ZEE Acre FaseII Parte1 Baixareol
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7/30/2019 ZEE Acre FaseII Parte1 Baixareol
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Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre Fase II Documento Sntese Escala 1:250.000 11
SUMRIO
O MAPA DO SONHO ............................................................................................................................................................ 9
I INTRODUO ......................................................................................................................................................................13
1.1.TRAJETRIAS ACREANAS ............................................................................................................................................13
1.2. A CONSTRUO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL NO ACRE E O ZONEAMENTO ECOLGI-
CO-ECONMICO ....................................................................................................................................................................251.2.1. A primeira ase do Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre ................................................................28
1.2.2. A Segunda ase do Zoneamento EcolgicoEconmico e a elaborao do mapa de gesto territo
rial .................................................................................................................................................................................................30
1.2.3. A mudana de paradigma metodolgico ...........................................................................................................35
1.3. CARACTERSTICAS GERAIS DO ESTADO DO ACRE ...........................................................................................37
II. RECURSOS NATURAIS E USO DA TERRA ......................................................................................................................39
1. O MEIO FSICO ......................................................................................................................................................................40
1.1. Geologia .............................................................................................................................................................................40
1.2. Geomorologia .................................................................................................................................................................43
1.3. Solos .....................................................................................................................................................................................46
1.4. Bacias Hidrogrcas .......................................................................................................................................................50
2. O MEIO BITICO ..................................................................................................................................................................54
2.1. Vegetao ...........................................................................................................................................................................54
2.2. Biodiversidade ..................................................................................................................................................................59
3. A VISO INTEGRADA DOS RECURSOS NATURAIS ....................................................................................................64
3.1. Vulnerabilidade Ambiental ..........................................................................................................................................64
3.2. Unidades de Paisagem Biosicas ...............................................................................................................................70
4. USO DOS RECURSOS ..........................................................................................................................................................77
4.1. Uso da Terra , Desmatamentos e Queimadas ........................................................................................................77
4.2. Passivos Florestais: diagnstico .................................................................................................................................91
5. CONCLUSO .........................................................................................................................................................................95III ASPECTOS SCIOECONMICOS ...............................................................................................................................96
1. ESTRUTURA FUNDIRIA ...................................................................................................................................................98
2. ECONOMIA ......................................................................................................................................................................... 120
3. INFRAESTRUTURA PBLICA E PRODUTIVA............................................................................................................ 127
3.1. Transporte ....................................................................................................................................................................... 127
3.2. Energia ............................................................................................................................................................................. 131
3.3. Comunicao ................................................................................................................................................................. 132
4. PRODUO FLORESTAL ................................................................................................................................................. 134
4.1. Produtos Florestais No Madeireiros..................................................................................................................... 134
4.2. Produo Florestal Madeireira ................................................................................................................................. 142
4.2.1 Cenrios, demanda e origem de matriaprima Florestal ......................................................................... 1445. PRODUO AGROPECURIA ....................................................................................................................................... 148
6. POPULAO E CONDIES DE VIDA ........................................................................................................................ 158
6.1. Populao ....................................................................................................................................................................... 158
6.2. Condies de Vida ........................................................................................................................................................ 165
7. CIDADES DO ACRE ........................................................................................................................................................... 175
8. CONCLUSO ...................................................................................................................................................................... 178
IV CULTURA, GESTO E PERCEPO SOCIAL .............................................................................................................. 182
1. CULTURA ............................................................................................................................................................................. 184
1.1. Territrios e Territorialidades ................................................................................................................................... 184
1.2. Patrimnios Histricos e Naturais ......................................................................................................................... 191
2. GESTO TERRITORIAL ..................................................................................................................................................... 197
2.1. Sistema Estadual de reas Naturais Protegidas e os Instrumentos de Planejamento e Gesto ..... 197
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Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre Fase II Documento Sntese Escala 1:250.00012
2.1.1. As Unidades de Conservao de Proteo Integral .................................................................................... 199
2.1.2. Unidades de Conservao de Uso Sustentvel ............................................................................................. 203
2.1.3. Terras Indgenas ........................................................................................................................................................ 213
2.1.4. Reserva Legal e reas de Preservao Permanente .................................................................................... 220
2.2. As pequenas, mdias e grandes propriedades rurais .................................................................................... 221
2.3. Assentamentos Rurais ............................................................................................................................................... 224
2.4. Confitos Agrrios ........................................................................................................................................................ 2283. PLANEJAMENTO E POLTICA AMBIENTAL .............................................................................................................. 233
3.1. Planejamento e Gesto Urbana ............................................................................................................................. 234
3.2. Desenvolvimento Poltico e Institucional ............................................................................................................ 239
3.3. Gesto Ambiental Compartilhada ......................................................................................................................... 241
3.4. Interaes Transronteirias ...................................................................................................................................... 246
3.5. Fronteiras e Povos Indgenas ................................................................................................................................... 252
3.6. Passivos Florestais ........................................................................................................................................................ 259
3.7. Compatibilizao com as Normas Federais ........................................................................................................ 264
4. PERCEPO SOCIAL ........................................................................................................................................................ 270
4.1. Orientaes polticas recentes do modelo de desenvolvimento do Acre ............................................... 270
4.2. Viso de Presente e Futuro: as ocinas e o perl dos participantes........................................................... 2735. CONCLUSO ...................................................................................................................................................................... 277
V O MAPA DE GESTO TERRITORIAL DO ESTADO DO ACRE ................................................................................ 279
5.1. A Construo do Mapa de Gesto Territorial (MGT) do Acre ....................................................................... 280
5.2. Caractersticas e Diretrizes de Utilizao de Zonas e Subzonas ............................................................... 297
5.3. Consideraes sobre a Implementao das Diretrizes do Mapa de Gesto Territorial ...................... 310
VI MONITORAMENTO E CONTROLE DO ZEE ............................................................................................................ 313
1. INDICADOR DE SUSTENTABILIDADE DOS MUNICPIOS DO ACRE ISMAC ................................................. 314
VII REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................................................................. 318
VIII GLOSSRIO DE TERMOS TCNICOS ..................................................................................................................... 330
IX SIGLAS UTILIZADAS ..................................................................................................................................................... 344
X PARTICIPARAM DO ZEEACRE FASE II ..................................................................................................................... 347
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Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre Fase II Documento Sntese Escala 1:250.000
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localizao do Acre na Amrica do Sul e Brasil .........................................................................................37
Figura 2. Regionais de Desenvolvimento do Estado do Acre ..................................................................................38
Figura 3. Distribuio das Unidades Geolgicas do Estado do Acre ...................................................................41
Figura 4. Distribuio das Unidades Geomorolgicas do Estado do Acre .......................................................43
Figura 5. Distribuio dos Solos do Estado do Acre, simplicado em nvel de ordem .................................46Figura 6. Distribuio das Tipologias Florestais no Estado do Acre .....................................................................56
Figura 7. Distribuio da Vulnerabilidade do Estado do Acre ................................................................................65
Figura 8. Distribuio da Vulnerabilidade na regio do entorno da sede do Municpio de Rio Branco,
capital do Estado do Acre ....................................................................................................................................................67
Figura 9. Distribuio das unidades de paisagens biosicas no Estado do Acre ............................................72
Figura 10. Distribuio das unidades de paisagens no entorno da sede do Municpio de Cruzeiro do Sul
........................................................................................................................................................................................................73
Figura 11. rea Plantada das Principais Lavouras Temporrias, por Municpio, para o ano de 2004, no
Estado do Acre ........................................................................................................................................................................79
Figura 12. rea Plantada das Principais Lavouras Permanentes, por Municpio, para o ano de 2004, no
Estado do Acre ........................................................................................................................................................................80
Figura 13. Percentual de reas desmatadas e reas de foresta por Municpio no Estado do Acre, no ano
de 2004 ......................................................................................................................................................................................82
Figura 14. Distribuio das reas desmatadas e reas de foresta por Municpio no Estado do Acre, at o
ano de 2004 ..............................................................................................................................................................................83
Figura 15. Agrupamento da Intensidade de Desmatamento nos Municpios do Acre, 2004 .....................84
Figura 16. Participao em percentual dos Estados do Mato Grosso, Par, Rondnia, Amazonas, Acre,
Maranho e Tocantins no desmatamento total da Amaznia no perodo de 2001 2005 ........................85
Figura 17. Incremento da rea de Desmatamento em Km por ano dos Estados do Acre, Par, Rondnia,
Mato Grosso e Amazonas, no perodo de 1999 2005 ............................................................................................85
Figura 18. ndices percentuais de incremento anual de Desmatamento na Amaznia e no Acre no perodo de 1988 2005 ...............................................................................................................................................................86
Figura 19. Mapa Poltico com os novos limites municipais e incluso da Linha Cunha Gomes, Estado do
Acre, 2006 ............................................................................................................................................................................... 101
Figura 20. Sistema Estadual de reas Naturais Protegidas, Estado do Acre, 2006 ....................................... 107
Figura 21. Crescimento acumulado do Valor Adicionado das atividades econmicas entre 1998 2004 .
