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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS
UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA
MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO
DALBERTO COREZZOLA
CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL - APL DA
MAÇÃ NO MUNICÍPIO DE IPÊ - RS
Ipê
2010
Dalberto Corezzola
CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL - APL DA
MAÇÃ NO MUNICÍPIO DE IPÊ - RS
Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão do Agronegócio, pelo MBA em Gestão do Agronegócio da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.
Orientador: Prof. Dr. Jean Philippe P. Révillion
Ipê
2010
2
São Leopoldo, 28 de outubro de 2010.
Considerando que o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Dalberto Corezzola encontra-se em condições de ser avaliado, recomendo sua apresentação oral e escrita para avaliação da Banca Examinadora, a ser constituída pela coordenação do MBA em Gestão do Agronegócio.
________________________________________
Prof. Dr. Jean Philippe Palma Révillion Professor Orientador
3
AGRADECIMENTOS
À EMATER, por proporcionar aos seus funcionários a oportunidade de capacitação e
aperfeiçoamento profissional.
Ao meu orientador, Professor Dr. Jean Philippe Palma Révillion, por ter aceito o
desafio de orientar meu trabalho num curto espaço de tempo para ser executado, pelo seu
conhecimento, compreensão, colaboração, incentivo, dedicação e ensinamentos
proporcionados.
A todos os professores do Curso MBA Gestão em Agronegócio da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, pelos conhecimentos transmitidos, pelo convívio
fraterno e amigo.
A todos os produtores de maçã de Ipê e aos especialistas entrevistados, pela disposição
e colaboração para a concretização deste trabalho.
Aos colegas do curso, pelos bons momentos vivenciados, pelo companheirismo e
solidariedade, pela amizade e pelas trocas de idéias.
A todos que diretamente ou indiretamente contribuíram para a realização deste
trabalho.
4
RESUMO
Este estudo busca a caracterização e análise do arranjo produtivo local – APL produção de maçã de Ipê - RS, considerando a percepção dos produtores de maçã e os especialistas setoriais. Busca identificar os agentes participantes da APL, caracterizar o sistema de produção, industrialização e o seu sistema de organização. Identifica e avalia os gargalos e as oportunidades de natureza tecnológica e organizacional para o desenvolvimento da APL. O estudo foi de caráter descritivo e exploratório e utilizou-se a metodologia de caso. A coleta dos dados foi realizada com a técnica de entrevista estruturada e semi-estruturada, respectivamente, com produtores de maçã e especialistas setoriais, no período de setembro a outubro de 2010. Os resultados desta pesquisa mostram existência de fragilidades de mecanismos de cooperação entre os agentes da APL. As percepções sobre a adequação das condições da infra-estrutura local apresentam pontos convergentes e divergentes. A mão-de-obra contratada é de baixa qualificação. O dinamismo e a busca pelo aprimoramento tecnológico é um fator indutor de desenvolvimento da APL, aliado a oferta de recursos para investimentos. Existem parcerias no APL e o seu fomento é importante para aumentar a competitividade. Devido à importância no contexto local, sugere-se a realização de novas pesquisas que aprofundem a contribuição na análise do APL e a sua compreensão. Palavras-Chave: APL. Agronegócio. Maçã.
5
ABSTRACT
This study attempts to characterize and analyze the local cluster - APL apple production of Ipê - RS, considering the perception of the apple growers and industry experts. We aim to identify the agents participating in the APL, to characterize the system of production, industrialization and its system of organization, as well as to identify and evaluate the bottlenecks and the technological and organizational opportunities for the development of the APL. The study was both descriptive and exploratory, and used the methodology of case study. Data collection was performed with structured and semi-structured interviews with apple growers and industry experts during the period September-October 2010. These results show the existence of weaknesses of cooperation mechanisms between the agents of the APL. Perceptions about the adequacy of the conditions of local infrastructure are convergent and divergent. Labor consists of hired unskilled workers. Keywords: APL. Agro-business. Apple.
6
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APL – Arranjo Produtivo Local
OILB – Organização Internacional para a Luta Biológica e Integrada contra os Animais e
Plantas Nocivas
PIM – Produção Integrada de Maçã
PIF – Produção Integrada de Frutas
AGAPOMI – Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã e Pêra
AGROPRADO – Cooperativa Agroindustrial Pradense
FRUTISUL – Cooperativa dos Produtores de Fruta de Vila Segredo
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
PROFRUTA – Programa de Desenvolvimento da Fruticultura
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
ACROCAMP - Associação de Produtores de Hortifrutigranjeiros de Campestre da Serra
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
SICREDI - Sistema de Crédito Cooperativo
CRESOL - Cooperativa Central de Crédito Rural com Interação Solidária
POMIGRAM - Empresa de Planejamento e Assistência Técnica
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 08 1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ..................................................................... 11 1.2 OBJETIVOS .................................................................................................. 12 1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................... 12 1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................. 12 1.3 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................. 14 2.1 CARACTERÍSTICAS DAS CADEIAS DE PRODUÇÃO DE MAÇÃ EM IPÊ – RS.................................................................................................................. 14 2.1.1 Sistemas de certificação das maçãs ........................................................... 21 2.2 FATORES TECNOLÓGICOS, INSTITUCIONAIS E COMPETITIVOS PERTINENTES AO DESENVOLVIMENTO DE ARRANJOS PRODUTIVOS . 23
3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS ............................................................... 29
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ............................................. 31
5 CONCLUSÃO ................................................................................................. 39
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 41
ANEXOS ............................................................................................................ 45
8
1 INTRODUÇÃO
Lacerda et al. (2004) dizem que a fruticultura, hoje, é um dos segmentos mais
importantes da agricultura brasileira, respondendo por 25% do valor da produção
agrícola nacional. A fruticultura é uma atividade bastante promissora para o
desenvolvimento do agronegócio brasileiro, apresentando um ambiente favorável ao seu
crescimento, com o aumento do consumo de frutas por parte da população brasileira.
Nos últimos anos, aumentou sua área a uma taxa nunca vista antes na história.
Ampliando suas fronteiras em direção à região nordeste, onde condições de
luminosidade, umidade relativa e temperatura são muito mais favoráveis do que nas
regiões sul e sudeste, onde até então era desenvolvida.
Dentro da fruticultura, a produção de maçã no Brasil se expandiu
significativamente nas últimas décadas. Alguns dos fatores que contribuíram para esse
crescimento foram: produção de variedades modernas, disponibilidade de terras, regiões
com condições climáticas favoráveis e as recentes preocupações com produtividade e
infraestrutura de embalagem e conservação transformaram o Brasil em grande produtor.
Pereira et al. (2007), citado por Bittencourt e Mattei (2008), identificam alguns
períodos distintos na evolução da produção de maçãs no Brasil, entre eles, a formação
da estrutura de produção – período que vai até o final dos anos 1980, caracterizado pelo
aumento significativo da área plantada e da produção, conquistando o mercado interno
com consequente redução da participação da maçã importada e a intensificação e
consolidação - período que compreende a década de 1990, no qual sucessivos aumentos
de produção intensificaram a consolidaram a participação da maçã nacional no mercado
interno, através da conquista dos consumidores pelo preço e sabor.
A produção de maçãs do país passou por uma reestruturação ao longo dos
últimos anos. A densidade de plantio aumentou devido às pesquisas para o
desenvolvimento de porta-enxertos que proporcionam plantas menores e que tenham
certa resistência às doenças de solo. Passou-se a cultivar variedades mais adequadas às
exigências dos consumidores e com maior produtividade, além da pesquisa continuar na
busca de variedades resistentes às principais doenças da macieira (Bittencourt e Mattei,
2008).
9
Atualmente, a maçã está entre as seis frutas de maior volume comercializado no
país, tendo apresentado um consumo per capta de 5,3 kg. Quanto à exportação, o Brasil
tem grande potencial de ocupação de espaços no mercado internacional, tendo em conta
as características organolépticas da maçã brasileira (NACHTIGALL apud ABREU et
al., 2009).
Segundo dados do IBGE em 2008, a produção de maçã está concentrada na
região sul do Brasil, sendo que, dos 38.072 hectares de maçã do Brasil, 37.744 hectares
se encontram nessa região. Sendo os quatro principais estados produtores do Brasil:
Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.
Segundo ANUÁRIO (2010), os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
são os maiores produtores brasileiros, representado 94,2% da produção total, sendo que,
apenas Santa Catarina responde por 52,5% da produção nacional, com uma produção de
553.074 toneladas. Em particular, o estado do Rio Grande do Sul responde por uma
produção de 438.452 toneladas em uma área plantada de 14.993,07 hectares
(AGAPOMI, 2010).
A cadeia produtiva da maçã possui inserção destacada no cenário da fruticultura
brasileira, o que lhe confere inquestionável importância na economia nacional, sendo
que boa parte dessa cadeia está concentrada em grandes empresas, que cultivam
extensas áreas. Elas possuem pomares, câmaras frigoríficas para o armazenamento,
packing house para classificação e embalagem da fruta, além de realizarem as vendas
para o mercado atacadista. Já grande parte dos pequenos e médios produtores se
organiza em associações de produtores e cooperativas, como forma de obter melhores
condições produtivas e competitivas nos mercados (Bittencourt e Mattei, 2008).
