5/24/2018 A Descendencia Do Orisa
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A DESCENDNCIA DO RS
E SUA SOBREVIVNCIA NA INICIAO NO BATUQUE DO RS
Rudinei Borba& Erick Wolff
Pesquisadores independentes eAutodidatas
Novembro / 2012
RESUMO
O propsito deste texto analisarmos a descendncia do rs, e sua
sobrevivncia no rito de iniciao do Batuque do R.S., mostrando a possibilidade de tais
ritos terem sido fundados por descendentes reais da linhagem dos rs, utilizando
como base para o estudo as informaes fornecidas pelo bblwo Chief Aikulola
Fawehinmi, sacerdote reconhecido no culto tradicionalyorb, tanto em Osogboquanto
em y.
PALAVRAS CHAVES: rs, ancestralidade africana, religies africanas, religies
afro-brasileiras, Batuque.
ABSTRACT
The purpose of this paper is to analyze the progeny of Orisha, and their survival
in the initiation rite of Batuque R.S., showing the possibility of such rites have been
founded for descendants of royal lineage of Orisha, using as a basis for studying the
information provided by Babalaw Aikulola Chief Fawehinmi, priest recognized in
traditional Yoruba worship, both in Osogbo as in Oyo.
KEYWORDS: orisha, african ancestry, african religions, african-brazilian religions,batuque.
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A descendncia do rse sua sobrevivncia na Iniciao no Batuque do RSRudinei Borba & Erick Wolff
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INTRODUO
Dentro da cultura tradicional yorb no aculturada existe a crena onde a
reencarnao est presente dentro do mesmo mbito familiar e que a forma que
diferencia uma reencarnao de um personagem importante no culto e descendncia do
rs(ran-rs, ran-s) se d apenas pelo fato do mesmo ter ou no sangue real,
ou seja, descender de uma linhagem nobre da famlia real de um rei yorb. Este fato
no muito difcil de entendermos, partindo do entendimento de um sistema
monrquico onde impera o rei e ou a rainha e que vem sido cultuado pelos povos
yorb atravs dos sculos, tendo sua origem atravs de Odduw, o progenitor danaoyorb.
Segundo Abmbl (1997, pg. 69) para um rs receber seu status como
divindade, eles tiveram que vir ao mundo em forma humana para aps completar
sua etapa terrestre, ser lembrado como personagens importantes dentro da cultura
religiosa yorb (a traduo nossa).
Atravs da fala de Abmbl, pensamos que, aps a morte de um personagem
importanteyorb, que no tem sangue real, ele passa integrar o culto Egngn, culto
aos ancestrais, e poder atravs dos sculos se tornar um caminho de rs, pois tem
sangue real e descendem diretamente de uma linhagem que liga um ancestral Real
direto, como nos casos de Sng em y, Obatl emIf, ss emKtu, etc.
Podemos citar outro exemplo: no culto de sun, no se rende homenagem
apenas ao rio que leva seu nome, em Osogbo, mas a mulher que um dia, transformou-se
em rs devido a sua importncia na sociedade da qual vivia. Cultuar Sng no se
resume apenas em invocar e venerar o raio ou o trovo, e sim em honr-lo pelo homem
que fora, capaz de empregar esses recursos naturais, por ter sido o grande lfin de
ye um grande monarca que lembrado at os dias de hoje.
A associao de alguns rscom elementos da natureza, no porque o crente
venere essa energia, mas antes, a memria deles enquanto homens que viveram no ay
(terra) em tempos remotos. O fato de um yorbolhar um raio e saudar o imortal rei
Sng, faz apenas com que nunca se esquea do mesmo.
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Abmbl (1997, pg. 69) tambm relata que aps a morte dos Oba (reis)
yorb, eles passam da etapa de gn para rs, [...] nem todos os reis so
recordados, mas teoricamente tiveram oportunidade de transformar-se em um rs e
de serem lembrados pelos seus atos[...] nos dias atuais existem pessoas canonizadas
que se converteram em rs em Il-If. Assim ocorreu comSng, Aganj, Kori,
Oya, etc., como veremos adiante.
Entendemos que dever de um rei (Oba) tentar ficar conhecido aps seu
desempenho positivo em seu reinado.Acreditamos que assim ocorrer com o atual Oni
de Il-If, a excelncia Oba Okunad Sijuwdi, que o descendente direto de
Odduwna terra.Novamente Abmbla1(1971, pg. 03-04) nos fornece claramente essa noo de
rse gn, como segue:
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1. Wnd Abimbl recebeu da maioria dosBblwo o ttulo wse gbiy Porta voz mundial daculturayorbno mundo.
