Volume 7 Luzia

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Narrativas e História Oral: possibilidades de investigação em Educação Matemática Volume 7

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Narrativas e História Oral: possibilidades de investigação

em Educação Matemática

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Luzia Aparecida de SouzaCarla Regina Mariano da Silva

Volume 7

Narrativas e História Oral: possibilidades de investigação

em Educação Matemática

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Série História da Matemática para o EnsinoVOLUME 7

Editor responsável: José Roberto MarinhoCoordenadores da Série: Iran Abreu Mendes e Bernadete Morey

Co-edição: Sociedade Brasileira de História da Matemática

Capa, Projeto Gráfico e Diagramação: Waldelino DuarteRevisão: As autoras

Diretoria da SBHMATPresidente: Sergio Nobre (UNESP)

Vice-Presidente: Clóvis Pereira da Silva (UFPR)Secretário Geral: Iran Abreu Mendes (UFRN)

Tesoureiro: Bernadete Morey (UFRN)1° Secretário: Mariana Feiteiro Cavalari (UNIFEI)

Membros Conselheiros: Romélia Alves Souto (UFSJ)Lígia Arantes Sad (UFES)

Conselho fiscal: Fabio Maia Bertato (UNICAMP)Carlos Roberto Moraes (UNIARARAS)

Ficha Catalográfica

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida sejam quais forem os meios empregados sem a permissão da Editora.

Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos 102, 104, 106 e 107 da Lei no 9.610, de 19 de fevereiro de 1998

Editora Livraria da Físicawww.livrariadafisica.com.br

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Comissão Científica do XI Seminário Nacional de História da Matemática - XI SNHM

Iran Abreu Mendes Presidente da Comissão - UFRNAntonio Vicente Marafioti Garnica UNESP/Rio Claro; UNESP/Bauru

Bernadete Barbosa Morey UFRNCarlos Henrique Barbosa Gonçalves USP

Carlos Roberto Moraes UNIARARAS/SPEva Maria Siqueira Alves UFS

Fabio Maia Bertato UNICAMPFernando Guedes Cury UFRN

Fumikazu Saito PUC/SPGiselle Costa Sousa UFRN

Ítala Maria Loffredo D’ottaviano UNICAMPJoão Cláudio Brandemberg Quaresma UFPA

John Andrew Fossa UFRNLígia Arantes Sad UFES

Liliane dos Santos Gutierre UFRNLucieli Trivizoli UEM/PR

Marcos Vieira Teixeira UNESP/Rio ClaroMaria Célia Leme da Silva UNIFESP/SP

Maria Lúcia Pessoa Chaves Rocha IFPAMariana Feiteiro Cavalari UNIFEI/MG

Maria Terezinha de Jesus Gaspar UNB/DFMiguel Chaquiam UEPA/PA

Romélia Alves Souto UFSJ/MGSergio Roberto Nobre UNESP/RIO Claro

Tatiana Roque UFRJUbiratan D’Ambrosio USP

Wagner Rodrigues Valente UNIFESP/SP

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Sumário

Apresentação ...................................................................................................................... 9

Introdução .........................................................................................................................11

Uma interlocução com a Historiografia ..........................................................17

História Oral .....................................................................................................................27

Constituição intencional de fontes históricas ...............................................39

Roteiro de entrevista ....................................................................................................47I. Fase inicial: apresentações .................................................................... 49II. A criação e funcionamento do curso .......................................... 49III. Uma panorâmica ...................................................................................... 50

Narrativas no contexto de pesquisas emHistória da Educação Matemática.......................................................................57

Proposta de atividades ................................................................................. 64Trechos da narrativa de Adailton Alves da Silva ................... 66Trechos da narrativa de Romulo Campos Lins ........................ 68Considerações ...................................................................................................... 73

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Referências .........................................................................................................................75

Sobre as autoras ..............................................................................................................79

Volumes desta Série .....................................................................................................81

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Apresentação

A coleção história da matemática para professores teve sua origem no IV Seminário Nacional de História da Matemática (IV SNHM), realizado em Natal/RN, em

2001. Naquele ano foram publicados nove títulos referentes a temas variados. A receptividade dos textos, por parte de estudantes de licenciatura em matemática e por professores dos três níveis de ensino (fundamental, médio e superior), fez com que a sociedade brasileira de história da matemática levasse em frente o projeto, de modo a contribuir para a di-vulgação e uso dessa produção nas aulas de matemática nos diversos níveis de ensino.

