PLATA QUEMADA: LEITURAS, TRANSGRESSÕES E TRANSFIGURAÇÕES

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    Estao LiterriaLondrina, Volume 9, p. 155-167, jun. 2012

    ISSN 1983-1048 - http://www.uel.br/pos/letras/EL

    PLATA QUEMADA: LEITURAS,TRANSGRESSES ETRANSFIGURAES

    Eduardo Fava Rubio (USP)1

    Resumo: O ato da leitura sempre foi um ponto chave tanto da obra ficcionalcomo da crtica do escritor argentino Ricardo Piglia. Este artigo buscadiscutir a aproximao da leitura com os mecanismos narrativos do relatopolicial que se evidenciam no romance Plata quemada. Alm disso, procuratraar a relao que h entre a prtica narrativa ficcional do autor e suasreflexes tericas sobre a literatura analisando como o conceito de gnero, eem especial o de gnero policial, sofre transgresses e transformaes noromance no sentido de configurar uma prxis narrativa nica e original.

    Palavras-chave: Ricardo Piglia; Literatura Argentina; Gneros Literrios;Gnero Policial.

    A leitura um dilogo, mas dele no participa propriamente o escritor. Aleitura um dilogo entre o leitor e o texto, e o autor, se e quando fala, atravsdeste seu preposto textual, s vezes infiel, sempre ambguo, inescapavelmenteequvoco. A riqueza da experincia da leitura reside, justamente, na pertinnciadestes dilogos que estabelecemos com os textos. Como dialogar com a letra morta?

    Naturalmente, dialogamos com quem nos diz algo e isso no acontece com aletra morta, mas sim com o texto vivo, com o texto que no s nos diz algo hoje, masque pode nos dizer outras coisas amanh; com o texto que no oferece respostasdefinitivas, e sim com o que sempre suscita perguntas. Para dialogar com o texto,

    temos que ter assunto com ele.A leitura crtica esse processo em que dialogamos insistentemente com os

    textos que nos dizem algo, com os textos com os quais temos assunto. A repetio daleitura o aprofundamento do dilogo e este se faz da descoberta de novos sentidos,de novos questionamentos, de novas perguntas. A obsesso com o texto e com aleitura faz a crtica se desenvolver, multiplicando leituras, multiplicando textos.

    1 Aluno do Programa de Doutorado na rea de Literatura Hispano-americana da Faculdade deFilosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo. Mestre em Literatura Espanhola(FFLCH/USP). E-mail: [email protected].

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    Piglia e a leitura

    Ricardo Piglia cultiva a imagem da leitura de forma reiterada em sua obra de

    fico tanto quanto em sua obra crtica chega a dedicar a esta imagemexclusivamente um de seus livros, El ltimo lector. Em Respiracin artificial, as leiturasde cartas, dirios, a leitura crtica da literatura argentina formam o tecido mesmo datrama: podemos ler a respirao artificial como a vida pela literatura, pelarepresentao, pelo artifcio. O personagem de Emilio Renzi, espcie de alter egodoescritor um alter ego tomado com ironia e por vezes pardico, segundo o prprioPiglia descrito por ele, em uma entrevista dada a Carlos Damaso Martnez em1985 e publicada em Crtica y ficcin, como um personagem a quem slo le interesala literatura, vive y mira todo desde la literatura (2001: 93). Assim me parece aliteratura ficcional de Piglia. Em outra entrevista, dada quatro anos depois a Ana InsLarre Borges e tambm publicada em Crtica y ficcin, a descrio praticamente serepete (2001: 110):

    Renzi est construido con algo que yo veo en m con cierta irona y con ciertadistancia. En el sentido de que a Renzi slo le interesa la literatura, hablasiempre con citas, vive literariamente y es lo que yo espontneamente hagoo quiero hacer pero que controlo a travs de mi conciencia poltica, digamos,una relacin diferente con la realidad. Entonces es como si de entrada elpersonaje se hubiera constituido como el lugar desde el cual el mundo puedeser visto desde el estilo, desde las tramas. En este sentido Renzi es una

    autobiografa.

