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The Walking Dead: os bastidores
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Transcript of The Walking Dead: os bastidores
Os bast idOresO guia Oficial
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Paul Ruditis Prefácio: Frank Darabont
Introdução: Robert Kirkman
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Paul Ruditis Prefácio: Frank Darabont
Introdução: Robert Kirkman
Os bast idOresO guia Oficial
S ã o P a u l o 2013
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Sumário
PREFÁCIO de Frank Darabont 6
In tRODuçãO de Rober t K irkman 8
um COnstRuçãO DO munDO Em quaDRInhOs 13
DoiS Da PÁgIna à tEl a 43
TrêS um sOPRO DE vIDa aOs mORtOs 71
quaTro POvOanDO O munDO DE thE WalKIng DEaD 93
CinCo aDaPtanDO O EstIlO vIsual DE thE WalKIng DEaD 117
SeiS tERRa DOs mORtOs 145
SeTe POstmORtEm 171
oiTo tRagam sEus mORtOs 189
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Para mim, foi instantâneo – foi muito fácil querer investir no projeto desta série.
Há anos tenho estado ansioso para contar uma história de mortos-vivos. Adoro
os mitos de zumbi, o mundo criado por George Romero, e vinha procurando uma
oportunidade de brincar nesse playground. E o momento parece ser agora: me sur-
preende o quanto um subgênero do horror, pouco conhecido, interessante apenas
para geeks como eu, desabrochou em um conceito com grande aceitação.
Muito ignorados pelo público geral por décadas, zumbis comedores de carne
eram algo que nós, os fãs, tínhamos só para nós. No entanto, ao longo da última
década os zumbis penetraram o círculo de interesses da cultura popular de um jeito
que eu nunca poderia ter antecipado. Hoje em dia, vejo avós nas grandes livrarias
comprando livros de zumbis para os netos.
Encontrar o playground de zumbis certo onde eu pudesse brincar foi difícil, até
o dia em que entrei em uma livraria local e notei a primeira edição comercial de The
Walking Dead. Eu a vi e pensei: “Ah, legal. Uma história de zumbi. Isso é bem minha
cara”. Então, é claro, comprei o livro e levei para casa.
Naquela noite, quando comecei a ler a primeira história, me veio à cabeça: “Isso
poderia virar um programa de televisão”. Na segunda história, eu pensava: “Vou ligar
para o meu agente amanhã e pedir para ele verificar se os direitos estão disponíveis”.
Os quadrinhos de Robert eram exatamente o que eu procurava. Na manhã
seguinte, telefonei para meu agente de TV e disse: “O que pode ser melhor para a
televisão do que um programa realmente bom ambientado no apocalipse zumbi?”.
Ele adorou a ideia. Depois, foram cinco anos de rejeições (mais uma união de
forças com a estimável Gale Anne Hurd como minha sócia na produção) antes de
finalmente encontrarmos uma emissora que concordasse conosco. Finalmente...
felizmente... a AMC percebeu que a ideia era boa e disse sim. Desde então, minha
vida tem sido só zumbis.
Uma história em quadrinhos é uma coisa, uma série de TV é outra. Robert
escreve um material frio, duro. Como fã dos quadrinhos originais, quero que nosso
programa visite os lugares sombrios aonde Robert já nos levou, mas tem que haver
um equilíbrio. Não pode ser tudo frio, ou os espectadores perderão o interesse.
O próprio Robert manifestou preocupação sobre quanto as situações em seu livro
seriam adequadas para uma plateia maior, sob um registro diferente e ao longo de,
digamos, cinco anos. Encontrar o tom adequado e mantê-lo vai exigir um equilíbrio
Prefácio
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desafiador e delicado. E essa vai ser uma constante para nós enquanto o programa
durar: caminhar sobre essa tênue linha do tom e conversar com Robert a cada passo
do caminho. Isso porque não vamos querer progredir muito em uma direção em
detrimento de outra. Esse é um programa que, fundamentalmente, quer conquistar
a plateia e alcançar o que eu acho que faz a melhor televisão: contar uma longa
história sobre os personagens, pessoas cujas vidas você quer acompanhar por muito
tempo. Isso tudo somado a incontáveis momentos menores também, acompanhando
os grandes e evidentes fatos da trama.
