Orando no espírito com spurgeon parte 2
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Parte II
Orando no Espírito com Spurgeon
Parte 2
Traduzido, adaptado e editado
por Silvio Dutra
FEV/2016
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S772 Spurgeon, Charles H. Orando no Espírito com Spurgeon./ Charles H. Spurgeon : tradução e adaptação Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 288p.; 14,8x21cm 1. Oração. 2. Pregação. 3. Alves, Silvio Dutra. I. Título. CDD 252
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Sumário
Nossa Oração Pública...................................... 5
Verdadeira Oração, Verdadeiro Poder...... 22
Oração de Davi na Caverna........................... 39
A Oração Espontânea...................................... 49
Oração de Intercessão................................... 62
Ordem e Argumento na Oração.................... 73
Orai, Orai Sempre............................................ 86
Oração a Deus em Angústia - um
Sacrifício Aceitável.........................................
114
Incentivo a Confiar e Orar............................. 122
A Intercessão do Espírito Santo.................. 134
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Nossa Oração Pública
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e
adaptado por Silvio Dutra)
Estejam seguros de que a oração livre e
espontânea é a mais bíblica, e deve ser a forma mais excelente das orações públicas.
Se perdes a fé no que estás fazendo, nunca o farás bem. Fixem em suas mentes, portanto, que
na presença do Senhor estão tributando-Lhe
adoração de um modo garantido por sua divina Palavra e aceito por Ele. A expressão “orações
lidas” a que estamos tão acostumados, não se
acham nas Santas Escrituras, ricas como são em
palavras para dar a direção aos pensamentos religiosos; e tal frase não se acha nelas, porque a
coisa mesma não existe. Em que parte dos
escritos dos apóstolos podemos encontrar algo
que dê apoio a uma liturgia? A oração nas congregações dos crentes da igreja primitiva,
não estava restringida a nenhuma forma de
palavras. Tertuliano escreve: “Oramos sem
monitor porque oramos de coração.”. Justino Mártir descreve o ministro que presidia os
cultos, como orando “segundo sua habilidade”.
Seria difícil descobrir como e quando tiveram
princípio as liturgias, sua introdução foi gradual, e segundo cremos, coextensiva com a
decadência da pureza na igreja. A admissão
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delas pelos não conformistas, marcaria
claramente a era da nossa decadência e queda.
A natureza deste assunto me tenta a estender-
me mais sobre ele, porém, não é o ponto que venho tratando, e portanto o deixo neste estado,
não sem adverti-los que acharão o assunto das
liturgias habilmente tratado pelo Dr John Owen, a quem farão bem em consultar.
Tenhamos especial cuidado em provar a superioridade da oração improvisada e
espontânea, fazendo-a mais espiritual e
fervorosa do que a devoção litúrgica.
É uma grande lástima que um ouvinte se veja obrigado a fazer a observação de que seu
ministro prega melhor do que ora. Isto não é
tomar por modelo a nosso Salvador que falava como ninguém falou e impressionou com suas
orações de tal maneira a seus discípulos, que
estes lhe pediram que lhes ensinasse a orar.
Todas as nossas faculdades devem concentrar sua energia, e todo nosso ser deve elevar-se a
um ponto mais alto de vigor, ao fazer a oração
pública, e enquanto o Espírito Santo batizará a
alma e o espírito com sua sagrada influência, porém uma palavra desalinhada, incoerente e
sem vida, pronunciada à guisa de oração,
somente para encher certo espaço de tempo no
culto, é coisa cansativa para o homem e abominável para Deus. Se a oração livre fosse
sempre de um modo mais elevado, nunca se
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teria pensado na liturgia, e as formas de oração
que hoje se usam não têm outra desculpa que a
debilidade da devoção espontânea e das orações
improvisadas. E isto consiste em que não somos tão realmente devotos de coração como
deveríamos ser. Devemos ter uma comunhão
habitual com Deus, sob pena que nossas orações públicas sejam insípidas e rotineiras. A oração
privada é o meio mais a propósito de que
devemos valer-nos para dispormo-nos à prática
de nossos exercícios mais públicos: não devemos pois, ser negligentes nela, se não
queremos nos expor a fracassar quando
tivermos que orar diante das pessoas.
Nossas orações nunca devem se arrastar pela terra; devem subir. Necessitamos dar-lhes
forma em nossas mentes num molde celestial. Nossas solicitações ao trono da graça
necessitam ser solenes e humildes, não
petulantes e estrondosas, ou formais e feitas
com desfaçatez. A forma coloquial de discurso é imprópria diante do Senhor, devemos inclinar-
nos com a mais reverente e humilde submissão.
É certo que podemos falar francamente com
Deus, porém não esqueçamos que Ele está no céu e nós na terra, e evitemos por conseguinte
toda presunção. Ao orar, coloquemo-nos de um
modo especial diante do trono do infinito; e
assim como o cortesão no palácio do rei põe outro semblante e observa outros modos
distintos dos que costumam ter os demais
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cortesãos seus companheiros, assim também é
preciso que se dê conosco. Temos notado nas
igrejas da Holanda, que tão logo o ministro
começa a pregar, todo mundo coloca seu chapéu, porém no momento em que começa a
orar, todos os tiram no ato.
Que unicamente o Senhor seja o objeto de suas orações. Tenham cuidado em se dirigir de algum modo aos ouvintes, cuidado em não se
fazerem retóricos para agradar aos que os
escutam. A oração não deve se transformar num
sermão oblíquo. Há algo de blasfemo em fazer da piedade um motivo de ostentação. As orações
polidas são no geral más orações.
Na presença do Senhor dos Exércitos fica mal a um pregador fazer gala de suas plumas com o fito de ganhar o aplauso dos seus semelhantes.
Os hipócritas que se atrevem a se conduzir desse
modo, podem estar certos de que terão a sua
recompensa, mas não devemos aspirar a tal recompensa. Uma grave sentença de
condenação recaiu sobre um ministro quando
lisonjeando-lhe se dizia que sua oração era a
mais eloquente de quantas se haviam oferecido em uma congregação de Boston. Não nos é
proibido que procuremos excitar os
sentimentos e as aspirações dos que ouvem
nossa oração; porém cada uma das palavras e pensamentos dela, devem elevar-se a Deus, e
somente desse modo impressionam o auditório
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para levar aos que o formam, juntamente com
suas necessidades, à presença do Senhor.
Evitem todo tipo de vulgaridades na oração. Tenho que confessar que tenho ouvido algumas, porém de nada serviria que as
trouxesse à baila, tanto menos, quanto que cada
dia se faz mais raro escutá-las. Poucas vezes, de
fato, sucede agora que nos encontremos na oração com essas vulgaridades que eram num
tempo tão comuns nos cultos de oração
celebrados pelos Metodistas.
É muito lindo o espetáculo que se apresenta quando um homem luta com Deus dizendo-lhe:
“Não te deixarei ir antes que me abençoes”;
porém isso deve ser dito com a maior mansidão,
e não com um espírito de fanfarronice próprio dos que se creem com o direito merecido de
exigir bênçãos do Senhor. Com efeito, a vitória
que Jacó logrou alcançar naquela noite não foi
resultante de uma força que existisse nele mesmo. Se me tem ensinado a dizer: “Pai
nosso”, porém é contudo: “Pai nosso que estás
nos céus.”. Pode haver familiaridade, porém
uma santa familiaridade; intrepidez, porém essa intrepidez que nasce da graça e é obra do
Espírito Santo; não a audácia do rebelde que
ergue uma fronte impúdica na presença do seu
rei ofendido, senão a confiança de um menino que teme a seu pai porque o ama, e o ama porque
o teme. Nunca adotem, pois, um estilo de oração
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cheio de amor próprio e de impudência. Deus
não deve ser assaltado como antagonista, senão
suplicado como nosso Senhor e Deus. Sejamos
humildes de coração quando orarmos.
Os homens de negócios dizem: “um lugar para cada coisa, e cada coisa em seu próprio lugar”.
Assim, preguem no sermão, e orem na oração.
Os preâmbulos sobre nossa necessidade de
auxílio na oração, constituem a oração. Por que não começam os homens desde logo a orar? Por
que tardam e titubeiam? Em vez de dizer o que
devem fazer e querem fazer, por que não
começam no nome de Deus a fazê-lo? Peçam a satisfação das necessidades grandes e
constantes da igreja, e não deixem de
apresentar com o fervor mais devoto as
exigências especiais do tempo e do auditório que têm. Façam menção dos enfermos, dos
pobres, dos moribundos, dos pagãos, dos judeus
e de toda classe de homens necessitados, tanto
quanto todos eles lhes afetem o coração. Roguem por nosso povo como composto de
santos e de pecadores, e não como se todos
fossem santos. Façam menção dos jovens e dos
anciãos; dos sérios e dos indiferentes; dos devotos e dos que estão apostatando. Nunca se
afastem nem para a direita, nem para a
esquerda, senão sigam o caminho da oração
fervente. Sejam verdadeiras e práticas suas confissões do pecado e ações de graças; e sejam
oferecidas suas petições como se cressem em
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Deus e não pusessem em dúvida a eficácia da
oração; digo isto, porque as orações de muitos
são tão formais que os ouvintes não podem
menos que concluir que em seu conceito a oração é uma prática muito decente, porém que
não vá seguida de nenhum resultado proveitoso
para o homem. Roguem como os que têm tido ocasião de provar a Deus e que por isto voltam
com toda confiança a fazer outras petições; eu
lhes suplico que não deixem de rogar a Deus em
todo o curso de suas orações, não misturando nunca com elas práticas ou pregações, nem
muito menos, segundo fazem alguns,
repreensões e murmurações.
Tenho ouvido chamarem algumas vezes a oração e o louvor, de “serviços preliminares”,
como se fossem somente prefácio do sermão, eu creio que isto é raro entre nós, se fosse
comum, seria um defeito muito grave. Eu
procuro invariavelmente dirigir todo o culto por
meu próprio bem, e creio que também, por conseguinte o de toda a congregação. A meu
ver, não é verdade que qualquer pessoa possa
dirigir a oração. Não, senhores, tenho a
convicção solene de que a oração é uma das partes mais importantes do culto, mais
proveitosa e mais honorável, e que se deve
considerar ainda mais do que o sermão. Não
devemos pedir a qualquer um que dirija a oração, e depois eleger o irmão mais capaz como
pregador. Pode suceder que por debilidade
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corporal ou em alguma ocasião especial, o
pastor necessite do auxílio de um irmão e lhe
peça que ofereça a oração; porém se o Senhor os
tem feito amar seu trabalho, não o cumprirão a contento nem prontamente com esta parte dele
na pessoa de um outro. Se às vezes se delega o
serviço a outra pessoa, que seja uma cuja espiritualidade e atitude tenham a confiança
mais ampla; porém designar repentinamente a
um irmão desprevenido para dirigir as
devoções, me parece vergonhoso. Serviremos o céu com um respeito menor do que aquele com
que ministramos a nós mesmos, sendo como
somos tão pouco dignos? Peçam ao homem
mais capaz que ore, antes que o acesso a Deus seja menosprezado.
Sirvamos a Jeová da melhor maneira que possamos: que se considere com muito cuidado,
e se apresente com toda a força de um coração
desperto e de um entendimento espiritual, a
oração que seja dirigida à Majestade Divina. O que se tem preparado para pregar,
comunicando-se com Deus, ordinariamente
tem a maior aptidão para a oração e formar um
programa que põe a outro irmão em seu lugar, transtorna o culto, defrauda ao pregador um
exercício que o fortaleceria para apresentar seu
sermão, e muitas vezes pode sugerir
comparações entre as diferentes partes do culto, coisa que nunca deve ser tolerada. Se
irmãos despreparados são enviados por mim ao
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púlpito para que me sirvam com suas orações
quando eu tenho que pregar, não posso
entender por que não me seja permitido orar, e
então retirar-me e deixar a estes irmãos que preguem, Não posso ver nenhuma razão
convincente para ausentar-me do exercício
mais santo, precioso e proveitoso que meu Senhor me tem concedido; se posso eleger,
cederei o sermão antes que a oração. Tenho dito
tudo isto para lhes inculcar a persuasão de que
devem estimar de um modo especial a oração pública, e pedir ao Senhor os dons e as graças
necessárias para que possamos cumprir este
dever fielmente.
Para que uma oração pública seja o que deve ser, é necessário que provenha do coração. Um
homem deve ser realmente sincero em suas súplicas. A oração deve ser verdadeira, e se é,
cobrirá como o amor, uma multidão de pecados.
Poderá perdoar as familiaridades de um homem
e também suas vulgaridades, se vemos claramente que é do mais íntimo do seu coração
que está falando com seu Criador, e que suas
faltas são devidas somente aos defeitos de sua
educação e não a vícios morais ou espirituais de seu coração. O que ora publicamente deve ser
ardente, porque não pode haver pior preparação
para um sermão, que uma oração suporífera.
Que coisa pode fastidiar os homens da casa de Deus, mais que uma oração inerte? Ponham
toda sua alma em tal exercício. Se toda sua
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energia pode ser aplicada numa coisa, que seja
em acercar-se de Deus publicamente. Roguem
de tal maneira que possam, por um atrativo
divino levar toda a congregação com vocês até o trono de Deus. Orem de tal modo que pelo poder
do Espírito Santo, descansando sobre vocês,
expressem os desejos e os pensamentos de todo o auditório, e os constituam em uma voz ardente
de fervor diante do trono de Deus, intercedendo
pelas centenas de corações palpitantes ao sentí-
lo.
Além disso, nossas orações devem ter propósito. Não quero dizer que devemos entrar em cada
detalhe minucioso das circunstâncias da
congregação.
Como disse antes, não há necessidade de se fazer menção na oração pública de todos os
sucessos da semana, nem de comemorar todos
os nascimentos, mortes e matrimônios de nossa
membresia, porém o coração cuidadoso do pastor deve notar todos os movimentos gerais
que têm acontecido na congregação; deve
recordar tanto as alegrias como as tristezas da
sua congregação diante do trono da graça, e pedir que a bênção divina descanse sobre seu
rebanho em todos seus movimentos, seus
exercícios, e empreendimentos santos, e que o
perdão de Deus se estenda ao pecados inumeráveis. Além disso, não sejam prolixos na
oração.
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Livingstone disse relativamente a Robert Bruce de Edinburgo, que “nenhum outro homem de
seu tempo manifestou tanta convicção e
energia como as que a Ele conferira o Espírito Santo. Nenhum outro teve tantas provas de
conversão de almas, e muitos de seus ouvintes
até pensavam que ninguém desde o tempo do apóstolos, havia falado com tanto poder como
ele. Quando outros estavam presentes, oferecia
orações muito breves, porém cada uma de suas
sentenças era como um raio lançado aos céus. Ouvi ele dizer que se enfastiava quando outros
ofereciam longas orações, porém que estando
só, empregava muito tempo orando.”.
Um homem pode, em ocasiões especiais,
ocupar vinte minutos na oração principal da manhã, porém isto não deve suceder com
frequência. Mas uma oração pública não deve se
estender por mais de dez minutos. Nossos antepassados sabiam orar por três quartos de
hora ou menos; porém devem recordar que não
poderiam estar seguros de ter outra
oportunidade para fazê-lo, e portanto oravam até saciar-se. Ademais, naqueles tempos, a
congregação não se inclinava a se queixar da
duração das orações e dos sermões, tanto como
alguns o fazem agora.
Estamos agora falando das orações públicas que vêm antes do sermão ou depois dele, e para
estas, dez minutos são melhor limite que quinze.
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Somente uma pessoa entre mil, se queixará de
vocês pelo motivo de que suas orações são
muito breves, porém muitas murmurarão da
duração fastidiosa delas.
Todas essas áridas, pesadas e prolixas práticas na oração, não fazem mais do que embotar a atenção dos ouvintes, cujos ouvidos ficam
saturados de palavras. As orações longas
consistem em repetições ou em explicações
supérfluas que Deus não requer, ou degeneram em puras pregações, de sorte que não há
diferença alguma entre a oração e a pregação,
exceto que naquela o ministro tem seus olhos
fechados, e nesta os mantém abertos.
Não nos é exigido que nossas orações consistam em uma série de textos bíblicos, nem que
citemos a Davi e Daniel, ou Jó e Paulo, e Pedro e todos os demais sob o título de “teu servo do
passado”. Nunca deem a impressão de que estão
para concluir sua oração e depois continuem
orando por mais cinco minutos. Quando o auditório supõe que estão para terminar, não
podem repentinamente proceder com um
espírito devoto. Isto é imprudente e fastidioso.
Evitem também o uso de frases altissonantes. Elas são um grande mal. Quem pode justificar
expressões tais como esta: “não deveríamos
correr para a tua presença, assim como o cavalo incapaz de pensar o faz na batalha?”. Como se os
cavalos alguma vez pudessem pensar. Uma
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sentença bizarra como esta incita mais ao
pecado, do que à oração. Coisas como “teu pobre
povo indigno” é geralmente um epíteto usado
para ser aplicado a si mesmos pelos homens mais orgulhosos da congregação.
Deve-se também ter o cuidado, quando não se pode citar as passagens da Bíblia corretamente, em suas orações, seria melhor não fazer uso
delas. Porque a mudança de uma só palavra
pode lhe alterar totalmente o significado.
Empreguem uma expressão nascida de sua própria mente, e será igualmente aceitável a
Deus, mas não usem uma frase bíblica
adulterada.
Tenho notado o costume entre alguns (que lhes rogo que não o adotem) de orar com os olhos
abertos. É antinatural, indecoroso e repugnante.
Olhar os objetos que nos rodeiam enquanto professamos que estamos nos comunicando
com o Deus invisível, é detestável em extremo.
Os pais da igreja primitiva condenaram esta
prática indecorosa.
Devemos também fazer uso de poucas gesticulações ao orar. A voz deve estar sempre
em conformidade com o assunto, e nunca deve
ser violenta, nem audaz, porque os tons do homem que fala com Deus devem ser humildes
e reverentes.
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Para evitar que se estabeleça entre nós uma rotina monótona e fastidiosa, recomendo que
vocês variem a ordem das diferentes partes do
culto, tanto quanto seja possível. O que o Espírito livre nos impele a fazer, façamos logo.
Alguém começa o culto com o louvor em vez da oração e depois de tudo é advertido pelos
diáconos que não deve fazer inovações. Até
agora temos entendido que as igrejas
congregacionais e batistas não estão escravizadas a tradições, nem a regras fixas
quanto ao modo da adoração, e sem dúvida,
estes pobres desejando fazer-se soberanos e
exclamando em alta voz em favor de uma liturgia, querem que seu pastor se submeta a
cerimoniais introduzidos pelo costume. É
preciso que se ponha um fim a tais absurdos.
Pretendemos dirigir os cultos assim como o Espírito Santo nos ensina e segundo nosso
melhor juízo. Não nos submeteremos a uma
regra que nos exija que oremos agora e que
louvemos depois; Variaremos a ordem do culto para evitar a monotonia, e não estabeleceremos
nenhuma regra fixa relativa a isto.
“A adoração verdadeira não é o som estrepitoso que se repete por lábios clamorosos, mas é o
silêncio profundo de uma alma que se abraça
aos pés de Jeová.”.
Variem a duração de suas orações públicas. Não pensem que seria muito melhor às vezes em
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lugar de empregar três minutos na primeira
oração e quinze na segunda, ocupar nove em
cada uma? Não seria mais proveitoso às vezes
determos mais tempo na primeira e menos na segunda? Não seriam melhores duas orações
medianamente longas, que uma longa em
extremo e outra muito curta? Não seria um bom caminho cantar um hino depois de ler o
capítulo, ou cantar uma ou duas estrofes antes
da oração? Por que não seria bom às vezes
cantar quatro hinos no culto? Não devemos estar contentes às vezes com dois hinos e
mesmo com um? Por que é necessário cantar
sempre depois do sermão? Por que, por outro
lado, nunca cantam alguns ao fim do culto? É conveniente sempre, ou ainda com frequência,
uma oração depois do sermão? Não é verdade
que ás vezes é muito comovedora? Se fôssemos
guiados pelo Espírito, não conseguiríamos uma variedade desconhecida?
Variem os temas comuns de suas orações na intercessão. Há muitos tópicos que requerem a
sua atenção: a igreja com suas fraquezas, suas
infidelidades, suas tristezas e suas consolações:
o mundo exterior, a vizinhança, os ouvintes não convertidos, os jovens, a nação. Não orem por
tudo isso todas as vezes, ou senão as suas
orações serão longas e provavelmente
desinteressantes. Qualquer que seja o tópico predominante em seu coração, façam-no
predominar em suas súplicas. Há um modo de
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seguir um curso na oração, se o Espírito Santo os
guiar por ele, isto dará coesão ao culto, e se
harmonizará com os hinos e com a pregação.
É muito proveitoso manter unidade no culto, onde possível; não servilmente, mas com
sabedoria, de sorte que o efeito seja unificante.
Certos irmãos nem sequer procuram manter
unidade no sermão, mas vagueiam da Inglaterra ao Japão e introduzem todos os assuntos
imagináveis. Mas vocês, que já atingiram a
preservação da unidade no sermão, poderiam ir
um pouco além, e demonstrar algum grau de unidade no culto, sendo cuidadosos quanto ao
hino, à oração e à leitura bíblica, para manter
em proeminência o mesmo assunto. Pouco
recomendável é a prática, comum em alguns pregadores, de reiterar o sermão na última
oração. Pode ser instrutivo para os ouvintes,
mas é um objetivo totalmente alheio à oração. É uma prática inconveniente, não a imitem.
Como fugiriam de uma víbora, evitem todos os esforços para conseguir fervor espúrio na
devoção pública. Não se esforcem para parecer
fervorosos. Orem segundo os ditames do seu coração sob a direção do Espírito de Deus, e se
vocês estiverem embotados e tediosos, digam-
no ao Senhor. Não será ruim confessar a sua
falta de vida, deplorá-la e clamar por vivificação. Será uma oração real e aceitável. Mas o ardor
fingido é uma vergonhosa forma de mentir.