A importância da cultura da maçã no município de Ipê se dá pela área plantada e
pela expressão na receita dos agricultores familiares. Nesse município, os produtores
têm erradicado pomares antigos e plantado novos pomares. Entretanto, apesar dessa
realidade de novos investimentos, há problemas na organização dos produtores – o que
impacta negativamente na comercialização da safra de maçã e nos custos de produção –
que representam uma importante fonte de desestímulo à atividade.
É possível afirmar que os agentes produtivos envolvidos com a produção,
processamento e comercialização de maçãs no município de Ipê - RS representem um
arranjo produtivo local – APL, considerando-se esse conceito como “um espaço social,
econômico e historicamente construído através de uma aglomeração de empresas (ou
10
produtores) similares e/ou fortemente inter-relacionadas1, ou interdependentes, que
interagem numa escala espacial local definida e limitada através de fluxos de bens e
serviços. Para isso, desenvolvem suas atividades de forma articulada por uma lógica
sócio-econômica comum que aproveita as economias externas, o binômio cooperação-
competição, a identidade sócio-cultural do local, a confiança mútua entre os agentes do
aglomerado, as organizações ativas de apoio para a prestação de serviços, os fatores
locais favoráveis (recursos naturais, recursos humanos, cultura, sistemas cognitivos,
logística, infra-estrutura etc.), o capital social e a capacidade de governança da
comunidade.” (COSTA, 2010).
O objetivo dessa pesquisa é caracterizar e analisar o APL da maçã no município
de Ipê de maneira a identificar os agentes participantes das cadeias produtivas
envolvidas, caracterizar a estrutura de produção, industrialização e o sistema de
organização desse APL e, finalmente, identificar e avaliar os gargalos e as
oportunidades, de natureza tecnológica e organizacional, relevantes para o seu
desenvolvimento.
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
A fruticultura é uma atividade bastante promissora para o desenvolvimento do
agronegócio brasileiro, apresentando um ambiente favorável ao seu crescimento com o
aumento do consumo de frutas por parte da população brasileira.
Neves (2000), citado por Kreuz et al. (2005) defende que, nas propriedades de
menor porte, como aquelas especializadas no cultivo de frutas, olerícolas e no fomento
ao turismo rural, devem ser desenvolvidas atividades mais compatíveis com a pequena
1 Para Mytelka e Farinelli (2000) e Lins (2000) apud Crocco et al.. (2001) as inter-relações entre os agentes podem ser: (i) verticais, para frente ou para trás, causando uma diminuição nos custos de acesso à informação e comunicação, ou aos riscos associados à introdução de novos produtos, bem como ao tempo de transição e o mercado; (ii) horizontais, como marketing conjunto, consórcios de compra de insumos, uso comum de equipamentos especializados, que levam à redução dos custos de transação, além de proporcionar maior e melhor acesso a novos mercados e à aceleração da introdução de inovações; (iii) relações de localização geradoras de externalidades positivas, tais como disponibilidade de mão-de-obra especializada, de infra-estrutura comum, de um ambiente de negócios (ou atmosfera industrial) que proporcione a troca de informações e a criação conjunta de convenções que levem a um sistema comum de aprendizado e conduta inovativa; (iv) por fim, vínculos multilaterais que envolvem os produtores locais, combinando associações empresariais e poder público local, configurando uma aliança público-privada, fundamental à transformação desses arranjos em estruturas produtivas mais amplas e competitivas, tanto em nível local, como regional e nacional.
11
escala. Especificamente, a “pequena produção” deve ser vista sob uma ótica sistêmica,
buscando produtos adequados às exigências de consumidores finais mais diferenciados
e, principalmente, pouco susceptíveis a economias de escala. Estratégias diversas
podem ser estabelecidas nesse aspecto: produção ecologicamente correta, o uso de
denominações de origem, identificação dos produtos como advindos de pequenos
produtores.
Segundo Nascente (2006), também é fundamental que os diferentes setores
envolvidos com a produção de frutas no Brasil avancem em aspectos tecnológicos:
“A fruticultura é apontada como uma atividade promissora para o desenvolvimento do setor agropecuário brasileiro, apresentando um ambiente favorável ao seu crescimento, como a existência de um programa nacional de fruticultura, de vários programas estaduais, aumento do consumo de frutas, possibilidade de exportação, atividade com capacidade de geração de emprego e renda para a agricultura familiar, complementação alimentar, entre outras. Entretanto, para a atividade "decolar" é preciso profissionalizar o setor, ou seja, criar mecanismos para a produção de frutas de qualidade para o mercado interno e externo, tanto para processamento quanto para o consumo de frutas frescas. Organizar a cadeia produtiva das frutas, de modo que, todos os elos estejam capacitados, treinados, motivados e conscientes de seu papel no desenvolvimento da atividade.” (NASCENTE, 2006).
No estado do Rio Grande do Sul, a cultura da maçã foi desenvolvida,
predominantemente, a partir de um modelo de unidades de produção que se
beneficiavam de economias de escala. Existem desafios, portanto, relacionados à
adequação de tecnologias e, principalmente, ao desenvolvimento de iniciativas
organizacionais capazes de viabilizar as unidades produtivas de pequeno porte.
Em particular, entre os desafios ao desenvolvimento do arranjo produtivo local
de produtores de maçã do município de Ipê, foram identificados gargalos tecnológicos
(relacionados à produção de mudas com um severo controle fitossanitário, a observância
das orientações técnicas necessárias à implantação de novos pomares e à obtenção de
frutos com uma qualidade e padrão, de acordo com as necessidades e exigências dos
consumidores finais) e organizacionais (voltados à melhor organização dos produtores
de maçã nesse APL) para a busca/desenvolvimento de novos mercados e maior
agregação de valor no produto final (FERREIRA, 2001).
Kreuz et al. (2005) afirmam que a formação de um APL desenvolvido,
beneficiando-se da interação e parcerias entre os agentes vinculados ao agronegócio da
maçã (produtores de maçã, fornecedores de insumos, instituições de pesquisas,
12
instituições públicas, instituições de ensino e formação de mão-de-obra), coloca-se
como uma estratégia fundamental para a consolidação dessas atividades em nível local.
Portanto, essa pesquisa preocupa-se em caracterizar e analisar o arranjo
produtivo local - APL da maçã no município de Ipê de maneira a identificar e avaliar os
gargalos e as oportunidades, de natureza tecnológica e organizacional, relevantes para o
seu desenvolvimento.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Caracterizar e analisar o arranjo produtivo local - APL da maçã no município de
Ipê de maneira a avaliar os fatores, de natureza tecnológica e organizacional, indutores e
inibidores ao seu desenvolvimento.
1.2.2 Objetivos Específicos
– Identificar os agentes participantes das cadeias produtivas da maçã no
município de Ipê;
– Caracterizar a estrutura de produção, industrialização e o sistema de
organização nesse APL;
– Identificar e avaliar os gargalos e as oportunidades, de natureza tecnológica e
organizacional, para o desenvolvimento desse APL.
1.3 JUSTIFICATIVA
O cultivo de maçã representa uma atividade econômica de crescente importância
para os produtores rurais familiares do município de Ipê – RS. Para crescer de forma
13
sustentável, é fundamental caracterizar e analisar o APL da maçã no município de Ipê,
de maneira a identificar os agentes participantes das cadeias produtivas envolvidas,
caracterizar a estrutura de produção, industrialização e o sistema de organização desse
APL e, finalmente, identificar e avaliar os gargalos e as oportunidades, de natureza
tecnológica e organizacional, relevantes para o seu desenvolvimento.
Essa análise é fundamental para desenvolver estratégias setoriais e subsidiar
políticas públicas que visem a desenvolver esse APL e, também, servir de modelo de
análise de aglomerados agroindustriais.
14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 CARACTERÍSTICAS DAS CADEIAS DE PRODUÇÃO DE MAÇÃ EM IPÊ - RS
Segundo Bittencourt e Mattei (2008), no início da década de 1970, a escola de
economia industrial francesa desenvolveu a noção de filiére como ferramenta analítica
para estudar a dinâmica industrial, metodologia que posteriormente os economistas
agrícolas e pesquisadores do setor defenderam também nas análises de cadeias
agroindustriais.
Zylberstajn (1995) apresenta a definição de cadeia de Morvan, percussor francês
da análise de cadeias produtivas:
Cadeia (“filière”) é uma seqüência de operações que conduzem à produção de bens. Sua articulação é amplamente influenciada pela fronteira de possibilidades ditadas pela tecnologia e é definida pelas estratégias dos agentes que buscam a maximização dos seus lucros. As relações entre os agentes são de interdependência ou complementaridade e são determinadas por forças hierárquicas. Em diferentes níveis de análise a cadeia é um sistema, mais ou menos capaz de assegurar sua própria transformação. (MORVAN apud ZYLBERSTAJN, 1995, p. 125).
