Reportagem "A Cura"

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oder ir a um restaurante ou mesmo em um jantar com amigos, tomar um bom vinho ou apreciar o sabor de um licor, deveria ser algo absolutamente normal para as pessoas. Mas nem todo mundo está preparado para uma ocasião dessas, sem antes saber respeitar seus próprios limites. Um trabalho, baseado em descobertas feitas durante 40 anos de meticulosa pesquisa, pretende resolver esse problema. Por meio de um processo chamado extinção farmacológica com o uso de uma droga chamada Naltrexona, ou Método Sinclair, como é conhecido, foi possível decifrar o enigma da dependência subjacente exatamente onde ela começa: profundamente dentro da fisiologia e bioquímica do cérebro. Considerado eficaz para a terrível aflição de quem atravessa algum problema ligado ao vício do álcool e outras drogas de efeitos A CURA DO ALCOOLISMO Georges Ryoki JornalismoColaborativo.com REPORTAGEM: Pesquisadores desenvolvem droga que associada a um tratamento específico, inibe a vontade de ingerir bebida alcóolica. P

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oder ir a um restaurante ou mesmo em um jantar com amigos, tomar um bom vinho ou apreciar o sabor de um licor, deveria ser algo absolutamente

normal para as pessoas. Mas nem todo mundo está preparado para uma ocasião dessas, sem antes saber respeitar seus próprios limites. Um trabalho, baseado em descobertas feitas durante 40 anos de meticulosa pesquisa, pretende resolver esse problema.

Por meio de um processo chamado extinção farmacológica com o uso de uma droga chamada Naltrexona, ou Método Sinclair, como é conhecido, foi possível decifrar o enigma da dependência subjacente exatamente onde ela começa: profundamente dentro da fisiologia e bioquímica do cérebro.

Considerado eficaz para a terrível aflição de quem atravessa algum problema ligado ao vício do álcool e outras drogas de efeitos

ACURADO ALCOOLISMO

Georges RyokiJornalismoColaborativo.com

REPORTAGEM:

Pesquisadores desenvolvem droga que associada a um tratamento específico, inibe a vontade de ingerir bebida alcóolica.

P

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psicotrópicos, o método foi criado por John David Sinclair, PhD, falecido no início deste ano. Médico e psicólogo, desde 1972, Sinclair foi também pesquisador sênior do Departamento de Saúde Mental e Pesquisas do Álcool do Instituto Nacional de Saúde Pública da Finlândia.

O novo tratamento muda todos os passos da terapia convencional e pode ajudar qualquer pessoa que precisa controlar o seu beber, mesmo quem não seja alcoólico. A grande surpresa é não haver a necessidade de internação para poder iniciar todo o processo. E mais, não há privação de álcool. O paciente continua bebendo normalmente, no entanto, a sua compulsão vai diminuindo e assim a dependência também diminui gradual e seguramente. Além disso, o método não estabelece qualquer detenção, assim como não são administrados Dissulfiram, nem drogas viciantes ou perigosas.

TRATADO DE PESQUISA VIRA LIVRO

Outro pesquisador sobre o assunto, é o Dr. Roy Eskapa, PhD, especialista em psicologia forense, terapia multimodal e medicina da dependência. Best-seller nos Estados Unidos, ele é o autor do livro “The Cure for the Alcoholism”,

traduzido em português por Gyorgy Troyko e publicado

no Brasil pela GT Editora. Em formato exclusivamente digital, o título “Alcoolismo: A Cura” ainda não foi lançado oficialmente na mídia, estando à venda somente no site da Amazon. Talvez por isso, poucas pessoas conheçam o resultado desse trabalho dedicado à todos aqueles que sofrem direta ou indiretamente, os efeitos do álcool.

“Ninguém deve ser estigmatizado, quanto menos descriminado.

A dignidade precisaser preservada sem o efeito

da porta giratória.”

David Sinclair, PhD

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Ivan Pavlov, o fisiologista russo e ganhador do Prêmio Nobel, que descreveu como o aprendizado e a extinção ocorrem, foi um dos cientistas que contribuiram com a pesquisa do autor. Embora, David Sinclair foi o primeiro a demonstrar como os compostos revertem a dependência do álcool no cérebro. Afinal, com o isolamento dos primeiros medicamentos antagonistas opióides, a descoberta levou a uma cura comprovada, econômica e digna do alcoolismo – sem abstinência ou sintomas desagradáveis e perigosos da remoção.

Se este método de tratar o alcoolismo realmente preencher o seu potencial, médicos e pacientes poderão saber a respeito dele e entendê-lo. A cura do alcoolismo deverá também reduzir o problema no qual, atualmente, apenas uma pequena parte das pessoas que precisam de ajuda procuram tratamento de fato.

Há cerca de 27.000.000 pessoas dependente da bebida alcóolica em todo o mundo.Só no Brasil, estima-se que aproximadamente 6.000.000 são alcóolicos.

