THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING...

10
THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY ANTÓNIO DOS SANTOS PEREIRA THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY A INDÚSTRIA TÊXTIL PORTUGUESA ANTÓNIO DOS SANTOS PEREIRA

Transcript of THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING...

Page 1: THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRY ASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION Charting the

THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY

ANTÓNIO DOS SANTOS PEREIRA

TH

E P

OR

TU

GU

ESE

TE

XT

ILE IN

DU

STR

YA

IND

ÚST

RIA

XT

IL P

OR

TU

GU

ESA

AN

NIO

DO

S SAN

TO

S PE

RE

IRA

Page 2: THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRY ASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION Charting the

Introdução

A história da produção têxtil portuguesa

O MUNDO DE PARTILHAS TÊXTEISO PROGRESSO TÊXTIL PORTUGUÊS: ALGUNS DOS SEUS AGENTES

A DEMONSTRAÇÃO DE UM PAÍS INDUSTRIALIZADOO ASSOCIATIVISMO, A IMPRENSA E A GLOBALIZAÇÃO

A geografia da indústria: matérias-primas, técnicas e produtos têxteis

AS MATÉRIAS-PRIMASO ALGODÃO

A LÃO LINHO

A SEDA E O FIO DE OUROAS FIBRAS MISTAS NATURAIS

AS OUTRAS FIBRAS NATURAISAS FIBRAS ARTIFICIAIS, AS FIBRAS SINTÉTICAS E OS NOVOS TÊXTEIS ORGÂNICOS

O TINGIMENTOOS MORDENTES, OS PIGMENTOS E AS TÉCNICAS

OS PRODUTOSOS TECIDOS E AS TÉCNICAS

As inovações, os empreendedores

e os têxteis do futuroAS TRANSFERÊNCIAS TÉCNICAS

OS TÊXTEIS DO FUTUROCONCLUSÃO

Quadros

Notas

Fontes

Cronologia

ÍNDICE

Introduction

The history of the Portuguese textile productionTHE WORLD OF TEXTILE EXCHANGESTHE PORTUGUESE TEXTILE PROGRESS: SOME PLAYERSSHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRYASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION

Charting the textile industry: raw materials, techniques and textile productsRAW MATERIALSCOTTONWOOLFLAX / LINENSILK AND GOLD THREADMIXED NATURAL FIBRESOTHER NATURAL FIBRESARTIFICIAL FIBRES, SYNTHETIC FIBRES AND NEW ORGANIC TEXTILES

DYEINGMORDANTS, PIGMENTS AND TECHNIQUES

PRODUCTSFABRICS AND TECHNIQUES

Innovations, entrepreneurs and future textilesTECHNICAL TRANSFERSFUTURE TEXTILESCONCLUSION

Tables

Notes

References

Chronology

CONTENTS

11

29

30 / 31

38 / 39

54 / 55

66 / 67

77

78 / 79

90 / 89

100 / 101

112 / 113

120 / 121

132 / 133

134 / 133

136 / 137

138 / 139

138 / 139

148 / 149

148 / 149

167

168 / 169

176 / 177

180 / 181

182

196

200

203

Page 3: THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRY ASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION Charting the

THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY 21A INDÚSTRIA TÊXTIL PORTUGUESA20

Manteigas, through the Ecolã and Burel Factory projects, besides others in which municipali-

ties and archaeologists are involved.

This essay also focuses on all levels of the historical dimension and all the spheres of the

textile industry, i.e., the socioeconomic, institutional, civilisation and cultural spheres. The first

level focuses on (more or less qualified) supply and demand; the second on state intervention;

and the third and the fourth levels on transformation. The latter will refer to the need for regu-

lation, due to the industrialists’ inability to create an association movement in order to prevent

dumping and the over-exploitation of workers as well as promote the modernisation of pro-

duction processes and improve the living conditions of all those who took part in the process.

In this regard, it will also cover the development of social assistance to textile workers, the

evolution of housing-related concerns and cultural promotion theory and practice for all those

involved in the production processes.