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Nunca imitem os fervorosos. Vocês conhecem
um bom homem que geme, e outro cuja voz vira
um grito estridente quando ele é arrebatado
pelo ardor, mas, nem por isso vocês deverão gemer ou chiar para parecerem fervorosos
como eles. Simplesmente sejam naturais do
começo ao fim, e peçam a Deus que os guie nisso tudo.
Finalmente, preparem-se para orar publicamente. Não preparando uma liturgia,
mas preparando o coração. Ordenando os
argumentos que apresentarão diante do Senhor
na oração. Inteirem-se antes de orar das coisas pelas quais orarão. Tenham-nas bem definidas
em sua mente, para que não entrem ao esmo
diante de Deus. Este preparo consiste em ponderar previamente a importância da oração,
em meditar nas necessidades espirituais dos
homens, e em recordar as promessas que
havemos de pleitear – indo, desta forma, à presença do Senhor com uma petição escrita
nas tábuas de carne do coração. Seguramente
isso é melhor do que ir a Deus a esmo, correr
para o trono divino ao acaso, sem mensagem ou desejo definido. “Nunca me canso de orar”,
disse alguém, “porque sempre tenho uma
mensagem definida quando oro.”.
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Verdadeira Oração, Verdadeiro Poder
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e
adaptado por Silvio Dutra)
“Porque em verdade vos afirmo que se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te ao mar,
e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele. Por isso vos
digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede
que recebestes, e será assim convosco.”. Mc
11.24
Um homem que tivesse fé para fazer o sol parar
já viveu neste mundo, pois Josué fez tal pedido a
Deus e Ele o atendeu. Feitos poderosíssimos já
foram realizados pela fé. Mas ainda não se viu quem enviasse com sua fé uma montanha para
o mar. Se alguém contasse com a aprovação da
vontade de Deus para um tal feito, segundo
Jesus, ele ocorreria como a coisa mais natural, pois no texto paralelo de Mt 17.20 se diz que nada
é impossível ao que tem fé, e que uma montanha
poderia ser removida por uma pequena fé, como
a de um grão de mostarda. Certamente, o capricho de mover montes de cá para acolá,
promoveria uma grande conturbação na terra, e
daí não ter sido ainda atendido um tal pedido por
Deus, se é se alguém já lho dirigiu. Mas, o que o Senhor quer nos ensinar com isto é que por
maior que seja o desafio, e por impossível que
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possa parecer, ele poderá ser realizado pela fé,
caso possa contar com a aprovação de Deus.
Assim, esta porção da Escritura tem a ver com a fé de milagres; mas eu penso que ela faz muito mais referência ao milagre da fé, em vez da fé de
milagres. Eu creio que este texto não é somente
a herança dos apóstolos, mas de todos aqueles
que têm a mesma fé dos apóstolos, enquanto creem nas promessas do Senhor Jesus Cristo. O
conselho que Cristo deu aos doze e para os
seguidores imediatos dele, é repetido a nós na
Palavra de Deus esta manhã. Que nós possamos ter constantemente a graça para obedecer isto.
“que tudo quanto em oração pedirdes, crede
que recebestes, e será assim convosco.”. Depois
de ter passado por um certo círculo de expressões vocais habituais, nós talvez nos
levantemos de nossos joelhos mais aborrecidos
na consciência e mais afligidos na mente do que nós estávamos antes. Se eu puder lhe mostrar
um modo mais excelente; de se orar, você
poderá vir a olhar daqui em diante para a oração
como seu elemento, como um dos exercícios mais encantadores de sua vida; se você vir a
estimar isto mais do que o seu alimento
cotidiano.
Primeiro, OLHE PARA O TEXTO. Se você olhar
cuidadosamente para isto, eu penso que você perceberá as qualidades essenciais que são
necessárias a qualquer grande sucesso e
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prevalência em oração. De acordo com o
descrição de nosso Salvador da oração, deveria
haver sempre alguns objetivos definidos nos
quais nós deveríamos nos concentrar. Ele fala de coisas "tudo quanto pedirdes".
Parece então que ele não pôs isto em termos que os filhos de Deus deveriam orar quando eles não
tivessem nada pelo que orar. Outra qualificação essencial da oração é o desejo sincero; porque o
Mestre supõe aqui que quando nós oramos que
nós temos desejos.
Realmente não é nenhuma oração, pode ser algo como a oração, a forma externa ou o
esqueleto nu, mas não é a coisa viva, chamada
oração, a menos que haja um completo
transbordamento de desejos. Também, observe que fé é uma qualidade essencial da oração
próspera – “crede que recebestes, e será assim
convosco.”. Você não pode orar para ser ouvido
no céu e receber a resposta que satisfaça a sua alma, a menos que você creia que Deus
realmente ouve e lhe responderá. Uma outra
qualificação aparece aqui na mesma sentença,
isto é, que uma expectativa sempre deveria ser acompanhada de uma fé firme – “crede que
recebestes, e será assim convosco.”. Não
somente creia mas também que recebestes,
contanto como se tivesse já recebido, considerando como se você já o tivesse, e agindo
como se você o tivesse recebido, porque crê que
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o receberá, e o terá. Deixe-nos revisar estas
quatro qualificações, uma por uma.
Para fazer oração de qualquer valor, deveria haver objetos definidos pelos quais fazer
petições. Meus irmãos, nós vagueamos frequentemente em nossas orações, e depois
disto, nós não recebemos nada porque não
desejamos realmente nada. Nós tagarelamos
sobre muitos assuntos, mas a alma não se concentra em qualquer objetivo. Às vezes não se
permita cair sobre seus joelhos sem pensar
antes no que você pretende pedir a Deus. Você
faz para um assunto de hábito, sem qualquer movimento de seu coração. Você está como um
homem que deveria ir a uma loja e não sabe que
artigos obteria lá. Ele pode fazer uma compra
feliz talvez quando ele estiver lá, mas certamente não é um plano sábio para se adotar.
E assim o crente em oração pode atingir depois
um real desejo, e alcançar o seu objetivo, mas
seria melhor que ele preparasse a sua alma em autoexame e consideração quanto ao objetivo
que estava a ponto de apresentar a Deus como
pedido. Quando Jesus perguntou ao cego o que
queria que Ele lhe fizesse, não seria de se esperar que o curasse se ele não fosse objetivo
no seu pedido de cura da sua cegueira. Imagine
um arqueiro atirando suas flechas sem saber
onde está o alvo. Seria provável que ele tivesse sucesso? Por isso é necessário que tenhamos
objetivos claramente definidos em nossas
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orações para serem apresentados a Deus,
porque como receberemos aquilo que não
esperamos. Lançar um monte ao mar. Isto é um
objetivo bem definido. Se isto fosse um desejo e uma necessidade sincera em meu coração eu
lutaria por isto em oração diante de Deus até
consegui-lo, crendo em todo o tempo que tinha recebido de Deus a aprovação do meu pedido.
Você achará isto mais útil para suas orações se
você tiver alguns objetivos para os quais
apontar, e eu também penso que se você tiver algumas pessoas pelas quais interceder, você
deve mencioná-las. Não somente se dirija a
Deus genericamente em favor dos pecadores,
como também mencione sempre o nome de alguns deles em particular. Seja específico no
que deseja para eles. Se você for um professor de
EBD, não peça simplesmente para que seus
alunos sejam abençoados, mas definitivamente ore apresentando os nomes e necessidades
deles ao Altíssimo.
E se há uma misericórdia para sua casa que você almeja, não entre numa generalização, mas seja
simples e direto em seu pedido a Deus. Quando
estiver orando seja objetivo em relação àquilo que deseja. Conte ao Senhor o que você quer. Se
você não tiver dinheiro suficiente, se você
estiver em pobreza, se você estiver em dilemas,
declare o caso. Não use nenhuma falsa modéstia para com Deus. Vá imediatamente ao ponto; fale
honestamente com ele. Ele não precisa de
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nenhuma justificativa da sua parte, como coisas
do tipo: “eu não tenho dinheiro, eu estou aflito,
mas não te peço nada, porque eu devo me
contentar com nada.”. Certamente isto não corresponderá ao desejo do seu coração. Na
verdade você precisa ser provido para ver suas
necessidades atendidas, de sua família, da igreja, das pessoas que necessitam da sua ajuda,
e para isso você precisa de recursos. E o Senhor
é o dono da prata e do ouro. Peça com confiança
a Ele, crendo que o tem recebido, e assim se fará. Se você quiser uma misericórdia temporal ou
espiritual, diga assim. Não folheie a Bíblia para
descobrir palavras com as quais possa expressar
isto. Expresse seus desejos nas palavras que naturalmente se apresentam em sua mente.
Elas serão as melhores palavras, dependa disto.
As palavras de Abraão eram as melhores para
Abraão, e as suas serão as melhores para você. Alguém está doente ou triste? Faça oração como
diz a Palavra. Não seja hipócrita, tentando
dissimular a necessidade de receber a cura do
Senhor. Vá a Ele com fé e seja direto no seu pedido de cura. Você não precisa estudar todos
os textos da Bíblia, para orar da mesma maneira
que Jacó e Elias fizeram, enquanto usa as
expressões deles.
Mesmo que você pudesse imitá-los em suas
palavras, você não pode imitá-los quanto à alma que sugeriu e animou as palavras deles. Ore com
suas próprias palavras e seu próprio estado de
28
alma. Fale claramente com Deus; peça o que
você quer imediatamente. Nomeie pessoas, dê
nome às coisas, e seja direto ao apontar para o
objeto de suas súplicas, e eu estou seguro que você achará logo que o cansaço e estagnação dos
quais você reclama frequentemente em suas
intercessões, não vão durar muito tempo, ou pelo menos não tão habitualmente como
dantes.
"Mas", diz alguém: "eu não sinto que eu tenha qualquer objeto especial pelo qual orar.". Ah! Meu querido irmão, eu não sei quem é você, ou
onde você vive, para estar sem objetos especiais
para a oração, porque eu acho diariamente isso,
pois eu tenho algo para contar diariamente ao meu Deus.
Mas, se nós não tivéssemos uma dificuldade, meus queridos irmãos, se nós tivéssemos
atingido a uma tal altura em graça que nós não temos nada para pedir, nós amamos tanto a
Cristo que nós não temos nenhuma
necessidade de orar para que nós o possamos
amar ainda mais? Teremos alcançado por nossas orações o atendimento definitivo e total
das necessidades de todos os que nos cercam?
Não há necessidades pelas quais orar em nossa
igreja? Temos tanta fé que deixamos de clamar para que Deus a aumente? Você pode estar
seguro, que sempre há objetos legítimos pelos
29
quais bater na porta da misericórdia para que
sejam atendidos.
Há um modo com que devemos orar a Deus. Nós temos que ter um tal desejo pela coisa que queremos, que nós não deixaremos de clamar
até que nós a tenhamos recebido, não obstante,
em submissão à sua vontade divina. Sentindo
que a coisa que nós pedimos não pode estar errada, e que ele tem prometido isto, e se temos
guardado a sua Palavra, cumprindo os seus
mandamentos, e se o nosso coração não nos
acusa porque estamos em falta com Deus por pecados cometidos. Por exemplo infidelidade
no dízimo e nas ofertas. Roubamos de Deus e
esperamos que Ele abra as janelas do céu para
nós. Ele pode abençoar por misericórdia, mas perdemos a autoridade de apelar para o
cumprimento da sua promessa, porque como
protestaremos diante dele: “Senhor tenho sido fiel, e tenho te honrado, agora pois, mostra a tua
fidelidade a mim, e honra-me!”. Não seria isto
uma oração mentirosa? Mas se não é o caso, nós
alegaremos a promessa, novamente, e novamente, até que os portões do céu tremam
diante de nossos argumento. Oh, essas orações
frias que sequer movem os corações dos
homens, moveriam o coração de Deus?
Nós devemos ser sinceros, caso contrário nós não temos nenhum direito de esperar que o
Senhor ouvirá nossa oração. Ah, meus irmãos!
30
nós sabemos muito pouco quanto de nossas
orações são uma abominação diante de Deus.
Seria uma abominação para você e para mim
ouvir os homens nos pedirem nas ruas, como se eles não quisessem o que eles pediram. Mas nós
não fazemos o mesmo com Deus? É necessário
uma fé firme em Deus. Irmãos, vocês creem na oração? Eu sei que você ora porque você é filho
de Deus; mas você crê no poder da oração? Há
muitos crentes que não creem, eles pensam que
a oração é uma coisa boa, e eles creem que às vezes faz maravilhas; mas eles não pensam que
a oração, a real oração, sempre tem êxito. Eles
pensam que seu efeito depende de muitas
outras coisas.
Agora, a convicção de minha própria alma é que a oração é o poder principal de todo o universo; que tem uma força mais onipotente que a
eletricidade, atração, gravitação, ou qualquer
outra dessas forças secretas que os homens
chamaram através de nomes, mas que eles não entendem. Quando um homem realmente ora,
não deve perguntar se Deus o ouvirá ou não, ele
tem que ouvi-lo; não porque há qualquer
compulsão na oração, mas há uma doce e santificada compulsão na promessa. Deus
prometeu ouvir a oração, e ele cumprirá a sua
promessa. Como ele é o Deus mais alto e
verdadeiro, ele não pode se negar. Oh! pensar disto; que você um homem fraco pode se
levantar aqui e pode falar com Deus, e por Deus
31
pode mover todos os mundos. Ainda quando sua
oração é ouvida, a criação não será perturbada;
embora os fins mais principais sejam
respondidos, a providência não será desarranjada por um único momento.
Nenhuma folha cairá mais cedo da árvore, nem
uma estrela ficará sem o seu curso, nem uma gota de água a mais sairá de sua fonte, tudo irá
como dantes, e ainda assim sua oração terá
efetuado tudo. Falará com os decretos e
propósitos de Deus, como eles estão sendo cumpridos diariamente. Nossas orações são os
decretos de Deus em outra forma, porque
operam suas realizações na terra.. Se o crente
tem fé em Deus, não há nada impossível para ele. Ele será salvo da maior das profundezas, das
dificuldades mais dolorosas, da escassez de
alimentos, da pestilência, e caminhará firme e
forte, porque ele crê na promessa e a sustente firme diante dos olhos de Deus.
Não há nada, eu repito isto, não há nenhuma força tão tremenda, nenhuma energia assim
maravilhosa, como a energia com que Deus
dotou todo homem que como Jacó pode lutar,
como o Israel que pode prevalecer com ele em oração. Mas nós temos que ter fé nisto; nós
temos que acreditar que a oração é o que é, ou
então não será para nós o que ela deveria ser. A
menos que eu creia que minha oração é eficaz ela não o será, porque em grande parte, ela
depende da minha fé. Deus pode até mesmo me
32
conceder misericórdia quando eu não tiver fé;
isso será a própria graça soberana dele, mas ele
não prometeu fazer isto. Mas quando eu tenho
fé e posso alegar a promessa com desejo sério, já não é mais um assunto de probabilidade se eu
adquirirei a bênção, ou se meu desejo será
atendido. A menos que o Eterno se desvie da fidelidade em cumprir a sua Palavra, a menos
que o juramento que ele deu fosse revogado, e
ele deixasse de ser o que ele é: "Nós sabemos que
nós recebemos o que lhe pedimos.".
Aprendamos sobre a oração com Daniel. Ele está sobre os seus joelhos em oração, e Miguel, o arcanjo vem a ele. Ele fala com ele e lhe fala que
assim que Daniel começou a aplicar o seu
coração para entender, e para se humilhar
diante de Deus, foram ouvidas as suas palavras, e o Senhor tinha despachado o anjo. Então ele
lhe fala "eu deveria ter estado aqui antes, mas o
Príncipe da Pérsia me resistiu; não obstante
Miguel, um dos primeiros príncipes, veio ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da
Pérsia. Agora vim para fazer-te entender o que
há de suceder ao teu povo nos últimos dias.”.
Veja agora. Deus coloca o desejo em nossos corações, e assim que o desejo esteja lá, antes de
que nós clamássemos ele começa a responder.
Antes de as palavras terem chegado ao céu,
enquanto elas ainda estão tremendo no lábio – para saber as palavras que nós queremos dizer -
ele começa a respondê-las, envia o anjo; o anjo
33
vem e derrama a bênção que foi buscada.
Porque a coisa é uma revelação se você pudesse
ver isto com seus olhos. Algumas pessoas
pensam que coisas espirituais são sonhos, e que nós estamos falando de fantasias. Não, eu creio
que há muita realidade na oração de um crente
como um flash de raio; e a utilidade da oração de um crente pode ser conhecida sensivelmente
da mesma maneira que o poder do flash do raio
quando rasga a árvore. A oração não é uma
fantasia de ficção; é uma coisa real.
Mas nós sempre precisamos crer nisto. Nós precisamos de uma garantia percebida na oração. Contar as misericórdias antes que elas
cheguem. Estar seguros que elas estão vindo!
Agir como se nós as tivéssemos! Quando você
pediu seu pão diário, nenhum cuidado mais deveria perturbá-lo, mas crer que Deus o ouviu,
e dará isto a você. Quando você levou o caso de
seu filho doente diante de Deus, não deve ficar
pensando se a criança se recuperará, ou não, mas será uma maior bênção para você e mais se
gloriará em Deus, se deixar isto com ele. Poder
dizer, "eu sei que ele me ouviu agora; Eu me
colocarei em minha torre de vigia e procurarei ouvir o que o meu Deus dirá à minha alma.".
Você já foi desapontado crente, quando você
orou com em fé e esperou a resposta? Eu dou
meu próprio testemunho esta manhã que eu nunca tenho confiado nele e contudo o tenho
achado em falta comigo. Eu confiei no homem e
34
fui enganado, mas meu Deus nunca negou uma
só vez o pedido que eu fiz a ele, quando eu apoiei
o pedido com convicção na vontade dele, e na
garantia da sua promessa.
Mas, eu ouço alguns dizerem: ´”podemos orar por coisas temporais?”. Sim, vocês podem. Em
tudo façam conhecidos seus desejos a Deus. A promessa diz: “tudo quanto pedirdes”. Tudo é
tudo. Não inclui somente o que é espiritual, mas
também as preocupações cotidianas. Leve suas
menores necessidades diante dele. Ele é um Deus que ouve a oração; ele é seu Deus
doméstico como é também o Deus do Santuário.
Leve tudo o que você tem diante de Deus.
Os homens dizem que o Sr. George Muller, de Bristol é entusiástico, porque ele juntará
setecentas crianças e crê que Deus proverá para
elas; embora não haja nada na bolsa que ele está
fazendo o que deveria ser a ação comum de todo homem cristão. Ele está agindo em uma regra à
qual o mundo sempre tem que ridicularizar,
porque ele não entende isto; um sistema que
sempre tem que se sujeitar a julgamento fraco de senso, não em bom senso, mas em algo mais
alto que o senso comum - em fé incomum. Oh
que nós tenhamos essa fé incomum para levar
Deus a cumprir sua palavra! Ele não pode e ele não permitirá que o homem que confia nele seja
envergonhado ou maldito.
35
Tendo lhe pedido que olhasse para o texto, eu quero agora que você OLHE PARA VOCÊ. Olhe
para você, para nossas reuniões de oração, e
olhe para você quanto às suas intercessões privadas, e julgue segundo o teor deste texto.
Primeiro, olhe para você, para as reuniões de
oração. Eu não posso falar muito sugestivamente neste assunto, porque eu
acredito honestamente que as reuniões de
oração que normalmente são celebradas entre
nós, tenham menos faltas que outras que eu já assisti.
Mas, ainda elas têm algumas faltas, e eu espero que o que nós diremos, será levado para casa
pessoalmente por todo irmão que está no hábito
de se ocupar publicamente da súplica em
reuniões de oração. Não é isto um fato que assim que você entra na reunião, você sente, que o
pedido de muitos são mentiras (falo com
dificuldade, mas é o que penso honestamente),
mentiras de uma boa memória para lembrar grandes promessas da Bíblia, mas cujo coração
não crê de fato nas mesmas. Mentem também
por não pedirem nada em particular, mas
atravessando uma gama de assuntos desconexos através da oração, não lançam uma
só flecha ao alvo, pois que apontando para tudo
sem se concentrar num objetivo determinado,
acabam não atingindo nada. Esses irmãos são frequentemente os que mais pedem em oração,
e que têm esse estranho hábito. Agora, se ao
36
invés disso, algum homem é chamado a orar, e
que nunca orou antes em público; suponha que
ele diga: "Oh Deus, eu me sinto um mísero
pecador que mal posso falar contigo, Senhor, ajuda-me a orar! Oh Deus salve minha alma,
assim como tu salvaste os meus companheiros.
Senhor, abençoe o nosso pastor! Agrada-te em dar-nos um avivamento. Oh Deus, eu não posso
dizer nada mais, a não ser que tu me atendas por
causa de Jesus. Amém!”. Bem, então, você sente
de alguma maneira, que alguém começou a pedir de fato. Você sente que aquele homem
disse o que ele queria de fato dizer. E se mais
alguém se levanta e ora com o mesmo espírito,
você dirá: “Isto é uma oração real.”. Eu prefiro três minutos de uma oração como essa do que
trinta minutos do outro tipo, porque neste caso
a pessoa está pregando, mas o outro está orando
de fato.
Permita-me citar o que um antigo pastor disse sobre o assunto da oração, e dê a você com isto
uma pequena palavra de conselho: "Lembre-se,
que o Senhor não lhe ouvirá, por causa da aritmética das suas orações; ele não conta o
número delas. Ele não lhe ouvirá por causa da
retórica das suas orações; ele não quer o idioma
eloquente com o qual elas são proferidas.
Ele não lhe ouvirá por causa da geometria das suas orações; ele não as computa pelo tamanho
delas, ou pela amplitude delas. Ele não lhe
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considerará por causa da musicalidade das suas
orações; ele não se importa com doces vozes,
nem com períodos harmoniosos. Nem olhará
para você por causa da lógica das suas orações; porque elas são bem organizadas, e
excelentemente pronunciadas. Mas ele lhe
ouvirá, e ele medirá a quantidade de bênçãos que lhe dará, de acordo com a piedade das suas
orações. Se você pode pedir em nome de Cristo,
levando em conta a sua pessoa divina, e se o
Espírito Santo lhe inspira com zelo e seriedade, as bênçãos que você lhe pede, seguramente
virão a você.”.
