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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ORGÂNICA E INORGÂNICA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ANTÔNIO EUFRAZIO DA COSTA JÚNIOR ESTUDO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS E MECÂNICAS DE BIOCOMPÓSITOS COM MATRIZ POLIMÉRICA DERIVADA DO LCC SUPORTADOS EM FIBRAS DE BAMBU FORTALEZA - CEARÁ 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ORGÂNICA E INORGÂNICA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA

ANTÔNIO EUFRAZIO DA COSTA JÚNIOR

ESTUDO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS E MECÂNICAS DE

BIOCOMPÓSITOS COM MATRIZ POLIMÉRICA DERIVADA DO LCC

SUPORTADOS EM FIBRAS DE BAMBU

FORTALEZA - CEARÁ 2012

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ANTÔNIO EUFRAZIO DA COSTA JÚNIOR

ESTUDO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS E MECÂNICAS DE

BIOCOMPÓSITOS COM MATRIZ POLIMÉRICA DERIVADA DO LCC

SUPORTADOS EM FIBRAS DE BAMBU

FORTALEZA - CEARÁ 2012

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química, da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos necessários para obtenção do Título de Mestre em Química. Orientadora: Profa. Dra. Selma Elaine Mazzetto.

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A Deus. Aos meus pais, Sitônio e Aleluia minha eterna gratidão.

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AGRADECIMENTOS A Deus pela sua incomensurável e infinita graça. À professora Dra. Simone de Sá da Silveira Borges, pelos sábios e sólidos ensinamentos. Por me mostrar os caminhos da honestidade e da justiça. À professora Dra. Selma Elaine Mazzetto minha eterna e sublime gratidão pela oportunidade, orientação, compreensão e por acreditar no meu trabalho. A Universidade Federal do Ceará pelo apoio institucional durante toda minha formação. A todos os professores/as que contribuíram direto ou indiretamente para minha formação. A todos os integrantes do Laboratório de Produtos e Tecnologia em Processos onde desenvolvi esse trabalho. Ao Laboratório de Caracterização Mecânica em especial ao aluno Yuri e ao Professor Dr. Hamilton Ferreira Gomes de Abreu por gentilmente ter disponibilizado o laboratório para a realização dos ensaios mecânicos. Ao Professor Dr. Enio Pontes de Deus (Coordenador do LAMEFF) pelo apoio nas análises de tração. Ao Professor Dr. José Marcos Sasaki coordenador do Laboratório de Raios-X da Universidade Federal do Ceará e ao aluno Édipo pelas análises de difração. Ao Professores que participara da minha banca de qualificação: Francisco Audísio Filho, Pierre Basílio Almeida Fechine e Francisco Nivaldo Aguiar Freire pelas correções e contribuições desta Dissertação. A CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível) pelo Apoio financeiro.

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RESUMO

Nos últimos anos, a sociedade começou a discutir questões relacionadas à variável ambiental, proporcionando um desenvolvimento econômico baseado em tecnologias industriais mais limpas que contribuam com a redução de resíduos, utilizando formas mais eficientes de matérias-primas e energia. Neste aspecto, o desenvolvimento de novos biomateriais – Biocompósitos disponibilizados a partir da combinação de matérias-primas renováveis e biodegradáveis: fibras de bambu (Bambusa vulgaris) como agente de reforço suportadas em matriz termorígida – resina fenólica derivada do Liquido da Casca da Castanha de Caju (LCC). As fibras foram modificadas superficialmente através de tratamento alcalino (NaOH), a resina foi caracterizada por Reometria e por Cromatografia de Permeação em Gel (CPC). As propriedades mecânicas, térmicas, grau de cristalinidade e mudanças nos grupos funcionais presentes na superfície das fibras e biodegradabilidade, antes e após tratamento químico, foram investigadas via ensaios de tração, TG/DTG (Termogravimétrica/Derivada), DRX (Difratograma de Raios – X), Espectroscopia no Infravermelho (FTIR) e Biodegradabilidade em solo simulado. Os resultados confirmaram que as fibras tratadas com 10% de NaOH mostraram o melhor conjunto de resultados experimentais: aumento da fração cristalina (110%); na estabilidade térmica (de 315ºC para 338ºC); no modulo de elasticidade (30%) e na tensão de ruptura (152%), todas em relação a fibra natural. Os respectivos biocompósitos foram preparados por moldagem aberta com fibras de bambu para todas as condições. Para os compósitos observou-se uma maior adesão após a remoção parcial dos componentes não celulósicos mediante o tratamento químico, evidenciado no MEV. Os biocompósitos foram analisados por ensaio de tração para verificar as propriedades mecânicas (tensão de ruptura, tensão máxima, alongamento na ruptura e modulo elástico). As propriedades térmicas foram avaliadas por TGA/DTG. Para todos os materiais estudados, foram observadas melhorias significativas nas propriedades térmicas e mecânicas dos biocompósitos reforçados com fibra de bambu após tratamento alcalino.

Palavras chaves: Bambu, propriedades, mecânicas, térmicas

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ABSTRACT

Recent years the society begins to discuss issues related to the environmental variable, providing an economic development based on cleaner industrial technologies that contribute to reducing waste, using more efficient forms of raw materials and energy. In this respect, this work aims to obtain new biomaterials - biocomposites made available from the combination of renewable raw materials and biodegradable, bamboo fibers (Bambusa vulgaris) as a reinforcing agent in matrix supported thermoset - phenolic resin derived of the cashew nutshell liquid (CNSL). The fibers were surface modified by treatment with alkali (NaOH), the resin was characterized by rheometry, and by Gel Permeation Chromatography (GPC). The mechanical, thermal, degree of crystallinity and changes in functional groups present on the surface of the fibers and biodegradability before and after chemical treatment were investigated via tensile, TG/DTG (Thermogravimetry/Derivative), DRX (Diffractograms of the Ray-X), Infrared Spectroscopy (FTIR) and Biodegradability in simulated soil. The results confirmed that the fibers treated with 10% NaOH showed the best set of experimental results, increasing the crystalline fraction (110%) in thermal stability (to 315 to 338°C), in the modulus of elasticity (30%) and the tensile break (152%), all in relation to natural fiber. The respective biocomposites were prepared by casting with open bamboo fibers for all conditions. For the composite was found greater the adhesion after the partial removal of non-cellulosic components by chemical treatment, shown in the SEM. The biocomposites were analyzed by tensile testing to determine the mechanical properties (tensile strength, maximum stress, elongation at break and elastic modulus). Thermal properties were measured by TGA / DTG. For all results, were observed an increase in thermal and mechanical properties of biocomposites reinforced with bamboo fiber after alkali treatment.

Keywords: Bamboo, properties, mechanical, thermal

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1-Estrutura básica da celulose. ................................................................................. 14

Figura 2-Constituintes do LCC: cardanol (1), acido anacárdico (2), cardol (3), 2-metilcardol

(4). ....................................................................................................................................... 17

Figura 3-Reação de descarboxilação do ácido anacárdico a cardanol. .................................. 17

Figura 4-Mecanismo de formação de metilol-fenol (resina resol). ....................................... 19

Figura 5-Posições de Possíveis funcionalizações do cardanol. ............................................. 20

Figura 6-Reação de formação da resina epóxi. .................................................................... 21

Figura 7-Fluxograma com diferentes tipos de reforços. ....................................................... 23

Figura 8-Tipos de distribuição de fibras em compósitos (a) Fibras contínuas unidirecionais,

(b) fibras descontínuas unidirecionais, (c) fibras descontínuas e aleatórias. .......................... 24

Figura 9-Representação esquemática do gráfico de ensaio de tensão. .................................. 26

Figura 10- (a) Fase elástica e (b) fase plástica. .................................................................... 28

Figura 11-Diagrama de tensão-deformação para matérias dúcteis. ....................................... 29

Figura 12-Representação esquemática da deformação permanente. ..................................... 30

Figura 13-Curva de fluxo de um líquido Newtoniano. ......................................................... 32

Figura 14-Curva de viscosidade de um líquido Newtoniano. ............................................... 32

Figura 15-Fluídos independentes do tempo ......................................................................... 33

Figura 16-comportamento de um sistema pseudoplástico: (a) fluido não perturbado aleatório

(b) fluido cisalhado sob orientação preferencial. ................................................................... 34

Figura 17-Comportamento de um sistema tixotrópico e de um sistema reopético em função

do tempo. ............................................................................................................................. 35

Figura 18-Branqueamento das fibra após tratamento químico: (a) Fibra natural, (b) Fibra

tratada com NaOH 5%, (c) Fibra tratada NaOH com 10%. ................................................... 45

Figura 19-Microscopia eletrônica de varredura para a fibra de bambu natural ..................... 46

Figura 20-Difratogramas de raios –X das fibras de bambo: (a) Fibra natural, (b) Fibra tratada

com NaOH 5%, (c) Fibra tratada NaOH com 10%. .............................................................. 53

Figura 21-Fração de cristalinidade de fibras vegetais em função dos teores médio de celulose.

............................................................................................................................................ 56

Figura 22-Fração de cristalinidade das fibras vegetais em função da concentração de NaOH.

............................................................................................................................................ 57

Figura 23-Propriedades dielétricas da fibra de bambu em uma freqüência de 5 – 110 Mz. ... 59

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Figura 24-Perfil de uma curva de perda de massa de decomposição térmica. ....................... 60

Figura 25-Análise Termogravimétrica TG/DTG de fibras de bambu antes e após o tratamento

químico em atmosfera de N2. ............................................................................................... 61

Figura 26-Tensão de cisalhamento, viscosidade em função da taxa de cisalhamento. .......... 69

Figura 27-Curva de viscosidade em função do tempo. ......................................................... 70

Figura 28-Reograma isotérmico da resina analisada a 95ºC. ................................................ 72

Figura 29-Isotermas de cura da resina fenólica em diferentes. ............................................. 73

Figura 30-Reograma isotérmico do logaritmo da viscosidade complexa (ln n*) em função do

tempo. .................................................................................................................................. 74

Figura 31-Dados da Cromatografia de Permeação em Gel do resol...................................... 75

Figura 32-Análise Termogravimétrica TG/DTG dos compósitos antes e após o tratamento

químico em atmosfera de N2. ............................................................................................... 76

Figura 33-Ensaio de tensão do compósito reforçado com fibra de bambu tratada e não

tratadas. ............................................................................................................................... 78

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1-Característica e composição de macrocomponentes algumas fibras naturais. ........ 15

Tabela 2-Proporção dos constituintes da resina. ................................................................... 39

Tabela 3-Intensidade dos picos difratados. .......................................................................... 54

Tabela 4-Fração de cristalinidade das vegetais em função do tratamento alcalino. ............... 55

Tabela 5-Paramentos dielétricos da fibra de bambu na freqüência de 85 MHz. .................... 57

Tabela 6-Parâmetros térmicos obtidos das curvas TG / DTG paras as fibras de bambu em

atmosferas de N2 e ar. .......................................................................................................... 63

Tabela 7-Propriedades Mecânicas da fibra de bambo. .......................................................... 68

Tabela 8-Dados da degradação térmico dos compósitos reforçados com fibra de bambu sob

atmosfera de N2. .................................................................................................................. 77

Tabela 9-Dados mecânicos do compósito reforçado com 20% de fibra de bambu em peso. . 78

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

LCC Líquido da Casca da Castanha de Caju

TG Análise Termogravimétrica

DSC Differential Scanning Calorimetry (Calorimetria diferencial de Varredura)

MEV Microscopia Eletrônica de Varredura

DRX X–Ray Diffraction (Difração de Raios-X)

FTIR Espectroscopia Vibracional no Infravermelho com Transformada de Fourier

Bisfenol A 2,2-bis(4-hidroxifenil) propano)

DGEBA Diglicidil éter bisfenol A

Epicloridrina (1-Cloro-2,3-epóxi-propano)

NaOH Hidróxido de sódio

NH4OH Hidróxido de Amônio

DMB Benzoato de Etildimetilamina

NaClO Hipoclorito de sódio

HCl Ácido clorídrico

CCD Cromatografia em Camada Delgada

GC/MS Gas Chromatograph Acoplet Mass Spectromet

ASTM American Society for Testing and Materials

ICSD Inorganic Crystal Structure Database

T(Onset) Temperatura inicial de degradação

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LISTA DE SÍMBOLOS

% Porcentagem

kg quilograma

g grama

m Metro

cm Centrimento

cm-3/min. Centímetro cúbicos por minutos

mm Milímetro

h Horas

min Minutos

s Segundos

O oxigênio

Cl Coro

C Carbono

H Hidrogênio

N Nitrogênio

σ Tensão mecânica

ε Deformação F Carga aplicada em Newton A0 Área inicial da secção transversal

E Módulo de elasticidade

τ Tensão de cisalhamento

Pa Pascal

N Newton

휸 Taxa de cisalhamento

흏흂 Variação da velocidade

흏풚 Distância entre as camadas moléculas do flúido

η Viscosidade

Pa.s Viscosidade Dinâmica

p/v Unidade peso/volume

p/p Unidade peso /peso

kV Kilovolt

mA Miliampere

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K Kelvin

°C Grau Celsius

2θ Ângulo inter planar de Bragg

F Fração de cristalinidade

횺 Somatório dos enésimos termos

퐈퐜Fração cristalina

퐈퐚퐦 Fração amorfa

Pt Platina

Hz Hertz

GHz Gigahertz

Ø Diâmento

MPa Megapascal

Cp Capacitância

εo Permissividade no vácuo

σ Condutividade Elétrica

Ω Öms

f Freqüência

D perda dielétrica

K permissividade

Π Pi

Å Angstrom

h, k, l Índice de Müller

u.a Unidades arbitrárias

Tonset Temperatura inicial

G’ Modulo de estocagem ou de armazenamento

G” Módulo de perda

G* Módulo completo

η* Viscosidade dinâmica complexa

R Coeficiente de correlação

mL Mililitro

Mw Massa molar polimérica

ln Logaritmo natural

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11

1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS ...................................................................................... 13

1.1 Fibras Naturais ....................................................................................................... 13

1.2 Fibras de Bambu .................................................................................................... 14

1.3 Tratamento superficial das fibras............................................................................ 15

1.4 O cajueiro e o Líquido da Castanha de Caju (LCC) ................................................ 16

1.5 O LCC TÉCNICO ................................................................................................. 17

1.6 Resinas fenólicas derivadas do LCC ...................................................................... 18

1.7 Resinas Epoxídicas ................................................................................................ 21

1.8 Compósitos ............................................................................................................ 22

1.9. Propriedades mecânicas ............................................................................................. 26

1.9.1 Tensão (σ) ............................................................................................................ 26

