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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ UFPI CAMPUS SENADOR HELVÍDIO NUNES DE BARROS CSHNB CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM GLEISON RESENDE SOUSA TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE PARA PACIENTES EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO PICOS 2012

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  • 0

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU UFPI

    CAMPUS SENADOR HELVDIO NUNES DE BARROS CSHNB

    CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM

    GLEISON RESENDE SOUSA

    TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SADE PARA PACIENTES EM

    TRATAMENTO HEMODIALTICO

    PICOS

    2012

  • GLEISON RESENDE SOUSA

    TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SADE PARA PACIENTES EM

    TRATAMENTO HEMODIALTICO

    Monografia apresentada ao Curso Bacharelado

    em Enfermagem da Universidade Federal do

    Piau, Campus Senador Helvdio Nunes de

    Barros, como requisito parcial para a obteno

    do ttulo de Bacharel em Enfermagem.

    Orientadora: Prof Ms. Maria Alzete de Lima

    PICOS

    2012

  • FICHA CATALOGRFICA Servio de Processamento Tcnico da Universidade Federal do Piau

    Biblioteca Jos Albano de Macdo

    S725t Sousa, Gleison Resende.

    Tecnologia educativa em sade para pacientes em tratamento hemodialtico / Gleison Resende Sousa. 2012.

    CD-ROM : il. ; 4 pol. (110 p.) Monografia(Bacharelado em Enfermagem) Universidade

    Federal do Piau, Picos, 2012. Orientador(A): Profa. MSc. Maria Alzete de Lima

    1. Hemodilise. 2. Educao em Sade. 3. Enfermagem. I. Ttulo.

    CDD 616. 614 072

  • Algumas pessoas marcam nossas vidas

    para sempre, umas porque nos vo

    ajudando na construo, outras porque

    nos apresentam projetos de sonhos e

    outras nos desafiam a constru-las.

    Dedico este trabalho a meus pais,

    Joaquim e Luciene, em especial a minha

    me, minha amiga, conselheira e acima

    de tudo meu grande exemplo de vida. E a

    todos meus familiares pelo apoio

    incondicional.

  • AGRADECIMENTOS

    Antes de agradecer a todos que contriburam nesta realizao da minha vida, gostaria de dizer

    o quanto estou feliz em concluir o curso de Bacharelado em Enfermagem na Universidade

    Federal do Piau. Foi realmente um presente, apesar dos caminhos trilhados no terem sido

    fceis, mas fui abenoado por Deus, por sempre abrir meus caminhos, desviando obstculos e

    abenoando minhas decises, enfim, iluminando minha vida. Obrigado Senhor, graas a Ti, a

    Tua providncia, tudo aconteceu no momento certo.

    Aos meus pais, Joaquim Bezerra e Luciene Resende, por sempre terem me proporcionado

    todas as condies necessrias para eu me desenvolver como pessoa e futuro profissional. O

    carinho de vocs recarregam minhas energias.

    A minha filha, Amanda Isabelle, por sua inocncia e por dar um novo significado ao meu

    prprio universo desde que veio ao mundo, a Aline Mendes, me de minha filha, por todo

    carinho, amizade e incentivo durante essa jornada.

    Aos meus irmos, Gleiciane, Francisco, Gracinha, Karoline (in memoriam) e Laisse, pelo

    afeto, unio durante essa jornada e por sempre acreditarem em mim.

    Aos meus pequenos sobrinhos, Charles Victor e Joaquim Neto, por suas travessuras e

    gargalhadas que alegram toda casa e por todo carinho repassado.

    A todos meus familiares pelo apoio e incentivo durante essa caminha, em especial a minha

    tia Raimundinha, minha segunda me.

    Aos meus amigos, Wellyda, Gleiciane Lucena, Gustavo, Rose, Solane, Clara, Jssica

    Alves, Maycon e Renildo, melhores pessoas que conheci durante esses quatro anos e meio de

    curso, por poder contar com a companhia, com o carinho e o bom humor de vocs. Vrias

    vezes compartilhamos angstias, alegrias, festas, filmes, almoos no Picos Pallace, conquistas

    e trocamos sem duvidas muitas idias. Ter encontrado vocs nesse caminho foi maravilhoso e

    tenho certeza que o momento que passamos juntos durante a graduao ficaro sempre na

    memria.

    A Prof Ms. Maria Alzete de Lima, orientadora desta pesquisa, pela ateno, ensinamentos,

    incentivo, dedicao durante um ano, em especial nos momentos da elaborao desta pesquisa

    e principalmente pela pacincia e palavras amigas quando necessria. Obrigado pela

    confiana, calma e por acreditar em meu potencial. Foi um privilgio t-la como orientadora.

    A todos os funcionrios da Clnica de Hemodilise, pelo respeito, compreenso e ajuda

    durante a coleta de dados.

  • Aos pacientes renais, pela disposio e ateno em responder a todos os questionamentos e

    pela participao na atividade educativa, pois sem eles no teria sido possvel a realizao

    desta pesquisa.

    A Ana Maria, bolsista deste projeto, pelo apoio e ajuda durante a atividade educativa e na

    elaborao da cartilha.

    Aos membros da banca pela disponibilidade para leitura e pelas consideraes que sero

    feitas neste trabalho.

    A todos os professores do Curso de Bacharelado em Enfermagem da UFPI, pelos

    ensinamentos e conhecimentos repassados durante a graduao, em especial a Prof Ms.

    Laura Formiga, pela amizade, incentivo e apoio durante minha vida acadmica, se tornando

    uma pessoa especial que ser levada por resto da vida!

    A todos vocs, a minha eterna gratido.

  • Quando e se, devido a um acidente ou

    doena, algo ocorre que destri ou modifica

    qualquer parte do nosso corpo, ns

    necessitamos reorganizar completamente a

    nossa prpria imagem e, enfim, a concepo

    que fazemos de ns mesmos.

    Schacter & Singer

  • RESUMO

    A doena renal crnica tem recebido grande ateno nos ltimos anos, por desempenhar

    importante papel na morbimortalidade da populao mundial. Os pacientes renais necessitam

    da terapia dialtica, ressalta-se que a hemodilise amplamente instituda, esta condio causa

    inmeros sentimentos e medo, sendo a Enfermagem uma boa ferramenta para trabalhar esses

    sentimentos e explicar sobre sua nova condio de vida, tratamento, dieta, medicamentos e

    restrio hdrica, desenvolvendo assim educao em sade e consequentemente maior adeso

    teraputica instituda. Objetivou-se desenvolver tecnologia educativa em sade para

    pacientes portadores de insuficincia renal crnica. Trata-se de estudo qualitativo, do tipo

    pesquisa-ao, realizado com oito pacientes de um centro de tratamento para pessoas com

    doena renal crnica do municpio de Picos-PI, credenciada ao SUS, por meio de aplicao de

    um roteiro de entrevista, contendo dados de identificao sociodemogrfica e

    questionamentos que permitiu avaliar o grau de conhecimento sobre a doena, nos meses de

    maro e abril de 2012. As informaes obtidas foram submetidas tcnica de anlise de

    contedo proposta por Bardin como forma de organizao dos dados e depois ao modelo

    pedaggico de Paulo Freire para realizao das atividades educativas. Todos os preceitos

    ticos relacionados a pesquisas envolvendo seres humanos foram seguidas. O projeto recebeu

    aprovao do Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal do Piau, com parecer n

    0422.0.045.000-11. Foi possvel evidenciar que a maioria dos sujeitos era do sexo masculino

    (6), com mdia de idade de 42 anos, casado (6), com baixo ndice de escolaridade com media

    de cinco anos de estudo, a grande maioria encontrava-se desempregada (7), no sabiam

    informar a sua doena renal de base (7) e tinham uma mdia de um ano e oito meses de

    tratamento. Depreendeu-se dos relatos desconhecimento sobre a doena e funo renal, erros

    na formulao do conceito de fstula arterial, e ainda, discrepncia entre informaes

    relacionadas doena, tratamento e orientaes sobre o autocuidado. Foi possvel evidenciar

    necessidade de implementao da prtica de educao em sade no intuito de melhorar a

    assistncia e superar deficincias evidenciadas neste estudo relativas a conhecimento

    essenciais. Em decorrncia desse resultado foi realizada atividade educativa, com o objetivo

    de validar mtodo capaz de oferecer subsdio ao processo de aprendizagem, para tanto foi

    criado prottipo de cartilha educativa que ser aperfeioada em estudos futuros. Concluiu-se

    que existe uma necessidade de cuidados voltada promoo da sade por meio de estratgias

    educativas que promovam autonomia do sujeito na busca por mudana de comportamento.

    Neste sentido, construiu-se tecnologia educativa, por meio de uma cartilha para portadores de

    doena renal crnica, para proporciona-los conhecimento sobre a doena e o tratamento.

    Defende-se que essas informaes podem garantir maior adeso teraputica instituda. Este

    estudo contribuiu para conscientizar sobre a importncia da ampliao das discusses sobre o

    conhecimento dos pacientes diante das mudanas em decorrncia das afeces crnicas.

    Palavras-chave: Hemodilise; Educao em sade, Enfermagem.

  • ABSTRACT

    Chronic kidney disease has received large attention in the last years, to play an important

    paper in morbimortality of the population. The renal patients need dialysis therapy, it is

    notable that hemodialysis is largely instituted, this condition causes several feelings and fear

    being the Nursing a great tool to work on these feelings and explain about their new living

    conditions, treatment, diet, medications and fluid restriction thus developing education in

    health and consequently greater adherence to therapy. Aimed to meet the necessities of

    education in health patients on hemodialysis. This is a qualitative study, an action research,

    conducted with eight patients in a treatment center for people with chronic kidney disease in

    the city of Picos - PI, registered to SUS, through application of a script of interview

    containing identification data and socio-demographic questions that possible to evaluate level

    of knowledge about the disease, in the months of March and April 2012. The data obtained

    were subjected to the technique of analysis of content proposal by Bardin as a form of

    organizing the data and then to the pedagogical model of Paulo Freire to performing

    educational activities. All ethical principles related to research involving human subjects were

    followed. The project was approved by the Ethics Committee in Research of Universidade

    Federal do Piau, with seeming N 0422.0.045.000-11. It was observed that the majority of

    subjects (6) were male with a mean the age of 42 years, majority married (6), with low

    average educational level five years of study, much was unemployed (7), did not know their

    kidney disease basis (7) and had an average of one and eight months of treatment. It was also

    verified the necessity of information about the functions of the kidneys, causes that may to

    lead to the development of renal disease, ideal nutrition, and hemodialysis treatment. Based

    on these findings was performed educational activities with the objective validate the method

    able to provide subsidy learning process for both it was created a prototype was established

    educational folder that will be improved in future studies. It was concluded that there is a

    necessity of cares directed to health promotion through educational strategies that promote

    autonomy of the subject in the search for behavioral change. With this intention, should to

    provide knowledge about the disease and treatment, it is claimed that these orientations can

    secure greater adherence to instituted therapy. These orientations were compiled in a proposal

    light technology. This study contributed to educate about the importance of expansion of the

    discussions on the knowledge of patients facing changes because of chronic conditions.