Com essa finalidade seguiram-se as coleções de 2003 no V SNHM em Rio Claro/SP, de 2005 em Brasília/DF, no VI SNHM, de 2007 em Guarapuava/PR, no VII SNHM, em Be-lém/PA no VIII SNHM de 2009, em Aracaju/SE no IX SNHM de 2011 e em Campinas/SP no X SNHM de 2013.

Para o XI SNHM de 2015, consideramos importante apresentar aos estudantes de licenciatura em matemática e professores de ensino fundamental, médio e superior de todo o brasil, um rol mais diversificado de temas, tendo em vista o avanço dos estudos sobre história e educação matemática nos diversos centros de estudos do país. Nessa perspectiva

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organizamos os 10 volumes da coleção história da matemáti-ca para professores.

Este volume tem como objetivo criar espaços de discus-são e exercícios acerca das narrativas e história oral e de suas potencialidades para a pesquisa e para a formação de profes-sores de Matemática a partir do pressuposto de que estudar as narrativas como possibilidades de investigação em Edu-cação Matemática significa, dentre outros aspectos, discutir a constituição intencional de fontes históricas via narrativas orais.

Iran Abreu MendesBernadete Morey(Organizadores)

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Introdução

“A porta da verdade estava aberta,mas só deixava passar

meia pessoa de cada vez.Assim não era possível atingir toda a verdade.

Porque a meia pessoa que entravasó trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metadevoltava igualmente com meio perfil.

E os meios perfis não coincidiam.Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.

Chegaram ao lugar luminosoonde a verdade esplendia seus fogos.

Era dividida em metades,diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.Nenhuma das duas era totalmente bela.Carecia optar. Cada um optou conforme

seu capricho, sua ilusão, sua miopia.”(Carlos Drummond de Andrade, O corpo, 1984)

As pesquisas que relacionam a Educação Matemática e o campo de estudos historiográficos têm sido constituí-das, mais frequentemente, em três tipos. Um primei-

ro, História da Matemática tem como objeto de investigação

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um conjunto de conhecimentos historicamente acumulados e que são partes do campo de atividade do matemático profis-sional. Um segundo, que tem como foco propostas de ações didáticos-pedagógicas constituídas utilizando-se de estudos historiográficos, a qual poderíamos chamar de História na Educação Matemática. E um último, História da Educação Matemática (que mais se aproxima das discussões que aqui realizamos), se constitui como pesquisas que tomam como objeto de investigação “todas as práticas educativas mobiliza-doras de cultura matemática em quaisquer contextos de ativi-dade humana, dentre eles, sobretudo, os contextos educativos escolares”. (MIGUEL, 2014, p. 31).

Apesar de ser possível estabelecer critérios para a divi-são dessas três áreas e considerando que esta divisão tem uma função mais clara considerando o momento histórico em que foi proposta, todas têm como interesse comum o campo de estudos historiográficos e, possivelmente, são originárias das primeiras discussões daqueles que se reconheciam como Edu-cadores Matemáticos, mas que tinham como interesse especí-fico a História. Nessa direção é relevante compreender como esse diálogo com a historiografia tem sido feito de modo a po-tencializar modos de investigação em Educação Matemática.

Neste texto, trataremos especificamente de pesquisas em História da Educação Matemática, por entendermos que essa área investiga os problemas da prática profissional do professor de Matemática, tais como, sua formação, a cultura profissional, as práticas utilizadas em outrora para lecionar, entre outros.

As autoras desta oficina são integrantes de um grupo que tem trabalhado nessa área denominado Grupo HEMEP- História da Educação Matemática em Pesquisa. Criado em 2011, cadastrado no CNPq e certificado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, este grupo, em seu projeto mais amplo, busca mapear os movimentos de formação de professores que ensinam/ensinavam matemática no estado de Mato Grosso do Sul e construir um acervo de narrativas

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dos participantes desses movimentos. A construção desse acervo anuncia a perspectiva de que um documento histórico deve ser público, acessível. Já a proposta de mapeamento, se-gue um direcionamento dado por Garnica, Fernandes e Silva (2011).