..................................................................................................................................................................................................... 122
Figura 22. Eixos de integrao das rodovias do Estado do Acre com pases sulamericanos, 2006 ....... 129
Figura 23. Rotas Areas do Estado do Acre, 2006 .................................................................................................... 130
Figura 24. Quantidade de Borracha subsidiada, em toneladas, no perodo de 1999 2006 .................. 135
Figura 25. Produo de Castanha do Brasil, em toneladas, no perodo de 1998 2006 ........................... 136
Figura 26. Preo da lata de Castanha do Brasil, no perodo de 1998 2006, Estado do Acre .................. 137Figura 27. Renda do Extrativista com a Castanha do Brasil, no perodo de 1998 2006, Estado do Acre ..
..................................................................................................................................................................................................... 138
Figura 28. Evoluo da rea colhida com lavouras temporrias e lavouras permanentes e rea total cul
tivada com agricultura no Acre, entre 1990 e 2004 ................................................................................................ 150
Figura 29. Taxa de lotao das pastagens nos Municpios do Estado do Acre, em 2004 .......................... 152
Figura 30. Variao do rebanho bovino e da rea desmatada no Acre, entre 1990 e 2004 ...................... 154
Figura 31. Recursos prprios do Tesouro aplicado, em Educao, no perodo de 1998 2005 .............. 167
Figura 32. Taxa de Mortalidade Bruta do Acre, em relao Regio Norte e Brasil, no perodo de 2000 a
2003 .................................................................................................................................. ........................................................ 168
Figura 33. Percentual de cobertura populacional da Estratgia de Sade da Famlia no Acre, no perodode 1999 2005 ....................................................................................................................................... .............................. 169
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Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre Fase II Documento Sntese Escala 1:250.000
Figura 34. Evoluo de investimento per capita em sade por onte de Financiamento, no Estado do
Acre, no perodo de 1999 2005 ................................................................................................................................... 172
Figura 35. Distribuio, quantitativo e comparativo dos patrimnios identicados no Estado por regio
nais (Fonte: ZEE/AC 2005) ................................................................................................................................................ 192
Figura 36. Densidade de Stios Arqueolgicos do Estado do Acre .................................................................... 194
Figura 37. Modelo Simplicado de Interaes entre Cidades Gmeas ........................................................... 247
Figura 38. Tipologias das Interaes Fronteirias, Brasil (Acre), Peru (Madre de Dios), Bolvia (Pando),2005 ............................................................................... ........................................................................................................... 249
Figura 39. Interaes nas Cidades Gmeas Assis Brasil/ Iapari Fronteira Brasil (Acre)/ Peru (Madre de
Dios) 2006 ............................................................................................................ ............................................................... 250
Figura 40. Perl de participantes das Ocinas realizadas nos 22 Municpios do Estado do Acre, 2006 ......
..................................................................................................................................................................................................... 274
Figura 41. Grau de relevncia do Tema gua nas Ocinas realizadas nos 22 Municpios do Estado do
Acre, 2006 ............................................................................................................................................................................... 274
Figura 42. Grau de relevncia do Tema Produo nas Ocinas realizadas nos 22 Municpios do Estado do
Acre, 2006 ............................................................................................................................................................................... 275
Figura 43. Grau de relevncia do Tema Confitos nas Ocinas realizadas nos 22 Municpios do Estado do
Acre, 2006 ............................................................................................................................................................................... 275Figura 44. Grau de relevncia do Tema Desmatamento nas Ocinas realizadas nos 22 Municpios do
Estado do Acre, 2006 .......................................................................................................................................................... 275
Figura 45. Fluxograma Simplicado da Elaborao do Mapa de Gesto Territorial do Estado do Acre
..................................................................................................................................................................................................... 282
Figura 46. Distribuio hierrquica de Zona, Subzona e Unidade de Manejo, no mbito do ZEE/AC ..........
..................................................................................................................................................................................................... 289
Figura 47. Ocupao do territrio da Zona 1, no Estado do Acre .................................................... .................. 290
Figura 48. Ocupao do territrio da Zona 2, no Estado do Acre .................................................... .................. 291
Figura 49. Ocupao do territrio da Zona 3, no Estado do Acre ...................................................................... 292
Figura 50. Ocupao do territrio Zona 4, no Estado do Acre ......................................................... ................... 292
Figura 51. Distribuio das Zonas do Territrio acreano, no mbito do ZEE Acre .................................... 293
Figura 52. Ocupao do Territrio pela Subzona 1.1 ............................................................................................ 300
Figura 53. Ocupao do Territrio pela Subzona 1.2 ............................................................................................ 302
Figura 54. Distribuio das Subzonas na Zona 2 .................................................................................................... 303
Figura 55. Indicadores de Sustentabilidade dos Municpios do Acre ISMAC ............................................... 316
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Descrio das Unidades Pedolgicas do Estado do Acre, com base no Mapa de Pedologia do
ZEE Fase II ..................................................................................................................................................................................47Tabela 2. Distribuio das Ordens de Solos no Estado do Acre, de acordo com o Mapa de Solos na escala
1:250.000 do ZEE Fase II .......................................................................................................................................................48
Tabela 3. Classes de Vegetao ocorrentes no Estado do Acre ZEE ase II .....................................................55
Tabela 4. Riqueza de Espcies de Vertebrados no Estado do Acre (ZEE/AC), no Brasil (LEWINSOHN & PRA
DO, 2002) e em todo o mundo (BRASIL, 1998) ............................................................................................................61
Tabela 5. Classes de Fragilidade Ambiental para o Estado do Acre .....................................................................67
Tabela 6. Descrio do nmero de classes para Geologia, Geomorologia, Pedologia e Tipologias Flores
tais, para a composio das Unidades de Paisagem do Estado do Acre ............................................................71
Tabela 7. Anlise sntese da distribuio das Unidades de Paisagem nas Regionais do Estado do Acre ....
........................................................................................................................................................................................................72
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Tabela 8. Anlise sntese da distribuio das Unidades de Paisagem nos Municpios do Estado do Acre
........................................................................................................................................................................................................75
Tabela 9. ndice de Diversidade relacionado com a populao (IDPOP) e ndice de Diversidade relaciona
do com o remanescente forestal (IDFlo) dos Municpios do Estado do Acre ..................................................76
Tabela 10. Incremento e taxa mdia anual do Desmatamento no Acre e na Amaznia, no perodo de
1988 a 2005 ..............................................................................................................................................................................86
Tabela 11. reas dos Territrios Municipais, por Regional, antes e aps incluso do novo limite da LinhaCunha Gomes, Estado do Acre, 2006 ........................................................................................................................... 100
Tabela 12. Situao das Terras do Estado do Acre, 2006 ....................................................................................... 102
Tabela 13. reas Naturais Protegidas do Estado do Acre, 2006 .......................................................................... 103
Tabela 14. Comparao dos dados das reas Ociais, Reais e do Geoprocessamento do ZEE II em relao
s Unidades de Conservao do Estado do Acre, 2006 ......................................................................................... 106
Tabela 15. Diagnstico das Terras Indgenas do Estado do Acre, 2006 ............................................................ 108
Tabela 16. Projetos de Assentamentos no Estado do Acre, 2006 ....................................................................... 114
Tabela 17. Produto Interno Bruto (PIB), do Estado do Acre, perodo de 1998 2004 ................................. 120
Tabela 18. Participao (%) dos Setores e das Atividades Econmicas no Valor Adicionado (VA) Acreano,
no perodo de 1998 2004 .............................................................................................................................................. 122
Tabela 19. Participao (%) das atividades econmicas no crescimento do Valor Adicionado (VA) Acreano, no perodo de 1998 2004 ....................................................................................................................................... 123
Tabela 20. Valor Bruto da Produo (VBP) do Acre, no perodo de 1999 2003 .......................................... 125
Tabela 21. Estimativa da distribuio das forestas do Acre, por regime de propriedade, por regionais ....