In the world of textiles, humans

are obviously not only the recipients of

products, but also manufacturers, arti-

sans, artists, industrialists, merchants and

politicians. There is dignity and a deep

respect for human labour in all of them

alike. The textile industry is many-fold:

as it is the subject of this essay, it must be

said that its history is part of the human

saga and can be better understood be-

cause it is illustrated through the imagi-

nation of the latter. The human body was

arguably the first – and the most natural

– loom and is still the favourite showcase

for the beauty of fabric translated into

garments. Despite its demythologising

nature, the Book of Genesis explains how

Eve and Adam wove fig leaves to cover

their nudity. The textile industry has ben-

efited from the arts: rather than merely

responding to the immediate needs of

humans, it has always been configured by

them, as it is configured by science these

days.

Covilhã, em grande escala, através da Universidade da Beira Interior, e em Manteigas, através dos

projetos Ecolã e Burel Factory, além de outros que vamos descobrindo e em que os municípios e a

arqueologia têm muito a dizer e a fazer.

Adiante, consideraremos todos os níveis da dimensão histórica e todas as esferas da indús-

tria têxtil: a socioeconómica, a institucional, a civilizacional e a cultural. No primeiro nível, per-

ceberemos a procura e a oferta, mais ou menos qualificadas; no segundo, a intervenção estatal;

e, no terceiro e no quarto, a esfera da transformação. No que concerne a esta, não poderemos

deixar de considerar a necessidade da regulação, dada a incapacidade manifestada pelos diferen-

tes industriais para criar um movimento associativo capaz de impedir as práticas de dumping ou

a sobre-exploração dos trabalhadores e de promover a modernização produtiva e a melhoria das

condições de vida de todos os participantes no processo. Quanto a este aspeto, observaremos

Esquisso de Amadeo de Souza-Cardoso para a Fiandeira.Sketch of Amadeo de Souza-Cardoso for Fiandeira.Tinta estilográfica/Fountain pen.c. 1912.Foto/Photo: Paulo Costa. Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna.

Tear e Roda em Minde.Loom and Spinning Wheel in Minde.

Aguarela de/Watercolor by Raquel Roque Gameiro.

Museu de Aguarela Roque Gameiro, Minde.Foto/Photo: Museu da Aguarela Roque Gameiro.

Page 4: THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRY ASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION Charting the

THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY 55A INDÚSTRIA TÊXTIL PORTUGUESA54

SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRYIn the course of the early decades of the nineteenth century, the progressive loss of Brazil and the

mismatch between the colonial mercantile doctrine and a new reality meant that the country was

forced to make the most of its wealth by transforming those resources that were closer to produc-

tion centres. The 1840s proved it had been the right decision. Portugal was proudly showcased in

London in 1851.

The preparation for the Great Exhibition of the Works of Industry of All Nations, commonly

known as The Great Exhibition, which took place in London in 1851 showed that nearly all the re-

sources needed for Portuguese textiles were available from the country’s metropolitan or overseas

territories, which gave it a competitive edge. The Portuguese raw materials on display included the

American agave plant as well as the common hemp, wool and silk. Despite the quality of some

of the products, the need to import wool and linen fabrics was still mentioned. Nonetheless, the

editor of Revista Universal Lisbonense, who had been named by the Portuguese government as its

representative in the event, highlighted all the exaggerations and lies that were told about the Portu-

guese industry in an article on the matter published in the newspaper Morning Chronicle29. In order

to make matters straight, he developed an extensive catalogue that enables us to learn virtually

everything about the country’s textile and clothing industry at the time. Besides textile fibres, the

materials used for dyeing the fabrics on display by the Portuguese were also listed in the catalogue.

Francisco Cardoso Mendes Leal (1798-1867) showcased several acids to the effect at the Great

está bem documentado o trânsito atlântico e mediterrânico de tecidos,

ligando os portos portugueses, em particular, aos dos Norte de Itália e

dos Países Baixos, os espaços mais prósperos dos séculos medievais.

Nos nossos dias, é extensa a reserva de amostras têxteis de lã no Museu

de Lanifícios, na Covilhã, e são preciosas as amostras de seda existentes

no Arquivo Histórico Parlamentar e, sobretudo, no Arquivo do Tribunal

de Contas em Lisboa, de que damos exemplo.

