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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE GRADUAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA
VANIA SANTANA ALVES ANDRADE
REFLEXÕES SOBRE AS DIFICULDADES DE
LEITURA E ESCRITA NO SUPOSTO TDAH
Salvador - Bahia
2017
VANIA SANTANA ALVES ANDRADE
REFLEXÕES SOBRE AS DIFICULDADES DE
LEITURA E ESCRITA NO SUPOSTO TDAH
Trabalho de conclusão de curso de graduação em
Fonoaudiologia, Instituto de Ciências da Saúde,
Universidade Federal da Bahia, como requisito para
obtenção do grau de Bacharel em Fonoaudiologia.
Orientadora: Profa Dra. Elaine Cristina de Oliveira
Salvador - Bahia
2017
RESUMO
Este estudo teve como objetivo compreender qual a relação que a literatura estabelece
entre o suposto TDAH e dificuldades de leitura e escrita. Trata-se de um estudo de revisão crítica
de literatura, realizada a partir da análise de publicações de artigos nas bases de dados Scielo e
portal Capes, no período de 2002 a 2017. Os descritores utilizados para busca foram “Transtorno
do déficit de atenção e hiperatividade and dislexia, disgrafia, disortografia”. Foram encontrados
296 artigos e após análises dos dados com base nos critérios de inclusão e exclusão pré-definidos,
foram selecionados um total de 08 estudos, nos quais haviam alguma descrição das dificuldades
de leitura e escrita associadas ao TDAH. Foram analisadas as seguintes categorias: dificuldade de
leitura, dificuldade de escrita, formas de avaliação. Na análise dos dados, as dificuldades de
leitura foram citadas como alteradas no TDAH, mas não foram detalhadas em nenhum dos
artigos. Quanto as dificuldades de escrita, foram mencionadas dificuldades relacionadas
prioritariamente às questões ortográficas e ao formato da letra. Já as formas de avaliação
predominantes foram: ditados e testes padronizados. Conclui-se que estes estudos reduzem as
dificuldades de leitura e escrita da criança com TDAH ao código e a seu aspecto motor.
Palavras-chave: Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, dislexia, disgrafia.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO. ................................................................................................................ 5
2. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 7
2.1 Objetivo geral. ....................................................................................................... 7
2.2 Objetivos específicos. ............................................................................................ 7
3. METODOLOGIA. ............................................................................................................. 8
4. RESULTADOS .................................................................................................................. 9
5. DISCUSSÃO. ................................................................................................................... 13
Sobre as dificuldades de leitura. .............................................................................. 14
Sobre as dificuldades de escrita. .............................................................................. 16
Sobre o modo de avaliação. ...................................................................................... 18
Sobre a comorbidade TDAH e TA. ......................................................................... 20
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 22
REFERÊNCIAS. .......................................................................................................................... 23
ANEXO 1 – PROJETO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ......................... 27
APÊNDICE 1. .............................................................................................................................. 53
5
1. INTRODUÇÃO
O chamado Transtorno do Déficit de Atenção (TDA) tem suas origens em meados do
século XIX com a apresentação dos achados pela literatura médica, sendo este apresentado pela
primeira vez em 1980, no DSM1 III, e subdividido em TDA com hiperatividade e sem
hiperatividade. Apenas na revisão do DSM, em sua quarta edição, passou-se a utilizar o termo
TDAH (ROHDE, BARBOSA e TRAMONTINA, 2000). Este, atualmente, é considerado o
diagnóstico psiquiátrico mais comum na infância e possui três categorias principais de sintomas:
desatenção, impulsividade e hiperatividade (BRZOZOWSK e CAPONI, 2009). O diagnóstico é
unicamente clínico e feito através de classificações e relatos de terceiros (pais, professores,
cuidadores) ao profissional de saúde.
Normalmente a suspeita de TDAH ocorre com o ingresso da criança na escola. Quando se
depara com as regras rígidas de disciplina e comportamento, a criança que demora a aceitar, ou
simplesmente não aceita essas limitações, torna-se um problema em sala de aula. É no âmbito da
educação formal que os limites são testados e, a partir desse tradicionalismo da alfabetização,
iniciam-se as inferências de rótulos e adoecimento compulsório (VIÉGAS e OLIVEIRA, 2014).
Mesmo sendo estudado há muito tempo, o diagnóstico e o tratamento do TDAH ainda é
muito polêmico, pois não há consenso na literatura de base científica. As principais críticas ao
diagnóstico são feitas pelos estudos sobre a medicalização2 da vida e da sociedade. Escudeiro
(2002) relata em seus estudos que não existem exames de imagens ou de taxas hormonais que
comprovem um desvio de atividade neural nos indivíduos diagnosticados com TDAH. Para a
autora, há uma utilização arbitrária deste termo ao se relacionar o comportamento infantil
hiperativo e desatento, como desviante/transtornado (ESCUDEIRO, 2002).
Estando expostas ao ambiente regulamentador e estanque das escolas, as crianças mais
agitadas, quando apresentam qualquer dificuldade com a leitura e/ou a escrita, são facilmente
apontadas como portadora de distúrbios de aprendizagem, comportamento ou ambos (CIULIK,
2013). No momento em que é necessário apresentar uma uniformidade na obtenção dos
1 DSM-III. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 1997.
2 O Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade (2013) conceitua que a medicalização é o
processo perverso que ignora questões de ordens sociais, econômicas, políticas e de outras naturezas da coletividade
e as transformam em desordem individual e biológica, que precisa ser tratada.
6
resultados da turma, o professor se vê “obrigado” a encontrar uma situação que justifique o atraso
ou a falta de determinada competência na criança, e o caminho mais curto é atribuir tal situação a
ela mesma ou a uma entidade nosológica – o TDAH, no caso (ESCUDEIRO, 2002).
Na literatura pesquisada, até o momento, encontramos estudos que sugerem uma relação
entre o TDAH e a dificuldade de leitura escrita, no entanto, essa relação não é clara. Os estudos
apontam a desatenção e o “problema” de comportamento como interferência negativa no
processo de aprendizagem dentro da sala de aula, especialmente, da leitura e da escrita (LIMA et
al, 2006). No entanto, não fica claro quais dificuldades de leitura e escrita podem ser atribuídas
ao suposto TDAH e quais as características dessas dificuldades.
Do nosso ponto de vista, este estudo trata de um tema bastante atual e polêmico. E pode
ajudar a compreender melhor essa suposta relação entre o suposto TDAH e as dificuldades de
leitura e escrita, na medida em que, a leitura e escrita parecem estar reduzidas a uma questão
meramente orgânica.
7
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Este estudo teve como objetivo geral analisar como a literatura compreende as
dificuldades de leitura e escrita em crianças com o suposto TDAH.
2.2 Objetivos Específicos
Identificar e caracterizar quais as dificuldades de leitura e escrita estão
relacionadas ao suposto TDAH;
Analisar como tais dificuldades foram avaliadas;
Compreender a natureza das dificuldades elencadas nos estudos.
8
3. METODOLOGIA
No que se refere ao tipo de estudo, esta pesquisa se caracteriza como revisão crítica
da literatura, que é um tipo de estudo nos quais os autores reúnem, analisam e condensam as
informações disponíveis na literatura, sem que necessariamente siga uma metodologia pré-
definida. A revisão crítica da literatura, conhecida também como revisão passiva, pode ser
desenvolvida sobre variados temas (MANCINI e SAMPAIO, 2006).
Para este estudo realizamos uma pesquisa bibliográfica de artigos científicos
publicados na íntegra. Os artigos foram selecionados considerando como critérios de
inclusão a publicação nos últimos 15 anos (2002-2017), utilizando os seguintes descritores:
“Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade and dislexia and disgrafia and
disortografia”. Todos cruzados entre si, com abordagem voltada às crianças em idade
escolar e escritos em língua portuguesa. Foram excluídos todos os artigos que não se
enquadraram na temática proposta do trabalho a partir da leitura dos resumos e artigos em
língua estrangeira. Foram excluídos artigos que apenas citaram a presença de dificuldades de
leitura e de escrita e que não realizaram nenhum tipo de avaliação ou caracterização desses
aspectos.
A pesquisa bibliográfica deu-se através da busca em plataformas virtuais como:
Scielo Brasil (Scientific Electronic Library on Line) e Periódicos Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
O processo de revisão iniciou-se com a pré-seleção dos artigos, conforme adiantamos,
através da leitura dos resumos. Os artigos pré-selecionados foram tabulados e salvos em
plataforma pessoal. A seleção e organização foram feitas a partir da pergunta de investigação.
Após a coleta todos os artigos incluídos no estudo foram lidos na íntegra e, então,
categorizados em uma tabela Word® na qual constavam as seguintes informações
identificadas nos estudos sobre crianças com TDAH: as dificuldades de leitura, escrita e as
formas de avaliação da leitura e da escrita.
A análise de dados foi realizada a partir do referencial teórico que tem como base os
estudos sobre as dificuldades no processo de aquisição de leitura e escrita numa perspectiva
linguístico/discursiva e não patologizantes.
O presente estudo foi realizado de acordo com a Resolução do Conselho Federal de
9
Fonoaudiologia nº 305/2004 que regulamenta os princípios éticos gerais da profissão de
fonoaudiólogo e a partir da resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que aprova
as diretrizes e normas que regulamentam as pesquisas realizadas com seres humanos.
Como esta pesquisa não envolveu seres humanos, não foi submetida ao Comitê de
Ética em Pesquisa, contudo mantivemos um posicionamento ético sobre os estudos já
publicados com o tema, respeitando essas pesquisas e propondo uma nova discussão sobre o
assunto.
4. RESULTADOS
Após a busca dos artigos nas bases de dados citadas, que tematizassem sobre o TDAH e
as dificuldades de leitura e escrita neste suposto transtorno, foram encontrados 296 artigos, que
passaram pelos critérios de elegibilidade e foram dispostos conforme a Tabela 01.
Tabela 01: Processo de seleção de artigos nas bases de dados Scielo e Portal Capes.
Descritores utilizados Base de dados Estudos
encontrados
Estudos
incluídos
Estudos
excluídos
Scielo 26 5 21
Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade
and Dislexia; Disgrafia;
Disortografia
Capes
270
3
267
Total 296 8 288
Dentre os 296 artigos identificados, apenas 08 estudos foram incluídos na amostra por
abordarem conteúdos relacionados aos objetivos deste estudo: o TDAH e às dificuldades de
leitura e escrita relacionadas a este suposto transtorno, conforme critérios mencionados na
metodologia deste estudo.
