Myzus persicae (Sulzer, 1776) (Hemiptera: Aphididae) sobre...

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Ciência Rural, Santa Maria, v35, n.4, p.788-793, jul-ago, 2005 SP- OtG .t.d 5~i ISSNO103-8478 Longevidade e parâmetros reprodutivos de Myzus persicae (Sulzer, 1776) (Hemiptera: Aphididae) sobre berinjela em diferentes temperaturas Longevity and reproductive parameters of Myzus persicae (Sulzer, 1776) (Hemiptera: Aphididae) on eggplant at different temperatures Marcos Doniseti Michelotto! Norton Rodrigues Chagas Filho' Ricardo Adaime da Silva' Antonio Carlos Busolf RESUMO o afídeo Myzus persicae (Sulzer, 177.6) (Hemiptera: Aphididae) é uma das principais pragas de diversas culturas em condições de campo ou em cultivo protegido. Este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de diferentes temperaturas na longevidade e nos aspectos reprodutivos de M. persicae sobre berinjela (Solanum melongen a L.). O experimento foi conduzido sob condições controladas de temperatura (15, 20, 25 e 30"C), umidade relativa do ar (70 ± 10%) e fotofase (12 horas). As unidades experimentais consistiram de placas de Petri contendo ágar-água solidificado (1%). Nestas placas. os afideos foram mantidos individualmente sobre os discos foliares de berinjela (3clII de diâmetro} elll lima das temperaturas (tratamentos), com 25 repetições. Foram determinadas as curvas mais ajustadas lIOS porâmetros biológicos de M. persicae, suas equações de regressão e os respectivos coeficientes de determinoção (R'). A temperatura influenciou todos os parâmetros avaliados. As durações dos periodos pré-reprodutivo e reprodutivo de M. persicae variaram de 0.46 dia (25"C) a 1.12 dia (15"C) e de 3.89 dias (25"C) a 19.11 dias (/5"C). respectivamente. A fecundldade total e diária foi de 17.63 I/II/fe,s/fêmea /' 4.38 ntnfas/fêmeo/dtu li 25"C; 43.63 l/il/{t,.I·Ij<:m '(I " 4.34 I/il/f".\ljcm ',,/d/a a 20" ; 60.65 ninfas/fêmea e 3.15 l/il/já.\'lj'êmelrldillli 15"C. A 30"C. //l10 houve reprodução. A duração do periodo pàs-reprodutivo variou de 0.89 dia (25"C) a 3,72 dias (/5"C). A Iongevidade do afideo diminuiu com o aumento da temperatura. de 23.95 dias (15"C) para 5,06 dias (25"C). Temperaturas entre 15 e 2rrC são mais favoráveis a M. persicae. Palavras-chave: Solanum melong en a, afideo, biologia, reprodução. ABSTRACT The aphid My z u s p ersi c ae (Sul z er, 1776) (Hemiptera: Aphididae) is one of the main pests in a number of crops both under fiel d and protected conditions. The objective of this work was to study lhe effect of temperature on longevity an d repro ductive p ar am et er s of M. p er s i cae on eggplant (Solanum melon g en a L.). The experiment was carried out under controlled conditions of temperature (15, 20, 25 and 30°C), relative humidity (70 ± 10%) and photophase (12 hours). The experimental units consist ed of Petri dishes containing agar-wat er (/%) solidified. Aphi ds were kept individually 01/ l e af d i sc s of eg gp l an t (3 cm d i ame t e r} at cac h temp erature, with 25 repl icates. Curves more adjusted 10 th e bi ologicol purameters of M. persicae, th eir regression equut ions an d respective det ermi nati on coefficients (R') were determined, Ali biological p aramet ers were affected by t e mp erature . Tire prere product iv e an d repro duct i ve periods ofM. persicae varied from 0.46 day (25"C) 10 1.12 day (/5"C) an d [rom 3.89 days (25"C) 10 J9.11 days (/5"C). respectively. Tire total and daily fecundity "'as 17.63 and 4.3N; 43.63 and 4.34; aliei 60.65 "Ylllph.'Ifi'IIIalc an d 3.15 I/ymphs/fem11 le/doy. respe -tively, 01 25. 20 und 15" ', AI 30" . t h ere \lia., 110 reprod ucttou, Th c postreproducti ve period varied from 0.89 day (25"C) to 3.72 days (J5"C). The longevity of the aphid decreased with the increase in temperature, from 23.95 days (15"C) 10 5.06 days (25"C). Thus, t em p er a tu re s between 15 and 20"C are more favorable 10 M. p ersicae. Key words: Solan um mel ong en a, ap hi d, b i ol o gy, reproduction. I Doutorando em Entomologia Agrícola, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900, laboticabal, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]. Autor para corresondência. 'Mestrando em Entomologia Agrícola, FCAV, UNESP, laboticabal, São Paulo, Brasil. 'Pesquisador da Embrapa Amapá, Rodovia lK, km 5, 68903-000, Macapá, Amapá, Brasil. 'Departamento de Fitossanidade, FCAV, UNESP. Jaboticabal, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]. Longevidade e parâmetros 2005 SP - 01698 Recebido para publicação 30.08.04 Aprovado em 16.03.05 1111111111111111111111111111111111111111111111111111111111I1111111111111111 10587 -1