Notámos que a industrialização portuguesa no seu conjunto, afinal

como a da maioria dos países, deve muito aos têxteis. Estes receberam

estímulos decisivos do poder central ao longo dos séculos xvii e xviii, pela

ação de D. Luís de Meneses, 3.º conde da Ericeira, e de Sebastião José de

Carvalho e Melo, primeiro conde de Oeiras e marquês de Pombal, e ainda

pela ação da Junta do Comércio.

O espelho do país nos primórdios do liberalismo, ainda feito por

homens do tempo, reflete espaços de considerável industrialização

têxtil e, em geral, um Portugal preenchido a cada passo por teares

antigos de burel e de linho.

As fiações e as tecelagens de algodão e os tecidos estampados já

tinham feito a sua entrada havia muito tempo. Fiava-se algodão em Tomar,

tecia-se em Lisboa, Porto, Torres Novas e Azeitão. Laboravam-se os teci-

dos de seda em Bragança, Chacim, Porto e Lisboa. As saragoças atingiam

qualidade em Portalegre, Fundão, Covilhã, Jarmelo e Manteigas e em ou-

tras povoações da serra. Faziam-se tecidos delicados de piteira no Algarve e produzia-se linha fina

em Guimarães. Exportavam-se matérias-primas e vários produtos têxteis e tintoriais, entre os quais

linhas e panos de linho, chapéus e meias28.

A DEMONSTRAÇÃO DE UM PAÍS INDUSTRIALIZADONo correr das primeiras décadas de Oitocentos, pela perda progressiva do Brasil e pelo desajusta-

mento da doutrina mercantil colonial às novas realidades, o país viu-se obrigado a perfazer o essen-

cial da sua riqueza mediante a transformação de recursos mais próximos dos aparelhos produtivos.

A década de 40 demonstrará que a opção era a mais certa. Portugal mostrou-se sem razões para

vergonha em Londres, em 1851.

Na preparação da Great Exhibition of the Works of Industry of All Nations, vulgarmente conhe-

cida como «Exposição Universal de Londres», em 1851, notou-se que os têxteis portugueses podiam

encontrar nos seus territórios metropolitanos ou ultramarinos quase todos os recursos e, portanto,

Tear de burel produz pano para ir ao pisão.A burel loom producing cloth to be fulled.Museu da Terra de Miranda, Miranda do Douro.Foto/Photo: Carlos Monteiro/Direção-Geral do Património Cultural/Arquivo de Documentação Fotográfica.

Grande Exposição em Londres, 1851: o Palácio de Cristal.

The Great Exhibition, London, 1851: Crystal Palace.

Dickinson’s Comprehensive Pictures of the Great Exhibition of 1851,

from the originals painted […]. by Messrs. Nash, Haghe and Roberts,

London: Dickinson, Brothers, Her Majesty’s Publishers,1854.

Foto/Photo: Hulton Archive/Getty Images.

Page 5: THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRY ASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION Charting the

THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY 83A INDÚSTRIA TÊXTIL PORTUGUESA82

que, por seu turno, perdiam o ancestral bucolismo,

já notado acima e representado adiante.

Algumas das áreas que tinham ganho dimen-

são na fileira têxtil, ainda que na expressão de ati-

vidade familiar, arrancam industrialmente no ramo

algodoeiro, com estabelecimentos industriais de

considerável dimensão, em Viana, em Guimarães e

no vale do Ave em geral. O vale do Ave só pode ser

comparado em tal dimensão ao espaço da Covilhã

e da orla serrana, embora este seja reputado sobre-

tudo na mais antiga transformação da lã. Além da

tradição familiar linheira anterior, tanto num como

noutro espaço a força motriz das rodas de água

ainda era planeada e utilizada no século xx94.

A utilização da energia elétrica facilitará a instalação de unidades de fiação e tecelagem do

algodão nos aglomerados minhotos, principalmente no vale do Ave, como veremos, com utilização

crescente de mão-de-obra feminina ainda antes de meados do século xx, tornando a região o atual

centro têxtil português.

