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44

A

VOZ BA RAZÃO.

i.a

POR

JOZE ANASTÁCIO DA CUNHA,

Lente de Mathematical na Universidade de Coimbra.

l)u not take it til, 1 beseech you, if I speak my thoughts without disguise, oiul with truth and freedom. The def of Son-. Goldsmith.

Nil Officina del'. N. IIOUGEKON , rua dc

niiromlelle, N. ° ux.

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C O í/i iyiA

sul

O EDITOU-

] Pu-oslilnio-se o homem na infanda <To Imivcrso: quasi setenta séculos rlc nvexa- ções, c ilc primes não leni podido acorda- lo da sua avilladoraapalhya. liste ciile sem- pre miserável uno opporá nunca á oppres- s.io mais que um soflri mento mudo?. . , jnas clle já começa a ergucr-se; è preci- so anima-lo: elle parece disposto a romper a endea de seus males; cumpre mostrar-lho qnc os seus prejnisos são a origem del lets, C (pie a sua ignorância tem sido o seu algoz, E' este o dever que In/, publicar este escri- to: o homem bom aqui adiará .o erro, c a espada da verdade , para dehella-lo ; c t» mi alvado , que o qui/.cr dissimular, ou pciv -pctii#—Ip , vendeeo em lodo o iiorror, sõ ga- nhará o remorso. Não direi nada de sei I Au- thor: se.us escritos,, ca Europa, que os co- nhece, Talião de sobejo. Honrou a Patria, e foi victim a do op pro brio ! Perseguido pelo Tribuna! da iniquidade, e execração, elle de- finhou de penúria, o de magoa ! Gánio, so te á mãi desvelada a Nhturexa, sempre te é madrasta a Fortuna! Os ímpios lhe cavá- rão a sepultura, os amigos dos homens lho li/.erão a npotheósys: a despeito da inveja a Patria dirá com saudade o que o França disse dc um homem, que a honrou; Rim ne man-

àsagloire, mais ilmanqueà lanMrr. Com- patriotas, aceitai es la offer In í hão a julguei» pêlo volume: cila óuniantidoloheroico con- tra o veneno «agrado, Salvando vossos di- reitos, tendes enchido dc assombro ó mun- do, de confusão os tyranos : mas ainda exis- tem entre vos os impostores, quévos tem, fascinado, Acabai-os d'ufna vez: desapare- ça a superstição: essa alavanca terrível, que, fazendo o seu ponto de apoio no Ceo, tem revolvido a terra , qttebre-se a pedaços: c as maldições dos homens caião sobre o per- verso, (pie tentar solda-los. A fabrica do fa- natismo fende c estila por todas as parles : cumpre dar-lhe O ultimo abalo, e cila des- abará sobre a raça hypoertia , quo a alc- vautou,

B. F. B. M.

j

(' 7 )

EPÍSTOLA PRIMEIRA.

§ E tu na pomposa IJaia Te lembras meu tosco abrigo, Eu também no meu retiro1

ftão me esqueço dum Amigo.

Ouve Anèlio a minha lira, Despida de aiithoridades, Cantar da rasão singela Talvez estranhas verdades.

Frio susto não adeje Em torno do ti, Cnmenn, Que se alguns te condemnaretn, A razão não te condemna.

Este dom, que só destingue O homem neste desterro, Porque é dom, que Dkos lhe deu, I\ão pode abonar o erro.

Se-a razão, que do Ceo Vèfo> Enganasse O triste humano, Não éra a razão autlíora, Era Dkos author do engano.

(8)

Logo pois, quanto nos dieta Despida de projuísos, Verdades são innegnvcis, São evidentes juízos.

Se n'um ente limitado Pião cahe uma acção iinmensa, Oomo pôde a culpa humana Tornàr-se infinita ofFcnsa?

Se o goso, que um Deos desfructa, Pão pôde ser perturbado, Porque tnes "consequências Comsigo traz opeccado?, ,,

Se oíTcnde as leis sociaes, Lvile-os a sociedade ; Pão ten hão culpas Jigeiras Castigos detenudade.

Se o mal," que produz a culpa, Ao homem só prejudica, Quando elle faz o delicto, Punida a culpa não iica?

Quando mesmo tun Deos devesse, Com dura mão castigar-uos, Pia intensidade da pena Pião poderifi expiar-nos?

(9)

Pois o homem n'um momento Com ri wile infinita olíensoj N'nm moment.o BeoS »5o pôde Ao t lOmcin dar pena immeusa?

Mas se acaso a gloria sua O mortal pode manchar; Este DliÓS ioi imprudente, Infeliz em nos crear.

Os dias em que os morta es Co mmrt terem mais peeendos, Para o mesmo auliior dos dias Serão dias desgraçados.

J)a fortuna ás indo is stau cias Po r este xnodo sujeito, E escravo da fori mia' Queiii a fortuna tem feito.

Por constante alternativa lerá os bens, e os pesares D'at [iiel tas mãos, que O incenso Idie que imão sobre os altares.

Grande Deos, porque motivo A c rijarão em prebendaste? *Jue os did me tis te offender ião, Acazo não conheceste?

(If>)

Porque razão a virtudu Jlurriiasle de amargura, E pejo contrario ao vício Uniste tanta 'doçura?

Os atractivos,; que deste A' tocante formosura, Não fora melhor liga-los A essa virtude pura?

Em vez de tantas reformas, Que tens dado ao grande plane, Kso tc seria mais fácil J irar a mascara ao engano?

Esses espinhos rftie junção A vereda da virtude, Mão fora melhor planta-los I\o trilho tio vicio rude?

Permlttc-mc que te diga, Cheio de amargo desgosto, Que ao mais formidável risco T in Deos bom nos lein exposto.

Qual pescador cavilloso, Disfarçando anzol farpado, (Ir lhe ás mãos peixe imprevisto, Que á isca vai descuidado;

o»)

Tal um Df.os embellezando lisstí vicio desastroso... Mas ([lio digo! Anclio, um Dfos, Que é bom, que ó santo, e piedoso..

Porem, Amigo, quem pôde, Meditar sem estranheza, No poder das paixões fortes, Dos corações na fraqueza!

Thcologia inconsequente, Que nie respondes agora? Quanto mais combino iileas, Mais leu system a peora.

Tu só tens subtilisado Mil cousas extravagantes, Que um só golpe d'ai tença a As conhece vaclll atites.

Se não devo dccidir-me, Avaliando as razões, E' melhor ser insensato, Que fazer com hi ilações.

Se a Providencio previa T)os homens o precipício, Porque lhe não deu podendo Mais forças q-ic ao torpe vicio?

( là) I* so acaso as nossas Torças

A's do vicio são iguaes, (. toados em puro estado t>íftfio peccitô os m orla es?

Foi-nos dada a li herdade Fura poder merecer; (Forem nus delia abusando Quam Imiésta vem a ser!)

K" isto porque o mortal A seu alvedrio eiítregue, Arbitro de stias act/õcs A virtude, ou o vício segue;

Pois um prezenle escolhido1. Que por um Pj:os nos foi dado 1 'ara lazer-nos felizes^ 1 orna u homem desgraçado?

< ercado de inil enganos Par-nos-ía este prezei/té, Seu Útil USO Occulta lido Ao misérrimo vivente?

Fe que me serve o segredo De arranjar uni firmamento, tSe ainda tendo a materia, .Pião sei dar-IUe o movimento!

( .3) Que me apíhoVèfíá o ser livre,

Se ócculto motivo furte, Sempre, ó ('rcs, me determina A obrar desta, ou d'outra sorte.

O' li ran na faculdade Jmmiga dos humanos, Se és niãi de algumas virtudes, Ií*s fonte dc ímniértsoS damnos.

Apezar t}né apologias fie génio® mil tens aos centos, Sendo a culpa irimilimte, São outros meus sentimentos.

?\ão previa acaso tun Deos Que de ti abufsaViSo Os homens, que fez tão fracos, fi que o mal seguir lia vi 3o?

Como pois airtàndò o Ijomein, Sendo em puder infinito, l m dom Ibé deu tão funesto, Que feria o seu delicto?

Se mais que todos os entes,- 1 ui Deos noscreou perfeitos Porque a geração huniafia li tão cheia de defeitos?

(*4)

Quantas verdades inuteí# Sabemos com evidencia, Sendo-nos tão duvidosas As de maior consequência!

Se um mal'd d'uin bem origem; Se é espirito o que pensa; Se acaso leni a virtude K'outra vida recompensa;

Se um so culto a Dços agrada; Se a minha alma é immortal; Se é justo que abranja ao lillio Do pai a culpa fatal;

Se um todo de parles frágeis, Sujeito As fortes pai voes li" inlallivel, e justo Sempre em suas decisões;

Todas estas, e mil mitras Ao bem nosso esse nc ia es Inda sâOj Deqs pravidentei Problemas para os mortaes.

Porque nascemos despidos Das verdades interessantes, E para amar a virtude Sumos fracos, inconstantes!

j

f *) ( oif!» rio um Jíeos de bondade j

De virtude preciosa Emanou a creu turn Desgraçada, e criminosa?

Soria menos possível hazer do nada a materia, E que enormes globos voem For essa região elliérea?

I antas mecânicas leis Frescrever a cada péssa E que sçndo rude o barro I*iel ás jeis obedeça!

Desse espirito, e materia Coifigir as faculdades, Fazer qye mutuas se infirmo Jím opposing entidades!

E crear então o liomeiu, Não 11 ie seria possível} Menos sujeito á desgraça, A' virtude mais sensível?

Dar á virtude mais força, Ao l.omem maior razão, E nulrir-llie para o crime Incorrupto o corarão?

( '6)

Como ó Cfosl um Deos que é bom li tão immense cm poder, Amando este homein não pôde A sua ventura lazer?

Ou tu virtude, ou tu vicio Não são mais que vans licçôes, D'atrnz-pntitica invento Para enlrear as paixões:

Ou o Deos que eu reconheço, Por humana auctoridade. Rindo ao som de nossos males, Gemer deixa a humanidade:

Ou talvez que Sendo eterna Dos liomens a geração, Não possa invei'ter-se a ordem, Mudar nossa condição.

Mas se tudo, Anèlith fosse Obra só da iXtiti/rrzti... Porem não falte a ratão Nos espaços da incerteza.

Concluo só, que ã substancia, Que é infinita cm poder, Se ama os entes que gerara, Todo o beui lhe bade fazer.. *

( '7)

Mas já sereno silencio Vai a noite Juctuoaa Brandamente gotejando Sobre a lira preguiçosa.

De sonhos travessos prenha O surdo Morfeo me espreita j E com seu hálito morno Os meus sentidos sujeita.

Fica em paz, Anêlio caro, Que os meus olhos carregados Se dão ao languido somno, l)e abrir, e feclíkr caiiçudos.

( 1*3

EPISTOLA SECUNDA.