Após a seleção, os estudos foram categorizados de acordo com: autores e ano de
publicação, título do artigo, caracterização das dificuldades de leitura, caracterização das
dificuldades de escrita e formas de avaliação da leitura e da escrita (Apêndice 1).
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Dentre os 8 artigos encontrados pode-se observar que:
1) 04 dos artigos (ALVES, CASELLA E FERRARO/2016, SIQUEIRA E GURGEL-
GIANNETTI/2011, CAPELLINI, FERREIRA, SALGADO E CIASCA/2007,
ANDRADE, ANDRADE E CAPELLINI/2014) mencionam que crianças com
TDAH apresentam dificuldades de leitura, sendo que nenhum deles descrevem tais
dificuldades;
2) 06 dos artigos mencionam que crianças com TDAH apresentam dificuldades de
escrita, e 04 descrevem tais dificuldades;
3) 03 artigos utilizam como forma de avaliação ditado balanceado, 04 artigos
utilizam testes;
4) 01 dos artigos aponta que as dificuldades de leitura e escrita são características do
Transtorno de Aprendizagem (TA) e que o TA é uma comorbidade extremamente
frequente do TDAH. Desse modo, optamos por analisar este artigo separadamente.
Quanto à avaliação da leitura e escrita, no caso do TA, esta é realizada por testes.
No que se refere às características das dificuldades de leitura e escrita, pode-se observar
que quanto à leitura, os estudos destacam alterações no que consideram as habilidades mais
importantes para a leitura, e não caracterizam as alterações de leitura propriamente dita.
Alves, Casella e Ferraro (2016) relatam no estudo que escolares que possuem falhas
atencionais ou de processamento de informações terão dificuldade em acessar o processamento
visual e, consequentemente, terão problemas ao acesso fonológico e, assim, dificuldade na
realização da leitura.
Já Siqueira e Gurgel-Giannetti (2011) afirmam que crianças com TDAH podem
apresentar dificuldade de leitura devido às deficiências na atenção, memória de trabalho e
funções executivas.
Para Capellini, Ferreira, Salgado e Ciasca (2007), assim como Alves et al (2016), crianças
que possuem falhas atencionais ou de processamento de informações terão comprometimento ao
acesso fonológico exigido para realização da leitura.
Andrade, Andrade e Capellini (2014), apontam no estudo que realizaram, que prejuízos de
consciência fonológica, nomeação rápida e/ou atencional são fatores de risco para o
desenvolvimento do transtorno de leitura, atuando de formas independentes ou associadas.
11
Relativamente à escrita, Alves, Casella e Ferraro (2016), apontam erros de grafias como:
correspondência grafema-fonema unívoca, omissão e adição de segmentos, alteração na ordem
dos segmentos, correspondência fonema-grafema dependente do contexto fonético e de posição,
correspondência fonema-grafema independente de regras, ausência ou presença inadequada de
acentuação.
Zorzi e Ciasca (2008) num estudo de análise intragrupal, caracterizaram os erros
ortográficos de crianças com dificuldade de aprendizagem, sendo os mais recorrentes:
representações múltiplas, uma questão de natureza ortográfica onde um mesmo fonema pode
apresentar variados grafemas ou um mesmo grafema representa vários fonemas, então a criança
em fase escolar ainda não tem apropriação das regras da ortografia e comete esses erros, nas
omissões que pode ocorrer devido a uma análise imprecisa em termos das representações
fonológicas, marcação de nasalidade nas vogais dígrafos, por fim vem a ocorrência do apoio na
oralidade, onde as crianças escrevem exatamente igual a pronúncia.
Zorzi e Ciasca (2009), seguindo o mesmo perfil do estudo anterior, Zorzi e Ciasca (2008),
indicam que no grupo diagnosticado com TDAH as maiores incidências de erros ortográficos
estão relacionados às representações múltiplas, uma vez que o mesmo som pode ser representado
por várias letras e uma mesma letra pode representar mais de um som, seguido por apoio na
oralidade denotando pouca compreensão de que a escrita não se trata de uma transcrição da fala,
tendo que se atentar às regras ortográficas. Para os autores as omissões têm relação com as
dificuldades em nível fonológico, associação grafema-fonema, destacando, entretanto, que os
erros encontrados nos grupos de estudo (2008/2009) não diferem daqueles encontrados em
crianças sem queixa de aprendizado.
Okuda e colaboradores (2011) avaliaram a função motora fina (FMF), função sensorial
(FS) e função perceptiva (FP) em crianças com e sem diagnóstico de TDAH e quais as
implicações dos desvios dessas funções na escrita. O resultado encontrado apontou que 100% dos
escolares estudados e diagnosticados com TDAH apresentaram disgrafia caracterizada por: linhas
flutuantes, linhas descendentes, letras retocadas, curvaturas e angulações das arcadas das letras
m,n,u e v, colisões e aderências, movimentos bruscos, irregularidade de dimensão e más formas.
Quanto à forma de avaliação dos processos de leitura e escrita, em todos os artigos tanto a
leitura, quanto a escrita foram avaliadas por testes e/ou subtestes (como ditado balanceado de
palavras).
12
No que diz respeito a natureza das dificuldades encontradas, nota-se que tanto a leitura
quanto a escrita foram reduzidas estritamente ao código ou ao seu aspecto meramente motor.
13
5. DISCUSSÃO
Quando nos referimos a um cérebro em ação, há sempre um sujeito em questão; se há
um sujeito, não se pode dele esperar atitudes padronizadas, médias e regulares. Talvez
seja esse o equívoco da escola: supor que os alunos – porque têm todos as mesmas
estruturas cerebrais próprias da espécie – aprendem do mesmo modo, seguindo os
mesmos passos e ao mesmo tempo. Esquece-se, porém, da heterogeneidade que
caracteriza esse denominador comum: a variação funcional do cérebro humano3.
Oliveira, Harayama e Viégas (2016) definem medicalização como uma forma de
interpretação para os fenômenos da vida, que desconsiderando toda sua complexidade, reduz
todas as questões quer seja de ordem social, política, econômica de toda coletividade, a
características individuais/orgânicas.
No ambiente escolar, este fenômeno tem grande reverberação. E, assim como inúmeras
áreas, a Educação também vem sendo medicalizada. Há alguns anos atrás, apenas os médicos
transferiam assuntos relacionados às falhas do processo educacional para uma questão
relacionada ao corpo, contudo, outros profissionais passaram a biologizar a educação.
Professores, enfermeiros, psicólogos e fonoaudiólogos, por exemplo, se aliaram aos médicos
nessas práticas biologizantes. Para Collares e Móyses (1994) o termo medicalização que fazia
referência direta ao profissional médico, vem sendo substituído por “patologização” em alguns
estudos, sendo este mais abrangente porque, do ponto de vista das autoras, ultrapassa os limites
da prática médica.
Petronilo (2007) em seu trabalho sobre as dificuldades de leitura e escrita, refere que
aprender a ler e escrever é tarefa difícil para todas as crianças, pois exige delas habilidades novas
não conhecidas em sua vida cotidiana, apresentando-as a novos desafios em relação ao seu
conhecimento da linguagem. Levando em consideração que esse aprendizado dar-se-á num
ambiente normatizador como a escola, a inserção da criança nesse mundo alfabetizado e letrado
será ainda mais dificultoso.
Contudo, as crianças que persistem com dificuldades de escolarização com o passar dos
anos, tornam-se objetos vulneráveis para intervenção clínica. Objetivamente falando, de que
modo ocorre a patologização do fracasso escolar? Seria ele o resultado de uma disfunção
3 COUDRY, M.I.H.; FREIRE, F.M.P. – O trabalho do cérebro de da linguagem: A vida e a sala de aula. Linguagem
e Letramento em foco (2005).
14
neurológica (TDAH), cerebral, comportamental, distúrbios? Ou resultante de uma metodologia
de ensino excludente, que mantém o foco nos erros em detrimento de trabalhar às potencialidades
do aluno? (COLLARES E MOYSÉS, 1994).
A seguir, considerando os estudos que selecionamos para análise (conferir Apêndice 1),
passaremos a elencar e discutir as principais dificuldades de leitura e escrita relacionadas ao
suposto TDAH, além das formas de avaliação utilizadas para caracterizar os “erros” dos escolares
diagnosticados com suposto TDAH.
Sobre as dificuldades de leitura
Dos estudos analisados, 04 deles mencionaram dificuldades de leitura em crianças com
TDAH, mas, conforme já adiantamos, não descreveram tais dificuldades.
É importante destacar que os autores descrevem algumas habilidades que consideram
importante para o aprendizado da leitura, tais como: memória, atenção, processamento da
informação, consciência fonológica (Alves, Casella, Ferraro, 2016; Siqueira, Gurgel-Giannetti,
2011; Capellini, Ferreira, Salgado, Ciasca, 2007; Andrade, Andrade, Capellini 2014). Habilidades
reduzidas ao aspecto orgânico apenas. No entanto, conforme exposto acima, apesar dos autores
informarem que existe uma relação entre o TDAH e as dificuldades de leitura, nenhum deles
descreveu ou caracterizou tais dificuldades de leitura, ou seja, não há menção sobre como essa
dificuldade se manifesta em termos linguísticos, ou na produção da linguagem. Caracterizam
apenas aspectos que julgam como pré-requisitos para processo de leitura ou fatores de risco, tais
como: falhas atencionais, memórias de trabalho, processamento de informações, processamento
fonológico, dificuldade na nomeação automática rápida.
Solé (1998) conceitua a leitura como um processo interativo entre leitor e texto na
tentativa de satisfazer os objetivos que norteiam a leitura. Para a autora, ler é construir
significados.
Geraldi (1998) confirma que ler é produzir significações, e estas repercutem em dois
sentidos: é lendo que o leitor produz significações e nessa produção ele se constitui como leitor.
Toda bagagem adquirida através da leitura, atravessa o seu trabalho interpretativo e esse trabalho
o concebe leitor. E a cada leitura é ressignificado seu papel de leitor. Além de que, não se pode
discutir a leitura sem se perguntar sobre as condições de possibilidade desta.
15
A leitura não se constrói por si, fatores sociais estão diretamente implicados nas
possibilidades de se fazer leitor, e num país de grandes iniquidades sociais: acessar e produzir
leitura são privilégios que nem todos os brasileiros alcançam. Refere-se aqui a leitura em toda sua
complexidade, não apenas na capacidade de decodificar letras e palavras, pois ler transcende
questões sensoriais como: enxergar e escutar (GERALDI, 1998).
