WERSIG, G., NEVELING, U. The phenomena of interest to information science. The Information...

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OS FENÔMENOS DE INTERESSE PARA A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Gernot Wersig & Ulrich Neveling Discute as várias definições explícitas e implícitas de informação e ciência da informação, numa perspectiva de seu desenvolvimento histórico. Mostra como os vários aspectos da ciência da informação se superpõem com outras disciplinas e conclui com uma proposta para uma definição de ciência da informação, baseada na necessidade social. Apresenta-se um esquema de ciências da informação com um apelo para que qualquer discussão sobre informação e ciência da informação deixe claras, antes de tudo, as definições que serão usadas. 1 – As diferentes origens da ciência da informação “Ciência da informação”, “informática” e qualquer que seja o nome que lhe seja dado, é um campo de estudo surgido recentemente, cuja primeira consciência de ser uma disciplina data talvez do fim da década de 1950 (embora pesquisadores isolados já tivessem realizado trabalho científico na área antes disso). Esta é uma das pouquíssimas afirmações que - sem ser grandemente discutida por um grupo que se autodetermina “cientistas da informação”, formado de pessoas reunidas ao acaso – poderia ser feita a respeito da “ciência da informação”. A “ciência da informação” não se desenvolveu a partir de um outro campo de estudo (como a psicologia), nem da intersecção de dois campos (como a bioquímica), mas a partir das exigências de uma área de trabalho prático, denominada “documentação” ou “recuperação da informação”. Embora a introdução de novas tecnologias, particularmente do processamento eletrônico de dados, tenha determinado a emergência desta disciplina, as contribuições para o nascimento da “ciência da informação” vieram de muitas disciplinas distintas (devido às diversas formações das pessoas que ingressaram num campo em que não havia nenhum sistema educacional estabelecido) e foram provocadas por

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Discute as várias definições explícitas e implícitas de informação e ciência dainformação, numa perspectiva de seu desenvolvimento histórico. Mostra como osvários aspectos da ciência da informação se superpõem com outras disciplinas econclui com uma proposta para uma definição de ciência da informação, baseadana necessidade social. Apresenta-se um esquema de ciências da informação comum apelo para que qualquer discussão sobre informação e ciência da informaçãodeixe claras, antes de tudo, as definições que serão usadas.

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  • OS FENMENOS DE INTERESSE PARA A CINCIA DA INFORMAO

    Gernot Wersig & Ulrich Neveling

    Discute as vrias definies explcitas e implcitas de informao e cincia da

    informao, numa perspectiva de seu desenvolvimento histrico. Mostra como os

    vrios aspectos da cincia da informao se superpem com outras disciplinas e

    conclui com uma proposta para uma definio de cincia da informao, baseada

    na necessidade social. Apresenta-se um esquema de cincias da informao com

    um apelo para que qualquer discusso sobre informao e cincia da informao

    deixe claras, antes de tudo, as definies que sero usadas.

    1 As diferentes origens da cincia da informao Cincia da informao, informtica e qualquer que seja o nome que lhe

    seja dado, um campo de estudo surgido recentemente, cuja primeira conscincia

    de ser uma disciplina data talvez do fim da dcada de 1950 (embora

    pesquisadores isolados j tivessem realizado trabalho cientfico na rea antes

    disso). Esta uma das pouqussimas afirmaes que - sem ser grandemente

    discutida por um grupo que se autodetermina cientistas da informao, formado

    de pessoas reunidas ao acaso poderia ser feita a respeito da cincia da

    informao.

    A cincia da informao no se desenvolveu a partir de um outro campo

    de estudo (como a psicologia), nem da interseco de dois campos (como a

    bioqumica), mas a partir das exigncias de uma rea de trabalho prtico,

    denominada documentao ou recuperao da informao. Embora a

    introduo de novas tecnologias, particularmente do processamento eletrnico de

    dados, tenha determinado a emergncia desta disciplina, as contribuies para o

    nascimento da cincia da informao vieram de muitas disciplinas distintas

    (devido s diversas formaes das pessoas que ingressaram num campo em que

    no havia nenhum sistema educacional estabelecido) e foram provocadas por

  • uma srie de diferentes interesses (devido s diferentes reas de aplicao

    envolvidas com o trabalho de informao). Algumas delas so:

    Cincia dos computadores (uma vez que a tecnologia exerceu um importante papel);

    Biblioteconomia (uma vez que muitas das pessoas da rea haviam sido treinadas como bibliotecrios);

    Filosofia e taxonomia (uma vez que os fenmenos da classificao exerceram um importante papel);

    Lingstica (uma vez que a linguagem natural exerceu um importante papel, tanto como objeto quanto como instrumento de trabalho prtico);

    Teoria da informao (talvez pela similaridade terminolgica); Ciberntica (uma vez que todos, poca, procuravam trabalhar modelos

    cibernticos); e

    Matemtica (uma vez que h sempre algum procurando aplicar a realidade a alguma linda frmula matemtica).

    interessante observar que disciplinas como as cincias sociais, cincia da

    cincia e teoria da comunicao ingressaram bastante tardiamente na discusso a

    respeito da cincia da informao.

