Portugal Post Abril 2013

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Portugal Post - Burgholzstr 43 - 44145 Do PVST Deutsche Post AG - Entgelt bezahlt K25853 Nesta Edição Entrevista Reportagem ANO XX • Nº 225 Abril 2013 Publicação mensal 2.00 € Portugal Post Verlag, Burgholzstr. 43 44145 Dortmund Tel.: 0231-83 90 289 Telefax 0231- 8390351 • E Mail: [email protected] www. portugalpost.de K 25853 •ISSN 0340-3718 PORTUGAL POST 1993 : 20 ANOS : 2013 Bahnhofsvorplatz 1 50667 Colónia • Tel.: 0221 91265 70 Escritório de Representação Pub Suche Wohnung A odisseia de quem chega à Alemanha e procura casa //Pág. 3 Foto cedida pela jovem Cristina Rocha Cardoso re- centemente chagada à Alemanha Trabalhador esfaqueado em Berlim descreve momentos do ataque ao PP // Pág.7 “Os clientes acreditam em Portugal como destino para as suas poupanças” // Pág.14 Giselle Ataíde, responsável do Escritório de Representação na Alemanha da CGD Comunidade vai celebrar as suas bodas de ouro em 2014 // Pág. 8 Telmo Pires apresentou novo álbum, “Fado Pro- messa”, em Lisboa // Pág. 5 50 anos Fado Oxalá Crónica de Joaquim Nunes // Pág. 11 Antes, em 2011, vivi durante dois meses numa residência de estudantes, na altura, conside- rada a “pior” de Bona. E era fácil perceber-se o porquê: por fora, um edifício alto, velho, de 11 andares; por dentro, desagradável, 29 quar- tos por piso, uma cozinha suja em cada um. O único ponto positivo da residência era ter uma casa de banho privada, tudo o resto era pés- simo!

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ANO XX • Nº 225 • Abril 2013 • Publicação mensal • 2.00 € Portugal Post Verlag, Burgholzstr. 43 • 44145 Dortmund • Tel.: 0231-83 90 289 • Telefax 0231- 8390351 • E Mail: [email protected] • www. portugalpost.de • K 25853 •ISSN 0340-3718

PORTUGAL POST1993 : 20 ANOS : 2013

Bahnhofsvorplatz 150667 Colónia • Tel.: 0221 91265 70

Escritório de Representação

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Suche Wohnung

A odisseia de quem chega à Alemanha e procura casa//Pág. 3

Foto cedida pela jovem Cristina Rocha Cardoso re-centemente chagada à Alemanha

Trabalhador esfaqueado emBerlim descreve momentosdo ataque ao PP // Pág.7

“Os clientes acreditam em Portugal como destino para as suas poupanças” // Pág.14

Giselle Ataíde, responsável do Escritório de Representação na Alemanha da CGD

Comunidade vai celebraras suas bodas de ouro em2014 // Pág. 8

Telmo Pires apresentounovo álbum, “Fado Pro-messa”, em Lisboa// Pág. 5

50 anos

Fado

OxaláCrónica de Joaquim Nunes// Pág. 11

Antes, em 2011, vivi durante dois meses numaresidência de estudantes, na altura, conside-rada a “pior” de Bona. E era fácil perceber-seo porquê: por fora, um edifício alto, velho, de11 andares; por dentro, desagradável, 29 quar-tos por piso, uma cozinha suja em cada um. Oúnico ponto positivo da residência era ter umacasa de banho privada, tudo o resto era pés-simo!

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 20132

Director: Mário dos Santos

Redação e ColaboradoresCristina Dangerfield-Vogt: BerlimCristina Krippahl: BonaJoaquim Peito: Hanôver

CorrespondentesAntónio Horta: GelsenkirchenElisabete Araújo: EuskirchenJoão Ferreira: SingenJorge Martins Rita: EstugardaManuel Abrantes: Weilheim-Teck

Maria do Rosário Loures: NurembergaVitor Lima: Weinheim

ColunistasAna Cristina Silva: LisboaAntónio Justo: KasselCarlos Gonçalves: LisboaGlória Sousa: BonaHelena Ferro de Gouveia: BonaJoaquim Nunes: OffenbachJosé Eduardo: Frankfurt / MLuísa Coelho: BerlimLuísa Costa Hölzl: MuniqueMarco Bertoloso:  ColóniaPaulo Pisco: LisboaSalvador M. Riccardo: Teresa Soares: Nuremberga

Multimédia: silva-com.de

Tradução: Barbara Böer Alves

Assuntos Sociais: José Gomes Rodrigues

Consultório Jurídico:Catarina Tavares, AdvogadaMichaela Azevedo dos Santos, AdvogadaMiguel Krag, Advogado

Fotógrafos: Fernando Soares

Impressão:Portugal Post Verlag

Redacção, Assinaturas PublicidadeBurgholzstr. 43 • 44145 DortmundTel.: (0231) 83 90 289 • Fax: (0231) 83 90 351www.portugalpost.deEMail: [email protected]/portugalpostverlag

Registo Legal: Portugal Post VerlagISSN 0340-3718 PVS K 25853Propriedade: Portugal Post VerlagRegisto Comercial: HRA 13654

Os textos publicados na rubrica Opinião são da ex-clusiva responsabilidade de quem os assina e nãoveiculam qualquer posição do jornal PORTUGAL

PORTUGAL POST EditorialMário dos Santos

Agraciado com a Medalha da Liberdade e Democracia da Assembleia da República

Fundado em 1993

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ataque a trabalhadores portu-gueses em Berlim veio colo-car de novo a questão danecessidade de um Conse-

lheiro Social na embaixada. Desde asaída do último Conselheiro, em 2005,o lugar ficou por preencher e os assun-tos correntes ligados à área estão nasmãos de funcionários.

A decisão em não recolocar umConselheiro Social com estatuto de di-plomata ou de técnico superior decor-reu do argumento de que a comunidadenão precisava desse cargo “porque osportugueses estavam integrados” e,como europeus com direitos iguais aosrestantes cidadãos comunitários, nãonecessitavam de apoio social. Aliás,essa ideia também terá dado origem aoencerramento dos serviços sociais quea Caritas prestava aos portugueses.

As consequências da crise em Por-tugal está atirar milhares de nacionaispara a emigração. A Alemanha, quemuitos portugueses pensam ser o paisda árvore das patacas, é também o des-tino de milhares de compatriotas, mor-mente jovens que não encontram emPortugal rumo nem futuro e que, emchegando aqui, “agarram-se” ao queencontram no intuito de iniciar umanova vida.

Nesta situação, as dificuldades dosnovos emigrantes relacionadas com alíngua, as diferenças culturais, o aloja-mento, a escola para os filhos e, emmuitos casos, o emprego, são realida-des bem presentes que fazem lembraroutros tempos.

Contrariamente àquilo que se possapensar, a nova emigração não é apenascomposta de jovens licenciados. Hátambém muitos ex-operários, ex-emp-

regados e ex- trabalhadores por contaprópria que rumam até aqui.

É neste contexto que as entidadesportuguesas deveriam prestar umamaior atenção ao apoio social e jurí-dico, disponibilizando meios humanose materiais em número suficiente, colo-cando na embaixada um técnico supe-rior que conheça a comunidade, quedomine perfeitamente o alemão, queconheça a Alemanha política, cultural esocialmente falando e, claro, que tenhauma experiência acumulada na presta-ção de serviços sociais em postos con-sulares.

Manuel Silva, ex-vice-cônsul emOsnabrück e actual gerente do consu-lado em Hamburgo, preenche todos osrequisitos para ser o Conselheiro So-cial. Será talvez a pessoa mais bem pre-parada para ocupar o cargo. Nãoaproveitar esse, como se costuma agoradizer, “activo” é desperdiçar uma opor-tunidade de ter alguém na embaixadaque defenda os interesses dos portugue-ses como, por exemplo, no caso dos tra-balhadores atacados em Berlim que,para além das consequências físicas epsicológicas que estão a sofrer, podemficar lesados nos seus direitos sociais.

Conselheiro Social: Uma necessidade urgente

O

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Com muitos estudantes estrangei-ros e várias organizações alemãs e in-ternacionais, a cidade dá a impressãode que não há tecto para tanta gente!Por isso, a tarefa de alugar casa ouquarto é, normalmente, cansativa, di-fícil, por vezes stressante, pelo que épreciso uma pitada de sorte para seconseguir um bom espaço.

Felizmente a minha dose de sortechegou generosa. Sem necessidade deentrevista, sem mesmo ter visto pre-viamente a casa ou os senhorios, con-segui alugar uma modesta eaconchegante habitação, onde mesinto bem. Mas nem sempre é assimtão simples.

Antes, em 2011, vivi durante doismeses numa residência de estudantes,na altura, considerada a “pior” deBona. E era fácil perceber-se o por-quê: por fora, um edifício alto, velho,de 11 andares; por dentro, desagradá-vel, 29 quartos por piso, uma cozinhasuja em cada um. O único ponto po-sitivo da residência era ter uma casade banho privada, tudo o resto erapéssimo!

A cozinha estava sempre numalástima, com lixo, durante dias, emcima da banca. Como a minha situa-ção era temporária, decidi alugar aloiça da residência, que se resumia auma panela e uma frigideira enormese pesadas, que nem cabiam no meupequeno armário (e tinha de as levarsempre para o quarto). Ao inícioaquecia leite numa panela que dariapara cozinhar para umas 12 pessoas;depois descobri que havia um micro-ondas no 11º andar, onde ia, de mo-chila às costas, com a embalagem deleite, a chávena e os cereais, parapoder tomar o pequeno-almoço. Ten-tei mudar, mas não era possível. Re-signei-me àquela sorte onde apenasresidiam estrangeiros, grande partedeles fora da Europa (dizia-se que aosestudantes alemães reservava-se me-

lhor sorte). A residência já não existecomo tal, todos sabiam que seria parafechar em breve por causa do amiantono tecto (felizmente!).

Na Alemanha, muitas pessoasoptam por morar em habitações parti-lhadas, chamadas “Wohngemeins-chaft” (WG). É o tipo de acomodaçãomais barato e, por isso, muito procu-rado. Quando as WG têm quartos li-vres, surgem anúncio na internet, comfotos e descrição. Os interessados en-viam um email, para depois seremchamados para uma entrevista.Com a entrevista, os moradores dahabitação pretendem conhecer umpouco melhor os candidatos aoquarto e seleccionar quem conside-rarem mais adequado. Ao mesmotempo, o candidato tem a oportu-nidade de conhecer o espaço. E éprincipalmente nesta fase, da pro-cura de casa, que surgem as histó-rias mais hilariantes.

Muitas delas conheci bem deperto. Na casa onde vivo, tive aoportunidade de receber, em dife-rentes momentos, duas colegas. Fi-caram temporariamente enquantoprocuravam casa definitiva. Essa pro-cura demorou, a cada uma delas,quase um mês.

Vamos começar por M. Viu umaWG de raparigas, uma casa lindís-sima, numa zona agradável da cidadee foi para a entrevista cheia de expec-tativas. Voltou desiludida. Não forapreciso ouvir o “não” para perceberque não seria aceite. Seis meses erapouco tempo para alugar, justificaramas raparigas da casa (apesar de sabe-

rem, previamente, que seria por esseperíodo). Adoptando uma postura ar-rogante, entrevistaram M. transmi-tindo, entre linhas, que não dispunhado perfil esperado.

Dias depois, M. foi ver uma outracasa, esta perto do seu local de traba-lho. Na verdade, mal a conseguiu ver,tantas eram as caixas de cartão, empi-lhadas umas sobre as outras, em todosos compartimentos! Assim que perce-beu que era suposto partilhar aquele

espaço encaixotado com um homem,desolado, de coração partido pela se-paração da namorada, saiu… com acerteza de que casa de cartão e demales de amor não seria para si!

M. viu outra casa interessante nainternet. O senhorio, homem maduro,vincado por manias mesquinhas, faziaquestão de ir buscar M. ao local detrabalho para lhe mostrar a casa. Que-ria evitar assim a possibilidade de ummaldito minuto de atraso, na sua

preenchida agenda de reformado.Para mal dos seus pecados, M., quenão aceitou a boleia, chegou mesmouns minutos atrasada! Esbaforido, osenhorio não disse que já não poderialevar M. a ver a casa, mas em vezdisso levou-a à sua casa para ver fo-tografias na internet… como se M. jánão as tivesse visto, precisamente nainternet. Apesar de farta da impaciên-cia do senhorio, M. não deu por malempregue a ida a casa do stressado

homem: ainda hoje comenta a fotoque viu na sua casa, nada maisnada menos que o próprio cumpri-mentando Barack Obama!

Já a entrar em desespero, M.encontrou um quarto para ficar eassinou contrato. Mas graças a umdesentendimento, à última da hora,M. acabou por não se mudar. Digograças porque a sua vida naquelacasa iria ser complicada… A se-nhoria, toda ela, eram regras até desocialização. Enviou, previamente,uma lista imensa de regras de con-duta, algumas bem elementares.Queria obrigar todos os moradoresda casa, onde a própria vivia, a

conviver, só assim se compreende umdos artigos das suas detalhadas leis: acada fim-de-semana de manhã, todosjuntos deveriam tomar o pequeno-al-moço e aquele que faltasse à chamadaseria incumbido de preparar um jantaraos restantes. Além desta gostei par-ticularmente de uma outra regra: diza senhora que, depois de se tomarbanho, não se deve molhar o chão, epara que todos o consigam fazer acon-selha a que limpem os pés ao sair do

chuveiro!Outras casas houve em que M. se

deparou com quartos sem mobília, apreços exorbitantes, ou disponíveisem datas incompatíveis… até encon-trar um quarto numa casa onde mora-vam vários alemães. O anteriorinquilino deixou-lhe a mobília. Aspessoas partilhavam a casa, as regras,mas não a vida e o dia-a-dia. E as re-gras da vida em comunidade vão, porvezes, a pormenores cómicos: a certaaltura, prevendo-se gripes e a maiornecessidade de se limpar o nariz, foirecomendado que cada um utilizasseapenas os seus lenços de papel, deforma a não se gastar tanto papel hi-giénico, que é comprado por todos(inclusive pelos que não estavamconstipados!).

Este ano, M. parecia ver o filmerepetir-se nas descrições de F., aofinal do dia, depois de mais uma etapana procura de alojamento. Por coinci-dência, foi também ver uma casa domesmo senhorio, de meia idade e fei-tio repulsivo. Invadindo a casa semprévio aviso, onde já morava umaoutra rapariga asiática, o homem mos-trou o quarto disponível, muito rapi-damente, pois estava com pressa parair ao supermercado!

Pela expressão de F., o senhoriopercebeu que o quarto não acolhia oseu agrado e disse algo como: “eu atétenho outro quarto para alugar e possomostrar, mas é mais caro. E olhandopara a sua cara, pode-se ver clara-mente que não tem dinheiro para opagar!”.

Desistindo do irremediável maufeitio e do quarto, F. continuou abusca. Visitou uma casa que pareciahabitada por imigrantes clandestinos,tal era a cara de medo e estranhezacom que os moradores, quase encolhi-dos, observavam a estranha invasora.

Depois, F. foi ver a casa de um“artista”, conforme o próprio se ape-lidava. Com os seus 50 anos, o “ar-tista”, que vivia com a sua namoradaucraniana com metade da idade, alu-gava nada mais que a dispensa dacasa: um espaço minúsculo, ao ladona cozinha, sem janela.

De tão insólitas, as histórias che-gam a ser cómicas, para quem as es-cuta, mas desmotivadoras, por vezes,para quem procura casa! Mas quemprocura, acha! E hoje, M. partilha co-migo a mesma casa. E F. encontrouum quarto confortável, acolhedor esimpático, em casa de gente amiga, nocentro da cidade. Tudo está bemquando acaba bem.

Chegar à Alemanha

A odisseia de quem chega à Alemanha e procura casaPoderei apelidar de odisseia: umcarrossel de peripécias, quase ane-dóticas, que muitas vezes dãotanta vontade de rir como de en-trar em desespero. Procurar aloja-mento na Alemanha, ou pelomenos em Bona, é assim, um capí-tulo imprevisível, improvável, ini-gualável até.

Gloria Sousa, Bona

...Gostei particularmentede uma outra regra: diz asenhora que, depois dese tomar banho, não sedeve molhar o chão, epara que todos o consi-gam fazer aconselha aque limpem os pés aosair do chuveiro!

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013Notícias4

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O bem-estar da população portu-guesa está abaixo da média dos 36países analisados pela Organiza-ção para a Cooperação e Desen-volvimento Económico (OCDE) deacordo com o primeiro estudosobre o tema recentementedivul-gado.

Apesar de ter feito “progressossignificativos” nos últimos anos paramodernizar a economia e melhorar onível de vida dos cidadãos, a crise fi-nanceira global “enfraqueceu estecrescimento”, refere o estudo

Por isso, Portugal tem apenas um“desempenho moderado” na maioriadas medidas que levam ao bem-estarda população, ficando abaixo ou,quando muito, perto da média dos vá-rios países.

De acordo com o documento, de-nominado “Índice de Melhoria daVida”, o bem-estar abaixo da médiaem Portugal deve-se, por um lado, aofacto de os portugueses ganharemmenos que os europeus em geral.

“O dinheiro, embora não comprefelicidade, é um meio importante paramelhorar o nível de vida”, admitem osanalistas da OCDE, adiantando que ostrabalhadores portugueses ganham

menos cerca de 3 mil euros anuais quea média (17,2 mil euros) dos paísesanalisados.

Ainda assim, adianta o estudo,existe “uma diferença considerável”entre os mais ricos e os mais pobres ePortugal, já que os 20% mais endin-heirados ganham seis vezes mais doque os 20% mais pobres.

Já em termos de emprego da po-pulação, o cenário é melhor, porque ataxa de empregados está em linhacom a média da OCDE.

Mais de 66% dos portuguesesentre os 15 e os 64 anos têm trabalho,sendo que o horário de trabalho soma

1714 horas por ano, ou seja, ligeira-mente menos que a média da OCDE,que atinge as 1749 horas.

Outra das variantes analisadas noestudo é a educação, considerada umrequisito muito importante para obterum emprego.

De acordo com o índice, 30% dosadultos portugueses com idade entreos 25 e os 64 anos chegaram ao finaldo ensino secundário, o que ficamuito abaixo da média de 74% regis-tada na OCDE.

Esta discrepância é mais evidenteainda quando o foco se vira para dis-ciplinas como a literatura, a matemá-

tica ou as ciências.Também abaixo da média da

OCDE fica o sentido de comunidadee participação cívica e política emPortugal.