Leitura envolve compreender o que está escrito. E interpretar um texto é mais do que ler
palavras, é atribuir-lhe contrapalavras. A contrapalavra, nada mais é, que a atribuição de sentido e
significações à leitura, ela se respalda na experiência que o leitor traz de outras leituras e/ou
outras situações de vida real (GERALDI, 2002, p.5).
Para Geraldi (2002) um leitor precisa oferecer contrapalavras às palavras lidas, e assim
viver a experiência de leitura. Sendo assim, é preciso trazer consigo palavras para dialogar com o
texto. Essas palavras que trazemos (contrapalavras) que carregam as possibilidades de
compreensão do texto e do mundo.
Nesse sentido, é impossível predizer todas as acepções que decorrem de uma leitura. É,
por conseguinte, a construção de sentidos e significações que não se reduzem à unidade
(fonema/palavra). E essa relação singular é própria do processo formativo da linguagem e do
sujeito discursivo (GERALDI, 2002). Portanto, reduzir a leitura ao processo de decodificação ou
a seu aspecto meramente orgânico (atenção, memória, habilidade fonológica...), como fazem os
estudos de Pina et al. (2010) e Capellini et al. (2007), é desconsiderar o objetivo principal da
leitura: a produção de sentidos.
O processo de leitura envolve mecanismos complexos e interdependentes, como a
construção de significados, mudanças de significados, atribuição de sentidos, todos eles
permeados por estratégias de leitura, habilidades estas que se apresentam simultânea e
automaticamente, enquanto nos concebemos leitores.
Segundo Solé (1998) para o indivíduo se tornar um leitor autônomo e habilidoso é preciso
que receba auxílio e suporte de um leitor mais capaz, isto é, de um mediador cultural.
Enfatizando a importância do professor e da família serem também leitores, e assim apresentar a
leitura de forma significativa e prazerosa, envolvendo-se nesse trabalho de forma interativa, e
além de oferecer diversos tipos de texto é preciso ensinar a ler para que a criança saiba o porquê
da leitura, extraindo significados e compreensão da mesma.
Sobretudo, as habilidades de leitura precisam expandir-se para além do seu local
16
privilegiado de acesso, a escola, espera-se que o individuo para se constituir leitor seja capaz de
generalizar sua leitura a diferentes objetivos e assim esteja inserido socialmente através dessa
prática.
Então, nessa redoma de complexidade que envolve o processo de leitura, reduzir tais
dificuldades ao suposto TDAH, e mais, reduzir este processo tão complexo que é ler em aspectos
meramente orgânicos/biológicos, trata-se de uma generalização equivocada e medicalizante.
Sobre as dificuldades de escrita
Ainda que os autores como: Alves, Casella, Ferraro, 2016; Siqueira, Gurgel-Giannetti,
2011; Zorzi, Ciasca, 2008; Zorzi, Ciasca, 2009; Okuda et al, 2011; Andrade, Andrade, Capellini,
2014, tenham relatado as dificuldades de escrita mais recorrentes no TDAH, esses estudos
reduzem a escrita ao código, desconsiderando aspectos discursivos envolvidos na produção
escrita, apresentando, nitidamente, uma concepção limitada do que representa escrever
(COUDRY E FREIRE, 2005).
Para além da ortografia, a escrita envolve aspectos como: concordância, coesão,
coerência, conectivos, pontuação, entre outros aspectos discursivos4 e textuais. Saber escrever
exacerba a dimensão de grafar sons, envolve, sobretudo, a habilidade de diversificar a utilização
de gêneros textuais e ser inserido em uma prática cultural através dessa escrita (ABAURRE ET
AL, 1997).
Considerando os aspectos acima mencionados, todos esses estudos ignoraram uma
importante questão, a familiaridade da criança com determinados gêneros textuais, e, assim,
excluem/negam as possibilidades de explorações textuais como: receitas, rótulos, bilhetes,
convites, diários, entre outros, de forma a priorizar os aspectos puramente ortográficos em
escritas descontextualizadas. É neste contexto que julgam os “erros” dessas crianças como
decorrentes de um suposto transtorno.
Coudry e Freire (2005) enunciam que a escrita é, portanto, uma atividade ao mesmo
tempo individual e coletiva e que não deve ser padronizada, pois dessa forma apaga as marcas
4 Imputa-se aqui ao funcionamento da língua em práticas sociais adquiridas por sujeitos que interagem em todas as
esferas da relação humana (ARRUDA e PETRONI, 2009).
17
singulares dos diferentes aprendizes.
Letras que faltam, letras que sobram, letras trocadas, palavras que se separam, palavras
que se juntam, acento demais ou de menos, letras invertidas entre outros, são questões que
aparecerão na escrita de qualquer criança nos primeiros anos de escolarização e a escola deve
considerar a correção, mas são ocorrências normais e previsíveis no processo de aprendizado da
escrita e dificilmente reflete um problema grave (POSSENTI, 2005).
Massi e Berberian (2005), afirmam que não há linearidade na aquisição da escrita, e os
“erros” nesse processo não são, necessariamente, sintomas de um problema, como os estudos de
Alves, Casella, Ferraro, 2016; Siqueira, Gurgel-Giannetti, 2011; Zorzi, Ciasca, 2008; Zorzi,
Ciasca, 2009; Okuda et al, 2011; Andrade, Andrade, Capellini, 2014 parecem afirmar. Massi e
Berberian (2005) sustentam, também, que o diagnóstico dos “problemas” relacionados às
dificuldades de escrita perpassam o saber e a lógica utilizadas pelos profissionais da saúde, uma
vez que, os critérios adotados por estes desconsideram as dimensões e implicações sociais da
escrita.
Abaurre, Fiad e Mayrink-Sabinson (1997) corroboram essas afirmações asseverando que
os erros cometidos na escrita pelas crianças não se tratam de imperfeições consequentes da não
apropriação de um padrão de língua, estático. Os erros apontam o percurso percorrido pelo
educando na sua história com a escrita. Sendo assim, essas incorreções são vestígios da
efetivação da aquisição da escrita.
Esses indícios, que anunciam atividades que compõem o processo de apropriação da
escrita, contrapõem-se à noção de “erro” como sintoma de uma doença, conforme
proposto pela visão organicista. A relação entre o sujeito e a linguagem se constitui e se
modifica continuamente. A criança, durante a aprendizagem da escrita, constrói e
reconstrói, em conjunto com o outro, estratégias muitas vezes episódicas para usar o
objeto escrito (MASSI, 2004).
Possenti (2005) reitera que a escrita precisa fazer sentido para criança, com isso a
participação do outro é um elemento ricamente agregador e, assim, espera-se que fatos que gerem
motivações reais e que sejam bem subsidiados através de exemplos, gerem melhores resultados
ortográficos. Afirma, inclusive, que o domínio da ortografia tem grande valor simbólico em
nossa sociedade, funcionando como uma grande divisão entre aqueles que conhecem e
aplicam às regras como inteligentes e àqueles que não conhecem ou aplicam essas regras
ortográficas como incapazes. Nessa sociedade grafocentrada, a escrita ganha um cunho de
18
produção cultural de excelência.
Quando a escola deixa de valorizar questões educacionais, familiares e culturais no
desenvolvimento da produção escrita, o que se vê é o aumento dos encaminhamentos dos alunos
à clínica, e esses direcionamentos pautam-se, fundamentalmente, no fato desses sujeitos não
estarem padronizados dentro do modelo de aprendizagem definido/idealizado por essa instituição
(GUARINELLO, et al, 2008), como parece ser o caso das crianças diagnosticadas com o suposto
TDAH.
Sendo assim, é salutar que possamos refletir sobre a linha tênue, vaga e imprecisa que
atravessa o processo normal da aquisição da escrita e a visão patologizante do “erro”,
denominada como: dislexia, disgrafia e/ou disortografia. Tornando-se fundamental levar em
consideração que estamos lidando com crianças, ingressantes nesse sistema rígido, onde o erro, a
formulação e reformulação de hipóteses fazem parte desse processo, não perdendo de vista que os
aspectos textuais precisam ser mais destacados do que os aspectos puramente gráficos (MASSI e
SANTANA, 2011).
Sobre o modo de avaliação
A discussão se inicia com um questionamento: como avaliar as dificuldades encontradas
em sala de aula, a partir do que preconiza um instrumento que regula o diagnóstico com um viés
de transtorno mental? Dessa forma, já começa o julgamento das capacidades e habilidades dos
sujeitos pesquisados antes mesmo de iniciar a avaliação, visto que grande parte dos estudos,
abaixo mencionados, valem-se dessa ferramenta “testes padronizados e individualmente
administrados” para avaliar e julgar o desempenho de leitura e produção escrita dos aprendizes.
Como dito anteriormente, os estudos selecionados elencam básica e majoritariamente
ferramentas despóticas para avaliação das habilidades linguísticas dos escolares (Alves, Casella,
Ferraro, 2016; Zorzi, Ciasca, 2009; Zorzi, Ciasca, 2008) utilizam como forma de avaliação das
dificuldades de leitura e escrita, o ditado foneticamente balanceado de palavras.
Autores como (Pinna, et al, 2010; Okuda, et al, 2011; Capellini, Ferreira, Salgado, Ciasca,
2007; Andrade, Andrade, Capellini, 2014) utilizam, por sua vez, os testes padronizados para
mensurar as habilidades de leitura e escritas das crianças estudadas. E nessa pobreza de repertório
a ser explorado, as crianças são rotuladas como “portadoras de transtornos de aprendizagem”.
19
O que podemos dizer em relação aos modos de avaliações aplicadas pode ser sintetizado
na palavra arbitrário, uma vez que, os sujeitos foram impossibilitados de sugerir de que forma
poderiam/gostariam de ser avaliados. Em nenhum dos artigos analisados neste estudo, foi
possível verificar o respeito à singularidade do indivíduo. Podemos identificar avaliações
realizadas fora de um contexto favorável para melhor manifestação da linguagem, visto que,
todos os testes e/ou ditados foram feitos numa clínica, com tempo cronometrado, e com crianças
sozinhas e sob o olhar atento do examinador. Além de toda essa ambientação amedrontadora,
estamos diante de crianças que trazem consigo o estigma do diagnóstico do suposto TDAH, logo,
testes padronizados e ditados “foneticamente balanceados”, apenas, não podem englobar a
riqueza das manifestações linguísticas de um indivíduo, ainda mais, quando as crianças são
estratificadas em grupos, analisadas de forma homogênea, rígida e, posteriormente, comparadas.