No que concerne ao enquadramento urbano, no caso lisboeta, notámos acima o levantamen-

to de estabelecimentos nos subúrbios de Lisboa, desde Alcântara, passando pelo Campo Grande,

até Xabregas e Chelas, com particular dimensão. Na estrada de Chelas, estabeleciam-se as fábricas

de José Pedro Mattos e de José Lourenço Medley em 189695. Na mesma data, em Xabregas, labo-

ravam a Fábrica das Varandas e a Fábrica de Fiação do Black96. Na Amadora, a Fábrica Santos e

Mattos produzia espartilhos, ocupando uma mão-de-obra feminina imensa.

Em Alcântara, foram utilizadas as antigas taracenas como estruturas de apoio em complexos

que se adequavam aos novos tempos. Onde antes havia cereais importados, havia agora lã portugue-

sa e estrangeira, algodão vindo de fora e linho e estopa nacionais para as fábricas laborarem. Delas, a

mais importante era a de Bernardo Daupiás, fundada em 1847, capaz de transformar por ano seis mil

arrobas de lã, quatro mil arráteis de fio de linho e estopa e outro tanto de algodão. As matérias-primas

da tinturaria eram cada vez mais variadas, tendo sido expostas em Londres em 1851, e atingiam quan-

tidades verdadeiramente ditas industriais97. Muito próximo do centro da cidade, notamos a Fábrica de

Lanifícios de Arroios98. Em Xabregas, laborava a Fábrica de Fiação e Tecidos Oriental, conhecida como

«Fábrica das Varandas» acima referida, tal como a Fábrica do Black. Em Alhandra, um pouco mais

longe de Lisboa, situavam-se outras fábricas. Na margem sul, notamos a antiga Fábrica de Olho de Boi.

O futebol acompanhava ao tempo a indústria.

Apesar das implantações nos subúrbios orientais, o caso mais notável de industrialização

wool transformation, an older activity. In addition to the long-standing

linen family business, the driving force of water wheels was still being

planned and used in the twentieth century94.

The use of electrical power facilitated the establishment of

spinning and weaving mills in town and cities in the Minho region

in northern Portugal, mainly in the River Ave valley (of which more

later), with an ever-growing number of women workers from before

the mid-nineteenth century onwards. As a result, the region became

the country’s textile hub.

As far as urban areas are concerned, in the case of Lisbon,

large mils were established in what were then the suburbs, from Alcân-

tara to Campo Grande to Xabregas and Chelas. Textile mills belong-

ing to José Pedro Mattos and José Lourenço Medley were established

in Estrada de Chelas in 189695. Fábrica Varandas and Fábrica de Fiação de Black were open for

business in Xabregas in the same year96. In Amadora, Fábrica Santos e Mattos, a corset factory,

had a huge female workforce.

In Alcântara, the old storehouses saw a new lease of life: where imported cereals were once

stored, wool from home and abroad, imported cotton and Portuguese linen and tow now awaited

Aproveitamento decorativo de uma antiga roda de água de fábrica de lanifícios em complexo turístico da Fundação Inatel em Manteigas. An old water wheel from a wool mill used as decoration in the Fundação Inatel resort in Manteigas.Foto/Photo: Miguel Serra/Câmara Municipal de Manteigas.

A indústria têxtil algodoeira em 1920-1930. The cotton textile industry in 1920-1930. Muralha – Associação de Guimarães para a Defesa do Património.Foto/Photo: Domingos Alves Machado/Coleção de Fotografia da Muralha.

Fábrica de Espartilhos Santos Mattos & C.ª,

inaugurada em 1902 e demolida em 1970.

inaugurated in 1902 and demolished in 1970.

Illustração Portugueza, 2.ª série, 08/05/1911, p. 603.

Câmara Municipal de Lisboa/Hemeroteca Municipal de Lisboa.

Page 6: THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRY ASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION Charting the

THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY 139138 A INDÚSTRIA TÊXTIL PORTUGUESA

DYEING

MORDANTS, PIGMENTS AND TECHNIQUESDyeing fabrics, or the fibres and threads they are made of, is no easy task. The essential raw ma-

terials are mordants and pigments. The former include alum, of mineral origin, and tannin, of

vegetable origin. Many different pigments from several origins have been used throughout the ages.