    Esta variedade de abordagens levou a uma situao em que cada

    participante da discusso poderia concordar na eventual existncia de algo

    chamado cincia da informao, contanto que ela fosse a sua cincia da

    informao, baseada na sua formao especfica.

    As dificuldades na discusso dos fenmenos que podem pertencer

    cincia da informao so parcialmente motivadas:

    Pelas diferentes formaes dos paticipantes (ver acima); Pela inexistente derivao histrica de todo o campo. Uma vez que a

    cincia da informao surgiu numa poca especfica, dever-se-iam estudar

    os processos histricos que provocaram a emergncia desta cincia da

  • informao. Estes estudos poderiam fornecer um entendimento mais amplo

    daquilo de que estamos falando; e

    Pelas diferenas terminolgicas no uso do termo informao. Este problema ser discutido na seo 2. Enfrentamos aqui uma situao onde

    muitas abordagens diferentes so possveis para preencher o termo

    informao com um contedo semntico; onde todas as possibilidades so

    utilizadas, mas normalmente no so expressas; onde, entretanto, no

    existe qualquer critrio aceito por todos, que possa determinar a escolha.

    Neste momento, um ponto de vista pessoal deve ser esclarecido. Uma vez

    que, em nossa opinio, a cincia no algo que se possa justificar em si mesma,

    mas sempre justificvel por alguma necessidade social que deve ser atendida

    por esta cincia, temos que descobrir quais foram as razes especficas que

    levaram ao desenvolvimento desta cincia. As questes principais, cujas

    respostas talvez possam criar algum entendimento comum, so:

    Por que apareceu a cincia da informao? Que exigncias sociais devem ser atendidas pela cincia da informao?

    Na verdade, a respeito deste tema da cincia da informao parece haver

    mais pontos de vista do que pessoas que os expressaram. Uma primeira tentativa

    de sistematizar estes pontos de vista poderia ser talvez a ampla classificao

    dentro das seguintes quatro categorias:

    A viso orientada para o fenmeno; A viso orientada para os meios; A viso orientada para a tecnologia; e A viso orientada para os fins.

  • A) A viso orientada para o fenmeno Esta categoria conclui pela existncia de uma srie de autores que afirmam

    existir um fenmeno chamado informao e que a cincia da informao a

    cincia responsvel por este fenmeno. Na verdade, parece ser este o maior

    grupo de autores e por causa da dificuldade com o termo informao o grupo

    com os pontos de vista mais divergentes sobre o assunto. As diferentes definies

    possveis do termo bsico informao sero dadas na seo 2.

    B) A viso orientada para os meios Alguns autores, geralmente os que procedem de reas orientadas para a

    prtica, tentam definir cincia da informao a partir da viso que possuem da

    aplicao desta disciplina, concentrando-se, por conseguinte, nos meios que

    devem ser usados na atividade prtica da informao. Este o caso dos autores

    que se concentram na teoria da classificao, por exemplo, a escola de

    Ranganathan ou dos que se dedicam ao projeto de sistemas automatizados de

    informao (por exemplo, Kunz/Rittel 1) ou dos autores provenientes da

    biblioteconomia.

    C) A viso orientada para a tecnologia A cincia da informao freqentemente vista somente como aquele

    subsistema da cincia dos computadores interessado na aplicao de

    equipamentos de processamento eletrnico de dados armazenagem e

    recuperao de dados. Este, naturalmente, o caso dos autores provenientes da

    cincia dos computadores.

    D) A viso orientada para os fins Alguns autores, na maioria provenientes das cincias sociais, definem a

    cincia da informao do ponto de vista de que existem determinadas

    necessidades sociais a serem preenchidas, e que a cincia da informao deve

    servir a essas necessidades e desenvolver o trabalho prtico com elas

    relacionado.

  • 2 A informao como objeto possvel da cincia da informao O caso extremo de polissemia na comunicao tcnica da informao e da

    documentao o termo informao. A anlise semntica feita por um dos

    autores deste trabalho mostrou que existem, pelo menos, seis diferentes

    abordagens para o uso e significado do termo em todo o campo da disciplina.