Alves, Casella e Ferraro (2016) avaliaram 70 crianças divididas em três grupos, através do
ditado padronizado de 86 palavras, aplicados de maneira individual e em sessão única, onde todo
e qualquer erro ortográfico seria pontuado, podendo ele ser de natureza natural ou arbitrária5 e
posteriormente comparados entre grupos. Estamos diante de um exemplo que mostra intolerância
ao erro do aprendiz, uma vez que, até os processos naturais são classificados como errados e
atribuídos uma pontuação que, na análise de dados via software, os colocarão como “indivíduos
errantes”.
Assim, esses critérios de avaliação são altamente questionáveis, pois a partir de testes e
ditados não é possível abarcar aspectos importantes da escrita relacionados, por exemplo, aos
gêneros textuais e discursivos, pontuação, coesão e coerência textual; e aspectos importantes da
leitura, relacionados ao uso das estratégias de decodificação, antecipação, inferência e
verificação, assim como os aspectos prosódicos e a leitura de bases semióticas como: cores,
desenhos, entre outros.
Devemos levar em consideração que o aprendizado sistematizado da leitura e escrita é
difícil para as crianças, pois as fazem utilizar habilidades linguísticas ainda não exploradas.
Sabendo disso, temos que pensar que nem todas possuem as mesmas ideias e experiências em
relação à leitura e linguagem escrita, logo, teste e ditado aplicados numa clínica desconsideram
5 Erros de ortografia natural apresentam relação direta com o processamento de linguagem, considerados de natureza
predominantemente fonológica. E os erros de ortografia arbitrária estão relacionados ao léxico, morfologia, memória
visual e conhecimento das regras ortográficas (ALVES, CASELLA, FERRARO, 2016).
20
toda essa trajetória e singularidade da criança no ambiente letrado (PETRONILO, 2007).
Questionar essas formas de avaliação é fundamental, para que não perpetuemos negando
as diferenças culturais, individuais e sociais que existem no processo de aprendizagem e na
relação entre o sujeito e linguagem. Essa necessidade de homogeneizar a apropriação da leitura e
escrita restringe toda essa complexidade, simplificando o processo de aquisição aos termos:
normal X patológico (MASSI, SANTANA, 2011).
Corroborando com esse pensamento, Cagliari (2002) indica fatores que comprometem o
processo de aprendizagem, como: procedimentos de cartilhas, prática intensa de ditados, ausência
de momentos para escrita livre. Esse exagero para suprimir erros e o excesso de controle sobre o
que o aluno pode ou não pode fazer em relação às práticas de leitura e escrita, não contribuem
para resolver os problemas de dificuldades na escolarização. É imprescindível possibilitar um
caminho suave para que a criança desenvolva suas habilidades em atividades de escrita
espontânea e de leitura.
É preciso repensar as práticas de leitura e escrita praticadas dentro do ambiente escolar e
do ambiente clínico, ambos padronizados, institucionalizados e legitimados (RIBEIRO, 2015),
nos quais o erro não tem espaço para se apresentar. E na expectativa de justificar um sistema de
ensino falho e pobre de alternativas para minimizar os impactos da dificuldade escolar em sala de
aula, a omissão das autoridades em subsidiar condições dignas de vida, moradia e saneamento
básico para esses alunos, a criança “problema” é encaminhada para o serviço de saúde.
Reforçando sempre e cada vez mais, a prática vil de medicalizar/patologizar o sujeito. Ribeiro
(2015) aponta que culpabilizar a vítima tornou-se uma excelente estratégia para justificar o
fracasso escolar, estigmatizando o comportamento dos estudantes que não atendem ao padrão
idealizado pela instituição escolar.
Sobre a comorbidade TDAH e TA
De acordo com o DSM-IV, o transtorno de aprendizagem (TA) é definido como a
situação na qual os "resultados do indivíduo em testes padronizados e individualmente
administrados de leitura, matemática ou expressão escrita estão
substancialmente abaixo do esperado para sua idade, escolarização e nível de
inteligência. Os problemas de aprendizagem interferem significativamente no
rendimento escolar e nas atividades de vida diária que exigem habilidades de leitura,
matemática ou escrita”.
21
Existe uma vertente de caráter biologizante que associa fortemente o TDAH como fator
de comorbidade aos transtornos de aprendizagem (TA). Entretanto, elencam características do
TA que se manifestam com ou sem a presença do TDAH. Como:
- Leitura e escrita, muitas vezes, incompreensíveis. Não compreensão da leitura;
- Dificuldade em identificação de letras. Confusões de letras diferentes, orientações ou
pequenas diferenças na grafia: (p/q -b/d - c/e - u/v - i/j - n/u) ou sons semelhantes ( b/p - d/t );
- Antecedente familiar de transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade (TDA/H) e/ou
TA;
- Disgrafia: traçado de letra ilegível, dificuldade para escrever, mistura de letras
(maiúsculas/minúsculas, forma/cursiva), traçado de letra incompleto, dificuldade visomotora
(cópia) e visoespacial. Comum associação com transtorno de desenvolvimento de coordenação
(TDC), entre outros.
Contudo, todas as características apresentadas como sintomas do TA, apresentam-se em
igual proporção em crianças sem queixas escolares (ZORZI e CIASCA, 2009).
Dessa forma, muito do que os autores apontam como dificuldades de leitura e escrita (TA)
podem ser consideradas como parte do processo de aquisição de muitas crianças consideradas
normais, dependendo da idade e do nível de escolaridade.
Massi (2004) refere que a utilização de termos como: dificuldades de aprendizagem,
dificuldade de leitura e escrita, dislexia do desenvolvimento, transtorno do aprendizado são
tentativas de “minimizar” os problemas existentes no processo de escolarização, visto que, a
causa continua sendo localizada de alguma forma na criança. E muitos dos chamados erros de
ortografia são partes do processo de aquisição, fato que nos faz questionar o que na natureza
destes erros permitem que sejam considerados como sintomas de um processo de escolarização
fracassado.
22
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho possibilitou um estudo mais detalhado do suposto TDAH e as dificuldades
de leitura e escrita atribuídas a este transtorno.
Foi possível observar nos estudos que analisamos que quanto às dificuldades de escrita,
foram mencionadas dificuldades relacionadas prioritariamente às questões ortográficas e ao
formato da letra. Aspectos discursivos relacionados aos gêneros, a coesão, coerência e a
pontuação, por exemplo, não foram citados em nenhum dos estudos.
Quanto à leitura, os artigos que mencionaram a relação entre suposto TDAH e dificuldade
neste aspecto não foram capazes de descrever quais seriam tais dificuldades. Os estudos apenas
relacionaram a dificuldade de leitura ao que consideram como habilidades mais importantes para
o sujeito aprender a ler: atenção, memória, processamento da informação e processamento
fonológico. Habilidades, na maioria destes estudos, reduzidas a questões orgânicas.
Quanto às formas de avaliação predominou o uso de testes padronizados e/ou ditados de
palavras balanceadas. Atividades descontextualizadas e que deixam de considerar manifestações
linguísticas importantes, como a produção textual. Além disso, os testes desconsideram
diferenças culturais, individuais e sociais existentes no processo de aprendizagem e na relação
entre o sujeito e linguagem.
Por fim, destacamos a necessidade de refletir sobre as práticas pedagógicas dentro do
ambiente escolar, a fim de minimizar os impactos das dificuldades de leitura e escrita através da
ressignificação dessas práticas, com o objetivo de proporcionar alternativas no seio escolar e
familiar, mantendo nossas crianças longe de ambientes clínicos com soluções medicalizantes.
23
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27
27
ANEXO 1 – PROJETO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
1. INTRODUÇÃO
O chamado Transtorno do Déficit de Atenção (TDA) tem suas origens em
meados do século XIX com a apresentação dos achados pela literatura médica,
sendo este apresentado pela primeira vez em 1980, no DSM III, e subdividido
em TDA com hiperatividade e sem hiperatividade. Apenas na revisão do
DSM, em sua quarta edição, passou-se a utilizar o termo TDAH (ROHDE,
BARBOSA & TRAMONTINA, 2000). Este, atualmente, é considerado o
diagnóstico psiquiátrico mais comum na infância e possui três categorias
principais de sintomas: - desatenção, impulsividade e hiperatividade -
(BRZOZOWSK & CAPONI, 2009). O diagnóstico é unicamente clínico e feito
através de classificações e relatos de terceiros (pais, professores, cuidadores) ao
profissional de saúde.
Normalmente a suspeita de TDAH ocorre com o ingresso da criança na escola.
Quando se depara com as regras rígidas de disciplina e comportamento, a
criança que demora a aceitar, ou simplesmente não aceita essas limitações,
torna-se um problema em sala de aula. É no âmbito da educação formal que os
limites são testados e, a partir desse tradicionalismo da alfabetização, iniciam-
se as inferências de rótulos e adoecimento compulsório.
Mesmo sendo estudado há muito tempo, o diagnóstico e o tratamento do TDAH
ainda é muito polêmico, pois não há consenso na literatura de base científica
que esse transtorno exista, de fato, uma vez que, não existem exames de
imagens ou de taxas hormonais que comprovem um desvio de atividade neural
nesses indivíduos diagnosticados com TDAH. O que torna a utilização deste
termo arbitrária ao relacionar o comportamento infantil hiperativo e desatento,
como desviante/transtornado (ESCUDEIRO, 2002).
Estando expostas ao ambiente regulamentador e estanque das escolas, as
crianças mais agitadas, quando apresentam qualquer dificuldade com a leitura
28
28
e/ou a escrita, são facilmente apontadas como portadora de distúrbios de
aprendizagem, comportamento ou associados (CILIUK, 2013). No momento
em que é necessário apresentar uma uniformidade na obtenção dos resultados
da turma, o professor se vê “obrigado” a encontrar uma situação que justifique
o atraso ou a falta de determinada competência na criança, e o caminho mais
curto é atribuir tal situação a ela mesma ou a uma entidade nosológica – o
TDAH, no caso (ESCUDEIRO, 2002).
Na literatura pesquisada, até o momento, não encontramos estudos que
associam diretamente o TDAH à dificuldade de leitura escrita, mas na maioria
dos estudos, fica implícito que um está intimamente ligado ao outro. Na falta
de consistência teórica para essa associação, a desatenção e o “problema” de
comportamento são apontados como interferência negativa no processo de
aprendizagem dentro da sala de aula (LIMA, Et. Al, 2006).
