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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE FÍSICA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇAO EM CIÊNCIAS – FIMAT
Síntese, Caracterização e Estudo da Ferrita de Bismuto dopada com Cobalto e
dopada com Níquel
NAIANE DA SILVA SANTANA
OURO PRETO
2016
2
NAIANE DA SILVA SANTANA
Síntese, Caracterização e Estudo da Ferrita de Bismuto dopada com Cobalto e
dopada com Níquel
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Ciências – Física dos Materiais da Universidade
Federal de Ouro Preto como requisito para obtenção de título
de mestre em Ciências.
Orientador (a): Profª. Drª. Taíse Matte Manhabosco
Coorientador: Prof. Dr. Antônio Claret Soares Sabioni
OURO PRETO – MG
2016
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4
5
“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância ”.
Sócrates
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me permitiu chegar até aqui.
Aos meus pais, que me incentivaram a vir para Ouro Preto e me apoiaram
incondicionalmente.
À minha irmã Neyla, que sempre me ajudou nos momentos difíceis.
À minha amiga Luciena Ferreira, pelos conselhos, pelas palavras de conforto e pela
amizade ao longo dos anos.
À minha amiga Daiandra, pela companhia e ajuda no final desta etapa.
Aos amigos do laboratório de Difusão em Materiais, em especial a Viviane que me
ajudou muito no início da pesquisa.
Aos amigos do Fimat, turma 2014 e a Mariana por todo apoio ao longo desses dois
anos.
Ao meu amigo Anderson Pachoa (Rive-Alegre) que me ensinou a ser mais paciente,
pois de acordo com o mesmo tudo que temos é o agora, então faça-o valer a pena!
À minha amiga Juliana, pelo carinho, amizade e momentos de reflexão ao som do
sertanejo.
Aos meus orientadores Prof.ª Drª. Taíse Matte Manhabosco e Prof. Dr. Antônio
Claret Soares Sabioni pelos conselhos e sugestões ao longo da pesquisa.
Aos professores que me ajudaram nas análises.
Ao Laboratório de Microscopia Eletrônica de Varredura da Redemat (Nanolab), em
especial na pessoa do Ney Sampaio pela colaboração e ajuda.
Ao Laboratório de Cristalografia (LabCri) da Universidade Federal de Minas Gerais.
A Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
apoio financeiro.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão deste trabalho,
muito obrigada!
7
Sumário
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO 14
CAPÍTULO II
OBJETIVOS 15
2.1 – Objetivo Geral 15
2.2 – Objetivo Específico 15
CAPÍTULO III
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 16
3.1 – Origem dos Materiais Magnéticos 16
3.2 – Materiais Multiferróicos 16
3.3 – Propriedades Magnéticas 17
3.3.1 – Curva de magnetização 20
3.3.2 – Magnetismo no ferro, cobalto e níquel 22
3.4 – Ferritas 22
3.5 – Estrutura ABO3 23
3.6 – Ferritas de Bismuto 24
3.6.1 – Ferrita de bismuto dopada com cobalto 25
3.6.2 – Ferrita de bismuto dopada com níquel 26
3.7 – Princípios da Sinterização 26
8
3.7.1 - Pré- Sinterização 26
3.7.2 - Sinterização 26
3.8 – Técnicas de Caracterização de Ferritas 28
3.8.1 – Microscopia Eletrônica de Varredura 28
3.8.2 – Difração de Raios X 29
3.8.3 – Espectroscopia Raman 30
CAPÍTULO IV
MATERIAIS E MÉTODOS 31
4. Métodos Experimentais 32
4.1 – Preparação dos Pós 32
4.2 – Prensagem 34
4.3 – Sinterização 35
4.4 - Caracterização Microestrutural 38
CAPÍTULO V
RESULTADOS 41
5.1 – Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia de Energia
Dispersiva (EDS) 41
5.2 – Difração de Raios-X (DRX) 44
5.3 – Espectroscopia Raman 44
CAPÍTULO VI
CONCLUSÃO 55
REFERÊNCIAS 57
9
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO III
Figura 3.2 Relação entre material ferróico, multiferróico e magnetoelétrico 17
Figura 3.3.1 Representação do ordenamento paramagnético 19
Figura 3.3.2 Representação do ordenamento magnético de materiais ferromagnéticos
19
Figura 3.3.3 Representação do ordenamento antiferromagnético 20
Figura 3.3.4 Representação do ordenamento ferrimagnético 20
Figura 3.3.5 Representação da curva de magnetização ( ) de um material
magnético mole e duro
21
Figura 3.5 Estrutura da perovskita ideal a) cátion A no centro da célula e b) cátion B no centro da célula
23
Figura 3.6 Representação da estrutura cristalina da perovskita BiFeO3 romboédrica ao longo da direção [111]
24
Figura 3.7 Etapas da sinterização a) duas partículas em processo de sinterização, b) Estágio Inicial: formação do pescoço, c) Estágio Intermediário e d) Estágio Final
28
Figura 3.8 Interação entre feixe de elétrons e a superfície da amostra e seus respectivos efeitos devido a esta interação
29
CAPÍTULO IV
Figura 4 Óxidos utilizados na produção das amostras 31
Figura 4.1.1 Balança de precisão Sartorius do DEFIS/UFOP
32
10
Figura 4.1.2 Forno mufla An 1220
34
Figura 4.2 Prensa Uniaxial
34
Figura 4.3.1 Forno do DEFIS/UFOP
36
Figura 4.3.2 Gráfico do ciclo térmico das amostras
36
Figura 4.3.3 Máquina Isomet 1000 do DEFIS/UFOP 37
Figura 4.3.4 Politriz Phoenix 4000 do DEFIS/UFOP 38
Figura 4.4.1 Microscópio Eletrônico de Varredura (NANOLAB/UFOP) 38
Figura 4.4.2 Difratômetro Empyrean do LabCri/UFMG 39
Figura 4.4.3 Espectrômetro Raman (Fonte: UFABC) 40
CAPÍTULO V
Figura 5.1.1 Ferrita de Bismuto (amostra A) com ampliação de 15000X 41
Figura 5.1.2 Análise por EDS da amostra BiFeO3 (A) 42
Figura 5.1.3 Ferrita de Bismuto dopadas com 10% Co (B), 15% Co (C), 25% Co
(D), 10% Ni (E), 15% Ni (F) e 25% Ni (G)
43
Figura 5.1.4 Análise por EDS das amostras dopadas com cobalto a) espectros
sem os elementos do dopante b) espectros com a presença dos elementos do
dopante
44
Figura 5.1.5 Análise por EDS das amostras dopadas com níquel a) espectros
sem os elementos do dopante b) espectros com a presença dos elementos do
dopante
44
11
Figura 5.2.1 Padrão difratométrico da amostra BiFeO3 (A) 45
Figura 5.2.2 Padrão difratométrico da amostra BiFeO3 sinterizada a 830ºC 46
Figura 5.2.3 Padrão difratométrico da amostra BiFeO3 sinterizada a 855ºC 47
Figura 5.2.4 Padrão difratométrico comparativo da amostra B (BiFe0,90Co0,10O3),
C (BiFe0,85Co0,15O3) e D (BiFe0,75Co0,25O3)
48
Figura 5.2.5 Padrão difratométrico comparativo da amostra E( BiFe0,90Ni0,10O3),
F ( BiFe0,85Ni0,15O3) e G (BiFe0,75Ni0,25O3)
49
Figura 5.3.1 Espectro Raman, a temperatura ambiente, da amostra BiFeO3 51
Figura 5.3.2 Espectro Raman, a temperatura ambiente a) amostras dopadas
com cobalto b) comparativos das amostras dopadas com cobalto e BiFeO3
53
Figura 5.3.3 Espectro Raman, a temperatura ambiente a) amostras dopadas
com níquel b) comparativos das amostras dopadas com níquel e BiFeO3
54
LISTA DE TABELAS
3.3 Configuração eletrônica e momento magnético do ferro, cobalto e níquel, adaptada de Rodrigues (2013)
22
4.1 Quantidades de cada óxido para a produção das amostras
33
4.2 Distribuição das dimensões das pastilhas verdes 35
4.3 Dimensões das pastilhas pós-sinterização 37
5.2 Dados cristalográficos das amostras estudadas 50
5.3 Comparação entre os modos Raman (cm-1) obtidos neste trabalho e os
reportados na literatura
52
12
RESUMO
A pesquisa a respeito de materiais multifuncionais levou ao desenvolvimento de
dispositivos eletrônicos e sua miniaturização. Isto também ajudou a resolver
questões e problemas relativos ao consumo de energia, aquecimento. Neste
contexto, nosso principal objetivo é sintetizar a cerâmica BiFeO3 por reação do
estado sólido convencional. BiFeO3 é um dos multiferróicos mais estudados devido
seu potencial de aplicação à temperatura ambiente. Neste trabalho, foram
produzidas BiFeO3 pura, Ferrita de Bismuto dopada com 10,15 e 25% de cobalto e
Ferrita de Bismuto dopada com 10,15 e 25% de níquel. A microestrutura e
caracterização química foram abordadas por meio de microscopia eletrônica de
varredura (MEV), espectroscopia de energia dispersiva (EDS), difração de raios X
(DRX) e espectroscopia Raman. O tamanho dos grãos foram observados entre 2,59
µm e 10,15 µm. A análise DRX nos permitiu identificar as fases secundárias
(Bi2Fe4O9 e Bi25FeO40) geradas durante o processo de síntese. As amostras
dopadas com cobalto apresentaram as fases BiFeO3, Bi12Co0,60O18,80 and CoFe2O4 e
as amostras dopadas com níquel apresentaram as fases BiFeO3,
Bi25FeO40, Fe2,4Ni0,6O4. Foram observados por espectroscopia Raman, 9 modos
Raman dos 13 identificados na literatura.
