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Pró-Reitor de Extensão
Pró-Reitor Estudantil
Josealdo Tonholo
Eduardo Xavier
1º Secretário:
2º Secretário:
Maria Ignez Cruz Mello
Abertura dia 11: Teatro Deodoro
(Praça Marechal Deodoro, s/n, Centro)
Dia 12, 13 e 14 de Novembro de 2008:
Centro Cultural e de Exposições de Maceió -
(Rua Celso Piatti, s/n, Jaraguá).
Comissão Organizadora do IV Encontro Nacional da ABET
Coordenação Geral
Organização
Comitê Cientí fico
Prof. Dr. Carlos Sandroni (UFPE/UFPB) Profa. Dra. Rosângela Tugny
(UFMG)
Profa. Dra. Deise Lucy Montardo (UFAM)
Prof. Dr. Anthony Seeger (UCLA)
Editor do Caderno de Resumos
Cyran Costa
Hugo Leonardo Ribeiro
Coordenador Artí stico MS. Maria das Vitórias Santos -
UFAL
Julio César da Silva – SESC
Infra-Estrutura (Funcionários)
(Estudantes)
Ernandes Pires da Silva
Elaine Maria da Silva
Felipe de Farias Brandão
Florisjan Caeh do Santos
Marcelo Vieira Marinho
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Alexandre Milne-Jones Náder
Alice Lumi Satomi
MPB, a Trama dos Gêneros: Subjetivações Plurais e Intertextualidade
no Brasil dos anos 1960.....32
Alvaro Neder
Estéticas vocais das cantoras paraibanas: Cátia de França, Elba
Ramalho e Marinês.......................40
Anne Raelly P. de Figueirêdo
Long-Term Field Research in the
21st-Century.................................................................................47
Anthony Seeger
Mbya Guarani, cultura e contexto: o ambiente acústico como
ferramenta de análise no campo
etnomusicológico................................................................................................................................54
Ary Giordani
A tradição etnomusicológica de John Blacking na pesquisa sobre a
música caribenha no Pará.......65
Bernardo Thiago Borges Farias
Música e sociabilidade na Maré a partir de três estudos de
caso recentes.........................................72
Bruno de Carvalho Reis et alli
O batuko no mundo do Showbizz: a profissionalização do batuko e a
construção de batukadeiras
artistas no grupo das batukadeiras de São Martinho Grande (Ilha de
Santiago - Cabo Verde).........78
Carla Indira Carvalho Semedo “Estrella do Mar”: a recriação do
universo sonoro afro-brasileiro por Jayme
Ovalle.......................87
Célia Seabra
Bezerra da Silva, singular e plural: samba, autoria e função
etnográfica...........................................93
Cláudia Neiva de Matos
Climério de Oliveira Santos
O ensino da guitarra flamenca no 7° Festival Internacional de
Flamenco.......................................111
Cyran Costa
Débora Gonçalves Borburema
Luciano Cândido Sarmento
M mtaha: o mundo do pica-pau em um ritual
maxakali...................................................................128
Douglas Ferreira Gadelha Campelo
Etnomusicologia e Folclore: O caso do Levantamento Folclórico de
Januária-MG e as gravações
etnográficas das músicas de tradição oral no Brasil
hoje.................................................................138
Edilberto José de Macedo Fonseca
Festa com os
espí ritos.......................................................................................................................146
Eduardo Pires RosseTransmissão musical nas bandas escolares da rede
municipal de ensino de João Pessoa..............153
Erihuus de Luna Souza
http://slidepdf.com/reader/full/anais-iv-enabet-2008pdf 4/632
Erivan Silva
Eurides de Souza Santos
“E o verbo se fez canto”: reflexões preliminares sobre música e
culto nas igrejas batistas.............181
Euridiana Silva Souza
Adriana Fernandes
Imagem f í lmica e análise de contorno melódico: dois
aportes metodológicos para estudar a relação
música, corpo e
sacrif í cio.................................................................................................................197
Ewelter Rocha
Luí s Fabiano Farias Borges
Festa, amor e sexo: Um estudo de caso sobre o ambiente musical e
afetivo do forró eletrônico....214
Felipe Trotta
Fernando Antônio Ferreira de Souza
Cotidiano e música popular: notas sobre a modinha cearense e o
discurso poético-musical de
Raimundo
Ramos.............................................................................................................................229
Francisco Weber dos Anjos
Etnomusicologia e as dinâmicas do consumo: chaves para uma
compreensão do universo da música
“regional alternativa” na
Paraí ba......................................................................................................238
Giancarlo da Silva Galdino
A Transmissão do choro em Mossoró a partir da década de
1990...................................................244
Giann Mendes RibeiroPolí tica de Cultura: produção e mercado
da música popular instrumental
.....................................251
Giovanni Cirino
Da Lei de Direito Autoral à Intertextualidade na Música: uma
abordagem sobre questões legais e
éticas no ensino, pesquisa e extensão em
etnomusicologia..............................................................258
Harue Tanaka
Heloí sa de Araú jo Duarte Valente
A modinha: consolidação e difusão do gênero no contexto musical
brasileiro...............................271
Igor Hemerson Coimbra Rocha
Mixagem: o potencial epistemológico de uma operação musical na cena
eletrônica da periferia de
São
Paulo..........................................................................................................................................278
Ivan Paolo de Paris Fontanari
A reinvenção do forró? Do forró de latada ao
forró eletrônico........................................................284
Jaqueline Alves da Silva
Identificação e Registro de Estruturas Sonoras da Viola Machete do
Recôncavo Baiano...............291
Jean Joubert Freitas Mendes
Fernando Gualda
“Batuque é dança dos negros”: uma análise das representações
de raça, cultura e poder no discurso
do batuque cabo-verdiano em
Portugal............................................................................................298
Jorge Castro Ribeiro
Axé, Orixá, Xirê e Música. Em busca de um modelo
etnográfico-musicológico interpretativo......307 Jorge Luiz Ribeiro
de Vasconcelos
8/15/2019 Anais IV ENABET - 2008.pdf
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José Marcelo de Andrade Pereira
“Sofres porque queres”: a influência de Pixinguinha nos
acompanhamentos de Dino sete cordas.323
José Reis de Geus
Júlia Zanlorenzi Tygel Any Manuela Freitas dos Santos
Nascimento
Epistemologias feministas e teorias Queer na etnomusicologia:
repensando músicas e performances
no culto da jurema (Olinda,
PE).......................................................................................................347
Laila Rosa
Subjetivação, precarização e transformação social: o caso da
‘música’ nos projetos sociais..........361
Laize Guazina
Do Escracho ao Scratch: reinterpretação musical no repertório do
teatro de revista, anos 1902 a
1927..................................................................................................................................................370
Marcelo José de A. Bruno Otávio Augusto O. de Menezes
Priscilla P. Pessoa
Vinicius Silva Couto
Lí liam Barros
Verena Benchimol Abufaiad
Mito e Música entre o clã Desana Guahari Diputiro Porá,
Yauareté, AM.......................................384
Lí liam Barros
“Tem que vir aqui pra saber”: sobre os sentidos da etnografia na
contemporaneidade a partir dotrabalho de campo em três comunidades
quilombolas
gaúchas.......................................................390
Luciana Prass
O estudo da transmissão musical em culturas de tradição oral:
inter-relações entre as áreas de
educação musical e
etnomusicologia................................................................................................399
Luis Ricardo Silva Queiroz
As Toantes do Toré Kiriri: Um estudo sobre as estruturas de
som e linguagem e suas
transformações..................................................................................................................................406
Textos e contextos musicais do Calendário do Som de Hermeto
Pascoal.......................................417
Luiz Costa-Lima Neto
Transmissão de saberes musicais na banda 12 de
Dezembro...........................................................423
Luiz Fernando Navarro Costa
O violino violado: o encontro de José Gramani com Nelson da
Rabeca e a transposição de fronteiras
entre instrumentos eruditos e
populares...........................................................................................430
Luiz Henrique Fiammenghi
Candomblé e Umbanda: o compartilhamento de práticas e
repertórios musicais pelas entidades
caboclas............................................................................................................................................437
Sonia Chada
Registro do Patrimônio Vivo: limites e possibilidades da
apropriação do conceito de cultura popular
na gestão pública – polí ticas de reconhecimento e
transmissão.......................................................446
Maria Acselrad
8/15/2019 Anais IV ENABET - 2008.pdf
