UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE...
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA
KARINA ANDRADE CARVALHO DA SILVA
PRINCIPAIS ENZIMAS COMO ADITIVOS NA INDÚSTRIA DA PANIFICAÇÃO
Lorena2014
KARINA ANDRADE CARVALHO DA SILVA
Principais enzimas utilizadas como aditivos na indústria da panificação
Trabalho de conclusão de curso
apresentado a Escola de Engenharia de Lorena
- Universidade de São Paulo como requisito
parcial para a conclusão de Graduação do
Curso de Engenharia Bioquímica
Orientador: Prof. Dr. Ismael M a c i e l d e
Mancilha
Lorena
2014
2
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃOChefia Técnica de Serviço de Biblioteca
Escola de Engenharia de Lorena
Silva, Karina Andrade Carvalho da Principais enzimas utilizadas como aditivos na indústria da
panificação./ Karina Andrade Carvalho da Silva. - Lorena , 2014.106 f.
Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia Bioquímica. Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo.
Orientador: Ismael Maciel de Mancilha
1. Panificação. 2. Aditivos alimentares. 3. Enzimas. I. Mancilha, Ismael Maciel de, orient.
3
Dedico este trabalho a todos
aqueles que acreditaram em
mim desde o começo e me
apoiaram, me dando forças
para seguir em frente até a
reta final. Principalmente aos
m e u s p a i s , R i c a r d o e
Auristela, e ao meu noivo,
Bruno, foi pelo amor de vocês
que pude realizar mais este
sonho.
4
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus, por ter derramado graça em todas as áreas da minha
vida, me capacitando todos os dias a continuar firme neste privilégio que Ele me
concedeu.
À minha família amada, que tanto investiu em mim, me dando condições físicas,
emocionais, espirituais, financeiras e psicológicas para buscar meus sonhos e
continuaram acreditando em mim mesmo quando eu mesma não acreditava.
Ao meu futuro marido, Bruno, pelo amor dedicado e sincero todos os dias, pela
amizade, incentivo, paciência, orações, conselhos e por contar os dias até o fim
desta fase comigo. Muito obrigada por me fazer alguém melhor.
À Raphaela, Camila, Isabella e outras amigas queridas pelo companheirismo, vocês
que me encorajaram e que partilharam tanto dos momentos alegres quanto dos
tristes, e que irão me acompanhar em qualquer fase que eu esteja vivendo.
À Pamela, Dani e Letícia e demais colegas, pela amizade sincera que alegrou os
meus dias de faculdade, e vão deixar marcas para toda a minha vida. Obrigada pelo
carinho e paciência demonstrados, e por fazer desses 5 anos inesquecíveis.
À Igreja Batista de Bragança Paulista, que fizeram dos meus finais de semana um
refrigério para continuar a jornada.
À ABU, que deu um sentido maior a minha vida em Lorena do que simplesmente a
graduação.
Ao Dr. Ismael Maciel de Mancilha, meu orientador, pela instrução, dedicação,
empenho e inspiração durante a realização deste trabalho e durante o curso.
À Escola de Engenharia de Lorena - USP, por me proporcionar uma oportunidade
tão única.
5
SILVA, Karina Andrade Carvalho da. Principais enzimas utilizadas como
aditivos na indústria da panificação. 2014. 106f. Trabalho de Conclusão de Curso-
Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.
RESUMO
Os aditivos constituem um grupo de produtos de grande importância para a
tecnologia de panificação. Os processos atuais de fabricação dos produtos de
panificação e a grande escala de produção exigida pelo mercado estimularam a
utilização de aditivos. Embora os aditivos não sejam considerados matérias-primas
essenciais, a sua presença é fundamental para a obtenção de produtos de
qualidade, principalmente aqueles aditivos que atuam na correção de possíveis
deficiências na qualidade da farinha de trigo. Dentre as categorias funcionais de
aditivos previstas para uso em panificação, as mais importantes são os
emulsificantes, agentes oxidantes, branqueadores de farinha e também algumas
enzimas. Dentre as enzimas comumente utilizadas destacam-se as amilases, pois
proporcionam a formação de açúcares fermentáveis (maltose) que serão
metabolizados pelas células do fermento resultando na formação de CO2. Em
farinha de trigo de boa qualidade, o teor de α-amilase é bastante baixo e para que
ocorra a formação de açúcares necessários à fermentação, é feita então a
suplementação. Além das amilases, recentemente vem sendo introduzidas novas
enzimas na tecnologia de panificação, dentre as quais destacam-se as proteases,
xilanases, amiloglucosidases, lipoxidases, dentre outras. Cada uma destas enzimas
exerce funções específicas, contribuindo para melhorar tanto a massa como os
produtos finais. Destaca-se também a utilização de enzimas que promovem a
modificação do amido gerando insumos importantes para a indústria de alimentos,
como o segmento da panificação, que utiliza principalmente glicoamilase e α-
amilase, para produzir xaropes ricos em glicose, maltose ou maltotriose. Sob esta
perspecitva, um estudo do processamento geral do pão se faz necessário para
analisar e entender o funcionamento das enzimas nas condições apresentadas
durante todas as etapas do processamento do alimento, permitindo o melhor
emprego de cada aditivo para a produção de seu produto final. São utilizados alguns
parâmetros para testar a qualidade da textura dos pães quando acabados, sendo os
7
principais a resiliência, frescor, mordida curta e derretimento na boca. Esses testes
são imprescindíveis para garantir a associação de quais substâncias incorporadas
foram responsáveis por que incremento na análise sensorial do produto final. Desta
forma, possibilita-se meios para se viabilizar e equilibrar seu uso de acordo com as
normas de segurança regulamentárias previamente estabelecidas. Este mercado de
aditivos enzimáticos na panificação está em expansão nos últimos anos. Os
recursos relacionados a utilização de enzimas na panificação envolvem cifras da
ordem de US$ 17 milhões/ano, enquanto o mercado de uso de enzimas na
industrialização do amido gira em torno de US$ 110 milhões.
Palavras-chave: Panificação, aditivos alimentares, enzimas.
8
ABSTRACT
The additives are a group of products of great importance to the technology of
baking. Current manufacturing processes of bakery products and large-scale
production required by the market stimulated the use of additives. Although additives
are not considered essential raw materials, their presence is essential for obtaining
quality products, especially those additives that act on correcting possible
deficiencies in the quality of wheat flour. Among the functional classes of additives
intended for use in baking, the most important are: the emulsifiers, oxidizing agents,
bleaches flour and also some enzymes. Among the commonly used enzymes, the
most important are amylases, they provide the formation of fermentable sugars
(maltose) to be metabolized by yeast cells resulting in the formation of CO2. In good
quality of wheat flour, the amount of α-amylase is quite low and that the formation of
sugars needed for fermentation takes place, is then made supplementation. In
addition of amylase, new enzymes has recently been in the baking technology,
among which there are the proteases (bacterial and fungal), xylanases ,
amyloglucosidases , lipoxidases, besides others being introduced. Each of these
enzymes exert specific functions , helping improve both the mass and the final
products, with the ultimate goal of adding protease and amylase in bread dough is to
facilitate their manipulation in mixers and mills during the processing of bread. Also
noteworthy is the use of enzymes that promote the modification of starch generating
important for the food industry inputs, such as the bakery segment, which primarily
uses glucoamylase and α-amylase to produce syrups rich in glucose, maltose or
maltotriose. Under this perspecitva, a study of the general processing of bread it is
necessary to analyze and understand the functioning of enzymes in conditions during
all stages of food processing, allowing the best use of each additive to produce their
final product . Some parameters to test the quality of the texture of bread when
finished are used, the main od them are resilience , freshness , short bite and melt in
the mouth. These tests are essential to ensure that the combination of incorporated
substances which were responsible for an increase in sensory analysis of the final
product. This way, enables up means to facilitate and balance their use in
accordance with the safety standards previously established. This market of enzyme
additives in baking is booming in recent years . Resources related to the use of
9
enzymes in baking involve figures of roughly $ 17 million/year, while the market for
use of enzymes in the starch industry is around $ 110 million.
Key words: Bakery, food additives, enzymes
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Principais componentes da farinha de trigo...............................................22
Figura 2. Formação da rede proteica - glúten...........................................................23
Figura 3. Esquema e curva de conversão de substrato em produto catalisado na
presença e ausência da enzima (E)...........................................................................43
Figura 4. Modelo de complementaridade estrutural (chave-fechadura de Emil
Fischer)......................................................................................................................43
Figura 5. Gráficos esquemáticos do efeito do pH (A) e da temperatura (B) na
atividade enzimática...................................................................................................44
Figura 6. Curva de saturação numa reação enzimática, mostrando a relação entre a
concentração do substrato ([S]) e a velocidade (V), bem como a equação de
Michaelis-Menten.......................................................................................................46
Figura 7. Esquema da inibição enzimática competitiva (A), acompetitiva (B) e mista
(C). Sendo S=substrato e I=inibidor...........................................................................47
Figura 8. Representação esquemática da técnica metagenômica............................48
Figura 9. Etapas envolvidas na produção e purificação de enzimas de interesse
industrial.....................................................................................................................52
Figura 10. Fórmula estrutural do amido....................................................................57
Figura 11. a) Estrutura química da amilose b) Estrutura química da amilopectina...58
Figura 12. Representação esquemática da ação da β-amilase em amilopectina.....61
Figura 13. Representação esquemática da atividade da α-amilase em
amilopectina...............................................................................................................62
Figura 14. Esquema da ação das hemicelulases......................................................72
Figura 15. Funcionalidade simplificada da amilase...................................................75
Figura 16. Produção de gás e desenvolvimento da massa em relação ao tempo....83
11
Figura 17. A estrutura da massa se desenvolve mais rápido que a produção de
gás..............................................................................................................................84
Figura 18. Produção do gás e desenvolvimento da massa associados no melhor
ponto..........................................................................................................................84
Figura 19. Gráfico de resiliência x número de compressões de acordo com a
referência...................................................................................................................91
Figura 20. Frescor x tempo para uma amostra de croissant e a referência..............93
Figura 21. Avaliação de mordida curta com uma amostra de pão e referência........94
Figura 22. Distribuição da demanda de enzimas industriais em diferentes áreas....96
Figura 23. Distribuição das enzimas industriais importadas e exportadas no ano de
2008 pelo Brasil..........................................................................................................97
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Fontes, aplicações e efeitos das principais enzimas produzidas
industrialmente...........................................................................................................42
Tabela 2. Principais enzimas e suas funções em setores alimentícios.....................54
Tabela 3. Usos dos produtos resultantes da hidrólise do amido...............................58
Tabela 4. Propriedades gerais das amilases industriais............................................60
Tabela 5. Proteases utilizadas na tecnologia de alimentos.......................................67
Tabela 6. Propriedades das amilases para uso comercial........................................69
Tabela 7. Propriedades das proteases para uso comercial.......................................70
Tabela 8. Etapas da conversão enzimática do amido...............................................77
Tabela 9. Tipos de xaropes obtidos por hidrólise enzimática....................................79
Tabela 10. Esquema das principais enzimas envolvidas no processo
fermentativo................................................................................................................86
13
SUMÁRIO
1. Introdução...............................................................................................................17
2. Objetivo..................................................................................................................18
3. Revisão de literatura...............................................................................................19
3.1 Histórico da panificação............................................................................19
3.2 Matérias-primas essenciais.......................................................................21
3.2.1 Farinha de trigo............................................................................21
3.2.2 Água............................................................................................24
3.2.3 Sal................................................................................................25
3.2.4 Fermento biológico......................................................................25
3.3 Matérias-primas complementares.............................................................26
3.3.1 Açúcar..........................................................................................27
3.3.2 Gorduras......................................................................................28
3.3.3 Ovos............................................................................................29
3.3.4 Fibras...........................................................................................30
3.4 Aditivos......................................................................................................31
3.4.1 Legislação para aditivos..............................................................31
3.4.1.1 Regulamentos MERCOSUL para aditivos alimentícios.31
3.4.1.2 Lista geral harmonizada de aditivos..............................31
3.4.1.3 Classes funcionais dos aditivos alimentícios.................32
3.4.1.4 Categorias de alimentos................................................32
3.4.2 Aditivos utilizados em panificação...............................................32
3.4.2.1 Emulsificantes................................................................33
3.4.2.2 Agentes oxidantes..........................................................34
3.4.2.3 Agentes branqueadores de farinha................................35
3.4.2.4 Conservantes.................................................................35
3.4.2.5 Enzimas.........................................................................35
3.4.3 Forma de incorporação de aditivos em panificação....................36
3.5 Enzimas.....................................................................................................37
14
3.5.1 Histórico.......................................................................................40
3.5.2 Classificação e funções...............................................................41
3.5.3 Produção de enzima de interesse...............................................47
3.5.4 Enzimas na indústria de alimentos..............................................53
3.5.4.1 Enzimas na panificação.................................................56
3.5.5 Amilases......................................................................................59
3.5.5.1 β-amilase.......................................................................60
3.5.5.2 α-amilase.......................................................................62
3.5.5.3 gluco-amilase.................................................................65
3.5.5.4 isoamilase ou pululanase...............................................66
3.5.6 Proteases.....................................................................................66
3.5.7 Lipases .......................................................................................70
3.5.7.1 Lipoxigenase..................................................................72
3.5.8 Hemicelulases.............................................................................72
3.5.9 Glucooxidases.............................................................................74
3.5.10 Efeitos da suplementação com enzimas...................................74
3.5.10.1 Amilases.......................................................................74
3.5.10.2 Proteases.....................................................................76
3.5.10.3 Outras enzimas............................................................76
3.5.11 Amido modificado por enzimas..................................................77
3.5.11.1 Introdução....................................................................77
3.5.11.2 Processamento enzimático..........................................77
3.6 Processamento do pão..............................................................................82
3.6.1 Moagem do trigo..........................................................................82
3.6.2 Processamento............................................................................83
3.6.2.1 Mistura...........................................................................85
3.6.2.2 Fermentação principal...................................................85
3.6.2.3 “Divisão”.........................................................................86
3.6.2.4 Boleamento....................................................................86
15
3.6.2.5 Fermentação secundária...............................................87
3.6.2.6 Moldagem......................................................................87
3.6.2.7 Fermentação final..........................................................87
3.6.2.8 Cozimento......................................................................87
3.6.2.9 Resfriamento..................................................................88
3.6.2.10 Corte em fatias e embalagem......................................89
3.7 Parâmetros para avaliação de textura.......................................................89
3.7.1 Resiliência...................................................................................90
3.7.2 Frescor.........................................................................................91
3.7.3 “Mordida curta”............................................................................93
3.7.4 Derretimento na boca..................................................................94
3.8 Mercado de enzimas.................................................................................95
3.9 Inovações na área da panificação.............................................................98
4. Conclusões...........................................................................................................100
5. Referências..........................................................................................................101
16
1. INTRODUÇÃO
O pão se tornou um gênero de primeira necessidade em todo o mundo
atualmente. E devido a esta grande procura, este atingiu um nível de
saturação em meio a um mercado internacional extremamente fragmenado,
onde mais de 60% do setor é atribuído ao pão artesanal. Porém, como o
consumidor moderno é informado, mais exigente, busca praticidade e
qualidade de vida, além de um aumento da expectativa de vida, reduzindo os
gastos com saúde, podendo viver mais e com bem-estar, a busca por
alimentos benéficos a saúde tem aumentado exponencialmente. A classe
médica está muito sensível ao papel da alimentação na prevenção de
doenças. Hoje, mais de 40% dos brasileiros se preocupam em consumir
alimentos que gerem benefícios à saúde, portanto o uso de itens saudáveis
na alimentação é uma busca constante e o consumidor está aberto à
introdução de novos ingredientes. Esta demanda por alimentos que sejam
saudáveis e convenientes aos seus estilos de vida agitados, que contenham
alegações do tipo “fibras e grãos”, “integral”, “light/diet”, “livre de...”, o ajudem
a controlar o peso, o colesterol ruim, e reduzir os radicais livres, no entanto,
sem abrir mão do sabor, a busca por produtos industrializados cada vez mais
frescos e nutritivos estão ganhando muito espaço no mercado atual. Essa
tendência mundial está impulsionando o crescimento na categoria, exigindo
um grande desenvolvimento de tecnologias específicas que promovem
alimentos frescos, macios, apetitosos e principalmente, nutritivos. O que
garante o crescimento na panificação são as constantes inovações do setor,
que apostam no enriquecimento de alguns ingredientes, e outros aditivos que
contribuem como uma solução altamente eficaz para esta demanda tão
conflitante.
17
2. OBJETIVO
O presente trabalho tem por objetivo abordar aspectos sobre a utilização de
ingredientes e insumos na indústria da panificação, destacando-se as enzimas e
suas funções na fabricação de diferentes produtos.
18
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Histórico da Panificação
A panificação é talvez uma das artes culinárias mais antigas e sua história
permeia a própria história da humanidade. A utilização do grão de trigo como
alimento iniciou-se cerca de 17.000 anos atrás. Com o passar do tempo o homem
primitivo descobriu que poderia cultivá-lo e, posteriormente, realizar sua moagem
para o obtenção de farinha, triturando-o manualmente entre duas pedras
(PIZZINATO et al., 1993). Segundo Ramos (2008), os primeiros pães foram
elaborados no período neolítico, cerca de 10.000 a 8.000 anos atrás, mas não se
sabe ao certo o ano de descoberta. Acredita-se que os pães eram produzidos de
farinha misturada de um fruto de uma árvore chamada carvalho e cozidos em pedras
quentes, e pelo fato de não conter o fermento para fazê-lo crescer, e
consequentemente melhorar suas características físicas, este pão era achatado,
duro e seco por fora e mais macio por dentro.
Segundo a história, a descoberta de que a massa de pão podia
crescer, ou seja, fermentar, aconteceu por mero acaso: um pedaço de massa
contendo apenas água e farinha foi esquecido a céu aberto e, naturalmente, foi
inoculado pelas bactérias presentes no ambiente, dando início a uma fermentação
alcoólica, transformada, após alguns dias, em fermentação ácida, que ofereceu
volume à massa. Na Antigüidade, período que data de 8.000 a.C a 600 d.C., o pão já
era elaborado nos vales dos rios Tigre e Eufrates, na antiga Mesopotâmia e no vale
do rio Hindu. Tinha o formato oval e achatado e era feito com grãos triturados
rusticamente, como aveia, cevada, trigo e outras sementes, como gergelim, por
exemplo (RAMOS, 2008).
Os cereais eram misturados com água e deixados sobre pedras, onde
levedavam grosseiramente e, então, eram assados, envoltos ou cobertos de brasas.
Esses pães de formato estendido ou achatado, denominados em inglês flatbreads,
foram os únicos conhecidos pelas civilizações durante milênios, e ainda hoje são
produzidos e consumidos largamente em todo o mundo, principalmente nessa
mesma região, onde hoje se localiza o Iraque. Esse princípio de fermentação foi
19
amplamente explorado até o século XX, quando padeiros começaram a incluir algum
fermento comercial para acelerar e potencializar a capacidade de fermentação de
sua esponja e/ou pré- fermento (PANIFICAÇÃO, 2009).
Descobertas das escavações realizadas por arqueólogos mostraram
que as primeiras farinhas eram obtidas pelo processo de fricção dos grãos entre
pedras, o que permitia que o farelo fosse separado do endosperma (farinha). Foi no
Egito antigo, às margens do rio Nilo, que o pão se transformou definitivamente,
através do desenvolvimento de modelos primários de pedras moedoras, bem como
das variedades de trigos mais duros. Nessa época, a fermentação da cerveja e a
elaboração de pães tornaram-se uma habilidade crescente (RAMOS, 2008).
Vitti (2001) sugere que os egípcios usavam pedras e as farinhas
grosseiramente obtidas que, eram misturadas com um líquido contendo fermento
natural, o que propiciava a produção de pães de diferentes formas e tipos. O
processo é ilustrado nos murais encontrados nas tumbas dos faraós ao longo do rio
Nilo. Com a introdução de alavancas nos moinhos de pedra foi possível moer
maiores quantidades de trigo. Por milhares de anos a farinha para pão foi produzida
por moinho usando basicamente o mesmo princípio, apenas modificando a origem
da força, que podia ser originária do homem, cavalos ou bois, rodas d`água ou
moinho de vento. A combinação de diversas peneiras em série permitiu, além de
maiores passagens por moagens, a produção de farinhas mais brancas, ou seja,
mais refinadas.
Em 1859, Louis Pasteur, o pai da microbiologia moderna, descobriu
como o fermento funcionava. Alimentando-se de farinha de amido, o fermento
produzia dióxido de carbono. Este gás expande o glúten na farinha e leva a massa
de pão a expandir e crescer. Em Roma, o pão levedado se tornou popular por volta
de 500 a. C., quando foram desenvolvidos moedores circulares, base de toda
moagem até a Revolução Industrial do século XIX. No século XX, fornos movidos a
gás substituíram os fornos de tijolo e lenha, produzindo maior quantidade e
qualidade de cocção de pães e massas em geral. As unidades automatizadas para
elaboração de pães em grande escala aumentaram sensivelmente a produção de
pães (PANIFICAÇÃO, 2009).
20
Ramos (2008) relata que no Brasil, o pão se popularizou no século XIX
com a chegada dos colonizadores portugueses, mas apenas no século XX se tornou
alimento essencial na mesa do brasileiro.
O pão branco representa 2/3 da produção de pães, sendo este de alto
valor energético, fornecendo, de modo geral, 19% das necessidades energéticas
diárias, além de conter elementos nutritivos não energéticos, como ácidos graxos,
aminoácidos, elementos minerais e as vitaminas B1, B2, C, A, D, E e K (VITTI,
2001).