    Keywords: Hemodialysis, Healthy Education, Nursing.

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    CAAE Dilise Peritoneal Ambulatorial Contnua

    CFM Conselho Federal de Medicina

    COFEN Conselho Federal de Enfermagem

    CSHNB Campus Senador Helvdio Nunes de Barros

    DM Diabetes Mellitus

    DPA Dilise Ambulatorial Automatizada

    DPAC Dilise Peritoneal Ambulatorial Contnua

    DPI Dilise Peritoneal Intermitente

    DRC Doena Renal Crnica

    FAV Fstula Arteriovenosa

    HAS Hipertenso Arterial Sistmica

    HD Hemodilise

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IRC Insuficincia Renal Crnica

    PNAD Pesquisa Nacional de Amostra por Domicilio

    SBN Sociedade Brasileira de Nefrologia

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    TR Transplante Renal

    TRS Terapia Renal Substitutiva

    UFPI Universidade Federal do Piau

    Certificado de Apresentao para Apreciao tica

  • LISTA DE FIGURAS E QUADROS

    Figura 1 - Esquema do referencial terico para o cuidado em sade na rea de

    nefrologia, segundo Trintini e Cubas (2005)..............................................

    28

    Figura 2 - Fluxograma mostrando as etapas da anlise dos dados.............................. 33

    Figura 3 - Fluxograma mostrando as etapas na realizao da atividade educativa..... 35

    Figura 4 - Esquema ilustrativo demonstrando o processo educativo paralelo ao

    processo de enfermagem, segundo preceito de Bastable

    (2010)..........................................................................................................

    41

    Figura 5 - Cartilha educativa demonstrando formas ilustrativas da anatomia do

    sistema urinrio...........................................................................................

    53

    Figura 6 -

    Figura 7

    Cartilha educativa contendo informaes sobre o autocuidado................

    .

    Cartilha educativa contendo informaes sobre os tipos de tratamentos...

    54

    54

    Quadro 1 - Percepo do paciente e Compreenso sobre a doena. Picos/PI,

    mar./abr., 2012............................................................................................

    46

    Quadro 2 - Compreenso do funcionamento renal e as Causas da doena renal.

    Picos/PI, mar./abr., 2012........................................................................

    47

    Quadro 3 - Cuidados realizados enquanto IRC; Cuidados nutricionais e

    Conhecimento sobre o tratamento. Picos/PI, mar./abr., 2012....................

    48

    Quadro 4 - Conhecimento sobre confeco e Cuidados com a FAV. Picos/PI,

    mar./abr., 2012............................................................................................

    50

    Quadro 5 - Necessidades educacionais e Preferncia de mtodos educativos.

    Picos/PI, mar./abr., 2012............................................................................

    51

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................................ 14

    2 OBJETIVOS ................................................................................................................. 17

    2.1 Geral ............................................................................................................................ 17

    2.1 Especficos .................................................................................................................. 17

    3 REVISO DE LITERATURA .................................................................................. 18

    3.1 Doena Renal Crnica ................................................................................................ 18

    3.2 Tratamento .................................................................................................................. 19

    3.3 Hemodilise ................................................................................................................ 20

    3.4 Complicaes Ligadas ao Tratamento ........................................................................ 21

    3.5 Influncia do Tratamento Dialtico na Vida dos Pacientes ......................................... 23

    3.6 Enfermagem em Nefrologia ........................................................................................ 24

    3.7 Importncia da Educao em Sade no Tratamento Hemodialtico ........................... 25

    3.8 Importncia das Tecnologias Educativas na rea da Sade ...................................... 26

    4 METODOLOGIA ....................................................................................................... 28

    4.1 Tipo de Estudo ............................................................................................................ 28

    4.2 Referencial Terico do Estudo .................................................................................... 28

    4.3 Cenrio da Pesquisa .................................................................................................... 29

    4.4 Perodo do Estudo ....................................................................................................... 29

    4.5 Sujeitos do Estudo ....................................................................................................... 29

    4.5.1 Critrios de Incluso ............................................................................................ 30

    4.5.1 Critrios de Excluso ........................................................................................... 30

    4.6 Etapas do Estudo ......................................................................................................... 30

    4.6.1 Etapa 1: Levantamento das Necessidades de Conhecimento dos Sujeitos .......... 30

    4.6.1.1 Organizao e Anlise dos Dados .................................................................. 31

    4.6.2 Etapa 2: Atividade Educativa ............................................................................... 34

    4.6.3 Etapa 3: Construo do Material Educativo......................................................... 40

    4.7 Aspectos ticos e Legais ............................................................................................ 44

    5 RESULTADOS ............................................................................................................ 45

    5.1 Caractersticas Sciodemogrficas e Biogrficas ...................................................... 45

    5.2 Categorias Emergidas das Falas dos Sujeitos ............................................................. 45

    5.2.1 Categorias: Percepo do paciente e Compreenso sobre a doena .................... 45

    5.2.2 Categorias: Compreenso do funcionamento renal e Causas da doena renal .... 47

    5.2.3 Categorias: Cuidados realizados enquanto IRC e Conhecimento sobre o trata-

    mento ............................................................................................................................. 48

    5.2.4 Categorias: Conhecimento sobre confeco da FAV e Cuidados com a FAV .... 49

  • 5.2.5 Categorias: Necessidades educacionais e Preferncia de mtodos educativos .... 50

    5.3 Cartilha Educativa para Pacientes com Insuficincia Renal Crnica ......................... 53

    6 DISCUSSO ................................................................................................................. 56

    7 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................... 69

    REFERNCIAS .............................................................................................................. 71

    APNDICES

    ANEXOS

  • 13

    1 INTRODUO

    Conceitualmente a doena renal crnica (DRC) ocorre aps uma perda

    irreversvel e progressiva da massa de nfrons. O aumento na incidncia e prevalncia dessa

    doena na ltima dcada a torna um grande problema de sade pblica no mundo. Entres as

    principais causas da insuficincia renal crnica (IRC) esto o diabetes mellitus (DM), a

    hipertenso arterial sistmica (HAS) e o envelhecimento da populao, bem como, a

    glomerulonefrite crnica, as uropatias obstrutivas e a doena renal policstica.

    Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) (2010), no Brasil

    existem 682 unidades renais cadastradas na SBN, destas apenas, 340 declararam oferecer

    Programa Crnico Ambulatorial de Dilise, prestando servio para um total de 49.077

    pacientes em tratamento de substituio renal.

    Esta em suas diversas modalidades, em particular a hemodilise, constitui-se num

    aparato de grande complexidade tecnolgica capaz de substituir parcialmente a funo renal.

    Em decorrncia da complexidade envolvida na hemodilise, pode-se observar,

    empiricamente, a existncia de diversas intercorrncias clnicas. Somadas a estes elementos, o

    paciente traz consigo incertezas e medo (SILVA et al., 2008).

    De acordo com a necessidade de depurao de solutos estabelecida a

    permanncia do paciente em cada seo de hemodilise para manuteno do equilbrio

    hidroeletroltico e cido-bsico. Em geral, as sesses de hemodilise ocorrem trs vezes por

    semana durante, pelo menos, trs a quatro horas por sesso. Destaca-se o grande intervalo de

    tempo no qual o paciente permanece em tratamento dialtico, nas clnicas ou unidades

    hospitalares.

    Durante este perodo apresenta diversas complicaes de ordem fisiolgicas,

    impondo ao indivduo limitaes que extrapolam esse mbito, afetando tambm aspectos

    psicolgicos e sociais. Portanto o cliente renal crnico encontra-se, ao realizar hemodilise,

    diante de duas situaes concretas: a revelao de uma ameaa de gravidade definitiva

    integridade de uma parte do seu corpo, os rins, e da dependncia contnua da manuteno da

    vida aos meios mecnicos. Para os enfermos a mquina de hemodilise representa a

    manuteno de uma homeostase fisiolgica, e por que no dizer, a manuteno de sua vida

    (LIMA; CAVALCANTI, 1996).

    Com isso, estes pacientes enfrentam muitos questionamentos relacionados com

    um novo conviver e adaptao s condies impostas pela rotina do tratamento dialtico, no

  • 14

    qual, o conhecimento da doena por meio de educao em sade constitui aspecto muito

    relevante no tratamento e fase de adaptao.

    Atualmente evidncias mostram que a promoo da sade representa uma

    estratgia nos mbitos poltico, assistencial, educacional e gerencial com um arcabouo

    conceitual e metodolgico que contribui para a transformao da lgica das aes de sade

    (SILVA et al., 2009).

    Neste sentido, defende-se que o enfermeiro deve desenvolver atividades

    educativas junto aos clientes, principalmente, relativas ao autocuidado, com o objetivo de

    conduzi-los sua independncia em questes de sade. Esta ideia corrobora com os preceitos

    defendidos por Mendes (2012), no qual, incorpora o conceito de autocuidado apoiado aos

    preceitos da promoo da sade. Tal princpio contempla a prtica educativa vinculando a

    continuidade dos cuidados prestados pelos profissionais de enfermagem.

    Contudo, necessrio uma abordagem com uma linguagem acessvel para facilitar

    o entendimento e cooperao no tratamento, incentivando-o a enfrentar as mudanas advindas

    com a doena e a alcanar o bem-estar , emponderando-se, portanto, das questes relativas ao

    processo de adoecimento (PACHECO; SANTOS; BREGMAN, 2006).

    Segundo Hoffart (2009) o Enfermeiro Nefrologista deve formular estratgias de

    apoio e ensino ao paciente como componentes essenciais, a fim de ajud-los a lidar com a

    nova realidade do tratamento.

    Entretanto, corrobora-se que existe uma necessidade de se levantar previamente

    seus conhecimentos e experincias, isso facilita a compreenso das reais necessidades de

    aprendizagem desses pacientes e, tambm, a adoo da melhor estratgia e do mais adequado

    contedo para implementar uma ao de interveno eficaz do enfermeiro (CESARINO;

    CASAGRANDE, 1998).