Este estudo trata de um tema bastante atual e polêmico. E pode ajudar a
esclarecer melhor essa suposta relação entre o TDAH e as dificuldades de
leitura e escrita, na medida em que, neste caso específico, a leitura e escrita
estão reduzidas a uma questão meramente orgânica.
Ao ponto que discutiremos a necessidade do uso de fármacos para lidar com
situações existentes em sala de aula, devemos diferenciar os termos “Medicar”
ato de tomar medicamento; “Medicamentalizar” fazer uso abusivo de
medicamento “Medicalizar” ato que transforma questões de fórum político e
social em individual. E dentro da escola patologiza o processo de aprendizado
(Fórum sobre Medicalização da Sociedade e Educação, 2013).
A partir do exposto até momento, este estudo pretende responder as seguintes
questões: Quais as dificuldades para ler e escrever são apontadas por essa
literatura? Qual a natureza dessas dificuldades?
Assim, começaremos a repensar o modo como, atualmente, conceitua-se o
corpo em movimento, e como as questões de ordem social, pedagógicas e até
29
29
mesmo da dinâmica familiar atravessam esse corpo e são muitas vezes
desconsideradas, cabendo aos profissionais envolvidos com essas crianças não
rotular, nem propor soluções rápidas, medicalizantes. O desafio é enxergar
esses determinantes e atuar de forma integral para dissociar comportamento
dinâmico de distúrbios.
30
30
2. OBJETIVOS
Este projeto tem como objetivo geral compreender qual a relação que a
literatura estabelece entre o suposto TDAH e as dificuldades de leitura e
escrita. Através de uma análise crítica teoricamente fundamentada.
Quanto aos objetivos específicos tem-se como propósito:
a) Identificar na literatura de cunho científico, quais as dificuldades de leitura e escrita estão
descritas e relacionadas ao TDAH;
b) Caracterizar a natureza dessa relação.
31
31
3. REVISÃO DE LITERATURA
Neste tópico, no item 3.1 será apresentada uma breve revisão sobre duas
grandes vertentes que conceituam esse transtorno de modo bem diferente. Em
seguida, no item 3.2, apresentaremos como a literatura caracteriza as
dificuldades de leitura e escrita em relação a esse suposto transtorno. Já, no
item 3.3, aprofundaremos a literatura que trata o TDAH como um suposto
transtorno.
3.1 TDAH
Para a Associação Brasileira de Déficit de Atenção – ABDA (2014), o TDAH
é uma alteração no cérebro que influencia na capacidade de prestar atenção, ter
memória, autocontrole, organização e planejamento.
Na literatura, existem duas grandes vertentes que conceituam esse transtorno.
Uma que defende a existência, e outra que traz um olhar crítico e
questionador.
A primeira refere-se aos pesquisadores de bases organicistas, os quais defendem
que o TDAH é um transtorno neurobiológico, de base genética, responsável
pelo surgimento de sintomas de hiperatividade, impulsividade e desatenção e
isso seria decorrente de um aporte insuficiente de neurotransmissores ao
cérebro, como dopamina e norepinefrina. Essa ineficiência geraria uma
disfunção na parte frontal do cérebro, responsável pela inibição
comportamental (SIGNOR, 2013).
Dentro desse parâmetro, muitas teorias são levantadas pela sociedade médica
para justificar a hiperatividade, tais como: desordem no equilíbrio químico
cerebral, lesão ou doença peri ou pós natal, defeito no SNC, mau
funcionamento do mecanismo responsável pelo controle das capacidades de
atenção e filtragem de estímulos externos (LEITE, FERREIRA, 2006).
Para Rohde e Halpern (2004), clinicamente, a síndrome é identificada numa
tríade de sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Sendo que,
32
32
esses sintomas, não devem ser avaliados isoladamente. Para essa literatura, no
diagnóstico de TDAH é necessário contextualizar os sintomas na história de
vida da criança.
A duração do sintoma (apresentar queixa desde a idade pré-escolar); a
frequência e intensidade do sintoma (fundamental apresentar frequentemente
pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou hiperatividade) (ANEXO A); a
persistência dos sintomas em pelo menos dois ambientes diferentes e ao
longo do tempo (exemplo: apresentar ocomportamento
hiperativo/desatento em casa e na escola e antes dos 12 anos de idade) e
prejuízo clinicamente significativo na vida criança (dificuldade em estabelecer
relações sociais), podem ser apontados como alguns indícios da presença do
transtorno (ROHDE, HALPERN, 2004).
Como foi mencionando anteriormente, o diagnóstico do TDAH é
fundamentalmente clínico, realizado a partir da queixa dos pais, professores
e/ou cuidadores da criança e do preenchimento de pelo menos seis dos critérios
estabelecidos no sistema de classificação como o DSM IV (ANEXO A) ou CID 10.
ROHDE & HALPERN (2004), destacam que a subdivisão do DSM IV dá
conta de caracterizar o predomínio dos sintomas do transtorno no sujeito, sendo:
a) predominantemente desatento; b) predominantemente hiperativo/impulsivo;
e c) TDAH, tipo
combinado.
No que tange ao tratamento, a clínica médica adotada engloba intervenções
psicossocial e farmacológica. Dentro da perspectiva intervencionista
psicossocial, Rohde e Halpern (2004) sugerem um método de treinamento para
os pais, dentro desse contexto, o pediatra deve informar com clareza e precisão
todas as informações sobre o transtorno e, então, traçar um plano terapêutico
que envolve técnicas de manejo dos sintomas na criança.
Ciulik (2009, p. 9) lista estratégias de como os pais devem conduzir a rotina da
criança diagnosticada hiperativa. Nesse guia constam itens, como:
33
33
a) Proporcione estrutura, organização e constância (exemplo: sempre a mesma
arrumação das cadeiras ou carteiras, programas diários, regras claramente
definidas);
b) Para a realização das tarefas de casa, o ambiente deve ter o mínimo de estímulos
que possam desviar sua atenção;
c) Repita as ordens e instruções, faça frases curtas e peça para criança repeti-las,
certificando de que ele entendeu.
Já as intervenções no âmbito escolar, conforme Rohde e Halpern (2004)
resumem-se: i) orientar os professores para necessidade de uma sala de aula
bem estruturada e com poucos alunos;
ii) ensino ativo incorporando a atividade física com o processo de aprendizagem;
iii) explicar a tarefa passo a passo e evitar atividades demasiadamente grandes;
Em relação às intervenções farmacológicas, a literatura biologizante enfatiza
que as medicações estimulantes são consideradas gold-standart no tratamento
para o transtorno. De acordo com ROHDE & HALPERN (2004) existem mais
de 150 estudos controlados que demonstram alta eficácia na administração
desses fármacos em pessoas com TDAH, sendo o metilfenidato o único
medicamento estimulante comercializado no Brasil, com as marcas comerciais
de Ritalina e Concerta, para o tratamento do TDAH.
Tais estudos apontam como efeitos adversos de maiores incidências,
associados ao seu uso: irritabilidade, insônia, sintomas gastrointestinais e falta
de apetite (ROHDE & HALPERN, 2004).
Pastura & Mattos (2004), elencam ainda como efeitos adversos do uso de
metilfenidato em curto prazo cefaléia, tonturas, tristeza e tiques. E em longo
prazo os efeitos de maior importância são: possível redução de estatura, efeitos
cardiovasculares e dependência medicamentosa.
Segundo a nota técnica do Fórum sobre Medicalização da Educação e da
Sociedade (2015), o Brasil entre os anos de 2012 e 2013 aumentou em mais de
300% a importação do Metilfenidato. Fazendo-nos pensar se estamos diante de
um surto social de desatenção e hiperativa ou de uma produção exagerada de
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34
medicamento que precisa de consumidores.
Diante do exposto, definitivamente, é de fundamental importância que sejamos
mais críticos na escuta da queixa, seja ela vinda da escola ou da família, além
disso, é urgente o questionamento desses critérios diagnósticos que
patologizam as crianças e a proposta agressiva de tratamento, cujos efeitos em
longo prazo são potencialmente prejudiciais a saúde do indivíduo.
Já, na segunda vertente estão os pesquisadores alinhados com a perspectiva
sócio-histórica, os quais sugerem que o TDAH é um processo de patologização
da educação, na medida em que transforma questões sociais, educacionais e
políticas em questões médicas, pois assim consegue inferir um diagnóstico e
um tratamento para tal “desvio” (MOYSES & COLLARES, 2011 apud
SIGNOR, 2015).
De acordo com essa perspectiva, o sujeito é mais do que um organismo ou um
cérebro com limitações. Suas interações sociais e culturais são necessárias para
o desenvolvimento da criança (SIGNOR, 2015).
Os pesquisadores da linha organicista, afirmam que existe um
comprometimento nas funções cerebrais dessas crianças diagnosticadas com
TDAH, porém até o momento, nenhuma prova cabal foi apresentada à
sociedade civil ou comunidade acadêmica. Essa tal lesão/disfunção que
“justifica” o diagnóstico, jamais fora apresentada num exame de imagem das
crianças (SIGNOR, 2013).
De acordo com Signor (2015) avaliar as interações sociais e a qualidade dessas
interações é fundamental antes de traçar um diagnóstico de qualquer que seja o
transtorno. E dentro dessa vertente sociointeracionista, o suposto TDAH é um
fenômeno socialmente construído, negando a decorrência de uma condição
neurobiológica do sujeito.
Em função dessa ausência de prova, o diagnóstico de TDAH torna-se
arbitrário, uma vez que, rotula e estigmatiza a criança. Transformar questões
35
35
sociais, políticas, pedagógicas e culturais em um ponto unicamente orgânico,
patologiza o processo de construção da subjetividade do sujeito e abre
precedentes para medicalização (SIGNOR, 2015).
A fragilidade desse diagnóstico, que não considera o indivíduo como um ser
único e insiste em compará-lo com uma média, seja através de testes padrões,
“observação” do comportamento ou discurso de terceiros, compromete todo o
processo de aprendizagem e socialização do aluno rotulado como desviante.
Deixar de considerar o ambiente familiar e social em que a criança está inserida
é negligenciar as questões de determinantes sociais e responsabilizá-la pelo
não atendimento às normas. Sabemos que, quando o sistema educacional ou a
estrutura doméstica falha, o consultório médico e um diagnóstico sobre suas
dificuldades, tornam-se a válvula de escape e a resposta para muitas dúvidas.
Ao deslocarmos questões sociais, políticas e escolares para a uma questão
individual de culpabilização do sujeito, damos o nome de medicalização. E
diante desse forte discurso medicalizante, ainda muito aceito socialmente, não
notamos muitos pais ou professores questionando e/ou criticando os métodos
diagnósticos e de tratamento das crianças.