3.2 Matérias-Primas Essenciais
A composição mínima do pão, ou seja, os ingredientes essenciais para
obtenção do pão são farinha de trigo, água, sal e fermento biológico
(PANIFICAÇÃO, 2009).
3.2.1 Farinha de Trigo
É o componente estrutural da massa e constitui o ingrediente fundamental
para obtenção do pão. Para a produção de pão com bom apelo visual, ou seja, com
boas características de volume, uniformidade e cor, é recomendado o uso de farinha
de trigo com elevado potencial de panificação, que foi definido como a “quantidade
de panificação” da farinha (PRATT, 1988). De acordo com Pomeranz (1988), os
fatores de qualidade da farinha podem ser divididos em dois grupos básicos:
aqueles inerentes ao trigo e que resultam da composição genética e das condições
de crescimento e coleta da planta, e aquelas que dependem do processo de
armazenamento e de moagem do trigo em farinha. Em virtude dessas variações,
muitas vezes as farinhas de diferentes regiões tem que ser corrigidas pelos moinhos
para padronização de determinados tipos de processo e aplicações.
Os principais componentes da farinha de trigo estão expostos no gráfico
abaixo, bem como o teor médio de cada componente na farinha:
21
Figura 1. Principais componentes da farinha de trigo
Magno (1996) estudou que o teor e a qualidade das proteínas formadoras de
glúten da farinha de trigo são os principais fatores responsáveis pelo seu potencial
de panificação, não obstante o amido, lipídeos e componentes hidrossolúveis da
farinha serem também necessários para a produção de pão com volume, textura e
frescor adequados.
A farinha de trigo possui proteínas insolúveis - a gliadina e a glutenina -
com características funcionais únicas, capazes de formar uma rede, o glúten. O
glúten não é um componente que faz parte diretamente da formulação de produtos
de panificação, pois é formado quando a farinha de trigo, a água e os demais
ingredientes do pão são misturados e sofrem a ação de um trabalho mecânico. À
medida que a água começa a interagir com as proteínas insolúveis da farinha de
trigo (glutenina e gliadina) a rede de glúten começa a ser formada. Sendo assim, o
glúten é formado pela interação entre moléculas de gliadina e glutenina que ao se
hidratarem formam uma rede. O interesse do glúten nos processos de panificação
está basicamente ligado a sua capacidade de dar extensibilidade e consistência à
massa, além de reter o gás carbônico proveniente da fermentação, promovendo o
aumento de volume desejado (PANIFICAÇÃO, 2009).
As gliadinas são proteínas de cadeia simples, extremamente
pegajosas, responsáveis pela consistência e viscosidade da massa, controlando seu
22
volume, pois apresentam pouca resistência à extensão. As gluteninas, por sua vez,
apresentam cadeias ramificadas, sendo a fração mais elástica e coesa da massa, se
tornando responsáveis pela extensibilidade da massa. As gluteninas respondem
então, pelos tempos de mistura e de desenvolvimento da massa. As quantidades
destas duas proteínas no trigo são fatores determinantes para a qualidade da rede
formada no processo de panificação. Muitas vezes farinhas pobres em proteínas
precisando ser enriquecidas de glúten para assegurar a qualidade do pão (MAGNO,
1996).
Figura 2. Formação da rede proteica - glúten
Segundo Pomeranz (1985) além do glúten, que pode ser comparado ao
“esqueleto” da massa, o amido desempenha papel importante na manutenção da
estrutura do pão no cozimento, ajudando na retenção dos gases produzidos durante
a fermentação. Os lipídeos também participam das interações entre o amido e
proteínas, e ainda das proteínas entre si, as gliadinas e gluteninas apresentadas
anteriormente.
O aumento do grau de extração da farinha eleva os conteúdos de proteínas,
lipídeos, fibras e sais minerais (EL-DASH et al., 1982). A influência do amido
danificado presente na farinha de trigo influi na viscosidade da farinha e
consequentemente afeta o desempenho dos pães. Para panificação, normalmente
recomenda-se que a farinha contenha de 4-8% de amido, danificado pela ação da
moagem do trigo (POMERANZ, 1988).
Para a produção de pão de alta qualidade, é necessário usar farinha de trigo
com baixo teor de cinzas, alta qualidade e bom teor de glúten, boa tolerância a
mistura e alta absorção de água. O teor de cinzas (minearis) tem sido importante
parâmetro de qualidade da farinha. Normalmente, farinhas que contêm maior teor de
cinzas apresentam coloração mais intensa (POMERANZ, 1985). Para se obter uma
23
farinha que satisfaça essa característica, é necessária a seleção adequada dos
trigos para moagem e o uso da parte central do grão (endosperma) para a extração
da farinha.
Pizzinato et al. (1994) estudaram que a qualidade e quantidade de glúten, ou
seja, de proteínas insolúveis do trigo, presentes na farinha, são fatores essenciais na
medida do potencial da farinha. A qualidade do glúten pode ser avaliada por sua
capacidade de inchamento, particularmente em soluções de ácidos diluídos, onde
glúten com maior qualidade apresenta maior capacidade de inchamento. Esse fator
serviu de base para o desenvolvimento de diversos métodos de determinação
qualitativa do glúten. Já para a determinação do teor de glúten, utiliza-se
normalmente o método Kjeldahl, ou então o teste de lavagem, sendo este último
menos preciso, porém mais rápido e simples.
3.2.2 Água
Calvel (1987), em seus estudos relata que a água é também um ingrediente
imprescindível na formação da massa. Ela hidrata as proteínas da farinha de trigo,
tornando possível a formação da rede de glúten, e ao mesmo tempo fornece meio
propício ao desenvolvimento da atividade enzimática, e consequentemente, a
fermentação do pão. Também atua como solvente e plastificante e permite que,
durante o processo de cozimento do pão, ocorra o fenômeno de gelatinização do
amido, podendo controlar sua consistência.
A água pode ser originária de chuvas, neve, lagos, córregos, poços artesianos
e outras fontes. A água natural quando passa através do solo, entra em contato com
produtos de decomposição, absorvendo dióxido de carbono do ar para formar ácido
carbônico. Outros materiais também formadores de ácidos podem ser absorvidos.
Quanto menos o contato da água com o solo, menor a chance de minerais serem
dissolvidos (PANIFICAÇÃO, 2009).
Qualquer água que é adequada para ser bebida pela população pode ser
utilizada na produção de pães, certificando-se que as características adequadas
são: água limpa, inodora, incolor e potável, com dureza intermediária (50-100 ppm),
pH neutro, ligeiramente ácido (PIZZINATO et al., 1993).
24
3.2.3 Sal
Panificação (2009) alega que é indispensável em qualquer formulação de
pão. O sal exerce algumas funções, tais como: controlar a fermentação, fortificar o
glúten das farinhas (já que a gliadina, um de seus componentes, tem maior
solubilidade na água com sal, o que proporciona uma maior formação do glúten),
ação higroscópica (que auxilia na conservação), é decisivo na hidratação das
massas, melhora as características da corsta, atua como ressaltador de sabores no
produto final e clareia o miolo do pão.
De modo geral, a porcentagem mais indicada do sal numa massa é de 1,5 a
2,0% no máximo. O excesso pode alterar o sabor do produto final, e a falta pode
trazer as deficiências de uma massa não maleável, difícil de trabalhar, apresentar
menor elasticidade, etc. Assim, as características requeridas do sal são: possuir
granulometria homogênea e ser refinado (PANIFICAÇÃO, 2009).
3.2.4 Fermento Biológico
Quando se fala de fermento biológico, refere-se a uma levedura selecionada,
denominada Saccharomices cerevisiae, geralmente do tipo fresco. O papel principal
do fermento é fazer a conversão de açúcares fermentáveis presentes na massa a
gás carbônico e etanol. Além de produzir CO2, que é o gás responsável pelo
crescimento do pão, o fermento também exerce influência sobre as propriedades
reológicas da massa, formando os alvéolos internos,e assim, tornando-a mais
elástica e porosa, que após o cozimento é digestível e nutritivo. Um fermento de boa
qualidade tem na sua composição elementos naturais, como proteínas, carboidratos,
enzimas, etc., arranjados em centenas de derivados formados por processos
naturais e inerentes à fermentação, que industrialmente é produzido a partir do
melaço, usando-se culturas de leveduras adequadas para sua reprodução. Do ponto
de vista prático, existem no mercado dois tipos de fermento biológico que são
comercializados: o fermento prensado fresco e o fermento biológico seco, ativo ou
não. No Brasil o fermento seco, somente tem sido comercializado nos últimos anos,
por duas razões: a indisponibilidade de tecnologia e o custo do produto
(PANIFICAÇÃO, 2009).
25
De acordo com Calvel (1987), o fermento fresco é o mais comumente
empregado pelas padarias. Encontrado usualmente em pacotes de 500g, apresenta-
se sob a forma de blocos, de cor creme ou marfim, com consistência compacta e
homogênea, e com teor de umidade elevado (o que exige refrigeração para sua
conservação, limitando o seu uso por períodos prolongados). Assim, quando
armazenados a uma temperatura de 5ºC, sua vida de prateleira não se estende
além de 12 dias. Qualquer alteração da cor e odor do fermento indica problemas de
qualidade fermentativa. É evidente que, a medida que o fermento envelhece, mesmo
guardade em condições ideias de conservação, seu poder fermentativo diminui.
O fermento seco, por outro lado, é obtido através da secagem do fermento
fresco a baixa temperatura, para não prejudicar a qualidade fermentativa. A grande
vantagem desse tipo de fermento é sua conservação, ou vida de prateleira, que é
longa devido principalmente, a sua baixa umidade. Hoje, são comercializados dois
tipos: o seco granulado não ativo, e o desidratado instantâneo ativo. O primeiro
possui células que estão em estado latente, e que precisam ser revigoradas
previamente para ter uso. Isso é normalmente feito reidratando-o com água 15-20
minutos antes de seu uso a 38ºC. Nesse caso, a relação fermento fresco para
desidratado é de 1kg de fresco para 400-500g de granulado. O instantâneo vem
sempre embalado em recipiente a vácuo sendo incorporado diretamente na massa,
no início do processo. Esse tipo de fermento é produzido por processos mais
sofisticados, usando-se strains de leveduras especiais e usando-se secagem em
leito fluidizado (CALVEL, 1987).
Deve-se lembrar que, os fermentos, quaisquer que sejam seus tipos, perdem
sua ação a partir de 45ºC, razão pelas quais se deve evitar submetê-los a estas
temperaturas. Da mesma forma, se forem temperaturas excessivamente baixas, são
prejudicados também (VITTI, 2001).
3.3 Matérias-Primas Complementares
O sabor e as qualidades de um pão não podem ser dissociados de sua
composição. A composição do pão francês, por exemplo, inclui 100% de farinha,
55% a 60% de água, 0,2% de sal e 02,% a 0,4% de fermento. Dependendo de cada
26
caso, um número relativamente significante de ingredientes denominados de
“enriquecedores” pode ser adicionado, entre eles destacam-se o açúcar, gorduras,
ovos, flavorizantes e especiarias (PANIFICAÇÃO, 2009).
3.3.1 Açúcar
No estudo de Panificação (2009) relata que embora outros adoçantes possam
ser utilizados na elaboração de produtos de panificação, o açúcar comum ou
sacarose é o mais versátil e capaz de desempenhar funções específicas de maneira
controlada. Quando utilizado na panificação, além de dar sabor e auxiliar na
coloração da casca, o açúcar melhora também a textura das migalhas, ao atuar
como retentor na saída da umidade da massa. Porém, seu uso em excesso retarda
a ação do fermento, devendo, portanto, ser balanceado com os demais ingredientes.
Entre as funções gerais mais importantes do açúcar estão a interação com as
moléculas de proteína ou amido durante o processo de cocção; atuação como
amaciador pela absorção de água e pela inibição do desenvolvimento do glúten na
farinha; retardo da gelatinização do amido, incorporação de ar à gordura durante o
processo de método cremoso; caramelização quando exposto a altas temperaturas,
oferecendo coloração e aroma agradáveis na cocção; aceleração da fermentação ao
prover alimento ao fermento; retardo da coagulação da proteína dos ovos em pudins
e cremes; retardo do escurecimento da superfície de frutas; acentuação da maciez e
do sabor de sorvetes, sherbets e sorbets; e controle da recristalização por meio do
desenvolvimento do açúcar invertido.
Em massas fermentadas, o açúcar desempenha funções específicas. No
desenvolvimento de glúten, por exemplo, durante a mistura da massa, o açúcar age
como amaciador ao absorver a água e desintensificar o desenvolvimento do glúten.
As proteínas da farinha são hidratadas, formando a cadeia de glúten, composta por
milhares de pequenas bolsas que aprisionam os gases produzidos durante a
fermentação. Essas cadeias de glúten são elásticas e permitem à massa crescer
sob a expansão de gases. Contudo, se muito glúten for desenvolvido, a massa se
torna rígida e dura.
27
O açúcar compete com essas proteínas formadoras de glúten por água,
prevenindo assim a super-hidratação das proteínas durante a fase da mistura. Em
conseqüência, é desenvolvido menos glúten, e a massa fica menos rígida. Utilizado
na proporção correta, o açúcar otimiza a elasticidade da massa, deixando-a mais
suave, com produto final de textura macia e bom volume.
Outro exemplo é na fermentação, onde o açúcar aumenta a eficácia do
fermento. O açúcar é quebrado pelas células do fermento, que o transforma em
alimento, e o gás carbônico é expelido mais rapidamente. O processo de
fermentação é agilizado e mais consistente.
O açúcar também age na coagulação da proteína do ovo, adiando sua
coagulação durante a cocção. Com a elevação da temperatura da mistura durante a
cocção, as proteínas do ovo coagulam ou formam elos entre si. As moléculas de
açúcar elevam a temperatura desses elos. Quando essas proteínas coagulam, o
bolo está assado por igual. Também durante a cocção, com a absorção de líquidos,
o açúcar amacia, prolongando a gelatinização.
Em bolos, o calor do forno faz com que o amido da farinha absorva líquido e
endureça. Quanto mais líquido for absorvido pelo amido, mais firme se fará, até
atingir o estado sólido. O açúcar atua para prolongar a gelatinização, competindo
com o amido pelo líquido presente na massa. Absorvendo parte do líquido presente,
o açúcar mantém a viscosidade da mistura. Como resultado, a temperatura em que
o bolo se firma é esticada ao máximo para desfrutar da ação expansora oferecida
pelos gases expelidos pela ação do fermento químico (PANIFICAÇÃO, 2009).
3.3.2 Gorduras
Os triglicerídeos, conhecidos como banha, manteiga, margarina, gordura e
óleo, vêm sendo usados por séculos na culinária para auxiliar na expansão, dar
sensação de umidade significativa na boca e aumentar a vida útil do produto a ser
estocado.
Em panificação, as gorduras diminuem as cadeias de glúten, dando maciez e
umidade à massa, além de prolongar a vida útil do pão. Contribuem para dar sabor,
cor, textura, além de auxiliar como aerador de produtos elaborados com o método
cremoso, permitindo a incorporação de ar na massa.
28
Auxiliam no manuseio da massa, deixando-a menos pegajosa. A gordura
encurta as cadeias de glúten e, assim agindo, amacia o produto. Encapa o glúten e
outros ingredientes e os lubrifica para que não fiquem pesadamente coesos e sem
espaço para expansão.
As gorduras também proporcionam maciez. Possibilita melhor retenção do
gás carbônico liberado na fermentação, devido à lubrificação das cadeias de glúten,
impedindo seu super desenvolvimento (e endurecimento). Ao assar, forma uma
película protetora da umidade. É o único ingrediente que estará integralmente
presente no produto final, sem nenhuma perda.
A gordura acentua o sabor de alguns ingredientes e contribui com seu próprio
sabor, como é o caso da manteiga. Em pães rápidos, como muffins, por exemplo,
reduzir o conteúdo de gordura pode comprometer seriamente a maciez do produto,
pois permite que o glúten se desenvolva mais livremente. Muitas receitas prevêem
outro agente amaciador, como o açúcar, por exemplo, ou ovos, para aumentar a
maciez, e assim substituem a gordura. Adicionar um mínimo de gordura, mesmo na
massa do pão francês, apenas para garantir o desenvolvimento de um glúten
elástico, dando ao pão maior volume, não oferece problema (PANIFICAÇÃO, 2009).
3.3.3 Ovos
Apesar de não ser considerado ingrediente básico, o ovo é largamente
utilizado em produtos de panificação, em várias funções. Dão sabor, cor, contribuem
para a formação estrutural da massa, incorporam ar quando batidos, providenciam
líquido, gordura e proteína e emulsificam gordura e ingredientes líquidos.
Reduzir a quantidade de gemas resulta em um produto menos macio, pois a
gema contém aproximadamente 35% da gordura do ovo. Omitir ou reduzir a
quantidade de claras pode resultar em significativa perda de volume. Os bolos e
pães rápidos elaborados sem o auxilio emulsificante das gemas podem não ter a
textura e o sabor distribuídos uniformemente.
As massas com grande quantidade de ovos (massas gordas), normalmente,
também requerem grande quantidade de açúcar, como a massa doce. Geralmente,
são assados em temperaturas baixas porque tendem a adquirir coloração mais
rapidamente do que as massas mais magras.
29
Já na confeitaria, o ovo é o principal ingrediente, sendo utilizado em
praticamente todas as preparações, como bolos, sobremesas e cremes, sorvetes e
tortas. Podem aglutinar ingredientes e serem utilizados como expansores, em patê
au choux (massa de bomba), suflês e bolos genoise. São espessantes naturais em
cremes e molhos. Emulsificam maioneses e molhos para saladas. São utilizados
para proporcionar brilho e acabamento a pães, tortas e massa folhada, por exemplo.
Em confeitos e coberturas, retardam a cristalização, quando da utilização das claras.
A temperatura do ovo afeta diretamente vários processos, como por exemplo,
o de aeração e o de cremeamento. Ovos frios, quando utilizados em misturas
cremosas, esfriam e endurecem levemente a gordura que está sendo transformada
em creme, tornando necessário um período de mistura mais longo do que o
necessário ou, ainda, em casos mais extremos, mudando significativamente a
textura final da produção.
Na massa, os ovos incrementam o processo de cremosidade porque
aumentam o número de células de ar com gordura, permitindo que o processo de
expansão tenha continuidade e sustentação. No forno, as células de ar continuam se
expandindo e a evaporação parcial da umidade em forma de vapor potencializa o
crescimento. Quando o ovo é batido, a espuma formada dará sustentação ao
produto final.
As gemas proporcionam uma desejável coloração amarela, que oferece
aparência mais rica e apetitosa em bolos, cremes e outras preparações; além disso,
as gemas contêm emulsificantes naturais, que auxiliam na produção de massas
suaves (PANIFICAÇÃO, 2009).
3.3.4 Fibras
Vários tipos de fibras podem ser acrescentados aos produtos de panificação,
na forma de farinhas integrais de sementes (trigo, aveia, centeio, milho, soja, aveia,
cevada, girassol, linhaça, arroz e sorgo) ou fibras isoladas de frutas e outros
vegetais (maçã, pêra e uva). Além do aspecto nutricional, as fibras apresentam, em
sua maioria, custo baixo e são facilmente encontradas comercialmente
(POMERANZ, 1987). Existem duas razões principais para se adicionar fibras em
30
pães, sendo a primeira, o aumento do teor de fibra alimentar, e a segunda, o
decréscimo do conteúdo calórico destes pães (STAUFFER, 1990).
3.4 Aditivos
Em massas destinadas a fabricação de pão são geralmente utilizados os
ingredientes básicos e enriquecedores, entretanto a legislação brasileira permite o
uso de certos componentes auxiliares, conhecidos como aditivos, que podem ser
incorporados a massa, para corrigir determinadas deficiências de qualidade,
principalmente na farinha. Normalmente esses aditivos atuam com a finalidade de
equilibrar a atividade enzimática da farinha ou melhorar a força da massa e a
tolerância ao processo de panificação.
3.4.1 Legislação para Aditivos
3.4.1.1 Regulamentos MERCOSUL para Aditivos Alimentícios
O MERCOSUL, ou Mercado Comum do Sul, surgiu em 1991, após a
publicação do Tratado de Assunção, que estabelece a criação de um mercado
comum entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Para facilitar o comércio entre os
países, tornou-se necessário harmonizar a legislação para alimentos, tendo sido já
publicadas diversas Resoluções sobre o assunto (COMPÊNDIO, 1995).
3.4.1.2 Lista Geral Harmonizada de Aditivos
Visando uniformizar a legislação referente a aditivos alimentícios, foi
inicialmente estabelecida pelo grupo responsável pela regulamentação de aditivos
no MERCOSUL, uma Lista Geral Harmonizada de Aditivos, através da Resolução
GMC no.19/93, posteriormente modificada pelas Resoluções no. 55/94, 104/94,
28/96, 140/96 e 144/96. Esta lista harmonizada é uma lista positiva, ou seja, só
podem ser utilizados em alimentos os aditivos presentes nesta lista. Esta lista foi
elaborada tendo como base as legislações em vigor nos Estados-Parte, a legislação
da União Européia e as recomendações do Codex Alimentarius. A lista harmonizada
31
engloba os aditivos denominados “BPF”, ou seja, Boas Práticas de Fabricação, que
são aditivos que podem ser adicionados aos alimentos em geral, sem limitações
quantitativas de dosagem; e aditivos com dosagem limitada, sendo que esta
dosagem é estabelecida em função do tipo de alimento em que o aditivo será
utilizado (COMPÊNDIO, 1995).