É realmente um grande prazer apresentar algo de que me orgulho, algo que me
interessa e agrada. Enfim, algo que eu gostaria de ver. Se eu ficasse sabendo que
alguém estava produzindo um programa sobre zumbis, The Walking Dead seria exa-
tamente o programa que eu esperaria ver. Então, se sirvo de medida, se sou uma
indicação, acho que começamos muito bem.
E o melhor de tudo: os fãs parecem concordar com isso, o que me faz extrema-
mente feliz e grato.
Frank Darabont
fRaNK daRaBONt é escritor, diretor e produtor indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro
por Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre. Desenvolveu a série The Walking
Dead para o canal AMC e atua como produtor executivo, roteirista, diretor e showrunner.
Mora em Los Angeles, Califórnia.
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Estou escrevendo isto em um hotel em Atlanta, e acabaram de começar as gra-
vações da segunda temporada do programa de televisão The Walking Dead, para o
canal a cabo AMC. Recentemente, entreguei o texto do n° 88 de The Walking Dead,
uma série em quadrinhos da Image Comics/Skybound. A McFarlane Toys divulgou
há pouco tempo imagens de duas novas linhas de brinquedos, uma baseada no
programa e outra na série de quadrinhos. Acabei de saber que a coleção em formato
de livro dos números 79-84, com o título de The Walking Dead Volume 14: No Way
Out, vai integrar a Must List da Entertainment Weekly da semana que vem. Acabei de
ver parte da arte para o videogame The Walking Dead, da Tell Tale Games. Terminei
a primeira novela The Walking Dead, Rise of the Governor, com meu coautor, Jay
Bonansinga. Hoje de manhã vi o protótipo de uma lancheira. Aprovei uma nova cami-
seta. Há xícaras de café e dois jogos de tabuleiro em produção. E recentemente
recusei a proposta para um perfume Walking Dead... Tudo está ficando meio maluco.
Fala sério. Perfume.
Graças às boas pessoas da AMC e da Fox International, The Walking Dead é
um fenômeno mundial. O eufemismo da década, eu acho, é dizer que The Walking
Dead ficou maior que eu.
Mas não é isso que um criador quer, afinal? Criar alguma coisa, seja uma história
em quadrinhos, uma novela, um programa de televisão ou o que for, é, em muitos
aspectos, semelhante a ter um filho... E o objetivo final de um pai não é dar tudo
o que ele precisa para ganhar o mundo sozinho? O propósito de todo o processo
é vê-los deixar o ninho, sabendo que estão preparados para lidar com o mundo
exterior. Nesse sentido, você não cria alguma coisa só para você mesmo: quer que o
maior número possível de pessoas aprecie sua criação.
Então, por esse ângulo, é incrível que The Walking Dead tenha passado de
uma coisa minha, algo em que trabalhei incansavelmente com meus colaboradores
Charlie Adlard, Cliff Tathburn e Rus Wooton para levar às prateleiras das livrarias e
lojas de quadrinhos do mundo todo, a essa sensação global, apreciada por vários
milhões de pessoas que provavelmente eu nunca vou conhecer.
The Walking Dead deixou de ser meu bebê. Há um batalhão de redatores,
artistas, diretores, músicos, escultores, animadores, cenógrafos, figurinistas, edito-
res, produtores e atores envolvidos nas várias produções baseadas em minha ideia
original. Pode parecer meio enervante ou sobrepujante ver todas essas pessoas
diferentes trabalhando em algo que criei em um cômodo de casa quando tinha 23
inTroDuÇÃo
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anos, mas é espantoso pensar nas coisas crescendo e se transformando no que são.
Conforta-me saber que, de toda forma, pude escolher a dedo as diversas pessoas
envolvidas com The Walking Dead. Meu bebê está em boas mãos.
Tudo isso me leva a Frank Darabont. Talvez você tenha ouvido falar em Frank. Ele
é o roteirista e diretor de filmes clássicos como À Espera de um Milagre e Um Sonho
de Liberdade. Frank é um desses cineastas que fazem intervalos sem pressa entre
os filmes, escolhendo os projetos certos aos quais se dedicarem. Ele não tem um
portfólio muito extenso, mas é possível ver que põe coração e alma em cada projeto
que desenvolve. Quando Frank chegou, foi como um sopro de ar fresco.