O “tratamento” do TDAH visa à padronização do comportamento do sujeito e a
pílula do “bom comportamento” ganha lugar de destaque na intervenção
clínica com a criança. Dessa forma, a escola, o Estado – pensando em questões
políticas e de inclusão social - e a família, se isentam da culpa no processo de
interação social e ensino-aprendizagem dessa criança, transferindo a
responsabilidade para o sistema de saúde, e este como última instância, coloca
a própria criança como a principal responsável pela sua formação humana,
ignorando as relações sociais tão importantes para esse desenvolvimento.
Considerando que estamos diante de um transtorno com etiologia não definida,
com diagnóstico extremamente discutível, o então tratamento medicalizante
configura-se exagerado e desnecessário. Tratar uma criança que prefere brincar
ao invés de obedecer às regras de comportamentos rígidos de uma escola é
36
36
intrigante e frustrante, quando pensamos num profissional que respeita a
individualidade de cada ser e compreende que os interesses na infância estão
muito mais aguçados para o lúdico do que para real.
3.2 TDAH X DIFICULDADE DE LEITURA E ESCRITA
Comorbidade é a presença ou associação de duas ou mais doenças no mesmo
paciente. Essa definição do termo é fundamental para alicerçar a discussão
sobre as dificuldades de leitura e escrita descritas na literatura e relacionadas
ao TDAH.
Dentro dessa relação de comorbidade entre o TDAH e a dificuldade de leitura
e escrita existe uma corrente de pesquisadores que classificam ambos os
distúrbios como de base genética/orgânica e outra que nega a existência do
TDAH, mas não nega a existência das dificuldades de leitura escrita, porém, às
práticas sociais e de aprendizado em que as crianças estão imersas são
fundamentais para explicar essa relação.
Dentro da perspectiva que pactua com a visão genética, a presença do TDAH é
fator importante para desencadear os transtornos do aprendizado nas crianças
com diagnóstico, uma vez que a tríade de manifestação desse transtorno
(desatenção, hiperatividade e impulsividade) afetará diretamente o
desenvolvimento das atividades escolares desses alunos (Souza et al, 2007).
Para Willcut (2001):
A presença de TDAH aumenta significativamente o comprometimento do
processamento de leitura em pacientes disléxicos: a leitura requer considerável nível
de atenção para selecionar as informações relevantes e ignorar estímulos menos
importantes. Crianças com a comorbidade TDAH-dislexia apresentam mais
problemas comportamentais, menor auto-estima, mais abandono escolar e um pior
prognóstico quando comparadas ao grupo com TDAH ou dislexia isoladamente
(Willcut et al., 2001 apud Souza et al., 2007).
Souza et al (2007), afirma também que na escrita essa comorbidade se
manifesta com a presença da disgrafia – prejuízo da letra no aspecto
grafomotor por dificuldade da coordenação motora fina e falta de organização
geral. As autoras já indicam a forma de tratamento com os mesmos
medicamentos psicoestimulantes utilizados no tratamento do TDAH sem a
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37
comorbidade da dislexia.
O ambiente escolar é ditado por muitas regras e rigidez, aquele que se destoa
em aprendizado ou comportamento da média, é estigmatizado e inicia
uma busca para o diagnóstico, encontrar uma definição para a
“dificuldade” ameniza a angústia e fornece insumos para justificar a “falha”. E
essa falha se constrói a partir do ato de ignorar toda estrutura social de inserção
do indivíduo e o transformar em um organismo doente, carente e/ou abundante
de sinapses neurais em momentos impróprios ou inoportunos. Negligenciando a
individualidade e as influências multifatoriais que existe no processo de
aprendizado.
Por outro lado, temos profissionais que lidam com as dificuldades de
aprendizado existentes na infância através de um paradigma de atuação que
considera todo o contexto de inserção social e histórico, pois essas dificuldades
de fato existem, mas não podem se restringir a uma condição
patológica/biológica. A conduta para o quadro de dificuldade escolar perpassa
por uma análise minuciosa de vários aspectos ligados direta ou indiretamente à
criança, tais como: metodologia de ensino aplicada, quantidade de alunos em
sala, estrutura familiar, nutrição, práticas de letramento em que ela está
inserida, devendo cada um desses ser tratado com o olhar extremamente
crítico. E respeitando acima de tudo, a sua singularidade enquanto indivíduo.
Depois de uma análise minuciosa desses fatores externos ao corpo a
metodologia de atuação será desenvolvida. Sempre tendo como prioridade
respeitar o tempo que cada um precisa para aprender, além de, investigar a
natureza da relação entre vulnerabilidade social e às dificuldades específicas na
escola. Assim, poderemos vislumbrar uma prática que entenda o fenômeno
como complexo e multi determinado.
Souza et al (2007) em seu estudo, com fundamentação biomédica, relaciona o
TDAH às seguintes dificuldades de leitura e escrita:
i) dislexia – caracterizada pela dificuldade de ler, existe uma dificuldade em associar
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as letras aos sons que elas representam; a criança troca, omite ou inverte letras
durante a leitura, faz leitura silabada e tem dificuldade de compreender a leitura
após a fase da alfabetização;
ii) disgrafia - afeta a qualidade da escrita e a forma das letras. Para isso a criança
precisa ser avaliada sob características pré-determinadas numa escala de disgrafia. É
tida como uma questão neurológica manifestada a partir da caligrafia. É
aconselhável que o diagnóstico seja dado após o período de alfabetização.
iii) disortografia - dificuldade para planejar e elaborar sequências narrativas e seleção
de vocabulário apropriado, é caracterizada pelo traçado incorreto da letra,
lentidão e falta de clareza na escrita, alteração no espaço com prejuízo na
inteligibilidade de sentença. Onde podem ocorrer substituições, omissões e
acréscimos de letras nas palavras, separação ou junção inesperadas nas
sentenças.
Negando as diferenças culturais, individuais e sociais que existem no processo
de aprendizagem a fim de padronizar as atividades humanas e as interações
singulares que existem entre o sujeito e a linguagem, essas idéias confirmam a
necessidade de homogeneizar e normalizar a apropriação da leitura e escrita,
não deixando espaço para a criança aprender num ritmo diferente sem
patologizar esse processo (MASSI, SANTANA, 2011).
Sendo assim, afirmar que um infante deve aprender a ler, escrever e se
comportar da mesma maneira que os demais é um grande equívoco, pois a
constituição de cada sujeito é única e heterogênea. Determinar marco etário
padrão e modo universal de apreensão do conhecimento escolar são
minimamente, injustos (MASSI, SANTANA, 2011).
3.3 TDAH: O SUPOSTO TRANSTORNO
Para Viégas e Oliveira (2014) o TDAH trata-se de transtorno de conceito vago
e existência duvidosa, visto que, nem a comunidade médica que é tão
veemente no diagnóstico desse transtorno, possui consenso na literatura sobre
quesitos básicos como a etiologia, critérios diagnósticos e tratamento mais
eficaz.
39
39
Por que podemos questionar a existência desse suposto transtorno?
Uma vez que, não há consenso entre pesquisadores e especialistas sobre suas
causas, diagnósticos, tratamentos e número de crianças afetadas podemos
inferir que razões que sobressaem às questões médicas estão influenciando na
manutenção desse tal transtorno.
A literatura tem sido bastante esclarecedora quando mostra que os estudos que
defendem a existência desse transtorno estão intimamente ligados à indústria
farmacêutica que fabrica o tal fármaco consertante. Essa proximidade leva ao
questionamento sobre a verdade do transtorno e/ou a necessidade de criar uma
doença que seja justificável para consumo de medicamentos.
Falar de TDAH/medicalização e não citar o CID e o DSM é praticamente
impossível. O primeiro refere-se à Classificação Internacional de Doenças e o
DSM é o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, este
último criado pela Associação Americana de Psiquiatria e define como é feito
o diagnóstico de transtornos mentais. São duas ferramentas amplamente
utilizadas dentro da área médica para diagnosticar e classificar agravos na
saúde (RIBEIRO, 2015).
Ambos os documentos tratam o sujeito como um ser mediano, uma vez que,
dentro de manuais não há espaço para individualidades.
Ao rotular uma criança mais agitada como doente, estamos cerceando o direito
dela exercer sua criatividade e extravasar a energia que existe dentro de si. E
como seres únicos que somos, haverão crianças mais tranquilas e concentradas,
em contra partida teremos outras crianças mais agitadas, dispersas e
impulsivas. Os comportamentos são diferentes e este está diretamente
associado à forma que a criança se relaciona com o outro, em seu seio familiar
e social (FREUD, 2014). O erro não está na agitação, está em assumir o
comportamento diferente como uma doença, que precisa ser tratada e curada.
Vivemos numa sociedade que opera em ritmo frenético, as crianças cada vez
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mais cedo, levam uma vida acelerada, cheia de atividades e estímulos, os pais
estão preocupados com a colocação no mercado e possibilidade de melhoria de
vida, os professores sentem-se sobrecarregados com as demandas e as crianças
assumem responsabilidades e compromissos demais para idade (FREUD,
2014). Desconsiderar esses fatores é vendar os olhos e ceder às pressões para
normatização do sujeito.
Enfim, podemos dizer que o TDAH surgiu de uma necessidade de responder
com nomes e classificações a criança “problema”. Aquele que não aprende e
não se comporta como os demais, mesmo não tendo nenhuma alteração em
exames físicos, de imagens e/ou laboratoriais, precisa ser enquadrada. O
controle faz-se necessário! (MOYSES E COLLARES, 2012).
Resistir a todo esse processo de rótulo, adoecimento e medicalização é preciso,
pois viver a infância em sua plenitude também é. Chegamos ao extremo surreal
de precisar provar a inexistência de uma alteração cerebral, cuja existência
nunca foi provada (MOYSES E COLLARES, 2012).
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41
4. QUADRO TEÓRICO
Para realização deste estudo tomaremos por base os estudos científicos que trata
do processo de medicalização da educação de da sociedade e dos estudos sobre
leitura e escrita numa perspectiva lingüística/discursiva.
4.1 MEDICALIZAÇÃO
O Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade (2013) traz as
diferenças conceituais entre medicar (ato de tomar medicamento para tratar
uma enfermidade), medicamentalizar (usar o medicamento de forma abusiva) e
medicalizar - processo perverso que ignora questões de ordens sociais,
econômicas, políticas e de outras naturezas da coletividade e as transformam
em desordem individual e biológica, que precisa ser tratada e medicada.