Uma cadeia de produção é definida a partir de um determinado produto final e
envolve as várias operações técnicas, comerciais e logísticas necessárias à sua produção,
perpassando diversos segmentos (em especial, comercialização, processamento e
produção de matérias-primas) (BATALHA, 1997).
Os macro-segmentos, assim como as etapas intermediárias da cadeia de
produção agroindustrial, têm melhor articulação possibilitada pela existência de
mercados. Batalha (1997) apresenta quatro mercados com características diferentes que
podem ser visualizados dentro de uma cadeia. Entre os produtores de insumos e os
produtores rurais; entre os produtores rurais e a agroindústria; entre a agroindústria e os
distribuidores, ou entre as agroindústrias; e entre os distribuidores e os consumidores
finais. O estudo desses mercados em uma determinada cadeia contribui para um melhor
entendimento da sua dinâmica e do seu funcionamento.
15
Diante das relações comerciais e sociais expressadas nos segmentos das cadeias
produtivas, torna-se claro o entendimento das mudanças técnicas e organizacionais no
sistema que impactam a montante e a jusante ao segmento principal. Para que todos os
segmentos da cadeia produtiva possam ser adequadamente articulados e, assim, a
competitividade e potencialidade do conjunto ser atingidas, são necessários “um
ambiente institucional estruturado e indutor de governança e coordenação em seus
vários segmentos.” (SOUZA e PEREIRA, 2006) citado por Bittencourt e Mattei (2008).
Abreu et al. (2009) detalham que a cadeia produtiva da maçã no Brasil para
consumo in natura é composta por viveiristas, produtores, frigoríficos, packing house,
distribuidores, varejistas e distribuidores.
Além dos integrantes principais apresentados acima, participam também da
cadeia de produção de maçãs prestadores de serviços, técnicos, transportadores e outros.
É possível também encontrar empresas que atuam em toda a cadeia, mas o mais comum
são empresas que atuam simultaneamente nos elos pomares, frigoríficos e packing
house, ou ainda empresas, ou pessoas físicas, que atuam apenas na produção primária,
isto é, em pomares.
A figura 1 apresenta um modelo de estrutura básica da cadeia produtiva da maçã
no Brasil.
16
Figura 1 – Modelo da Cadeia Produtiva da Maçã
Fonte: Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia (2009)
A macieira, embora seja uma cultura relativamente nova no sul do Brasil, já
apresenta resultados expressivos (Kreuz, 2003). Enquanto na safra 1973/74 foram
colhidas 1.528 toneladas, na safra 2000/2001 colheram-se em torno de 857.340
toneladas em 30.703 hectares de pomar. A necessidade de substituir a maçã importada,
principalmente da Argentina, associada a estímulos governamentais com marcante
presença da pesquisa agropecuária (Silva et al. apud Kreuz, 2003) e do serviço de
extensão rural, ajudam a explicar essa expansão.
Segundo Ribeiro (2006), a cultivar Gala (respondendo por 46% da produção
nacional), originária da Nova Zelândia, e a cultivar Fuji (respondendo por 45% da
produção nacional), originária do Japão, são, de longe, as principais cultivares em uso
no país.
Viveiros
Pomares
Frigoríficos
Fornecedores de Insumos
Prestadores de Serviços / Transportadoras
Packing House
Distribuidores
Varejistas
Consumidores
17
As variedades Gala e Fuji foram as principais cultivares plantadas quando do
início da pomicultura brasileira, com características qualitativas apreciadas pelos
consumidores e pelo fato de ser uma “fruta fresca”, o que contribui para explicar a
preferência do consumidor brasileiro pelas maçãs nacionais, pois o estava acostumado a
consumir uma maçã importada, em grande parte da Argentina, armazenada em câmara
fria, com alto grau de desidratação.
A tabela 1 apresenta a evolução da área e a produção de maçã no Rio Grande do
Sul, mostrando uma estabilização do crescimento da área plantada, em função da
erradicação dos pomares mais antigos e do plantio de alta densidade com variedades
mais produtivas.
Tabela 1: Evolução da cultura da maçã no Rio Grande do Sul.
Ano Área (hectares) Produção (tonelada)
1993 8.913,00 177.087
1994 9.067,00 188.891
1995 9.410,00 192.533
1996 9.858,00 235.121
1997 10.772,00 270.954
1998 11.442,54 317.069
1999 11.757,51 304.545
2000 11.582,19 427.316
2001 12.010,57 238.894
2002 12.538,63 335.604
2003 12.915,62 293.084
2004 13.181,96 409.695
2005 13.766,62 347.702
2006 13.886,20 307.222
2007 13.997,63 406.017
2008 14.372,77 393.674
2009 14.993,07 438.452
Fonte: AGAPOMI (2010).
Em torno de 61,14% e 31,67 da oferta de maçãs no RS é constituída de dois
grupos, ‘Gala’ e ‘Fuji’, e seus clones, respectivamente (AGAPOMI, 2010). As Gala
amadurecem e são colhidas entre o final da segunda quinzena de janeiro e o final da
primeira quinzena de fevereiro. As Fuji são colhidas entre o final de março e a primeira
18
quinzena de abril. As maçãs do grupo ‘Gala’ podem ser conservadas por três meses em
atmosfera convencional e por até cinco ou seis meses em atmosfera controlada. As Fuji
suportam bem cinco meses em atmosfera natural e até doze meses em controlada
(Camilo & Denardi apud Bittencourt e Mattei, 2008).
Na época da colheita da ‘Gala’, a produção de pequenos produtores sem
refrigeração e classificação adequada é enviada em grande quantidade ao mercado, o
que força uma queda do preço. A partir de abril, o mercado já começa a ser abastecido
por frutas frigorificadas, com a oferta declinando fortemente a partir de setembro,
quando já começa a ser difícil a manutenção da qualidade em câmaras, mesmo com a
utilização de atmosfera controlada e ocorre o consequente aumento de preços
(APROCAMP, 2009).
A variedade ‘Fuji’, que possibilita uma maior conservação pós-colheita em
câmaras de atmosfera controlada, apresenta um aumento gradativo de oferta a partir de
março, época de colheita, e atinge o pico em setembro, quando a ‘Gala’ começa a
escassear, mantendo uma tendência de preço médio constante até janeiro, quando a
disponibilidade diminui bastante e ainda não há uma nova colheita de ‘Gala’ que crie
condições para a manutenção de preços (APROCACAMP, 2009).
Para atender ao mercado consumidor de maçã, os produtores da APL produção
de maçã de Ipê instalaram sete câmaras frias para a conservação da maçã e a venda
escalonada durante o ano. Essa estratégia por parte dos produtores de maçã, realizada de
forma individual, agrupados em associações informais de produtores de maçã ou
cooperativas, tem colaborado no sentido de atender ao mercado, sejam os distribuidores
ou os varejistas, com volumes classificados e distribuídos durante os meses do ano.
Para que a maçã se desenvolva com qualidade, para as variedades da família
Gala são necessárias 700 horas de frio (temperatura abaixo de 7ºC) por ano para a
grande parte das variedades de maçã cultivadas no Brasil. Esse é um dos fatores
climáticos de suma importância para uma boa produtividade. O que vem ocorrendo nos
últimos anos é a ocorrência de anos com alternância de períodos frios, seguidos de
períodos de calor. Ocorrendo, desse modo, a redução ou neutralização do somatório de
horas de frio necessário para a produção de maçã.
A ocorrência de precipitações no período de florescimento tem também reduzido
a produção de maçã, ainda mais quando da ocorrência simultânea de redução da
temperatura. Essas condições dificultam a polinização das flores pelas abelhas, porque,
nessas condições: “as abelhas não trabalham ou trabalham muito pouco”. Isto ocorreu
19
principalmente no período de 2008 e 2009, com anotações diárias da precipitação pela
Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Ipê.
Apesar da imponderabilidade deste fator, o clima, e das mudanças que vêm
ocorrendo, há necessidade da busca de informações e de adequar o APL produção de
maçã em Ipê - RS. O plantio de Eva, variedade menos exigente em frio, entre 300 a 350
horas de frio, e que é colhida antes da variedade Gala, é uma alternativa para os
pequenos plantios de maçã, pois o clima mais quente favorece a produção de uma maçã
com menor exigência de frio, como é o caso dessa variedade e da Broockfield; sendo
que a maçã produzida tem menor índice de rusting e uma casca mais lisa.
A implantação de novos pomares de maçã procura se adequar às exigências de
mercado, com variedades mais produtivas e com maior resistência às doenças, com
melhor coloração e apresentação visual. As variedades que vêm sendo plantadas são
clones da Gala, como a Royal Gala, a Condeça, a Imperial Gala, a Broockfield, além da
Fuji Suprema, clone da Fuji. São pomares de alta densidade de mudas, com porta-
enxertos anões e com um sistema de condução em taça, com o uso de arqueamento de
ramos para a redução da juvenilidade das plantas (resposta aos estímulos externos para a
mudança do crescimento vegetativo para o reprodutivo).