A verdade é que Frank Darabont não foi o primeiro figurão de Hollywood a me
procurar com interesse nos direitos de The Walking Dead. Quando ele chegou, em
2005, eu recusava ofertas havia dois anos. Algumas foram feitas por nomes que você
reconheceria, mas não vou mencioná-los porque, na maioria dos casos, a ideia sobre
o que fazer com The Walking Dead era tenebrosa. Superzumbis, cachorro zumbi,
canibais heroicos... Em muitos casos, a impressão era de que as pessoas estavam
tentando provar o quanto não haviam conseguido “apreender” do material de origem.
E então Frank apareceu. É engraçado, mas quando meu empresário me disse
pela primeira vez que Frank queria falar comigo, pensei: “Isso é estranho, o cara de
Um Sonho gosta de zumbis?”. Eu não sabia que Frank havia começado a carreira
escrevendo filmes como A Bolha Assassina, A Mosca 2, e A Hora do Pesadelo 3
(que na verdade funcionam nessa ordem, como uma espécie de trilogia; você tem
que tentar assistir a todos no mesmo dia). E, mais tarde, eu descobriria que Frank é,
provavelmente, o maior fã de Bernie Wrightson em todo o planeta. Frank está enrai-
zado no gênero. Ele ama terror e ficção científica como ninguém mais.
Mas, mais importante: Frank havia lido The Walking Dead.
E, ainda mais importante: ele havia entendido.
Minha primeira conversa com Frank foi muito legal, devo dizer. Como escritor
de quadrinhos em Kentucky, eu não conversava com muitos diretores de cinema
importantes (com alguns, mas não muitos), e me lembro de ter ficado espantado com
como Frank foi simpático e agradável desde o início. Foi como se fôssemos velhos
amigos falando sobre filmes de zumbis. Não foi uma conversa longa, mas extraí dela
o que queria. Frank me disse exatamente o que eu desejava ouvir:
– Você é brilhante.
c ont inua
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Brincadeira. O que eu realmente queria ouvir era:
– Não é sobre zumbis.
Para mim, essa é a chave para The Walking Dead, a coisa mais simples e óbvia
sobre a obra, mas Frank foi realmente a primeira pessoa a morder a isca do lado certo
e, mais importante, a abraçá-la. The Walking Dead não é uma brincadeira de ação
zumbi com personagens intensamente sangrentos e superficiais, que servem apenas
como bucha de canhão – por mais que eu, pessoalmente, adore esse tipo de coisa.
The Walking Dead é uma novela. É um romance: um relato envolvente de sobrevi-
vência, contraposto à mais horrível tragédia mundial que alguém poderia imaginar,
quando os mortos retornam, devorando os vivos.
The Walking Dead é algo triste e trágico, uma história que coloca seus perso-
nagens no moedor e espera para ver o que vai sair do outro lado. E Frank entendeu
tudo isso. Ele viu The Walking Dead como eu via. Pela primeira vez me vi frente a
frente – ou melhor, voz a voz – com alguém que parecia se importar com The Walking
Dead tanto quanto eu. E pelos motivos certos.
Eu soube desde o início que nos entenderíamos, o que foi bom, porque não nos
conhecíamos há muito tempo quando chegou a hora de fazer acontecer esse pro-
grama de TV. Na verdade, gosto de ressaltar que Frank e eu nos debatemos com um
programa em construção até Gale Anne Hurd embarcar na equipe e trazer a AMC,
pondo tudo isso em movimento.
E, quando dei por mim, pessoas como Chic Eglee e Jack LoGiudice também
estavam na equipe para criar o programa. Greg Nicotero e o KNB Effect Group
foram convidados para criar os melhores zumbis que já se viu. Então Frank, Gale e o
pessoal na AMC reuniram nosso elenco lendário e a corrida começou.
Dali em diante era uma menção no TV Guide aqui, um truque internacional de
marketing envolvendo centenas de zumbis invadindo cidades no mundo todo ali, algu-
mas capas de revista e a espantosa cobertura na internet, tudo isso construindo uma
forte estreia e, me disseram, um sucesso indiscutível.
Agora os livros voam das prateleiras, eu escrevo para a série enquanto continuo
trabalhando nos quadrinhos, e minha vida mudou completamente. O que é fantástico,
considerando que já era ótima no início.
Então... Não sei realmente o que estou tentando dizer aqui, além de OBRIGADO.