Palavras Chave: Materiais Multiferróicos, Reação do Estado Sólido, Microestrutura,
Ferrita de Bismuto.
13
ABSTRACT
The research on multifunctional materials has led to the development of
electronic devices and their miniaturization. It has also helped to solve issues on
heating problems and energy consumption. In this context, our main goal is to
synthesise BiFeO3 ceramic by means of solid state reaction. BiFeO3 is one of the
most studied multiferroic due to its potential for applications at room temperature. In
this work, pure BiFeO3, ferrite doped samples 10, 15 and 25% of cobalt and 10,15
and 25% of nickel were produced. The microstructure and chemical characterization
was addressed by means of scanning electron microscopy (SEM), energy
dispersive spectroscopy (EDS), X-ray diffraction (XRD) and Raman spectroscopy.
The observed grain size were in the range between 2,59 µm and 10,15 µm. XRD
analysis allow us to identify secondary phases (Bi2Fe4O9 e Bi25FeO40) generated
during sintering process. The samples doped with cobalt showed BiFeO3,
Bi12Co0,60O18,80 and CoFe2O4 phases meanwhile samples doped with nickel showed
BiFeO3, Bi25FeO40, Fe2,4Ni0,6O4 phases. 9 of 13 Raman modes identified in the
literature were observed by Raman spectroscopy measurements.
Keywords: Multiferroic Materials,Solid State Reaction, Microstucture, Bismuth Ferrite.
14
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de novos materiais tem incentivado o avanço tecnológico
que visa obter a partir destes, múltiplas propriedades em um mesmo material. Neste
sentido tem-se falado em materiais multifuncionais. Os materiais multifuncionais tem
sido o foco de estudo de muitos pesquisadores, principalmente no que diz respeito
aos materiais pertencentes à classe dos multiferróicos, como é o caso das ferritas,
que apresentam simultaneamente propriedades magnéticas e ferroelétricas
(BERNARDO, 2014; PEREIRA, 2009).
As ferritas são materiais cerâmicos magnéticos obtidos a partir da mistura de
óxidos de ferro e outros óxidos. Apresentam diferentes estruturas cristalinas,
composição e aplicações. Suas propriedades tem grande dependência com o
tamanho, porosidade e contorno de grão. Podem ser preparadas por diferentes
técnicas, a saber: reação em estado sólido, coprecipitação, precurso, sol-gel, spray-
drying, freeze-drying, combustão, recristalização vítrea (PEREIRA, 2009).
Dentre as ferritas existentes, nosso enfoque é a Ferrita de Bismuto (BiFeO3)
que tem se mostrado um promissor multiferróico magnetoelétrico (ME) para
aplicações à temperatura ambiente no campo de armazenamento de informações,
spintrônica e sensores. É um material promissor, no entanto as dificuldades de
síntese tem se mostrado um desafio, uma vez que as aplicações comerciais deste
composto ainda não foram consolidadas devido às restrições causadas pelas
impurezas e porosidade gerada pelo processo de síntese (RODRIGUES et al.,
2010). Nesse contexto, o objetivo desse trabalho é produzir a Ferrita de Bismuto por
reação do estado sólido convencional, apresentando as vantagens desse processo.
Além de apresentar e discutir os resultados de medidas de microscopia eletrônica
de varredura (MEV), difratometria de Raios X e espectroscopia Raman que
consistem na caracterização morfológica e química do material.
15
CAPÍTULO II
OBJETIVOS
Neste capítulo são apresentados os objetivos geral e específicos deste
trabalho.
2.1 – Objetivo Geral
Sintetizar e caracterizar a Ferrita de Bismuto, Ferrita de Bismuto dopada com
Cobalto (Co) e Ferrita de Bismuto dopada com Níquel (Ni).
2.2 – Objetivos Específicos
Produzir ferritas magnéticas de composição BiFe1-xCoxO3 e BiFe1-xNixO3 (x=
0,10; 0,15 e 0,25) por reação do estado sólido convencional.
Verificar as fases cristalinas das amostras;
Fazer a caracterização microestrutural e química;
Analisar as mudanças nas propriedades estruturais e morfológica da Ferrita
de Bismuto devido à substituição dos íons Fe3+ por íons de Co3+ e Ni3+.
16
CAPÍTULO III
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Neste capítulo é apresentada a revisão bibliográfica sobre a origem das
ferritas, suas propriedades magnéticas, estrutura, enfatizando no estudo da Ferrita
de Bismuto. Também abordamos sobre o processo de síntese adotado, ou seja,
princípios da sinterização e sua importância na obtenção de cerâmicas magnéticas e
as técnicas de caracterização microestrutural, estrutural e química por Microscopia
Eletrônica de Varredura (MEV), Difração de Raios X (DRX), Espectroscopia Raman,
utilizadas neste trabalho para o estudo da Ferrita de Bismuto e da Ferrita de Bismuto
dopada com cobalto e níquel.
3.1 – Origem dos Materiais Magnéticos
Os materiais magnéticos estão presentes nos mais variados dispositivos
eletrônicos e vem contribuindo para o desenvolvimento tecnológico da sociedade ao
longo dos anos. Os primeiros fenômenos magnéticos observado na natureza
ocorreram na cidade de Magnésia, em que foi encontrada pedras de magnésia,
atualmente conhecida como magnetita (Fe3O4). Porém os primeiros estudos acerca
desse material foi realizado por Tales de Mileto ao observar a atração existe entre as
pedras de magnetita e o ferro. Posteriormente obteve-se a primeira aplicação prática
desse material, com a construção da primeira bússola pelos chineses utilizando a
magnetita como agulha da bússola (SINNECKER,2000). Deste então, estudos sobre
as propriedades magnéticas tem permitido desenvolver novos materiais
multifuncionais com diversas aplicações na indústria eletrônica.
3.2 – Materiais Multiferróicos
Materiais multiferróicos são aqueles que apresentam mais de uma
propriedade ferróica: ferromagnetismo, ferroeletricidade e ferroelasticidade (YUAN et
al., 2006). Na classe dos multiferróicos existem os Materiais Multiferróicos
Magnetoelétrico, ou materiais que apresentam Efeito Magnetoéletrico (ME), ou seja,
materiais com propriedades ferróicas e simultaneamente polarizáveis eletricamente
17
e magneticamente (EERENSTEIN et al., 2006 ). Na Figura 3.1 apresentamos um
esquema representativo acerca da relação entre material ferróico, multiferróico e
magnetoelétrico.