2. So os Ajogun: f Prejuzos, gb Paralisia, j Problemas, p Maldio, wn Priso,se qualquer outro malefcio que possa afetar os seres humanos,entre outras energias malficas.(Nota dos autores)
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4
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A DESCENDNCIALendo Abmbl compreendemos o papel importante de um ancestral para sua
famlia religiosa, bem como, na forma cultuada dos mesmos, presente junto ao culto dos
rs, ajudando os homens e os conduzindo, dando assistncias nas suas vidas no
mundo visvel e que nos d o entendimento de um gnimportante possa vir a ser uma
divindade para seu povo. Percebemos tambm que o mesmo menciona a vinda dos
rs na terra, como tambm acreditamos ao escrever este ensaio. Talvez seja pelo
costume buscar-se na natureza a pedra de assentamento (ota) que o afrodescendenteacredita que o rsseja apenas uma energia da natureza.
Marins (2010, p. 66) nos mostra um antigo costumeyorbchamadoDidotaque
era feito para eternizar em pedra uma pessoa poderosa:
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A partir desse antigo costume de imortalizar um personagem importante atravs
de uma pedra, acreditamos ter originado o culto atravs do otacomo assentamento da
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divindade, mas no o caracteriza como sendo uma energia da natureza apenas, e sim um
ancestral que aps longos anos de vida tornou-se uma pedra.
Chief Aikulola Fawehinmi3
publicou importante texto4
, que ser de sumaimportncia para nosso entendimento sobre a descendncia de rs, como segue:
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" # . %3, %% %3, : (a traduo nossa).
Lendo o relato do Bblwo, ficou evidente a crena na descendncia de rs
dentro da culturayorb, ao relatar que em diferentes momentos de existncia, Obatl
teve algumas de suas descendncias em diferentes lugares e povos. Entendemos tambm
que esse fato fcil de observar, uma vez que os descendentes diretos de Obatl foram
se tornando reis em locais conquistados.Outro bblwo, Ifyem Elbubon (1989, pg. 07) atual Arab de Osogbo
confirma nosso pensamento quando escreve que [...] galinhas brancas so as
oferendas favoritas de Obtl, e dos outros rs que so seus descendentes, como
Ogiyan, rsirowu, rs Oluofin, rs Popo etc. (a traduo nossa)
Da mesma maneira fez Odduw em pocas remotas ao colocar seus
descendentes em locais diferentes como reis yorb, conforme Aulo Barretti descreve
de forma clara e objetiva:
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* 1
* * %3 2&3,
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% * 3
3. Chefe Aikulola Fawehinmi Nathan Lugo um sacerdote de If, Obatl e sacerdote do cultoEgngn, sendo seu mestre, o sacerdote chefe Fakayode Faniyi. Ele o Awo Gbawoniyi de Osogbo,um ttulo de grande prestgio em If. Membro do templo Idinleke If de Osogbo e tambm da
sociedade Obatlde y.4. Disponvel em:< www.gbawoniyi.com>
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Para entendermos melhor esse assunto de reencarnaes, temos primeiro ter em
mente que a cultura yorb toda baseada na reencarnao e se tem a crena que esse
fato ocorre dentro do mesmo mbito familiar, o que difere do pensamento kardecista
atual, onde a reencarnao pode ocorrer em qualquer famlia no mundo. Assim como as
pessoas yorb reencarnam no mesmo mbito familiar, os grandes monarcas tambm
tinham que ter filhos para herdar o trono, e assim ocorreu tambm durante o reinado de
Aganjem y, onde sucedeu o trono de jak, como relata Johnson (1921-1960, pg.
155) a seguir:
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mitologias atravs de geraes, causando at mesmo um desprestgio. Um destes mitos
o que Aganj teria at se casado com sua me Yemoja, desacreditando totalmente a
religio dos rs. importante comentarmos esse fato mesmo no sendo o foco do
nosso trabalho, para que possamos ter um melhor entendimento do tema.
Altair Tgn (in memorian), quando ainda em vida, manteve em seu site6,
relevantes informaes, um deles, o problema de qualidades:
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Percebemos que no somos os primeiros a no concordar com a expresso
qualidades que foram empregadas na nossa cultura para explicar os diversos
caminhos ou descendncias dos rs.