Al quanto nas earns rochas Chovem 6s níveos Orvalhos, h os zeftrns contentes Folheão estes carvalhos;

E n aiul-ferrote andorinha *! rnz do rio no biquinho II o in ido viscoso harm, Cora que 1'onnalisa o ninho;

Agora, qite Pftebo sijlta As rédeas auri-camsdas A seus soberbos 1'AÍumtcs Pelas etlrereas moradas;

E dos olhos dos viventes Wiíio suhlís dormideiras, Deixando acordadas vidas, Line suspend ião ligeiras;

Eni quanto humidos pelicos Testem sinceros pastores, E vão abrindo os apriscos Aos rebanhos mugi d ores;

j

( '9)

E dos espfissos esgalhos Do verde negro cipreste lJia o triste solitário, Que d;i cor da noite veste ;

Outra vez, meu caro Anélio, Tomo a ingénua, e pohre lira, E oscilhndo-lhe as cordas, Te digo o tjue a Musa inspira.

D'esse alígero Cupido Os assaculados farpões Mão te canta a minha lira, Mem as terríveis paixões!,

Embora da triste Dido- A misenuia desgraça O lbgoso enthusiasmo D um Virgilio satisfaça

tianle as formosas lIcl/eiuH^ Ajuces, Achilla fortes^ L de Troya bloqueada Os fogos, o sangue, as mortes;.

Que a miulia pobre Cainrna 1'osLo que rude, mas pura, Só do poço de Dcmucrilo tíolUer verdades procura.

( 20, ).

Ouve-as pois, meu caro ANCliot

Que já a razSomc inflama, E por difíiceis caminhos A novas questões me chama.

Se um Deos, que á author de ludo, Tudo perfeito creou, Quem trdnxe o pecçadoao mundo, Que a creatu.rá manchou?

Se foi Lúcifer sobcpbo; Alem d'uin Deos p crear, Como podia a soberba Ro seio da gloria entrar?

E como pennitliu Deos, Grassasse a culpa no Cea? Como engolfado 11a gloria, O anjo attenç&o lhe deu?

IDi tão poucos atractivos Acaso no St mi mo /Ion , Que os anjos na sua pússe, A nutrir a culpa vem?

Com que poder, com que força' Dm Ser maligno podia Corromper a melhor obra, Que das mãos de Deos sabia?

(p.t )

Ou as foiças, que empregara, INascião do seu puder, U então deve independente De Deos esta causa ser;

On para manchar o homem I m Deos Imtn lha concedera; Querendo ver imperfeita, A ereaçãu, rpm fizera.

Uma só desconfiança Murcha do prazer metade, De não peccar-mos na gloria , Quem assegurarmos hade?

Se dos anjos a pureza Pude o vicio bafejar , Ilade o barro, rjne é mais fraco, A seu hálito escapar?

Esla dcvprante harpia, Que do seio verminoso Cuspi o o fatal veneno, Creou-a o Tqno Podeiioso.

Se em consequência da culpa Desse primeiro mortal , A geração dos viventes Ficou tão sujeita ao mal:

(«) Como cm seco los successivos

Uai Deos bom nus tem deixado Gemer no seio tia culpa, Sem nos curar do peceado?

Que filho da Medicina, Conhecendo a enfermidade, Sendo bom, tendo o re medio, A cura retardar hade?

Se tanto bem nos trazião Os segredos revelados. Como por tempos tão longos Um Deos os teve occultados?

Se a revelação continha Mistérios interessantes, Porque delta as nações Iodas Pião íorão participantes?

Sendo o Pai da raça humana Que remir veiu os peecados, Porque uns iorão predilectos, Outros porem reprovados?

Porque em fim reproduzido, Em toda a parte, o Mrsuias, ftão vem, obrando milagres , Convencer as heresias?

J

( 23 )

Porque de certa linguagem Com os homens não usara, Que em totjos os tempos Íbsfí Tocante, distinçta, e clara?

Se nos eflritos, e causas Tanto reina a proporção, Como' de uma causa sane ta li' corrupta a producç^o?

Nessa fabrica divina, E na massa dos possíveis, Só jazia o rude barro, E as almas tão curruptiyei^!

Pesa sempre para a cent.ro A pedra por lei prescripla , E tão cégá obediência Nem premio, nem pena excitíp

Mas o homem, que por força Sej ;ue as leis, que o clima abraça , A pez ar guc a lei respeite. Só Jucra a sua desgraça! vJ y

Ao Alcorão obedecem Os Turcos mui piamente, Também da razão se apnrlão , Tem fé como uys arfleulc:

( *4 ;

Trim jejuns mais rigorosos, Mais duras macerações, IS as mesquitas ma is respeito, Mais fervor nas devoções.

Por um que chamão DeOs Grajíde D'al< funs prazeres sc esquecem; Por delTeitder suas Íeis, Ao martírio se ollerecem:

Dizem-lhes ser só divino O livro, que revereticeão, Com milagres lho cotiíirmão, Para que só nelle creão.

Sc da razãò usar querem, Para analisar-lhe a essencía, A tantos absurdos chainão Mistérios d'nlta excellencia.

Seus Interpretes lhe nlfirmão Serem seos Dogmas sagrados, Que por Dkos ao seu Prop kc ta Porão todos revelados.

linde n'elles ser um crime, Julgar que a razão illude; Mas em nós pelo contrario, Será brilUaute virtude?

j

i 4 > *

Tins Chriifãis a fé maís pnfa TÍ;k1p ao StiiwiiP Bem levá-los, H aos trbtes Musttlmaiios Hade a mesma condemna-los!

Se é nelles feio delicto, A rkuo 'não abraçarem, K ridículos inventos. Por Dogmas acreditarem ;

Mão será onv nós absurdo, Antes conforme á- razão , Crer que Duos é realmente Certas especies de pão ;

As (Miacs senr.differença vejo Serem as mesmas na cor, Ma forma, figura, o lacto, igualmente 110 sabor?

K quando d'estas especies Ao mesmo tempo mil minem, ])irei fjue liom só, e que todos liin só Deos real consomem:1

Direí, que do bom em vindo Ao coração fraco uoir-se , O deixa Iríste , e corrupto y Jgualuieule ao-, despedir-sti ?

(26 )

. Pirei mais . . J mas áODtle , AnèTio, Qtrçr Icvar-im1 esta razão ; parece que cm tildo oppostá A' nossa lUtigião ?

Um dom, qíie das mãos nos veio U um Ser, que o meu bem deseja, Eli não sei, porque irmltvo Repugna ás provas da Igreja!

Provas, que só tem por fonte Fraca humana tradição, O natural ;tmor óroprio, Princípios de educação.

Tilas se em iguacs circunstancias, Estão esses Mustdniaúoi , Porque devem rejeitar Suas provas como enganos?

Se nelles crft um bom Turco Com hiiuin saneia intenção;1

Se ama tim Deos, se estima o homem Dentro do seu Coração :

Se das alheias desgraças Está sempre a corlsternar-se, Se os miseráveis sóccorre, Sem d'islo vangloriar-se i

< 27 )

Se a soberbo desconhece , Tendo a vaidade por uia), Se quando u lòrtuna o ajuda. Julga ao pobre ser igual ;

Um Deos que arguia o povo t Que só c'os lábios o honrava, Por quanto seu corarão Muito longe d'elle eslava;

Condemhar hade este Turco, Que um Deos sincero adorava, Por não ouvir essa Igrejã , Que elle falsa reputava!

Só porque exterior culta Elle seguia d lifer ente, Hade um Deos piedoso e justo Coudeuiua-lo eternamente!

Nasce o homem sem escolha Dão-lhe a beber o veneno ; Se abraça o mal por virtude, Ein que ode mie o Cio sereno?

Se os livros, se o povo, e pais Se os mestres, e a educação, Tudo por força J he apaga A. fraca luz da razão ;

(»$)

A qnein de to perguntar? 3 us to Cfo ! tu uKi responde li' :i Virtude que sigo , Quem a verdutie me esconde?

Se por i'raqui.'.za u n ão ye jo , Porque'frafco rue cjeasle? Se a verdade ine era nlil, l'ot que in a diiliculLisle?.

Mas o Çiú liça riu silencio, P milita «Ima afflictâ glrSC Por entre mornas ideas. Onde a couiusao respira'.

Porem já çneigo desçaiiço, JkdTejapdo a minha lira, JB o cem ente as lassas cordas À séria mudez inspira.

Já'sinto a picante fome , Que em tomo de mim adeja; Já 119 parda porCálinia O leite gostoso alveja.

Peiuiite que eu saborê^ lista iíimiceiíte hehidn , jOiide a sopa ahoboradà fiiudafiic^lo itio tumid*.

C 29)

Oí Cebs queira o init prazereé iGose Lua alma iunoceulc, G que* /inciio nã<> se esquema JJo LiJtOj que vive auaeule.

«G>

f -~o!

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^PISTOLA TERCEIRA.

^A Cora que o baffo escalda D mu obrazado SuãOj Cujas azas pouco a pouco A relva crestando vão.

0"e as lendas da viva rochi A clara limpliá gotêúo, ls nos alamos crescidos Os passarinhos gorgeião j

Agora que o Sol picante A verde espiga enloiréce, E que na cena da mala £ cri a ti do o corvo apparecè f

IN a cava deste rochedo De meiga sombra abrigado , Outra vez a Voz levanto., Somente á razão ligado.

lu vês, ditélio, etn Britânia Chamarem ímpio ao l'a pista. E* ímpio vvAsia o Câristàot' E na Gullia o Calvinista.

j

(Si )

IVftn julgará reflectindo Um espirito profundo, On sore ill lodos piedosos, On ser impio todo o mundo?

Porque decidir havemos Entre tantas relações, Que a razão da nossa parte tlondemna as outras nações?

Se um trihun ii in fali rei Acazo no mundo existe , O signal que o caruoterisa Qual é elle, em que consiste?

Deu*)he acazo esta exõellencia, A que cliaurão Escritura? ( Que só parece divina, Porque a Igreja o assegura. )

Mas como posso julgar Ser infalível a Igreja , Sem que du liiblia mostrada A divindade nos seja!

E quem nos gnínu na escolha De tantas copias diflereutea, Que não con cordão nas eras, Nos factos , uos accUentes?

ra)

Com fjiir fundamenta demos* Á lal copin a preferencia? Sc Iodas sSo diflV rentes, Qual é a-sua excellence?

'J odos fallen do Mestias', Que escreveu um livro saneio, Que lbs innnrnsos milagres. á % Que o Jtiundo encherão d espanlo

IIá pelo mundo mil ritos Pelas seitas erigidos : Todos tem seus escritores. Que abbnão os seus partidos.

Quem não tomar por escolha. As leis, que o berro !be deu , Que premio terá por ser Alouro, Cif is too, ouViidru'i

Se pois deré' linver escolha, Quando a lei analisamos. Porque nossos bens confiícão , Se de um Dogma disputamos?

Torque um tribunal nos prende, Onde nos dão mil tormentos, Onde a dor e a violência São os CO mui uns argumentos?'

(■33)

Se a verdade é que o (Tendem os A mentira sustentando, Porque iião vem esses Sabias Os sofismas refutando?

Pode acazo a ví! mentira Contra a yen la de shigella Armar laços emprestados, OITus 'ja-la, convence-Ía?