    Considerando, ainda, a familiaridade com o tema durante a prtica de estgios em

    clnicas que atendem este pblico, surgiu interesse em pesquisar as necessidades de educao

    em sade dos pacientes em hemodilise e desenvolver tecnologia educativa capaz de ser

    utilizada pelos usurios do servio.

    Acredita-se que as atividades de educao em sade destinadas s pessoas com

    problemas renais crnicos e para a populao de um modo geral, no devam ser estticas, pois

    a simples transmisso da informao no assegura mudanas significativas que levem

    melhoria na sade. necessria uma reflexo crtica da equipe de sade, buscando, as reais

    necessidades dos pacientes, considerando-se as caractersticas individuais como forma de

  • 15

    melhor direcionar as prticas educativas, e com isso, construir ferramenta essencial para a

    promoo da sade desses indivduos.

    Neste sentido, este estudo se prope a desenvolver tecnologia educativa em sade

    para pacientes portador de insuficincia renal crnica submetido hemodilise no intuito de

    contribuir para melhoria da qualidade de vida desses indivduos sendo de grande relevncia

    para Enfermagem, pois incentivar os profissionais enfermeiros a trabalharem com a prtica

    da aprendizagem colaborativa, crtica e reflexiva. Renovando, desta forma, o atendimento

    assistencialista para dentro de um contexto educativo. Alm disso, almeja-se que este estudo

    sirva para a ampliao de novas pesquisas.

  • 16

    2 OBJETIVOS

    2.1 Geral:

    Desenvolver tecnologia educativa em sade para pacientes portador de insuficincia

    renal crnica

    2.2 Especficos:

    Conhecer as necessidades de educao em sade dos pacientes em hemodilise;

    Elaborar estratgia educativa de acordo com as necessidades encontradas;

    Implementar estratgia educativa voltada as necessidades dos pacientes.

  • 17

    3 REVISO DE LITERATURA

    3.1 Doena Renal Crnica

    A doena renal crnica constitui, atualmente, importante problema de sade

    pblica. No Brasil, a prevalncia de pacientes mantidos em programas assistenciais destinados

    ao controle e tratamento de insuficincia renal crnica dobrou nos ltimos anos (PECOISTS-

    FILHO; RIELLA, 2003).

    Esta doena tem como principais complicaes o aumento da uria no sangue

    (azotemia), a qual desencadeia uma srie de sinais e sintomas conhecidos como uremia ou

    sndrome urmica. As causas principais podem ser: pr-renal (em decorrncia da isquemia

    renal); renal (consequente de doenas como as glomerulopatias, hipertenso arterial, diabetes

    etc); ps-renal (em virtude da obstruo do fluxo urinrio) (FERMI, 2003).

    Dados epidemiolgicos revelaram que no final de 2004 existiam

    aproximadamente 1,8 milho de pacientes submetidos Terapia Renal Substitutiva (TRS) no

    mundo, representando uma prevalncia de 280 pacientes por milho de populao. Desses,

    77% encontrava-se em alguma forma de dilise e 23% eram de transplantados renais

    (GRASSMANN et al., 2005). No Brasil, de acordo com o censo da Sociedade Brasileira de

    Nefrologia (2010) o nmero estipulado neste ano foi cerca de noventa e dois mil pacientes em

    TRS.

    Sendo que os primeiros sintomas da IRC podem demorar anos para serem

    notados, o mesmo ocorre com a sndrome urmica, tpica da IRC terminal, o que demonstra

    grande capacidade adaptativa dos rins, permitindo que seres humanos mantenham-se vivos

    com apenas 10% da funo renal (FERNANDES et al., 2000).

    Com isso os primeiros sintomas comeam a aparecer tais como: nictria, poliria,

    oligria, edema, hipertenso arterial, fraqueza, fadiga, anorexia, nuseas, vmito, insnia,

    cibras, prurido, palidez cutnea, xerose, miopatia proximal, dismenorria, amenorria, atrofia

    testicular, impotncia, dficit cognitivo, dficit de ateno, confuso, sonolncia, obnubilao

    e coma (CARPENITO, 1999).

    O diagnstico da doena renal crnica baseia-se na identificao de grupos de

    risco, presena de alteraes de sedimento urinrio (microalbuminria, proteinria, hematria

    e leucocitria) e na reduo da filtrao glomerular avaliao pelo clearance de creatina

    (BRASIL, 2006).

  • 18

    De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (2010) algumas doenas so

    consideradas como base para levar o paciente a ter a DRC, sendo a hipertenso arterial

    (35,2%) o maior fator de risco entre as doenas, em seguida encontra-se o diabetes mellitus

    (27,5%) como a segunda maior doena de base, em pacientes renais crnicos.

    Segundo Ramos et al. (2008) o diagnostico da DRC um processo dificultoso e

    no depende somente da equipe dos profissionais de sade, mas tambm do prprio paciente

    devido descoberta tardia das manifestaes presentes no seu corpo. Por isso, na maioria das

    vezes, o paciente necessita de tratamentos de substituio renais imediatos.

    3.2 Tratamento

    Aps diagnstico da doena, surge o impacto da convivncia com a mesma e com

    seu tratamento. Os tratamentos disponveis para os clientes renais crnicos so a dilise

    peritoneal ambulatorial contnua (DPAC), a hemodilise (HD) e o transplante renal (TR),

    sendo importante ressaltar que nenhum deles de carter curativo e, assim, apenas visam

    aliviar os sintomas dos clientes e preservar suas vidas ao mximo (BRANCO; LISBOA,

    2010).

    Inicialmente o tratamento da DRC depende da evoluo da doena, podendo ser

    conservador com uso de medicamentos, diettico e restrio hdrica (RIELLA, 2003). Esse

    tratamento tem como meta auxiliar a reduo do ritmo da progresso da doena renal,

    utilizando-se de orientaes dietticas que objetivam a promoo de um estado nutricional

    adequado, controle dos distrbios metablicos e da sintomatologia urmica (NERBASS;

    FEITEN; CUPPARI, 2007).

    O tratamento medicamentoso objetiva o controle das doenas crnicas instaladas,

    bem como a correo de distrbios metablicos e urmicos. A restrio hdrica pode ser

    necessria para aqueles pacientes que durante as fases de reduo na taxa de filtrao

    glomerular apresentam diminuio do volume de diurese produzido (GRICIO; KUSUMOTA;

    CNCIDO, 2009).

    Porm, quando o tratamento conservador torna-se insuficiente, necessrio iniciar

    a dilise que substitui, em parte, a funo dos rins (RIELLA, 2003). Segundo Martins e

    Cesarino (2005), as modalidades de tratamento para doena crnica terminal so: a dilise

    peritoneal ambulatorial contnua (DPAC), dilise peritoneal automatizada (DPA), dilise

    peritoneal intermitente (DPI), hemodilise (HD) e o transplante renal (TR).

  • 19

    Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia nos anos de 2004/2005 existiam

    65.121 pacientes submetidos terapia renal substitutiva. Desses, 57.988 em hemodilise,

    4.363 em dilise peritoneal ambulatorial contnua, 2.487 em dilise peritoneal automatizada e

    285 em dilise peritoneal intermitente. De acordo com o Censo da SBN (2010) existem

    atualmente 92 mil pacientes em tratamento renal substitutivo em todo o pas, sendo a

    hemodilise o tratamento de maior alcance na atualidade.

    3.3 Hemodilise

    A histria da hemodilise a histria tambm dos componentes necessrios para

    sua realizao: anticoagulantes, circuito extracorpreo, bomba de sangue, membrana

    dialisadora, filtro dialisador e acesso a circulao sangunea (TOM et al., 1999).

    Ainda segundo o autor os conceitos de osmose e dilise descritos por Thomas

    Graham, em 1854, s foram aplicados para tratamento da uremia em humanos em 1918 por

    G. Ganter e em 1924 por George Hass. Aps um perodo inicial de dificuldades, a era da

    dilise como tratamento efetivo da insuficincia renal comeou em 1945 quando ocorreu a

    primeira hemodilise, utilizando as tcnicas do Dr. Willem Kolff bem-sucedida.

    Com o desenvolvimento cientfico e tecnolgico, vrios modelos de dilise foram

    criados. Hoje, a hemodilise um dos tipos de tratamento de tecnologia teraputica mais

    usada para substituio dos rins, que d sobrevida ao paciente, ou seja, alivia suas dores e

    supre suas necessidades fisiolgicas. Apesar de no trazer a cura, essa teraputica pode

    prolongar a vida dos portadores da DRC (MARTINS; CESARINO, 2005).

    Os objetivos da hemodilise so: extrair as substncias nitrogenadas txicas do

    sangue e remover o excesso de gua. O sangue, carregado de toxinas e resduos nitrogenados,

    desviado do paciente para a mquina dialisadora, no qual limpo e, em seguida, devolvido

    ao paciente. Nesse processo, grandes quantidades destas substncias podem ser removidas de

    forma relativamente rpida e de maneira efetiva. O sangue removido do corpo para o

    sistema extracorpreo, mquina de dilise, atravs de uma bomba, que o impulsiona para

    dentro de um filtrodialisador, tambm conhecido como rim artificial (SMELTZER; BARE,

    2011).

    Especificamente, tudo ocorre pela passagem de dois fludos, sangue e solues

    dialticas, onde so separadas por uma membrana semipermevel. Esses dois fludos no se

    misturam, mas, com movimentos bidirecionais que acontecem pela membrana

    semipermevel, as partculas dos solutos atravessam seus poros atravs de gradiente de

  • 20

    concentrao, acontecendo assim, as trocas de solues. Se h diferena de concentrao entre

    os fluidos, o nmero de partculas que atravessam a membrana oriunda do lado de

    concentrao mais alta maior. Todo esse processo se realiza por trs princpios, difuso,

    conveco e absoro (OLIVEIRA, 2009).

    Segundo Oliveira (2009), o mecanismo da HD ocorre da seguinte maneira: o

    sangue com substncias txicas sai do organismo atravs do acesso vascular, impulsionado

    por uma bomba, percorre um circuito extracorpreo atravs de um equipo arterial, e entra no

    dialisador instalado na mquina; o sangue na mquina passa pelo dialisador/filtro, entrando

    em contato com o banho de dilise; o banho de dilise uma soluo que, em virtude da sua

    concentrao e composio qumica, atrai as impurezas e a gua contida no sangue. As

    impurezas atravessam a membrana e passam para o banho; o banho que adquiriu as impurezas

    e a gua do sangue sai atravs dos drenos para fora da mquina e o sangue agora limpo,

    purificado, sai pelo outro lado da mquina, retornando ao paciente pelo equipo venoso e

    agulha venosa. A circulao do sangue pelo circuito extracorpreo s possvel se o sistema

    se mantiver anticoagulado.