3.4.1.3 Classes Funcionais dos Aditivos Alimentícios
O MERCOSUL definiu também categorias funcionais para os aditivos
alimentícios, através das Resoluções GMC no. 83/93 e 107/94. Foram definidas 23
categorias funcionais de aditivos. Muitas destas categorias não existiam na
legislação brasileira, como é o caso por exemplo, da categoria de Emulsificantes/
Emulsionantes. Cada categoria funcional recebeu, ainda, uma abreviação, para
facilitar a sua codificação (COMPÊNDIO, 1995).
3.4.1.4 Categorias de Alimentos
Adicionalmente à definição da lista harmonizada de aditivos e das categorias
funcionais dos aditivos, o MERCOSUL está, atualmente, estudando categorias de
alimentos, e para cada categoria, os aditivos permitidos e seus respectivos limites de
uso, para aditivos não classificados como BPF. No caso de produtos de panificação,
estes foram enquadrados na Categoria 7 - Produtos de Panificação e Biscoitos. A
categoria foi subdividida nas seguintes sub-categorias: 7.1. Pães Prontos para
Consumo e Semi-Prontos; 7.2. Biscoitos e Similares; e 7.3. Produtos de Confeitaria
(COMPÊNDIO, 1995).
3.4.2 Aditivos Utilizados em Panificação
Dentre as categorias funcionais de aditivos previstas para uso em
panificação, as mais importantes são os emulsificantes, os melhoradores de farinha
e os conservantes. A categoria de melhoradores de farinha engloba aditivos que
atuam como agentes oxidantes, como agentes branqueadores de farinha e também
algumas enzimas, que melhoram as características da massa e a qualidade do
produto final. (MATUDA, 2004).
32
Os aditivos atuam, de maneira geral, corrigindo ou neutralizando deficiências
da farinha de trigo, o que facilita a padronização da qualidade dos produtos finais;
eles também podem alterar o comportamento reológico das massas, melhorando
características de extensibilidade e elasticidade das massas; outra função
extremamente importante dos aditivos é o prolongamento da vida-de-prateleira, o
que reduz as perdas do fabricante por retorno de produto; e ainda os aditivos
proporcionam maior segurança contra falhas no processo, como por exemplo,
períodos prolongados de amassamento mecânico ou fermentações mais longas.
Todos estes efeitos dos aditivos resultam em melhor qualidade do produto final. No
entanto, é importante salientar que a obtenção destes benefícios só é possível com
a utilização correta dos aditivos, ou seja, sua dosagem deve ser sempre adequada
ao tipo de farinha, ao produto final desejado e ao processo de panificação que se
está utilizando.
3.4.2.1 Emulsificantes
Há vários tipos de emulsificantes, mas todos eles apresentam uma estrutura
molecular bastante peculiar, que é responsável pelas suas propriedades; os
emulsificantes são substâncias que apresentam, na mesma molécula, uma porção
hidrofílica, ou seja, que tem afinidade por água, e uma porção lipofílica, que tem
afinidade por óleo ou outras substâncias apolares. Esta característica é que faz com
que os emulsificantes possam exibir a capacidade de formar emulsões, tornando
miscíveis substâncias normalmente imiscíveis, como água e óleo.
Os emulsificantes são categorizados em duas classes: i) os que formam
complexos com o amido, favorecendo a maciez do miolo e prevenindo o
envelhecimento, como por exemplo, os monoglicerídeos; e ii) os que atuam
interagindo com as proteínas, fortalecendo a massa pelo aumento da capacidade do
glúten de formar um filme que retém a produção de gás pela levedura (GÓMEZ et
al., 2004; MATUDA, 2004; STAMPFLI; NERSTEN, 1995; TAMSTORF; JONSSON;
KROG, 1987).
Os principais emulsificantes utilizados em panificação são os polisorbatos,
principalmente os polisorbatos 60 e 80, que são ésteres de sorbitan etoxilados; os
mono e diglicerídios, derivados de tipos diferentes de gorduras e que podem ser
obtidos com vários graus de pureza; os data-ésteres, que são ésteres de mono e
33
diglicerídios com ácido diacetiltartárico; e os estearoil lactil lactatos de sódio e de
cálcio (conhecidos por SSL e CSL).
De uma maneira geral, podemos resumir os efeitos dos emulsificantes em
panificação como sendo os seguintes (KOKELAAR; GARRITSEN; PRINS, 1995;
RIBOTTA et al., 2004):
-lubrificação da massa, facilitando seu processamento mecânico;
-substituição parcial ou total da gordura da formulação, melhor distribuição da
gordura utilizada;
-atuação sobre os componentes do amido - amilose e amilopectina - complexando-
os e diminuindo a taxa de retrogradação do amido, o que se traduz em maior vida-
de-prateleira do produto panificado
-interação com o glúten, reforçando-o e proporcionando a obtenção de pães com
maiores volumes finais e melhor estrutura;
-influência benéfica sobre a crosta e a crocância dos pães.
3.4.2.2 Agentes oxidantes
Dentre os melhoradores de farinha, os agentes oxidantes são os produtos de
maior importância na tecnologia de panificação. Eles atuam diretamente sobre a
estrutura das proteínas do glúten, reforçando a rede de glúten através da formação
de ligações dissulfídicas. Estas ligações formadas afetam a reologia da massa,
aumentando a resistência à extensão e diminuindo a extensibilidade. Como
conseqüência direta da ação reforçadora dos oxidantes sobre o glúten, a capacidade
de retenção de gases é aumentada, o que resulta em pães com maior volume. Os
agentes oxidantes também aumentam o “oven-rise”, ou salto de forno, que é o
aumento rápido de volume que ocorre nos primeiros minutos após a massa entrar no
forno. No Brasil, o agente oxidante mais comumente utilizado é o ácido ascórbico
(75 ppm) (CALVEL, 1987). A rigor, quimicamente o ácido ascórbico é um
antioxidante, mas na massa atua como oxidante, através de um mecanismo que é
alvo de muita controvérsia e que ainda não foi totalmente esclarecido. Segundo a
legislação brasileira, o ácido ascórbico em panificação não é considerado um aditivo,
34
mas um melhorador da tecnologia de panificação (Resolução CNNPA 4/70). Além do
ácido ascórbico, a legislação brasileira prevê ainda a util ização da
azodicarbonamida, porém seu uso está restrito aos moinhos de trigo.
3.4.2.3 Agentes Branqueadores de Farinha
De acordo com Matuda (2004), uma outra categoria de melhoradores de
farinha usados são os agentes branqueadores. O uso de agentes branqueadores de
farinha é bastante recente no Brasil, e o único branqueador previsto pela legislação
brasileira é o peróxido de benzoíla. O tratamento com este aditivo é feito
exclusivamente pelos moinhos de trigo, já que sua adição é feita logo após a
moagem do trigo. Os agentes branqueadores atuam sobre os pigmentos
carotenóides da farinha de trigo, oxidando-os. Isto permite a obtenção de pães com
miolo mais branco, que é uma característica que agrada bastante o consumidor.
3.4.2.4 Conservantes
Os conservantes constituem uma classe de aditivos utilizada somente em
pães embalados, ou seja, aqueles que necessitam de vida-de-prateleira mais longa,
como é o caso dos pães de forma. Assim, a função dos conservantes em
panificação é o prolongamento da vida-de-prateleira, através da inibição do
crescimento de microorganismos.
3.4.2.5 Enzimas
Com o aumento da demanda por alimentos naturais, as indústrias estão
pesquisando novos métodos para a obtenção de melhoria das características como
maciez, textura e maior shelf-life dos pães, geralmente obtidas com a utilização de
aditivos químicos (LAD; MULLINS, 1993). Nesse contexto, coadjuvantes
tecnológicos “naturais”, que não foram produzidos por síntese química, como as
enzimas, vêm sendo cada vez mais utilizados (HAROS; ROSELL; BENEDITO, 2002;
NÉRON et al., 2004).
As enzimas mais comumente utilizadas em panificação são as amilases
(GIMÉNEZ et al., 2007; HAROS; ROSELL; BENEDITO, 2002; LEÓN; DURÁN;
35
BARBER, 2002). Além das amilases, recentemente vem sendo introduzidas novas
enzimas na tecnologia de panificação, dentre as quais podemos destacar as
hemicelulases, as glico-oxidases, as xilanases, as lipases, as proteases,
amiloglucosidases e as lipoxidases (VAN DER MAAREL et al., 2002). Cada uma
destas enzimas exerce funções específicas, contribuindo para melhorar as
características reológicas da massa, atuando nas moléculas de amido ou das
proteínas, aumentando o volume do pão e melhorando a estrutura do miolo
(HASAN; SHAH; HAMEED, 2006; POUTANEN, 1997).
As amilases são muito importantes em processos de panificação,
principalmente aqueles de fermentação mais longa, pois proporcionam a formação
de açúcares fermentáveis, ou seja, açúcares que podem ser metabolizados pelo
fermento, para formação de CO2. O açúcar fermentável formado pela ação das
amilases é a maltose. Em farinha de trigo de boa qualidade, o teor de alfa-amilase é
bastante baixo e para que ocorra a formação de açúcares necessários à
fermentação, é feita então a suplementação. A suplementação de beta-amilase não
é necessária, uma vez que normalmente a farinha de trigo já possui beta-amilase
suficiente para a ocorrência da reação. De forma indireta, as amilases também
favorecem a coloração da crosta e o volume dos pães. Segundo a legislação
brasileira, as enzimas são classificadas como coadjuvantes de tecnologia, e são
comercialmente vendidas adicionadas a um elemento de partição; possuindo uma
proporção de uso em torno de 30 gramas por 100kg de farinha (CALVEL, 1987).
3.4.3 Formas de Incorporação de Aditivos em Panificação
A primeira forma de incorporação é a utilização dos aditivos isoladamente.
Isso se aplica principalmente às indústrias de panificação, que definem quais são os
aditivos que necessitam utilizar para cada tipo de pão, e os adicionam
separadamente à massa, conforme suas necessidades. Uma segunda forma de
agregação de aditivos aos produtos de panificação é através dos produtos
denominados “condicionadores de panificação”, “melhoradores de panificação” ou
ainda “unificados”.
Estes produtos são constituídos por uma mistura dos principais aditivos para
panificação, em quantidades fixas e ajustadas para o tipo de pão que se deseja
36
fabricar, veiculados em amido - “condicionadores em pó” - ou em gordura -
“condicionadores em pasta”. Este tipo de produto é ideal para ser utilizado pelas
padarias e supermercados, porque facilita o trabalho do padeiro, já que dificilmente
ele poderia utilizar os aditivos separadamente, uma vez que as quantidades
necessárias são muito pequenas.
A terceira forma de incorporação dos aditivos é através das “misturas
industriais” para panificação. As “misturas industriais” são produzidas pelos moinhos
de trigo, e são constituídas por todos os ingredientes necessários à fabricação de
um determinado tipo de pão como, por exemplo, farinha, sal, açúcar, gordura, e
também por todos os aditivos, nas quantidades exigidas pelo tipo de farinha que foi
utilizado na mistura. A mistura, então, é destinada às padarias e supermercados, e o
padeiro, para fabricação do pão, necessita adicionar apenas a água e o fermento
biológico (PAVANELLI, 2000).
O fabricante de pão tem a possibilidade de escolher entre utilizar os aditivos
separadamente, na forma de melhoradores ou inseridos nas misturas industriais
para panificação.
3.5 ENZIMAS
Enzimas são compostos orgânicos sintetizados no interior de células vivas,
capazes de atuar dentro e fora delas, desempenhando importante papel no
processamento e deterioração dos alimentos. A denominação enzima foi dada por
Klune em 1878, época em que se acreditava que enzimas só eram ativas nas
células vivas, o que permaneceu até 1897, quando foi observado que o extrato
obtido por prensagem de células de leveduras ainda possuíam a propriedade de
fermentar sacarose (BOBBIO & BOBBIO, 1992). Quimicamente, as enzimas são
proteínas, polímeros de cadeia longa, com aminoácidos sucessivamente ligados uns
aos outros através de ligações peptídicas em uma seqüência determinada
geneticamente, que apresentam atividade catalítica. Elas possuem uma estrutura
especial, contendo um centro ativo, denominado apoenzima e algumas vezes um
grupo não proteico, denominado coenzima, onde toda a molécula (apoenzima e
coenzima) é denominada haloenzima.
37
Em geral, o nome de uma enzima consiste em duas partes, o primeiro é o
nome do substrato e o segundo termina com “ase”, o qual indica a natureza do
processo. Por exemplo, as enzimas que convertem amilose e amilopectina (amido)
em carboidratos simples, são denominadas de amilases e as enzimas que
degradam proteínas, são chamadas de proteases (DUBOIS, 1980).
Grande parte das proteínas sintetizadas na célula são enzimas, referidas
como enzimas intracelulares, ou citoplasmáticas. Somente podem ser obtidas e
avaliadas por rompimento da célula. Mas, esta também tem a capacidade de
sintetizar enzimas que são excretadas para fora da célula, podendo ser encontradas
no meio de cultivo ou de propagação celular, sendo mais facilmente isoladas e
avaliadas.
Quase todas as enzimas preparadas em escala industrial até hoje são
extracelulares, porque seu isolamento dos meios ou caldos de cultivo é geralmente
mais simples, embora se encontrem sob forma muito diluída nestes meios, o que
pode tornar o seu isolamento muito dispendioso. Porém, a maior parte das enzimas
naturais é intracelular, porque lá são continuamente sintetizadas metabolicamente
(MOREIRA, 2003).
Como o mecanismo celular dos sistemas vivos, animais, vegetais e
microrganismos depende das enzimas, a sua fonte primária são tecidos animais
(glândulas, principalmente), tecidos vegetais (sementes, frutas, exsudações) e
culturas de microrganismos, quer se fazendo uso de cultivo total, quer extraindo as
enzimas do meio de cultura de bactérias, fungos e leveduras.
Com isso, a maior parte das enzimas produzidas industrialmente têm
aplicação na produção, conservação e modificação de produtos animais e vegetais
(principalmente alimentos), na produção de medicamentos (vitaminas e hormônios)
e na produção de derivados de matérias-primas animais e vegetais. Em todos os
casos de aplicação citados, se trata, fundamentalmente, de imitar tecnologicamente
o que é feito na natureza, embora em escala condicionada a necessidade e vontade
do homem (GOMES et al., 2007).
Como fonte de enzimas, os vegetais tem sua limitação no fato de que
relativamente pouca enzima pode ser extraída de uma grande massa vegetal; o que
somente é econômico onde a mão-de-obra e terra tem custo menor. São poucas as
enzimas que podem ser obtidas economicamente nestas condições. Uma enzima
38
oxidativa importante é produzida a partir de vegetais, a lipoxidase, uma oxigenase
extraída da farinha de soja. Por outro lado, o malte, o qual pode ser considerado
como enzima amilolítica bruta é, seguramente, a enzima vegetal mais difundida.
Enzimas de glândulas e órgãos animais também tem produção limitada,
porque são obtidas de subprodutos da industrialização de carnes, recurso alimentar
nobre e, por isso, além de dispendiosos, de oferta geralmente escassa. Um exemplo
é o pâncreas bovino que, simplesmente congelado e moído, pode atuar como
protease na chamada “purga” de peles.
Enzimas microbianas, produzidas através do cultivo dirigido de
microrganismos em substratos apropriados, não sofrem as limitações apontadas.
Havendo disponibilidade dos insumos do substrato ou meio de cultura, sendo
disponíveis e conhecidos o agente microbiano mais apropriado e o método e
condução do cultivo, a produção é potencialmente ilimitada, dependendo da
economia do respectivo processo (CASTRO et al., 2004).
As enzimas são catalisadores muito potentes e eficazes. Um catalisador é
uma substância que acelera uma reação química, até torná-la instantânea ou quase
instantânea, ao diminuir a energia de ativação. Como catalisadores, as enzimas
atuam em pequena quantidade e se recuperam indefinidamente. Não levam a cabo
reações que sejam energeticamente desfavoráveis, não modificam o sentido dos
equilíbrios químicos, mas aceleram sua realização. Assim, é importante reconhecer
que as enzimas catalisam, mas não são afetadas pelas reações químicas que
hospedam. A sua atividade termina apenas quando o substrato está extinto ou
quando é desnaturada pelas condições físicas, tais como a temperatura ou o pH, o
que provoca uma alteração irreversível nas moléculas da enzima. Como as enzimas
são proteínas altamente complexas e facilmente destruídas, portanto não podem ser
determinadas por análises diretas. A concentração em que estão presentes é
medida pela análise da ação que elas tem no produto final. Os fatores mais
importantes que influenciam na atividade enzimática são: tempo, pH e temperatura
(VITOLO, 2001).
39
3.5.1 Histórico
Talvez as enzimas sejam as moléculas biológicas usadas há mais tempo pelo
homem, mesmo que de forma inconsciente, na produção de pães e vinho, na
antiguidade. A ciência que estuda as enzimas é denominada de enzimologia. O
termo enzima foi introduzido pela primeira vez por volta de 1878 por Willian Kühne
(do grego en = dentro zyme = levedura) para designar as substâncias contidas nos
extratos de levedura usados em fermentação. Em 1897, Eduard Buchner descobriu
que os extratos de levedo podiam fermentar o açúcar até álcool e provou que as
enzimas envolvidas na fermentação continuavam funcionando mesmo quando
removidas das células vivas, o que lhe renderia o prêmio Nobel de Química em
1907. Porém, um dos grandes momentos da enzimologia aconteceu em 1926,
quando James Summer isolou e cristalizou a urease e demonstrou sua origem
protéica. Em 1930, Northrop e Stanley realizaram estudos mais detalhados de
cristalografia de três enzimas digestivas, a pepsina, a tripsina e a quimotripsina, o
que os levou ao recebimento de um Prêmio Nobel da Química mais tarde, em 1946.
A partir dessa data, com o desenvolvimento de novas técnicas de cristalografia e,
sobretudo a tecnologia do DNA recombinante, várias enzimas foram isoladas,
purificadas e cristalizadas. Hoje temos o conhecimento de estrutura e função de
mais de duas mil enzimas de origem animal, vegetal e microbiana (MONTEIRO &
SILVA, 2009).
A história das enzimas no campo da panificação pode ser dividida em três
períodos. O primeiro começa em meados do século XIX, quando os padeiros
reconheceram como a alfa amilase do malte da cevada melhorava a fermentação
com a geração de açúcares fermentáveis (maltose) de amido. Algum tempo depois,
outros pesquisadores descobriram que a enzima ativa do grão de soja clareia a
migalha e melhora a firmeza de glúten, através da ação da lipoxigenase. Este
período pode ser denominado como a "usina" da enzimologia padeira.
A meados do século XX , os pesquisadores se voltaram para fungos e
bactérias como fontes de enzimas alimentares. Amilase fúngica foi oferecida como
um substituto para amilase do malte. O grande avanço foi a facilidade de ajustar a
dosagem da enzima. Amilase bacteriana mostrou diminuição da firmeza do miolo
durante o armazenamento de pão, uma característica muito desejável. Infelizmente,
40
uma pequena overdose de amilase bacteriana produziria uma migalha
excesivamente macia, e a maioria dos padeiros a evitavam. As proteases das
plantas (bromelina, papaína) e fontes microbianas se incluíram no mercado e foram
utilizadas para modificar as propriedades do glúten em determinadas aplicações. A
este período de utilização das enzimas na panificação pode ser chamado de "idade
da enzima purificada".
Nas duas últimas décadas, as técnicas de bioengenharia têm sido aplicadas
para produzir enzimas, com o propósito de atingir metas específicas na panificação.
Um procedimento comum é o de identificar uma enzima através do processamento
das características desejadas por meio da seleção de um grande número de
organismos. O gene para esta enzima é transplantado para dentro do material
genético de um organismo de fácil cultivo em grandes quantidades, por exemplo, a
bactéria Bacillus subtilis. Isto transforma uma enzima "exótica" em uma que está
disponível para uso industrial.