    Obviamente, cada uso e significado do termo justificado, mas como a

    ambigidade um dos maiores entraves na comunicao cientfica e na

    elaborao de teorias, dever-se- encontrar uma regra para avaliar qual o

    significado que convm para cada objetivo.

    Podem-se caracterizar seis tipos ou abordagens principais de informao,

    com base na estrutura geral de relaes entre homens e mundo. 2

    A) A abordagem estrutural (orientada para a matria) A abordagem orientada para a matria, geralmente levando a algo que

    podemos chamar de definio estrutural, afirma que as estruturas da natureza,

    quer possam ser apreendidas ou no, constituem informao. A informao ,

    desta forma, independente de sua apreenso pelo ser humano. Existem algumas

    variantes desta abordagem:

    A informao dada pelas relaes estticas entre os objetos materiais: Definiramos informao como a posio de todos os tomos e molculas

    no universo e de todos os conjuntos de combinaes desses tomos e

    molculas em qualquer oportunidade; 3

    A informao so as relaes que podem tornar-se perceptveis todas as vezes que ocorram mudanas nos estados dos objetos fsicos; 4

    A informao uma caracterstica de objetos fsicos. 5

    interessante observar que esta atitude geralmente adotada por filsofos

    e utilizada tanto por idealistas quanto por marxistas.

  • B) A abordagem do conhecimento A abordagem do conhecimento afirma que o conhecimento elaborado

    base da percepo das estruturas da natureza informao. Esta parece-nos

    uma abordagem muito perigosa, uma vez que o prprio termo conhecimento

    um termo polissmico, e parece, s vezes, que os autores que no sabem como

    definir o termo conhecimento substituem-no por informao e vice-versa.

    Tambm aqui existem algumas variantes:

    O conhecimento se d objetivamente e pode ser realizado ou no. 6 O conhecimento deve ser adquirido pelo menos por um sujeito: A

    informao o conhecimento relacionado principalmente com conceitos

    qualitativos ou idias. 7

    O conhecimento serve a um fim especfico: A informao so dados de valor no processo decisrio. 8

    O conhecimento no deve ser adquirido somente por meio de formas comunicveis que se encontram disponveis: A informao o

    conhecimento sendo comunicado. 9

    interessante observar aqui que esta abordagem est amplamente difusa

    por vrias disciplinas (talvez por causa da ambigidade do termo conhecimento).

    Esta, entretanto, a abordagem mais aceita entre os autores preocupados com a

    teoria da deciso (em que uma deciso freqentemente vista como o processo

    de preencher lacunas de conhecimento ou informao).

    C) A abordagem da mensagem Por causa da teoria matemtica da comunicao, informao

    freqentemente usada como sinnimo de mensagem (uma vez que o contedo

    da informao medido pela mensagem). Podem-se identificar, tambm aqui,

    seguem algumas variantes:

  • Mensagem como um processo fsico: ... Quero dizer a substncia fsica, na forma de energia, da idia ou conceito que, no final das contas composta

    de uma mente para outra, por qualquer transferncia. 10

    Mensagem como um conjunto de smbolos: ... pelo que a informao... pode ser definida como smbolos produzidos por um comunicador para

    realizar seu intento comunicativo (traduzido de 11).

    Mensagem como uma unidade do suporte fsico e os smbolos ordenados sobre ele: A informao uma unidade que consiste de um suporte

    semntico (algo compreensvel conceitualmente) e suporte fsico

    (traduzido de 12).

    Obviamente, esta abordagem usada de preferncia por autores

    interessados na teoria matemtica da comunicao.

    D) A abordagem do significado (caracterstica da abordagem orientada para a mensagem) Enquanto a abordagem da mensagem negligencia amplamente o

    significado da mensagem, um outro tipo de definio, a do significado, aceita

    somente o significado da mensagem como informao.

    Tpica desta abordagem a norma tcnica americana: O significado

    atribudo aos dados por determinada conveno. 13 Como significado , pelo

    menos, to ambguo quanto informao, poder-se-ia supor que os autores que

    no sabem o que informao, chamam-na por outro nome que to obscuro

    quanto o primeiro. Em geral, isto feito pelo pessoal de processamento de dados

    que talvez entenda significado melhor do que os lingistas. Por outro lado, os

    lingistas fazem o mesmo, apenas no sentido oposto: O significado de um signo

    a informao sobre o objeto designado que se acha incorporado, fixado e

    expresso pelo sinal (traduzido de 14).