Para os analistas da OCDE, a par-ticipação em eleições é uma medidaque demonstra confiança pública noGoverno e no processo político, masnos últimos sufrágios essa ida àsurnas só foi feita por uma média de64% dos portugueses, abaixo damédia da OCDE, que chega aos 73por cento.

“Em geral, 71% das pessoas emPortugal dizem que têm mais expe-riências positivas num dia normal(sentem-se descansados, orgulhososdo que fizeram, alegres, entre outrossentimentos) do que negativas (dor,preocupação, tristeza, tédio), o quefica muito abaixo da média daOCDE”, conclui o estudo.

A qualidade da água é o único dospontos analisados em que Portugalestá acima da média da OCDE, sendoque se mantém em linha em relação aoutros dois fatores de bem-estar: a es-perança média de vida – cerca de 80anos – e o nível de poluição atmosfé-rica.

Bem-estar dos portugueses abaixo da média dos 36 países da OCDE

Dezenas de veículos acumu-lam-se junto aos sistemas de com-pra de títulos para a antiga Scut(Sem Custos para o Utilizador) daVia do Infante (A22), na fronteirajunto à Ponte Internacional doGuadiana, sendo visível o desa-grado que a situação estava a cau-sar junto dos muitos turistas queali se juntavam, sobretudo espan-hóis.

Um deles era Miguel Báez, deMálaga (Espanha), que disse àagência Lusa não compreender aforma como Portugal está a trataros turistas que procuram o paíspara passar férias.

“É a pior forma de receber umturista. Não penso que haja umamaneira pior, porque vens parapassar uns dias, a desfrutar, e nãocontas com uma hora aqui à es-

pera. Não há informação, nin-guém sabe nada e têm de ser aspessoas que estão nas filas a pas-sar a informação uns aos outros”,disse este turista.

Questionado sobre a utilidadedo novo atendimento telefónicopara turistas, instalado junto aosistema de aquisição de títulospela empresa responsável, a Estra-das de Portugal, Miguel Baéz res-pondeu negativamente.

“Não, absolutamente. Não hánenhum tipo de informação, nema polícia sabe nada do assunto.Estamos a informar-nos uns aosoutros. Como turistas, escolhemoseste destino porque gostamosmuito, viemos mais do que umavez e sempre nos trataram muitobem. Viemos ajudar Portugal, mastambém não queremos que nostratem desta maneira”, lamentou.

Questionado sobre um even-tual regresso, Miguel Baéz disseque pretende voltar a Portugal,mas frisou que vai queixar-se nohotel e na polícia, porque “não pa-rece uma maneira justa de trataros visitantes”.

Também Cármen Martinez, deCórdova, disse à Lusa que as lon-gas filas de carros estrangeirosque se acumulavam junto ao postode polícia da fronteira lhe pare-

ciam “terceiro-mundistas”.“Costumo viajar e isto não me

aconteceu em nenhum lado. Já es-

tive várias vezes em Portugal, en-trei e saí do país, não tive pro-blema nenhum, mas o que

encontrei aqui parece-me muitomal. Se não tivesse já reserva feitano hotel, dava meia-volta”, disseesta turista espanhola, que estavahá mais de uma hora parada paratentar comprar um título.

Questionada sobre um even-tual regresso, Carmén Martinezrespondeu que “seguramente não”se a situação “não for solucionadacomo deve ser, como em Espanhae qualquer país europeu, ondepõem as portagens e pagasquando passas”.

“Vimos para descansar unsdias, deixar divisas no país, o queé importante. E se te deparas comisto, que te dá vontade de não vol-tar”, lamentou.

Confrontada com esta situa-ção, a Estradas de Portugal res-pondeu que "os sistemascolocados à disposição são sufi-cientes", mas frisou que está a pôro enfoque num sistema (EasyToll), que representa “85% dototal de adesões” e "é eficaz".

A empresa referiu ainda que"conta neste momento com equi-pamentos capazes de dar respostaàs necessidades dos clientes",com "simplicidade, facilidade deutilização”, com apoio de um cen-tro de atendimento telefónico e"rapidez".

Portagens

Turistas queixam-se de cenário "terceiro-mundista"na fronteira no Algarve Acusações de estarem pe-rante uma situação “caó-tica” e “terceiro-mundista”e promessas de não volta-rem a Portugal, foi o que aagencias de notícias Lusaouviu de turistas espanhóisque esperavam para pagaras portagens electrónicasna fronteira luso-espanholano Algarve.

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013 Notícias 5

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A propina, inicialmente anun-ciada como tendo um valor de 120euros anuais, foi apresentada peloGoverno como uma forma de co-brir despesas com manuais esco-lares e com a certificação dasaprendizagens, uma novidade donovo regime.

“O pagamento da propina con-fere ao aluno o direito a receberdo Camões, IP um manual ade-quado ao nível de língua que vaifrequentar e fica automaticamenteinscrito para a prova de certifica-ção do nível de língua do cursoem que frequenta“, refere a porta-

ria.O diploma, assinado pelo mi-

nistro das Finanças, Vitor Gaspar,e pelo Secretário de Estado dasComunidades Portuguesas, JoséCesário, entrou em vigor no mêspassado.

A portaria prevê ainda a redu-ção da propina para desemprega-dos, famílias com mais de umfilho inscrito na rede de Ensino dePortuguês no Estrangeiro (EPE) eescolas associadas.

Quando os dois encarregadosde educação estão desempregadosa propina a pagar é de 20euros/aluno e no caso de apenasum dos pais estar sem emprego ovalor é de 60 euros/aluno.

No caso de famílias com doisalunos, o valor a pagar desce paraos 80 euros/aluno e com três apropina passa para 75euros/aluno.

Também as famílias monopa-rentais beneficiam de descontos,sendo a propina de 80euros/aluno.

Os alunos das escolas associa-das pagam 60 euros.

Além da propina, o diploma

estabelece também o pagamentode uma taxa de certificação paraos alunos que, não frequentando oEPE, se proponham „realizar au-tonomamente prova de certifica-ção de nível de proficiência, noâmbito do Quadro de Referênciaparao Ensino do Português noEstrangeiro.

O valor da taxa de certificaçãovaria entre os 40 e os 100 eurosconforme o nível de certificaçãopretendido, estando também pre-vistas reduções para desemprega-dos, familias com mais de umeducando e famílias monoparen-tais.

As propinas são pagas pelafrequência dos cursos extracurri-culares de língua e cultura portu-guesas organizados pelo institutoCamões e pela frequência de cur-sos de língua e cultura portugue-sas organizados por escolasprivadas, associativas ou públicas,onde o Camões tenha colocadodocentes e sejam reconhecidascom o Estatuto de Escola Asso-ciada.

Governo e sindicatos de pro-fessores no estrangeiro negocia-

ram recentemente o novo RegimeJurídico do EPE, tendo comopano de fundo a contestação à de-cisão do executivo de cobrar umapropina aos filhos dos emigrantes.

Prevista desde Março do anopassado e contestada por pais,professores, sindicatos e partidosda oposição, a propina só vai serintroduzida no ano letivo de2013/2014 porque o executivonão aprovou em tempo útil a le-gislação necessária para podercobrá-la antes.

A rede do EPE inclui cursosde português integrados nos siste-mas de ensino locais e cursos as-sociativos e paralelos,assegurados pelo Estado portu-guês, em países como a Ale-manha, Espanha, Andorra,Bélgica, Holanda, Luxemburgo,França, Reino Unido, Suíça,África do Sul, Namíbia, Suazi-lândia e Zimbabué.

Este ano lectivo, frequentamos cursos de Ensino de Portuguêsno Estrangeiro 57.212 alunos(56.191 em 2011/2012), distribuí-dos por 3.603 cursos (3.621 noano anterior).

Propina para alunos de português no estrangeiro estabelecida em 100 euros

A propina a pagar pelosalunos que frequentam oensino de português noestrangeiro foi estabele-cida em 100 euros,segundo portaria gover-namental, que estipulavalores reduzidos para fa-mílias com mais que umfilho e para desemprega-dos.

O Partido Social Democrata(SPD), principal partido da oposi-ção na Alemanha, apresentou oseu programa eleitoral para as le-gislativas de Setembro e cujaprincipal tónica assenta no au-mento da justiça social.

No manifesto, que deverá ser for-malmente aprovado pelo partido estemês, o principal candidato a derrubaro governo de coligação da chanceleralemã, Angela Merkel, nas eleiçõeslegislativas marcadas para 22 de Se-tembro, compromete-se com maisjustiça social, o aumento da carga fis-cal no escalão mais alto e com a intro-dução de um salário mínimo nacional.

O SPD visa criar um „novo equi-líbrio social“ na maior economia daEuropa, já que o fosso entre ricos epobres tem vindo a aumentar e porquetambém é necessária uma maior regu-lação dos mercados financeiros, apon-tou o líder do partido, PeerSteinbrueck, a quem coube a apresen-tação do manifesto.

Em conferência de imprensa, ocandidato do SPD às eleições legisla-tivas de 2013 garantiu que o seu par-tido pretende introduzir, caso vença aslegislativas, um „salário mínimo na-cional e inscrito na lei de, pelo menos,8,50 euros“ por hora.

O governo de coligação lideradapor Angela Merkel nomeara uma co-missão formada por representantesdas empresas e dos sindicatos parapropor a introdução de uma remune-ração mínima nos sectores não abran-gidos pela contratação colectiva.

A chanceler conservadora recusa,contudo, a introdução de um saláriomínimo nacional único e inscrito nalei, reiterando que tal medida poderiadestruir empregos e impedir a criaçãode novos postos de trabalho.

O programa do SPD também re-fere a importância de uma maior re-gulamentação dos mercadosfinanceiros.

O partido social-democrata ale-mão compromete-se ainda a aumentara carga fiscal no escalão mais alto. Ataxa máxima de impostos abrange 49por cento dos contribuintes alemãesque ganham mais de 100.000 eurosanuais ou de casais que juntos auf-erem rendimentos acima de 200.000euros.

A nível europeu, o SPD enfatiza acriação de um „governo económicocomum“ e defende que a ComissãoEuropeia deve ser eleita pelo Parla-mento Europeu.

„O SPD quer governar porque aCDU, CSU e FDP não sabem fazê-lo“, concluiu o manifesto, referindo-se a coligação governamentalformada pelo partido de Angela Mer-kel, a União Democrata Cristã(CDU), a sua versão bávara, a UniãoSocial Cristã (CSU), e os liberais doFDP.

A mais recente sondagem publi-cada na quinta-feira dá 40 por centodas intenções de voto à CDU de Mer-kel e 26 por cento ao Partido SocialDemocrata (SPD).

SPD alemão apresentaprograma eleitoral comtónica na justiça social

O cantor Telmo Pires afirmou queo seu novo álbum, “Fado Pro-messa”, que apresentou no Teatrodo Bairro, em Lisboa, reflecte assuas influências musicais e não se“ajusta a um modelo mais tradi-cionalista”.

“Não cresci em Lisboa, vivi dezanos na Alemanha, logo o meu fadoexpressa essas influências, não seajusta a um modelo mais tradiciona-lista”, disse o músico citado pelaagencia Lusa.

“Fado Promessa” é o terceiroálbum do intérprete, mas o primeiro“totalmente feito e produzido em Por-tugal”, disse Telmo Pires.

O álbum começou a ser gravadoem Outubro 2011, e conta com a par-ticipação dos músicos FernandoSilva, na guitarra portuguesa, LuísPontes, na guitarra acústica, JoséCanha, no contrabaixo, e Davide Zac-caria, no violoncelo, na produção e naautoria dos arranjos musicais.

Constituído por 10 temas, namaioria assinados por Telmo Pires, ocantor resgatou, do repertório de JoséAfonso, o poema de Luís de Camões,“Verdes são os campos”.

“Este era um tema que eu gostavamuito de cantar, daí o ter integradonesta selecção, assim como doistemas do meu álbum anterior, ‘Sinal’,

o ‘Morena’ e ‘Reis e Rainhas’, quecanto com arranjos novos”, disse omúsico.

Outro tema que fez questão de in-cluir no CD, editado pela germânicaTraUmton Records, foi “A voz que

tenho”, um poema de Luís FerreiraCouto, que canta no Fado Esmeral-dinha, de Júlio Proença.

Além do Esmeraldinha, o CD in-clui outras melodias tradicionais, de-signadamente o Fado Primavera, dePedro Rodrigues, e o Fado Magala,atribuído a Raul Portela.

Telmo Pires assina oito letras ecinco músicas, duas delas em parce-ria, designadamente “Reis e Rainhas”,com Maria Baptist, e “Sonho meu”,composto com Davide Zacaria.

Outro tema que o intérprete des-tacou foi “Os navios”, com letra suae música da canadiana LoreenaMcKennitt.

Referindo-se a esta opção pelofado, Telmo Pires afirmou que “eraum sonho que acalentava há muito”.

“No meu anterior álbum, demons-trei a vontade de uma aproximação àmúsica portuguesa, integrei já ‘MariaLisboa’ e ‘Ovelha negra’ e ‘Beco daMouraria’”, disse.

“Agora é esperar e ver como o pú-blico recebe o trabalho, entretanto,continuo a trabalhar entre Lisboa,onde me estabeleci há três anos, aAlemanha e o Luxemburgo”, disse.

Ainda no tocante ao álbum, o mú-sico sublinhou o trabalho do técnicode som António Pinheiro, que tam-bém gravou António Variações e osMadredeus.

Telmo Pires vai apresentou novo álbum, “Fado Promessa”, em Lisboa

Page 6: Portugal Post Abril 2013

6 PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013

OpiniãoPaulo Pisco*

Opinião

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E, como não podia deixar deser, lá estavam também os portu-gueses. Portugueses de rosto ale-gre, enquanto os que ficam emPortugal andam cabisbaixos porcausa do desemprego, da precarie-dade laboral e da asfixia fiscal.

Não devia ser assim. O pri-meiro direito de cada pessoa é ode ficar no seu país, tal como odever de qualquer Governo é pro-curar por todos os meios fixar osseus cidadãos, para assim aprovei-tar o seu entusiasmo e energiacriadora para gerar desenvolvi-mento e riqueza. Contrariar estesprincípios básicos, é frustrar a lutado país e das famílias ao longo degerações para dar aos jovens umaformação académica e profissio-nal sólida, precisamente para osarrancar aos trabalhos duros e malpagos que conhecemos no pas-sado e que originaram grandesfluxos migratórios, com algumacarga dramática, sobretudo nasdécadas de 60 e 70.

Sucessivas gerações lutarampara interromper os fluxos migra-tórios e poderem construir umpaís normal, em que as pessoasseriam livres na sua decisão deficar no país ou de partir. Mas averdade é que assistimos hoje à

violência de um Governo que in-cita os portugueses a deixar o paíse fá-lo de forma descaradamenteaberta, com vários ministros, se-cretários de Estado e até o próprioPrimeiro-Ministro a fazerem essetipo de apelos. Foi o que recente-mente voltou a acontecer quandoPassos Coelho esteve em Paris,em Janeiro passado, e disse que “aemigração não poderia ser consi-derada um estigma”.

A verdade é que se criou emPortugal um sentimento de des-crença e de falta de confiança nofuturo tão grande que, infeliz-mente, não há quem não ponha apossibilidade de emigrar, mesmoaqueles que têm uma profissão es-tável. A maior parte dos estudan-tes, sete em cada dez, pensaabandonar o país após o fim docurso, tal como confirma um es-tudo que as associações académi-cas divulgaram em Agostopassado.

Por outro lado, a OCDE, tam-bém num estudo recente, referePortugal como sendo um país comuma fuga de diplomados bastanteelevada, a rondar os 20 por cento.Temos hoje a geração mais quali-ficada de sempre, precisamentedevido a esse esforço e vontade de

emancipação coletiva da nossa so-ciedade. E conseguimos o obje-tivo de formar portugueses comgrande qualidade em múltiplasáreas, da saúde às engenharias, daarquitetura às ciências. O grandeproblema, é não encontraremespaço nem reconhecimento emPortugal para fazerem as suas car-reiras e daí tirarem a satisfaçãopessoal que um dia idealizaram.

Daí estarmos hoje confronta-dos com uma emigração alta-mente qualificada, que deixa opaís disposta a fazer a primeiracoisa que lhe apareça à frente, oque representa uma imensa frus-tração do ponto de vista pessoal.

No Boletim Económico doOutono, o Banco de Portugal aler-tava precisamente para este pro-blema, referindo que o grandeaumento dos fluxos migratórios,sobretudo de diplomados, podiapôr em causa o nosso desenvolvi-mento a médio prazo. O país estáa ficar exaurido dos seus melhoresrecursos. Os salários baixos, aprecariedade e o elevadíssimonível de impostos roubaram aopaís a sua atratividade. O empo-brecimento generalizado está adeixar de rastos uma nação in-teira, perante a frieza e insensibi-

lidade da maioria PSD-PP.Paradoxalmente, quando seria

mais importante que houvesse umaumento dos recursos do Estadopara acompanhar os fluxos migra-tórios, de forma a proporcionarum melhor atendimento consular,mais oferta de cursos no ensino doportuguês no estrangeiro, melhorapoio para o movimento associa-tivo, maior atenção para os casossociais que aumentam em períodode crise, de que o caso recente dossete portugueses esfaqueadosperto de Berlim é bem demonstra-tivo, aquilo que o Governo faz édesinvestir em toda a linha, numainaceitável desconsideração paracom todos os portugueses quevivem e trabalham no estrangeiro.Ainda recentemente, o Presidentedo Parlamento Europeu, o alemãoMartin Schulz, disse que, “sehouve 700 mil milhões de eurospara estabilizar os bancos, deve-mos pelo menos ter tanto dinheiropara estabilizar a geração jovem.E se a geração mais jovem está aperder a esperança, então a UniãoEuropeia está em perigo real”.Um alerta que deveria ser levadomuito a sério em Portugal.*Deputado do PS eleito pelas Comunidades

De novo o drama da emigraçãoA revista Der Spiegel fez re-centemente a sua capa comuma reportagem sobre aemigração dos jovens diplo-mados do sul da Europa,que deixam os seus paísesem crise para irem dinami-zar a economia alemã.

Page 7: Portugal Post Abril 2013

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013 Comunidades 7

O Portugal Post foi falar com Ivan.“O que quero é justiça, recuperar asaúde e voltar a trabalhar – de prefe-rência, em Portugal” - afirmou o por-tuguês que esteve dois dias noscuidados intensivos depois de ser es-faqueado gravemente por desconheci-dos em Adlershof, Berlim.