Se nós viemos falar com Deus, nós devemos fazê-lo com os nossos próprios corações. Nossas
reuniões de oração seriam melhores se todos falassem com Deus como uma criança fala com
o seu pai. Olhe bem para isto se você deseja
realmente orar: não aprenda o idioma da oração, mas busque o espírito da oração. Porque
os lábios podem se mover e o coração não pedir
de fato. Os lábios se moveram, mas o coração
estava calado.
É possível que a alma peça apontando para a promessa divina, sem que o coração creia de
fato que a oração foi ouvida, e que Deus
cumprirá de fato o que tem prometido. Nós
temos insultado frequentemente a Deus com a nossa incredulidade e com nossa pressa, e com
todo o tipo de pecados. Nós o insultamos até
38
mesmo no seu trono de graça, naquele mesmo
lugar onde a condescendência dele é
manifestada completamente. Não se dá assim
com você? Não devemos, cada um de nós, confessar isto ao Senhor? Cuidem disto, irmãos
para que um conserto seja feito, então o Senhor
o fará mais próspero em suas orações do que antes.
Nosso último ponto é: olhe para cima, OLHE ACIMA. Não com um olhar altivo, mas com um
espírito contrito, próprio a quem se põe de joelhos diante do Senhor. Vá até o seu Deus e lhe
fale que se almas não são salvas, não é porque
ele não tenha poder para salvar, mas porque
você nunca tem lutado em intercessão em favor dos pecadores que estão perecendo.
Embora você pecasse contra o Senhor, ele ainda o ama. Não oraram e não buscaram a sua face, mas Ele ainda chora por vocês. Veja, ele diz a
vocês que sempre está pronto para lhes ouvir.
Não olhe querido irmão a oração como um hábito solitário, como uma ficção romântica ou como um dever árduo; olhe para isto como um
real poder, como um real prazer.
Abra a boca tão amplamente quanto Ele a possa
encher; vá ao Senhor com mais fé firmada em suas promessas; aventure, arrisque, exceda o
Eterno se é possível; tente.
39
Oração de Davi na Caverna
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e
adaptado por Silvio Dutra)
Salmo 142 – Salmo didático de Davi. Oração que
fez quando estava na caverna.
1. Ao Senhor ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao Senhor.
2. Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
3. Quando dentro em mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No caminho
em que ando me ocultam armadilha.
4. Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio,
ninguém que por mim se interesse.
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
6. Atendes ao meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu.
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão,
quando me fizeres esse bem.
40
Quando Davi fez a oração deste Salmo ele estava fugindo de Saul, que o procurava com o exército
de Israel para tirar-lhe a vida. Ele estava na
caverna de Adulão, onde se juntaram a ele seus pais, seus irmãos e todos os homens que se
achavam em aperto, e os endividados e todos os
amargurados de espírito – cerca de quatrocentos homens (I Sm 22.1,2).
“Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também
com o contrito e o abatido de espírito, para
vivificar o espírito dos abatidos, e vivificar o
coração dos contritos.” (Is 57;15). O Senhor habita no terceiro céu, mas habita também nos
corações dos contritos e abatidos de espírito na
terra, que se humilham perante Ele e o buscam.
Isto não renova a tua esperança em meio aos teus sofrimentos e problemas? O Altíssimo vem
ao teu encontro para te dar livramento. Davi
começa muitos Salmos com lágrimas mas os
termina com louvor e alegria, isto porque Deus nos visita no meio da nossa tribulação, no meio
do nosso clamor angustiado, e nos livra dando-
nos um cântico de vitória e de alegria.
Davi orou quando estava na caverna.
Deus ouvirá a oração que for feita na terra, no
mar e até no fundo do mar. Ele não é somente Deus das montanhas, mas também dos vales. O
trono de graça do Senhor sempre está acessível
41
aos que o buscam com um coração sincero e
contrito.
As melhores orações são feitas nas cavernas da aflição porque vêm do profundo do nosso
coração. Se alguém esta noite encontra-se em posição em que sua alma esteja angustiada, e
sentindo nuvens a cercar o seu coração, este é
um momento especial para comunhão e
intercessão que prevaleça, para provar a fidelidade de Deus à sua promessa de estar junto
do abatido e contrito de coração.
O Salmo 142 começa com Davi dizendo que pediria misericórdia a Deus com sua voz.
Podemos cometer dois grandes erros na aflição. O primeiro está na acomodação ao mal. Na
nossa descrença pensando que Deus não está
interessado em fortalecer o nosso coração e alegrar a nossa alma. Com isto, não clamamos
por socorro como fez Davi. Não oramos. Não
confiamos. Não cremos.
O segundo grande erro é o de subestimar a dor. E tocarmos a vida com o coração atribulado
julgando que somos mais fortes do que qualquer problema. Davi não tinha vergonha de assumir e
reconhecer que há situações que o nosso
inimigo, seja ele qual for, e venha na forma que
for, é mais forte do que nós. E não temos outra alternativa senão a de recorrer ao auxílio do
Altíssimo, do Todo Poderoso. Há um mistério
42
nisto, que Paulo bem conheceu: quando somos
fracos então somos fortes. A graça do Senhor se
revela poderosa na nossa fraqueza. O ato de
prosseguir tentando parecer ser mais fortes do que as forças que nos oprimem e deprimem,
pode fazer com que nós, nesta nossa
autoconfiança venhamos a ficar amargurados, endurecidos, obstinados e frios. O poder não é
nosso e nem das forças que nos assolam, mas é
exclusivo de Jesus Cristo. Todo o poder Lhe foi
dado nos céus e na terra, Ele tem autoridade sobre tudo e todos. É seu prazer ajudar-nos
quando clamamos por socorro.
Assim nossa primeira ocupação é a de recorrer a Deus. Façamos conhecidas de Deus nossas
dúvidas e temores. Se tens de sair do teu estado
atual de depressão, corra imediatamente para Deus, como fez Davi. Ele diz nos dois primeiros
versículos do Salmo 142:
1. Ao Senhor ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao Senhor.
2. Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
Se não tens força para clamar com tua voz, ou não há um lugar adequado para tal, clama com o
coração, grita com a tua alma, fala com o Senhor
em silêncio, mas não deixes de clamar. Contempla somente ao Senhor, porque
somente nele há esperança.
43
Se tens pecado contra Deus, saiba que Ele está disposto a perdoar. Ele pode perdoar
completamente a maior das ofensas. Lembra
que Jesus pagou com sua morte o preço exigido para o perdão de todos os nossos pecados.
Basta apenas confessar. Davi confessou que estava com o seu espírito abatido. Mas determinou-se não ocultar nada de Deus. Faça o
mesmo. Ele diz nos versos 2 e 3 do nosso Salmo.
2. Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
3. Quando dentro em mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No caminho
em que ando me ocultam armadilha.
Quando estamos na caverna da aflição não são palavras religiosas que irão nos ajudar. Não são
meras palavras que temos que falar, mas
colocar toda nossa angústia diante de Deus. Tal como uma criança devemos dizer ao Senhor
todas as nossas angústias, nossas queixas,
nossas misérias, temores. Se lhe confessarmos
tudo, Ele dará ao nosso espírito um grande alívio, pois tem prometido libertar do cativeiro a
alma que lhe clama por socorro na angústia (Sl
50.15).
Vão é o socorro humano quando estamos na caverna. Deus pode levantar homens para virem
em nosso auxílio, mas devemos reconhecer que
44
eles não viriam e não agiriam bem em nosso
favor se o Senhor não os dirigisse em tal sentido.
É importante destacar que quando Davi fez esta oração ele se encontrava num grande refúgio
que era a caverna de Adulão, e estava em
companhia de seus familiares e de quatrocentos
homens que haviam feito dele o seu chefe, mas Davi sabia que não há segurança confiável em
nada neste mundo. E dispôs-se a buscar o único
e verdadeiro e seguro refúgio, o Senhor nosso
Deus.
É preciso reconhecer como Davi que somente no Senhor há esperança e interesse em socorrer
a nossa alma. Por isso ele orou assim nos versos
4 e 5:
4. Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio,
ninguém que por mim se interesse.
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
As tribulações aprisionam a nossa alma,
colocam-na no cárcere. Ali perdemos a alegria da salvação, porque a alma é como um pássaro
que só canta em liberdade. Os grilhões da
maldade, da perseguição do inimigo que busca
aprisionar a nossa alma, não podem resistir ao poder de Jesus que quebra todas as cadeias que
nos prendem, e nos dá perfeita liberdade.
45
Podemos caminhar livremente em Jesus. E por
isso Davi orou:
6. Atendes ao meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores,
porque são mais fortes do que eu.
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão,
quando me fizeres esse bem.
Quando os homens são livrados da prisão, eles agradecem e louvam à pessoa que os libertou.
Muito mais nós devemos adorar e louvar a Jesus
pela liberdade que Ele nos dá. Devemos
glorificar o seu santo nome porque somente ele é digno de adoração.
Há uma coisa para ser conhecida em relação às tribulações que sofremos:
Quando Deus quer fazer grande a uma pessoa, ele primeiro a quebra em pedaços.
Deus queria fazer de Jacó, um príncipe, o que fez o Senhor? Saiu numa noite e lutou com ele até
raiar o dia. E lhe tocou no nervo da coxa de forma
que ficou manco antes de mudar seu nome para
Israel, que significa príncipe de Deus. A luta era para retirar-lhe as próprias forças, e quando
estas se esgotaram o chamou de príncipe.
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Agora Davi seria rei sobre todo Israel. Por onde passava o caminho para o trono de Davi? Pela
caverna de Adulão. Deveria ir para lá,
perseguido por Saul, como um pária, um proscrito, porque esse era o caminho que o
levaria a ser o rei que era segundo o coração de
Deus.
Vocês não têm reparado em suas próprias vidas, que cada vez que Deus vai dar-lhes um
crescimento, para lhes levar a uma esfera maior de serviço, ou nível mais elevado na vida
espiritual, que primeiro vocês são derrubados?
Por isso a Palavra diz que devemos ter por
motivo de toda a alegria o passar por várias provações. Porque esta é a maneira de Deus
trabalhar conosco. Faz com que tenhamos fome
antes de dar-nos de comer. Desnuda-nos antes
de vestir-nos. Faz de nós nada, antes de fazer algo de nós.
Por que devemos passar pela caverna como Davi? Primeiro porque para sermos uma pessoa de grande utilidade, Deus precisa antes ensinar-
nos a orar. Se chegarmos a ser grandes sem orar,
nossa grandeza será nossa ruína. A caverna nos
ensina que dependemos inteiramente de Deus e que vão é o socorro do homem e nenhuma é a
nossa força.
Há situações na vida em que ficamos totalmente entregues nas mãos de Deus. Dependentes da
sua misericórdia e auxílio. Com isso quer nos
47
ensinar a não confiarmos em nós mesmos, em
nossa própria força, sabedoria, capacidade.
Mais, acima de tudo isso, o Senhor deseja ser conhecido. Quer que aprendamos que Ele é o nosso melhor amigo. Quer que aprendamos que
somente a Ele pertence todo o poder. Quer que
aprendamos que Ele é totalmente bondoso,
misericordioso, amoroso e fiel.
Por isso Davi disse:
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
Na aflição da caverna aprendemos a chorar com os que choram. Aprendemos a valorizar o
sofrimento dos nossos irmãos e
compartilhamos com eles as suas lutas, intercedendo por eles e socorrendo-os em suas
tribulações.
Sem a caverna não aprenderíamos nenhuma destas coisas, e por isso somos exortados a
sermos gratos a Deus por tudo, e a entender que todas as coisas cooperam juntamente para o
bem dos que amam a Deus.
Lembremos que quando Deus nos retirar da caverna, uma vez cessado o perigo, ou por
termos recebido forças para enfrentá-lo, devemos vigiar para não sairmos nos
lamentando da experiência que passamos, ao
48
contrário o Senhor quer que o louvemos pelo
seu poderoso livramento, porque os que cantam
são os que seguem adiante. Fora com todo o
pessimismo e nuvens de tristeza que venham sobre nós, depois que temos sido libertados por
Deus. Que se encontrem somente palavras de
louvor e gratidão em nossos lábios, e outros se juntarão a nós, para receberem da mesma
alegria e unção. Davi agia assim e devemos agir
do mesmo modo, orando juntamente com ele:
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão,
quando me fizeres esse bem.
49
A Oração Espontânea
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e
adaptado por Silvio Dutra)
“Então orei ao Deus dos céus” (Ne 2.4)
Neemias havia perguntado sobre o estado da
cidade de Jerusalém, e as notícias que ouviu lhe causaram grande dor. “Como não me estaria
triste o rosto se a cidade, onde estão os
sepulcros de meus pais, está assolada e tem as
portas consumidas pelo fogo?” (Ne 2.3). Não poderia suportar que fosse um puro montão de
ruínas – aquela cidade que havia sido formosa.
Guardando o assunto em seu coração, não
começou a falar com outras pessoas sobre o que poderiam fazer, nem traçou um programa
maravilhoso sobre o que poderia fazer se vários
milhares de pessoas se unissem ao
empreendimento, porém lhe ocorreu que poderia fazer algo ele mesmo. Esta é a forma em
que o homem prático inicia um assunto: o que
não é prático fará planos, arranjos e
especulações acerca do que poderia ser feito, porém o genuíno e dedicado amante de Sião fez
a si mesmo esta pergunta: “Que podes fazer
Neemias? Que podes fazer? Vamos, tens que
fazê-lo, e tu és o homem que tem de fazê-lo – pelo menos deves fazer tua parte. Que podes
fazer?
50
Tendo chegado a este ponto, resolveu separar tempo para orar. Nunca teve o assunto fora de
sua mente durante quase quatro meses. Dia e
noite parecia ter escrito Jerusalém em seu coração, como se o nome estivesse pintado no
globo de seu olho. Via somente a Jerusalém.
Quando dormia sonhava com Jerusalém. Ao despertar seu primeiro pensamento era
Jerusalém. O homem de uma ideia fixa, vocês
sabem, é um homem terrível. E quando somente
uma paixão tem absorvido toda a sua humanidade, algo terá que vir como resultado.
O desejo de seu coração se converterá em
alguma demonstração aberta, especialmente se
apresenta o assunto diante de Deus em oração. Algo surte disto. Antes que transcorresse muito
tempo, Neemias teve sua oportunidade.
Homens de Deus, se querem servir a Deus e não
encontram a ocasião propícia, esperem um tempo em oração e sua ocasião irromperá sobre
vocês como um raio de sol.
Nunca houve um coração verdadeiro e valente que não lograsse achar uma esfera adequada
num lugar ou outro para realizar seu serviço.
Todo obreiro diligente faz falta em algum lugar da vinha. Pode ser que tenhas que esperar, pode
parecer que estás ocioso no mercado, porque o
mestre não te tem contratado, porém espera ali
em oração, e com teu coração ardente com seu propósito cálido, e aparecerá a tua
oportunidade. A hora necessitará seu homem, e
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se estás pronto, tu como homem, não ficarás
sem a tua hora. Deus deu a Neemias uma
oportunidade. A oportunidade veio, é certo, de
um modo que era inesperado. Veio através de sua tristeza de coração. Este assunto lhe ocupou
a mente até que começou a se ver sobremaneira
infeliz.
Não posso dizer se os demais não notaram, porém quando entrou no salão real, com a taça, o rei ao qual servia notou a angústia no rosto do
copeiro e lhe disse: “por que está triste teu rosto,
se não estás doente? Tem de ser tristeza do
coração.”. Pouco se dava conta Neemias que sua oração estava lhe brindando a ocasião. A oração
estava registrada em seu rosto. Porém quando
se lhe apresentou a ocasião teve problemas
porque disse: “Temi sobremaneira”. Então o rei lhe pergunta: “Que me pedes agora?”. Pela
maneira de perguntar parecia querer ajudar-
lhe, e aqui nos surpreende um tanto notar que
em vez de se apressar em dar uma resposta ao rei – a resposta não foi dada de imediato – ocorre
um incidente, e isto está registrado. Embora
tivesse se entregado por inteiro à oração, ocorre
este pequeno parêntesis: “Então orei ao Deus dos céus.”. Quero pregar sobre esta oração.
Segundo minha opinião aparecem três
pensamentos aqui, e sobre cada um deles quero
estender-me um pouco: o fato de que Neemias orara nesse momento preciso; o modo da
oração; e o excelente tipo de oração que utiliza.
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I. O fato de que Neemias tenha orado chama a atenção.
Seu soberano lhe havia feito uma pergunta. Supõe-se que o correto seria responder. Porém
não fez isso. Antes de responder orou ao Deus do céu. Não creio que o rei tenha notado a pausa.
Provavelmente o intervalo não tenha sido
suficientemente grande para ser notado, porém
teve a extensão necessária para que Deus o notasse – suficientemente grande para que
Neemias buscasse e obtivesse a direção de Deus
quanto à resposta que deveria dar ao rei. Não
lhes surpreende encontrar um homem de Deus que tem tempo para orar entre uma pergunta e
uma resposta? Neemias encontrou esse tempo.
Mais nos surpreende sua oração porque estava
tão perturbado que, em conformidade com o versículo dois, temeu grandemente. Quando
estás nervoso e desconcertado poderias
esquecer-te de orar. Alguns de vocês não
consideram isto como uma desculpa válida para omitir suas devoções regulares? Contudo,
Neemias pensa que se está alarmado, isso é uma
razão para orar e não para deixar de orar. Tão
habitualmente estava em comunhão com Deus, que tão logo se encontrava num dilema voava
para a presença de Deus. sua oração foi mais
extraordinária nesta ocasião, dado que se sentia
apaixonado por seu objetivo. O rei lhe pergunta que é o que necessitava, e põe todo o seu coração
na reconstrução de Jerusalém. Não te
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surpreende que não tenha dito imediatamente:
Oh rei, vive para sempre. Anelo construir os
muros de Jerusalém. Concede-me toda a ajuda
que me possas dar. Porém embora estivesse ansioso para lançar-se ao objetivo desejado,
retém a mão até que se diz: “Então orei ao Deus
dos céus.”. Confesso que o admiro. Desejo imitá-lo. Quisera que cada coração crente possa ter a
santa precaução que não lhe permitiu apressar-
se insensatamente.
Certamente quando o desejo de nosso coração
está muito próximo, diante de nós, estaremos mais seguros de que tomaremos o pássaro que
estamos espiando entre os galhos da árvore, se
nos determos silenciosamente, elevamos
nossos corações e oramos ao Deus do céu. E é ainda mais surpreendente que tenha orado
deliberadamente neste preciso momento,
porque ele já havia estado orando nos últimos três ou quatro meses sobre a mesma matéria.
Alguns de nós poderia ter dito: “Isto é aquilo pelo que tenho orado, tudo o que tenho que
fazer agora é tomá-lo e usá-lo. Que necessidade
tenho de voltar a orar?”. Porém não é assim. Vocês sempre verão que o homem que tem
orado muito é o homem que seguiria orando.
“Ao que tem lhe será dado e terá mais”. Se estás
familiarizado com o trono da graça, o visitarás continuamente. Embora Neemias tivesse estado
orando todo o tempo, não obstante, deve
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oferecer outra petição. “Então orei ao Deus do
céu.”.
Vale a pena recordar uma coisa mais, a saber, que Ele estava num palácio real, e no palácio de
um rei pagão, e estava no ato mesmo de por
diante do rei a taça de vinho. Estava cumprindo sua tarefa na festa do estado, no meio do
resplendor das lâmpadas e do brilho do ouro e
da prata, em meio dos príncipes do reino. Ou
ainda que fosse uma festa privada do rei e da rainha somente, os homens se impressionam de
tal maneira em tais ocasiões com as
responsabilidades de seus cargos elevados, que
facilmente se esquecem de orar. Porém este israelita devoto, nesse lugar e nessa ocasião,
quando está aos pés do rei para servir-lhe a taça
de outro, se refreia em dar uma resposta ao rei
antes de ter orado ao Deus do céu.
II. Observemos agora o modo desta oração.
Bem, muito brevemente, foi o que poderíamos chamar de uma oração espontânea – que é como
se lança o dardo. Não era a oração que se para
junto à porta da misericórdia a chamar, chamar
e chamar. É a concentração de muitos chamados num só. Começou e terminou em um
só golpe. Quero recomendar-lhes esta oração
como uma das melhores formas de oração. Note
que deve ter sido muito breve. Aconteceu entre a pergunta do rei e a resposta de Neemias. A
oração partiu como um raio de eletricidade, em
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forma verdadeiramente rápida. É maravilhoso
tudo o que pode passar pela mente num tempo
muito curto. Como os que estavam morrendo
afogados, ao se recobrarem têm contado que enquanto afundavam viram todo o panorama de
suas vidas passar diante dos seus olhos em
breves segundos. Assim, a oração foi apresentada como um abrir de olhos; foi feita
intuitivamente, contudo foi feita e demonstrou
ser uma oração que prevaleceu diante de Deus,
porque o rei deu resposta favorável a Neemias, depois que ele orou. A ajuda que ele daria a
Neemias já não seria a que ele teria determinado
em sua mente e coração, mas segundo a direção
que Deus lhe daria, e conforme a vontade de Deus. Apesar de tão curta, esta oração de
Neemias nunca mais ficou esquecida em sua
memória, porquanto ele a registrou da seguinte
forma: “Então orei ao Deus do céu.”.
III. Agora, irmãos amados, em terceiro lugar passo a lhes recomendar este excelente estilo de
oração. Não lhes peço que sempre usem este
método da oração espontânea, mas que não se esqueçam de fazer petições breves e ferventes,
como a do publicano no templo: “Deus, sê
propício a mim, pecador.”.
Então para tratar de forma prática este assunto,
é dever e privilégio de todo crente ter horas estáveis para orar. Não posso entender que um
homem possa conservar a vitalidade da piedade
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a menos que se retire regularmente para orar,
pelo menos pela manhã e pela tarde ou noite.