Acreditamos que a palavra caminho seria melhor empregada no tema
proposto, pois ficar mais evidente e de fcil entendimento, pois se traarmos uma linha
na nossa frente, por exemplo, enchergamos o que? Um caminho! Certo? Se pensarmos
em uma linha a frente dos ps do grande imperador Sng, o que veremos? Acreditamos
que vemos suas encarnaes, ou seja, sua descendncia tanto real quanto seus
caminhos de rs, pois ele o progenitor.
Quando falamos em seus caminhos reais, fica evidente que estaramos falandode pessoas ligadas a sua descendncia sanguinea, como caso deAganj, Kori, seguindo
at o atualAlfinde y, que por terem sangue real podero se tornar um rspara
seu povo, podendo ser lembrados com passar dos tempos ou no.
Quando falamos em caminhos de rs muda um pouco, pois estaramos nos
referindo a um gn ancestral que em vida foi iniciado no culto de Sng como
exemplo, e que aps tempos de prestgios poderia vir manifestado em algum iniciado
como caminho de Sng, fato este sendo visvel na tradio no aculturada yorb,
onde so efetuadas roupas para o gn nas cores e emplementos do rs ao qual
ancestral pertencia.
Usando um exemplo prtico da tradio do Batuque, onde temos nomes dos
rs, como segue:
Sng dnbady: se analisarmos a expresso Sng, seria o imperador e rs
que veio ao mundo mostrar seu poder.
dnbady seria o ancestral que foi iniciado no culto de Snge que aps ser
cultuado como gn ganhou a ddiva de poder vir ajudar usando um caminho de
Sng. E assim sucessivamente com os demais rs do culto. Entendemos tambm
que para esse ancestral tornar-se um caminho de seu rs, levaria muitos anos e at
sculos de culto, e que talvez seja por isso que no temos tantos caminhos de algumas
divindades.
Analisando outro exemplo, percebemos que o culto dos rs Funfun dentro doBatuque, cultuado sl como o rs, e a exemplo, bokn e Jbokn seriam
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seus caminhos, ou seja, o culto de bokneJbokndentro do de sl, onde talvez
explicasse o porqu se sacrifica galinhas para slno Batuque, e em alguns casos,
galos para boknna tradio do Candombl. Daria tambm o entendimento de quando
mencionado que o iniciado filho de slbokne no como o prprio rs
bokn, sendo um caminho do mesmo. Aikulola ainda menciona:
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sl e tambm talvez possamos entender os demais nomes dos diferentes caminhos
das demais divindades, como: Bikn, Birn, Lajiki, Biky, Funmilayo, B-Omi, Dey,
Nik, Bmat, Olbomi, Elefn, Odomay, entre tantos outros cultuados no Batuque
Afro-Sul.
Verger (1997, pg. 18) tambm registrou a ancestralidade divinizada do rs,
onde efetuaremos comentrios das partes retiradas de seu trabalho:
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Verger nos faz entender que, ressalvadas as diferenas ritualsticas, existe uma
semelhana filosfica no culto de rse de Egnquando praticados dentro do mesmo
mbito familiar, podendo futuramente ganhar uma expanso de culto ou no, pois
mostraram seu poder quando em suas vidas terrenas. Em outro pargrafo (pg. 19)
informa:
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dela diferenciar-se profundamente de outros segmentos religiosos afrodescendentes.
Assim, faremos um relato resumido das duas iniciaes realizadas dentro do culto, para
que possamos dar sequencia no nosso estudo.
Na iniciao no Batuque no praticado o ato da raspagem dos cabelos do novo
adepto e tambm no pratica o ritual do ads7 realizado por outras religies afro-
brasileiras. O primeiro ato inicitico se resume em lavar a cabea do novio com banho
de folhas8seguido pelo orbibo9ou ebor10.
Pensamos que apesar do iniciado ter passado pelo ritual de ebor, no o faz
iniciado ainda no culto de rs. Para osyorb, a oferenda de um quadrpede ao Or,
no tem nenhuma relao com a iniciao em rs. So ritos completamenteseparados.
Para a segunda parte ritual, ou seja, a iniciao do adepto ao culto do rs, o
sacerdote j fez uma consulta prvia ao orculo dos bzios na presena do mesmo,
sabendo assim, qual o dia apropriado para consagrao das feituras, bem como, quais
sero os rsresponsveis pelo auxlio do cumprimento de seu destino.
