O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

37
I Mónica de Almeida Santos Gomes da Costa Porto, Maio de 2020 O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE VÍTIMAS APÓS CATÁSTROFES NATURAIS E PROVOCADAS PELO HOMEM. THE DENTIST’S ROLE IN THE RECOGNITION OF VICTIMS AFTER NATURAL AND MAN-MADE CATASTROPHES.

Transcript of O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

Page 1: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

I

Mónica de Almeida Santos Gomes da Costa

Porto, Maio de 2020

O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE VÍTIMAS APÓS CATÁSTROFES NATURAIS E PROVOCADAS PELO HOMEM.

THE DENTIST’S ROLE IN THE RECOGNITION OF VICTIMS AFTER NATURAL AND MAN-MADE CATASTROPHES.

Page 2: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

II \MASGC 2020

O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO

RECONHECIMENTO DE VÍTIMAS APÓS

CATÁSTROFES NATURAIS E PROVOCADAS PELO

HOMEM.

Artigo de revisão bibliográfica submetido à Faculdade de Medicina Dentária

da Universidade do Porto para obtenção do grau de Mestre em Medicina

Dentária

AUTORA:

Mónica de Almeida Santos Gomes da Costa

Aluna do Mestrado Integrado em Medicina Dentária da Faculdade de Medicina Dentária da

Universidade do Porto

Contacto: [email protected]

ORIENTADORA:

Professora Doutora Inês Alexandra Costa de Morais Caldas

Professora Associada da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto

Regente da Unidade Curricular de Medicina Dentária Forense

Contacto: [email protected]

Page 3: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

III \MASGC 2020

Page 4: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

IV \MASGC 2020

Agradecimentos

À minha mã’,

Por me ter sempre amado, apoiado e por me ter obrigado a prometer

que nunca iria desistir dos meus sonhos, por mais escuro que o caminho se

tornasse. Sei que olharás sempre por mim! Estás sempre comigo, onde quer

que estejas!

À minha ‘vó,

Por me ter sempre mostrado e demonstrado que tudo na vida se

consegue alcançar, desde que trabalhemos para isso. Obrigada pelo exemplo

de força e persistência.

Ao meu pá’,

Por me ter ensinado a lutar, a erguer-me quando caio e a sorrir

perante as dificuldades. De igual importância do que as “mulheres-guerreiras”

da minha vida, sempre a meu lado, és o grande exemplo de superação e

resiliência. Juntos somos mais fortes!

Sem os meus três pilares nada teria sido possível. Não há palavras suficientemente

justas para descrever o quão agradecida estou.

Page 5: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

V \MASGC 2020

Ao João,

Por ser a minha caixa-forte, a minha alegria em tempos de dor e choro, o meu sol em

tempos de chuva, o meu tudo quando me sinto nada.

À restante família, à Madalena, às “meninas” e aos amigos e amigas,

Por todo o amor e amizade que me dão, por estarem sempre prontos a dar uma

palavra de conforto e por me darem sempre a mão.

À Prof.ª Dr.ª Inês Caldas,

Por me ter inspirado, por ter aceite ser minha orientadora e por me

motivar a fazer mais e melhor.

Page 6: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

VI \MASGC 2020

Lista de abreviaturas

ADN – Ácido Desoxirribonucleico

AM – Antemortem

DVI - Identificação de vítimas de desastres em massa

ID - Identificação

INTERPOL – Organização Internacional da Polícia Criminal

MDF – Medicina Dentária Forense

MD – Médico(s) Dentista(s)

n.d. – Dados não definidos

PM – Postmortem

RFID - Radio frequency identification

RX – Radiografia(s)

Page 7: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

VII \MASGC 2020

Índice

Lista de abreviaturas .................................................................................................................... VI

Índice de tabelas ........................................................................................................................ VIII

Resumo .......................................................................................................................................... 1

Abstract ......................................................................................................................................... 2

Introdução ..................................................................................................................................... 3

Materiais e métodos ..................................................................................................................... 6

O MD no local da catástrofe.......................................................................................................... 7

Resultados ................................................................................................................................... 10

Catástrofes Naturais ................................................................................................... 10

Catástrofes provocadas pelo Homem ........................................................................ 10

Acidente ferroviário (descarrilamento/colisão) ..................................................... 11

Acidente náutico / rodoviário (descarrilamento/colisão) ...................................... 11

Acidente de aviação (despenhamento/colisão) ..................................................... 12

Desastre Criminal ................................................................................................... 13

Discussão ..................................................................................................................................... 14

Propostas para contornar dificuldades na ID ............................................................. 18

Conclusão .................................................................................................................................... 21

Bibliografia .................................................................................................................................. 23

Anexos ......................................................................................................................................... 27

1 - Resultados obtidos acerca do Tsunami de 2004 no Sudeste Asiático .................. 27

2 - Declaração de Autoria de Trabalho ....................................................................... 28

3 - Parecer de aceitação do orientador ...................................................................... 29

Page 8: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

VIII \MASGC 2020

Índice de tabelas

Tabela I – Resumo de algumas das catástrofes naturais ocorridas e dos métodos de ID

das vítimas ................................................................................................................................... 10

Tabela II - Resumo de alguns dos acidentes ferroviários ocorridos e dos métodos de ID

das vítimas ................................................................................................................................... 11

Tabela III - Resumo de alguns dos acidentes náuticos/rodoviários ocorridos e dos

métodos de ID das vítimas .......................................................................................................... 11

Tabela IV - Resumo de alguns dos acidentes de aviação ocorridos e dos métodos de ID

das vítimas ................................................................................................................................... 12

Tabela V - Resumo de alguns desastres criminais ocorridos e dos métodos de ID das

vítimas ......................................................................................................................................... 13

Page 9: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

1 \MASGC 2020

Resumo

Introdução: Sendo a vida um bem precioso, é imperativo que cuidemos dela e

tentemos preservá-la ao máximo. No entanto, a sociedade vive cada vez mais marcada por

calamidades, quer de causa natural quer provocada pelo Homem, sendo que a probabilidade

de sermos vítimas de um ataque terrorista, desastre natural ou outro fenómeno catastrófico é,

infelizmente, cada vez maior.

Uma vez ocorrida a calamidade, é crucial que todos os sobreviventes sejam

prontamente ajudados e que todos aqueles que não resistiram sejam rapidamente

reconhecidos, de modo a poderem ser devolvidos aos seus entes queridos.

Objectivo: Analisar o impacto que o Médico Dentista (MD) pode ter no processo de

identificação das vítimas de um dado evento catastrófico (desastre natural ou provocado pelo

Homem).

Materiais e métodos: Utilizando a plataforma Pubmed foi realizada pesquisa acerca do

tema, tendo sido apenas escolhidos artigos pertinentes para o tema redigidos em português,

espanhol ou inglês.

Conclusão: Num cenário marcado pelo horror, os MD, através da Medicina Dentária

Forense (MDF), podem ser uma mais-valia, aliando-se às equipas de identificação de

cadáveres, tornando muitas vezes o processo mais célere. Deste modo, os restantes

profissionais de saúde (como é o caso de médicos não legistas, enfermeiros, entre outros)

podem dedicar a sua atenção e cuidados aos sobreviventes.

Palavras-chave: Forensic Dentistry; Forensic Odontology; Wars; Natural Disasters;

Terrorist Attack; Katrina; Boxing Day; Human Identification; Dental Technique; Jonestown

Page 10: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

2 \MASGC 2020

Abstract

Introduction: Since life is a precious asset, it is imperative that we take care of it and

try to preserve it as much as possible. However, society is increasingly marked by calamities,

whether natural or man-made, and the likelihood of being a victim of a terrorist attack, natural

disaster or other catastrophic phenomenon is, unfortunately, increasing.