Obrigado por comprar este livro, por gostar da série, dos quadrinhos ou seja do
que for. Obrigado por nos dar uma chance, fazendo dessa empreitada maluca um
sucesso. Obrigado por se vestir como zumbi às vezes, ou fazer uma tatuagem maluca
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de The Walking Dead, ou dar a seu filho o nome de Rick Grimes, e todas essas
coisas. É realmente incrível e lisonjeiro, e me faz tentar ainda mais continuar fazendo
os quadrinhos e a série tão bons quanto podem ser, porque você merece.
The Walking Dead agora pertence a vocês*.
(E se você está realmente muito ansioso para ter um perfume Walking Dead...
sinto muito.)
Robert Kirkman
* Mas eu continuo ganhando os direitos autorais, certo?
ROBERt KiRKMaN é autor best-seller do The New York Times e criador de The Walking
Dead e Invincible. Kirkman é sócio na Image Comics, onde fundou a marca Skybound, e
também é roteirista e produtor executivo da série The Walking Dead, da AMC. Mora em
Backwoods, Califórnia.
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12 tHE WalKiNg dEad: Os BastidOREs
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um
ConSTruÇÃo Do munDo em quaDrinhoSa criação de The Walking Dead
The Walking Dead foi não convencional desde sua cria-
ção, revelando uma profundidade nem sempre encontrada
nas páginas de quadrinhos. Ele tem sido considerado como
uma exploração do colapso da sociedade em um mundo
pós-apocalíptico; um estudo de personagem de um homem
levado ao limite para proteger sua família; e até uma críti-
ca à cultura de consumo, quando pessoas são forçadas a vi-
ver uma existência despojada, sem aparelhos de TV e iPads.
:
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14 tHE WalKiNg dEad: Os BastidOREs
O criador da série, Robert Kirkman, cen-
trou The Walking Dead em um conceito funda-
mental mais simples: é a história de zumbis que
nunca termina. “Sempre que você vê um filme de
zumbi, o fim do filme é o mesmo”, ele lamenta.
“Ou são os últimos sobreviventes caminhando
para o pôr-do-sol, ou todos morrem.”
Ele cita certa brusquidão normalmente
associada a essas histórias, nas quais uma
batalha final frequentemente eclode do nada,
forçando os sobreviventes a encontrarem um
dos dois destinos pré-determinados. E embora
tenha sido fã do gênero durante a maior parte de
sua vida, esse desfecho o deixava querendo mais.
“Nunca houve realmente uma história que conti-
nuasse depois que os personagens caminhassem
para o pôr-do-sol”, ele explica. “Nunca houve
uma narrativa continuada que permanecesse
no mundo e seguisse os personagens para sua
conclusão natural, tentando sobreviver durante
anos e anos nesse cenário [pós] apocalíptico.
Este seria definitivamente um livro que eu teria
gostado de ler, e por isso decidi escrevê-lo: por-
que ele não existia”.
O passo inicial para uma exploração prolon-
gada dos zumbis foi um projeto de ficção cien-
tífica chamado Dead Planet (Planeta Morto).
A história começa em uma colônia de minera-
ção em outro mundo onde existia um minério
com propriedades que podiam reanimar carne
humana. Esse minério eventualmente encon-
trou seu caminho para a Terra, precipitando
um futurista apocalipse zumbi. Com essa ideia
básica, Kirkman passou a trabalhar na realiza-
ção da visão. “Seria um livro divertido”, ele lem-
bra. “Tony Moore, que desenhou os primeiros
seis episódios de The Walking Dead, desenharia
esse livro... Trabalhamos juntos para desenhar
os personagens e tudo.”
Kirkman e Moore eram amigos desde a
infância, quando assistir a filmes de zumbi era o
passatempo favorito dos dois. Mais tarde, quando
Moore estava na escola de arte, Kirkman entrou
em contato com o amigo e sugeriu que eles traba-
lhassem juntos na ideia de um livro em quadri-
nhos. Isso se tornou o primeiro empreendimento
oficial conjunto dos dois: Battle Pope, uma
exploração satírica de um papa de vida austera
ACIMA: arte de capa, de tony Moore e Val staples, para Battle Pope n°1. Battle Pope, de Robert Kirkman e tony Moore, foi lançado em 2000 como primeiro título da pe-quena e incipiente editora de Kirkman, a funk-O-tron.
ANTERIOR: O n°1 de The Walking Dead, lançado em ou-tubro de 2003 com arte de capa de tony Moore.