No havendo a necessidade de se raspar os cabelos, o corpo marcado com
manteiga vegetal (r) no alto da cabea, e em algumas partes vitais, sobre os quais
sero efetuados os sacrifcios prescritos.
Aps ter a resposta afirmativa de quais os rs que regero sua vida, so
escolhidos na natureza os ota (pedras) que carregam aparncia ou tem alguma
particularidade ligada ao rs, caso seja necessria a sua utilizao, pois nem todos so
cultuados em ota, podendo ser utilizados ou no. Dependendo da raiz religiosa praticada
dentro do Batuque, o rs tambm pode ser feito apenas em uma estatueta, esta
7. Um amalgama de vrios elementos de origem vegetal, mineral e animal que so colocados na cabeado nefito durante a iniciao, sacralizando-o ao rs.
8. Estes banhos podem ser: omir (apaziguador; no batuque feito com folhas cheirosas.), ou omise(composto com vrios tipos de flhas). O sacerdote saber utilizar as folhas adequadas a cada caso.
9. Ato de reverenciar Or atravs de oferendas, seguido de um ritual que composto do sacrifcio dedois pombos, o j deve cair apena na cabea, sem necessidade de colocar quartinha ou qualqueroutro utenslio sagrado.
10. Ato de reverenciar Oratravs de oferendas.Neste momento pode ser montada (ou no) a cremeira, eos bzios que simbolizaro a cabea devem ser colocados sobre a mesma, para receber o j.Algumas casas montam a cremeira com os bzios, mantendo tudo vasilha, no cho, ato totalmentedesprovido de significado, pois se Or tudo que est acima, como poder ser montado no cho?
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conhecida por vulto, e em alguns casos utilizado apenas implementos
confeccionados em ferro, como no caso do rs gn. Em outros lados religiosos
tambm so usados o otana companhia tambm do vulto.
Aps ter a disposio dos objetos de culto do rs, feito uma segunda
consulta oracular para saber qual o caminho dos rsque sero consagrados para o
iniciado, assim sabendo suas particularidades de culto e tambm suas quizilas.
Acreditamos que os caminhos11dos rsem questo, devem ser informados ao novio
no momento dessa consulta e nunca algum tempo depois, como vem ocorrendo
atualmente no quadro do Batuque, entregando-se os nomes dos caminhos dos mesmos
somente quando o religioso passa a sua categoria de sacerdcio.Tendo a posse de todos os materiais que sero utilizados na feitura do rs no
novo adepto, estes objetos recebem do sacerdote um banho purificatrio com as ervas
especficas, em seguida o iniciado preparado para o momento do sacrifcio dos
animais, estando j devidamente limpo atravs de banhos rituais, ebs e etc.
O mesmo colocado sentado no cho de frente para o quarto de santo, tendo em
seu colo a vasilha que contem os materiais pertinentes ao culto do rsem questo,
bem como, sua moringa (quartinha). O sacerdote efetua o ato propiciatrio, deixando
cair o j12sobre os objetos de culto, que esto no colo do adepto, carregando-o at o
alto da cabea do mesmo, sem a necessidade da mesma estar raspada para a ocasio
ritual, nem ter sido utilizado o ads.
Entendemos que o fato do jconsagrar primeiro os objetos que serviro de
culto do rs, e posteriormente levados cabea do adepto, para despertar seu
ancestral mais remoto, o rs em questo, dando assim a explicao que o adepto
seria a descendncia do rs, por estar recebendo esta ligao.
O se do j fixado onde cai primeira gota (sr kn), assim, so os
objetos de adorao que a recebem primeiro, durante o ato de feitura do rs na
pessoa. Este o processo inverso do primeiro ato, o do ebor, onde a cabea que
recebe a primeira gota e posteriormente o objeto de culto, a cremeira13pessoal, trazendo
11. Ver exemplo de caminhos na (pg. 09).12. Sangue.13. Uma manteigueira que contm os elementos que formam o objeto de adorao de Or.
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assim Orpara os objetos de culto. J na segunda parte ritualstica, a do rs, seu se
que levado e consagrado na pessoa. Ao final o iniciado recolhido ao il14por tempo
determinado pela divindade atravs do orculo, permanecendo isolado e deitado no
cho.