    Se Renzi, o personagem, expressa certa auto-ironia do escritor, os textos romances, contos podem ser lidos todos como respiraes artificiais: mais do quesimplesmente literatura de fico, uma representao da realidade feita em termosliterrios, uma viso do mundo que passa pela leitura, que passa pela criao do realpela fico ou, ao menos, pelo texto.

    Em vrios de seus textos crticos, como Los relatos sociales, tambm umaentrevista publicada em Crtica y ficcin, discorre sobre o crime, os transgressores dalei e a sociedade policialesca, os relatos do Estado. Este, ao se tornar opressor,

    totalitrio ou violento, conforma uma realidade lida pelo texto de Piglia em termosliterrios. A construo do real como, por exemplo, a fico gerada pelo Estado assume assim, muitas vezes as formas do gnero policial e dos seus subgneros maisviolentos. A sociedade se constri, ou se entende, seguindo a lgica de um gneroliterrio, ainda que este real seja s o real dos textos de Piglia. Esta leitura do realque conforma sua literatura e que aparece tambm em muitos de seus textos crticosse evidencia na ligao de Piglia com o gnero policial. Como editor, a partir de 1968,dirige na Argentina a Serie Negra, coleo de romances policiais norte-americanospublicada pela editora Tiempo Contemporneo. Por fim, trabalha de diversas formascom o gnero em seus contos e romances, seja pela clave do policial de intriga La

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    loca y el relato del crimen, seja pela do policial noir, ou do hardboiled norte-americano Plata quemada. Sempre, porm, desrespeitando os cnones do gnero,acrescentando-lhe ou tirando-lhe algo, subvertendo-lhe certos parmetros.

    Conformar sua literatura com leituras, releituras e citaes de leituras, ao

    mesmo tempo em que conforma sua realidade literria baseando-se fortemente naideia do crime, do delito e da violncia conduz, naturalmente, a uma ideia muitoexplorada por Piglia: mesclar os dois temas a leitura e o policial , reiterando aimagem do escritor como criminoso transgressor e do leitor, especialmente doleitor-crtico, como detetive em busca das pistas que permitam elucidar o crime aprpria obra literria. Esta construo perpassa vrios de seus textos crticos: ementrevista de 1984, publicada em Crtica y ficcin, afirma que [e]n ms de un sentidoel crtico es el investigador y el escritor es el criminal (2001: 15); a frase que abreNotas sobre literatura em um Dirio, em Formas breves Emma Zunz ou anarrativa como crime perfeito (2000:79); em El ltimo lector, comenta-se que [u]nade las mayores representaciones modernas de la figura del lector es la del detectiveprivado (private eye) del gnero policial (2005: 77).

    A metfora do leitor-detetive no , de qualquer modo, uma inveno dePiglia e, evidentemente, no uma exclusividade de seu repertrio crtico, sendoquase um lugar-comum no estudo da literatura. Se definimos o detetive como umdecifrador, por exemplo, podemos citar Antoine Compagnon, que em seu O demnioda teoria diz que: O indivduo um leitor solitrio, um intrprete de signos, umcaador ou um adivinho (...) (2010: 35). Ainda que a metfora no seja explcita oleitor no identificado com o detetive, propriamente, mas com o caador e oadivinho , a analogia continua vlida ao se pensar que o detetive no s l aspistas do crime, como tambm formula hipteses para sua elucidao como oadivinho e deve caar e prender o criminoso como o caador.

    O gnero policial ressalta a metfora do leitor-detetive, propondo muitasvezes ao leitor que, acompanhando os indcios revelados pela narrao, faa tambmo papel do detetive formulando suas hipteses para a resoluo do crime econsequentemente para o desfecho da intriga narrada. No obstante, importanteressaltar tambm que, do ponto de vista da crtica literria, a metfora leitor-detetive aplicvel leitura de qualquer texto, entendendo-se neste caso que a leitura odeciframento dos signos que esto presentes em todo texto e podem ser mais oumenos implcitos e enigmticos. Assim, o encontro do leitor-detetive com o gneropolicial na obra de Piglia no uma ocorrncia que poderamos considerar deantemo previsvel ou obrigatria. Dito de outro modo, Piglia poderia cultivar aimagem da leitura como investigao em seus textos crticos sem que sua obraficcional se voltasse para o gnero policial. Do mesmo modo o gnero policial noimplica automaticamente uma adeso, em termos tericos, metfora do leitor-detetive. Em entrevista dada a Guillermo Mayr em 2009 (b), o prprio Piglia afirma:

    Yo creo que el modelo del relato como investigacin no supone ni exige que elinvestigador sea un polica o un detective, ni que est investigando un crimeno un delito. El modelo de investigacin puede servir para construir relatos

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    donde la investigacin tenga otra funcin; no hay que asimilar "investigacin"con "resolucin del crimen". Entonces, para m, el gnero policial hafuncionado como una estrategia narrativa fundada, bsicamente, en la idea delrelato como investigacin.

    uma viso da leitura como constructo do mundo ficcional e uma viso daconstruo do real como relato policial que levam as duas ideias a se mesclarem. ParaDaniel Link (2002: 73), [a] outra razo que torna interessante o policial estrutural: opolicial um relato sobre o Crime e a Verdade. nesse sentido que o policial , almdo mais, o modelo de funcionamento de todo relato (...). Dito isto, tomemos o casode Plata quemada, romance de Piglia de 1997, para tentar ver de que modo se d essarelao entre o gnero e os pressupostos tericos do autor expostos em seus textoscrticos.

    O gnero, os gneros

    Ler Plata quemada como romance policial no parece, a princpio, motivo degrande discusso. H inclusive na crtica trabalhos que partem explicitamente destaleitura, como Plata quemada o un mito para el policial argentino, de AdrianaRodrguez Prsico (2004: 113-121). De qualquer modo, assumir este ou qualqueroutro romance como policial a prioripressupe uma discusso ampla e espinhosa: defato o romance pertence ao gnero policial? Quais as regras do policial? Como definira noo de gnero na atualidade?

    De maneira bastante resumida, podemos traar uma histria do conceito degnero partindo da Antiguidade e chegando at fins do sculo XVIII como umacategoria prescritiva: o gnero o arcabouo inescapvel que determina o bem-fazer das obras artsticas e literrias. A partir do pr-romantismo, marcado pelomovimento alemo Sturm und drang, os ditames do gnero so desafiados em prol daindividualidade artstica e chegamos, um sculo depois, s propostas de simpleseliminao do gnero como categoria substantiva da crtica literria: para BenedettoCroce (apudBorges: 1999: 220), por exemplo, as obras j no se devem encaixar maisnos gneros literrios e nem teriam porque faz-lo. Como, mesmo vtima de ataquese questionamentos, o gnero resiste a desaparecer do vocabulrio tanto da crtica

    especializada como do leitor comum, chegamos ao sculo XX procurando ainda aideia por trs do conceito. Bakhtin amplia o conceito para os gneros do discurso,aproximando-o da lingustica. Aqui, buscaremos destacar trs das ideias vigentes nosdias de hoje sobre o conceito: o gnero como categoria histrica, o gnero comocategoria de leitura e o gnero como categoria da literatura de massas.

    Pela primeira categoria ainda aceita modernamente para o entendimento dognero, consideramos o conceito como uma categoria histrica, isto , os gneros noso mais aqueles formulados por Aristteles ou pelos manuais de retricarenascentistas, e sim assumem formas contemporneas. Desta maneira, podemoscatalogar hoje como gneros o romance, o conto, o ensaio, a autobiografia, etc.

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    Mesmo tendo perdido muito de seu carter prescritivo a partir do sculo XIX, aindapodemos considerar que se espera de um livro classificado como romance que sigadeterminadas diretrizes prprias de seu gnero: se o texto tem dez pginas, no serum romance; se est escrito todo em verso, tampouco.

    Com o fim do gnero como categoria prescritiva a melhor obra aquela quemelhor segue os ditames de seu gnero , passamos categoria seguinte: o gnerocomo uma expectativa de leitura. Se no h leis retricas que determinem que umromance no pode ter dez pginas e se h crticos dispostos a analisar as obras demaneira bastante aberta, sem pr-conceitos, fato que o leitor comum que compra ese dispe a ler um romance no espera e provavelmente no aceitar deparar-secom um texto de dez pginas. claro que essa adequao da obra ao horizonte deexpectativa do leitor est ligada tambm questes do mercado editorial, o que nosleva terceira categoria de gnero.