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cONstRuçãO dO MuNdO EM quadRiNHOs 15
chamado para salvar o mundo dos demônios,
pedindo ajuda de Jesus Cristo para a batalha.
Battle Pope foi publicado pela editora inde-
pendente criada por Kirkman, a Funk-O-Tron.
Foram quatorze números dessa publicação e,
embora ela não tenha incendiado a indústria
cômica, ajudou Kirkman a entrar no mercado.
Ao longo dos três anos seguintes, ele escre-
veu um punhado de quadrinhos, incluindo
Tech Jacket, com o artista E. J. Su para a Image
Comics. O livro teve apenas seis números, mas
um personagem que Kirkman introduziu na
época se tornaria uma presença constante no
universo da Image Comics: Invincible, cujos
quadrinhos de mesmo nome foram lançados,
com o artista Cory Walker, no início de 2003.
Ao mesmo tempo em que desenvolvia
Invincible para a Image, Kirkman também tra-
balhava com Moore na preview de cinco páginas
de Dead Planet. Eles apresentaram o trabalho a
alguns editores de quadrinhos, inclusive da Image,
mas isso foi antes da febre zumbi na cultura pop e,
assim, a ideia não foi aceita de imediato. Kirkman
gostava realmente do conceito, mas descobriu que
não havia nada que pudessem fazer com ele.
“Agora fico feliz por isso ter acontecido”, diz
Kirkman. “Eu ainda queria fazer alguma coisa
com Tony Moore. Ainda queria fazer alguma
coisa que envolvesse zumbis. Por isso pus minha
cabeça para funcionar e tentei pensar em um
jeito de fazer aquele livro, mas tornando-o um
pouco mais atraente para os editores, talvez.”
Ele então matou o aspecto de ficção científica da
história e voltou ao conceito central: o filme de
zumbis que nunca termina.
Porém, essa edição ainda não foi a bala de
prata capaz de matar as dúvidas da indústria dos
quadrinhos sobre o poder comercial da série;
zumbis ainda eram um conceito que tinha que
ser provado. Mas havia alguma coisa no material
revisado que provocou um brilho de interesse
nos olhos da Image Comics, a editora com que
Kirkman mais trabalhava.
A Image Comics havia sido fundada no iní-
cio dos anos de 1990, criação de um grupo de
artistas da Marvel Comics que estavam cansados
de ceder os direitos do próprio trabalho a outras
pessoas. Esses escritores e artistas vislumbraram
um novo paradigma para o ramo, no qual os
criadores dos quadrinhos preservariam a pro-
priedade e os direitos autorais de seu trabalho. A
Imagem cresceu, transformou-se em uma com-
panhia com vários selos, cada um publicando
assuntos variados, adequados a seus diversos
criadores. Isso deu à companhia a chance de
incorporar novos escritores com ideias únicas,
que iam além dos tradicionais quadrinhos de
super-heróis. The Walking Dead, como seria
chamada depois, foi uma dessas ideias.
O atual publisher da Image Comics, Eric
Stephenson, era diretor de marketing da empresa
quando Kirkman apresentou sua série de qua-
drinhos. Stephenson reconheceu a centelha cria-
tiva no conceito, mas não foi uma compra fácil
para ele. “Não havia muito interesse em mate-
rial sobre zumbis naquela época. Quase não
compramos o livro, porque, naquele momento,
quadrinhos sobre o assunto não faziam muito
sucesso. Não era um negócio certo.”
O filme sobre zumbis de Danny Boyle,
Extermínio, havia estreado recentemente no
Reino Unido, e ainda estava meses distante da
ampla divulgação nos Estados Unidos. Foi um
ano antes da publicação do livro de paródia
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16 tHE WalKiNg dEad: Os BastidOREs
de Max Brooks, o Guia de sobrevivência aos
zumbis: proteção total contra os mortos-vivos.
Zumbis estavam muito longe de ser algo certo
para qualquer editor, mas havia interesse na série
e em ver o que Kirkman poderia fazer com um
conto de zumbis que nunca terminava. Mas, se a
Image ia assumir um compromisso com o pro-
jeto, algumas mudanças teriam que ser feitas. As
cinco páginas da preview que Kirkman e Moore
haviam criado pareciam clichês demais para
Stephenson. O comentário dele levou à agora
familiar abertura na qual o ajudante de xerife
Rick Grimes acorda de um coma. No entanto,
ainda faltava alguma coisa.