Se a vcvdade é da virtude Inseparável amiga , Daria o Cco á mentira Mais força, sendo inimiga?

Pois hade o Cea suieitar A fraqueza dos humanos A's forçando torpe erro, P castigai* seus enganos !

Dá o poder ás paixões < IVarrastarem W razão, E quando a razão fraqueja , Coiidemoa os filhos de Adami

Porque razão me não salva A virtude d'un; Francisco, E o peccado de Adam Voe minha alma eiu Lauto visco?

w

A13o pode n mesquinha gente Collier a graça perdida , Por estar por Imiti só homem A Divindade o lie o d ida.

Por esta sor infinita, A culpa se torna immensa, )i por isso se precisa Infinita recompensa,

11 a de «m Deos hmnrinizar-se Para o hometn resgatar, E hade este novo liomein Ugndo á culpa ficar ?

Hade o precioBõ sangue H um Diios a terra regar, li sendo o fim resgatar-moR, Hade a culpa triumphor?

Hade inutilmente o cálix Ao horto ao Pai eífeilar, Chorar pelos peccadores, A'um d\iro lenho •xpirar!

Que seríeis, Pitoymr.NcrA, Cue sondais do tempo os giros, Jíe um I)kos, co' a mira no alvo, Errasse os ligeiros ti tos !

(55 )

O' CfOt, ó Cms, qtie escutais As cordis di minha li ca % Ília iilii ú- vn > a raaão , Q ie entre mil receios S'ra>

Ni o vos su;>|>'icL> milagres Para virem iltustrar-ifie , li LsU-nit: um só syllogisrtio l'ara a verdade mostrar -ali.

IV esta a fí, que prajfósso , E se o [Ten de o vosso ativor, Aos justos Cms é q«« ' Que me ensinem lei melhor.

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0AQUE DOS COXOS,

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NOITE DE INVERNO,

Dk M. M. Ii. nu Bocage.

fc*)ís>>fi>Sã>S»iãfr

pavoroza,

De M. M. B. DC Bocage.

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PROLOGO

(.jomo de ordinário não se imprime o- liin ii!"nina, sem que o sen cmiipKen» te prologo a preceda, somos olirigadus a prevenir o publico, que a morte do au'etor d as duas ultimas peças nos pri- va de o poder obter de sua mão. Em quanto ao auctor do Saque; nós apenas sabemos, que pertence ao Sr, do Por- to,e até nem sabemos mais, que a letra í~ nicial do seu sobrenome. Em láes casos, somos obrigados a supprír em parte a esta especie de ornato, ou condecora- ção de imprensa.

Omitiremos o fallar dos auctor es, por dizer das suas obras o nosso parecer, Edi quanto á primeira destas, nós não de- fenderemos o titulo de Poema Épico, nem trataremos de mostrar se élte foí bem, ou mal adoptado; ou dado elle, se foi era seus preceitos bem desempenha- do: os uossos conhecimentos neste ge-

(4°)

nero não pnssão dcrs do hum amador a- baixn, nem acima, e par» dizer o o OSSO sentimento, achamos que o Senhor F... faz umito bons tersos; pois que nelíes se íicha cadencia, força e expressão ele., e ptcferiinos esta obra á Itlarlinbada por ser menos hiperbólica, ehaver nefla iac- tos upoitg au tfieiíl icos; tem bel los rasgos de imaginação, e comparações magnificas, e por isso duvidamos limito, que os dot» versos seguintes pertenção ao auclorv

Despejai a Imãs vezes como trips. Outras como alambique de bolíea.

Canto II, rivs. ro5i

Pessoa alguma, das que estiverem no1

facto deste Poema, deixarão de conhe- cer o hello espírito do a <ác for neste ge- ise.ro, e a sua bella propensão; mas niq-

■guem lhe poderá negar, no meio de suas gaialfces os bons rasgos de moral, que limito a tempo deseinolveo.

Juizes mais amantes, e conhecedores mais profundos lhe farão a justiça devé-

íio

da* nós não fazemos mais, que cumprir com n que nos ordenou quem podia e creio que a rogo de vários, o que he muito na lurai; pois que rui hum século de luzes, cornou nosso, todos estuo pejv suadidos, que não pode cslmiar-se o bem sem o conhecimento do m,d, o n»e o decente seria dfisconlleftido, se o indecente não. exisiisse, e emfnn, que nada he capaz de lazer perpetrar ao ho- mem faltas mais graves, do que seja a ignoraríeis* t , _ .

Vara nós he Imm principio de saaphy- lnsouhia, que o Imm e O o4o se deve achar (como se acha) em toda a par- te para ser,ir de termo de comparação nSo sóemliUeialura, masgeralnientc iat-

laudo. , . > Ilá muitas obras serias, mas Urtnfcem

as há joco-senÍM» « ,ls.° im\rc~ cimento és outras; há muitas decentes, e as indecentes são igualmente uleis.; finalmente não. há obra alguma, que nao tenha o squ merilo.

Os amantes dos bous versos aqui os cu-

contmao; os que, fatigados da leitura de outro genen>, quizererr variar, por cutn-

Ichufla* iPfn 'eÍ da Nal8h,"> P°de»i achat tqm ham qcarto de Horn diverti. L' os "psolutamente bonzos padrão

.EL:::mnheiroasexi,robra^s'(i- Km quanto ao auclor da iVoíte de In.

vcrno e da Pavomza, elle be Ião coube- Clito, que dó* nada temos a dizer mes-

' 5,,|,re ° ferilft das M 'ís que a primeira não pode deixar de |,T

mB I™'1"' nf'° *« 'ciosos Quixotes como os senos partidistas do Lello sexo que lio silencio da noite emit mais hixu- rta, que vozes, com mais feitos qne

chalaças, gozfio da sublime ioda o incom- parável prazer.

A Pavoroza tem sen lugar para cer- . t n k í js, cuja Organização ama o sub-

til, e a te muita» vezes o contradicçào; U1„

\T ? v<'i'sos, e Lo filhado génio mui to caro as Muzas, pi)ra 0]jter a , [f|_ . " pccia. O grande cazo he dar á luz i u p' ologOj o que já ninguém negar-

(43)

nos podo; restando-nos a gloria de ser iuipaiciaes.

Sal DE.

(44) i -t

S,0 NETO.

Levou Deos 1mm fanchono Jostc mundo, Porque ace ht m a d o Principe nãu f'<is>e, Nos bisques dc Priapo furibundo, Sen N union tutelar, seu bem mais doce.

Epig, trad, de uã passag. dou l. sagrados,

«Quem és, quem és, pergunto lhe o Diabo, Apenas rios infernos entra o mono; «Sou, lhe diz ellOjO mais formal fanchono, Qnul não vio Ptolomeu ,Poi»pon Ío, Sir also,

Po Sudòrtíá e'Gftmorra om menoscabo <!oin porras, pordcgraosaguardo bum tro-» Jln que inimigo capit d do cono, íuo, Klerua paz firmei co' a bimba, e rabo.».

íFÓra, fóra, tLie diz Satan medrozo, Que npezardestes cornos, desta idade, Talvez me invistas de teaão toiniozo.»

SnrrÍo-se, e rio cbinó alçou metade, Poz a mão pela cara ao cão tíuliozo, I£ dizem, que ocluichou; valha a verdade.

Por li. A F. e S., ca ocçasião da aioile do lix.C.das Q.

t^AQUE DOS GOIVOS,

ou

Relação do que aconteceu ds Afôçat da» Porto, pelo entrado do Exercito AVí/n- az, em Março de 180Í).

1'elo S". F...

POEMA EPIC O.

Dedicado á immortal Catliarina*

;; 43 <sí «a *4

Essa da Russia Imperatriz tamoza, Que ainda á pouco morreo, (ã\i a Gazeta) Entre mil porras expirou \utdozn.

CANTO: I.

Ainda huina- vez, Musa, te rógo, A meu extremo assumpto inspira fogos

(46)

Tu pretendo cantar limn caso novo, De que foi testemunha o Luso Povo; Pasme, ouvindo o m'eú canino Universo, Sn tão estranho assumpto cabe em verso! OIi vós lá dos Gnindaes, Ninfas tunantes,- Que por toda a Cidade an do es errantes, Fazendo a cad.i canto sementeira Ba mais cruel, mais podre galiqueira; Desta sorte obrigando*V«s pobres picas A viagens fazer pelas botica», Na mão levando, em vez de passaporte, As receitas, que dão á bolça morte; Prestai atteuto ouvido at»cazo estranho Posto que Vps tirou bastante ganho. Ilida a* Águia, que cm sáiígue n Mu „do ala- Estendia o seu vôo junto a Braga, ("a, Quando olimidopovo, exangue e ahsor- Behamlado tugia para o Porto, (ty, Espalhando terror, no que contivá, Pelas praças e ruas, que passava; Quando tudo era horror, espanto tudo, Para as moças chegava hum novo Entrudo K as Fi eiras nos Conventos coin tal nova Aos já defuntos virgos dando escòva, SaJlavão de prazer, prevendo rotos,

m

Os que i\ força fizerão, sacros volos. I n soli to prazer banhava a Iodas, Só d a lembrança das fuflnas Iodas. Eis de íinpróvizo assoma a grã tormenta^ E ante os iduros do Porto se apresenta, 0 exercito Imperial, cujas cohortes Arínnncíãó pa\ or, es I ragos, inortcs,

1 (idos tenjâo fugir, mas roais se acendem Os Pais, que por á salvo só pretendem TÍtgÓ apparent?, a quem tirara a vida Coiti a ponta do dedo mão siileida, Ou a quem, bem que « furto, algum supa- Com a tromba já dôogrosso marzápó;(po, Por que a lódà, quelle dada ás escondidas, Sempre conserva o virgo ás mais fódidas. Em quanto os Pais adictos vão fugiudo, As (illias utraz delles se vão rindo, Dizendo buirias ás outras: «Deos nos guarde De encontrarmos aIgum rrancezcobarde; Queremos só carallios granadeiros. Que invislão por assalto os parra meiros, 0(u de algum regimento veterano, Que nos foda, e refoda a todo o panno, De sorte, que não tendo rnais,que escorra, Mós Íitqaeíiios taiubem fartas de perra.»

(48)

Oh vós, qiicides cazar, pormeuconselho "Vinde, vinde mirar-vos neste espelho. Em lauto pelos Claustros já corria A noticia Jeiiz da grã folia; Fugir também as Freiras determinão; Mas lugar favorável não atinão, Onde possão, salvando as caras vidas, Ter o gáudio de ser também fodídas. «Fujamos, todasgritão, mas p'ra onde?» A Abbadeça, que he Zorra, então respon- « Esperemos aqui, pois lie direito (de: o Cada qual ser íbdida no seu leito; « Não temais, Filhas minhas, ser privadas « Das, que anheláes, futuras caralhadas. « Aqui vos virá ler porra poltrona «Vegetada nos campos de Itaioua, « Ou Alemão caralho corpulento, « Capaz té de íbder o pensamento; • Não he precizo hir fora buscar braza, « Quando pôde vir ter o lume a caza.»