As far as production is concerned, mordants and pigments were grinded using stone or wood pes-

tles in the ancient world, then boiled in copper or iron cauldrons and filtered through sieves and

cloths. This involved large quantities of water. Obviously, wood was required for hot dyeing, as are

other energy sources in the present. Syntheses of these subjects have involved both historians and

scientists, especially to in the field of Chemistry202. Its importance in Portugal

throughout history is worth highlighting.

Hot and cold dyeing has been known in the West for ages. According to a

letter from Osbern on the occasion of the conquest of Lisbon from the Moors

in 1147, there was a dye plant on the Island of Flamia on the Galician coast in

present-day Spain which produced a pigment that was used for hot dyeing203.

In the early decades of the fifteenth century, luxury cloths (dyed and undyed) used

to arrive in Porto, and paid taxes as they entered the city. Regimento do Armazém

Régio da Cidade, the city’s royal warehouse regulations dated 1410, mentions

pano de grã, i.e., cloth dyed using cochineal, which was picked in holm oaks and

whose pigment was used to make red204. Museu de Lanifícios has archaeological

evidence of the several dyeing processes, particularly regarding hot and cold

immersion of cloths and skeins of wool in vats and tanks.

Old dyeing practices were analysed by scholars from Academia das Ciências

de Lisboa in their memoirs. This was the case of Domingos Vandelli, who wrote

Sobre as Produções Naturaes do Reino, e das Suas Conquistas, Primeiras Matérias de

Diferentes Fabricas ou Manufacturas [On the Natural Productions of the Kingdom &

O TINGIMENTO

OS MORDENTES, OS PIGMENTOS E AS TÉCNICASNão deixa de ser complexo o aparelho produtivo para o tingimento dos tecidos, ou das fibras e

fios que os compõem. As matérias-primas essenciais são os mordentes e os pigmentos. Daqueles,

notámos em particular o alúmen, de origem mineral, e o tanino, de origem vegetal. Os pigmentos

são muito diversos e de vária origem ao longo dos tempos. No que concerne ao aparelho produ-

tivo, no mundo antigo o pilão de pedra ou de madeira era

essencial para triturar tanto os mordentes como os pigmen-

tos. Depois, eram necessários caldeirões de cozimento de

cobre ou de ferro, peneiras e panos para filtragem e, sempre,

água em abundância. No tingimento a quente, obviamente

era necessária lenha, e atualmente outras fontes de energia.

As sínteses sobre estas matérias têm implicado historiado-

res e cientistas, em particular da área da química202. A nós,

importa-nos deixar manifesta a sua expressão histórica no

espaço português no maior realce.

O tingimento a quente e a frio é conhecido cedo

no mundo ocidental. De acordo com a carta redigida por

Osberno, por ocasião da conquista de Lisboa, em 1147, havia

uma planta tintureira, no litoral galego, na ilha Flamia, que

produzia um pigmento para tingir a quente203. Sabemos que

nas primeiras décadas do século xv chegavam à cidade do

Porto panos luxuosos, pelo tecido ou pelo tingimento, que

não eram isentos de taxas fiscais na entrada. O Regimento

do Armazém Régio da Cidade, de 1410, cita o pano de grã,

portanto tingido com cochonilha, que era apanhada em

Barca de sarilho em madeira, para lavar, ferver ou tingir tecidos, fabricada em Portugal, em 1870. Funcionou na fábrica da Sociedade Industrial Perez Ferreira e C.ª Ld.ª, em Alcântara, Lisboa.A wooden bushel for washing, boiling or dyeing cloth, made in Portugal in 1870, which operated in the Sociedade Industrial Perez Ferreira e C.ª Ld.ª mill in Alcântara, Lisbon.Museu Nacional do Traje, Lisboa. Foto/Photo: Carlos Monteiro/Direção-Geral do Património Cultural/Arquivo de Documentação Fotográfica.

Tinturaria da Real Fábrica de Panos da Covilhã.The Dye Shop at Real Fábrica de Panos, the Royal Wool Mill in Covilhã.Museu de Lanifícios, Covilhã.Foto/Photo: Museu de Lanifícios.