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Sons silenciados: produção e abandono de registos sonoros de música
da tradição oral em Portugal
(1939 -
1963)....................................................................................................................................453
Maria do Rosário Pestana
O Banjo em manifestações musicais na Zona do Salgado Paraense: um
estudo contextualizado da
arte de fazer e tocar
..........................................................................................................................459
Maria José Pinto da Costa de Moraes
Kyringüé mboraí : performances musicais e construção da
pessoa entre crianças indí genas Mbyá- Guarani no Rio Grande
do
Sul.........................................................................................................464
Marí lia Raquel Albornoz Stein
O Sopapo e o Cabobu: etnografia de uma prática percussiva no
extremo sul do Brasil..................470
Mario Maia
Maura Penna
Vanildo Mousinho Marinho
Carnavais saudosos: a saudade na performance dos frevos de bloco de
Recife...............................484
Maximiliano Carneiro-da-Cunha
Os direitos autorais e a música Mbyá-Guarani no Rio Grande do
Sul.............................................492 Mônica de
Andrade Arnt
Capoeira Angola: Um Sistema Musical
Afro-Brasileiro..................................................................499
Nicolas Rafael Severin Larraí n O aprendizado da composição
musical e os processos de criação em Bandas tradicionais do
Rio
Grande do Norte e
Paraí ba...............................................................................................................508
Paulo Marcelo
Paulo Murilo Guerreiro do Amaral
Alexandre Gonçalves Pinto e o livro O Choro: aspectos exploratórios
para uma releitura a partir dadimensão do
popular.........................................................................................................................520
Pedro de Moura Aragão
Etnomusicologia e Patrimônio Cultural: considerações sobre o samba
de roda do Recôncavo Baiano
..........................................................................................................................................................526
Raiana Alves Maciel Leal do Carmo
A música atraente: O processo criativo e interpretativo na obra de
Luis Americano .....................533
Rafael Henrique Soares Velloso
Viní cius Dorin + Hermeto Pascoal: A construção de uma
linguagem brasileira de improvisação no
saxofone............................................................................................................................................546
Reginaldo Gil Braga
Cássio Dalbem Barth
Mateus Berger Kuschik
Rafael Rodrigues Silva
Rodrigo Cantos Savelli Gomes
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Rediscutindo a Representação
Etnográfica..........................................................................................573
Sandro Guimarães de Salles
Reflexões e desdobramentos de uma pesquisa musical participativa
nas comunidades da Formiga, Salgueiro e Grande Tijuca, no Rio de
Janeiro.....................................................................................581
Sinesio Jefferson Andrade Silva Felipe Barros
O Canto dos Caboclos nos
Candomblés...................................................................................................586
Sonia Chada
Estudo do Repertório de Rezas das Festas de Santo em São Gabriel da
Cachoeira: por uma compreensão dos processos de transmissão
musical.............................................................................592
Thais Cybelle Araújo da Silva Liliam da Silva Barros
Uma abordagem sobre a criação musical de Toninho
Horta.............................................................597
Thais Nicodemo
Bateria e Bateristas: estratégias de um levantamento
preliminar....................................................606
Thiago Ferreira de Aquino
Discurso Musical da Identidade Caribenha em Salvador: o
Samba-Reggae, o Reggae e o
Merengue....................................................................................................................................................612 Yukio
Agerkop
O Toré KaririXocó na Grande Salvador: Etnografia musical e
territorialidade indígena..........619 Leonardo Campos
Cunha
Atividades de formação em música no projeto "Música, Memória e
Sociabilidade na Maré"......620 Marcelo Rubião de Andrade et
alli
À solta, num bilhete de ida e volta. A Música Popular Brasileira na
obra de músicos portugueses: o caso de Sérgio
Godinho.........................................................................................................................626
Pedro Almeida Toré, Música e Dança entre os Índios de
Pernambuco.......................................................................627
Renato Athias The Bimusical (or Polymusical)
Imperative.......................................................................................628
Roshan Samtani Música e singularização: uma etnografia na Itiberê
Orquestra
Família.........................................629
Vânia Beatriz Müller
Pesquisa participativa, etnomusicologia e mudança social: o caso do
grupo “musicultura” .........631 Vincenzo Cambria
Música e diferença: Reflexões sobre o papel em mutação dos Acervos
Musicais.............................632 Vivian Schmidt Vitor
Damiani
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IV ENABET – Encontro Nacional da Associação Brasileira de
Etnomusicologia Maceió - 2008
Estruturação da brincadeira do cavalo-marinho
Agostinho Lima1
Resumo
Nesta comunicação se discute asectos das artes !ue estão na
"ase da estruturação e ordenação do reertório musical# e suas
danças# cenas# di$logos# loas# e!ui%alentes# da "rincadeira do
ca%alo- marin&o' Busca-se demonstrar !ue a areensão da relação
entre artes e conte(dos da "rincadeira tem grande imort)ncia ara a
comreensão da mani*estação do ca%alo-marin&o' A es!uisa de
camo#
autada na o"ser%ação articiante# e em registros de
er*ormances e entre%istas de car$ter !ualitati%o# se demonstrou um
meio imortante ara a o"ser%ação dessa !uestão e ara as conclus+es a
!ue se c&egou e !ue insiram esta comunicação' Entende-se !ue a
*ormação de es!uemas de interretação !ue *a%oreçam uma
sensi"ilidade a esta "rincadeira# assa elo necess$rio
recon&ecimento da sua organi,ação estrutural'
Palavras-chave .a%alo-marin&o# reertório# estruturação'
Abstract In t&is communication asects o* t&e arts t&at
are in t&e "ase o* t&e structuring and ordination o*
t&e musical reertoire# and t&eir dances# scenes# dialogues#
loas# e!ui%alent# o* t&e game o* t&e sea &orse is
discussed' It is loo/ed *or to demonstrate t&at t&e
are&ension o* t&e relations&i "eteen arts and contents
&as great imortance *or t&e understanding o* t&e
mani*estation o* t&e ca%alo-marin&o' T&e *ield
researc&# ruled in t&e articiant o"ser%ation# and in
registrations o* er*ormances and inter%ies o* !ualitati%e
c&aracter# an imortant a1 as demonstrated *or t&e
o"ser%ation o* t&at su"ect and *or t&e conclusions t&e
one t&at as arri%ed and t&at insire t&is communication'
understands eac& ot&er t&at t&e *ormation o*
interretation outlines t&at *a%or a sensi"ilit1 t&e
t&is
la1# asses *or t&e necessar1 recognition o* &er
structural organi,ation'
Keywords ca%alo-marin&o# reertoire# structuring'
Bum"a-meu-"oi 3 a denominação mais antiga !ue se tem do *olguedo do
"oi no Nordeste e !ue se esal&a# com suas de%idas mudanças# ara
outras regi+es do Brasil' Bum"a# "oi-de-reis# "oi calem"a# "oi de
mamão# "oi suru"i# "oi de matraca# "oi de or!uestra# "oi,in&o#
etc# são denominaç+es encontradas ara
"rincadeiras de mesmo g4nero' Em todas elas &$ uma alusão
ao "oi# "ic&o5ersonagem !ue 3 central na *ormulação da
"rincadeira na sua &istória' 6 uso do termo *olguedo# como
re*er4ncia a esta mani*estação cultural# se d$ %isto !ue ela se
es"oça como algo mais amlo' .)mara .ascudo o"ser%a !ue *olguedo 3
uma mani*estação !ue cont3m m(sicas# letras 7%ersos de di%ersos
tios9 coreogra*ia 7danças e mo%imentos di%ersos e uma tem$tica#
algum tio de enredo !ue 3 reresentado 7.A:.;<6# =>>8# '
2?=' Brincadeira 3 como muitos agentes das culturas oulares
denominam algumas de suas r$ticas culturais e# no caso em %oga# a
"rincadeira do "oi em suas di%ersas denominaç+es'
Na @ara"a e em @ernam"uco essa "rincadeira 3 denominada
ca%alo-marin&o# !ue *oge s demais denominaç+es or não mencionar
o "oi# a rincial ersonagem' .a%alo-marin&o# "oi-de-reis e
"um"a-meu-
"oi são *olguedos do mesmo g4nero e a denominação
ca%alo-marin&o ara a "rincadeira ressalta a imort)ncia da outra
ersonagem# o sen&or# o dono da "rincadeira# o mestre' @adre
Coes da Dama# na
rimeira re*er4ncia ao "um"a-meu-"oi no Nordeste# relata !ue
''' ;m caadócio# en*iado elo *undo dum anac( %el&o#
c&ama-se o ca%alo-marin&o''' 6 sueito do ca%alo-marin&o
3 o sen&or do "oi# da "urrin&a# da caiora e do Mateus' Todo
o di%ertimento ci*ra-se em o dono de toda esta s(cia *a,er danças
ao som das
1 Professor da Escola de música da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Doutor em música – etnomusicologia
(UFBA).