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UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

Pela primeira vez na história, a cura da dependência do álcool é uma realidade possível. Dezenas de testes clínicos provam que o Método Sinclair é eficaz. As taxas de sucesso nas clínicas são de 78% ou maiores, em contraste com os métodos correntes de reabilitação que oferecem taxas de sucesso de 10% a 15%, conforme o Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e Alcoolismo nos EUA (NIAAA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O tratamento é comprovado por mais de 70 testes clínicos publicados. Os primeiros testes usando Naltrexona para o alcoolismo, realizados na Universidade de Pennsylvania e em Yale, incluíram extenso aconselhamento; consequentemente, quando o FDA (Federal Drug Administration) aprovou o uso de Naltrexona em 1994, foi estipulado que o remédio seria usado como parte de um programa compreensivo de tratamento do alcoolismo. Em maio de 2006, o Jornal da Associação Médica Americana, publicou os resultados do projeto COMBINE com 1.383 pacientes, caracterizando como o maior teste na história da dependência do álcool. Os resultados novamente mostraram que a Naltrexona era segura e efetiva, mas eles também identificaram que o extenso aconselhamento não era necessário. Como resultado desse estudo, a Naltrexona não é mais somente para grandes clínicas especializadas em problemas com o álcool, agora, qualquer médico pode, segura e

Nos Estados Unidos, o tratamento foi comprovado

por mais de 70 testes clínicos publicados.

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eticamente, prescrever a Naltrexona para o beber problemático. “Os testes clínicos mostraram claramente que a Naltrexona somente funciona quando ela é usada em um modo particular, e não é do modo que a maioria dos doutores intuitivamente a usaria. Se você quer que os pacientes parem de beber, você diz a eles “Não bebam”, você dá a eles tanto suporte quanto possível para manterem a abstinência, e então você diz a eles que tomem o remédio.”, afirma o Dr. Roy Eskapa.

De acordo com o trabalho do cientista, a cura requer uma compreensão básica de três conceitos-chave descobertos por David Sinclair que ajudam a entender as complexidades e as sutilezas desse tratamento: “O efeito de privação do álcool que explica como a abstinência leva a um aumento progressivo da compulsão e eventualmente a uma recaída num beber excessivo e porque a dependência

nunca foi curável antes. A extinção farmacológica, que é justamente o Método comprovado de Sinclair para remoção efetiva da dependência e o aprendizado farmacologicamente aumentado. Para reforço de comportamentos alternativos saudáveis.”

É importante enfatizar que a droga testada por Sinclair, a Naltrexona, ainda é hoje erroneamente prescrita para ser tomada em abstinência, à ser absolutamente mantida, ou seja, em lugar do álcool. Sinclair provou por experimentos extensos, que a Naltrexona só funciona como redutora da vontade de beber álcool se for ingerida junto com ele.

Responsável por outras pesquisas, como o tratamento da enurese infantil, enquanto trabalhava com experiências de extinção farmacológica nas causas e soluções para o alcoolismo, o Dr. Roy Eskapa ressalta: “Naltrexona sem álcool não faz efeito nenhum sobre os receptores do cérebro. É o mesmo que ingerir placebo e ainda piora o estado do paciente.”

O efeito de retirada do álcool, também descoberto e testado por Sinclair, mostra que após um período de abstinência, o retorno ao álcool — inevitável para mais de 90% dos alcoólicos — ocorre de forma muito maior do que era antes, demorando muito para voltar ao consumo habitual.

Pesquisas como abardamos nessa reportagem, poderão enraivecer a indústria de reabilitação de 6.2 bilhões de dólares e todas aquelas pessoas que são, em princípio, contrárias à medicação porque são ideologicamente casadas com uma filosofia de abstinência. Apesar da Finlândia estar usando o Método para tratar com sucesso cerca de 70 mil pacientes, o tratamento permanece largamente desconhecido nos Estados Unidos, em grande parte da Europa e no Japão. A cura do alcoolismo pretende mudar isto e, acima de tudo, salvar vidas.

Roy Eskapa, PhD: Autor de livro polêmico, publicou diversos artigos em psicologia forênsica

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O Método Sinclair curou milhares de pacientes, inclusive, os chamados ‘casos-perdidos’.

AS cONSEQUêNcIAS DO áLcOOL

O Relatório Global sobre Álcool e Saú-de – 2014 afirma que o consumo exagerado de bebidas alcoólicas pode trazer diversas doenças e transtornos psicológicos. O pro-blema que mais afeta as pessoas no mundo todo é a cirrose hepática (30%), seguido de câncer na laringe (25%), câncer no esôfago (22%) e violência interpessoal (22%).

Já a pesquisa da Organização Mun-dial da Saúde (OMS), divulgada em 2014, aponta que, em 2012, cerca de 3,3 milhões de pessoas morreram por causa do álcool no mundo. No Brasil, o consumo está mui-

to alto: aproximadamente de 8,7 litros por ano, entre 2008 e 2010, sendo que a média mundial calculada pela OMS é de 6,2 litros.

Segundo o estudo da organização, os bra-sileiros consomem três vezes mais do que as brasileiras. Durante o período de três anos, os homens ingeriram, em média, de 13,6 li-tros de álcool por ano; as mulheres, 4,2 litros.

O fator preocupante levantado pela OMS é que, em 2010, os casos de abuso de álco-ol aumentaram no país. O número chegou a 11,1% entre o público feminino e 30% de homens que bebem. No Brasil, se perde em média 5 anos de vida em detrimento do ex-cesso de bebidas alcoólicas.