Figura 3.2- Relação entre material ferróico, multiferróico e magnetoelétrico (EERENSTEIN
et al., 2006)
De acordo com a Figura 3.1, temos que os materiais magnetoelétricos
representam uma categoria especial de materiais multiferróicos. Os multiferróicos
ainda podem ser divididos em dois grupos: monofásico e compósito. No monofásico
pelo menos duas propriedades ferróicas têm de estar presente em uma mesma fase,
como é o caso das ferritas. Em compósitos o sistema é multifase, em que cada fase
apresenta uma propriedade ferróica diferente (BERNARDO, 2014).
3.3 – Propriedades Magnéticas
Todo material, seja sólido, líquido ou gasoso apresenta alguma propriedade
magnética. Nesse sentido o magnetismo é uma propriedade intrínseca de qualquer
matéria (CAMILO, 2006).
As propriedades magnéticas dos materiais dependem da estrutura eletrônica
dos átomos que os compõem, pois os momentos magnéticos destes átomos podem
surgir do movimento do orbital do elétron (orbital) ao redor de seu próprio núcleo e do
momento spin do elétron (spin) ao redor de seu próprio eixo. O momento magnético
18
associado ao elétron é conhecido como magnéton de Bohr (B) cuja magnitude é
9,27x10-24 A.m2 .
Para calcular o momento magnético resultante de um átomo deve-se
considerar os elétrons desemparelhados, logo os materiais constituídos de átomos
com camadas eletrônicas totalmente preenchidas não apresentam magnetização
espontânea. A magnetização ( ) de uma amostra é dada pelo somatório de todos
os momentos de dipolo (i) por unidade de volume (V). Sendo N o número de
dipolos por volume, teremos (1):
(1)
As propriedades magnéticas de um material sujeito a um campo magnético
aplicado são caracterizadas pelo comportamento da magnetização. A magnetização
( ) estar relacionada com a indução magnética ( ) e intensidade do campo
magnético ( ) por meio da equação (2), em que é a permeabilidade magnética
do vácuo.
(2)
O comportamento magnético dos diferentes materiais, quando submetidos a
um campo magnético externo ( ), varia de material para material e de acordo com a
resposta destes materiais mediante a aplicação do campo é que se pode classificá-
los em cinco tipos principais de comportamento magnéticos: diamagnético,
paramagnético, ferromagnético, antiferromagnético e ferrimagnético.
Diamagnetismo – Materiais diamagnéticos apresentam momento magnético
apenas quando submetidos a um campo magnético externo. Seu momento
magnético é muito pequeno e com direção oposta à do campo externo aplicado,
assim chamado de magnetismo negativo (SILVA, 2011).
Paramagnetismo – Em materiais paramagnéticos os átomos ou moléculas
tem um momento de dipolo magnético intrínseco e na ausência de um campo
magnético externo, os dipolos estão orientados em diferentes direções, ao acaso
19
(NUSSENZVEIG, 1997) . O paramagnetismo é observado em elementos da família
dos metais de transição, elementos terras raras e dos actinídeos. Abaixo (Figura
3.3.1) está representado o ordenamento paramagnético.
Figura 3.3.1- Representação do ordenamento paramagnético
Ferromagnetismo – É observado no ferro, níquel, gadolínio, cobalto e em ligas
que apresentem estes elementos em sua composição. São materiais que
apresentam magnetismo permanente cujo o momentos de dipolos magnéticos
podem ser espontaneamente alinhados (FARIA; LIMA, 2005). O alinhamento dos
momentos dipolos magnéticos dos elétrons é o que caracteriza o magnetismo
permanente/espontâneo desses materiais. Esse magnetismo se mantém até uma
temperatura crítica, dita temperatura de Curie (Tc 1100 k), pois acima desta
tornam-se paramagnéticos (SANTANA, 2011). Na Figura 3.3.2 temos uma
representação do ordenamento ferromagnético.
Figura 3.3.2- Representação do ordenamento magnético de materiais ferromagnéticos
(SANTANA, 2011)
20
Antiferromagnetismo – Os dipolos magnéticos dos átomos estão alinhados
antiparalelamente, como mostrado na Figura 3.3.3:
Figura 3.3.3- Representação do ordenamento antiferromagnético
Ferrimagnetismo – Materiais que apresentam comportamento ferrimagnético
possuem dois tipos diferentes de íons magnéticos orientados antiparalelo uns aos
outros, no entanto por serem íons com momentos magnéticos distintos a
magnetização resultante não é nula, mas é inferior a do ferromagnetismo (FARIA;
LIMA, 2005). Materiais que apresentam esse comportamento (Figura 3.3.4) são
chamados de ferritas.
Figura 3.3.4- Representação do ordenamento ferrimagnético
3.3.1 – Curva de magnetização
A curva de magnetização ou curva de histerese fornece informações sobre as
propriedades magnéticas dos materiais. Para obter essa curva o material precisa ser
submetido a um campo magnético e conforme esse campo é aumentado chega-se a
21
magnetização de saturação (Ms), ou seja a magnetização máxima que o material
pode chegar, logo alcançada a magnetização máxima qualquer acréscimo no
campo aplicado não tem mais nenhum efeito sobre o material (HALLIDAY et al.,
2009) .
Os materiais ferromagnéticos e ferrimagnéticos são classificados como moles
ou duros de acordo com suas características de histerese (característica de um
material de conservar suas propriedades na ausência de um estímulo) (PEREIRA,
2009). As ferritas, por exemplo, são materiais que apresentam comportamento
magnético do tipo ferrimagnetismo. A propriedade magnética destes materiais se
deve à presença de íons magnéticos, tais como ferro, cobalto, níquel, entre outros,
na sua estrutura (SILVA, 2010). Elas podem ser classificadas tanto como moles ou
duras, dependendo das suas características de histerese.
Materiais magnéticos moles apresentam alta permeabilidade, baixa
condutividade e sua curva de histerese é uma faixa estreita. Materiais magnéticos
duros são muito resistentes à desmagnetização, elevada coercividade e densidade
de fluxo de saturação, sua curva de histerese é uma faixa larga (PEREIRA, 2009).
Na Figura 3.3.5 tem-se uma representação da curva de histerese para um material
magnético mole e duro, em que - densidade de fluxo e - intensidade do campo.
Figura 3.3.5- Representação da curva de magnetização ( ) de um material magnético
mole e duro (CALLISTER, 2008)
22
3.3.2 – Magnetismo no ferro, cobalto e níquel
Átomos como ferro, cobalto e níquel apresentam elétrons desemparelhados
na camada 3d. Desta forma é possível calcular o momento magnético desses
átomos a partir da configuração eletrônica dos mesmos verificando quantos elétrons
estão desemparelhados. Assim, temos que os íons de Fe3+, Co3+, Ni3+ possuem
configuração eletrônica e momento magnético apresentados na Tabela 3.3.
Tabela 3.3 Configuração eletrônica e momento magnético do ferro, cobalto e níquel, adaptada de Rodrigues (2013).
Íons
Configuração
Distribuição eletrônica
Momento
magnético (B)
Fe3+
1s2 2s22p63s23p64s23d6
5B
Co3+
1s2 2s22p63s23p64s23d7
4B
Ni3+
1s2 2s22p63s23p64s23d8
3B
Para calcular o momento magnético resultante de um material, por exemplo,
as ferritas, deve-se verificar os momentos magnéticos dos íons que ocupam o sitio
tetraédricos e os que ocupam o sítio octaédricos da célula unitária.
3.4 – Ferritas
São materiais ferrimagnéticos que apresentam magnetização espontânea
mesmo na ausência de um campo magnético externo. Apresentam diferentes
estruturas cristalinas, dentre elas destacamos a estrutura tipo perovskita (ABO3) que
é a estrutura da Ferrita de Bismuto estudada neste trabalho.
23
As ferritas apresentam inúmeras aplicações nas áreas de spintrônica,
sensores, dispositivos de memórias, entre outras, devido suas propriedades elétricas
e magnéticas. No entanto, essas propriedades variam de acordo com o tamanho das
partículas e o processo de síntese utilizado (RODRIGUES, 2013).