Daniel orava três vezes ao dia e Davi diz: “Sete
vezes ao dia te louvo”. É bom para os seus corações, bom para sua memória, bom para sua
solidez para que dediquem certas porções de
tempo e digam “Pertencem a Deus. Terei encontros com Deus a tal e tal hora, e procurarei
ser tão pontual em meu horário com Ele como
se houvesse feito um compromisso para reunir-
me com um amigo.”. Quando Sir Thomas Abney era alcade de Londres lhe molestava ter que
participar de banquetes, porque Sir Thomas
sempre havia orado com sua família numa hora
determinada. O problema era como sair do banquete para poder conservar a devoção
familiar. Considerava isto tão importante, que
deixava a sala, avisando ao seu vizinho de
assento que tinha um compromisso com um amigo querido ao qual não poderia faltar. E se ia,
cumpria seu compromisso com Deus e
regressava a seu lugar, ninguém mais sábio, e
sendo ele o melhor por observar o hábito acostumado de adorar. A Sra Rowe dizia que
chegado o momento de orar, não pararia a
oração ainda que estivesse pregando o apóstolo
Paulo. Porém agora, tendo enfatizado a importância do hábito piedoso da oração
privada, quero que fiquem impressionados pelo
valor de outro tipo de oração, a saber, as orações
imprevistas, breves, rápidas, muito curtas e frequentes, das quais Neemias nos dá uma
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mostra. E a recomendo, porque não atrapalha os
compromissos e não ocupa tempo. Poderias
estar fazendo compras, e falar com Deus entre
um item e outro: “Senhor, ajuda-me.”. Não te faltará tempo. Este modo de orar é uma grande
vantagem para pessoas que estão pressionadas
pelos negócios, porque nem no menor grau lhes incapacitará para atender aos assuntos que
tenham em mãos. Poderás fazer esta oração em
qualquer lugar que estiveres.
Uma oração desse tipo pode ser oferecida em qualquer lugar, e sob qualquer circunstância.
Na terra, no mar, enfermo ou com saúde, em meio de perdas ou ganhos, nos grandes reveses
ou nos momentos de alegria, o crente pode
desafogar sua alma dirigindo-se a Deus em
sentenças breves e rápidas. A vantagem desta forma de oração é que podes orar com
frequência e podes orar sempre. O hábito da
oração é bendito, porém o espírito de oração é
melhor. E o espírito de oração é a mão destas orações instantâneas, e assim podemos falar
com Deus nosso Senhor, muitas vezes durante o
dia. Este tipo de oração está livre de qualquer
suspeita de haver sido motivada de maneira corrupta para agradar aos homens. Há
hipócritas que têm orado durante horas. Mas
nestas orações não há hipocrisia. Nelas há
realidade, força e vida. O hábito de oferecer estas breves orações também impedirá que
deposites confiança em ti mesmo. Mostrará tua
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dependência de Deus. Evitaria que te tornasses
mundano. Orações como estas foram
apresentadas frequentemente por Davi, e são as
que têm êxito diante do Altíssimo. Portanto, abundem nelas, porque Deus quer estimular
seu uso e lhe agrada respondê-las.
Deus não nos ouve devido à extensão de nossas orações, mas pela sinceridade delas. A oração não se mede por metros nem se pesa por quilos.
É seu poder e força, a verdade e a realidade dela,
a intensidade e a energia dela o que vale. Se tens
uma mente tão pequena e rápida que não podes usar muitas palavras, ou não podes pensar tão
amplamente sobre qualquer coisa, deveria ser
para teu consolo saber que a oração espontânea
é aceitável a Deus. E poderia ser, querido amigo, que estás numa condição física em que não
poderias orar de outro modo. Então resulta
como refrigério dirigir-se a Deus uma e outra vez, cinquenta a cem vezes no dia, em orações
breves, rápidas, estando a alma em todo seu
fervor. Este é um estilo bendito de oração.
O Sr Rowland Hill era um homem notável por
sua piedade, e estava sempre orando, não importava onde estivesse, o bom homem
sempre estava orando. Parecia que toda sua
vida, embora a tivesse gastado fazendo o bem
entre seus semelhantes, a passou em oração perpétua. Sempre estava derramando sua alma
diante de Deus. Havia chegado a estar num
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estado constante de oração. Creio que é a
melhor condição em que um homem pode estar
quando está orando sempre, orando sem cessar,
sempre se aproximando de Deus com suas orações espontâneas.
Quando tiveres uma grande alegria, clama: “Senhor, converte isto numa bênção verdadeira
para mim.”. Não exclames como os demais: “Sou um tipo com sorte”, mas, “Senhor, dá-me mais
graça e mais gratidão, agora que tens
multiplicado os teus favores.”. Quando tens uma
empresa difícil ou um assunto pesado não os toques desde que em tua alma haja uma
dificuldade, e te sentes mui perplexo, quando os
negócios chegam a uma encruzilhada, ou a uma
confusão que não podes desembaraçar ou ordenar, ora. Não é necessário que ocupes um
minuto, porém é maravilhoso dar-se conta de
quantos nós podes desatar depois de uma palavra de oração.
Os teus filhos te parecem particularmente molestos, boa mulher? Parece que tua paciência
quase se tem esgotado devido às preocupações
e hostilidades? É o momento de uma oração instantânea. Os conduzirás de forma mais
adequada e suportarás seus maus
comportamentos de forma mais tranquila. Em
todo caso, tua própria mente estará menos perturbada. Sentes que há uma tentação diante
de ti? Começas a suspeitar que alguém está te
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preparando armadilhas? Tens que orar. “Leva-
me por um caminho plano por causa de meus
inimigos.”. Estás trabalhando entre pessoas que
têm conversações obscenas e vergonhosas? É tempo de uma breve oração. Tens notado que
um pecado te assedia? Mova-te à oração. Estas
coisas te recordam que deves orar.
Sentes que teu coração está saindo dos limiteis? O pecado começa a fascinar-te? É tempo de orar,
de um clamor ardente, sincero e apaixonado:
“Senhor, ajuda-me”. Viste algo com teus olhos,
e teus olhos estão infectando teu coração? É tempo de orar. “Senhor, sustém-me com tua
destra.”. Tem ocorrido algo completamente
inesperado? Te tem tratado mal um amigo?
Então, ore como Davi: “Senhor, desfaz agora o conselho de Aitofel.”. Podemos falar com Deus
enquanto estudamos, ou quando conversamos
com alguém.
Quanto temos grande dor. E quanto maior for a ferida, mais urgente e importante deveria ser
teu clamor diante de Deus. E quando as sombras
da morte te rodeiam, e estranhos sentimentos
te sufocam ou te enchem de calafrios, e claramente te dizem que está próximo o fim da
tua jornada, então ore. Oh, esse é tempo de orar
breve e ferventemente. “Senhor Jesus recebe
meu espírito”, foram as palavras emocionadas de Estevão quando estava à porta do seu fim, e
“Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”,
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foram as palavras do Mestre mesmo,
pronunciadas no momento antes de inclinar
sua cabeça e entregar seu espírito.
Agora, se há alguém que esteja aqui em nossa igreja, e que não tenha ainda conhecido a Cristo,
antes que deixe teu assento, não seria bom que
orasses? Diga: “Senhor, tem misericórdia de
mim; Senhor, salva-me, Senhor, muda meu coração; Senhor, dá-me que possa crer em
Cristo; Senhor, salva-me agora.”. Não querem,
cada um de vocês, fazer uma oração como esta?
Que o Espírito Santo te guie a fazê-lo, e se uma vez começas a orar de forma correta, não tenho
medo que venhas a abandonar alguma vez,
porque há algo que sustém firme, a alma na
verdadeira oração. As orações fingidas, que têm de bom? Porém as súplicas verdadeiras do
coração, a alma que conversa com Deus, uma
vez que começa nunca termina. Terás que orar
até que troques a oração pelo louvor, e passes do trono da graça de baixo, ao trono de Deus de
cima.
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Oração de Intercessão
Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)
"E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando ele
orava pelos seus amigos" Jó 42:10.
Assim, então, nossas tristezas mais longas têm
um fim, e há um termo aos mais profundos abismos da nossa miséria. Nossos invernos não
durarão para sempre; o verão logo sorrirá. A
maré não vazará eternamente; as inundações
deterão a sua marcha. A noite não perdurará sua escuridão para sempre sobre nossas almas; o sol
ainda surgirá com a cura debaixo das suas asas.
"O Senhor virou o cativeiro de Jó". Nossas
tristezas terão um fim quando Deus pôr um fim nelas. Os fins no caso de Jó eram estes, que
Satanás poderia ser derrotado, anulado com as
suas próprias armas, dinamitado nas suas
esperanças quando foi derrotado por seus próprios argumentos. Deus, no desafio de
Satanás, tinha esticado a sua mão e tocou Jó no
seu osso e em sua carne, e ainda o tentador não
pôde prevalecer contra ele, mas recebeu a sua repulsa nessas palavras vencedoras: "Ainda que
Ele me mate, nele eu confiarei”. Quando Satanás
é derrotado, então a batalha deve cessar. O
Senhor também colocou a fé de Jó à prova. O fogo foi bastante intenso, mas o ouro não foi
diminuído, e somente a escória foi consumida.
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Outro propósito que Deus teve foi a sua própria
glória. E Deus foi glorificado abundantemente.
Jó tinha glorificado Deus na sua aflição.
Deus teve ainda outro objetivo, e que também foi cumprido. Jó foi santificado pelas suas aflições. O seu espírito foi aperfeiçoado, e
qualquer resquício de justiça própria que havia
nele foi lançado definitivamente fora. Agora os
desígnios de Deus estão cumpridos, ele removeu o açoite das costas do seu servo. Deus
que não aflige de boa vontade, nem aflige os
filhos do homem para nada, revela isto no fato
de que ele nunca os aflige por um tempo maior do que o necessário, e nunca os faz sofrer por
um período maior na fornalha que é
absolutamente necessária para servir aos
propósitos da sua sabedoria e do seu amor. "O Senhor virou o cativeiro de Jó". Irmão amado em
Cristo, tu tens estado num cativeiro longo em
aflição. Deus te vendeu na mãos de teus
adversários, e tu tens lamentado pelas águas de Babilônia. Não se desespere! Ele que virou o
cativeiro de Jó pode virar também o teu
cativeiro. Ele fará o teu vinhedo florescer
novamente, para que o teu campo renda os seus frutos. Tu sairás novamente adiante com
aqueles que estão alegres, e mais uma vez a
canção de alegria estará nos teus lábios. Não
deixe nenhum desespero acorrentar a tua alma. Espere ainda, porque há esperança. A tua
confiança nele fará com que Ele te traga da terra
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do cativeiro, e tu dirás dele: “Ele tem
transformado o meu luto em dança.”.
A circunstância que assistiu à restauração de Jó é para o que eu chamo sua atenção particular. "O Senhor virou o cativeiro de Jó quando ele orava
pelos seus amigos”. A oração de intercessão era
o presságio da grandeza que seria devolvida a
ele. Era o arco na nuvem, a pomba que carrega o ramo de oliveira, a voz da cigarra que anuncia o
verão que se aproxima. Quando a sua alma
começou a se ampliar em oração santa e
amorosa pelos seus amigos errados, então o coração de Deus se revelou a ele dando-lhe de
volta a sua prosperidade, e alegrando a sua alma
no seu interior. Deixe-nos aprender hoje para
imitar o exemplo de Jó, e orar pelos nossos amigos, e provavelmente, se nós estivemos em
dificuldade, nosso cativeiro será virado.
A oração intercessória foi praticada por todos os maiores santos de Deus. Nós não podemos achar exemplos disto juntado ao nome de todo
santo, mas sem dúvida, nunca houve
pessoalmente um homem eminente em
devoção, que não tenha sido sempre preeminente nos desejos ansiosos dele em
relação ao bem de outros, e nas suas orações em
favor deles. Olhe para Abraão, o pai dos crentes.
Como seriamente ele se declarou em favor de seu filho Ismael! "O que Ismael possa viver
diante de ti!". Com que importunidade ele se
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chegou a Deus nas planícies de Manre, quando
ele lutou novamente e novamente com o
Senhor em favor de Sodoma; como
frequentemente ele reduziu o número de justos que poderiam justificar a não destruição da
cidade: foi de cinquenta, para quarenta e cinco,
depois para quarenta, trinta, vinte e somente parou em dez, quando o Senhor lhe declarou
que nem tal pequeno número de justos havia
naquela cidade. Lembremos de Moisés, o mais
manso dos homens, com que frequência ele intercedeu! Como frequentemente você se
encontra com tal registro como este: "Moisés e
Arão caíram sobre suas faces diante de Deus!".
Lembre-se que ele se dispôs a que o seu próprio nome fosse riscado do Livro da Vida em troca do
perdão do pecado do povo de Israel. O profeta
Samuel disse que ele pecaria contra Deus se
deixasse de orar em favor de Israel. Jeremias derramou seu coração em lágrimas em
intercessão fervorosa em favor do povo de Deus.
Veja o exemplo que nos foi deixado por Jesus e
pelos apóstolos.
Pela boca de Paulo o Espírito Santo nos exorta a
orar pelos ministros! "Irmãos", diz Paulo, "orem por nós"; e então depois de exortá-los a oferecer
orações e súplicas em favor de todas as classes e
condições de homens, ele acrescenta: "E
também por nós para que possamos ter coragem para falar como devemos falar".
Enquanto Tiago que é um apóstolo prático nos
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incita a orar uns pelos outros, porque nós
também recebemos alguma bênção especial
quando nossos corações são dilatados para o
povo do Deus vivo.
Se na Bíblia não houvesse nenhum exemplo de súplica intercessória, se o Cristo não tivesse
deixado isto registrado que era da sua vontade
que nós deveríamos pedir em favor dos outros,
e até mesmo se nós não soubéssemos que era a prática de Cristo interceder, contudo o mesmo
espírito de nossa religião santa nos
constrangeria a fazê-lo. Seguramente o amor de
Cristo não pode estar em quem é egoísta. Eu sei que há alguns cuja devoção está amarrada
confortavelmente dentro dos limites dos
próprios interesses egoístas deles. É bastante
para eles se eles ouvem a Palavra, se eles são salvos, se eles adquiriram o céu. Ah, espírito
miserável, tu não experimentas o céu desta
forma egoísta! Precisaria haver outro céu para
ti, porque o céu de Cristo é o céu do desinteressado, o céu daqueles que, como
Cristo, estão dispostos a se tornarem pobres
para que outros possam ser ricos. Irmãos, eu
recomendo a oração intercessória, porque abre a alma do homem, dá um sentido saudável às
suas condolências. É bom saber que a cruz não
foi levantada somente para ele, porque seus
braços de longo alcance foram estendidos com bênçãos para milhões da raça humana. Eu
recomendo o privilégio santificado da
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intercessão, por causa da sua doce natureza
fraterna. Você e eu podemos ser naturalmente
duros, e severos, e desamorosos de espírito, mas
pedindo muito para outros nos lembraremos, realmente, de que os interesses dos santos, são
também nossos, que nós estamos juntamente
preocupados com eles em todos os privilégios da graça. Eu não sei nada que, pela graça de
Deus, possa ser um meio melhor para nos unir
do que a oração constante de uns pelos outros.
Você não manteria a inimizade em sua alma contra seu irmão depois que você aprendesse a
orar por ele. Seguramente você não pode ser tão
hipócrita invocando bênçãos sobre a cabeça
dele diante de Deus e então vir depois a amaldiçoar a sua alma.
Quando houver reclamações trazidas de irmão contra irmão, geralmente o melhor modo de
agir é dizer: "Deixem-nos orar antes de nós
entrarmos no assunto.". Onde quer que haja um
caso a ser decidido pelo pastor, ele sempre deve dizer aos irmãos que combatem: "Deixe-nos orar
primeiro", e acontecerá frequentemente que
através da oração as diferenças logo serão
esquecidas. Eles ficarão tão leves, tão triviais, que quando os irmãos ficam sobre seus joelhos
eles têm os seus corações transformados diante
do trono de Deus. Eu ouvi falar de um homem
que tinha feito reclamações contra o seu pastor, e sabiamente o pastor disse a ele: "Bem, não fale
comigo na rua; venha para minha casa, e nos
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deixe ouvir tudo.". Ele foi, e o ministro disse:
"Meu irmão, eu espero que o que você tem a me
dizer possa me abençoar grandemente; porque
eu não tenho nenhuma dúvida que eu tenho minhas imperfeições como qualquer outro
homem, mas nos ajoelhemos e oremos juntos a
Deus.”. Assim nosso amigo briguento orou primeiro e o pastor logo depois. Quando eles se
levantaram de seus joelhos, ele disse, "Agora,
meu irmão, eu penso que ambos estamos em
um estado bom de mente; conte-me o que você deseja falar-me..". O homem se ruborizou, e
gaguejou, e gaguejou, e disse, que não havia
nada de errado a não ser ele mesmo. "Eu esqueci
de orar pelo Senhor", ele disse, "e claro que eu não poderia esperar que o Senhor alimentasse a
minha alma por você quando eu negligencio o
dever de mencionar o seu nome diante do trono
da graça.". Ah, irmãos, se vocês se exercitarem muito em súplica em favor de seus irmãos,
vocês perdoarão os temperamentos deles, vocês
esquecerão a precipitação deles, vocês não
pensarão nas palavras severas deles; mas sabendo que vocês também podem ser
tentados, por serem homens sujeitos a paixões
como eles, vocês cobrirão as faltas deles, sendo
pacientes com as suas fraquezas.
Não questione o valor da oração intercessória,
porque a oração de Cristo é deste caráter. Em todo o incenso que agora nosso Sumo Sacerdote
põe no incensário, não há um único grão que
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seja para ele. O trabalho dele está concluído; ele
obteve a sua recompensa. Agora você não
duvide que a oração de Cristo é a mais aceitável
de todas as súplicas. Muito bem, meus irmãos, quanto mais a oração de vocês for igual à de
Cristo, mais doce ela será.
A oração intercessória deteve pestilências. Removeu a escuridão que veio sobre o Egito;
afugentou as rãs que saltaram na terra; espalhou os piolhos e gafanhotos que
infestaram os habitantes de Zoar; removeu
todas as devastações que Deus estava trazendo
com sua mão sobre faraó e o seu povo. A oração intercessória curou doenças; nós sabemos o que
ela fez na igreja primitiva. Quando Miriam foi
atingida duramente com lepra, Moisés orou, e a
lepra foi afastada. A oração intercessória levantou o morto, porque Elias ele estirou sobre
o menino sete vezes, e ele espirrou, e a sua alma
lhe foi devolvida. Não há nada que a oração de
intercessão não possa fazer. Oh! crente, você tem uma arma poderosa em sua mão, use-a
bem, use constantemente, use agora com fé, e
tu seguramente prevalecerás. Mas talvez você
tenha uma dúvida sobre interceder porque alguns caíram no pecado. Irmãos, já ouviram
falar de homens dos quais se pensou que
estavam mortos mas que ainda estavam vivos?
Eu posso também lhes falar que espiritualmente houve muitos homens que apesar de mortos,
ainda estavam ao alcance da graça. Houve
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muitos que foram até mesmo amaldiçoados por
crentes, por ministros de Cristo, pelos seus
próprios parentes. Mas ainda em perdição eles
não vieram a Cristo, mas Deus os achou, e os levou a sair da cova horrível e fora do lamaçal, e
fixou os pés deles na Rocha que vive. Oh! não
deixe ninguém; ainda ore, não ponha nenhum fora porque está espiritualmente morto. Mas
talvez você diga: "eu não posso orar por outros,
porque eu sou tão fraco, tão impotente.". Você
adquirirá força, meu irmão, pelo esforço. Mas além disso, a prevalência da oração não
depende da força do homem que ora, mas do
poder do argumento que ele usa. Agora, irmão,
quando você semeia a semente você pode ser muito fraco, mas não é sua mão que põe a
semente no chão que produz a vitalidade na
semente. E assim se dá com a oração da fé.
Dou agora a vocês uma sugestão sobre as pessoas pelas quais nós deveríamos orar mais
particularmente. Os amigos de Jó o acusaram de
hipocrisia, no entanto ele intercedeu em favor
deles. E apesar de ser um homem justo conforme o próprio testemunho de Deus acerca
dele, Jó foi também acusado de egoísmo por
seus amigos. E mesmo assim ele intercedeu por
eles.
Os amigos de Jó eram muito arrogantes e orgulhosos, mas ele orou por eles. Porque, você
não estaria bravo, eu suponho, com um homem
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por ter enfermidades físicas; ao contrário, você
teria pena dele. Por que estaria então bravo com
seu irmão por causa de ser ele orgulhoso? É uma
doença, uma doença muito ruim, o orgulho; vá e peça a Deus para curá-lo; sua raiva não fará isto;
pode torná-lo pior do que antes.
Os amigos de Jó não poderiam interceder por ele porque Deus disse que não aceitaria a oração
deles se eles a fizessem. E há crentes cujas
orações não são aceitas em certas épocas. Quando um homem tiver cometido pecado, o
arrependimento deve ser o seu primeiro
trabalho, não oração; ele tem que primeiro
corrigir os assuntos que se interpuseram entre sua alma e Deus, antes que ele possa interceder
por outros. E há muitos crentes que não podem
orar; a dúvida entrou, o pecado roubou a
confiança deles, e eles não ousam ir além do véu.
Além disso, há milhões de pecadores que estão mortos no pecado e eles não podem orar, ore por eles.
Eu lhes digo irmãos, como nós poderemos
reembolsar a dívida que nós temos para com a igreja a menos que nós oremos pelos outros?
Como foi que você se converteu? Não foi porque
alguém orou por você? Há filhos que devem sua
conversão à oração de seus pais. Há maridos que devem a conversão deles às orações das suas
esposas; irmãos que têm que reconhecer que
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foram ganhos pela oração de seus professores
da Escola Dominical. Foi pela oração de outros
que fomos trazidos a Cristo, como nós
poderemos reembolsar esta bondade senão orando também pela salvação de outros.