    Seria interessante ouvir uma discusso entre lingistas e cientistas de

    computadores sobre a questo o que apareceu primeiro o significado ou a

    informao?

  • E) A abordagem do efeito (orientada para o receptor) De acordo com a estrutura geral da comunicao (e ningum tem dvidas

    de que informao tenha algo que ver com comunicao), h um grupo de

    autores que situa a informao com o receptor ( diferena das abordagens

    anteriores que a situam com o comunicador), afirmando que a informao

    somente ocorre como um efeito especfico de um processo especfico (ou no

    especfico). Tambm aqui podem ser encontradas algumas variantes:

    A informao o resultado de um processo inespecfico: A informao so dados produzidos como o resultado de um processo sobre dados. Este

    pode ser simplesmente um processo de transmisso... como pode ser um

    processo de seleo; como pode ser de organizao; ou de anlise.15

    A informao abstrao do conhecimento: De fato, dizemos que informao aquilo que altera o que conhecemos...16

    A informao reduo de incerteza: Uma ao comunicativa contm... informao, quando, e somente quando, por meio desta ao, se remove

    ou se reduz a incerteza da parte do observador (traduzido de 17).

    interessante observar que as duas ltimas variantes so usadas de

    preferncia por cientistas do comportamento e que a ltima variante est

    embora um tanto inclinada para a psicologia de acordo com o modelo teortico

    da teoria da matemtica da comunicao (em que a quantidade de informao

    transferida por um smbolo ou grupo de smbolos se relaciona com a probabilidade

    de ocorrncia daquele smbolo ou grupo).

    F) A abordagem do processo Alguns autores vem a informao no como um dos componentes dos

    processos, mas como o prprio processo. Este pode ser:

    Um processo de processamento humano de dados: A informao... um processo que ocorre dentro da mente humana quando so

  • colocados numa unio produtiva um problema e os dados teis para sua

    soluo. 18

    Um processo de comunicao com um fim especfico: "Informao... um conjunto de aes orientadas para um fim, englobando os seguintes

    elementos: gerao..., transmisso, armazenagem e busca (traduzido

    de 19).

    Esta diversidade de aspectos da informao assustadora e, na verdade,

    provavelmente incompleto. Seria um alvio se pudssemos seguir a proposta de

    Fairthorne: evidente que a informao e seus derivados so palavras que

    devem ser evitadas, mas, obviamente, isto no possvel 20. Existem muitos

    pontos de vista unicamente por causa do interesse neste fenmeno, e este termo

    pelo menos ajuda na promoo de idias que, de outra forma, necessitariam de

    um esforo muito maior para a sua veiculao em direo s pessoas certas.

    Quem de ns gostaria de seguir uma proposta anterior de chamar a cincia da

    informao de Icnutica, 21 do grego ichneumon (um gato egpcio)? Se o termo

    informao, ou um de seus derivados como informtica, inevitvel, deveremos

    deixar claro, em cada caso, seu significado.

    3 Propostas para a interpretao de informao em cincia da informao 3.1 Responsabilidade social Acredito que ns todos nos autodenominemos cientistas da informao.

    Uma jovem inglesa que um de ns encontrou, depois de realizar um curso de

    algumas semanas, e trabalhando como tcnico de informao se autodenominava

    cientista da informao. Poderamos e deveramos fazer algo para sanar este

    abuso? Em caso negativo, no importa, porque todos ns poderamos ser

    chamados de cientistas da informao por outras pessoas com base no simples

    fato de que estamos tomando parte numa reunio a respeito da cincia da

    informao. Nossa hiptese seria a de que, primeira vista, nada mais nos une

    do que uma caracterstica comum de estarmos no mesmo encontro ou de sermos

  • chamados pelo mesmo nome. Mas no acreditamos que isso seja verdade.

    Naturalmente, todos temos pontos de vista divergentes sobre os fundamentos

    teorticos daquilo que chamamos cincia da informao e esta talvez uma

    situao em que esta diversidade poderia ser criativa.

    Ao contrrio, acreditamos que existiriam desenvolvimentos sociais que

    criaram linguagens comparveis, discutindo problemas comuns, em termos

    comuns. No momento, s possvel delinear brevemente estes desenvolvimentos.