1.9.2 Deformação (ε) .................................................................................................... 27

1.9.3 Módulo de elasticidade (E) ................................................................................... 27

1.10.4Tensão de escoamento ......................................................................................... 28

1.9 Conceitos e propriedade reológicas ........................................................................ 30

1.10.1 Tensão de cisalhamento. ..................................................................................... 30

1.10.2 Taxa de cisalhamento ......................................................................................... 31

1.10.3. Viscosidade ....................................................................................................... 31

1.10.4 Curva de fluxo e de viscosidade ......................................................................... 31

1.10.5 Líquidos Newtonianos e não Newtoniano ........................................................... 33

2 OBJETIVOS ................................................................................................................... 36

2.1 Geral .......................................................................................................................... 36

2.2. Específicos ................................................................................................................ 36

3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ......................................................................... 37

3.1 Coleta de material ....................................................................................................... 37

3.2 Desfibramento e trituração .......................................................................................... 37

3.3 Reagentes ................................................................................................................... 37

3.4 Tratamento/branqueamento das fibras de bambu com NaOH ..................................... 37

3.5 Obtenção do Cardanol ................................................................................................ 38

3.6 Síntese do pré-polímero do tipo resol .......................................................................... 38

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3.7 Preparo dos biocompósitos ......................................................................................... 38

3.7.1 Preparação da Resina ........................................................................................... 39

3.7.2 Impregnação das Fibras ........................................................................................ 39

3.8 Técnicas empregadas na caracterização das fibras e dos biocompósitos ...................... 39

3.8.1 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ....................................................... 39

3.8. 2 Análise de Difração de Raios-X (DRX) ............................................................... 40

3.8.3 Análise Termogravimétrica .................................................................................. 40

3.8.4 Medidas Dielétricas .............................................................................................. 41

3.8.5 Espectroscopia no Infravermelho.......................................................................... 41

3.8.6Teste de biodegradação em solo simulado. ............................................................ 42

3.8.7 Ensaio mecânico .................................................................................................. 42

3.9. Caracterização da resina ................................................................................................ 42

3.9.1 Análise Reológica .................................................................................................... 43

3.9.2 Cromatografia de Permeação em Gel – GPC ............................................................ 43

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 44

5 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 80

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 82

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o interesse por tecnologias ecologicamente corretas tem se

tornado uma grande preocupação, motivada, dentre vários aspectos, pelo crescimento da

conscientização socioambiental. O surgimento de novos materiais nessa vertente vem

ganhando mais espaço e se consolidando como uma alternativa viável, ecológica e

sustentável. Setores importantes como indústria automobilística, construção civil e de

embalagens tem cada vez mais substituído os derivados do petróleo por aqueles que são mais

facilmente degradáveis no meio ambiente.

Nesse aspecto, a possibilidade de exploração e utilização de fibras naturais como

agentes de reforço em materiais compósitos (biocompósitos) têm sido investigada nos últimos

anos, apontando para resultados encorajadores [1-4]. O desenvolvimento desses materiais a

base de matrizes poliméricas derivadas de fontes renováveis vem se configurando no cenário

internacional como uma área de pesquisa promissora com amplas aplicações. A utilização dos

compósitos em escala industrial vem crescendo devido a muitos fatores, com destaque na

diminuição de custos se comparado aos materiais convencionais (compósitos a base de

polímeros derivados do petróleo e fibras sintéticas) e seu potencial para reciclagem.

O interesse também se faz presente devido à suas características físicas, químicas,

propriedades mecânicas como baixa densidade, flexibilidade, ser não abrasivo, poroso,

viscoelástico [5,6], promovendo um menor desgaste das ferramentas utilizadas na fabricação

destes materiais, além disto, as fibras se constituem de matéria prima renovável, de baixo

custo, em comparação com as fibras sintéticas [7]. Devido a estas excelentes propriedades, as

fibras naturais têm sido cada vez mais utilizadas na indústria química, têxtil, de papel,

compósitos e em aplicações tecnológicas [8-11].

O bambu, encontrado em todo o território nacional, é pouco aproveitado e seu uso

restringe-se praticamente na confecção de peças artesanais e detalhes paisagísticos, ao

contrário de países como Ásia, China, Índia, Equador e Colômbia, onde a cultura do bambu é

largamente difundida, especialmente na construção civil. A política de agregar valor vale

também para o LCC (Líquido da Casca da Castanha de Caju-LCC), categorizado como um

subproduto do agronegócio do caju, comercializado a baixos preços e pouco atrativo para os

exportadores da castanha de caju, que centralizam seus esforços apenas na obtenção das

amêndoas.

Neste sentido, este trabalho visa à obtenção de novos biomateriais

(biocompósitos), disponibilizados a partir da combinação inédita de matérias-primas

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renováveis e biodegradáveis, ou seja, fibras de bambu como agente de reforço suportado

numa matriz polimérica derivada do LCC. Essa combinação visa minimizar o descarte

indiscriminado de resíduos, trazendo inúmeros benefícios para o país e em especial a região

Nordeste. Além dos aspectos ambiental, econômico e inovador, o trabalho também

contribuirá para a consolidação do uso do bambu como alternativa viável para a produção de

novos materiais.

O presente trabalho apresentará os resultados de um estudo detalhado desses

biocompósitos, assim como do agente de reforço, utilizando as técnicas de Análise

Termogravimétrica (TG/DTG), Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), Difratometria

de Raios-X (DRX), Espectroscopia Vibracional no Infravermelho com Transformada de

Fourier (FTIR), Biodegradabilidade em solo simulado e Ensaio Mecânico.

A natureza química e estrutural dos compostos estudados bem como as

propriedades mecânicas e o grau de cristalina das fibras após tratamento químico serão

discutidos conforme as prováveis modificações nas bandas do espectro de infravermelho das

fibras antes e após tratamento químico, além de alterações nas superfícies das fibras por meio

da interface matriz/fibra (MEV).

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1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

A seguir serão apresentados os fundamentos teóricos que auxiliarão no

entendimento dos resultados experimentais obtidos nesta dissertação.

1.1 Fibras Vegetais

As fibras lignocelulósicas são constituídas de microfibrilas, compostas por uma

fração cristalina de celulose e uma parte amorfa contendo hemicelulose, lignina, pectina, cera

e compostos solúveis em água. Essas microfibrilas são orientadas em ângulos diferentes

formando várias camadas que compõem a microfibra [12]. Assim, as fibras são formadas por

um conjunto de filamentos compostos preferencialmente por moléculas de celulose, lignina e

hemicelulose unidas por ligações covalentes [13].

As fibras vegetais têm sido utilizadas como uma alternativa econômica e

ecológica para uso como agentes de reforço em compósitos por se constituírem basicamente

de celulose, lignina e hemicelulose, além de quantidades menores de açúcares livres,

proteínas, extrativos e compostos inorgânicos. Seus componentes químicos são distribuídos

entre as paredes celulares primária, secundária e terciária, respectivamente, onde a parede

secundária apresenta duas diferentes camadas: interna e externa. A composição química das

fibras vegetais varia entre espécies, além disso, fatores como localização geográfica, idade,

clima e condições do solo também alteram sua composição química. Dentre as fibras vegetais

mais estudadas destacam-se: o sisal [10], coco [14], juta [4] e banana [15], quando utilizadas

como agentes de reforço.

A celulose é o principal componente de todas as fibras vegetais e o principal

responsável pela estabilidade e resistência mecânica. É constituída de unidades de anidro-D-

glicose (C6H10O5), que unidas formam uma cadeia molecular. A celulose pode ser descrita

como um polímero linear com uma estrutura de cadeia uniforme (Figura 1). Fibras com

grandes quantidades de celulose são tecnicamente viáveis para serem usadas na produção

têxtil, de papeis e reforço em compósitos. Em função do seu maior grau de cristalinidade e

polimerização, a celulose costuma apresentar maior estabilidade térmica e maior resistência a

tensões mecânicas, quando comparada aos componentes não celulósicos co-formadores das

fibras.

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Figura 1-Estrutura básica da celulose.

H

OH

OH

HH

OHH

OH

CH2OH

HO H

HH

OHH

OH

CH2OH

HO O

OH

H

CH2OH

H

H

OH

OH

H

nMonômero Mero

Fonte: o autor

A lignina é um polímero complexo de estrutura amorfa, com constituintes

aromáticos e alifáticos, que une as fibras celulósicas formando a parede celular. Fornece

resistência à compressão ao tecido celular e às fibras, enrijecendo a parede celular e

protegendo os carboidratos contra danos físicos e químicos. Sua concentração nas fibras

influência a estrutura, morfologia, flexibilidade e taxa de hidrólise. Fibras com alto teor de

lignina são de excelente qualidade e bastante flexíveis [16].

A hemicelulose é um polissacarídeo formado pela polimerização de vários

açúcares, incluindo glicose, xilose, galactose, arabinose e manose [17], porém com grau de

polimerização inferior ao encontrado na celulose nativa. Normalmente atua como um

elemento de ligação entre a celulose e a lignina, não estando diretamente relacionada à

resistência e dureza das fibras [18]

1.2 Fibras de Bambu

O bambu (Bambusa vulgaris Schrad. Ex J.C. Wendl.) pertence à família Poaceae,

da classe das gramíneas [19] é um material lenhoso, difundido em solos bem drenados,

ligeiramente ácidos e ricos em nutrientes minerais. Adapta-se bem a temperaturas entre 8,8-

36,0ºC, com precipitação variando entre 1000-4000 mm por ano, ou seja, em regiões

tropicais.

Essas fibras Caracterizam-se por ter seus colmos segmentados e ocos, possui

rápida velocidade de crescimento, a maioria cresce de 10 a 30 cm por dia. É um recurso

abundante em muitos países da Ásia, Índia, América do Sul [20-22] e têm sido utilizadas

tradicionalmente para a construção de casas, pontes e utensílios domésticos [23]. Nos últimos

anos o bambu tem se destacado no cenário internacional como uma alternativa sustentável em

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15

materiais de engenharia, suporte estrutural, sendo incorporado em toda a cadeia de produção

[24-26].

As fibras de bambu são longas, possuem alta resistência mecânica e são

consideradas ideais para a fabricação de papel [27, 28], adequado para embalagens de

alimentos [29], indústria farmacêutica [30] e reforço para compósitos [31, 32]. Sua resistência

mecânica é garantida por suas fibras, que representam cerca de 60-70% da massa total do

caule [33]. O bambu é considerado um recurso natural que leva menos tempo para ser

renovado e não há espécies conhecidas que possam competir em termos de velocidade de

crescimento e aproveitamento por área plantada. É um excelente sequestrador de carbono

podendo ser utilizado em reflorestamentos, vegetação ciliar, como ambiente de proteção e

regeneração, além de matéria-prima em diversas aplicações [34].

As fibras de bambu foram selecionadas no presente estudo como material de

reforço para a preparação de biocompósitos principalmente em função da sua velocidade de

crescimento em relação às demais fibras naturais e pelo fato das suas fibras serem alinhadas

ao longo do comprimento do colmo proporcionando resistência máxima à tração, flexão e

rigidez nessa direção e, pela elevada composição de celulose responsável por rigidez e

resistência dos biocompósitos [35] (Tabela 1).

Tabela 1-Característica e composição de macrocomponentes algumas fibras naturais.

Fibra Densidade (10-3 kg m-3)

Ângulo Microfibrilar

(graus)

Celulose (%)

Hemicelulose (%)

Lignina (%) Referência

Bambu 800 2-10 60 5 32 [36,37]

Banana 1350 11 65 19 5 [15]

coco 1150 30-49 43 0,25 45 [14]

Juta 1450 8.1 63 20 12 [4]

Sisal 1450 20-25 70 14 12 [10]

Fonte: o autor

1.3 Tratamento superficial das fibras

As fibras lignocelulósicas possuem grupos hidroxila que podem interagir com

outros grupos funcionais polares, como os presentes em resinas fenólicas, aumentando dessa

forma, a adesão entre matriz/agente de reforço. Atualmente, o tratamento alcalino é o método

mais utilizado para modificar a superfície das fibras; o processo consiste na imersão do

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16

material em uma solução alcalina em diferentes concentrações [38-40], o que resulta no

aumento da rugosidade superficial, maior exposição microfibrilar, remoção parcial da lignina

externa e aumento da fração cristalina [41,42].

A adesão entre as interfaces das células externas das fibras a matriz polimérica é

um fator decisivo no comportamento mecânico dos compósitos. A efetividade do tratamento

depende de fatores como, concentração de álcali, tempo, temperatura e do sistema

matriz/agente de reforço [43-45], assegurando melhores propriedades de tração aos

compósitos.

1.4 O cajueiro e o Líquido da Castanha de Caju (LCC)

O cajueiro (Anacardium occidentale Linn), planta nativa do Brasil, localizado em

sua grande maioria no litoral Nordestino, pertence ao gênero Anacardium da família

Anacardiácea. É uma planta perene de aparência exótica, ramificação baixa, folhas glabras,

flores masculinas, hermafroditas numa mesma panícula e porte médio cuja copa atinge, no

tipo comum, altura média de cinco a oito metros e diâmetro médio (envergadura) entre 12 e

14 m.

O caju, cujo nome deriva da língua tupi-guarani, acaju, que siguinifica "noz que

se produz” [46] é composto pelo pseudofruto que consiste em um pedúnculo super

desenvolvido com coloração amarela ou vermelha, fibro-carnoso, com sabor característico e

rico em vitamina C; e o fruto (a castanha), um aquênio reniforme, medindo aproximadamente

2-3 cm que se divide em epicarpo, mesocarpo, endocarpo e a amêndoa que é coberta por uma

película. O mesocarpo é constituído por uma camada de células esponjosas que contém um

óleo escuro, tóxico e viscoso conhecido como Líquido da Castanha do Caju – LCC [47].

O LCC in natura representa cerca de 25% do peso da castanha, na planta exerce a

função de proteger as amêndoas de predadores, choques mecânicos e intempéries,

preservando assim o seu poder germinativo. O LCC natural é constituído por uma mistura de

compostos fenólicos: ácido anacárdico (60-65% em peso), cardol (15-20% em peso), cardanol

(10% em peso) e de 2-metilcardol (5%) [48,49]. Seus constituintes apresentam um caráter

anfifílico devido à sua natureza química, estrutural e funcional. A extensa cadeia lateral

alifática pentadecílica na posição meta (15 átomos de carbono) pode apresentar até três

instaurações, sendo estas responsáveis pela viscosidade do líquido. Os anéis benzênicos

contem hidroxilas que confere as estruturas caráter polar (Figura 2).

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17

Figura 2-Constituintes do LCC: cardanol (1), acido anacárdico (2), cardol (3), 2-metilcardol (4).