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Ciência Rural, Santa Maria, v35, n.4, p.788-793, jul-ago, 2005

SP- OtG.t.d lÜ 5~i

ISSNO103-8478

Longevidade e parâmetros reprodutivos de Myzus persicae (Sulzer, 1776)(Hemiptera: Aphididae) sobre berinjela em diferentes temperaturas

Longevity and reproductive parameters of Myzus persicae (Sulzer, 1776)(Hemiptera: Aphididae) on eggplant at different temperatures

Marcos Doniseti Michelotto! Norton Rodrigues Chagas Filho'Ricardo Adaime da Silva' Antonio Carlos Busolf

RESUMO

o afídeo Myzus persicae (Sulzer, 177.6)(Hemiptera: Aphididae) é uma das principais pragas de diversasculturas em condições de campo ou em cultivo protegido. Estetrabalho teve por objetivo avaliar o efeito de diferentestemperaturas na longevidade e nos aspectos reprodutivos deM. persicae sobre berinjela (Solanum melongen a L.). Oexperimento foi conduzido sob condições controladas detemperatura (15, 20, 25 e 30"C), umidade relativa do ar (70 ±10%) e fotofase (12 horas). As unidades experimentaisconsistiram de placas de Petri contendo ágar-água solidificado(1%). Nestas placas. os afideos foram mantidos individualmentesobre os discos foliares de berinjela (3clII de diâmetro} ellllima das temperaturas (tratamentos), com 25 repetições. Foramdeterminadas as curvas mais ajustadas lIOS porâmetrosbiológicos de M. persicae, suas equações de regressão e osrespectivos coeficientes de determinoção (R'). A temperaturainfluenciou todos os parâmetros avaliados. As durações dosperiodos pré-reprodutivo e reprodutivo de M. persicae variaramde 0.46 dia (25"C) a 1.12 dia (15"C) e de 3.89 dias (25"C) a19.11 dias (/5"C). respectivamente. A fecundldade total e diária

foi de 17.63 I/II/fe,s/fêmea /' 4.38 ntnfas/fêmeo/dtu li 25"C;43.63 l/il/{t,.I·Ij<:m'(I " 4.34 I/il/f".\ljcm ',,/d/a a 20" ; 60.65ninfas/fêmea e 3.15 l/il/já.\'lj'êmelrldill li 15"C. A 30"C. //l10 houvereprodução. A duração do periodo pàs-reprodutivo variou de0.89 dia (25"C) a 3,72 dias (/5"C). A Iongevidade do afideodiminuiu com o aumento da temperatura. de 23.95 dias (15"C)para 5,06 dias (25"C). Temperaturas entre 15 e 2rrC são maisfavoráveis a M. persicae.

Palavras-chave: Solanum melong en a, afideo, biologia,reprodução.