Assim dizia, as saias levantando, E a trémula cabeça debruçando Sobre o embigOj que era bem maçado Em tempo com saudade tnda lembrado, Nesse tempo feliz, quando era móda,

m

Em vez de roçadilho, a hella foda; Por entre ocutos lixos vendo o cono, A quem fartara so porra de mono, E ([tie a foz ioda linha em liberdade. Que cVo franca sabida á castidade, Cossando-ocom a mão, que inda regala, Em transporte de gosto assim Ibe lalla: « Oh Irez, e quatro vezes venturozo « l'arrameiro sediço e já rançozo, « Que em tempo ni a is feliz fosle masmor- «Aonde toda a casta entrou de porra, (ra, « Hoje, a pesar da já murcha belleza, «Ainda vais cbucbar porra 1'ranceza.» E tal ancia mostrava em exprimir-se, Que parecia, foliando, estar a yir-se. Ta es razões proferia; mas as Madres, Que só provado tem porra de Brades, Ou Je algum louco amante, que com sus- Os tnurus escalava a todo o custo, fio, Mão assentem, e querem sem demora Bo convento á força por-se fora; As discretas então cliania a Abbudeça, A Concilio geral á toda a pressa; Ex citão-se questões, e nesta luta Cada qual mostra ser mais Gna puta;

m

JTiiroas tom por escofbn mais «ensaia A > <«-Jlii «la INota, ou a dá Gala;

OoIraslPtrfpor melhor lifrp'ra Fr«dt?Ilo.í vue Ih* Jiairro, que doo sempre bons mar

Mc r o (melius ftao falia qllcm se ie.r.^e dos HtUfefci A fogosa luxuria mais propícios; Was o Toto dá mor. parte das 1-Yeiras lit- lur para a Viel la de Lice iras; Se In íòras do Fórto, oli Cotovia i>e cerlo te era dada a primazia. 1

Lm quanto assim altetcao as Freirinhaá

V 7-ié,íl!,,f>eria1, r0f,'Pei>dÒ ;rsLinl,as' A vaidade domina em toda a parto, 1 invejando n cruel e horrendo Mart^ Jprecipitada fuga, fá sem norte,

omao todos por escapar á morte, fanáticos Pais, neste conflicto

As hspliéras rompia o triste grito J emendo ás suas barbas Ter de costa», rudidíis,' assustadas, descompostas

filhinhas., que já pivías fnzião; L que mais, que rezar, fbder sabião; Alas no meio de secua ião terrível, Waisieia, que o in leni o (se be possível)'

(50

Arreitadag então as moras todas, reeeião morrer por perder fodas.

Houve tal, que, fingindo que restava, Estas vozes coin sigo murmurava: SniiLo Hilário pcriuilta, que eu não morra Sen, provar iiuma vez Franceza porra: Assiin aconleceo, pois 110 alãque X)oucos con os deixarão de ter saque,

t

(5a)

CANTO II.

Aufira tiij Calliope, me ensina O trabalho das iodas na oífietna; A porra, que no do no deu sopapos, Quautiosconus deixou feitos em trapos: Dá, que possa escrever a minha pen na Deste ca zo fatal inteira, see na; Lnt virgos não fatiemos nesta empresa, Que destes não provou porra Fnmceza, Que helructa, que im matura abrasa o raio lia porra do garoto, ou do lacaio. Tanto vem tem porão da ioda o trato, Que o nomevirgo lie já hum nome abslrac- lnda o rouco trovão do utroz Mavorte (tol Espalhava no Douro o susto, a morte, Quando já da luxuria a Divindade Dissoluta vagava na Cidade: Soldadesca, que tem píssa de bode, Quotas moyas encontra ataca, e foder Não se at tende á belleza; á pretas, broncas Se arrima o mesmo em pé,nervosas trancas, Tão duras,queso ri'huni, oudous revezes Ficão fartas de porra pYa seis mezes. Entro a guerra das armas e caralho,

(53)

Corre, mais do que sangue, grosso coalho; ISem vós, dituzjs velhas (quem diria.) A pitada perdesteis nesie dia, Que us LYancczes vos (lerão, mais li o ma-

nos, Ração, que vos faltava a quarenta annus, Sendo a porra Imperial p ra avos, e lias 0 Ueí Sebastião dai IVotedas. Assoa III a logo a fama esta noticia, Rara ãs ÍUIias familias tão propicia, li, ouvindo o mmor, todas Alerta Espera o do prazer a bora incerta; Estão impacientes da chegada; Desesperou não ver já pés un escada, Que no iiti'in do mal, que gu)'1 em roda, O que mais sentem, lie perder a toda; Da demora til era o sentimento, Que nem se qugr lhes lembra esquenta-

(menti). Roucos instantes tinbão decorrido. Quando o exercito em turmas dividido J'elis ruas e uazis disc arrendo . Aqui, e ali saquê.i, e vai IndtíuHo. Toll is vão dá cnditbo. que o carailio De soldado uio califa "j traballil»,

(54)

E soldado Francos, que moça monta, He potente pardal, iode sem conta; lé aquellas, que são mais alentadas, Ficarão para sempre fornicadas; Apenas escaparão com liem mágoa, As que O Douro fodep debaixo d'agoa. As Freiras entre tanto um rumo vpriq Fazião oração a Santo Hilário, Promcttendo solemne roniarta, Sede porra as fintasse "quelle dia, Ouvio o tniiagrpzo Santo as preces, E, das Ma<l rei allcnío aos interesses, Depamu-llics de porras lipin lebiinhq, De grossura capaz, e dom lítmiiidio. Entre cilas reluzia limn gram marzapo, Que d.e certo ei'a a porra de Priápo. Fazia o seu minguante no jpçllio, h Q crescente o levava além do nrtellip* De sorte, que essa porra, que as fodengus De (mscúc.s liiadnr lá nas Rerlangas, Ern cnpipejencia deste bom pepino, Parecia minlióca de menino; Tão,pntente da foda nos li-itbglhpgj Que na força igualava a cem caralhos; Capaz de cui ineía hora íodev toçií)$.

(55)

Poís só ile hum talho dava treze fodnst Niimueitl Lm, que não queira o membro

eterno, Que he badalo de stnn lá do Inferno; Mw n luxuria não consente escolha, A Iniina vetliH tocou d<> nervo a rolha, Que só á sexta vez sentiu o itibrio; Tão íipiithrco eslava aquelle como! As mais Freiras também são fornicadas. Ou de pé, OU de ilharga, 011 assentadas. Ilumas levao a sete, outros a oito. Para algumas são dez pouco biscoito. Houve coito voraz de barbas buzius» Que levou sem cançar quazi trez dúzias. T\ão se fode ein trinta anitos na I urquia, Wuis do que se fodeu naquellé dia. Então Zorra Àbbndeça as mãos erguidas, Yendo todas as Freiras fá fodidas, E que só testemunha fôra apenas Da lodenga geral nas varias semas, Cõ' a voz, que 11a garganta llie fatiava Alílictu ao grani caralho assim [aliava « 0 tu, qne tens immensã potestade, «Que fòdescá do Mundo a Eternidade

i • Caralho, para queui o Orbe inteiro

fS 6>

<i Apenas fort) ©stetii<i p arrame iro, * !São sejafsó (iifíquitih{i çp'o cnno, «Qne minta pa fa fodas teve som»u: « Dotmcei a ill d (.'J* tie rapariga;

De sele annos levei j^grossa espiga; Despejava I ill mas vozes como tiipn, Outras como alambique de bélica; Eni dans num s e meio de exercício I'ui mestra capulaz do meu i (licit»: Sei bem de fornicar os vários modos, Que os meios de nje vie npiendi iodos; Estraguei com provei lo neste eMudo Seis, t>u sete caralhos de velludo; |So d11'" tempo ninguém me dava calcas, 1'ois nunca soube, o que eião fo'das

falsas; H lioje mesmo, apezar de ser fá vellta, Inda posso levar li uma parelha: Não queiras pois por meia encalhada Deixi ir huma infeliz desconsolada: Por variar só meia ioda peço, E, se inteira vier, mais te agradeço. Não se díga que em vão sabi cá fora, A buscar a ração consoladora; Que talvez se eu íicussc uo Convento,

(3:)

«Já não teria o como bolorento, « Por que, U11I.1 que beui lopge habite a

li eira; « Sempre porra lá vai aventureira.* Assim (liziHj estendendo uu nervo us pal-

lidas. Como quem fodn pede pelas almas. Mal tinha concluit(o, quo mio o venta I)m porru junto :io cnnu se aprezeuja, K, te 11 lio apenas bums parte ilenlro, Do vazo já locava o lundu centro, K tanto a tu) lodeng» a saborfea, Que a \ir-se esteve mais d'huin'hora e

íneio. De sorte que. depois de fnrntcádi, (Pobre Yellía!) morreo debilitada; Mus o extremo adens dizendo á vida. Com riso uroffei'io: «óinrro fodida». Depois de serenada a tempestade. As moças todas, tinia com saudade Do pretérito (tosto, entre as amigas A liisloria contavSo das espigas; O numero, a grossura, o comprimento De quest So serve em lodo o ajuntamento: Querem todas ganhar a piimaziu,

(58)

Bas fo(Tas que se (lerão neste tííar Horn» ri, outra chora, outra hr.iveja, IW coração a todas róe a inveja, J', houve lai, cjtie ficou desesperada, Só por não ser no con o saqueada, País vigilantes, que dobráes cautelas, Por sempre conservar frHins donzellas, E vos outros, que só por frio lei rttv, A' força littles metier as fríljas Freiras1, Esta lição vos sirva de presagrt), (Jue pode inda chegar outro uauíVagia,

FIM.

NOITE DE INVERNO,

de M, M. B. DU Bocage.