Queremos enfatizar que o culto do Batuque em momento algum utilizou otano
assentamento de or, no raspou a cabeae no efetua o ritual de adsno novio do
culto, tal qual tradicionalmente fazem os descendentes de rsna Iorubalandia, como
veremos na fala do Awo Aikulola, na entrevista a seguir:
ENTREVISTA15:
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14. Casa.15. A entrevista completa pode ser verificada na Biblioteca Orixs
pasta geral. Para o propsito deste texto foi
utilizado um resumo.
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Conforme podemos claramente perceber na fala do Awo Aikulola, os
descendentes de rs, por possurem geneticamente o hereditrio pnsagrado em seus
corpos, no tem, segundo o bblwo, a necessidade de rasparem a cabea, nem passar
pelo ritual do ads.
Esta informao do bblwo, conforme coletada pelo entrevistador, motivou-nos a trabalhar neste texto a hiptese de que o Batuque, at mesmo antes do Prncipe
Custdio, tenha sido fundamentado por descendentes reais no registrados
etnograficamente, que naturalmente, ao aplicarem em si mesmos o costume tradicional
de sua terra natal yorb, isto , de no raspar e no usar o ads por serem
descendentes do rs, teria institudos em terras afro-gachas um costume que deveria
pertencer apenas famlia real descendente da divindade, mas que por circunstncias
vrias, estendeu-se a todos, talvez como forma de sobrevivncia.
Em seu site, o bblwo Aikulola reafirma que, para aqueles considerados
descendentes do rs, no h no necessidade de raspar e adoxar:
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Assim, de acordo com o exposto, no podemos descartar essa hiptese doBatuque ter seus fundamentos originados por um ou mais descendentes diretos do
rs, pertencente nobreza tradicionalyorb, como veremos a seguir.
A NOBREZA YORBNA FORMAO DO BATUQUE DO R.S.
Pierre Verger (1985, pg. 153-154), corroborando nossa hiptese, documentou
sobre aNaAgontim17que foi reconhecida pela Unesco por pertencer famlia real do
Dahomey(atual Rep. Pop. do Benin), fundando a Casas das Minas, no Maranho.
Isto abre margem para um estudo nessa direo, de que o Batuque tambm pode
ter sido introduzido no Rio Grande do Sul por membros de famlias reais dos yorb,
que no tinham em suas iniciaes religiosas a necessidade de raspar os cabelos, nem
usar o ads, por serem, como disse Aikulola, descendentes do rs.
Nesse sentido, conforme texto de Eduardo Cezimbra (Pai Tita de Xang) h relatos
da passagem de pessoas vindas da realeza de y18:
@, " %6 "
* 4. 1$ B" 4. %6, 4 .
16. Disponvel em: 17. Verger documentou que a me do Imperador Daomeano Guezoe esposa do ReiAgonglo, foi enviada
porAdandozancomo escrava para So Luis do Maranho no Brasil, antes de seu filho Guezoassumiro trono em 1818. Acreditando que a mesma teria recebido o nome de Andressa, passando a fundar acasa dos Vodnspor cultuar um Vodn que somente era cultuado pela famlia real que permanecia
ainda noDahomey(atual Rep. Pop. do Benin).18. Internet. Disponvel em < http://www.xangosol.com/nacoes.htm>
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Ao analisarmos as partes extradas do texto escrito por Eduardo Cezimbra, nota-
se que tivemos uma sacerdotisa que descendia de uma famlia nobre na frica. O autor
informa que seu nome seria Emlia Fontes de Arajo, a qual teria introduzido os rituais
de raiz yno nosso Estado, e que esta era iniciada no rs Oya, e que o seu caminho
seria Lj19. informado tambm no relato que havia nativos africanos convivendo
juntamente com pessoas desse lado religioso no Batuque.
Pai Carlos de Aganj registra tambm em seu texto intitulado20 Histria do
Batuque / Nao a possvel nobreza de Me Emlia, quando relata que ela era uma
princesa, como segue:
E%6 ` B" 4. %6, O$, 7 9 2$, B"
( 5" B" D7D %3, B" T ? 7 *
%5 C a[ B" B %5 B a[ a[
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Verger, poderiam tambm ter vindo para o Rio Grande do Sul, nativos yorb de
descendncia real, mantendo em solo afro-gacho o culto que aprendera ainda em solo
africano.
Se trabalharmos com a hiptese de Me Emlia de Oya Lj ter descendncia
real africana, os fundadores do Batuque carregariam o pndo rsem seus corpos, tal
como descreve o Bblwo Aikulola, mantendo assim no culto do Batuque um costume
tradicional da realeza iorub. Isto explicaria por que no Batuque, por herana cultural
dos fundamentos religiosos implantados e outorgados pelos descendentes diretos do
rs, o iniciado no tem a necessidade de raspar a cabea, nem utilizar o ads, tal
qual ocorre em outros segmentos religiosos afrodescendentes.