Quanto às máquinas, implementos e equipamentos utilizados na produção de
maçã, estão adequados ao atual sistema de produção, principalmente quando
comparados com os utilizados no início da cultura de maçã em Ipê. A principal
mudança ocorrida foi a troca dos tratores sem tração pelos com tração integral, pois, em
função do relevo acidentado, a adoção desses tratores trouxe mais segurança aos seus
operadores e qualidade na aplicação dos tratamentos fitossanitários, aliados aos
pulverizadores atomizadores com turbina.
A produção de frutas pode ser planejada ou dividida em algumas fases nas quais
ocorre a concentração de determinados serviços a serem realizados: poda seca, raleio,
poda verde, colheita e pós-colheita (realização de adubação para a próxima safra).
Sendo ainda realizados, no período dos serviços, os tratamentos fitossanitários
(aplicação de fungicidas, inseticidas, herbicidas e demais produtos) para o controle de
doenças, pragas e plantas daninhas; ainda a aplicação de adubos foliares, produtos para
o raleio químico, entre outros.
Na região de Ipê a produção de maçã está concentrada em pequenas
propriedades rurais, sendo utilizada a mão-de-obra familiar com diversificação de
atividades. São cultivadas, além da maçã, outras frutas como a uva, o pêssego, a ameixa,
20
o caqui; algumas desenvolvem a criação de suínos e aves em sistema integrado, além da
atividade leiteira e outras produzem olerícolas (alho, cebola, cenoura, beterraba) e grãos
(milho, soja, feijão, trigo).
A mão-de-obra da propriedade, que no passado dependia exclusivamente da
família, vem tendo atualmente dificuldade para realizar todas as atividades de manejo
da cultura da maçã, sendo cada vez mais frequente a contratação de mão-de-obra
temporária para a execução da poda (seca e verde), do raleio dos frutos e da colheita.
A energia elétrica distribuída nas diversas propriedades rurais é, na grande
maioria, monofásica, sendo a trifásica em número reduzido. Apesar de hoje haver
energia em todas as propriedades, em muitas delas a qualidade dela é inferior às
necessidades dos produtores. Apesar desses apontamentos, a energia elétrica não é um
fator limitante da produção de maçã no APL de Ipê.
A água para a realização dos tratamentos fitossanitários é de boa qualidade, com
a realização da acidificação dessa para melhorar a eficiência dos produtos aplicados.
Além da boa qualidade da água, os produtores contam com açudes construídos para a
irrigação dos pomares. A maior parte destes açudes foi construída após o ano de 2002,
ano em que ocorreu uma forte seca em todo o estado do Rio Grande do Sul, que
sensibilizou os produtores de maçã para a necessidade e a importância da irrigação para
a produção de maçã, bem como para a segurança da produção e para a qualidade da
fruta.
A agroindustrialização é uma estratégia de agregação de valor aos produtos
agrícolas, porém, são poucas as ações desenvolvidas pelo APL produção de maçã de Ipê
- RS para estruturar a aplicação de processos industriais mais sofisticados. Atualmente,
grande parte da maçã, considerada como indústria, de qualidade inferior, é comprada
dos produtores de maçã por preços muito baixos pelas indústrias de suco. Sendo
consenso da maioria dos produtores, a necessidade de recolher esta fruta, para que não
fique no pomar e venha a ser vetor de inóculo de doenças para as próximas safras. Pois,
do contrário, não a venderiam para a indústria.
21
2.1.1 Sistemas de certificação das maçãs
Segundo Ribeiro (2006), o conceito de Produção Integrada (PI) teve seus
primórdios nos anos 70 pela Organização Internacional para Luta Biológica e Integrada
(OILB). Em 1976, foram discutidas na Suíça as relações entre o manejo das culturas de
fruteiras e a proteção integrada das plantas. Na ocasião, ficou evidenciada a necessidade
de adoção de um sistema que atendesse às peculiaridades do agroecossistema, de forma
a utilizar associações harmônicas relacionadas com as práticas de produção, incluindo-
se nesse contexto o manejo integrado e a proteção das plantas, fatores fundamentais
para obtenção de produtos de qualidade e sustentabilidade ambiental.
Somente em 1993 foram publicados pela OILB os princípios e normas técnicas
pertinentes, que são comumente utilizados e aceitos como base nas diretrizes gerais de
composição.
Ribeiro (2006) apresenta a definição da produção integrada do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, que define a PI como:
“um sistema de produção que gera alimentos e demais produtos de alta qualidade, mediante aplicação de recursos naturais e regulação de mecanismos para a substituição de insumos poluentes e a garantia da sustentabilidade da produção agrícola; enfatiza o enfoque holístico, envolvendo a totalidade ambiental como unidade básica; o papel central do agroecossistema; o equilíbrio do ciclo de nutrientes; a preservação e o desenvolvimento da fertilidade do solo e a sua diversidade ambiental como componentes essenciais: e métodos e técnicas biológico e químico cuidadosamente equilibrados, levando-se em conta a produção ambiental, o retorno econômico e os requisitos sociais” (MAPA apud RIBEIRO, 2006, p. 60).
No âmbito da definição da Produção Integrada da OILB, a Produção Integrada
de Frutas (PIF) se define como a produção econômica de frutas de alta qualidade, para
cuja obtenção dá-se prioridade aos métodos ecologicamente mais seguros e minimiza-se
a utilização de agroquímicos e seus efeitos secundários negativos, para aumentar a
proteção do meio ambiente e da saúde humana.
Segundo a Instrução Normativa nº 05 de 22/09/2005 do MAPA, a produção
integrada de maçã deve seguir os seguintes procedimentos: obrigatórios, recomendados,
proibidos e permitidos com restrições para as seguintes áreas temáticas - capacitação,
22
organização dos produtores, recursos naturais, material propagativo, implantação de
pomares, nutrição de plantas, manejo do solo, manejo da parte aérea, proteção integrada
da cultura, colheita e pós-colheita, análise de resíduos, processo de empacotadoras,
sistema de rastreabilidade e cadernos de campos e de pós-colheita e assistência técnica.
Em particular, no município de Ipê - RS, a Cooperativa Agroindustrial Pradense
- AGROPRADO tem trabalhado incentivando os produtores do APL de maçã a
utilizarem as normas e procedimentos de Produção Integrada de Maçã (PIM). Porém,
apesar do entendimento e da importância do PIM, a maioria dos produtores do APL
produção de maçã Ipê e Antônio Prado não vem adotando esse sistema de produção,
principalmente pela falta de retorno econômico da fruta que é produzida pelo PIM.
Apesar de indiscutível do ponto de vista da produção de um alimento com maior
segurança alimentar, na percepção do produtor, a motivação para adotar novas
estratégias de produção está ligada ao aumento da remuneração para a maçã produzida.
Essa percepção dos produtores é contrastante com os resultados apresentados
pelo MAPA para a produção de maçã pelo sistema integrado em relação ao sistema
convencional: o primeiro permitiria uma redução de 14 a 16% nos custos e um aumento
de produtividade que poderia ser da ordem de até 50% (DEPROS/SDC/MAPA-2008
apud ANDRIGUETO, 2008).
Outra importante estratégia de agregação de valor é a produção orgânica.
Conforme DAROLT apud Ribeiro (2006), a agricultura orgânica, surgida nos anos 30 e
40 na Grã-Bretanha e Estados Unidos, preconiza a fertilidade do solo e das plantas por
meio da reciclagem de nutrientes da matéria orgânica (restos culturais), rotação de
culturas e adubação verde, preocupando-se com a saúde do trabalhador e até com as
relações de comercialização. Dentro do conjunto de técnicas de manejo das culturas do
sistema de produção orgânica não é permitido o uso de fertilizantes químicos de alta
solubilidade e defensivos sintéticos.
A produção orgânica no Brasil foi regulamentada pela Lei 10.831 de
23/12/2003-MAPA, sendo esta o resultado de debates por diversas organizações em
torno do tema. O Decreto nº 6.323 de 27/12/2007, regulamentou a Lei 10.831.
Esse sistema de produção atende a crescente demanda por alimentos mais
saudáveis, por serem isentos de resíduos de agrotóxicos, e está alinhado com a
perspectiva de consumidores que valorizam a preservação ambiental (SPERS et al.
2007); (LOMBARDI & PEROSA, 2007). A conversão de produtores aos sistemas de
produção orgânica é incentivada pela diferenciação no preço do produto (maior em
23
relação aos convencionais), menor gasto no manejo da cultura, principalmente após a
adaptação do sistema, e pela não utilização de defensivos químicos, um dos
componentes mais dispendiosos na relação dos custos de produção agrícola.
