o s e m c a m p a n h a s
p a s s a d a s
e
m o s t r a
q u e n ã o s e
d e v e m e s q u e c e r
o s
e x e m p l o s
d o s
s e u s m a i o r e s ,
e
c o n t i
n u a r
o
e x t e r m í n i o
d e
s e u s i n i m i g o s . P i n t a m
a
v i n g a n ç a
c o m
c ô r e s s e d u c t o r a s , e f a z e m v e r q u e p a r a c a d a i r m ã o m o r t o é
n e c e s s á r i o
u m a
c a b e ç a i n i m i g a
q u e
s i r v a p a r a r e c o m p e n
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—
147 —
Uma quadra, pude alcançar ouvir, e aqui refiro:
Béque
bequiqui capipim
otêgê .
Ochê
urupanum
rãne
egê,
Ochê urubê am aum egê.
Beque mum ochê capicape nansum. 1)
Durante
o fabrico destas cintas, toda a
tribu
assiste as
sentada e nua, em roda dos
tucháuas porém logo
que fi
cam
promptas, levantam-se
todos
e se dirigem
para
os
quartéis
onde
vão tomar as vestes da festa, para assistirem
á
cerimonia da
distribuição
dos
prêmios
aos feridos.
Antes de continuar a descripção desta cerimonia, con
vém descrever o vestuário da festa. Ornam a cabeça com
o aquiri-aá uma
espécie
de coifa, tecida de
algodão
com
pennas do corpo de
arara
de maneira que externamente
fica
como
que avelludada, emquanto que por dentro só
apparece o tecido de
algodão.
Desta coifa, da
altura
das orelhas
para traz,
pende uma
espécie
de babado de duas ordens de pennas, da cauda da
mesma
arara
unidas umas ás outras e enfeitadas na extre
midade inferior com pennas miúdas de côr differente que
encobre o
pescoço.
Pelos furos superiores das orelhas passam duas rozetas
igualmente de pennas. Cingem na cintura o tempê-á que
é uma banda feita como aquiri-aá isto é, a parte que se
aperta
á cintura é feita de pennas
miúdas
e delia pendem
quatro divisões de pennas compridas, unidas e enfeitadas,
que correspondem, duas aos lados e duas á frente e costas.
Passam a tiracollo carurape que é uma facha de pennas,
terminada por uma grande rozeta, e ornam os hombros
com o báman ou dragonas de cachos de pennas m iúdas ;
os pulsos com as ipê-á ou pulseiras; e as curvas das
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encobrem as canellas enfeitadas com cascas de fruetos
para chocalhar. Nos tornozellos também
levam
o caniubi
rie que é uma liga de pennas miúdas fechada por uma
rozeta.
Geralmente as pulseiras e dragonas e ligas são de pen
nas pretas de
mutum
e o resto do vestuário de
pennas
azues e encarnadas.
Levam
uns arcos enfeitados de pennas irarê; outros
lanças
btcacá-ipê e outros uma espécie de sceptro putá
feito
das
pennas
mais longas da cauda da arara unidas as
pontas por uma rozeta e enfeitádas com
pennas
miúdas na
parte que prende a uma flecha em que seguram.
Assim
vestidos abrem alas por entre as quaes passam
os feridos nús com os cabellos crescidos cahidos pelas
costas para ir receber o prêmio da sua bravura.
Estes
desde
que chegam da guerra
não
trabalham nem
cortam os cabellos. Chegando estes junto aos tuchauas de
pois de uma pequena allocução recebem as cintas que pelos
mesmos tuchauas são amarradas. Depois de assim pre
miados tantos feridos quantas foram as cintas preparadas
são premiadas também tres mulheres uma de cada familia
correspondente ás cores preta branca e encarnada que
como irmãs recebem por todos os mortos a recompensa
representando a
viuvez
de cada familia.
Apresentam-se vestidas com o collar de dentes de ani
maes que
neste
dia todas trazem e com o carurape. Nas
mãos empunham dous putás: um de um ancião outro de
algum morto.
Finda esta cerimonia os feridos recolhem-se
logo
para
as casas das
familias
emquanto as mulheres vão dansar
e chorar cantando em roda das casas das familias dos mor
tos e na
frente
dos quartéis nas divisões a que cada uma
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— 449 —
Durante esta dansa e canto, ha intervallos em que ser
ve-se
a comida e a
maniquêra.
1) Termina a festa, que
começa
ás 6 horas da tarde, ao romper do dia seguinte
pela cerimonia do córte dos cabellos dos feridos. Pela
madrugada são os feridos conduzidos entre alas de guer
reiros,
que ao som dos instrumentos, os vão levando
para
o quartel, onde os tucháuas os fazem assentar-se, cortam-
lhes os cabellos e
vestem-os
c<>m as roupagens de pen
nas,
terminando por uma grande
allocução.
Esta
festa dura ás vezes oito dias, emquanto ha feridos
a recompensar; entrando
logo
elles no dia seguinte no
numero dos dansantes.