ABSTRACT

The aphid My z u s p ersi c ae (Sul z er, 1776)(Hemiptera: Aphididae) is one of the main pests in anumber of crops both under fiel d and protectedconditions. The objective of this work was to study lheeffect of temperature on longevity an d repro ductivep ar am et er s of M. p er s i c a e on eggplant (Solanummelon g en a L.). The experiment was carried out undercontrolled conditions of temperature (15, 20, 25 and 30°C),relative humidity (70 ± 10%) and photophase (12 hours).The experimental units consist ed of Petri dishes containingagar-wat er (/%) solidified. Aphi ds were kept individually01/ l e af d i sc s of eg gp l a n t (3 c m d i a m e t e r} at c a c htemp erature, with 25 repl icates. Curves more adjusted 10th e bi ologicol purameters of M. persicae, th eir regressionequut ions an d respective det ermi nati on coefficients (R')were determined, Ali biological p aramet ers were affectedby t emp erature . Tire prere product iv e an d repro duct i veperiods ofM. persicae varied from 0.46 day (25"C) 10 1.12day (/5"C) an d [rom 3.89 days (25"C) 10 J9.11 days (/5"C).respectively. Tire total and daily fecundity "'as 17.63 and4.3N; 43.63 and 4.34; aliei 60.65 "Ylllph.'Ifi'IIIalc an d 3.15I/ymphs/fem11 le/doy. respe -tively, 01 25. 20 und 15" ', AI30" . there \lia., 110 reprod ucttou, Thc postreproducti veperiod varied from 0.89 day (25"C) to 3.72 days (J5"C).The longevity of the aphid decreased with the increase intemperature, from 23.95 days (15"C) 10 5.06 days (25"C).Th u s , t em p er a tu re s between 15 and 20"C are morefavorable 10 M. p ersicae.

Key words: Solan um mel o ng en a, ap hi d, b i ol ogy,reproduction.

IDoutorando em Entomologia Agrícola, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), Universidade Estadual Paulista(UNESP), Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900, laboticabal, São Paulo, Brasil. E-mail:[email protected]. Autor para corresondência.

'Mestrando em Entomologia Agrícola, FCAV, UNESP, laboticabal, São Paulo, Brasil.'Pesquisador da Embrapa Amapá, Rodovia lK, km 5, 68903-000, Macapá, Amapá, Brasil.'Departamento de Fitossanidade, FCAV, UNESP. Jaboticabal, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected].

Longevidade e parâmetros2005 SP - 01698

Recebido para publicação 30.08.04 Aprovado em 16.03.05

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IN1RODUÇÃO

Longevidade e parâmetros reprodutivos de Myzus persicae (Sulzer, 1776) (Hemiptera: Aphididae) sobre berinjela... 789

A berinjela (Solanum melongena L.) é umasolanácea originária das regiões tropicais do continenteasiático, sendo cultivada há muitos séculos porchineses e árabes (FILGUEIRA, 2002). Embora a áreaplantada no Brasil seja pouco superior a 1500ha, temocorrido um aumento no consumo da olerícola,motivado pela procura por parte dos consumidores deprodutos mais saudáveis e com propriedadesmedicinais. Neste aspecto, a berinjela destaca-se pelasua propriedade redutora do nível de colesterol(PINTO et aI., 2000). Dentre os fatores que podemreduzir a produtividade da berinjela, encontram-se osinsetos, que danificam as diferentes partes da planta,sendo geralmente controlados com inseticidas(GALLO et aI., 2002).

O afideo Myzus persicae (Sulzer, 1776)(Hemiptera: Aphididae) possui ampla distribuiçãomundial e encontra-se associado a culturas de grandeimportância econômica. Éuma espécie polífaga, capazde transmitir mais de 100 vírus fitopatogênicos(BLACKMAN & EASTOP, 1984). Na cultura daberinjela, é transmissor do Potato Vírus Y (PVY), quecausa severos danos às plantas, reduzindodrasticamente a produtividade na maioria dascultivares (PINTO et aI., 2000). Plantas infectadas porPVY apresentam folhas com sintomas de mosaico,amareladas e de tamanho reduzido, além de frutospouco desenvolvidos.

Diversos fatores podem afetar a reproduçãodos afídeos, tais como a qualidadc da plantahospedeira, a ocorrência natural de resistência(diferença entre as cultivares) e a temperatura(KOCOUREK ct al., 1994). DIXON (1987) relata queuma mudança na temperatura resulta em alteração nataxa reprodutiva e na longevidade dos afídeos.