Em geral, são materiais que consistem da mistura de óxido de ferro com
outros óxidos na forma de pós e podem ser preparados por diferentes métodos de
síntese, destacando o método cerâmico ou reação do estado sólido convencional,
utilizado neste trabalho, que consiste na mistura mecânica dos óxidos com
tratamento térmico a elevadas temperaturas (sinterização) (PEREIRA, 2009).
3.5 – Estrutura ABO3
As estruturas ABO3 são também conhecidas como perovskitas. A perovskita
ideal cúbica apresenta fórmula ABO3 em que A é um cátion metálico (cátion maior),
B metal de transição (cátion menor) e O é o oxigênio. Na Figura 3.5, está
representada a estrutura cristalina da perovskita ideal.
Figura 3.5- Estrutura da perovskita ideal a) cátion A no centro da célula e b) cátion B no
centro da célula (TWU e GALLACHER, 1993 apud SILVA, 2010 )
Apesar de a perovskita apresentar simetria cúbica ela pode sofrer deformação
estrutural, tornando-se romboédrica, ortorrômbica, tetragonal, monoclínica, triclínica
(SANTOS, 2015). A mudança na estrutura ocasiona mudanças nas propriedades
físicas (elétricas, ópticas, elásticas, magnéticas). A Ferrita de Bismuto, nosso
24
material de estudo, é um caso de perovskita romboédrica distorcida do grupo
espacial R3c.
3.6 – Ferrita de Bismuto
O composto BiFeO3 com estrutura tipo perovskita exibe comportamento
antiferromagnético à temperatura de Néel (TN = 643 K) e comportamento
ferroelétrico a altas temperaturas, dita temperatura de Curie (TC = 1103 K)
(FREITAS, 2008).
O interesse neste composto é devido ao acoplamento dos parâmetros de
ordem magnética e ferroelétrica que levam ao Efeito Magnetoelétrico (ME), no qual a
magnetização pode ser ajustada ao se aplicar um campo elétrico para controlar as
propriedades magnéticas e vice-versa (FRUTH et al., 2007). Este acoplamento
permite que BiFeO3 possa ser utilizado em aplicações tecnológicas como
dispositivos ferroeletromagnéticos para memória de múltiplo estado (FREITAS,
2008).
A estrutura cristalina da Ferrita de Bismuto está representada na Figura 3.6,
em que a célula tem íons 1A3+ + 1B3+ + 3O2- sendo os íons A ocupados pelo bismuto
(Bi) localizados nos cantos do corpo, os íons B ocupados pelo ferro (Fe) que se
encontram no centro do octaedro e o oxigênio (O) formando o octaedro, localizado
nas fases da célula unitária.
Figura 3.6- Representaçao da estrutura cristalina da perovskita BiFeO3 romboédrica ao
longo da direçao [111] (BERNARDO, 2014)
25
Quanto às propriedades físicas deste material, destacamos:
A polarização elétrica da Ferrita de Bismuto se deve ao deslocamento dos
íons Bi3+ e Fe3+ e O2- ao longo de um determinado eixo [111] (RODRIGUES, 2010).
A ferroeletricidade se deve ao deslocamento dos cátions A ou B dos sítios,
em relação ao octaedro de oxigênio ao longo de uma direção de polarização
(SANTOS, 2008).
Apresenta comportamento ferroelétrico abaixo da temperatura de Curie (TC:
1103 K) e antiferromagnético abaixo da temperatura de Néel (TN: 643 K) (WANG et
al., 2004).
O momento magnético depende da presença de íons desemparelhados na
camada d, além disso, a ocupação deste orbital d pode influenciar na redução da
distorção cristalográfica da ferrita que é necessária para sua ferroeletricidade. Neste
caso o par de elétrons de bismuto é responsável pela ferroeletricidade desta ferrita
(BERNARDO, 2014).
Na busca por melhorar a magnetizaçao da Ferrita de Bismuto tem-se
pensado na substituição do sítio B por outros metais de transição, tais como o
cobalto e o níquel, os quais tem se mostrado promissores candidatos.
3.6.1 – Ferrita de Bismuto dopada com Cobalto
O cobalto (Co) é um metal de transição, brilhante, duro, magneticamente
ativo. Quando utilizado para dopagem de materiais ferroelétricos pode produzir
“perturbações” nas propriedades magnéticas, transições eletrônicas e
ferroeletricidade. Quando dopado em BiFeO3 melhora a magnetização que contribuí
significativamente para o desenvolvimento de dispositivos de armazenamento de
informações, além de provocar modificações na estrutura que podem levar ao
aumento da temperatura do ferromagnetismo , pois o ferro apresenta temperatura de
Curie igual a Tc= 1043 K enquanto o cobalto apresenta Tc= 1388 K. Devido a estas
características pode ser utilizado em dispositivo optoeletrônicos e detectores de
infravermelho (PENG et al., 2012).
26
3.6.2 – Ferrita de Bismuto dopada com Níquel
O níquel (Ni) é um metal branco prateado, brilhante e maleável. Exibe
ferromagnetismo de magnitude menor do que o ferro e o cobalto (SANTOS, 2003). É
um elemento de transição, considerado o principal candidato para melhorar o
ferromagnetismo, na substituição do sitio B em BiFeO3, e quanto maior a
porcentagem de Ni maior a magnetização (ZHAO et al., 2013). Dentre os motivos
que podem contribuir para valorização do ferromagnetismo quando níquel é dopado
em BiFeO3 destacam-se: a troca ferromagnética entre os íons de Fe e Ni que
contribuem para magnetização reforçada; os defeitos que surgem na rede quando Ni
substitui o Fe aumentando a magnetização e provocando a alteração no ângulo de
ligação do Fe-O-Fe (ZHAO et al., 2013).
3.7 – Princípios da sinterização
3.7.1 – Pré- sinterização
É um tratamento térmico que precede a sinterização que tem como objetivo
promover a interação entre os constituintes por interdifusão dos seus íons. Esse
tratamento é feito nas temperaturas entre 700-1000ºC ao ar (BRITO, 2006). A pré-
sinterização constituí um dos fatores determinantes nas propriedades finais da
ferrita, pois promove melhor interação entre os pós, afetando a reatividade do
mesmo, que posteriormente (pó compactado em forma cilindrica) será sinterizado.
3.7.2 – Sinterização
As cerâmicas são materiais frágeis e com alto ponto de fusão e devido a
essas características os métodos de fabricação requerem que quase sua totalidade
seja feita por sinterização. A sinterização é um dos métodos mais antigos de fabricar
cerâmica e consiste num processo físico, ativado termicamente, quando partículas
micrométricas ou submicrométricas encontram-se em estreito contato e a
temperatura é suficientemente alta para provocar a união por fusão de superfícies
adjacentes (CALLISTER, 2008).
A força motora deste processo é a diminuição da energia superficial livre do
conjunto de partículas, que provoca conseqüentemente a diminuição da área
27
superficial total do sistema, ou seja, a capacidade de diminuir a energia superficial
leva o sistema a sinterizar.
O processo de sinterização, de acordo com Chiang et al. (1997) apud Almeida
(2013), apresenta três estágios, a saber:
1- Estágio inicial
As partículas em contato ocasionam a formação do pescoço. Considera-se
que neste estágio a formação do pescoço deve chegar até 20% do raio da partícula.
O crescimento do pescoço ocorre devido aos processos de transportes superficiais.
2- Estágio intermediário
Caracterizado pela densificação do material chegar a cerca de 70 a 90% da
densidade teórica, logo, considerado o estágio mais importante para a densificação
e para determinação das propriedades do pó compactado sinterizado. A rede de
canais vazios ao redor dos grãos contrai-se por difusão de lacunas restando ao final
deste estágio apenas uma porosidade residual, esférica, localizada nos pontos
triplos dos grãos.
3- Estágio final
Este estágio começa quando, em consequência da densificação, os poros
tornam-se isolados, posicionando-se principalmente nas junções entre quatro grãos.
Considerado o estágio cujo processo é lento, comparado com os outros estágios
(FERREIRA, 2006).
O material final obtido neste estágio, a porosidade deve ser inferior a 10% e
apresenta propriedades diferentes das propriedades iniciais com resistência
mecânica maior. Na figura 3.7 estão representados cada um dos estágios descritos
acima.