..................................................................................................................................................................................................... 144
Tabela 22. Participao Percentual da Populao Urbana sobre a Populao Total, no Brasil e Estados da
Regio da Amaznia Legal 1980/1991/2000 ................................................................ .......................................... 160
Tabela 23. Taxa mdia geomtrica de crescimento anual da populao residente, Brasil e Acre 1950/2000
..................................................................................................................................................................................................... 160
Tabela 24. Distribuio de Populao residente no Estado do Acre, em 2000 e 2005 .................... ........... 163
Tabela 25. ndices de Abandono e Reprovao, no Estado do Acre, em 2000 e 2004 ............................ ... 167
Tabela 26. Taxas de Mortalidade Inantil, Perinatal e Neonatal, no Estado do Acre, no perodo de 2001 a
2005 .................................................................................................. ........................................................................................ 169
Tabela 27. Tipos de Unidades do Estado do Acre, por Municpio, no ano de 2005 ......................... ............ 170
Tabela 28. Oerta de consultas mdicas por habitanteano, nas especialidades bsicas, no perodo de
2001 a 2005, no Estado do Acre ...................................................................................... ............................................... 171
Tabela 29. Situao das Unidades de Conservao do Acre, em relao ao Plano de Manejo e Conselho
Gestor, 2006 ........................................................................................................................................................................... 198
Tabela 30. Caracterizao das Reservas Extrativistas do Acre, 2006 ................................................................. 205
Tabela 31. Relao das Associaes Indgenas do Estado do Acre, de acordo com os Municpios e Terras
Indgenas ................................................................................................................................................................................ 217
Tabela 32. Relao de reas Protegidas do Estado do Acre, situadas na ronteira internacional BrasilPer .......................................................................................................................................................................................... 253
Tabela 33. Relao de reas Protegidas na ronteira peruana, 2006 ................................................................ 254
Tabela 34. Dados sobre recursos naturais no Estado do Acre no mbito do ZEEAC, Fase II ................... 286
Tabela 35. Matriz de critrios e indicadores para a estraticao de espaos territoriais em zonas .... 294
Tabela 36. Valores sntese dos indicadores para Inraestrutura, Demograa, Intensidade de Uso, Social,
Economia e ocupao da terra que compen o Indicador Sntese de Sustentabilidade dos Municpios do
Acre (ISMAC) .......................................................................................................................................................................... 317
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Governo do Estado do Acre
Secretaria de Estado de Planejamento e Desenvolvimento EconmicoSustentvel
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais
Programa Estadual de Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre
ZONEAMENTO ECOLGICOECONMICO DO ACRE FASE IIDOCUMENTO SNTESE
ESCALA 1:250.000
Rio Branco Acre
2006
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ENDEREO:
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais SEMA
Rua Rui Barbosa, 135 Centro
Rio Branco Acre Brasil CEP: 69.000120
Fone: 55 (OXX68) 3224 5497
Email: [email protected]
Homepage: www.seiam.ac.gov.br
ACRE. Governo do Estado do Acre. Programa Estadual de Zoneamento EcolgicoEconmico do Estado do Acre. Zonea
mento EcolgicoEconmico do Acre Fase II: documento Sntese Escala 1:250.000. Rio Branco: SEMA, 2006. 354p.
1. ACRE Zoneamento EcolgicoEconmico, 2. Meio Ambiente Socioeconomia Cultural/Poltico, 3. Gesto Ter
ritorial Acre, I. Ttulo.
Nota:A Base topogrca digital oi elaborada a partir de olhas topogrcas geradas pela DSG/MEx, na escala de 1:100.000,
atualizadas atravs de imagens do sensor ETM 7 a bordo do satlite LandSat, obtidas na melhor condio visual das
imagens nos anos de 2001 e 2002. Nas cartas ainda no restitudas e expeditas, oram utilizados dados do SRTM (Shuttle
Radar Topography Mission) adquiridos no perodo de 11 a 22 de evereiro de 2000. As inormaes sobre a atual situao
undiria oram ornecidas em meio digital pelo INCRA. Os dados de localidades oram digitalizados a partir de croquis
elaborados pela FUNASA. Os limites das Unidades de Conservao e Terra Indgena oram cedidos, respectivamente, pelo
IBAMA, SEF, ITERACRE e DAF/FUNAI.
O mapa de gesto apresentado em 16 cartas na escala 1:250.000 que representam o cruzamento e sistematizao
dos mapas temticos e outras inormaes espacializadas, sendo alguns citados ao longo do texto do documento sntese
e outros em anexo, como ZEE/AC, Fase II 2006.
ZONEAMENTO ECOLGICOECONMICO DO ACRE FASE IIDOCUMENTO SNTESE ESCALA 1:250.000
2006 SEMA
FICHA CATALOGRFICA
CAPA: MXdesign
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Luiz Incio Lula da Silva
Presidente da Repblica
Marina Silva
Ministra do Meio Ambiente
Jorge Viana
Governador do Estado do Acre
Arnbio Marques de Almeida Jnior
Vicegovernador
Gilberto do Carmo Lopes SiqueiraSecretrio de Estado de Planejamento e Desenvolvimento
EconmicoSustentvelPresidente da Comisso Estadual do ZEE/AC
Carlos Edegard de DeusSecretrio de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais
Presidente do Instituto de Meio Ambiente do AcreSecretrio Executivo do ZEE/AC
Joo Csar DottoDiretorPresidente da Fundao de Tecnologia do Estado do
Acre
Carlos Ovdio Duarte da RochaSecretrio de Floresta
Mauro Jorge RibeiroSecretrio de Agricultura e Pecuria
Denise Regina GarraelSecretria de Extrativismo e Produo Familiar
Jos Henrique Corinto de MouraDiretorPresidente do Instituto de Terras do Acre
Marcos Incio FernandesSecretrio Executivo de Assistncia Tcnica e Extenso Rural
Paulo Roberto Viana de ArajoDiretorPresidente Instituto de Deesa Agropecuria e
Florestal
Srgio Yoshio NakamuraSecretrio de InraEstrutura e Integrao
Eduardo Nunes VieiraSecretrio de Obras Pblicas
Tcio de BritoDiretor do Departamento de guas e Saneamento
Maria Corra da SilvaSecretria de Educao
Maria das Graas Alves PereiraSecretria de Cidadania e Assistncia Social
Suely de Souza Melo da CostaSecretria de Sade
Antnio Monteiro NetoSecretrio de Justia e Segurana Pblica
Francisco Pereira de SouzaPresidente da Fundao de Cultura e Comunicao Elias
Mansour
Edson Amrico ManchiniProcurador Geral do Estado
Orlando Sabino da CostaSecretrio de Fazenda
Flora Valladares CoelhoSecretria do Servidor e Patrimnio Pblico
Anbal DinizSecretrio de Comunicao
Tatianna Rebello MansourSecretria de Estado de Modernizao e Tecnologia da
Inormao
Carlos Alberto Bernardo de ArajoSecretrio Extraordinrio de Desenvolvimento das Cidades e
Habitao
Francisco da Silva PinhantaSecretrio Extraordinrio dos Povos Indgenas
Leonardo Cunha BritoSecretrio Extraordinrio da Juventude
Mara Regina Aparecida VidalSecretria Extraordinria da Mulher
Jos Alicio Martins da SilvaSecretrio Extraordinrio do Esporte
Roberto Ferreira da SilvaChee do Gabinete do Governador
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Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre Fase II Documento Sntese Escala 1:250.000
Passamos mais de quinze anos ouvindo alarno Zoneamento. No comeo era reivindicao de
alguns: ndios, seringueiros, gente interessada em
denir limites e proteger suas reas. Depois virou
consenso entre todos os setores, pois ningum
mais agentava a ausncia de regras claras e de
nidas que orientassem os investimentos e ativida
des econmicas.
Durante esse tempo, algumas antasias oram
criadas. A principal delas era a de que o Zonea
mento seria a soluo milagrosa para todos os
confitos, que ele colocaria cada um no seu espa
o adequado, possibilitando um
ordenamento na sociedade e no
espao geogrco que ela ocupa.
Hoje sabemos que no bem
assim que as coisas acontecem,
mas podemos extrair algo de
bom desse acmulo de expecta
tivas em relao ao Zoneamento:
o crescimento, em todos os seto
res, da vontade de negociar, dedialogar, de ceder, de respeitar a
presena dos outros. Aproveitan
do essa possibilidade de enten
dimento, assim que assumimos o
Governo do Acre, em 1999, demos
prioridade ao Zoneamento Ecol
gicoEconmico e procuramos ser
bem simples: recolhemos os estu
dos j realizados e reconhecemos
o Zoneamento real, histrico, j
existente. Recolher os estudos j
O Mapa do Sonho
realizados era necessrio para no carmos repetindo o que j havia sido eito. Isso no quer dizer
que tenhamos negligenciado a elaborao de no
vos estudos e pesquisas. Ao contrrio, no apenas
recolhemos as inormaes j existentes, mas as
vericamos e atualizamos. Buscamos novas in
ormaes, recorrendo ao trabalho dos melhores
prossionais em cada setor. Mas o mais importan
te, a meu ver, e que constitui uma novidade do
trabalho que zemos, o que chamamos de reco
nhecer o Zoneamento que a Histria realizou.
Simplesmente constatamos que, ao longo de
um sculo, nas lutas, nos ciclos e
ases da economia, nas migraes,
nas enchentes e vazantes dos rios,
na abertura de estradas, nas al
deias, vilas e cidades, o Acre oi se
azendo o que hoje . A populao
oi se distribuindo e se concentran
do, as regies oram descobrindo
potencialidades e vocaes, cada
um oi lutando e conquistandoseu espao. Esse o Zoneamento
real, eito pela vida.