Once the calamity has passed, it is crucial that all survivors are promptly helped and

that all those who have not resisted are quickly recognized, so that they can be returned to

their loved ones.

Objective: Analyze the impact that the dentist may have in the victim identification

process of a certain catastrophic event (natural or man-made disaster).

Methods and materials: Using the Pubmed platform, the research was carried out

selecting only articles relevant to the topic written in Portuguese, Spanish or English.

Conclusion: In a scenario marked by horror, dentists through forensic dentistry can be

an added value, allying themselves with cadaver identification teams, often making the

process faster. In this way, the remaining health professionals (such as doctors, nurses and

others) can dedicate their attention and care to the survivors.

Key-words: Forensic Dentistry; Forensic Odontology; Wars; Natural Disasters; Terrorist

Attack; Katrina; Boxing Day; Human Identification; Dental Techniques; Jonestown

Page 11: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

3 \MASGC 2020

Introdução

Se procurarmos o significado de catástrofe, rapidamente encontramos que este termo

provém da palavra grega katastrofé e significa destruição, ruína, um grande desastre que

atinge um vasto conjunto de pessoas. (1)

Nos dias de hoje, muitas vezes ouvimos e/ou lemos notícias de que uma nova

catástrofe assolou um país/cidade/povoação. Estes desastres em massa - situações comuns e

recorrentes a nível mundial ao longo da história das várias civilizações (quer se trate de um

fenómeno acidental ou mesmo orquestrado deliberadamente pelo Homem, quer se trate de

um fenómeno de origem natural) - são eventos que ocorrem com pouco ou nenhum aviso

(fazendo com que a população em causa não consiga precaver-se contra este fenómeno), que

cursam com uma grande variedade de consequências, entre elas morte, doenças, danos físicos

em pessoas, propriedades e ambiente e que, em suma, perturbam toda a comunidade. Assim

sendo, têm como característica principal não o vasto número de mortes mas sim o facto de as

consequências causadas ultrapassarem, em larga escala, a capacidade de gestão normal das

autoridades e equipas locais (polícia, bombeiros, médicos, enfermeiros, entre outros), de onde

se conclui que perante uma calamidade é quase sempre necessária ajuda ‘extra’,

nomeadamente de equipas de outras nacionalidades preparadas para lidar com este tipo de

eventos e as suas consequências. (2-6)

Como referido, os desastres podem ser divididos em 3 categorias, consoante a sua

origem – natural, acidental ou criminal –, que originam sempre 3 subtipos, consoante a

informação disponível acerca das vítimas – aberto, misto ou fechado: (3, 5-8)

Origem

o Desastre em massa natural – consequência de terramotos, furacões,

incêndios de causa natural, cheias, tsunamis;

o Desastre em massa acidental – consequência de incêndios em

infraestruturas, acidentes ferroviários, rodoviários ou de aviação;

o Desastre em massa criminal – consequência de assassínios em série ou

atentados terroristas (bombas, ataques suicidas, ataques com armas

químicas ou biológicas, entre outros).

Neste ponto é necessário explicar que os eventos criados pelo

Homem de maneira intencional podem normalmente ser

categorizados de 4 maneiras (podendo, naturalmente, cada

uma das categorias pode ser subdividida), sendo estas

Page 12: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

4 \MASGC 2020

desastre químico, biológico, nuclear/radiológico e explosivo

(este último a categoria mais comum).

Tipo

o Desastre aberto – Não há informação inicial acerca das vítimas

envolvidas (Exemplo: terramotos, tsunamis, acidentes ferroviários)

o Desastre fechado – Há informação ou uma lista potencial das vítimas

envolvidas (Exemplo: acidentes de aviação, navais ou desastres que

envolvam hotéis e alojamentos similares)

o Desastre misto – combinação de desastre aberto e fechado

De acordo com o supradito, os desastres não são eventos que possam ser antecipados.

Apesar de não terem sido efectuados estudos que analisem o número de vítimas mortais deste

tipo de acidente – algo que, por definição, é impossível de prever –, Nathan MD (9) afirmou

que na década passada mais de 2.6 mil milhões de pessoas foram vítimas de acidentes naturais

e Morgan OW et al. (10) declarou que por ano há cerca de 6 desastres naturais que matam

mais de 500 pessoas. Posto isto, e tendo em consideração que a melhoria e aumento da

capacidade de deslocação das populações e o aumento exponencial do turismo a nível mundial

precipitam a mistura das várias civilizações, é da maior importância estarmos preparados para

lidar com os cenários e consequências que advêm deste tipo de acontecimentos, tendo

sempre presente que, independentemente do tipo de desastre, todos estes fenómenos

refletem necessidades, ambiente e riscos diferentes, dependendo da comunidade, jurisdição

ou país envolvido. (6, 9-11)

Como consequência de alguns desastres, muitas das vítimas ficam com os seus corpos

de tal maneira destruídos que os métodos “tradicionais” de identificação (ID) forense não

podem ser empregues. Nestes casos, os dentes – órgão de estrutura altamente mineralizada,

com grande durabilidade e resiliência, capaz de aguentar temperaturas entre 1100 a 1600°C e

condições extremas de degradação (como alterações de pressão, humidade, entre outras) –

são das estruturas mais resistentes do corpo humano, conseguindo resistir às mais adversas

situações, tornando-se por este facto a fonte ideal para recolha de informações específicas da

vítima em questão (características anatómicas, Ácido Desoxirribonucleico [ADN] - A polpa

dentária de dentes íntegros, de preferência inclusos/impactados, pode ser usada para a

recolha de ADN -, entre outras). (2, 5, 12, 13)

As restaurações dentárias, presentes na maioria dos dentes, são das características

mais individuais de uma dada pessoa, uma vez que não é possível criar duas restaurações

exatamente iguais (mesmo em caso de reabilitações fixas, a interface dente-coroa não é igual

em dois indivíduos). Esta realidade, em conjunto com as características pessoais de cada

Page 13: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

5 \MASGC 2020

individuo (como morfologia coronária e radicular, número de peças dentárias, entre outras)

constitui-se como a chave que possibilita a ID dentária, sendo que a comparação de

informações dentárias ante e postmortem (AM; PM) já foi, por várias vezes, provada eficaz,

tornando-se o método mais rápido e económico, logo com a melhor relação custo-benefício

(14, 15)

Apesar de a MDF como área de conhecimento tal como hoje a conhecemos ser

relativamente recente (foi definida apenas em 1970 por Keiser-Nielson como “um ramo da

medicina forense que, no interesse da justiça, lida com a recolha e examinação corretas de

dados dentários e com a examinação e apresentação exatas das informações dentárias”(12)), a

utilização da dentição como reconhecimento de cadáveres é já muito antiga. O acontecimento

mais antigo de que temos conhecimento remonta a 49 d.C. (depois de Cristo) no império

Romano, quando Agrippina, a Jovem (mãe do Imperador Nero) reconheceu o corpo da sua

rival Lollia-Paulina através da descoloração dos seus dentes anteriores. No entanto, é apenas

no século XVI que se encontra uma referência a uma ID com registos médicos dentários,

quando o Dr. Paul Revere, em 1775, identifica o corpo do seu paciente Dr. Joseph Warren, que

havia sido morto na Batalha de Bunker Hill, nos Estados Unidos da América, através de uma

ponte de prata. É interessante também verificar que foi através da dentição que foi feita a ID

definitiva dos corpos de Adolf Hitler – através de uma coroa e ponte - e Eva Braun, em 1945,

após o exército russo ter descoberto, no bunker de Hitler, os seus corpos carbonizados. (12,

16-18)

Apesar da implementação dos dentes como fonte de provas para ID de vítimas ser já

antiga, a utilização da MDF como meio de ID em desastres em massa iniciou-se apenas em

1897, em Paris, no famoso incêndio do bazar de La Chaarité, no qual 126 membros da

aristocracia faleceram, tendo 30 sido identificadas pelos seus respetivos dentistas. (3, 4, 12,

17, 19, 20)

Tendo esta experiência sido frutífera, a MDF passou a ser considerada como arma na luta

da ID de vítimas, fazendo hoje parte do protocolo de ID de vítimas (DVI) da Organização

Internacional da Polícia Criminal (INTERPOL), sendo da maior importância analisar o papel do

MD perante uma catástrofe.