Fonte: o autor

1.5 O LCC Técnico

Pode ser obtido por vários processos industriais combinados á temperaturas e/ou

pressões. Um dos processos mais comuns ocorre durante a obtenção das amêndoas, quando

estas são aquecidas a 180-200ºC no próprio LCC. Nessa temperatura o ácido anacárdico é

convertido em cardanol através de uma reação de descarboxilação (Figura 3), fazendo com

que, sob estas condições experimentais, os constituintes do LCC passem a ser cardanol (60-

65%), cardol (15-20%), materiais poliméricos, aproximadamente (10 %) e traços de 2-

metilcardol [50].

Figura 3-Reação de descarboxilação do ácido anacárdico a cardanol.

OH

COOH

C15H25-31

180ºC a 200ºC

OH

C15H25-31

+ CO2

Fonte: o autor

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18

A natureza química dos componentes do LCC técnico propicia a obtenção de

vários compostos com múltiplas aplicabilidades. Nos últimos anos, pesquisas desenvolvidas

no Laboratório de Produtos e Tecnologias em Processos (LPT-UFC) utilizando essa matéria

prima, têm obtido grandes avanços no campo da Química Fina pela obtenção de vários

composto: biolarvicida, bioaditivos, estruturas antimicóticas; macromoléculas que são

utilizadas em membranas semipermeáveis, biosensores, catálise heterogênea, células

voltaicas, dentre outras.

Além da Química Fina, os derivados do LCC também são utilizados na fabricação

de tintas, vernizes, resinas, esmaltes, anticorrosivos, compósitos de alto desempenho,

indústria automobilística, naval, de segurança e aeroespacial. Como verniz, apresenta

resistência térmica e estabilidade química, elasticidade, excelente brilho e propriedades

adesivas. Sua maior fonte de aplicabilidade está na indústria polimérica [50]. Quando

comparado com as resinas fenólicas convencionais, o polímero derivado do LCC apresenta

maior flexibilidade, viscosidade, resistência térmica e mecânica. A superioridade nas suas

propriedades químicas e físicas está relacionada à contribuição da longa cadeia alifática, que

por ser hidrofóbica, confere ao polímero uma maior impermeabilidade quando exposta a água,

ar e modificações climáticas [49-52].

1.6 Resinas fenólicas derivadas do LCC

Segundo Whitehouse [53], resinas fenólicas ou resóis são definidas como

compostos que possuem grupos metilóis (- CH2OH) reativos na molécula. Quando aquecidas

estas moléculas podem se autocondensar para formar moléculas maiores. Os metilóis são

formados quando um fenol é refluxado com excesso de formaldeído em meio alcalino à

temperatura de 95ºC por 24 horas. Em geral, os produtos desde estágio são alcoóis fenólicos

de baixo massa molar composto por estruturas mono e dinucleares e água [54] (Figura 4).

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19

Figura 4-Mecanismo de formação de metilol-fenol (resina resol).

OH

+

O O

+ H2O

HCHO

O

CH2O

CH2O

+ lenta

O

CH2O

O

CH2O+ H2O rápida +

O

CH2OH

HO

HO

Fonte: o autor

As resinas fenólicas são polímeros termofixos resultantes da reação de

policondensação de fenol com aldeído. Geralmente, utiliza-se o aldeído fórmico também

chamado de "Formol" e o hidroxibenzeno ou "Fenol comum” [54,55]. O caráter nucleofílico

dos anéis fenólicos constitui a base para as reações dos fenóis com grupos carbonilas de

aldeídos e cetonas. O processo de obtenção das resinas envolve alguns fatores incluindo:

razão molar fenol-formaldeído, tipo de catálise (ácida, básica e enzimática).

O cardanol apresenta peculiaridades em suas propriedades físico-químicas,

especialmente quanto à posição das duplas ligações e a hidroxila presente no anel benzênico,

o que lhe confere inúmeras funcionalizações (Figura 5). Líquido a temperatura ambiente,

inodoro, apresenta baixa volatilização e ponto de ebulição mais alto que os obtidos de

derivados do petróleo (oxidação do isopropil-benzenol – cumeno). Essas características

permitem que seu manuseio e estocagem ao ar livre ou sob severas condições climáticas,

garantindo maior segurança à saúde de quem o manuseia e evitando possíveis danos

ambientais.

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20

Figura 5-Posições de Possíveis funcionalizações do cardanol.

OH

Fonte: o autor

O cardanol também pode ser usando na fabricação de diferentes resinas fenólicas,

com diversas aplicações estruturais e mecânicas, custo relativamente baixo e facilidade de

manuseio frente a uma ampla variedade de termoendurentes [55]. As resinas fenólicas

obtidas do LCC apresentam maior flexibilidade do que os fenóis petroquímicos devido ao

efeito de plastificação interna proveniente da cadeia lateral e, portanto, uma melhor

processabilidade.

A reação de policondensação ou polimerização condensada entre o cardanol e

formaldeído sob aquecimento tem como produto final resol e água [56]. A liberação de água

durante a reação se deve as hidroxilas do cardanol que reagem com o aldeído resultando um

produto similar às resinas sintéticas. Dentre outras características, estas resinas possuem

excelentes parâmetros dielétricos, boas resistência à tração e ao calor [4]. Portanto, as resinas

fenólicas apresentam uma série de características gerais que atende as necessidades do

mercado atual, gerando interesse no sentido da obtenção de novos caminhos para aplicação

desses materiais, dentre eles os compósitos. Como principais particularidades das resinas

fenólicas pode-se destacar:

Facilidade de limpeza e higiene, superfície homogênea e dura permitindo uma alta

resistência ao choque e impactos, estabilidade dimensional, resistência química e

retardante de chamas;

Material infusível, não goteja, conservando suas especificações durante muito tempo;

apresenta alta resistência à água e ao vapor, se mantendo seca frente à umidade e a

ação de fungicidas; alta resistência a produtos químicos e solventes orgânicos como

tolueno, acetona e similares, alta resistência a desinfetantes, detergentes e ao desgaste;

Outras particularidades das resinas fenólicas referem-se a sua aplicação como matriz

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21

em compósitos reforçados com fibras sintéticas verificadas em materiais esportivos,

nas indústrias automobilísticas, náutica e aeroespacial tendo em comum a todos os

produtos o elevado custo.

1.7 Resinas Epoxídicas

São obtidas através de reações de condensação (na presença de hidróxido de

sódio) entre a Epicloridrina (1-Cloro-2,3-epóxi-propano) e o Bisfenol A [2,2-bis(4-

hidroxifenil) propano] [24]. A mais utilizada é diglicidil éter bisfenol A (DGEBA). O

resultado desta reação é um polímero de cadeia longa constituída de grupos epoxídicos em

suas extremidades (Figura 6).

Figura 6-Reação de formação da resina epóxi.

OCl + OHOH

epicloridrina bisfenol- A

OOO

OH

OO

On

Unidade monomérica da resina epóxi

Fonte: o autor

As resinas epóxi são polímeros termoestáveis com vantagens como resistência

química, adesividade a diferentes substratos, estabilidade química em ambientes úmidos e

quentes. Ainda na fase bicomponente, essas resinas apresentam outras vantagens como à

ausência de componentes voláteis, estabilidade dimensional, sem mencionar que a

polimerização não resulta em gases liberados à atmosfera. Devido a suas características, vem

sendo utilizada em diversas aplicações nas indústrias de manutenção de maquinários, móveis,

pisos, revestimentos cerâmicos, em juntas de dilatação e estruturas de concreto, pinturas de

navios e plataformas, adesivos estruturais, na indústria eletrônica, em vernizes isolantes e

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muitas outras, demonstrando que este tipo de resina pode oferecer uma versatilidade muito

grande; apresentando excelentes resultados aliados á custos adequados e uma ótima qualidade

do revestimento final [57-59]. Estas características tornaram a resina epóxi dentre as mais

utilizadas como matriz de compósitos de elevado desempenho [57].

É possível obter resinas com uma variedade de módulos de viscosidades que

variam com o grau de polimerização. Essas resinas apresentam características bastante

interessantes no que se refere à interação química com outras resinas termoendurecíveis,

fornecendo produtos finais com boas propriedades de resistência à abrasão, química,

dielétrica, além de flexibilidade e aderência.

No processo de cura das resinas epóxidicas são utilizados modificadores químicos

como alguns ácidos graxos ou amidas primárias, denominados de agentes de cura. Durante o

processo são formadas estruturas tridimensionais por graftização ou reticulação, cujo

polímero final apresenta natureza rígida, infusível e sólido á temperatura ambiente. Dentre as

possíveis aplicações das resinas epóxi em acabamentos, podemos classificá-las em:

Resinas de acabamento ao ar - refere-se a ésteres de epóxi;

Resinas de acabamento à temperatura ambiente - neste caso é necessário a

combinação de agentes de cura tais como resinas poliamidas ou poliaminas;

Resinas de acabamento à estufa - a reticulação é feita com agentes de reticulação

como resinas fenólicas ou amínicas (melamina formaldeído ou uréia formaldeído).

1.8 Compósitos

As tecnologias modernas requerem materiais avançados de elevado desempenho

com propriedades que não podem ser atendidas por materiais convencionais como metais,

cerâmicas e polímero. Essa condição tem sido cada vez mais exigida por materiais que

possuem aplicações aeroespacial, subaquático e de transporte. Por exemplo, especialistas em

transporte aeroespacial estão cada vez mais interessado em matérias de que tenham baixa

densidade, sejam fortes, rígidos e resistentes à abrasão e ao impacto.

Para atender essa demanda por materiais que possua propriedades superiores aos

materiais comuns, surgiram os compósitos, que são materiais heterogêneos resultantes da

combinação macroscópica de pelo menos duas fases distintas denominadas de matrizes e

reforços, que diferem nas propriedades físico-químicas [60-62]. Geralmente, os materiais

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23

compósitos são formados por uma matriz constituída de um material polimérico de fase

contínua de maior fração volumétrica e por uma fase dispersa denominada de reforço.

A matriz mantém a integridade estrutural do compósito através da interação

simultânea com a fase dispersa devido as suas características coesivas e adesivas [60,63]. Sua

função é também, transferir o carregamento para a fase dispersa e protegê-la contra os vários

tipos de corrosão [5]. A escolha da matriz polimérica dependerá das propriedades físicas,

mecânicas e térmicas exigidas para uma determinada aplicação, do processo de fabricação

escolhido e/ou custo associado.

As propriedades dos compósitos são resultantes da combinação entre as

propriedades das fases dos constituintes, das quantidades relativas e da geometria da fase

dispersa (reforço). Nesse contexto, a geometria significa a forma das partículas, o tamanho,

distribuição, e orientação das partículas.

Como existe uma grande variedade de matrizes e muitos tipos de reforço que

podem ser utilizados na preparação dos compósitos, faz-se necessário estabelecer uma

classificação de acordo com o preparo, tipo de reforço, orientação e forma. De acordo com o

fluxograma (Figura 8) os reforços em um compósito podem constitui-se de fibras ou

partículas.

Figura 7-Fluxograma com diferentes tipos de reforços.

Fonte: o autor

Compósito

Reforço-particula

Particula

grande

Dispersão reforçada

Reforço-fibra

Contínua Descontínua

(Curta)

Alinhada Aleatória

Estrutural

Laminar Painel

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24

A fase dispersa para compósitos reforçados por partícula é equiaxiada, isto é, as

dimensões das partículas são aproximadamente as mesmas em todas as direções; para

compósitos reforçados por fibra, a fase dispersa pode-se dispô-las e feixes paralelos entre si,

de modo a formar multicamadas em multidireções.

Os compósitos obtidos com fibras contínuas podem apresentar reforço

unidirecional ou reforço bidirecional (tecidos). Nestes casos, o material é moldado de forma

que em cada camada do compósito, a fase dispersa seja contínua seguida de uma orientação

preferencial.

Na preparação de compósitos com fibras descontínuas o arranjo ou orientação das

fibras entre si, a concentração da fase dispersa e a distribuição da fibra têm uma significativa

influência sobre a resistência mecânica e outras propriedades de compósitos reforçados por

fibra. Com relação à orientação, duas situações são possíveis: um alinhamento paralelo do

eixo longitudinal das fibras numa única direção; e um alinhamento totalmente randômico.

Fibras contínuas estão normalmente alinhadas (Figura 8a), enquanto que fibras descontínuas

podem ser alinhadas (Figura 8b), descontínuas e aleatórias (Figura 8c). Melhores

propriedades globais de compósito são obtidas quando a distribuição da fibra é uniforme.

Figura 8-Tipos de distribuição de fibras em compósitos (a) Fibras contínuas unidirecionais, (b) fibras descontínuas unidirecionais, (c) fibras descontínuas e aleatórias.

Fonte: o autor

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25

Tecnologicamente, os compósitos mais importantes são aqueles nos quais as fases

dispersas estão na forma de uma fibra. Onde alguns fatores são extremamente importantes

para o melhor desempenho dos compósitos reforçados com fibras naturais, tais como:

características dos materiais formadores, fibras e matriz; geometria das fibras, comprimento e

seção transversal; arranjo das fibras; proporção entre os materiais e característica dos grupos

funcional presentes na interface dos materiais [62,64].

Como qualquer material, na escolha da fibra e da matriz deve-se levar em

consideração a facilidade de preparação, o manuseio, as condições de uso, os agentes de

reticulação, a biodegradabilidade, os custos e, sobretudo, os benefícios durante a vida útil do

material. Durante a preparação dos compósitos deve-se verificar também a compatibilidade

entre os materiais envolvidos, a aderência e estabilidade química e física. Outro critério a ser

observado é quantidade de fibras dispersas no volume total do compósito, geralmente

expresso em termos de fração volumétrica ou em percentagem.

Geralmente, os polímeros mais usados na preparação de compósitos poliméricos

são: termoplásticos e termorrígidos ou termofixos. A principal diferença está no

comportamento frente ao aquecimento, isto é, os termoplásticos são capazes de serem

moldadas várias vezes devido ao fato de poderem se tornar fluidos quando aquecidos e

posteriormente se solidificarem quando resfriados [65]. Por outro lado, os termofixos não se

tornam fluidos devido à presença de ligações cruzadas entre as cadeias macromoleculares são,

portanto, infusíveis.

Compósitos reforçados com fibras vegetais possuem grande potencial de

aplicações estruturais e não estruturais e, na indústria automobilística. Além de ser uma

prática ecologicamente correta, o maior incentivo para o uso destes é a redução de custo e do

peso dos veículos. Uma das mais importantes características destes materiais é a capacidade

de fraturar sob impacto sem soltar lascas [66], sua estabilidade dimensional e resistência á

intempéries.