Então, novamente, me permita dizer, como é que você pode provar seu amor a Cristo ou pela igreja dele se você se recusa a orar pelos
homens? Não deixe que o Senhor lhe diga:
“infeliz egoísta, tu sempre bates à minha porta,
mas sempre é para chorar para o teu próprio bem-estar e nunca pelo dos outros; já que tu
nunca pediste uma bênção para um dos
menores destes meus irmãos, nem eu te darei
uma bênção. Tu não amas os santos, tu não amas os membros da tua raça humana, como tu podes
me amar se não me tens visto, se não amas
àqueles a quem tu vês, e como eu te amarei e te
darei a bênção que tu pedes de minhas mãos?
Como você pode ser um crente se não ora em favor de outros? Crentes são sacerdotes, mas
que sacerdotes eles são se não oferecem nenhum sacrifício? Crentes são luzes, mas
como iluminarão a menos que eles brilhem para
outros?
Deus virará nosso cativeiro quando nós orarmos pelos nossos amigos.
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Ordem e Argumento na Oração
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e
adaptado por Silvio Dutra))
“Ah! se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal. Exporia ante ele a minha causa, encheria a minha boca de
argumentos.” (Jó 23.3,4)
Jó na sua maior dor, chorou diante de Deus. O
desejo ardente de um filho aflito de Deus é ver
mais uma vez a face do seu Pai. A primeira oração dele não é: "Oh que eu possa ser curado
da doença que se espalha por todas as partes do
meu corpo!". Nem mesmo até: "Oh que eu possa
ver meus filhos sendo retirados das mandíbulas da sepultura, e minhas propriedades trazidas de
volta a mim!". Mas o primeiro pedido é elevado:
“Ah! se eu soubesse onde o poderia achar! Então
me chegaria ao seu tribunal.”.
Os filhos de Deus correm para casa quando chega a tempestade. É o instinto do céu que
nasce na alma que busca abrigo para todos os seus sofrimentos debaixo das asas de Jeová.
"Aqueles que fizeram de Deus o seu refúgio",
poderia servir como título de um verdadeiro
crente. Um hipócrita, quando ele sente que ele foi afligido por Deus, se ressente com a aflição,
mas não ocorre o mesmo com um verdadeiro
74
herdeiro do céu, ele beija a mão que o golpeou,
e busca abrigo da vara da disciplina no seio
daquele mesmo Deus que o desaprovou. Você
observará que o desejo para comungar com Deus é intensificado pelo fracasso de todas as
outras fontes de consolação. Quando Jó viu os
amigos dele se aproximando no início, ele pode ter entretido uma esperança que a ação
bondosa deles e sua ternura compassiva
compensariam a aflição que estava sofrendo;
mas eles colocaram sal nas suas feridas, eles juntaram combustível às chamas da sua tristeza.
Eles chegaram mesmo a ousar a lançar sombras
sobre a sua reputação. O patriarca com isto se
voltou para o trono celestial, exclamando as palavras do nosso texto. Meus irmãos, nada nos
ensina tanto a preciosidade do Criador quanto
quando nós aprendermos o vazio de tudo o mais
neste mundo. Desviando-se com desprezo do amargo das urticárias da terra onde você não
achou nenhum mel, mas muitas picadas
afiadas, você se alegrará nele cuja palavra fiel é
mais doce do que mel e o destilar dos favos.
É fato que um homem justo acelera na direção
de Deus na sua dificuldade, e corre com maior velocidade ainda por causa da descortesia dos
membros da raça humana, contudo, às vezes, a
alma do justo fica partida sem a presença
confortável de Deus. Esta é a pior de todas as aflições; o texto é um dos gemidos profundos de
Jó, muito mais profundo do que qualquer outro
75
que teve por causa da perda dos seus filhos e das
suas propriedades. “Ah! se eu soubesse onde o
poderia achar!”. A pior de todas as perdas é
perder a face do meu Deus. Ele teve um antegozo da amargura do grito do seu Redentor: "Meu
Deus, meu Deus, por que me abandonaste?".
Você pode ser amado de Deus, e ainda não ter nenhuma consciência daquele amor em sua
alma.
O fato de Jó estar ansiando pela presença de Deus, denuncia que ele poderia orar a ele. Ele
tinha orado, mas ele desejava orar na presença de Deus, como quem apresenta a sua causa a um
juiz. Ele desejava apresentar seus argumentos
Àquele que ele sabia que julga com justiça. Um
Juiz imparcial, que não faria o mesmo julgamento injusto que seus amigos estavam
fazendo. Um Juiz que conhece perfeitamente,
causas, circunstâncias, propósitos das coisas que nos sucedem. Ao dizer: “Exporia ante ele a
minha causa, encheria a minha boca de
argumentos.” (Jó 23.4) Jó nos ensina como ele
pretendia interceder junto de Deus. Ele nos ensina aqui a arte e mistério da súplica em
oração. Há duas coisas aqui apresentadas como
necessárias: 1) apresentar a nossa causa; e 2)
encher a nossa boca de argumentos. Nós falaremos dessas duas coisas.
Primeiro, É NECESSÁRIO QUE NOSSA CAUSA SEJA APRESENTADA DIANTE DE DEUS.
76
Há uma noção vulgar que a oração é uma coisa muito fácil, um tipo de negócio comum que
pode ser feito de qualquer maneira, sem
cuidado ou esforço. Os santos antigos não pensavam deste modo. Não é isso que vemos na
Bíblia e no exemplo dos homens de Deus na
história da igreja. Eles parecem ter pensado seriamente que a oração é uma grande
transação. Parece ter sido algo poderoso para
eles, a prática de um longo exercício no qual
alguns deles atingiram grande eminência, e eram assim singularmente abençoados. Eles
colheram grandes colheitas no campo da
oração, e acharam o trono da misericórdia como
uma mina de tesouros não contados.
Os santos antigos costumavam, como Jó, ordenar a causa deles diante de Deus; quer dizer, como um solicitante que entra num
Tribunal, e que não vai para lá sem ter se
preparado para expor os argumentos em favor
da sua causa. Além disso, ele leva em conta o modo como deverá se portar na presença do
Juiz. Quando vamos a Deus estamos indo à
presença do Rei dos reis, do Senhor dos
senhores, do monarca do universo, do Pai celestial, do Juiz de vivos e de mortos, e seríamos
descuidados na nossa apresentação e
argumentação? Em épocas de perigo nós
poderemos voar para a presença de Deus rapidamente, sem qualquer preparo, assim
como a pomba que busca refúgio de seus
77
inimigos nas rochas. Mas em dias ordinários
nós não deveríamos vir com um espírito
desprevenido. Veja o sacerdote apresentando o
sacrifício. Ele tinha todo um preparo diante de si, tanto para si mesmo nas purificações
cerimoniais, quanto em relação à oferta
propriamente dita. Assim o crente como sacerdote é chamado a apresentar sacrifícios
espirituais a Deus, mas deve considerar de igual
modo que deve se preparar como o sacerdote,
primeiro zelando por manter a sua vida santificada diante de Deus, e por apresentar
suas orações intercessórias como sacrifícios
muito bem preparados, antes de apresentá-los
ao Senhor.
Deus não se agrada que alguém salte da cama ao acordar, se ajoelhe e lhe diga qualquer coisa que lhe venha aos lábios. Ao contrário, que
possamos esperar no Senhor com santo temor.
Davi costumava primeiro refletir sobre a
bondade divina e sobre a condição da sua própria alma, e só então passava a orar. Nós
vemos isto claramente nos Salmos. Ele era um
mestre na arte da oração. Ele entrava na oração
quando obtinha o espírito da oração, auxiliado pelo Espírito Santo. Davi apontava suas orações
na direção de Deus como o arqueiro que faz
pontaria para lançar flechas com o seu arco. Ele
não lançava flechas ao léu. E depois que atirava a flecha ele ficava observando se ela estava se
dirigindo para o alvo. Ele desejava observar o
78
efeito da sua ação, porque ele esperava uma
resposta às suas orações, e não era como muitos
que escassamente pensam nas suas orações
depois que eles as proferiram.
Davi sabia que a oração, como a adoração, exige a aplicação de todos os poderes mentais, do
coração, do vigor do espírito, porque o modo que
se deve amar a Deus é com toda a mente, força e coração. Por isso nossa oração deve ser
diligente, bem conduzida e preparada,
administrada. George Muller não costumava
orar somente. Ele anotava os pedidos, e a sua data, e acompanhava a resposta de Deus,
anotando-as em seu diário.
Isto não significa que as orações devem ser mecanicamente elaboradas, porque isso é contra o espírito da oração, que deve ser de
coração. Não é a nenhuma ordem meramente
mecânica que estou me referindo, porque
nossas orações serão igualmente aceitáveis, em qualquer forma; porque há espécies de orações,
em todas as formas, no Antigo e no Nov
Testamento. A verdadeira ordem espiritual da
oração parece consistir em algo mais do que mero arranjo. É primeiro para que nós sintamos
que estamos fazendo algo que é real; que nós
estamos nos dirigindo a Deus a quem nós não
podemos ver, mas que está realmente presente. Sentindo a realidade da presença de Deus, nossa
mente será conduzida por graça divina a um
79
estado humilde. Por conseguinte nós não nos
entregaremos à nossa oração como meninos
que repetem as lições deles, como um mero
assunto de rotina. Nós seremos humildes contudo solicitantes corajosos. Nós não teremos
a reserva de um escravo mas a reverência
amorosa de um filho, contudo não um filho descarado, impertinente, mas um filho
obediente, que honra o seu Pai, e que então lhe
pede sinceramente, mas com submissão à sua
vontade.
Quando eu sinto que eu estou na presença de Deus, eu estou convicto de que Ele não me
atenderá a não ser pela sua exclusiva graça e por
causa de seu Amado Filho Cristo Jesus. Por isso
eu me coloco debaixo do patronato do grande Redentor e peço com santa ousadia porque sei
que posso fazê-lo quando isto é em seu Nome.
É por causa dele que somos atendidos pelo Pai. Por isso eu apresento em meus argumentos no que peço ao Pai, as feridas de Cristo, a vida dele,
a morte dele, o sangue dele, enfim, tudo o que
Ele é, fez e tem feito por nós. A oração deveria
ser distinta, e definitivamente e distintamente pedir algo porque a mente percebeu sua
necessidade de tal coisa, e então tem que se
declarar quanto a isto. Quando nós estamos
seguros que o que nós pedimos é para a glória de Deus, então, nós podemos pedir com santa
ousadia. Ainda a oração é uma arte que somente
80
o Espírito santo pode nos ensinar. Ele é o doador
de toda a oração.
A segunda parte da oração está em ENCHER A BOCA DE, não encher a boca de palavras nem frases boas, nem bonitas expressões, mas
encher a boca de argumentos pelos quais o
portão do céu é aberto. Por que os argumentos
devem ser usados? Certamente não é porque Deus seja lento em atender, não porque nós
podemos mudar o propósito divino, não porque
Deus necessita ser informado de qualquer
circunstância com respeito a nós mesmos ou de qualquer coisa com relação à graça solicitada: os
argumentos devem ser usados para nosso
próprio benefício, não para o dele. Ele requer
que nós supliquemos a ele, e com razões fortes, porque isto revelará que nós sentimos o valor da
graça e da misericórdia que buscamos. Quando
um homem procura argumentos para alguma coisa, estes serão mais fortes e convincentes e
preparados em razão proporcional ao valor
daquilo que está buscando.
Um homem que viesse a Deus com o argumento
do próprio mérito pessoal dele, nunca teria sucesso; o argumento próspero sempre está
fundado na graça, não se dizendo isto apenas
com a boca, mas reconhecendo e crendo no
coração, e consequentemente a alma que alega assim entenderá intensamente que é por graça
e somente por graça que o pecador obterá
81
qualquer coisa de Deus. Além, disso se pretende
que o uso de argumentos incite o nosso fervor.
O homem que usa um argumento com Deus
adquirirá mais força usando o próximo, e usará o próximo com poder ainda maior.
Outro aspecto poderoso para a ordenação na apresentação de argumentos diante de Deus é a
promessa de Deus. Fale com Deus argumentando sobre suas promessas. Diga:
“Senhor, está prometido na tua Palavra.”. Não
que Ele necessite ser lembrado do que tem
prometido, mas para que você mostre em que está fundado o seu pedido. Se os homens
honrados se esforçam e se preocupam em
cumprir a palavra dada por eles, quanto mais o
Deus que é todo honra e fidelidade. Ele não manterá a sua Palavra? Ele vela sobre ela para a
cumprir. Deus nunca desonra suas contas, ainda
que o homem não honre as suas. Quando alguém tem uma nota promissória para honrar,
pode ser que não a honre, mas o Altíssimo
jamais desonrará as suas contas. O seu crédito
nunca foi impugnado e nunca será. Ele é pontual ao prazo estabelecido por Ele mesmo, nunca no
nosso próprio tempo, para honrar todos os seus
compromissos, com os quais se aliançou
conosco por meio de Jesus Cristo e das promessas de sua Palavra.
Meu irmão, se você tiver uma promessa divina, você não precisa alegar isto com um "se"; você
82
pode declarar com uma certeza. Se para a graça
que você está pedindo agora, você tiver uma
palavra solenemente empenhada de Deus, você
não precisa ter qualquer precaução quanto ao argumento que lhe apresentará. Você sabe que
a vontade do Senhor está revelada na sua
promessa. Alegue, argumente com base nesta promessa.
Um terceiro argumento que deve ser usado é o mesmo que foi empregado por Moisés, a saber:
o grande nome de Deus. Se Deus não atender
como ficará o seu grande nome? Se Deus não nos atender o mundo dirá: “Onde está o Deus
deles?”.
Veja o caso de nosso respeitado irmão, o Sr. Muller, de Bristol. Este, durante muitos anos declarou que Deus ouve a oração, e firme
naquela convicção, ele começou a construir
casa após casa para abrigar órfãos. Agora, eu
posso muito bem conceber que, se ele foi dirigido a um ponto de carecer de meios para a
manutenção dessas mil ou duas mil crianças,
ele pode muito bem usar o argumento, o que se
dirá do seu grande nome?". E você, em alguma dificuldade severa, quando você recebeu a
promessa poderá também dizer: "Deus, tu
disseste: 'Em seis dificuldades eu estarei
contigo, e em sete eu não te abandonarei.'. Eu contei a meus amigos e vizinhos que eu coloquei
inteiramente minha confiança em ti, e se tu não
83
me atenderes, o que será do seu nome? Levanta-
te ó Deus, e faz esta coisa, para que o teu nome
não seja lançado ao pó”.
Podemos também alegar as tristezas do seu povo. Isto é frequentemente encontrado em
Jeremias, que foi o grande mestre desta arte.
Lembremos de argumentar com o Senhor que
precisamos cumprir o mandamento de estar sempre alegres como é da vontade dele, e por
isso lhe peçamos que remova a causa das nossas
tristezas ou que nos dê o suporte da sua graça
para suportar nossos sofrimentos com alegria.
Irmãos, é bom argumentar com Deus quanto ao que Ele fez no passado. Podemos dizer como
Davi, que tendo sido Ele nossa ajuda, nos
deixaria agora desamparados? Isto é impossível. Recordemos pois das bênçãos e cuidados
demonstrados por Deus a nós no passado
enquanto lhe apresentamos nossos pedidos
com tais argumentos no presente. Nós podemos usar a nossa própria fraqueza, incapacidade,
indignidade, como um forte argumento diante
de Deus. “Senhor lembra que sou pó. Não há
força em mim para resolver tal problema.”. O argumento do publicano se fez muito forte
quando se reconheceu um pecador indigno
diante do Senhor. O cego de Jericó pede por
misericórdia ao Filho de Davi. A mulher cananeia não se ofendeu por sua gente ter sido
comparada aos cães, e soube contra argumentar
84
dizendo que até mesmo dos cachorrinhos o
Senhor pode cuidar com as migalhas da graça
que caem da sua mesa. A grandeza do meu
pecado me faz uma plataforma para a grandeza da misericórdia do Senhor. Peçamos a Deus que
faça a grandeza do seu amor ser revelada em nós
que somos pobres e necessitados da sua graça.
Finalmente, o principal argumento do crente são os sofrimentos, a morte, o mérito, a
intercessão de Cristo Jesus. Quando nós
pedimos a Deus que nos ouça, enquanto o
alegamos no nome de Cristo, nós normalmente queremos dizer: "O Deus, teu querido Filho
merece isto de ti; faça isto por mim por causa do
que Ele merece. Ele se deu por mim, pecador, na
cruz, em troca dessa alegria que poderia experimentar pela sua vitória na vida daqueles
que comprou com o seu sangue para Ti.”. Jesus
mesmo ordenou que usássemos o seu nome para pedir o que necessitamos ao Pai. Ele não
nos dará qualquer coisa por nossa própria causa,
mas por causa de Cristo.
É a assinatura de Cristo que está no cheque que
apresentamos a Deus. Somente cheques com tal assinatura podem ser descontados no banco
celestial. Nenhum outro é aceito. Se o Espírito
Santo nos ensinar como ordenar nossa causa, e
como encher nossa boca de argumentos, o resultado será que NÓS TEREMOS NOSSA
BOCA CHEIA DE LOUVOR. O homem que tem a
85
boca dele cheio de argumentos em oração terá a
boca dele logo cheia de bênçãos em resposta à
oração. Querido amigo, se a tua boca está cheia
de murmurações, reclamações, peça a Deus para lavá-lo dessa negridão, porque isto não te
será de qualquer proveito, e tornará amargo o
teu coração, até mesmo tuas entranhas. Substitua isto pela oração, enchendo tua boca
de argumentos em tuas petições a Deus, e isto
trará delícias à tua alma, e o atendimento dos
desejos do teu coração.
Nossas necessidades são grandes, então nossos pedidos devem ser grandes, e a provisão
também será grande.
86
Orai, orai sempre
(Por Charles Haddon Spurgeon, traduzido por
Silvio Dutra)
“Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai; pois o Pai
mesmo vos ama; visto que vós me amastes e crestes que eu saí de Deus”(João 16:26-27).
O tempo em que vivemos é muito favorecido e
deve ser também muito valorizado. Que nós
nunca tenhamos inveja dos Patriarcas e sua comunhão com Deus, quando às vezes Ele falava
pessoalmente em seus ouvidos ou se revelava
visivelmente a eles. Abençoados são os nossos
olhos e os nossos ouvidos, que veem e ouvem o que os reis e os profetas esperaram em vão.
Aquilo que lhes foi negado nos foi revelado e por
isso somos especialmente privilegiados.
Embora João Batista, vivendo dentro da dispensação do Evangelho, tenha sido o maior
entre os mortais nascidos de uma mulher, o
menor no reino dos céus é maior do que ele. E
nós estamos hoje vivendo naquele reino dos céus, embora exista ainda muito o que desfigura
o reino de Cristo na terra. Sejam gratos,
portanto, vocês que são filhos dos homens e são
também filhos de Deus, sejam gratos por viver nesta verdadeira época de ouro, pois com todas
as suas tristezas e todas as suas falhas, é uma
87
época de grande misericórdia e de muito
privilégio!
Ouso até considerar nosso atual período acima daquela magnífica época na qual Jesus habitou aqui entre os homens. Temos a tendência de
considerar aquela época como sendo a melhor
que a Igreja de Deus desfrutou, mas não é assim.
A dispensação do Espírito Santo é uma época acima da dispensação do humilhado e sofrido
Salvador. Aqueles foram os dias de infância da
Igreja, quando o Senhor a instruía por meio de
ilustrações e lhe ensinava as letras, mas não revelava muitas das grandiosas e mais
profundas verdades de Deus porque ela ainda
não tinha condições de suportá-las. Mas agora o
Espírito Santo nos foi dado para nos guiar a toda a Verdade e Ele nos mostra tudo sobre Cristo.
Quando o Nosso Senhor esteve aqui foi apenas o
crepúsculo da dispensação do Evangelho, ou apenas o seu alvorecer. É verdade que Ele é o Sol
da retidão, mas os seus discípulos viram apenas
um pouco da sua glória, pois seus olhos estavam
apenas entreabertos e eles tinham menos luz da parte dele do que nós temos, embora a bênção
de sua presença corpórea nos seja negada.
Àquela época havia muito atraso na oração, mesmo entre os apóstolos de Cristo. Pouco
antes do nosso texto acima lemos que Cristo lhes disse: Até agora nada pedistes em meu
nome- João 16:24. E lemos muito pouco a
88
respeito das orações dos discípulos. Eles
chegaram até a dizer, em certa ocasião: Senhor,
ensina-nos a orar – Lucas 11:1. Conheciam muito
pouco do poder da oração. Hoje em dia não só o Senhor nos ensinou a orar como também nos
deu o Espírito Santo para nos ajudar em nossas
enfermidades e para interceder por nós: o Espírito nos ajuda na fraqueza; o Espírito mesmo
intercede por nós com gemidos inexprimíveis. –
Romanos 8:26. em muitos outros aspectos, que
não precisamos detalhar agora, estamos bem mais adiantados do que os doze altamente
favorecidos que conviveram com Cristo, ou que
os setenta privilegiados que foram enviados por
Ele para ensinar, pregar e curar os enfermos – O SENHOR DESIGNOU OUTROS SETENTA; E OS
ENVIOU – Lucas 10:1. É um período abençoado
este em que vivemos e eu desejo que vocês, que
são crentes em Cristo, valorizem estes seus privilégios. Se você estiver lamentando a sua
sorte, quero que sinta que seu nascimento
jamais poderia acontecer em tempo mais
próspero, e que estar vivendo no tempo em que o Espírito de Deus nos foi dado e em que sua
influência sagrada é exercida em sua Igreja, é
uma elevada honra que Deus te concedeu.
Faço estas considerações porque o nosso texto começa com as palavras Naquele dia, que é o
presente período, quando Cristo já subiu para estar à destra do seu Pai depois das horríveis
dores do Calvário, o período em que não mais
89
estamos tristes porque Ele morreu, mas nosso
lamento se tornou em alegria, por sua conta e
por nossa causa também. Este é AQUELE DIA em
que as bênçãos sobre as quais vou falar são dadas a nós, para que possamos usufruir delas
agora, ou pelo menos, deveríamos estar.