    Para vrios crticos e escritores, no funo do artista antes seria ocontrrio atender ao horizonte de expectativa do leitor. Ao faz-lo, o artista seprende ao gnero como se prendiam os antigos aos modelos retricos e sua obra,perdendo a originalidade da transgresso, tende insignificncia. Este conceito degnero, ligado literatura de massas, atacado, por exemplo, por Jorge Volpi:

    En un principio, la utilizacin de los recursos de las novelas de gnerosignific una bocanada de aire fresco frente a la experimentacin formal de losaos sesenta, pero su uso indiscriminado se ha convertido en una carga. Envez de arriesgarse a explorar nuevas sendas, numerosos autores, auspiciadospor sus editores, se conforman en seguir esquemas preestablecidos que les

    garantizan grandes tirajes y fama inmediata. No nos hallamos en una poca dedecadencia de la novela, sino en el manierismo de lo policaco, lo negro, lofantstico y lo folletinesco (2008: 35-6).

    Ricardo Piglia, em Plata quemada, apropria-se ento de um gnero fortementeassociado literatura de massa, operando, no entanto, uma srie de transgresses aognero que conferem ao romance outro semblante, mais original e desafiador. Ou,dito de outro modo, pelo prprio escritor na mencionada entrevista dada aGuillermo Mayr em 2009 (b):

    El gnero est presente en mi literatura sin que yo escriba directamentenarrativa policial. Entonces, en "Respiracin artificial" hay investigacionesmltiples, la forma del relato como investigacin, digamos, que define unpoco la forma de la novela, y en el caso de "Plata quemada" hay cierta relacincon cierta tradicin del gnero, digamos, la idea de la novela criminal, lanovela contada desde la conciencia de los criminales ms que la novelaconcebida como una investigacin. El gnero funciona, para m, como unpunto de referencia, pero nunca he escrito textos del gnero en sentidoestricto.

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    Claro que, aqui, supe-se que o gnero em sentido estrito de que fala Pigliaremete ao gnero em seu sentido mais tradicional ou, ao menos, a certo matizprescritivo associado ao conceito. Ao renegar a escritura de textos de gnero, masaceit-los como ponto de referncia, o que Piglia realiza uma transgresso que, ao

    mesmo tempo em que supera os limites do conceito, tambm o delimita e conforma.Para Foucault (1999: 167), la transgresin es un gesto que concierne al lmite; es ahen esa finura de la lnea que se manifiesta el destello de su paso pero quizs tambinde su trayectoria total, su origen mismo.

    A transgresso do gnero

    A primeira transgresso diz respeito aos protagonistas da histria: enquanto opolicial clssico centra sua narrativa na figura do detetive seja o detetive cerebral epassivo do romance de enigma, como o Auguste Dupin de Edgar Allan Poe ou oSherlock Holmes de Arthur Conan Doyle, seja o detetive duro e pragmtico doromance noir, como o Sam Spade de Dashiell Hammett ou o Philip Marlowe deRaymond Chandler , Plata quemada tem como protagonistas os criminosos,notadamente o Nene Brignone e o Gaucho Dorda. O procedimento em si de centrar anarrativa no criminoso no absolutamente nova: vejam-se, por exemplo, osprotagonistas, s vezes tambm narradores, de romances como They Shoot Horses,Don't They? (1935), de Horace McCoy,The Killer Inside Me(1952) e Savage night (1953),de Jim Thompson, ou The Talented Mr. Ripley (1955), de Patricia Highsmith. Atransgresso se d, portanto, em relao ao modelo mais tradicional do policial, masa configurao da dupla de personagens delinqentes de Plata quemada o dandyportenho e o gaucho pampeano representa uma originalidade em relao ao que seespera do esteretipo destes personagens ao mesmo tempo em que os insere em umambiente literrio tambm inesperado: o policial. O Gaucho e o Nene so ostransgressores dentro da trama e so as transgresses que tecem a trama, o queprovoca o estranhamento do leitor que busca no romance o gnero e suas marcasmais reconhecveis.

    Por outro lado, a figura do narrador tambm se modifica: se no policialclssico costuma-se ver uma voz narrativa unvoca a do amigo do detetive cerebral,a do narrador em terceira pessoa onisciente ou at a do criminoso em tom deconfisso ou memria , no romance de Piglia a narrativa nos chega por meio denarradores mltiplos, muitas vezes contraditrios, falhos e pouco confiveis. Umanova expectativa a de certa unidade narrativa daquele que busca, de um modo oude outro, o gnero no romance tambm transgredida.