A produção orgânica teve o seu início em Ipê nos meados da década de 80, com
vários atores sociais envolvidos no seu desenvolvimento, sendo os principais a
EMATER local e a ONG Centro de Agricultura Ecológica (CAE). Temos várias
denominações para a produção orgânica, sendo que em Ipê ela recebe a denominação de
agricultura ecológica. Atualmente há três produtores de maçã ecológica em Ipê. A
produção de maçã é comercializada nos pontos de feira ecológica nas cidades de
Antônio Prado, Caxias do Sul e Porto Alegre; além de outros pontos de venda de
distribuição de produtos orgânicos. E, mais recentemente, também abrange escolas
municipais e estaduais através do Programa de aquisição de alimentos para a merenda
escolar.
Porém, a expansão do sistema esbarra na percepção de alguns produtores do
APL produção de maçã de Ipê – RS, que alegam que o sistema de produção orgânica
apresenta um baixo rendimento da produção de maçã orgânica frente ao de frutas
produzidas no sistema convencional, principalmente pela dificuldade no controle de
pragas e doenças no sistema orgânico e pela alta necessidade de mão-de-obra. Outro
fator restritivo é o prazo mínimo para se adequar ao sistema orgânico, que para as
culturas perenes é de 18 meses. E, finalmente, a falta de pesquisa para a produção de
maçã orgânica pelas empresas oficiais de pesquisa.
Apesar das limitações apontadas por eles, é verificado pelos produtores do APL
produção de maçã de Ipê - RS que o sistema de produção orgânica tem a vantagem na
redução da contaminação de agroquímicos para o produtor, o consumidor e o meio
ambiente.
2.2 FATORES TECNOLÓGICOS, INSTITUCIONAIS E COMPETITIVOS
PERTINENTES AO DESENVOLVIMENTO DE ARRANJOS PRODUTIVOS
PORTER (1990) sugere que a vantagem competitiva de um setor considerado
pode ser avaliada a partir da consideração de quatro grupos de determinantes ou fatores
(figura 2).
24
Figura 2: Determinantes da vantagem competitiva setorial.
Fonte: PORTER (1990)
As condições dos fatores de produção são definidas a partir da avaliação da
posição relativa do setor em relação à disponibilidade e qualidade dos recursos
humanos, recursos naturais, capital e infra-estrutura.
As condições de demanda exprimem o grau de sofisticação e exigência dos
consumidores finais e intermediários em relação aos produtos ou serviços do setor,
sustentando mecanismos que estimulam a inovação, aperfeiçoamento e avanço
competitivo das empresas e instituições setoriais.
O desempenho setorial também é influenciado pelo nível de competitividade dos
fornecedores (de matéria-prima, equipamentos e insumos) e do grau de efetividade das
instituições públicas ou privadas dedicadas à pesquisa e extensão de tecnologias úteis ao
setor.
A estratégia, estrutura e rivalidade das empresas são condições determinantes do
grau de concorrência e da maneira pelas quais as empresas são criadas, organizadas e
dirigidas (cultura organizacional).
Apesar de sua utilização inicial ter sido voltada para a comparação de setores
industriais de diferentes países, esses indicadores permanecem úteis para a avaliação de
setores específicos, limitados geograficamente, como um aglomerado. Aglomerados
(Clusters) são concentrações geográficas de empresas inter-relacionadas, fornecedores
especializados, empresas de setores relacionados e instituições de caráter público ou
privado (como universidades, institutos de pesquisa, agências de fiscalização e controle,
Estratégia individual, estrutura e rivalidade setorial
Fatores de produção Características da
demanda
Setores relacionados ou de suporte
25
associações de classe e associações setoriais) que atuam em áreas correlatas e que se
desenvolvem através de iniciativas de concorrência e cooperação (PORTER, 1998).
A simples formação de aglomerados remete um determinado setor a outras
dimensões de competitividade e desempenho. É fato que os aglomerados localizados em
regiões geográficas específicas geram conhecimento e promovem a difusão entre as
organizações envolvidas (FELDMAN, 1999). Jaffe (1989) evidencia que os benefícios
originados da formação dessa rede de cooperação tendem a concentrar-se
geograficamente na região de origem, e Feldman (1995) cita que tendem a incrementar
a atividade inovadora em função da ajuda mútua entre os setores relacionados e o uso
uma base científica comum a todos.
A concentração geográfica de empresas ou atividades comuns favorece a
mobilização de pessoas hábeis que possuem conhecimento e habilidades inatas com
trocas de experiências e conhecimentos entre as empresas ou organizações com o
objetivo de desenvolver novas tecnologias ou novos produtos (PATEL, 1998). Segundo
Metcalfe (1995), é facilitada pela linguagem e cultura comuns, bem como pelo grau de
autoespecialização a união entre empresas, setores e centros de pesquisa e extensão.
Segundo Wilkinson (2008), em especial, a noção de consolidação de convenções
coletivas como vantagem competitiva de regiões se expressa, nas cadeias produtivas
agroindustriais, pela coordenação e cooperação de entidades públicas e setoriais, ONGs,
agências de regulação e extensão, instituições de ensino e pesquisa, fornecedores e
clientes especializados – construindo plataformas de ação coletiva que se aproximam do
conceito de “arranjos produtivos locais”.
Porém, entre todos os fatores, variáveis e requisitos metodológicos que estão
sendo mobilizados nos projetos de desenvolvimento regional, “a cultura social
representa o principal nó estruturante de todo o processo”, pois ela é um pressuposto e
não uma conseqüência do desenvolvimento. A potencialidade básica de qualquer local,
região ou país, independente do grau de riqueza dos recursos naturais existentes, está
assentada em sua população e na sua capacidade de construir instituições que
potencializem as fases de desenvolvimento (CASAROTTO, 1999).
Casarotto (1999) afirma que os instrumentos de organização dos agentes e as
formas de estruturação de redes de pequenas e médias empresas requerem um pacto
político, estratégico e operativo para serem efetivos. Em particular, é necessário
desenvolver uma estruturação do setor que envolva as seguintes ações: i) diagnóstico
com a identificação das empresas e indivíduos que compõem a cadeia produtiva; ii)
26
sensibilização e motivação dos agentes quanto às potencialidades da formação de redes
de cooperação; iii) identificar as oportunidades e ameaças que surgem para o setor e, em
particular, compreender de que forma os agentes regionais podem se desenvolver de
forma sustentável a partir de suas características (diagnóstico setorial regional); iv)
promover a discussão das prioridades e dos mecanismos de desenvolvimento que devem
ser implementados (elaboração de projeto de estruturação do setor); e v) mobilização de
agentes e instituições de apoio para a implementação do projeto.
O conceito de APL também aproxima fortemente a visão de uma aglomeração
de produtores ao conceito de território como sendo um espaço resultante de uma
construção social e política, na qual existem projetos discordantes, mas sinalizando para
a necessidade de se construir as bases de um acordo territorial para o desenvolvimento
da localidade e da região, sobrepujando interesses deletérios e endogeneizando centros
decisórios. Ou seja, a principal vantagem do foco em APL está no fato de ser uma
abordagem que vai além das tradicionais percepções baseadas na empresa individual, no
setor produtivo ou na cadeia produtiva, estabelecendo uma ligação efetiva entre as
atividades produtivas e o território (COSTA, 2010).
O APL produção de maçã de Ipê é uma atividade agrícola, dentro da fruticultura,
de importância econômica para o aglomerado local; atualmente a área plantada de maçã
é de 539,0 hectares, com a participação de 90 produtores de maçã.
As propriedades, na sua grande maioria, são próprias e algumas arrendadas para
a produção de maçã. As áreas de produção variam da menor área, com 0,5 hectares, até
a maior área, com 70,0 hectares, mas a área média de produção de maçã é de 3,0
hectares; sendo que a maioria dos produtores de maçãs possui áreas conjuntas de
produção de outras frutas, como o pêssego, ameixa e uva.
Os principais mercados atendidos pela produção local de maçã são a
CEASA/RS, estados do Rio de Janeiro, São Paulo e região nordeste. Grande parte da
produção de maçã do APL produção de maçã Ipê - RS é entregue para armazenamento
em câmaras frias, classificação e comercialização na AGROPRADO e FRUTISUL.
Alguns produtores entregam a sua produção para compradores de maçã de Vacaria
(Dalaio), Nova Pádua, Farroupilha (Silvestrin) e Caxias do Sul, entre outros, que
armazenam, classificam e atendem aos seus compradores.
A infra-estrutura de packing house (recepção, armazenamento, classificação,
encaixotamento e expedição das frutas) na APL produção maçã de Ipê - RS possui nove
unidades de packing house, sendo duas unidades da FRUTISUL, uma em cada: Sergio
27
Zanotto, Aldinor Bueno, Valner Bortolozzo, Ângelo Andretta, Áureo Ditadi, Laureano
Fortuna e José Zanotto. E ainda o packing house da AGROPRADO, localizado no
município de Antônio Prado.
A mão-de-obra do APL produção de maçã de Ipê - RS que trabalha na produção
de maçã local é de pequenos agricultores rurais, a maioria das famílias com uma média
de três pessoas, que nos períodos de poda, raleio e colheita, realizam a contratação de
mão-de-obra temporária.