EeAíiU» noite,.c as beiras dos telhados, jCa íii tido tpa usa mente, .convida vão A gente toda a propagar a especie; ^ B ainj.is correntes, que do Ceo cahiSo, relas ruas abaixo su surra vã o; Dormia tildo, •' a ronda do Intendente, .Que u Gram Tur qu ato rege, o pai das

putas,

Esbirro Mor, Mecenas das ta renins, Recolhido se havia aos pátrios lares; lira tudo silencio, e só se ouvia De quando em quando ao longe hu a ma-

traca, Roúva o sino grande dos Capuchos, Yão-se os Frades erguendo, era hu'uhora. ISfio podia faltar Mze formosa, Rela primeira vefc me estaya esp randoç De repente me visto, e salto fora Da pobre cama, aonde envolto em sonhos, Mil imagens a mente me fingia; Visto roupa layada, e me perfumo,

(6°)

IV'!ium capote me embuço, a espado to- mo,

Que nunca me sérvio, masque em Lies CilKOS

M.'te a todos respeito, e qua! Quixote, Que, )i avendo jã perdido o caro Sancho, S< on nod i recear, de assalto busca Altos moinhos, qm; valente ataca,

I il eu figuro achar a cada esquina liuin Kãdatnanto, e prgmpto me dispo-

nho A lança-Io por terra, em pó desfeito. Assim ifastfj a tempo, até que clie^o Ao sitio dádo^oiide o meu bem meespéra. Mal aporia ctubocji.ei, dentro em mim

sinto Hum fo«o activo, nuc me abraza todo; Eis de Vize a criada, abelha mes'Ira, Que ti mim estava ali-, a mão me aperta Víii-nie guiando, o diz t snba de mausó, Qúé íilii dorme a sérfhora» a poucos passos ]'or acaso ao sríbfr lhe apalpo as pernas, Ocaspiíe, ipie re< o! lira aleat reiraí Nunca vi cu ião duro, era hum:) rocha! Foi 0 lesão ela mim então Ião íoile,

Que as mãos lhe eucostó aos hnmhros, sálio nulla,

\jue enfadada dizia o Olho o lirejeiru, « I irftVse lá. que pode * ir minha ama.» Ao dizer 'Isto, a voz lhe fica' presa, §ii!u a, treme toda, e^leode os braços; Aborta as peritas, encarquilha o conu, O.ue disj; ■iv,a do cu polegada e meia, yual moinlio de cartas, que os rapazes Ç!n tempo de verão puem. nas janelas,. I al a moca rebola, e eu. posto em cima, Sem nada the dizer, tinha vertido Na larga dorna a larga apojmhna. Acabada u luureão, em qm* a moçoila, Sejjnrylu confessou, d. o ti es por huá, N'liuin quarto me eneaiclioti onde os A-

inui es Unhão sua morada, onde Cupido Ha lia receber etu seus altares, Km lireve espaço, meus amantes votos, 'íonuiji lodo em oaza: eis Nize India, líotn pouco envergonhada,assim ficando Mais verineliia que a t osa, a i.niui se chega. Nos meus braços se lança; então llie locei No tenro, e branco seio p.i piUule:

(6a)

Tremula a voz, que o susto lhe embarcava, Mui me pôde dizer: «Meu bem, minha al-

uía, Quanto pode o amor n'hum firme peito! Bem ves, ao que me exponho; eu bem co-

nheço, > ' Quanto o Se ndo o meu sexo, e as íeis da

honra; Bem sei, que despedaço...., roas uâu.te-

1110, Que te esqueças de mim, que ufano zom-

bes IV liuã infeliz mulher amante, e fraca.» Dice: é em quanto falava me prendia Nize c'os braços seus, e aos meus joelhos As pernas encosta.* i, que eu conheço Peló lacto que são lijas. e grossas. Mal podia conter-me: o (leu chuvoso Pelas telhas cabia, o vento rijo Pelas frestas zunia, a caza Ioda Com cheiro d'alfazetun, u cama fofa, Tudo em hm era Amor, ;tudo.arrejtava. Kutro a heijar.-lhe us mãos feitas de uéve, DéscubrO-lhé.coin géito o tenro seio, Que aucioso palpita, que .resiste.

(63)

Quo não murcha ao locar-se, Oli! qtmn- to lie lifllu!

«o seio virginal, onde dois globos Mais brancos do que o jaspe , estão fir-

mados, Ancioso ns beijando, pouco a pouco Se lizcrão tão rijos, qtic mal pude J-oriipritrii-Ios co'os beiços; neste tempo 1'elo fundo da saia subtilmente J-he introduzi a mão, com que esfregava 0 | cntelho em redondo, o mais liir.suto, Que até )i encontrei, o como a eriça "ertido tinha já pingas ardentes, pertos signaes, que os fervidos prazeres Dentro da Ima de Nize á luçta and a vão, 1 al fogo era mim senti, que de improviso, Sein nada lhe dizer, me fui despindo lé ficar nu em pêllo, e o membro leito, Na cama me encaixei, que a luim lado

IV- . estava, ^ize cheia de susto, e casto pejo, De receio e luxuria combatida, ■unto a mim se sentou, sem resolver-se: Eu mesmo a fui despindo, eu fui tirando, Quanto cobria seu airoso corpo:

1^1)

F,ra ferio do novo, os bom br os alios, It seio bYanen, o on roliço e groffsoj A barriga espaçosa, o cnno estreito, O ponto lho Writ denso, escort), e lizo, frowns piranbdaes, pernas roliças, O pé pequeno, oh! Çéos cpmo he for-

oiozaí .1:1 metidos na cnnia oro branca obmda, Qual .Amadis de Gairli, entrei ma brigai Pentelbo com pentelbó ambos unidos, Presa o voz na garganta, ardente logo J'isbalavauios ambos: Níze bclla, On (nsse tnrtoral, ou fosse de arte, O peito'levantando anciosa, afllintff, Trdmia, soluçava, e os olhos bellos Setiri-mortos erguia, a cor do rosto Pouco a pouco murchava, era tão íorte Tão activo o prazer, cpie cila sentia, , Que ,è i ngrpdó-1 ti o os rins e'osn 1 vos b ra çoS, Tanto a si me'apertava, qoè por vezes i> movimento do cu me embaraçava; Go'as alvas pernas ine apertava as coxas, Titilnva-lbe o cono, .e reclinada, Quasi sem Uno, a' languid» cabeça, tiliauiaiido-me seu bem, sua alma c vida,

Fnz-me lodo paririas. dopes mhnns, 1'Vrvidns beijo#jriiiii lua mente dados, Anliehíiites suspiros so exlialnvão; Era tudo ternura; em breve espaço, Ao som i)e queixas mil, <'nin (jue i plantava Moslrar-nte Mze hum da timo irreparável,- Me sent! quasi morto , em todo o corpo Hua viva emoção seuli gostosa; Dentro em minha alma feifvicjo*prazeres O peito vivamente me agitavno; Os olhos ê a voz amortecida, Os membros lassos, quasi moribundo. Me sinto como morto, eis de improviso Tornando a mijn mais Sorte, o uif.Vs ro-

busto, Tentei de nGvo o campo da batalha, On at o hravo guerreiro, que se abrasa No hálito, e vapor, que eximia o sangue, Uue clle mesmo esparzi o entre as pha-

hmges pe inimigos cruéis, que vence, e mat;i, Assiui eu abrasado em vivo logo, Que de N'ize saliia, rue não 1'orln Da guerra, que intentei, de novo aperto, Do novo beijo seus mimosos braços,

(66)

T!rjjo-)Iie o* olhos, a mimosa boca, Os níveos peitos,. a cintura airosa; IA >7.0 ruitrn tan In me fazia afegre, Estreitava-nir» a si por vários mudos, Ora |insto eu por baixo, pila por cima, Bara dar doce alívio aos membros lassos, Ora posto de ilharga, sem que nunca O voraz membro do lugar sahisse, Ern que Imã -ez entrara altivo c forte, O membro, qiieem tal caso era mais duro, One alva column a de marmóreo jaspe, A té que em fim, depois de não podermos IS ern eu, nem Nize promover mais gostos, 0 brando somno sobre nós lançando Os seus doces influxos, brandamente Os ollios nos serrou; li tins leves sordios A ieríio animar nossos sentidos, J e que chegou a fresca madrugada, Em que á caza voltei, de que saibra, Ji. tornando unira vez á pobre cama, Dormi o dia inteiro a somno solto.

P4VOROZ4,

de M. M. B. du Bocage.

b»o«Í«s«a

ÍPavoroza ílluzão da Eternidade, J'fjriyr "los vivos, caricere dos mortos, Dalmas voris sonho vão, chamado íufer-

no, SyMemn tie politics oppressôra, Freio, queaiiiãodos déspotas, dos bon-

zos Forjou .para a burM credulidade; Dngtna funesto, que p remorso arreigas Nus ternos corações, ea [Xtzjjie arrancas; Dogin t funesto, detestável crença, Que em çfr-na?, delicias innocent es. Tíius, ctjin.» aquejlas, que nu Ceo Se fin-

ge ui; Fúrias, Cerastes, Drágps, CeiUiiuauos, 'Perpetua escuridão, perpetua ciiauta, lucom pá tireis prçducçôes do engano, De senipiti rrifi fiorrqr terrível quadro,, (Só tcriiyel aos olhos da ignorância) Pião, não me assou dirão tuas negras eoreS: Dos homens o pincel, e a íuão conheço.

m

Trema tíe óuv ir «sacrílego amparo, Queui de liuui Deos, quando qoer, faz

hum tirano; l rama a si)porslição; lagrimas, [iroces,

A uIds, suspiros, iirqnepinvio, espalhe; (•ti/.a a face com a (erra; o peito fira; Vergonhosa piedade, iiíuíil bênção Espere as plantas do Impostor sagrado» Ooc ora os iidei nos abre, ora os ferrullia; ÍJiié ás leis e |o-tipensòe.s da aàuíreia,' Eternas, iniiintlareis, necessárias, t * I h in a espantosos, volnn Larios cri mes; E, ritís ates traçando a Jitiil lieticao, Vai do gram tribunal désenrofar-se Eni surdido prazer, Venues delicias, liscnndiilo d Amor, que dã, não vendo. Oh Deos, não oppressor, não vingativo, Via vibrando Cu a dl \lru o raio ardente (.ontrn o suave inStiíicto, qué nos deste; INáu carra 11 etido, ríspido, arrojapdo So'bi't os iiioi tacs "a rispidn sentença, A .puniça.) crtiel, (pie excede ao crime Alo IIli Ofíihiuo t|'j íjne te ama. (pit! te incensa, c cré. que

és duro:

(69)

Monstros cie vis paixões, dam nados pei- tos,

Pungidos pelo sordido interesse, Alio , implacável Nu meu, te ali ri buem A cólera, a vingança. os vicias todos, Negros enxames, que lhe fervem »'alma. Queria it I tudo Ministro dos altares Dourar o horror de barbaras crenças, Cubrir de vóo compacto, e venerando, Atroz satisfação de antigos odios, Que a mira põe nó estrago da in tipee ncia Só por nmhtor aspérrimo domínio; D'os vaitvens da fori una, com quem

luta. Ki lo pin santo furor todo abrasado, Hirto o cabe 1 to, os olhos côr de fogo, Na boca a maldição, o fel, a espuma: Ei-lo cheio debttni Deos, Ião niiío como

cite: Eí-io citando os hórridos exemplas, Cam que se aterra absorta a faotazia-; Hutu Deos algoz, e viclitua sen povo. No sobre-ollioo ua vor, nas mãos a mor-

• te' Envoi toem nuvens,em trovões, em raios,

(7°)

I)r Israel o Tirano omnipotente Lá brama do Synai, lá treme a terra: 0 furioso executor Uns seós decretos, Ilypccrila feroz, Moyscs astuto Ouve o terrível deos, que assim tro-

veja: «Vai, Ministro snnhudo dos altares, «Corre, vòa a vingar-me, e seja a raiva «D'esfain:ados leões menor, que a tua: «Meu poder, minhas forças te confia: •Minha tocha invisível te precede: «Dos Ímpios, dos ingratos, que me of-

fer! d em, «Nas rebeldes cervís o ferro ensopa: «Extermina, destroe, reduz a cinzas «Às sacrílegas mãos, que os meus in-

censos «Dão á frauds metaes, á deozes sur-

dos: «Sepulta as minhas vicliutas no inferno «E treme se a vingança me retardas. » Não lha retarda o rápido prophela, .Ia cone, já vozda. já dilhtnde Pelos brutos, at ten tos sequazes A peste de implacável fanatismo

(70

Armãn-se, investem; rugem, ferem, ma- tão.