3.5.2 Classificação e Funções
Devido aos grandes avanços no isolamento e identificação de novas enzimas,
em 1956 a União Internacional de Bioquímica criou uma Comissão Internacional de
Enzimas para estabelecer critérios para a nomenclatura e a classificação das
enzimas, a fim de se evitar a nomenclatura aleatória de uma mesma enzima
estudada por diferentes pesquisadores. As enzimas foram divididas em seis classes
de acordo com o tipo de reações que catalisam (MONTEIRO & SILVA, 2009):
i. Oxirredutases: catalisam reações de oxiredução, com transferência de elétrons,
hidretos ou prótons
ii. Transferases: transferem grupos funcionais como amina, fosfato, acil, carboxil,
entre moléculas
iii. Hidrolases: catalisam reações de hidrólise de ligação covalente, utilizando a água
como receptor de gurpos funcionais de outras moléculas
iv. Liases: adição de grupos as custas da destruição de duplas ligações ou remoção
de grupos formando dupla ligação
v. Isomerases: reações de interconversão entre isômeros óticos ou geométricos
41
vi. Ligases: condensação de duas moléculas, sempre às custas de energia,
geralmente do ATP
A Tabela 1 apresenta os principais usos de importantes enzimas produzidas
em escala industrial:
Enzima Aplicação e efeitoAplicação e efeito Fonte de enzima
Amilases
Panificação, massas e biscoitos:modificação da massa Fungos, malteFungos, malte
Amilases
Cerveja: preparo do mosto doce MalteMalte
Amilases Álcool e bebidas destiladas: sacarificação MalteMalteAmilases Álcool industrial: liquefação e sacarificação de amiláceos Fungos, bactériasFungos, bactérias
Amilases
Auxiliar digestivo Malte, pâncreasMalte, pâncreas
Amilases
Amido modificado para alimentos Malte, fungosMalte, fungos
Proteases
Panificação, massas e biscoitos: modificação da viscosidade e da textura da massa Papaína,bromelina Papaína,bromelina
Proteases
Cerveja: estabilidade ao frio Papaína, pepsina gástricaPapaína, pepsina gástrica
ProteasesLavagens e limpeza: remoção de manchas B a c t é r i a s , f u n g o s e
pâncreasB a c t é r i a s , f u n g o s e pâncreasProteases
Peles-couros: remoção da elastina B a c t é r i a s , f u n g o s e pâncreasB a c t é r i a s , f u n g o s e pâncreas
Proteases
Carnes: amaciamento Papaína, bromelinaPapaína, bromelina
Proteases
Queijos: formação da coalhada, flavorizante Renina, fungosRenina, fungos
Proteases
Alimentos proteicos: obtenção de hidrolisados Bactérias e pâncreasBactérias e pâncreas
Pectinases Frutas: clarificação do suco FungosFungosPectinases Vinhos: clarificação, filtração FungosFungos
Lipases Lavagens, limpeza: remoção de manchas P â n c r e a s , g l â n d u l a s , fungosP â n c r e a s , g l â n d u l a s , fungosLipases
Queijos: flavorizante FungosFungosOxido-redutases Alimentos: remoção de O2 prejudicial FungosFungosGlicose-oxidase Analítica: dosagem de glicose FungosFungos
Catalase Remoção de H2O2 usado como alvejante ou bactericida Fungos, fígadoFungos, fígado
Lipoxidase Panificação: alvejante Farinha de sojaFarinha de sojaIsomerase Xaropes de alto teor de frutose Bactérias, fungosBactérias, fungos
Tabela 1. Fontes, aplicações e efeitos das principais enzimas produzidas industrialmente
Frente aos catalisadores químicos, as enzimas possuem algumas vantagens
que justificam seu amplo uso:
i. São produtos naturais biológicos e biodegradáveis
ii. Têm alta especificidade nas reações
iii. Não são consumidas durante o processo
iv. Aumentam a velocidade das reações por diminuírem a energia de ativação
42
v. São estéreo seletivas
vi. Atuam em pH e temperaturas brandas
Os reagentes que participam das reações catalisadas pelas enzimas são
denominados de substratos. Efetivamente, quando se compara a conversão de um
substrato em produto catalisado por enzima e outro por um catalisador químico,
observa-se uma rápida conversão com o uso das enzimas. Além disso, as enzimas
não alteram o equilíbrio químico das reações e aceleram uma reação reversível em
ambos os sentidos (GAMA et al., 2003).
Figura 3. Esquema e curva de conversão de substrato em produto catalisado na presença e ausência
da enzima (E)
Talvez uma das características mais importantes das enzimas seja sua alta
especificidade. Em 1894, Emil Fischer postulou que essa especificidade se deve ao
fato de que tanto as enzimas quanto os substratos são complementares
geometricamente, um modelo que ficou conhecido com modelo “chave-fechadura”.
Figura 4. Modelo de complementaridade estrutural (chave-fechadura de Emil Fischer)
43
Apesar das vantagens no uso de enzimas em processos industriais, algumas
desvantagens são observadas, dentre elas a sensibilidade das enzimas a variações
de pH e temperatura. O efeito do pH na atividade das enzimas se dá devido ao fato
de essas serem formadas por grupos químicos, na sua maior parte aminoácidos,
que podem sofrer ionizações e adquirir cargas momentâneas, o que promove uma
mudança conformacional da estrutura da enzima, afetando o modelo “chave-
fechadura”. Já a temperatura influencia a atividade enzimática, no sentido de
aumentar a energia cinética das moléculas e conseqüentemente aumentando a
probabilidade de encontro entre a enzima e o substrato. Porém, a altas temperaturas
a maioria das enzimas sofre mudanças conformacionais devido ao rompimento de
ligações e interações fracas, um processo denominado de desnaturação que, para o
caso da temperatura, é um processo irreversível. Cada enzima possui um valor
ótimo de pH e temperatura, no qual a atividade da enzima é máxima.
Figura 5. Gráficos esquemáticos do efeito do pH (A) e da temperatura (B) na atividade enzimática
44
Considerando uma reação catalisada por uma enzima, em seu sentido mais
simples, existe um único substrato formando um único produto. Todavia, nem
sempre esse sistema é tão simples assim. Existem processos onde uma reação
química envolve varias enzimas e formação de vários produtos com participação de
coenzimas e cofatores, que são moléculas às vezes requeridas para o
funcionamento da enzima. Em todo caso uma reação enzimática pode ser descrita
como se segue abaixo:
Onde:
E = enzima
S = substrato
ES = complexo enzima-substrato
P = produto
K1, K2, Kp = constantes de equilíbrios
Esse mecanismo de reação foi estudado primeiramente em 1902 por Victor
Henri, que propôs uma teoria quantitativa de cinética enzimática e posteriormente,
em 1909, por Leonor Michaelis e Maud Leonora Menten, sendo esta cinética
conhecida como cinética de Henri-Michaelis-Menten (MICHAELIS & MENTEN,
1913). A equação desenvolvida por esses cientistas é de grande valia no campo da
enzimologia industrial, pois permite cálculos de velocidade e medidas de afinidade
de ligação entre enzimas obtidas por diferentes fontes e um determinado substrato.
A atividade de uma enzima pode ser descrita em termos de Vmax, ou seja, a
quantidade máxima de produto formado num determinado tempo, e também da
constante de Michaelis-Menten, KM, que representa a concentração de substrato na
qual se detecta uma velocidade de reação igual a metade de Vmax.
45
Figura 6. Curva de saturação numa reação enzimática, mostrando a relação entre a concentração do
substrato ([S]) e a velocidade (V), bem como a equação de Michaelis-Menten
Outro fator importante na catálise enzimática e que é explorado
comercialmente é a inibição enzimática. As enzimas podem ser inibidas por
substâncias que se ligam à enzima livre ou ao complexo enzima-substrato ou
competem pelo sítio catalítico da enzima. O resultado final é uma diminuição ou
abolição da atividade enzimática. Um inibidor competitivo se liga à enzima livre e
impede a ligação da mesma ao seu substrato. Neste caso, o substrato e o inibidor
possuem semelhanças estruturais. Na inibição competitiva, a velocidade máxima da
reação não é alterada, e ocorre um aumento no valor de Km (Figura 7A). Existe
ainda a inibição acompetitiva, onde o inibidor não liga à enzima no estado livre, mas
sim ao complexo enzima-substrato e neste caso o complexo fica inativo (Figura 7B).
Existem ainda casos onde os dois tipos de inibição podem ocorrer ao mesmo tempo,
chamado de inibição mista, representada na figura 7C.
46
Figura 7. Esquema da inibição enzimática competitiva (A), acompetitiva (B) e mista (C). Sendo
S=substrato e I=inibidor
Algumas enzimas necessitam de co-fatores para ativar sua ação catalítica.
Esses co-fatores, quando unidos as moléculas de enzimas, são chamados gurpos
protéticos. Alguns metais, como o cobre, níquel e chumbo, também são utilizados
por algumas enzimas como ativadores. Íons de cálcio, por exemplo, mostram um
efeito positivo na atividade e estabilidade das α-amilases.
3.5.3 Produção de Enzimas de Interesse
Há milhares de anos, as enzimas vêm sendo utilizadas em processos
tradicionais. Esses biocatalisadores podem ser extraídos de tecidos animais,
vegetais e de microrganismos. Embora as enzimas obtidas de fontes vegetais e
animais sejam muito utilizadas, as de origem microbiana são mais utilizadas por
várias razões como, por exemplo: produção independente de fatores sazonais,
possibilidade da utilização de substratos baratos como os resíduos agrícolas e o fato
de o rendimento na produção poder ser elevado a partir da otimização das
condições nos processos fermentativos por mutações ou a partir da tecnologia do
DNA recombinante (SAID & PIETRO, 2002).
A tecnologia do DNA recombinante é um conjunto de técnicas com ampla
aplicação. São técnicas que podem produzir mudanças genéticas em
microrganismos melhorando aspectos bioquímicos e fisiológicos e que possam ser
47
exploradas comercialmente. Mas recentemente são conhecidas as plataformas
ômicas, a Genômica, Transcriptômica, Proteômica e Metabolômica, que são
ferramentas que permitem a descoberta de novas enzimas (BRANDÃO; CASTRO,
2004; PAIVA; SÁ-PEREIRA, 2008).
Recentemente, a metagenômica vem sendo utilizada para a busca de
microrganismos produtores de enzimas de interesse industrial. A metagenômica é o
estudo simultâneo do DNA de uma comunidade inteira de microrganismos. Essa
técnica se baseia na extração de DNA de todos os microorganismos existente em
uma comunidade em determinado ambiente. Esse extrato contém milhões de
fragmentos randômicos de DNA que podem ser clonados e mantidos em bactérias
utilizadas no laboratório para desenvolver “bibliotecas” que incluem os genomas de
todos os microorganismos encontrados naquele habitat natural (LORENZ; ECK,
2005).
Figura 8. Representação esquemática da técnica metagenômica
As possibilidades do uso industrial de enzimas podem ser ampliadas quando
se trata de microrganismos extremofílicos do domínio Archea. Esses
microrganismos habitam lugares atípicos com temperaturas superiores a 100º C,
concentração salina elevada, valores de pH muito baixos ou muito elevados abaixo
de 2,0 e acima de 10,0 respectivamente ou mesmo sob condições de estresse
nutricional. Dessa forma, extremozimas produzidas por esses microrganismos
recebem atenção especial, pois essas proteínas apresentam potencial industrial
considerável oferecendo melhores rendimentos sob condições operacionais
extremas. Além do exemplo mais marcante que é a enzima taq polimerase, de
Thermus aquaticus, amplamente utilizada em procedimentos de PCR (Reação de
48
Polimerização em Cadeia), temos também o emprego dessas enzimas em
detergentes e na indústria de alimentos. Além disso, são largamente clonadas e
caracterizadas (SAID & PIETRO, 2002; BON; PEREIRA, 1999).
A obtenção de microrganismos que produzam enzimas com aplicação
industrial pode ser feita de várias maneiras, tais como isolamento a partir de
recursos naturais, compra em coleções de culturas, obtenção de mutantes naturais,
obtenção de mutantes induzidos por métodos convencionais e obtenção de
microrganismos recombinantes por técnicas de engenharia genética (VAZ, et al.,
2007).
Após a obtenção do microrganismo, este é cultivado em fermentadores para a
produção de quantidades industriais do biocatalisador. Nesse caso, é fundamental a
otimização do meio de cultivo. Esses fatores a serem otimizados são: pH e
temperatura, condições de aeração e agitação adequada. O processo fermentativo
industrial consiste de várias etapas, que são divididas em: operações de upstream
(pré-tratamento da matéria-prima), que são as etapas pré-fermentação, ou seja, as
que antecedem a operação do reator e cuja finalidade é colocar o sistema nas
condições
previamente escolhidas, para que as transformações, no reator, se desenvolvam em
condições ótimas; e operações de downstream (obtenção do produto), que são as
etapas que ocorrem após a fermentação e que englobam a separação e purificação
dos produtos e subprodutos obtidos, bem como o tratamento dos resíduos formados
(AQUARONE, et al., 2001).
O processo fermentativo começa com a escolha do agente biológico
adequado (microrganismo ou enzima); segue com a transformação da matéria-
prima, em condições que podem exigir esterilização, aeração e controle do processo
(pH, temperatura etc.); e finaliza com a separação e purificação do produto final
(MALAJOVICH, 2004).
Dois métodos de fermentação podem ser usados para produção de enzimas,
a fermentação submersa e a fermentação em substrato sólido (BON; PEREIRA,
1999; BON, et al., 2008).
A fermentação em estado sólido (FES) ou em meio sólido (FMS) ou ainda em
substrato sólido (FSS) pode ser definida como aquela que ocorre em substratos
sólidos na ausência ou quase ausência de água. Porém, os substratos devem conter
49
umidade suficiente para que possa ocorrer o crescimento e sustentabilidade ao
metabolismo do microrganismo (PANDEY, 2003). Esse tipo de fermentação
provavelmente é o mais antigo utilizado pelo homem. Em países orientais, esse
método de fermentação data de 1000 a.C. Nessa época, já eram produzidos, entre
outros, bebidas alcoólicas e molho à base de soja. Foi no final do século XIX que as
atenções foram novamente voltadas para os processos fermentativos em meio
sólido, com a produção da enzima Takadiastase oriunda do fungo Aspergillus orysae
em farelo de trigo como substrato, produzida por TakaminE (VARGAS, 2004).
Os substratos utilizados são produtos agrícolas como arroz, trigo, painço,
cevada, milho e soja, além dos substratos não-convencionais como cana-de-açúcar,
sabugo de milho, farelo de trigo e palha de arroz (BON; PEREIRA, 1999).
Amilases, proteases, xilanases, celulases e pectinases, entre outras, são
produzidas por fermentação em meio sólido. Os microrganismos que mais se
adaptam a esse tipo de fermentação são os fungos filamentosos por apresentarem
hifas e boa tolerância à baixa atividade de água e elevada pressão osmótica
(KRISHNA, 2005).
A fermentação em estado sólido apresenta vantagens como: a utilização de
substratos com baixo valor agregado, adição de nutrientes suplementares ao
substrato, volume do meio reduzido, menor investimento em biorreatores, os
esporos dos fungos podem ser usados diretamente na inoculação, não necessitando
de etapas prévias de pré-cultivo, o crescimento dos fungos ocorre em condições
semelhantes ao seu habitat natural, a baixa atividade de água reduz problemas de
contaminação, aeração facilitada devido ao maior espaço entra as partículas e pela
difusão do oxigênio na água para umidificar o meio, altos rendimentos na formação
de metabólitos e facilidade nas etapas de purificação (PALMA, et al., 2000; LIMA,
2006; PANDEY; SOCCOL, 2001; GERVAIS; MOLIN, 2003).
Por outro lado, esse tipo de fermentação apresenta restrições quanto a sua
aplicação como: restrição a microrganismos que são capazes de crescer em
sistemas com baixa umidade e dificuldade no controle dos parâmetros da
fermentação, sobretudo em controlar a elevada temperatura gerada pela atividade
metabólica dos microrganismos. São fatores devidos, na maioria
dos casos, à dificuldade de homogeneização do meio reacional e também pelos
problemas difusionais. Esses são problemas típicos de processos que envolvem os
50
meios sólidos (SATO; SUDO, 1999; PANDEY; SOCCOL, 2001; VON MEIEN;
MITCHELL, 2002) .
O processo de fermentação submersa (FS) consiste na introdução do
microrganismo em meio líquido na forma de um inoculo. Nesse processo, o meio fica
contido em fermentadores providos e controlados de agitação e aeração medidores
de pH, temperatura e concentração de oxigênio dissolvido, entre outros. Os
nutrientes encontram-se dissolvidos no meio líquido tornando-se facilmente
acessíveis para utilização pelos microrganismos (ROVEDA, 2007).
Os processos de fermentação submersa foram utilizados amplamente no
mundo todo com a produção de antibióticos, devido à importância da penicilina
durante a Segunda Guerra mundial. A fermentação pelo método de cultura submersa
é executada em fermentadores fechados, equipados com agitadores, dispositivos de
aeração para introdução de ar estéril e camisas e serpentinas para o controle de
temperatura. E se o processo de fermentação submersa exigir assepsia, esta se
consegue mediante a esterilização do meio (dentro ou fora do fermentador), a
desinfecção ou esterilização do equipamento por injeção de vapor ou mediante o
calor gerado por serpentinas, sendo essa medida extensiva a todos os ductos de
entrada e saída e às válvulas correspondentes e a esterilização do ar
mediante filtros adequados (MALAJOVICH, 2004).
Comparados com os processos em superfície, os processos submersos
oferecem várias vantagens como: facilidade na manipulação, maiores volume de
meio, a massa de microrganismo fica totalmente submersa no meio de maneira
uniforme, a absorção de nutrientes e excreção de metabólitos são executados com
mais eficiência, o que acarreta menor tempo de fermentação e, consequentemente,
maior produtividade (BON; PEREIRA, 1999).
A segunda parte dos bioprocessos é a seção de recuperação do produto
(Downstream processing). Essa fase compreende a separação e purificação do
produto e deve-se atentar para os aspectos citológicos e fisiológicos do
microrganismo em questão onde a fisiologia microbiana indica tanto a geração como
a localização do produto. Se o produto é excretado, as etapas de recuperação
seguem um roteiro diferente daquele produto que não é excretado, ou seja,
intracelular (BON; PEREIRA, 1999).
51
Para o produto que não é excretado há a necessidade de romper a estrutura
celular sendo importante a escolha de técnicas adequadas para a liberação do
produto. A opção pela operação de separação será influenciada pelo tamanho do
próprio bioprocesso e pelo valor do produto. O grau de pureza dependerá da opção
do produto, extrato bruto ou enzima purificada. O produto final poderá apresentar
nas formas; cristalizado, liofilizado ou líquido concentrado. A seqüência de
operações pelas quais o meio contendo a substância a ser separada deve passar
para obtenção de um produto de alta pureza constitui-se, basicamente, de quatro
etapas: remoção do material insolúvel, isolamento primário, purificação e isolamento
do produto final. A remoção do material insolúvel se dá por filtração, centrifugação,
decantação ou sedimentação. O isolamento primário se dá pela extração por
solventes, precipitação e ultracentrifugação (BON; PEREIRA, 1999; BON, et al.,
2008).
O processo de purificação destina-se a remoção de impurezas bem como a
concentração do produto. Pode-se optar pelos vários tipos de cromatografia, a
adsorção ou a precipitação fracionada. A última etapa, o isolamento do produto final,
compreende a formulação final ou comercialização direta. As operações incluem
centrifugação e subseqüente secagem de um produto cristalizado, liofilizado ou seco
por spray drying (SAID & PIETRO, 2002; BON; PEREIRA, 1999; VAZ et al., 2007). A
Figura 8 resume todas as etapas utilizadas na produção e purificação de enzimas de
interesse industrial.
Figura 9. Etapas envolvidas na produção e purificação de enzimas de interesse industrial
52
3.5.4 Enzimas na Indústria de Alimentos
As enzimas vêm sendo utilizadas há muitos séculos na indústria alimentícia.
Um exemplo é o dos pastores da antiguidade que observaram que, ao guardar leite
no estômago de um animal degolado, se produzia um alimento sólido, conhecido
hoje como queijo. Plínio (23-79 d.C.) narrava ter visto um soldado romano que mexia
o leite com uma rama de figueira. A enzima era a ficina, responsável pela
solidificação. Os microrganismos, através de suas enzimas, também apresentam
uma grande importância econômica e social para a produção de bebidas e
alimentos. A fermentação alcoólica, por exemplo, é conhecida desde 3500 a.C. e a
produção de vinho já se encontrava em seu apogeu entre os egípcios e assírios. Os
babilônios, em 2800 a.C., preparavam cerveja de pão ou cevada malteada
(SONDEGAARD, et al., 2005).
A produção de enzimas industriais para uso no processamento de alimentos
data de 1874, quando Christian Hansen extraiu a renina de estômagos secos de
bezerros para fabricação de queijo. Atualmente, a quimosina é produzida por
microrganismos que sofrem modificações pela tecnologia do DNA recombinante na
qual o gene proquimosina bovina foi inserido na Escherichia coli K-12 e a enzima
aprovada para uso em alimentos pelo Food and Drug Administration (FDA). Muitas
enzimas usadas em alimentos são derivadas de microrganismos recombinates como
a-amilases e proteases obtidas de microrganismos recombinates como B. subtilis e
B. licheniformi (OLEMPSKA-BEER et al., 2006).
As enzimas possuem destacado papel no setor alimentício, pois podem influir
na composição, processamento e deterioração dos alimentos, podendo torná-los
mais nutritivos, saborosos, digestivos ou atraentes. A Tabela 2 mostra algumas das
enzimas alimentares:
53
Mercado Enzima Função
Panificação
Alfa-amilase Decomposição do amido, produção de maltose.
PanificaçãoAmilase maltogênica Mantém o pão fresco por
mais tempo.Panificação Hemicelulase (Xilanase) Estabilidade da massa.Panificação
Glicose oxidase Estabilidade da massa.
Panificação
Protease Melhora a cor e o sabor do pão.
Amidos
Glicose isomerase Para a modificação e conversão do amido em,
por exemplo, dextrose ou xaropes ricos em frutose
(HFS).
AmidosAlfa-amilase
Para a modificação e conversão do amido em,
por exemplo, dextrose ou xaropes ricos em frutose
(HFS).
AmidosPululanase
Para a modificação e conversão do amido em,
por exemplo, dextrose ou xaropes ricos em frutose
(HFS).
LaticíniosQuimosina Coagulante na produção de
queijos.LaticíniosProtease Hidrólise de proteínas de
soro coalhado.
DestilaçãoDestilação Alfa-amilase Decomposição de amido.
Destilação Protease Decomposição de proteínas.
Cervejas
Beta-glicanase Para liquefação, clarificação e como suplemento
Cervejas
Alfa-amilase de enzimas do malte.
Cervejas Alfa-acetolactato Acelera a filtração do mosto da cerveja.Cervejas
decarboxilase Evita a formação de bruma.
Cervejas
Pululanase Decomposição de proteínas
Cervejas
Protease Decomposição de proteínas
Gorduras, óleos Lipase Decomposição de lipídios.
Tabela 2. Principais enzimas e suas funções em setores alimentícios
Vitolo (1981) descreve que em linhas gerais, pode-se dizer que tais
catalisadores ora são úteis, ora indesejáveis. No caso dos efeitos indesejáveis,
temos: a)escurecimento de frutas e vegetais causado pelas polifenoloxidases;
b)rancidez de farinhas causada pela ação de lipases e lipoxigenases; c)o
amolecimento de tecidos vegetais provocados pelas enzimas pécticas. Existem
situações, no entanto, nas quais a detecção da atividade de uma enzima específica
num produto pode servir de indicados da eficiência de uma dada operação unitária.