Ivan (nome fictício) foi o portu-guês, originário de um país do Lesteda Europa, que encontrámos no diadia 15 de Março, num hospital deBerlim. Fomos dar um passeio, paraele apanhar ar e fumar um cigarro.Vimos como se vestiu com dificul-dade, nove facadas no torso, nas per-nas, no pé, umas manchas negras, e,quando se virava para retirar o anorakdo cabide, aquela cicatriz enorme nanuca, com nove pontos. Fez cara debravo “já estive pior! Nem sei comovim cá parar. Ainda telefonei à minhaesposa no Dia da Mulher e disse-lheque ia ser hospitalizado, mas que nãoera nada de grave. Depois levaram-me para os cuidados intensivos, o te-lefone ficou sem bateria, não a pudemais contactar”. Foi a preocupação dasua companheira que telefonou paraos hospitais de Berlim que terá des-pertado a atenção da comunicação so-cial portuguesa.

Partiu do Norte de Portugal decarrinha com os seus companheiros(uns dezanove portugueses) no dia 4de Março. Destino: Berlim e o tra-balho num estaleiro no centro da ci-dade. Chegaram a Adlershof no dia 6,

à noite, à casa onde iriam ficar aloja-dos. Fizeram compras e jantaram.Ivan vive há mais de dez anos em Por-tugal e tem passaporte português. Falamuito bem português, para além dorusso e do polaco, e fala também oespanhol e “percebe umas trinta pa-lavras de alemão”. Trabalhou pela pri-meira vez no dia 7 de Março.Apercebeu-se que havia muitas nacio-nalidades diferentes no estaleiro dasobras, incluindo outros grupos de por-tugueses, do que virá a ser o maiorcentro comercial de Berlim.

Segundo dia de trabalho: duascarrinhas avariam-se, e têm de viajarpor turnos para o trabalho, de manhãmuito cedo. “Na Alemanha começa-se a trabalhar cedo. Às sete da manhãjá estávamos na obra”. Trabalharamaté cerca das 18h no dia 8 de Março.Voltaram para o alojamento directa-mente do trabalho, saíram das duascarrinhas, entraram no recinto.Quando se dirigiam para o edifício,Ivan olhou por cima do ombro e viuum companheiro caído, perto do por-tão da entrada.”Era o mais velho detodos nós, já com uns cinquentaanos”. Depois passou-se tudo muitodepressa: socos, pontapés, gritos deajuda, e portugueses gritando,“fujam”, a correr para salvar a pele.Ivan ouviu barulho, correu pela es-cada exterior e entre o segundo e oterceiro piso sentiu dores e achou-seno chão com alguém por trás a esfa-queá-lo repetidamente, sentiu as mãos

pegajosas (o que depois percebeu sersangue), e sem poder virar a cabeçapara o agressor sentiu uma pancadaforte na cabeça que o fez perder ossentidos (pensa ter sido um daquelesanéis de metal ou mesmo uma ma-traca). Segundo ele, não se ouviramvozes, o ataque foi surdo e mudo, noescuro, e foi impossível descortinar osagressores. Por esta razão, apesar dosseus conhecimentos linguísticos elenão se pode aperceber pela língua daorigem dos agressores.

Ivan prestou declarações à políciacom um intérprete de russo. “Foramsessenta páginas de informações quetive de assinar no fim, depois de falarmuito tempo”.

Em Portugal foi vítima de algu-mas burlas, trabalhou aqui e ali, umasvezes não lhe pagaram. Ivan tem o

Sete portugueses que trabalhamna construção civil nos arredo-res de Berlim, na Alemanha,foram agredidos no passado dia8 de Março por um grupo de des-conhecidos. Os sete trabalhadores portuguesesda construção civil com idades com-

preendidas entre os 36 e os 55 anosvoltavam a casa quando pelas19h30 foram espancados e esfa-queados por um grupo de desconhe-cidos.

Os trabalhadores portuguesesforam imediatamente transportadosa um hospital, tendo cinco recebido

alta no mesmo dia. Entretanto, osdois portugueses feridos que se en-contrava internados regressaram jáa Portugal. A polícia de investigaçãocriminal alemã ainda está a tentarapurar as identidades dos atacantes,que, segundo testemunhas no local,actuaram num grupo composto por

Sete trabalhadores portugueses da construção civil agredidos em Berlim

Segundo as estatísticas da polícia dacapital alemã, em 2011 registaram-seem Berlim cera de 45000 casos deagressão física na via pública, dosquais 4000 considerados graves. Énesta última categoria que cai tambéma agressão sofrida em Março por tra-balhadores portugueses da construçãocivil, atacados à navalhada por desco-

nhecidos – pelo menos à hora da es-crita deste texto. Mas os númerostambém deixam claro que, infeliz-mente, a ocorrência deste tipo de vio-lência não é invulgar. Seriainteressante analisar os porquês etecer comparações, por exemplo, comuma cidade como Lisboa. Ou, tendoem conta a nova emigração portu-guesa, pesquisar se Berlim é uma ci-dade de alto risco. Mas,evidentemente, não foi isso que inte-ressou os média portugueses. Um tra-balho de pesquisa aturada dá trabalho.“Sensacionalizar” uma ocorrência,apenas porque envolve portugueses, émuito mais fácil. Sobretudo se foruma oportunidade para ir ao encontrode todos os clichés que vigoram em

Portugal sobre a Alemanha, não es-quecendo as devidas insinuações dexenofobia.

É verdade que o interesse mór-bido e prioritário dos meios de comu-nicação em saber “se há portuguesesenvolvidos”, pergunta que já me foicolocada inúmeras vezes pelos seusrepresentantes quando se regista umacidente espalhafatoso ou uma catás-trofe humana na Alemanha, não éprerrogativa portuguesa. Também naAlemanha não há notícia sobre umterramoto no Haiti ou um acidente nu-clear no Japão, na qual não sejamcontabilizadas as vítimas alemãs àparte do resto, como se fossem maisimportantes. Onde a ocorrência é lon-gínqua, muitas vezes faz-se também a

separação entre ocidentais e autócto-nes. Por falar em xenofobia.

Mas estas atitudes condenáveistêm uma razão de ser. Com uma certajustificação, os meios de comunica-ção social partem do princípio que oespectador/ouvinte/leitor/usuáriomédio se interessa mais pela vizinhaque caiu do escadote e partiu o braço,do que pelas quase nove milhões depessoas que morrem de fome anual-mente, das quais a maioria, diga-se depassagem, crianças. A nossa capaci-dade de empatia é muito limitada e re-servada aos poucos com os quais nosidentificamos. Muita gente não vê atelevisão e o jornal como uma fontede informação, mas de titilação,

De modo que esta estratégia de

venda dos meios de comunicaçãoacaba por dizer também muito sobrequem consome o produto. Ela des-tina-se a quem não procura informa-ção, mas apenas pretende satisfazeruma avidez pelo sensacionalismo epela catástrofe. É o equivalente àspessoas que vão em excursão, de má-quina fotográfica na mão, para ver adevastação causada por cheias ou osescombros de algum acidente maisespectacular. E como o mote da im-prensa, rádio e televisão em Portugalé, cada vez mais, “vale tudo, desdeque venda”, nada mudará se os con-sumidores não protestarem, desli-gando a televisão e a rádio, ecancelando as assinaturas. É só que-rermos.

dez a dezassete homens e de forma“premeditada“.

“Nada indica que exista umamotivação racial“, afirmou umporta-voz da policia, adiantando queas autoridades alemãs estão a con-centrar as suas investigações nolocal da obra onde trabalham os sete

portugueses.“É essa a pista que estamos a se-

guir“, afirmou o mesmo porta-voz,quando questionado sobre se o ata-que contra os portugueses poderá teralguma coisa a ver com uma brigaou desentendimento na obra, comofora referido pela imprensa alemã.

curso técnico de serralheiro e solda-dor e expressa-se bem e com um ra-ciocínio claro. Foi subcontratado poruma empresa de Barcelos, assinou umcontrato de trabalho por seis meses.Não lhe foi dada uma cópia. E depois,juntamente com os seus colegas, via-jou de carrinha durante dois dias paraBerlim, para trabalhar numa dasmaiores obras, senão a maior, da con-strução civil na cidade neste mo-mento. Uma obra de prestígio no localonde abriram os grandes armazénsWertheim no fim do séc. xix, proprie-dade de uma família judia, perseguidae desapossada dos seus bens duranteo período hitleriano Quando foi eri-gido o Muro de Berlim, a LeipzigerPlatz, onde se situa a obra, ficava dolado Leste da cidade; entre esta praçae a Potsdamer Platz, era terra de nin-

guém, a temida Faixa da Morte; para-lelamente e para Oeste, seguia-semais um Muro de Berlim. A LeipzigerPlatz situa-se hoje no centro da Ber-lim unificada e é um exemplo de ar-quitectura moderna, voltou a ser um“hub” da cidade. E foram trabalhado-res como Ivan que construíram o queé hoje conhecido por Potsdamer Platz,designação lata do bairro, e que é umsímbolo da Berlim da nova era. Esteportuguês por escolha, preocupa-secom o seu futuro e o da sua família e,acima de tudo, disse: “quero voltar ater saúde, voltar a trabalhar, de prefe-rência em Portugal, onde aprendi por-tuguês com um homem muitovelhinho de 1,50m de altura!”

Cristina Dangerfield-Vogt,Berlim

Trabalhador esfaqueado descreve momentos do ataque ao PP

“Mas há portugueses envolvidos?”

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Cristina Krippahl

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Page 8: Portugal Post Abril 2013

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013Serviço8

Num comunicado enviado ànossa redacção, o Organismo de Di-reção Nacional (ODN) do Partido Co-munista Português na Alemanhadebruçou-se sobre a situação politicaem Portugal, chamando a atençãopara “o aumento generalizado da pre-cariedade e da pobreza, ao aumentoda emigração, a uma forte recessão daeconomia e à perda da soberania na-cional”.

“O ODN apoia e é solidário coma luta que os nossos compatriotasestão a travar em Portugal, contra apolitica deste governo, condena as po-líticas lesivas dos interesses da comu-nidade e apela a que esta participe nasdiversas acções de contestação e exi-gência de uma mudança de política eda demissão deste Governo que nãorespeita a Constituição da República“.

Na reunião, o ODN alertou para asituação “a instabilidade do Ensino doPortuguês no Estrangeiro (EPE)”. OPCP é da opinião que o governo PSD-CDS “com a sua política economi-

cista está a destruir sistematicamentetudo o que foi construído duranteanos. A “propina” é mais uma afrontacontra as comunidades. O ODN apelaà união dos nossos compatriotas con-tra esta injustiça e que apoie ao má-ximo a divulgação da petição “ Contraa propina de 120 euros e pela manu-tenção do EPE nas Comunidades Por-tuguesas”; neste momento a petiçãocircula on-line”, referem

O PC insurge-se mais uma vez,contra o encerramento dos vice-con-sulados de Frankfurt-am-Main e Os-nabrück, “prejudicando assim ascomunidades locais e os funcionáriosconsulares”.

“O MNE não consegui apresentardados convincentes que sustentem adecisão tomada (segundo os dados doMNE, p.ex. o Vice-Consulado de Os-nabrück era um dos mais eficien-tes...), diz o comunicado.

Sobre as Permanências Consula-res, O PC refere “que estão a ser bemrecebidas nos locais onde são feitas.No entanto há que salientar que osaldo (relação receita-despesa) aindanão é conhecido o que pode pôr emcausa muitas das mesmas.

As Permanências Consulares sãofeitas à custa dos funcionários consu-

lares e do serviço nos Consulados-Ge-rais”.

Também o associativismo mere-ceu também uma reflexão atenta,“uma vez que o movimento continuaem dificuldades e sem soluções avista”.

O PC diz que “o governo deveriadar mais atenção a este problema e as-sumir as associações como uma maisvalia para a nossa língua e a Pátria etambém como parceiros económicos,uma vez que elas são a maior fonte dedivulgação de Portugal e fortes con-sumidores dos nossos produtos”.

Os comunistas também contestama realização de curso mundial de for-mação de dirigentes associativos dadiáspora, organizado e patrocinadopela Secretaria de Estado das Comu-nidades, “que foi organizado às es-condidas e sem um critério de seleçãode participantes, inclusive, tendo sidoconfirmados já vários casos de que aescolha dos participantes foi feita noseio da organização do PSD, talvezpara pagar favores políticos. Pelo pro-grama que foi feito publico, o que erapara ser um curos de formação, maispareceu uma viagem turística entreLisboa e Viseu, tudo à conta do con-tribuinte”.

Comunistas portugueses na Alemanha

“As permanência consulares estão a ser bem acolhidas”Os militantes do Partido Co-munista na Alemanha reuni-ram-se no passado mês deMarço, em Hilden.

os dias 24 a 28 de feve-reiro de 2013 realizou-seum curso para dirigentes

associativos da diáspora que con-tou com a presença do Senhor Se-cretário de Estado dasComunidades Portuguesas, JoséCesário. Foi um evento organi-zado pela Confraria dos Saberese Sabores da Beira – Grão Vasco,com o Alto Patrocínio do Gabi-nete do Secretário de Estado dasComunidades Portuguesas, comapoio do Secretário de Estado daJuventude e Desporto, das Câma-ras Municipais de Viseu e Sintra,da INATEL, Pousada da Juven-tude, Hotel Príncipe Perfeito,entre outros. Estiveram presentesdirigentes da Alemanha, França,Suíça, Luxemburgo e ReinoUnido da Europa. Deslocaram-sede fora da Europa dirigentes daArgentina, Brasil, E.U.A., Vene-zuela, Uruguai, Canadá, Áfricado Sul e Macau.

Pretendeu-se neste fórum detrabalho a partilha de diferentesexperiências dos dirigentes asso-ciativos. Procurou-se que os par-ticipantes tivessem acesso a umconjunto de informações sobreprogramas de ação, organização egestão associativa, candidaturas,legislação, parcerias, entre outros.Houve ainda um espaço de refle-xão prática que incluía a visita adiversas associações portuguesasde forma a conhecerem realidadesconcretas do trabalho associativo.Pretendeu-se ainda conhecer otrabalho que as autarquias reali-zam com as associações. Estecurso teve o objectivo de criar nosdirigentes associativos uma mo-tivação acrescida, assim comotrazer ideias e projetos novos paraas respectivas associações.

O moderno anfiteatro do edi-fício do Instituto da Juventude, àsportas de Fontelo, acolheu o en-contro. Fernando Ruas, presi-dente da Câmara de Viseu e o Dr.José Cesário, Secretário de Es-tado das Comunidades Portugue-sas, deram as boas vindas aospresentes. A apresentação do pro-jecto da Confraria Saberes e Sa-bores da Beira – Grão Vasco -teve um lugar de destaque nesteevento, assim como a apresenta-ção dos projectos de outras asso-ciações de solidariedade doConcelho. Os trabalhos incluíramainda um programa cultural emusical.

O correspondente do PP es-tava na cidade e decidiu acomp-anhar este importante evento. Umdos objectivos implícitos do en-contro era fazer do trabalho des-tes dirigentes associativos umaespécie de embaixada económicanos respectivos países com pro-gramas de acção que se poderiamadaptar às diferentes realidades.

Viseu é para o efeito uma ci-dade modelo para o associati-

vismo. Centenas de associaçõesproliferam e têm um papel prepon-derante nas mais diversas ações só-cias-educativas e desportivas.Talvez por isso, a cidade está entreas dez melhores cidades no espaçoeuropeu.

Houve alguma polémica asso-ciada à organização deste encontrointernacional da diáspora, nomea-damente quanto à selecção dosparticipantes e à escolha das cida-des anfitriãs por serem autarquiasligadas ao PSD.

A questão de uma certa falta detransparência na selecção dos par-ticipantes terá ensombrado, emparte, o evento. Por exemplo, tantoa FAPA, única Federação de Asso-ciações Portuguesas na Alemanha,como o Conselho da Comunidadena Alemanha foram simplesmenteignoradas. Os dois participantes daAlemanha teriam sido convidadospelo responsável partidário doPSD da Alemanha e por um dos or-ganizadores do evento. Este factooriginou diversas críticas, tendoem conta que os custos da organi-zação saíram do bolso dos contri-buintes.

Para evitar estas controvér-sias, teria sido melhor definir umperfil dos dirigentes associativos eproceder à selecção dos candidatosde acordo com esse perfil pré-de-finido.

Além disso, a realidade asso-ciativa da Europa difere em muitodos países do continente ameri-cano. Talvez tivesse sido melhor li-mitar a participação de dirigentesa apenas um dos continentes. Noque respeita ao caso alemão, umaideia possível seria pensar numaparceria com as entidades públicasou privadas alemãs, até mesmocom eventual participação de fun-dos financeiros europeus, queapoiasse o movimento associativo.

Um encontro com estes custosdeve naturalmente atingir os ob-jectivos a que se propôs. Espera-mos que não se verifique o ditadoalemão “ausser Spesen nicht gewe-sen” ou seja, além dos gastos, nadade efectivo resulte. Apesar de todaa controvérsia, desejamos o maisamplo sucesso a todos os dirigen-tes associativos da diáspora.

Por último, um apelo aos or-ganizadores da iniciativa: O povoportuguês, que, apesar de pobre edigno, abriu-vos os braços deforma acolhedora, como sempre osoube fazer. Ficamos à espera quevocês saldem a factura. Congratu-lamos os participantes e desejamosque olhem mais além das corespartidárias. Fiquem fiéis a vósmesmos e honrai os nossos patrí-cios de quem fazemos parte inte-grante, com o vossoportuguesismo que tão intensa-mente haveis experimentado. Nemtodos os que se confessam próxi-mos dos ideais do PSD se espel-ham na metodologia deste eventoe, ainda bem, só assim caminhare-mos com qualidade e servindocom puro altruísmo o povo!“

A propósito do “curso“ para Dirigentes Associativos

O “curso” da polémicaJosé Gosmes Rodrigues

NNo passado dia 9 de Março reali-zou-se, na cidade de Neuss, o pri-meiro encontro de membros daComunidade Portuguesa com oobjectivo de discutir um modeloorganizativo com vista às cele-brações dos 50 anos de presençaportuguesa na Alemanha. Partici-param no encontro os responsá-veis da federação de associações(FAPA), três Conselheiros das Co-munidades (CCP) e Manuel Cor-reia da Silva, em representação doembaixador de Portugal em Ber-lim.