Prestam assistência técnica para a produção de maçã no APL produção de maçã
Ipê – RS: a AGROPRADO, FRUTISUL, EMATER, POMIGRAM; técnicos das
empresas que revendem insumos, como AGRIMAR, SEMEAR (ambas de Antônio
Prado), ARALDI (Flores da Cunha); e engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas
autônomos. O número de engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas atuantes nessas
entidades e organizações é insuficiente para o acompanhamento das diversas fases da
cultura e para o atendimento da demanda dos produtores de maçã.
A pesquisa sobre a produção de maçã que é utilizada no APL produção de maçã
Ipê - RS é desenvolvida pela EMBRAPA - Unidade Vacaria e outras instituições de
ensino ou pesquisa a partir de contatos realizados pela assistência técnica com essas
instituições.
Existem, no APL produção de maçã de Ipê – RS, a organização sindical dos
trabalhadores da região, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ipê, que congrega a
maioria dos produtores de maçã, bem como os demais produtores rurais, e o Sindicato
Rural, que é a organização patronal da região, com mínima participação na produção de
maçã.
A participação do APL produção de maçã de Ipê - RS é importante para a
economia da região, pois, dos 1.097,3 hectares da fruticultura, a maçã possui 539,0
hectares, seguidos de 300,0 hectares de uva, 120,0 hectares de pêssego e nectarina, 26,0
hectares de ameixa, 50,0 hectares de caqui, 2,0 hectares de kiwi e 60,3 hectares de
pequenas frutas (50,0 hectares de morango, 8,5 hectares de amora, 1,8 hectares de
mirtilo e 0,5 hectares de framboesa).
O apoio recebido pelo APL produção de maçã de Ipê - RS pelo poder público
municipal se resume ao atendimento de demandas dos produtores, não havendo uma
política pública municipal direta para o desenvolvimento da produção de maçã. O
governo federal criou o Programa de Desenvolvimento da Fruticultura – PROFRUTA,
28
que tem o objetivo de apoiar o desenvolvimento da fruticultura brasileira com linha de
crédito específica aos produtores de frutas.
No município de Ipê há quatro instituições bancárias que fornecem crédito aos
produtores de maçã, sendo duas agências bancárias, BANRISUL e Banco do Brasil, e
duas cooperativas de crédito, SICREDI e CRESOL. Grande parte dos produtores de
maçã de Ipê acessa o crédito do PRONAF e demais linhas ofertadas pelas instituições
bancárias. Cabe ressaltar que o volume de recursos ofertados para o PRONAF
aumentou significativamente nos últimos quatro anos, seja para custeio ou investimento.
A localização do APL produção de maçã de Ipê - RS é próxima aos principais
centros urbanos gaúchos (Caxias do Sul e a região metropolitana de Porto Alegre).
Dista 50 km de Caxias do Sul e 170 km de Porto Alegre, tendo como principal rodovia
a RS 122, que tem ligação com a BR 116, e liga Ipê ao município de Vacaria, distante
62 km. Essa é uma vantagem competitiva para o escoamento da produção de maçã para
os centros regionais e nacionais.
O principal desafio do APL produção de maçã de Ipê - RS é a aproximação dos
produtores de maçã na construção de parcerias que possibilitem a criação de
oportunidades competitivas que reduzam as ameaças e consolidem o aglomerado local
de maçã em Ipê.
29
3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
Metodologia é um conjunto de métodos ou técnicas utilizado para desenvolver e
operacionalizar uma pesquisa. “Tais métodos caracterizam como corpo de regras e
diligências estabelecidas para realizar a pesquisa” (MICHALISZYN; TOMASINI,
2005, p. 29).
Essa pesquisa é de caráter exploratório, pois compreende os primeiros estágios
de investigação: em que o pesquisador possui pouco ou quase nenhum conhecimento,
familiaridade e compreensão sobre as causas ou consequências do fenômeno a ser
estudado (MATTAR, 2001; RICHARDSON, 1999).
Esse estudo também é de caráter descritivo, pois a pesquisa descritiva visa a
observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos, tendo como objetivo
descobrir a frequência com ocorrem, sua natureza e características – assim como
compreender como ocorre sua inter-relação (CERVO, 1996).
Segundo Triviños (1987), a pesquisa descritiva possibilita empregar várias
formas de estudo, como: estudos descritivos, estudos de caso, análise documental,
estudos causais comparativos e outros. As pesquisas descritivas caracterizam-se por
descrever situações, por surveys ou observação, a partir de dados primários obtidos por
entrevistas pessoais, telefônicas, pelo correio, por e-mail ou pela internet
(MALHOTRA, 2001).
A identificação dos agentes participantes das cadeias produtivas da maçã no
município de Ipê e a caracterização da estrutura de produção, industrialização e o
sistema de organização nesse APL foram realizados a partir de análise documental e
observação direta do autor.
Nessa pesquisa foram aplicados tanto questionários estruturados, como semi-
estruturados. Os questionários estruturados foram aplicados com o objetivo de avaliar a
percepção de um grupo de 30 produtores de maçã do município de Ipê - RS a respeito
da importância relativa de fatores, de natureza tecnológica e organizacional, indutores e
inibidores ao desenvolvimento do APL. Esses fatores foram elencados a partir da
revisão bibliográfica realizada nos capítulos anteriores (ANEXO I) e ponderados a
partir da análise da importância (I) e a adequação (A) de cada um deles para o
desempenho de sua atividade. Definiu-se arbitrariamente que, quanto maior a diferença
entre I e A, maior a relevância do fator com elemento restritivo ao desenvolvimento do
30
APL. Essa parte da pesquisa foi realizada com produtores de maçã desse APL durante o
período de setembro a outubro de 2010.
Os questionários semi-estruturados (ANEXO II) foram aplicados durante
entrevistas em profundidade realizadas com um grupo de especialistas com o objetivo
de avaliar a importância relativa e a inter-relação entre fatores, de natureza tecnológica e
organizacional, indutores e inibidores ao desenvolvimento do APL da maçã no
município de Ipê. Os questionários semi-estruturados foram desenvolvidos a partir da
revisão bibliográfica realizada nos capítulos anteriores. O período de entrevistas foi de
setembro a outubro de 2010.
A amostra de especialistas foi construída de forma não probabilística por
julgamento, conforme descrito por Malhotra (2001), utilizando como critério de seleção
que os especialistas selecionados fossem profissionais diretamente relacionados ao APL
da maçã de Ipê - RS. A amostra foi composta por quatro especialistas, sendo um
representante da AGROPRADO, um representante da FRUTISUL, o presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) e o Secretário Municipal de Agricultura.
31
4 APRESENTAÇÂO E ANÁLISE DOS DADOS
Existe consenso entre os especialistas consultados acerca da fragilidade de
mecanismos favoráveis à cooperação entre os agentes e a criação ou consolidação de
instituições e normas (tácitas e explícitas) favoráveis ao desenvolvimento do APL
produção de maçã em Ipê - RS.
Atualmente, segundo a percepção desses agentes, as iniciativas de cooperação se
restringem às associações pontuais relacionadas a atender oportunidades de mercado e
não relações mais consistentes e duradouras: "Vejo que são oportunidades de negócio,
quando há interesse ou, em último caso, quando a coisa ‘tá muito ruim, aí as pessoas se
unem." Secretário Municipal de Agricultura – Técnico Agrícola Ermani Paulo Tafarel.
Já entre os produtores, existe a percepção de que essa deficiência organizacional é
importante (diferença entre importância e adequação de 1,4), mas não crítica. Porém,
esses produtores notam com clareza que as deficiências parcialmente decorrentes dessa
estrutura organizacional incipiente são críticas: deficiências relacionadas à estruturação
de mecanismos de análise de mercado e de qualificação dos produtos da região (itens 27
a 30 do questionário, com diferença entre importância e adequação acima de 2,0), como
mostra o quadro 1. Essa situação indica que essa problemática está pouco caracterizada
e clara para os produtores, mesmo que seus efeitos sejam sentidos: "Vejo um
descontentamento muito grande entre os compradores e os produtores." Engº Agrº
Reinaldo Scalco - AGROPRADO.
Essa situação torna evidente a relevância de iniciativas capazes de vitalizar
propostas de interesse comum dos produtores, como a criação de instrumentos aplicados
à análise dos mercados atendidos e a valorização de seus produtos (com a realização de
campanhas promocionais, fortalecimento de eventos).
Com relação ao clima (temperatura, chuva, granizo, geada e outros), existe a
percepção dos produtores e dos especialistas de que é importante e crítico para o APL
produção de maçã em Ipê - RS.
Também foi constatado entre os produtores, que “a mão-de-obra é cara, difícil
de encontrar na região e de baixa qualificação”. Na grande maioria são trabalhadores
rurais ou agricultores oriundos de outras regiões distantes de Ipê. Uma das produtoras
diz que “muitas vezes temos que pagar até a passagem para eles virem”. Sendo citado
por alguns produtores até problemas de alcoolismo e consumo de drogas. Os
32
especialistas consultados confirmam o que foi levantado nas entrevistas dos produtores
quanto à mão-de-obra.