O OTAE OIGB-OR(Cremeira)
Este tema nada tem a ver com o objetivo deste texto, e j recebeu a devida
ateno em outro trabalho, mas como est citado na entrevista, faremos um breve
comentrio. Caso o leitor deseje, poder encontr-lo melhor desenvolvido nos endereos
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que constam na nota de rodap. 22
Conforme a entrevista citada, o entrevistador pergunta ao Bblwo Aikulola
sobre o uso do ota(pedra) no assentamento de or(cabea). A pergunta tem sua razo deser, porque na internet circulam alguns textos falando que o assentamento de Or tem
ota.
O Il-Or ou Igb-Or, chamada no Batuque de cremeira ou manteigueira,
alm de simbolizar a cabea, est indiretamente ligado ancestralidade, que
simbolizada pelo uso, no Batuque, da moringa, elemento constitudo de barro, sempre
cheia de gua. Ela no smbolo da cabea, como pensam alguns, apenas por que tem
forma esfrica. Todo o conjunto da cremeira um elemento transitrio, que deixa deexistir quando seu possuidor volta ao run, diferente de alguns rsque podem ser
herdados e continuarem a ser cultuados mesmo aps o desenlace do iniciado.
De acordo com a fala do bblwo, oIl-Ortradicionalyorbno usa ota, e
no Batuque tradicional conservou-se tambm este fundamento de no utilizar ota no
assentamento de Or.
Conforme vimos, o antigo costume yorb de Didota tem a finalidade de
eternizar algum em um busto de pedra (ota), pois dentro do conceito de Noo de
Pessoa a pedra simboliza eternidade, liliemyorb.
Assim compreendido, no faz nenhum sentido o uso do otaem assentamentos de
Or, pois, para que se utilizaria de um smbolo de eternidade como base para algo que
transitrio e finito?
Entretanto, esta nossa fala refere-se ao Batuque, e no tem a inteno de
conflitar com outros segmentos religiosos afro-brasileiros. Por exemplo, sabido que osegmento do candombl reafricanizado resgatou o uso do Igb-Orque o candombl
tradicional perdeu, e nesse trabalho de reafricanizao, convencionou-se o uso de uma
pedra.
Conforme os informantes consultados, o uso desta pedra no Igb-Or do
22. Internet, ver in: Revista Olorun e Cultura Iorub,
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candombl reafricanizado no tem a finalidade de ser um otade assentamento de Or,
mas sim, apenas um dos elementos que formaro o jogo de bzios do futuro
sacerdote, no tendo nenhuma conotao de assentamento. 23
Assim, a resposta do bblwo Aikulola atendeu perfeitamente finalidade da
pergunta.
CONSIDERAES FINAIS
Tivemos grande prazer ao abordarmos os temas de descendncia e caminhos de
rs dentro do nosso culto afrodescendente, o qual muito aculturado ao longo dos
tempos, e que podemos atravs deste ensaio visualizar outros ngulos de raciocnios e
de pontos de vista.
Entendemos que o Batuque conseguiu preservar costumes tradicionais dos
yorb, surgindo uma grande possibilidade de, a partir da informao da entrevista do
Bblwo Aikulola, compreendemos que o Batuque, ao conservar no seu rito religioso
de iniciao o costume de no raspar os cabelos e no usar ados culminou por
preservar um costume da nobreza yorb, colocando-o assim muito prximo das razes
tradicionais dosyorb.
Assim, a formao, fundamentao e a forma de iniciao do Batuque no Estado
do Rio Grande do Sul deixa em evidncia a herana cultural de descendentes reais do
rsem frica, que sobreviveram no nosso Estado.
Outro rito conservado seria a cremeira, que no usa ota, tal qual oIgb-Ordos
yorb, novamente segundo Aikulola.
No tivemos em nenhum momento a inteno de darmos famosa verdade
absoluta dos fatos, uma vez que podemos sim entender todos juntos um pouco mais
de nossas tradies religiosas.
Convidamos o povo de santo do Batuque a analisar com carinho o objeto deste
estudo.
23. Informao pessoal de Luiz L. Marins, conforme ouviu do Babalorix Aulo Barretti, de ss, nocandombl ktureafricanizado.
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