A ideia da criação de um grupoorganizador surgiu nas redes sociais.Nelson Rodrigues, um ex-conselheirodas Comunidades Portuguesas, teve ainiciativa de criar um grupo no “face-book”, ao qual se juntaram algumaspessoas interessadas em participar naorganização da iniciativa.

A ideia depois de gerar uma certaeuforia nas redes sociais, deu origema alguns desentendimentos entre osmembros do grupo, o que colocou emcausa a sua continuidade.

Apesar disso, conseguiu-se or-ganizar um primeiro encontro entrealguns membros do grupo iniciador,ao qual se juntaram os conselheirosAlfredo Stoffel, Alfredo Cardoso eFernando Genro, bem como os ele-mentos da FAPA, Vitor Estradas e

Oscar Pais; alguns dirigentes associa-tivos, bancários, empresários e outrosmembros da comunidade portuguesa.

Em representação do embaixadorde Portugal em Berlim esteve pre-sente Manuel Silva, o então Chefe deChancelaria do Consulado-Geral emHamburgo e seu actual gerente. A es-colha de Manuel Silva para represen-tar o embaixador deveu-se semdúvida à capacidade organizativa de-monstrada em importantes eventos li-gados à comunidade e ao prestigio econhecimento que goza no seio da co-munidade lusa neste país. Para alémdisso, refira-se a excelente reputaçãoque Manuel Silva tem junto das auto-ridades alemãs.

Na reunião de Neuss, coube aJosé Gomes Rodrigues coordenar ostrabalhos e a Alfredo Stoffel informarsobre os contactos anteriormentemantidos com a Embaixada de Portu-gal em Berlim.

Assim, acordou-se dividir a or-ganização em quatro grupos, um porcada área consular (Berlim, Ham-burgo, Düsseldorf e Estugarda), con-tando cada uma com umrepresentante do respectivo Consu-lado, a FAPA, o CCP. Procurou-seainda alargar a iniciativa a outrosagentes da comunidade como o jor-nal Portugal Post e todas as pessoasque queiram participar activamente na

organização dos eventos nas diversasáreas.

A Embaixada de Portugal, aFAPA, o CCP e o Portugal Post farãoparte da Comissão Coordenadora, aqual contará com (até) 3 membros decada grupo organizador das quatroáreas consulares.

Foi também decidido dar a maiordivulgação à organização, de modo apermitir que qualquer português ouportuguesa tenha a possibilidade de setornar membro dos respectivos gru-pos organizadores.

No final, Manuel Silva não sóelogiou a forma como decorreu a reu-nião, como também se referiu à ne-cessidade de “valorizar mais ocaminho, leia-se a capacidade organi-zativa da Comunidade Portuguesa, doque os próprios eventos”, pois – se-gundo o mesmo – entende ser uma“oportunidade única para unir as co-lectividades, fortalecer o CCP e aFAPA, e também a ligação Consu-lado-Comunidade”.

O grupo ficou de preparar o enviode uma circular a anunciar o iníciodos trabalhos preparativos e os con-tactos a quem a Comunidade Portu-guesa se deve dirigir para fazer partedos grupos organizadores dos eventosque terão lugar em 2014, por ocasiãodos “50 Anos – Comunidade Portu-guesa na Alemanha”.

“50 Anos – Comunidade Portuguesa na Alemanha”

Comunidade vai celebrar as suas bodas de ouro em 2014

Page 9: Portugal Post Abril 2013

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013 Comunidades 9

Motivos para festejar: sim ou não?

Em busca de uma vida melhorO meu depoimento é claro. Não tenho 50anos de emigrante na Alemanha, mas sim41 anos! Como é natural vim para ter umavida melhor. Cheguei à Alemanha em 1972e minha determinação era ficar até quandoeu desejasse. E foi exactamente o que

aconteceu! Durante estes 41 anos visito o meu pais de origem duasvezes por ano, e resido temporariamente entre Portugal e a Alemanha.Nunca morri de saudades pelo meu torrão natal. Para mim, a minha terraé onde eu e minha família podemos levar uma vida digna! O naciona-lismo nunca dominou a minha visão e o meu objectivo na vida! A mi-gração remonta até ao patriarca Jacó, pai da nação de Israel. Por causade uma fome em Canaa, Jacó e sua família de quase 70 membros mu-daram-se para o Egipto .Os tempos mudaram muito desdeaquele ano de 1972 quando vim paraa Alemanha. Mas neste meu depoi-mento posso constatar que o êxodode imigrantes nos últimos anos con-tinua aumentando. Isto é a provaevidente que os governos humanosnão conseguiram até hoje dar condi-ções dignas de vida aos seus súbdi-tos!José Valgode residente em Witten

50 anos - Portugueses na Alemanha

A falta de compreensão e o desco-nhecimento mútuo entre a Alema-nha e Portugal, que tanto temdificultado o entendimento entreestes dois países numa época decrise, não é uma fatalidade. Hádez anos que a Europaschule Kölne a Escola Básica (EB) 2,3 de Viladas Aves, se empenham no inter-câmbio de jovens alunosportugueses e alemães, reconheci-damente um dos instrumentosmais eficientes para fomentar asrelações bilaterais.

No ano em que se celebra odécimo aniversário deste pro-grama, a Europaschule na cidadede Colónia recebeu, de 28 de Fe-vereiro a 5 de Março, seis alunose dois professores portugueses daEB 2,3 de Vila das Aves, no nortede Portugal. Para assinalar a data,a escola alemã organizou uma pe-quena cerimónia, que contou coma presença da presidente da Câ-mara da cidade alemã,Angela Spi-zig, assim como da professoraFátima Silva, em representação dacônsul portuguesa de Düsseldorf,ausente por motivos de saúde.

Numa curta alocução, a dire-tora do estabelecimento de ensino,Dagmar Naegele, realçou que oPortuguês Língua Não Maternaconsta do currículo da Europa-schule Köln há cerca de 18 anos.

Esta esta língua europeia aprende-se aqui do 5° até ao 10° ano, e oscursos têm um número constantede alunos que varia entre os 12 a18 jovens de diferentes nacionali-dades. O intercâmbio com alunosportugueses é parte integrante doprograma escolar.

A geminação, que resulta doempenho dos professores deambas as escolas, começou com aprofessora Carolina Machado e éhoje continuado pelos docentes

Paulo Costa e Sónia Emiliano porparte da escola portuguesa e coma professora Margarida NevesRichmann, por parte da escolaalemã. Entretanto, já tiraram pro-veito desta parceria 220 alunosalunos portugueses e alemães. Osrepresentantes oficiais presentes,alemães e portugueses, foramunânimes em considerar que estetipo de actividade escolar é umaforma de ligação e de aproxima-ção entre culturas diferentes.

Menos vulgar é encontrartodos os alunos de acordo com osprofessores e outros adultos. E aimportância desta experiênciapara combater preconceitos re-flecte-se claramente no comentá-rios: “Adorei a Alemanha!”, dissea Clara, e acrescentou: “Euachava que não ia gostar da co-mida, mas adorei mesmo. A famí-lia é muito simpática e com umótimo sentido de humor”. As cri-anças ficaram hospedadas em

casa de alunos do curso de portu-guês da Europaschule, que, porseu lado, serão recebidos em Por-tugal, para onde nove jovens sedeslocarão em Maio. Onde de-verão conhecer um mundo novo,como aconteceu com os alunosportuguesas, que se maravilharamcom muitas facetas desconhecidasdo país do qual, até à data, só con-heciam os rudimentos da língua.Como diz o Sandro: “Achei muitointeressante, porque fomos ver sí-tios históricos como a Catedral. Oque eu mais gostei foi do Museudo Desporto, porque eu gostomuito de desporto e lá havia a his-tória toda do desporto. Acheimuito divertido e animado!”.

Animada e divertida foi tam-bém a celebração dos dez anos deintercâmbio: os jovens alemãesque aprendem português enqua-draram a cerimónia com cançõese poesias. Os alunos do 10°ano,que visitaram Portugal há doisanos, fizeram uma apresentaçãoem português e alemão sobre aforma como o intercâmbio os in-fluenciou pessoalmente e cultural-mente, e, claro, como avançou osseus conhecimentos da línguaportuguesa. Uma geração que, tal-vez, num futuro próximo, estejamais apta do que a presente a con-struir a Europa de todos.

Ao encontro de outras culturas

10 anos de intercâmbio escolar entre a Europaschule Köln e a Escola Básica 2,3 de Vila das Aves

Jovens alunos portugueses e alemães da Europaschule Köln e da Escola Básica (EB) 2,3 de Vila das Aves,

Mexidas no consulado em Hamburgo

Manuel Correia da Silva as-sume a gerência interina doConsulado-Geral de Portugalem Hamburgo e António Alvesde Carvalho a Embaixada dePortugal no Uruguai

Com a saída de António Alvesde Carvalho, Cônsul-Geral dePortugal em Hamburgo, com des-tino ao Uruguai, onde de futuroirá chefiar a Embaixada de Portu-gal, o ex-titular do Vice-Consu-lado de Portugal em Osnabrück eatual Chefe de Chancelaria e Con-tabilidade do Consulado-Geral dePortugal em Hamburgo, ManuelCorreia da Silva, passou a assumira gerência do Consulado Geral emHamburgo.

O exercício de funções do úl-timo Cônsul-Geral mereceu, so-bretudo pela comunidaderesidente na antiga área consular,muitos elogios, quer pelo trabalhoprestado junto de importantes de-cisores na cidade livre e hanseá-tica de Hamburgo, quer por parte

da Comunidade Portuguesa.As alterações de funciona-

mento da Chancelaria do Consu-lado em Hamburgo, postoconsular que passou a servir tam-bém os estados Baixa-Saxónia eBremen, há muitos meses que sefaziam notar. Assim, à semel-

hança do que aconteceu no Vice-Consulado em Osnabrück, aqueleConsulado-Geral passou a ter umportal (www.consulado-ham-burgo.de) e e um cartão-de-visita,através do qual divulgam o linkdo portal, o horário de funciona-mento e as coordenadas do Con-sulado-Geral. A desburocratizaçãoe a reorganização do Consulado-Geral em Hamburgo não passa-ram despercebidas e também jácolhem fruto, pois há quem afirmeque o Consulado em Hamburgonunca atingira anteriormente umgrau tão elevado de satisfação porparte da Comunidade. A excelenterelação ente o Cônsul-Geral e oChefe de Chancelaria, terão pro-porcionado que Manuel Correiada Silva confirmasse o que o ca-racterizou durante o tempo quegeriu a representação consular nacidade de Osnabrück, posto con-sular que o atual governo mandouencerrar em finais de Fevereiro de2012.

Manuel Correia da Silva assume a gerência interina do Consulado

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 201310

os milhares de refugiados ju-deus que passaram por Lis-boa, poucos ficaram. Paraestes o porto de trânsito, por

diversas razões tornou-se porto dedestino fazendo do exílio pátria. É ocaso de Ruth Arons.

Nos anos quarenta Lisboa estavacheia de refugiados. Músicos, artistas,escritores e intelectuais como o pintorMarc Chagall, ou escritores ThomasMann ou Hans Sahl. Muitos deles dei-xaram testemunho da sua passagempor Lisboa em romances, cartas oulivros de memórias.

Hans Sahl, um dos maiores escri-tores de língua alemã do século XX,descrevia assim Lisboa. „No porto deLisboa estavam atracados navios quejá não levantavam ferro, ou raramenteo faziam. Nos cafés viam-se refugia-dos de todos os países à espera de umvisto e procurando ser ouvidos nasmais desvairadas línguas. Sentíamo-nos em liberdade...Havia que comer,podíamos ir ao barbeiro e até à mani-cure. Abraços em tabernas cheias defumo, junto ao porto, a amigos quetinham conseguido escapar. Brindava-se à América e todos combinavam irjuntos, assim que chegassem, ver onovo filme de Chaplin, o grande dita-dor, que acabava de estrear em NovaIorque.

Se nos Estados Unidos em 1940,data em que estreou o filme se paro-diava Hitler, a Europa, com a invasãoda Polónia pela Alemanha nazi a 1 deSetembro de 1939, mergulhava nocaos e no horror da guerra.

Recuemos no tempo. Com a che-gada ao poder de Adolf Hitler, em1933, os judeus foram alvo de umapropaganda anti-semita virulenta.Sendo excluídos económica, social epoliticamente e mais tarde forçados aabandonar a Alemanha. Houve algunsque pressentindo o perigo saíram dopaís nos primeiros anos da década detrinta. A família Arons fê-lo.

Partida para um país desconhecidoA pequena fotografia a preto e

branco que segura nas suas mãos datade 1935 e mostra Ruth Arons aos 13anos, e sua irmã Ellen, com 10 anos,sentadas no banco traseiro de um des-capotável, rumo ao ainda desconhe-cido Portugal.

„ Em 1936 os meus pais decidi-ram que iriam imigrar. Primeirofomos para Suíça e então os meuscontaram-nos que iríamos para Portu-gal. Viemos de carro devagar porParis, por Espanha até chegarmos aPortugal“, recorda a activa senhora de90 anos. Confessa-nos ainda quequando o carro partiu ficou „aliviadae ansiosa ao mesmo tempo“. RuthArons recebeu-nos num prédio doelegante bairro de Amoreiras, em Lis-boa. E as memórias vão e flutuandodurante a conversa.

Ruth Arons fala um portuguêsperfeito, cheio de metáforas. Mas nãoesqueceu a língua materna o alemão eserá em alemão que conversaremos.Na sala de estar da sua casa, há um ar-mário cheio de livros: literatura clás-sica alemã, uma enciclopédiaBrockhaus, obras de filosofia e polí-tica e o livro de cozinha da avó. Atéhoje Ruth Arons sente o aroma e osabor dos pratos que sua avó cozin-hava.

O livro, um dos objectos trazidosda Alemanha que Ruth Arons con-serva com mais carinho, chegou aLisboa juntamente com os móveis ebens da família, antes que a própriaavó Arons deixasse o país, o queaconteceu depois da Noite de Cristalde 9 de Novembro de 1938, noite emque foram destruídas Sinagogas, que-bradas montras das lojas judaicas emilhares de judeus um pouco por todaa Alemanha foram levados para cam-pos de concentração. Ruth Arons édescendente de uma abastada e cultafamília berlinense. Na capital alemã,no bairro de Neu Köln, existe aindahoje uma rua Arons dedicada ao seutio avô Leo Arons, um inventor, pro-fessor universitário de Física e mili-tante do Partido Social Democrata.

Feliz por poder deixar a AlemanhaRuth recorda-se bem, Adolf Hitler

havia tomado o poder há apenas doismeses, quando, no dia 1 de abril de1933, uma ação de propaganda levoua um boicote, em toda a Alemanha, àslojas que pertenciam aos judeus, aosconsultórios de médicos judeus e aosescritórios de advogados judeus. „Omeu pai Albert era advogado“, conta-nos e „foi proibido de exercer a pro-fissão. A atmosfera naquela época eraterrivelmente tensa“.

Ela tinha apenas 11 anos e nãocompreendia o que tudo aquilo signi-ficava, mas sentia, como recorda hoje,um mal-estar difuso, uma sensação deameaça. No mundo infantil as coisastambém mudavam: „Frequentávamosnaquele tempo uma escola pública nobairro Charlottenburg, em Berlim“,conta. „Os nossos pais nos tiraram-nos de lá por causa da discriminaçãoe colocaram-nos numa outra escola.Os católicos pareciam-nos mais cor-diais, mas era um engano: as meninasnão judias recebiam em casa a proibi-ção de manter contacto com as cole-gas judias. Quando saí da Alemanha,fiquei muito feliz“, recorda Arons.

O seu pai percebeu cedo os rumosque as coisas tomariam. Ele leu„Mein Kampf“, (A Minha Luta), olivro de Hitler, e levou-o muito asério. Em seguida resolveu deixar aAlemanha com mulher e filhos en-quanto isso ainda era possível.

A vida na Avenida da LiberdadeA cidade à beira do Tejo era na-

quela época uma cidade pequena nosul da Europa. Na década de trintaapenas cerca 600 refugiados viviamali à espera de um visto para continuarviagem. A grande onda de milhares deperseguidos viria quatro anos maistarde, com a ocupação da Françapelos alemães.

No Jardim das Amoreiras, situadoem frente à casa de Ruth Arons, mar-camos encontro com Irene Pimentel,historiadora e autora do livro „ Judeusem Portugal durante a SegundaGuerra“. Ela fala-nos deste período:„Na década de trinta chegaram muitopouco gente, porque muito refugiadospolíticos ou judeus exilaram-se ali àvolta em países democráticos, mashouve um outro que chegou a Portu-gal naquela altura era muito fácil en-contrar emprego e era fácil inclusiveter a nacionalidade ou obter o visto deresidência“.

A família Arons, que intregra aprimeira leva de judeus a chegar aPortugal, morou de início, e simboli-camente, numa pensão da Avenida daLiberdade. „Não sabíamos nada sobrePortugal, só conhecíamos vinho doPorto, cortiça e sardinhas no óleo,

nada mais. É claro que não falávamosuma palavra de português“, contaArons.

A Lisboa pacífica, iluminada eimpregnada de música recebia os re-fugiados vindos da Alemanha de ma-neira cordial. O escritor alemãoAlfred Döblin, falecido em 1957,disse na altura da sua chegada a Lis-boa: „ sim foi com luz, risos e músicaque Lisboa nos recebeu. A divertidamúsica das ruas durou horas e nósouvia-mo-la da janela do nosso Hotel.Mas que mundo, mas que mundo.Inacreditável“

Os portugueses eram prestativose não havia obstáculos de ordem bu-rocrática. Ruth e sua irmã Ellen fre-quentavam a escola francesa – issofacilitava a adaptação, pois elas já tin-ham tido aulas de francês em Berlim.

As colegas, com quem aprendiamportuguês, eram simpáticas, recordaRuth Arons. E nem podiam imaginarque, na Alemanha, crianças destaidade poderiam ser perseguidas e di-scriminadas.

Paraíso tristeNos anos quarenta Lisboa ficaria

cheia de refugiados judeus e persegui-dos políticos, entre estes muitos artis-tas, músicos, escritores e intelectuais.A imagem da cidade mudava a cadadia. E Lisboa transformava-se emuma metrópole em ebulição, per-meada por culturas e idiomas estran-geiros. Uma cidade na qual oscaminhos se cruzavam e destinoseram definidos; onde refugiados,espiões e a polícia política se encon-travam, seja na Pastelaria Suíça ou noCafé Nicola, no Bar Famous ou forada cidade, no Palácio Estoril.