A patologização do sujeito em sua maneira de ser e aprender está diretamente
ligada ao processo de medicalização e priva-o da sua constituição de Ser
Social, além de ignorar as questões de determinantes sociais envolvidas no
processo do fracasso escolar e da vida social (CRISTOFARI, FREITAS &
BAPTISTA, 2015).
Para Collares e Moysés (1994) o termo medicalizar privilegia o organismo, e
por assim ser, encara o problema de ordem não médica em questões médicas,
omitindo a inserção social do sujeito como um determinante no processo saúde-
doença (RIBEIRO, 2010)
Recorrer a serviços de saúde para medicalizar o sujeito é uma possível
alternativa para demonstrar valor às queixas escolares, e dessa forma,
inferiorizar a condição singular da criança, ofertando-lhe fármacos cujos
efeitos colaterais ainda não foram todos esclarecidos e não sabemos se um dia
será (TOASSA, 2012).
Segundo CRISTOFARI, FREITAS & BAPTISTA (2015) o fenômeno de
governar e regular o comportamento e o aprendizado a partir de uma norma
“padrão”, eleva a medicalização como condição única e salvadora para crianças
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desviantes.
Temos atualmente muitos estudos críticos sobre o processo de medicalização da
vida e o tema tem levantado muitas discussões nos mais diversos campos de
conhecimento (saúde, educação, movimentos sociais), isso por que o processo
de adoecimento compulsório está flagrante na sociedade. Ainda assim,
precisamos de muito mais estudos voltados à crítica desse processo, pois o
pensamento médico-higienista continua muito prevalente e socialmente
aceito em nosso país, fornecer a população insumo teórico para duvidar, discutir
e contrapor às tendências medicalizantes é de suma importância para
manutenção da infância sem drogas.
E assim, poderemos acolher entender e valorizar as diferenças, pois a partir
delas que se constrói a plurivocidade social (Segundo CRISTOFARI,
FREITAS & BAPTISTA, 2015).
4.2 ESTUDO SOBRE LEITURA E ESCRITA
Soares (1998), afirma que o individuo alfabetizado é capaz de ler e escrever e
o indivíduo letrado além de ler e escrever exerce práticas sociais que usam
leitura e escrita. As duas definições não são interdependentes, visto que
podemos ter pessoas alfabetizadas e não letradas ou letradas e não
alfabetizadas. É a prática social envolvendo a leitura e escrita que tira o sujeito
da condição de alfabetizado e o coloca na posição de letrado.
Sabemos que o processo de aquisição da leitura e escrita envolve, ao mesmo
tempo, processos que observamos com certa regularidade e processos bem
singulares, que ocorre de maneira diferente para cada indivíduo. Tais
singularidades relacionam-se, por exemplo, às múltiplas experiências vividas
no período pré-escolar. Aprendemos por diferentes caminhos e diferentes
espaços, e nem sempre a escola é a única protagonista no processo de
aquisição da escrita e da leitura.
Devemos levar em consideração que o aprendizado sistematizado da leitura e
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43
escrita é difícil para as crianças, pois a fazem utilizar habilidades linguísticas
ainda não exploradas. Sabendo disso e de posse desse entendimento, temos que
pensar que nem todas possuem as mesmas ideias e experiências em relação à
linguagem escrita (PETRONILO, 2007). Então, antes de induzir uma condição
patológica à dificuldade do aprendizado, o profissional deve ouvir a criança
para angariar conhecimento do que ela traz de conteúdo pré-escolar e analisar
quais são as expectativas em torno desse novo momento, a alfabetização.
Uma questão se faz importante: Como diferenciar os desvios encontrados na
chamada dislexia/disgrafia dos erros comumente encontrados no processo de
aquisição?
A linha que diferencia o processo de aquisição da leitura e escrita e o conceito
da dislexia, além de ser vaga e imprecisa, é muito tênue. De acordo com Massi
(2004) os sintomas apresentados como indicativos da dificuldade, tais como:
uso indevido de letras, escrita de acordo ao som, trocas ortográficas,
segmentações impróprias – também fazem parte do processo normal de
aquisição desse novo sistema. Levando em consideração que estamos lidando
com crianças, ingressantes nesse sistema, o método de tentativa – erro –
conserto, tem que estar presente e ser considerado como um indício de
percepção do novo.
O papel dos pais, professores e demais rede de apoio nesse caso é de incentivar
a manutenção das práticas de alfabetização e letramento, potencializarem os
acertos e fazer com que a criança, gradativamente, amadureça sendo capaz de
identificar e corrigir seus erros sem exposição negativa. Construindo uma
consciência crítica, preservando o interesse pela leitura e escrita.
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44
5. METODOLOGIA
No que se refere ao tipo de estudo, esse projeto se caracteriza como uma
pesquisa de revisão integrativa, que é um tipo de estudo que permite a
combinação de dados encontrados na literatura teórica e empírica. Essa
metodologia tem o objetivo de proporcionar a síntese do conhecimento e a
incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos na prática (Souza,
Silva & Carvalho, 2010).
Para as amostras serão utilizados artigos científicos e teses. Estes artigos serão
selecionados considerando como critérios de inclusão a publicação nos últimos
15 anos e podem ser encontrados com os seguintes termos para busca:
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, dislexia, disgrafia,
dificuldade de leitura e escrita, transtorno do aprendizado. Todos cruzados
entre si e com abordagem voltada às crianças em idade escolar e escritos em
língua portuguesa. Serão excluídos todos os artigos que não se enquadrem na
temática proposta do trabalho a partir da leitura dos resumos.
A pesquisa dar-se-á através da busca em plataformas virtuais como o Google
Acadêmico, Biblioteca Virtual de Saúde, Scielo Brasil e Capes.
O processo de revisão iniciará com a pré-seleção dos textos, artigos e teses que
serão utilizadas no trabalho, após análise os dados relevantes para a pesquisa
serão tabulados como resumo de cada fonte pesquisada e salvos na plataforma
dropbox pessoal. A organização será feita a partir da pergunta de investigação.
A análise de dados será feita a partir do referencial teórico descrito no quadro
teórico, conforme já adiantamos, tendo como base os estudos sobre a
medicalização na infância e na educação e os estudos sobre o processo de
aquisição de leitura e escrita numa perspectiva linguístico/discursiva e não
patologizante.
20
20
6. ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
O presente estudo será realizado de acordo com a Resolução do Conselho
Federal de Fonoaudiologia nº 305/2004 que regulamenta os princípios éticos
gerais da profissão de fonoaudiólogo e a partir da resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde, que aprova as diretrizes e normas que
regulamentam as pesquisas realizadas com seres humanos.
No que se refere à coleta de dados para realização da pesquisa, esta não
envolverá seres humanos, logo não será submetida ao Comitê de Ética,
contudo manterá um posicionamento ético sobre os estudos já publicados com
o tema, respeitando essas pesquisas e propondo uma nova discussão sobre o
assunto.
21
21
7. CRONOGRAMA
ATIVIDADES - 2015.2 JAN FE
V
MA
R
ABR
I
MA
I Levantamento de dados x x
Leitura das fontes x
Redação de esboço x x
Apresentação para qualificação x
Entrega do projeto corrigido x
ATIVIDADES - 2016.1 JU
N
JU
L
AG
O
SET OU
T Pesquisa bibliográfica x x
Leitura e seleção do material para análise x
Análise dos dados e descrição dos resultados x
Redação do texto final x
ATIVIDADES - 2016.2 NOV DE
Z
JAN FE
V
MA
R Defesa do TCC x
22
22
8. ORÇAMENTO
Este projeto será realizado utilizando-se recursos próprios.
Equipamentos de uso permanente:
Item Quantidade Valor unitário
R$
Valor total R$
Notebook 1 R$ 1.000,00 R$ 1.000,00
Impressora 1 R$ 500,00 R$ 500,00
Total R$ 1.500,00
Material de consumo
Item Quantidade Valor unitário
R$
Valor total R$
Resma de Papel A4 1 resma R$15,00 R$ 15,00
Cartucho de tinta preta para Impressão 2 R$ 30,00 R$ 60,00
Total - - R$ 75,00
Orçamento: R$ 1.575,00
23
23
9. REFERÊNCIAS
ABDA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO - O que é o
TDAH? - Disponível em:
http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah.html Acesso em: 20/12/2014
ANTONY, Sheila e RIBEIRO, Jorge Ponciano. A criança hiperativa: uma
visão da abordagem gestáltica. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722004000200005. Acesso em:
17/10/2014.
ARAUJO, Alexandra P. Q. C. - Avaliação e manejo da criança com dificuldade
escolar e distúrbio de atenção. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/S0021-75572002000700013. Acesso em: 12/03/2016.
BRZOZOWSKI, Fabíola Stolf e CAPONI, Sandra. Transtorno de déficit de
atenção com hiperatividade: classificação e classificados. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/S0103- 73312009000400014. Acesso em:
19/10/2014.
BRZOZOWSKI, Fabiola Stolf e DIEHL, Eliana Elizabeth. Transtorno de
déficit de atenção/hiperatividade: o diagnóstico pode ser terapêutico?
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722013000400008 Acesso
em: 19/10/2014
CALIMAN, Luciana V. - A constituição sócio-médica do “FATO TDAH”.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v21n1/16.pdf. Acesso em:
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CALIMAN, Luciana V. - Notas sobre a história oficial do transtorno do déficit
de atenção/hiperatividade TDAH. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/S1414- 98932010000100005. Acesso em:
12/03/2016.
CAMARGOS JR., Walter e NICOLATO, Rodrigo. Características das
prescrições no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Disponível em:
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dislexia: conflito entre verdades. Disponível em:
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PEREIRA, Heloisa S.; ARAÚJO, Alexandra P. Q. C.; MATTOS, Paulo. -
Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH): aspectos
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26
26
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SIGNOR, Rita. - Dislexia: uma análise histórica e social. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/1984-639820158213. Acesso em: 28/03/16.
SIGNOR, Rita. Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade: uma análise
histórica e social. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1984-
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SIQUEIRA, Cláudia M. e GURGEL-GIANNETTI, Juliana. - Mau
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SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica,
1999.