Que sanha! que pavor! que atrocidade! Foge dos corações a natureza; As consortes, os pais, as mãis, os fi lhos hm lionra do seu Deos consagrâo, tin-

Sc',n

Ahom in osas mãos no parricídio; Os campos de cadáveres se alastrão; Sussurra pela terra o sangue em rios; Ali! harbaro ministro, sò sedento Be crimes , de ais, de lagrimas, d'estra-

Da torrente de horrores, que derramas Para fundar o império dos tiranos, Para lhes dar o feio, duro exemplo Be opprimir seus iguaes com ferreo jugo, IN ao profanes, sacrílego , não manches Ba Eterna Divitiidade o Nome Augusto: IS ♦ lvsse, de que te ostentas tão valido, He deos do teu furor, deos do teu génio, Deos criado por li, deos necessário Aos tiranos da terra, aos que te tmitão, li áquellc, que não ciô , que hum Ueos

existe.

(72)

Neste qtiadro fatal, bem vis Mnrilia, Que em tenebrosos séculos envolta. Desde aqiielles cruéis, infandos tempos, Dolosa tradição passou aos nossos; Do coração, da idéa, ali! desarreiga De astutos mestres a ftdlaz doutrina, E de crédulos pais preocupados Dp quimeras, vizòcs, fantasmas, sonhos. Há Deus, uiasDeosde paz, Deos de pie-

dade, Deos de amor, Pai dos homens, não fla-

gello, De os, que ás nossas paixões deu ser, deu

fogo, Que só não leva a bem o abuso delias, Por que á nossa existência não se ajus-

tão, Pois inda incurtão tnais á curta vida. Amor be lei do Eterno, lie lei suave: As mais são invenções, são quazi todas, Contrarias á razão e á natureza, Próprias ao bem de alguns, e ao mal de

muitos: Natureza e razão jamais tiiíTereui; Natureza e razão movem, conduzem

A dar socorro ao pnllido indigente, A pôr li ti lilt* ás lagrimas do aíUicto, A remir a innocencia constrangida-, E o f|ue nos debeis, magoados pulsos Se lhe arroclife o vergão de mil algemas; IS a tu reza c razão jamais approvão O abuso das paixões, oquella insuuta, Que pondo os homens ao uivei dos hrntós Os infama, os deslumbra, os desacorda, Quando á uossos iguaes, quando liuus

aos outros Façamos feroz demno, injustos males. Em nossos corações, em nossas mentes O remorso oppressor sempre do cíimêj O castigo nos dá, atiles da culpa. Que só ua execução a culpa existe, Pois não pode evitar-se u pensamento, E be innocente a mão, que se arrepende. Nãu vem só de hum principio acções

opposing. Taes emauãode hum Deus, taes de hum

exemplo, Ou do cego furor, moléstia d'a tina. Crê pois, uicu doce bcui, meu doce en-

canto,

m

Que to ancião fantásticos terrores, Pregados pelo ardil, polo interesse, Que de infestos mortaes uri voz, na as-

lncia, A bem da tirania eslá o Inferno. Esse, que pin(ào baratro <le angustias, Seria o galardão, seria o frurto Das suas vexardes, dos seus embustes , E não pena de amor, se inferno hou-

vesse. Escuta o corarão, Marília bella, Escuta o coração, que te não mente: Mil vezes te dirá « Se a rigorozaj Carrancuda oppressão de hum pai se-

vero Te não deixa chegar ao caro amante Pelo perpetuo nó, que chainão sacro, Que bonzo enganador teceo na idea, Para também de amor dar leis ao mundo; Se obter não podes a união soleinne, Que alluciuú os mortaes, por que le es-

quivas Da natural prisão, do terno laço. Que em lagrimas e ais te estou pedindo? Reclama o teu poder, e os teus direitos

(75)

Por justiça despótica extorquidos: Não chega aos corações o jus paterno: Seu chama da ternura os aíoguèa, A prizão para ainor lie Uberdade: Pia pois, do temor sacode « jugo, Acanhada dnnzolhi, deixa o pejo, Parte, illudiudo as vigíliantes guardas, Pelas sombras da noite, á amor propí-

cias, Dema nda os braços do anciaso Elmano, Ao rizonho prazer franquea os lares, Consiste o Inço na união das almas: Do ditoso Hvmiu&o as venerandas, Cabulas trevas, testemunhas sejâo; Seja o Ministro Amor, e a terra o Tein-

pln' Pois que o Templo do Eterno he toda a terra;

Entrega-lo depois aos teus transportes, E os oppresses dezejos desafoga; Matta o pejo importuno, incita, incita, O só, que de prazer merece o nome: Verás como, envolvendn-se as vontades, Goslos iguaes se dão, e se recebem; Do jubilo lia-de a torça embriagar-te;

(7«)

SonTiríís suspirar, mnrrrr o amante; Gum <>s leu* confundir os seus suspiros; Has-de morrer, e reviver com elle; J)<' tão alta ventura nit! não te prives, AU! não prives insana, á quem leadora, Fis o run- bade excitaiMe, ó doceamada, Se á voz do coração não fores surda: ])e tuas perfeições enfeitiçado, Aspieces, que elle envia, eu uno as mi-

nhas; AU! faze-roe ditoso, e sft ditosa. Amor lie Imm dever, alem de liuin gosto; lie Imã necessidade, e não Lum crime, Qual impostura hormona n pregoa. Geos não existem, não existe inferno; O premio da virtude lie só virtude; lie castigo do vicio o proprio vicio.

FIM.

O CAPITULO GEKAL

DOS

FRANCISCANOS.

SkÔOOOO OO ÔC« Imitacaô dií Phukí,

frooooooooca

O CAPITULO CERAL

nus

FRANCISCANOS,

Tinha a Fo ro a veloz passado os mares, Levando a nova a differentes lares, Que morto fora em tantos tie lai antio O Venerável Chefe Franciscano. Chnina-se a volos Ioda a Pradaria Para acclamar cin plena Confraria Hum digno successor vi ri potente, Capaz de governar fradesça gente. Em Toledo em Capitulo chamados, São os robustos Frades deputados: O Capítulo ein fim já começava, Quando vermelho Frade assim fatiava: \ ós, dignos pedestaes da Pradaria, Que fazeis dominar a Momeria, Que tendes por herdade, e sois os donos lto direito feudal dos cós e conos; Vós, que vindes aqui ao Caudídado Com as vans pertenções de Ser Prelado, Não vos fieis debalde nos talentos. Que isso seria dar razões aos ventos:

(8o)

Quem quizer aspirar a ser Prelado ISãti deve por talentos ser julgado: Seja elle embora da mais sabia raça, J'or São Frauctsco mesmo não ha graça. Se não apresentar grande caralho., Perde agora oscu tempo, e o seu traba-

lho, Ouoiti melhor o tiver será Prelado, £ seja este da escolha o ponto dado. Demos pois a nós outros novo lustre, Escolhendo o caralho mais illustre. Preparai-vosj oh Padres, neste instante A inostrar-vos o sceptro íomicante, Dos ntnnapos bruta es a reverencia; Vejamos quem terá a pr eminência. Então mostrando o seu lhes diz choroso: Vède o signal funesto, mas famoso; Ainda que cortada meia pica, P ra ser .Geral, ali vede o que me fica! Ella he boa, meus Padres; segundo acho, Seu aspecto bisonho he hem de macho. De zelo transportado bum Frade santo, Chega pertinho a v£r prodígio tanto. Depois de examinado o la) corisco, Duas vezes jurou por São Fraucisco,

(30

Frei Tapncú, que o Velho mal julgava; Com hum arde desprezo assim faltava: Eu juro peta braga Franciscana, Que o velho Santarrão aqui se engana; Ercí Tatsalho, segundo o rito usado, híão tem porra capaz de sei1 Prelado. Com a dextra a sutaina levantando, fta esquerda a porra enorme sobpe-

sando, Bem digna de fazer, cm lodo o estado, Feliz quem possuísse hum tal bocado, Grosso e vermelho, duro qual o corno: Eis, diz (die, hum caralho feito ao torno; TNão.aqueUe que mostra Frei Tassallio. Bem pode sem hasoBa meu caralho Doze vezes fazer ocuno em borra, Sem que uns seis se desencaixe a porra. A Pradaria rio-sc do argumento, Quaes palavras que leva o rijo vento; O Frade desespera da risada, E bate com tal força huuia pancada Com a ponta da porra no sobrado, Que o Concilio ficou todo assombrado. Admirão-te a porra al li potente. Diz a Frei Tapacá o Presidente:

(82)

Susta hum pouco esse nobre enthusi- asm o,

Qu'essa porra brutal nos faz hum pas- mo.

Hum caralho tão grande etâo grosseiro, Qual raio faz tremer todo o Mosteiro: A sua vez virá de ser medido, Ese foro maior será prefrido. Padre Examinador, comece a roda; Com ordem seguirá a chusma toda. Sejãb todos medidos na grandeza, Na forma, na figura. c na belteza; Não escapando nada no tal nabo QuC não seja apontado até ao rabo. Que cada qual em fim mostre o que po-

de, E o premio seja dado a quem roais fode. Findou o tal exame de pancada, Ficalldo a resolVão inda empatada. Frei Fura-cono, e Frei Escalda -rabo Duvidão entre si o maior nabo. Na porra igual valor mostrão os Frades No scolimes mesma força e qualidades, Fica o cazo em Concilio reservado, A qual dos dois s'elegerá Prelado.