Tradições diferentes e hábitosestranhos acabaram se disseminandopela cidade. Ruth Arons recorda:„Lisboa era uma cidade pequena e, derepente, chegaram todos aqueles refu-giados. Eles ficavam sentados na Es-planada, tomando café e comendo

tortinhas de creme. As mulheres iamsozinhas aos cafés e fumavam. Issotudo era para os moradores da cidadeuma imagem inusitada“.

A vida da maioria dos refugiadosem Lisboa e arredores era, a partir de1940, tudo menos cheia de glamour:a luta pela mera sobrevivência sugavatodas as forças. Era preciso organizarmoradia e sustento. E Portugal era,para a maioria dos refugiados, apenasuma estação intermediária, uma espé-cie de sala de espera, pois a maioriados que chegava até ali queria seguirviagem pelo Atlântico, procurandodesesperadamente por passagens denavio, bilhetes e documentos de via-gem. A comunidade judaica e o JointDistribution Committee ajudavam,embora os recursos muitas vezes nãofossem suficientes.

De uma ditadura à outraA partir de 1942, os sucessos da

Wehrmacht pareciam trazer a guerrapara mais perto: „De todos os ladoschegavam informações desencoraja-doras“, lembra Arons. O rádio ficavaligado ininterruptamente. E as notí-cias adquiriam um significado exis-tencial: era o medo básico dosrefugiados de perderem a oportuni-dade de sair. O medo de serem tritu-rados pela máquina militar dos nazisou se tornarem vítimas da Gestapo,que operava também em Portugual.

A família Arons pouco sabia a re-speito do que acontecia de factto naAlemanha nazi ou nos países euro-peus ocupados. Auschwitz e Dachau,com seus crimes hediondos cometi-dos contra os judeus europeus, eramassuntos que só mais tarde abalariame indignariam a família. E Ruth Aronsnunca quis voltar a viver na Ale-manha. Até hoje interroga-se: „Ondeestava Deus, quando todo esse horroraconteceu?“.

Mais tarde, estudaria na Universi-dade de Lisboa. Depois da guerracasar-se-ia com um colega de Facul-dade e obteve a cidadania portuguesa.Ruth Arons participou no movimentode resistência ao regime de Antóniode Oliveira Salazar, o ditador conser-vador-autoritário, que praticou du-rante a Segunda Guerra uma subtilpolítica de neutralidade, sem estar100% do lado dos aliados, mas tam-bém sem se aliar aos nazis alemães.

Ruptura democráticaEm 1973, Portugal era a mais an-

tiga ditadura da Europa. E, de repente,as voltas que a história dá ficavam vi-síveis: Alberto Arons de Carvalho,filho de Ruth Arons, fundava juntocom o político exilado e futuro pri-meiro-ministro do país, Mário Soares,o Partido Socialista: e isso exatamenteem Bad Münstereifel, na Alemanha.Com apoio dos social-democratas ale-mães, cujo líder na época era o ex-chanceler federal Willy Brandt. Umano mais tarde, eclodia a Revoluçãodos Cravos, trazendo a Portugal umprocesso de democratização. RuthArons sempre esteve do lado dos re-volucionários e democratas.

E em breve ela viria a ocupar tam-bém um cargo: a de primeira presi-dente da Junta eleita de São Mamede,um bairro de Lisboa.

Hoje ela vê a Alemanha com sen-timentos ambíguos: uma Alemanhaque para ela se tornou estranha. „Por-tugal é meu país. Amo Lisboa e gostomuito de viver aqui. Moro nesta ruahá 50 anos, conheço todo mundo“, dizela. A Alemanha faz parte de um pas-sado há muito deixado para trás.

Helena Ferro de GouveiaCortesia DW

Legado Judaico: quando o exílio se torna pátria

Lisboa foi um porto de esperança para os refugiados judeus e perseguidos políticos durante a Segunda Guerra Mundial. E a sala de espera para continuar viagem rumo aos Estados Unidos, ao Brasil, à Palestina.

D

Alberto Arons de Carvalho, Fundador e dirigente do Partido Socialista,descendente de refugiados judeus que se instalaram em Portugal

Sociedade

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013 11

Crónica Por Joaquim Nunes

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Fui ver o filme „comboionocturno para Lisboa“.

Lisboa, como cenário, équem mais ganha com o filme. A ci-dade, na beleza do xadrez dos seustelhados, na luz que lhe invade as ruase escadarias, no pitoresco dos eléctri-cos que a atravessam da „Graça“ aos„Prazeres“, nos cacilheiros que cru-zam a beleza do Tejo. Quem vê ofilme, ganha vontade de ir conhecer acidade, se ainda a não conhece. Equem já a conhece não vai perder aprimeira oportunidade de voltar lá.Oxalá possam os passageiros do“Comboio nocturno para Lisboa“ des-cobrir também a outra Lisboa, a Lis-boa do povo, com lixo e com pobrespelas ruas... oxalá saibam entrar noritmo de vida de todas esses milharesde pessoas que habitam os dormitó-rios da periferia e diariamente se aper-tam nos transportes públicos, sem oromantismo do eléctrico 28, correndode casa para o trabalho, do trabalhopara casa...

Para além desta bela colecção deimagens de Lisboa, que fará inveja atodos os bons coleccionadores depostais ilustrados, o filme em boa

parte desilude. Como muitas vezesdesiludem as filmagens de grandeslivros, de grandes romances. Pensoque o livro de Pascal Mercier é umdesses livros difíceis de transpor parao cinema, que mais não seja pelaabundância das páginas de conteúdofilosófico. O livro dos pensamentosde Amadeu, a fazer-me lembrar oLivro de Desassossego de FernandoPessoa, encontrou mesmo assim o seuespaço em citações ou na parábola devida daquele velho combatente da re-sistência a viver num lar de terceiraidade lá „na margem sul“ do Tejo.

O que mais insatisfeito me deixoufoi a abordagem da história do fas-cismo português e da „gestação“ lentado 25 de Abril. A brutalidade da PIDEe dos seus métodos de tortura aparece.Mas não aparece o drama de todo umpovo reprimido, a viver tantos anosnum clima de medo, propositada-mente privado do acesso à cultura,sem formação escolar, defraudado dasua história, isolado do resto domundo, a sangrar lentamente numaguerra colonial em várias frentes. Éverdade que esses temas não apare-cem já no livro de Pascal Mercier.

Mas o 25 de Abril, que não foi prepa-rado por dois ou três heróis da resis-tência, mas por muitos anos de luta deuma oposição que se foi organizandoa ponto de penetrar nas estruturas mi-litares, sem que a Pide/DGS o pu-desse impedir, poderia ter no filmeum tratamento mais largo e maisexacto. A oposição ao regime fascistatinha nome, teve muitas vítimas mas

não morreu com Amadeu, nem caiuna frustração do farmacêutico alcoó-lico, mas venceu, tornou-se regime. Eo 25 de Abril foi fruto de uma luta detodo um movimento, de uma oposiçãoorganizada, de partidos na clandesti-nidade, e não plano idealista de „re-sistentes“ isolados.

Vem aí mais um aniversáriodo 25 de Abril. Para o ano,será o 40º. Que fizemos do

25 de Abril? Quem é que reconhecena actual política portuguesa os ideaisde Abril? Que memória guardamosdele? O que é que sabem do 25 deAbril os jovens e as crianças de Por-tugal? Que conhecimento e que ima-gem têm dele os portugueses naemigração? Será que o apreciam ejustamente valorizam, ou apenas o di-famam, atribuindo-lhe as culpas detudo o que está acontecer na actualcrise?

Parece-me significativo que,quando menos se esperava, o Povonas últimas semanas lembrou-se do“Grândola Vila Morena” para protes-tar contra as actuais políticas de com-bate á crise. E vai daí canta-se o

“Grândola”, para manifestar oposiçãoe desagrado. Num comentário de umconceituado jornal diário, um cronistadenunciava essas intervenções de pro-testo com o “Grândola... terra da fra-ternidade”, garantindo que não eramacções espontâneas do povo, mas for-mas organizadas de oposição política.Apetece-me responder: ainda bem! Apolítica será tanto mais eficaz quantomais ela levar as pessoas a organizar-se e a sair à rua. Com anedotas e en-xovalhamento dos políticos no“facebook“ não se vai longe!

Voltemos ao filme „Comboionocturno para Lisboa“. Um estran-geiro vem a Lisboa à procura doautor de um livrinho cujos pensamen-tos desassossegam. Descobre a di-mensão e a história política dopensador que o escreveu e a sua liga-ção com o 25 de Abril. Mas o autor dolivrinho está morto. E os seus colegas,um está num lar de terceira idade, erecusa a comunicação com as novasgerações, outro refugia-se no álcool,e uma terceira mudou-se paraEspanha... Provocação ou difamação?Quero crer que é uma boa provocaçãoque nos é feita a todos nós.

Oxalá1.

2.

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 201312

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alo-vos hoje de “Amor dePerdição”, obra emblemáticado Romantismo português

que conjuga, ao mesmo tempo no es-pírito dos leitores, os amores infeli-zes dos protagonistas Teresa e Simãodentro da obra e do seu autor CamiloCastelo Branco e Ana Plácido navida real. E também se baseia ainda,explicitamente, no caso verídico deSimão Botelho, tio do autor. Este en-trelaçar de factos reais comprovadose ficcionais romanceados confere aotexto uma verosimilhança absurdaque cativou o leitor do momento econtinua a atrair o dos nossos tem-pos.

Nesta novela passional escritanum ápice, em quinze dias do ano de1861, em que Camilo e Ana Plácidoestiveram encarcerados na Prisão daRelação do Porto acusados de adul-tério, e publicado um ano mais tarde,o autor procura em primeiro lugar,como motivo exterior à trama, cha-mar a atenção para a injustiça da suaprisão.

Em seguida, servir-nos uma no-vela passional que nos transportapara um clima psicológico em quedominam as desgraças amorosas, osdestinos cruéis, as vinganças terríveise os orgulhos que matam e destroem.E por fim, dar-nos um texto que os-

cila entre o exagero do trágico roma-nesco e o irónico das situações para-lelas relatadas, e onde a paródiasobre o casamento contrasta com atragicidade do tema principal.

Esta novela sentimental servidapor um enredo simples e altamentetrágico é o lugar onde ocorre umanarração rápida, despida de aconteci-mentos de segundo plano e tiradas fi-losóficas. Onde a exaltação dolirismo passional corre para um de-senlace trágico.

Os amores contrariados pelas re-spectivas famílias, que não se supor-tam, de dois jovens da mesma classesocial - Teresa e Simão - são o cerneda trama. Apresenta um ponto devista de crítica social, próximo dorealismo, onde são abordados ostemas caros ao autor (ao de levecomo convém numa novela senti-mental), tais como os casamentos deconveniência, a apologia da fidalguiade carácter e não de linhagem, osdesvarios da vida monástica, os po-dres das relações matrimoniais, asprovocações dos incontroláveis fil-hos de família. E onde as qualidadesmorais são acentuadas, a nobreza doamor verdadeiro, o valor da palavradada, a amizade, a honra, o amor pla-tónico, a constância do amor, a re-núncia, etc.

Apresentando um profundo con-hecimento da técnica novelística, Ca-milo deixou-nos uma obra onde,entre vários artifícios, podemos apre-ciar a criação de uma estrutura biná-ria da narrativa. Ela desenvolve-se,por um lado, em ações dramáticasmotivadas por um amor idealizado ealimentado à distância. Ações velo-zes e eficazes, sustentadas por diálo-gos curtos e de linguagem coloquial.E, por outro lado, entremeadas pelatranscrição de cartas, que fazendoparar a ação, sobre ela se debruçam.As cartas são os momentos em que atrama ganha fôlego e os protagonis-tas dão asas à expressão dos seussentimentos, comentando a sua situa-ção e dando-se a conhecer. Fechamos protagonistas ao mundo dos ou-tros e abrem-nos sobre a sua própriasubjectividade. Dão-lhes uma dimen-são eterna e épica e são um artifíciomobilizador da acção que, ao permi-tir descansar do ritmo, informamsobre as emoções em que ele se em-brulha.

Oferece-nos, também, a génesede um triângulo singular -Teresa,Simão e Mariana - perdidos nos seuspróprios sentimentos. Este triânguloafasta este texto de modelos duais jáconcebidos e do triângulo compostopor dois homens e uma mulher, tão

caro ao romantismo. As personagenssão quase planas, descritas fisica-mente com o mínimo de pormenorese dadas a conhecer a partir das suasatuações, marcadamente rígidas esem sofreram alteração durante todaa narrativa. A revolta, a obstinação, odesespero e o inconformismo são asmarcas que as suas ações imprimem.

Camilo utiliza uma linguagemcoloquial para o seu tempo, despidade adjectivações, substantivada ecentrada na importância do verbo,nas frases curtas, exclamativas.Apresenta um diálogo com o leitor,ou melhor com a leitora, que predis-põe à intimidade e opera a intrusãodo autor na narração dos factos, per-turbando o espírito romanesco comnotas de roda pé e hipertextos.

Esta obra está estruturada em 20curtos capítulos e serve-se de umnarrador omnisciente, que sabe tudosobre as personagens que acom-panha. Estamos perante uma narra-ção de tempo cronológico e linearque começa no ano de 1779 e vai até1807, e um espaço que se vai fe-chando sobre os protagonistas que ohabitam, num crescendo de impossi-bilidades físicas. Só na morte os doisalcançarão um espaço aberto, sím-bolo da liberdade conquistada peloseu amor imortal. Morrer por amor

era um tema próprio do ultra-roman-tismo que provocava nos leitores,maioritariamente femininos, a ca-tarse. A novela sentimental propi-ciava ao leitor, de longe, aobservação da dimensão da tragédiaamorosa, mas que dela o resguar-dava.

Este texto, reeditado muitasvezes, conheceu numerosas tradu-ções e a modernidade da sua açãonarrativa e do seu ritmo vertiginosofez com que fosse retomado pelo ci-nema.

Em 1914 pelo realizador brasi-leiro Francisco Santos, em 1917 pelotambém brasileiro José Viana, em1921 por Georges Pallu (sempre emversão muda). Em 1943 por AntónioLopes Ribeiro, em 1979 por Manoelde Oliveira a que se associou umasérie televisiva e, em 2008, porMário Barroso. Em 1965 foi adap-tado pela TV Cultura no Brasil emforma de telenovela e sempre sob amesma denominação de “Amor dePerdição”. Esta novela, que tambémfoi adaptada ao teatro, à ópera, logoem 1907 e ao bailado, moldando-sea tantos formatos e a tantas épocas, éuma obra de referência na literaturade língua portuguesa. Luísa Coelho, Berlim

Camilo Castelo Branco e Amor de Perdição (1825/1890)

Falo-vos hoje de “Amor de Perdição”

F

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 201314 Economia & Negócios

Desde há algum tempo para cá oBanco de Portugal tem anun-ciado um aumento de remessasdos portugueses no mundo.Entre os países que registarammaior crescimento em 2012 estáa Alemanha com 172,9 milhões.Em seu entender a que se deveesta subida?Como sabe, num contexto de

moeda única e com o estabelecimentode regras europeias para as transferên-cias (SEPA), o próprio controle esta-tístico dos montantes expedidos émenos fácil. E as razões para o cres-cimento das remessas não estão sufi-cientemente estudadas, pelo queapenas podemos colocar algumas hi-póteses explicativas dessa evolução.Claro que, no caso da Alemanha, sa-bemos que um número significativode portugueses tem vindo a atingir aidade da reforma e muitas pensões sãoenviadas para Portugal, onde esses re-formados passaram a residir, pelomenos durante parte do ano. Por outrolado, admitimos que haja movimentosque correspondem a apoios a familia-res, num contexto de dificuldadeseconómicas que o país atravessa. Massobretudo, e para além da chegada denovos emigrantes à Alemanha, pode-mos estimar que os clientes conti-nuam a poupar e a acreditar emPortugal como destino para as suaspoupanças. Apesar da crise da dívidasoberana, a solidez da banca portu-guesa, e nomeadamente da CGD,nunca esteve em causa, e esse au-mento das remessas parece indicarque os clientes residentes no estran-geiro também não tem tido dúvidas aesse respeito.

A chegada de novos compatrio-tas à Alemanha (mais 7,7% deemigrantes em relação a 2011)devido à situação de crise no paístem “aguçado” a imaginação dabanca, ou seja, da CGD para re-forçar a sua presença na Alema-nha?A Caixa Geral de Depósitos tem

acompanhado com interesse todas asinformações sobre a vinda de novosgrupos de Portugueses para a Ale-manha e o Escritório tem sido con-tactado por clientes recém-chegados,quer em Berlim quer nas outras cida-des onde estamos presentes. Temostido conhecimento também de inicia-tivas de entidades Alemãs que se des-locam a Portugal, apresentandocondições atrativas para profissionaisqualificados. Ao que soubemos, opróprio Instituto de Emprego, em co-operação com serviço público deemprego da Alemanha, desenvolveatualmente um conjunto de sessõesem Portugal, no sentido de informar eaconselhar profissionais portuguesesinteressados em trabalhar na Ale-manha em áreas que vão da Saúde,Engenharias e Tecnologias de Infor-mação, até à Hotelaria e a ProfissõesTécnicas muito diversas.

Há várias razoes que poderão ex-plicar o atual interesse pela Ale-manha. O ensino universitário tem-seinternacionalizado, criando mobili-dade e oferecendo aos estudantes oconhecimento da cultura de outrospaíses e oportunidades. Por seu lado,a solidez e sofisticação da economiaalemã oferecem perspetivas para amão de obra qualificada, especiali-zada e mesmo académica. Natural-

mente, as dificuldades que Portugalatravessa em termos de emprego,levam muitos portugueses a procuraralternativas no exterior. Mas, especi-almente no caso de Berlim, têm tam-bém chegado jovens atraídos pelacultura e pelas artes na Alemanha.

A principal função do Escritóriojunto dos recém-chegados é apoiá-loscom informação de utilidade numaperspetiva de residente na Alemanha,e disponibilizando meios para a ge-stão cómoda e fácil das suas necessi-dades financeiras do dia-a-dia,incluindo os cartões de débito e decrédito, mas também dando continui-dade à sua relação com a Caixa Geralde Depósitos, enquanto banco de pou-pança. Assim, encaminhamos para anossa Sede todas a operações de queos clientes necessitam, assegurandouma resposta muito rápida, e poroutro lado, proporcionamos o estabe-lecimento de um contrato de banca àdistancia que permite aos clientes tra-balharem directamente com a CGDPortugal.