28
Figura 3.7- Etapas da sinterização (a) duas partículas em processo de sinterização, (b)
Estágio Inicial: formação do pescoço, (c) Estágio Intermediário e (d) Estágio Final (DANIEL,
2009)
3.8 – Técnicas de caracterização de materiais
3.8.1 – Microscopia Eletrônica de Varredura - MEV
A produção e o estudo dos materiais requer que tenhamos maiores
informações possíveis acerca do mesmo. Neste sentido conhecer a microestrutura
de determinado material é requisito fundamental para obtenção de informações e
entendimento sobre a correlação entre microestrutura-defeitos-propriedades e
principalmente compreender posteriormente as propriedades oriundas desta
correlação. Isso pode ser obtido pela microscopia eletrônica de varredura (MEV).
No MEV é utilizado um feixe de elétrons de pequeno diâmetro que irá explorar
a superfície da amostra e transmitir o sinal do detector a uma tela catódica. O sinal
da imagem resulta da interação do feixe incidente com a superfície da amostra
(DEDAVID et al., 2007). O resultado dessa interação gera uma série de radiações
emitidas tais como: elétrons secundários, elétrons retroespalhados, raios X
característicos, elétrons Auger, fótons, etc. Estas radiações fornecem informações
características sobre a amostra como topografia da superfície, composição, arranjo
29
cristalográfico, tamanho de grãos e porcentagens das fases presentes (ALMEIDA,
2003).
Figura 3.8 - Interação entre feixe de elétrons e a superfície da amostra e seus respectivos
efeitos devido esta interação (ALMEIDA, 2013)
As vantagens da utilização do MEV consistem na facilidade de preparação
das amostras, obtenção de imagens tanto de superfícies rugosas quanto polidas,
imagens com aparência tridimensional e fácil interpretação da imagem (DEDAVID et
al., 2007).
3.8.2 – Difração de Raios X
A técnica de caracterização por difração de raios X é utilizada para fazer
análise microestrutural e determinar as fases cristalinas presentes em materiais
cerâmicos (ALBERS, 2002). Os raios X compreendem a região do espectro
eletromagnético cujo comprimento de onda se encontra no intervalo de 0,1 a 1000
nm. Os fótons desse intervalo, quando interagem com os materiais, fornecem
informações estruturais acerca do mesmo.
Ao incidir um feixe de raios X de alta intensidade na amostra este será
difratado pelos planos cristalinos e o ângulo de difração dependerá do comprimento
de onda dos raios X e da distância entre os planos cristalográficos (ALMEIDA,
2003). A difração pode ser entendida a partir da lei de Bragg (equação 3) em que se
30
estabelece a relação entre o ângulo de difração e a distância entre os planos que a
originam e que é característico de cada fase cristalina (ALBERS et al., 2002).
(3)
Mostra a relação, n é a ordem de difração (número inteiro), é comprimento de
onda dos raios X incidentes, d é a distância interplanar e o ângulo de incidência
dos raios X medidos entre o feixe incidente e os planos cristalinos.
3.8.3 – Espectroscopia Raman
A espectroscopia Raman é uma técnica que fornece informações químicas e
estruturais do material (orgânico ou inorgânico), ocorre quando há interação da luz
espalhada com a matéria. É uma técnica muito utilizada, pois apresenta caráter não
destrutivo, constitui uma análise rápida e apresenta simplicidade no uso do
equipamento (SOARES, 2011).
Quando um feixe de luz incide na amostra parte é transmitida, parte é
absorvida e outra parte é espalhada. A luz que é espalhada pode sofrer dois tipos
de interações. Uma em que não há troca de energia entre o fóton e as
moléculas/átomos do material, ou seja, ocorre um espalhamento elástico, chamado
de espalhamento Rayleigh. Outra em que ocorre troca de energia entre o fóton
incidente e as moléculas/átomos do material, logo o espalhamento é inelástico,
conhecido como espalhamento Raman, e é esse espalhamento inelástico que
fornece as informações de composição química e estrutural da amostra (SANTOS,
2013).
Observa-se o espalhamento Raman quando há mudança na freqüência da luz
incidente. Quando a freqüência da luz espalhada for menor do que a incidente,
ocorre espalhamento Stokes e quando a freqüência for maior ocorre espalhamento
anti-stokes. A diferença de energia entre a radiação incidente e espalhada
corresponde à energia de vibração dos átomos da amostra, permitindo saber
também como estes estão ligados (FILHO, 2015).
31
CAPÍTULO IV
Neste capítulo descrevemos os passos adotados para a produção das
amostras, utilizando os óxidos Bi2O3, Fe2O3, Co3O4 e NiO. O método de síntese
adotado foi a reação de estado sólido convencional de fase sólida. Foram
produzidas uma amostra sem dopante (BiFeO3), três amostras com dopante cobalto
e três amostras com o dopante níquel nas proporções de 10%, 15% e 25%.
MATERIAIS E MÉTODOS
As matérias primas utilizadas foram óxido de bismuto (Bi2O3 – 99,975% de
pureza), óxido de ferro (Fe2O3 – 99,945% de pureza), óxido de cobalto (Co3O4 –
99,7% de pureza), óxido de níquel (NiO – 99,998% de pureza) fornecidos pelo
fabricante Alfa Aesar (Figura 4 ). Foram fabricadas amostras a partir da mistura do
óxido de Bi2O3 com Fe2O3 para obter a Ferrita de Bismuto (BiFeO3). Depois de
obtidos os melhores parâmetros (temperatura e pressão) para produzir a Ferrita de
Bismuto sem dopantes, foram fabricadas amostras de Ferrita de Bismuto dopada
com 10%, 15%, 25% de cobalto e 10%, 15%, 25% de níquel.
Figura 4 - Óxidos utilizados na produção das amostras
Bi2O
3 Fe
2O
3
Co3O
4 NiO
32
4. Métodos Experimentais
4.1 – Preparação dos Pós
Para a produção das amostras, foram pesadas quantidades de cada óxido,
descrito acima, para se obter uma amostra de massa aproximadamente de 2 g.
Utilizamos a balança Sartorius (Figura 4.1.1) para fazer as medições, cuja
sensibilidade é 0,01 mg, pertencente ao Laboratório de Difusão de Materiais do
Departamento de Física (DEFIS) na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Figura 4.1.1- Balança de precisão Sartorius do DEFIS/UFOP
Na Tabela 4.1 são apresentadas as quantidades utilizadas de cada óxido na
produção das amostras.
33
Tabela 4.1 Quantidades de cada óxido para a produção das amostras.
Amostra
Fórmula química
Quantidade de reagente para produzir
uma amostra (g)
Bi2O3 Fe2O3 Co3O4 NiO
A BiFeO3
1,46367 0,50134 - -
B BiFe0,9Co0,1O2,98
1,46349 0,451146 0,05039 -
C BiFe0,85Co0,15O2,975
1,46336 0,42604 0,07559 -
D
BiFe0,75Co0,25O2,96
1,46620
0,37798
0,12699
-
E
BiFe0,9Ni0,1O2,98
1,46606
0,45193
-
0,04699
F
BiFe0,85Ni0,15O2,975
1,46726
0,42718
-
0,07056
G
BiFe0,75Ni0,25O2,96
1,46966
0,37754
-
0,11778
Após essa etapa de pesagem, esses óxidos foram então misturados
manualmente por 4 horas e depois submetidos à mistura mecânica por 4 horas.
Para promover melhor interação entre os óxidos, foi realizada a pré-sinterização dos
mesmos, na temperatura de 750ºC por 3 horas no forno mufla An1220 (Figura 4.1.2)
34
Figura 4.1.2- Forno mufla An 1220
4.2 – Prensagem
Após o processo de preparação dos pós, os mesmos foram conformados em
forma de pastilhas cilíndricas, por meio de prensagem, em que o pó foi compactado
em um molde metálico por meio de uma pressão uniaxial de 900 MPa. Essas
pastilhas cilíndricas apresentam espessura entre 0,3 cm e diâmetro de 1,12 cm. Foi
utilizada a prensa da marca Ciola, com capacidade de 10 toneladas, apresentada na
Figura 4.2, localizada no Laboratório de Combustíveis Nucleares do Centro de
Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) em Belo Horizonte.