Foi em busca dessa realidade
que percorremos o Acre inteiro
e desenvolvemos uma manei
ra nova de pesquisar, deixando
que a populao, as lideranas,
os grupos, as minorias, todo
mundo ale e mostre sua identi
dade e suas reivindicaes Fico
eliz de ver que a prioridade que
Foi em buscadessa realidadeque percorremoso Acre inteiro edesenvolvemos umamaneira nova depesquisar, deixando
que a populao, aslideranas, os grupos,as minorias, todomundo fale e mostresua identidade e suasreivindicaes. Ficofeliz de ver que aprioridade que demosao Zoneamentorevela-se cada vez
mais acertada.
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Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre Fase II Documento Sntese Escala 1:250.00010
demos ao Zoneamento revelase cada vez mais
acertada. Fico eliz de ter podido contar com
dirigentes, tcnicos e consultores to qualii
cados e dedicados. Fico ainda mais eliz com a
participao popular na elaborao do Zonea
mento j a partir da primeira ase do programa,
cujos resultados apresentamos ao pblico noprimeiro semestre de 2000. Agora, temos a sa
tisao de apresentar o Mapa de Gesto Ter
ritorial do Acre como resultado principal dos
trabalhos da segunda ase do Programa Esta
dual do Zoneamento EcolgicoEconmico.
Este mapa refete a viso do governo e da so
ciedade sobre o novo estilo de desenvolvimen
to local e regional que queremos e que estamos
construindo em nosso Estado, pautado na valo
rizao do patrimnio sciocultural e ambiental
e na participao popular, o que chamamos deFlorestania.
O apoio do companheiro Luiz Incio Lula da
Silva, da ministra Marina Silva e de vrios rgos
do governo ederal oi undamental para a con
solidao de mais esta etapa do Zoneamento do
Acre. Tenho certeza de que no estamos apresen
tando um produto rio, uma pea tcnica despro
vida de emoo. Estamos, na verdade, mostrando
uma maneira despojada e sincera de azer as coi
sas: a maneira como o herico povo acreano quer
e merece ser tratado.
Estamos realizando uma parte do sonho de
companheiros valorosos, como Chico Mendes,
cuja presena ainda sentimos ao nosso lado a
cada passo da caminhada. Estamos estabelecen
do limites para que o respeito vida seja ilimitado,denindo cada parte para que a foresta permane
a inteira e tornando prtica a idia da sustentabi
lidade, tendo o zoneamento como base do Plano
de Desenvolvimento do Estado.
Sem arrogncia, sabemos da importncia da
nossa experincia para a construo do uturo, co
locando essa realidade num mapa e sobre ele de
senhando nosso sonho. O que estamos azendo
nas cabeceiras dos rios pode espalharse por toda
a Amaznia. essa a contribuio de nosso povo a
um esoro que toda a humanidade az para renovar a esperana no incio de um novo milnio.
Com o lanamento do Mapa de Gesto Territo
rial do Acre, estamos completando mais um passo
importante na execuo do Programa Estadual do
Zoneamento EcolgicoEconmico. Um prximo
desao avanar na incorporao das diretrizes do
Mapa de Gesto Territorial entre os instrumentos
de polticas pblicas ans. Vamos adiante: modes
tamente, estamos apenas comeando.
Jorge Viana
Governador
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O Estado do Acre desempenhou um papel re
levante na histria da regio Amaznica durante
a expanso da economia da borracha no m do
sculo XIX pelo potencial de riqueza natural dos
rios acreanos e pela qualidade e produtividade
dos seringais existentes em seu territrio. O Acre
oi cenrio do surgimento de organizaes sociais
e polticas inovadoras nas ltimas dcadas do s
culo XX baseadas na deesa do valor econmico
dos recursos naturais. E hoje, tendo optado por
um modelo de desenvolvimento que busca conci
liar o uso econmico das riquezas da foresta com
a modernizao de atividades que impactam omeio ambiente, reassume importncia estratgi
ca no uturo da Amaznia. O Acre vem mostrando
que possvel crescer com incluso social e prote
o do meio ambiente.
Nessa permanente relao entre histria,
ambiente, economia e sociedade, em dierentes
momentos no tempo, a sociedade acreana cons
tituiu dierentes identidades sociais: de ndios,
seringueiros, regates, ribeirinhos e paulistas,
resultado da insero de cada segmento em um
momento dierente da histria. O resultado uma
sociedade multiacetada, no raro em confito,
que se desenvolveu em um contexto de disputa
por territrios e recursos.
O perodo histrico coberto pela constituio
desses atores sociais amplo: desde os primeiros
grupos indgenas que se deslocaram para esta re
gio h mais de cinco mil anos, os povos que vie
ram em uno do extrativismo da borracha, nor
destinos, alm dos srios e libaneses e, nalmente,
o contingente das recentes migraes do sul dopas ocorridas no incio dos anos 70 do sculo XX.
A perspectiva histrica perpassa todos os te
mas abordados no Programa Estadual de Zonea
mento EcolgicoEconmico (ZEE) do Acre: da si
tuao atual dos recursos naturais, passando pela
evoluo econmica e populacional e chegando
aos aspectos sociais, culturais e polticos, tema
principal desta introduo. A infuncia mais mar
I INTRODUO1.1. TRAJETRIAS ACREANAS1
1
BEZERRA, M. J.; NEVES, M. V. Trajetrias Acreanas ndios, Seringueiros, Ribeirinhos, SrioLibaneses e Sulistas como atores deormao do Acre. Rio Branco: SEMA/IMAC. Artigo produzido para o ZEE Fase II, 2006. Trabalho no publicado.
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cante do processo de ocupao est no ato de o
Acre ainda manter quase a totalidade de sua fo
resta intacta. Isso decorre da poca, do modo e da
relativa recentidade de seu processo de ocupao
e, ao mesmo tempo em que explica o passado,
constitui a base do uturo.
Sociedades indgenas
O povoamento humano do Acre teve incio,
provavelmente, entre 20 mil e 10 mil anos atrs,
quando grupos provenientes da sia chegaram
Amrica do Sul aps uma longa migrao e ocu
param as terras baixas da Amaznia. Registros
arqueolgicos s recentemente estudados vm
permitindo o conhecimento das origens dessas
culturas imemoriais. Mas oi do confito entre
grupos indgenas e migrantes nordestinos que seoriginou a sociedade acreana tal como a conhece
mos na atualidade.
Em meados do sculo XIX, quando a regio
amaznica comeou a ser conquistada e inserida
no mercado, a ocupao dos altos rios Purus e Ju
ru pelos povos nativos apresentava uma diviso
territorial entre dois grupos lingsticos com sig
nicativas dierenas: no Purus havia o predom
nio de grupos Aruan e Aruak, do mesmo tronco
lingstico, no vale do Juru havia o predomnio
de grupos Pano. Cinco grupos nativos dierentes
ocupavam os espaos da Amaznia Sul Ocidental.
No mdio curso do rio Purus, hoje Estado do
Amazonas, habitavam povos de lngua Aruan do
tronco Aruak. Grupos pouco aguerridos, eram ge
ralmente submetidos por outros ou se reugiavam
na terra rme, espalhandose por diversos afuen
tes de ambas as margens do mdio Purus. Segun
do recentes anlises lingsticas, essa amlia teria
uma antiguidade em torno de 2 mil anos.
No alto curso do rio Purus e no baixo rio Acre
estavam estabelecidas diversas tribos do troncolingstico Aruak: Apurin, Manchineri, Kulina,
Canamari, Piros, Ashaninka. Esses grupos se espa
lhavam desde a confuncia do Pauini com o Pu
rus at a regio das encostas orientais do Andes,
cerca de 5 mil anos atrs. Teriam resistido expan
so das civilizaes andinas antes de enrentar o
avano dos brancos sobre suas terras na poca da
borracha.
No alto curso dos rios Acre, alto Iquiri, Abun e
outros afuentes do rio Madeira, em territrio boli
viano, havia um enclave de grupos alantes de ln
gua Takana e Pano. Alguns eram bastante aguer
ridos, como os Pacaguara, e outros mais sociveis,
como os Kaxarari, que mantinham ativo contato
com os Apurin, apesar das dierenas lingsticas
e culturais entre os dois grupos. A lngua Takana
de origem mais recente, tendo surgido entre 3 mil
e 2 mil anos atrs.
Na regio intermediria entre o mdio curso
do Purus e o Juru, ao norte do Acre, habitavam
os Katukina, sobre os quais h raras inormaes.Esse grupo teria surgido h cerca de 2 mil anos.
Eram pouco numerosos e cavam contidos entre
os Aruak ao leste e os Pano a oeste, restandolhes
a explorao das terras rmes menos ricas em ali
mentos que as margens dos grandes rios.