Neste trabalho utilizaram-se na preparação dos biocompósitos fibras naturais de

bambu como fase dispersa (reforço), compósito de camada única, fibras descontínuas e

orientação aleatória e, matriz polimérica derivada o LCC.

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26

1.9 Propriedades mecânicas

Testes de tração são realizados para determinar várias propriedades mecânicas de

materiais metálicos, cerâmicos e poliméricos. Durante o ensaio mecânico o corpo de prova é

deformado, usualmente até a fratura, com uma carga que é aplicada, uniaxialmente, ao longo

do eixo da amostra.

O ensaio de tração resulta em uma curva onde se relaciona a carga aplicada por

unidade de área (σ-tensão) versos o alongamento (ε-deformação), figura 9. Através da curva

obtida, diversas propriedades quantitativas do material podem ser determinadas, como: tensão

máxima, tensão de escoamento, tensão de ruptura, carga ruptura, deformação, módulo de

elasticidade, resiliência e tenacidade.

Figura 9-Representação esquemática do gráfico de ensaio de tensão.

Fonte: o autor

1.9.1 Tensão (σ)

Conceitualmente, a tensão é definida como sendo a aplicação de uma carga ou

força por unidade de área, no corpo de prova pode ser determinada por 1,

σ =

(1)

Tens

ão (휎

)

Deformação (ε)

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27

onde 휎 é a tensão, F é a carga aplicada e A0 é a área inicial da secção transversal do corpo de

prova.

1.9.2 Deformação (ε)

A aplicação de uma força axial de tração num corpo fixo produz um alongamento

em relação ao cumprimento inicial. Essa mudança geométrica no corpo de prova durante o

esforço mecânico é chamada de deformação, e é calculado como:

ε = x 100

Onde l e l0 correspondem ao comprimento medido sob a ação da força até a fratura e no

inicio, respectivamente.

1.9.3 Módulo de elasticidade (E)

Essa propriedade é medida em materiais que apresentam comportamento elástico,

ou seja, são capazes de voltar a sua forma inicial, mesmo após cessar o esforço mecânico. A

deformação elástica e reversível e desaparece quando a tensão é removida e, é válida, portanto

à Lei de Hooke.

O módulo de elasticidade é uma medida da rigidez do material, ou seja,

característica do material se deformar elasticamente. O módulo corresponde à região do

gráfico onde a tensão é proporcional a deformação, essa região se encerra no limite de

proporcionalidade. É determinado pela razão entre a tensão aplicada e a deformação elástica,

conforme a equação.

E =

Por outro lado os materiais que sofrem deformações permanentes provocados por

tensões que ultrapassam o limite de elasticidade são dito materiais plásticos. A deformação

plástica é o resultado de um deslocamento permanente dos átomos que constituem o material

e, portanto, difere da deformação elástica, onde os átomos mantêm suas posições relativas, o

afigura abaixo ilustra esses dois comportamentos, elástico e plástico (Figura 11).

(2)

(3)

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28

Figura 10- (a) Fase elástica e (b) fase plástica.

Fonte: o autor

1.9.4Tensão de escoamento

Certos materiais de natureza dúctil apresentam, durante o ensaio de tração, uma

deformação permanente sem que haja aumento na carga no final do limite de

proporcionalidade. Em alguns materiais, o fenômeno escoamento é caracterizado pelo

seguimento de descontinuidade na região de transição entre a fase elástica e a fase plástica

(Figura 11).

Deformação (ε)

Tens

ão (휎

)

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29

Figura 11-Diagrama de tensão-deformação para matérias dúcteis.

Fonte: o autor

Nos materiais que não apresentam pontos de descontinuidade, emprega-se o

método gráfico para determinar a tensão de escoamento, baseado no principio de que se

interromper o ensaio em um ponto já dentro na região plástica, a deformação resultante não

voltará à forma primitiva, mas apresentará um valor residual correspondente a deformação

permanente. Graficamente, o limite de escoamento dos materiais pode ser determinado pelo

traçado de uma linha paralela ao trecho reto do diagrama tensão-deformação, a partir do ponto

n (0,2% da deformação plástica). A intercepção dessa linha à curva determina o limite de

escoamento, como mostra a figura 12.

Deformação (ε)

Tens

ão (휎

)

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30

Figura 12-Representação esquemática da deformação permanente.

Fonte: o autor

1.10 Conceitos e Propriedades Reológicas

A viscosidade é definida como sendo a resistência ao movimento de fluir um

material impulsionado por uma força [67]. A medida da viscosidade requer primeiramente

algumas definições básicas dos parâmetros que estão envolvidos no fluxo.

1.10.1 Tensão de cisalhamento.

É uma força (F) aplicada tangencialmente sobre uma área (A) necessária para

manter o escoamento do fluxo (equação 4). A velocidade do fluxo pode ser mantida e

controlada pela resistência interna do líquido, ou seja, sua viscosidade.

τ =

Deformação (ε)

Tens

ão (휎

)

(4)

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31

onde F é a força necessária para fazer o material escoar ou se deformar e A é a área exposta

ao cisalhamento. Geralmente a tensão de cisalhamento é expressa em N/m2 ou pascal (Pa), no

sistema internacional.

1.10.2 Taxa de cisalhamento

Pode ser definida como sendo o gradiente da velocidade de deslocamento

relativos das moléculas ou partículas num determinado intervalo de tempo (Equação 5).

훾 = 휂 =

Onde 휕휈 é a variação da velocidade entre as moléculas/partículas ou camadas do fluido; 휕푦 é

a distância entre as camadas/moléculas/partículas e é o gradiente da deformação em função

do tempo.

1.10.3. Viscosidade

Matematicamente, a viscosidade pode ser descrita através do experimento

realizado por Isaac Newton no qual um fluido é cisalhado entre duas placas (uma móvel e

outra fixa), conforme a equação 6. Esta equação descreve o comportamento de fluidos

viscosos ideais, onde a tensão de cisalhamento é proporcional à taxa de cisalhamento, em que

a constante de proporcionalidade é, por definição, a viscosidade do fluido.

τ = 휂 ou τ = 휂훾

Onde τ é a tensão de cisalhamento, η a viscosidade e 훾 a taxa de cisalhamento. A viscosidade

é geralmente é expressa em N/m2.s ou Pa.s.

1.10.4 Curva de fluxo e de viscosidade

A correlação entre a tensão de cisalhamento (eixo das ordenadas) e a taxa de

cisalhamento (eixo das abscissas) conforme é mostrada no diagrama abaixo é chamada curva

de fluxo [68].

(5)

(6)

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O tipo mais comum de uma curva de fluxo é mostrado abaixo (Figura 14).

Viscosidade descrita na equação 6 é constante e independente da taxa de cisalhamento pode

ser calculado como sendo igual à tangente do ângulo α. Figura 13-Curva de fluxo de um líquido Newtoniano.

Tens

ão d

e ci

salh

amen

to

Taxa de cisalhamento

Fonte: o autor

Outro diagrama bastante comum em reologia é a curva de viscosidade:

viscosidade verso taxa de cisalhamento. As medidas da viscosidade sempre resultam em uma

curva de fluxo, que depois de tratados matematicamente são rearranjados numa curva de

viscosidade. Os diferentes perfis de curvas de fluxo têm seus correspondentes tipos de curvas

de viscosidade.

Figura 14-Curva de viscosidade de um líquido Newtoniano.

Visc

osid

ade

Taxa de cisalhamento Fonte: o autor

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1.10.5 Líquidos Newtonianos e não Newtoniano

São liquido ideais cuja viscosidade (η) independe da taxa de cisalhamento e a

relação entre a taxa de cisalhamento e a deformação se matem constante. Graficamente a

curva de fluxo apresenta um perfil da reta cuja inclinação de ângulo α, em qualquer ponto da

tensão aplicada (τ) verso a taxa de cisalhamento (훾), fornece a viscosidade. São exemplos de

líquidos Newtonianos: água, óleo mineral, melaço, glicerina, etc. [69, 70, 71].

Todos os demais líquidos e substâncias que não apresenta comportamento de

fluxo ideal são denominados de líquidos não Newtonianos, ou seja, apresenta uma relação

entre a tensão de cisalhamento e a taxa de cisalhamento não linear. Neste caso, uma nova

equação matemática (equação 7) é usada para descrever o comportamento desses materiais.

Os líquidos que apresentam esses desvios são conhecidos como fluidos da Lei das Potências

τ = η훾n

onde τ é a tensão, η a viscosidade e n o índice das potências de classificação dos líquidos não

Newtonianos.

Os líquidos não ideais apresentam dois tipos de fenômenos que os distinguem de

sistemas newtonianos: fenômenos independentes do tempo e fenômenos dependentes do

tempo [69]. Os Fluídos que exibem comportamento independente do tempo se classificam em

pseudoplásticos, plásticos ou Binghan e dilatante (Figura 16).

Figura 15-Fluídos independentes do tempo

Fonte: o autor

Tens

ão d

e ci

salh

amen

to (τ

)

Taxa de cisalhamento Log

Binghan

Dilatante Newtoniano

Dilatante

Newtoniano

Binghan

Pseudoplástico

(7)

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A diminuição da viscosidade com aumento da tensão de cisalhamento aplicada

caracteriza os fluidos psudoplásticos. Segundo Brydson, esse fenômeno acorre com maior

freqüência em polímeros no estado fundido ou borrachoso [72,73].

O comportamento pseudoplástico pode ser explicado se levado em consideração o

arranjo molecular, a dispersão e interação: Partículas assimétricas quando em repouso estão

orientadas de forma aleatória e bem próximas uma das outras. Quando estas partículas são

cisalhadas e forçadas a fluírem em uma direção, elas assumem uma orientação preferencial na

direção do escoamento, reduzindo assim, sua resistência a tensão, o que diminui a viscosidade

(Figura 16).

Figura 16-comportamento de um sistema pseudoplástico: (a) fluido não perturbado aleatório (b) fluido cisalhado sob orientação preferencial.

Fonte: o autor

Moléculas assimétricas que possuem dipolos elétricos carregados quando em

repouso se encontram altamente solvatadas. Porém, ao serem forçadas a se deslocarem numa

direção preferencial, tendo suas camadas de solvatação destruídas pela força de cisalhamento.

Outra característica dos sistemas psudoplásticos é que estes quando se encontram

no estado fundido (em repouso) passam de uma estrutura altamente enovela (enrolada) de

elevada viscosidade para um sistema de fluxo orientado na direção do escoamento, assumindo

a forma linear com viscosidade zero [73].

Os fluidos que apresentam comportamento dependente do tempo se classificam

em tixotrópicos e reopéticos [65]. Fluidos que apresentam o fenômeno de diminuição da

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viscosidade em função do tempo a certa taxa de deformação são chamados de tixotrópicos. Já

os que apresentam característica opostas aos líquidos tixotrópicos são ditos reopéticos. Estes

fluidos apresentam um aumento na viscosidade com o tempo à medida que são cisalhados

(Figura 17).

Figura 17-Comportamento de um sistema tixotrópico e de um sistema reopético em função do tempo.

Tixotrópico

Reopético

Vis

cosi

dade

Tempo

Fonte: o autor

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2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Obtenção de biocompósitos, disponibilizados a partir da combinação de

subprodutos do agronegócio do caju (resina do LCC/matriz) suportados em fibra de bambu

como agente de reforço.

2.2. Específicos

Separar o cardanol e sintetizar o polímero resol;

Utilizar fibras vegetais (bambu) como agente de reforço em biocompósito;

Verificar os efeitos das modificações da superfície da fibra de bambu com hidróxido

de sódio em diferentes concentrações;

Investigar o comportamento mecânico das fibras e dos biocompósitos;

Investigar as características dos materiais por analises térmico-oxidativas (TG, /DTG)

em atmosfera inerte (N2) e em ar sintético

Verificar o aumento da fração de cristalinidade das fibras no estado natural e após

tratadas com NaOH por Difratometria de Raios-X;

Análise morfológica superficial das fibras e dos biocompósitos através de Microscopia

Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia Vibracional na Região do

Infravermelho (FTIR);

Investigar as propriedades dielétricas das fibras antes e após o tratamento químico

através de análises de Microondas.

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3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

3.1 Coleta de material

Para este estudo, as amostras de Bambusa vulgaris, com idade de 5 anos, foram

coletadas de touceiras no Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará, no período entre

2009/2010.

3.2 Desfibramento e trituração

Os internódios das fibras foram separados dos colmos, os quais foram seccionados

transversalmente em tamanhos de 10 cm e laminados em cavacos de cerca de 3 mm de

espessura. O desfibramento e a trituração foram feito em um moinho de facas semi-industrial

tipo Willey Modelo TE-650, passado por peneiras de retenção de 35, 50, 60 mesh para serem

usadas nas análises químicas.

3.3 Reagentes

As soluções utilizadas no tratamento superficial e branqueamento das fibras foram

preparadas com NaOH (Vetec) e NaClO/H2O, respectivamente. O cardanol usado no preparo

do resol foi obtido do LCC técnico, fornecido pela Amêndoas do Brasil Ltda. A resina Epóxi

(Epikote), obtida comercialmente da Indústria e Comércio de Produtos Químicos – pixiglass.

Os reagentes, Formaldeído (HCHO) (37%), Hidróxido de Amônio (NH4OH) (37%) e DMB

(Benzoato de Etildimetilamina) 99%, todos da Sigma Aldrich.

3.4 Tratamento/branqueamento das fibras de bambu com NaOH

As fibras de bambu foram imersas em uma solução de NaOH nas concentrações

de 5 e10% (p/v) em quantidades suficiente para intumescimento do material. O tratamento foi

conduzido a 65ºC, durante 4 horas, para remoção parcial de ligninas, hemicelulose, graxas e

outros resíduos. Após esse período, as fibras foram lavadas sucessivas vezes com água

destilada até atingir pH=7. Em seguida, as fibras foram secas a temperatura ambiente e

acondicionadas a pressão reduzida para evitar umidade. Após o tratamento prévio, as fibras

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foram imersas em solução de hipoclorito de sódio 1% a 65ºC por um período de uma hora.

Após esse período, as fibras apresentaram um branqueamento diferenciado de acordo com a

concentração de NaOH utilizada e lavadas com água destilada para remoção completa de

NaClO da superfície. As fibras foram secas a temperatura ambiente e acondicionadas a

pressão reduzida para evitar umidade.