    Com relao ao tempo de permanncia em tratamento hemodialtico, este

    processo tem durao de 4 horas em mdia, com trs sesses por semana (TERRA et al.,

    2010). Assim, esses usurios da hemodilise passam, em mdia, 40 horas mensais durante

    anos e anos na unidade de hemodilise ligados a uma mquina e monitorados por

    profissionais de sade. (TRENTINI et al., 2004).

    3.4 Complicaes Ligadas ao Tratamento

    Os pacientes submetidos ao tratamento dialtico esto susceptveis ao

    desencadeamento de diversas complicaes decorrentes da sesso dialtica. As complicaes

    podem ser eventuais, mas algumas so extremamente graves e fatais (FAVA et al., 2006).

    Entre as complicaes decorrentes do procedimento hemodialtico as mais

    frequentes so: hipotenso, cimbras musculares, prurido, dor torcica, nuseas e vmitos,

    embolia gasosa, febre e calafrios, hipertenso arterial, entre outras (NASCIMENTO;

    MARQUES, 2005).

    A hipotenso a complicao mais frequente durante a hemodilise, sendo um

    reflexo primrio da grande quantidade de lquidos que removida do volume plasmtico

    durante uma sesso rotineira de dilise. Em geral, as causas comuns da hipotenso durante a

    hemodilise so: flutuaes na velocidade de ultrafiltrao, velocidade de ultrafiltrao alta,

  • 21

    peso seco almejado muito baixo, medicamentos anti-hipertensivos, superaquecimento da

    soluo de dilise, ingesto de alimentos, entre outros (DALGIRDAS; BLAKE; ING, 2008).

    As cibras musculares ocorrem em at 20% dos tratamentos de hemodilise. A

    patognese no totalmente conhecida, mas est provavelmente relacionada ultrafiltrao

    rpida, hiponatremia e hipotenso, comprometem mais os membros inferiores e

    frequentemente so precedidas de hipotenso arterial (VIEIRA et al., 2005; CASTRO, 2001).

    O prurido (coceira) o sintoma de pele mais importante nos pacientes urmicos,

    alm de ser uma complicao durante a sesso de hemodilise, tambm a manifestao mais

    comum nos portadores de IRC, e tem sido atribudo ao efeito txico da uremia na pele,

    podendo estar associado alergia a heparina e resduos de xido de etileno, por exemplo. Em

    alguns pacientes a sensao to intensa que causa escoriaes na pele, crostas hemorrgicas,

    pstulas e formao de ndulos (FERMI, 2003).

    A dor torcica pode acontecer devido diminuio PO2 com a circulao

    extracorprea, as nuseas e vmitos so sintomas comuns, e podem estar associadas a outras

    complicaes agudas. A embolia gasosa uma complicao rara de acontecer, mas pode

    ocorrer se o ar entra no sistema vascular do paciente e pode ser fatal (SMELTZER; BARE,

    2011).

    A febre e os calafrios esto ligados ao fato de os pacientes renais crnicos serem

    imunodeprimidos e, consequentemente, terem uma suscetibilidade aumentada para infeces,

    sendo que as infeces bacterianas parecem progredir de maneira mais rpida e a cura parece

    ser mais lenta nos pacientes renais crnicos (RODRIGUES, 2005).

    A hipertenso durante a dilise geralmente produzida por ansiedade, excesso de

    sdio e sobrecarga de lquidos. Isso pode ser confirmado comparando-se o peso do paciente

    antes da dilise com o peso ideal ou seco. Quando a sobrecarga hdrica a causa da

    hipertenso, a ultrafiltrao trar, geralmente, uma reduo na presso sangunea, levando

    normalizao da presso (SANDE et al., 2004).

    Como observado, a ocorrncia de complicaes apresentadas pelos pacientes

    renais crnicos durante as sesses de hemodilise frequente. Assim, a constante avaliao

    dessas complicaes deve estar inserida em qualquer programa de controle da qualidade do

    tratamento. Deve tambm orientar o paciente sobre as possveis complicaes e como elas

    ocorrem, para que este esteja alerto a qualquer alterao fsica durante a hemodilise (TERRA

    et al., 2010).

    Por isso neste universo marcado pela especificidade do paciente renal crnico e

    pela complexidade do tratamento, no basta que os profissionais se preocupem somente com a

  • 22

    utilizao de recursos tecnolgicos sofisticados ou com a adequao estrutural dos servios de

    hemodilise. Torna-se imprescindvel o resgate e a valorizao do paciente enquanto pessoa

    que tem a sua forma singular de pensar, agir e sentir (TERRA et al., 2010).

    3.5 Influncia do Tratamento Dialtico na Vida dos Pacientes

    Segundo Branco e Lisboa (2010), discorrer sobre o cotidiano e o emocional do

    cliente renal , antes de tudo, uma trajetria de perdas que vai alm da perda da funo renal.

    O indivduo com DRC vivencia mudanas bruscas na sua vida, tornando-se

    desanimado, desesperado e, muitas vezes, devido a isso ou por falta de orientao, abandona o

    tratamento deixando de se importar com os constantes cuidados necessrios para sua

    qualidade de vida (CESARINO; CASAGRANDE, 1998).

    Esses indivduos realizam as sesses de hemodilise com frequncia e tempo

    indicado, porm, percebe-se que uma proporo significativa tem dificuldade de aderir s

    teraputicas do tratamento. Entre estas dificuldades esto o cumprimento do controle de peso

    interdialtico, obedincia s restries hdricas e dietticas, adoo do tratamento

    medicamentoso controlador dos sintomas causados pelas doenas associadas IRC, como a

    hipertenso arterial, o diabetes mellitus, entre outras (MALDANER et al., 2008).

    Com relao hemodilise, o tempo gasto neste procedimento acarreta a ruptura

    do cotidiano do indivduo com IRC, visto que a permanncia de aproximadamente 4 horas

    para execuo da HD gera nele um desgaste fsico e emocional por ter seu cotidiano quase

    todo preenchido com atividades ligadas doena, como, por exemplo, consultas mdicas,

    sesses de HD trs vezes por semana, dietas e a impossibilidade de execuo de atividades

    que requeiram muito esforo, pois a maioria dos clientes com IRC sente fraqueza e cansao,

    dessa forma dificultando o desempenho normal de suas atividades ocupacionais, o que pode

    desestruturar, por consequncia, o seu convvio social (BRANCO; LISBOA, 2010).

    Com isso, os indivduos com DRC precisam ser orientados sobre: a enfermidade

    em si e o seu tratamento, as formas de terapia renal substitutiva e os riscos e benefcios

    associados a cada modalidade teraputica, sobre os acessos vasculares, sobre a confeco

    precoce do acesso dialtico (fstula artrio-venosa ou cateter para dilise peritoneal), dieta,

    restrio hdrica, uso de medicamentos, controle da presso arterial e da glicemia. Essa

    orientao fundamental para reduzir o estresse inicial, viabilizar o autocuidado, diminuir as

    intercorrncias decorrentes do tratamento e aumentar a adeso ao esquema teraputico

    (SANTOS; ROCHA; BERARDINELLI 2011).

  • 23

    Por isso necessrio que os profissionais da sade, em especial os da

    Enfermagem, possam construir tticas imprescindveis implementao de orientaes e

    aconselhamentos para avaliar, discutir e sensibilizar o indivduo sobre o impacto potencial da

    doena em sua rotina diria, definindo posteriormente com ele, estratgias factveis ao

    incremento da correta adeso (FA; SANTOS; SOUZA, 2006).

    3.6 Enfermagem em Nefrologia

    A prtica do cuidar de clientes com doena renal crnica, necessitando do

    tratamento hemodialtico, um desafio para a enfermagem. Esse problema caracteriza uma

    fase da vida de uma pessoa que era saudvel, aparentemente sem necessidade de orientaes e

    cuidados de sade, e passa a depender do atendimento constante e permanente de um servio

    de sade, de uma mquina para desenvolver a tecnologia dialtica administrada por uma

    equipe multiprofissional (SANTOS; ROCHA; BERARDINELLI, 2011).

    Nesse sentido, o enfermeiro tem papel fundamental porque, apesar de a educao

    do cliente com DRC ser um compromisso de toda a equipe de sade, esse profissional o

    elemento da equipe que atua de modo mais constante e mais prximo dessa clientela

    (SOUZA, 2004).

    Portanto, ele est capacitado para identificar as necessidades dos clientes e intervir

    de forma eficaz (SANTOS, 2008). o enfermeiro que, atravs do cuidado de enfermagem,

    planeja intervenes educativas junto aos clientes, de acordo com a avaliao que realiza,

    visando ajuda-los a reaprender a viver com a nova realidade e a sobreviver com a doena

    renal crnica (SANTOS; ROCHA; BERARDINELLI, 2011).

    Esse profissional que trabalha com o cliente tem condies de acompanhar sua

    trajetria, sua evoluo e refletir sobre os comportamentos e as solues j por ele tentadas.

    capaz de, estando atento, refletir junto com ele sobre seus comportamentos, estimulando-o a

    usufruir da qualidade de vida possvel dentro do seu quadro e do seu estado de sade (LIMA,

    2010 apud SANTOS et al., 2004).

    De acordo com o estudo de Silva e Thom (2009) as intervenes de enfermagem

    realizada nos pacientes renais crnicos, priorizavam, principalmente, avaliaes clnica e do

    nvel de conscincia do paciente. Onde a avaliao clnica, refere-se ao exame fsico no qual a

    enfermagem avalia as alteraes hemodinmicas, condies de pele, padro respiratrio e

    perfuso perifrica, bem como, a monitorizao dos sinais vitais, e a observao dos sintomas

    especficos de cada complicao.

  • 24

    Outras intervenes priorizadas pelos enfermeiros durante os episdios de

    complicaes foram: irrigao do sistema com soluo salina, alterao da ultrafiltrao

    prescrita e suspenso da sesso dialtica, principalmente nos episdios de hipotenso arterial

    (SILVA; THOM, 2009).

    As complicaes que ocorrem durante a sesso de hemodilise podem ser

    eventuais, mas algumas so extremamente graves e fatais. A equipe de enfermagem tem

    importncia muito grande na observao contnua dos pacientes durante a sesso, podendo

    ajudar a salvar muitas vidas e evitar muitas complicaes ao fazer o diagnstico precoce de

    tais intercorrncias (FERMI, 2003).