Considervel espao do mdio e alto curso
do rio Juru e seus afuentes como o Tarauac, o
Muru, o Envira, o Moa era dominado por numero
sos grupos alantes da lngua Pano: Kaxinawa, Ja
minawa, Amahuaca, Arara, Rununawa, Xixinawa,
grupo lingstico com cerca de 5 mil anos. Devido
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ao seu carter guerreiro, os Pano conquistaram
territrios de outros povos e tambm do mesmo
tronco lingstico. Esse ato ajuda a explicar a rag
mentao que eles apresentavam quando os nor
destinos comearam a chegar regio.
Economia da borrachaA ocupao do territrio habitado por indge
nas e que hoje orma o Estado do Acre teve in
cio com o primeiro ciclo econmico da borracha,
por volta da segunda metade da dcada de 1800.
Esse ciclo, que marcou os Estados da Amaznia,
em geral, est associado com a demanda indus
trial internacional da Europa e dos EUA, a partir de
ns do sculo XIX. Para suprir procura pela bor
racha, oi organizado um sistema de circulao de
produtos e mercadorias conectando seringueirose seringalistas que comandavam a produo na
Amaznia a comerciantes do Amazonas e Par e
grupos nanceiros da Europa, lanando os unda
mentos da empresa extrativa da borracha.
A ocupao do Estado do Acre, dierentemen
te de outros Estados da Amaznia, apresenta al
gumas particularidades que merecem destaque,
por suas conseqncias sociais, culturais e pol
ticas. Grande parte dessas particularidades est
associada com questes undirias histricas e
as lutas que essas desencadearam, desde 18672 ,
quando o governo do Imprio do Brasil assina o
Tratado de Ayacucho, reconhecendo ser da Bol
via o antigo espao que hoje pertence ao Estado
do Acre.
A partir de 1878, a empresa seringalista alcan
ou a boca do rio Acre controlando a explorao
em todo o mdio Purus e, em 1880, ultrapassou a
Linha Cunha Gomes, limite nal das ronteiras le
gais brasileiras, expandindose para territrio boli
viano. Intensa seca ocorrida na regio nordestina,
em 1877, disponibilizou a modeobra necess
ria para o empreendimento extrativista, popula
o que no estava conseguindo a sobrevivncia
em azendas e pequenas propriedades agrcolasdo Nordeste. Na seqncia, em 1882, os migran
tes que vieram do Nordeste brasileiro, ugindo
das secas, undaram o seringal Empresa, que mais
tarde veio a ser a capital do Acre, Rio Branco.
Nessa poca, o governo da Bolvia pretendia
passar o controle do territrio do Acre para o An
gloBolivian Syndicate de Nova York, por meio
de um contrato que concedia no s o monop
lio sobre a produo e exportao da borracha,
como tambm aueria os direitos scais, manten
do ainda as tareas de polcia local. A reao dosacreanos se concretizou com a rebelio de Plci
do de Castro. Tambm o governo brasileiro iniciou
aes diplomticas, capitaneadas pelo Baro de
Rio Branco.
Em 1901, Lus Galvez, com o apoio do gover
nador do Estado do Amazonas, proclamou o Acre
Estado Independente, acirrando os confitos entre
bolivianos, seringueiros e seringalistas.
As negociaes entre o governo brasileiro e o
boliviano chegaram a um acordo em 1903, com
a assinatura do Tratado de Petrpolis, por meio
do qual o Brasil incorporou ao territrio nacional
uma extenso de terra de quase 200 mil km, que
oi entregue a 60 mil seringueiros e suas amlias
para que l pudessem exercer as unes extrati
vas da borracha.
Historicamente, a migrao dos nordestinos
ampliou as ronteiras do pas na Regio Norte e
2 SCHEFFLER, L. F. Macrotendncias ScioEconmicas do Estado do Acre. Rio Branco: SEMA/IMAC. Artigo produzido para oZEE Fase II, 2006. Trabalho no publicado
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Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre Fase II Documento Sntese Escala 1:250.0001
contribuiu para a gerao de riquezas oriundas do
crescente volume e valor das exportaes brasi
leiras de borracha no perodo. A crise de preos
desse produto, nos primeiros anos do sculo XX,
acabou dando origem a um modelo de ocupao
baseado em atividades de subsistncia e comer
ciais em escala reduzida, dependente diretamente dos recursos naturais disponveis no local.
Contudo, a partir de 1912, o Brasil perdeu a
supremacia da borracha. Esse ato oi ocasionado
pelos altos custos da extrao do produto, que
impossibilitavam a competio com as planta
es do Oriente; inexistncia de pesquisas agro
nmicas em larga escala devidamente amparadas
pelo setor pblico; alta de viso empresarial dos
brasileiros ligados ao comrcio da goma elstica;
carncia de uma modeobra barata da regio,
elemento essencial ao sistema produtivo; insucincia de capital nanceiro aliada distncia e
s condies naturais adversas da regio. Os se
ringueiros que trabalhavam na extrao do ltex
se mantiveram em alguns seringais, sobreviven
do por meio da explorao da madeira, pecuria,
comrcio de peles e atividades ligadas coleta e
produo de alimentos.
Por mais de cem anos essa sociedade teve
como base a explorao da borracha, castanha,
pesca, madeira, agricultura e pecuria em peque
na escala. Se, por um lado, essa tradio contribuiu
para a manuteno quase inalterada dos recursos
naturais, gerou graves desigualdades sociais pela
ausncia de polticas de inraestrutura social e
produtiva para a maioria da populao.
Impacto sobre as sociedadesindgenas
Como parte do mesmo processo desencadeado
pela demanda da borracha, caucheiros peruanosvindos do sudoeste cortavam a regio das cabe
ceiras do Juru e do Purus, enquanto os primeiros
seringalistas bolivianos comeavam a se expandir
pelo vale de Madre de Dos e ocupar as terras acre
anas pelo sul. Frente a essas investidas, os povos
nativos da regio viramse cercados por brasileiros,
peruanos e bolivianos sem ter para onde ugir ou
como resistir enorme presso que vinha do capi
tal internacional, que dependia da borracha amaz
nica. Para os ndios inaugurouse um novo tempo:
de senhores das terras da Amaznia sulocidental
passaram a ser vistos como entrave explorao
da borracha e do caucho na regio.
Desde o estabelecimento da empresa extrati
vista da borracha at a dcada de 1980, os ndios
do Acre passaram por uma longa ase de degra
dao de sua cultura tradicional, que inclui expro
priao da modeobra, descaracterizao da
cultura e desestruturao da organizao social.O encontro entre culturas indgenas e noin
dgenas oi marcado pelo conronto, que se ex
pressou de orma cruel e excludente. Entre os anos
de 1880 e 1910, o intenso ritmo da explorao da
borracha resultou no extermnio de inmeros
grupos indgenas. Alm disso, o estabelecimen
to da empresa extrativista da borracha alterou a
orma de organizao social dos ndios. Alguns
pequenos grupos ainda conseguiram se reugiar
nas cabeceiras mais isoladas dos rios, mas a gran
de maioria oi pressionada a se modicar para no
desaparecer.
A escassez da modeobra levou ao emprego
crescente das comunidades indgenas remanes
centes nos seringais. Os comerciantes srioliba
neses substituram as casas aviadoras de Belm
e Manaus na uno de abastecer os barraces
e manter ativos os seringais, e a populao oi se
estabelecendo na beira dos rios, dando origem a
um segmento social tradicional do Estado, os ri
beirinhos.
Srios e libaneses
No passado, os regates mascates das guas
da Amaznia aportavam s margens dos serin
gais abastecendo seus moradores de produtos di
versos, inclusive miudezas, destacandose, entre
esses personagens, os srios e libaneses, que reali
zaram uma trajetria histrica signicativa para a
ormao do Acre. Essa migrao de origem sria e
libanesa oi realizada por conta dos prprios imi
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Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre Fase II Documento Sntese Escala 1:250.000 1
grantes, de maneira noocial ou subsidiada.
Esses imigrantes e seus descendentes conse
guiram vencer a opinio corrente que um dia os
considerou marginais. Pesou tambm o ato de
que, com o passar do tempo, houve uma gradativa
miscigenao com a populao local, proporcio
nando uma descendncia de legtimos lhos daterra. Como acreanos natos, os lhos do Oriente
Prximo estavam em igualdade de condies com
os de outros imigrantes nacionais ou estrangeiros.
O bemestar econmico alcanado por muitos s
rios e libaneses assegurou educao de qualidade
para seus lhos, que passaram a se integrar, em su
cessivas geraes, economia e elite local.
Ribeirinhos
No curso dos anos de explorao da borracha
e mesmo entre as crises, s margens dos rios do
Acre estabeleceramse os ribeirinhos, que cons
tituram comunidades organizadas a partir de
unidade produtivas amiliares que utilizam os rioscomo principal meio de transporte, de produo
e de relaes sociais.
O ribeirinho, em sua maioria, oriundo do
Nordeste ou descende de pessoas daquela re
gio. Destacamos que, com as agudas crises da
borracha, muitos desses homens e suas amlias
se xaram nas margens dos rios, constituindo um
tipo de populao tradicional com estilo prprio
na qual o rio tornouse um dos elementos centrais
de sua identidade.