Figura 4.2- Prensa Uniaxial (ALMEIDA, 2013)
35
Foram medidas a espessura, o diâmetro e a densidade das pastilhas, antes
de serem submetidas ao processo de sinterização, ou seja, foram feita as medidas
das pastilhas verdes. Esses dados são apresentados na Tabela 4.2 para o cálculo
da densidade através da equação (4) em que o volume é o do cilindro.
v
m (4)
Tabela 4.2 Distribuição das dimensões das pastilhas verdes.
Pastilhas
verdes
A B C D E F G
Massa (g) 1,96 1,91 1,93 1,97 1,93 1,95 1,94
Diâmetro (cm) 1,12 1,12 1,12 1,12 1,12 1,12 1,12
Espessura (cm) 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30
Densidade (g/cm3) 6,75 6,58 6,65 6,79 6,65 6,72 6,68
4.3 – Sinterização
As pastilhas verdes mostradas na tabela 4.2 foram sinterizadas em um forno
tubular (Figura 4.1.4) localizado no laboratório de Difusão de Materiais do
Departamento de Física (DEFIS) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). As
amostras puras e dopadas foram sinterizadas a temperatura de 810ºC por 1 hora,
com taxa de aquecimento de 10ºC/min e patamar intermediário em 200ºC por 1 hora
e resfriadas a temperatura ambiente. Essa temperatura de sinterização das
amostras foi escolhida mediante análise de amostras de Ferritas de Bismuto
sinterizadas a diferentes temperaturas e tempos. Foram sinterizadas amostras a
810ºC por 1hora, 830ºC por 1hora e a 855ºC por 5 minutos, todas com patamar
intermediário de 200 ˚C para eliminar a umidade das amostras. Em termos de
densidade e análise de difração de raios X verificamos que a Ferrita de Bismuto
sinterizada a 810ºC apresentou os melhores resultados quanto à densidade,
porosidade e a presença de fases secundárias.
36
Figura 4.3.1- Forno do DEFIS/UFOP
A partir dos parâmetros do processo de sinterização das amostras, obtivemos
o gráfico do ciclo térmico para a obtenção das mesmas (Figura 4.3.2).
Figura 4.3.2- Gráfico do ciclo térmico das amostras a 810ºC
As novas dimensões das pastilhas sinterizadas são mostradas na tabela 4.3.
37
Tabela 4.3 Dimensões das pastilhas pós- sinterização.
Pastilhas sinterizadas
A
B
C
D
E
F
G
Massa (g) 1,96 1,91 1,93 1,97 1,93 1,95 1,94
Diâmetro (cm) 1,09 1,06 1,06 1,06 1,04 1,05 1,08
Espessura (cm) 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30
Densidade (g/cm3) 7,00 7,34 7,42 7,57 7,72 7,50 7,18
Após terem sido sinterizadas, as amostras foram cortadas, lixadas e polidas.
As pastilhas foram cortadas em quatro partes iguais em uma máquina Isomet 1000 –
Precision Saw (Buehler), localizada no laboratório de Difusão em Materiais do
DEFIS/UFOP, como mostra a Figura 4.3.3.
Figura 4.3.3- Máquina Isomet 1000 do DEFIS/UFOP
As pastilhas foram lixadas em lixas metalográficas de 200 mm de diâmetro,
granas 1000 e 1200. Posteriormente, foram polidas em uma politriz semiautomática
tipo Phoenix 4000 Buhler (Figura 4.3.4) localizada no laboratório de Difusão em
Materiais do DEFIS/UFOP.
38
Figura 4.3.4- Politriz Phoenix 4000 do DEFIS/UFOP
4.4 - Caracterização Microestrutural
Após todo o preparo das amostras, descrito no item anterior, passamos para
a etapa de caracterização das mesmas. Utilizamos diferentes técnicas de
caracterização para entender sobre a composição química e microestrutural.
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) – Essa análise foi realizada no
Microscópio Eletrônico de Varredura, modelo Tescan Vega 3 (Figura 4.4.1),
localizado no NANOLAB, Departamento de Engenharia Metalúrgica da UFOP
associado à REDEMAT.
Figura 4.4.1- Microscópio Eletrônico de Varredura (NANOLAB/UFOP)
39
Difração de Raios X – Essa análise foi realizada na Universidade Federal de
minas Gerais (UFMG), no Laboratório de Cristalografia (LabCri). A estrutura
cristalina das amostras foi estudada utilizando o difratômetro Empyrean, que é
um difratômetro multitarefa (Figura 4.4.2). Foi empregando radiação Cu k
(= 0,1540598 nm) na geometria Bragg-Brentano, operando na faixa angular
= 10º - 90º com taxa de 0,0263º/100s.
Figura 4.4.2- Difratometro Empyrean do LabCri/UFMG
Espectroscopia Raman – Foi realizada na Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), no laboratório Nanoespectroscopia (LabNS). Como fonte de
excitação utilizamos um laser de He-Ne (632,8 nm), com potência 17mW, sendo que
apenas 10 mW incidiram sobre a amostra.
40
Figura 4.4.3- Espectrômetro Raman (Fonte: UFABC)
41
CAPÍTULO V
RESULTADOS
Neste capítulo discutiremos os resultados obtidos com a caracterização por
microscopia eletrônica de varredura – MEV com auxílio de EDS, difração de raios X
e espectroscopia Raman.
5.1 – Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia de
Energia Dispersiva (EDS).
Para verificar a morfologia de superfície, a composição e distribuição dos
elementos químicos nas amostras produzidas, utilizou-se MEV e análise EDS. As
microscopias obtidas a partir dos elétrons secundários (SE) forneceram informações
da topografia da superfície da amostra e tamanho médio dos grãos.
A Figura 5.1.1, apresenta a micrografia da superfície de fratura da Ferrita de
Bismuto submetida a uma taxa de aquecimento de 10ºC por minuto até chegar à
810ºC, com patamar intermediário de 200ºC por 1h, resfriadas a temperatura
ambiente.
Figura 5.1.1- Ferrita de Bismuto (amostra A) com ampliação de 15000X
42
De acordo com a Figura 5.1.1 percebe-se a presença de alguns poros na
superfície da amostra e grãos com tamanhos variando de 2,59 µm a 10,15 µm. O
tamanho do grão tem grande influencia na magnetização do material, quanto menor
melhor, porém o tamanho do mesmo depende muito do processo de síntese
(BERNARDO, 2014). A densidade dessa amostra foi de 78% da densidade teórica
(8,96 g/cm3).
A partir da análise EDS, que utiliza um detector de elétrons retroespalhados,
obteve-se informações da composição química da amostra, observando que todos
os elementos que contém a Ferrita de Bismuto encontram-se na amostra, como
apresentado pelo espectro da Figura 5.1.2. O elemento ouro aparece no espectro
porque o mesmo foi depositado sobre a amostra para que se pudesse fazer a
análise.
Figura 5.1.2- Análise por EDS da amostra BiFeO3 (A)
As micrografias das amostras dopadas com óxido de cobalto e óxido de
níquel (Figura 5.1.3) apresentaram grãos heterogêneos com a presença de poros de
tamanho irregulares, sendo que a ferrita dopada com níquel apresentou mais
porosidade.
43
Figura 5.1.3- Ferrita de Bismuto dopadas com 10% Co (B), 15% Co (C), 25% Co (D), 10%
Ni (E), 15% Ni (F) e 25% Ni (G)
A adição de adição de Co3O4 na matriz de BiFeO3 (amostras B, C, D) atua de
forma benéfica na densificação, como relatado por Azough et. al. (2010). Mediante
isso a densidade das amostras dopadas com cobalto em relação à densidade
teórica foi respectivamente 82%, 83% e 84%, para as amostras dopadas com 10, 15
e 25% de cobalto. As amostras dopadas com níquel (E, F e G) apresentaram
densidades de 86%, 84%, 80%, para as dopagens de 10, 15 e 25%,
respectivamente. Verifica-se ainda que a adição de níquel e cobalto provocou uma
diminuição no tamanho de grão das amostras, sendo que as amostras com 25% de
níquel e cobalto apresentam um tamanho de grão médio entre 2,76 µm e 3,73 µm.