    Desse modo, a constante proximidade enfermeiro-cliente permite ao enfermeiro

    uma melhor compreenso das necessidades educacionais, psicossociais e econmicas de cada

    cliente, e faz dele o profissional de eleio para coordenar a atividade de construo de um

    bom plano de ensino (PACHECO; SANTOS, 2005).

    3.7 Importncia da Educao em Sade no Tratamento Hemodialtico

    A educao em sade representa um importante instrumento facilitador para a

    capacitao da comunidade, contribuindo para a promoo da sade. Assim, trabalhadores de

    sade e usurios precisam estabelecer uma relao dialgica pautada na escuta teraputica, no

    respeito e na valorizao das experincias, das histrias de vida e da viso de mundo. Para

    desenvolver estas aes, necessrio o conhecimento destas prticas educativas por parte

    destes trabalhadores, considerando que essencial conhecer o olhar do outro, interagir com

    ele e reconstruir coletivamente saberes e prticas cotidianas (CERVERA; PARREIRA;

    GOULART, 2011).

    Assim sendo, a educao desempenha papel de destaque na equipe

    multidisciplinar, para a promoo do autocuidado no sujeito. A educao para o autocuidado

    enfoca as necessidades e objetivos do sujeito, promovendo um aumento do vnculo do

    paciente com a instituio e com os profissionais que atuam nesta atividade. Alm disso,

    proporciona um momento de troca de experincia com outros usurios do servio de sade e,

    consequentemente, reduo da ansiedade relacionada ao tratamento, entre outras dvidas

    comuns que ocorrem neste perodo (SANTOS; SILVA, 2002).

    Desse modo, torna-se essencial a ao educativa com o cliente, a fim de que ele

    possa descobrir maneiras de viver dentro dos seus limites, para no ser contrrio ao seu estilo

    de vida e, enfim, conseguir conviver com a doena e com o tratamento hemodialtico. Para

  • 25

    que as pessoas assumam os cuidados e controle do esquema teraputico, necessrio

    identificar as suas necessidades, auxili-los a se sentirem responsveis e capazes de cuidarem

    de si mesmo (POLIT; BECK; HUNGLER, 2005).

    A educao em sade um processo que induz mudana de comportamento

    relativo sade. E esse processo deve ser no somente individual, mas tambm coletivo, com

    vistas promoo de informaes e motivao de hbitos que mantenham a sade e previnam

    as doenas (MIRANDA et al., 2000).

    Outra estratgia que pode ser utilizada na adeso ao tratamento o trabalho

    educativo por meio de grupos com doentes crnicos, que tem como proposta compartilhar

    dvidas, angstias e receios, buscando alternativas que auxiliem na superao das

    dificuldades, no enfrentamento e na adaptao do estilo de vida sua nova condio de sade

    (MALDANER et al., 2008).

    Nesta perspectiva, torna-se necessrio realizar teraputica contnua, incluindo

    atividades scio-educativas com esses pacientes para que eles tenham maior conhecimento

    sobre a IRC e seu tratamento, adquiram segurana e maiores subsdios para o autocuidado e,

    assim, tenham melhor adeso ao tratamento. Defende-se que as tecnologias educativas podem

    proporcionar subsidio para aquisio de conhecimentos (MEIRELES; GOES; DIAS, 2004).

    3.8 Importncia das Tecnologias Educativas na rea da Sade

    A tecnologia vem sendo aprimorada ao longo do tempo como forma de propiciar

    solues criativas e eficazes que permitam aos sujeitos terem maior domnio sobre seu meio, e

    sobre os processos a ele relacionados, modificando-os em seu benefcio. Para Polanczyk,

    Vanni e Kuchenbecker (2010), a tecnologia entendida como todo e qualquer

    mtodo/dispositivo utilizado para promover a sade, impedir a morte, tratar doenas e

    melhorar a reabilitao ou o cuidado do indivduo ou da populao.

    Desde os anos de 1940, observou-se uma rpida expanso de conhecimentos e

    habilidades, favorecendo a incluso das tecnologias em diversas reas, como na educao, na

    pesquisa, nas atividades de gerenciamento e no prprio cuidado (MARTINS; SASSO, 2008).

    Este ltimo tem se constitudo como um desafio para os profissionais da sade, uma vez que

    as necessidades da populao tm sido influenciadas em diferentes nveis pelo mundo

    globalizado, gerando novos contextos para aplicao do cuidado (MALVREZ, 2007).

    Abordagens mais modernas tm destacando o uso da tecnologia educativa na

    sade, tal como o proposto por Martins e Sasso (2008), onde a tecnologia se manifesta como

  • 26

    objetos e recursos antigos e atuais que tm a finalidade de aumentar e melhorar o tratamento e

    o cuidado por meio da prtica em sade. Tambm se manifesta na forma de conhecimentos e

    habilidades em sade associadas com o uso e a aplicao dos recursos e objetos que os

    profissionais mantm e acessam sob uma base diria e progressiva.

    Diante do exposto, a tecnologia em sade implica em um processo complexo que

    envolve vrias dimenses, do qual resulta um produto, e este no obrigatoriamente seria um

    equipamento. Essas dimenses podem ser elencadas em trs estratos de significao, a saber:

    a primeira diz respeito a ferramentas tecnolgicas, e neste grupo esto includos todos os

    instrumentos e maquinrio utilizados para um determinado fim; j a segunda engloba os

    saberes estruturados necessrios utilizao, produo e at reparo dos primeiros; e, por

    ltimo e no menos importante, as relaes estabelecidas entre as trs dimenses e o fator

    humano (MERHY, 2002).

    As trs dimenses da tecnologia em sade esto presentes no cotidiano das aes

    de cuidado desenvolvidas pelas equipes de sade, auxiliando esses profissionais a desenvolver

    intervenes no apenas curativas, mas principalmente preventivas mediante o uso de

    tecnologias. Estas ltimas so de grande interesse, uma vez que o foco de trabalho no est

    voltado doena, e sim para o indivduo dotado de capacidades que iro ser fundamentais no

    processo de construo de saberes teis manuteno de sua sade. Dentro desta perspectiva

    de busca por um cuidado compartilhado, onde os indivduos sejam reconhecidos como

    agentes fundamentais na adoo de posturas salutares, constituindo-se como uma ferramenta

    importante para o trabalho em sade.

    O desenvolvimento de atividades educativas, bem como a construo e validao

    de tecnologias voltadas promoo da sade de indivduos e coletivos tem sido uma

    constante entre as aes de enfermagem ao longo dos anos. Deste modo, destaca-se a

    importncia da tecnologia educativa como instrumento mediador de mudana de

    comportamento no campo da educao em sade. A partir desse entendimento, observa-se

    uma variedade de materiais educativos que so empregados no cotidiano das prticas, a

    exemplo de cartazes, folders, manuais, cartilhas, vdeos, com o objetivo de auxiliar na adoo

    de posturas mais salutares. Estes materiais no s ofertam informao, mas tambm facilitam

    a experincia do aprendizado, e de mudana, podendo proporcionar praticas para o

    autocuidado (KAPLN, 2003).

  • 27

    4 METODOLOGIA

    4.1 Tipo de Estudo

    Estudo qualitativo, do tipo pesquisa-ao, segundo Polit e Beck (2011) a

    pesquisa-ao permiti aos pacientes uma participao ativa, sendo que seu objetivo produzir

    no apenas conhecimento, mas tambm ao e aumento da conscincia, capacitando pessoas

    por meio de um processo de construo e uso do conhecimento.

    Optou-se pela pesquisa-ao pela necessidade de participao do pblico, no qual,

    segundo a literatura deve ser associada a diversas formas de aes coletivas, orientadas para a

    resoluo de problemas ou com o objetivo de transformao. Seu desenvolvimento prev a

    resoluo de situaes cotidianas e que requerem mudana (GRITTEM; MEIER; ZAGONEL,

    2008).

    4.2 Referencial Terico do Estudo

    Seguiu-se como referencial as recomendaes de Trentini e Cubas (2005), os

    quais, propem um referencial terico sobre como a enfermagem em nefrologia poder atuar

    nos programas de promoo da sade (esquematizado na Figura 1), no qual, segundo o autor,

    apropriado para a melhoria da sade dos grupos vulnerveis nefropatia. Adotou-se tal

    referencial em pacientes nefropatas submetidos a tratamento dialtico, por compreender que

    estes, tornam-se suscetveis a complicaes e, portanto, tal modelo foi capaz de produzir

    impacto na preveno de seus determinantes.

    Figura 1 - Esquema do referencial terico para o cuidado em sade na rea de nefrologia, segundo

    Trintini e Cubas (2005).

    Ainda segundo o autor, o cuidado direto aos usurios destacado como a maior

    responsabilidade da enfermagem em nefrologia, no qual, realizou-se desenvolvimento de

  • 28

    competncias pessoais, atravs, do desenvolvimento de tecnologia leve aps educao em

    sade.

    No paradigma da promoo da sade, educar implica na busca de uma formao

    terica e prtica contnua, capaz de subsidiar o autocuidado apoiado, ideia defendida por

    Mendes (2012). Discute-se que se o cuidado for desenvolvido num espao dialgico, o

    usurio compreender melhor sua vulnerabilidade determinada por condies cognitivas,

    comportamentais e sociais a certas doenas, e se sentir responsvel pelo cuidado de si.

    Nesta perspectiva, caracteristicamente as condies crnicas requerem estratgias

    de cuidado especiais que ajudem os usurios a despertar a conscincia para o

    autogerenciamento. Neste sentido, ainda segundo o autor supracitado, os usurios precisam

    participar do cuidado de forma ativa, bem como aprender a interagir entre si e com as

    organizaes de sade e os profissionais devem proporcionar oportunidades para este

    aprendizado. Pela educao em sade, que consiste no trabalho vivo em ato, os profissionais

    de nefrologia podero desenvolver espaos apropriados s relaes sociais que se produzem

    no encontro com os usurios.

    4.3 Cenrio da Pesquisa

    O estudo foi realizado na clnica de hemodilise do municpio de Picos-PI,

    credenciada ao SUS, com capacidade instalada de atendimento de 179 pacientes ao ms,

    realizando atendimentos nos trs turnos (manh, tarde e noite) onde conta com uma equipe

    multiprofissional composta de enfermeiros, tcnicos de enfermagem, mdicos, psicloga,

    assistentes sociais e nutricionista. Sendo referncia para toda a macrorregio de Picos

    composta de 42 municpios. As observaes aconteceram durante as sesses de hemodilise

    que tinham durao de quatro horas cada.