Assistem alguns guerreiros, com os seus
pariuá-á
e
toda a dansa e canto e ao som de um grande instrumento,
o
caruquê
cuja voz é medonha, e é
feito
de um tronco
de uma arvore de madeira leve, ocado,
tendo
por bocal
uma raiz rachada e igualmente ocada, presa a uma
tra-
vessa na parte interna do tronco.
lém
desta festa, celebram os Mundurucus outras
fes
tas no
correr
do anno, mas não guerreiras : são as
festas
dos animaes.
Para
elles, assim como para toda a gentilida-
de,
todos
os animaes
têm
uma
mãi
imaginaria, como: a
mãi
da
anta, a mãi do veado, etc.
Depois de uma grande caçada fazem grandes dansas,
em que arremedam a voz dos animaes que festejam. Nessas
occasiões não servem-se do vestuário de pennas, mas sim
de um especial. Pintam-se
todos
com o
sêrd
ornam a
cabeça
com o
aquiri
que é um
enfeite,
que preso nos ca
bellos que conservam no alto da cabeça levanta dahi um
pennacho de pennas e cahe
para
os
lábios
um
tecido
de
foliolos
de muruly, que assemelham-se na fôrma a uma
grande espiga de milho.
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Cingem ao pescoço o ichu que é uma espécie de patro
na
feita
de grelos de muruty enfeitada de pennas, que é
amarrada nas costas. Nestas patronas
levam
elles peque
nos animaes
comojabotys,
periquitos, çayú is etc.
São festas acompanhadas de grandes l ibações de mani-
quera e cachiry. Trazem o arco e a flecha de caça up) ás
costas, e a dansa é formada por uma grande filia de
Mu n -
durucus de m ão s dadas, levando os dous das extremidades
dons grandes
torés
ao som dos quaes dansam fazendo
muitas evoluções.
Assisti a uma dessas
dansas
e admirou-me a certeza dos
passos assim como o numero de figuras. Geralmente dan
sam
formando circulo
e em todos os passos batendo
muito
com os pés. Quando terminam uma parte, batem todos
palmas e fazem uma vozeria in fe rna l .
Além destas festas, celebram de tres em tres annos a fes-
ta geral, ou do enterro dos ossos. Os ossos dos mortos em
campanha,
como
disse,
são
guardados no
quartel
por
espaço
de tres 'annos; findos os quaes, depois desta grande festa
que dura um mez, estando elles sempre presentes, são met-
tidos
dentro de uma igaçáua e enterrados para sempre.
Nesta festa, vestem os mundurucus os seus ves tuár ios
de pennas e os guerreiros desfazem-se dos seus pariud-d
ou
penduram-os no quartel.
Quando morre algunrda t r i b u são vestidos com as suas
roupagens guerreiras e enterrados dentro de casa.
Valentes como são tornam-se covardes quando trata-se
do Maraquemara.
São
muito
supersticiosos e acreditam
em fei t iços. Nenhuma molés t ia para elles é natural, sem
pre é causada por feit iço e ai daquelle, que fôr indicado
yelopagé como feiticeiro ou maraquemara
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l própria mulher e filhos são os primeiros a evital-o e en-
í regal -o á v ingança .
O curandeiro ou
pagé
ás vezes vendo o máo
effeito
dos
seus r eméd io s
para não se desacreditar trata logo de
suspeitar fe i t iço. Então os parentes do doente ou morto vão
muitas
vezes
a malocas distantes onde mora o maraque
mara dizem ao t u c h á u a a que fim vão e partem ao en
contro da v i c t im a . Não o ferem como guerreiros mas sim
por meio de
enganos apossam-se
das
armas
da
v ic t ima
e
en tão l ançam -se sobre
ella
arrastam-a
para o campo e
ahi a reduzem a cinzas.
A
v ict ima que tem a consciência de si nunca foge em
bora
seja
aconselhado por algum amigo para
fug i r af im
de
evitar
a morte.
Não
crê que o matem embora veja
sempre
o exemplo e tenha sido mesmo ás
vezes
instrumento
desta
scena
da barbaria. Conheci um t u ch áu a que assim morreu.
Não
nos devemos admirar
destas ab e r raçõ es
do espirito
humano
destas c renças selvagens
porquanto ha um sé
culo ainda a velha Europa condemnava á morte os
seus
feiticeiros.
Outro uso ainda selvagem é o das mulheres cortarem a
dentes
o
cordão um bil ical
das
c r ianças
quando nascem.
Este
processo ainda approxima o homem do bruto.
Algumas
malocas hoje já vão
recebendo
a luz da
c iv i l i
zação ; já o uso de roupa e armas de fogo vai sendo in t ro
duzido mas quasi nenhuma pratica de
rel igião infelizmen
te existe. Alguns
regatões
que com elles
traficam
só têm
em vista aproveitar-se de
seus
serviços e
de
seus
recursos
pervertendo e não educando.
Terminando
este
tosco trabalho cunupre-me dizer que
os
recursos
que offerece o formoso e rico
Tap a jó s
com os
seus milhares de b raços ind ígenas promette um futuro
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