    Talvez o problema tenha comeado quando Gutenberg inventou uma nova

    tecnologia da comunicao, que tornou possvel a transferncia de fragmentos do

    conhecimento para um pblico mais amplo. No sculo XVII e XVIII sentiu-se que

    no seria possvel distribuir comunidade interessada (cientfica e no cientfica)

    as publicaes originais de valor cientfico; em vista disso, sugiram os peridicos

    secundrios (na verdade, os primeiro peridicos tcnicos eram peridicos de

    resumos; o movimento dos enciclopedistas poder ser considerado sob o mesmo

    rtulo; mas tarde, Moralische Wochenschriften e Intelligenzbltter na Alemanha e

    seus equivalentes em outros pases europeus seguiram caminhos idnticos).

    Com a crescente relevncia da cincia para o desenvolvimento industrial no

    sculo XIX (primeira revoluo industrial iniciou-se a especializao das cincias,

    novas cincias foram criadas, sentiu-se a necessidade de outras, e a comunidade

    cientfica ampliou-se extraordinariamente). Este processo ainda se encontra em

    evoluo. Colocado de maneira sucinta, isto levou a uma situao em que

    emergiu um grupo annimo entre os produtores de dados e descobertas de um

    lado, e aquelas pessoas que precisam de dados, descobertas de outro lado.

    Conseqentemente, no processo da diviso do trabalho, emergiu um novo campo

    de atividade prtica e uma profisso mais antiga comeou a mudar sua definio.

    O pessoal de informao apareceu com diferentes ttulos em diferentes pases,

    mas com funes similares. E esta funo consiste novamente colocada de

    maneira muito simples em assegurar que aquelas pessoas que necessitam de

    qualquer parcela do conhecimento para o seu trabalho cientfico e tcnico (agora

    no restrito cincia e tecnologia, mas incluindo funes ocupacionais ou

    funes at menos restritas) possam adquiri-las ou no. Esta no uma filosofia

  • muito divulgada, mas uma funo social que pode ser deduzida do

    desenvolvimento histrico. De incio, eles tentaram resolver seu problema

    executando trabalho prtico, mas medida que:

    As exigncias cientficas se transformaram e cresceram; Os processos de comunicao social ficaram mais numerosos e

    complexos;

    As comunicaes cientficas e tcnicas alcanaram um estgio qualitativamente novo por meio da revoluo tcnico-cientfica e de uma

    dimenso mundial;

    Foram desenvolvidas novas e complicadas tecnologias de comunicao e informao.

    A abordagem puramente prtica, com mtodos tradicionais, de preferncia

    biblioteconmicos, provou ser ineficaz para a soluo do problema fundamental. A

    partir dos requisitos de uma prtica que cresceu e se tornou cada vez mais

    complexa, emergiu o trabalho cientfico, e, em seguida, apareceu um grupo de

    pessoas, foi utilizada uma nova tecnologia e surgiu a comunicao especializada.

    Desta maneira desenvolveu-se uma nova disciplina no por causa de um

    fenmeno especfico, o qual sempre existira e agora se transformou num objeto de

    problema cuja relevncia para a sociedade foi completamente alterada. Hoje, o

    problema da transferncia do conhecimento para aqueles que dele necessitam

    uma responsabilidade social e esta responsabilidade social parece ser o motivo

    real da cincia da informao.

    Com este credo no negamos a possibilidade de se trabalhar

    cientificamente por puro prazer, ou de se alcanar a cincia da informao na

    busca da verdade. Entretanto, os sentimentos individuais de cientistas da

    informao nada acrescentam a uma disciplina que a sociedade deveria apoiar.

  • 3.2 O lugar da disciplina O desenvolvimento de uma cincia da informao que deve tentar superar

    alguns dos efeitos da especializao em cincia e tecnologia , ela prpria, um

    fenmeno da diferenciao das disciplinas. Por isso, uma das questes essenciais

    que temos de enfrentar a maneira pela qual esta disciplina vai se enquadrar

    dentro da centenria rede de disciplinas. Analisando este problema, devem-se dar

    duas diferentes respostas:

    1 - A reunio, classificao, reorganizao e avaliao de parcelas do conhecimento uma parte integral de cada disciplina tcnica e cientfica. Portanto,

    qualquer que seja a definio que se d disciplina sob considerao, qualquer

    disciplina relacionada com mtodos e tcnicas de tratamento destas parcelas de

    conhecimento servir como uma disciplina auxiliar para cada uma das demais

    disciplinas (como matemtica, na qualidade de uma disciplina que fornece

    instrumentos para uma espcie caracterstica de representao e transformao

    de mensagens).