Page 7: THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRY ASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION Charting the

THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY 163A INDÚSTRIA TÊXTIL PORTUGUESA162

old engravings in a romantic bourgeois setting can be observed in Museu Nacional de Soares dos

Reis, Porto. The museum features a piece by Rosina Adelaide Aguiar Martins dated 1869 depicted

above as an example of the golden metallic thread. The traditional cotton thread embroidery on

linen fabric process used in the Azores may be simple, yet holds a rare beauty, as does the wool

thread embroidery on cotton which is more common in the Alentejo region, especially in Nisa.

Silk thread embroidery on fine cambric linen is an exquisitely delicate long-standing tradition.

It is still produced in some parts of the country and is represented in museum collections. Countless

such pieces have been produced in towns and cities in the Minho region, some of which are on

display in Museu dos Biscainhos in Braga, for instance.

Obviously, most embroidery – both at home and in an industrial setting – uses wool or synthetic

fibre yarn, given their more affordable price. Early advertising reached everywhere, in the form of

samples that were mostly full of warm colours. Cotton thread has been around for over two centuries,

bordado a fio de algodão sobre tecido de linho, utilizado nos Açores,

ou a fio de lã sobre o algodão, mais comum no Alentejo, parti-

cularmente em Nisa.

Os bordados com fio de seda em linho fino de cam-

braia são de uma delicadeza extraordinária, têm uma longa

tradição e continuam a realizar-se em algumas partes do

país, constando nos nossos museus. As cidades linheiras do

Minho têm produzido quantidades incontáveis de peças

com tais materiais, que podemos admirar por exemplo no

Museu dos Biscainhos, em Braga.

Obviamente a maioria dos bordados, tanto no

meio industrial como na dimensão do lar, é realizada

com fio de lã ou fibra sintética, dado o preço mais

acessível desta. Os meios publicitários antigos atin-

giam todos os espaços através de amostras onde pre-

dominam as cores mais quentes. Todavia, o mundo

dos lavores femininos dispõe há mais de dois sécu-

los de linhas de algodão de empresas especializa-

das, como a Coats & Clark, presente em Portugal

desde 1905, com algumas marcas que têm feito his-

tória neste âmbito, como a Ancora.

Não podemos deixar de citar aqui a excelência

atingida em Castelo Branco na produção das colchas

que levam o nome da cidade a todo o mundo, peças

presentes em vários museus e que o Museu Francisco

Tavares Proença Júnior guarda e expõe mais constante-

mente. O linho acolchoado, a seda da decoração, a perfei-

ção do ponto e a riqueza da simbologia fazem destas colchas

a mais rica expressão têxtil do interior português. Todavia, o acolchoamento remonta a períodos

mais remotos, e nós demo-nos conta de tal tradição já no século xv, com tecidos vindos de

fora e entrados na Alfândega do Porto234. Ao tempo, os grandes da terra vestiam as ditas «opas

empenadas», o que quer dizer que vestiam tecidos almofadados com penas, que chegavam do

norte da Europa, particularmente da Flandres, costume que já encontramos documentado no

casamento de D. Duarte com D. Leonor de Aragão, em 1428, que vestiu uma destas peças

demasiado pesadas235.

Nos meios insulares, os bordados demonstram uma tradição de qualidade, beleza e bom

Antepassada das colchas de Castelo Branco, século XVIII, com rosas e cravos,

a feminilidade e a masculinidade, simbolizadas.

An 18th-century ancestor of Castelo Branco quilts, with roses and

carnations, symbolising femininity and masculinity.

Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra.

Foto/Photo: José Pessoa/Direção-Geral do Património Cultural/Arquivo de

Documentação Fotográfica.

O bordado e as rendas de Nisa, alinhavados de Nisa. Embroideries and laces from Nisa: tacked embroideries and laces from Nisa. Foto/Photo: Câmara Municipal de Nisa.

Lenço de mão de senhora, em linho bordado a seda, de finais do século XIX.

A lady’s handkerchief, silk-embroidered linen, late 19th century.

Museu dos Biscainhos, Braga.Foto/Photo: Rui Braga/Museu dos Biscainhos.

Amostras de lãs da Companhia de Lanifícios de Arrentela (século XX). Wool samples from Companhia de

Lanifícios de Arrentela (20th century).Museu de Alberto Sampaio, Guimarães.