Tomando o texto como se referindo ao tempo em que vivemos, eu noto, em primeiro lugar, o
exercício diário do crente: “Naquele dia pedireis
em meu nome”. Em segundo lugar, temos a posição privilegiada do crente: “não vos digo
que eu rogarei por vós ao Pai; pois o Pai mesmo
vos ama; visto que vós me amastes e crestes que
eu VIM de Deus”. Então, em terceiro lugar, tentarei sugerir qual deveria ser a conclusão
natural por parte do crente a respeito dessa
abençoada Verdade de Deus que aqui nos é
revelada.
I – Primeiro, assim, vamos notar o EXERCÍCIO DIÁRIO DO CRENTE. É pedir e continuar
pedindo: “Naquele dia pedireis em meu nome.”
é uma coisa muito simples pedir, mas como é gracioso da parte de Deus acrescentar a algo tão
simples a promessa de dar! Ele não disse “mereça a bênção”, mas sim, “peça por ela”. Ele
não falou “compre-a”, mas sim “peça por ela”.
Não, “Trabalhe até finalmente consegui-la por
seu próprio esforço” mas, “peça por ela”. Irmãos e irmãs, se alcançar o céu depender apenas de
nosso pedido, quem não irá pedir? Tudo o mais
90
que um crente possa deixar de fazer nunca
deverá, certamente, ser deixar de pedir. Se
nunca pedimos nada a Deus podemos estar bem
certos de que nunca fomos convertidos. Uma alma sem oração há que ser uma alma sem
Cristo; mas se estamos realmente em Cristo,
devemos ter praticado a sagrada arte de pedir e nós devemos continuar a fazê-la sempre. Se há
alguma dificuldade em nossas mentes, vamos
pedir, o Espírito Santo pode resolver. Se existir
alguma necessidade em nosso lar, vamos pedir, pois Nosso Pai Celestial pode supri-la. Se houver
alguma fraqueza em nossa natureza espiritual,
vamos pedir, pois Deus pode nos fortalecer. Se
existir algum desejo da nossa alma que perturbe nosso espírito, vamos pedir, pois nosso desejo
pode ser atendido se for correto, e nossa
perturbação pode ser eliminada. Pedir, meus
irmãos e irmãs, é muito simples, e graças sejam dadas ao nome do Senhor, porque, geralmente,
a melhor maneira de pedir é aquela que é a mais
simples.
Pedir alguma coisa a Deus não requer o uso de palavras adequadas. Os filhos na família não
fazem pedidos elaborados quando pedem aos pais alguma coisa; eles dizem qual é a
necessidade em suas próprias palavras, os pais
entendem e concedem o pedido, se for correto e
adequado, e se estiver dentro de suas possibilidades. Aja exatamente da mesma forma
com Deus! Às vezes somos por demais
91
cuidadosos em escolher e usar frases para usar
em nossas orações. Você acredita que Deus se
agrada com uma demonstração de oratória, ou
que Ele analisa sua eloquência quando você comparece ante o Trono da Graça? Pode
agradar a um professor de literatura fazer a
crítica das suas frases, mas Deus pensa muito mais nos seus desejos do que nas palavras com
que você os expressa. Pode ser uma coisa
natural para um professor analisar a exatidão
dos termos que você emprega, mas Deus observa especialmente o ardor da sua alma. Não
existe outro lugar onde o coração deva estar tão
livre quanto diante do Trono de Misericórdia.
Ali você pode falar por meio de sua própria alma, pois esta será a melhor oração que poderá
ser feita. Não peça aquilo que alguém disse que
você devia pedir, mas sim aquilo de que você
sente que precisa – aquilo que o Espírito Santo fez você ter fome e sede de pedir; peça isto.
Peça sempre. Toda a sua vida deveria ser gasta em pedir. Quando o dia amanhece, peça a
misericórdia de que precisará durante aquele
dia; e quando o dia cerrar as pálpebras e você for
para a cama, peça a proteção e o descanso que precisar para aquela noite. Peça quando sua voz
só puder ser ouvida por Deus em segredo, e peça
quando a sua língua talvez não possa se mexer,
mas apenas o seu espírito possa falar ao ouvido de Deus. Nunca hesite pedir por causa da
grandiosidade da bênção que você deseja. O
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Senhor é um grande Deus embora você seja tão
pequeno, e Ele se delicia em dar grandes coisas
para aqueles que vêm à sua presença pedir. E
não hesite em pedir por julgar que você não tem merecimento. Você nunca terá nenhum
merecimento em você mesmo, portanto, se um
senso de indignidade fosse checar sua oração agora, ele provavelmente iria sempre o impedir
de orar. Ainda assim, o Senhor determinou que
pedíssemos, logo, deve ser certo pra você, pedir.
Peça quando estiver enfrentando alguma coisa que não consiga vencer; peça quando tiver
lutado para conseguir algo sem tê-lo
conseguido; peça, e irá receber. Vá à presença
de Deus mesmo com os trapos do seu pecado e peça, é só o que você tem a fazer. “pedi, e
recebereis” – João 16:24, esta é a mensagem que
brilha com a luz celestial vinda do Trono da
Misericórdia. Leia e obedeça: ABRE bem a tua boca, e eu a encherei. – Salmos 81:10.
Nosso Senhor disse aos seus discípulos que, além de pedir, deveriam pedir em seu nome:
“Naquele dia pedireis em meu nome.” Esta é a
mais deliciosa maneira de pedir. Geralmente
dizemos no final de nossa oração que pedimos por amor de Jesus, e essa é uma maneira certa
de pedir. Significa: “considerando o que Jesus
fez, Você não me atenderia? Eu não fiz nada que
possa garantir uma resposta favorável à minha súplica, mas Você não daria a mim,
considerando que Jesus merece isso? Por amor
93
a Ele, ouça-me, oh Senhor!”. Essa é uma boa
forma de orar, mas é melhor ainda se você
puder usar o nome de Cristo e pedir em seu
nome.
É como se fossemos a uma loja, mandados por alguém para comprar alguma coisa em seu
nome e para ser debitado na conta daquela
pessoa. Ou se autorizássemos um subordinado
nosso a ir a uma loja tendo dito ao comerciante que o que esta pessoa pedisse fosse fornecido.
Provavelmente um subordinado, sem dinheiro
próprio, muito pobre, mas que vá munido de sua
autorização, poderá receber daquele comerciante tanto quanto se você mesmo
tivesse ido lá. A garantia dada irá até o ponto do
limite do nome que foi dado. Então, Jesus nos
disse: “Use Meu nome quando estiver falando com o Meu Pai;” e até onde eu posso ir usando
esse nome? Até onde o próprio Cristo pode ir.
Todo o poder que exista no nome de Jesus, toda
a influência que Ele tenha no coração do seu Pai, este poder e esta influência nos são permitidos
exercer por meio da oração. Senhor Meu, eu
costumava pedir ao Senhor para fazer certas
coisas por amor ao Teu Filho, mas agora eu venho com um pedido ainda mais forte pois Ele
me autorizou a usar o seu nome, e pedir que
Você faça por mim assim como Você faria por
Ele. Meu Pai, se não podes recusar o teu Primogênito também não podes me recusar. E
se estou pedindo alguma coisa que Ele não podia
94
pedir e que eu mesmo não desejasse pedir,
quero fazer esse o limite da minha oração e da
sua aceitação. Se Ele tivesse recusado orar
pedindo isso, eu também iria. E se o que estou pedindo parece ser uma bênção do meu ponto
de vista mas não para Ele, sejam minhas
palavras: todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres – Mateus 26:39. Ninguém de
bom senso usaria o nome de outra pessoa
indevidamente, e se você está pedindo a Deus
alguma coisa motivado por egoísmo, você não deve desonrar aquele nome abençoado ligando-
o a tal tipo de oração. Mas usando
adequadamente o seu nome temos grande
liberdade e um alto privilégio de nos ser permitido ir e orar, não apenas por amor a Jesus,
mas também no nome de Jesus.
O texto nos diz que pedir no nome de Cristo deve ser o exercício constante dos cristãos Naquele
dia. E que dia será esse? De acordo com o
contexto, será uma época de perseguição: Expulsar-vos-ão das sinagogas; ainda mais, vem
a hora em que qualquer que vos matar julgará
prestar um serviço a Deus – João 16:2. Em tal
situação os cristãos certamente irão orar. Prosseguindo na leitura do capítulo vemos que
AQUELE DIA é quando o Espírito de Deus
instruiu os seguidores de Cristo. Cristo disse
Naquele dia nada me perguntareis – João 16:23. O que quer dizer que não perguntaremos, pois o
Espírito Santo nos instruirá para sua glória, dele
95
recebendo para nos transmitir. Ah, Amado,
quando irmãos e irmãs estão na prisão por causa
da fé, quando eles são susceptíveis de ser
colocados na tortura – quando a pequena igreja tem que ser convocada porque o pastor está para
ser queimado amanhã de manhã e todos os
jovens querem estar de pé cedo para permanecer ao redor e animá-lo, com os olhos
cheios de lágrimas, se eles não puderem fazer
nada mais por ele; e quando os jovens voltam
para casa e seus pais perguntam-lhes porque eles foram lá, eles dizem que foram para
aprender o caminho pra se eles tiverem que
morrer da mesma maneira – ah, aí sim, a oração
é uma realidade! E quando eles se reúnem em cantos isolados e em cavernas solitárias, quando
não se atrevem a levantar suas vozes para os
observadores não ouvi-los e levá-los para a
prisão, ainda assim, em tons solenes clamam ao Senhor, a oração, então é real!
É esta oração eficaz e fervorosa dos justos que vale muito. Assim é, se acontecer, que a Igreja
de Deus realmente ora! Se algum de vocês está,
em sua pequena jornada, em tudo sujeito a
perseguições, não deixe de orar, pois o nosso Salvador disse: “Naquele dia você vai pedir em
Meu nome.” Deixe que a perseguição seja uma
espécie de lembrete para você do seu dever e
privilégio! Se você tiver sido negligente na oração e alguém te tratar mal por causa de
Cristo, diga: “Agora é a hora para eu orar mais
96
fervorosamente do que nunca, pois Jesus disse,
especialmente sobre o tempo de perseguição,
NAQUELE DIA PEDIREISEM MEU NOME.”
Prosseguindo na leitura do capítulo vemos que AQUELE DIA é quando o Espírito de Deus instruiu os seguidores de Cristo. Cristo disse
Naquele dia nada me perguntareis – João 16:23.
O que quer dizer que não perguntaremos, pois o
Espírito Santo nos instruirá para sua glória, dele recebendo para nos transmitir. Agora, quanto
mais ensinamento e entendimento alguém
receber do céu, mais ele irá orar. Se existe
alguma coisa chamada de luz que faça com que um homem deixe de orar, essa “luz” é a
escuridão. Algum tempo atrás, quando havia
um grande número de pessoas que professavam
ser perfeitas, eu ouvi de alguém que tinha crescido tão vaidosa que ela disse que sua mente
estava tão conformada com a vontade de Deus
que não havia necessidade para ela orar, porque
sua mente e a mente de Deus estavam perfeitamente unidas. Sim, e se alguém se
imagina tão bom que nem precisa orar, seria
bom que exclamasse: Ó Deus, sê propício a mim,
o pecador! Lucas 18:13. Eu ouso dizer que você já ouviu falar daquelas pessoas que sobem tão alto
na escada, que caem do outro lado, e que é
exatamente o que as pessoas fazem quando
começam a transportar qualquer Verdade de Deus à extravagância e a empurrar um ponto
além da sua legitimidade. Aquilo que te faz
97
deixar de orar é coisa do diabo, a quem devemos
dizer: Para trás de mim, Satanás – Mateus 16:23.
a mera sugestão de que você pode fazer sem
oração deve ter vindo de baixo, não pode ter vindo de cima. Quanto mais o Espírito de Deus
ensina ao cristão sobre as coisas de Deus, mais
ele irá pedir em nome de Jesus Cristo. Mais uma vez, aquele dia será um dia de grande alegria: a
vossa tristeza se Converterá em alegria – João
16:20. Naquele dia pedireis em meu nome- João
16:26. Talvez alguém dirá “mas as épocas de tristeza são o melhor tempo para orar, não são?”
Eu garanto a você que elas são, mas quando a
tristeza se torna em alegria, a dúvida dá lugar à
fé, e a própria esperança fica eclipsada por um delicioso gozo, então, essa é a hora de orar.
Quando seu coração estiver pronto para dançar
e sua boca cheia de doçura, é hora de aproximar-
se de Deus em oração. Quando Ele tiver te dado tudo o que você pediu, é hora de pedir a Ele
ainda mais. Suponha que seja este um dia bom
para você – um dia de boas notícias; aproveite
esta oportunidade para orar. Os negócios vão bem; aproveite a hora para que isso também te
leve ao crescimento de tua riqueza espiritual, e
achegue-se a Deus.
Amados, se alguma vez nas suas vidas vocês forem orar, que seja especialmente quando o
Senhor se revela tão gracioso para contigo que seu coração fica alegre e você se regozija em sua
glória. Que esse seja um dia de pedir em nome
98
de Jesus Cristo! Irmãos e irmãs, eu gostaria de
poder falar de uma forma ainda mais
impressionante sobre este tema tão agradável.
O ponto que, mais do que os outros, toca de maneira vital a existência cristã, é a devoção
pela oração – o pedir a Deus e receber dele a
resposta à nossa prece sincera. A oração no que se refere a você é uma realidade ou uma
imitação? É uma espécie de rito religioso que
você se sente obrigado a realizar, ou tornou-se
uma coisa essencial para a sua vida espiritual tanto quanto o respirar é para o seu corpo? É
óbvio para você agora que você deve orar? É
natural para você pedir ao Pai que está no céu
como é natural que seus filhos venham pedir a vocês que são pais terrestres? No meu caso sinto
que não oro simplesmente porque tenho de
fazê-lo, mas porque amo este sagrado exercício.
Não o orar em certa hora porque aquela é a hora em que se deve orar, mas orar porque quero
orar, orar porque devo orar.
Um homem não precisa ser lembrado de que deve respirar. É essencial para a sua vida que
respire, e é essencial para nossa vida espiritual
que oremos. Jamais pensei em preparar um sermão para falar sobre a necessidade de você
se alimentar, da mesma forma como não devia
ser necessária a exortação aos cristãos para que
orem. Deveria ser um instinto de nossa nova natureza, tão natural para o nosso ser espiritual
como o é um bom apetite para alguém se
99
manter saudável. Deveria existir uma fome e
uma sede santas para orarmos, e a alma nunca
ora tão bem quanto quando é lembrada, não
pela hora do dia ou da noite, mas por sua real necessidade, e quando se refugia em seu lugar
particular para orar, não porque acha que deve,
mas porque sente que deve, e o faz com o deleite do privilégio da comunhão com o seu Deus.
Meu objetivo, na segunda parte do meu sermão, será agitar-lhe até você sentir dessa forma, então não vou dizer mais nada sobre esta
primeira parte do meu tema, o exercício diário
do crente – “Naquele dia pedireis em meu
nome.”
II – E agora, em segundo lugar, temos A POSIÇÃO PRIVILEGIADA DO CRENTE com
referência à oração.
Os crentes devem ser abundantes em oração porque, em primeiro lugar, têm o Espírito Santo
para motivá-los. Isto consta no texto? Sim, ou pelo menos está implícito nele, pois Jesus disse:
Naquele dia pedireis. Como iria Ele afirmar de
maneira tão categórica que deveríamos pedir a
não ser que pretendesse que o seu Espírito nos conduzisse a pedir por esta promessa? Sendo
esta em si mesma uma garantia de que Ele
providenciará para que seja atendida. Temos
assim o Espírito Santo para nos animar a orar, e não apenas para nos animar a orar, mas para nos
dizer pelo que deveríamos orar: porque não
100
sabemos o que havemos de pedir como convém
– Romanos 8:26, até que Ele nos ensine! Alguém
poderá perguntar por que orar se tudo é
resolvido pelo decreto divino. É verdade que tudo é solucionado desta maneira, e é
exatamente por esta razão que devemos orar! O
Espírito de Deus nos leva a desejar exatamente o que Deus decretou, e embora não possamos
abrir e ler o livro dos seus decretos, o Espírito
Santo pode ler aquele Livro e assim nos guiar de
acordo com seus registros secretos e também interceder por nós segundo a vontade de Deus –
Romanos 8:27. Pois, qual dos homens entende as
coisas do homem, senão o espírito do homem
que nele está? assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de
Deus – I Coríntios 2:11. E o que o Espírito de Deus
entende ser a mente de Deus, Ele faz com que
seja também a nossa mente e em consequência nós oramos segundo a vontade de Deus. A
oração verdadeira é o eco do propósito eterno.
Nossas orações são as sombras das
misericórdias de Deus. Quem não oraria quando a oração torna-se para ele um mistério
consagrado em que uma Pessoa da Santíssima
Trindade opera em seu espírito e revigora os
seus desejos? Isto deve nos conduzir a orar com frequência porque nossos pedidos são
motivados pelo Espírito Santo.
“Orem, orem sempre, o Espírito Santo pede dentro de você
101
todas as suas necessidades a cada dia, a cada hora.”
Devemos orar também porque temos a elevada honra de nos ser permitido usar o nome de Cristo em nossas orações. Naquele dia pedireis
em meu nome. Se um Rei nos entregasse o seu
selo ou se tal Rei tivesse o poder de criar
dinheiro tão rapidamente quanto o desejasse com a sua simples assinatura e nos permitisse
usar aquela assinatura, não creio que muitos de
nós continuaríamos sendo pobres. Se ele
realmente nos desse privilégio certamente iríamos assinar muitas vezes antes de devolver o
selo e a assinatura para aquele Rei. Mas o Nosso
Senhor Jesus fez coisa semelhante ao tirar do
seu dedo o sinete real e dizer aos seus servos: “Peçam em Meu Nome!” TUDO QUANTO
PEDIRDESEM MEU NOME, EU O FAREI – João
14:13. Por isso nós estamos sempre sacando destes fundos da infinidade de Deus. E Ele não
estabeleceu limite para estes nossos pedidos, a
não ser: tudo o que pedirdes na oração, crendo,
recebereis. – Mateus 21:22. Como isto deveria nos encorajar a orar! Será que vamos deixar
passar essa oportunidade de ouro sem dela fazer
uso? Oh amados, com o Espírito Santo a nos
dizer o que pedir e o Senhor Jesus a endossar nosso pedido, por que não orar sem cessar?
Além de tudo isso, existe um grande encorajamento para a constante oração pelo
102
fato de que o Senhor Jesus Cristo está
continuamente intercedendo por nós. Nossas
pobres orações são obscuras e confusas, e são
manchadas de pecado, mas o Nosso Grande Sacerdote as salpica com o seu sangue precioso,
e as purifica de maneira completa, e com suas
próprias mãos as coloca diante do Trono de Misericórdia, e por amor ao seu nome elas
certamente serão aceitas. se alguém pecar,
temos um Advogado para com o Pai, Jesus
Cristo, o justo – 1 João 2:1. E Ele está sempre pleiteando a nosso favor. Se temos um
Intercessor Divino, dentro do véu, que nunca se
esquece de levar nossas orações diante do
Trono da Graça do seu Pai, com que ousadia devemos ir até ao Trono de Misericórdia, e
quantas e quantas coisas deveríamos pedir a
Deus em nome de Jesus!
Parece-me que o texto sugere que o Senhor Jesus desejava evitar que os seus discípulos
errassem ao interpretar sua intercessão. E por isso disse, nesta ocasião: não vos digo que eu
rogarei por vós ao Pai. Não havia razão para que
Ele dissesse isso naquele momento, pois já o
havia dito e repetido muitas vezes antes. Mas naquela ocasião parece que Ele queria dizer:
“Não quero que exagerem minha intercessão às
custas do Meu Pai. Vou interceder por vocês,
mas vocês não devem pensar que faço isso porque Meu Pai não está disposto a ouvi-los
quando vocês forem até Ele em meu nome. Não
103
fiquem imaginando erroneamente que por
causa da minha intercessão Eu farei com que o
Meu Pai se disponha a abençoar-vos, pois Meu
Pai, Ele próprio, ama vocês.” Isso nos leva a um ponto muito precioso que é que devemos ser
muito incentivados a orar, não só porque o
Espírito nos impele e o Filho intercede por nós, mas porque o próprio Pai nos ama.
Como deveríamos orar agora que temos o ouvido, e mais do que isso, o próprio coração do
Rei! Ter como professor o Espírito Santo e como
Advogado o Nosso Senhor Jesus Cristo deveria
ser encorajamento suficiente para nós; mas termos o coração do próprio Rei é o melhor de
tudo: pois o Pai mesmo vos ama. Vocês sabem,
queridos irmãos e irmãs, que pensadores
supérfluos frequentemente erram concernente ao Pai e ao Filho com relação à expiação. Eles
creem que a expiação de Cristo era necessária
para que o Pai amasse o seu povo, enquanto que
a verdade é que o Pai, porque Ele amava seu povo, deu seu Filho Unigênito para ser a
propiciação deles. Deus sempre foi amor, tão
verdadeiro amor como o Filho foi e é, não nos
enganemos sobre isso. De modo que, concernente à intercessão de Cristo, existe a
tendência de certos pensadores em caírem no
erro de supor que o Pai é difícil de agradar, e que
Jesus deve pacificá-lo para que Ele possa atender aos nossos pedidos. Não é assim, pois o Pai
mesmo vos ama. Creio que quando um não
104
convertido vai a Deus, deveria, primeiramente,
fixar seu olhar inteiramente em Jesus o
Mediador, mas para nós que acreditamos em
Jesus, estamos perdoados, estamos em uma situação inteiramente diferente daquela em que
se encontra o descrente. Nós tivemos nossos
pecados apagados, e podemos ir diretamente ao Pai – naturalmente, sempre por intermédio do
Mediador – e enquanto isso nos regozijando
nesta graciosa garantia de que O PAI MESMO
VOS AMA.
“Ore, ore, sempre,
apesar de cansado, fraco e solitário,
a oração se aninha no Trono de abrigo do Pai “.