3.5 Obtenção do Cardanol

O Cardanol usado no preparo da resina foi obtido a partir do LCC técnico através

da metodologia proposta na literatura [74], com algumas modificações: Em um béquer de um

litro foram adicionados, o LCC (100 mL), metanol (320 mL) e hidróxido de amônio

concentrado (170 mL). A mistura permaneceu sob agitação por 30 minutos, em seguida, a

solução foi transferida para um funil de separação (1000 mL) com o intuito de separar a fase

orgânica da aquosa, empregando hexano (250 mL) como solvente extrator. A fase orgânica

foi lavada com NaOH 2,5% (2 x100 mL), e acidificada com HCl 37% para restabelecimento

dos prótons ( pH=5). O cardanol obtido foi acondicionado à temperatura de aproximadamente

15°C para ser usado posteriormente na síntese do resol. Todas as etapas de separação foram

acompanhadas por cromatografia de camada delgada (CCD). A pureza do cardanol foi

confirmada por CG/EM [74].

3.6 Síntese do pré-polímero do tipo resol

Adicionou-se ao balão de duas bocas, sob agitação magnética, o cardanol, a

solução de formaldeído e hidróxido de amônio, nas proporções1:2:1, respectivamente. O

sistema foi mantido sob refluxo a 80ºC, durante 3 h e 30 min. Ao término do período

reacional o pré-polímero foi extraído utilizando éter etílico. Após extração, a mistura foi seca

com sulfato de sódio anidro e filtrada. O pré-polímero foi armazenado em temperatura de

aproximadamente 15ºC.

3.7 Preparo dos biocompósitos

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3.7.1 Preparação da Resina

Utilizou-se a resina epóxi como agente modificador do pré-polímero, conferindo

lhe maior flexibilidade e adesividade. As resinas epóxi não secam espontaneamente elas

endurecem com o auxilio de um agente reticulador e/ou catalisador (geralmente uma amina)

[75-77], o qual normalmente melhora as propriedades termoendurentes do material final.

Neste trabalhou foi utilizado como catalisador o benzoato de dimetilamina - DMB (uma

amina terciária).

Misturou-se lentamente o resol, a resina epóxi e DMB a fim de se evitar ao

máximo a formação de pequenas bolhas e, conseqüentemente, vacâncias no material durante a

impregnação e cura, nas seguintes proporções (Tabela 2).

Tabela 2-Proporção dos constituintes da resina.

Reagentes Proporção (% p/p) Massa pesada(g) Pré-polímero 93 42 Resina epóxi 100 45 DMB 3 1,35

3.7.2 Impregnação das Fibras

O método utilizado na preparação dos compósitos foi à mistura randômica e

moldagem manual ou hand lay-up. Após a preparação da resina, adicionou-se a mistura

polimérica as fibras de bambu, tamanho 35 mesh (20% da parte em peso da resina), que após

completa homogeneização foi transferida para uma forma de alumínio (160 x 80 x 5 mm)

previamente encerada com um desmoldante natural. O compósito foi mantido a temperatura

ambiente por um período de 48h. A cura completa foi realizada em estufa a temperatura de

130ºC.

3.8 Técnicas empregadas na caracterização das fibras e dos biocompósitos

3.8.1 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

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40

A microscopia eletrônica de varredura foi usada para observar a morfologia

microestrutura da superfície das fibras em seu estado natural e tratadas e as regiões de

interface de interação entre reforço/matriz. Tanto as fibras como os biocompósitos foram

previamente liofilizados e cobertos por um filme de ouro utilizando um equipamento modelo

BALZERS 5CD50. As micrografias foram obtidas em um microscópico eletrônico modelo

DSM 960/Zeiss, com voltagem de aceleração de 20 kV.

3.8. 2 Análise de Difração de Raios-X (DRX)

Análise de Difração de Raios-X das fibras de bambu foram obtidas a uma

temperatura de 300 K, utilizando um difratometro Xpert Pro modelo MPD, com tubo de Co

em 40 kV com raio de 240 mm e 30 mA. Foram utilizados 5s para cada passo de contagem de

tempo e uma faixa de 1°/min na escala de 10º a 50º em 2θ. As fibras de bambu foram

pulverizadas e seus tamanhos selecionados com auxilio de uma peneira analítica (60 mesh).

A fração de cristalinidade das fibras foi determinada pela integração entre as

regiões cristalinas (celulose) e amorfas (ligninas, hemicelulose, extrato, pectinas, ceras, etc.)

sob os picos de difração de raios-X, conforme a equação [78]:

F =( )

x100

Onde, F é a fração de cristalinidade das fibras, Ic e Iam representam a área total presente no

difratograma correspondente as frações cristalina e amorfa, respectivamente.

3.8.3 Análise Termogravimétrica

As curvas termogravimétricas das fibras e dos compósitos foram obtidas em um

equipamento da marca METTLER TOLEDO TGA/SDTA 851e, conduzidas sob atmosfera de

N2 e ar sintético (fluxo de 50 cm3/min), com taxa de aquecimento de 10 °C/min em uma faixa

de temperatura entre (30 – 800 °C). Utilizou-se cadinho de Pt com aproximadamente 5 mg de

amostra à 60 mesh.

(8)

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41

3.8.4 Medidas Dielétricas

As medidas dielétricas foram obtidas em um equipamento “Material Impedance

Analyser”, modelo HP4291A, utilizando um programa de aquisição de dados em uma faixa de

100 Hz a 3 GHz a temperatura de 300K. As fibras foram pulverizados, e seus tamanhos

selecionados com auxílio de uma peneira analítica (Ø = 60 Mesh), compactados em um molde

cilíndrico na forma de discos (Ø = 1,0 cm) e submetidas a uma pressão de 15 MPa. As

amostras foram previamente pintadas com uma tinta de parta e utilizadas como eletrodos de

contato durante a realização das medidas. As propriedades dielétricas na região de microondas

foram deduzidas a partir da geometria das amostras e dos valores de frequência de

ressonância, utilizando o experimento desenvolvido por Hakki e Coleman [79]. A

permissividade, perda dielétrica e a condutividade dielétrica foram calculados de acordo com

as equações 9 e 10 respectivamente.

(9)

onde K representa a permissividade, Cp a capacitância (F), d a espessura (m), εo é a

permissividade no vácuo (8,85 . 10-12 F/m), e A representa a área (m2).

(10)

Onde σ é a condutividade (Ω-1.m-1), f é a freqüência (Hz), εo é a permissividade no vácuo

(8,85 . 10-12 F/m), K é a permissividade e D é a perda dielétrica.

3.8.5 Espectroscopia no Infravermelho

Foram obtidos em um equipamento da marca Perkin Elmer, modelo Ezimer 200,

na região de 400-4000 cm-1. As amostras de fibra de bambu natural e tratadas nas

KDf o 2

AdCpK

o.

.

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42

concentrações de 5 e 10% de NaOH foram previamente secas , misturadas e analisadas em

pastilhas de KBr.

3.8.6 Teste de biodegradação em solo simulado.

O Teste de biodegradação foi realizado no Centro de Engenharia, Modelagem e

Ciências Sociais Aplicadas (CECS) da Universidade Federal do ABC (UFABC), Santo

André, sob a orientação do Prof. Dr. Derval dos Santos Rosa. O solo simulado utilizado nos

testes de biodegradabilidade foi preparado com 23% de Iodo argiloso, 23% de matéria

orgânica (esterco bovino), 23% de uréia e 34% de água destilada (em massa). As fibras foram

pesadas e enterradas em solo simulado a uma temperatura de 297K. A biodegradação foi

monitorada por um período total de 210 dias, através da medida de perda de massa. As

amostras foram removidas do solo a cada 30 dias, lavadas com água destilada, secas a

temperatura ambiente e pesadas. Em seguida, as fibras foram novamente enterradas nos seus

respectivos solos. Os experimentos foram realizados em triplicatas.

3.8.7 Ensaio mecânico

Os corpos de prova para os ensaios de tração foram preparados de acordo com

uma adaptação da Norma ASTM D3039 [80]. As fibras passaram por um processo de

desfibramento, onde 10 fios foram selecionados aleatoriamente, e posicionados com auxilio

de uma cola em um retângulo de cartolina nas dimensões 60 mm x 20 mm 1 mm, contendo

uma janela central de dimensões (40 mm x 10 mm x 1 mm). Os ensaios de tração foram

realizados em 5 corpos de prova para cada amostra em estudo utilizando uma máquina

Instron, Modelo 4433. Os ensaios foram conduzidos a uma velocidade de 0,5 mm/min, com

célula de carga de 100N, e comprimento da fibra de aproximadamente 40 mm.

Os corpos de prova foram ensaiados numa máquina Instron Modelo 4433, com

velocidade de 2 mm/mim. As normas D3039 e ASTM 638 descrevem o ensaio [80,81].

3.9. Caracterização da resina

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43

3.9.1 Análise Reológica

Os estudos reológicos foram realizados em um Rheometer AR2000 (TA

Instruments®) de tensão controlada com uma placa paralela (25 mm superior, 42 mm inferior

e gap de 1000 µm) no Laboratório de Ligantes Asfálticos do Departamento de Engenharia de

Transporte/UFC. Primeiramente a amostra foi pré-cisalhada com taxa de aquecimento de 2

°C/min em uma faixa de temperatura entre (25 – 95 °C), seguido por uma varredura de tempo

sob baixa deformação (0,1%) a fim de estabelecer um histórico conhecido da amostra. A

frequência foi fixada em 1 Hz, tensão de 5 Pa e obtida isotermas de cura do polímero a ( 60,

80, 85, 90 e 95ºC).

3.9.2 Cromatografia de Permeação Em Gel – GPC

As análises de cromatografia de permeação em gel foram realizadas No

laboratório de Polímeros/UFC, utilizando um sistema de colunas de 100 e 500 Å, tolueno

como solvente e padrões de poli(estireno) com massas moleculares de (2960, 11300, 28500,

172000, 219000, e 1010000 g/mol). A massa molar média do polímero foi determinada pelo

método de regressão linear usando as massas molares dos padrões como referência e o

volume de eluição, equação 11.

log푀푤 = 8,6085푉 − 0,5358

(11)

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44

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As propriedades físicas e mecânicas de compósitos reforçados com fibras naturais

dependem da interação dos componentes presentes na região da interface reforço/matriz. A

magnitude dessa interação é melhorada através da modificação da superfície das fibras, cujo

objetivo é aumentar a hidrofilicidade, a dispersão, mobilidade, aderência e o grau de adesão

das fibras.

O método para modificar a superfície das fibras empregadas neste trabalho foi o

da alcalinização. O processo foi escolhido por apresentar excelentes resultados para outras

fibras naturais, que tiveram suas propriedades físicas e mecânicas otimizadas após serem

submetidas ao tratamento alcalino [4, 76,79, 82-87,]. Compósitos reforçados com fibras de

bambu tiveram suas propriedades mecânicas melhoradas, após os diferentes tratamentos com

álcali [87].

De acordo com a literatura [76, 87, 88], a modificação química remove

parcialmente a hemicelulose, lignina, resíduos, graxas solúveis em meio alcalino, provocando

uma diminuição no grau de agregação das microfibrilas, resultando em fibras mais resistentes

para utilização em compósitos. De modo geral, o tratamento químico ao remover

parcialmente os componentes solúveis em solução álcali proporciona um melhor

empacotamento das cadeias de celulose, responsáveis pela fração cristalina da fibra.

O pré-tratamento em fibras vegetais é de extrema importância, uma vez que,

confere uma maior estabilidade nas ligações entre a matriz e o reforço, proporcionando uma

melhor adesão das fibras à resina. [89,90] As condições de tratamento como temperatura,

tempo e concentração das soluções influenciam diretamente nas propriedades eficientes dos

compósitos. São vários os exemplos na literatura [80,81] que reportam a intensificação da

interface agente de reforço/matriz utilizando a alcalinização como o tratamento químico mais

adequado para materiais lignocelulósicos. As figuras 18 ilustram o comportamento das fibras

de bambo antes e após o tratamento químico.

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45

Figura 18-Branqueamento das fibra após tratamento químico: (a) Fibra natural, (b) Fibra tratada com NaOH 5%, (c) Fibra tratada NaOH com 10%.

Fonte: o autor

A Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) foi obtida para análise das

superfícies das fibras de bambu e de seus respectivos biocompósitos, antes e após o

tratamento químico (Figura 19).

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46

Figura 19-Microscopia eletrônica de varredura para a fibra de bambu natural

Fonte: o autor

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47

Figura 20-Microscopia eletrônica de varredura para o compósito reforçado com fibras de bambu natural

Fonte: o autor

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48

Figura 21-Microscopia eletrônica de varredura para a fibra de bambu tratada com NaOH 5%

Fonte: o autor

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Figura 22-Microscopia eletrônica de varredura para o compósito reforçado com fibras de bambu tratada com NaOH 5%

Fonte: o autor

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50

Figura 23 - Microscopia eletrônica de varredura para a fibra de bambu tratada com NaOH 10%

Fonte: o autor

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Figura 24-Microscopia eletrônica de varredura para o compósito reforçado com fibras de bambu tratada com NaOH 10%

Fonte: o autor

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52

A Figura 19 ilustra o comportamento da superfície das fibras em seu estado

natural. Estas apresentam superfícies recoberta com resíduos e ceras vegetais, estruturas

microfibrilares sem cavidade e, portanto, menos expostas ao contado com a matriz polimérica.

As fibrilas mostram-se encobertas por uma camada de material denominado de cutícula,

identificado como cera de origem alifática [76], de natureza incompatível com a maioria dos

polímeros, o que dificulta a adesão entre o agente de reforço com a matriz.

A figura 20 ilustra o compósito reforçado com fibras naturais de bambu, observa-

se que há uma baixa interação com a matriz, evidenciada pela menor exposição microfibrilar

das cavidades. A figura 21 mostra que as fibras, após o tratamento químico com NaOH 5%,

revelou uma ligeira diferença devido à remoção parcial dos componentes não celulósico

como: ceras, pectina, hemicelulose, lignina, etc. Esse tratamento deixa as fibrilas mais

expostas o que aumenta o grau de interação e a adesão entre a fibra e a resina. A figura 23

mostrou uma modificação mais evidente da superfície da fibra após tratamento com NaOH

10%.

De acordo com as imagens apresentadas foi observado que ambos os tratamentos

com NaOH 5 e 10% (Figuras 21 e 23) produziram modificações similares nas fibras, como

aumento na rugosidade superficial, abertura de cavidade mediante a remoção parcial dos

constituintes solúveis em álcali e maior afinidade entre matriz/reforço).

A analise de MEV revelou um maior espaçamento interfibrilar evidenciado por

um maior grau de lixiviação da camada superficial da fibra, deixando-as mais rugosas após

tratadas com NaOH 10%. A perda da camada superficial ocorre mediante a quebra das

ligações que unem as cadeias poliméricas presentes na estrutura da lignina e hemicelulose

devido à sensibilidade ao tratamento alcalino [41, 42, 90].