- 9 -
http://slidepdf.com/reader/full/anais-iv-enabet-2008pdf
10/632
IV ENABET – Encontro Nacional da Associação Brasileira de
Etnomusicologia Maceió - 2008
%iolas# andeirosF 7C6@E: <A DAMA aud .A:.;<6 =>8G# '
=8H-=8?' A ersonagem ca%alo- marin&o $ est$ resente na
"rincadeira &$ s3culos# como sen&or# dono da
"rincadeira'
Bor"a il&o o"ser%a !ue
J ele !uem# *alando# cantando# dançando# aitando# comanda o
eset$culo' A rincio# %em a 3# mas logo deois %olta montado no
ca%alo-marin&o# um arca"ouço de ca%alo com um
"uraco no meio or onde ele entra# arecendo mesmo montado'
7B6KBA ICL6# =>82# '2'
Kenato Almeida acrescenta !ue ''' c&e*ia%a o *olguedo#
tin&a uns ares assim de sen&or de engen&o e comanda%a o
auto com um aitoF 7ACMEI<A# =>G=# '=0' J oss%el !ue a *igura
do sen&or do ca%alo- marin&o reresente os antigos
sen&ores de terra !ue manda%amF na "rincadeira e se osta%am a
ca%alo nas aresentaç+es' Não 3 toa !ue a denominação de gruos de
ca%alo-marin&o tem semre a alusão ao mestre# ao dono da
"rincadeira# como 3 o ca%alo-marin&o de mestre oãoF#
ca%alo-marin&o de mestre Oe!uin&aF# de mestre Biu
AlePandre# etc' A mudança de denominação ara ca%alo-marin&o se
deu# tal%e,# or!ue gruos# na @ara"a e em @ernam"uco# se locali,am
na ,ona da mata# róPima do litoral e nisso *igura do ca%alo se
adiciona o marin&o numa re*er4ncia ao eiPe' E o "ic&o de
armação do *olguedo 3 um e!ueno e gracioso ca%alo'
Nessa reorientação de nomenclatura da "rincadeira# se o "oi#
nessa "rincadeira# este%e relacionado ao tra"al&o# *orça# ao
sacri*cio# ao o%o a *igura do ca%alo-marin&o reresenta
sen&or – dois sm"olos são colocados em contraste na *ormulação
da "rincadeira' Na m(sica e na aresentação da ersonagem ca%alo-
marin&o o"ser%a-se !ue &$ certo ar de go,ação# de
caracteri,ação dela animal *r$gil# delicado e dado aos re!uintes#
numa re*er4ncia e crtica indireta ao sen&or do engen&o ou
ao dono da "rincadeira' :e o ca%alo- marin&o d$ nome
"rincadeira# todos os seus articiantes se sentem mais na ersonagem
do "oi e di,em# semre# !ue o "oi 3 o "ic&o de armação mais
imortante e !ue sem ele a "rincadeira não ePiste# o !ue não
acontece com a ersonagem do ca%alo-marin&o !ue ode *altar em
alguma aresentação'
QQQ
A construção# na &istória# desse *olguedo se autou#
rincialmente# em tr4s tios de r$ticasmusicais a aglutinação de
m(sicas e cenas de outros reisados# como a "urrin&a# o guria"$#
etc# em torno da "rincadeira do "oi# o !ue indica !ue ePistia
uma "rincadeira ePclusi%a do "oi !ue# ro%a%elmente# ela sua
enetração cultural *oram se agregando reisados de menor orte9
a colocação da "rincadeira do "oi no *inal da aresentação de uma
s3rie de e!uenos# como *orma de coroarF uma er*ormance – *ato esse
!ue ainda se o"ser%a na atualidade !uando a aresentação do "oi
*inali,a a de todos os "ic&os de armação e
ersonagens na terceira arte de uma "rincadeira9 e a rória
criação de m(sicas e cenas na r$tica interna do *olguedo do "oi
!uando este $ &a%ia ad!uirido uma estrutura !ue ermitia isso'
6ne1da Al%arenga ostula !ue ''' dada a curta duração dessas e!uenas
eças Rreisados como da "urrin&a# engen&o# guria"$# etcS
elas se reresenta%am &a"itualmente em s3rie# e a sua ustaosição
o"edecia a um (nico crit3rio *iPo o reisado terminal era semre o
"um"a-meu-"oiF 7ACVAKENDA# =>82# 'HH'
.)mara .ascudo a*irma !ue 3 oss%el ensar no desen%ol%imento desse
*olguedo# a artir da
aglutinação de outros "ailados em torno da dança com o "oi# e
!ue
7''' o auto se criou ela aglutinação incessante de outros "ailados
de menor densidade na areciação coleti%a' 6 centro de maior e mais
*orte atração *e, gra%itar ao seu derredor os moti%os comuns ao
tra"al&o astoril# *iguras normais dos o%oados RcomoS o doutor#
o caitão do mato# %ig$rio' 7''' <e reisados# ranc&os# "ailes
e danças autnomas nasce# cresce e se amlia o Bum"a-meu-"oi'
7.A:.;<6# =>>8# '=U=-=U2'
6 autor ainda o"ser%a !ue ''' o rocesso a!uisiti%o do auto#
assimilando os reisados# dar-se-ia no correr dos (ltimos anos do
s3culo VIII e nas rimeiras d3cadas do s3culo imediato 7'''# no
litoral# engen&os de aç(car e *a,endas de gado# irradiando-se
ara o interiorF 7.A:.;<6# =>>8# '=U0'
Essas tr4s maneiras de construção musical do *olguedo na
&istória estão# tam"3m# na "ase da
*lePi"ilidade interna da "rincadeira# no !ue se re*ere#
rincialmente# ordenação do reertório musical' A descrição *eita or
Miguel do :acramento Coes da Dama# no eriódico 6 .arauceiroF# NW 2#
em == de
aneiro de =8?0# na cidade do Keci*e# @ernam"uco# aonta ara o
*ato de !ue 3oca "rincadeira do "oi
- 10 -
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IV ENABET – Encontro Nacional da Associação Brasileira de
Etnomusicologia Maceió - 2008
ainda se encontra%a numa *ase de aglutinação de reisados e ainda
sem um enredo ou uma estrutura de artes internamente esta"elecida'
6"ser%e-se o !ue o cronista narra
<e !uantos recreios# *olganças e desen*ados oulares &$ neste
nosso @ernam"uco# eu não con&eço um tão tolo# tão est(ido e
destitudo de graça# como o ali$s "em con&ecido Bum"a- meu-"oi'
Em tal "rinco não se encontra um enr4do# nem %erossimil&ança#
nem ligação 3 um agregado de disarates' 7C6@E: <A DAMA aud
.A:.;<6 =>8G# =8H-=8?'
Mas# no seguimento de sua descrição# esse cronista o"ser%a alguns
asectos !ue demonstram o a%anço na organi,ação *ormal da
"rincadeira# !uando se re*ere s ersonagens !ue são orientadoras de
tudo !ue acontece
;m negro metido de"aiPo de uma "ai4ta 3 o "oi9 um capadócio,
enfiado pelo fundo dum panacú velho, chama-se o
cavalo-marinho' 6utro# alaardado# so" lençóis# denomina-se
"urrin&a um menino com duas saias# uma da cintura ara
"aiPo# outra da cintura ara cima# terminando ara a ca"eça com uma
uruema# 3 o !ue se c&ama a caiora 7'''' O sujeito do
cavalo-marinho é o senhor do boi, da burrinha, da caipora e do
Mateus Todo o di%ertimento ci*ra-se em o dono de toda esta súcia
*a,er danças ao som das %iolas# andeiros e de uma in*ernal "erraria
o tal "4"edo Mateus# a "urrin&a# a caiora e o "oi# !ue com
e*eito 3 animal muito ligeirin&o# tr4*ego e "ailarino' 7C6@E:
<A DAMA aud .A:.;<6 =>8G# =8H-=8?' 7gri*os nossos'
A artir desse rocesso de construção# anteriormente citado# a
"rincadeira ad!uiriu um car$ter de auto oular# como o"ser%a AKAX6
7=>G?# com a adição de di%ersas cenas e loas e# a artir da
d3cada de =>0# torna gradati%amente a ser "rincadeira
eminentemente musical# na @ara"a'
QQQ
.ontrastando o !ue ocorre na atualidade com relatos do assado#
o"ser%a-se !ue a organi,ação do
reertório musical# e suas cenas e!ui%alentes# na "rincadeira do
ca%alo-marin&o se d$ or semel&ançatem$tica – como 3 o caso
das m(sicas de car$ter religioso e de lou%ação a esus# aos santos
reis do 6riente e a Nossa :en&ora9 ela tem$tica de ePaltação e
lou%ação da nature,a – como as m(sicas .ameiaF# ulF# .aim da
lagoaF# etc9 as de saudação aos resentes e aos donos da casa !ue
rece"e a "rincadeira9 as m(sicas de ersonagens ou "ic&os de
armação como da "urrin&a# o "oi# o gigante# o emata-sam"a# etc'
Mas# esse tio de organi,ação intelectual da m(sica do
ca%alo-marin&o 3 aenas uma ossi"ilidade na estruturação
da
"rincadeira' Essas tem$ticas se auntam em determinados
n(cleos# mas odem ser encontradas em artes di%ersas da
"rincadeira'
Yuando se es!uisou gruos de ca%alo-marin&o na @ara"a 7CIMA#
2008# tin&a-se como reocuação o entendimento de duas
!uest+es como se estrutura a "rincadeira de modo a se manter a
*lePi"ilidade e di%ersidade &istórica eculiar a ela# mas sem
reu,o ara a unidade9 e or !ue a maioria do
("lico mediano erce"ia a "rincadeira como aenas uma sucessão#
sem muita lógicaF# de m(sicas e cenas'
6s ressuostos !ue se tin&a eram !ue a estrutura do *olguedo
aenas se demonstra%a# na atualidade# aolongo de di%ersas
er*ormances e !ue a erceção da "rincadeira do ca%alo-marin&o
como algo desorgani,ado resulta ustamente dessa *alta de contato
desse ("lico mediano com di%ersas er*ormances e da aceitação# sem
re*lePão# de um ostulado antigo'
Yuando @adre Coes da Dama escre%eu !ue ''' em tal "rinco não se
encontra um enr4do# nem %erossimil&ança# nem ligação 3 um
agregado de disaratesF# ele# entre outros cronistas# anuncia%am
id3ia# !ue se tornou comum na &istória desse *olguedo# de !ue a
desorgani,ação 3 algo naturalF a ele' Na região
Nordeste# or ePemlo# 3 muito comum !ue essoas digam !ue
!uando um emreendimento# uma ati%idade# etc# 3 ePtremamente
desorgani,ado 3 um "oi-de-reiF' Isso 3 uma amliação eorati%a de uma
erceção moment)nea !ue se tem da "rincadeira# mas não re*lete sua
realidade'
A "usca da areensão das artes !ue estruturam a "rincadeira de
ca%alo-marin&o não 3# assim# um rocedimento *ormalista#
mas uma necessidade !ue se tem ara a contestação desse erro de
erceção