O objetivo deste trabalho roi avaliar o efeitode diferentes temperaturas nos parârnctrosreprodutivos e na longevidade de M. persicae sobrefolhas de berinjela.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido noLaboratório de Controle Biológico de Insetos doDepartamento de Fitossanidade, setor de Entomologiada FCAV-UNESP, em Jaboticabal, Estado de SãoPaulo. Foram utilizadas quatro câmaras climatizadascom temperaturas de 15, 20, 25 e 30 ± 1°C,umidaderelativa de 70 ± 10% e fotofase de 12 horas. Foiutilizada a mesma metodologia de MICHELOTTO &BUSOLI (2003).

Criação de manutenção dos afideosAs sementes de berinjela foram semeadas

em vasos de plástico com capacidade para 5 litros,contendo terra, areia e esterco na proporção 2: I: I, emantidas em gaiolas de 1,5m x 1,5m, revestidas comuma tela anti-afídeo. Os afídeos utilizados noexperimento foram coletados em colônias presentesem plantas de berinjela no campo, sendoposteriormente transferidos para as plantas (50 diasde idade) com auxílio de um pincel, para que sealimentassem e se reproduzissem.

Obtenção de adultos na fase reprodutivaForam coletadas folhas de berinjela

contendo afideos provenientes das colônias de criaçãoe manutenção, e levados até o laboratório. Para cadatemperatura foram preparadas três placas de Petri (6cmde diâmetro) contendo 15mL de ágar-água (l %)solidificado e um disco foliar de berinjela (3cm dediâmetro) disposto no centro da placa. Antes de suautilização, as folhas foram lavadas em água correntee deixadas imersas em solução de hipoc1orito de sódioa 1% por um minuto e, posteriormente, lavadas emágua corrente. Após a assepsia, as folhas foram secasem papel absorvente e, utilizando-se um vazador,foram obtidos os discos foliares. Em cada disco foliarde berinjela, foram colocados, com auxílio de um pincel,cinco adultos ápteros de M. persicae. A tampa dessasplacas continha uma abertura de 3cm de diâmetro,coberta com uma tela anti-afideo para permitir a aeraçãoe evitar a fuga dos insetos. As placas foramidentificadas c mantidas nas câmaras c1imatizadas, nasdiferentes temperaturas, sendo vistoriadas três vezesao dia para a obtenção das nin fas, as quais foramobservada até se tornarem adultas.

Delineamento experimental, condução e avaliação doexperimento

O experimento foi realizado emdelineamento inteiramente casualizado, cadatemperatura (15,20,25 e 30°C ± 1°C)correspondendoa um tratamento. Foram utilizadas 25 placas de Petri(repetições) contendo os discos foliares. Para cadaplaca, foi transferida uma ninfa, com auxílio de umpincel, sendo tampada e identificada. As avaliaçõesforam realizadas a cada doze horas, sendo efetuada atransferência do afideo para uma nova placa quandoobservados os primeiros sinais de deterioração dasfolhas. Foram avaliadas a duração dos períodos pré-reprodutivo, reprodutivo e pós-reprodutivo, alongevidade e a feeundidade total e diária das fêmeas.

Os dados relativos a cada parâmetroavaliado foram submetidos à análise de variância,

Ciência Rural, v. 35, n. 4, jul-ago, 2005.

790 Michelotto et ai.

sendo as médias dos tratamentos comparadaspelo teste de Tukey a 5% de probabilidade deerro. Os dados referentes aos períodos pré-reprodutivo e pós-reprodutivo, em dias, foramtransformados em (x + 0,5)1/2, em função daocorrência de valores relativamente baixos ealguns nulos. Foram determinadas as curvas maisajustadas aos parârnetros reprodutivos dosafídeos, suas equações de regressão e osrespectivos coeficientes de determinação (R2).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A temperatura influenciou os parâmetrosreprodutivos e a longevidade de M.persicae (Tabelas1e 2 e Figura 1), corroborando as afirmações de VANEMDEN et aI. (1969), de que a temperatura é fatorextremamente importante no desenvolvimento dosafideos.

Na temperatura de 30°C, apenas duasninfas atingiram a fase adulta, as quais duraramem média 2,45 dias e estas fêmeas não produziramninfas. Assim, esta temperatura não é mencionadanos próximos parâmetros avaliados. BARLOW(1962) observou que indivíduos das espécies M.persicae e Macrosiphum euphorbiae (Thomas,1878), em batata (Solanum tuberosum L.),mantidos a 30°C, morreram antes de se tornaremadultos. Em couve (Brassica oleracea L.),CIVIDANES & SOUZA (2003) também observaram100% de mortalidade das ninfas de M. persicae,sugerindo que esta espécie não está adaptada aelevadas temperaturas (30°C) e que o limite térmicosuperior de desenvolvimento (Ts) dessa espécie devesituar-se abaixo dessa temperatura.