.Sente que os Portugueses emi-grantes neste país estão recepti-vos a formas de investimento emPortugal?De modo geral, sim. Claro que os

clientes estão interessados em conse-guir as melhores opções. E se se sen-tem bem acompanhados pelo seubanco português, estão abertos a ana-lisar as alternativas oferecidas. Atual-mente as taxas de juro para depósitosa prazo e de poupança até são maiscompetitivas em Portugal, especial-mente as que asseguram liquidez. Poroutro lado, nota-se algum interesse

dos clientes com maior capacidade deaforro, pela aquisição de imóveis emPortugal para investimento – procu-rando tirar partido de alguma baixados preços do imobiliário, como é sa-bido. A CGD oferece aliás condiçõesprivilegiadas de financiamento paraimóveis próprios e empreendimentosfinanciados pela CGD, que poderãoser uma opção de interesse para osque procuram boas oportunidades. Osite da CGD apresenta, por outro lado,de várias opções de pesquisa que per-mitem aos nossos clientes analisaremos imóveis disponíveis em função decritérios ajustados aos seus interesses.E, é claro, a Caixa dispõe de um con-junto de interlocutores especializadosneste sector, que poderão prestartodos os esclarecimentos, o que podeser efectuado à distancia ou “no ter-reno”.

A pergunta anterior implicafazer-lhe outra: Em seu enten-der, existe na Alemanha algumarede de empresários lusos sobrea qual deve merecer a atenção dabanca?Como sabemos, a VPU/ Federa-

ção dos Empresários portugueses naAlemanha tem feito um grande es-forço para apoiar empresários e em-presas portuguesas na Alemanha.Existem micro- e pequenas empresasna área dos serviços e da restauraçãoe algumas empresas um pouco maio-res, especialmente na área de impor-tação. Desde a sua criação, asempresas criadas na Alemanha con-tam com o seu banco alemão que é obanco de proximidade, capaz de ofe-recer um serviço bancário abrangente.Até à data, os bancos portugueses nãotem uma atividade operacional naAlemanha e por isso não têm condi-ções de oferecer o serviço de retalhode que essas empresas necessitam. Agrande dispersão das empresas referi-das constitui também uma dificuldadeno estabelecimento de soluções inte-ressantes neste sector.

Quanto às empresas portuguesasque vem de Portugal para se instalarna Alemanha já têm uma relação pri-vilegiada com um banco em Portugal.Tendo em conta a posição da CGD nomercado nacional, muitas dessas em-presas são também clientes da CGD,e o Escritório não pode deixar de sero interlocutor privilegiado de contactodessas Empresas com a CGD-Portu-gal.

De que forma é que a CGD estápresente neste pais e em queáreas de produtos financeiros sededica?A CGD está presente na Ale-

manha através de um Escritório deRepresentação que serve de interlocu-tor do grupo Caixa para solicitaçõesde natureza vária, dando a resposta e/ou o devido encaminhamento paraPortugal e para outras estruturas dogrupo, presente em 23 países, in-cluindo em todos os países de língua

portuguesa. A sua vocação principal éo apoio aos clientes particulares.

O Escritório está situado emBERLIM e dispõe ainda de um postocomplementar em STUTTGART ede mais três atendimentos semanais,em FRANKFURT, COLÓNIA eHAMBURGO. Esta presença multi-polar nas 5 principais cidades de con-centração da comunidade portuguesa,visa ir ao encontro dos nossos clien-tes, oferecendo uma possibilidade deatendimento presencial e de relacio-namento pessoal, aos que valorizamessa opção. Devo dizer que estamossatisfeitos por ter apostado nas cida-des de Berlim e Stuttgart, onde atual-mente mais notamos a afluência derecém-chegados.

Paralelamente, tem havido umaadesão progressiva dos clientes àsnovas tecnologias e, nomeadamente,ao serviço gratuito de Banca telefó-nica e de Banca online CAIXADI-RETA, não só por parte dos maisjovens, o que permite uma gestão có-moda sem sair de casa. E através doserviço Caixadireta Internacional osclientes contam com gestores dedica-dos e sem custos pois a chamada épaga pela CGD.

Num país tao grande como a Ale-manha e em que a comunidade estádispersa e pouco concentrada não épossível assegurar um atendimentoem todas as localidades de presençade portugueses. Mas sentimos que osclientes valorizam a presença daCaixa em 5 cidades, com localizaçõesadequadas e com um horário conhe-cido e semanal – que o Portugal Postnos tem ajudado a divulgar. Avaliandoa actual oferta de serviços, não per-spectivamos o alargamento da pre-sença física.

Os serviços mais procurados sãoos associados à gestão do dia-a-dia(como os cartões de débito e de cré-dito, e a adesão à banca telefónica ouonline) e às opções de aforro. Há in-teresse quer por depósitos a prazo(prazos de 3, 6 e 12 meses ou pluria-nuais) quer por depósitos-poupança(acessíveis a partir de € 100 e quepodem ser reforçados e mobilizadosem qualquer momento, inclusiva-mente através da banca telefónica ouonline).

Honrando a preferência de grandenúmero de portugueses residentesfora de Portugal, a CGD tem-se em-penhado numa oferta específica paraos Residentes no Estrangeiro, que in-clui quer uma oferta permanente querofertas especiais nos principais perí-odos do ano, como agora a Oferta daPáscoa com depósitos para os prazosde 3, 6 e 12 meses que aliam taxascompetitivas com liquidez total. Todaa informação sobre estes produtos,como aliás sobre toda a oferta paraResidentes no Estrangeiro, está dispo-nível no site da Caixa, com um des-taque específico.

De referir, o Serviço CaixaFamí-lia da CGD que tem atraído a atençãode muitos clientes pois oferece umaremuneração especial para as poupan-ças de vários membros da família: ospais e os avós tem aproveitado a opor-tunidade para oferecer aos seus filhose netos uma conta poupança com umaCaderneta – suporte tradicional dascontas na CGD.

Mário dos Santos

Entrevista a Giselle Ataíde, responsável do Escritório de Representação na Alemanha da CGD

“Os clientes continuam a acreditar em Portugal comodestino para as suas poupanças”

O significativo aumento das remessas da Alemanha para Portugal que se tem vindo a re-gistar foi o mote para uma entrevista que solicitamos à responsável pelo escritório emBerlim do banco público. Aproveitamos a entrevista para faöar do banco, da chegada denovos portugueses e da actividade empresarial lusa neste pais.Esta é a primeira de uma série de entrevistas que queremos fazer aos bancos portuguesescom interesses nesta comunidade.

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013 15Economia & Negócios

Portugal esteve novamentepresente em mais uma ediçãoda maior feira internacional dosector do turismo ao nívelmundial (ITB), que se realizaanualmente em Berlim, e tevelugar de 6 a 9 de Março.

Segundo dados dos organiza-dores, a ITB contou com um totalde 10 086 expositores de 188 paí-ses e 113 mil visitantes comerciaisvindos de todo o mundo. No cer-tame estiveram presentes a Chan-celer alemã, Angela Merkel, oPresidente da Indonésia, SusiloYudhoyono, país parceiro da ITB2013, assim como mais de cemMinistros e Subsecretários de di-versos países que, com as suas vi-sitas neste certame, procuraramobter resultados positivos para oturismo nos respectivos países. Orecentemente nomeado Secretáriode Estado para o Turismo, AdolfoMesquita Nunes, visitou os expo-sitores portugueses acompanhadodo Embaixador de Portugal emBerlim, Luís de Almeida Sam-paio. Adolfo Nunes reuniu com oseu homólogo alemão durante amanhã do dia 6 de Março parafalar de assuntos relacionadoscom o turismo.

Estiveram ainda presentes noevento Carlos Lourenço, directorgeral da TAP na Alemanha e Áus-tria, Pedro Macedo Leão, directorda AICEP, os responsáveis do Tu-rismo de Portugal na Alemanha e

os representantes das empresas dosector do turismo em Portugal,como hotéis, agências de inco-ming e outras, que vieram a Ber-lim apresentar os seus produtos.Os operadores alemães, que visi-taram esta feira, incluirão nos seuspacotes turísticos os mais atraen-tes e vantajosos produtos que ven-derão ao cliente final.

A disposição dos expositoresportugueses foi semelhante à doano passado, talvez com mais in-cidência nas ilhas, e ocupou oespaço dos anos anteriores, ouseja, uma área de cerca de mil me-tros quadrados com 55 exposito-res do sector. Segundo osorganizadores, o balanço do nú-mero de visitantes teria sidosuperior ao do ano anterior. Des-tacou-se a presença do turismo al-ternativo português que, comtreze empresas reunidas numa sóorganização, a World Adventure,se apresentou globalmente nestecertame. Segundo o seu responsá-vel, os passeios pedestres ou debicicleta, aventura activa, turismocultural são um leque de ofertasque foram bem aceites e que têmregistado “um balanço muito po-sitivo juntos dos operadores deum mercado exigente como o ale-mão”. Afirmou ainda que “os pre-feridos são os percursos pedestrese de bicicleta, por exemplo de Lis-boa a Santiago de Compostela, noque foi uma aposta diferente domuito concorrido circuito daEuropa para Santiago”. Nos Aço-res, no âmbito do turismo activo,um operador alemão introduziu,em 2012, as e-bikes, bicicletaseléctricas, um meio de locomoçãoque se adapta bem às característi-cas do terreno acidentado da re-

gião.Tivemos a oportunidade de

conversar com Carlos Lourenço,apesar do seu preenchidíssimo ca-lendário de reuniões. Segundo nosdisse o responsável da TAP, nomercado alemão e austríaco regis-tou-se “um aumento de comprasde 25% a 30% em 2012. A boa re-lação qualidade e preço, que ofe-recemos, reflectiu-se muitopositivamente na percentagem deocupação dos nossos voos”. Re-velou também que, de 26 deMarço a 30 de Outubro, a TAPpassaria a ter voos diários entreBerlim-Schönefeld e Lisboa eentre Düsseldorf e Lisboa.

António Teixeira do Turismode Portugal afirmou que, segundodados do Turismo de Portugal, onosso país recebeu cerca de oito-centos e vinte mil turistas alemãesem 2012, havendo a registar umcrescimento de 9,9% relativa-mente ao ano anterior, sendo, porordem decrescente, o Algarve,Lisboa e a Madeira os destinos tu-rísticos preferidos.

Grande destaque foi dado aoscartazes publicitários do filme“Night Train to Lisbon” (Com-boio Nocturno para Lisboa – videin Portugal Post de Março) numaaposta de publicidade internacio-nal para aumentar a apetência tu-rística da capital. A EuropeanConsumers Choice, uma organi-zação não-lucrativa, sediada emBruxelas, votou recentemente asTop Ten Destinations 2013. Is-tambul alcançou o primeiro lugar,logo seguida de Lisboa, por escas-sos votos de diferença. Em 2010,Lisboa tinha sido a número “um”dos melhores dez destinos euro-peus.

O contrato de poupança-habitação as-segura taxas de juro baixas

Taxas de juros para empréstimointeressantes de certeza: o potencialde poupança-habitação não está deforma alguma esgotado

A poupança-habitação pertenceàs formas de poupança mais aprecia-das na Alemanha – independente-mente do fato de planear já “as suasquatro paredes” ou ainda não. Os ha-bitantes da República Federal da Ale-manha têm, na totalidade, 30 milhõesde contratos de poupança-habitação.Na fase atual de taxas de juro baixas,a vantagem principal da poupança-habitação reside na taxa de jurobaixa, garantida, para o empréstimode poupança-habitação. “Precisa-mente, atendendo ao fato de que umamudança de taxa de juros se poderáverificar, faz hoje muito sentido a celebração de um contrato de pou-pança-habitação” acentua Eckfried Lodzik, Conselho Diretivo da BKM– Bausparkasse Mainz. Quem só quiser adquirir uma casa daqui a sete,cinco ou dez anos, poderá deste modo assegurar-se, a longo prazo, astaxas de juro historicamente baixas, podendo fazer cálculos com confi-ança.

Sondagem: A grande maioria espera subidas das taxas de juropara financiamento

A maior parte dos alemães está efetivamente convencida de que onível de juros baixo não será de longa duração. De acordo com uma son-dagem atual, levada a cabo para a BKM, 74 por cento dos inquiridoscontam com uma subida de juros. Por este motivo, para 77 por cento dosinquiridos, a segurança, no que respeita a taxas de juro para financia-mentos, é muito importante. Mais de metade dos entrevistados opina quea celebração de um contrato de poupança-habitação é uma boa possibi-lidade de enfrentar uma eventual subida de juros. E, para 53 por cento,a poupança-habitação constitui adicionalmente uma alternativa compe-titiva, relativamente à caderneta de poupança.

A flexibilidade é um trunfoO leque de produtos das Caixas de poupança-habitação foi expan-

dido, de acordo com as necessidades existentes, e as tarifas foram tor-nadas mais flexíveis. Da BKM, por exemplo, há três possibilidades, noâmbito da nova tarifa de poupança-habitação „maxLine“. A variante depoupança aforrador destina-se a clientes que procuram um investimentode capital com um forte rendimento. Através da taxa de juros atrativa,para ativos, de até três por cento, esta torna-se também interessante para“Azubis” (aprendizes) e para gente em princípio de carreira. Os mesmospodem adicionalmente aplicar as suas prestações mensais pagas peloempregador com vista à formação de património (vermögenswirksameLeistungen).

As tarifas de financiamento prestam-se para proprietários potenciaisque queiram utilizar a taxa de juros baixa, atual, para amortizações fu-turas. Com a primeira variante, é acordada uma taxa de juros fixa paraempréstimo, abaixo de três por cento. No âmbito da segunda variante,até é mesmo possível obter-se uma taxa de juros competitiva para em-préstimo, abaixo de dois por cento, se o proprietário potencial se decidirpor uma amortização rápida e substancial. Informações em:www.bkm.de.

Apoio por parte do Estado(djd). O Estado apoia a poupança-habitação através de prémios de

poupança-habitação (Wohnungsbauprämie) e bónus de poupança dosempregados (Arbeitnehmersparzulage). Para alem disso, existem pres-tações mensais pagas pelo empregador com vista à formação de patri-mónio (vermögenswirksame Leistungen), que podem ser aplicados emcontratos de poupança-habitação. Desde 2008 que existem também em-préstimos e contratos de poupança-habitação especiais denominados“Riester”, fomentados pelo Estado. Um contrato de poupança-habitaçãonão pode ser apenas aplicado a uma casa nova, mas também a medidasde modernização, remodelação e poupança de energia. A experiênciatem mostrado que, no que respeita às propriedades já existentes, são sem-pre necessárias medidas para manutenção das mesmas, para cujo finan-ciamento o contrato de poupança-habitação seria o ideal. Informaçõesem: www.bkm.de

PRCom 2 por cento consegue a sua própria casa

A flexibilidade é um trunfo

Eckfried Lodzik, Conselho Di-retivo da BKM – Bauspar-kasse Mainz.

Portugal na ITB 2013

Turismo de Portugal vende-se na Alemanha

Foto: Gonçalo Silva

Cristina Dangerfield-Vogt, em berlim

Page 16: Portugal Post Abril 2013

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 201316

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Quais são as principais for-mas de testamentos em Portu-gal?

ÓTestamento autêntico (ou « tes-tamento público »), lavrado porum notário.ÓTestamento fechado, escritopelo testador ou por um terceiro.Este deve ser submetido à aprova-ção do notário.ÓTestamento internacional, assi-nado perante duas testemunhas eum notário.

Por que razão deve inscrevero seu testamento?

Ó O notário deve inscrever os tes-tamentos dos quais tem conheci-mento no registo testamentáriogerido pelo Ministério da Justiça.Com efeito, um testamento nãoencontrado equivale a um testa-mento não existente. É por este

motivo que a inscrição do testa-mento no registo é obrigatória.Deste modo, o testador terá a cer-teza de que as suas últimas vonta-des serão encontradas e, assimrespeitadas, após o seu faleci-mento.

Quem pode efetuar a inscri-ção ?

Ó O notário procede à inscriçãodos testamentos. Com efeito,todas as formas de testamentosnecessitam da intervenção do no-tário, quer seja para lavrar o docu-mento ou para o aprovar. Não é oconteúdo do testamento queconsta no registo, mas as informa-ções que permitirão encontrá-lo.

Quem guarda o testamento ?Ó O notário está encarregue deguardar os testamentos autênticos,internacionais e os testamentos fe-chados que o testador lhe confiou.

As pessoas mais próximas do

testador podem consultar oregisto em vida do mesmo ?

ÓNão, a existência do testamentoe o seu conteúdo permanecerãosecretos durante toda a vida dotestador.

Quanto custa a inscrição deum testamento ?

ÓA inscrição de um testamento égratuita.

Quem pode consultar o re-gisto testamentário?

ÓApós o falecimento do testador,as pessoas mais próximas do fale-cido poderão consultar pessoal-mente o registo dos testamentosou fazê-lo por intermédio de umprofissional de direito (notário,juiz, advogado). Esta indagaçãonão é obrigatória. Porém, é acon-selhada de modo a garantir o res-peito das últimas vontades dotestador.

É obrigatório o fornecimentode uma certidão de óbito ?

Ó Sim, as pessoas mais próximasdo falecido deverão fornecer umacertidão de óbito para poderemefetuar uma procura. Esta medidapermite garantir que a existênciado testamento se mantém total-mente secreta durante a vida do

testador.

È cidadão português residente naAlemanha e já pensou em escre-ver o Seu testamento? Então tenhaem conta todos os preceitos nota-riais e consulte um advogado es-pecializado no direito sucessórioportuguês!

Testamentos:Regras aplicáveis ao registo de testamentos em Portugal

Michaela Azevedo dos Santos,Advogada

Informação Consular

Í

Viajar com animais

Vai viajar com o seu animal de companhia?

Os cães e gatos que entram em Portugal provenientes de outros estados mem-bros da União Europeia estão sujeitos à apresentação de um passaporte, emitidopor um veterinário habilitado pela autoridade competente que, para além da in-dicação de dados que permitam conhecer o nome e endereço do proprietário:ateste que o animal se encontra identificado mediante um microchip ou umatatuagem claramente legível (permitida apenas até 3-7-2011) ;comprove uma vacinação/revacinação anti-rábica válida, efectuada quando oanimal tinha pelo menos 3 meses de idade, segundo as recomendações do la-boratório de fabrico, com uma vacina inactivada de, pelo menos, uma unidadeantigénica por dose (norma OMS).É permitida a entrada em Portugal de cães, gatos e furões até aos 3 meses deidade e ainda sem uma vacinação anti-rábica válida:desde que acompanhem a mãe de que ainda dependam, devendo estar a viajara coberto de um passaporte ;no entanto, os animais provenientes da Irlanda, Malta, Suécia e Reino Unido,podem viajar sem ser acompanhados pela mãe, desde que a coberto de um pas-saporte e tenham permanecido no local de origem desde o nascimento.