(83)

Para tirar os Frades da Incerteza, ExpViméate cada hum sua presteza; Tragão aqui rapaz,, o rapariga, Para em tudo cumprir a regra antiga. Veja -se qual dos dois d estes marzapos Porá o cono e cú em mil farrapos; Qual dos dois na fodeoga lie mais m os-

tra ço, Ou na fraze Fradesca, mais cachaço. Findou cm fim a regular Vesita. Fis vera rapaz, e moça bem bonita, Bella qtiai fresca rosa em primavera, Onde Amor com prazer a!li impera. Os f rades sy de vô-ia se arredarão,. Os mar/.apos as bragas arrombarão. Pá signal o Geral a Fura-çono, Que salta sobre a moça como bum mono. Foi dito e feito em cimad'hum estrado, Que fòra para o eQuito preparado. A burrical linguiça Ibe pespega Obtemlo á força quanto Amor Ibe nega, Ma vicUrna que jaz allj prostrada, P romp ta a soUVer a horrenda cavalhada, li qual o vencedor, que a palma ganha, Fui Juugonha e prazer a porra banha.

m

Doze fodas lhe dá o Frade logo, Sem que em hum a só vez errasse fogo. O caralho sacando do besbellio, Mostra a moça loiríssimo pente!lio, Mevadusbimbas, queo coninho escon-

de, Crica beiçuda que o pudor confonde. O caralho do Frade erguendo a testa, Pede nova lódenga, e nova festa; tjom luxuria escumando livremente Entra uo cono estreito de repente. Mostra em segundo atlaqae o tal Fradi-

nho, Que maraapò arreitado abre caminho; Mão podendo passar alem do rabo, O cono borra corn licor dei nabo. 'leni Ftira-cono, illustfcè Cnudidado, Todos os votos para ser Prelado. Segue de Tapam a sua vez, Quem Imron só pancada Iode dez. Com tresgolpcs.de cú mostrou o Frade ])o São Francisco a rara qualidade. Ficdu a moça desmaiada em pranto; Que tal pode da porro o furor tanto! Trocão-se em ais os choros da donzclla;

(85)

Quo foder electrisa a moça holla. G Frpdè fodeltlão, qual trovoada, Dos diques geni.taea abre a encburrada. Avante som parar no couo ardente Doze vezes soltou a grossa enchente. Findadas doze cuida a Fradaria Que a proeza do Frade acabaria: Fis que voltando da Moçoila a taxa Vermelha porra pelo cu lhe encaixa; Duas íddas lhe dá, quando acabando, O caralho do cri sacca pingando. Em seu favor os vultos tem o Frade Da potente fodaz Coimnunid.ide. Eis quando st: llie oppõe o Frei Tussa lho, Com dentes nosaial, tnão 110 caralho, E com voz de trovão assim faliava Ao Concilio fodaz que iá votava: Para a escolha ein questão cu tenho

parte, Eapertendo impugnar, juro por Maple; Não (ie tão graúdo, Padres, meu caralho; Mas paro fornicar, eis Frei Tassalho: A prova be esta, dou-ilies sola e az, Começando a loder c te rapaz. Do noviço as calcetas abaixando,

(86)

Vaio cú do rapaz patenteando, E sem cuspir em cima, encaixa a porra Ko rego culatral da suja borra. As mãos bate a sórdida Quadrilha, Cuidando ser milagre, ou maravilha, 0 Frade, sem perder razão ou litiOj Fura sem dó o vaso masculino; Dizendo federá alli luim anuo, Sem que jamais do cú tirasse o cano. Fodeo o SanLarrSo no lai t rasteiro Por seu proprio gosto hum dia inteiro. Os votos recollieo o Présidcnle; Foi Frei Tasíalho eleito plenamente. Quando hum Frade taful, barrando a

estrada Sabida nega a toda a canalhada, Dizendo; que nenhum Geral seria, Sem primeiro mostrar que federia Quarenta vezes tanto en> cú e cono, Em honra do Convento e do Patrono» Protestando appellar deste Concilio Por lunn erro maior qne do sigilio: Pertendo dar as provas do argumento, Fnderido d'alio a baixo este Convento, Inda puis que o Capitulo murmura

(87)

Hei fodê-lo a trave a da fechadura. Cum pé a traz, e cnm a porra alçada, Os Frades vai pilhar nesta cilada. A Confraria assenta one convinha Se apresentasse o cu a quanto vinha. Tantos que srdicui. quantos vau lodidoS. Nem mesmo os velharrões sao excluídos. 0 Frade por detraz a todos (ode, Fazendo dos seus cus barbas de bode» fa todas fornicou com íorça tal, Que não podem negar-lhe o ser Geral.

FIM.

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(*9)

SONETO.

[Improiisado]

Esse disforme, e rígido porraz I>o semblante irie ioz perder a cor, E assombrado d'espanto* e dc terror. Dar mats de cinco passos para traz.

A espada do membrudo Ferra braz Dc certo mio incitia mais horror: Esse membro lie capaz até dc pôr A molinada Europa todo eui paz.

Creio, que nas fodncs recreações Não te hao-de a ríja maquina soffrer Nem os corridos surdidos cações.

De Venus não disfrutas o prazer; Qo esse monstro qnc alojas nos calções íle porra dc ufostrar, não de iudur,

11.

Íí)0}

SONETO.

Se (píeres, bom Monarca, ter soldados, Para compor lustrosos regimentos, Mandai desentulhar esses conventos, Em lavor da preguiça cdiíieados.

Nos Bernardes lambões, c assalvajados Adiarás mil guerreiros corpulentos; Nos \ iccules, nos Ntirís, e nos Bentos Outros lereis »ao menos esforçados.

Tudo extingui, Senhor; fiquem somente Os Franciscanos, Loios, e Torneiros, l)o Cenlimauo aspérrima semente;

Existyo estes lobos carniceiros, P'rn não arruinar inteiramente Pulas, pivias, carões, c alcoviteiros,

/

(91)

SONETO.

Mandem Tercricta chamar Clama hum (.lia Para que seu retraio lhe fiz ess o, li d'hunin tal [mineira a descrevesse, A poder Iriumpltur da morto iria.

Ofllama, ((itc o sen j;enio conhecia, Para que em tudo o fim satisfizesse , Pintou-a fornicando; mas parece Qu'iuda tupis expressivo o perlendia.

Vai c!le, pltila hum Frade Franciscano Verinelho rntnl o crnvo d'Arroehdlla, Cltumti porra maior que o N ation no;

Pinta a Freira adorando-a da janella, O von plus ultra escrito sobre o cano, Ad prrpeluam rei iiitmoriam nella .

,(92)

SONETO.

QuTés puta provarei, minha Tercncia, Puta, c maia puto ilo (run os mesmas putas#- Tu ós Freira , e nqisell outras, bem que íu-

nuplas, Se quer, voto não tem de continência.

Estas para mil fedas tem potencia; Tu, em cem mil punhetas as commutes. Tu e'o Frade na grodo em socco lutas; E's putissúpa Lu por consequência.

Pulissíma? indo mais; muito bem podes Levar de reptiíissimn o letreiro; Replicas? he uiclhor que lo accommodes.

Essas levpo n porro do brejeiro, f>o negro, do tocaio; e tu? tu fodcs Co retrato da porra hum dia inteiro,

C.

(03)

SONETO.

Qual de Vulcano em rigída officina Batem em duros bronzes 1- ricos malhos, Assim todos os dias mil caralhos Batem no cono teu Com i'uria íudina.

Um Colosso mereces por divina, Que symbolize, em tantos mil esgalhos, Quantos mar zap os, perras, o grisalhos , Teus aguentado assim desde menina;

No forte pedestal com a trombeta Cantar devera a Fama pregoeira, Qti'huma tal Inscripçuo aos oliios metta:

Fd Ia que mede por igual fieira l'orra fidalga branca, e porra preta, A Rainha dos cações, Anna brejeira.

m)

SONETO.

i Não sinlo, voraz puta, tor fodido, )i licnr U'esta Ioda gallicado; pois linn sei, que o feder cm copo lionrado, Ho caso raras vezos concedido.

Sriiin, sim, tantas noites ler perdido* T.tnlos fui os e fomes ler passado, Por ino ver o caralho amalgaçado D'huma puta, rjue o virgo mo lia vendido.

Mil dinli os te leve'o pnrrnmeiro; C<rica de porca, tiinimnas do cachorro, Os inlernos te sirvão de braze iro.

Mas juro...Quem vem lá? O fecho corra.,. Adens Musa! lie checado o grau Itnrbeiro: Aqui tem, Senhor Mestre, a minha porra.

fo5)

SONETO.

Por dar algum alivio no pensamento, D'i m port u das questões atenuado, Peg UCÍ no tneu capote; e embuçado, Humn puta busquei d'aito espavento.

Perguntei-llie, se tinha esqtien lamento» E disto estando já hetti in form n do, N"hum velho, chocalheiro, e rolo estrado, Da seena começou o movimento.

Furo, c reftiro; c como nada entrava, A pezor de ser já no officio velho, Cuidei achar hum virgo...Oh cousa rara!

Vêde-vos, meus amigos, nesto espelho: Era o virgo, que linha a Nynipha cara, Merda sècca pegada 110 pentelho,

N. T.

(96)

SONETO.

A carnal tentação desenfreada, <}ij' no sangue quente alta justiço pede, Fez com que cu, embrulhando-nic na n de Subisse d huma puta a infame escada.

T.igciras pulgas saltão de emboscada, Fartando em mim de sangue huuinno a sê de Arde a vtíla, pregada na parede, Já d'antigos morrões affogueada*

Sahlo d'alcova a desgrenhada Furia, Respirando venal sensualidade, Vil desalinho, sórdida penúria.

Muito pode a pobreza, e porquidade! Arreei as bandeiras da luxuria; Jurei no altar dc Venus castidade.

N. T.

(97}

SONETO.

La quando cm mim perder n Humanidade, Mais bum daquelles que i)So fazem falta, Verbi gratia o Tbeologo, o Peralta, Al gum Duque, ou Marquez, ou Conde, oti

Frade;

Não quero funeral Commiinídnde, Qu'engrole Subvemles ein voz alta; Pingados Ca turrões! Gentes da Malt; ! Eu também vos dispenso a caridade.

Mas quando ferrugenta enxada idosa Sepufchro me cavarem ermo ouLeirn, Lavre-me este Epítapluo mão piedosa:

«Aqui dorme Bocage, o Potanlicíro; #Passou vida folgada, e milagrosa; sComco, bebeu, iode o, sem ler diubeiro.*

(9SJ

SONETO.

Não lamentes, oh* Nize, o teu estado: Pula tem stdo muila gente boa; PulisMiiiíis lidalgas tcin Lisbon; Milhões de vezes pulas tem reinado.

Dido foi puta, e puta d'hum soldado; Cleopatra por pula alcança a c'roa; li Lucrécia, a pezar da sua proa, O seu cono não passa por honrado.

Essa da Russia Imperatriz fnmozn, Que inda ha pouco morreo (diz a Gazeta) Eulre mil porras expirou vaidosa.

Todas DO mundo dão a sua greta: Não liijues puis, oli Nize, duvidosa, Quisto de sirgo, c houru he tudo peta.

(99)

SONETO.

FAtiWtWo.]

Não1 Iamentos, Alcino, o toil estado: Cornu tem sido muita pente boa; Cornísíinios fidalgos tem Lisboa; Mílliões de vem cornos leni reinado.

Sicheu foi rorno, e rorno d'tnini soldado. Marco Antonio por corno perde a c'roa; Ampbitriãn, com toda a sua proa, Ma tabula não passa por honrado.

Hum Tiei Fernando foi cabrão famoso; Segundo antiga letra da (j a zela, Entre mil cornos acabou vaidoso;

Tudo no inundo bc sujeito ú greta." Não fiques mais, Alcino, duvidoso, Lois isto de ser corno bc tudo peta.

J. A. C.

(too)

SONETO.

O Mori cio, cine ignora inteiramente l)a Consorte infiel a falsi (Ih <le, He cornudo huuia vez, c com piedade Lbe deve perdoar 110 mundo a gente.

Duas vezes o fie, quem o pressente, E nuo (;ner apurar toda a verdade: 7 'm vezes, o que lera Unta bondade, * Que snbendu-o sc calla, c aid consente.

f)uatro vezes, aquelle, (pie s'inTressa Da pérfida Mullier n'aleivnsin: (7nco, quem lie lao tollo, que o confessa.

is vezes, o ore jíi não desconfia , Por mais peso qoe traga na cabeçí,.' E Jeít, quem de sè-lu se gloria.