Page 14: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

6 \MASGC 2020

Materiais e métodos

Para a realização desta monografia, recorreu-se à base de dados Pubmed, tendo sido

selecionados artigos ou teses relevantes para o tema, escritos em português, espanhol ou

inglês.

Da pesquisa inicial resultaram 75 artigos tendo, após leitura dos respectivos títulos e

resumos, sido selecionados apenas 38 (destes, todos foram utilizados para a realização desta

monografia). Através da pesquisa das referências bibliográficas de cada um dos artigos e das

sugestões de pesquisa das bases de dados, foram ainda encontrados 16 artigos.

Após leitura de todos os artigos encontrados, de modo a conseguir mais informação

acerca de tópicos específicos dos mesmos, foi usada a plataforma Pubmed para consultar mais

informação, tendo, deste modo, sido obtidos mais 5 artigos. No final de toda a pesquisa para

este trabalho, a bibliografia final ficou com 59 artigos.

Palavras-chave: Forensic Dentistry; Forensic Odontology; Wars; Natural Disasters;

Terrorist Attack; Katrina; Boxing Day; Human Identification; Dental Technique; Jonestown

Page 15: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

7 \MASGC 2020

O MD no local da catástrofe

Perante uma calamidade toda a ajuda é preciosa. Tratando-se da ajuda de um

profissional de saúde, mais urgente se torna esse apoio. O MD pode fazer muito mais do que

identificar as vítimas de uma dada catástrofe, devendo por isso ser incluído na equipa

multidisciplinar que responde a este tipo de eventos. Na literatura conseguimos encontrar que

esta equipa é frequentemente composta por elementos das mais diversas áreas,

nomeadamente patologia forense, antropologia forense, MDF, fotografia forense, investigação

de cenas de crime (polícia), técnicos especializados na recolha de objectos em cenas de crime,

especialista em dermatoglifia (impressões digitais), análise de ADN, técnico de radiologia e

radiologista, toxicologista e higienista oral/assistente dentária. (5)

O MD pode inclusivamente usar as suas competências de formação básica, comuns às

várias áreas da saúde, e ajudar os sobreviventes e a população em geral. Assim sendo, são

muitas as tarefas que este profissional pode desempenhar: (9, 11, 13, 21, 22)

1. Filtrar e corrigir má-propaganda e notícias erradas que forem divulgadas;

2. Ajudar a controlar o pânico da população e estabilizar a opinião pública;

3. Servir de membro de controlo e vigilância da população, uma vez que as

clínicas dentárias normalmente estão espalhadas por toda a comunidade;

4. Colaborar com médicos e restantes profissionais de saúde (auxiliar no

processo de vacinação, primeiros-socorros, entre outros processos).

5. Dependendo da formação base que os MD têm (sendo esta variável de país

para país), possuem capacidades ainda para:

a. Ajudar no tratamento de lesões faciais e cranianas

b. Assistir ou administrar anestésicos e/ou medicação

c. Iniciar acessos intravenosos

d. Executar suturas e algumas cirurgias

e. Assistir na manutenção de estados de choque

f. Assistir na estabilização de pacientes

g. Recolher amostras de sangue pré-antibióticas

h. Recolher histórias médicas

i. Providenciar suporte básico de vida

Para além de o MD poder ter o papel crucial acima descrito, é também, como já foi

referido, uma peça fundamental na ID das vítimas mortais, para que estas possam ser

Page 16: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

8 \MASGC 2020

devolvidas aos seus entes e que estes possam realizar os actos legais necessários e cerimónias

fúnebres.

Assim, a MDF é parte integrante do protocolo da DVI da INTERPOL, sendo

inclusivamente classificada como identificador primário (método capaz de conduzir a

identificação 100% científica e, portanto, que consegue passar todo o escrutínio legal a que for

submetido).(23)

Este protocolo da INTERPOL é realizado por 2 equipas e constituído por 5 fases: (2, 7,

19, 23, 24)

1. Equipas

a. Equipa no local de proveniência da vítima (“home team”) –

responsável pela recolha de dados AM das pessoas suspeitas de

estarem desaparecidas;

b. Equipa no local do desastre (“away team”) – situada na morgue

temporária, perto do local do desastre. Esta equipa é responsável por

recolher e preparar a informação PM, e comparar a mesma com os

dados AM recolhidos.

2. Fases

a. Recolha de restos mortais no local do desastre

i. Nunca deverá ser esquecido que poderá haver

perda/alteração das estruturas dentárias no momento da

movimentação do corpo (por exemplo, quando um corpo é

incinerado, após um atentado terrorista/incêndio/desastre

automóvel/entre outros, os dentes ficam extremamente

frágeis e muitas vezes móveis por perda do ligamento

periodontal durante a exposição ao fogo). Deste modo, devem

ser utilizadas técnicas de estabilização nos dentes, devem ser

feitos os RX antes de reposicionar o cadáver e, antes do

transporte, deve ter-se o cuidado de enrolar toda a cabeça; (4,

13, 25)

b. Recolha de dados PM – análise dos corpos recolhidos e recolha de

todos os dados referentes à cavidade oral, passíveis de ser

comparáveis (RX, impressões, odontograma, entre outras);

c. Recolha dos dados AM – junto das autoridades, dentistas e restantes

médicos, consoante a nacionalidade prevista da vítima (recolha de RX,

modelos de estudo – caso existam -, odontograma, entre outros).

Page 17: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

9 \MASGC 2020

i. É de notar que os registos dentários são a fonte de mais rápida

informação AM; (8)

d. Comparação dos dados AM e PM - Depois de todos os dados serem

comparados, pode-se chegar a uma de quatro possíveis conclusões:

(12, 26, 27)

i. ID positiva – os dados AM e PM coincidem em detalhe

suficiente e não há discrepâncias irreconciliáveis;

ii. ID possível - Os dados AM e PM são concordantes entre si mas,

devido à qualidade dos dados AM ou PM, nem todos podem

ser verificados. Contudo não há discrepâncias irreconciliáveis;

iii. ID insuficiente - Não existem discrepâncias irreconciliáveis,

mas não é possível comparar os dados AM com os PM;

iv. Exclusão - Há discrepâncias irreconciliáveis, fazendo com que

os dados AM e PM não coincidam.

e. Comunicação dos resultados às autoridades competentes.

Page 18: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

10 \MASGC 2020

Resultados

OS desastres encontrados foram divididos em catástrofes naturais e catástrofes

provocadas pelo Homem, sendo que o resultado da pesquisa será apresentado por tipo de

desastre.

Catástrofes Naturais

No que respeita a desastres naturais, identificaram-se 6 situações:

ANO TIPO LOCAL NÚMERO DE

MORTOS % ID POR MDF

% ID MDF + OUTRO MÉTODO

% ID POR OUTRO

MÉTODO FONTE

1983 Incêndio Victoria, Austrália

47 64%

Dados não

definidos (n.d.)

n.d. (16, 28)

2004 Tsunami

“Boxing Day” 1 Oceano Indico

+ de 200 000 58,6% 1 34,8% 1 12,7% 1

(2, 6, 8, 10, 13, 14, 19, 23, 24, 29, 30)

2005 Furacão Katrina

EUA 1836 n.d. 8% 52% (6)

2009 Incêndio

“Black Saturday”

Victoria, Austrália

173 40% 60% n.d. (3, 19,

31)

2011 Terramoto Chistchurch,

Nova Zelândia

181 33% 14% 47% (32)

2011 Tsunami Japão 15892 8% n.d. 91% (28, 33)

Tabela I – Resumo de algumas das catástrofes naturais ocorridas e dos métodos de ID das vítimas

Catástrofes provocadas pelo Homem

Nas catástrofes provocadas pelo Homem identificaram-se 3 acidentes ferroviários, 2

acidentes náuticos, 3 acidentes rodoviários, 12 acidentes de aviação e 11 desastres criminais,

conforme as tabelas que a seguir se apresentam.