Por exemplo, a constatação da atividade de fosfatase em leite pasteurizado, indica
que o processo térmico não foi bem executado; ou no caso de vegetais
branqueados, em que a existência da atividade peroxidásica é um inequívoco
indicador da ineficiência do processo térmico empregado.
54
Por outro lado, existem vários exemplos da utilização de enzimas com o
objetivo de modificar matérias-primas e/ou obter produtos específicos, destacando-
se o uso em panificação, na modificação enzimática de materiais amiláceos, na
fabricação de sucos de fruta, na modificação de proteínas, na fabricação de bebidas
alcoólicas e de laticínios.
Embora as enzimas sejam utilizadas na indústria de alimentos por terem as
propriedades de inocuidade, eficiência e adequação às matérias-primas utilizadas,
apenas poucas variedades de enzimas, na maioria hidrolases, são usados em
grande escala. Assim, amilases (α-amilases e glicoamilases), proteases (quimosina,
papaína, bromelina e pepsina) e pectinases possuem uso consagrado dentre as
hidrolases e a glicose-isomerase como representante de enzimas de larga utilização
dentro das isomerases (BON; PEREIRA, 1999; POLIZELI, et al., 2005;
NOVOZYMES, 2006; UENOJO & PASTORE, 2007; VAZ; PRADO; CARVALHO,
2007).
Segundo Van Der Maarel et al. (2002), na panificação, as enzimas são
utilizadas para promover a decomposição do amido, função realizada pela α-
amilase, levando à formação de maltose, o que aumenta a maciez e a textura da
massa e do miolo, mantendo o pão fresco por mais tempo. A xilanase dá
estabilidade à massa, enquanto que a protease altera a elasticidade e a textura do
glúten e melhora a cor e o sabor do pão. No processamento de amidos, enzimas
como glicose isomerase, α-amilase, β-amilase, pululanase e isoamilase convertem o
amido em dextrose ou xaropes ricos em açúcares simples. As a-amilases
bacterianas são mais utilizadas para o preparo de massas doces para bolos,
biscoitos e crakers por serem mais estáveis a temperaturas. Essas são utilizadas
para a hidrólise do amido em maior grau diminuindo a viscosidase.
As proteases estão presentes na indústria de laticínios com a utilização da
quimosina, que promove a coagulação do leite (para a produção de queijos), e a
lactase, que decompõe a lactose em açúcares mais simples, impedindo assim, a
tendência que a lactose possui para adsorção de odores, além de ser higroscópica,
causando o endurecimento de laticínios em pó. As lipases são utilizadas na
produção de alguns queijos como o roquefort. No amaciamento da carne são usadas
proteases como papaína, bromelina e ficina (FARAHAT; RABIE; FARAG, 2001;
WHITAKER; LAW, 2001).
55
Na indústria de sucos de frutas, a pectinase facilita a extração, clarificação e
filtração do suco e promove a desgeleificação da polpa durante a maceração e
extração do suco, proporcionando a diminuição da viscosidade. Age
desestabilizando as substâncias floculantes, provoca coagulação e precipitação com
conseqüente clarificação (LIMA, 2006), a celulase liquefaz o tecido vegetal e permite
extrair pigmentos do fruto e a glicoamilase decompõe o amido, evitando turvação e
gelatinização durante o processamento. No caso das bebidas destiladas, a a-
amilase e a glicoamilase decompõem o amido. No caso dos vinhos, a pectinase
facilita a prensagem, a filtração e a clarificação e reduz o tempo de processamento.
Nos dois tipos de bebidas, as proteases quebram proteínas. As cervejarias usam
diferentes enzimas para liquefazer e fermentar a matéria-prima através da a-
amilase, aumentar o teor de certos açúcares (glicoamilase), aumentar a velocidade
de filtração (glucanase), remover compostos indesejáveis (pentosanases) e a
papaína e a bromelina evitam a turbidez do produto final (MUSSATTO;
FERNANDES; MILAGRES, 2007).
3.5.4.1 Enzimas na panificação
O estudo de Dubois (1980) apresenta que o mecanismo de atuação das
enzimas em panificação é bastante complexo e em alguns casos desconhecidos, e o
objetivo do uso de enzimas em produtos de panificação é basicamente somente
para controlar as propriedades reológicas da massa. As enzimas apresentam muitas
funções na produção de pão. Elas podem atuar nas moléculas de amido ou de
proteínas e também atuar como branqueadores de farinhas com alto teor de
pigmentos escuros, dependendo da sua especificidade.
Por exemplo, quando o pão não é mais fresco, ele perde a crocância e o
miolo endurece. Este fenômeno de pão amanhecido é responsável por perdas
significativas, tanto para os consumidores quanto para os panificadores. Nos
Estados Unidos, por exemplo, perde-se mais de US$ 1 bilhão por ano com pão
“velho”. Acredita-se que o endurecimento da crosta e a perda de elasticidade do
miolo se devem a uma mudança na estrutura dos amidos. Hoje, já se produzem
enzimas que prolongam o tempo e a conservação do pão.
56
A farinha não teria algumas de suas características de não fosse pela
presença de enzimas no grão de trigo. Quando este é colocado em contato com
umidade e calor, certas enzimas presentes, principalmente no gérmen, tornam-se
ativas, propiciando o brotamento da semente. Durante o amadurecimento do trigo,
enzimas são responsáveis pelo crescimento, assim como pelo armazenamento de
reservas de energia nas várias partes do vegetal.
O amido, que representa 70% da composição da farinha de trigo, é uma
forma de carboidrato de reserva em plantas e ocorre na forma de grânulos. A forma
e o tamanho dos grânulos variam de planta para planta e essa propriedade pode ser
usada para identificar a fonte de amido não aquecidos. O amido é constituído por
duas frações (dois polímeros de glicose), isto é, a amilose (linear, α-1,4) e a
amilopectina (ramificada, α-1,4 e α-1,6), em proporções que variam entre os amidos
procedentes de diferentes espécies vegetais, e mesmo entre amidos provenientes
da mesma espécie. As proporções de amilose e amilopectina variam de acordo
como grau de maturação das plantes e influem na viscosidade e no poder de
retrogradação do amido (POMERANZ, 1988).
A fórmula estrutural do amido pode ser observada na figura abaixo.
Figura 10. Fórmula estrutural do amido
A amilose é um polímero helicoidal linear de moléculas de glicose ligadas com
ligações glicosídicas do tipo α-1,4, contendo 250 a 300 unidades de D-glicopiranose.
A amilopectina é ramificada e tem 1000 ou mais unidades de glicose, ligadas através
de ligações α-1,4 nas sequências lineares e α-1,6 nas junções das ramificações. As
estruturas da amilose e da amilopectina estão ilustradas na figura a seguir:
57
Figura 11. a) Estrutura química da amilose. b) Estrutura química da amilopectina
Os amidos provenientes de fontes diferentes apresentam propriedades
químicas e físicas distintas. Em consequência, surgiram diferentes técnicas para a
conversão industrial dos materiais amiláceos em xaropes, essencialmente utilizados
como adoçantes, como pode ser descrito na tabela a seguir (VITOLO, 2001):
Produto UsosMaltodextrinas Estabilizantes, espessantes, gomasXaropes mistos (DE*: 42-63) Confeitaria, refrigerantesXarope de maltose ConfeitariaXarope de glicose Refrigerantes, balasXaropes com alto teor em frutose Refrigerantes, conservas, caldas
Tabela 3. Usos dos produtos resultantes da hidrólise do amido
Quando o grânulo de amido intacto presente no grão de trigo é submetido a
moagem, este sofre danificações, dependendo das condições de moagem, sendo
que o teor de amido danificado presente na farinha de trigo está diretamente
relacionado com a dureza do grão, dureza vítrea e condições de moagem (incluindo
condicionamento). O teor de amido danificado altera a absorção de água da massa
e a qualidade do pão (FARRAND, 1972).
Segundo Pomeranz (1988), a farinha contém 2,5 a 3,5% de polissacarídeos
não amiláceos, que são polímeros (na maior parte pentosanas), que tem um papel
importante na qualidade do pão, devido a capacidade de absorção da água e
interação com o glúten. A adição de certos tipos de pentosanase ou xilanase, em
dosagens corretas, melhora a maleabilidade da massa, dando-lhe maior
58
flexibilidade, mais estabilidade, com maior elasticidade durante a assadura,
resultando um volume maior e melhor textura do miolo.
A farinha de trigo comum contém também 1 a 1,5% de lipídios. Alguns deles,
especialmente os não polares, como os triglicérides, são ligados ao glúten,
impedindo sua funcionalidade. A adição de lipases funcionais modifica os
triglicérides, alterando conseqüentemente sua interação com o glúten. Consegue-se,
assim, uma cadeia entrelaçada de glúten com maior resistência, propiciando uma
massa mais estável, um maior volume do pão e uma melhor estrutura do miolo.
Os oxidantes químicos, como os bromatos, azodicarbonamida e ácido
ascórbico, são amplamente utilizados para reforçar o glúten. As enzimas oxidativas,
como a glicose oxidase, podem substituir parcialmente o uso destes oxidantes
químicos, com melhoria da qualidade do produto final.
3.5.5 Amilases
As enzimas que degradam o amido são muito abundantes na natureza,
podem ser encontradas em vegetais, animais e microorganismos. O uso das
amilases em alimentos destina-se: transformação de amido em açúcar por
fermentação com leveduras, conversão de amido em maltose por fermentação,
liquefação do amido, mudanças de textura em vegetais. As amilases geralmente são
obtidas a partir de cereais, bactérias ou fungos (DUBOIS, 1980).
As amilases podem ser divididas em quatro grupos:
- α-amilases: que rompem ligações no interior do substrato (endoamilases);
- β-amilases: que hidrolisam unidades do final não redutor do substrato
(exoamilases);- glucoamilases: que removem unidades de glicose dos terminais não redutores das
moléculas do substrato;- isoamilases (pululanase): que hidrolisa ligações α-1,6 de polissacarídeos
ramificados
59
Fonte Fúngica (A. oryzae)
Bacteriana (B. subtilis) Malte Malte Fúngica (A.
niger)Bacteriana (E.
aerogenes)
tipo de amilase α-amilase α-amilase α-amilase β-
amilasegluco- amilase pululanase
pH ótimo 4,8-5,8 5,0-7,0 4,0-5,8 5,0-5,5 4,0-4,5 5,0-5,0
pH estabilidad
e5,5-8,5 4,8-8,5 4,9-9,1 4,5-8,0 3,5-5,0 5,0-7,0
T ótima 45-55°C 60-70°C 50-65ºC 40-50ºC 55-60ºC 45-55ºC
T inativação > 60°C > 90°C > 70ºC > 55ºC > 70ºC > 60ºC
Tabela 4. Propriedades gerais das amilases industriais
3.5.5.1 β-amilase
A denominação β da β-amilase se refere ao fato de que existe uma inversão
do enlace α-1,4 à configuração beta sobre o carbono anomérico. Por exemplo o
produto formado não é α-maltose, mas sim β-maltose. Essa enzima tem ação
incompleta sobre a amilopectina, devido a incapacidade de contornar as ligações
α-1,6 e não poder transpô-las.
A β-amilase é uma exoamilase que hidrolisa ligações do tipo α-1,4, iniciando a
partir da extremidade não-redutora e liberando β-maltose e β-dextrina limite
(polímero que contém todas as ligações α-1,6 da cadeia original). Portanto, esta
ação resulta na formação de mono e dissacarídeos, os quais aumentam a doçura
dos produtos, motivo pelo qual essa enzima é chamada de enzima sacarificante,
sendo então sua principal aplicação a sacarificação do amido. As frações de amilose
podem ser totalmente convertidas em maltose, no entanto, ela não pode quebrar
completamente a amilopectina ao passo que nas frações de amilopectina, a
atividade dessa enzima é interrompida perto dos pontos de ramificação devido à
presença das ligações glicosídicas α-1,6. Das amilopectinas comuns obtém-se cerca
de 50 a 60% de maltose. Outrossim, a hidrólise da amilose pela β-amilase pode não
60
ser total (cerca de 90%), devido a não linearidade deste componente do grânulo de
amido.
Essa enzima possui “turnover” da ordem de 250.000 ligações glicosídicas
rompidas por minuto (a 30ºC e pH 4,8). O pH ótimo situa-se entre 5,0 e 6,0 e o de
estabilidade entre 4,0 e 8,5. São enzimas sulfodrílicas e não requerem co-fator. Uma
das mais importantes propriedades desta enzima é a sua relativa labilidade térmica
quando comparada a α-amilase. A termoestabilidade das β-amilases depende da
procedência da enzima (cevada: inativada a 70ºC por 10 min e soja: perde 50% da
atividade quando aquecida a 65ºC por 30 min em pH 5,5) (MINAMIURA, 1988). A
ação da β-amilase é apresentada na figura abaixo.
Figura 12. Representação esquemática da ação da β-amilase em amilopectina
Normalmente, farinhas de trigo contém β-amilase suficiente para conversão
de amido em maltose, sendo eficiente para atuar no sistema da massa produzida em
processos de panificação, mas são deficientes em α-amilase. Essa condição tem
sido corrigida através da suplementação enzimática, sendo altamente benéfica para
a maioria dos produtos de panificação. Moageiros ajustam a capacidade de
produção de gás da farinha pela inculsão de farinhas de trigo com alto teor
enzimático, tendo o máximo de cuidado na seleção e armazenamento do trigo
(PYLER, 1969).
61
3.5.5.2 α-amilase
Em comparação a ação da β-amilase, a α-amilase é uma endoenzima que
hidrolisa as ligações α-1,4 da amilose, amilopectina, amido e glicogênio e libera
glicose e oligossacarídeos de 6-7 unidades de glicose e, posteriormente, açúcares
redutores (principalmente maltose).
Esta endoenzima hidrolisa de forma aparentemente ao azar, provocando uma
rápida diminuição da viscosidade quando em solução, perda da capacidade de
coloração por iodo e aumento do poder redutor, devido à produção de grupos
redutores. A diminuição da viscosidade é proporcionalmente maior quanto o
aumento de grupos redutores, já que a α-amilase ataca os enlaces internos. Devido
a este poder de diminuição da viscosidade é chamada de enzima de liquefação. A
taxa de hidrólise diminui com a diminuição do tamanho da cadeia polimérica. A ação
da α-amilase se dá em duas etapas. A primeira consiste no ataque aleatório e rápido
do substrato, resultando em maltotriose, enquanto que a segunda, bem mais lenta,
permite a formação de glicose e maltose. A clivagem das ligações glicosídicas se dá
com retenção da configuração da hidroxila anomérica do C1 da glicose. Se a reação
de hidrólise da amilopectina pela α-amilase é levada até o seu final, os produtos
fornecido são: glicose, maltose e α-dextrinas limite (oligossacarídeos contendo 4 ou
mais unidades de glicose unidas por ligações glicosídicas do tipo α-1,6). Amilases de
origens diferentes produzem dextrinas diferentes. Sua ação está representada
simplificadamente na figura a seguir:
Figura 13. Representação esquemática da atividade da α-amilase em amilopectina
62
Esta enzima pode ser de origem cereal, bacteriana e fúngica; sendo que
apresenta algumas caracte- rísticas em comum, como relativa estabilidade térmica
(70°C - 15 minutos), labilidade ácida (todas são inativadas a pH 3,6 por curto
tempo), e aumento da estabilidade frente ao pH na presença de íons de cálcio. O
peso molecular dessa enzima é da ordem de 50.000 Da. O maior ou menos efeito do
pH e da temperatura sobre a atividade da enzima é muito importante para selecionar
a fonte da qual se obterá o catalisador para ser empregado na panificação. Devido a
maior termolabilidade, dá-se preferência para a α-amilase fúngica (MINAMIURA,
1988).
A α-amilase pode ser obtida tanto por cultivo em superfície quanto submerso;
sendo o Aspergillus oryzae o microorganismo mais comumente usado. Além da
aeração, usam-se como fontes de C e N substâncias do tipo: celobiose, dextrina,
maltose, acetato de amônio, peptona e hidrolusado proteíco (caseína, por exemplo).
Basicamente, o cultivo em superfície do A. oryzae para a produção de amilase
fúngica pode ser feito através dos seguintes métodos (PARK, 1975):
a) Método do tambor: O farelo úmido e esterilizado é colocado num tambor rotativo
e, a seguir, inoculado com uma cultura de esporos de A. oryzae preparada com
aproximadamente 10g do meio de cultura (constituído por 10g de grãos de milho
moído, 100g de farelo de trigo, 60 mL de HCl 0,2N, 0,62 ppm de ZnSO4.7H2O,
0,63 ppm de FeSO4.7H2O e 0,08 ppm de CuSO4.5H2O) em frasco de 250 mL, o
qual, a seguir é esterilizado. Após resfriamento, inocular o A. oryzae e incubar a
30ºC. Uma vez ocorrida a esporulação, o conteúdo do frasco é seco em estufa. O
farelo seco, por sua vez, servirá de inóculo para 1 a 1,2 kg do mesmo meio com
teor de umidade análogo ao do meio que será introduzido no tambor.Ao longo da
operação, introduz-se ar vagarosamente no tambor, que é mantido a uma
temperatura próxima de 30ºC. Durante o período de germinação, o tambor é
girado por 20 min a cada 2h. A seguir, o tambor é mantido continuamente em
baixa rotação durante 40 a 45 h. O farelo fermentado é removido e deixado secar
a temperatura ambiente, sendo, a seguir, embalado.
b) Método do tacho: Prepara-se a pasta de farelo (750g de HCl 0,3N + 750 g de
farelo de trigo) dentro de um tacho e, em seguida, esteriliza-se. A massa é
resfriada e inoculada com o farelo fúngico. A fermentação é conduzida a 30ºC sob
63
baixa aeração por 45h. O mosto fermentado é deixado secando a temperatura
ambiente.
c) Método da bandeja: Farelo de trigo umedecido com água é espalhado sobre uma
bandeja, formando uma camada com no máximo 3 cm de espessura. A
esterilização é feita a 1 atm por 30 min a 115ºC. Após o resfriamento, a massa é
inoculada com farelo fúngico preparado conforme o item a. A incubação das
bandejas é realizada a 25ºC, até que o fungo comece a esporular após 56h de
cultivo. Os esporos fúngicos são removidos pela adição de etanol 95% ao farelo
fúngico, na proporção de 3L por kg de farelo. O extrato alcoólico é removido com
uma prensa hidráulica. A torta da prensa é seca e moída.
O farelo fúngico obtido por qualquer um dos três métodos descritos serve de
fonte de α-amilase. Para tanto, trata-se o farelo com água, homogeneiza-se e filtra-
se. Ao filtrado, adiciona-se etanol para precipitar a α-amilase, a qual é recolhida,
seca e moída. Tradicionalmente, a unidade de atividade amilolítica é o SKB, sigla
proveniente das inicias de seus idealizadores (Sandstedt, Kneen and Blish), que é
definida como: 1 SKB é o inverso do tempo requerido para que a hidrólise de uma
solução de dextrina padrão pela α-amilase provoque em presença de I2, o
aparecimento de uma intensidade de cor previamente estabelecida.
A interação do amido danificado e as enzimas amilases produzem certas
características desejáveis durante o processamento de pães. Durante a etapa de
fermentação do pão, as moléculas suscetíveis de amido são atacadas pelas α-
amilases e degradadas em dextrinas, onde posteriormente serão transformadas em
maltose pela ação da β-amilase. Entãom a presença de ambas as enzimas é
necessária para assegurar a rápuda conversão do amido disponível a açúcar
(DUBOIS, 1980), que será responsável plea formação da cor da crosta e “flavor”.
De acordo com Pyler (1969), normalmente, a α-amilase é utilizada como
suplemento enzimático de farinha com baixa atividade, trazendo efeitos benéficos ao
produto final. No entanto, devido a sua alta estabilidade térmica, níveis escessivos
de α-amilase, provenientes principalmente de cerais, causam grandes prejuízos as
propriedades tecnológicas do trigo.
64
As amilases atuam somente nos grânulos de amido danificados pela moagem
ou gelatinizados, durante o aquecimento no forno. Existem vários tipos de amilases
e fontes de obtenção.
A atividade das amilases afeta a consistência da massa, já que o grânulo de
amido danificado tem alta capacidade de absorção de água e, quando este é
degradado pela ação das amilases, provoca mudanças na extensibilidade e na
capacidade de retenção de gás da massa (DUBOIS, 1980). A atividade das amilases
torna-se também importante quando atuam em amidos gelatinizados na etapa de
cozimento, pois o aquecimento inicial acelera a ação das amilases, onde se
dextriniza e liquefaz parte do amido, resultando em melhores características dos
pães, tais como volume, cor, estrutura do miolo e “flavor”. Assim, as amilases:
-aumentam os açúcares fermentescíveis, e portanto, tem-se maior produção de gás
e mais açúcares residuais para a formação de cor da crosta;
-permitem modificação adequada do amido, evitando a produçnao de pão com miolo
gosmento;
-retardam o envelhecimento precoce do pão;
-aumentam a capacidade de dextrinização do miolo, melhorando a cor da crosta do
pão;
-aumentam o volume do pão através de maior capacidade de produção de gás, com
a diminuição da viscosidade do amido gelatinizado.