encontrado no senso comum9 se comreender mel&or como a lógica
de estruturação da "rincadeira ermite %ariaç+es no assado e no
resente9 e ara se *orar dados !ue auPiliem a *ormulação de es!uemas
de
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interretação da "rincadeira !ue ermitam um des%elamento de seus
sentidos e o desen%ol%imento de uma sensi"ilidade so"re a
mesma'
A rimeira !uestão a se entender 3 !ue as artes estruturantes de uma
"rincadeira *oram soerguidas &istoricamente a artir da unção de
unidades musicais# e suas resecti%as cenas e danças' Esse tio
de
unção o"edeceu# at3 certo onto# s tem$ticas de cada unidade
musical# como discutidas anteriormente' Mas# al3m da "usca de
unidade a artir dessas tem$ticas# &a%ia &istoricamente a
necessidade de se ordenar a
"rincadeira artes cuos conte(dos e meios *ossem mais
semel&antes e ermitissem o"eti%ação e a ePressão de sentidos e
id3ias musicais coerentes' Algo# grosso modo# como os atos e cenas
de uma óera ou como se o"eti%a em seç+es uma aresentação
circense'
:e essas artes da "rincadeira são estruturadas &istoricamente a
artir da unção de unidades musicais# elas# tam"3m# assam a regular
a mo"ilidade dessas unidades dentro da "rincadeira# ermitindo
*lePi"ilidade e mantendo normas de como determinada m(sica de%e ser
aresentada ou em !ue osição no reertório' Numa ro*cua condição
dialógica entre conte(do e *orma' @artes nas !uais se ordenam#
incluem e ePcluem conte(dos musicais# o3ticos# c4nicos# de dança#
coreogra*ia e %isuais' J na maneira como as
artes de uma "rincadeira são o"eti%adas# com a alocação e
riori,ação de determinados conte(dos# !ue os mestres e mem"ros mais
ePerientes de um gruo de ca%alo-marin&o deiPam transarecer# em
determinado momento da sua ePist4ncia# suas conceç+es so"re
"rincadeira e sua inserção no contePto mais amlo da
cultura' Tam"3m# demarcando distinç+es e eculiaridades'Essa
estruturação da "rincadeira em determinadas artes não ode ter sido
a mesma em toda a &istória da "rincadeira# assim como %aria em
contePtos di%ersos' A estrutura de uma "rincadeira encontrada em
gruos do mesmo g4nero nos Estados do Maran&ão# @ar$ e Ama,onas#
or ePemlo# 3 di*erente entre si e entre a!uelas encontradas em
Estados como a @ara"a# @ernam"uco e Kio Drande do Norte' Isso
re*lete as conceç+es e o"eti%os distintos !ue# em cada contePto# se
tem da e ara com a "rincadeira' A "rincadeira do
"oi em @arintins# Ama,onas# tem# or ePemlo# uma estruturação
*ormal muito di*erente da encontrada no "oi de matraca no
Maran&ão ou no ca%alo-marin&o na @ara"a' E isso re*lete e
retro-alimenta a conceção da "rincadeira como eset$culo !ue
se tem em @arintins'
QQQ As artes da "rincadeira do ca%alo-marin&o su"a,em todas as
er*ormances de um gruo# mas a
*lePi"ilidade interna na alocação de conte(dos e a !uantidade
destes 3 tal !ue em algumas er*ormances 3
muito di*cil areender essas artes' Algumas m(sicas# danças e cenas#
de uma arte da "rincadeira# !ue sãoaresentadas em uma determinada
er*ormance odem# or ePemlo# não serem aresentadas em outra9 a ordem
interna das m(sicas de uma mesma arte ode %ariar de acordo com o
tio de aresentação# or ePemlo9 ou em uma er*ormance uma arte ode
conter muitas m(sicas em e outra er*ormance ter um reertório "em
menor' Isso são *atores !ue condu,em a !ue a areensão das artes da
"rincadeira do ca%alo- marin&o aenas sea oss%el a artir da
*ruição de di%ersas er*ormances'
Entende-se !ue =' 6 reertório musical de um *olguedo como o
ca%alo-marin&o nunca se re%ela# na
atualidade# em uma ou oucas er*ormances' Isto imlica !ue as artes
!ue cont4m esse reertório são oss%eis de serem areendidas aenas em
uma longa *ruição da "rincadeira' Isto se de%e ao *ato de o
reertório musical ser "astante amlo' Tam"3m ao *ato de !ue –
di*erentemente do !ue ocorria antigamente na ,ona rural# !uando uma
"rincadeira de ca%alo-marin&o dura%a uma noite inteira –
atualmente as aresentaç+es duram# no m$Pimo# duas &oras' Mas#
atualmente e na ur"anidade or di%ersos *atores as "rincadeiras de
rua duram# no m$Pimo# duas &oras' Isso imossi"ilita o
recon&ecimento do reertório e das artes do *olguedo e gera no
("lico mediano a id3ia de desorgani,ação da "rincadeira'
2' Algumas m(sicas se *a,em resentes em raticamente todas as
aresentaç+es# sendo em torno e a artir delas !ue outras m(sicas se
agruam *ormando as artes de uma "rincadeira' :ão as m(sicas
"asilares !ue são ePecutadas# na maioria dos casos# no incio de uma
arte – Aenas na
arte de aresentação de "ic&os de armação e ersonagens 3
!ue a m(sicas "asilares# a do ca%alo- marin&o e as do "oi# são#
resecti%amente# aresentadas no incio e no *inal' Isso 3 um dado ara
orientar a erceção da terceira arte da "rincadeira# or
ePemlo'
H' Atualmente# os dois tios mais comuns de aresentação# o de rua e
o de e%entos – este atrocinado or órgãos ("licos – incidem
so"re a organi,ação musical do reertório e das artes da
"rincadeira' Nas aresentaç+es de rua# na rória comunidade
onde se insere um gruo# elo *ato de &a%er uma maior
receti%idade da "rincadeira – isso de%ido ao *ato de as essoas da
comunidade a con&ecerem mel&or seus conte(dos e serem mais
sens%eis s *ormas de ePressão da "rincadeira –
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uma !uantidade maior de m(sicas 3 aresentada e as artes da
"rincadeira se aresentam mais o"eti%amente' 6 contr$rio ocorre nas
aresentaç+es em e%entos *ora da comunidade# onde o temo 3 curto# as
essoas con&ecem ouco da "rincadeira e# assim# o reertório
musical 3 menor e as artes musicais di*icilmente odem ser
arendidas' No estudo reali,ado na @ara"a %eri*icou-se !ue a
"rincadeira do ca%alo-marin&o 3 estruturada em
!uatro artes' @artes e reertório estes !ue se descre%er$ a"aiPo
tomando re*er4ncia a r$tica musical dos gruos de ca%alo-marin&o
do mestre Oe!uin&a e do mestre oão do Boi'
1ª parte' 6 mestre anuncia a "rincadeira e c&ama Mateus# Birico
e .atirina# um a um# com suas resecti%as m(sicas# di$logos e cenas'
:ão aresentadas as m(sicas .&amada do MateusF# .&egada do
MateusF# .&amada do BiricoF# .&amada da .atirinaF e a
m(sica dos tr4s untosF' :endo a m(sica de .&amada do MateusF a
mais imortante# ois resente na maioria das aresentaç+es'
2ª parte' Entram os galantes e damas# a marua# e se d$ inicio a uma
longa aresentação de m(sicas !ue são dançadas coleti%amente' Nessa
arte# a %ariedade de canç+es – algumas de cun&o religioso#
outras de saudação aos resentes e aos donos da casa !ue rece"e a
"rincadeira ou ainda de re*er4ncia nature,a – e a inclusão de um
"ailado esecial# a danças dos arcos# dão a tnica da %ariedade de
elementos no ca%alo- marin&o' J nessa arte onde ocorre a maior
mo"ilidade e %ariação de m(sicas no reertório' A m(sica Nas
&oras de <eus am3mF inicia esta arte e 3 sendo a (nica !ue
nunca muda de lugar ou deiPa de se
aresentada'As outras m(sicas aresentadas# em ordem !ue %aria e nem
semre numa (nica aresentação# são Vi%a :anto KeiF# :ão os3 *oi
di,er missaF# ulF# :ão Donçalo do AmaranteF# Trancelim de 6uroF#
:en&ora <ona da .asaF# @edido de a"ertura da ortaF#
.anoeiroF# Na .&egada <esta .asaF# @astorin&aF# Não
c&ore dama do reiF# Do%ernadorF# Meninin&a Bonitin&aF#
AcauãF# .aim da lagoaF e .ameiaF'
3ª parte' 6 !ue distingue esta arte 3 a aresentação dos "ic&os
de armação e ersonagens di%ersos com suas de%idas m(sicas' 6
.a%alo-marin&oF 3 aresentado inicialmente e logo deois a
MargaridaF# o BodeF# a BurraF# aragu$F# DiganteF# Emata-sam"aF#
Man3 c&orãoF# Matuto da gomaF# Vel&a do caroçoF e
Engen&oF# nem semre nesta ordem ou se aresentando todos em uma
(nica noite'
@or (ltimo %em a assagem do "oi !ue 3 a !ue tem mais m(sicas e 3 a
(nica !ue não de%e deiPar de ser aresentada em !ual!uer tio de
aresentação' Yuando são cantados e tocados os A"oiosF# as
Toadas
de a"oioF# a .&amada do "oiF# o Baiano instrumental de dança do
"oiF# a marc&in&a esus nasceuF9 am(sica da Morte do "oiF# a
MasseiraF# a @artil&a do "oiF# a m(sica !ue *a, o "oi re%i%er
se ale%anta "oiF e o BaianoF de sada do "oi# tem-se um conunto
comleto de conte(dos musicais# o3ticos e c4nicos !ue dão a imressão
de este momento ser uma arte da "rincadeira e não aenas a assagem
de um "ic&o de armação' @or isso autores como AN<KA<E
7=>82 e D;KDEC 7=>8=# determinam esta como uma arte
denominada or eles como Kito do "oiF'
Entende-se !ue# di*erentemente destes autores# a assagem do "oi não
3 uma arte# mas um momento imortante da terceira arte de
aresentação de "ic&os de armação e ersonagens# %isto !ue
as
rórias essoas !ue *a,em a "rincadeira atualmente# e nos
registros !ue se tem do assado# entendem !ue a assagem do "oi
não 3 uma arte# mas aenas *inali,a a terceira' <e outra *orma#
*oram registradas di%ersas aresentaç+es onde aenas as m(sicas da