    4.4 Perodo do Estudo

    O estudo foi desenvolvido no perodo de agosto de 2011 a outubro de 2012.

    4.5 Sujeitos do Estudo

    Oito pacientes renais crnicos, em tratamento hemodialtico na clnica. O

    determinante da amostra se processou de acordo com a saturao das respostas encontradas.

  • 29

    4.5.1 Critrios de Incluso

    Fizeram parte do estudo, os pacientes em hemodilise independente do incio do

    tratamento que frequentavam o 3 turno, nas quintas feiras (este turno foi escolhido por

    convenincia do pesquisador), maiores de 18 anos; com comunicao preservada.

    4.5.2 Critrios de Excluso

    Foram levados como critrios de excluso para pesquisa, os pacientes com dficit

    auditivo e cognitivo; transferidos para outro tratamento dialtico e que permaneceram por

    mais de duas semanas em internao hospitalar, porm nenhum paciente foi excludo da

    pesquisa.

    Foi realizado pr-teste no local de realizao da pesquisa, com trs sujeitos que

    realizavam hemodilise em turnos diferentes do conjunto submetido ao estudo, definindo,

    assim o percurso metodolgico de coleta de dados.

    4.6 Etapas do Estudo

    4.6.1 Etapa 1: Levantamento das Necessidades de Conhecimento dos Sujeitos

    A pesquisa-ao facilita o envolvimento do pesquisador numa prtica participativa

    com os pacientes portadores de IRC em hemodilise. Como tcnica de coleta de dados, foi

    realizada a observao participante, pois ajudou o pesquisador na interao com os sujeitos da

    pesquisa, no seu prprio ambiente.

    Para o levantamento das necessidades de conhecimento dos pacientes renais

    crnicos, os sujeitos tiveram que responder um roteiro de entrevista (APNDICE A) que

    continham questionamentos sobre caractersticas biogrficas, no qual, tencionou investigar

    atributos que pudessem aproximar o leitor do pblico em estudo, tais como, variveis como

    sexo, faixa etria, estado civil, escolaridade, ocupao, doena e tempo de permanncia no

    tratamento, onde estas podero ser consideradas como promotoras do processo de ensino

    aprendizagem e 11 questes para avaliar o conhecimento sobre sua doena renal e seu

    tratamento. O discurso dos participantes foi registrado por meio de um gravador de voz

    (MP3), aps autorizao dos mesmos e assinatura do Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido (TCLE) (APNDICE B), previamente solicitados aos participantes do estudo.

  • 30

    De forma complementar, seguiu-se recomendao de Polit e Beck (2011)

    efetuando a observao participante que obtida por meio de contato direto do pesquisador

    com o fenmeno observado, para recolher as aes dos atores em seu contexto natural, a partir

    de sua perspectiva e seus pontos de vista. Segundo Minayo (2010), a observao participante

    pode ser considerada parte essencial do trabalho de campo na pesquisa qualitativa.

    No presente estudo, para observao participante considerou-se os seguintes

    aspectos: espao no qual realizado o tratamento, atividades desempenhadas pelos sujeitos,

    sequncia e durao das aes, as pessoas envolvidas, as informaes observadas e as

    emoes expressas ou percebidas. Estes fatos auxiliaram na compreenso da realidade e

    orientaram o processo de investigao.

    4.6.1.1 Organizao e Anlise dos Dados

    Aps a coleta dos dados, as informaes gravadas foram transcritas e os dados

    analisados, organizados e agrupados em categorias temticas fundamentadas em Bardin

    (2010), que tem por finalidade a descrio objetiva e sistemtica do contedo manifesto da

    comunicao. Consiste em descobrir os ncleos de sentido que compem a comunicao,

    onde a presena ou frequncia de apario pode significar alguma coisa para o objetivo

    analtico escolhido.

    A Anlise de Contedo proposta por Bardin (2010) aparece como um conjunto

    de tcnicas de anlise das comunicaes que utiliza procedimentos sistemticos e objetivos

    de descrio de contedo das mensagens.

    A organizao da anlise de contedo partiu de trs segmentos cronolgicos: 1) a

    pr-anlise; 2) a explorao do material e a 3) o tratamento dos resultados, a inferncia e a

    interpretao. A pr-anlise a prpria organizao do trabalho. nesta fase que se faz a

    escolha do objeto de estudo, bem como a formulao dos objetivos do trabalho. Estando

    decidido o que estudar necessrio proceder constituio do corpus. Corpus nada mais

    que o conjunto do material que ser submetido a uma anlise. No caso deste trabalho, o

    corpus consiste nas falas dos pacientes renais crnicos em tratamento dialtico. (BARDIN,

    2010)

    Essa fase inclui a leitura flutuante, de modo a entrar em contato com o material, a

    escolha dos documentos a serem submetidos anlise, a formulao das hipteses e dos

    objetivos, a referenciao dos ndices e a elaborao de indicadores, durante as quais

    devem ser determinadas as operaes de recortes do texto em unidades comparveis de

  • 31

    categorizao para a anlise temtica e codificao para o registro dos dados, e a

    preparao do material.

    A segunda fase a explorao do material, no qual feita a concluso da

    preparao do material para a anlise, em termos de operaes de codificao, desconto ou

    enumerao, em funo de regras previamente formuladas. E a terceira fase o tratamento

    dos resultados obtidos e interpretao, momento em que so feitas inferncias e

    interpretaes, conforme os objetivos previstos ou referentes a novos achados na pesquisa.

    (BARDIN, 2010).

    Para analisar o material necessrio antes codific-lo. A codificao uma

    transformao que ocorre, segundo regras precisas em relao aos dados brutos, do texto

    analisado. Esta transformao permite atingir uma representao do contedo, por meio de

    recorte, agrupamento e enumerao. No caso de uma anlise categrica, a organizao da

    codificao se d em trs passos: 1) o recorte (escolhas das unidades de anlises); 2) a

    enumerao (escolha das regras de contagem); 3) a classificao e a agregao (escolha

    das categorias). A categorizao consiste no reagrupamento de temas especficos com

    critrios previamente definidos. Assim, classificar elementos em categorias impe uma

    certa investigao por temas ou termos anlogos. A escolha de categorias um processo

    estruturalista e possui duas etapas: 1) o inventrio, que nada mais que isolar os

    elementos, isto , separar os diferentes temas e a 2) classificao, que consiste em repartir

    os elementos ou, em outras palavras, organizar os temas analisados (BARDIN, 2010).

    Para ilustrar as categorizaes, foram utilizados trechos das falas dos pacientes,

    identificados pelos cdigos P1, P2, ..., P8 como inferncia aos 8 pacientes participantes do

    estudo, as categorias foram agrupadas em quadros, de acordo, com sua proximidade

    temtica.

  • 32

    Figura 2 - Fluxograma mostrando as etapas da anlise dos dados.

    O desenvolvimento prtico desse mtodo ocorreu em duas etapas. Na primeira

    etapa realizou-se o levantamento do universo temtico, no qual, encontrou-se o conjunto de

    temas geradores, ou seja, descrio e a interpretao das situaes dos pacientes renais

    crnicos em hemodilise e a identificao de suas necessidades de aprendizagem e seus

    conhecimentos prvios. A organizao da anlise do universo temtico seguiu as seguintes

    fases:

    Levantamento dos Temas Geradores: Essa fase foi obtida atravs dos encontros do

    pesquisador com os pacientes renais crnicos, usando a observao participante durante

    as sesses de hemodilise, nesta fase foram abstrados alguns dos temas significativos da

    vivncia destes sujeitos.

    Organizao do Material da Coleta de Dados: Atravs de leitura detalhada e

    exaustiva de todas as observaes que foram registradas no dirio de campo. Nesta fase,

    foram feitos os recortes do texto, selecionando frases ou palavras repetidas com mais

    frequncia, ou aquelas colocadas com mais nfase pelos pacientes participantes do estudo

    e que foram passveis de serem trabalhadas pelo pesquisador, na atividade educativa. A

    seguir, foram reunidos cada elemento em comum.

    Seleo e Codificao de Palavras e Frases Registradas Durante as Observaes

    Participante. Foram selecionadas algumas palavras e frases agrupadas anteriormente

    pela riqueza temtica e estas foram codificadas em temas geradores.

    ETAPA 1: Levantamento do

    conhecimento dos pacientes

    Organizao do universo temtico

    Levantamento

    dos temas

    relevantes

    Organizao do

    material de

    coleta de dados

    Seleo das caractersticas

    envolvidas no cuidado

    registrado durante a

    observao participante

    Ordenamento dos

    temas necessrios

    prtica educativa

  • 33

    Ordenamento dos Temas Geradores: Os temas geradores foram pedagogicamente

    ordenados numa sequncia para realizao da atividade educativa.

    O levantamento das questes depreendidas do roteiro de entrevista deram

    subsdios para as temticas da educao em sade, sendo elaborada a atividade educativa

    pelos pesquisadores com o grupo de pacientes renais crnicos por ocasio da espera do

    paciente para o ingresso no seu turno de hemodilise na clnica todas as quintas-feiras, no

    perodo da tarde (esse critrio foi escolhido por convenincia do pesquisador).

    4.6.2 Etapa 2: Atividade Educativa

    O contedo registrado atravs da transcrio das falas dos sujeitos e da

    observao participante foi interpretado e dele, selecionados os assuntos centrais, segundo

    sugere Freire (1992). Foi realizada a escolha das palavras e frases registradas com muita

    frequncia e que foram possveis de serem trabalhadas pelo pesquisador na atividade

    educativa, onde foram explicados os pontos-chaves, que seriam abordados pelo pesquisador

    nos encontros.

    Durante as reunies foi utilizada a tcnica de dinmica de grupo. Aps

    autorizao do referido grupo, estes momentos foram fotografados e o contedo das

    discusses foi transcrito, posteriormente, para a realizao da anlise temtica. As atividades

    educativas foram realizadas para um grupo com capacidade mxima de oito pacientes com

    durao de at trinta minutos cada atividade.

  • 34

    Figura 3 - Fluxograma mostrando as etapas na realizao da atividade educativa.

    Na segunda etapa, seguiu os seguintes passos: planejamento da prtica educativa,

    desenvolvido atravs das necessidades observadas nas categorias emergidas das falas dos

    sujeitos, seguindo o modelo pedaggico de Paulo Freire (1992), para cada tema gerador

    levantado. Em seguida, foi desenvolvida educao conscientizadora, de forma colaborativa

    entre os componentes. O debate em torno dos temas proporcionou ao grupo a conscientizao

    sobre a importncia para o autocuidado. Esta procura o ponto de partida do processo de

    educao do tipo libertador (FREIRE, 1980).