Foto/Photo: Museu de Alberto Sampaio.

Page 8: THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRY ASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION Charting the

As inovações, os empreendedores e os têxteis do futuro

Innovations, entrepreneurs and future textiles

Page 9: THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRY ASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION Charting the

THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY 175A INDÚSTRIA TÊXTIL PORTUGUESA174

CalenderingThe use of calenders to glaze fabrics

dates back to the late eighteenth century.

In the following century, this operation was

done mechanically using hydraulic presses

such as the one advertised in Gazeta das

Fábricas in 1865.

The mechanical loomAs it has already been mentioned,

the mechanical loom was invented by Jo-

seph Marie Jacquard in Lyon in 1804 and

was successively improved. The French

manufacturers Claude Ronze and Antoine

Baudier are said to have introduced it in

Portugal in 1827. Five years later, four such

looms were being used in Real Fábrica das

Sedas, the Royal Silk Mill246.

The tape loom made by Empresa

Industrial Portuguesa for a “Mr Moraes”

is worth noting. It was showcased at the

Exposition Universelle de Paris in 1889

and featured in L’Industrie Textile maga-

zine. The shuttles were guided by a rul-

er and could reach three hundred to four

hundred strokes per minute. The loom

was also highlighted by O Occidente mag-

azine247.

The automatic mechanical loom

appeared in 1895 and was advertised in

Portugal as early as the following year.

Known as the “Northrop Loom”, it at-

tained a surprisingly high patronage.

The flying shuttle was automatically fed

by a series of bobbins. A serious crisis

in the working circles broke out in the

A máquina a vaporNa Grande Exposição em Londres de 1851, em que Portugal participou e mostrou o dina-

mismo do setor, não faltava nenhuma das formas de energia utilizadas ao tempo. O vapor estava

presente, naturalmente, mas demonstrava-se a vantagem comparativa da energia simples da roda

hidráulica, que continuará por muito tempo. Notamos que as fábricas junto do rio Vizela e seus

afluentes, tal como na Covilhã, junto às ribeiras que descem da serra, ainda recorriam a essa forma

de energia em 1921, um século depois da entrada do vapor na indústria portuguesa245. Todavia,

deve realçar-se o excelente equipamento da Fábrica de Fiação e Tecidos ali instalada, de acordo

com a publicidade que deixava inserta na Exposição Colonial realizada no Porto em 1934.

A calandragemA utilização de calandras para dar lustro aos tecidos é um facto no final do século xviii.

No século seguinte, tal operação é feita de forma mecânica por prensa hidráulica, como a que

vemos publicitada na Gazeta das Fábricas em 1865.

O tear mecânicoO primeiro tear mecânico foi inventado por Joseph Marie Jacquard em Lyon em 1804, como

já dissemos, e foi sucessivamente aperfeiçoado. Consta terem sido os fabricantes franceses Cláudio

Ronze e António Baudier a introduzir aquele em Portugal em 1827. Cinco anos depois, havia quatro

destes teares a produzir na Real Fábrica das Sedas246.

Tear tipo jacquard, do século XX.A 20th-century Jacquard-type loom.

Museu Nacional do Traje, Lisboa.Foto/Photo: Carlos Monteiro/Direção-Geral

do Património Cultural/Arquivo de Documentação Fotográfica.

Tear jacquard oferecido pela Fábrica Carvalhos e Guimarães, Lda. ao Museu da Indústria Têxtil.A Jacquard loom bequeathed by Fábrica Carvalhos e Guimarães, Lda. to Museu da Indústria Têxtil.Foto/Photo: Museu da Indústria Têxtil.

Publicidade da Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela, Lda. An advertisement for Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela, Lda. O Império Português na primeira Exposição Colonial Portuguesa, álbum-catálogo oficial. Junho-setembro/June-September 1934, p. 96 (II-III).Câmara Municipal de Lisboa/Hemeroteca Municipal de Lisboa.

Prensa hidráulica de pressão flexível e constante de Lobry, para calandragem

e lustro das fazendas.A Lobry hydraulic press with flexible

and constant pressure for fabric calendering and polishing.