O texto diz que o Pai nos ama porque nós amamos Jesus, e cremos que Ele veio do Pai. Não
cometa o erro de imaginar que o amor de Deus
por nós é causado por nosso amor para com
Cristo. Não! Nós amamos, porque ele nos amou primeiro – 1 João 4:19. O primeiro amor de Deus
é um amor de benevolência – um amor de
compaixão – um amor para com os indignos e
para os sem nenhum mérito. Deus, por amor, nos perdoa e nos salva; mas existe outro amor,
além desse, do qual nunca devemos esquecer.
Quando Ele nos faz amar o seu Amado Filho,
quando Ele nos faz confiar nele porque cremos que Ele veio do Pai, então o Pai tem um amor de
complacência e de regozijo para conosco. É fácil
105
distinguir a diferença entre estes dois tipos de
amor, já que ele é frequentemente ilustrado na
história humana. Um homem encontra na rua
uma pobre criança, e tendo piedade dela, leva-a para casa, a veste e toma conta dela. Este é um
tipo de amor – o amor da benevolência. Mas
suponha que a criança se desenvolva em um belo rapaz ou numa bela moça que por meio de
sua maneira sedutora se insinue ao próprio
coração daquele que foi tão bondoso com ela na
sua infância, e aí surge um segundo tipo de amor.
O homem diz, “Eu amei aquela criança quando a resgatei, um monte de trapos, coberto de
sujeira, de miséria; mas veja a sua beleza agora.
Veja como este pequenino se afeiçoou ao resto
da família, como ele é grato, como ele me ama; não posso deixar de amá-lo mais do que no
começo”. Este é um outro tipo de amor
inteiramente diferente, e o Senhor ama desta
maneira, apenas de modo infinitamente maior, para com todos os que confiam e amam o seu
Filho! Sabemos que o Pai ama tanto o Filho que,
ao ver que você também O ama, Ele o ama ainda
mais por essa razão. Ele tinha ilimitada confiança em Cristo quando O enviou para este
mundo – e quando Ele vê que você também tem
confiança nele, Ele o ama também, pois vocês
dois concordam neste assunto. Nada une duas pessoas mais do que o amor comum para com o
mesmo objeto. Se existe alguma pessoa que é
106
querida para ambos, de imediato existe uma
ligação entre os dois. Frequentemente o
coração de um homem é conquistado pela
esposa porque, entre os dois, existe um pequenino ser que é querido de ambos! Talvez,
durante uma tola ocasião de raiva, os dois
possam se separar, mas o filho é o laço que os mantém juntos. E entre nós e nosso Deus, num
sentido infinitamente maior do que esta minha
pobre comparação, existe uma maravilhosa
união porque Ele confia em Jesus e nós também confiamos nele. Ele ama Jesus e nós também o
amamos; e por causa disso Nosso Salvador nos
diz: o Pai mesmo vos ama; visto que vós me
amastes e crestes que eu saí de Deus.
Não consigo explicar este maravilhoso mistério, mas quero que saibam que eu amo Cristo e creio que Ele saiu de Deus, apenas para abrir nossas
almas e tentar estabelecer esta sublime verdade
de que o Pai mesmo vos ama. Não é tem pena de
vós, nem promete vos ajudar, nem tem consideração por vós e sim o Pai mesmo vos
ama. Não adianta tentar explicar o que é o amor
– você tem que senti-lo para entender o que ele
é. Você não duvidou das palavras de sua mãe quando era pequeno, e ela o segurou em seus
braços e disse Eu te amo. Você acreditou nela, e
descansou em seu amor e o correspondeu tanto
quanto pôde. Assim o grande Deus lhe diz: Eu o amo porque você ama o meu Filho. Existem
muitos defeitos e muitas falhas em você, mas
107
você ama o meu Filho e por isso eu te amo. Você
não disse há pouco: Senhor, tu sabes todas as
coisas; tu sabes que te amo – João 21:17? Você
disse isso ao Senhor Jesus e porque isto é verdade, o Pai mesmo vos ama. Lembro-me de
quando uma das suaves passagens em Cantares
de Salomão alcançou o meu coração com arrebatadora força – aquele versículo em que o
Noivo Celestial diz à sua esposa: Tu és toda
formosa, amada minha, e em ti não há mancha –
Cantares de Salomão 4:7. Isto é o que o Senhor diz ao seu povo quando os veem Cristo. Quando
Ele percebe que eles amam Cristo, Ele diz efzib
chamar-te-ão Hefzibá – Isaias 62:4, que quer
dizer Meu Regozijo está nela. o Pai mesmo vos ama. Esta pequena frase é não tanto um tema
para pregação como o é para uma calma
meditação. Você precisa ficar sozinho em seu
quarto, sentar e tocar repetidas vezes aquela campainha de prata: o Pai mesmo vos ama. Você
me ama? E por que deveria amar-me? Como
poderia amar-me? Mas Jesus sabe e quando Ele
assim o declara, assim é, glória seja dada ao seu amado Nome!
III – Vamos abordar rapidamente A CONCLUSÃO NATURAL DO CRENTE que ele
deduz destas palavras de Cristo.
A primeira seria: Se tudo isso é verdade, que poder enorme que eu tenho! O Espírito Santo
me predispõe, Cristo pede em meu nome e o
108
próprio Pai sorri para mim dizendo: Vinde, sede
bem-vindo pois eu te amo: ninguém é tão bem-
vindo quanto você é. Peça o que quiser que será
atendido. Mas, amado, você alguma vez realmente acreditou ter tanto poder? Ou você
tem pedido e aguardado quando na realidade
deveria ter pedido e acreditado? Não ficou imaginando que haveria uma pequena
possibilidade de ser ouvido? Já orou como se
seus muitos pedidos e suas abundantes
lágrimas pudessem tocar o duro coração de Deus? suas súplicas têm sido apresentadas
neste estado de espírito? Se assim for, espero
que no futuro você possa assumir a verdadeira
posição de quem crê e diz: Eu sou filho de Deus, e Ele me ama. E eu vou até Ele, por meio do seu
Filho Jesus Cristo, e motivado pelo Espírito
Santo, vou pedir-lhe tudo o que eu precisar, pois
sei que receberei aquilo que pedir no nome de Jesus e por amor ao seu Nome.
Se algum dia você descobrir que tem esse poder – e espero que assim aconteça – não deixe de
usá-lo. Use para os seus filhos, para todos os seus
parentes, para os seus amigos e para os que não
são convertidos. Escolha-os e ore por eles e não descanse até que eles estejam salvos. Ore
também pelo seu pastor, que ficará muito
enriquecido com a oração que você fizer por ele,
você que tem tanto poder junto a Deus. Ore pelas nossas Igrejas. Estes são dias sombrios, mas
você pode trazer um verão espiritual, se você
109
sabe como orar aquela oração fervorosa do justo
que vale muito. A Verdade de Deus parece, por
um tempo, estar sofrendo derrota, e a batalha
pelos direitos cresce mais quente e mais feroz, mas a bandeira da vitória em breve vai flutuar na
brisa se você souber como orar corretamente! A
legião da oração é a legião da conquista! Tragam à frente os homens e mulheres que podem orar
e o diabo vai tremer e fugir, pois ele bem sabe
que aqueles que são poderosos com Deus são
mais poderosos até mesmo do que ele. A história do futuro depende muito das orações do
presente. Se você e outros crentes contiverem
as orações, vocês podem ajudar a trazer um
longo, escuro, inverno frio para a Igreja de Deus, mas se você e eles são despertados a subir, como
Elias que foi ao Monte Carmelo, e com o seu
rosto entre os joelhos, clamou ao Senhor de
Israel, com certeza – assim como o Senhor vive – os céus ficarão cobertos com nuvens e haverá
ruído de abundante chuva – 1 Reis 18:41.
Falo reverentemente, mas com veracidade, quando digo que as chaves dos céus giram
quando usadas pela pessoa que sabe orar. Não
me refiro à oração comum, como alguns fazem, mas à oração como a que estou falando: induzida
pelo Espírito de Deus, inicialmente purificada e
apresentada pelo Salvador, e feita por quem
sabe que o próprio Pai o ama. Fico abismado ao pensar no tremendo poder da oração. Não é
onipotente, mas comanda a onipotência. Não é
110
onisciente, mas a oração é como os próprios
olhos de Deus. Quem pode realmente orar leu
em primeiro lugar o coração de Deus e
pronunciou o que ali está. A oração suplanta o Eterno; o que mais pode ser dito a seu respeito?
Quando Israel pecou contra o Senhor, Moisés
pleiteou a favor da nação culpada mesmo depois que Deus lhe havia dito: agora, pois, deixa-me,
para que a minha ira se acenda contra eles, e eu
os consuma; e eu farei de ti uma grande nação –
Êxodo 32:10. Mas a oração prevaleceu afinal, pois o Senhor se arrependeu do mal que dissera
que havia de fazer ao seu povo – Êxodo 32:14. Que
Deus possa ensinar a você, que é amado do Pai
porque ama o Filho, a orar como Moisés!
De maneira bem cuidadosa, meus irmãos e irmãs em Cristo, devemos mencionar as respostas às orações que tenhamos recebido.
Não seria nem prudente, nem adequado, nem
mesmo possível mencioná-las todas, pois
existirão assuntos de oração entre Cristo e a alma que jamais deverão ser reveladas, a não ser
junto a pessoas especiais ou em ocasiões
especiais. Algumas partes da nossa comunhão
com o Senhor Jesus são por demais sagradas, por demais espirituais, por demais celestiais
para serem mencionadas deste lado dos portões
de pérolas – mas a maioria das respostas do
Senhor aos nossos pedidos poderia até ser escrita nas nuvens para que todos soubessem
delas. Esteja atento para não reter apenas com
111
você estes fatos graciosos, o que seria uma
ingratidão de sua parte. Faça como Davi, que nos
diz: Do meio da angústia invoquei o Senhor; o
Senhor me ouviu, e me pôs em um lugar largo– Salmos 118:5.
Sim, e não só proclame como Deus tem respondido às suas orações, mas conte do poder
da fé em todas as ocasiões que tenha ocorrido.
Fale dos resultados da fé aos seus filhos, para que eles possam contar aos seus filhos no
futuro, e às gerações que virão, para que todos
saibam que TUDO É POSSÍVEL AO QUE CRÊ –
Marcos 9:23. Conte sobre as promessas cumpridas pela fé, sobre a solução de problemas
por meio da fé e o regozijo de suprema
felicidade por meio da fé. Conte à sua vizinhança
que É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar no homem. É melhor refugiar-se no
Senhor do que confiar nos príncipes – Salmos
118:8-9. Diga em alto e bom som: Confiai sempre
no Senhor; porque o Senhor Deus é uma rocha eterna – Isaias 26:4. Diga a todos porque você
sabe que isto é verdade, pois procurou amigos
na hora das dificuldades e não foi ajudado. Que
cometeu até a tolice de esperar por auxílio de homens poderosos, que tinham condições de
ajudá-lo, mas que encontrou apenas desdém e
espanto por estarem sendo incomodados. Conte
a todos que a Majestade Suprema nunca tratou assim nem mesmo o mais simples dos seus
pedidos. Que nunca houve uma resposta ríspida
112
por parte do Trono do Altíssimo, nem uma
rejeição nem desprezo ao menor dos seus
pedidos.
O Senhor tem sido melhor para com você, até mesmo mais do que a sua esperança ou a sua fé acreditavam e esperavam. Deus respondeu
ricamente, ajudou-o eficientemente, alegrou-o
abundantemente e encheu o seu espírito de
conteúdo agradável. Não é em vão que esperamos no Senhor. O caminho da fé é o
caminho da força e da segurança. Como é triste
a sina de quem nunca ora! Pouco importa que
outros poderes você possua; se não tiver poder com Deus, significa que não tem poder nenhum.
Àqueles que nunca oram ou que insultam Deus
com uma forma vazia de orar sem a participação
do coração, chegará um dia em que irão orar. E tão certo quanto vivem e morrem, irão orar e
suas orações não serão atendidas. O rico orou
por uma gota de água para esfriar sua língua
ardente, mas seu pedido foi recusado, pois já era tarde demais para orar – ele poderia ter tido a
Água da Vida para beber se ele tivesse orado
enquanto ele estava sobre a terra! O inferno está
cheio de orações não atendidas, que tiveram como resposta: Mas, porque clamei, e vós
recusastes; estendi a Minha mão, e não houve
quem desse atenção; antes desprezastes todo o
meu conselho, e não fizestes caso da minha repreensão; também eu me rirei no dia da vossa
calamidade; zombarei, quando sobrevier o
113
vosso terror – Provérbios 1:24-26. Peça a Deus, e
Ele o ouvirá se você pedir agora. Mas Quando o
dono da casa se tiver levantado e cerrado a porta
(ver Lucas 13:25) não adiantará bater na porta Naquele dia. Nenhum pedido, gemido ou choro
prevalecerá nessa hora, pois terá passado o dia
da oração e a justiça, de espada em punho, estará à frente do Trono da Misericórdia
impedindo o acesso para sempre.
Possa o Senhor levar todos vocês a acreditarem em Jesus, e amá-lo com um coração ardente e puro, antes que seja tarde, por amor ao seu
nome. Amém.
114
Oração a Deus em Angústia - um
Sacrifício Aceitável
Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio
Dutra.
"invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e tu me glorificarás." (Salmo 50.15)
O Senhor Deus neste Salmo é descrito como
tendo uma controvérsia com o seu povo. Ele
convoca o céu e a terra para ouvi-lo enquanto
pronuncia sua reprovação. Somos informados mais claramente que o Senhor não tinha
qualquer controvérsia com o seu povo sobre o
exterior da sua adoração. Ele não os reprovou por seus sacrifícios e holocaustos. Ele mesmo
fala destes sacrifícios simbólicos e diz, "De tua
casa não aceitarei novilhos, nem bodes, dos teus
apriscos." (v.9). sua queixa não foi a respeito de cerimônias e rituais visíveis e isso mostra que
Ele não dá tanta importância às coisas
exteriores, como a maioria dos homens supõe.
Sua reclamação foi a respeito de adoração interior, da adoração da alma, do culto
espiritual! sua reprovação era de que o seu povo
não oferecia ação de graças e oração e que o seu comportamento era tão incoerente com suas
profissões que, claramente, seus corações não
115
acompanhavam suas formalidades exteriores.
Esta foi a essência da acusação contra eles. Não
tinham a verdadeira comunhão com Deus, e
mantinham apenas a aparência dela. Vemos, então, que o culto de coração é a coisa mais
preciosa aos olhos do Senhor.
Também não é difícil ver por que é assim, pois é claro que se um homem tivesse mantido o ritual da antiga Lei até o máximo, ele ainda poderia
não ser, com sinceridade, um adorador de Deus
afinal. Ele poderia conduzir rebanhos inteiros
de suas ovelhas para a porta do templo para o sacrifício e ainda assim poderia não sentir
qualquer reverência espiritual em relação ao
Altíssimo. Provou-se vezes sem conta que o
maior cuidado e zelo para com cerimônias externas é bastante consistente com a ausência
absoluta de qualquer verdadeira compreensão
de Deus e do amor sincero por Ele. O hábito pode manter um homem exteriormente religioso
enquanto sua mente se esqueceu do Senhor!
Sim, a consciente falta de graça interna e vital
pode levar um homem a um zelo mais intenso em formalidades, a fim de esconder o seu
defeito.
Está escrito: "Israel abandonou o seu Criador e construiu templos." Você acha que se ele
constrói templos ele deve reconhecer o seu Deus, mas não foi assim. Dentro desses edifícios,
ele se escondeu dAquele que não habita em
116
templos feitos por mãos. Sob as dobras das
vestes, os homens sufocam seus corações para
que não venham a Deus. Belas música afogam o
grito da alma contrita e a fumaça de incenso torna-se uma nuvem que esconde a face do
Altíssimo! Grandes sacrifícios podem muitas
vezes ser uma oferta feita para alimentar o orgulho pessoal de um homem rico. Sem
dúvida, alguns reis que deram grandes
contribuições para a casa de Deus fizeram isso
para mostrar a sua riqueza ou para mostrar sua generosidade, um pouco no espírito de Jeú, que
disse a Jonadabe, filho de Recabe, "Venha
comigo e veja o meu zelo para com o Senhor."
Um grande sacrifício pode ser nada mais do que
uma oferta para a popularidade e por isso é uma oferta ao egoísmo e vaidade. Com tais
sacrifícios, Deus não poderia estar satisfeito. Ai,
como é fácil contaminar a adoração de Deus e anular a sua qualidade até que, como o leite que
fica azedado, pode ser totalmente rejeitada.
Antes de proclamar as palavras do nosso texto, o Senhor disse no verso anterior o seguinte:
"Oferece a Deus sacrifício de ações de graças e cumpre os teus votos para com o Altíssimo;”,
porque havia perdido de seu povo, em primeiro
lugar, a sua gratidão. E em seguida, perdeu neles
aquela confiança santa que iria levá-los a recorrer a Ele na hora da necessidade, e
portanto, lhes diz: "Invoca-me no dia da
117
angústia, eu te livrarei, e tu me glorificarás ".
Irmãos e irmãs, vocês têm falhado nessas duas
coisas preciosas? Você falha em
agradecimento? O Senhor multiplica os seus favores para muitos de nós - devemos
multiplicar nossos agradecimentos? A terra
devolve uma flor para cada gota de orvalho - devemos nós, da mesma forma, responder à
misericórdia abundante? Será que as bênçãos
da sua Providência e os favores de sua Graça nos
ensinam a cantar salmos para o sempre Misericordioso?
Será que não é muito frequente permitirmos que as misericórdias divinas venham a nós sem
serem dignas de uma palavra de gratidão?
Dedicamos um tempo para o louvor de Deus? Vocês, meus irmãos e irmãs, dão graças
em tudo? Eu também posso me aventurar a
perguntar se você paga seus votos a Ele? Em tempos de doença e tristeza você diz, "Gracioso
Senhor, se eu for recuperado, ou se eu for
livrado dessa condição, eu vou ser mais crente,
eu serei mais consagrado. Vou me dedicar somente a Ti, ó meu Salvador, se agora me
restaurares."
Você está atento a estes votos? É uma questão delicada, mas eu a coloco claramente, porque o
voto não resgatado é uma ferida no coração. Se você falhou em seus agradecimentos, lembre-
se que estas são as coisas para as quais Deus olha
118
mais do que qualquer observância cerimonial
ou serviço religioso. Ele quer que você traga sua
gratidão diária e seja fiel a seus votos a Ele, pois
é digno de ser louvado e isto é conhecido a Ele pelo cumprimento do voto.
Deixe-me dizer que Deus deve considerar isto como sendo uma das formas mais aceitáveis de
adoração, a saber, que devemos invocá-lo no dia
da angústia! Ele nos diz que o nosso apelo por
sua ajuda na hora da angústia será mais aceitável para Ele do que as oblações que sua
própria Lei ordenou, mais agradável do que
todos os bois e bodes que príncipes poderiam
apresentar em seus altares!
São nossos gritos de angústia e nossos apelos de esperança aceitáveis a Deus? Então vamos
clamar fortemente a Ele! Alguns de vocês estão em águas turbulentas? Invocai-o! Você está no
deserto com fome? Invocai-o! Você está em
covas de leões e entre as montanhas dos
leopardos? Invocai-o! Se você está em perigo, assim como sua alma ou seu corpo, não hesite
em orar de uma vez, mas diga para si mesmo:
"Por que eu deveria desistir? Deixe-me dizer ao
Senhor da minha tristeza rapidamente, pois se Ele conta o meu apelo como um sacrifício digno,
com certeza eu vou apresentá-lo com todo o
meu coração!"
Que o Espírito Santo, o Consolador, nos permita clamar a Deus no dia da angústia porque isto traz
119
glória a Ele. Peço que você observe o tempo que
é especialmente mencionado. Invocar a Deus
em qualquer tempo honra a Ele, mas invocá-lo
no dia da angústia tem uma marcação especial que é peculiarmente agradável ao Senhor,
porque isto produz Glória peculiar ao seu nome.
Observe, então, em primeiro lugar, que quando um homem clama a Deus, sinceramente, no dia
da angústia, isto é um reconhecimento
verdadeiro de Deus.
Devoções exteriores supõe um Deus, mas a
oração no dia da angústia prova que Deus é um fato para o suplicante. O suplicante aflito não
tem dúvida de que há um Deus, porque está
recorrendo a Ele quando a mera formalidade
pode produzir nenhum conforto. Deus não é um mero nome ou uma superstição para ele, pois
tem certeza de que há um Deus, porque está
clamando a Ele numa hora quando uma farsa seria uma tragédia e uma impostura seria uma
zombaria amarga. O suplicante aflito percebe
que Deus está perto dele. Tem uma percepção
da onipotência de Deus, pela qual Ele pode ajudar, e da bondade de Deus, que o levará a
ajudar.
Observe a seguir, que a promessa é pessoal. "Eu te livrarei." Não é dito: "Meus anjos devem fazê-
lo", mas o Senhor Deus se compromete a resgatar seu povo. "Eu serei um muro de fogo ao
redor deles." Então, também, é pessoal ao seu
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objeto pois o próprio homem que clama a Deus
em apuros deverá ser um participante da
bênção! "Invoca-me no dia da angústia, eu te
livrarei". É pessoal, pessoal para você! Portanto, caro amigo, acredite nesta promessa pessoal do
seu Deus!
Lembre-se, também, que é permanente. Você pediu esta promessa, alguns de vocês, há 50
anos, é tão certo hoje como era então. A
promessa de Deus que foi feita há 2.000 anos
atrás é tão válida como se tivesse sido proferida este dia.
Por último, se você confiar no seu Deus em sua aflição será livrado, e o Senhor será glorificado na sua conduta. Quando um homem ora a Deus
nas horas de angústia e recebe livramento,
assim como ele tem a certeza de obtê-lo, então
ele honra seu grande Ajudador ao contemplar a maneira em que a promessa foi cumprida,
adorando e bendizendo o Senhor amoroso por
tal interposição graciosa.
Em seguida, você irá honrá-lo pela gratidão do seu coração no qual a memória de sua bondade
estará sempre gravada. Esta gratidão devota de
vocês vai levá-los, no devido tempo, a darem
testemunho da sua fidelidade. Outros ficarão impressionados quando contar a história
daquilo que o Senhor tem feito por sua alma.