    A experincia de leitura que Plata quemada nos oferece passa a ser entoambgua: identificamos com certa facilidade muitos elementos do romance policial,especialmente de sua vertente norte-americana, dura, do romance noir, ao mesmotempo em que nos exigida uma superao de nosso horizonte de expectativa emrelao a um romance policial. Tal procedimento configura a transgresso do gnero,seja este entendido como expectativa de leitura (o que esperamos encontrar em um

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    romance policial), como expectativa do mercado editorial (o que se vende comoromance policial dentro da literatura de massas), seja como marca de um gnerocontemporneo ao qual se inscreveria a obra (afinal a que gnero pertence Plataquemada, a que novo modelo nos levam suas transgresses?).

    A resposta s ltimas questes poderia nos levar novamente zona deconforto do gnero, afinal a determinao de parmetros que alinhassem Plataquemada a outros romances contemporneos seus forneceria ao leitor um novohorizonte de expectativa, ao mercado um rtulo para vender sua produo editorial, leitura crtica um novo arcabouo terico para analisar esta e outras obras. A quenos remetem ento as transgresses ao gnero policial presentes no romance dePiglia?

    Em Sobre el gnero policial, artigo de 1976 publicado em Crtica y ficcin,Piglia discute a relao entre o gnero policial e o jornalismo:

    Auden deca que el gnero policial haba venido a compensar las deficienciasdel gnero narrativo no ficcional (la noticia policial) que fundaba elconocimiento de la realidad en la pura narracin de los hechos. Me parece unaidea muy buena. Porque en un sentido Poe est en los dos lados: se separa delos hechos reales como el lgebra pura de la forma analtica y abre paso a lanarracin como reconstruccin y deduccin, que construye la trama sobre lashuellas vacas de lo real. La pura ficcin, digamos, que trabaja la realidadcomo huella, como rastro, la sincdoque criminal. Pero tambin abre paso a lalnea de la non-fiction, la novela tipoA sangre frade Capote (2001: 60-1).

    Esta uma concepo do gnero policial qual Plata quemadaparece adequar-se perfeitamente, com sua narrativa fragmentada, buscando-se erguer entre osvazios da realidade desta histria supostamente real. Tambm o relato jornalsticoserve, no romance, como forma de construo narrativa, trazendo para o seio destetoda sua deficincia em narrar a realidade s a partir dos fatos. O narrador, noEplogo do romance, chega a afirmar que:

    No siempre los dilogos o las opiniones transcriptas se corresponden conexactitud al lugar donde se enuncian pero siempre he reconstruido conmateriales verdaderos los dichos y las acciones de los personajes. [] Elconjunto del material documental ha sido usado segn las exigencias de la

    trama, es decir que cuando no he podido comprobar los hechos en fuentesdirectas he preferido omitir los acontecimientos (1998: 245-6).

    Curiosamente, no mesmo eplogo, parte importante do material verdadeiro,do material documental usado na confeco do romance atribuda aocorrespondente do jornal argentino El Mundo em Montevideo que assinava seustextos como E.R. e que corresponde no romance ao jovem jornalista... Emilio Renzi.O romance, assim, se fragmenta e se constri a partir das pistas, dos indcios, dosentreditos, das falhas que a prpria realidade criada por Piglia apresenta. O seu alterego irnico, que vive literariamente, na prpria literatura no d conta de sua

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    realidade, como no do conta da realidade dos fatos os outros jornalistas e meios deimprensa que cobrem o roubo e a fuga dos criminosos. certo que os jornais tm umpapel importante na tentativa de cobrir as falhas da narrativa, revertendo a tese deque o gnero policial vem a cobrir uma falha da notcia policial, que nunca poder

    dar conta da verdade em sua completude. Em Plata quemada, abundam expressescomo segundo os jornais e disseram os jornais (pginas 36, 41, 46, 53, 87, 88, 121,130, etc) que, supostamente, cobririam lapsos da narrativa aquilo que o narrador, omesmo do Eplogo, no tem condies de narrar , mas que s reforam a percepode uma narrativa incompleta e entrecortada. Nem o gnero policial resolve os crimesdas pginas policiais dos jornais, nem o gnero jornalstico confere verdade ecerteza fico literria.