Com base nestes resultados, observou-se que as fibras submetidas a um

tratamento com NaOH 10%, apresentou uma maior interação com a matriz polimérica

produzindo biocompósitos mais homogêneos, isso ocorre devido a maior exposição das

hidroxilas presentes na cadeia de celulose.

Estudos realizados por Beckermann e colaboradores [38] com fibras de bambu,

usando poli(propileno) como matriz polimérica mostraram que há uma maior interação entre

o agente de reforço e a matriz após o tratamento das fibras com NaOH 10%. Comportamento

semelhante foi observado por Geethmma [41] ao investigar compósitos usando matriz

polimérica de poli(isopreno) reforçado com fibras de coco tratadas com NaOH 10%. O

mesmo resultado foi observado por Esmeraldo e colaboradores [14] ao estudar a interação

entre o agente de reforço e matriz polimérica impregnada com fibra de coco anão.

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53

Os padrões de difração de raios-X das fibras de bambu tratadas com NaOH são

mostrados na Figura 25. Os principais picos observados para todas as amostras de fibras estão

em ângulos de difração em 2θ de 17, 42º; 19, 17º e 26, 52º representando pelos planos

cristalográficos 101,101 e 002, correspondentes a fase cristalina da celulose (ICSD PDF50-

2241).

Figura 24-Difratogramas de raios –X das fibras de bambo: (a) Fibra natural, (b) Fibra tratada com NaOH 5%, (c) Fibra tratada NaOH com 10%.

(a)

(b)

(c)

16 18 20 22 24 26 28 30

Celullose - ICSD 050-2241

Inte

nsid

ade a

.u.)

2

Fonte: o autor

Analisando os difratogramas foi possível observar o aumento nas intensidades

relativas dos picos de difração das regiões características de celulose, em função do

tratamento alcalino. Esse aumento está relacionado com a maior exposição das estruturas de

celulose, refletindo assim, no aumento da cristalinidade das fibras, (Tabela 3).

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54

Tabela 3-Intensidade dos picos difratados.

Fibra Intensidade (u.a) Posição (2θ) Plano (h,k,l)

Natural 469 17,8 101

581 25,5 002

NaOH 5% 488 18,0 101

660 25,5 002

NaOH 10% 517 18,2 101

779 25,9 002

NaOH 15% 471 18,1 101

671 26,0 002

Os resultados estão condizentes com o que foi observado nas micrografias, onde

evidenciou-se que o tratamento químico promoveu modificações nas superfícies das fibras

pela remoção parcial de seus constituintes amorfos. A remoção de lignina, hemicelulose,

resíduos e graxas (caracterizados por serem solúveis em soluções alcalinas) [91], ocorreu

através de reações de desprotonação das hidroxilas presentes em suas estruturas (unidades

fenilpropano presentes na lignina) [89], acarretando por consequência, na redução dos

constituintes amorfos das fibras, o que contribuiu para o aumento da fração cristalina.

A fração de cristalinidade foi determinada pela deconvolução dos picos sob a área

corresponde à fase cristalina da celulose (IC), sob a área total do difratograma que corresponde

ao somatório da área cristalina mais a área amorfa (IC + Iam). Assim, a cristalinidade varia de

acordo com o teor de celulose presente na fibra, (Tabela 4).

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55

Tabela 4-Fração de cristalinidade das vegetais em função do tratamento alcalino.

Fibra Celulose

(%)

Lignina

(%)

Hemicelulose

(%)

NaOH

(%)

Fração de

cristalinidade (%)

Bambu 55-60 32 5

0 22,97 5 45,53

10 48,28 15 42,21

Juta 61-71 12-13 13-20 0 55,51 5 54,19

10 56,38

Sisal 67-78 8-11 10-14 0 60,50 5 69,20

10 66,10

Coco 36-43 41-45 5,7 0 33,74 5 40,94

10 41,41

Na tabela 4 são mostradas as frações de cristalinidade, percentagem de

macrocomponentes das fibras de bambu e de outras fibras vegetais em função do tratamento

alcalino, sob as mesmas condições experimentais. Observou-se que houve um aumento na

fração de cristalinidade das fibras de bambu após o tratamento químico (até 10% de NaOH).

Acima dessa concentração de hidróxido de sódio as intensidades dos picos da região cristalina

começaram a se reduzir indicando a quebra das cadeias das estruturas lineares da celulose,

reduzindo o grau de cristalinidade das fibras. Com base nesses resultados as demais análises

foram realizadas com as fibras tratadas com NaOH nas concentrações 0, 5 e 10%. De acordo

ainda com a tabela 4 percebe-se que as fibras de sisal apresenta maior grau de cristalinidade,

devido ao alto teor de celulose presente nessas fibras.

A Figura 26 a fração cristalina (%) das fibras de bambu e de outras fibras vegetais

após o tratamento com NaOH 10%.

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56

Figura 21-Fração de cristalinidade de fibras vegetais em função dos teores médio de celulose.

40 50 60 70

40

50

60

Teor médio de celulose (%)

Coco

Bambu

Sisal

Juta

Fraç

ão d

e cr

ista

linid

ade

(%)

Fonte: o autor

Estes resultados podem ser explicados através das quantidades dos

macrocomponentes (lignina, hemecelulose e celulose) presente em cada fibra. A remoção

parcial dos constituintes amorfos, após tratamento químico, aumentou a disponibilidade dos

fatores estruturais (fator de escala, maior exposição dos planos cristalográficos, fator de

estrutura) contribuindo para uma maior intensidade dos picos difratados nas regiões

características de celulose, aumentando o grau de cristalinidade.

Com exceção da fibra de sisal, todas as outras fibras estudadas apresentaram

maior fração de cristalinidade quando submetidas ao tratamento alcalino com 10% de NaOH

(Figura 27). Esses dados corroboram com os encontrados na literatura, os quais relacionam a

concentração de álcali com o teor de ligninas presente nas fibras [4, 10,12].

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57

Figura 22-Fração de cristalinidade das fibras vegetais em função da concentração de NaOH.

0 2 4 6 8 1020

30

40

50

60

70

80 Bambu Coco Juta Sisal

Fraç

ão d

e cr

ista

linid

ade

Concentração de NaOH (%) Fonte: o autor

Os principais parâmetros dielétricos, Permissividade (K), Perda Dielétrica (D) e

Condutividade Dielétrica (σ) para as fibras de bambu são mostrados na Tabela 5 a uma

freqüência de 85 MHz. O comportamento desses parâmetros em uma freqüência de 5-110

MHZ são mostrados na figura 28.

Tabela 5-Paramentos dielétricos da fibra de bambu na freqüência de 85 MHz.

Amostra Espessura

(mm) K D

σ

(Ω-1 m-1)x10-7

Bambu natural 1,319 29,11 10,3 0,216

Bambu NaOH 5% 0,962 13,50 12,9 0,105

Bambu NaOH 10% 0,700 12,78 15,4 0,095

Fonte: o autor

A permissividade é determinada pela capacidade de um determinado material

polarizar-se frente a um campo elétrico e, está relacionada com a susceptibilidade elétrica. A

magnitude da polarização depende da natureza do material, forma e de suas estruturas. De

acordo com a grandeza da constante dielétrica é possível prever o comportamento do material

quanto a sua polarização.

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58

De acordo com os dados da tabela 5 observa-se uma diminuição progressiva da

permissividade (K) após tratamento químico. Este resultado pode ser explicado, se

consideramos a remoção de componentes responsáveis pela polarização, como a lignina e a

hemecelulose, reduzindo a capacidade de armazenamento de carga elétrica pelas fibras

tratadas como NaOH 5 e 10%. Esses dados são corroborados pela análise de DRX, que

mostrou um aumento da fração de cristalinidade mediante a remoção parcial da lignina e

hemecelulose, conforme evidenciado no espectro de infravermelho pela ausência das bandas

atribuídas aos grupos (carbonilas e ester) presentes neste componentes.

A perda dielétrica (D) caracterizar-se pela perda de energia devido ao movimento

e orientação dos dipolos elétricos do material. Substâncias sólidas de natureza orgânica que

possuem caráter polar, como celulose, lignina e hemecelulose, a variação de D depende da

composição e da organização estrutural. De maneira análoga, o tratamento químico ocasionou

um aumento na perda dielétrica devido à remoção de materiais responsáveis pela polarização.

A condutividade elétrica nas amostras de fibras é limitada pelo caráter covalente

das ligações intermoleculares com baixa polarização. Considerando natureza dielétrica, os

valores das condutividades obtidas foram baixos e estão de acordo com o tipo de material e

dentro dos valores esperados para materiais de caráter isolante (10-7 a 10-20 Ω-1 m-1). Assim de

forma análoga, os resultados coincidem com os valores obtidos de permissividade, em que

quanto menor o módulo de armazenamento dielétrico menor capacidade de condutividade

elétrica.

De maneira geral o tratamento químico diminui as propriedades dielétricas das

fibras, conforme evidenciado na figura 28, revendo ao mesmo tempo o aumento do caráter

isolante das amostras de fibras após a remoção do responsável pela polarização.

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59

Figura 23-Propriedades dielétricas da fibra de bambu em uma freqüência de 5 – 110 Mz.

-20

-10

0

10

20

30

40

50-0,2

-0,1

0,0

0,1

0,2

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110-5

0

5

10

15

20

(

m-1

)K

CP Natural CP NaOH 5% CP 10% NaOH

D

Frequência (MHz) Fonte: o autor

O comportamento térmico das fibras de bambu também foi investigado. A melhor

definição do início da degradação térmica de um material é dada em função da extrapolação

da temperatura inicial chamada de T(onset) [92]. Este ponto é obtido pela intersecção de uma

tangente traçada entre as linhas de base horizontais superior, inferior e a parte íngreme da

curva sigmoidal caracterizada como o ponto que melhor representa a temperatura de

degradação de um composto (Figura 24).

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60

Figura 24-Perfil de uma curva de perda de massa de decomposição térmica.

Fonte: o autor

As curvas de TG/DTG em atmosfera de nitrogênio (N2) para as fibras de bambu

antes e após tratamento químico são apresentadas na figura 29.

Para todas as amostras foram observadas uma progressiva perda de massa a uma

temperatura inferior a 100ºC associada à perda de água [93]. Apesar de previamente secas a

eliminação total da água foi dificultada pelo caráter higroscópico das fibras.

Os termogramas de TG/DTG da decomposição dos componentes lignocelulósicos (celulose,

hemicelulose e lignina) para as fibras de bambu, antes e após o tratamento químico, em

atmosfera de nitrogênio mostraram somente um pico, para a fibra natural e dois picos, para

fibras tratadas com 5 e 10%.

Na faixa de temperaturas entre 100-400ºC em atmosfera de N2 observou-se uma

perda de massa significativa, relacionada aos eventos principais de 67,30, 64, 83 e 64,90%,

respectivamente, para as fibras de bambu tratado com NaOH nas concentrações de 0, 5 e

10%, correspondentes ao estágio de decomposição térmica dos macrocomponestes da fibra.

Segundo a literatura, os componentes lignocelulósicos das fibras degradam-se em várias

etapas [94, 95]. Hemicelulose entre 240-310ºC, celulose entre 310-360ºC e lignina em um

intervalo de temperatura mais largo (200-550ºC) [93, 96].

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61

Figura 25-Análise Termogravimétrica TG/DTG de fibras de bambu antes e após o tratamento químico em atmosfera de N2.

100 200 300 400 500 600 700 800

20

40

60

80

100

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0-20

0

20

40

60

80

100

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,20

20

40

60

80

100

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

Per

da d

e M

assa

%

Temperatura 0C

Fibra natural

Fibra NaOH 5%

Fibra NaOH 10%

Fonte: o autor

Na figura 30, observa-se ainda que o tratamento químico melhorou a estabilidade

térmica dos materiais devido ao aumento nas temperaturas iniciais de degradação. Percebe-se

um aumento da temperatura inicial de degradação (284 e 291ºC) nas amostras tratadas com

NaOH 5% e 10%, respectivamente, quando comparadas com as fibras no seu estado natural

(275,5ºC). Estudo semelhante realizado por Maheswari e colaboradores [97] mostraram um

aumento da temperatura de degradação inicial nas fibras de tamarindo, após tratamento

químico com NaOH 10% .

Os termogramas de TG/DTG em N2 e ar sintético da decomposição/degradação

dos componentes lignocelulósicos para as fibras de bambu antes e após tratamento químico

mostraram três eventos distintos (Figura 31). Em ambos os ambientes, o evento térmico

principal foi devido à variação na degradação dos componentes lignocelulósicos, já os outros

dois eventos que ocorrem apenas em ar sintético são devido à oxidação desses componentes.

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62

Entre 400-500ºC (ar sintético) houve uma rápida perda de massa, devido à oxidação dos

materiais residuais e formação de cinzas de 6,22, 5,12 e 3,5%.

Figura 26-Análise Termogravimétrica TG/DTG de fibras de bambu antes e após o tratamento químico em atmosfera em ar sintético.

100 200 300 400 500 600 700 800

0

20

40

60

80

100

-1,2

-0,8

-0,4

0,0

0

20

40

60

80

100

-1,2

-0,8

-0,4

0,00

20

40

60

80

100

-1,2

-0,8

-0,4

0,0

Fibra natural

Pe

rda

de M

assa

%

Temperatura 0C

Fibra NaOH 5%

Fibra NaOH 10%

Fonte: o autor

A temperatura inicial de degradação, temperaturas máximas dos picos de

decomposição térmica, perda de massa envolvida e a massa residual a 800ºC (em atmosfera

de o de ar N2 e ar sintético) determinados a partir de TG / DTG (Figura 25 e 26) para fibras

analisadas são apresentados na Tabela 6.

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63

Tabela 6-Parâmetros térmicos obtidos das curvas TG / DTG paras as fibras de bambu em atmosferas de N2 e ar.

Fibra Atmosfera Temperatura

Máxima (0C) Onset/Endset

(°C) Perda de

massa (%)

Resíduo (%)

Natural N2 315 186-232 67,3 22

Ar 270 243-294 66 6,22

NaOH 5% N2 331 284-348 64,8 7,5

Ar 296 270-315 64 4,7

NaOH 10% N2 338 291-354 64,9 26,5

Ar 308 272-324 62 3,5

Fonte: o autor

Não houve diferença significativa na temperatura inicial de degradação das fibras

estudadas nas duas atmosferas. A fibra de bambu tratada com NaOH 10% começou a se

decompor em temperatura mais elevada que a observada para as fibras tratadas com NaOH 5

% e natural . Apesar do aumento da concentração de álcali ter causado um acréscimo na

temperatura inicial de degradação (284-291ºC), nestas condições, houve também uma maior

perda de massa, indicando que o tratamento químico foi o mais apropriado com NaOH 10%.