SOUZA, Isabella G. S. de; SERRA-PINHEIRO, Maria Antônia; FORTES,
Didia e PINNA, Camilla. Dificuldades no diagnóstico de TDAH em crianças.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0047-20852007000500004. Acesso
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SOUZA, Marcela T.; SILVA, Michelly D.; CARVALHO, Raquel de. Revisão
Integrativa: o que é e como fazer. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/eins/v8n1/pt_1679-4508-eins-8-1- 0102.pdf. Acesso
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TOASSA, Gisele. Sociedade Tarja Preta: uma crítica à medicalização de
crianças e adolescentes. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1984-
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EXISTÊNCIA DUVIDOSA.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.14572/nuances.v25i1.2736. Acesso em:
26/03/2016.
27
27
ANEXO A
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA TRANSTORNO DE DÉFICIT DE
ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE – DSM IV
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE
A. Ou (1) ou (2)
1) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram por pelo menos 6 meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de
desenvolvimento: Desatenção:
(a) freqüentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras
(b) com freqüência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas
(c) com freqüência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra
(d) com freqüência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a
comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções)
(e) com freqüência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades
(f) com freqüência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de
casa)
(g) com freqüência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais)
(h) é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa
(i) com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias
(2) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade persistiram por pelo menos 6 meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível
de desenvolvimento:
Hiperatividade:
(a) freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira
(b) freqüentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado
(c) freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a
sensações subjetivas de inquietação)
(d) com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer
(e) está freqüentemente "a mil" ou muitas vezes age como se estivesse "a todo vapor"
(f) freqüentemente fala em demasia
Impulsividade: (g) freqüentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas (h) com freqüência tem dificuldade para
aguardar sua vez (i) freqüentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por ex., intromete-se em conversas ou brincadeiras)
B. Alguns sintomas de hiperatividade-impulsividade ou desatenção que causaram prejuízo estavam presentes antes dos 7 anos de idade.
C. Algum prejuízo causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (por ex., na escola [ou trabalho] e em casa).
D. Deve haver claras evidências de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.
E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno
Psicótico e não são melhor explicados por outro transtorno mental (por ex., Transtorno do Humor, Transtorno de Ansiedade, Transtorno
Dissociativo ou um Transtorno da Personalidade).
Codificar com base no tipo:
F90.0 - 314.01 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Combinado: se tanto o Critério A1 quanto o Critério A2 são satisfeitos
durante os últimos 6 meses. F98.8 - 314.00 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Predominantemente Desatento: Se o Critério A1
é satisfeito, mas o Critério A2 não é satisfeito durante os últimos 6 meses. F90.0 - 314.01 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade,
Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo: Se o Critério A2 é satisfeito, mas o Critério A1 não é satisfeito durante os últimos 6 meses.
APÊNDICE 1
Estudos incluídos de acordo com as categorias analisadas.
AUTORES TÍTULO DO
ARTIGO
DIFICULDADE DE
LEITURA
DIFICULDADE DE
ESCRITA AVALIAÇÃO
ALVES
D.C.; CASELLA
E.B.;FERRARO
A.A./2016
Desempenho
ortográfico de escolares com
dislexia do desenvolvimento
e com dislexia do
desenvolvimento associado
ao transtorno do déficit de
atenção e hiperatividade
Relaciona as alterações
atencionais e de memória
visuoespacial em crianças com
TDAH. Não caracteriza as
dificuldades de leitura
Disortografia (omissões,
substituições e inversões de grafemas).
Alteração na ordem dos segmentos,
omissão e adição de segmentos,
ausência ou presença inadequada de
pontuação.
Ditado balanceado de
palavras (86 palavras).
PINA,
I.L.et al./2010
Avaliação de uma
intervenção pedagógica na
aprendizagem de crianças
com Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade -
TDAH - no âmbito das
políticas públicas do Estado
do Pará.
O estudo refere que, no
desempenho em leitura e escrita - a
maioria das crianças avaliadas
encontra-se no estágio silábico
alfabético para o nível alfabético
para silábico. Não aponta
características mais específicas do
desempenho de leitura.
O estudo refere que no
desempenho em leitura e escrita - a
maioria das crianças avaliadas encontra-
se no estágio silábico alfabético para o
nível alfabético para silábico. No
entanto, não aponta características mais
específicas deste desempenho da escrita.
Teste de Desempenho
Escolar (TDE), proposto por Stein
(1994)
ZORZI,
J.L.; CIASCA,
S.M./2009
Análise de erros
ortográficos em diferentes
problemas de aprendizagem
Nenhuma dificuldade de
leitura foi avaliada ou mencionada
nesse trabalho.
A amostra dividida em grupos:
Transtorno do Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDA/H – 28);
Dificuldades de Aprendizagem (13);
Distúrbio de Aprendizagem (7);
Dislexia (3); Distúrbios Associados (5)
e Diagnóstico inconclusivo (9). A maior
incidência de erro entre os grupos foi o
de Representação múltipla(ortografia),
seguido de Omissões (fonologia) e
apoio na oralidade (ortografia).
Ditado de palavras reais e
inventadas, previamente elaborado
para medir uma série de
conhecimentos ortográficos, e de
uma redação a partir de um tema
dado por meio da qual é verificado o
nível de domínio da ortografia em
situação de produção de escrita
espontânea.
ZORZI,
J.L.; CIASCA,
S.M./2008
Caracterização dos
erros ortográficos em
crianças com
transtornos de aprendizagem
Nenhuma dificuldade de
leitura foi avaliada ou mencionada
nesse trabalho.
A amostra dividida em grupos:
Transtorno do Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDA/H);
Dificuldades de Aprendizagem;
Distúrbio de Aprendizagem; Dislexia;
Disgrafia; Altas Habilidades;
Dificuldades Ortográficas; Síndrome de
Prader-Willis; Distúrbios Associados e
Diagnóstico não Conclusivo. incidência
de erro entre os grupos foi o de
Representação múltipla(ortografia),
seguido de Omissões (fonologia) e
apoio na oralidade (ortografia).
Ditado de palavras reais e
inventadas, previamente elaborado
para medir uma série de
conhecimentos ortográficos, e de
uma redação a partir de um tema
dado por meio da qual é verificado o
nível de domínio da ortografia em
situação de produção de escrita
espontânea.
OKUDA,
P.M.M. et al/2011
Função motora fina, sensorial
Nenhuma dificuldade de
leitura foi avaliada ou mencionada
Todos os escolares do grupo
com TDAH apresentaram alterações
Testes que avaliam os
aspectos da grafia: linhas flutuantes,
e perceptiva de escolares com
transtorno do déficit de
atenção com hiperatividade
nesse trabalho. motoras finas, sensoriais e perceptivas e
o quadro de disgrafia.
linhas descendentes e/ou
ascendentes, espaço irregular entre
as palavras, letras retocadas,
curvaturas e angulações das arcadas
das letras m, n, u e v, pontos de
junção, colisões e aderências,
movimentos bruscos, irregularidade
de dimensão e más formas. Sob
administração do Metilfenidato.
SIQUEIRA,
C.M.; GURGEL-
GIANNETTI,
J./2011
Mau desempenho
escolar: uma visão atual
O artigo refere que essas
crianças podem apresentar
dificuldade de leitura devido às
deficiências de atenção, memória de
trabalho e funções executivas. Sem
especificar as dificuldades. Refere
comorbidade entre TDAH e
Transtorno da aprendizagem e
descreve a dificuldade para o TA:
Não compreensão da leitura •
Dificuldade em identificação de
letras. Confusões de letras
diferentes, orientações ou pequenas
diferenças na grafia: (p/q -b/d - c/e -
u/v - i/j - n/u) ou sons semelhantes (
b/p - d/t ) • Dificuldade em aprender
letra-som. Isso leva a inversões de
Não especifica quais seriam as
dificuldades de escrita para o TDAH.
Refere características do TA (da
comorbidade): Disgrafia: traçado de
letra ilegível, dificuldade para escrever,
mistura de letras
(maiúsculas/minúsculas, forma/cursiva),
traçado de letra incompleto, dificuldade
visomotora (cópia) e visoespacial.
Comum associação com transtorno de
desenvolvimento de coordenação (TDC)
• Disortografia: geralmente acompanha
a dislexia. São dificuldades linguísticas
(fonológicas e ortográficas) e de
produção de texto
Revisão abrangente e não
sistemática de literatura sobre
aprendizagem, desempenho escolar,
Transtorno de aprendizagem, TDAH
e transtorno de desenvolvimento e
coordenação. No caso de TA, a
avaliação da leitura e escrita é
realizada por testes.
sílabas ou palavras (sol/ los),
substituições de palavras com
estrutura semelhante; supressão ou
adição de letras ou de sílabas
(marinha/marina); repetição de
sílabas ou palavras • Dificuldade em
provas de consciência fonológica e
imaturidade fonológica. Dificuldade
de identificar e realizar rimas após 4
anos. Fragmentação incorreta na
escrita (pu leina pis cina/ pulei na
piscina) • Confusão em relações
têmporo-espaciais, esquema corporal
e lateralidade (não reconhece direito
e esquerdo em si próprio aos 6
anos).Escrita em espelho após 6 ou 7
anos
CAPELLIN
I, S.A.; FERREIRA,
T.deL.; SALGADO,
C.A.; CIASCA,
S.M./2007
Desempenho de esco
lares bons leitores,
com dislexia e
com transtorno do déficit de a
tenção e hiperatividade em
nomeação automática rápida.
As crianças que apresentam
falhas atencionais ou de
processamento da informação terão
dificuldade para acionar um
processamento visual refinado, o que
comprometerá o acesso fonológico
exigido para a realização da leitura e
escrita de um sistema alfabético.
Os achados deste estudo
Não apontam dados ou
caracteriza a escrita.
Teste de nomeação rápida
automática (cores, dígitos, letras e
objetos)
evidenciaram que os escolares com
TDAH apresentam dificuldades para
nomear rapidamente estímulos como
cores, dígitos, letras e objetos
quando comparados ao grupo
controle. (A habilidade de
nomeação rápida é importante para o
processo de leitura – processamento
fonológico)
ANDRADE
, O.V.C.A.;
ANDRADE, P.E.;
CAPELLINI,
S.A./2014
Caracterização do pe
rfil cognitivo-
linguistico de escolares com
dificuldades de leitura e
escrita.
O artigo menciona que
crianças com TDAH apresentam
prejuízo de nomeação automática
rápida, memória de trabalho
fonológico e prejuízos de
consciência fonológica, aumentando
o risco de desenvolver um transtorno
de leitura.
O risco aumentado para o
desenvolvimento do transtorno de
leitura acarretará numa dificuldade para
aquisição da linguagem escrita - não
define qual.
Testes padronizados,
aplicação de ditados, leitura de
palavras e pseudopalavras,
identificação de rimas, aliteração e
segmentação silábica