3.5.5.3 Gluco-amilase
Segundo Dubois (1980), esta enzima catalisa preferencialmente hidrólise
sobre as dextrinas produzindo moléculas de glicose. É uma exoenzima que remove
unidades de glicose de uma maneira sucessiva, sem redução da cadeia de
substrato, liberando unidades de b-D-glicose, uma a uma, a partir da extremidade
não redutora. Assim o produto formado é apenas glicose, e isto diferencia esta
enzima da α e β-amilase. Além da hidrolização dos acoplamentos α-1,4, esta enzima
também pode atacar, mais lentamente os acoplamentos α-1,6 de moléculas de
amido. Assim, a decomposição do polissacarídeo é mais aguda, pois se a β-amilase
libera moléculas de dissacarídeos, a glucoamilase catalisa a produção de moléculas
65
livres de glicose. Isto significa que a goma pode ser completamente degradada a
glicose. Ela pode ser de origem bacteriana e/ou fúngica, e é industrialmente utilizada
na panificação, onde assegura a produção de açúcares fermentáveis em
quantidades suficientes para o lêvedo, e na sacarificação e liquefação do amido, seu
uso acarreta na aceleração da fermentação, no acréscimo de doçura na sabor do
pão e na otimização da ação da glicose-oxidase, enzima que catalisa a oxidação da
glicose.
3.5.5.4 Iso-amilase ou pululanase
A pululanase hidrolisa ligações a-1,6-D-glicosídicas de polissacarídeos
ramificados (amilopectina, glicogênio e pululano). A partir da amilopectina se produz
cadeias mais ou menos curtas de amilose. Esta enzima geralmente é produzida pelo
Aerobacter aerogenes, e utilizada na hidrólise de amido (DUBOIS, 1980).
3.5.6 Protoeases
Proteínas, por outro lado, são polímeros de alto peso molecular, cujas
unidades básicas são as aminoácidos, ligados entre si por ligações peptídicas. As
proteases (podem ser chamadas de enzimas proteolíticas) hidrolisam as ligações
peptídicas das proteínas levando à formação de grupos amina (NH2) e carboxila
(COOH), originando polipeptídeos de menor peso molecular e/ou aminoácidos livres.
A maioria das proteases são específicas, ou seja, não hidrolisam moléculas de
proteína em qualquer ligação peptídica, mas apenas em ligações entre certos
aminoácidos específicos. Se tais ligações existirem abundantemente na proteína,
pode-se esperar uma considerável degradação protéica. Por outro lado, existem
proteases que não são específicas quanto à composição dos aminoácidos e podem,
portanto, hidrolisar a proteína em vários fragmentos menores.
As proteases podem ser classificadas de acordo com a sua origem (animal,
vegetal e microbiana) e a natureza do seu sítio catalítico. Do ponto de vista
tecnológico, considera-se satisfatório classificar proteases em exopeptidases e
endopeptidases, sendo que as endopeptidases são as mais utilizadas nos
processamentos de alimentos, e em alguns casos sua ação é complementada com
66
exopeptidases (ENZIMAS, 2009). A Tabela 5 apresenta as principais proteases
utilizadas em alimentos.
Nome Procedência pH ótimo Faixa de pH de estabilidade
proteases animaisprotease pancreática pâncreas 9,0b 3,0 - 5,0
pepsina mucosa estomacal 2 5,5 - 6,0quimosina mucosa estomacal 6,0 - 7,0 5,5 - 6,0
proteases vegetaispapaína Carica papaya 7,0 - 8,0 4,5 - 6,5bromelina Ananas comosus 7,0 - 8,0ficina Ficus carica 7,0 - 8,0
proteases bacterianas
protease alcalina lisina Bacillus subtilis 7,0 - 11,0 7,5
lisinaprotease neutra
termolisina Bacillus thermoproteolyticus 6,0 - 9,0 6,0 - 8,0
pronasa Sterptom. griseusproteases fúngicas
protease ácida Aspergillus oryzae 3,0 - 4,0d 5protease neutra Aspergillus oryzae 5,5 - 7,5d 7protease alcalina Aspergillus oryzae 6,0 - 9,5d 7,0 - 8,0protease Mucor pusillus 3,5 - 4,5d 3,0 - 6,0protease Rhi. chinensis 5 3,8 - 6,5
Tabela 5. Proteases utilizadas na tecnologia de alimentos
De acordo com Enzimas (2009), as exopeptidases atuam nos extremos da
cadeia protéica liberando aminoácidos finais. Sua eficácia na transformação das
características reológicas das proteínas é limitada, devido à mudanças relativamente
pequenas no comprimento da cadeia, enquanto as endopeptidases atuam em vários
sítios ao longo da cadeia protéica, liberando grandes fragmentos moleculares.
As quatro maiores classes de endopeptidases são a serina protease, cisteína
protease, aspártico protease e metaloprotease. As serinas protease têm máximo de
atividade em pH alcalino, a cisteína protease geralmente apresenta máxima
atividade em pH próximo do neutro, e a aspártico protease tem uma atividade
catalítica máxima a pH ácido. As metaloproteases contêm um metal essencial,
67
usualmente zinco, e têm ótima atividade em pH próximo do neutro. Íons de cálcio
estabilizam estas enzimas, e agentes quelantes, como EDTA, as inibem.
As proteases ocorrem normalmente no trigo, no entanto em um nível
insignificante, e estão presentes na maioria dos produtos maltados. Dentre as
fontes, as proteases bacterianas ou fúngicas são as mais utilizadas em panificação,
sendo obtidas de cepas selecionadas de Bacillus subtilis e Aspergillus niger (PYLER,
1969). Esses compelxos proteolíticos diferem entre si principalmente pelo pH de
ação máxima e pela hidrólise catalisada: enquanto a bacteriana age em meio
próximo ao do pH neutro, sobre a ligação de qualquer par de aminoácidos, a fúngica
atua melhor em pH ácido e tem ação apenas sobre o par arginina-lisina.
A produção dessas enzimas depende da fonte microbiana que está sendo
utilizada. Em linhas gerais, pode-se lembrar que a fonte de C, qualquer que seja,
deve ser usada em baixa concentração (nunca acima de 20g/L) e que a fonte de N
mais adequada é constituída pela proteína não-hidrolisada. O processo fermentativo
submerso é o melhor para a produção de enzimas proteolíticas em grandes
quantidades. Entretanto, o cultivo em superfície tambén dá bom rendimentom e
pode ser útil quando a quantidade de enzima a ser usada não seja grande.
As proteases naturais (originalmente presentes na farinha) tem pH ótimo igual
a 4,0, apresentando queda acentuada da atividade em pH=7,0, que é, em geral, o
pH da massa. Além disso, concentrações salinas da ordem de 3% inibem essas
proteases. Por conseguinte, as proteases naturais da farinha não exercem efeito
apreciávek sobre as características reológicas da massa em nível de glúten
(MERCUCCI & SELVATICO,1989).
O estudo de Sproessler (1993) revela que a unidade de atividade proteolítica
mais comum é a “Anson Unit”: 1 AU é a quantidade de enzima que, sob condições
do teste, libera 1 µmol/min de aminoácidos folin-positivos (tirosina). O teste de
dosagem clássico consiste em: 5,0 mL de hemoglobina 20mg/mL, tampão borato
0,1M (pH=7,5), uréira 6M, CaCl2 0,01M, NaCl 5mM e 0,2 mL da protease,
completando-se o volume com água a 6 mL. Deixar reagir a 36ºC por 10 min. Em
seguida, bloquear a reação com 10 mL de TCA 0,3M. Após centrifugação, tomar 5
mL do sobrenadante, acrescentar 10 mL de NaOH 0,5 N e 3,0 mL de Folin. A cor
desenvolvida é lida em comprimento de onda igual a 750 nm.
68
Tendo em vista o fato de que até hoje não foi possível estabelecer uma
correlação adequada entre a ação da enzima sobre, por exemplo, a hemoglobina e
sobre o glúten da massa, o procedimento consiste em caracterizar a protease em
termos de AU e, ao mesmo tempo, avaliar as propriedades da massa através de
dispositivos desenvolvidos para esse fim (por exemplo: farinógrafo: mede a
viscosidade da massa, mixógrafo: mede a resistência da massa durante a mistura
dos ingredientes e extensiógrafo-avalia a extensibilidade da massa) (QUAGLIA,
1991).
Na massa de pão as proteases causam cisão das ligações peptídicas na
estrutura do glúten e este tipo de ação é diferente do papel dos agentes redutores
que quebram as fontes dissulfídicas do glúten. Consequentemente, a modificaçnao
do glúten pela ação da protease difere daquela obtida pela força física da mistura,
ou ação química de agentes redutores (DUBOIS, 1980).
Segundo Vitti (2001), o efeito causado pelas proteases em panificação é
principalmente perda de retenção de gás e massa mais extensível:
-melhora a extensibilidade da massa, facilitando seu trabalho nas máquinas;
-permite a adaptação de todos os tipos de farinhas aos esquemas de produção de
pão, principalmente em sistemas mecânicos;
-melhora a textura do pão;
-pode reduzir o tempo de mistura da massa em até 1/3, sob certas condições.
Origem Tipo pH (ótimo) pH (faixa) Temperatura (ótima)
Temperatura (inativação)
A. oryazae α-amilase 4,8-5,8 4,5-8,5 45-55°C acima de 60°CB. subtilis α-amilase 5,0-7,0 4,8-8,5 60-70°C acimas de 90°C
Malte (cevada) α-amilase 4,0-5,8 4,0-9,1 50-65°C acima de 70°CPâncreas (suino) β-amilase 6,0-7,0 6,0-8,0 45-55°C acima de 55°C
Malte (cevada) β-amilase 5,0-5,5 4,5-8,0 40-50°C acima de 55°CA. niger glucoamilase 4,0-4,5 3,5-5,0 55-60°C acima de 70°C
Tabela 6. Propriedades das amilases para uso comercial
69
Origem Tipo pH (ótimo) pH (faixa) Temperatura (ótima)
Temperatura (inativação)
B. subtilis neutra 6,5-8,0 5,5-10,5 45-55°C acima de 60°CA. oryazae neutra 6,0-9,0 4,5-9,0 45-55°C acima de 60°C
Mamão neutra 5,0-7,0 3,5-10,0 65-80°C acimas de 90°CAbacaxi neutra 5,0-8,0 3,0-9,5 60°C acima de 65°CA. niger ácida 2,5-3,5 2,5-5,0 45-50°C acima de 55°C
B. licheniformis alcalina 9,0-10,0 6,0-10,0 60°C acima de 70°C
Tabela 7. Propriedades das proteases para uso comercial
A atividade das enzimas proteolíticas inicia-se durante a mistura e continua na
fermentação até o cozimanto, trazendo certos benefícios, como: redução do tempo
de mistura, aumento da extensibilidade das massas e aumento da vida útil dos
produtos de panificação. É interessante salientar que o excesso de protease traz
prejuízos a massa, que reflete diretamente na qulidade final do pão, ou seja, baixo
volume, textura grosseira e alteração na cor do miolo, principalmente (DUBOIS,
1980).
3.5.7 Lipases
As lipases, também denominadas triacilglicerol éster hidrolases, catalisam a
hidrólise de óleos e gorduras liberando ácidos graxos livres, diglicerídeos,
monoglicerídeos e glicerol (BEISSON et al., 2000; CARVALHO et al., 2003; HASAN;
SHAH; HAMEED, 2006). Encontram-se largamente distribuídas na natureza em
animais, vegetais e microrganismos. As lipases provenientes de microrganismos são
as mais utilizadas industrialmente, porque além de apresentarem procedimentos
mais simples de isolamento, a partir do caldo fermentativo, são geralmente mais
estáveis que as enzimas de outras origens e com propriedades bem mais
diversificadas que as lipases de outras fontes (CAMPOS et al., 2002).
Devido à grande variedade de reações que catalisam, as lipases têm
inúmeras aplicações nas indústrias de alimentos, cosméticos, química, farmacêutica
e em muitas outras (HOUDE; KADEMI; LEBLANC, 2004).
Segundo Tait e Gaillard (1988), a farinha de trigo apresenta de 1 a 3% de
lipídeos e apenas os que não estão ligados aos grânulos de amido são passíveis a
70
ação das lipases. As principais reações promovidas pelas lipases são as que
ocorrem sobre os triglicerídeos, diglicerídeos, glicolipídeos e fosfolipídeos. Sobre os
derivados do glicerol, as lipases catalisam a hidrólise transformando triglicerídeos e
diglicerídeos em monoglicerídeos, que tem alto poder de estabilização das
emulsões, da espuma e, para os derivados de trigo principalmente, apresentam
intensa interação com a amilose, com a qual forma um complexo em forma
helicóide, equilibrando a relação do polissacarídeo com a água.
Certas lipases podem hidrolisar os glicolipídeos e fosfolipídeos (como a
lecitina), que são lipídeos polares e naturalmente emulsificantes, aumentando a
polaridade de sua região hidrofílica, originando moléculas (como a lisa-lecitinina)
com maior poder emulsificante, ao liberarem um dos ácidos graxos ligantes.
Em suma, as lipases potencializam o poder emulsificante dos lipídeos polares
e apolares naturalmente encontrados no trigo, ou adicionados nas formulações dos
alimentos derivados, interagindo com carboidratos, lipídeos e proteínas. O efeito das
lipases pode ter ação direta sobre a performance do glúten e isto poderia ser
explicado assumindo, que glicolipídeos formam ligações entre gliadina e glutenina
através de pontes de hidrogênio e interações hidrofóbicas. As ações das lipases
aludem a possibilidade de sua aplicação em todos os derivados de trigo,
principalmente nos pães e biscoitos.
A sua grande desvantagem é o efeito prejudicial observado pela ação das
lipases endógenas, que liberam ácidos graxos insaturados (PYLER, 1988). As
lipases podem produzir mono e diglicerídeos provenientes da adição de lipídeos,
melhorando o volume específico, maciez do miolo e, conseqüentemente, retardando
o envelhecimento dos pães (GIL et al., 1999). Além disso, as enzimas lipases
proporcionam aumento da elasticidade e fortalecimento da massa (GOESAERT et
al., 2005).
León, Durán e Barber (2002) estudaram a influência de misturas de enzimas
contendo α-amilase e lipase em formulações de pães e verificaram um efeito
benéfico na manutenção das propriedades sensoriais, na firmeza e na formação do
complexo amilose-lipídico termoestável, responsável por retardar a retrogradação. A
adição de lipases em pães e bolos aumenta a capacidade de retenção de ar e
melhora o aroma (GANDHI, 1997).
71
A adição de lipases pode produzir pequenas quantidades de ácidos graxos
livres de cadeia curta, que influenciam o aroma do pão. Entretanto, em massas
ácidas, a eficiência da lipase pode ser afetada devido ao baixo pH decorrente da
fermentação láctica. Muitas lipases, dependendo de sua fonte, apresentam atividade
ótima em pH próximo à neutralidade (GALAL; JOHNSON; VARRIANO-MARSTON,
1978).
3.5.7.1 Lipoxigenase
A lipoxigenase é uma enzima encontrada em diversas plantas e também nos
eritrócitos e leucócitos. Ela catalisa a adição de uma molécula de oxigênio à ácidos
graxos insaturados formando peróxidos. Apresenta aplicação em produtos de
panificação, como no branqueamento de farinhas e melhora das propriedades
reológicas da massa do pão (oferecendo resultados semelhantes aos obtidos pelos
reforçadores de massa (ENZIMAS, 2009).
3.5.8 Hemicelulases
Esta enzimas é responsável pela decomposição do polissacarídeos que não o
amido - composto fibroso insolúvel, conhecido como hemicelulose. As hemiceluloses
se caracterizam pela presença de pentoses em suas cadeias, em polímeros de
xilose ou galactose com ramificações de arabinose, podendo ser solúveis ou
insolúveis. As hemiceluloses tem elevada capacidade de absorção de água. A ação
sobre este grupamento pode alterar a reologia da massa, sendo prejudicial para
determinados produtos e benéfica para outros (ENZMAS, 2009). Sua ação está
esquematizada na figura a seguir:
Figura 14. Esquema da ação das hemicelulases
72
Enzimas (2009) relata que hidrolisar as hemiceluloses significa sacarificar o
polissacarídeo e reduzir sua capacidade de absorção d`água. Os tipos de
hemicelulases adequadas para pães e biscoitos serão determinadas segundo a
especificidade de pH, temperatura e reação catalisada. Quanto mais agressiva a
hidrólise, melhor para a produção de biscoitos. Reações mais brandas são indicadas
para a panificação.
As hemicelulases fúngicas (glucanase, pentosanase, xilanase, galactanase e
manase) são as mais utilizadas em processamento de alimentos em geral; enquanto
as bacterianas são empregadas para reduzir o nível de glucanos na cevada,
composto indesejável no processamento da cerveja.
Quanto menor a capacidade de absorção d`água de uma farinha, menor a
quantidade de água que deverá ser eliminada no forneamento. Para a panificação,
aplicam-se enzimas de catálise mais moderadas, pois não se deseja reduzir a
absorção d`água, pois quanto maior capacidade de absorção da fórmula, mais pães
resultarão da mesma quantidade de farinha. Deseja-se apenas potencializar a
reologia do glúten e disponibilizar mais facilmente vapor de água durante o
forneamento.
Uma sutil hidrólise das hemiceluloses minimiza o tempo necessário para o
desenvolvimento da massa por desvencilhar o glúten, preservando-o e possibilitando
que este atinja seu potencial reológico máximo, o que pode se traduzir em melhor
maquinabilidade da massa e melhor tolerância a fermentação. A hidrólise inicia-se
no amasse, mas continua a ocorrer durante a fermentação. Enzimas com maior
afinidade como meio ácido tem ainda melhor ação ao final do processo fermentativo
em função da queda do pH com o tempo. Com a hidrólise ao longo do tempo o
polissacarídeo libera mais água que será mais facilmente vaporizada no forno.
Como o glúten foi desvencilhado das hemiceluloses e poupado de maior esforço
mecânico, conseguirá reter mais do gás produzido, resultando em pães com maiores
volumes específicos.
Utilizando moléculas de hemicelulases adequadamente escolhidas para a
panificação podemos observar vários benefícios: manutenção da absorção de água,
aceleração do desenvolvimento da massa, melhora da maquinabilidade,
73
preservação do glúten, aumento da tolerância a fermentação, facilitação da
vaporização da água e maior volume dos pães.
3.5.9 Glucooxidase
De acordo com Enzimas (2009), a glucoseoxidase na presença de oxigênio
catalisa a oxidação de moléculas de glicose, tendo como produtos o ácido glucônico
e o peróxido de hidrogênio (água oxigenada). O ácido glucônico é formado
lentamente por uma reação não enzimeatica. O peróxido de hidrogênio é capaz de
alterar a reologia da massa formada pela farinha de trigo por oxidar os grupamentos
tiol das proteínas sulfuradas propiciando maior número de ligações do tipo ponte
dissulfeto intermoleculares. Em suma, a massa torna-se mais elástica.
Além da ação sobre o glúten, o peróxido de hidrogênio formado também pode
formar géis com as frações solúveis das hemiceluloses. A criação destes géis
elásticos aumenta a capacidade de retenção de água da pentosana, permitindo
incremento da absorção de água e redução da pegajosidade da massa.
3.5.10 Efeitos da Suplementação com Enzimas
3.5.10.1 Amilases
Simplificadamente, a α-amilase ataca os grânulos de amido danificados,
formando dextrinas, as quais são hidrolisadas pela β-amilase (VAN DAM & HILLE,
1992). A tecnologia atual de panificação exige a ocorrência do processo fermentativo
numa velocidade adequada e uniforme, sendo importante, por conseguinte, a
disponibilidade de açúcar fermentescível na massa. Tal objetivo é alcançado pela
suplementação com enzimas amilolíticas. O aumento do teor de açúcar no produto
final melhora o paladar e a qualidade de tostagem do pão.
De acordo com Vitti (2001), a possibilidade de se produzir açúcares na massa
por via enzimática, em quantidades acima das requeridas pela fermentação, deve
ser considerada. Em países onde não existe o hábito de adicionar açúcar na
composição da massa, o uso de enzimas pode ser interessante em termos das
características do produto final. Nos EUA, por exemplo, é costume adicionar-se
74
açúcar na massa, tornando o uso de enzimas amilolíticas para esse fim
desnecessário. Além disso, a porcentagem de grânulos de amido danificados e o
custo da enzima deve ser, também considerados.
A α-amilase tem um efeito marcante na viscosidade e maciez da massa, além
de conferir ao miolo bom volume final, sedosidade e textura. A prática recomenda o
uso de α-amilase na concentração de 0,3 SKB/100g de farinha (UHLIG, et. al, 1988).
Do exposto fica evidente a necessidade de se compatibilizar a quantidade de
amilase a ser suplementada e as características do produto final. Meios para se
evitar o excesso de α-amilase são importantes, sendo o mais comum a adição de
NaCl (2g/100g de farinha). Tradicionalmente, a farinha é malteada na fase de
moagem, usando-se malte do trigo ou da cevada em níveis da ordem de
0,25-0,40%, correspondendo a adição de 10 a 15 SKB/100g de farinha. A adição é
feita automaticamente no fluxo da farinha moída. A α-amilase fúngica também pode
ser utilizada.
Enquanto a farinha é suplementada com α-amilase vegetal em níveis
mínimos, o padeiro, de acordo com a composição da mistura, do tipo de
equipamento e do processo, adiciona mais ou menos α-amilase fúngica. Esse
procedimento é realizado em produção de pães, bolos e alguns “crackers” (GAINES
& FINNEY, 1989).
A α-amilase bacteriana, por outro lado, é usada em massas de doces, tortas
em geral, “brownies”, “snacks” e canapés. A termoestabilidade dessa enzima é
adequada para produtos que requerem um miolo bem mais macio, úmido ou até
gomoso.
Figura 15. Funcionalidade simplificada da amilase
75
3.5.10.2 Proteases
A adição de proteases na massa melhora suas propriedades de manuseio,
além de modificar a elasticidade e a textura do glúten, permitindo como resultado
final um volume adequado do pão. Ressalta-se que a suplementação proteolítica é
indispensável, já que as proteases nativas da farinha não desempenham papel
relevante neste processo.