    A reflexo de Piglia sobre o gnero policial e a realizao da fico nanarrativa do romance se encontram na mesma leitura e, assim como esta, muitasideias de Piglia sobre sua concepo terica de literatura parecem prenunciar osmecanismos de construo de Plata quemada. Outra delas afico paranoica.

    Em uma conferncia proferida em 2001 e publicada na revista brasileiraSerrote, Piglia afirma que:

    No gnero romance, o compl substituiu a noo trgica de destino: certasforas ocultas definem o mundo social e o sujeito instrumento dessas forasque no compreende. O romance introduziu a poltica na fico sob a formado compl. A diferena entre tragdia e romance parece estar ligada a umdeslocamento da noo de fatalidade: o destino vivido sob a forma decompl. Os orculos mudaram de lugar; a trama mltipla da informao, as

    verses e contraverses da vida pblica, eis o lugar visvel e denso onde osujeito l cotidianamente a cifra de um destino que no chega a compreender(2009a: 99-100).

    J em Plata quemada o narrador do Eplogo apresenta a histria da crnicapolicial narrada como tendo adquirido para ele la luz y el pathosde una leyenda(1998: 245). No captulo sete, afirma, em meio ao cerco da polcia aos bandidosencastelados no apartamento de Montevideo, que la larga odisea () ya dura cuatrohoras. (1998: 171). Nesta espcie de epopia trgica do Prata o prprio personagemdo Gaucho Dorda quem encarna a figura deste moderno anti-heri trgico do

    romance que se v envolto em uma paranica trama de compl, cujos sinaisagourentos esto por toda parte: estaba siempre viendo signos negativos y tenamltiples cbalas que le complicaban la vida. (1998: 12). Seus orculos setravestem nas instituies sociais. A primeira a polcia, a quem combate comoquem combate o destino: Lo haba matado [al polica] porque odiaba a la policams que nada en el mundo y pensaba de un modo irracional que cada polica que lmataba no iba a ser reemplazado. (1998: 40) Depois a lei: Lo detuvieron variasveces de chico hasta que a los quince lo mandaron al neuropsiquitrico de MelchorRomero, cerca de La Plata. (1998: 73) Tambm a imprensa, falando do Gaucho e dosoutros do bando: Hybris, busc en el diccionario el chico que haca policiales en El

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    Mundo: la arrogancia de quien desafa a los dioses y busca su propia ruina (1998:91). Por fim, o mdico psiquiatra (1998: 225):

    Si sigue as va a terminar mal, Dorda le dijo el mdico.

    Yo voy mal dificultoso para expresarse, el Gaucho Rubio . Vengo maldesde chico. Yo soy desgraciado. No s expresarme, doctor.

    Assim como a narrativa jornalstica corrompe a policial e , em tese,corrompida por ela na teoria ficcional de Piglia, tambm a tragdia, um gneroclssico por excelncia, encontra uma contrapartida nas ideias crticas do autor sobrea narrativa contempornea a fico paranoica, a teoria do compl e umarealizao ficcional em algum nvel de Plata quemada.

    Transfigurao e hibridismo

    Por fim, em outro artigo publicado em Crtica y ficcin, La lectura de laficcin, reproduo de entrevista de 1984 a Mnica Lpez Ocn, Piglia afirma:

    Por mi parte, me interesan mucho los elementos narrativos que hay en lacrtica: la crtica como forma de relato; a menudo veo la crtica como variantedel gnero policial. () Se podra pensar que la novela policial es la granforma ficcional de la crtica literaria. () Me interesa mucho la estructura delrelato como investigacin: de hecho es la forma que he utilizado en Respiracin

    artificial. Hay como una investigacin exasperada que funciona en todos losplanos del texto (2001: 15-6).