“A reação inicial a The Walking Dead era
que ali não havia um gancho”, Kirkman explica.
“Era só uma história de zumbis comum, sem nada
de realmente único.” Naquela altura, ele estava
determinado a criar uma saga zumbi direta, sem
rodeios. De fato, a ideia evoluiu para um conceito
completamente despojado, explorando mais um
drama humano do que zumbis. Mas Kirkman
sabia que qualquer hesitação poderia matar a ideia,
e por isso fez o que qualquer escritor faria diante
do interesse hesitante de um editor. Ele mentiu.
Kirkman examinou novamente a prova de seu
original de Dead Planet e se animou com a ideia
de oferecer um gancho para a nova série sem rela-
cionar tudo ao aspecto de ficção científica. “Eu
disse que toda a história dependia de uma revela-
ção posterior sobre alienígenas terem causado os
zumbis, e que isso era parte de um imenso ataque
alienígena. Eles enfraqueceriam a infraestrutura
do governo trazendo os mortos de volta à vida, e
depois apareceriam e dominariam o planeta.”
A Image comprou a ideia, sem saber que
Kirkman não tinha nenhuma intenção de colo-
cá-la em prática. Sua esperança era de que eles se
encantassem de tal forma com a oferta original
que não se importariam com a mentira. O terrível
telefonema de Eric Stephenson aconteceu depois
da chegada do primeiro número dos quadrinhos.
Stephenson não conseguia ver nenhuma alusão ao
envolvimento de alienígenas na linha da história
e perguntou se era ele quem não via as dicas, ou
se elas seriam incluídas nos próximos números.
Era hora de Kirkman dizer a verdade, admitindo
ACIMA: uma página revisada da prova dos quadrinhos, com arte de Moore, na qual Rick tem seu primeiro en-contro com o morto andante do título.
OPOSTO: Entrando diretamente na história, Rick acor-da para uma nova ordem mundial na segunda página do n° 1, sozinho em um hospital e ainda sem ter conheci-mento dos perigos fora de seu quarto.
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LanÇanDo os quaDrinhos
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ANTERIOR ACIMA: a proposta de Kirkman da série em quadrinhos The Walking Dead propõe uma trama ligeira-mente diferente da obra final, ambientada na Pensilvâ-nia e com a esposa de Rick chamada carol, mas ainda guarda o tom e o conceito central da série.
ANTERIOR, ABAIXO: enredo manuscrito de Robert Kirkman para o nº 1 de The Walking Dead, com a quebra página a página dos quadrinhos.
a proposta de the Walking dead
HistóriaRick Grimes é policial de uma pequena cidade do estado da Pensilvânia. Ele vive com a esposa, Carol, e o filho Carl em uma bela casa na área rural. Rick não tem uma vida muito agi-tada. Exceto pelo treinamento de tiro ao alvo, nunca disparou sua arma, e não é, de jeito nenhum, um herói. Quando surge a notícia de que mortos-vivos vagam pela área rural cometendo assassinatos em massa e comendo suas vítimas, Rick tem que encarar o desafio de proteger sua família da loucura à sua volta.
O livro é sobre um homem que vai fazer de tudo para garantir que a família fique segura. Quando residências particulares são decretadas inseguras, Rick leva a família para a estrada em busca de comida, abrigo e alguma coisa que seja pareci-da, pelo menos, com estabilidade. Seguimos a família Grimes enquanto ela tenta encontrar um jeito de voltar à vida normal que um dia conheceu. O primeiro arco da história vai detalhar sua caminhada pelo estado e como se instalam em uma antiga escola abandonada. Esse colégio transforma-se rapidamente em uma fortaleza bem defendida, enquanto a vida na América se aproxima muito dos tempos medievais. Assim que uma base de operações é estabelecida, Rick passa a liderar um exército numa cruzada para expandir a zona de segurança, e eventual-mente recuperar o planeta... ou pelo menos tentar.
formatoThe Walking Dead será em preto e branco, como os melhores filmes de horror, até as capas podem ser em preto e branco, de fato, reduzindo assim ao mínimo os custos de impressão. A arte será inteiramente em tons de cinza. Cada número terá um número padrão de 22 páginas. No fim de cada ano (se as vendas permitirem) uma edição reunindo os 12 números do ano anterior será lançada no mesmo mês do primeiro número do ano seguinte, garantindo um ponto de retomada perfeito a cada ano (volume 1 à venda no mesmo mês do n° 13 etc).