Período pré-reprodutivo,A duração do período pré-reprodutivo de

fêmeas áptcras de M.persicae dccres eu com o aumentoda temperatura (Tabela I). A duração média desseperíodo, em função da temperatura, demonstrou seguiro modelo linear (Tabela I e Figura 1), indicando que àmedida que se aumenta a temperatura de 15 para 25°C,ocorre uma redução linear (R2= 0,9758) na duração doperíodo pré-reprodutivo, XIA & TINGEY (1986), aoestudarem M. persicae sobre dois híbridos de batata(Solanum tuberosum x Solanum bertaultii),"Superior" e D 888-4, observaram pequena duração doperíodo pré-reprodutivo, com 0,88 e 1,13 dia nastemperaturas de 22: 15°C (dia/noite), respectivamente,e 0,79 e 1,08 dia nas temperaturas de 32: 18°C (dia/noite)para os híbridos "Superior" e D 888-4, respectivamente.NARVÁEZ & NOTZ (1993) verificaram que a 26,71

Tabela I - Duração média (dias) dos períodos pré-reprodutivo, reprodutivo epós-reprodutivo, e longevidade de M persicae sobre berinjela emdiferentes temperaturas. Jaboticabal, SP. 2003.

Periodos 1,2

Temperatura Longevidade 1,2Pré-

reprodutivoReprodutivo

PÓS-

reprodutivo

1,12±0,11 a19,11±1,37a 3,72±0,79a 23,95±I,77a

(n=23)(n=23) (n=23) (n=23)

0,88 ±O,tO atO,23± 1,10b l,tO±0,24 b 12,21 ± 1,19 b

(n=24)(n=24) (n=24) (n=24)

0,46 ± 0,08 b3,89±0,62 c 0,89±0,16 b 5,06±0,62 c

(n=l6)(n=l6) (n=l6) (n=l7)

Média0,86 ± 0,07 11,99±0,62 2,02± 0,34 14,53± 1,24

(n=63) (n=63) (n=63) (n=64)

11,30* 40,39* 12,09* 45,39*

16,40 44,87 41,25 43,90

Teste F

CV(%)

'Média ± erro padrão.2Médias não seguidas pela mesma letra na coluna diferem entre si pelo teste deTukeya 5% de probabilidade de erro.n= número de repetições.* significativo a 5% de probabilidade de erro.

Tabela 2 - Fecundidade diária e total de M. persicae sobreberinjela em diferentes temperaturas. Jaboticabal,sr. 2003.

TemperaturaFccundidadc diária 1.2 Fecundidade total 1.2

(ninfas/fêrnea/dia) (ninfas/fêmca)

15°e3,15 0,15 b 60,65 ± 4,57 a

(n~23) (n=23)

4,34 .L 0.23 n 4 ,63 ±4,64 b20°C

(n=24) (n=24)

25°C4,38 ±0,33 a 17,63±3,12 c

(n=16) (n=16)

Média3,87±0,14 43,50 ±3,31

(n=63) (n=63)

Teste F 9,29* 23,76*

eV(%) 27,24 28,48

'Média ± erro padrão.2Médias não seguidas pela mesma letra na coluna diferemsignificativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% deprobabilidade de erro.n= número de repetições.* significativo a 5% de probabilidade de erro.

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Longevidade e parâmetros reprodutivos de Myzus persicae (Sulzer, 1776) (Hemiptera: Aphididae) sobre berinjela... 791

PERÍODO PRÉ-REPRODUTIVO

y =-0,066x +2,14R2 =0,9758

20,0

PERÍODO REPRODUTIVO

y =-1,522x +41,517R2 =0,9908

30

1,5

"'.!ll"C

;10,0'5.~6 5,0

15 300,0 +---....,..---...-----r-----.