Esboçar um mapeamento – termo inspirado nos fazeres cartográficos – é elaborar, em configuração aberta, um registro das condições em que ocorreram/ocorrem a formação e atuação de professores de Matemática, dos modos com que se deram/dão a atuação desses profes-sores, do como se apropriam/apropriavam dos materiais didáticos, seguiam/seguem ou subvertiam/ subvertem as legislações vigentes” (p.241).

Para além dessa proposta de mapeamento, o grupo HE-MEP se coloca a discutir, em uma de suas linhas, a própria mobilização da história oral e da narrativa, buscando por uma regulação metodológica constante fundamental à postu-ra investigativa.

Até o momento temos três trabalhos de mestrado de-fendidos. Pardim (2013) estudou o manual pedagógico de Theobaldo Miranda Santos utilizando da Hermenêutica de Profundidade (metodologia baseada em John B. Thomp-son) como referencial teórico de análise de livros didáticos. Com essa análise, o autor procurou compreender as orien-tações e tendências educacionais que fizeram parte da for-mação de professores que lecionavam nas Escolas Normais de Campo Grande.

Reis (2014), produziu narrativas de professoras que se formaram na Escola Normal Joaquim Murtinho (escola pú-blica de formação de professores que funcionou em Campo Grande – na época região sul de Mato Grosso – de 1931 a 1940 e de 1948 a 1974), visando estabelecer um cenário acerca da formação dessas professoras. A autora mobilizou, ainda, o

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acervo histórico dessa mesma escola, o que a ajudou a com-por o cenário pretendido e a realizar uma análise narrativa desse processo investigativo. Fatores como forte presença da estrutura política na delimitação de um quadro docente, des-valorização profissional, disciplina, preparo didático pedagó-gico e, notadamente, uma quase ausência de memórias acerca da formação matemática naquele período são abordadas nes-sa dissertação.

Faoro (2014), por sua vez, estudou o curso de Licenciatu-ra em Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sua estruturação e funcionamento na cidade de Dou-rados, e percebeu que os professores que lá lecionaram, eram em sua maioria, migrantes de estados vizinhos que buscaram em Mato Grosso do Sul, melhores oportunidades de empre-go. Foi possível perceber também uma forte influência do campus existente na sede da reitoria da Universidade, Campo Grande, a respeito da estrutura curricular do curso de Licen-ciatura em Matemática lá implementado.

Além dessas, há quatro pesquisas de mestrado em anda-mento que buscam investigar aspectos da formação de pro-fessores no estado de Mato Grosso do Sul. As problemáticas se relacionam à existência da CADES (Campanha de Aperfei-çoamento e Desenvolvimento do Ensino Superior) no sul do estado de Mato Grosso Uno (atual Mato Grosso do Sul) e as propostas divulgadas pela obra “Como ensinar Matemática no curso ginasial: manual para orientação do candidato a pro-fessor de curso ginasial no interior do país”; à mentoria como prática de formação dos professores que trabalhavam em uma escola confessional Batista na cidade de Campo Gran-de; à formação e atuação da Sociedade Brasileira de Educação Matemática no estado de Mato Grosso do Sul e suas possíveis articulações com a formação e prática docente nesse estado; e a formação de professores que ensinam/ensinavam matemá-tica na cidade de Paranaíba, previamente à abertura da Uni-versidade Federal de Mato Grosso do Sul em 2001.

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Tivemos ainda alguns trabalhos de Iniciação Científica realizados que trabalharam com a metodologia de pesquisa em História Oral e compuseram narrativas que se relacio-nam com a formação de professores de Matemática em Mato Grosso do Sul de diversos modos, seja com o estudo sobre o projeto Logos II ou sobre cursos a distância, seja produzindo narrativas de professores migrantes ou ainda sobre a forma-ção de professores das séries iniciais. Foram estudadas ainda, as escolas rurais da cidade de Sidrolândia, no interior do es-tado, considerando a formação e prática de professoras. Além disso, um estudo sobre os nomes das escolas estaduais em Campo Grande pretende articular fatores de diversas ordens de modo a explicitar como esta se constituiu como prática de reconhecimento social a professores.