    2 - Ao contrrio da matemtica, a cincia da informao est baseada numa necessidade social especfica e o seu objeto independentemente de sua

    definio tem que englobar estes processos sociais. A cincia da informao,

    portanto, uma disciplina que tem que definir suas fronteiras vis-a-vis s outras

    disciplinas orientadas para o objeto. J foram apresentadas propostas, as quais

    no vamos acrescentar outras; mas apresentaremos algumas alternativas, dentre

    as quais dever-se- selecionar a proposta que melhor atender realizao das

    necessidades sociais subordinadas ao desenvolvimento desta disciplina.

    Alternativas podem ser possveis, mas as que vo aqui apresentadas esto

    baseadas numa anlise da viabilidade de diferentes propostas:

    A) A soluo ampla A soluo ampla pode ser baseada na abordagem estrutural da informao.

    Se cada estrutura do mundo objetivo informao, uma cincia relacionada com

    os mtodos de descobrir esta informao, de represent-la, e de transform-la em

  • novas representaes que permitam concluses adicionais, ser possvel e til

    para todos os tipos de atividade cientfica.

    Esta cincia, ento, incluir:

    Parte de matemtica; Lgica; Filosofia da cincia; Filosofia da linguagem; Gramtica transformacional; e Teoria matemtica da comunicao.

    Esta disciplina ser, naturalmente, uma metacincia, mas no resolver os

    problemas que levaram originalmente ao desenvolvimento da cincia da

    informao, da maneira como esto definidos neste trabalho.

    Com o uso desta abordagem podero ser levantadas, de modo especial, as

    seguintes questes:

    Quais so as estruturas objetivas da ESTRUTURA, isto , da realidade; Qual a natureza da ESTRUTURA, isto , da realidade; Como podem ser descobertas as ESTRUTURAS; Qual a natureza da descoberta cientfica; Qual natureza da relao entre mente e a realidade; Como que as descobertas podem ser descritas numa forma adequada,

    isto , como que se pode descrever a realidade na medida em que ela

    refletida pela mente humana;

    Como podem as diferentes formas de descrio da realidade ser interpretadas numa maneira adequada (hermenutica); e

    Como podem as diferentes formas de descrio ser usadas para provocar maior compreenso e novas descobertas (descobertas secundrias).

  • Obviamente, a relao principal por detrs desta abordagem seria a relao

    entre o homem como descobridor e a realidade. Isto levaria inevitavelmente a uma

    cincia da informao mais filosfica, vindo a ser, at certo ponto, uma

    metacincia para todas as cincias. interessante notar que esta soluo est

    orientada somente para o fenmeno (de acordo com nossa classificao), uma

    vez que so permitidos todos os meios, tecnologias e fins como objetos de estudo.

    B) A soluo mdia A soluo mdia pode basear-se na combinao da abordagem do

    CONHECIMENTO e da MENSAGEM. Poderia ser descrita da seguinte forma: a

    noo bsica a informao como conhecimento registrado. Da, cincia da

    informao estar relacionada com o estudo de:

    Estruturas do conhecimento; A relao entre estruturas do conhecimento e modos de registr-lo; Os mtodos, meios e estruturas de registro dos elementos do

    conhecimento;

    Os mtodos, meios e efeitos da transferncia das expresses registradas; Os mtodos de interpretao das expresses registradas com relao ao

    contedo do conhecimento (tambm esta uma variao da hermenutica);

    Os efeitos que as expresses registradas do conhecimento nas pessoas que as recebem e as decodificam;

    As relaes entre expresses registradas do conhecimento e o comportamento; e

    Os fins para os quais podem ser produzidas, transmitidas e usadas as expresses registradas do conhecimento.

    primeira vista, esta soluo mdia orientada somente para o fenmeno,

    mas pode produzir variantes pela combinao com:

  • A abordagem orientada para a tecnologia (por exemplo, se o fenmeno observado somente do ponto de vista do processamento de expresses

    registradas do conhecimento pelo processamento eletrnico de dados -

    PED como em algumas reas da cincia da informao aplicada); e

    A abordagem orientada para os fins (por exemplo, se forem consideradas aquelas expresses registradas do conhecimento que so usadas para

    uma finalidade especfica no processo decisrio 22 ou na transformao de

    um estado de conhecimento 23).

    As seguintes disciplinas havero de contribuir para uma cincia da

    informao deste tipo:

    Psicologia, principalmente psicologia do conhecimento e psicolingstica; Teoria matemtica da informao, especialmente teoria da codificao; Teoria da comunicao; Cincia dos computadores; e Lingstica, especialmente semntica e pragmtica.