As imagens EDS das amostras dopadas com cobalto e com níquel
apresentaram regiões com todos os elementos da composição e regiões com a
ausência dos respectivos dopantes como pode ser observado nas Figuras 5.1.4 e
5.1.5. Isto indica que não houve homogeneidade nas amostras e possivelmente
houve a formação de segundas fases livres de cobalto e níquel.
44
Figura 5.1.4- Análise por EDS das amostras dopadas com cobalto a) espectros sem os
elementos do dopante b) espectros com a presença dos elementos do dopante.
Figura 5.1.5- Análise por EDS das amostras dopadas com níquel a) espectros sem os
elementos do dopante b) espectros com a presença dos elementos do dopante
5.2 – Difração de Raios-X (DRX)
Nessa secção são mostrados os padrões de difração de raios-X
(difratogramas) das amostras de Ferrita de Bismuto e das amostras de Ferrita de
Bismuto dopadas com cobalto e níquel . As fases cristalinas encontradas nas
45
amostras foram identificadas pelo programa X’Pert HighScore e a estrutura cristalina
da fase BiFeO3 foi identificada como romboédrica do grupo espacial R3c, como
reportado na literatura (BERNARDO, 2014; RODRIGUES et al., 2010; EERENSTEIN
et al., 2006). Neste trabalho, sinterizamos ferritas em diferentes temperaturas (810ºC
por 1 hora, 830ºC por 1 hora e 855ºC por 5 minutos) para verificar que fases
apareceriam quando se variava a temperatura e assim definir qual seria a
temperatura para sinterizar todas as amostras. Observamos que para as
temperaturas de 810ºC (Figura 5.2.1) e 830ºC (Figura 5.2.2) as amostras
apresentaram as mesmas fases (BiFeO3, Bi2Fe4O9 e Bi25FeO40). Mas para a
temperatura de 855ºC (Figura 5.2.3) ocorreu o aparecimento de mais fases.
10 20 30 40 50 60 70 80 90
(BiFeO3)
(Bi2Fe
4O
9)
(Bi25
FeO40
)
Inte
nsid
ade
(u.a
)
2 (graus)
Figura 5.2.1- Padrão difratométrico da amostra BiFeO3 (A) sinterizada a 810ºC
De acordo com a Figura 5.2.1 observamos a fase BiFeO3, que queríamos
obter, apesar do aparecimento de duas fases secundárias ou impuras (Bi2Fe4O9 e
Bi25FeO40), que de acordo com Biasotto (2010) e outros autores, a presença dessas
fases são recorrentes devido ao processo de síntese ao qual o material é submetido.
Na literatura há grandes controvérsias quanto à temperatura adequada para
sintetizar esse composto na obtenção da fase pura (BiFeO3), e muitos estudos
46
justificam o aparecimento de fases secundarias devido à volatilização do percursor
Bi2O3, a 825ºC, que resulta em perda da estequiometria do composto (BiFeO3)
levando à formação de fases secundárias (FREITAS, 2008). No entanto, fases
secundárias aparecem para temperaturas abaixo de 825ºC, como reportado por
Stanojevié et al. (2013) que sintetizou por reação de estado sólido, a Ferrita de
Bismuto a 810ºC por 1 h. Porém as discussões acerca da temperatura ideal que se
deve adotar para obter somente a fase pura ainda não está definida, como reportado
por Bernardo (2014).
10 20 30 40 50 60 70 80 90
(BiFeO3)
(Bi2Fe
4O
9)
(Bi25
FeO40
)
Inte
nsid
ade
(u.a
)
2(graus)
Figura 5.2.2- Padrão difratométrico da amostra BiFeO3 sinterizada a 830ºC
A amostra sinterizada a 830ºC apresentou as mesmas fases da ferrita
sinterizada a 810ºC, porém apareceram mais picos da fase secundária Bi2Fe4O9 e as
intensidades relativas foram maiores comparada a 810ºC, indicando uma maior
formação da fase secundária Bi2Fe4O9.
47
10 20 30 40 50 60 70 80 90
(BiFeO3)
(Bi2Fe
4O
9)
(Bi25
FeO40
)
(Bi36
FeO57
)
Inte
nsid
ade(
u.a)
2(graus)
Figura 5.2.3- Padrão difratométrico da amostra BiFeO3 sinterizada a 855ºC
Na Figura 5.2.3, Ferrita de Bismuto sinterizada a 855ºC temos as seguintes
fases BiFeO3, Bi2Fe4O9, Bi25FeO40, Bi36FeO57. A estrutura cristalina da fase BiFeO3
foi identificada como romboédrica do grupo espacial R3m. Isso significa que às
temperaturas acima de 830ºC há o favorecimento da formação de fases secundárias
como vem sendo discutido na literatura (BERNARDO, 2014).
Assim, das três diferentes temperaturas testadas escolhemos a temperatura
de 810˚C para fazer a sinterização de todas as demais amostras.
Na Figura 5.2.4 são mostrados os difratogramas das amostras
BiFe0,90Co0,10O3 (B), BiFe0,85Co0,15O3 (C) e BiFe0,75Co0,25O3 (D) dopadas
respectivamente com 10%, 15% e 25% de cobalto sinterizada a 810ºC.
48
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Amostra B
Amostra D
Amostra C
(BiFeO3)
(Bi12
Co0,60
O18,80
)
(CoFe2O
4)
Inte
nsid
ad
e (
u.a
)
2 (graus)
Figura 5.2.4- Padrão difratométrico comparativo da amostra B (BiFe0,90Co0,10O3), C
(BiFe0,85Co0,15O3) e D (BiFe0,75Co0,25O3)
Comparando os picos das amostras dopadas (BiFe1-xCoxO3) com os picos da
amostra não dopada (BiFeO3), verifica-se pequenas alterações de posição dos
picos que pode ser devido à substituição do cobalto pelo ferro na matriz de BiFeO3.
De acordo a Figura 5.2.4 a adição do dopante Co3O4 (óxido de cobalto)
eliminou a presença das fases secundárias Bi2Fe4O9 e Bi25FeO40 mantendo a fase
BiFeO3 e permitindo o aparecimento de duas novas fases secundárias CoFe2O4 e
Bi12Co0,60O18,80. A amostra D, com concentração de 25% de Co3O4, apresentou mais
picos referentes à fase CoFe2O4. O aparecimento de fases secundárias de óxido de
cobalto indica que nem todo cobalto adicionado à amostra foi incorporado à rede
cristalina do BiFeO3. Alguns trabalhos na literatura tem reportado que a adição da
fase CoFe2O4 tem melhorado as propriedades magnéticas (TYAGI et al., 2014).
Sone et al. (2012) verificou uma melhora no comportamento magnético do BiFeO3
através da adição de nanopartículas de CoFe2O4 na matriz de BiFeO3.
49
O difratograma das amostras dopadas com NiO (óxido de níquel), Figura
5.2.5, apresentaram além da fase pura as fases Bi25FeO40 e Fe2Ni0,6O4. Isso significa
que a dopagem com NiO eliminou apenas a fase secundária Bi2Fe4O9 e deu origem
a outra fase Ni0,60Fe2,4O4.
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Amostra G
Amostra G
Amostra F
Amostra E
(BiFeO3)
(Bi25
FeO40
)
(Ni0,6
Fe2,4
O4)
Inte
nsid
ad
e (
u.a
)
2 (graus)
Figura 5.2.5- Padrão difratométrico comparativo da amostra E (BiFe0,90Ni0,10O3), F
(BiFe0,85Ni0,15O3) e G (BiFe0,75Ni0,25O3)
Os difratogramas das amostras E (BiFe0,90Ni0,10O3), F (BiFe0,85Ni0,15O3) e G
(BiFe0,75Ni0,25O3) (Figura 5.2.3) pode-se verificar que à medida que aumenta a
concentração de Ni, a fase Ni0,6Fe2,4O4 aumenta e a fase Bi25FeO40 também.