Este resultado pode ser justificado se a degradação dos componentes amorfos das fibras forem

relacionados à variação global da fração de cristalinidade. As fibras de bambu tratadas com

NaOH 10% apresentaram maior fração de cristalinidade, resultando em uma maior quantidade

de processos de degradação da fase cristalina, justificando assim uma maior perda de massa.

Estes dados corroboram com os demais obtidos até o momento, onde as fibras

também analisadas por termogravimétrica, os melhores resultados apontaram para as fibras de

bambu tratadas com NaOH 10%.

Os espectros de infravermelho possibilitaram observar alterações na composição

funcional das fibras de bambu antes e após tratamento químico (Figura 27). As posições das

bandas e suas correspondentes atribuições funcionais estão de acordo com os valores da

literatura para fibras lignocelulósicas [98-100]. Nestes casos as de maior significância

encontram-se entre 900 a 2000cm-1, mais especificamente para a lignina, com uma banda

entre 1660 a 1739cm-1 (deformação axial característica de grupos C=O), que pode ser

atribuído à presença de éster carboxílico em pectina e cera [63, 100]. Para todas as fibras foi

observado uma banda em 1640cm-1 atribuída a presença de água. Esses resultados corroboram

como o primeiro evento térmico observado a temperaturas inferiores a 100ºC.

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64

Na região espectral entre 1054cm-1 a 1635cm-1, característica de grupamento

presentes na lignina (metoxil, C-O-C, C=C e aromáticos) [101], foi observada uma leve

alteração no espectro do bambu natural (Figura 27a), quando comparado com a fibra de

bambu tratados com soluções de NaOH 5 e 10%, respectivamente (Figura 27b e 27c). Essa

mudança nos espectros sugere que apesar do tratamento alcalino não remover completamente

a lignina, causou alterações nos grupamentos presentes nas superfícies das fibras. Estes

resultados coincidem com aqueles observados na difração de raios-X, onde a área amorfa

(Iam) corresponde principalmente à presença destes componentes nas fibras. O

desaparecimento do pico em torno de 1268cm-1, que representa o estiramento dos

grupamentos C-O presentes na lignina, indica, provavelmente, a remoção parcial desse

componente após o tratamento alcalino [99].

Figura 27-Espectro de infravermelho das fibras de bambu: estado natural (a), NaOH 5% (b) e NaOH 10% (c).

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

Tran

smitâ

ncia

%

Número de onda (cm-1)

(a)

3409 cm -1

(b)

(c)

1640 cm-1

1735 cm-1

Fonte: o autor

Uma diferença significativa entre os espectros das fibras é a presença da banda em

1735cm-1 para a fibra natural, característico do estiramento axial do grupo C=C presentes na

hemicelulose, pectina e ceras. O desaparecimento dessa banda após o tratamento químico

sugere que esses componentes foram parcialmente removidos. Estudos realizados por

Mazzetto e colaboradores [10] impregnando com fibras de sisal relatam a redução no sinal em

1730cm-1 após o tratamento alcalino. Na mesma região espectral Sgriccia e colaboradores.

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65

[100] observaram o desaparecimento do sinal, após o tratamento químico, justifica-se pela

remoção de pectina, hemicelulose e ceras. Oujai e colaboradores [91] também constataram

que o desaparecimento do sinal em 1733cm-1, esta relacionado com a remoção dos

constituintes das fibras após tratamento com soluções alcalinas.

O sinal intenso em 3409 cm-1 foi atribuído a deformação axial das hidroxilas dos

carbonos 2, 3 e 6 da glicose presente na celulose [98], nessa região não se observou mudança

com tratamento químico, o que é justificado e evidenciado nos difratogramas e TG/DTG.

Os testes de biodegradabilidade em solo simulado foram feitos tanto nas fibras

como nos biocompósitos para avaliar o percentual de massa perdidos com o tempo.

Considerando que o tratamento alcalino ocasionou mudança superficial na fibra, espera-se

que a velocidade de biodegradação varie quando comparado com fibras no seu estado natural

e, que esta tendência se estenda também para os biocompósitos. Na figura 28 são

apresentados os gráficos de biodegração tanto para fibras como para os biocompósitos.

O perfil de biodegradação das fibras lignocelulósicas e dos biocompósitos

apresentaram comportamento variado de acordo com o grau de tratamento alcalino. Foi

observado tanto para fibra natural, como para a fibra tratada como NaOH 5% um aumento de

massa inicial nos estágio iniciais do experimento que foi atribuído a fixação de

microrganismo na superfície da fibra [16].

Após 30 dias, as fibras de bambu natural, tratadas com solução de NaOH 5 e 10%

mostraram diferentes grau de biodegradação com a perda de massa de 8,03%, 12,00% e

16,09%, respectivamente. Observou-se ainda, que as fibras sem tratamento foram mais

resistentes à ação dos microrganismos, devido à presença de lignina e hemicelulose, que

causaram uma maior proteção para a fibra. De forma análoga a biodegradabilidade dos

compósitos seguiram a mesma tendência dos testes realizados nas fibras isoladamente, com

índice de perda de massa de 4,95%, 7,84%, 9,10% para os compósitos reforçados como fibra

natural, fibra tratadas como NaOH 5 e 10%, respectivamente, após 120 dias de análise.

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66

Figura 28-Teste de biodegradabilidade das fibras e dos biocompósitos

0 50 100 150 200 250

84

96

108

90

105

Comp. fibra natural Comp. fibra NaOH 5% Comp. fibra NaOH 10%

Per

da d

e m

assa

(%)

Tempo (dias)

Fibra natural NaOH 5%) NaOH 10%

Fonte: o autor

No tecido de planta, a lignina atua como um agente de reforço, tal como cimento,

entre as fibras. A associação entre a lignina e a hemicelulose gera uma barreira de proteção

contra microrganismos invasores. Para as fibras tratadas com 5% e NaOH a 10% foi

observado uma maior perda de peso causada pela biodegradação dos microrganismos. Esta

perda de peso (biodegradação microbiana) foi causada por enzimas produzidas por população

microbiana no solo simulado, sendo que a fibra de bambu tratado com solução de NaOH a

10% foi mais afetada.

Esse aumento na biodegradação da fibra tratada com NaOH 10%, correu devido a

um aumento da área superficial, como se observou no MEV. A remoção parcial de

constituintes da fibra, tais como celulose, hemicelulose, pectina, gordura e lignina bem como

às alterações estruturais que conduzem a um melhor empacotamento das cadeias de celulose,

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67

resultando em um aumento da fração cristalina e manutenção de um excesso de grupos

hidroxilas. Comportamento análogo foi observado para os compósitos suportados com fibra

(tratada e não tratadas).

As fibras de bambu também foram submetidas a ensaios mecânicos para se

verificar as propriedades de tensão (máxima, escoamento e ruptura), percentual de

alongamento, carga de ruptura e módulo de elasticidade (Figura 29).

Figura 29-Perfis das curvas de resistência a tração versos deformação.

Fonte: o autor

Ao contrário de outras fibras lignocelulósicas, o perfil das curvas do ensaio de

tração da fibra de bambu (Figura 29) mostra regiões de escoamento com um comportamento

plástico, característico dos materiais viscoelásticos [102]. Após o tratamento químico, houve

um aumento significativo nas propriedades mecânicas das fibras, resultados compatíveis com

os da literatura [103]. Os resultados de DRX também reforçam o comportamento observado,

onde foi verificado um aumento na cristalinidade da fibra após o tratamento químico, gerando

uma maior resistência do material devido à alta percentagem de celulose [104]. Entende-se,

portanto, que as propriedades mecânicas das fibras estão relacionadas não apenas a

composição química, mas também com sua estrutura interna. A sua utilização em compósitos

altera a densidade do material, o potencial de alongamento e a variabilidade do desempenho

da interação fibra-matriz.

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68

Os resultados das propriedades mecânicas das fibras de bambu testadas são

apresentados na tabela 7.

Tabela 7-Propriedades Mecânicas da fibra de bambo.

Fibra

Tensão Máxima (MPa)

Tensão

Escoamento (MPa)

Tensão Ruptura (MPa)

Carga de Ruptura

(N)

Deformação

(%)

Modulo de Elasticidade

(GPa) Natural 84 79 84 164 2,05 4,1 NaOH 5% 174 140 174 250 4,82 4,6 NaOH 10% 212 177 212 358 3,98 5,3

Fonte: o autor

De acordo com os dados da Tabela 7, verifica-se que a tensão máxima coincide

com a tensão de ruptura para todas as condições das fibras estudadas, o que mostra que o

material não sofre deformação elástica. Ainda de acordo com os dados da tabela 7, pode se

perceber um aumento nas propriedades mecânicas de fibras após o tratamento químico. Para a

tensão de ruptura (carga aplicada por unidade de área no momento da ruptura) houve um

acréscimo 107% e 152% para as fibras tratadas com NaOH 5% e 10%, respectivamente.

Os resultados estão associados com o teor de celulose na fibra de bambu (60%) e

coincidem com os dados de DRX que mostraram o aumento proporcional do grau de

cristalinidade com o tratamento alcalino. Quanto ao módulo de elasticidade (tensão dividida

pela deformação, que mede a rigidez do material, como resultado das forças

intermoleculares), os valores médios obtidos, considerando o conjunto de 10 fios ensaiados,

mostraram que as fibras possuem maior elasticidade, foram aquelas submetidas ao tratamento

com NaOH 10%.

O comportamento reológico do pré-polímero, tensão de cisalhamento (τ),

viscosidade (η), e taxa de cisalhamento ( ) é mostrado na figura 30. Esse diagrama é

chamado de curva de fluxo e de viscosidade [68].

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69

Figura 26-Tensão de cisalhamento, viscosidade em função da taxa de cisalhamento.

0 1 2 3 4 5 6 70

1

2

3

4

5

0

2

4

6

8

10

12

Te

nsão

de

cisa

lham

ento

(MP

a)

Taxa de Cisalhamento (s-1)

Vis

cosi

dade

(MP

a.s)

Fonte: o autor

De acordo com o reograma, a resina apresenta comportamento não newtoniano

com curvas de fluxo e de viscosidade cujos perfis são típicos de líquido pseudoplástico.

Líquidos cuja viscosidade diminui drasticamente com o aumento da taxa de cisalhamento são

chamados de pseudoplástico. Diversas substâncias de elevada importância comercial como

emulsões, suspensões ou dispersões pertencem a essa classe de fluidos [69].

Soluções poliméricas com longas cadeias entrelaçadas e enoveladas como o

polímero resol, quando em repouso matem uma ordem interna irregular. Ao serem ciscalhadas

apresentam uma considerável resistência à força aplicada, com uma alta viscosidade inicial.

Com o aumento da taxa de cisalhamento os entrelaçamentos entre as cadeias são rompidas

permitindo que as moléculas deslizem uma sobre as outras e se orientem na direção do fluxo,

diminuindo assim a viscosidade.

Em baixas taxas de cisalhamento (entre 0 e 0,5 s-1) o material apresentou

comportamento similar a um líquido newtoniano, devido ao movimento browniano das

moléculas que mantém as cadeias poliméricas dispersas aleatoriamente, apesar dos efeitos de

orientação inicial da tensão de cisalhamento. Com o aumento da taxa de cisalhamento surge

um novo fenômeno onde a tensão promove a orientação das moléculas, superando o efeito

aleatório do movimento Browniano. Nesse ponto a viscosidade cai significativamente. Em

taxas de cisalhamento elevadas entre (5 e 6,8 s-1), a viscosidade se aproxima assintoticamente

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70

para um nível finito constante. Nessa região as cadeias poliméricas alcançaram um nível

máximo de orientação e relaxação molecular [105].

Outro termo de grande importância industrial e tecnológico que descreve o

comportamento reológico de fluidos em geral e de materiais poliméricos é a tixotropia. A

principal característica desses líquidos é a diminuição da viscosidade com o aumento da taxa

de cisalhamento, principalmente devido ao alinhamento das cadeias poliméricas na direção do

fluxo, superando o movimento Browniano das moléculas.

Além do potencial de orientação, o polímero apresentou interações moleculares

dependentes do tempo, propiciando que as cadeias criem uma estrutura em rede

tridimensional (chamada de gel) [68]. Em comparação com as forças intermoleculares, essas

ligações, geralmente ligações de hidrogênio (formadas pelas hidroxilas fenólicas) são

relativamente fracas e, se rompem facilmente quando submetidas ao cisalhamento por certo

período de tempo (Figura 31).

Quando a resina é cisalhada a rede tridimensional polimérica se rompe, a

viscosidade diminui com o tempo de cisalhamento até atingir assintoticamente o nível mais

baixo (Figura 31). O nível mínimo de viscosidade descreve o estado de sol do polímero,

também chamada de viscosidade zero [70].

Figura 27-Curva de viscosidade em função do tempo.

0 100 200 300 400 500 600

0

2

4

6

8

10

12

Visc

osid

ade

(MPa

.s)

Tempo(s)

Fonte: o autor

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71

A curva de viscosidade em função do tempo mostrou que entre (40-200s) ocorreu

à transformação do polímero da fase gel para a fase sol, nível mais baixo de viscosidade. A

partir desse ponto, observou-se que a viscosidade independe da taxa de cisalhamento, sendo

possível então identificar a viscosidade zero, nesse caso em 0, 655 MPa.s.

Os módulos elásticos obtidos: modulo de armazenamento (G’), módulo de perda

(G”) e o módulo complexo (G*) em função da temperatura, apresentaram perfis semelhantes

aos gráficos das curvas de fluxo e de viscosidade (Figura 30).

Figura 32-Curva do modulo de armazenamento (G’), módulo de perda (G”) e o módulo complexo (G*).

20 30 40 50 60 70 80 90 100

0

4

8

12

16

20

24

G

' (Pa

) G

'' G

*(M

Pa)

Temperature ºC

Fonte: o autor

O modulo de estocagem ou de armazenamento (G') indica que a energia de tensão

aplicada é temporariamente armazenada durante o teste, porém pode ser recuperada. O termo

G'' refere-se ao módulo de perda e faz alusão ao fato de que a energia usada para iniciar o

cisalhamento é irreversivelmente perdida na forma de calor. Já o módulo completo (G*)

representa a resistência total do material contra uma deformação aplicada. A partir dessas

variáveis é possível obter informações sobre a mobilidade molecular, grau de intercruzamento

e rigidez.