1 Os dados não são consensuais no que diz respeito às ID desta catástrofe. Os dados recolhidos

nos vários artigos não espelham sempre o número total de mortos, tendo sido analisados por país ou proveniência (apresentando, dentro de análises semelhantes, disparidade entre si). Desta forma, os valores apresentados na tabela são a média aritmética de todos os valores encontrados. – ver anexo 1

Page 19: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

11 \MASGC 2020

Acidente ferroviário (descarrilamento/colisão)

ANO TIPO LOCAL NÚMERO

DE MORTOS

% ID POR MDF

% ID MDF + OUTRO MÉTODO

% ID POR

OUTRO MÉTODO

FONTE

1953 Desastre Tangiwai

Nova Zelândia

151 100% 0% 0% (16)

1974

Despiste do Hellas Express

410

Croácia 152 0% 5% 56% (2, 6)

1997

Despiste do

Bordeaux Sarlat

Regional Express

Aquitaine, França

13 92% 0% 8% (2, 34)

Tabela II - Resumo de alguns dos acidentes ferroviários ocorridos e dos métodos de ID das vítimas

Acidente náutico / rodoviário (descarrilamento/colisão)

ANO TIPO LOCAL NÚMERO

DE MORTOS

% ID POR MDF

% ID MDF + OUTRO

MÉTODO

% ID POR OUTRO

MÉTODO FONTE

1989

Explosão em navio da

Marinha EUA

Porto Rico 47 29,8% 66% n.d. (2)

1993 Colisão de veículos

Saint-Martial de

Mirambeau, França

15 53% n.d. n.d. (34)

1994 Naufrágio

do M/S Estonia

Mar Báltico 94 2 n.d. 60% 40% (28, 35)

1996 Despiste de autocarro

Bailen, Espanha

28 57% 18% n.d. (2, 6,

8)

1997 Despiste de autocarro

Illescas, Espanha

10 80% n.d. n.d. (2, 6)

Tabela III - Resumo de alguns dos acidentes náuticos/rodoviários ocorridos e dos métodos de ID das vítimas

2 Não é conhecido o número total de vítimas. O número apresentado refere-se ao número de

corpos recuperados

Page 20: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

12 \MASGC 2020

Acidente de aviação (despenhamento/colisão)

ANO TIPO LOCAL NÚMERO DE

MORTOS

% ID POR MDF

% ID MDF + OUTRO MÉTODO

% ID POR

OUTRO MÉTODO

FONTE

1971 Despenhamento

de jacto Rijeka,

Jugoslávia 78 75,6% 0% 14% (36)

1976 Embate Croácia

Avião Trident Three

(inglês)

63 n.d. 33% n.d.

(2, 6, 37) Avião Inex

Adria DC-9

(Esloveno)

103 14% 16% n.d.

1987 Despenhamento

Aeroporto Bordeaux-Mérignac,

França

16 100% 0% 0% (34)

1988 Despenhamento

Dash-7 Noruega 36 89% n.d. n.d. (6, 37)

1988 Despenhamento Lockerbie,

Escócia 270 6,7% 70,7% 16,3%

(19, 38)

1989 Embate de

Balões de ar quente

Alile Springs, Austrália

13 100% 0% 0% (16)

1992 Despenhamento

ALIT 5148 França 87

19,5-52%

12-37,9% 40,3% (6, 37)

1995 Despenhamento

Fokker 50 Tawau, Malásia

34 20% 54% 26,5% (6, 29,

37)

1998 Despenhamento

Swissair 111 Oceano

Atlântico 229 n.d. 39,3% 57,1% (6)

2000 Despenhamento

Alaska Air 261 n.d. 88 25% n.d. 45,5% (6)

2006 Voo Comair 191 n.d. 49 96% n.d. n.d. (2, 3)

2012 Despenhamento

DANA air Lagos, Nigéria

152 10% 87,4% n.d (14)

Tabela IV - Resumo de alguns dos acidentes de aviação ocorridos e dos métodos de ID das vítimas

NOTA: Este tipo de evento não natural é o mais frequente e maior causa de mortes

(39)

Page 21: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

13 \MASGC 2020

Desastre Criminal

ANO TIPO LOCAL NÚMERO DE MORTOS % ID POR MDF

% ID MDF + OUTRO MÉTODO

% ID POR OUTRO

MÉTODO FONTE

1978 Suicídio em

massa (Culto)

Jonestown, Guiana

913 8% 16% n.d. (2, 40)

1990-1991

Guerra do Golfo

Golfo Pérsico, Médio

Oriente

251 97% n.d. n.d. (37)

1995 Atentado

com Bomba Oklahoma,

EUA 168 26,8% n.d. n.d. (6, 29)

1996 Massacre

Port Arthur Tasmânia, Austrália

35 0% 8,6% 91,4% (16)

1998

Exumações de valas comuns

resultantesda guerra da Croácia

Croácia

Este e Sudeste da República da Croácia -

1000 25% 64% 11%

(2, 6, 15, 37,

41) Petrinja - 46 16% 43% n.d.

2001

Atentado Terrorista ao World

Trade Center

EUA

2819 (nas torres) (20,1%)

n.d.

80,4% (6, 19, 29, 42)

19964 40% 3 60% 3

2002 Atentado

com bomba Bali,

Indonésia 202 n.d. 60% n.d.

(19, 43)

2003 / 2015

Exumação de soldados americanos

do USS Oklahoma da WW II

NMCP4, Havai

27 89% 0% 11% (44)

2004 Atentado terrorista

Madrid, Espanha

191 n.d. 8% 92% (45)

2016 Atentado terrorista

Nice, França

86 18% 7% 75% (46)

n.d.

Exumação soldados

americanos da guerra da Coreia

Coreia 280 84% n.d. n.d. (47)

Tabela V - Resumo de alguns desastres criminais ocorridos e dos métodos de ID das vítimas

3 Dos 968 cadáveres inicialmente analisados

4 NMCP - National Memorial Cemetery of the Pacific

Page 22: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

14 \MASGC 2020

Discussão

A MDF já comprovou ser um método sustentável na ID de cadáveres, principalmente

após desastres em que existe um grande número de mortes, havendo sido já reportado que a

sua contribuição na ID varia entre os 22% e os 100% (24). No entanto, após finalizado o

trabalho de campo e o reconhecimento das vítimas, vários autores referem que encontram

alguns problemas e que estes persistem nos vários cenários, nomeadamente: (6, 9, 13, 24, 48)

1. Grande número de corpos fragmentados, queimados e misturados;

2. Dificuldade em determinar quem estava envolvido no acidente

a. Neste aspecto, os acidentes de cenário fechado têm esta dificuldade

diminuída, uma vez que há conhecimento prévio das pessoas

envolvidas no desastre, existindo, em grande parte dos casos, uma

listagem dos indivíduos envolvidos no mesmo;

3. Aquisição de registos médicos e RX úteis e actuais

a. Talvez a banalização do uso da informática tenha auxiliado o

abandono do registo cuidado e pormenorizado da ficha do paciente,

apesar de ser mais fácil o seu registo. Para contornar esta situação,

deveria ser feito um forte apelo à comunidade médico-dentária

internacional para se estabelecer um empenho conjunto na boa

manutenção e actualização de registos;

4. Problemas de jurisdição, legais e organizacionais

a. Apesar de a MDF ser um método fidedigno, este pode ser fortemente

condicionado pelas crenças e/ou legislação do local onde se deu a

catástrofe. Morgan OW et al. (10) referem precisamente esta

dificuldade quando relata que após o tsunami de 2004 algumas

comunidades muçulmanas enterraram os seus defuntos num período

máximo de 24 horas, tendo dificultado a ID e contagem totais dos

mortos (quem foi enterrado pode inclusivamente não ser quem os

familiares acreditavam ser);

5. Problemas de comunicação e documentação interna e externa

a. Esta problemática é recorrente, uma vez que muitas vezes se torna

complicada a comunicação entre profissionais de diferentes

nacionalidades e o modo como os registos médicos são efectuados

Page 23: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

15 \MASGC 2020

variam de país para país, sendo muitas vezes de difícil interpretação ou

até mesmo indecifráveis.