.&amada do "oiF e os "aianos de dança e sada *oram ePecutadas#
não &a%endo nisso um rito do "oi ou a con*iguração disso como
uma arte esec*ica da "rincadeira'
4ª parte' As canç+es e danças de desedidas' Nesta arte o gruo não
mais se organi,a em duas *ilas ou cord+es# mas em uma *ila indiana
e as m(sicas aresentadas são <esedidaF# Bra%oF# Adeus ao
sen&or da casaF e o Baiano de sadaF' Ao *inal o mestre d$ as
%i%as *inais aos donos da casa# marua# aos
resentes e aos santos reis' A areensão em es!uisa das artes
estruturantes da "rincadeira re!uer uma longa o"ser%ação de
er*ormances e a coleta de di%ersos deoimentos# ois algumas
%e,es mesmo um mem"ro ePeriente de um gruo ode con*undir as artes
com as unidades musicais# !uando relata %er"almente a ordenação
da
"rincadeira' oi o caso de Mestre oão do Boi !ue !uando
erguntado so"re as artes da "rincadeira disse !ue
J o "oi# a "urra# o ca%alo' Tem os arco !ue o o%o gosta 7'''' A
gente semre *a, o "aião# n3Z 6s menino gosta de dançar esse "aião
de dois e de tr4s' Encerra tudo com as desedida 7'''' No mei tem
muita cantiga''' %i%a santo reis# na c&egada dessa casa#
cameia# nas &ora de <eus am3m' 7ME:TKE 6[6 <6 B6I 200G –
entre%ista em == de a"ril'
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Drande con&ecedor da "rincadeira e da sua estrutura Mestre oão
do Boi# nesse deoimento# discorre aenas so"re algumas unidades
musicais e seu deoimento se tomado isoladamente ode con*undir um
o"ser%ador ePterno'
Mestre Oe!uin&a aresenta a estrutura das artes na "rincadeira
de seu gruo de maneira mais o"eti%a' Ele di,
Eu c&amo logo Mateus' A con%erso a!uelas coisa !ue %oc4 %iu com
ele' A deois# c&ega ra *rente BiricoF 7'''' A o Birico
%em e a tem a con%ersa dos dois l$ e a 7''' !uando termina a
con%ersa 3 ra c&amar a .atirina' A di, .atirina mum"a"a'''F' A
ronto# a .atirina %em''' a *a, a con%ersa deles tr4s# a arte deles
tr4s 7'''' a termina''' essa arte a# deles tr4s' 7ME:TKE OEY;INLA
200G – entre%ista em H de agosto'
<escre%e a segunda arte# comentando
A eu canto essa a!ui ó a"re-te orta dos c3u'''F' A# eu canto Nas
&ora de <eus am3mF e as outra cantiga'''canto a *ul# a deois
canto o :ão Donçalo# o trancelim de ouro# Na c&egada desta
casaF' Bota :en&ora dona da casa# "ota o cameia# 7'''' E
a!uelas outra marc&in&a' 7idem'
E so"re a róPima arte em !ue são aresentados os "ic&os e
ersonagens# di,
<eois começo a "otar as *igura' Ai# "ota o ca%alo# deois a
Margarida 7'''# "ota o aragu$# a# deois do aragu$ "ota a "urra# a
deois "ota o "ode# n3Z 7'''' :e ti%er *igura de m$scara#
"ota o man3 c&orão# "ota o %3io-*rio# "ota o emata-sam"a#
"ota o a"ana-*ogo' E o (ltimo# o derradeiro# 3 o "oi'
7I"idem'
6"ser%e-se !ue o mestre *a, uma menção esecial assagem do "oi'
:o"re a arte *inal da "rincadeira# ele comenta
A adisois terminar isso a tudin&o# d$ a desedida 7'''' Tem as
m(sica <esedidaF
"ra%oF' A# *a, a!uele "aiano com tudo de mão dada# n3Z A# !uando
$ra# eu dou %i%a ao dono da casa e a todo essoal !ue assiste# n3Z
7I"id''
;ma a"ordagem das artes da "rincadeira *eita or es!uisador !ue não
3 da $rea de m(sica merece an$lise' Nela se ro+e uma estrutura das
artes !ue 3 mais uma se!\4ncia de algumas m(sicas' oi reali,ada or
osane Moreno# mestra em Cetras ela ;ni%ersidade ederal da @ara"a#
!ue es!uisou um gruo de ca%alo-marin&o em V$r,ea No%a e onde
mestre Oe!uin&a di%idia a coordenação da "rincadeira com :eu
Neco' A es!uisadora escre%e !ue ''' a aresentação do
ca%alo-marin&o o"edece a uma sucessão de sete momentos ou
]assagens^F 7M6KEN6# =>>8# '=G' E relata os momentos como
sendo
=' A"oios' 2' .&amada do Mateus# Birico e .atirina' H' :audação
<ona da .asa' ?' .oreogra*ia com os arcos' U' A @assagem da
Bandeira' G' A @assagem do .ameia' ' <es*ile de *iguras'
.omo a rória autora escre%e no resumo de sua dissertação# o seu
tra"al&o cont3m ''' uma descrição do eset$culo# e a transcrição
integral de uma noite de aresentação do gruoF e !ue ''' or
não
ossuir *ormação na $rea de m(sica e nem me sentir
&a"ilitada ara !ual!uer tio de tra"al&o desta nature,a# a
an$lise das toadas# do onto de %ista melódico# não ser$ *eita neste
tra"al&oF 7M6KEN6# =>>8# ' 2' A
es!uisadora c&egou conclusão acerca da estruturação da
"rincadeira autando-se no registro de uma aresentação'
6 terceiro momento descrito ela es!uisadora :audação <ona da
casaF# trata-se da m(sica
:en&ora dona da casaF !ue 3 da segunda arte da "rincadeira' A
coreogra*ia dos arcos# entendida como o!uarto momento# 3 de *ato 3
a coreogra*ia !ue re(ne as m(sicas FulF# :ão Donçalo do AmaranteF e
Trancelim de ouroF# !ue são m(sicas da segunda arte da "rincadeira
de ca%alo-marin&o' A @assagem da BandeiraF# !uinto momento#
resume-se na m(sica Na *ronteira desta casaF# tam"3m cantada como
Na
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c&egada desta casaF# !ue 3 da segunda arte da "rincadeira# a do
"ailado coleti%o' A @assagem do .ameiaF# como catalogada ela
es!uisadora 3 aenas a m(sica .ameiaF# !ue# algumas %e,es# encerra a
segunda arte da "rincadeira' 6 <es*ile das *igurasF# ou
aresentação de "ic&os de armação e ersonagens# esta sim 3 uma
arte da "rincadeira'
QQQ
As artes de uma "rincadeira de ca%alo-marin&o são marcadas or
um ou mais elementos !ue as caracteri,am# as di*erem ou
assemel&am s outras' A altern)ncia entre m(sica e di$logos
caracteri,a# or ePemlo# a rimeira arte da "rincadeira no gruo de
ca%alo-marin&o de Mestre Oe!uin&a' A grande %ariedade de
m(sicas# danças e coreogra*ias 3 um elementos imortante na
caracteri,ação da segunda arte da "rincadeira de
ca%alo-marin&o'
Tam"3m# a *lePi"ilidade musical encontrada na ordenação do
reertório no ca%alo-marin&o deri%a das conceç+es e
con&ecimentos dos mestres e mem"ros mais ePerientes acerca da
sistemati,ação da
"rincadeira' EPistem normasF ara mudança na ordem das m(sicas
o !ue e%ita a aleatoriedade' Algumas m(sicas t4m !ue estar resentes
em todas as aresentaç+es# como a Nas Loras de <eus am3mF' A
resença de outras deende# or ePemlo# do tio de aresentação# se de
rua ou de e%ento' L$ m(sicas !ue recisam
aenas do conunto de m(sicos e cantores ara serem aresentadas e são
mais *acilmente incororadas aoreertório' 6utras recisam da
utili,ação de e!uiamentos como os arcos e de uma "oa !uantidade
de
dançarinos ePerientes# como as m(sicas ulF# :ão Donçalo de
AmaranteF e Trancelim de ouroF# !ue com+em o n(cleo de danças dos
arcos9 algumas m(sicas da cena do "oi# como MasseiraF# @artil&a
do
"oiF# or ePemlo# são aenas cantadas em aresentaç+es !ue t4m
uma duração maior de temo' Algumas m(sicas ara serem ePecutadas
recisam de um "ic&o de armação# como o "oi# o
ca%alo-marin&o# o "ode ou de uma essoa !ue interrete uma *igura
de m$scaraF como o Man3 c&orãoF# Emata-sam"aF# etc' Assim# a
aresentação de algumas m(sicas deende da osse do "ic&o de
armação# de uma essoa treinada ara interretar uma ersonagem ou
mesmo da imort)ncia dada or alguns deles a determinada
aresentação'
J a artir da rioridade !ue dão a uma ou outra arte da "rincadeira e
no modo como nela alocam determinados conte(dos !ue "rincantes de
ca%alo-marin&o demonstram asectos e condiç+es da
"rincadeira'
6 grau de *ormação e adesão de essoas ara dançarem como galantes e
damas# 3 *undamental ara !ue asegunda arte de uma "rincadeira se
o"eti%e a contento' Esse tio de adesão a um gruo demonstra o n%el
de interesse !ue a comunidade tem or uma "rincadeira – gruos com
oucos galantes e damas assam#
ro%a%elmente# or um rocesso de isolamento na comunidade' As
rec$rias condiç+es econmicas de um gruo se re*letem# or ePemlo# na
terceira arte da "rincadeira !uando se o"ser%a !ue &$ aenas a
*igura do
"oi e *altam outros "ic&os de armação# como a
"urrin&a# or ePemlo – e !uando isso acontece se o"ser%a a
ouca !uantidade de m(sicas na terceira arte da
"rincadeira'
;m "om n%el de estruturação em todas as artes da "rincadeira est$
diretamente relacionado ao grau de transmissão de conte(dos da
"rincadeira# rincialmente os musicais – as artes se aresentam com
mel&or o"eti%idade !uando os m(sicos e cantores de um conunto
con&ecem todas as m(sicas e suas *ormas de canto e
contracanto'
Referências bibliográficas
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IV ENABET – Encontro Nacional da Associação Brasileira de
Etnomusicologia Maceió - 2008
______# Cuis da .)mara' "icion$rio do folclore
brasileiro' Kio de aneiro Ediouro# =>>8'
D;KDEC# <e*ilo' A%) do boi calemba' o "oi otiguar'
Natal# =>8=' ?U*' Monogra*ia 7<eartamento de Artes –
;KN'
CIMA# Agostin&o' A brincadeira do cavalo-marinho na
*ara+ba' :al%ador# 2008' 8>H *' Tese 7<outorado em M(sica –
Etnomusicologia – @rograma de @ós-Draduação em M(sica' Escola de
M(sica5;BA'
M6KEN6# osane .' :antos' ersos e espet$culo do cavalo-marinho de