(101)

SONETO.

Christo morreo há mil c Initios trnnosj Foi descido do Cruz, logo enterrado: Mas Idqni de pedir não Leni cessado Para o sepulcnio delta os Franciscaifos.

Tornou Christ n a surgir entre os humanos, Subio da terra nos Cens, lá está sentado: E inda, ii ehikIr deliu sepultado, Bebem (o sacco o paga) estes maganos.

li cuido quer» lhos dá o sua esmola, (Joe idles a g ■■ !..o em fu noção tão pia? ()i:auto vos enganaes, ob gente Lola]

O ahor-mor com dons cotios se ntTutmaf K o frade, pulinho, que o Consola, Casta de noite o tit.c Jíie tines de dia.

V. E.

k.

(102)

SONETO. O

Com triplo Cruz, frijile Sceptro, fripleÇorô#, EmborjncadovMii latos do espavento, Obeso Papa sobe ao Firmamento, E a estreita porta trombico abalroai -

Obsta Pedro, a quem tanto orgidlio cnjôa; Pore.in mais obsta a pança do jnmculo, <Jue .(rtsé desbastando pacliorrenlo, Desembestou por esses Céus á lua.

Zorra contra os Francezes furibundo; Was em vão, que o Padre-Eterno o a d'ouvia, E o Filho da Crtz pende moriblindo:

Só o Pombo rolando repetia.* «Eu descerei segunda vez ao Mundo, «Se me mandão gaitar outra Maria.»

(*) Frito cm Lisboa por occasiuo da morte de Pio VI.

ftoS)

SONETO.

Numen C[Lie lens do mundo o regimento! Se a 111 ns o lie in, se odeias a maldade, Como vès CÒUi premio a iniquidade, E soçobrado o sáo merecimento'?!

Como í possível, que immortal fermento Castigue umn mortal leviandade; E seja alta scicucia, amor, piedade, Castigar o crime sem consentimento?!

Guerras erneis, fanatieos, tyrnnnos, Doenças, nlllieções, misérias tristes, Eu client o curso dos pesados aunos;

Sc <is D eos, se isto prevês, c assim persistes) OuTiiio la/.os apreço dns luummos, Ou qual ducni náo és, ou nao existes.

♦ • * V I

L.

o 047

SONETO.

AJ Fonuosuiu,

Piolho# cria o Cabello mais dourada, lirnnen ramçlla o allio mais vistoso; lí do nariz do rosl o iria is formoso, O mouco se divisa pendurado;

Po rubim (To beicinho mais corado Hálito ás vezes sulie betu asqueroso, lí a mais Candida mão d liem forçoso, Quo-O cii de soo dono haja coçado;

Ao pd dellc a melhor natura mora, Que lançando a mensal podre gordura, Fotido mijo lança cm qualquer hora;

Caga o cii mais novado merda pura: Se esta hcllesn ó pois que me enamora, Em li cago, cm ti mijo, 6 formosura!

(io5)

SONETO, O

Tu que antes (Tc nascer morres forçado. Do ser c do nascer porção impura, Trísle aborto, imperfeita crealura, Do sor desprezo, c do nascer cuidado!

Tu £s de amor o filho desgraçado, A' quem a honra aniquilar procura, D'araor obra lunesta, c sem ventura, Da honra triste victim a, c do lado.

Reparar deixa a culpa common ida, E lá do escuro abysuio (<> pena forte!) Não me accuses de ingrata, c homicida/

Dois lyrannos decidem tua sorte; Amor quiz contra a honra dar-te a vida, A honra contra amor quer dar-le a morte/

(*) Traduzido do Francez,

(ío6)

SONETO.

Quiz ver o Sol de nolle, o Luar <íe dia, Benigno rosto na horrorosa .Alécio, Ser (lo torres nu ar novo Arquitecto, V aslus serLocs atravessar sem guia;

Quiz achar nos Infernos harmonia; Ma (floria confusão, o mar quieto; Quiz vcrJium curvo bronco, hum císne-preto» A neve ardente, a lavareda fria;

Quiz contar as arcas do Oceano, I>o Sepulcro de Jove acliar certeza, E de altos mjslerios descuhrír o arcano;

Qoíz cm fim, pervertendo a Natureza, •Foriiiar hum nu\o cá os, buscando Albano Mulher eo 111 ic, Fortuna com firmeza,

d. X. de Alatos.'

(107J

SONETO,

Dizem, que o Rei <lo Báratro rotundo Tom entre as porosa cartilha] lancòta, Dora Uicicr no cú, na suja on*la, A' quem não foder Leni, cá neste mundo.*

IJometri mnrlal, leme esle mal profundo, Deisa lições erradas, tudo é peta; Forio, torna a fedor, come a punheta, Pois que saLe lambem o mais jucundo.

Se guardar nos devemos castidade, Para-que Peos nos deo perras leiteiras? Não foi para íbdtr em liberdade?

Fodão-se pois cazadas o solteiras, Fedendo se desIVucle a mocidade; Que as horas du prazer vôao ligeiras.,

fioS)

SONETO.

Arreitndn donzclla, em fofo leito, Deixando erguer a virginal camisa, Entre roliças coxas se divisa Entre sombras subtil pachocho estreito;

De louro péllo hum circulo imperfeito Os papudos beicinhos lhe matisa; Nervosa crica, nacarada e lisa, Lm pingos verte alvo licor desfeito:

A voraz porra, as guelrns encrespando, Arruma a focinheira, e entre gemidos A moca treme, os olhos requebrando;

E desmaiada, quasi sem sentido, A ni com lanln luxuria fornicando, Que vem a ser o homem o fodído.

f'°9)

quadra!

Nenhum poder tan o Papa, Pião o fiz Dios, nano i/ucr: Pão valem os Sacramentos; Aão podo prestar a fá. (*)

GLOSA.

Como Vigário »!c Christoj De S, Pedro o Successor, Da Christnndadt) Senhor, Do M iin ilo gerai Ministro, Podé, como lemos visto, Condemnor todo esto ma|>pa; Porem s<> o dizer mo escapa. Que iie-lr império Ião forte, Paca tios livrai' .da Bio rio, Nenhum poder tem o Papa.

Po-lo Pcos em seu legar,

(*) Bocage sendo perseguido pela Iníjtiisição por causa desta .Quadra, e obrigado a des dizer-sc, o fez na seguinte Glosa.

(noX

Para (pie o Mundo regesse; O pcccado absolvesse, A <|nolle í|nc o. confessar; Po-lo para castigar Aijtielle cjuo "nLni qtijzgr; Se elle assim não fizer, De D ens n;io será liem (jnislo; Que para injusto ^inistro, A no o fez Ocos, Hofíí ò </ticr.

Tem tnnfn força e poder Do S^cerdolc a I cheio, Que n'ouia espécie; de pão Fast Dcos n Te i r a tfescer. Muito mais peido- fazer; Com seus raros pensamentos Absolve os a v Ar eh tos; haz Chris tão rjuem Mouro ê; Porem se lhe falta n fé, Auo valem os Sacramentos.

Diz a Sagrada Escriptur» Com razão miu excessiva,

; ■

Que para a fé sor viva, Necessito de oljra j»ura: Isto toda a creu Lura Confessa, vc, o crê; JVreni se a l'é morta 6, Sc não obra santo effeíto; IN ao fica Ocos satisfeito» A ao pódc prestúr. a fé.

QUADRA.

Santos I.cts da Aatnrpza, Qnc respeito, adoro e stpo! Ditosos lodos os entes, Ac concordassem commigo!

GLOSA. f - ■. -

Quando allento os olhos lar As'vegctaes pro^ucções; Nas minhas combinações Que segredos não alcanço! vejo a terra sem descanço,

(112)

Li da ri do nn doce emprozn; lliiina planta á ouVrti tfrézn, Em hastens desabrochando, Parece estar nos diciando Santas Leis da Natureza,

Aqnellc arbusto mimoso, Que lia pouco do chão salão. Cento em breve prochizio Hutu filiiit ho ni id in d roso! O seu gcroien precioso Outro gérmen trás comsigo; Como não teme castigo, Que lhe védc seus prazeres, Desempenha Ines deveres, Qae respeito, adoro e sigo.

Desta sorte mais ditosas, Pu <[iic nos, as plantas são; Trabalhão na criação, Sein (pie sojfto criminosas; ftão védro [eis oapri» hosas Seus recreios hmocentes:

(llõ)

Sr n lei fjne re^e rs semen l es Donde nliuíts íruclos provém, Regesse os homens Ginibçm, Ditosos todos os éntetl

Ali! Lilin, ni nnlo melhor, Nos (ura em coso txl, Ser no Reino Wgelíil Tenra planta, ou débil ilor! Suaves mimos d'omor Gozara, meu bem, romtigo; Segue, Lilin, a lei oti'eti sigo; Mas lú cúras! Que receias? felizes tuas tdéas,

concordassem com mi go!

MOTE.

Só naõ fode quem nnõ pôde

GLOSA.

Eodc o terno passarinho,

f">,)

Fode o Lurro, fôàe n toníol Fudo n CI.l ist;m, fo,fo 0 Monro, I|ode todo o iminjiil/iiiho; Fode o I apuia dnniiiiio, I ode ,i calira, fode o liodCj A formiga lambem fode, Pclo cb fade VéncrM', I'ode tudn a lledomfozá, A o iiuo fode i]iic ut iiaõ pôde*

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Y í M.

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I.N D I C E.

A Voa X>A ÍUzÀÕ nn„ , tfí Saquí DOS Co sós * A NOITI; DR ínviíeno 7' A PaVoiíosa <> (].\m no<:F.!UR DOS Fiusciscakos, . 77 [SdSEToj Esse disforme, o rig ido porroz, fit) — Se queres, bom Monarca, ter soldados, cjo — Mandou Tcrencia chamar Clamo . 91 ~ Qifés piiin provoreijiriinhaTorencia. 92 ~ final de \ uleano em rígida oflicinn. 1)5 — Não sinto, voraz (jnia, ler lodído . g4 — Por dor algum uJtv io no pensamento. o5 — A carnal tentação desenfreada . . i|(i — Ta quando em mim perder ... 97 — Não l imenles, 0I1 Nize, o leu estado. 98

Não lamentes, Alcino, o ten estudo. 99 — O Marido qnc ignora inteiramente . 100 — Christç morreu hú mil e tantos nnnos. 101 —.Com triple Cruz, triple Sceptro , 10a — Nitmen quo teus do Mundo o reg, , ioõ — Piolhos cria ocnbcflo mais dourado, j 04 — Tu ^Uenntesde nascer moiTes forçado. io5 — Quis ver o boi de noite, o Luar de ilia. 10G

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_ Di/.em que o Reí do líárn Iro rotundo. 107 _ Arreitiida d on/.cl In em fòfo letlo . . 108 [ipi abim] .Verfhiítn junior Lom o Paga. 109 Snntn.s Leis'da Níilv.rezá .... 111 [Motj.] Jbo não Iode qUeiil não pude . i»3

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