6. Aplicação de nomenclatura de ID forense universal e de uma língua universal

no preenchimento dos formulários da INTERPOL

a. Se a utilização da nomenclatura da Federação Dentária Internacional,

por exemplo, não pudesse ser universalmente utilizada no

preenchimento de odontogramas, a mesma deveria, pelo menos,

constar sob forma de legenda nos registos clínicos, possibilitando

assim que cada profissional pudesse facilmente preencher as fichas

com a nomenclatura aplicável no seu país, permitindo que os mesmos

pudessem ser interpretados por qualquer MD, independentemente da

sua nacionalidade.

Para além destes importantes factos, existem algumas situações que são de destacar e

que nunca deverão ser descartadas pois influenciam o resultado que a MDF (e outras áreas)

tem na ID de cadáveres.

Devido ao clima habitual em certos locais do mundo (alta percentagem de humidade,

calor intenso, chuva constante que potencialmente alaga o local do desastre, entre outras) é

muitas vezes difícil obter ID, uma vez que, após um certo período de tempo, a decomposição

corporal dificulta o processo. Assim sendo, é importante a existência de câmaras frigoríficas

disponíveis perto do local do desastre, de modo a impedir que tal constrangimento ocorra.

(10, 13)

Outra situação sobre a qual deve ser chamada a atenção é exposição radiológica,

muitas vezes em excesso, a que os profissionais são sujeitos e a potencial má categorização

dos RX tirados, uma vez que pode haver necessidade de realizar 200 ou mais imagens por dia.

É fulcral que as equipas que trabalham nos vários locais tenham o número necessário de

técnicos para que estes não fiquem assoberbados com o trabalho a desempenhar, garantindo

igualmente que exposição radiológica individual não ultrapasse os limites considerados

normais para o desempenho da função. (24) Um modo de possivelmente contornar esta

problemática, e tendo em consideração que já foi relatado que é mais confiável utilizar

imagens tridimensionais na comparação de dados AM e PM (por vezes é difícil comparar RX,

nomeadamente entre imagens analógicas e digitais, uma vez que não se consegue obter

exactamente a mesma orientação do RX) (27), nos países em que for possível (tendo em conta

também o número de vítimas), poderia optar-se pela realização de exames imagiológicos

Page 24: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

16 \MASGC 2020

tridimensionais (tomografia computorizada, tomografia computorizada em cone – CBCT -,

entre outras) como forma de obter a informação PM.

O elevado número de corpos para identificar pode também levar à exaustão dos

profissionais, nomeadamente dos MD, aumentando a dificuldade em destrinçar algumas

“anomalias”. É sabido que a MDF enfrenta inúmeras dificuldades na sua execução,

principalmente nos dias de hoje em que os tratamentos são executados de modo a que não

seja visível que os dentes foram alvo de intervenção. Uma das dificuldades apresentadas na

análise dentária é precisamente o facto de as restaurações estéticas serem difíceis de detectar,

derivado ao facto de ser difícil muitas vezes distinguir a resina composta do dente natural.

Para auxiliar nesta problemática, foi sugerida a utilização de ácido fosfórico a 37% no dente,

uma vez que o esmalte vai alterar o seu aspecto e o compósito não. (13, 24)

Para que a MDF seja utilizada no seu exponencial máximo, é de extrema importância

que estejam reunidas todas as condições necessárias à boa execução das técnicas por parte

dos profissionais.

Pela observação dos resultados apresentados conseguimos inferir que, de facto, a MDF

é uma ferramenta excelente na ID de vítimas, uma vez que se configura como sendo um

método muito menos dispendioso e mais rápido do que outros processos, como por exemplo a

análise de ADN.

É de realçar que é impossível apresentar dados de todas as catástrofes que ocorreram

no passado recente. Contudo, através desta amostra, é-nos permitido verificar que o

contributo da MDF varia largamente consoante o local onde se acontece o desastre e o país de

proveniência das vítimas. Em países menos desenvolvidos, a percentagem de casos resolvidos

e o número de vítimas locais identificadas com base na MDF é substancialmente mais baixa.

Este facto poderá ser justificado com a baixa frequência na ida ao MD nestes países, como é o

caso da Europa de Leste, em que a população não tem meios financeiros para manter visitas

regulares ao MD, sendo que há poucos ou nenhuns registos dentários da maioria da

população. (49)

Para além deste facto, o armazenamento de odontogramas, RX e modelos é

extremamente variável de país para país. Uma vez que a MDF tem grande ênfase e é muitas

vezes aplicada, é cada vez mais imperativa a necessidade de manter bons registos, factor que

pode levar a uma taxa de sucesso na ID de 34-89%. (25, 50)

Sengupta et al. (51) refere que na Índia cerca de 8% dos MD têm dados dos pacientes

que remonta há mais de 5 anos. Inclusivamente, há registo de que neste país apenas 87% dos

MD fazem algum tipo de registo, sendo que destes, apenas 31% têm os registos com os

Page 25: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

17 \MASGC 2020

detalhes necessários. (50) No Reino Unido, cuja realidade difere bastante da da Índia, foi

verificado que apenas 48% dos registos eram considerados satisfatórios. (29) Com estes

valores, pouco distantes dos da Índia, verifica-se a necessidade de realizar um trabalho a nível

mundial, para que se tente contornar esta realidade. Nos dias que correm, e principalmente

nos países em que a população possui maior capacidade financeira (que lhes permite manter

uma rotina mais fácil e regular de visitas ao MD), é da maior importância que os profissionais

mantenham bons registos dentários dos seus pacientes e estas boas práticas têm que ser

incutidas aos profissionais. Em Portugal, a manutenção adequada de registos constitui um

dever legal e deontológico (Artigos 30º a 32º do Título II, Capítulo III do Código Deontológico

da Ordem dos Médicos Dentistas - Regulamento n.º 515/2019 (52)).

A existência de registos não é o único factor a ter em consideração, sendo que a sua

qualidade é igualmente importante. Kieser et al. (53) referiram que, dos registos AM que

receberam aquando do tsunami de 2004, apenas 68,9% e 46,2% dos registos e RX eram

aceitáveis, respectivamente. Este é um facto que tem obrigatoriamente de ser corrigido num

futuro próximo.

Page 26: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

18 \MASGC 2020

Propostas para contornar dificuldades na ID

De forma a colmatar as dificuldades sentidas na ID de vítimas, existem vários métodos

de “prevenção” que poderão ser empregues, isto é, existem vários métodos de registo da ID

de um dado indivíduo em vida e que podem facilmente ser rastreáveis.