As proteases são usadas durante o estágio da fermentação, para permitir um
maior contato com o glúten. A enzima hidrolisa e reduz o comprimento da cadeia
proteica, possibilitando um realinhamento das moléculas. Tal evento perimte reduzir
em até 30% o tempo da mistura (economia em termos energéticos) no ponto de
máxima extensabilidade da massa.
Especificamente para “crackers”, utilizam-se tanto a protease fúngica quanto
a bacteriana. Elas conferem força e estabilidade adequadas a massa, permitindo
uma laminação isenta de fraturas, e de espessura conveniente para a correta
tostagem do material quando introduzida no forno (STEINKE & JOHNSON, 1991).
3.5.10.3 Outras enzimas
Uma enzima que merece especial atenção é a lipoxidase, a qual é usada nos
EUA e Canadá como branqueadora da farinha para a produção de pães com miolo
branco. A descoloração da farinha resulta do acoplamento das reações do caroteno
e do ácido graxo insaturado com o O2 do ar. Essa enzima é encontrada
naturalmente no grão. A fonte de lipoxidase para a tecnologia de panificação é a
farinha de soja desengordurada, a qual é usada ao redor de 0,5% em relação ao
peso total da farinha. Além disso, essa enzima influi nas propriedades de mistura da
massa e na estrutura interna do pão (MERCUCCI & SELVATICO, 1989).
Devido ao fato de existirem na farinha substâncias higroscópicas da família
das pentosanas, responsáveis pelo fenômeno de “staling” no produto final,
recentemente, tem sido preconizado o uso de pentosanases, frequentemente
encontradas nos preparados comerciais de hemicelulase (MARTIN & HOSENEY,
1991).
76
3.5.11 Amido Modificado por Enzimas
3.5.11.1 Introdução
Durante as últimas décadas, a liquefação e sacarificação do amido por meio
de enzimas vem crescendo, devido ao aumento da produtividade do processo
hidrolítico, a melhor qualidade do produto final e a economia de energia.
O amido é o principal constituinte de muitos alimentos, sendo a principal fonte
de energia e, também um fator essencial para a estrutura, consistência e textura dos
alimentos, sendo que os grânulos de amido comuns são constituídos por cerca de
15-30% de amilose e 70-85% de amilopectina. As enzimas de maior interesse nesse
tipo de indústria são: α-amilase, β-amilase, glicoamilase, isomerase, glucanase,
pululanase e isoamilase (VITOLO, 2001).
3.5.11.2 Processamento enzimático
A tabela a seguir mostra em linhas gerais as etapas envolvidas na conversão
enzimática do amido:
Enzima Transformação Produtos
Alfa-amilase bacteriana Pasta de amido dextrinizada, liquefeita e viscosidade baixa Maltodextrinas
Alfa-amilase fúngica e glicoamilase
Oligossacarídeos hidrolisados (sacarificação)
Xaropes de maltose, de glicose e mistos
Glicoseisomerase
Isomerização da mistura sacarificada
Xaropes com alto teor em frutose HFCS)
GlicoseisomeraseRefino do resíduo resultante da
isomerizaçãoOligossacarídeos
residuais e glicose
Tabela 8. Etapas da conversão enzimática do amido
Vitolo (2001) alega que para se iniciar o processamento do material amiláceo,
deve-se misturá-lo com água, obtendo-se uma pasta contendo 25-40% de amido
(base seca). A pasta é aquecida acima de 60ºC para que os grânulos de amido
inchem e se desagreguem, além de promover a precipitação de proteínas
eventualmente aderidas ao grânulo. A temperatura de gelatinização do amido
depende da matéria-prima empregada. Por exemplo, para grânulos de amido de
77
milho a temperatura de gelatinização situa-se entre 105 a 110ºC. O processo de
gelatinização provoca um aumento de viscosidade, podendo muitas vezes ser
observado o fenómeno da retrogradação (insolubilização espontânea do amido em
solução devido a tendência de formação de pontes de hidrogênio, ressaltando-se
que a amilose retrograda mais facilmente que a amilopectina), além da hidrólise
parcial do amido. A pasta de amido gelatinizada, é a seguir, submetido aos
processos de liquefação e sacarificação.
O processo de liquefação, tradicionalmente, tem sido feito usando-se HCl
como agente hidrolítico. A pasta de amido é acidificada (pH ao redor de 2,0) e
aquecida a 140-155ºC por 5 ou 10 minutos. Esse tratamento é capaz de liquefazer
qualquer tipo de material amiláceo, porém provoca a formação de produtos
secundários, os quais devem ser removidos do xarope obtido. Para contornar esse
problema, além do gasto energético, passou-se a usar uma α-amilase termoestávek
obtida de B. subtilis, a qual resiste a temperatura da ordem de 92ºC (TEAGUE &
BRUMM, 1992).
Em resumo, a liquefação enzimática pode ser feita do seguinte modo,
segundo PARK, 1975: a pasta de amido (contendo 25-40% do polissacarídeo em
base seca) tem seu pH ajustado a 7,0 e, a seguir, é suplementada com Ca+2 (200 a
400 ppm) e Na+ (300 a 450 ppm). Adicionam-se 400 mL de α-amilase para 1000kg
de amido (base seca), sendo a mistura deixada a 90ºC por 20 minutos. Terminado
este período, a temperatura é aumentada bruscamente a 140ºC e o sistema mantido
nessas condições por 5 min. Caso se deseje uma liquefação mais intensa, baixa-se
então a temperatura da pasta parcialmente liquefeita para 85ºC e adicionam-se mais
1,5 L de α-amilase/1000 kg de amido. Após o reforço de enzima, a pasta é deixada
liquefazendo até atingir o equivalente em dextrose desejado (DE). Nesse momento,
eleva-se a temperatura a 100ºC por 15 minutos e interrompe-se a ação da enzima.
O equivalente em dextrose (DE) é tomado como sendo o poder redutor do amido
liquefeito frente a dextrose pura (tomada como 100%).
Em seguida, é efetuado o processo de sacarificação usando-se duas
enzimas: a amiloglicosidase (glicoamilase), em geral, obtida de A. niger e a α-
amilase fúngica, obtida de A. oryzae. O uso combinado ou não dessas enzimas
permite obter uma ampla variedade de xaropes adoçantes (misturas de glicose,
maltose e maltotriose), representadas na tabela a seguir:
78
Processo Xarope de glicose
Xarope de maltose
HFCS Xarope rico em maltose
Xarope de alta conversão
Liquefação Alfa-amilase*
Alfa-amilase* Alfa-amilase* Alfa-
amilase* Alfa-amilase*
Sacarificação Glicoamilase Alfa-amilase** Glicoamilase Alfa-
amilase**Glicoamilase,
Alfa-amilase**
Isomerização - - glicoseisomeras
e - -
Tabela 9. Tipos de xaropes obtidos por hidrólise enzimática, sendo: *Alfa-amilase bacteriana termoestável e **Alfa-amilase fúngica
A glicoamilase é uma exo-α-amilase que atua sobre oligossacarídeos,
liberando glicose como produto final. É usada na sacarificação do amido em xarope
de glicose com DE ao redor de 98. A α-amilase fúngica, por outro lado, é uma endo-
α-amilase e hidrolisa ligações osídicas do tipo α-1,4 de oligossacarídeos, dando no
fim maltose e maltotriose. É usada nos casos em que se deseja obter xarope de
maltose com baixo teor em glicose. A sacarificação, que deve ser efetuada tão logo
a liquefação tenha sido concluída, permite obter (VITOLO, 2001):
a) Xaropes de glicose: a enzima utilizada para tal fim é a glicoamilase, que atua
sobre o amido liquefeito, podendo fornecer no final um xarope com DE ao redor de
98, sendo o teor de glicose da ordem de 97% (base seca). Esse tipo de xarope
tem cerca de 3% de maltose e/ou isomaltose. O xarope pode ser seco (“spray
dried”) e vendido sem purificação ulterior. Por outro lado, o xarope poderá servir
de matéria-prima, tanto para obter a glicose cristalizada quanto para a produção
do HFCS (xaropes de frutose)
b) Xaropes de maltose com baixo teor de glicose: um xarope do gênero pode ser
obtido usando-se α-amilase fúngica numa suspensão de amido liquefeito de 10 a
20 DE. A mistura de oligossacarídeos é concentrada para 38-52% de sólidos
(base seca), o pH ajustado para 5,2 e resfriado a 55ºC. A seguir, adiciona-se a
enzima perfazendo 0,02% da mistura (base seca), sendo de 48h a duração do
processo. Desejando reduzir o tempo, basta usar uma quantidade maior de
enzima. Após obter-se o xarope com DE adequado, deve-se inativar a enzima o
79
mais depressa possível, para evitar a formação de glicose. Para tanto, basta
aumentar a temperatura para 85ºC por 20 min. O xarope final conterá DE ao redor
de 50, maltose ao redor de 50% e glicose ao redor de 5%.
c) Xaropes de maltose de alta conversão: utilizam-se um conjunto a α-amilase
fúngica e a amiloglicosidase. Ambas atuam no mesmo pH ótimo, convertendo o
hidrolisado de amido num xarope com DE=63. É um xarope estável (não cristaliza
a temperatura ambiente), embora possua cerca de 83% de sólidos secos totais. É
muito usado na indústria alimentícia, não somente pelo teor de açúcares
redutores, mas também pela cor, sabor e índice de dulçor.
Antrim & Lioyd (1989) estudaram que os xaropes de frutose, a paritr de 1970,
estão sendo produzidos pela isomerização enzimática da glicose, proveniente de
materiais amiláceos em frutose. Os xaropes de frutose (HFCS) adquiriram grande
importância mercadológica entre 1974-1975, quando ocorreu um aumento no preço
do açúcar de cana. A composição do xarope é análoga ao açúcar invertido, com a
vantagem de não ser produzido apenas por cana ou beterraba. Atualmente, são
produzidos HFCS com 60 a 70% em frutose, sendo a produção mundial da ordem
de 3,63 bilhões de kg. A conversão de glicose em frutose é feita através do uso da
glicoseisomerase, que é uma enzima intracelular de origem essencialmente
microbiana.
Da sua equação de velocidade, observa-se que a frutose exerce ação
inibitória competitiva sobre a glicoseisomerase. Ou seja, a velocidade inicial da
reação depende do afastamento em relacão ao ponto de equilíbrio no qual o sistema
se encontrar. Na indústria, a glicoseisomerase é utilizada na forma imobilizada
(HEBEDA, 1993).
A unidade de atividade para a glicoseisomerase é a “IGICU” (Immobilized
Glucose Isomerase Column Unit), definida como sendo a quantidade de sistema
imobilizado que produz 1µmol de frutose/min sob condições definidas. Os xaropes
de frutose são amplamente utilizados no setor alimentício, sobretudo em bebidas
carbonatadas, “ketchup”, panificação e temperos.
Neste ponto, merecem ser lembradas as chamadas enzimas desramificantes
(pululanases, R-enzimas e isoamilases), que podem ser divididas em dois grupos:
indiretas e diretas (KNEE, et. al, 1991).
80
As enzimas desramificantes diretas hidrolisam as ligações osídicas α-1,6 de
polissacarídeos ramificados, sem que tais macromoléculas tenham sofrido alguma
modificaçnao prévia. As pululanases, obtidas de Aerobacter aerogenes, Escherichia
intermedia, por exemplo, atuam preferencialmente sobre a pululana (polissacarídeo
amplamente encontrado na natureza). As R-enzimas, achadas exlusivamente em
vegetais (feijão, batata, milho), hidrolisam as ligações α-1,6 da amilopectina e das β-
dextrinas limite. Finalmente, as isoamilases, obtidas de microorganismos do gênero
Pseudomonas e Cytophaga, por exemplo, hidrolisam, preferencialmente, as ligações
glicosídicas α-1,6 que dão origem as ramificações.
As enzimas desramificantes indiretas só atacam as ligações α-1,6 se os
polissacarídeos tiverem sofrido um ataque enzimátco prévio. Entre as indiretas,
temos o sistema enzimático amilo-α-1,6-glicosidade/oligo-1,4-1,4-glucantransferase.
Outra enzima que deve ser mencionada é a fitase, que pode ser adicionada a
farinha com o objetivo de reduzir o teor de fitato (inositol hexafosfato) presente na
mesma, evitando-se, assim, a redução da disponibilidade de microelementos, devido
as características quelantes da referida substância (MERCUCCI & SELVATICO,
1989).
Segundo Vitolo (2001) as perspectivas referentes a aplicação de enzimas na
modificaçnao de materiais amiláceos dirigem-se para:
a) Obtenção de glicoseisomerase imobilizada mais termorresistente e com
granulometria adequada para não interferir no padrão de fluxo do reator;
b) Implantação de processos contínuos de liquefação/sacarificação, com o uso
sequencial de α-amilase termoestável e glicoamilase imobilizada;
c) Aumentar a disponibilidade comercial de enzimas desramificantes termoestáveis,
as quais, hidrolisando com maior eficiência as ligações osídicas do tipo α-1,6,
permitiriam a obtenção de xaropes com menos teor de dextrinas contaminantes;
d) Aumentar a disponibilidade de fitase comercial através de modificações genéticas
de bolores. Essa enzima, se disponível em quantidade e a baixo custo, poderá ser
empregada no aumento do teor de fósforo em rações animais pela hidrólise do
fitato.
81
3.6 Processamento do Pão
3.6.1 Moagem do Trigo
O processo de moagem consiste basicamente na recepção e armazenamento
dos grãos; pesagem dos mesmos para o controle do rendimento; limpeza preliminar
por aspiração e peneiragem; mistura dos grãos, para garantir a obtenção de farinha
com qualidade adequada para os diferentes produtos; limpeza principal, onde as
impurezas com propriedades eletromagnéticas como o ferro, aço, níquel são
separadas por meio de separadores magnéticos, as impurezas com propriedades
geométricas são separadas de acordo com a largura, comprimento e forma, e ainda
a separação de impurezas de acordo com a densidade e com as suas propriedades
aerodinâmicas, ou seja, forma, dimensão, estado e posição em relação a corrente e
composição do ar (VITTI, 2001).
Algumas impurezas, porém, podem resistir a todos os métodos de separação
acima mencionados, por causa de sua forte aderência ao grão de trigo. Essas
impurezas aderentes podem ser separadas pela lavagem dos grãos, com posterior
remoção do excesso de água. Outra etapa do processo de moagem é o
condicionamento do grão, que tem como principal objetivo facilitar a separação
eficiente do farelo e do endosperma, garantindo maior rendimento de farinha, com
mínimo teor de cinzas.
De acordo com o estudo de Vitti (2001), após essas etapas, o grão de trigo é
submetido a moagem propriamente dita, onde, com o auxílio de mecanismos de
alimentação passa por moinhos de rolos, contendo rolos estriados (quebra) e rolos
lisos (redução), que giram, em sentido contrário, com diferentes velocidades. Na
seção de quebra, os rolos tem efeito de corte para abrir o grão de trigo e raspar o
endosperma, com a mínima produção de pó do farelo; já na seção de redução, o
objetivo é reduzir o tamanho do endosperma para se obter uma farinha cm o mínimo
de amido danificado. Depois da última etapa do sistema de quebra, o farelo e o
gérmen são separados do endosperma por peneiramento, e esta etapa tem por
objetivo separar e classificar o produto por tamanho.
82
Os purificadores ou sassores são separadores que usam os princípios da
densidade e resistência do ar para separar as partículas do farelo do endosperma,
antes de elas serem transportadas para o sistema de redução. Após a obtenção da
farinha, esta é submetida ao empacotamento, onde as operações de enchimento e
pesagem podem ser realizadas em balanças totalmente automatizadas. Em países
onde certos aditivos alimentares são permitidos, a adição dos mesmos é feita na
fase final do processo antes da pesagem e embalagem.
3.6.2 Processamento
No processamento de pães, a estrutura da massa desenvolve-se mais
lentamente do que a produção de gás.
Figura 16. Produção de gás e desenvolvimento da massa em relação ao tempo
Durante as primeiras horas de fermentação há gas suficiente, mas o glúten
não está totalmente desenvolvido; desta forma a massa não crescerá
adequadamente, mesmo com a força do gás. A consequência é um pão de baixo
volume e textura grosseira. Essas falhas podem ser corrigidas pelo ajuste do ótimo
desenvolvimento da massa e ótimo poder de produção do gás, utilizando farinha de
trigo forte e não muito forte, uso de protease e amilase que permitem otimizar a
produção e retenção de gás (VITTI, 2001).
83
No caso de o desenvolvimento da massa ser mais rápido que a produção de
gás, esta estará completamente desenvolvida em poucos minutos, ao passo que a
produção máxima de gás ainda não atingiu seu ponto máximo. Como consequência,
o pão terá baixo volume. Pelo gráfico pode-se observar que após 150 minutos, por
exemplo, a massa não tem mais força para suportar a pressão do gás. Esses
problemas podem ser resolvidos pelo ajuste dos dois pontos ótimos, pelo qual pode-
se adicionar diretamente açúcares fermentescíveis nas primeiras horas de
fermentação, ou incorporar farinha de trigo mais forte ou colocar mais sal na massa
Figura 17. A estrutura da massa se desenvolve mais rápido que a produção de gás
Quando o desenvolvimento ótimo da massa coincide com o ótimo poder de
produção de gás, tem-se um pão de ótima qualidade.
Figura 18. Produção do gás e desenvolvimento da massa associados no melhor ponto
84
3.6.2.1 Mistura
Segundo Vitti (2001), a mistura tem a finalidade de homogeneizar os
ingredientes, na etapa inicial, aerar e assegurar um trabalho mecânico sobre a
massa, iniciando o desenvolvimento do glúten formado pela hidratação das
proteínas da farinha até a obtenção de uma massa com propriedades viscoelástucas
adequadas.
A água, um dos ingredientes principais nessa fase, é dosada de acordo com
as características qualitativas e quantitativas da farinha. As proteínas insolúveis da
farinha hidratam-se, quando em contato com a água, e se rearranjam formando uma
rede tridimensional, conhecida como glúten, a qual confere propriedades
viscoelásticas a massa. O ponto ótimo de mistura da massa depende do tipo de
processo utilizado: convencional (direto e esponja) ou semi-rápido (direto), sendo o
processo semi-rápido, atualmente o mais utilizado na maioria das padarias.
A produção de massas a temperatura de 26-28ºC, ao final da etapa de
mistura, é adequada, pois inibe a fermentação e, consequentemente, a produção
excessiva de gases, sendo a temperatura da massa durante a mistura controlada
pela temperatura da água adicionada (PIZZINATO et al., 1993).
3.6.2.2 Fermentação principal
É uma fermentação alcoólica e anaeróbica produzida pela ação do fermento
biológico (leveduras) sobre os açúcares presentes na massa. Seu papel é produzir
gás carbônico e modificações físico-químicas, as quais interferem nas propriedades
plásticas da massa, participando da formação do sabor e aroma do pão, além de
contribuir para a sua boa conservação. Atualmente, a fermentação principal (de até 3
horas de duração, interrompida por 1 a 2 sovas) foi praticamente suprimida com o
advento das misturadoras mais rápidas, capazes de desenvolver totalmente a
massa na etapa da mistura (PIZZINATO et al., 1993). O esquema a seguir ilustra as
principais enzimas envolvidas no processo fermentativo:
85
Substância Enzima Efeito
Glúten +Protease (água na
farinha e células de leveduras mortas)
= Condicionamento do glúten
Amido (pequena quantidade) + Diastase (farinha e malte) = Açúcar maltose
Açúcar maltose (produzido acima) + Maltase (na levedura) = Açúcar glucose
Açúcar glucose + Zimase (levedura) = CO2 + álcool
Açúcar de cana ou leite condensado + Invertase (na levedura) = Glucose + frutose
(açúcar invertido)
Açúcar simples + Zimase =Álcool + CO2
+ácidos
Tabela 10. Esquema das principais enzimas envolvidas no processo fermentativo
3.6.2.3 “Divisão”
Pizzinato et al. (1993) reporta que esta operação tem por finalidade a
obtenção de pedaços de massa de peso apropriado aos pães que devem ser
fabricados. A precisão e a uniformidade dessa operação são importantes, uma vez
que o excesso representa perda econômica e a falta de peso pode levar a violação
da lei.
A divisão representa uma operação física, mais ou menos rigorosa para a
massa, podendo ser feita manual ou mecanicamente. A maior parte das máquinas
divisoras funciona principalmente com base em medida de volume.
3.6.2.4 Boleamento
O boleamento é normalmente uma fase intermediária, que tem por objetivo
auxiliar a formação de uma superfície contínua, eliminando a pegajosidade da
massa, dando-lhe ao mesmo tempo uma forma regular, ou seja, a de uma bola
homogênea, facilitando assim o manuseio durante o processamento posterior. A
operação de boleamento pode ser tanto manual quanto mecânica (PIZZINATO et al.,
1993).
86
3.6.2.5 Fermentação secundária
Etapa que antecede a moldagem, tendo por finalidade recuperar parte da
extensibilidade perdida durante a divisão e o boleamento. Nessa fase, os pedaços
boleados de massa são enviados para a câmara de d=fermentação, onde ficam em
repouso por 5-20 minutos. A temperatura ótima nesta etapa varia de 26-30ºC e a
umidade relativa de 75-80%. As temperaturas inferiores a ótima retardam o processo
de fermentação, enquanto que as superiores irão reduzir a capacidade de retenção
de gases. Baixa umidade relativa na câmara de descanso, causa a secagem da
massa e a formação da crosta, enquanto que umidades mais altas tornam a massa
pegajosa e de difícil manuseio (PIZZINATO et al., 1993).
