TUK INVADEM LISBOA - ClipQuick · Tarrana. «Tratam-nos como bandidos e inclu-sive tratam mal os...

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TUK TUK INVADEM LISBOA São às dezenas, de todas as cores e tamanhos, a fazerem os circuitos turísticos nas ruas da capital. Ds tuk tuk estão na moda e são um sucesso empresarial. Mas também queixas de moradores e taxistas, tpag.i*

Transcript of TUK INVADEM LISBOA - ClipQuick · Tarrana. «Tratam-nos como bandidos e inclu-sive tratam mal os...

TUK TUK INVADEM LISBOASão já às dezenas, de todas as cores e tamanhos, a fazerem os circuitosturísticos nas ruas da capital. Ds tuk tuk estão na moda e são um sucessoempresarial. Mas também há queixas de moradores e taxistas, tpag.i*

LISBOACAPITAL DOSTUK TUK

Sônia [email protected]

Sônia Graç[email protected]

As populares motas que fazem circuitosturísticos são a coqueluche deste Verão.Os moradores queixam-se de ruído e po-luição, e os taxistas da concorrência. Osempresários reclamam direitos.

Terça-feira,

26 de Agos-to, 10h30: a Rua do Co-

mércio, no centro de

Lisboa, fervilha de tu-ristas. Os mais curio-sos aproximam-se, ti-

ram fotografias e ficam pasma-dos a olhar para uma fila demotas. «Primeiro desconfiam,mas quando percebem queisto não se desmonta, comoacontece com os asiáticos, fi-cam interessados», conta umdos condutores ali estacionados.

São os tuk tuk - veículos de trêsrodas que, consoante os modelos,

podem transportar até seis pessoasem visitas guiadas - que inunda-ram as ruas da capital e também jáchegaram ao Porto. Há cada vezmais empresas dedicadas a estetipo de animação turística, mas aactividade continua por regula-mentar. E há quem se queixe do ex-cesso de poluição, do ruído e até deconcorrência desleal.

Os condutores dizem-se injusti-çados e reclamam igualdade de di-reitos. «Andamos aqui oito a dezhoras por dia a ser insultados,

encurralados e maltratados portaxistas e até pela própria Polí-cia. Mas temos tanta razão deexistir quanto os outros»».

Diogo começou a trabalharnuma empresa de tuk tuk há cincomeses e lamenta que o negócio sejatão incompreendido. «É um servi-

ço muito diferenciado. Digam-me qual é o taxista que fala cin-

co línguas, como eu, ou que sabeonde nasceu Santo António e

que a Sé foi construída com as

pedras da mesquita que lá exis-tiu antes», desafia, acusando os ta-

xistas de perseguição. «Há três se-

manas, no cais de cruzeiros de

Alcântara, fomos ameaçados, napresença da PSP, por taxistasque tentaram agredir-nos. An-dam por todo o lado com panfle-tos a anunciar serviços que nãopodem fazer, porque não têmqualquer qualificação».

João Tarrana, que tem 12 tuktuk a fazer percursos turísticos nacapital, também não compreendeas queixas dos taxistas: «Não fa-zemos concorrência. Não anda-

mos no aeroporto, somos maiscaros, fazemos outro tipo de

percursos...», explica o empresá-rio, acrescentando que tentoumarcar uma reunião com a Asso-

ciação Nacional dos Transporta-dores Rodoviários em Aumotóveis

Ligeiros (ANTRAL), mas não teve

resposta. Também o SOL tentoucontactar a associação, mas semsucesso.

«O problema» - diz Bruno, ou-tro colega estacionado mais atrás- «é que ainda não temos locaisde estacionamento atribuídospela Câmara, isso evitaria tantaconfusão»».

É 'urgente' limitar triciclosOs moradores das zonas mais anti-

gas da capital são os que mais so-

frem com a forma «desordenada»»

como estes veículos circulam pelasruas mais estreitas, entrando em lo-cais vedados aos outros automobi-listas. «No Castelo, em Alfama ena Mouraria, sobretudo, os tuktuk são extremamente incomo-dativos»», refere o presidente da Jun-ta de Santa Maria Maior, MiguelCoelho, que, «de há alguns mesespara cá», não pára de receber quei-xas de moradores revoltados.

«Eles entram em todo o lado.As pessoas queixam-se do ruídointenso a qualquer hora, de in-vasão da privacidade - há tuktuk que param mesmo junto às

'Tratam-nos como bandidos'«É incrível haver operações stopsó para tuktuk. Mas como temos registos e facturas, aca-bam por nos mandar seguir», crítica JoãoTarrana. «Tratam-nos como bandidos e inclu-sive tratam mal os turistas. Já me mandaram

parar e obrigaram osclientes a sair só parafiscalizarem a mota,coisa que não fazemaos taxistas. Gostavade saber se a PSP seresponsabiliza pelopagamento dos toursque interrompe», indig-na-se João, funcionário

de outra empresa, que fala em «perseguiçãoridícula»: «Um polícia já chegou ao cúmulo denos perguntar onde estava o capacete».Contactada pelo SOL, a PSP nega as acusa-ções: garante que não fez «nenhuma fiscaliza-

ção selectiva», mas sim

«operações regulares ondeforam fiscalizados váriosveículos de aluguer, incluin-do tuk tuk». A mesma fontelembra ainda que estes trici-clos «estão sujeitos a regrasde circulação e estaciona-mento aplicáveis a todos osveículos a motor». 5.8./ S.G.