Gazeta das Fábricas, 1865, vol. 1, p. 97.Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.

Page 10: THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY … · THE WORLD OF TEXTILE EXCHANGES ... SOME PLAYERS SHOWCASING AN INDUSTRIALISED COUNTRY ASSOCIATIONS, THE PRESS AND GLOBALISATION Charting the

THE PORTUGUESE TEXTILE INDUSTRY 179A INDÚSTRIA TÊXTIL PORTUGUESA178

are already out there: they are able to react to light, adjust to body temperature, repel mosquitoes

and react to perspiration.

Design, colour, elegance – and, nowadays, also science: in the textile world, everything is art.

Workers have aspired to art beyond work, and industrialists have collected art – the most distin-

guished one was possibly Pedro Eugénio Daupiás249. The textile world, both at home and abroad, is

a world of beauty. That is its best publicity. However, beauty is also the result of a better functioning

of all those involved in it. Factories are no longer places where violence grows, as they used to

be. The violent, obscene way some masters and foremen or plain doormen related to workers is a

thing of the past. These days, the textile sector is a hub of constant discovery through smart solu-

tions. From Citeve (1990) to Cilan (1992) to Cenit (2009), several research and development centres

work towards bringing together smart technologies and clothing. Universidade da Beira Interior,

Universidade do Minho and other higher education institutions have realised that the textiles and

clothing sector should not only be brought up to date as far as technology, techniques and design

are concerned, but also invest in training and management. Globalisation occurred more quickly in

clothing than in textiles. It is up to the latter to respond as soon as possible.

Art has never been so much part of the textile world as it is today. The reasons can be found in

a constant exchange between schools, exhibitions, studios and shops. Ideas from all over the world

flow to Guimarães: they are on display every two years in an exhibition and permanently at Univer-

sidade do Minho’s Instituto de Design de Guimarães. Other examples of exchanges between artists

and the industry abound across the Portuguese-speaking world. Universities, research centres and

museums have plenty to say and show in this regard.

internacionalmente, deixa transparecer beleza, e esta é a sua maior publicidade. Todavia, a beleza é

também o resultado de um melhor funcionamento de todos os intervenientes naquele. O ambiente

da fábrica deixou de ser um espaço de violência, como era no passado. A violência e a obscenidade

que alguns mestres e encarregados ou simples porteiros utilizavam no relacionamento com os ope-

rários terminaram. Hoje, constrói-se no setor têxtil um cenário de descoberta permanente por via

da inteligência que se lhe associa. São vários os centros cuja missão é a associação da inteligência

aos tecidos e ao vestuário, desde o Citeve (1990) e o Cilan (1992) até ao Cenit (2009). A Univer-

sidade da Beira Interior, a Universidade do Minho e outras têm percebido que a fileira têxtil e do

vestuário não deve apenas modernizar-se nas dimensões técnicas e do design, mas investir também

nas áreas da formação e da gestão. Sabemos que a globalização aconteceu mais rapidamente no

vestuário do que no têxtil, e este tem de dar respostas muito rapidamente.

Nunca como nos nossos dias a arte invadiu tanto o mundo têxtil. As motivações fazem vai-

vém entre as escolas e as exposições, como entre os ateliês e as lojas comerciais. A Guimarães

chegam ideias de todo o mundo, que podem ser visualizadas de dois em dois anos em exposição

e a todo o tempo no Instituto de Design de Guimarães da Universidade do Minho. Todavia, em

outros espaços do mundo português as iniciativas não desmerecem o intercâmbio entre os artistas

e a esfera da produção. As universidades, os centros de investigação e os museus têm muito a dizer

e a mostrar a este respeito.

Tear Dornier, da firma Somelos S.A., utilizado em experiências de produção de têxteis na Universidade do Minho.A Dornier loom from Somelos S.A. company, which is used in textile production experiments at Universidade do Minho.Foto/Photo: António Magalhães/Grupo Somelos.

Produtos têxteis inteligentes, incorporando filamentos compósitos

com nanotubos de carbono. Smart textiles, incorporating composite

filaments with carbon nanotubes. Vital Jacket, da Biodevices.

Matosinhos.Foto/Photo: Biodevices.