A maioria dos métodos são adicionados às próteses/aparelhos que os pacientes

tenham de usar, durante a sua confecção (inclusivamente, em alguns países como Suécia,

Escócia e Reino Unido, Estados Unidos da América ou Austrália são de aplicação

obrigatória(54)), mas também existem sugestões de identificadores inseridos na própria

cavidade oral. Tendo em consideração que todos os métodos possuem, obviamente,

vantagens e desvantagens, em seguida são apresentadas, de forma sumária, algumas das

propostas existentes. (4, 8, 54-60)

Nos dentes, foi sugerida a introdução de dispositivos de ID via ondas de rádio (RFID)

inseridos nos molares. Estes sistemas utilizam frequência rádio para identificar, localizar e

seguir pessoas, animais ou objectos. Enquanto que nos animais, este tipo de dispositivos é

colocado por baixo da pele (via injecção), nos humanos a proposta é diferente: alterar o

desenho exterior do RFID e coloca-lo numa cavidade dentária (de Classe I, por exemplo),

utilizando os usuais materiais de restauração para reconstruir a cavidade, como se de uma

dentisteria simples se tratasse. Assim, o profissional que procurar conhecer a ID de um cadáver

que possua esta tecnologia, precisaria apenas de passar o leitor na bochecha da vítima e

conseguiria visualizar toda a informação previamente guardada, tais como nome, sexo, data de

nascimento, códigos de nacionalidade e do país, entre outras.

Nas próteses (totais ou parciais, fixas ou removíveis) existem várias metodologias que

podem ser aplicadas, sendo a sua diferença base o modo e aplicação: métodos de superfície

ou de inclusão.

Os métodos de superfície são processos em que se marca ou grava a superfície da

própria prótese. Nesta metodologia podem ser gravadas, usando uma broca de acrílico, letras

ou números na superfície ou adicionar as iniciais do paciente no processo de fabrico do

esqueleto das próteses.

No que diz respeito aos métodos de inclusão, mais permanentes, estes diferem dos

anteriores precisamente por ser incluído algum material na prótese. Podem ser incluídos:

1. Banda de ID: é preparado um pequeno rectângulo na base acrílica da prótese,

onde é colocada uma banda de metal com a informação do paciente, sendo

Page 27: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

19 \MASGC 2020

colocado acrílico transparente por cima. De seguida a prótese é terminada e

polida.

2. T-Bar: uma barra transparente de polimetilmetacrilato (PMMA) em forma de T

é construída, sendo recortada uma ‘calha’ de dimensão correspondente na

prótese. Posteriormente é interposta entre a base da prótese e a base da barra

uma etiqueta com a ID do paciente. No fim, é recortado o excesso da barra e

finalizada a prótese.

3. Tiras de papel: é adicionada uma tira de papel de espessura muito reduzida

(“onion skin paper”) com as informações do paciente na superfície interna da

prótese.

4. Gravação por laser: utilizando um Laser de vapor de cobre, a informação do

paciente é gravada no esqueleto metálico de uma prótese esquelética.

5. Dispositivos RFID: semelhante ao método aplicado nos dentes (referido

acima), é aberta uma ‘calha’ na face externa da prótese, paralela ao plano

oclusal, e, após colocação do dispositivo RFID, a mesma é preenchida com

acrílico rosa e é terminada a prótese.

6. Microchips de electrões: a informação do paciente é gravada num chip,

posteriormente adicionado à prótese.

7. Sistema lenticular: utilizando uma lente lenticular são produzidas imagens

contendo a informação do paciente.

8. Código de barras: é realizado um código de barras que posteriormente é

colocado na base da prótese. À semelhança de outros métodos, é

posteriormente colocado acrílico transparente por cima do código para selar

esta adição.

9. Fotografia: é adicionada uma fotografia do paciente à base da prótese, sendo a

mesma coberta com acrílico transparente.

Para qualquer um dos métodos acima mencionados, é de extrema importância formar

e treinar técnicos de prótese dentária (alunos e profissionais que já tenham prática

profissional) acerca dos vários métodos de incorporação de ID nas prótese, para que estejam

familiarizados com os processos e o saibam fácil e eficazmente fazer.

Apesar de qualquer dos métodos ter diversas vantagens e poderem, de facto,

constituir como auxiliar valioso na ID de um qualquer cadáver, não podemos contudo esquecer

que em caso de vítimas de incêndios, por exemplo, a maior parte dos materiais acrílicos poder-

se-ão danificar ou mesmo destruir. Deste modo, é importante ter sempre os métodos mais

Page 28: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

20 \MASGC 2020

‘tradicionais’ presentes (comparação de imagens AM e PM e análise da cavidade oral). Assim

sendo, e para facilitar a obtenção de informação, uma vez que por vezes pode tornar-se difícil

transportar alguns equipamentos para o local do desastre, bem como manusear as cavidades

orais, poderia ser empregue a tecnologia de scan intraoral (não esquecendo que será sempre

necessário estudar e viabilizar um protocolo de utilização deste processo), de maneira a ser

mais fácil (e talvez mais rápido) comparar com registos e/ou modelos AM que sejam

disponibilizados. Inclusivamente, se for complementado com o uso da impressão 3D, podemos

facilmente imprimir em qualquer parte do globo uma digitalização AM ou PM, não sendo

necessário que sejam enviados modelos físicos dos pacientes, agilizando dessa forma todo o

processo).

No que respeita aos implantes, poderia ser gerado, em fábrica, um código QR para

cada lote de implantes e, cada vez que fosse utilizado um determinado implante num dado

paciente, o MD deveria registá-lo em plataforma própria (internacional, de preferência),

ficando anotada a clínica e MD que utilizou o implante, o código do próprio implante e o

código interno do paciente em quem foi colocado o dispositivo (desta maneira as normas de

confidencialidade de dados seriam ser respeitadas).

Como alternativa a esta hipótese, foi sugerido que, para estes dispositivos, fosse

gravado com laser no interior das câmaras a informação do lote desse implante, sendo sempre

necessário que o MD que coloque o implantes processa ao seu registo. (56)

Page 29: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

21 \MASGC 2020

Conclusão

O papel do MD na ID de vítimas mortais, nomeadamente em cenários onde exista um

grande número de cadáveres, foi já bastante estudado e documentado. Esta colaboração é

cada vez mais realçada e mais requerida, pois é um método fiável, economicamente mais

acessível e prático. Deste trabalho podemos concluir, e de acordo com o que já foi

amplamente descrito na literatura, que o MD tem competências técnicas que são uma mais-

valia e deve trabalhar em conjunto com os profissionais de saúde que acorram ao local, de

modo a maximizar a eficácia da resposta no local da catástrofe.

Assim, é da maior importância aumentar e incrementar o ensino na área da MDF de

forma a possibilitar a entrada de mais profissionais nas esquipas de ID dos seus países e mais

profissionais possam ser requisitados para o auxílio na ID em casos de catástrofe. É importante

lembrar que nem todos os países têm a mesma metodologia de ensino de MD, sendo que

alguns podem ter experiência hands-on, outros apenas componente teórico e outros podem

até só ter disponibilizada formação pós-graduada. Deste modo, é necessário uniformizar o

ensino nesta área, sendo importante distinguir educação básica obrigatória e informação

especializada voluntária, sob forma de curso pós-graduado adicional. O objectivo não é todos

os MD serem “especialistas” em MDF, mas sim que todos os profissionais possuam

capacidades para auxiliar em caso de necessidade, como é o caso de uma catástrofe de

grandes proporções (situação onde habitualmente todos os profissionais são poucos), pois um

cenário de desastre não é o local para aprender acerca do papel do MD.

Neste campo, e para agilizar o pensamento e actuações automáticas, poderia sugerir-

se que fossem efectuados recorrentemente simulacros, de forma a que os profissionais

tivessem hipótese de aprender e praticar as mais diversas situações, ou que exijam um

discernimentos rápido sob grande pressão física e psíquica. Este treino é inclusivamente

favorecedor da preparação emocional dos MD, uma vez que já foi comprovado por que os

profissionais a trabalhar no local de catástrofes não estavam preparados para o stress

psicológico gerado no momento (principalmente o facto de terem muitas vezes de lidar com as

famílias das vítimas), nem para as perturbações psicológicas que podem advir deste tipo de

cenários e cansaço físico inerente à tarefa penosa de identificar dezenas de cadáveres.