    Jorge Volpi j enxerga e com bons olhos na obra de escritores como SergioPitol, Javier Maras e Enrique Vila-Matas a simbiose entre romance e ensaio: Todosellos han experimentado distintas variedades de esta mutacin, a veces por medio delargos pasajes ensaysticos en el interior de sus novelas, a veces con ensayosnarrativos o verdaderos hbridos (2008: 36). Em um romance como Respiracinartificialtambm evidente a discusso crtica levada a cabo, sobretudo na segundaparte do romance, cheia de passagens ensasticas. Por outro lado, se como o prprioPiglia afirma, no citado artigo La lectura de la ficcin, que la crtica es una de lasformas modernas de la autobiografa, h muito de narrativa em sua obra crticacomo j notou Gabriela Speranza em seu artigo Autobiografa, crtica y ficcin: Juan

    Jos Saer y Ricardo Piglia (2001). A questo se o mesmo se poderia dizer de Plataquemada, romance que, ao menos na aparncia mais superficial, entrega-se tramapura e simples ou, eventualmente, a algum aprofundamento psicolgico de um dospersonagens, sem, no entanto, jamais ter passagens propriamente ensasticas, taisquais as que notamos claramente em Respirao artificial.

    De fato, Plata quemadano parece realizar o hibridismo entre romance e ensaiopresentes em Triloga de la memoria, de Pitol, Corazn tan blanco, de Maras ou Historia

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    abreviada de la literatura porttil, de Vila-Matas. Tampouco uma narrativa na qualdiscusses literrias surgem da boca dos personagens ou das situaes da trama emsi, como em Respiracin artificial, Los detectives salvajes, de Bolao, ou mesmo O nomeda rosa, de Umberto Eco. No entanto, como aponta Daniel Link em seu j citado

    artigo O jogo dos cautos (sobre o policial), de 2002:

    Falar do gnero policial , portanto, falar de bem mais que literatura: deimediato, de filmes e de sries de TV, de crnicas policiais, de noticirios e dehistrias em quadrinhos: o policial uma categoria que atravessa todos osgneros. Porm tambm falar do Estado e de sua relao com o crime, daverdade e de seus regimes de apario, da poltica e de sua relao com amoral, da Lei e seus regimes de coao (2002: 72).

    Plata quemada transgride o gnero policial realizando um hibridismo entre o

    romance policial e outros gneros. O relato jornalstico e certos tpicos da tragdiaclssica so os campos pelos quais, em especial, a narrativa parece passar nessaoperao de transgresso travessia, ida alm das fronteiras estabelecidas. Osprocedimentos narrativos da construo da novela, seus personagens e as inmerascitaes diretas e indiretas; literrias, polticas e histricas , to marcantes naescrita de Piglia, oferecem ao leitor crtico, insistente, indagador, novosquestionamentos que conduzem a novas travessias e novas leituras hbridas: ser oromance, eminentemente, sobre o papel do dinheiro na sociedade e, neste sentido, halgo de anlise sociolgica no texto? Ser a trama principal de roubo, fuga e violnciapano de fundo alegrico para o momento histrico vivido pela Argentina s portas

    das terrveis ditaduras dos anos setenta? Ser o personagem do Gacho Rubio umponto de dilogo com a tradio gauchesca, no do ponto de vista esttico formal,claro, mas no sentido de discutir uma enorme e polmica tradio culturalargentina, que de Sarmiento passa por Hernndez, por Giraldes, por Borges, portodos de alguma maneira?

    Ainda que considere todas estas perguntas vlidas, mesmo que as respostasdadas aps a reflexo as rejeite, a transgresso possvel do romance que mais meinteressa neste momento a que remete Plata quemada obra do prprio autor: tantosuas outras narrativas, como suas ideias crticas, expressas em artigos, ensaios,conferncias e entrevistas. No artigo De Pulp Fiction a metaficcin literaria: las

    transformaciones del personaje detectivesco en la narrativa policial brasilea,Michele Dvila Gonalves j aponta, ao falar sobre o gnero policial no Brasil que:

    () en estas obras se requiere ms esfuerzo del lector para seguir la historia ypor ende, las pistas para resolver el enigma. Esto se debe a que las novelaspoliciales ms recientes tienen en comn una preocupacin terica con elgnero policaco en s y la literatura en general. Son textos llenos de alusiones,intertextualidad y erudicin que los ejemplos clsicos del gnero no tienen.Las obras son metaficciones donde los autores proponen y discuten teorassobre el arte de escribir y en especial la narrativa policial (2005: 85).