As opiniões dos entrevistados em relação às condições da infra-estrutura, como
estradas, comunicação (telefone, internet), energia e água, apresentam pontos
convergentes e divergentes. Sendo as condições das estradas de grande importância para
a produção de maçã, um dos produtores afirma que “não adianta produzir fruta de
qualidade e chegar até a câmara fria toda batida; se queremos produzir com qualidade
devemos ter boas estradas para escoar a safra de maçã”.
Além das estradas municipais, foi citada a necessidade dos produtores terem um
maior apoio da prefeitura municipal para a melhora das estradas internas dos pomares.
Grande parte dos entrevistados classifica as estradas de ruins a péssimas, sendo uma
unanimidade a importância das estradas serem melhoradas. A infra-estrutura é um
dentre os quatro grupos de fatores sugeridos por PORTER (1990) que podem ser
utilizados para avaliar a vantagem competitiva do setor, sendo este um fator limitante à
competitividade do APL produção de maçã de Ipê.
A percepção dos especialistas é de que a pesquisa em maçã é importante e
atende às necessidades dos produtores do APL produção de maçã de Ipê - RS. Práticas e
técnicas estão disponíveis e sendo adotadas pelos produtores na produção de maçã,
principalmente, na realização da poda, do raleio manual ou químico; na formação dos
novos pomares; na tecnologia de aplicação dos agrotóxicos; nos porta-enxertos
desenvolvidos que proporcionam plantas menores, com certa resistência a determinadas
doenças, permitindo o plantio de alta densidade de plantas por hectare.
Esse avanço no sistema de produção da maçã elevou a produtividade dos
pomares que adotaram essas práticas e técnicas desenvolvidas pela pesquisa da
EMBRAPA, EPAGRI e universidades. Segundo o presidente do STR de Ipê: “o pessoal
se aperfeiçoou muito, mas deve melhorar muito mais”. Os especialistas percebem a
existência de um hiato entre a pesquisa e a extensão. Existe consenso de que há
resultados de pesquisa, mas que eles demoram muito a chegar aos pequenos produtores.
Apesar de serem grandes os avanços ocorridos na pesquisa da produção de
maçã, o presidente do STR de Ipê, Luiz Carlos Scapinelli, afirma que a EMBRAPA,
principal empresa de pesquisa do Brasil, “deveria se deter mais na pesquisa para a
produção da maçã orgânica, pois este sistema de produção poderia agregar mais valor à
maçã dos pequenos produtores de Ipê”. Essa afirmação coincide com Neves (2000) pelo
estabelecimento de estratégias diversas, como a produção ecologicamente correta,
33
obtendo produtos mais diferenciados, mais compatíveis com a pequena escala de
produção. Nesse contexto a produção orgânica é uma importante opção de estratégia de
agregação de valor.
A inexistência de mecanismos de intervenção para a adequação da oferta e da
demanda é considerada de muita importância para o APL produção de maçã de Ipê -
RS, conforme mostra o quadro 1. Isso tem sido evidenciado pela unanimidade de
produtores que consideram os preços pagos pela maçã muito baixos, principalmente
quando comparados com o seu custo de produção, considerado muito alto, tanto pelos
produtores, quanto pelos especialistas. A adequação da oferta e da demanda poderia ser
uma estratégia do setor produtivo, dentro da cadeia da maçã, com a organização dos
produtores na regulação e o controle da área de novos plantios. A oferta de fruta no
mercado tenderia a ser controlada com a redução do número de vendedores, o que é
difícil em função dos interesses desses atores sociais.
Nesse sentido, o presidente do STR de Ipê afirma que “a produção de maçã não
é mais para o pequeno agricultor familiar”. O motivo alegado, além da baixa escala e
dos altos custos de produção, da ociosidade dos equipamentos (tratores e
pulverizadores), é o descontentamento dos produtores pelos baixos preços pagos pela
maçã. Confirmando a citação de Neves (2000) sobre a busca de adequação das
atividades das pequenas propriedades com estratégias diversas, no sentido de
compatibilizar a produção em pequena escala, e a busca de agregação de valor.
Os produtores de maçã do APL produção de maçã consideram muito importante
a existência de mecanismos favoráveis ao desenvolvimento de uma identidade regional
da maçã de Ipê. Atualmente Ipê é considerada, por projeto de lei federal, a capital
nacional da agroecologia. A produção de maçã orgânica pelos produtores de maçã
poderia ser uma alternativa de produção associada a esse título já conquistado pelo
município. Apesar da sua viabilidade, lembramos o que foi citado acima, sobre a “falta
de pesquisa para a produção orgânica de maçã” pelo presidente do STR de Ipê.
Segundo a percepção dos produtores de maçã do APL produção local de maçã, a
disponibilidade e qualidade de programas de formação e treinamento especializado são
importantes para a produção da fruta.
O produtor Livino Pauletti afirma que “falta diálogo entre os produtores de
maçã, gerando produtores desorganizados, onde o mercado comprador, paga o preço
que eles querem. Neste sentido, seria importante que os produtores de maçã estivessem
organizados, se unindo mais e trabalhando juntos para formarem uma opinião comum
34
quanto à comercialização, passando a exigir um preço melhor pela sua fruta. Mas, para
isso, devem se unir mais e trabalharem juntos. Pois atualmente são muito individualistas
e egoístas”. A ideia é tornar os produtores de maçã do APL mais organizados para que
vendam a sua produção por um preço melhor do que o que vem sendo praticado.
Essa afirmação, de que os produtores deveriam exigir um preço melhor para a
sua fruta, é reforçada por outro produtor de maçã: ele afirma “que, a partir do momento
que os produtores de maçã passaram a entregar a sua fruta para os compradores de
forma consignada, ou seja, o vendedor vende, retira os seus custos e a sua margem,
repassando ao produtor o que sobra ao final da venda”.
A inexistência de mecanismos favoráveis ao estabelecimento de consórcios para
negociar com os fornecedores é considerada de grande importância para os produtores
de maçã entrevistados. A adequação dessa estratégia poderia beneficiar a todos os
produtores de maçã do APL, gerando a redução do custo de produção, a possibilidade
de adquirir insumos e serviços de melhor qualidade e, consequentemente, aumentando a
competitividade do APL. Essa capacidade de governança com cooperação entre seus
atores sociais (COSTA, 2010) poderia determinar as vantagens competitivas para o
setor (PORTER, 1990).
A cooperação entre os produtores é considerada importante, embora o resultado
médio das entrevistas com os produtores de maçã assinale que ela é quase inexistente.
Esse fato é um consenso entre os especialistas do APL produção de maçã de Ipê, o que
confirma o relato do presidente do STR, de que “a produção de maçã, no seu início,
permitiu aumento da renda familiar, comparada aos sistemas de produção anteriores,
reduzindo a dependência em relação aos demais produtores, ou seja, na forma de
cooperação, e aumentando o seu grau de individualismo, principalmente quando
comparada com outras culturas, como o caso da uva, onde temos mais atitudes
cooperativistas”.
A disponibilidade e a qualidade de fornecedores de insumos para a adubação e
correção do solo, de defensivos agrícolas, de máquinas e equipamentos e de mudas são
importantes para a produção de maçã, sendo consenso entre os produtores de maçã e os
especialistas entrevistados. Entretanto, cabe chamar a atenção para o fato de que a
assistência técnica prestada pelos fornecedores de máquinas e equipamentos,
principalmente de tratores e pulverizadores tratorizados, não atendem às expectativas
dos produtores de maçã.
35
O solo para a produção de maçã é adequado, se tratando de solos relativamente
profundos, com boa estrutura física, boa drenagem natural e com teores adequados de
matéria orgânica. A grande maioria dos solos para a produção de maçã em Ipê é
classificada como sendo do tipo 3, “solos com teor de argila maior que 35%, com
profundidade igual ou superior a 50 cm; e solos com menos de 35% de argila e menos
de 15% de areia (textura siltosa), com profundidade igual ou superior a 50 cm” -
Zoneamento Agroclimático da Maçã (MAPA, 2010). Sendo esse um fator importante e
adequado à produção de maçã do APL produção de maçã de Ipê.
A disponibilidade de capital para investimento é importante e adequado à
produção de maçã. Sendo que o juro cobrado pelo capital emprestado tem decrescido
nos últimos anos. É um consenso entre produtores e especialistas que o volume tem
crescido consideravelmente nos últimos quatro anos, principalmente pelo PRONAF. Há
que ressaltar que a contratação do custeio da safra pelo Banco do Brasil é inadequada,
ou seja, o valor contratado é liberado posteriormente à brotação da maçã. Além disso,
quase todos os agentes bancários ou cooperativas de crédito realizam a venda de
produtos, como seguros e consórcios, o que onera a operação de crédito contratada.