Os produtores ribeirinhos desenvolvem uma
economia de subsistncia bastante diversica
da, ao mesmo tempo adaptada e condicionada
pelo meio ambiente, sem agredilo com prticas
como queima e desmatamento da foresta. Por
isso, sempre estiveram junto com os seringueiros
na organizao e deesa dos direitos de ocupao
das reas onde viviam.
Autonomia acreana
Apesar de o Tratado de Petrpolis ter reco
nhecido o territrio acreano como brasileiro, a
incorporao ocorreu na orma de territrio e no
como um Estado independente. Isso desagradou
o povo acreano, em razo de sua dependncia
do poder executivo ederal, pois signicava que
o Acre no tinha direito a uma Constituio pr
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pria, no podia arrecadar impostos, dependia dos
repasses oramentrios do governo ederal e sua
populao no poderia votar nas unes executi
vas ou legislativas.
Alm disso, os administradores nomeados
pelo governo ederal no tinham nenhum com
promisso com a sociedade acreana, situaoagravada pela distncia e isolamento das cidades
e inecincia dos servios pblicos.
A autonomia poltica do Acre tornavase, en
to, a nova bandeira de luta. Comearam a ser
undados clubes polticos e organizaes de pro
prietrios e/ou de trabalhadores em diversas cida
des como Xapuri, Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Em
poucos anos a situao social acreana se agravaria
em muito devido reduo no preo da borracha,
que passou a ser produzida no sudeste asitico.
A radicalizao dos confitos logo produziriaeeitos mais graves: o assassinato de Plcido de
Castro, em 1908, um dos lderes da oposio ao
governo ederal, e em 1910, registrouse a primei
ra revolta autonomista em Cruzeiro do Sul, sendo
seguida por Sena Madureira, em 1912, e em Rio
Branco, em 1918, todas suocadas ora pelo go
verno brasileiro.
A sociedade acreana viveu ento um dos pe
rodos mais diceis da sua histria. Os anos 20
oram marcados pela decadncia econmica
provocada pela queda dos preos internacionais
da borracha. Os seringais aliram. Toda a riqueza
acumulada havia sido drenada, cando o Acre iso
lado.
A populao local buscou novas ormas de or
ganizao social e de encontrar novos produtos
que pudessem substituir a borracha no comrcio
internacional. Os seringais se transormaram em
unidades produtivas mais diversicadas. Tiveram
incio a prtica de agricultura de subsistncia que
diminua a dependncia de produtos importados,a intensicao da colheita e exportao da cas
tanha e o crescimento do comrcio de madeira e
de peles de animais silvestres da auna amazni
ca. Comeavam assim, impulsionadas pela neces
sidade, as primeiras experincias de manejo dos
recursos forestais acreanos.
A situao de tutela poltica sobre a sociedade
acreana, entretanto, mantinhase inalterada. Nem
mesmo o novo perodo de prosperidade da bor
racha, provocado pela Segunda Guerra Mundial,
oi capaz de modicar esse quadro. Durante trs
anos (19421945), a Batalha da Borracha trouxe
mais amlias nordestinas para o Acre, repovoan
do e enriquecendo novamente os seringais.
Essa melhoria do contexto econmico ez com
que os anseios autonomistas ganhassem nova or
a e, em 1962, depois de uma longa batalha legis
lativa, o Acre ganhou o status de Estado e o povopassou a exercer plenamente sua cidadania.
Segunda Guerra Mundial
A ecloso da Segunda Guerra Mundial em
1939 possibilitou um novo alento economia ex
trativa da borracha em decorrncia dos Acordos
de Washington, que asseguraram o ornecimento
de ltex para os pases aliados (Frana, Inglaterra e
E.U.A.), em confito com os pases do Eixo (Alema
nha, Itlia e Japo) devido ao controle dos seringais asiticos pelos japoneses.
Na dcada de 1940, teve incio um aumento na
demanda externa por ltex, o que levou o governo
brasileiro a promulgar o decretolei n 5.813, de
14/09/45, criando no pas a oportunidade de tra
balho na extrao do ltex, em lugar de prestao
do servio militar obrigatrio. Isso resultou, nova
mente, na vinda de contingentes de nordestinos
para o Acre, mas esse novo ciclo durou pouco.
A mobilizao e encaminhamento de mo
deobra para a Amaznia oram realizados por ini
ciativa de rgos governamentais especialmente
criados para esse m, como o DNI (Departamento
Nacional de Imigrao), SEMTA (Servio de Mobili
zao de Trabalhadores para a Amaznia) e CAETA
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(Comisso Administrativa de Encaminhamento de
Trabalhadores para a Amaznia). O objetivo era su
prir os seringais de trabalhadores, uma vez que, no
perodo de 1920 a 1940, a taxa de crescimento de
mogrco da regio chegou ao percentual irris
rio de 0,05%. A populao do Par decresceu 0,01%
ao ano e a do Amazonas cresceu taxa de 0,1% aoano, enquanto no antigo territrio do Acre a po
pulao decresceu taxa de 8,8% ao ano, transor
mandose numa zona de repulso demogrca.
(Vergolino, apud Martinello, 2004).
medida que a crise da economia extrativista
da borracha se acentuava, os seringalistas reivin
dicavam do governo ederal uma poltica de va
lorizao da borracha. Foram realizadas Conern
cias Nacionais da Borracha, no perodo de 1946 a
1950. Entretanto, apesar das polticas implemen
tadas, a produo da borracha acreana no maisvoltou aos patamares do perodo da guerra.
Entre os anos de 1940 at nal de 1960, o
Acre cou relativamente isolado da economia
internacional e nacional, mesmo aps a constru
o das rodovias BelmBraslia e BrasliaAcre. A
partir desse perodo, a migrao para os Estados
da Amaznia brasileira, em geral, acelerase, pois
coincide com o momento em que o planejamento
regional se mostrava como uma sada para o orde
namento do crescimento econmico, resultando
na transormao da antiga Superintendncia de
Valorizao Econmica da Amaznia em Superin
tendncia de Desenvolvimento da Amaznia (Su
dam), do Banco de Crdito da Borracha em Banco
da Amaznia (Basa) e na criao da Zona Franca
de Manaus.
Expanso da ronteiraagropecuria
A dcada de 70 trouxe proundas alteraesnesse cenrio decorrente da reorientao do mo
delo de desenvolvimento da Amaznia produzido
pelos militares. Visto como um Estado marginali
zado e pouco desenvolvido, para o Acre oram
orientados investimentos em pecuria e agricul
tura que alterariam radicalmente a base de recur
sos naturais e a vida de sua populao.
O Estado do Acre no cou imune aos avan
os nas rentes de expanso e a outros enme
nos ligados dinmica da economia brasileira.
Por exemplo, ao nal da dcada de 1960, con
gurouse um contexto de valorizao do mercado
de terras, em conseqncia da concretizao das
condies prvias para a expanso da produo
agropecuria no pas: implantao de indstrias
produtoras de mquinas, implementos e insumos
qumicos e biolgicos para essa produo, bem
como as indstrias que beneciam as matriasprimas agropecurias; tambm desse perodo a
institucionalizao do Sistema Nacional de Crdi
to Rural (1965).
Em conseqncia, constituramse os comple
xos agroindustriais no Brasil, em geral dominados
por empresas transnacionais, que passam a esti
mular o que e como produzir para o mercado in
terno e externo, pois detm expresso econmica
e poltica capaz de impor seus interesses.
Sulistas no Acre
Os anos 70 e 80 desenharam outro contexto
para o Acre com a vinda dos chamados paulistas.
Essa identidade oi atribuda de orma genrica a
grandes empresrios sulistas e migrantes rurais
que vieram para o Acre com objetivo de especular
com a compra de grandes seringais.
importante salientar que, apesar de nmero
razovel de pessoas oriundas das regies Sul e Su
deste para os Projetos de Colonizao, houve umgrande nmero de pessoas residentes em reas
de forestas ou rurais dirigidas para os Projetos de
Assentamento. Nesse sentido, os assentamentos
serviam para atenuar presses do Sul e Sudeste,
mas principalmente das existentes no Acre, pela
qual muitas pessoas oram mortas e expulsas de
suas terras.
Embora dados do Incra indiquem a atual exis
tncia de concentrao de reas nas mos de
grandes proprietrios, mesmo dentro dos proje
tos de colonizao, esse ato no ocorria na po
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Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre Fase II Documento Sntese Escala 1:250.00020
ca da criao deles. Naquela oportunidade, esses
espaos oram loteados e ocupados por amliaspobres e sem terra, basicamente seringueiros e
posseiros.
Presses vindas de vrios segmentos sociais
contriburam para a criao dos projetos de colo
nizao do Acre, entre os quais se destacaram os
exseringueiros e posseiros expulsos dos seringais
por ocasio do processo de transerncia das ter
ras acreanas para os azendeiros do CentroSul.