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    A metafico vista por Gonalves nos romances policiais brasileiros exige,como ela mesma afirma, mais esforo do leitor. Por outro lado, me parece que asaluses, intertextualidades e erudio muitas vezes so relativamente claras emmuitos exemplos do policial contemporneo seja ele brasileiro, hispano-americano,

    norte-americano ou europeu. A dificuldade que pode encontrar o leitor est emseguiras pistas, em interpret-las, no necessariamente em encontr-las no texto.

    Com relao s ideias de Gonalves, duas discrepncias me parecemfundamentais em minha leitura de Plata quemada. Em primeiro lugar, ainda que tomecomo ponto de partida o gnero policial, o dilogo intertextual proposto por Pigliano se centra propriamente na discusso do gnero em si. Claro que, ao transgredi-lo, comete um ato que, como diz Foucault, concerne ao limite. A narrativa ajuda aredefinir o gnero ao redefinir seus limites e este ato , de todo modo, uma discussoterica sobre a escrita e a literatura em geral. H, no entanto, um dilogo terico queme parece mais central com a prpria viso de literatura que nos apresenta Piglia emseus textos crticos e ficcionais, com teses como a fico paranica e a teoria docompl; como a forma do relato como investigao; como a do dinheiro como motorsocial, a modo do que ele analisa na obra de Roberto Arlt; como a da violncia eopresso do Estado como criadoras de narrativas, de fices sociais. Por esta leitura,Plata quemada aprofunda mais do que tudo uma leitura da viso pigliana daliteratura, dos seus temas recorrentes, suas obsesses, seus questionamentos.

    Em segundo lugar, est a maneira como se constri a narrativa mesma. No sediscute literatura praticamente em nenhum momento do texto do romance, aomesmo tempo em que o texto em si a realizao de muitas das discusses de Pigliaao longo dos anos sobre o que hoje a literatura, a cultura, a sociedade, a poltica e ahistria. As referncias, aluses e citaes no se esgotam na erudio por si s demonstrada pelo escritor e exigida do leitor. A leitura que proponho exige, talvez,ainda mais esforo do leitor ao for-lo a fazer parte do dilogo com Piglia sobre aliteratura em seus termos, nos termos que ele prope. Ao deparar-se com as pistas dotexto, com os indcios do crime real ou literrio , o leitor no encontrapropriamente respostas, no decifra nada. A tarefa descobrir o jogo escondido quedesvelar no s uma viso de literatura, mas uma viso de mundo em termosliterrios.

    Se em Plata quemada, enfim, Piglia parece ter buscado realizar a crtica atravsda fico, em forma de relato policial, objetivo almejado em alguns de seus textostericos, o que resta ao leitor? No transgredir junto com o texto sempre umaopo: basta ler no romance s uma narrativa criminal. A outra, que me parece maisrica e prazerosa, jogar o jogo e expor-se, inclusive, ao erro, a sair do mapa, do texto,e perder-se. fantasiar por um momento que Plata quemadano , na verdade, umromance de Ricardo Piglia, mas o romance policial que escreveu Emilio Renzi,utilizando como pseudnimo o nome deste renomado professor nascido emAdrogu.

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    PLATA QUEMADA: READINGS, TRANSGRESSIONS ANDTRANSFIGURATIONS

    Abstract: The act of reading has always been a major subject for the Argentinean

    writer Ricardo Piglia, both in his fiction and critical writings. This article aims atdiscussing the approach of the reading act to the narrative devices of the crime novelpresent in the authors novel Plata quemada (Burnt Money). Besides, it intends todescribe the relationship between the authors fictional narrative praxis and histheoretical thoughts about literature by analyzing how the concept of literary genre,especially the crime novel as a genre, passes through transgressions and changes inthe novel in a sense of delineating an original and unique narrative praxis.Keywords: Ricardo Piglia; Argentinian Literature; Literary Genres; Crime fiction.

    REFERNCIAS

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    Estao LiterriaLondrina, Volume 9, p. 155-167, jun. 2012

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    VOLPI, Jorge.Mentiras contagiosas. Madrid: Pginas de Espuma, 2008.

    ARTIGO RECEBIDO EM 28/02/2012 E APROVADO EM 10/03/2012.