Tendo em conta que a MDF poderá (e deverá) ser cada vez mais e melhor aproveitada,

e tendo em consideração o local onde se deu o acidente, seria prudente estipular um regime

de vacinas obrigatórias antes da ajuda externa chegar ao local, de forma a salvaguardar a

saúde dos profissionais, sendo também prudente que seja prestada assistência médica a quem

Page 30: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

22 \MASGC 2020

está a trabalhar, como por exemplo em casos de desidratação, cortes com instrumentos

médicos contaminados ou fragmentos ósseos, entre outras ocorrências.

Concluindo, para além da necessidade de formação mais detalhada em MDF por parte

dos profissionais, e de modo a auxiliar e agilizar todo o processo de ID (foram sugeridos

anteriormente alguns métodos de marcação de próteses, contudo podemos sempre encontrar

um cadáver que não seja portador desse tipo de dispositivos), deveria implementar-se um

sistema de obrigatoriedade de registo de RX, tal como existe o registo de vacinações através

do boletim de vacinas, para que estejamos sempre actualizados no caso de ocorrer um

desastre, como aliás sucede no caso das forças armadas, onde é feito o registo de todas as

informações médicas. Com base nesse mesmo registo é mais fácil identificar um militar do que

um civil.

Tendo todas as ferramentas necessárias, e sendo cumpridas todas as estipulações

determinadas pelas autoridades competentes, a ID das vítimas é mais fácil, fiel e rápida, desde

que exista uma franca cooperação entre profissionais de todo o mundo para que os dados das

vítimas sejam rapidamente partilhados.

Page 31: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

23 \MASGC 2020

Bibliografia

1. catástrofe Dicionário Priberam da Língua Portuguesa 2008-2013 [Available from:

https://dicionario.priberam.org/cat%C3%A1strofe.

2. Gomes de Araujo L, Biancalana R, Terada ASSD, Paranhos LR, Machado CEP, Alves da

Silva RH. A identificação humana de vítimas de desastres em massa: a importância e o papel da

Odontologia Legal. Revista da Faculdade de Odontologia - UPF. 2014;18(2).

3. Hinchliffe J. Forensic odontology, part 2. Major disasters. Br Dent J. 2011;210(6):269-

74.

4. Rajshekar M, Tennant M. The Role of the Forensic Odontologist in Disaster Victim

Identification: A Brief Review. Malaysian Journal of Forensic Sciences. 2014;5(1).

5. Nuzzolese E, Di Vella G. Future project concerning mass disaster management a

forensic odontology prospectus. International Dental Journal. 2007;57:261-6.

6. Sarode S, Zarkar G, Kulkarn M. Role of Forensic Odontology in the World's Major Mass

Disasters: Facts and Figures. Dent Update 2009;36:430–6.

7. Sharma G, Yadav M, Singh H, Aggarwal A, Sandhu R. Forensic Odontology: Role in Mass

Disasters. JIAFM. 2006;28(2):43-5.

8. Naiman M, Larsen AK, Jr., Valentin PR. The role of the dentist at crime scenes. Dent

Clin North Am. 2007;51(4):837-56, vii.

9. Nathan M, Sakthi D. Dentistry and Mass Disaster – A Review. J Clin Diagn Res.

2014;8(7):ZE01-3.

10. Morgan OW, Sribanditmongkol P, Perera C, Sulasmi Y, Van Alphen D, Sondorp E. Mass

fatality management following the South Asian tsunami disaster: case studies in Thailand,

Indonesia, and Sri Lanka. PLoS Med. 2006;3(6):e195.

11. Dutta SR, Singh P, Passi D, Varghese D, Sharma S. The Role of Dentistry in Disaster

Management and Victim Identification: An Overview of Challenges in Indo-Nepal Scenario. J

Maxillofac Oral Surg. 2016;15(4):442-8.

12. Verma AK, Kumar S, Rathore S, Pandey A. Role of dental expert in forensic odontology.

Natl J Maxillofac Surg. 2014;5(1):2-5.

13. Stavrianos C, Dietrich E, Stavrianos I, Petalotis N. The Role of Dentistry in the

Management of Mass Disasters and Bioterrorism. Acta Stomatol Croat. 2010;44(2):110-9.

14. Obafunwa JO, Ogunbanjo VO, Ogunbanjo OB, Soyemi SS, Faduyile FA. Forensic

odontological observations in the victims of DANA air crash. Pan Afr Med J. 2015;20:96.

Page 32: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

24 \MASGC 2020

15. Brkic H, Strinovic D, Slaus M, Skavic J, Zecevic D, Milicevic M. Dental identification of

war victims from Petrinja in Croatia. Int J Legal Med. 1997;110(2):47-51.

16. Taylor J. A brief history of forensic odontology and disaster victim identification

practices in Australia. J Forensic Odontostomatol. 2009;27(2):64-74.

17. Bruce-Chwatt RM. A brief history of forensic odontology since 1775. J Forensic Leg

Med. 2010;17(3):127-30.

18. Arora KS, Kaur P. Role of forensic odontology in the Indian Armed Forces: An

unexplored arena. J Forensic Dent Sci. 2016;8(3):173.

19. Berketa JW, James H, Lake AW. Forensic odontology involvement in disaster victim

identification. Forensic Sci Med Pathol. 2012;8(2):148-56.

20. Riaud X. A short account of forensic dentistry in France. D o n n J D e n t O r a l H y g.

2015;Vol 1(3):012-5.

21. Gambhir R, Kapoor D, Singh G, Singh G, Setia S. Disaster management: Role of dental

professionals. International Journal of Medical Science and Public Health. 2013;2(3).

22. Dahiya S, Kaur T, Srivastava A. Potential role of dental professionals in mass casuality &

disaster events. Sch J Dent Sci. 2017;4(11):512-4.

23. Pittayapat P, Jacobs R, De Valck E, Vandermeulen D, Willems G. Forensic Odontology in

the Disaster Victim Identification Process. JFOS. 2012;30(1):1-12.

24. James E. Thai tsunami victim identification overview to date. J Forensic

Odontostomatol. 2005;23(1):1-18.

25. Reesu GV, Augustine J, Urs AB. Forensic considerations when dealing with incinerated

human dental remains. J Forensic Leg Med. 2015;29:13-7.

26. Kolude B, Adeyemi BF, Taiwo JO, Sigbeku OF, Eze UO. The role of forensic dentist

following mass disaster. Ann Ib Postgrad Med. 2010;8(2):111-7.

27. Forrest AS. Collection and recording of radiological information for forensic purposes.

Aust Dent J. 2012;57 Suppl 1:24-32.

28. Prajapati G, Sarode SC, Sarode GS, Shelke P, Awan KH, Patil S. Role of forensic

odontology in the identification of victims of major mass disasters across the world: A

systematic review. PLoS One. 2018;13(6):e0199791.

29. Sarode S, Sarode G, Patil S. General Dental Practitioners and Mass Disaster: Unleashing

the Gravity of the Situation in India. Jourbal of Internationl Oral Health. 2016;8(7):i-ii.

30. Shankar AA, Dandekar RC. Forensic odontology as an aid for victim identification in

mass disasters. Dent Res J (Isfahan). 2012;9(1):120-1.

31. Hinchliffe J. Forensic odontology, part 3. The Australian bushfires - Victoria state,

February 2009. Br Dent J. 2011;210(7):317-21.

Page 33: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

25 \MASGC 2020

32. Trengrove H. Operation earthquake 2011 - Christchurch earthquake disaster victim

identification. J Forensic Odontostomatol. 2011;29(2):1-7.

33. Iino M, Aoki Y. The use of radiology in the Japanese tsunami DVI process. Journal of

Forensic Radiology and Imaging. 2016;4:20-6.