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Ao mesmo tempo, você, pessoalmente, vai crescer na fé pela experiência do amor e do
poder de seu Pai celestial. E nos próximos dias
você vai glorificá-lo pelo aumento da paciência e confiança. Você vai dizer: "Ele esteve comigo
em seis angústias e Ele vai estar comigo na
sétima. Tenho provado, meu Deus, e eu não me atrevo a duvidar dele." sua serenidade de
espírito será mais profunda e duradoura, e você
será capaz de desafiar o poder de Satanás ao
tentar roubar a sua alegria em Deus.
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Incentivo a Confiar e Orar
Partes de um sermão de Charles Haddon
Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“certamente, se compadecerá de ti, à voz do teu clamor, e, ouvindo-a, te responderá.” (Isaias
30.19 b)
O grande pecado do homem é sua alienação de
Deus. Ele tem dito em seu coração: "Não há
Deus", e em sua vida, ele trabalha para fugir da Presença Divina. A viagem para o país distante
não é feita apenas por causa da vida desregrada,
mas para que ele possa sair da casa do seu Pai.
Alguém poderia pensar que o homem tornaria para o Senhor, no dia da angústia, como disse
Oseias: "Na sua aflição eles vão procurar-me
mais cedo." Mas isso, infelizmente, não ocorre
na verdade e com sinceridade, pois muitas vezes o pecador segue o exemplo de Acaz, de quem
está escrito: "No tempo da sua angústia
transgrediu ainda mais contra o Senhor."
Todas as provações e dificuldades do mundo não irão, por si mesmas, levar um homem a
Deus, mas em vez disso o apressarão para a
rebelião, o desespero, e dureza de coração! O homem vai olhar para todas as direções antes do
que olhará para Deus. Ele vai antes, como Saul,
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procurar a ajuda de uma bruxa ou de um
demônio para buscar o Deus vivo. Ele vai, sim,
fazer uma aliança com a morte e uma aliança
com o inferno do que transformar o seu coração para o seu melhor Amigo e Ajudador. Está
escrito: "Ai dos que descem ao Egito para buscar
socorro, e que se estribam em cavalos, e têm confiança em carros e nos cavaleiros, porque
são muitos, porque são muito fortes, mas não
atentam para o Santo de Israel, e não buscam o
Senhor! "
Vão é o aviso, pois o homem ainda se inclina sobre um braço de carne e confia numa coisa
tola e fantasiosa em vez de confiar no Deus
Todo-Poderoso. O homem muda totalmente a
sua posição de confiança muitas vezes e agora depende disto, e depois, daquilo.
Nem é somente quando ele é enganado que ele persiste na sua insensatez, pois continua na
mesma, quando ele sabe que pagou caro por sua loucura e tem sido empobrecido por gastar seu
dinheiro naquilo que não é pão. O Egito esvaziou
o seu tesouro e não lhe deu qualquer ajuda. Ele
tem pensamentos dolorosos. Usa sua força mental. Faz esquemas. Ele se preocupa.
Preocupa-se em encontrar, em suas
confidências carnais, alguns poucos consolos. E
assim gasta a sua vida e seca até a medula dos ossos em busca na criatura daquilo que pode tão
facilmente ser encontrado no Criador!
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Mesmo quando empobrecido e desgastado com incredulidade, o homem não vai olhar para o
Senhor! Mesmo assim, ele adora alguma coisa
nova, que lhe promete assistência. Ele parece ansioso e disposto para ser enganado! Se, enfim,
toda a confiança carnal é excluída por pura
incapacidade de toda esperança, ele vai deitar e morrer, antes do que buscar o Senhor! Ele sofre,
ah, quão cruelmente, pelas alegrias vãs em que
confiava, mas que ainda as perseguiria se
pudesse. Ele vai mais cedo perecer com fome do que confessar o seu pecado contra o céu e
começar a viver pela fé em Deus!
Este é o fruto da Queda, a evidência negra da nossa depravação, a mãe fecunda de destruição
- "o pendor da carne é inimizade contra Deus."
Devemos ter algo para confiar, aquilo que possamos ver com nossos olhos e apalpar com
as nossas mãos - no Jeová invisível não podemos
confiar e ainda assim, sozinho, é o Deus vivo e
verdadeiro! Oh que fôssemos sábios, que entendêssemos e disséssemos isso em nossos
corações: "Vinde, e tornemos para o Senhor,
porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a
ferida e a ligará." Agora todo esse tempo, enquanto o homem está lutando para ficar
longe de Deus, o Senhor está disposto o
suficiente para recebê-lo, perdoá-lo, para
abençoá-lo e enriquecê-lo com toda a alegria! Nem somente está disposto, mas é capaz,
plenamente capaz de ajudar o coração
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perturbado em cada dificuldade e confortar
debaixo de toda angústia.
Por isso que o Senhor espera para que possa ter misericórdia e Ele é exaltado por mostrar
misericórdia. Se a falta de vontade fosse da parte
de Deus, poderíamos muito facilmente compreender e, em certa medida, justificar a
falta de vontade do homem para voltar-se para
Deus. Mas quando o Senhor incentiva o homem
a retornar, convida-o, arrazoa com ele, suplica-lhe e faz todos os preparativos para a sua
recepção, por que então é que o homem ainda se
recusa? seu Senhor deu ricas promessas de toda
a ajuda que ele possa desejar e é ingratidão imperdoável e obstinação perversa por parte do
homem que ainda persista em se manter
distante do seu Criador! Ele escolhe perecer
para sempre, antes do que confiar no seu Deus! Não é este o caso de alguns que leem estas
minhas palavras?
Desejo neste momento expor a graça de Deus e a sua prontidão para ouvir o clamor dos
necessitados, com a esperança de que alguns
aqui presentes, que possam ter esquecido isso,
possam ouvi-lo e serem encorajados a dizer: "Eu me levantarei e irei ter com meu Pai".
Ao tentar expor a Graça transbordante do
Senhor, nosso Deus, vou em primeiro lugar falar sobre o fato de que essa garantia é
particularmente adequada para certas pessoas.
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"Ele certamente, se compadecerá de ti, à voz do
teu clamor, e, ouvindo-a, te responderá.” Isto é
aplicável e confortável para todas as pessoas
aflitas! Para os tais eu me dirijo. Você que está deprimido neste momento pela dor pesada. As
coisas têm ido mal com você, e não prospera nos
negócios, ou está doente no corpo ou um ente querido está em casa definhando. Não admira
que esteja se sentindo extremamente
sobrecarregado em espírito! Ao mesmo tempo,
você está pouco à vontade quanto ao seu próprio estado. O ferro está entrando em sua alma!
Enquanto atravessa esta escuridão, você será
fortemente tentado a pensar duramente de
Deus e culpá-lo pelos problemas que agora o cercam! No entanto, isso só vai piorar as coisas e
aumentar o seu pecado e sua tristeza! Talvez,
também, você estará pronto para se desesperar
e dizer: "Não há esperança, estou tomado como em uma rede e não há escapatória para mim."
Possivelmente, você estará pronto para tentar algum método errado por meio de ajudar a si
mesmo das presentes angústias. Satanás irá
sugerir a você caminhos desonestos, impuros, ou imprudentes, que possuem alguma sombra
de alívio. Este é o seu perigo neste momento e,
compadecido de você, o Senhor nos convida a
assegurar-lhe que há um caminho muito mais sábio aberto para você, ou seja, voltar-se para
Ele, pois Ele vai se compadecer de você com a
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voz de seu clamor, e quando Ele ouvir, Ele irá lhe
responder!
Existe ajuda em Deus para a sua provação presente, qualquer que seja a forma que ela
assuma. A Infinita Sabedoria, entende isto e o
Poder Infinito pode ajudá-lo através disto. Deus pode retirar de você o que está sofrendo, ou
pode prevenir a ocorrência daquilo que você
teme. Ou, se, em sua sabedoria divina, Ele vê a
necessidade de fustigá-lo com a vara, Ele pode permitir que você o suporte e assim o faça
retornar para o seu bem eterno! Esteja bem
certo de que Ele não aflige nem entristece os
filhos dos homens ou tem qualquer prazer em suas tristezas. Ele se compadece daqueles que
estão aflitos, pois é muito sensível e cheio de
compaixão. E está sempre pronto para socorrer
o sofrido. Há uma razão para a provação pesada que agora você está experimentando - dependa
disso e não se queixe.
O Senhor não está agora lhe visitando com ira, mas com bondade em sua severidade. Você não
pode acreditar nisso?
É realmente assim e sua força, o seu conforto, a sua libertação final de tudo isso virá através de
seu conhecimento que isso é verdade e quando
agir em conformidade! Entregando-se a Deus e
confiando nele na provação, você obterá a libertação. "Porque assim diz o Senhor Deus, o
Santo de Israel: voltando e descansando, sereis
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salvos; no sossego e na confiança, estará a vossa
força."
Diga: "A partir deste momento, meu Pai, eu vou procurá-lo e você será meu Guia. Por meio de
Jesus Cristo, seu Filho, vou me aproximar de
você, confiando em seu sangue precioso. Ajuda-me e livra-me." Você deve encontrá-lo pronto
para perdoar e salvá-lo e viverá para louvar
Aquele cuja "misericórdia dura para sempre."
Deixe-me sussurrar em seus ouvidos a doce certeza do texto: "certamente, se compadecerá
de ti, à voz do teu clamor, e, ouvindo-a, te
responderá.”
A segunda classe de pessoas a quem o texto será muito aplicável é constituída por aqueles que
estão preocupados por causa do pecado -
pecadores que estão começando a sentir a iniquidade de seus pecados, que estão neste
momento sendo derrubados com um
sentimento de culpa e com o medo da punição.
Agora, a fim de escapar do pecado e do castigo, a primeira coisa a fazer é voltar para o seu Deus, a
quem você ofendeu, pois somente Ele pode
perdoá-lo. Deve haver um retorno em
arrependimento e um olhar dos olhos da fé para Deus em Cristo Jesus, ou você vai morrer em
seus pecados.
Uma aceitação alegre lhe espera, se você voltar para casa de seu Pai, Ele não vai censurar-lhe
por seus erros, mas tirará os trapos e lhe vestirá
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com o melhor manto da justiça de Cristo! Ele vai
encher a casa com música e se deleitará em ti.
Você não precisa fazer nada para tornar o
Senhor propício, pois Ele já é amor! Você não precisa se submeter a penitências, nem passar
pela angústia grave do espírito, a fim de tornar
Deus mais misericordioso, pois sua graça abunda! Em Cristo Jesus, o fluxo de Amor Divino
flui livremente, rápida e ricamente para o pior
dos homens! Somente volte para Deus, contra
quem tinha transgredido, reconhecendo a sua transgressão e coloque a sua confiança nele
através de Jesus Cristo, seu Filho, e "Ele
certamente, se compadecerá de ti, à voz do teu
clamor, e, ouvindo-a, te responderá.”
Se você olhar para a sua própria sabedoria, é evidente que você não pode guiar o seu próprio
caminho através do deserto sem caminhos da
vida. Qual é a sua sabedoria, senão a essência da loucura? Volte, então, com confiança infantil, a
Deus. Venha, crente, para o mesmo lugar onde
sua vida espiritual começou a encontrar a força,
a sabedoria, o descanso e tudo no Deus vivo! Que este versículo sorria para você e lhe dirija para
Deus "Ele "certamente, se compadecerá de ti, à
voz do teu clamor, e, ouvindo-a, te responderá.”
Esta CERTEZA que aqui é citada está muito
firmemente fundamentada. As palavras de nosso texto não são de velhas fábulas, elas não
são um conto bonito que as mães, às vezes dizem
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a seus filhos - uma história feita para agradá-los,
mas que não é verdade. O texto não é ficção, é
um dito fiel da boca de Deus. "Ele vai se
compadecer de você." Qual, então, é o fundamento desta certeza? E em primeiro lugar,
eu diria, a base do nosso conforto é encontrada
na promessa comum de Deus, como mencionada no texto e em muitas declarações
semelhantes que estão espalhados por toda a
Escritura.
Você quer saber por que devemos voltar para
Deus e confiar nele? É porque assim diz o Senhor, que não pode mentir, nem mudar - "Ele
"certamente, se compadecerá de ti, à voz do teu
clamor, e, ouvindo-a, te responderá.” Isto é uma
parte de sua Palavra infalível, não é? É verdade, então você não tem nenhuma dúvida sobre que
seja assim! Venha, então, com sua Bíblia aberta,
coloque o dedo sobre as palavras e diga: "Eu creio que Deus está aqui declarando sua
disposição de ser muito gentil para comigo e
ouvir a minha oração." Agora, o que mais você
precisa? Será que uma criança precisa de qualquer garantia melhor do que a palavra de
seu pai? Será que um verdadeiro discípulo
necessita de qualquer evidência mais forte do
que a promessa de seu Mestre?
"Está escrito." Isso não é o suficiente para você? Vá de joelhos e implore o cumprimento desta
Palavra de Deus de uma vez! Se o seu amigo
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tinha dito, "Eu vou conceder o seu pedido," você
não acredita nele? Não duvide, então, do seu
Deus, do seu Pai! Ele nunca lhe deu motivos para
desconfiança da sua Palavra. Não são todas as suas promessas fiéis? Venha, então, a garantia
está bem fundamentada. Se houvesse apenas
essa promessa, ela seria o suficiente, mas veja quantas existem! As graciosas promessas da
Palavra de Deus são tão numerosas como as
estrelas que iluminam o céu. "Eu nunca te
deixarei, nem te desampararei." "Minha graça é suficiente para você." "Não tenha medo, eu vou
te ajudar." "Aquele que crê não será confundido."
"Confia no Senhor e faze o bem, então você deve
morar na terra e verdadeiramente será alimentado." Eu não preciso citá-las, porque
você as conhece bem e seu número é muito
grande. Mas todas elas são feitas à fé e nenhuma
delas à incredulidade! Tenha fé nisto e creia no seu Deus e que a sua Palavra deve ser cumprida
em sua experiência feliz!
Um segundo terreno sobre o qual essa garantia está construída é a natureza da graça de Deus. O
texto dá a entender isso. "Ele vai se compadecer
de você." É a natureza de Deus, o Deus de Israel, é muito generoso em suas relações! Ele abre as
mãos e supre as necessidades de todos os seres
vivos. Ele é o Deus de graça! Ele também não
para por aí, pois enquanto é generoso para as suas criaturas carentes, Ele também é
misericordioso para com as suas criaturas
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pecadoras! O julgamento é a sua estranha obra,
mas tem prazer na misericórdia! Nada lhe
agrada mais do que passar sobre a transgressão,
a iniquidade e o pecado. Para que Ele pudesse usar seu atributo de misericórdia Ele sacrificou
o Amado da sua alma, o seu próprio Filho, Jesus!
Ele o entregou por todos nós - para que pudesse ter misericórdia de nossa raça culpada.
Isto é certo quanto ao caráter de Deus, que é rico em amor, graça e misericórdia, para que Ele tenha misericórdia daqueles que o buscam.
Vamos buscá-lo de uma vez, cada um de nós!
Além de tudo isso, Ele prometeu dar o Espírito Santo para ajudar na oração, ajudando as nossas
fraquezas, porque não sabemos o que havemos
de pedir como convém. Ele iria dar o Espírito
Santo e ainda fazer com que a oração seja ineficaz? Isto não é concebível! deleita a Deus
ouvir os clamores de suas criaturas! "Quando ele
ouvir tuas orações, Ele vai te responder" - é o que
diz o texto! Será que Ele não disse: "Antes de clamarem eles, eu responderei, estando eles
ainda falando, eu ouvirei "?
Que o Espírito Divino lhe ajude a orar neste dia! Se você orar e confiar nesse dia, será para você
como o início do dia, e de agora em diante você
deve deliciar-se na abundância de paz! Oh
crente, deve ser verdade para você, "Sua alma repousará no bem, e a sua descendência
herdará a terra"! Que o bom Espírito do Senhor
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derrame sobre você tal graça que será
abençoado e se tornará uma bênção para os
outros! Você deve caminhar alegremente
diante do Senhor nesta terra dos moribundos e, em seguida, deve permanecer com Ele para
sempre, acima, na terra dos vivos! Deus abençoe
a todos por amor do seu nome. Amém.
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A intercessão do Espírito Santo
Partes de um sermão de Charles Haddon
Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio
Dutra.
"Também o Espírito ajuda as nossas fraquezas: porque não sabemos o que devemos e o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito
mesmo intercede por nós com gemidos
inexprimíveis. E aquele que sonda os corações
sabe qual é a mente do Espírito, porque é ele intercede pelos santos de acordo com a vontade
de Deus." (Romanos 8.26,27)
O apóstolo Paulo estava escrevendo para um
povo em provação e aflição, e um de seus objetivos era o de lembrá-los dos rios de
conforto que estavam fluindo próximos deles.
Ele, antes de tudo despertou suas mentes puras
por meio da lembrança quanto à sua filiação, "pois” diz ele "os que são guiados pelo Espírito de
Deus, esses são filhos de Deus." Estavam,
portanto, sendo incentivados a participar de
Cristo, o irmão mais velho, com quem tinham se tornado co-herdeiros, e eles foram exortados a
sofrer com ele, para que pudessem ser
glorificados com ele. Tudo o que eles
suportaram veio da mão do Pai, e isso deveria consolá-los. Mil fontes de alegria são abertas
nessa abençoada adoção. Bendito seja o Deus e
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Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual
temos sido gerados na família da graça.
Quando Paulo tinha aludido a esse assunto consolador ele se virou para a próxima base de conforto, pela qual somos sustentados sob as
presentes provações com esperança. Há uma
glória maravilhosa reservada para nós, e
embora ainda não possamos entrar nela, senão em harmonia com toda a criação, devemos
continuar a gemer, mas a própria esperança
ministrará força para nós, e nos permitirá
suportar com paciência “essas aflições leves, que são, apenas por um momento. "Isso também
é uma verdade cheia de refrigério sagrado: a
esperança vê uma coroa reservada, mansões
que Jesus preparou para nós, e com a visão arrebatadora ela sustenta a alma sob as tristezas
da hora. A esperança é a grande âncora por cujo
meio enfrentamos a presente tempestade.
O apóstolo, em seguida, apresenta uma terceira fonte de conforto, ou seja, a permanência do
Espírito Santo com o povo do Senhor. Ele usa a
palavra "também" para insinuar que, do mesmo
modo como a esperança sustenta a alma, igualmente o Espírito Santo nos fortalece sob a
provação. Esperança operada espiritualmente
em nossas faculdades espirituais, e assim o
Espírito Santo, de alguma maneira misteriosa, opera divinamente sobre as faculdades recém-
nascidas do crente, para que ele se mantenha
136
firme sob suas fraquezas e enfermidades. Em
sua luz veremos a luz: Peço, portanto, que
possamos ser ajudados pelo Espírito enquanto
nós consideramos suas operações misteriosas.
O Espírito Santo nos ajuda a suportar a enfermidade do nosso corpo e da nossa mente, ele nos ajuda a carregar a nossa cruz, seja dor
física, ou depressão mental, ou conflito
espiritual, ou difamação, ou pobreza, ou a
perseguição. Ele ajuda a nossa fraqueza, e com um ajudante tão divinamente forte não
precisamos temer o resultado. A graça de Deus
é suficiente para nós, sua força será
aperfeiçoada na fraqueza.
Penso, queridos amigos, vocês todos admitirão, que se um homem pode orar, seu problema é ao
mesmo tempo aliviado. Quando sentimos que temos o poder de Deus e podemos obter
qualquer coisa que peçamos de suas mãos,
então, nossas dificuldades deixam de nos
oprimir. Lançamos nosso fardo sobre o nosso Pai celestial e somos tomados de uma confiança
infantil, e ficamos muito contentes em suportar
o que quer que sua santa vontade possa fixar
sobre nós. A oração é uma grande saída para o sofrimento. Banhamos nossa ferida no
unguento da oração, e a dor é abrandada e a
febre é removida.
Podemos ser levados a tal perturbação de mente, e perplexidade de coração, que não
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sabemos como orar. Vemos o propiciatório, e
percebemos que Deus nos ouve: não temos
nenhuma dúvida sobre isso, pois sabemos que
somos seus filhos prediletos, e ainda assim mal sabemos o que pedir. Caímos em tal peso de
espírito, e emaranhamento de pensamento, que
o remédio da oração, que temos sempre para ser infalível, parece ser tirado de nós. Aqui, então,
em cima da hora, como um socorro bem
presente na hora da angústia, vem o Espírito
Santo. Ele se aproxima para nos ensinar a orar, e desta forma ele ajuda a nossa fraqueza, alivia o
nosso sofrimento, e nos permite suportar o
pesado fardo sem desmaiar sob a carga.
Se o crente pode fazer qualquer coisa e tudo para
Deus, então ele aprende a se gloriar na fraqueza, e alegrar-se na tribulação, mas às vezes estamos
em tal confusão de espírito que não sabemos o
que havemos de pedir como convém. Em certa medida, através da nossa ignorância, nós nunca
sabemos o que havemos de pedir até que
sejamos instruídos pelo Espírito de Deus.
Vindo em nosso auxílio em nosso espanto ele
nos instrui. Esta é uma de suas operações frequentes sobre a mente do crente: "ele vos
ensinará todas as coisas." Ele nos instrui quanto
à nossa necessidade, e quais são as promessas
de Deus, que se referem a essa necessidade. Ele nos mostra onde estão nossas deficiências, o
que os nossos pecados são, e quais são as nossas
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necessidades, ele lança uma luz sobre a nossa
condição, e nos faz sentir profundamente nossa
impotência, pecaminosidade, e extrema
pobreza, e, em seguida, ele lança a mesma luz sobre as promessas da Palavra. Sob essa luz ele
faz brilhar a promessa em toda a sua veracidade,
certeza, doçura e adequação, para que nós, pobres filhos trêmulos dos homens, ousemos
tomar a palavra em nossa boca, que veio pela
primeira vez da boca de Deus, e depois vem com
ele como um argumento, para pleitearmos perante o trono da graça celestial. Nossa vitória
na oração encontra-se na reivindicação:
"Senhor, faze como disseste."