    C) A soluo estrita As solues ampla e mdia foram similares no fato de no possurem

    nenhuma limitao da rea em que a informao considerada, mas foram

    diferentes na generalidade do conceito bsico de informao. A soluo estrita (tal

    como lanada aqui) no prope uma compreenso limitada de informao, mas

    da rea em que a informao considerada. Esta , naturalmente, a soluo que

    no (como as solues ampla e mdia) baseada em interesses abstratos,

    teorticos, mas em problemas prticos que devem ser resolvidos.

    H diferentes limitaes possveis da rea em que os problemas de

    informao so considerados. A limitao tradicional de cincia e tecnologia

    uma das mais usadas (por exemplo, Michailov, Cerny e Giljarevsky 24), tendo sido

    recentemente criticada como sendo muito restrita. Esta uma abordagem mais

    orientada para o fenmeno da informao, geralmente definido como

  • conhecimento registrado no contexto do trabalho cientfico e tecnolgico. Existe,

    entretanto, certa combinao com a abordagem orientada para os fins, uma vez

    que a informao cientfica e tecnolgica no estudada por causa do seu

    contedo, mas para verificar como ela pode ser coletada, organizada e distribuda.

    Uma maneira de limitar mais amplamente a rea pode ser oferecida pela

    seqncia a seguir:

    H cientistas e tcnicos que produzem dados (conhecimento registrado o qual requisitado por eles prprios mas esses cientistas e tcnicos

    precisam de outros tipos de dados que no so produzidos por cientistas e

    tcnicos).

    Poderamos afirmar que a cincia da informao neste sentido deve

    procurar:

    Que os cientistas e tcnicos recebam todos os dados (cientficos/tecnolgicos ou no);

    Que os dados cientficos ou tecnolgicos que so produzidos sejam distribudos todas as pessoas que deles necessitam.

    Esta se assemelharia com a abordagem orientada para os fins. Mesmo esta

    limitao parece muito restrita, embora uma abordagem orientada para os fins

    necessite de alguma limitao, a fim de atender a um fim prtico. Poder-se-ia fazer

    uma proposta que permitisse uma abordagem de uma finalidade prtica, mesmo

    sendo ainda ampla o bastante para aplicaes prticas (por exemplo, sistemas de

    informao na administrao pblica) teria as seguintes restries:

    Faz-se uma distino entre comunicao social organizada e no organizada, e a rea de interesse restrita comunicao organizada;

  • Faz-se uma distino entre necessidades de informao que se justificam socialmente e individualmente, e rea de interesse restrita quelas que

    so socialmente justificveis; e

    Faz-se uma distino entre as necessidades de informao relacionadas com o servio social e os que no o so, sendo a rea de interesse restrita

    quelas relacionadas com o servio social.

    Deveria ser bvio para os receptores deste trabalho que os autores so

    amplamente a favor da soluo estrita, uma vez que esta parece ser a nica que

    permite uma soluo ao problema concreto que temos de enfrentar. Naturalmente,

    seria possvel chamar esta cincia com um nome diferente, mas preferimos

    continuar chamando-a de cincia da informao, especialmente em vista das

    solues ampla e mdia, que no so reas j em estudo.

    3.3 Uma proposta 25 A partir de uma combinao da evoluo histrica, o desenvolvimento de

    necessidades sociais especficas e o desenvolvimento de novas metodologias e

    tecnologias fizeram emergir uma nova disciplina que , s vezes, chamada

    cincia da informao (ou por outros derivados do termo informao). Esta

    cincia baseada na noo das necessidades de informao de certas pessoas

    envolvidas em trabalho social, e relacionadas com o estudo de mtodos de

    organizao dos processos de comunicao numa forma que atenda estas

    necessidades de informao. O termo bsico informao pode ser entendido

    somente se definido em relao a estas necessidades de informao: tanto

    reduo da incerteza causada por danos comunicados quanto como dados

    usados para reduzir incerteza.

    Esta cincia est relacionada com a organizao dos processos de

    comunicao destinados informao para uma clientela especfica. Esta uma

    cincia em parte semelhante comunicao de massa destinada ao

    preenchimento das necessidades de informao para o pblico em geral,

    justificveis social e individualmente. Depois disto, disciplinas similares so

  • biblioteconomia, museologia, arquivologia, educao (todas servindo a diferentes

    clientelas, de acordo com diferentes necessidades de informao).

    Por outro lado, h diversas interseces destas disciplinas com outras

    tradicionais, por exemplo:

    Psicologia (psicologia da informao); Sociologia (sociologia da informao); Economia (economia da informao); Cincia poltica (poltica da informao); e Tecnologia (tecnologia da informao).