$rea .ova' oão @essoa# =>>8' >8*' <issertação 7Mestrado
em Cetras – ;@B'
Entrevistas
ME:TKE 6[6 <6 B6I' oão Antonio do Nascimento @ereira'
Entre%istado elo autor em == de a"ril# oão @essoa 7@ara"a' Dra%ação
em M<' 200G'
ME:TKE OEY;INLA' os3 rancisco Mendes' Entre%istado elo autor em H
de agosto# Ba1euP 7@ara"a'
Dra%ação em M<' 200G'
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IV ENABET – Encontro Nacional da Associação Brasileira de
Etnomusicologia Maceió - 2008
Performance e transmissão musical na arca Santa !aria
Ale/andre Milne-0ones .$der
Resumo
A Barca# tam"3m con&ecida como Nau .atarineta# entre outras
denominaç+es# 3 uma mani*estação cultural encontrada em di%ersos
contePtos socioculturais do as' A er*ormance desses gruos inter-
relaciona m(sica# dança# encenação# entre outros elementos# !ue
*a,em dessa ePressão cultural um rico# di%ersi*icado e comlePo
*enmeno social' .onsiderando a ri!ue,a e a di%ersidade desses gruos
no as# este tra"al&o tem como *oco esec*ico a Barca :anta
Maria# da cidade de oão @essoa# contemlando# eseci*icamente# as
dimens+es *undamentais !ue caracteri,am o *enmeno musical desse
contePto' Este tra"al&o tem# então# como o"eti%o aresentar as
rinciais caractersticas !ue constituem a er*ormance a"arcando#
so"retudo# as dimens+es singulares !ue constituem a identidade
musical do Druo' 6 estudo 3 alicerçado or uma es!uisa !ue te%e como
"ase *undamentos eist4micos e metodológicos da $rea de
etnomusicologia' 6 rocesso de an$lise dos dados a"rangeu
*erramentas como a constituição de um re*erencial teórico
consistente# transcriç+es tePtuais e musicais# e descrição analtica
dos rinciais asectos !ue con*iguram a er*ormance e a transmissão
musical da Barca :anta Maria' .om "ase nesse estudo# *oi oss%el
concluir !ue# no concerne
er*ormance musical# esta mani*estação 3 um *enmeno altamente
comlePo !ue se caracteri,a de *orma indissoci$%el dos demais
asectos culturais !ue constituem o uni%erso da Barca :anta Maria' 6
*a,er musical 3# então# resultado da união entre asectos
est3tico-estruturais singulares – constitudos a
artir da inter-relação entre a comosição do reertório# a
articulação da m(sica com dança# a 4n*ase tem$tico-musical# a
estruturação &armnica# melódica e rtmica – com os demais
*atores !ue
articulari,am o uni%erso social do gruo'
Palavras-chave: transmissão# m(sica# cultura-oular
Abstract T&e Barca# also /non as Nau .atarineta# among
ot&er denominations# is a cultural e%ent *ound in %arious
sociocultural contePts o* t&e countr1' T&e er*ormance o*
t&ese grous inter-related music# dance# staging# among
ot&er elements# &ic& are a cultural ePression o*
t&is ric&# di%erse and comleP social &enomenon'
.onsidering t&e ealt& and di%ersit1 o* t&ese grous in
t&e countr1# t&is or/ *ocuses on t&e seci*ic Barca
:anta Maria# t&e cit1 o* oao @essoa# including# seci*icall1#
t&e /e1 dimensions t&at c&aracteri,e t&e
&enomenon o* t&e musical contePt' T&is or/ &as#
t&en# as o"ecti%e to resent t&e /e1 *eatures t&at are
co%ering t&e er*ormance# eseciall1 t&e natural dimensions
t&at are t&e musical identit1 o* t&e Drou' T&e
stud1 is "ased on a sur%e1 t&at as "ased on met&odological
grounds and eistemic t&e *ield o* et&nomusicolog1' T&e
rocess o* anal1sing t&e data co%ered tools suc& as t&e
esta"lis&ment o* a t&eoretical re*erence consistent#
tePtual and musical transcritions# and anal1tical descrition o*
t&e main asects t&at ma/e u t&e musical
er*ormance
and transmission o* Barca :anta Maria' Based on t&is stud1# it
as ossi"le to conclude t&at in termso* musical er*ormance#
t&is demonstration is a &ig&l1 comleP &enomenon
&ic& is c&aracteri,ed in an inseara"le manner o*
ot&er cultural asects t&at ma/e u t&e uni%erse o* Barca
:anta Maria' T&e music is done# t&en t&e result o*
union "eteen aest&etic asects-structural natural - made *rom
t&e inter-relations&i "eteen t&e comosition o* t&e
register# t&e articulation o* music it& dance# t&e
em&asis t&ematic and musical# structuring &armonic#
melodic and r&1t&mic - it& t&e ot&er *actors
t&at articularise t&e uni%erse`s social grou'
Keywords transmission# music# oular culture
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" manifestação e abordagens utili#adas na $es%uisa
Entre a di%ersidade de mani*estaç+es do Nordeste destaco neste
tra"al&o a ePressão cultural e musical da Barca# tam"3m
con&ecida elos nomes de Nau .atarineta# .&egança de Maruos#
etc' Essa mani*estação tem como assunto central do seu enredo as
guerras e os *eitos n$uticos !ue são ePressos em
suas encenaç+es# danças e m(sicas' <essa *orma# as er*ormances
desses gruos congregam toda dimensãosim"ólica !ue os caracteri,am#
sendo construdas a artir de cantos# danças e artes dramati,adas#
elementos !ue# inter-relacionados# +em em cena eisódios das
na%egaç+es do s3culo VI# cele"rando as a%enturas martimas de
@ortugal' 6s gruos dessa nature,a ePistentes no Nordeste# mesmo
ossuindo caractersticas comuns ao uni%erso da mani*estação#
aresentam di%ersos asectos com articularidades signi*icati%as !ue
são constitudas de acordo com a realidade de cada região'
.omreendendo a imort)ncia da Barca como signi*icati%a ePressão da
cultura oular "rasileira# mais eseci*icadamente no estado da
@ara"a# e do ael !ue a m(sica ocua na con*iguração da mani*estação#
reali,ei um tra"al&o de es!uisa etnomusicológica# contemlando#
eseci*icamente# a realidade musical e cultural da Barca :anta
MariaF da cidade de oão @essoa# organi,ada or os3 de .ar%al&o
Kamos# tam"3m con&ecido or mestre <eda'
6 tra"al&o *oi conce"ido a artir da ótica de !ue a
caracteri,ação da er*ormance 3 de *undamental
rele%)ncia ara !ue se ossa le%antar in*er4ncias so"re os elementos
musicais resentes na mani*estação' @ara tal tare*a *aço uso da
ersecti%a etnomusicologica !ue considera o *enmeno musical como uma
ePressão cultural inter-relacionada aos costumes e %alores do
contePto do !ual *a, arte'
<esde o ano de 200?# %en&o in%estigando sistematicamente o
*enmeno musical da Barca :anta Maria' Inicialmente os estudos *oram
reali,ados ara uma es!uisa de nature,a sociológica# !ue ti%e a
oortunidade de tra"al&ar como "olsista do @rograma
Institucional de Bolsas de Iniciação .ient*ica 7@IBI. da ;@B5.N@!
nos anos de 200? e 200U' A artir de 200G at3 2008# durante o curso
de mestrado# me dedi!uei mais diretamente aos estudos musicais do
*enmeno# considerando toda a ePeri4ncia !ue ude ad!uirir ao longo
de !uatro anos de in%estigação nesse contePto'
A es!uisa tem como "ase uma amla a"ordagem metodológica !ue
contemlou es!uisa "i"liogr$*ica# o"ser%ação articiante#
reali,ação de entre%istas# gra%ação de aresentaç+es e ensaios em
$udio e em %deo# entre outros instrumentos de coleta e an$lise de
dados *undamentais ara a comreensão da ePressão musical estudada'
Al3m de articiar diretamente dos ensaios e aresentaç+es# atuei#
desde o incio da es!uisa# como "rincante= da mani*estação#
*ato !ue ermitiu %i%enciar e comreender caractersticas articulares
da r$tica musical no Druo'
Entendendo a m(sica como uma ePressão cultural !ue agrega %alores e
signi*icados das essoas !ue a %i%enciam e a rodu,em# este
tra"al&o tem or o"eti%o aresentar alguns asectos resentes
nas
er*ormances da Barca :anta Maria !ue são *undamentais ara a
de*inição da identidade do gruo'
" $erformance musical
A m(sica como resultado de um rocesso din)mico# estruturado or
conceitos culturais comartil&ados em um determinado gruo#
aresenta caractersticas identit$rias do meio onde 3 rodu,ida e
%i%enciada' <essa *orma# entendemos !ue o *enmeno musical re(ne
em sua er*ormance uma s3rie de elementos !ue t4m os seus
signi*icados e caractersticas de*inidos elo contePto sociocultural
de cada mani*estação' Ce%ando em consideração estes asectos# o
termo er*ormance# a!ui utili,ado# designa uma
r$tica cultural constituda or um conunto de elementos
sim"ólicos e estruturais !ue dão sentido e *orma a sua
ePist4ncia'
@ara Victor Turner 7=>88# a er*ormance comunica di*erentes
signi*icados# incororando articularidades do contePto em !ue
3 reali,ada# e se ad3!ua s con%enç+es sociais e culturais mais
amlas' :egundo o autor# a caracteri,ação da er*ormance esta"elece
*ormas di*erenciadas de ePressão !ue ser%em aos *ins conce"idos
elos seus articiantes e ao seu sistema cultural'
Assim# a m(sica nessa r$tica de%e ser entendida como um sistema de
sons organi,ados# rodu,idos a artir de regras
r3-esta"elecidas !ue recisam ser reseitadas ara sua aceitação no
gruo'
<urante as er*ormances# a m(sica *a, arte de um comlePo sistema
de desen%ol%imento !ue a"rangecoro# mente e relaç+es sociais' @ara
comreender o *enmeno musical# de *orma contePtuali,ada com
1 Neste caso brincante tem o mesmo sentido que
integrante.