De acordo com o reograma na temperatura de 25ºC o material apresentou aspecto

de rigidez, indicando que as moléculas interagem fortemente por meio de ligações de

hidrogênio, devido aos grupos fenólicos presentes no resol. Essas interações dificultam o

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72

escoamento do material na direção da tensão aplicada. Acima dessa temperatura observou-se

que todos os módulos diminuem bruscamente até atingir valores constantes.

Para a melhor compreensão da cura do polímero e dos processos envolvendo o

grau de intercruzamento das cadeias, fez-se o estudo reológico a temperatura constante

(isoterma). A Figura 33 apresenta o reograma a 95ºC para a resina fenólica, o qual foi o único

que apresentou o fenômeno de gelificação polimérica. Esse ponto foi definido pelo

cruzamento entre o módulo de armazenamento (G') e o módulo de perda (G'') com tempo de

gelificação de aproximadamente 1260s. Antes de ser atingida a gelificação o reograma

apresentou comportamento não Newtoniano, o mesmo foi observado nas curvas de fluxo e de

viscosidade. Este comportamento é característico de resinas de alta massa molecular (2,7 x

106 g/mol), confirmada pela análise de GPC da amostra em estudo.

Figura 283-Reograma isotérmico da resina analisada a 95ºC.

-200 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

0

100

200

300

400

500

600

0

20

40

60

80

100

Ponto de gelificação

n* P

a.s

G' (

Pa)

G" (

Pa)

Time (s) Fonte: o autor

Inicialmente observou-se valores de aproximadamente 18 e 45 Pa para o módulo

de armazenamento e para o módulo de perda, respectivamente (região em que o sistema

possui comportamento não Newtoniano). Ambas as curvas apresentaram comportamento não

linear com rápido crescimento do módulo de armazenamento (G') quando comparado ao

módulo de perda (G''), caracterizando uma mudança brusca do sistema viscoso para um

sistema viscoelástico [107].

Estes comportamentos corroboram com a evolução da curva da viscosidade

dinâmica complexa (η*), caracterizada pelo aumento da densidade do numero de ligações

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cruzadas na rede tridimensional da cadeia polimérica. No inicio da análise observou-se uma

leve inclinação da curva (lento aumento), característica de uma estrutura cujo sistema

polimérico é mais flexível, com um aumento rápido próximo a região de gelificação, onde

ocorreu a transição da resina no estado borrachoso, característico de um sistema viscoelástico

complexo [107].

No inicio da análise o reograma apresentou um valor de viscosidade complexa de

aproximadamente 7 Pa.s, com tempo de gelificação em torno de 1220s. Este valor está muito

próximo da região de cruzamento entre o módulo de armazenamento e módulo de perda.

Apesar da evolução da curva de viscosidade complexa fornecer dados referentes à região de

gel, o presente trabalho adotou o ponto de cruzamento entre G' e G'', pelo fato dos dados

obtidos serem mais precisos, uma vez que envolve dois parâmetros (elástico e viscoso).

Os perfis de viscosidade complexa da resina fenólica durante o processo de cura

em diferentes temperaturas são mostrados na Figura 34. A temperatura mínima de operação

foi fixada em 80ºC, abaixo dessa temperatura a resina não apresentou mudanças nas curvas de

viscosidade complexa durante os processos de reações de cura. A temperatura máxima de

operação foi fixada em 95ºC, devido à limitação instrumental do equipamento. A literatura

reporta que a temperatura máxima de trabalho para esse tipo de polímero deve ser a 100ºC,

pois a água formada durante as reações de policondensação presente na resina provoca

distorção nas medidas de viscosidade complexa durante a evaporação [107].

Figura 29-Isotermas de cura da resina fenólica em diferentes.

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 20000

20

40

60

80

100

80 ºC 85 ºC 90 ºC 95 ºC

n* (P

a.s)

Tempo (s)

Fonte: o autor

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74

Como pode ser observado na Figura 34, o complexo de viscosidade aumenta

bruscamente após atingir a temperatura de cura devido ao inicio dos processos de reticulação.

Além disso, a curva da viscosidade complexa da resina não apresentou inclinação a

temperaturas inferiores a 95ºC, indicando que abaixo dessa faixa de temperatura o polímero

não sofreu alterações cinéticas capazes de iniciar a reticulação.

O aumento da viscosidade complexa durante a isoterma de cura a 95ºC é

resultante da diminuição da mobilidade molecular que aumenta continuamente com o grau de

polimerização [108] (Figura 34). A isoterma mostrou ainda que o crescente aumento na

viscosidade complexa devera atingir a etapa de reticularão sem a diminuição da taxa de cura

da resina fenólica.

A evolução do logaritmo da viscosidade complexa em função do tempo a

temperatura de 95ºC (Figura 35) mostrou um leve desvio na linearidade durante a pré-cura do

material, evidenciado pelo coeficiente de correlação (R=0, 9983). Este pequeno desvio

(0,17%) durante os processos de cura está relacionado com a velocidade de difusão e

diminuição da mobilidade das moléculas entre fases (sol/gel), as quais são responsáveis pelos

processos cinéticos globais. Assim, quanto maior a velocidade de difusão entre fases, maior

será a linearidade do logaritmo da viscosidade complexa.

O estudo global dos processos total de cura da resina foi inviabilizado devido às

limitações instrumentais de análise. Figura 305-Reograma isotérmico do logaritmo da viscosidade complexa (ln n*) em função do tempo.

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0 Dados experimentais Comportamento linear

Ln (n

*)

Tempo (s) Fonte: o autor

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75

Na Figura 36 são apresentados os dados da cromatografia de permeação em gel. A

massa molar polimérica foi obtida por meio da equação 11, cujo valor é 2,7x107g/mol, onde

este resultado sugere polímeros de alta massa molar (Mw >105g/mol) [109].

Figura 31-Dados da Cromatografia de Permeação em Gel do resol.

3 4 5 6 7 8 9 10 11

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

6,5

7,0

LogM

w

Volume de eluição (mL)

Fonte: o autor

Geralmente, polímeros com alta massa molecular apresentam propriedades e

características: maior rigidez entre as cadeias poliméricas, dureza, resistência ao impacto,

elevada temperatura de degradação, baixa reatividade química, baixo coeficiente de atrito,

dentre outras. Essas características possibilitam diversas aplicações industriais e tecnológicas

(fabricação de compósitos estruturais, laminares, isolantes térmicos e elétricos, dentre outras)

que é o caso do polímero resol obtido neste trabalho.

A análise térmica constitui uma importante técnica na caracterização de materiais

poliméricos, pois a estabilidade observada nesses materiais são propriedades físicas

imprescindíveis para possíveis aplicações. Na figura 37 e tabela 8 são apresentadas as curvas

de TG dos compósitos reforçados com fibras natural e tratadas com NaOH 5 e 10% e os

principais estágios de degradação.

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76

Figura 32-Análise Termogravimétrica TG/DTG dos compósitos antes e após o tratamento químico em atmosfera de N2.

100 200 300 400 500 600 700 8000

20

40

60

80

100

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0

20

40

60

80

100

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,00

20

40

60

80

100

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

Fibra natural

Fibra NaOH 5%

Wt %

DTG

(%w

t./m

in)

Fibra NaOH 10%

Temperatura 0C

Fonte: o autor

Os perfis das curvas de decomposição apresentaram os principais eventos de

degradação e suas respectivas perdas de massa. Os valores retratam a influência da

estabilidade térmica dos compósitos [110] mostrando que existem dois principais estágios de

perda de massa (Tabela 8).

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77

Tabela 8-Dados da degradação térmico dos compósitos reforçados com fibra de bambu sob atmosfera de N2.

Fonte: o autor

O primeiro evento de decomposição térmica ocorreu nos intervalos de

temperaturas entre 342,52-433,68ºC, (perda de massa de 81,41%); 324,05-381,15 ºC, (perda

de massa de 26,12%) e 325,29-385,47ºC, (perda de massa 27,83%) para as fibras no estado

natural e tratadas com NaOH 5 e 10%, respectivamente. Esses processos correspondentes a

degradação simultânea da pectina, hemicelulose e celulose [111].

O segundo evento térmico ocorre nas faixas de temperaturas (399,78-449,28;

398,24-450,49ºC), com perdas de massa de 45,93 e 48,09%, respectivamente característico da

degradação do seguimento flexível da matriz. Em temperaturas superiores a 540 ºC ocorrem à

decomposição dos produtos finais das fibras e da matriz polimérica.

Pôde-se observar ainda que houve um leve aumento na temperatura máxima de

degradação (curva da DTG) de 400 para 421ºC para os compósitos reforçados com fibras no

estado natural e tratadas com NaOH 10 %. Estes resultados demonstraram que as

propriedades térmicas dos compósitos reforçados com fibra de bambu melhoraram

consideravelmente após o tratamento químico das fibras.

As propriedades mecânicas do compósito foram avaliadas com relação à

influência do tratamento químico no agente de reforço, fixando as fibras em 20% p/p (Figura

37).

Compósito

Eventos

Temperatura Inicial (ºC)

Temperatura Final (ºC)

Perda de Massa

(%)

Temperatura Máxima (ºC)

Natural 1º 342,52 433,68 81,41 400,00

NaOH 5% 1º 324,05 381,15 26,12

419,00 2º 399,78 449,28 45,93

NaOH 10% 1º 325,29 385,47 27,83

421,33 2º 398,24 450,49 48,09

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Figura 33-Ensaio de tensão do compósito reforçado com fibra de bambu tratada e não tratadas.

0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2

0

5

10

15

20

25

Te

nsão

(MPa

)

Deformação (%)

Bambu NaOH 10%Bambu NaOH 5%Bambu Natural

Fonte: o autor

O comportamento mecânico (rigidez e resistência) de um compósito depende do

tipo de reforço utilizado e, suas propriedades mecânicas estão associadas diretamente a

interação entre o agente de reforço e a matriz polimérica. De acordo com a literatura o

tratamento alcalino promoveu a remoção parcialmente da lignina e hemicelulose

intrafibrilares (regiões das fibras) [12, 112, 113]. Assim, a fibra se torna menos densa e rígida,

permitindo uma maior capacidade das fibrilas de encontrar resistência na direção da tensão

aplicada [103], aumentando dessa forma a resistência à tração, conforme observado para as

fibras possuem um menor teor de lignina e hemicelulose (Tabela 9).

Tabela 9-Dados mecânicos do compósito reforçado com 20% de fibra de bambu em peso.

Compósito Modulo de elasticidade

(GPa)

Tensão de escoamento

(MPa)

Tensão de

ruptura (MPa)

Carga de

ruptura (N)

Tensão máxima (MPa)

Deformação (%)

Natural 0,841 13,4 14,56 437 14,56 1,73 NaOH 5% 1,886 17,26 19,16 575 19,16 1,76 NaOH 10% 1,082 18 21 630 21 1,94

Fonte: o autor

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79

De acordo com os dados da Tabela 9, ocorreu um aumento progressivo nas

propriedades mecânicas dos compósitos reforçados com fibra de bambu após o tratamento

com NaOH, com uma maior significância para carga de ruptura que aumentou em 44,16%

após tratamento com NaOH10%. Estes dados corroboram com resultados observados no

MEV, DRX e TG/DTG onde se constatou que para todos os compósitos estudados os

melhores resultados obtidos foram aqueles em que as fibras foram tratadas com NaOH 10% .

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80

5 CONCLUSÕES

As micrografias eletrônicas de varredura realizadas nas fibras de bambu e nos

biocompósitos revelaram uma mudança na superfície das fibras, caracterizada pelo aumento

na rugosidade, causando um maior espaçamento interfibrilar. A remoção parcial dos

componentes solúveis em solução de álcali tornou a superfície da fibra mais rugosa e mais

exposta para uma maior interação com a matriz fenólica.

A técnica de infravermelho confirmou as alterações superficiais observadas no

MEV, caracterizadas pelo desaparecimento de algumas bandas comuns a lignina e a

hemicelulose. Estas mudanças foram verificadas também em DRX que revelou um aumento

na fração da cristalinidade após o tratamento químico.

Os resultados dos testes de tração das fibras e dos biocompósitos mostraram que

houve um aumento nas propriedades mecânicas após o tratamento químico. A remoção dos

componentes poliméricos não lineares (lignina e hemicelulose) causou uma maior exposição

das estruturas de celulose (polímero linear), resultando em materiais com maior resistência

mecânica.

Analogamente, as análises termogravimétricas revelaram que tanto as fibras

quanto os biocompositos apresentaram estabilidade térmica superior quando comparadas as

fibras no seu estado natural. Em todas as amostras houve um aumento nas temperaturas

iniciais e máximas de degradação, justificadas pela remoção dos componentes não

lignocelulósicos, que degradam a temperaturas inferiores aos macrocomponentes da fibra.

A análise reológica mostrou que a resina apresentou um comportamento não

newtoniano, característico de sistemas viscosos de elevada massa molar, com curva de fluxo

que decaem rapidamente com o cisalhamento. As curvas de viscosidade e os reogramas

mostraram que a transformação do polímero da fase gel para fase sol ocorreu em torno de 4

minutos, com temperatura de gelificação polimérica em torno de 95ºC. Os paramentos de

viscosidade complexa evidenciaram o comportamento de intercruzamento das cadeias bem

como a flexibilidade ocorrida durante os processos cinéticos de cura.

O ensaio de biodegradabilidade em ambos os materiais (fibras e biocompósitos)

revelou que a velocidade com que as amostra são degradadas pelos microrganismos depende

da composição superficial e do grau de tratamento alcalino. A fibra natural apresentou uma

maior resistência ao ataque microbiano, enquanto que as fibras tratadas foram as que mais

degradaram. Estes resultados reforçam o fato de que o tratamento alcalino expõe os

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81

macrocomponentes da fibra, deixando-os mais desprotegidos e suscetíveis ao ataque de

agentes microbiológicos.

A principal diferença no perfil de degradação dos biocompósitos foi a diminuição

no percentual de massa com o tempo de análise. Os resultados sugerem que a matriz

polimérica atua como um invólucro protegendo as fibras de ataque dos agentes externos.

Sendo, portanto, necessário a realização de um estudo detalhado para verificar os efeitos da

matriz polimérica sobre a biodegradação das fibras e dos biocompósitos.

Os resultados apresentados neste trabalho contribuem para uma melhor

compreensão do comportamento, térmico, mecânico, reológico e de biodegradação das fibras,

da resina e dos seus biocompósitos. Além disso, os resultados encorajam para a busca de

novos materiais com multiformes aplicações, incluindo compósitos laminares, compósitos

estruturais, protótipos de coletes balísticos, dentre outros.

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