34. Poisson P, Chapenoire S, Schuliar Y, Lamant M, Corvisier JM. Four major disasters in

Aquitaine, France: use of odontologic techniques for identification. Am J Forensic Med Pathol.

2003;24(2):160-3.

35. Soomer H, Ranta H, Penttilä A. Identification of victims from the M-S Estonia. Int J

Legal Med 2001;114:259–62.

36. Haines DH. Dental identification in the Rijeka air disaster. Forens Sci,. 1972:313-21.

37. Dumanèiæ J, Kaiæ Z, Njemirovskij V, Brkiæ H, Zeèeviæ D. Dental identification after

two mass disasters in Croatia. Croat Med J. 2001;42(6):657-62.

38. Moody GH, Busuttil A. Identification in the Lockerbie air disaster. Am J Forensic Med

Pathol. 1994;15(1):63-9.

39. Taylot JA. Development of the Disaster Victim Identification Forensic Odontology

Guide for the Australian Society of Forensic Odontology: University of Newcastle; 2009.

40. Brannon RB, Morlang WM. Jonestown tragedy revisited: the role of dentistry. J

Forensic Sci 2002;47(1):3-7.

41. Brkic H, Strinovic D, Kubat M, Petrovecki V. Odontological identification of human

remains from mass graves in Croatia. Int J Legal Med 2000;114:19-22.

42. Gill JR. 9-11 and the New York City Office of Chief Medical Examiner. Forensic Sci Med

Pathol. 2005;2(1):29-32.

43. Sunesti Y. The 2002 Bali Bombing and the New Public Sphere: The Portrayal of

Terrorism in Indonesian Online Discussion Forums. Al-Jami'ah: Journal of Islamic Studies.

2015;52(1).

44. Shiroma CY. A Comparison of US and Japanese Dental Restorative Care Present on

Service Members Recovered from the WWII Era. J Forensic Sci. 2017;62(6):1627-31.

45. Prieto JL, Tortosa C, Bedate A, Segura L, Abenza JM, Mariscal de Gante MC, et al. The

11 March 2004 Madrid terrorist attacks: the importance of the mortuary organisation for

identification of victims. A critical review. Int J Legal Med. 2007;121(6):517-22.

46. Quatrehomme G, Unite Police d'Identification de Victimes de C, Toupenay S, Delabarde

T, Padovani B, Alunni V. Forensic answers to the 14th of July 2016 terrorist attack in Nice. Int J

Legal Med. 2019;133(1):277-87.

Page 34: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

26 \MASGC 2020

47. Shiroma CY. A Retrospective Review of Forensic Odontology Reports Written by the

Joint POW/MIA Accounting Command Central Identification Laboratory for Remains Identified

from the Korean War. J Forensic Sci. 2016;61(1):68-75.

48. Sweet D. INTERPOL DVI best-practice standards--An overview. Forensic Sci Int.

2010;201(1-3):18-21.

49. Jankauskas R. Forensic anthropology and mortuary archaeology in Lithuania. Anthropol

Anz. 2009;67(4):391-405.

50. Wadhwani S, Shetty P, Sreelatha SV. Maintenance of antemortem dental records in

private dental clinics: Knowledge, attitude, and practice among the practitioners of Mangalore

and surrounding areas. J Forensic Dent Sci. 2017;9(2):78-82.

51. Sengupta S, Sharma V, Gupta V, Vij H, Vij R, Prabhat K. Forensic odontology as a victim

identification tool in mass disasters: A feasibility study in the Indian scenario. J Forensic Dent

Sci. 2014;6(1):58-61.

52. Melo PR. Regulamento n.º 515/2019. Diário da República2019. p. 17892-900.

53. Kieser JA, Laing W, Herbison P. Lessons learned from large-scale comparative dental

analysis following the South Asian tsunami of 2004. J Forensic Sci. 2006;51(1):109-12.

54. Bathala LR, Rachuri NK, Rayapati SR, Kondaka S. Prosthodontics an "arsenal" in forensic

dentistry. J Forensic Dent Sci. 2016;8(3):173.

55. Datta P, Sood S. The various methods and benefits of denture labeling. J Forensic Dent

Sci. 2010;2(2):53-8.

56. Mishra SK, Mahajan H, Sakorikar R, Jain A. Role of prosthodontist in forensic

odontology. A literature review. J Forensic Dent Sci. 2014;6(3):154-9.

57. Bernitz H. Incorporation of radio frequency identification tag in dentures to facilitate

recognition and forensic human identification. International Dental Journal. 2009;59:222-4.

58. Mohan J, Kumar CD, Simon P. "Denture marking" as an aid to forensic identification. J

Indian Prosthodont Soc. 2012;12(3):131-6.

59. Kareker N, Aras M, Chitre V. A Review on Denture Marking Systems: A Mark in Forensic

Dentistry. J Indian Prosthodont Soc. 2014;14(Suppl 1):4-13.

60. Thevissen PW, Poelman G, De Cooman M, Puers R, Willems G. Implantation of an RFID-

tag into human molars to reduce hard forensic identification labor. Part I: working principle.

Forensic Sci Int. 2006;159 Suppl 1:S33-9.

61. Bernitz H. The challenges and effects of globalisation on forensic dentistry.

International Dental Journal. 2009;59:222-4.

Page 35: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

27 \MASGC 2020

Anexos

1 - Resultados obtidos acerca do Tsunami de 2004 no Sudeste

Asiático

FONTE REGIÃO

ATINGIDA NÚMERO DE

MORTOS % ID POR

MDF

% ID MDF + OUTRO

MÉTODO

% ID POR OUTRO

MÉTODO

(2) Geral +200000 85% n.d. n.d.

(6, 29) Tailândia 5395 24,8% 11,5% n.d.

(8) Geral +200000 n.d. 85% n.d.

(10) Tailândia 8,345 14% n.d. 5%

(13) Geral n.d. 61% n.d. n.d.

(14) Geral n.d. 61% n.d. 20,3%

(19, 24) Tailândia 1474 79% 8% n.d.

(23) Tailândia n.d. 83,3% n.d. n.d.

(30) Geral n.d. 61% n.d. n.d.

MÉDIA 58,6% 34,8% 12,65% ≈

12,7%

Page 36: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

28 \MASGC 2020

2 - Declaração de Autoria de Trabalho

MONOGRAFIA DE INVESTIGAÇÃO/RELATÓRIO DE ATIVIDADE CLÍNICA

Declaro que o presente trabalho, no âmbito da Monografia de Investigação/Relatório

de Atividade Clínica, integrado no Curso de Mestrado Integrado em Medicina Dentária da

Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, é da minha autoria e todas as

fontes foram devidamente referenciadas.

Porto, 14 de Maio de 2020

Page 37: O PAPEL DO MÉDICO DENTISTA NO RECONHECIMENTO DE …

29 \MASGC 2020

3 - Parecer de aceitação do orientador

Eu, Inês Alexandra Costa de Morais Caldas, Professora Associada da Faculdade de

Medicina Dentária da Universidade do Porto (FMDUP), declaro que o trabalho de Monografia

desenvolvido pela estudante Mónica de Almeida Santos Gomes da Costa, do 5º ano do Curso

de Mestrado Integrado em Medicina Dentária da FMDUP, subordinada ao tema “O papel do

Médico Dentista no reconhecimento de vítimas de catástrofes naturais e provocadas pelo

Homem/The dentist’s role in the recognition of victims after natural and man-made

catastrophies” está de acordo com as regras estipuladas pela FMDUP.

Informo ainda que o referido trabalho foi por mim conferido e se encontra em

condições de ser apresentado e defendido em provas públicas.

Porto, 14 de Maio de 2020.

A Orientadora,

__________________________________________________

Inês Caldas (Professora Associada)