Circuitos

COMOFUNCIONAM

As empresas oferecemdiversos trajectos, sendo odos bairros históricos umdos mais requisitadosBelém e Parque das Naçõessão outros destinos.

DuraçãoOs mais curtos sâo demela hora e os mais

exaustivos podem chegara três. Há também circui-tos nocturnos e outros

que podem durar um dia.

PreçosUma viagem de meia hora

custa 25 euros e umahora chega aos 45 euros.

RegrasBasta efectuar uma comu-

nicação prévia no s/te do

Turismo para criar uma

empresa de animaçãoturística e depois compraros vefculos. Os guias têmde ter carta de condução.

janelas das residências e os tu-ristas ficam ali a tirar fotogra-fias, a escassos centímetros - e

do fumo que provocam», conta o

autarca, considerando «urgente»limitar o número de tuk tuk e os lo-

cais onde podem circular e estacio-

nar «Não temos nada contra a ac-tividade em si, que é boa para oturismo e para a economia, mastem de ser controlada e o esta-cionamento também», insiste.

Este é, aliás, um assunto que Mi-guel Coelho tem levado com fre-

quência à Câmara de Lisboa. «Di-zem que estão a preparar um re-gulamento específico», mas aresposta tarda.

Ao SOL, fonte oficial da autar-quia garantiu que «está a traba-lhar num regulamento que teráem conta os locais de paragem ecirculação» destes veículos. O do-

cumento deverá ser apresentado«em breve», mas, sublinhou a mes-

ma fonte, «os licenciamentos dos

tuk tuk são da responsabilidadedo Turismo de Portugal, uma vezque estão inscritos como empre-

sas de animação turística».Na verdade, é fácil criar uma

destas empresas: basta uma comu-

nicação prévia, através da inscri-

ção no Registo Nacional dos Agen-tes de Animação Turística, nos/tedo Turismo de Portugal. Para isso,

basta um comprovativo da contra-

tação dos seguros obrigatórios, de

acidentes pessoais e de responsa-bilidade civil. O organismo diz nãoter forma de saber quantas empre-sas se dedicam exclusivamente aesta actividade.

Cumprem normas ambientaisO Instituto da Mobilidade e dos

Transportes, responsável por ho-

mologar e matricular estes trici-clos, também desconhece o núme-ro de tuk tuk a circular.

Já a associação ambientalistaQuercus - que nos últimos mesesrecebeu várias reclamações porcausa do ruído e da poluição provo-cada pelos gases dos tuk tuk - esti-

ma que sejam mais de meia cente-

na. Porém, nota Francisco Ferrei-

ra, especialista em alteraçõesclimáticas da Quercus, nenhumadas empresas está a violar as regrasem vigor. «Analisámos os veícu-los e todos respeitam o a normaEuro 2, no que diz respeito à po-luição do ar, o que significa quepodem circular na zona de emis-sões reduzidas, entre o eixo daAvenida da liberdade e a Baixa».

Também quanto ao ruído os tuktuk provocam «um barulho mui-to especial», mas que está dentrodo limite legal em Lisboa: 65deci-

béis, durante as 24 horas do dia.«Este valor é ultrapassado masdevido ao conjunto do tráfegoque circula na cidade, tanto nazona antiga como nas restantes»- explica Francisco Ferreira. Massublinha que, «do ponto de vistaambiental, era importante quefossem todos eléctricos».

E, conta quem sabe, as vantagensde um tuk tuk eléctrico são muitas.

«Conseguimos parar à porta das

casas de fado e ir falando com osturistas sem perturbar a vidadas pessoas», conta, orgulhoso, umjovem motorista no seu tuk tukbranco e verde estacionado no lar-

go da Sé. «O chinfrim que os ou-tros fazem tira toda a poesia auma zona histórica tão bonitacomo a nossa. Além de ser extre-mamente desagradável para osmoradores que têm roupa esten-dida», acrescenta.Entram em todas as ruasOs ecológicos distinguem-se bemdos outros: são maiores (lotaçãopara quatro adultos e duas crian-ças), mais pesados (300 quilos) e, porisso, «mais seguros». A verdade é

que isso se paga: um tour de três ho-

ras chega aos 250 euros, enquantonoutra empresa não passa dos 105.

«Não optámos por veículoseléctricos por causa da falta deautonomia», explica o empresá-rio João Tarrana, que escolheu ummodelo da Piaggio com um motorque «faz menos barulho e temmais potência». Tarrana estreou--se neste ramo em Maio, ao perce-ber como «os turistas estavamtão felizes num tuk tuk». O ne-

gócio correu tão bem que ponderafazer trajectos em Sintra e Cascais.

Bruno, de outra empresa, expli-ca o segredo do sucesso: «Por dia,num mês como Agosto, faço cin-co a seis tours. Das lOh às 19h,

mas posso esticar. Lisboa é umacidade de colinas e a nossa van-tagem é que chegamos às ruasestreitas dos bairros antigos».Os tuk tuk como o seu, de seis lu-gares, «são muito procuradospor famílias e grupos».

Mas João não se queixa do seu'mosquito' (como chamam aosmais pequenos, de dois lugares).«São a gasolina e têm catalisa-dores, ao contrário das grandes,que causam muito mais incómo-do e poluição». Pormenores à par-te, garante que todos são «profis-sionais»: «A maioria de nós temformação superior. Há jornalis-tas, professores e até taxistas».João tem formação em cinema emuito amor ao país: «Os turistasperguntam-nos muitas vezes porque estamos nisto. É porque so-mos saudosistas. Mas este é tal-vez o último passo antes de irembora».