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signi*icados e %alores !ue o caracteri,am# 3 necess$rio analisar#
entre %$rios asectos# como ele 3 entendido e conce"ido or arte das
essoas !ue o rodu,em'
" estruturação dramático-musical e a configuração das &ornadas
da arca
As m(sicas ePecutadas durante a er*ormance do gruo en%ol%em canto#
to!ue# dança e dramati,ação# dando *orma ao *enmeno musical da
"rincadeira' @ara comreender as ornadas2 3 reciso considerar o
conunto de elementos musicais !ue a caracteri,am como a *orma de
utili,ação dos instrumentos9 as com"inaç+es dos adr+es rtmicos#
melódicos e &armnicos9 as %ariaç+es coreogr$*icas9 e a
organi,ação do reertório# das letras# dos cantos e das
melodias'
A mani*estação segundo mestre ode ser di%idida em cinco artes !ue
odemos comreender como um n(cleo dram$tico comlePo# entorno de um
eisódio central – !ue tanto ode ter car$ter narrati%o como
actancial – em !ue agem os di%ersos ersonagens do drama# com"inando
ação *sica e *alas cantadas e declamadas# dança# al3m dos %ersos#
!ue identi*icam cada um dos ersonagensF 7KAM6:# 200?# ' 22'
As
artes !ue com+e a totalidade da er*ormance a A"ertura# a
ortale,a# o Daeiro# a .omida e as <esedidas' .ada uma dessas
artes 3 organi,ada de acordo com o car$ter ou temo dison%eis ara a
aresentação'
.omo destacado or <iógenes Maciel# so"re o uso de di*erentes
esaços ara reali,ação das artes teatrali,adas# R'''S a ação
dram$tica imlica em m(ltilos esaços# transostos ara a encenação
como cen$rios desde a rória nau# assando ela ortale,a# e
c&egando Cis"oaF 7c*' KAM6:# 200U#' 22' .omo a*irma Mario de
Andrade# so"re esta !uestão
R'''S 6 !ue &$ de mais caracterstico nas danças dram$ticas como
cen$rio 3 o uso imemorial do rocesso de aglomeração de lugares
distintos# !ue o teatro erudito euroeu a "em di,er ignora
atualmente# mas 3 emregado no teatro indiano e no c&in4s' 6
ta"lado# a *rente da casa# en*im a arena em !ue dançam a arte
dram$tica# 3 suosta reresentar este e a!uele lugar
indi*erentemente# e s %e,es dois lugares distintos ao mesmo temo'
Nas c&eganças# ora estamos no tom"adil&o da nau# ora numa
raia sel%agem' E na cena do rato da :aloia estamos simultaneamente
*ora da "arra e na *ortale,a de <iu# com um esaço de mar
imagin$%el entre o na%io e a *ortale,a' Mais curioso ainda 3 as
cenas !ue se su+e assadas no tom"adil&o# se reali,arem muitas
%e,es no c&ão ao lado da nau 7AN<KA<E# 2002# ' 82'
6u sea# as cenas !ue com+e essa dança dram$tica# são "aseadas numa
construção rasódicaH em torno da :ute' Elas imlicam num uso
e*ica, das con%enç+es amlamente utili,adas elo teatro *ormal -
a!uele das salas de eset$culo - como integração entre o dançante e
o ersonagem !ue ele reresenta# at3 o uso de recursos mais sutis
!ue# or meio do discurso direto e# rincialmente# na imitação de
gestos e %o, e relação entre tePto-cena# al3m da identi*icação do
("lico com a mat3ria reresentada# odem trans*ormar a *rente da casa
ou da igrea em esaços estrangeiros como o orto de Cis"oa ou a
ortale,a' @odem ainda nos *a,er crer !ue a ação !ue %emos
reresentada no c&ão se assa no tom"adil&o de uma nau em
meio ao mar
re%olto'
' re$ert(rio
Mestre <eda semre a*irma !ue a "rincadeira da Nau .atarineta
nunca 3 reali,ada na ntegra# ois ara sua er*ormance comleta
seriam necess$rios um dia e meio de aresentação' Cogo# todo ritual
resulta de uma seleção de ornadas e artes teatrali,adas !ue são
escol&idas elo mestre de acordo com o con%ite# integrantes
dison%eis e o temo dado' .omo não 3 oss%el reali,ar# em uma (nica
aresentação# todas as
2 Jornada na concepção do mestre Deda, mestre da Barca Santa
Maria, são as músicas executadas pelos tripulantes com
o acompanhamento da orquestra, é a este sentido que estou me
referindo. No livro Chegança de Marujo, Oneyda
Alvarenga faz referência ao termo e nos diz que, “a Chegança de
Marujos costuma ter a sua parte dramática dividida em vários
episódios, habitualmente ditos jornadas. [...] Equivale mais ou
menos a ato” (1955, p. 11)
3 Neste caso, o sentido da palavra está se referindo a
construções musicais que se utilizam de cantos tradicionais
ou
populares.
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artes da er*ormance# cada %e, !ue a Barca se aresenta 3
oss%el encontrar no%idades# tendo em %ista !ue o Mestre ota# muitas
%e,es# or utili,ar m(sicas !ue não esti%eram resentes em r$ticas
anteriores'
Algumas das ornadas - cada uma das canç+es !ue# unto com a dança
indi%idual ou mo%imentos em conunto ou e%oluç+es dos cord+es#
com+em as unidades mnimas deste todo – semre estarão
resentes# tendo em %ista !ue ocuam lugar *undamental na
con*iguração er*orm$tica do Druo' Essas ornadas geralmente
são a!uelas !ue irão aarecer na A"erturaF e <esedidasF' 6utras
são utili,adas de acordo a realidade e a estrutura do gruo ara cada
aresentação' .omo a*irma Maciel# como "ase na o"ser%ação !ue
reali,ou dos ensaios# R'''S medida !ue se esta"elecia o gruo de
articiantes# aareciam mais ornadas# !ue# segundo mestre <eda#
constituem as artes 7KAM6:# 200U# ' 2='
.om "ase nos registros reali,ados em =>H8# ela missão de
es!uisas *olclóricas# 6ne1da Al%arenga caracteri,a as ornadas
reali,adas da Barca como sendo um tio de
m(sica ePressi%a# de car$ter acentuadamente teatral# discreando
%iolentamente da m(sica *olclórica# !ue em geral# triston&a ou
alegre# não se re*ere sicologicamente aos tePtos !ue acoman&a'
R'''S Não 3 oss%el decidir se tais m(sicas de car$ter sicológico
*oram então introdu,idas nos "ailados ou oulari,adas' Loe elas são
er*eitamente oulares e tradicionais# não &$ documento algum !ue
l&es indi!ue os autores ossi%elmente ur"anos e
semi-cultos 7ACVAKENDA# =>UU# ' =0' 6 car$ter acentuadamente
teatral de%e ter sido atri"udo or 6ne1da Al%arenga de%ido
*orma
narrati%a da ornada en!uanto ocorre a reresentação dos *atos# "em
como# di%isão do reertório !ue acoman&a a sistemati,ação das
artes reresentadas' <essa *orma o reertório 3 di%idido em cinco
grandes categorias# sendo !ue cada m(sica *ar$ arte de uma delas#
ertencendo A"ertura# ou arte do Daeiro# ou da ortale,a# ou da
.omida# ou da <esedida' No caso esec*ico da Barca :anta Maria#
temos ainda# algumas ornadas !ue# como a*irma o mestre# *oram
colocadas ara comletar a &istóriaF' Essas ornadas não estão
diretamente relacionadas ao enredo da mani*estação# mas são
ePecutadas ara di%ertimento do
("lico' .omo ePemlo# deste conunto# ode ser citada a ornada
Ando roto es*arraadoF' 6s temas !ue caracteri,am as m(sicas
a"rangem di*erentes asectos# demonstrando a
comlePidade do uni%erso cultural da mani*estação' 6s temas das
letras são determinantes ara !ue uma
m(sica sea identi*icada como ertencente determinada arte do enredo'
<e maneira geral# as letrasretratam os di*erentes assuntos do
uni%erso da mani*estação e dos seus articiantes' As letras são
estruturadas de *orma direta# en*ati,ando claramente os
acontecimentos e situaç+es
!ue retratam' @or ePemlo# na m(sica Toca# toca a tra"al&arF a
letra en*ati,a toca# toca a tra"al&ar# tra"al&ar meus
marin&eiros# ois o &omem !ue não tra"al&a# não ode
gan&ar din&eiroF' A letra# sem o uso de met$*ora ou outras
*iguras de linguagem comlePas# a*irma# de maneira colo!uial# o !ue
tem !ue ePressar# tendo sua "ase sint$tica e sem)ntica estruturada
de *orma simles e direta'
Ao con%ersar com outros mestres de Barca na @ara"a ude erce"er !ue
o sentido resente nas letras das ornadas %aria de acordo com cada
organi,ador' 6u sea# o sentido de cada ePressão deender$ da
essoa !ue a ePressa' @or ePemlo# na Barca :anta Maria a
ornada <amos de marc&aF 3 utili,ada ara aresentar o gruo' Na
Barca do seu Manuel .intura# !ue reali,a seus ensaios no municio de
Ba1euP e !ue tam"3m *oi disculo do mestre .cero# a mesma ornada 3
denominada de Vamos de marc&aF# 3 tocada no
*inal da aresentação# tendo em %ista !ue# ara o mestre Manuel# a
letra dessa m(sica remete a arte da<esedida' Entendendo !ue as
*ormas de ePressão se relacionam com %$rios asectos ertencentes
cultura#
odemos a*irmar !ue ara comreensão da relação entre ala%ra e
m(sica nos gruos de Barca# 3 necess$ria a inclusão da erceção do
sens%el# da ePressão cororal carregada de tradiç+es# e de toda a
gama de signi*icados sim"ólicos !ue en%ol%em uma determinada
ePressão' Trata-se# na %erdade# de di%ersas linguagens