3.6.2.6 Moldagem
Segundo Pizzinato et al. (1993), a fase de moldagem do processo de
produção de pão tem por finalidade melhorar a textura e a estrutura da célula do
pão, assim como dar forma apropriada ao produto. Os moldadores, também
conhecidos por modeladores, são projetados com o objetivo de desgaseificar e
achatar, enrolar e selar a massa, sendo o mais comum o de rolos. Essa operação
também pode ser manual.
3.6.2.7 Fermentação final
A fermentação final, assim como a intermediária, são realizadas em câmaras
com condições adequadas a temperatura e umidade relativa, como mencionado
anteriormente, e usualmente leva cerca de 40 a 120 minutos, dependendo do tipo de
pão, formulação e qualidade da farinha. Como os pedaços de massa perdem gases
na fase de moldagem, é essencial permitir um descanso final da massa com a
finalidade de readquirir um volume adequado, influenciando diretamente a qualidade
de textura e das células do miolo do produto final (VITTI, 2001).
3.6.2.8 Cozimento
87
O objetivo principal dessa fase é o tratamento térmico do amido e da proteína,
juntamente com a inativação das enzimas e do fermento, permitindo a formação da
crosta, desenvolvimento de aroma e gosto e melhor palatibilidade. O cozimento do
pão resulta da troca de calor entre o forno e a massa. Essa troca é mantida, nos
fornos de lastro, pelos três princípios de transferência de calor” radiação, convecção
e condução.
Vitti (2001) alega que na primeira etapa de cocção, observa-se uma forte
evaporação externa da massa, o desenvolvimento da mesma e a aceleração de
produção de gás carbônico até uma temperatura de 50-60ºC. A massa, no entanto,
continua a desenvolver-se ainda, sob o impulso combinado do vapor d`água e do
gás carbônico. A medida que a temperatura aumenta, inicia-se, a partir de 70ºC a
gelatinização do amido, assim como a coagulação do glúten. Todos esses fatores
vão marcar o fim do desenvolvimento da massa, e o término dessa segunda etapa.
Dá-se início, então a terceira e última etapa, quando a evaporação da massa,
diminui e sua temperatura aumenta, ocorrendo a formação da cor da crosta e o
“flavor” do pão (reação de Maillard).
Normalmente, as condições mais comuns para o cozimento de pães são as
temperaturas de 200-230ºC, por tempos variáveis, de acordo com o tipo e tamanho
do pão confeccionado. Os fornos podem ser projetados para usar a eletricidade, gás
natural, óleo leve ou pesado, ou ainda carvão, existindo vários tipos disponíveis de
fornos comerciais, como os de batelada e os semicontínuos (PIZZINATO et al.,
1993).
3.6.2.9 Resfriamento
Os pães, ao saírem do forno, estão excessivamente quentes e devem ser
resfriados aproximadamente a temperatura ambiente, antes de serem submetidos
ao fatiador (no caso do pão de forma) para posterior embalagem.
O corte do pão quente pode causar deformação, enquanto que a embalagem
do mesmo morno resulta em condensação de umidade, com o subsequente
crescimento de fungos e outros micrororganismos deteriorantes. Existem várias
maneiras de se fazer o resfriamento do pão, sendo o mais simples o contato com a
temperatura ambiente, embora seja lento e muito espaçoso. Um sistema mais
88
econômico e higiênico seja o de esteiras que se movem lentamente e entram em
contato com um ventilador, variando o ciclo de resfriamento de 50 a 90 minutos,
devendo estas esteiras ser frequentemente esterilizadas (PIZZINATO et al., 1993).
3.6.2.10 Corte em fatias e embalagem
Pizzinato et al. (1993) relata que especialmente em padarias que vendem
diretamente ao consumidor, muitos tipos de pães são vendidos sem cortes em fatias
e sem embalagens especiais. Já em padarias de grande porte, onde é necessário
fazer a distribuição, o corte (se exigido) e a embalagem do pão representam uma
parte importante do processo.
O corte em fatias é geralmente utilizado para pão de forma e é feito por
lâminas ou correias cortantes. A classificação “pão de forma” é atribuída ao produto
obtido pela cocção da massa em formas, apresentando miolo elástico e homogêneo,
com poros finos e casca fina e macia (BRASIL, 2006).
A embalagem do pão podem ser feita manualmente, sendo este método mais
simples, porém mais lento, e em muitos casos antieconômico, especialmente para
padarias maiores. Existem máquinas de embalagem de alta velocidade, as quais
são específicas para produtos de panificação. Vários tipos de materiais podem ser
utilizados para embalar os produtos de panificação, incluindo o celofane, celofane
coberto com nitrocelulose ou cloreto de polivinilideno. Esses materiais, além de
melhorar o visual, boa proteção a umidade e ao aroma, apresnetam excelente
vedação, embora sejam geralmente de alto custo. Os materiais de embalagem de
polipropileno e polietileno são os mais comuns e os mais vendidos, a preços
relativamente baixos, sendo considerados excelentes materiais para o
empacotamento de pães no geral (PIZZINATO et al., 1993).
3.7 Parâmetros para Avaliação de Textura
Não é novidade para a indústria de pães e bolos a utilização de ingredientes
para conferir mais maciez aos produtos finais. Contudo, a experiência que o
consumidor tem ao provar esses produtos não pode ser reduzida simplesmente a
89
uma avaliação duro x macio. Entender as múltiplas facetas desta experiência é
fundamental para desenvolver o melhor produto do mercado.
O estudo acadêmico da textura em alimentos existe pelo menos à quatro
décadas, como uma ferramenta de análise sensorial. Foram definidas as
características primárias e secundárias de textura, depois cada uma delas foi
quantificada em uma escala construída a partir de alimentos referência. A
abordagem que se segue é uma interpretação dos estudos acadêmicos, traduzida
para a realidade da indústria de pães e bolos. Nela, são eleitos descritores de
textura relevantes para esses tipos de produtos e depois expostos seus papéis na
experiência de consumo (PURATOS, 2010).
3.7.1 Resilência
Segundo Puratos (2010), o primeiro contato que o consumidor tem com o
produto é no ponto de venda e, portanto, o apelo visual é de importância máxima. Se
a embalagem permitir, o formato e a cor são analisados, além da presença de
alguma contaminação física, mancha ou ponto de coloração diferente do usual.
Pães são particularmente vulneráveis à deformação quando comprimidos,
prejudicando assim sua apresentação. Essa deformação pode ocorrer em várias
situações: durante a estocagem e transporte, na gôndola do supermercado, quando
o consumidor aperta o produto para verificar sua maciez ou quando o produto é
posicionado de maneira não usual no carrinho de compras, por exemplo. A situação
ideal é que um pão ou bolo retome sua forma original após qualquer deformação. A
velocidade (e o grau) em que esse retorno acontece é chamada de resiliência.
A resiliência de pães e bolos é causada fundamentalmente pelas
propriedades elásticas da rede de glúten e pela estrutura de amido gelificado do
miolo. Muitas enzimas e emulsificantes vão agir nessas estruturas de maneiras
distintas. É necessária uma combinação específica de ingredientes para influenciar
na resiliência de maneira otimizada.
Para um fabricante, por exemplo, uma maior resiliência pode permitir o
empilhamento de pacotes, fazendo o espaço de estoque, transporte e exposição
serem mais bem aproveitados. Para um consumidor, um produto resiliente tem
melhor apelo visual no ponto de venda e durante o consumo.
90
Ao consumir um sanduíche de hambúrguer, por exemplo, uma pessoa vai
comprimir o pão (e o recheio) com os dentes e dedos por seis vezes, em média. A
cada mordida, o pão que ainda resta no sanduíche deve voltar a seu formato, para
que ele não fique deformado ou furado com a pressão que os dedos e dentes
exercem. As medidas sensoriais e instrumentais de resiliência devem levar em
consideração o comportamento do consumidor no desenvolvimento da metodologia
de análise, conforme mostra o gráfico abaixo (PURATOS, 2010).
Figura 19. Gráfico de resiliência x número de compressões de acordo com a referência
3.7.2 Frescor
Painéis sensoriais com consumidores indicam uma forte preferência por
produtos de panificação mais macios. Sabendo desta condição, a indústria se
empenha em prover soluções para aumentar a sensação de frescor ao longo da vida
de prateleira do produto, ou seja, busca ter as características de um pão ou bolo
recém assado.
O frescor pode remeter à temperatura do produto, sabor e aroma, mas
especificamente no campo da textura, podemos desmembrá-lo em Maciez e
(sensação de) Umidade. Esses são fatores-chave para a percepção de qualidade de
um produto de panificação pelo consumidor.
No momento da compra o cliente já tem uma idéia de maciez ao apertar os
produtos. Ao degustar, o consumidor perceberá uma sensação de umidade com os
dedos e na boca, através da quantidade de saliva necessária para se formar um
91
bolo deglutível, através do grau de aderência que o miolo tem no palato e nos
dentes e através do grau de esfarelamento do miolo. Finalmente, o consumidor
avalia como essas características se mantém ao longo da vida útil do produto.
Após o assamento, pães e bolos perdem frescor devido a cristalização do
amido. Os cristais formados se ligam a moléculas de água, fazendo o miolo ficar
seco. Ligações químicas entre amido e glúten se formam, e quanto mais ligações,
mais o miolo fica duro. A utilização de enzimas, especialmente amilases, faz com
que o amido diminua sua capacidade de reter água, deixando assim o miolo mais
úmido, além de quebrar as estruturas formadas pelas ligações amido - glúten,
deixando o miolo mais macio. Emulsificantes específicos também podem controlar a
mobilidade do amido, agindo da mesma maneira.
As interações entre recheio e miolo também levam a uma perda de frescor em
maior ou menor intensidade. O gradiente de atividade de água (aW) entre os dois
sistemas leva a uma migração de água em um ou outro sentido, até que se obtenha
um equilíbrio. Um recheio de chocolate em panetone, por exemplo, que tem uma aW
de 0,30, vai “roubar” água do miolo, que tem aW de 0,80. Isso faz o produto ficar
mais seco e duro muito mais rapidamente que um panetone com frutas cristalizadas,
que têm aW mais próxima do valor do miolo.
A manutenção da maciez e umidade em pães e bolos leva automaticamente a
uma maior vida de prateleira. Esse fato pode ser interessante tanto ao consumidor,
que pode utilizar do produto por um tempo maior e ter menos desperdício, quanto ao
fabricante, que pode atingir uma área de cobertura maior e estender a exposição
dos itens no ponto de venda.
Em outras formulações, ao se obter ganhos de maciez e umidade pode-se
reduzir a dosagem de gordura e ovos, por exemplo. Esse fato pode levar a uma
redução de custo de formulação e/ou a um produto com apelo maior de
saudabilidade (PURATOS, 2010).
92
Figura 20. Frescor x tempo para uma amostra de croissant e a referência
3.7.3 Mordida Curta (“Short bite”)
Na língua inglesa, quando um determinado produto é mais facilmente
fraturado do que outro, se diz que sua mordida foi “mais curta”. A medida da força
necessária para se romper ou quebrar um alimento é chamada de fraturabilidade.
Um produto de mordida curta se opõe a um produto “borrachudo”, que necessita de
mais esforço para se romper.
Ao morder um pão ou bolo o consumidor avalia a facilidade de se morder e
mastigar. Produtos como pães doces, panetones, donuts e bolos têm mordida mais
curta do que produtos com casca mais grossa, como pão italiano, por exemplo.
Produtos expostos a reaquecimento em forno de microondas são exemplos onde
ocorre textura borrachuda após resfriamento.
Tanto a casca quanto o miolo contribuem para a característica borrachuda de
pães e bolos, devido à umidade excessiva e ao próprio glúten da farinha. A solução
tradicional para tal fenômeno seria adição de gordura (em inglês, shortening =
“encurtador”), mas existem combinações de enzimas, emulsificantes e hidrocolóides
que influenciam a mordida de maneiras diferentes.
Consumidores tendem a achar mais prazeroso um produto com uma mordida
mais curta, especialmente o público infantil. Para os fabricantes, uma possível
redução no nível de gordura pode levar a redução de custo ou a um produto com
maior apelo de saudabilidade (PURATOS, 2010).
93
Figura 21. Avaliação de mordida curta com uma amostra de pão e referência
3.7.4 Derretimento na Boca (Melting)
A medida da energia gasta para se mastigar um alimento até sua deglutição é
chamada de mastigabilidade. Ela é o resultado da combinação de outros descritores
de textura, citados anteriormente. Esse parâmetro é fundamental quando se
desenha um sanduíche, por exemplo, onde se busca que todos os componentes
(pão e recheio) tenham mastigabilidades semelhantes, para que um não “sobre” na
boca, enquanto o outro já foi deglutido.
Um derretimento extremo na boca é particularmente desejado em produtos de
panificação de massa muito rica, como panetones e brioches, mas também está
presente em donuts e outras massas fritas. Já em pão de forma ou pão de
hambúrguer essa característica não necessita ser exagerada.
O ponto mais importante sobre essa característica de textura é que o exagero
de alguma outra característica pode afetá-la negativamente. Se tivermos um produto
muito seco, por exemplo, ele necessitará de muita saliva para ser deglutido e, por
conseqüência, terá uma mastigabilidade ruim. Contudo, se a sensação de umidade
for excessiva, a mastigabilidade também será afetada, pois o produto vai aderir ao
céu da boca e dentes, fazendo o consumidor perder energia para removê-lo. É
94
necessário, portanto, um balaço minucioso de ingredientes para atingir a
combinação de texturas ideal.
Somente um entendimento completo e sistêmico de todos os aspectos da
textura pode fundamentar o desenvolvimento de pães e bolos. Em posse deste
conhecimento, o fabricante pode buscar diferenciação, alcançar novos segmentos
ou reduzir custos (PURATOS, 2010).
3.8 Mercado de Enzimas
Segundo estudos realizados por analistas de mercado da Freedonia Group
Incorporated, “Word Enzyme to 2009”, a indústria mundial de enzimas obteve um
faturamento total de US$ 3,1 bilhões em 2009, com um crescimento da demanda
mundial de 6,5% e atingiu cerca de US $ 3,6 bilhões em 2010. O mercado em 2011
foi de cerca de US $ 3,9 bilhões. BCC projeta este mercado a crescer a uma taxa
composta de crescimento anual (CAGR) de 9,1% para chegar a US $ 6 bilhões até
2016.
O mercado de enzimas está divido em enzimas industriais (enzimas técnicas,
enzimas para indústria de alimentos e enzimas para ração animal) e enzimas
especiais (enzimas terapêuticas, enzimas para diagnóstico, enzimas para química
quiral e enzimas para pesquisa). Hoje, as enzimas de uso industrial representam
60% do mercado mundial. Dentre elas se destacam o grande uso de amilases, com
25,4%, celulases (17,1%) e lipases (7,2%), só para o ano de 2009. A demanda
dessas enzimas está distribuída em várias áreas e representada na Figura 9
(MONTEIRO & SILVA, 2009).
Enzimas de alimentos e bebidas compõem o maior segmento da indústria de
enzimas industriais, com faturamento de quase US $ 1,2 bilhões em 2010 . Este
mercado está previstao para crescer ainda mais chegando em US $ 2,1 bilhões em
2016, com um crescimento anual de 10,4%. A segunda maior categoria são de
enzimas técnicas com receitas de cerca de US $ 1,1 bilhões em 2010 e quase US $
1,2 bilhões em 2011. Este mercado ainda deverá crescer para US $ 1,7 bilhões em
2016, um crescimento anual de 8,2%.
95
Figura 22. Distribuição da demanda de enzimas industriais em diferentes áreas
Segundo Monteiro & Silva (2009), a América Latina representa 3,4% da
demanda mundial de enzimas, sendo o Brasil o país mais expressivo desta região,
respondendo por 60% do consumo de enzimas na região. Em termos mundiais,
dados de 2005 mostram que o Brasil representa 3,7% do mercado internacional com
uma movimentação em tono de US$ 147 milhões. Mesmo assim, ainda somos um
país que importa uma quantidade expressiva de enzimas, 86%, frente a 14% de
exportação, revelando um atraso tecnológico e estratégia em termos de produção de
biocatalisadores. Este quadro pode se modificar com um avanço no mercado de
bicombustíveis, seja ele de origem amilácea ou celulósico, além de outras áreas
promissoras como a de rações para alimentação animal. Outros mercados devem
crescer, porém em menor proporção, como é o caso do de polpa e papel. Aliado a
esses fatores, o Brasil instituiu em 2007 uma política de Desenvolvimento da
Biotecnologia PDB, que inclui a produção e o uso industrial de enzimas no Brasil
(Decreto nº 6.041, de 8 de Fevereiro de 2007).
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do
Brasil mostram que só no ano de 2008 o Brasil importou cerca de 7,2 mil toneladas
de enzimas industriais, perfazendo um total de US$ 72,5 milhões, frente a um
volume aproximado de 4,5 mil toneladas (US$ 30,5 milhões) de enzimas industriais
96
exportadas. As porcentagens das principais enzimas de aplicação industriais
importadas e exportadas estão apresentadas na Figura abaixo:
Figura 23. Distribuição das enzimas industriais importadas e exportadas no ano de 2008 pelo Brasil
97
3.9 Inovações na Área da Panificação
No atual mercado competitivo, buscar melhoria contínua de processos e
produtos, reduzir custos, atender as necessidades dos clientes e inovar são
essenciais para o sucesso. Para auxiliar as indústrias de panificação a atingir estes
objetivos, a Danisco investe no conhecimento, na inovação, na tecnologia e nas
parcerias.
Os ingredientes da Danisco utilizados em farinha, pães artesanais, pães
industriais, bolos, biscoitos e recheios são: emulsificantes, enzimas, carboidratos
especiais, antioxidantes, conservantes, estabilizantes, sistemas e ingredientes
funcionais. A empresa também investe nas plataformas de saúde, seguindo as
tendências de controle de peso, saúde digestiva, saúde óssea, saúde
cardiovascular, etc.
As indústrias se beneficiam das enzimas para alcançar a eficiência desejada
em processos e para obter produtos de panificação com volume, textura, estrutura e
vida útil que necessitam. O investimento constante em pesquisas em enzimas
resultou no desenvolvimento de soluções únicas e patenteadas, como a nova
maltotetra-o-hidrolase presentes nas linhas PowerFresh® para manter pães e
panetones frescos e macios por mais tempo; PowerFlex® para melhorar a
flexibilidade e vida útil das tortillas; e PowerSoftTM para maciez e textura em bolos.
Esta nova tecnologia, que retarda a retrogradação do amido de maneira mais
eficiente do que as amilases tradicionais, proporciona além da maciez, excelente
resiliência do miolo e sensação única de frescor. Avaliações sensoriais, com a
participação de consumidores, confirmaram a preferência por pães feitos com
PowerFresh®. Estas linhas contam com várias soluções para atender as
necessidades funcionais de cada aplicação, pão de forma branco, pão de forma
integral, pães de hambúrguer, panetones, entre outros.
Para aumentar a tolerância da massa às variações de farinha e processo, e
melhorar o volume dos pães em processos de curta e longa fermentação são
recomendadas as linhas exclusivas de xilanase não inibida, PowerBake®, e hexose
oxidase, SureBake®. Estas enzimas apresentam alto desempenho nos mais
variados processos de panificação encontrados no mundo, resultando em produtos
mais uniformes (DANISCO, 2011).
98
Uma nova enzima denominada SPRING FRESH foi desenvolvida
especialmente para pães ricos em fibras, multicereais e light. A partir de agora, pães
multicereais, integrais e light ficarão mais macios, com maior elasticidade e vida de
prateleira, pois o spring Fresh pode ser utilizado em pães ricos em fibras ou com
baixo teor de açúcar e gordura, aplicado diretamente em receitas ou em pré-
misturas e melhoradores (GRANOTEC, 2011).
99
4. CONCLUSÕES
O uso de aditivos é fundamental para corrigir deficiências da farinha de trigo, e
permitir a padronização da qualidade dos produtos finais. Para isto, no entanto, é
preciso que os aditivos sejam utilizados nas dosagens corretas, de acordo com o
tipo de produto final desejado, as matérias-primas utilizadas e o processo de
panificação escolhido.
Na panificação, as enzimas mais utilizadas são as amilases (α e β-amilase,
glucoamilase e isoamilase), as proteases, lipases, hemicelulases e glucoxidases. De
maneira geral, os efeitos de cada enzima são, respectivamente: possibilita um
aumento de volume no produto final, também acelera a fermentação e confere um
melhor aspecto de cor, aroma e sabor; melhora das propriedades de manuseio da
massa, permitindo-a adquirir melhor elasticidade e melhorando a textura do glúten,
assim, adaptando todos os tipos de farinha ao processo mecânico de produção de
pão; melhora do volume específico, maciez do miolo e, conseqüentemente, retarda o
envelhecimento dos pães, além de, proporcionarem aumento da elasticidade e
fortalecimento da massa; manutenção da absorção de água, aceleração do
desenvolvimento da massa, melhora da maquinabilidade, preservação do glúten,
aumento da tolerância a fermentação, facilitação da vaporização da água e maior
volume dos pães produzidos e torna a massa mais elástica, aumenta a capacidade
de retenção de água e reduz a pegajosidade da massa, o que a torna uma
alternativa bastante interessante para a panificação.
Assim, concluimos que a suplementação de enzimas como aditivos na
produção de pães e seus derivados altera a reologia da massa, conferindo
características desejáveis ao seus produtos. Portanto, a utlitzação das enzimas
reportadas no presente trabalho confere benefícios no processamento do pão com
destaque para a melhoria da eficiência do processo, bem como da qualidade do
produto final no que se refere as características de volume, textura, estrutura e vida
de pratelelira.
100
5. REFERÊNCIAS
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