    Confrontando tal habilidade com o que defende Bastable (2010) sobre o papel do

    enfermeiro como educador, no qual pontua que evidncias cientficas sugerem que a educao

    efetiva e a participao do aprendiz andam lado a lado. A alterao de papis, da abordagem

    tradicional centrada num professor para a centrada no aprendiz perpassa, portanto, pela

    mudana de paradigma que requer habilidade de anlise diagnstica das necessidades do

    educando alm da habilidade de envolv-lo no planejamento, conect-lo com as fontes de

    aprendizagem e encoraj-lo em sua iniciativa. Neste sentido, elaborou-se a seguinte estratgia

    educativa, com base em levantamento diagnstico:

    Durao Aproximada: 1 hora e 30 minutos

    Participantes: 8 participantes e 1 provocador

    Organizao de material

    didtico

    ETAPA 2: Realizao da atividade

    educativa

    Plano de ensino relativo

    aos temas geradores

    Planejamento de ensino

    desenvolvido nos

    crculos de discusso

    Desenvolvimento da

    educao conscientizadora

    Implementao do

    plano de ensino

  • 35

    Contedos:

    Anatomia e fisiologia do sistema renal (30 min.);

    Insuficincia renal crnica e as principais causas (30 min.);

    Tratamento hemodialtico (30 min.).

    Objetivos:

    Construir conceitos sobre caractersticas anatomofisiolgicas renal, a partir dos

    discursos dos sujeitos;

    Compartilhar experincias sobre a insuficincia renal crnica;

    Discutir sobre as principais causas da insuficincia renal crnica;

    Oportunizar conhecimento sobre outras formas de tratamento dialtico;

    Formular uma releitura sobre os aspectos relativos ao tratamento hemodiltico, a

    fstula arteriovenosa e os cuidados que se devem ter com esta;

    Promover emponderamento dos sujeitos sobre principais complicaes durante o

    tratamento dialtico;

    Oportunizar troca de experincia sobre o autocuidado.

    Estratgias:

    Dinmica de apresentao: Teia da amizade;

    Demonstrao de peas sintticas do sistema renal;

    Utilizao de vdeo sobre a doena renal e autocuidado;

    Dinmica: Lavagem das mos;

    Compartilhamento dos conhecimentos adquiridos, a partir do dilogo direcionado.

    Recursos Utilizados:

    Novelo de l;

    Peas anatmicas do sistema renal;

    Cartazes, figuras e dinmicas;

    Datashow;

  • 36

    Notebook;

    Tinta guache;

    Venda para os olhos;

    Caixas de som;

    Mtodo de Avaliao:

    Ao final da atividade, os integrantes do grupo deveriam verbalizar o conceito de

    insuficincia renal e as causas que podem levar ao desenvolvimento da doena, bem como

    incentiva-los a desenvolver prticas de autocuidado.

    Com a aplicao do mtodo de Paulo Freire (1992) no presente trabalho, foi

    possvel criar oportunidades para que os pacientes renais crnicos desenvolvessem e

    aperfeioassem suas capacidades de "lerem o mundo" em que vivem compostos de hospitais,

    aparelhos complexos, dietas rgidas e restrio hdrica, vocabulrio tcnicos e profissionais

    nem sempre acessveis.

    Segundo o autor, este processo metodolgico proporciona resultados muito ricos

    para os educadores, no s pelas relaes que travam, mas pela busca da temtica do

    pensamento dos homens, pensamento este que se encontra somente no meio deles. Neste

    sentido, elaborou-se a seguinte proposta de prtica educativa:

    1 Encontro

    TEMA: Anatomia e Fisiologia do Sistema Renal.

    Para trabalhar o tema optou-se por implementar dinmica inicial, A teia da

    amizade, como forma de integrar melhor o grupo, para esta estratgia seguiu-se os seguintes

    passos:

    Estratgia metodolgica:

    Inicio: Dinmica A teia da amizade (durao: 10 min.)

    Material: um rolo (novelo) de fio ou l

    Passos:

    1 - Dispor os participantes em crculo;

  • 37

    2 - O coordenador toma nas mos um novelo (rolo, bola) de cordo ou l;

    3- Em seguida prende a ponta do mesmo em um dos dedos de sua mo;

    4- Solicita-se que as pessoas estejam atentas a apresentao que far de si mesmo. Assim,

    logo aps este passo o novelo de l passado a outro componente do grupo, de acordo com a

    preferncia pessoal;

    5- Esta apanha o novelo e, aps enrolar a linha em um dos dedos, ir repetir a apresentao do

    outro e de si mesmo. E assim sucessivamente, at que todos do grupo tenham tido

    oportunidade de participar e conhecer-se;

    6- Como cada um atirou o novelo adiante, no final haver no interior do crculo uma

    verdadeira teia de fios que os une uns os outros.

    Aps quebra do gela, seguiram-se os seguintes passos:

    Dilogo compartilhado sobre conhecimento adquirido com participao do grupo

    (durao 15 min.)

    Conhecimento da anatomia do sistema urinrio (uso de peas anatmicas). Foram

    demonstradas peas anatmicas sintticas que representam com detalhes as estruturas do

    sistema urinrio. Neste momento os integrantes do grupo eram encorajados a tocarem nas

    peas, observarem a localizao, bem como, a importncia das estruturas macro e micro

    componentes do sistema urinrio.

    Fisiologia do sistema renal, conscientizar o grupo sobre as funes dos rins, retomando as

    concluses realizadas pelos integrantes na atividade anterior. Foi oportunizado

    conhecimento complementar sobre a carga terica que o grupo j possua. Pretendeu-se

    assim, conscientiz-los sobre os sintomas advindos da falncia renal e, portanto,

    importncia da manuteno atravs do tratamento.

    AVALIAO

    Os pacientes foram provocados com os questionamentos:

    O que observaram?

    O que sentiram?

    O que significa a teia?

    O que aconteceria se um deles soltasse seu fio?

    Quais situaes podem fazer com que os rins possam, de forma comparativa teia

    formada, agir sobre os demais sistemas.

  • 38

    2 Encontro

    TEMA: Insuficincia Renal Crnica e as Principais Causas.

    A escolha por este tema se deu pela necessidade percebida nos relatos sobre

    incapacidade de se formular conceito eficaz sobre a doena e, consequentemente, a

    conscincia sobre importncia do tratamento.

    Estratgia metodolgica

    Inicio: Acolhimento inicial

    Provocaes do grupo sobre causas da doena renal (durao 25 min.)

    Compartilhamento de conhecimento sobre o conceito de insuficincia renal crnica,

    sinais e sintomas e as principais causas.

    Uso de vdeo educativo sobre doenas renais e o autocuidado (durao 6 min. e 30

    seg.) Este foi realizado por grupo de pesquisadores na rea de Enfermagem

    Nefrolgica, porm, no validado, disponvel livremente no youtube.

    3 Encontro

    TEMA: Tratamento Hemodialtico

    Para este tema, sugeriu-se trabalhar os fatores envolvidos no processo de tratamento,

    com foco no autocuidado, como lavagem das mos

    Estratgia metodolgica:

    Inicio: Dinmica Lavagem das mos (durao 10 min.)

    Material: Tinta guache venda para os olhos, kit de higienizao das mos.

    Passos: Com os olhos vendados, dois voluntrios so convidados a simular a lavagem das

    mos com tinta guache. Depois de terminado os pacientes so desvendados e o resultado

    discutido com todos os participantes. Estes devem compreender que a lavagem praticada no

    cotidiano pode ser melhorado no sentido de oferecer maior proteo e reduo do risco de

    infeco.

    Participao dialogada de todos (durao 20 min.)

  • 39

    Trabalhar conceitos relativos Fstula - Como confeccionada, porque da necessidade

    dessa confeco e os cuidados.

    Tratamento dialtico: Complicaes intradialtica, tipos de tratamento dialtico,

    transplante.

    Mudanas no cotidiano do DRC: controle hdrico, nutrio e atividade fsica.

    Mtodo de Avaliao final: Palavra cruzada com questes discutidas durante os encontros.

    4.6.3 Etapa 3: Construo do Material educativo

    Para construo do material educativo voltado ao doente renal crnico em

    tratamento dialtico, buscou-se referencial terico que fornecesse embasamento terico sobre

    os passos metodolgicos para subsidiar sua construo.

    Pressupostos Terico-Conceituais

    Associando vrios pensadores na rea da educao em sade, pode-se afirmar que

    o indivduo agente ativo de seu prprio conhecimento. Ele constri significados e define

    sentidos de acordo com a representao que tem da realidade, a partir de suas experincias e

    vivncias em diferentes contextos (DONNER, LEVONIAN, SLUTSKY, 2005; FREIRE,

    1992).

    O processo de formao tem como eixo fundamental o pensamento crtico e

    produtivo e parte do conceito de atividade consciente, em que h ao intencional do aluno,

    na resoluo de problemas do mundo real, no qual construda a partir de uma enorme gama

    de conhecimentos e metodologias que ele articula, mobilizam e usam, quando se depara com

    um problema que precisa ser resolvido no exerccio de sua atividade (BASTABLE, 2010).

    No desenvolvimento de materiais didticos, a interdisciplinaridade pode ser

    alcanada na apresentao de problemas reais enfrentados pelos alunos em seu cotidiano. ,

    portanto, um desafio oferecer metodologias que estimulem a busca de novos conhecimentos

    pelo aluno (BASTABLE, 2010).

    Defende-se que o material didtico no precisa conter todos os contedos e todas

    as possibilidades de aprofundamento da informao oferecida, j que a lgica de organizao

    enciclopdica dos conhecimentos vem perdendo fora a cada dia em nossa sociedade. Mais

    importante oferecer aportes tericos e estratgias metodolgicas, em uma perspectiva

  • 40

    interativa que o estimule a resolver as estratgias pedaggicas, possibilitando, assim, o

    desenvolvimento de competncias pessoais.

    Para construo do material educativo buscou-se como referencial, pressupostos

    defendidos por Bastable (2010) no qual, defende que o processo educativo deve ser

    implementado como ao sistemtica, sequencial, lgica, planejada e com base cientfica que

    consiste de duas operaes interdependentes principais, o ensino e aprendizagem. Neste

    sentido, compara-se o processo educativo com o processo de enfermagem, embora tenham

    diferentes metas e objetivos, podem andar lado a lado. Ambos fornecem, segundo o autor

    supracitado, uma base racional para a prtica de enfermagem mais do que uma base intuitiva.