inter-relacionadas# !ue t4m a mesma imort)ncia# em"ora muitas %e,es
se atri"ua a rima,ia
ala%ra'
' canto
6 canto reali,ado elos gruos de Nau .atarineta# resentes na grande
oão @essoa# ossuem umaestrutura adrão# caracteri,ada elo solo do
mestre# resons$%el ela escol&a da m(sica a ser ePecutada# e
ela resosta dos marin&eiros# !ue o"edece a estrutura
articular de cada ornada' Não ePiste um adrão est3tico-%ocal
de*inido ara o canto# ou sea# cada integrante utili,a a sua %o, de
*orma articular# não sendo
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ePigido !ual!uer tio de imostação ou outro recurso dessa nature,a'
6 mestre# !uando erguntado se segue alguma re*er4ncia ara cantar#
en*ati,a !ue aenas rocura utili,ar um tom "aiPoF ara *acilitar o
canto or
arte das mul&eres' 6u sea# ele canta numa altura mais
gra%e# ara a %o, masculina# ara !ue as mul&eres ossam
cantar con*orta%elmente# sem ter !ue c&egar a regi+es muito
agudas' 6 !ue 3 ePigido elo Mestre# em relação ao ato de cantar# 3
!ue &aa a articiação de todos na resosta ao canto uPado elo
mestre'
<urante as transcriç+es# ude erce"er !ue não &$ uma
caracteri,ação de su"di%is+es sistem$ticas de %o,es no coro# ou
sea# não &$ uma consci4ncia em cantar uma %o, !ue se di*erencie
da altura das demais# como# or ePemlo# em inter%alos de H e5ou U'
EPiste# sim# uma di*erenciação !ue 3 determinada ela
ossi"ilidade# no !ue se re*ere ePtensão %ocal# de cada
integrante' <urante o temo !ue con%i%i com o Druo erce"i !ue não
ePiste# or arte do Mestre# uma co"rança regular no adrão de
a*inação do coro' Toda%ia# as gra%aç+es e%idenciam !ue !uando o
canto 3 coleti%o os integrantes tendem a cantar em unssono# sendo
!ue as oucas %ariaç+es ePistentes não descaracteri,am o adrão tonal
de a*inação da m(sica'
6 canto 3 estruturado *undamentalmente segundo !uatro adr+es de
%ariação# con*orme a descrição a seguir
=' 6 mestre e o coro cantam aenas uma (nica estro*e !ue 3
reetida ao longo de toda a m(sica'
2' 6 mestre canta estro*es distintas# !ue %ão %ariando ao
longo da m(sica# e o coro canta umaresosta *iPa# !ue %ai sendo
reetida aós cada uma das estro*es cantadas elo mestre' A ornada
Toca# toca a tra"al&arF ePemli*ica essa *orma de estruturação
do canto'
H' 6 mestre %aria as estro*es cantadas ao longo da m(sica e o coro#
aós cada uma delas# reete a mesma letra cantada elo mestre' Esses
cantos ePigem maior atenção or arte dos
"rincantes de%ido %ariação !ue o mestre *a, na ordem e na
utili,ação dos %ersos cantados' ?' 6utra estrutura reali,ada 3 a
%ariação do solo' Assim# seguindo as duas sistemati,aç+es
ePemli*icadas acima# o mestre di%ide os solos com outros ersonagens
numa *orma de di$logo reali,ado durante o desen%ol%imento da
ornada' Isso ode ser e%idenciado na ornada <esta Nau
.atarinetaF# na !ual o mestre e o gaeiro dialogam'
J imortante destacar !ue a *orma de estruturação do canto 3 sem
d(%ida um elemento *undamental ara construção identit$ria do Druo'
Tal *ato de ser %eri*icado a artir da o"ser%ação de
di*erentes gruos !ue reali,am a mani*estação' 6 !ue *icou e%idente
3 !ue cada uma deles aresentacaractersticas singulares na de*inição
e estruturação do seu eitoF de cantar'
' acom$anhamento musical
6 acoman&amento musical das ornadas 3 reali,ado or um gruo de
tocadores ? ePterno aos dançantes# !ue constituem a
or!uestraF' 6utras mani*estaç+es da cultura oular do as# !ue t4m a
dança como imortante re*erencial# utili,am essa estrutura# em !ue o
gruo de m(sicos !ue reali,a o acoman&amento# ou a arte musical
como um todo# 3 ePterno aos dançantes# ou "rincantes etc'# !ue
constituem a "rincadeira'
Na Barca# a or!uestra *undamentalmente acoman&a os
cantos# mas 3# tam"3m# resons$%el or
reali,ar alguns e*eitos sonoros como ePlos+es# tiros de can&ão#
temestades etc'# resentes na er*ormanceda mani*estação' A or!uestra
*oi inicialmente *ormada or ca%a!uin&o# caiPa e andeiro# sendo#
osteriormente# durante os ensaios# integrado o %iolão' @or
ter mais de um instrumento &armnico# 3 necess$rio !ue sea
reali,ada uma a*inação acurada !ue# muitas %e,es# mesmo estando
*ora do diaasão# est$
adroni,ada entre os instrumentos resons$%eis ela
&armonia' Em"ora não ten&am a m(sica como sua rincial
*onte de renda# os m(sicos da or!uestra semre t4m a ePectati%a de
rece"er algum din&eiro or sua atuação' Algumas %e,es# !uando os
m(sicos não articiam do ensaio# utili,a-se um .< como
re*erencial ara a reali,ação da er*ormance'
4 Termo utilizado pelo mestre para designar os interpretes de
cada instrumento.
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" est)tica musical e suas inter-relações com as dimensões mais
am$las do conte*to sociocultural da manifestação
<a mesma *orma !ue a @ara"a# mas de maneira mais esec*ica# a
cidade de oão @essoa a"arca grande di%ersidade musical# ossuindo em
seu contePto ur"ano gruos como ca%alo-marin&o# "oi de
reis#
coco de roda e ciranda# entre outros' A cidade conta com gruos e
ePress+es !ue estão em constantedi$logo# esta"elecendo#
recirocamente# in*lu4ncias !ue se inter-relacionam nos di*erentes
costumes# signi*icados e asectos est3ticos !ue caracteri,am a
m(sica de cada mani*estação inserida nesse contePto'
:endo in*luenciada elo uni%erso cultural do estado e da cidade# e
ao mesmo temo in*luenciadora dessa realidade# a Barca :anta Maria
se insere ainda num contePto articular altamente rico e
di%ersi*icado# o
"airro de Mandacaru# !ue merece ser comentado arte'
<i%ersas mani*estaç+es musicais reali,am seus ensaios em
Mandacaru# al3m de muitos dos
integrantes dos gruos residirem l$' <as ePress+es culturais
ePistentes no "airro odemos citar dois gruos de coco de roda# uma
lain&a# duas tri"os indgenas carna%alescas# %$rias
!uadril&as# a Barca :anta Maria# entre outros'
As mani*estaç+es !ue t4m sua sede e reali,am seus ensaios nos
"airros comartil&am uma s3rie de elementos !ue são e%idenciados
nas suas er*ormances' Essas semel&anças ocorrem nas di*erentes
ati%idades
rincialmente or di%idirem# or %e,es# os mesmos dançantes#
organi,adores e contePto de rodução' L$ tam"3m# no caso esec*ico da
Barca# a incororação de costumes e asectos caractersticos do "airro
!ue# musical ou ePtramusicalmente# aca"am de*inindo elementos
identit$rios da er*ormance do Druo'
<urante o erodo de es!uisa de camo# ao entre%istar essoas mais
antigas do "airro com o intuito de "uscar in*ormaç+es so"re a
consolidação das mani*estaç+es nesse contePto# muitos relaciona%am
as ati%idades oulares ao seu cotidiano# contando &istórias dos
seus articiantes ou relatando os locais onde ocorriam as
aresentaç+es' @ara ilustrar uma dessas situaç+es# odemos citar a
*ala de oão Na"or# morador do "airro &$ trinta anos# !ue
comentando so"re os locais em !ue ocorriam as aresentaç+es dos
gruos a*irma
R'''S Não# era a!ui em"aiPo na lin&a do trem' Não tem a estação
ali# só !ue mais atr$s' Eu não me lem"ro muito não# mas toda
!uarta''' agora eu não t lem"rado se 3 !uarta ou s$"ado R'''S
era todo mundo ali assistindo' 6 essoal !ue mora%a ra l$ da
lin&a do trem !uando %olta%a ra casa da%a uma
aradin&a ali# or!ue o ensaio unta%a muita gente''' tin&a
tam"3m essas "arra!uin&as'R'''S a aca"a%a tarde' unta%a
era genteb 7Na"or# 200?'
Al3m de resente na memória dos moradores do "airro a relação da
Barca :anta Maria com o contePto 3 ePressa ela troca de elementos
sim"ólicos e materiais !ue %ão assando de um gruo ara o outro#
tanto de gruos ertencentes mesma região# !uanto de gruos de outras
localidades' Essa din)mica
or sua %e, não 3 algo reali,ado de *orma inconsciente# mas
ensado e adatado nas di*erentes mani*estaç+es ara !ue
elementos semel&antes resondam aos distintos conuntos de
%alores' @ude e%idenciar um ePemlo deste tio de atitude !uando unto
ao mestre <eda assistimos aresentação de uma Cain&a no
.entro de .aacitação de Mandacaru' Ao %er o alco decorado com lu,es
coloridas 7a!uelas !ue normalmente utili,amos em ar%ores de natal
ele me *alou
T$ %endo as lu,es acendendo e aagando' A!uilo t$ c&amando a
atenção do essoal' :e eu ogar no gruo só d$ ra ser na Barca
Rre*erindo-se a miniatura da em"arcação colocada no local da
aresentaçãoS %ai d$ outra %ida' REu erguntei mas não tem ro"lema
ser coloridaZ ele reondeS Não essas lu,es iscando %ai dar 3
desta!ue ao gruo' 7<eda5200H'
No !ue tange a estruturação das ares