A disponibilidade de informações e preferências dos consumidores é
considerada importante pelos produtores de maçã e confirmada pelos especialistas, pois
o conhecimento do comportamento do consumidor pode orientar a produção de
qualidade da maçã desejada, seja em relação à coloração da fruta, ao seu tamanho, à
qualidade do fruto fresco, à variedade mais apreciada, bem como à importância dada
para embalagem, marca e preço da maçã (MACHADO, 2007).
A preferência dos consumidores por novas variedades de maçã é vista pelos
produtores como inibidora da produção, pois a troca constante de variedades novas,
tendência comum nos APLs produção de maçã dos diversos municípios, reduz a
margem dos produtores. Isso tem descapitalizado os produtores do APL produção de
maçã de Ipê, pois, “quando o pomar começa a produzir bem e vamos começar a ganhar,
temos que trocar por novas variedades”, citação de um produtor de maçã.
Uma estratégia que poderia ser utilizada pelos produtores do APL produção de
maçã de Ipê na cadeia da maçã, seria a utilização de propaganda na construção de uma
imagem que mostrasse a forma como é produzida a fruta, valorizando a produção da
pequena propriedade rural e estimulando o aumento do consumo per capta, mostrando
as qualidades organolépticas das variedades produzidas. Essa estratégia foi citada por
36
um produtor de maçã, que além de favorecer o aumento da venda, aumenta a demanda,
alterando o preço da maçã para patamares mais rentáveis aos produtores.
37
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39
5 CONCLUSÃO
O presente trabalho procurou realizar um estudo de caso para caracterizar e
analisar o APL da maçã no município de Ipê, avaliar os fatores, de natureza tecnológica
e organizacional, indutores e inibidores do seu desenvolvimento, identificando os
agentes participantes da cadeia produtiva da maçã, caracterizando a estrutura de
produção, industrialização e o seu sistema de organização. Também foram identificados
e avaliados os gargalos e as oportunidades de natureza tecnológica e organizacional para
o seu desenvolvimento.
Foi escolhida a visão sistêmica mais restritiva da cadeia de produção, ou seja, o
APL, pois a análise de toda a cadeia produtiva da maçã demandaria muito tempo entre
os seus diversos elos, ultrapassando os limites físicos do município.
O resultado das entrevistas realizadas com os produtores de maçã de Ipê e os
especialistas proporcionaram a identificação dos agentes vinculados à cadeia produtiva
de Ipê: produtores de maçã, principais packing house, transportadores, assistência
técnica, pesquisa e ensino, principais mercados compradores, agentes institucionais e a
infra-estrutura local.
Pode-se avaliar que os fatores de ordem tecnológica e organizacional são
influenciados pela dinâmica cultural e social dos agentes participantes do APL, que
interagem entre si no local pesquisado. Percebendo-se que a falta de comunicação e/ou
articulação entre as instituições privadas e públicas dificulta o desenvolvimento local do
APL maçã de Ipê.
A organização do APL produção de maçã de Ipê mostrou ações individualistas
na forma de resolução dos desafios, embora ocorram parcerias locais, em menor escala,
sejam elas formais ou informais. Isso mostra que existem parcerias no APL e que seu
fomento seria de grande importância para aumentar a competitividade, reduzir os custos
de produção e aumentar a renda dos produtores de maçã.
Cabe ressaltar o dinamismo e a busca pelo aprimoramento tecnológico por parte
dos produtores do APL produção de maçã de Ipê, sendo esse um fator indutor do seu
desenvolvimento, aliado à percepção dos produtores e especialistas da oferta de recursos
para investimentos no setor por parte das agências bancárias.
Um dos principais desafios do APL produção de maçã de Ipê - RS é a
aproximação dos produtores de maçã na construção de parcerias que possibilitem a
40
criação de oportunidades competitivas, reduzindo as ameaças e consolidando o APL
produção de maçã de Ipê - RS.
Face ao exposto, a identificação e a superação desses gargalos e a identificação
das oportunidades proporcionaria a construção de estratégias que visassem à
implantação de políticas públicas capazes de promover o desenvolvimento sustentável
por meio dos agentes públicos ou privados.
Devido à sua importância no contexto local, sugere-se a realização de novas
pesquisas que aprofundem a contribuição na análise do APL e a sua compreensão.
41
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45
ANEXO I - QUESTIONÁRIO ESTRUTURADO PRODUTORES
Analise a importância e a adequação para o desempenho de sua atividade como produtor
de maçãs do município de Ipê.
Para cada fator listado abaixo dê a sua opinião com os seguintes critérios:
Para importância:
1 – Nenhuma / 2 - Pouca / 3 – Média / 4 - Grande / 5 – Muito grande
Para adequação:
1 – Muito negativa / 2 – Negativa / 3 – Nula / 4 – Positiva / 5 – Muito positiva
Nº Fator Importância Adequação
1 Disponibilidade e qualidade dos fornecedores de
insumos para adubação e correção do solo
2 Disponibilidade e qualidade dos fornecedores de
defensivos agrícolas
3 Disponibilidade e qualidade dos fornecedores de
máquinas e equipamentos agrícolas
4 Disponibilidade e qualidade dos fornecedores de
mudas
5 Variedades atualmente cultivadas
6 Clima (temperatura chuva, ventos, granizo, geadas,
etc.)
7 Solo (fertilidade, profundidade, etc.)
8 Qualificação da mão-de-obra para a colheita
9 Qualificação da mão-de-obra para a produção
(tratos culturais)
10 Qualificação da mão-de-obra para a gestão da
atividade
11 Situação das estradas
46
12 Disponibilidade e qualidade da água
13 Situação da infra-estrutura energética
14 Situação da infra-estrutura de transporte
15 Situação da infra-estrutura de comunicação (linhas
de telefone, internet)
16 Disponibilidade e custo do capital para investimento
na atividade
17 Estrutura disponível de packing house
18 Grau de tecnologia incorporada na produção
19 Disponibilidade e qualidade da assistência técnica
(EMATER, técnicos municipais, técnico de
cooperativa, outros profissionais)
20 Disponibilidade e qualidade da pesquisa aplicada a
esse cultivo por instituições de ensino, pesquisa e
extensão rural
21 Disponibilidade e qualidade dos programas de
formação / treinamento especializado
22 Existência de mecanismos de intervenção para a
adequação entre oferta e demanda de nossos
produtos
23 Existência de mecanismos favoráveis ao fomento da
cooperação entre os produtores (realização de
encontros, seminários, etc.).
24 Disponibilidade e qualidade de instituições que
congreguem os produtores (sindicatos, associações,
etc.)
25 Existência de mecanismos favoráveis ao
estabelecimento de consórcios para negociar com
fornecedores
47
26 Disponibilidade e qualidade de informações sobre
as preferências dos consumidores em relação aos
tipos e características das diferentes variedades de
maçãs
27 Existência de mecanismos favoráveis ao
desenvolvimento de identidade regional dos nossos
produtos
28 Existência de mecanismos favoráveis à certificação
e diferenciação dos nossos produtos
29 Disponibilidade e qualidade das agroindústrias
disponíveis no sentido de agregar valor a nossos
produtos
30 Existência de mecanismos capazes de associar o
turismo rural com o consumo de nossos produtos
48
ANEXO II - QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO ESPECIALISTAS
1. As condições dos fatores de produção (disponibilidade e qualidade dos recursos
humanos, recursos naturais, capital e infra-estrutura) são adequadas?
2. Qual sua avaliação sobre o grau de sofisticação e exigência dos consumidores
finais e intermediários em relação aos produtos ou serviços do setor (ou APL
produção de maçã em Ipê - RS) – sustentando ou inibindo mecanismos que
estimulam a inovação, aperfeiçoamento e avanço competitivo das empresas e
instituições setoriais?
3. Qual sua avaliação sobre o nível de qualidade ou competitividade dos
fornecedores (de matéria-prima, equipamentos e insumos) e do grau de
efetividade das instituições públicas ou privadas dedicadas à pesquisa e extensão
de tecnologias úteis ao setor (ou APL produção de maçã em Ipê - RS)?
4. Você considera que o grau de tecnologia incorporado nos processos e produtos
do APL produção de maçã em Ipê - RS é adequado?
5. Você considera que existem mecanismos favoráveis à qualificação e
diferenciação dos produtos do APL? Quais?
6. Você considera que a estruturação (considerando o tamanho ideal de cada
unidade produtiva em cada elo e o desempenho das organizações) da cadeia
produtiva da maçã em Ipê é adequada? Em quais elos existem deficiências?
Quais?
7. Você acha que existe um histórico de parcerias nesse APL? Você considera que
existem mecanismos favoráveis à cooperação entre os agentes e criação ou
consolidação de instituições e normas (tácitas e explícitas) favoráveis ao
desenvolvimento desse APL?
8. As relações entre os agentes dos diferentes elos das cadeias produtivas são
adequadas?
9. Em sua opinião, quais as principais restrições de caráter institucional ou
organizacional restringem o desenvolvimento desse APL?