    Todas estas disciplinas se concentram no estudo dos processos de

    informao (isto , processos de comunicao destinados reduo de incerteza)

    ou seus componentes. Por isso, possvel cham-las a todas de cincia da

    informao (todo o sistema das cincias da informao fornecido na Figura 1).

    H um subsistema comum entre estas disciplinas e algumas outras (por

    exemplo, as que contriburam para as solues ampla e mdia) que contribuem

    para as cincias da informao. Este subsistema o conjunto completo de

    esforos feitos para estudar a informao em todas as suas facetas (incluindo

    todas as abordagens analisadas na seo 2). Este campo de atividade cientfica,

    para o qual contribui uma srie de disciplinas poderia, ento, ser entendida como

    uma Teoria Geral da Informao (da qual a teoria estatstica da informao

    forma uma especializao). Em todas as discusses teorticas sobre cincia da

    informao deveria, portanto, ser claramente declarado se o conferencista ou

    escritor est discutindo os fenmenos, caractersticas ou mtodos da:

    Cincia da informao; Cincias da informao; ou Teoria Geral da Informao.

  • Figura 1 O sistema das cincias da informao

    WERSIG, Gernot & NEVELING, Ulrich. The phenomena of interesting to information science. Information Scientist, v.9, n.4, p. 127-140, Dec. 1975.

    Referncias 1 KUNZ, W. & RITTEL, H. Die informationswissenschaften. Mnchen-Wien, 1972 2 WERSIG, G. Information kommunikation documentation. Pullach, 1974. 3 MONTGOMERY, E. G. Four new sciences. AGARD, 1968.

    CIBERNTICA

    SEMITICA

    TEORIA DE SISTEMAS

    TEORIA DA COMUNICAO

    FILOSOFIA

    CINCIA DA CINCIA

    MATEMTICA

    LINGSTICA

    DIREITO

    CINCIA DO COMPUTADOR

    Cincia da informao Biblioteconomia

    Arquivologia Museologia

    Comunicao de massa Educao

    CINCIAS DA INFORMAO

    Psicologia da informao

    Sociologia da informao

    Economia da informao

    Poltica da informao

    Tecnologia da informao

    TEORIA GERAL DA INFORMAO

  • 4 POLUSHKIN, V. A. On the determination of the concept information. Nauckno-

    Techn. Information, n.9, p.6-8, 1963 5 VOGEL, E. G. Materie und information. Dt. Zs. Philos. v.11, p.314-323, 1963. 6 KINDER, T. The mathematical foundation of bibliographic organization. American

    Documentation, v.11, p.2-8, 1960. 7 HOLM, B. E. How to manage your information. New York : Amsterdan-London,

    1968 8 YOVITS, M. C. Information science: towards the development of a true scientific

    discipline. American Documentation, v.12, 191-197, 1961. 9 COSTELLO JR., J. C. Some solutions to operational problems in concept co-

    ordination. American Documentation, v.12, p.191-197, 1961. 10 GRAZIAUR, E. E. On a theory of documentation. American Documentation,

    v.19, p.85-89, 1968. 11 KOSZYK, K. & PRUYS, K. H. Dtv-wrterbuch zur publizistik. Mnchen, 1969. 12 JEDZINY, G. Kybernetik und inforationsysteme. ZIID-Zs. V.15, n.3, p113-116,

    1968. 13 USA Standard vocabulary for information processing. USASX3, 12-1966. 14 RESMIKOW, L. O. Erkenntnistheoretische fragen der seniotok. Berlin, 1968. 15 HAYES, R. M. Education in information science. American Documentatio, v.20,

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    operations. In: Information transfer. Proc. ASIS, v.5, New York, 1968. 19 KOBLITZ, J. Information und documentation als teilgebiet der

    wissenschaftlinchen information. ZIID-Zs. v.16, n.1, p.36-43, 1968. 20 FAIRTHORNE, R. A. Use , mention in the information sciences. In: HEILPREIN,

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    science. Warrenton, Va. Sept. p.7-10, 1965. 21 ARNTZ, H. 22 YOVITS, M. C. A theoretical framework for the development of information

    science. Paper presented at the FID/RI Meeting 1974 in Moscow. 23 BELKIN, N. J. The concept of information in informatics. Paper presented at the

    FID/RI Meeting 1974 in Moscow. 24 MIKHAILOV, A. I.; CERNY, A. I. & GILJAREVSKIJ, R. S. Osnowy informatiki.

    Kln-Opladen, 1970. 25 WERSIG, G. Informationssoziologie. Frankfurt, 1973.