Em meados de 70 do sculo XX, as tenses en
tre pecuaristas e latiundirios de um lado e serin
gueiros do outro omentaram a expropriao des
tes dos seringais, dando origem a um contingente
de desempregados nos bairros e no entorno das
cidades acreanas. Parcela signicativa de amlias
migrou para os seringais da Bolvia, ali constituin
do amlia e criando novas identidades. Esse novo
ator social oi designado por um grupo de estu
diosos como brasivianos.
Contexto dierente ocorreu nos anos 80, quan
do os seringueiros passaram a se organizar poli
ticamente devido as ortes tenses e pela expropriao de suas terras e da proibio do uso dos
recursos naturais.
Reao da sociedade
Dierentemente de outras regies da Ama
znia, que passaram pelo mesmo processo e, ao
m da dcada de 90, havia sido alterada proun
damente a congurao scioeconmica de sua
populao, por infuncia de migrantes oriundos
do Sul do Brasil, no Acre comunidades tradicio
nais de seringueiros, indgenas e pequenos agri
cultores reagiram s mudanas. Apoiados porinstituies da Igreja Catlica como CPT e CIMI,
organizaes sindicais como Contag, polticas
como PT e CUT, segmentos at ento marginaliza
dos organizaram a deesa de territrios, recursos
e modos de vida. Iniciativas voltadas para impedir
desmatamentos base econmica e meio de vida
dessas populaes caram conhecidas no mun
do inteiro, dando origem a alianas estratgicas
que persistem ainda hoje.
Ao custo de muitos confitos e mortes, a socie
dade acreana conseguiu redirecionar o modelo
econmico implantado pelos militares na dcada
de 60. O assassinato de lderes representativos
como Wilson Pinheiro e Chico Mendes, entre ou
tros, evidenciou a ora da reao da sociedade
local aos agentes externos e produziu o recuo
daqueles investidores que apenas buscavam ex
plorao de curto prazo dos recursos naturais e da
ora de trabalho.
A partir dos ltimos anos da dcada de 70 e du
rante os anos 80 e 90, o Acre passou a ser o cenriode inmeras experincias inovadoras de gesto
de recursos naturais e investimentos sociais, em
parceria com instituies nacionais e internacio
nais. Ao mesmo tempo em que deendiam seus
direitos, os diversos grupos sociais elaboravam
novas propostas que oram sendo implementa
das, em pequena escala, em todo o Estado. Deve
se destacar a regularizao de territrios e acesso
a recursos naturais na orma de Terras Indgenas,
Projetos de Assentamento Extrativistas e Reservas
Extrativistas e iniciativas voltadas para adquirir
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novas tecnologias e conhecimentos para utilizar
esses recursos.
Nesse contexto, merece destaque a atuao
das populaes tradicionais, mesmo daquelas
que migraram para as cidades por ora da deses
truturao dos seringais, da valorizao das terras
e da conseqente concentrao undiria, conorme mencionado anteriormente.
A partir de 1975, as populaes tradicionais
da foresta comearam a se organizar e a desen
volver dierentes estratgias de resistncia. Foram
undados os primeiros sindicatos de trabalhado
res rurais em Brasilia, Xapuri, Rio Branco e Sena
Madureira. A implantao da primeira Ajudncia
da Funai no Estado possibilitou que se iniciasse o
processo de demarcao e regularizao das ter
ras indgenas acreanas. A Igreja Catlica do Vale
do Acre reorou a luta popular com as Comunidades Eclesiais de Base.
Os confitos oram se tornando cada vez mais
explosivos e, em 1980, Wilson Pinheiro, presidente
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilia,
oi assassinado. Muitas outras mortes ocorreriam,
culminando com a de Chico Mendes, em 1988,
que provocou o reconhecimento internacional da
sua causa, na luta em deesa da foresta e de seus
povos.
No deve ser esquecida, nesse contexto, a im
portncia crescente que as questes ambientais
vm assumindo, internacional e nacionalmente.
Essa conjugao de circunstncias ez com
que as populaes tradicionais recebessem apoio
nacional e internacional dos diversos movimen
tos que apontavam a necessidade da manuteno dos recursos naturais.
No perodo de 1976 a 1985, o governo ederal,
por meio do Incra, deu incio a um processo massi
vo de discriminao das terras no Estado do Acre,
cujo objetivo era identicar as terras pblicas das
particulares, reando a ao nociva dos especula
dores e grileiros. No m da dcada de 70, utilizan
do o procedimento de desapropriao para ns
de reorma agrria, oram criados os primeiros
Projetos de Assentamentos Dirigidos (PAD): Peixo
to e Boa Esperana, marco da colonizao ocialda Amaznia ao longo da BR364.
Dcada de 0
A partir de meados dos anos 90, com a implan
tao do Plano Real e a relativa estabilidade mo
netria, os investimentos de longo prazo caram
mais atraentes, provocando queda no preo da
terra. Essa queda, por sua vez, tornou mais aces
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svel a aquisio de lotes que, associada aos pro
gramas de acesso ao crdito para a produo em
pequenas e mdias reas (Prona e Procera), igual
mente estimulou a ocupao da Amaznia.
Ainda no contexto de entendimento da ocupao do Acre, marcada pelo ciclo econmico da
borracha, cuja matriaprima ltex extrada
da natureza e no propriamente produzida, me
rece meno que as atividades extrativas, histo
ricamente, no tm gerado um processo de acu
mulao e crescimento econmico no local de
onde so extrados os produtos e/ou matrias
primas. Em geral, a realizao desse potencial
deslocada para as regies onde os produtos so
industrializados e/ou comercializados. Assim, o
potencial de acumulao gerado pelo ltex oi,
em sua menor parte, apropriado pelos comer
ciantes e investido nas capitais dos Estados do
Par e do Amazonas, porm, a maior parte oi
realizada no exterior, onde a borracha era indus
trializada.
Nesse sentido, o capital gerado no oi rein
vestido no setor industrial, de beneciamento do
prprio ltex ou de outros produtos extrativistas
regionais ou, ainda, em outros setores produtivos.
Em conseqncia, o ciclo da borracha no oi capaz de engendrar oportunidades de crescimento
econmico e gerao de emprego e renda.
No entanto, pouco impactou os ecossistemas
regionais, o que congura um dos aspectos posi
tivos do processo de ocupao do Estado do Acre,
que, como se ver na seqncia, ainda dispe de
um patrimnio natural praticamente conservado.
Em sntese, no Acre surgiram os movimentos
sociais contra o desmatamento na dcada de 70
e as primeiras propostas da sociedade
civil para conciliao entre desenvolvi
mento e meio ambiente na dcada de
80. Alm disso, tambm ali se desen
volveu a nica experincia continuada
de mais de dez anos de gesto pblica,
municipal e estadual, voltada para aimplementao de um modelo de de
senvolvimento baseado na valorizao
dos recursos forestais e da biodiversi
dade. Agora, o Acre inicia o processo
de consolidao das mudanas para se
constituir, de orma permanente, em
reerncia para o Brasil, as demais regies amaz
nicas e os pases vizinhos como o Estado brasileiro
da forestania3.
As trajetrias sociais e o Acreatual
A territorialidade construda por ndios, serin
gueiros, regates, ribeirinhos e sulistas, a partir
de suas trajetrias, condiciona sua participao
no processo de construo de uma identidade
acreana. Cada um desses segmentos atua como
sujeito social que busca a realizao de um pro
jeto que possibilite a manuteno dos modos de
vida que historicamente vm constituindo uma
relao tensa e confituosa de uns com os outros
e de todos com a natureza. As trajetrias histri
cas e culturais experimentadas por to dierentes
atores sociais ao longo da ormao da sociedade
acreana deram origem a uma realidade multiace
tada que, mais do que uma sntese das dierenas,
realiza e atualiza a noo de uma identidade re
gional a partir de sua interao.
Essa contnua construo das identidades
acreanas detm ocos, sendo o principal deles a
relao cultural com a foresta. Esse imaginrioforestal, portanto, tornase uma das ormas de
resistncia e um dos elementos de contgio s
demais raes territoriais existentes no Estado.
O reconhecimento das territorialidades e iden
tidades desse atores sociais e a compreenso de
suas dierenas histricoculturais constituem os
elementos undantes da concepo de um zo
neamento ecolgicoeconmico do Acre como
instrumento de um modelo de desenvolvimento,
3 O conceito de forestania sintetiza esse pensamento de melhoria de qualidade de vida e de valorizao dos ativos ambientaisdas populaes que vivem da foresta.
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centrado na perspectiva da sustentabilidade e
gestado a partir de sua prpria histria e congu
rao social.
Atualidade
Com o objetivo de executar e promover a regularizao, ordenamento e reordenamento un
dirio rural e mediao de confitos pela posse da
terra, em 2001 o Estado criou o Instituto de Terras
do Acre (Iteracre), com a nalidade de apoiar o go
verno do Estado na criao de novas reas de inte
resse pblico como as Unidades de Conservao
(Uso Sustentvel e Proteo Integral), Projetos de
Assentamentos e Terras Indgenas.