Comparando o difratograma do BiFeO3 com o difratograma das amostras dopadas
com níquel, pode-se observar pequena alteração na posição dos picos que pode ser
devido à incorporação de Ni à matriz BiFeO3.
As informações cristalográficas das amostras estudadas são apresentadas na
Tabela 5.2.
50
Tabela 5.2 Dados cristalográficos das amostras estudadas.
Amostras
Fases Cristalinas
Parâmetros Cristalográficos
Sistema Cristalino
Grupo Espacial
A
BiFeO3
Bi2Fe4O9
Bi25FeO40
Romboédrica
Ortorrômbica
Cúbica
R3c
Pbam
I23
B
BiFeO3
Bi12Co0,60O18,80
CoFe2O4
Romboédrica
Cúbica
Cúbica
R3c
I23
Fd-3m
C
BiFeO3
Bi12Co0,60O18,80
CoFe2O4
Romboédrica
Cúbica
Cúbica
R3c
I23
Fd-3m
D
BiFeO3
Bi12Co0,60O18,80
CoFe2O4
Romboédrica
Cúbica
Cúbica
R3c
I23
Fd-3m
E
BiFeO3
Bi25FeO40
Fe2,4Ni0,6O4
Romboédrica
Cúbica
Cúbica
R3c
I23
Fd-3m
F
BiFeO3
Bi25FeO40
Fe2,4Ni0,6O4
Romboédrica
Cúbica
Cúbica
R3c
I23
Fd-3m
G
BiFeO3
Bi25FeO40
Fe2,4Ni0,6O4
Romboédrica
Cúbica
Cúbica
R3c
I23
Fd-3m
51
5.3 – Espectroscopia Raman
A espectroscopia Raman fornece informações vibracionais e estruturais do
material em questão. Neste sentido, foram analisados os espectros Raman das
amostras de BiFeO3 pura, BiFeO3 dopada com cobalto e BiFeO3 dopadas com
níquel.
Na figura 5.3.1 é mostrado o espectro Raman da amostra BiFeO3 pura . De
acordo com a teoria de grupos são previstos 13 modos Raman ativos para o cristal
BiFeO3 de estrutura romboédrica, grupo espacial R3c (RODRIGUES, 2010). Alguns
autores, como Yang (2008) identificaram 12 modos Raman (4A1 + 8E), Fukumura
(2006) e Kothari (2007) 13 modos Raman (4A1 + 9E), Rodrigues (2010) 11 modos
Raman (4A1 + 7E) e Yuan (2007) identificou 9 modos Raman (3A1+ 6E) para BiFeO3
.
Figura 5.3.1- Espectro Raman, a temperatura ambiente, da amostra BiFeO3
Na Tabela 5.3 é apresentado um comparativo entre os modos Raman
encontrados neste trabalho com os reportados na literatura acima citada.
52
Tabela 5.3 Comparativos entre os modos Raman (cm-1) obtidos neste trabalho e os reportados na literatura.
Modo
Raman
(cm-1)
Este
trabalho
Yang
et al.
(2008)
Fukumura
et al.
(2006)
Kothari et al.
(2007)
Rodrigues
(2010)
Yuan
et al.
(2007)
A1-1 143 139 147 135,15±1,38 147 152,6
A1-2 172 172 176 167,08±0,34 172 177,5
A1-3 227 217 227 218,11±0,45 198 224,2
A1-4 471 470 490 430,95±16,69 425 -
E - 262 265 255,38±0 272 270
E 281 275 279 283,0±0 320 298,8
E 344 307 351 351,55±8,66 352 354,9
E - 345 375 321,47±3,76 - -
E 440 369 437 467,6±2,46 437 473,3
E 520 429 473 526,22±2,57 550 554,3
E 621 521 525 598,84±1,99 637 618,3
E - 613 77 71,39±0,11 - -
E - - 136 98,36±3,11 116 -
Os espectros Raman das amostras dopadas com 10%, 15% e 25% de cobalto
(Figura 5.3.2) apresentaram variação da intensidade dos picos em relação ao
BiFeO3. As amostras dopadas com 10% e 15% apresentaram mesmo deslocamento
em 143 cm-1 , para o primeiro pico A1-1, e a amostra dopada com 25% apresentou
pico com deslocamento em 137 cm-1. Todas as amostras dopadas apresentaram
mudança no deslocamento do segundo pico (176 cm-1) em relação a BiFeO3 (172
cm-1). No entanto há uma similaridade nos deslocamentos dos picos entre 400 cm-1
a 900 cm-1.
53
Figura 5.3.2- Espectro Raman, a temperatura ambiente a) amostras dopadas com
cobalto b) comparativos das amostras dopadas com cobalto e BiFeO3
Os espectros Raman das amostras dopadas com 10%, 15% e 25% de níquel
(Figura 5.3.3) apresentaram redução na intensidade do primeiro pico (143 cm-1) em
relação ao segundo (172 cm-1), mostrando um comportamento diferente do espectro
de BiFeO3 em termos de intensidade. Segundo Singh (2015) ocorre diminuição dos
picos E-1, A-1, A-2 e A-3. Além disto, observa-se alargamento dos picos devido a
vibrações Bi-O. Porém os deslocamentos desses picos (143 cm-1 e 172 cm-1 ) em
54
ambos os espectros se mantiveram iguais. Picos acima de 250 cm-1 apresentaram
pequenas diferenças nos deslocamentos Raman.
Figura 5.3.3- Espectro Raman, a temperatura ambiente a) amostras dopadas com
níquel b) comparativos das amostras dopadas com níquel e BiFeO3
Em resumo, os espectros Raman das amostras dopadas apresentaram
mudanças nas intensidades dos primeiros picos em relação à Figura 5.3.1, bem
como variação no deslocamento dos picos principais.
55
CAPÍTULO VI
CONCLUSÃO
Neste trabalho foram produzidas cerâmicas magnéticas pelo método
convencional do estado sólido em que se adotou parâmetros como pressão,
temperatura, tempo de sinterização diferentes dos reportados na literatura para
obtenção deste material. Podemos concluir:
As cerâmicas magnéticas foram sinterizadas a 810ºC por uma hora e
prensadas a 900 MPa. Dessa forma, obtivemos densidades entre 78% e 86%
referente à densidade teórica (8,96 g/cm3).
Os tamanhos dos grãos das amostras variaram de 2,59 µm a 10,15 µm, ou
seja, o material apresentou bons resultados quanto a propriedade
microestrutural que tem forte dependência com tamanho do grão, contorno do
grão e porosidade, que por sua vez, são fatores que influenciam no
desenvolvimento de dispositivos eletrônico que requerem maior miniaturização
e melhor funcionalidade.
Por difração de raios X obtivemos Ferrita de Bismuto (BiFeO3 ) com a
presença de fases secundárias Bi2Fe4O9 e Bi25FeO40. As ferritas dopadas
com cobalto apresentaram as fases Bi12Fe0,60O18,80, CoFe2O4, BiFeO3 e as
ferritas dopadas com níquel apresentaram as fases Bi25FeO40, Fe2,4Ni0,6O4,
BiFeO3 . Isso implica que o método de síntese adotado foi efetivo para
obtenção dessa cerâmica magnética, entretanto não preveniu a formação de
segundas fases que são maléficas para as propriedades elétricas e
magnéticas.
Conseguimos identificar 9 modos Raman ativos para BiFeO3 dos 13 modos
Raman previsto para este cristal.
Em resumo, conseguimos sintetizar e caracterizar a Ferrita de Bismuto. A
síntese por reação do estado convencional mostrou-se uma técnica efetiva para
obtenção de BiFeO3 , além de ser viável, prática e de baixo custo. Porém cabe
56
lembrar que as ferritas fabricadas não são puras (contem fases secundárias) como
reportado na literatura (RODRIGUES, 2010; BERNARDO, 2014; FREITAS, 2008;
STANOJEVIÉ et al., 2013).
Perspectivas futuras
Pretendemos fazer a caracterização magnética dessas amostras e observar
As propriedades ferroelétricas e magnéticas das mesmas;
As propriedades magnéticas das amostras quando dopadas;
O efeito magnetoelétrico do BiFeO3.
57
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