De modo geral, o grupo vem trabalhando com a histó-ria oral temática que constrói narrativas, orais e/ou a partir da oralidade, caracterizadas pelo foco em experiências es-pecíficas de ensino/formação/escolarização, entre outras. Na perspectiva historiográfica com que o HEMEP trabalha, esse processo de construção sempre é baseado e orientado por questões do tempo presente. Ou ainda, com os olhos (vi-vências, experiências, afetações) do presente criamos relações que julgamos serem significativas na compreensão da forma-ção e atuação de professores de Matemática no estado. Nessa direção é importante afirmar que é esse exercício de criação (de cenários, personagens, acontecimentos) que sustenta esse processo.

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Uma interlocução com a Historiografia

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A Educação Matemática se coloca no diálogo com ou-tras áreas de modo a encaminhar de modos diferentes questões que lhes são próprias ou mesmo ressignificá-

-las, alterando pontos de vista e lentes de leitura de forma a tornar possível ou plausível a elaboração de outras questões. Essa busca por interlocução é importante a qualquer visão de pesquisa, mas é fundamental quando se exercita um afasta-mento da noção de pesquisa como solucionadora de proble-mas em prol de uma perspectiva de investigação como cons-tituição de um campo problemático.

Entre todas as possíveis interlocuções, a Historiografia tem se colocado como importante, principalmente quando problematizada em sua relação com as Ciências Sociais e, mais recentemente, com a ficção.

Um primeiro e mais forte movimento de aproximação com as Ciências Sociais tem sido atribuído a um grupo de pes-quisadores que, no início do século XX, se reuniram na região de Alsácia-Lorena, na Universidade de Estrasburgo. Entre os estudiosos estavam os historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre que fundaram a revista Annales (à época intitulada Annales d’histoire économique et sociale1) e, segundo Reis (2004, p.70), o que propuseram foi reconhecido como uma tro-ca de serviços da História com as Ciências Sociais. Esse seria o motor dos Annales, mas é importante ressaltar que este mo-tor não romperia totalmente com os paradigmas positivistas predominantes naquela época. Esta também é uma produção histórica, de seu tempo. Assim, considerando as diferentes fa-ses dos Annales, com os diferentes pesquisadores que se co-locam à sua frente, convém destacar pontos de permanência como o afastamento da busca pela origem e a perspectiva de

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temporalidade que coloca o presente como ponto de partida para compreensão do passado.

A fuga da busca incessante pela origem das coisas indi-ca um movimento fundamental de afastamento da articula-ção causa-efeito. Movimento, pois essa postura não implica resolução e ruptura total com uma prática tradicionalmente implementada, mas uma outra postura decorrente da proble-matização dessa temática. Do mesmo modo, ao propor um método prudentemente regressivo, Bloch (2001) ainda se co-loca na direção de volta ao passado para sua compreensão. Este olhar é lapidado e reestruturado na discussão acerca do modo como as temporalidades - presente, passado e futuro - se articulam. Desse modo, o que se quer destacar é que as discussões oriundas da aproximação entre História e Ciências Sociais trouxeram uma possibilidade de problematização po-tencializa práticas e leituras distintas ao longo do tempo, pois essa possibilidade impulsiona ao movimento, ao olhar sobre posturas e imposturas.

A Ficção também tem se colocado como interlocutora em trabalhos que, em Educação Matemática, exercitam a historio-grafia e mesmo na História. A ficção como fonte ou como dis-paradora de discussões não enfrenta muita resistência. Parece ser mais plausível a diversas linhas de trabalho que uma obra ficcional traga informações daquele tempo, sobre uma pers-pectiva futurística daquele momento histórico, do que seria, por exemplo, um “absurdo possível” para aquela comunida-de já que não é composta independente dela e para ser aceita deve ser composta com alguns elementos aceitáveis, identifi-cáveis que dão sentido ao enredo. Do mesmo modo, livros ou contos fictícios trazem elementos para uma discussão acerca da produção historiográfica. Como exemplo, podemos citar Jorge Luis Borges que evidencia a força de um pacto de leitura (em Emma Zunz), que descontrói a figura do herói e do mons-tro (em A casa de Astérion) e que exercita a possibilidade de um interlocutor “perfeito” frente às críticas feitas à oralidade, alguém incapaz de esquecer, de modo a apontar justamente