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013 17

Gostaria de colocar as suasquestões a

José Gomes Rodrigues?Faça-o por email:

[email protected]

3José Gomes Rodrigues

[email protected]

FERIADOS E TRABALHO REMUnERADO

Boa tarde colaboradores do Portu-gal Post,

Sou vossa assinante já há algunsanos e sei que vocês esclarecemmuitas dúvidas. Sem querer inco-modar muito gostaria de saber seme podem ajudar nalgumas ques-tões. Eu trabalho numa firma de“diestleitungen” mais propriamenterepositora de mercados. Ganho aomês um ordenado fixo. Gostava desaber se os feriados têm que serpagos quando nós não trabalhamosno dia do feriado mas temos quefazer o trabalho do dia do feriadono outro dia acabando por fazermais horas e quantas horas por leitemos que trabalhar por semana.Até agora, nas nossas folhas de ven-cimento, vinha a dizer quantos diastínhamos de férias. A partir de Ja-neiro deste ano, deixou de vir isso.Será legal? As baixas médicas, queanteriormente eram inscritas namesma folha de vencimento, tam-bém não constam na folha, isso tam-bém está de acordo com as leisvigentes? Desculpem estar a inco-modá-los com isto, mas gostaria deter uma opinião antes de consultarum advogado. Agradeço que me res-pondam por email, mas poderão co-locar duma forma anónima no PP.Muito obrigado..leitora devidamente identificada

Obrigado antes de mais pelo seu in-teresse e pela leitura assídua donosso e seu jornal. Gostaríamos, nãosó de a esclarecer conveniente-mente, mas participar nesta luta,através da imprensa contra as deci-sões que, infelizmente, estão a sertomadas em detrimento dos traba-lhadores, roubando-lhe a dignidade.O homem parece que é medido sim-plesmente pela capacidade de pro-dução e este esforço, além de sermal pago, é marcado pela incertezado futuro.O que a empresa está a fazer, exi-gindo que o pagamento dos feriadospor lei sejam recompensados atravésde um horário mais sobrecarregado,é simplesmente ilegal. Estes feria-dos são para descansar e nada mais.O que ela faz é completamente ocontrário do espírito da lei.Estando de baixa médica nos feria-dos, o patrão deve igualmente pagar

este subsídio doença durante estetempo. Se o feriado calhar a um diaem que se receberia um substitutoou um suplemento ao ordenado, portrabalho reduzido, (“Kurzarbeit”), omesmo este deve ser liquidado. OTribunal Federal do Trabalho deci-diu que a continuação do pagamentodos salários durante as férias ou emferiados por lei tem um carácter ob-rigatório. Mesmo que entre o patrãoe o empregado haja um acordo emcontrário, este é simplesmente ilegale, em consequência, inválido. Sobre a inclusão das férias ou dosdias de baixa na folha mensal, tenhoa dizer-lhe e, depois de me ter infor-mado convenientemente, que estasinformações, que até há pouco eraminseridas na sua folha mensal do or-denado, não estão reguladas porqualquer lei. Contra tal procedimento nada have-ria a opor, apesar do processo ante-rior ser mais transparente e útil paratodos, empresa e trabalhadores.Na esperança de a ter elucidado con-venientemente, nos despedimoscontando sempre com a sua prefe-rência na sua leitura mensal.

REnDAS DE CASO EMATRASO: QUE FAZER?

Caríssimo Sr. José Rodrigues, Assis-tente SocialActualmente estamos numa situaçãofinanceira difícil. Trabalhamosnuma empresa de serviços que em-prestam o pessoal para outras em-presas (Leihfirmen). Muitas vezes osnossos ordenados com o abono defamília, pois temos dois filhos quefrequentam ainda a escola, mal dápara viver. Temos de fazer muita gi-nástica para poder chegar ao fim domês sem dívidas. O mês passado,por diversos motivos, não consegui-mos pagar a renda de casa. Temos,por isso, esse mês de renda de casaem atraso. Será que o senhorio nospoderá pôr fora de casa despe-jando-nos e metendo uma acção dedespejo no tribunal?leitora devidamente identificada

Esta é, infelizmente, uma situaçãoque tem batido à porta de muito boagente. É uma das consequências dasmedidas de redução dos custos detrabalho, que tem abalado, infeliz-

mente, muitos operários e não só.Mas vamos ao vosso caso concretoque poderá servir de exemplo paraoutros compatriotas e amigos.Desde que o atraso da renda da casanão ultrapasse os dois meses, nãopoderão ses despejados. Para o evi-tar, não demorem muito tempo, es-perando passivamente que osenhorio vos bata à porta. Procuremcom ele o diálogo franco e esclare-cedor. Coloquem-lhe na mesa, comtoda a sinceridade, a vossa situaçãofinanceira. Ofereçam-lhe uma solu-ção possível e previsível de saldaressa dívida. Uma solução poderiaconstituir pagar o atrasado em pres-tações mensais. Uma outra possibi-lidade seria fazer um pequenocrédito no valor da dívida junto doseu banco. Se alguém cair no de-semprego ou estiver desempregado,procurem recorrer ao Instituto deDesemprego ou ao à secção deapoio social da câmara que vosaconselhará como sair desse im-passe. Se as entradas financeiras da famíliaforem inferiores à ajuda social aodesemprego, então recorram, quantoantes, ao mesmo instituto para quevos possa pagar a diferença. Aindaseria possível requerer ajuda à rendade casa na câmara da sua residência,se os ordenados não condizem coma tabela social em vigor para umafamília da dimensão da vossa.O processo jurídico até ao despejoda casa é muito longo por parte dosenhorio. Este deve recorrer antes demais aos tribunais e obter dele umasentença ou um título que lhe dariao direito de o fazer. Antes de ser de-terminado o despejo, as autoridadessociais oficiais entrarão em contactoconvosco e procurarão, entre todos,encontrar uma solução.

USAR OU nÃO USAR O TELEMÓVEL nO LUGAR DETRABALHO

Caríssimos do PP,Obrigado pelas informações tãoúteis que tem sido emanada por estejornal. Estamos muito gratos e de-sejamos que continuem neste es-forço elucidativo. Tenho compradoo jornal mensalmente na estação decomboios por onde passo. Venhohoje e pela primeira vez, pedir-vosum conselho ou uma opinião, já que

a vossa opinião às vezes tem paramim servido de orientação segura.O meu chefe proibiu-nos o uso dotelemóvel privado durante o horáriode trabalho. Antes não havia qual-quer problema, mas, dum momentopara outro, mudou completamente.É legal o que ele ordenou?Leitor devidamente identificada

Caríssimo amigo, as suas palavrassão um incentivo positivo a conti-nuar a trilhar este caminho de ser-viço à comunidade. Mais uma vez anossa sentida gratidão.Claro que o seu chefe pode fazê-lo.Isto é simplesmente para evitar abu-sos, falta de concentração no traba-lho e perdas de tempo. Havendouma comunicação urgente por partedos familiares o contacto pode serfacilitado igualmente pelo telefonefixo por eles ou por outros. Durantea pausa ninguém poderá limitar osseus telefonemas privados atravésdo seu celular.Continue a preferir-nos na sua lei-tura e procure incentivar outroscompatriotas a fazer o mesmo. Sóassim podemos continuar com o ne-cessário entusiasmo a servir a comu-nidade.

DOEnÇA DUM FILHO MEnORE SITUAÇÃO LABORAL

Exmos senhores,O meu filho de 11 anos teve um aci-dente e foi obrigado a ficar, poralgum tempo, em casa em convales-cença. Como não tínhamos ninguémpara tomar conta dele, decidi eu,como mãe, ficar em casa sem sequerser remunerada. O meu patrão de-pois de alguns dias despediu-me.Legalmente poderia ter feito isso?Nada fizemos contra a rescisão docontrato de trabalho. Podemosfazer algo ainda contra essa me-dida, apesar de terem já passado al-guns meses?leitora devidamente identificada

Despedi-la por cuidar do seu filhodoente parece-nos ilegal, não sendopermitido, em principio, esse proce-dimento por parte da empresa. A sua decisão humanitária e mater-nal é, dentro de algumas condições,possível e compreensível. Havendocrianças menores de 12 anos a ne-cessitarem de cuidados, por motivos

de doença, pode um progenitor ficarem casa para o cuidar. Isto, caso nãohaja uma outra possibilidade. Du-rante este tempo em que se desligavoluntariamente do trabalho paraesse efeito, o patrão não fica obri-gado a pagar-lhe qualquer ordenado. Geralmente, havendo essa alterna-tiva, este deveria estar regulado nocontrato de trabalho ou nos acordostarifários. Convém mencionar que,dentro de determinadas condições,as Caixas de Doença poderão assu-mir uma compensação diária. É oassim chamado subsidio de doençapor cuidar dos filhos. Este subsidiopode atingir os 90% do ordenado li-quido normal e regular.Os dias remunerados a que se temdireito a permanecer em casa paraeste efeito são, no máximo 10 diasúteis por criança e por progenitor.Sendo duas crianças, o direito é de20 dias repartidos pelos dois pais e,havendo mais filhos, este númeroaumentará para vinte e cinco. Ha-vendo só um progenitor estes diasredobram.Sobre o outro pedido de informaçãoà rescisão do contrato de trabalhopor parte do empregador, infeliz-mente, nada poderá fazer contra essaacção. O prazo legal para interporuma acção junto do tribunal de tra-balho contra o despedimento, já hámuito que terá caducado. Após terrecebido ou ter tido conhecimentoda rescisão da relação laboral, tem24 dias úteis para interpor umaacção no tribunal. Os sábados con-tam também para perfazer esseprazo, ou seja, quatro semanas nototal. Os dias de baixa contam tam-bém para o efeito, só não contam, seacaso se possa comprovar a incapa-cidade de se deslocar ao tribunal, ouincapacidade de delegar alguémprovido duma procuração sua. De-veria então ter requerido, dentrodesse prazo, a anulação da rescisãodo contrato de trabalho e ter reque-rido, ao mesmo tempo, a devidareintegração na empresa.

Feriados e trabalho remunerado • Rendas de casa em atraso: que fazer? • Usar ou não usaro telemóvel no lugar de trabalho, a questão • Doença dum filho menor e situação laboral

Page 18: Portugal Post Abril 2013

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Nascida em Cabo Verde de família branca e abastada, Carolnunca se resignou à miséria das ilhas. E, movida pelo sonhode construir uma sociedade mais justa, ingressou aindajovem no Partido Comunista. Não se importando de usar abeleza como arma ideológica, abraçou a luta revolucioná-ria, apaixonou-se por um camarada e ficou grávida poucoantes de ser presa. Foi a sua mãe quem tratou de Helenanos primeiros tempos, mas, depois de libertada, Carol levou-a para Moscovo.. Aí, o contacto com as purgas estalinistasnão chegou para abalar as suas convicções, mas o clima dedenúncia e traição catapultou-a para o cenário da GuerraCivil espanhola, obrigando-a a deixar Helena para trás; e,apesar de ter escapado aos fuzilamentos franquistas, a eclo-

são da Segunda Guerra Mundial impediu Carol de voltar à União Soviética para ir buscar a criança.Será apenas vinte anos mais tarde que mãe e filha se reencontrarão em Berlim, mas a frieza e o res-sentimento de Helena farão com que, na viagem de regresso a Lisboa, Carol decida escrever um ro-mance autobiográfico com o qual a filha possa, se não perdoar-lhe, pelo menos compreender ascircunstâncias do abandono, a clandestinidade, a prisão, a guerra, a espionagem e o inconcebívelcasamento com um inspector da polícia política. Inspirado na vida de Carolina Loff da Fonseca, esteromance extremamente empolgante vai muito além dos factos, confirmando Ana Cristina Silva comouma das mais dotadas autoras de romance psicológico em Portugal.

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Quanto mais tempo da sua vida é que está disposto a desperdi-çar? Quanto mais tempo da sua vida está disposto a continuara sofrer? Quanto da sua vida está disposto a finalmente reivin-dicar hoje? Quanto mais tempo vai deixar que os outros man-dem nas suas escolhas? E, se reivindicar a sua vida, acha quefica a dever alguma coisa aos outros?Quando você cede ao stress, você não está ser você mesmo.Quando você cede ao stress, você passa ao lado da vida, da suavida. Você vive em permanente sobrevivência. E quem sobrevive,sofre. E quem sofre, vive em stress.. "Aprenda a Viver Sem Stress" é um livro que o ajuda a reen-contrar-se.

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Em Abril de 1506, durante as celebrações da Páscoa,cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos num pro-grom em Lisboa e os seus corpos queimados no Rossio,O Último Cabalista de Lisboa, best-seller em onze paí-ses, incluindo os Estados Unidos da América, Ingla-terra, Itália, Brasil e Portugal, é um extraordinárioromance histórico tendo como pano de fundo os even-tos verídicos desse mês de Abril de 1506.

Memória das Minhas Putas TristesGabriel García MárquezPreço: 13,50

«No ano dos meus noventa anos quis oferecer a mim mesmouma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lem-brei-me de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestinaque costumava avisar os seus bons clientes quando tinha umanovidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhumadas suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditavana pureza dos meus princípios. A moral também é uma ques-tão de tempo, dizia com um sorriso maligno, tu verás.»

As Fogueiras da Inquisição é um ro-mance histórico de grande beleza lite-rária, que se desenrola ao longo doséculo XVI, uma época profundamenteconturbada para sefarditas e cristãos-novos em Portugal. É neste cenário dedenúncia e medo que acompanhamostrês gerações de uma família judaicaportuguesa, desde o reinado de D. Ma-nuel I à dinastia filipina. Sara de Leão,protagonista e neta desta família, estápresa num calabouço exíguo, em Évora,acusada de práticas judaizantes. Parase evadir da penosa situação em que seencontra, Sara refugia-se no passado erecorda a avó, Ester Baltasar, que lhetransmitiu a história e a doutrina doseu povo. Temos assim oportunidade deficar a conhecer esta extraordináriasaga familiar, num misto ficcional e his-tórico que nos prende, irremediavel-mente, nas teias do seu imensofascínio.

As Fogueiras daInquisiçãoAna Cristina SilvaPreço: 25,99

Page 19: Portugal Post Abril 2013

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013 19

Embaixada de PortugalZimmerstr.56 10117 Berlin

Tel: 030 - 590063500Telefone de emergência (fora do horário normal

de expediente): 0171 - 9952844

Consulado -Geralde Portugal em Hamburgo

Buschstr 7 20354 - Hamburgo

Tel: 040/3553484

Consulado-Geralde Portugal em Düsseldorf

Friedrichstr, 20 40217 -Dusseldorf

Tel: 0211/13878-12;13

Consulado-Geralde Portugal em Estugarda

Königstr.20 70173 Stuttgart

Tel. 0711/2273974

Conselho das ComunidadesPortuguesas:

Alfredo Cardoso,Telelefone: 0172- 53 520 47

[email protected]

Alfredo StoffelTelefone: 0170 24 60 [email protected]

José Eduardo,Telefone: 06196 - 82049

[email protected]

Maria da Piedade FriasTelefone: 0711/[email protected]

Fernando GenroTelefone: 0151- 15775156

[email protected]

AICEP PortugalZimmerstr.56 - 10117 Berlim

Tel.: 030 254106-0

Federação de EmpresáriosPortugueses (VPU)Postfach 10 27 11

50467 KölnTel.: +49. 221 789 52 412

E-Mail: [email protected]

Federação das Associações Portuguesas na Alemanha

(FAPA)www.fapa-online.de

Postfach 10 01 05D-42801 Remscheid

Endereços Úteis

Praxis nova em neussActuação do grupo PraxisNova. Local: Igreja Católicade Christus König, BerlinerPlatz, pelas 20h30 No fim haverá convivio comcomes e bebes na Biblioteca daIgreja.Organizacao APN Neuss

O Consulado-Geral de Portugalem Hamburgo informa a ComunidadePortuguesa que as permanências con-sulares a realizar nas cidades de Os-nabrück, Nordhorn, Bremerhaven eCuxhaven passam a ter lugar por mar-cação.

A enorme afluência às permanên-cias consulares organizadas duranteos últimos 10 meses, a elevadíssimamédia de tempo de espera por partedos nossos nacionais, bem como aqualidade do serviço prestado em prolda Comunidade Portuguesa, justifi-

cam esta alteração. Face ao exposto, muito agradece-

mos que contactem este Consulado-Geral, sempre que pretendam recorreraos serviços prestados nas permanên-cias consulares, a fim de lhe ser indi-cado o dia e a hora de atendimentopersonalizado.

O calendário das permanênciasconsulares encontra-se publicado noportal deste Consulado-Geral(www.consulado-hamburgo.de).

Para obter uma marcação con-tacte-nos por correio eletrónico

([email protected]) ou por te-lefone (040 – 355 34 84).

Consulado-Geral de Portugal em HamburgoAlteração no funcionamento das permanência consulares

No próximo dia 26 de Abril, sexta-feira, a comunidade católica portu-guesa de Offenbach vai organizar umserão musical, que, pelas suas dimen-sões, bem merece o título de extraor-dinário: um serão de músicaportuguesa com a TUnA DE COn-TABILIDADE DO PORTO.