Contato
Robert Kirkman
tHE WalKiNg dEad #1
1) Flash Back Rick leva um tiro.
2) Acorda no hospital, remove tubos, se veste.
3) Procura hospital.
4) Cadáver Pinos.
5) “Jesus... Que diabo aconteceu aqui?”
6)
7) Epidemia? Abrigo, tranca de zumbi aberta.
8) Fugindo, tropeçando, cambaleando, cai na escada.
9) Desce para garagem. Painel WIOE no térreo.
10) Examina carros... começa a andar.
11) Vê criança na estrada, vai pegar bicicleta.
12) Criança começa a se mover. Vira horrorizado... foge na bi-cicleta
13) Chega em casa. Ninguém lá, olha em volta, vai à garagem.
14) Vai ao quintal, leva pancada na cabeça.
15) Homem negro e criança. “Oh, merda”.
16) Levam-no para a casa.
17) Rick acorda, longa conversa.
18) Mais conversa. “Então, você é um policial?”; “Qual foi sua primeira pista?”
19) Risadas. Rick mostra chaves. “Quer ir às compras?”
20) Chega delegacia. Olha mesas.
21) Na sala de armas pegando armas.
22) Saindo com carros. Dizendo adeus.
23) Partindo... Para carro, desce.
24) Painel superior criança zumbi de novo. Atira, grita, vai em-bora.
“Então, achei que você fosse um policial.”
“Dizem que nossa geração teve tudo fácil.”
Tinha que haver uma retribuição...
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20 THE WALKING DEAD: OS BASTIDORES
A Noite dos Mortos-Vivos”, Kirkman explica, “e
também de economizar um pouco de dinheiro na
impressão. Imaginei que, se as vendas caíssem, eu
queria contar o máximo possível da história antes
de encerrarem minha série, e poderíamos ir um
pouco mais longe se a impressão fosse mais barata.”
Hoje, a produção de quadrinhos coloridos não é
proibitivamente mais cara que outros em preto e
branco, mas Kirkman ainda acredita que a arte
escolhida permite a seus quadrinhos vendas muito
mais altas. Ela também tem outros benefícios.
que não considerava necessário seguir por esse
caminho – e, felizmente, Stephenson concordou.
A evolução no quadrinho ainda não estava
completa. O título de trabalho da prova não era
o mesmo com que a obra seria lançada. Quando
Kirkman desistiu do plano com Dead Planet,
ele precisava encontrar um título que se enqua-
drasse na nova história. Queria alguma coisa
que focasse sua principal influência: A Noite dos
Mortos-Vivos, o filme de George Romero de 1968
que reinventou o gênero de terror e apresentou a
moderna ideia de zumbis. Como quis o destino,
o distribuidor original daquele filme deixou de
incluir uma nota de direitos autorais nas cópias,
o que é requisito para um título ter direitos
autorais nos Estados Unidos. Como resultado,
A Noite dos Mortos-Vivos entrou no domínio
público. E era esse o nome que Kirkman queria
dar a seu novo épico sobre zumbis.
Mais uma vez, executivos na Image Comics
interferiram com sábios conselhos. Embora
houvesse a importância do nome, certamente
ele limitaria o que poderia ser feito além dos
quadrinhos. Quem se interessasse pelos direi-
tos da história para o cinema ou televisão teria
que mudar o título pare evitar confusão com o
original. Como a história não tinha nenhuma
conexão com o filme, era melhor escolher um
novo título. E assim nasceu The Walking Dead.
Embora a história de Kirkman fosse única,
havia alguns elos com o filme que ele considerava
sua inspiração, elos que iam além de trechos de
diálogo do filme que ele usara na prova revisada.
A decisão de desenhar a arte interna em preto e
branco, por exemplo, foi uma escolha artística,
além de financeira. “Pensamos que seria um jeito
de homenagear o trabalho de George Romero em
ACIMA: Como se percebe no trabalho de Moore no n°2 da série, página 13, a morbidez inerente à batalha zumbi é um pouco atenuada pelo fato de os quadrinhos serem em preto e branco, mas a violência ainda é evidente.
OPOSTA: The Walking Dead n° 2 foi publicado em no-vembro de 2003 com capa de Moore.
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