No se pode desconsiderar, nesse contexto de
confitos e avanos na apropriao do patrimnio
natural do Acre, que grandes reas de forestasesto atualmente protegidas sob o regime de
Parques Nacionais, Unidades de Conservao, Re
servas Extrativistas e Terras Indgenas, conorme
ser visto na Parte II desta publicao. Agregue
se a esses confitos o ato de que no Acre encon
trase, tambm, um grande nmero de pequenas
reas ocupadas pela populao ribeirinha. Alguns
detm a propriedade legal da terra que ocupam,
outros, no.
Na atualidade, ainda persistem confitos pelaposse e uso dos recursos naturais no Estado do
Acre, mas com congurao dierenciada. Aconte
cem, em sua maioria, entre grandes proprietrios
que querem retirar a madeira e posseiros, mesmo
nas reas que oram objeto de reorma agrria.
Outros ainda esto relacionados com o desmata
mento e/ou retirada ilegal de madeira.
Em geral, os confitos atuais pela posse de
terra identicados no Acre tiveram origem na de
manda reprimida de pretensos benecirios da
reorma agrria e na presso de grandes proprietrios, para estender o desmatamento sobre reas
de posse de seringueiros ou pequenos agriculto
res amiliares.
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Recentemente, ocorreram ocupaes espon
tneas de reas destinadas s reservas legais de
grandes propriedades, motivando aes de rein
tegrao de posse por parte dos proprietrios. A
compra de grandes seringais, com moradia ee
tiva de ocupantes tradicionais, tambm constitui
importante ator de gerao de confito.H mais de trs dcadas, o desmatamento
se apresenta como uma prtica comum, princi
palmente em grandes reas, quando a madeira
de maior valor econmico j oi retirada e a rea
est ocupada com pastagem. Essa prtica adquire
maior gravidade quando atinge reas ocupadas
por populaes extrativistas, que tm a foresta
como base de atividade econmica. Como essas
reas esto condicionadas a atividades forestais
e extrativistas, as populaes tradicionais preser
vam os recursos naturais de orma sustentvel, oque torna tais reas alvo de atrao para os ma
deireiros.
Finalmente, importante lembrar que o con
junto de circunstncias aqui apresentadas, acerca
do processo de ocupao do Estado do Acre, so
responsveis pela conormao da sociedade, da
economia e mesmo da situao atual dos recursos
naturais do Estado do Acre. responsvel, ainda,
por uma srie de problemas sociais, econmicos eambientais, cuja resoluo, em particular daque
les de incluso social, ordenamento territorial e
desenvolvimento sustentvel, um dos principais
objetivos do Zoneamento EcolgicoEconmico,
em sua segunda ase.
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1.2. A CONSTRUO DODESENVOLVIMENTO SUSTENTVELNO ACRE E O ZONEAMENTO
ECOLGICO-ECONMICO4
No Acre, o Programa Estadual de Zoneamen
to EcolgicoEconmico tem assumido um papel
undamental na construo do desenvolvimento
sustentvel. O Zoneamento EcolgicoEconmico
do Acre constituise num instrumento privilegia
do de negociao entre o governo e a sociedade
de estratgias de gesto do territrio. O ZEEAcre
tem a atribuio de ornecer subsdios para orien
tar as polticas pblicas relacionadas ao planeja
mento, uso e ocupao do territrio, consideran
do as potencialidades e limitaes do meio sico,
bitico e scioeconmico, seguindo princpios
do desenvolvimento sustentvel5.
Dadas as especicidades culturais, ambientais,
sociais e econmicas dos lugares, os problemas,
os potenciais e as oportunidades so distintos, e,
assim, o padro de desenvolvimento sustentvel
no pode ser uniorme para toda a Amaznia.Uma caracterstica positiva da busca de um novo
padro sustentvel da vida social justamente
valorizar a dierena, que se traduz em vanta
gem competitiva do territrio para construo
do desenvolvimento scioeconmico e melhor
qualidade ambiental (Rgo, 2003). Desse modo,
o desenvolvimento sustentvel congurase como
desenvolvimento sustentvel local e o ZEE deve
ajustarse, na Amaznia, em seus objetivos e pro
cedimentos, s realidades especcas dos Estados
e ao projeto poltico de sua populao. Nesse sentido, uma das atribuies do ZEE contribuir para a
espacializao de polticas pblicas, no sentido de
adaptlas a realidades especcas do territrio.
As especicidades culturais e a reivindicao
de participao das comunidades locais salientam
cada vez mais o papel das mesmas na construo
de solues locais para uma sociedade sustent
vel. Por isso, o planejamento regional s poderter eccia e eetividade se compartilhar as deci
ses com os setores sociais tradicionalmente ex
cludos, a sociedade civil e o empresariado (Rgo,
2003). Ou seja, a implementao prtica do zo
neamento est relacionada consolidao de um
novo estilo de gesto das polticas pblicas en
volvendo processos de empoderamento, dilogo
e negociao entre o governo, a sociedade civil
organizada e o setor privado.
Durante os anos 80, o ZEE surgiu como respos
ta de rgos governamentais ao agravamento deproblemas scioambientais na Amaznia, espe
cialmente o desmatamento acelerado e confitos
violentos sobre o acesso terra e a outros recur
sos naturais, a exemplo do assassinato de Chico
Mendes, em Xapuri, em dezembro de 1988. Des
de ento, as experincias de zoneamento ecolgi
4 PASSOS, V. T. R. et al. Diretrizes Estratgicas para o Zoneamento Fase II do Estado do Acre Documento Base do ZoneamentoEcolgicoEconmico Fase II. Rio Branco: Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais, 20045 O termo desenvolvimento sustentvel pode ser denido como um padro de desenvolvimento que tem como princpio asse
gurar condies dignas de vida para as geraes atuais, baseado em modelos de produo e consumo que mantm os estoquesde recursos naturais e a qualidade ambiental, de orma a permitir condies de vida igual ou superior s geraes uturas.
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coeconmico promovidas pelo governo ederal e
governos estaduais na Amaznia tm gerado uma
srie de debates, aprendizados e reormulaes de
estratgia6. No caso do Acre, o ZEE, sem embargo
de colher ensinamento de experincias de outros
espaos da Amaznia, teve como reerncia e ins
pirao, a histria, a cultura, o saber tradicional, osonho, o projeto de desenvolvimento e vida do
seu povo, para criar um mtodo inovador e um
zoneamento que d conta das caractersticas pe
culiares da natureza e das sociedades locais.
No mbito ederal, a Comisso Coordenadora
do Zoneamento EcolgicoEconmico do Territ
rio Nacional, composta por 13 ministrios coor
denados pelo Ministrio do Meio Ambiente, tem
a atribuio de planejar, coordenar, acompanhar
e avaliar a execuo dos trabalhos de ZEE. Uma
das unes dessa comisso articularse com osgovernos estaduais, apoiandoos na execuo de
suas iniciativas de zoneamento, buscando a com
patibilizao com os trabalhos do governo ederal.
A comisso conta com a assessoria tcnica de um
Grupo de Trabalho Permanente para a Execuo
do ZEE, denominado Consrcio ZEE Brasil (decre
to de 28 de dezembro de 2001).
No Acre, o Programa Estadual de Zoneamento
EcolgicoEconmico oi criado pelo governador
Jorge Viana por meio do decreto estadual n 503,
de 6 de abril de 1999, segundo o qual os trabalhos
do ZEE devem ser conduzidos de acordo com os
seguintes princpios:
Participativo: os atores sociais devem intervir
durante todas as ases dos trabalhos, desde
a concepo at a gesto, com vistas cons
truo de seus interesses prprios e coleti
vos, para que o ZEE seja autntico, legtimoe realizvel.
Eqitativo: igualdade de oportunidade de de
senvolvimento para todos os grupos sociais e
para as dierentes regies do Estado.
Sustentvel: o uso dos recursos naturais e do
meio ambiente deve ser equilibrado, buscan
do a satisao das necessidades presentes
sem comprometer os recursos para as gera
es uturas.
Holstico: abordagem interdisciplinar para
integrao de atores e processos, considerando a estrutura e a dinmica ambiental e
econmica, bem como os atores histrico
evolutivos do patrimnio biolgico e natural
do Estado.
Sistmico: viso sistmica que propicie a an
lise de causa e eeito, permitindo estabelecer
as relaes de interdependncia entre os sub
sistemas sicobitico e scioeconmico.
A elaborao do ZEE envolve a realizao de
estudos sobre sistemas ambientais, as potencia
lidades e limitaes para o uso sustentvel dos
recursos naturais, as relaes entre a sociedade
e o meio ambiente e a identicao de cenrios
tendenciais e alternativos, de modo a subsidiar
negociaes entre o governo, o setor privado e a
sociedade civil sobre estratgias