Serão cerca de 30 estudantes /músicos em palco (!) , para umespectáculo de qualidade típico dasTunas, enquanto formações musicaiscaracterizdas pela predominância dosintrumentos de corda. As tunas, for-temente enraizadas no meios estudan-tis, mantêm a sua ligação com acultura popular, evitando a tentação

de música de elite ou académica.A Tuna de Contabilidade do

Porto, fará uma digressão na Europa,com 3 concertos (25.04. na Suiça;26.04., na Alemanha , Offenbach, e27.04, em Albi, sul de França)

Aqui fica o convite: venha até Of-

fenbach, na sexta-feira, 26 de Abril(20.00 h) para uma noite de músicaportuguesa. Local: Mariensaal, Offenbach,Krafstr. 19. Info: [email protected] ou pelo tele-fone: 069 845740.

nova Permanência Consular emBonn!!A primeira será no dia 7.05.2013 eterá lugar na Associação Lusitânia deBonn, Löwenburgstr. 75 em Bonn.Horário de atendimento: 09:00-13:00e 13:30-15:30.Marcação obrigatória através do tel:0211-1387825 ou por e-mail: [email protected]

Noite de Música Portuguesa em Offenbach

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Caro/a Leitor/a:Se é assinante,avise-nos se mudouou vai mudar de residência

Page 20: Portugal Post Abril 2013

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 201320

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Quer jogar “Kegeln”?Venha passar uns bons momentos em família ou com os seus amigosBruckhausHansemannstr. 33 - 50823 ColóniaHor. De abertura: 18h00 – 02h00Sextas e Sábados até às 03h00Marcações: 02234 – 480051 ou 0177 59 034 25Gerência: Agostinho Silva

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SINTOMAS: as dores de cabeça podem apresentar-se de várias manei-ras:1. Na enxaqueca a dor geralmente se apresenta em apenas um lado dacabeça.2. Na cefaleia tensional pode apresentar-se de forma generalizada, atin-gindo a área dos olhos, da fronte e da nuca.3. Dor de cabeça na área frontal ocasionada por sinusite (ver sinusite).4. Dor de cabeça ocasionada por febre alta (temperatura acima de38ºC).5. Dor de cabeça por inflamação das artérias temporais (ver arteriosc-lerose e aneurisma).6. Dor de cabeça produzida por uma reacção alérgica, a qual ataca asáreas das mucosas internas e externas, como ao redor dos olhos.Neste manual só serão analisados os dois primeiros tipos de dor de ca-beça: a enxaqueca e a cefaleia tensional.CAUSAS: As causas da cefaleia tensional e da enxaqueca são de doistipos principais:1) Stress e má postura2) Alimentação incorrectaa) O stress e a má postura tensionam os músculos do pescoço e das cos-tas, deslocando as vértebras de seus lugares, ocasionando subluxações.ENXAQUECA: neste caso, as vértebras desviadas devido à tensão mus-cular comprimem os vasos do pescoço que irrigam a cabeça de sangue,produzindo-se uma dilatação desses vasos que irrigam os nervos que lheestão circundando, ocasionando a dor. Geralmente isso acontece só deum lado da cabeça.CEFALEIA TENSIONAL, as vértebras desviadas pela tensão muscularirritam os nervos do pescoço, provocando uma contracção nos músculosda cabeça, os quais por sua vez irritam os nervos que enervam essesmúsculos, produzindo a dor.TRATAMENTO: Para controlar o stress, principal produtor de dor decabeça, veja o tema „stress“.Oitenta por cento das dores de cabeça são produzidas por tensão e porstress. Para eliminar este tipo de dor, recomenda-se aprender a detectaro momento em que se iniciam os primeiros sintomas da dor. Isso se deveporque depois de ter uma contrariedade, recomenda-se que se detecte,imediatamente, o início da dor, parar o que está fazendo e relaxar pro-fundamente. Para isto faça o seguinte: respire fundo, tensione todos osmúsculos do corpo e logo relaxe-os, em cada vez que expirar o ar.Realize isto três vezes e imagine que se encontra em um lugar agradá-vel.Permaneça respirando profundamente e relaxando por vários minutos,até que se sinta tranquilo.Além disso, tome logo um analgésico simples, fazendo com que a dordesapareça.Deve-se procurar dormir bem e numa cama com um bom colchão, pre-ferencialmente, e , descansar adequadamente. Além disso, manter umaatitude mental positiva e manejar adequadamente as preocupações paraevitar o stress e a tensão emocional.

Consulte o seu médicoFonte: Saúde e bem estar

Um alentejano é contratado parapintar uma estrada.O chefe explica-lhe como fazer o seutrabalho:- Pegas nesta trincha e tens aquieste balde de tinta. Só tens que mol-har a trincha no balde, pintas umalinha no centro da estrada, assim, etornas a molhar a trincha na tintapara continuares a pintar.O alentejano começa então a trabal-har.No primeiro dia, o alentejano pintou3 quilómetros de estrada.No segundo dia, 2 quilómetros.No terceiro dia, 500 metros.E todos os dias o alentejano pintavamenos um bocado, até ao dia em quejá só pintou 2 metros.Diz-lhe o patrão:- Então? Como é? Andas a man-driar? Porque é que cada vez pintasmenos?- Ora essa, patrão... É que o baldeestá cada vez mais longe!

Dois...Apenas dois.Dois seres...Dois objetos patéticos.Cursos paralelosFrente a frente......Sempre......A se olharem...Pensar talvez:“Paralelos que se encontram noinfinito...”No entanto sós por enquanto.Eternamente dois apenas.

Pablo Neruda

Ingredientes: 1 perna de borrego com cerca de 1,750 kg 100 gr de peito de frango 80 gr de bacon 50 gr de vitela 1 couve lombarda 4 ovos Pimenta em grão e sal q.b. Vinho branco Margarina 0,5 dl de natas Batata palha Receita:

Pique o frango, o bacon e a vitela. Misture com um ovo. Temperecom sal e pimenta acabada de moer. Limpe e desosse a perna deborrego e, com uma faca afiada, abra-a ao meio sem separar as duaspartes. Espalhe a carne picada por toda a superfície. Enrole e ate.Tempere com pimenta moída e regue com vinho branco, deixando amarinar durante cerca de 2 horas. Limpe a couve, separe as folhas,lave-as e ferva por uns instantes em água temperada com sal. Es-corra. Retire a carne depois de marinada e pincele-a uniformente-mente com margarina. Leve ao forno até ficar macia. Nessa altura,envolva-a nas folhas da couve. Bata os 3 ovos com um pouco de sale natas. Derreta 2 colheres sopa de margarina numa frigideiragrande e faça uma omolete fina e muito larga. Cubra a carne comessa omolete e leve de novo ao forno, até dourar. Sirva com batatapalha. Bom apetite

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O número de desempregados na Alemanhasitua-se nos 2,92 milhões. A taxa de desemprego: 6,9%. (dados de Fevereiro 2013)

Page 21: Portugal Post Abril 2013

PORTUGAL POS Nº 225 • Abril 2013 21

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Palavras cruzadasr

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Caros Senhores,Hoje pensei ser a minha vez de

escrever para aí e contar um pouco daminha vida que não faz mal nenhumdivulgar por que são coisas absoluta-mente normais.

Estou aqui vai para seis anos. Vimde Portugal numa altura em que fiqueidesempregado numa idade bastantedifícil para arranjar emprego. Todasas pessoas sabem em que estado estáo nosso país. Infelizmente não é a pri-meira vez que o nosso Portugal nãodá condições para que as pessoas pos-sam viver minimamente decentes. Jáforam tantas as vezes em que os por-tugueses foram obrigados a abando-nar a sua terra para encontrar modo devida noutros lugares. Há décadas edécadas que andamos nisto. A sina dePortugal e dos portugueses é serem ospobres dos mais pobres da Europa enem por pertencermos ao clube doEuro deixamos de ser um país dife-rente.

Mas não é de politica e de crisesque quero aqui escrever.

Quando cá cheguei vinha comuma ideia precisa: arranjar trabalho epreparar as condições para que um diamais tarde pudesse voltar para Portu-gal com um pé de meia.

Era isto que eu pensava.Comecei a trabalhar num restau-

rante a fazer serviços de servente:limpar, lavar loiça e outros trabalhosmiúdos. Saía sempre muito tarde por-que tinha de deixar a cozinha limpapara o outro dia. O facto de trabalharnesse restaurante um brasileiro facili-tava-me as coisas, pois as ordens queeu recebia eram quase todas por seuintermédio.

A minha vida não era uma pêradoce. Não ganhava bem nem mal: aofim do mês levava para casa cerca de800 €. Como quase não gastava nadaem comida, era mais ou menos bom.Pagava por um pequeno apartamentocerca de 200 Euros.

Trabalhava muitas horas e quasenão saía de casa. A minha vida con-sistia apenas a estar no restaurante etentar cair nas boas graças do chefe

para subir de posto. Juntava algunseuros e fazia uma vida muito reca-tada.

O que mais me afligia era a soli-dão. Era nesses momentos em que assaudades dos meus pais, família eamigos em Portugal mais apertava.Como não sabia (e ainda não sei) falaralemão não tinha vida social. Quandosaía, dava umas voltas por um jardime pela cidade e voltava para casa.

Um dia fui convidado por um co-lega turco para ir jantar a sua casa nonosso dia de folga. Achei o convite deuma generosidade muito grande eaceitei.Lá fui. Bati à porta e deparei-me com um ambiente de verdadeirolar; com muita gente a sorrir e a falarnuma atmosfera de muito calor hu-mano. O meu colega fez-me sinalpara tirar os sapatos e para entrar paraa parte de uma sala onde estavam ape-nas homens sentados num tapete nochão à volta de comezaimas e de umaespécie de samovar. Alguns fumavamcachimbo de água e todos sorrirampara mim quando entrei e me sentei

ali como se estivesse numa tribo. Àsvezes apareciam algumas mulheresque traziam coisas para comer e águapara o chá . Reparei então que as mul-heres estavam numa outra sala tam-bém à volta de iguarias turcas. Haviamuitas crianças que corriam e brinca-vam pela sala, dando àquela casa umtoque de paz e de alegria.

Todos falavam turco e eu claroque não percebia nada. De vez emquando, um ou outro fazia-me sinalpara eu comer e eu comia. Estava ali,e mesmo sem perceber nada, sentia-me bem naquele ambiente acolhedore quente. Pela primeira vez, desde quetinha chegado à Alemanha, senti-meacolhido de braços aberto e aceite;senti-me quase feliz.

O Kaya – o meu colega de tra-balho – levantou-se e levou-me a veras assoalhadas da sua casa.

Decorada de modo oriental comquadros escritos com alusões aoCorão, a casa era muito arejada, es-merada, com todas as coisas coloca-das numa ordem quase exagerada.Apresentou os seus filhos e chamou asua mulher que me cumprimentou de-pois das apresentações, dizendo emalemão que eu era bem-vindo. A se-guir, lá voltou para o grupo de mul-heres que, com os seus lenços nacabeça e também sentadas no chão,falavam e riam.

Tal como numa família portu-guesa, o ruído da TV ecoava na casa.O aparelho transmitia canções tradi-cionais turcas quase ininterrupta-mente. Por momentos senti invejadaquela família assim tão unida, felize normal. Veio mais comer para amesa, ou seja, para o chão e continua-

mos a petiscar como se não comêsse-mos há anos. Tudo era bom e sabo-roso. Quando terminavam umasiguarias apareciam outras como vin-das sabe-se lá de onde.

Só mais tarde vim a perceber osentido daquele prolongado e faustosojantar: era o último dia do Ramadãoe, portanto, um dia de festa, assimcomo o nosso Natal.

Tornei-me amigo daquela família.Era o meu conforto nos dias de soli-dão. Eu já lá ia amiúde e era semprebem acolhido. Foi neste ambiente, eatravés destes meus novos meus ami-gos, que conheci a minha actual mul-her que também tem a nacionalidadeturca. Foi assim graças ao destino queme levou àquela família turca queconheci a mulher que nunca me arre-penderei de ter conhecido e com aqual sou casado e muito feliz.

Muitos de vocês perguntarãocomo poderei ter casado com umapessoa de religião diferente da nossa.A razão é simples: tolerância e res-peito que temos por ambos.

O nosso casamento foi, primeiro,realizado na Turquia de modo muitotradicional e religioso e depois fomosa Portugal e casámos na igreja daminha terra e digo-vos que foi umagrande festa! A família da minha mul-her não compreendia a minha e vice-versa, mas lá se entendiam efestejavam a bom festejar.

Hoje vivemos felizes. Temos doisfilhos que sabem português e turco.São adeptos de clubes de futebol por-tugueses e turcos e aquilo em casa jáquase se tornou uma associação deamizade luso-turca.A. Ribeiro

Um encontro feliz

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HORIZOnTAIS: 1 – Cidade alemã onde foram atacados sete trabalhadores portugueses. Pequena argola com que seenfeitam os dedos. 2 - Naquele lugar. Víscera dupla. Cólera. 3 - Magnete natural. Traçar. 4 - Contracção de "a" com "o".Vazia. Pedra circular e rotativa de moinho ou de lagar. 5 - Cabo onde se prendem os papa-figos e as velas para as segurardo lado donde sopra o vento (Náut.). Produz som. 6 - Corrigir. Emancipado. 7 - Ave corredora sul-americana. Limalha.8 – Parte do navio entre a popa e o mastro. Altar. Antes de Cristo (abrev.). 9 - Fazer saber. De cabelo castanho muitoclaro (pop.). 10 - Mulher celibatária (pop.). Anuência. Ruído. 11 - Equívoco. Observação.VERTICAIS: 1 - Reentrância da costa, de forma aproximadamente circular, cujas dimensões se encontram entre as daenseada e as do golfo. Acabamento. 2 - Antiga armadura para a cabeça. Preposição que indica lugar. Regressar. 3 - Espéciede albufeira. Estragar-se. 4 - Título. Tens a natureza de. 5 - Seguir até. Pároco de aldeia. Elas. 6 - Espreitar. Dar à luzfilhos. 7 - Terceira nota musical. Gostar muito de. A mim. 8 - Samário (s.q.). Lavrar. 9 - Capital do Chipre. Serve-se de.10 - Época. Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de ovo. Ave de rapina. 11 - Deixar escapar. Da mesmaforma que.

SOLUÇÃO:HORIZOnTAIS: 1 - Berlim. Anel. 2 - Ali. Rim. Ira. 3 - Íman. Riscar. 4 - Ao. Oca. Mó. 5 - Amura. Soa. 6 - Rever.Maior. 7 - Ema. Apara. 8 - Ré. Ara. AC. 9 - Avisar. Ruço. 10 - Tia. Sim. Som. 11 - Erro. Reparo.VERTICAIS: 1 - Baía. Remate. 2 - Elmo. Em. Vir. 3 - Ria. Avariar. 4 - Nome. És. 5 - Ir. Cura. As. 6 - Mirar. Parir. 7 -Mi. Amar. Me. 8 - Sm. Arar. 9 - Nicósia. Usa. 10 - Era. Oo. Açor. 11 - Largar. Como.

Page 22: Portugal Post Abril 2013

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Última • Nº 225 • Abril 201324

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Ana Cristina Silva,Lisboa

xiste um milhão dedesempregados emPortugal. Um em cadacinco portugueses está

sem trabalho. Os números sãoassustadores, revelam uma socie-dade em acelerado desmembra-mento, o que se traduz numaclara ameaça à coesão social. Osnúmeros não têm, contudo, opoder de mostrar o sofrimentodas pessoas que deixaram de ter

trabalho. Um milhão de desem-pregados transforma-se numa filagigantesca de pessoas que nosdiscursos dos organismos gover-namentais aparecem fundidasnuma única entidade. Como se,por detrás dos números, não exis-tisse, para cada pessoa, uma his-tória de angústia. A questão nãopassa apenas pela perda de ren-dimento, mas também pela de-sesperança em relação ao futuro.Os números não deixam ver osdias vazios dos desempregadosque são forçados a ir de quinzeem quinze dias ao centro de em-prego para demonstrarem queefectuam uma busca activa deempregos que não existem. So-bretudo não desvendam a tristezaou a raiva dos seus olhos.

Neste contexto de perda derendimento e de terrível carênciaeconómica que abrange muitasvezes os bens mais básicos, sãomuitas vezes os pais reformadose familiares emigrados que con-stituem a única rede de suporte,substituindo-se às funções so-ciais do estado.

Freud dizia que a felicidade

está associada ao trabalho e aoamor. O trabalho regula a estru-tura dos dias, está ligado à par-tilha de experiências e contactossociais, define o estatuto e aidentidade pessoal e promove umsentimento de segurança.

O isolamento, a deterioraçãodas condições económicas e afalta de perspectivas em relaçãoa um novo emprego, tudo issocomporta sérios riscos para asaúde mental dos indivíduos de-sempregados. O desempregogera insatisfação com a vida,baixa auto-estima, vergonha,stress generalizado, discórdiasfamiliares, ansiedade, depressão,abuso de substâncias, e em situa-ções extremas pode conduzir aosuicídio. Para aqueles que temmais de 40 anos e para quem odesemprego acarreta um pro-cesso de perda de identidade e dedesespero, actos de violênciacontra si próprios parecem serpor vezes a única solução.

É de referir que, neste con-texto de crise, Portugal é já o ter-ceiro país da Europa em que ataxa de suicídios é mais elevada

O desemprego afecta nãoapenas o individuo desempre-gado, mas todo o agregado fami-liar. Os casais desentendem-se,os conflitos aumentam de acordocom o ditado “em casa que nãohá pão todos ralham e ninguémtem razão”.

As crianças assistem a cenasde violência ou a episódios dedepressão dos pais e sofrem. Hácasos em que os pais procuramdisfarçar as suas angústias juntodos filhos com o humor.

É exemplo disso, aquela his-tória, divulgada na comunicaçãosocial, de uma mãe que costu-mava dizer à filha que “haviasopa e arroz com o que havia”. Acriança ria-se e dizia que já sabiao que era o jantar: “Arroz com oque há”. Até que um dia a mãedeixou transparecer a sua ansie-dade e, perante comentário dafilha, não se conteve e disse:“Qualquer dia, o jantar é arrozcom o que não há.” Mesmo emsituações que os pais tentam si-mular alguma serenidade, as suasangústias manifestam-se deforma involuntária no olhar, nos

gestos e no tom de voz e em ex-pressões verbais. Em muitos ou-tros casos, o sofrimento dodesemprego traduz-se em alcoo-lismo, aumento da violênciasobre o conjugue ou sobre a cri-ança.

As crianças reflectem asemoções dos adultos como sefossem uma espécie de espelhoinvertido e têm tendência a parti-lo.

A instabilidade emocionaldos pais tem consequências nocomportamento infantil e no ren-dimento escolar. Agressividade,depressão infantil, insucesso es-colar são algumas das conse-quências possíveis.

Estudos revelam que a perdade emprego dos pais aumenta em15% a probabilidade de uma cri-ança repetir o ano.

Portugal passou a ser um paísregido por valores economicis-tas, onde existem crianças comfome e onde é cada vez mais di-fícil ser-se feliz. Contra este es-tado de coisas têm de haver maisrespostas do que a indignação.Mas, pelo menos, indignai-vos.

Indignai-vos!O isolamento, a deteriora-ção das condições econó-micas e a falta deperspectivas em relação aum novo emprego, tudoisso comporta sérios ris-cos para a saúde mentaldos indivíduos desempre-gados.

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