    Sendo assim, referencia-se o esquema abaixo como pressuposto institudo para a construo

    do material educativo do referido estudo.

    PROCESSO DE ENFERMAGEM PROCESSO EDUCATIVO

    Objetivos do Material Didtico

    Proporcionar os conhecimentos fundamentais;

    Figura 4 Esquema ilustrativo demonstrando o processo educativo paralelo ao processo de enfermagem, segundo

    preceito de Bastable (2010).

    ANLISE

    PLANEJAME

    NTO

    IMPLEMENT

    AO

    AVALIAO

    Avaliar as necessidades fsicas e

    psicolgicas

    Desenvolver plano de

    cuidado baseado no

    estabelecimento de objetivos

    mtuos para atender as

    necessidades individuais

    Executar intervenes de

    cuidado em enfermagem

    usando procedimentos

    padronizados

    Determinar resultados

    fsicos e psicolgicos

    Averiguar as necessidades os

    estilos e a prontido para

    aprendizagem

    Desenvolver planos de ensino

    baseado em resultados

    comportamentais mutuamente

    predeterminados para atender

    a necessidades individuais

    Desempenhar o ato de

    ensinar usando mtodos e

    ferramentas instrucionais

    especficas

    Determinar mudanas

    comportamentais (resultados)

    no conhecimento, nas atitudes

    e nas habilidades.

  • 41

    Fornecer contedos mnimos que possibilitem a organizao do conhecimento prvio sobre

    a doena e seu tratamento;

    Fornecer ferramentas e informaes;

    Facilitar a aquisio das competncias tcnicas especficas, especificamente sobre o

    autocuidado;

    Estimular a participao do paciente e comunidade no processo de emponderamento;

    Princpios Pedaggicos

    No processo de construo dos textos do material, segundo demonstra estudos,

    fez-se necessrio questionar o paciente sobre seus conceitos, vivncias e percepes,

    favorecendo um movimento de prtica-teoria-prtica.

    Sendo importante verificar e sensibilizar a possibilidade do paciente assumir um

    papel ativo dentro do processo de ensino aprendizagem: nesse contexto de aprendizagem, a

    teoria ganha sentido, pois subsidia a compreenso dos problemas, contribuindo para avanar

    na busca de resoluo desses problemas o que se pode chamar de aprendizagem

    significativa. Para determinar os princpios pedaggicos considerou-se as caractersticas

    inerentes a populao de clientes adultos em situao de condio crnica, defendido por

    Bastable (2010).

    Linguagem

    A produo de um material didtico precisa ser cuidadosa em relao linguagem

    de seus textos, qualquer que seja o nvel do curso ou grau de escolaridade de seu pblico-alvo.

    Ressaltamos, nos itens que seguem alguns desses cuidados:

    Privilegiar uma linguagem clara, objetiva e coloquial, adequada s caractersticas

    da clientela, especialmente quanto ao nvel de escolaridade. Isso permite uma leitura leve e

    agradvel, de fcil compreenso. Elaborar texto de forma a dialogar o mximo possvel com o

    paciente, adotando algumas estratgias na produo de um material didtico que incentivem

    esta dialogicidade (BASTABLE, 2010; CORRA, 2007).

    Articulao Forma-Contedo

  • 42

    Considerou-se importante que os questionamentos: como desenvolver melhor

    determinado contedo? Que recursos podem ser utilizados? Os recursos foram selecionados e

    includos no material sempre na perspectiva de agregar elementos que possam contribuir para

    a reflexo e o enriquecimento do assunto tratado. Os recursos includos no material didtico

    sero acompanhados das respectivas fontes.

    Estrutura

    Algumas reflexes se fazem necessrias antes do processo de organizao dos

    contedos (elaborao dos textos propriamente dita):

    Analisar o contedo como um todo, em busca da coerncia interna do material;

    Construir um material que amplie a viso do paciente sobre a patologia e o processo de

    tratamento;

    Estruturar o material de forma clara, que propicie fcil manuseio e identificao de cada

    uma de suas partes/elementos;

    Prever a incluso, no material didtico, de sees especiais, como, por exemplo, de questes

    para reflexo, de dicas, de glossrio, etc., que se constituem recursos para maior interao do

    paciente com o material; para dialogar com o texto; e, ainda, para facilitar a articulao dos

    contedos.

    Dentre os itens escolhidos para compor a estrutura de um material didtico,

    sugeriu-se aqueles considerados bsicos, embora outros tambm possam ser agregados, tendo

    em vista as especificidades do pblico alvo a que o material se destina. So eles:

    Sumrio: o objetivo, apresentar, preferencialmente, ttulos e subttulos at o terceiro

    nvel da hierarquia de ttulos;

    Apresentao e/ou introduo: traz consideraes gerais dos autores, objetivos do

    material/curso, importncia dos temas tratados, contexto em que a publicao se situa.

    Captulos

    Referncias Bibliogrficas

    Glossrio

    Formatao

    Editor de texto Word

    Fonte Times New Roman, corpo 12

  • 43

    Pargrafo justificado

    Entrelinhas simples

    Caixa Alta e Baixa usar em todo o material, ou seja, nos textos, ttulos, legendas de

    figuras, etc.

    4.7 Aspectos ticos e Legais

    Todos os cuidados ticos foram adotados visando integridade e bem-estar dos

    participantes, conforme estabelecido pela resoluo 196/96 do Ministrio da Sade

    (autonomia, no maleficncia, beneficncia e justia) (BRASIL, 1996). O projeto de pesquisa

    foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal do Piau (UFPI), sob

    protocolo n 0422.0.045.000-11 (ANEXO A).

    Foi solicitado que os sujeitos da pesquisa assinassem o TCLE, a fim de obter-se a

    concordncia e assinatura dos participantes, onde lhe foi assegurado privacidade e a

    proteo da identidade, a liberdade de se recusar a participar ou retirar o seu consentimento,

    em qualquer fase da pesquisa, sem penalizao alguma.

  • 44

    5 RESULTADOS

    Os resultados apresentados se referem consolidao dos dados obtidos atravs

    do questionrio aplicado a oito pacientes que fazem tratamento de hemodilise na instituio

    estudada, a partir dos seguintes aspectos: caractersticas scio-demogrficas e biogrficas,

    seguidas das categorias emergidas das falas dos sujeitos, segundo recomendaes de Bardin

    (2010), apresentadas em forma de quadro.

    De acordo com a anlise dos discursos foi possvel identificar onze categorias:

    percepo do paciente; compreenso sobre a doena; compreenso do funcionamento renal;

    causas da doena renal; cuidados realizados enquanto IRC; cuidados nutricionais;

    conhecimento sobre o tratamento hemodialtico; conhecimento sobre confeco da fstula

    arteriovenosa (FAV); cuidados com a FAV; necessidades educacionais e preferncia de

    mtodos educativos.

    5.1 Caractersticas Sociodemogrficas e Biogrficas

    Identificaram-se diferenas de gnero enquanto doentes renais crnicos, pois neste

    estudo o sexo masculino (6) foi o grupo mais acometido pela doena que permanece em

    tratamento dialtico. Com relao faixa etria verificou-se uma mdia de 42 anos de idade.

    Em relao, ao estado civil a maioria se declara casados (6), a escolaridade teve uma mdia

    aproximada de cinco anos de estudo. A grande maioria estava desempregada (7), apenas um

    dos pacientes sabia a causa da doena renal, cuja mdia de tempo de tratamento foi de um ano

    e oito meses.

    5.2 Categorias Emergidas das Falas dos Sujeitos

    A seguir apresentam-se, os resultados obtidos por meio da tcnica de anlise de

    contedo, sintetizada no quadro de anlise (APNDICE C), bem como as falas dos pacientes

    agrupadas em quadros divididos por categorias que continham alguma semelhana.

    5.2.1 Percepo do paciente e compreenso sobre a doena

    Percepo do paciente compreende as unidades de anlise temtica que indicam a

    importncia do conhecimento sobre a IRC. Essa categoria contempla as seguintes

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    subcategorias: Cuidados da equipe de sade; F e Importncia da informao para o

    autocuidado. Esta categoria e subcategorias resultaram em cinco unidades de registro.

    A primeira categoria foi obtida a partir do questionamento: conhecer a

    insuficincia renal crnica importante para cuidar-se? Contida no formulrio de perguntas

    aplicadas aos pacientes, onde todos reconhecem a importncia da informao, tanto para fazer

    o tratamento adequado como para prevenir invalidez ou morte (Quadro 1).

    A segunda categoria compreende as unidades de anlise temtica que se referem

    compreenso da doena pelos pacientes. Essa categoria contempla as seguintes subcategorias:

    Transplante; Complicaes; Desconhecimento; Indicao do tratamento; Cura da doena e

    Consequncia da doena. Esta categoria, juntamente com as subcategorias, resultou em sete

    unidades de registro.

    Conforme demonstrado nas falas, os pacientes reconhecem que a doena no tem

    cura, porm alguns ainda desconhecem esse fato, como pode ser visto na fala do P2. Alm

    disso, podemos destacar que existem pacientes que relatam desconhecer informaes bsicas

    relativas ao processo de doena.

    Quadro 1 Percepo do paciente e Compreenso sobre a doena. Picos/PI, mar./abr., 2012.

    Percepo do paciente

    Graas a Deus tem a medicina, os mdicos, os enfermeiros para cuidarem da gente. Ai com isso, eu

    me sinto bem graas a Deus eu tenho pelo menos isso para sobreviver P1.

    importante! Porque a doena uma coisa que a gente no espera P3.

    A pessoa tem que conhecer melhor a doena para fazer o tratamento adequado P4, P5.

    Importante para prevenir invalidez, morte P7, P8.

    Compreenso sobre a doena

    O que eu sei que no tem possibilidade de sair do tratamento, s com transplante. Ainda bem que

    no sinto nada na mquina P1.

    S queria saber como ficar bom P2.

    S sei que o melhor fazer o tratamento P3.

    No sei nada sobre a doena, comecei agora e ningum me explicou nada P4.

    S sei que no tem cura, rim para de funcionar P5, P6, P7, P8.

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    5.2.2 Categorias: Compreenso do funcionamento renal e Causas da doena renal

    Compreende as unidades de anlise temtica que correspondem s informaes

    acerca da compreenso do funcionamento renal. Essa categoria abrange as seguintes

    subcategorias: No compreende e Compreende moderado. Esta categoria, juntamente com as

    subcategorias, resultou em cinco unidades de registro.

    Sobre a compreenso do funcionamento renal, percebeu-se que grande parte dos

    sujeitos relataram algum conhecimento, porm no as compreendem, com isso no