10 25

30

30

.....•1,2IIIeu~ 0,9O'B.~ 0,66

15,0

0,3

0,0 +----T----.-----,-----,10 20

Terrperatura (OC)

25

PERÍODO PÓS-REPRODUTIVO

y = 0,0482x2 - 2,211x + 26,04R2 = 1

4,0 25,0

15 20

Figura I - Curvas ajustadas para a regressão entre a temperatura e a duração dos períodos pré-reprodutivo, reprodutivo e pós-reprodutivo; a longevidade; a fecundidade diária e total de M. persicae sobre berinjela. Jaboticabal, SP, 2003.

.....•20,0<lieu§. 15,0O'B.~ 10,0::>c

5,0

'03,0eu~~ 2,0l'!!:Ic 1,0

Terrperatura (0C)

LONGEVIDADE

y =-1,889x+51,52R2 = 0,9807

15 30

0,0 +-----r"-----,---....------,10 25

0,0 +-----.------r---.----------,10 20

Terrperatura (0C)

25

FECUNDIDADE DIÁRIA

5,0 75,0

lU

~

60,0~ 4,0 eu

OJOJ E 45,0E oQl;l!! 3,0 't:U! <li

~.!!! c: 30,0c: y =-0,023x2 + 1,043x -7,32 'c'c 2,0 'jij~ R2 = 1 § 15,0

1,0 ~0,0

10 15 20 25 30 10Terrperaíura (0C)

15 20

FECUNDIDADE TOTAL

y = -4,302x + 126,68R2 = 0,9857

15 20Terrperaíura (0C)

25

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792 Michelotto et aL

± 3,02°C o período pré-reprodutivo de M. persicae teveduração de 1,4 dia, em folhas de batata e de gergelim(Sesamum indicum L.).Período reprodutivo.

O período reprodutivo de M. persicae sofreuinfluência das temperaturas estudadas, seguindo ummodelo linear (Figura 1). Dessa forma, a duração doperíodo decresceu com aumento da temperatura, de19,11 dias (15°C) para 3,89 dias (25°C) (Tabela 1).NARVÁEZ & NOTZ (1993) observaram variação parao período reprodutivo de M. persicae, tendo comosubstrato folhas de batata e gergelim, com duraçõesmédias de 7,4 e 16, I dias, respectivamente, sobtemperatura de 26,71 ± 3,02°C. SOGLIA et aI. (2003)observaram resultados semelhantes ao submeter Aphisgossypii Glover, 1877 a diferentes temperaturas ecultivares de crisântemo (Dendranthema grandifloraTzvelev), com duração desse período decrescendo de17,3dias (15°C)para 3,3 dias (30°C).

Fecundidade.A fecundidade diária de fêmeas ápteras de

M. persicae, em função da temperatura, seguiu modeloquadrático (Figura 1).As fêmeas mantidas a 20 e 25°Cproduziram 4,34 e 4,38 ninfas/fêmea/dia,respectivamente, mais que aquelas mantidas natemperatura de 15°C, com 3,15 ninfas/fêmea/dia(Tabela 2). Esses resultados são superiores aosobservados por BASTOS et aI. (1996), segundo osquais a fecundidade diária de M. persicae natemperatura de 2SOCfoi de 1,63ninfas/fêmea/dia, sobrecouve, e aos observados por CrVIDANES & SOUZA(2003), nas temperaturas de J 5, 20 e 25"C (2,0; 1,7e 1,3ninfas/fêmea/dia, respectivamente), para a mesmaespécie e também sobre couve.

Com relação ao efeito das temperaturasestudadas sobre a fecundidade total, observou-se que,com o aumento da temperatura, ocorreu diminuiçãoda fccundidade das fêmeas, ajustando-se a um modelolinear (Figura I). Segundo este modelo, a fecundidademáxima ocorreu a 15°C, com 60,65 ninfas/fêmea, e amenor na temperatura de 25°C, com 17,63 ninfas/fêmea. BASTOS et aI. (1996) e CULLINEY &PIMENTEL (1985) observaram as mais altasfecundidades de M. persicae (43,92 e 46,37 ninfas/adulto, respectivamente), a 25°C. Em estudo realizadopor CIVIDANES & SOUZA (2003) com M. persicaesobre couve, foi observado que o aumento datemperatura prejudicou a fecundidade, com médias de69,2; 63,3 e 30,7 ninfas/fêmea, respectivamente, nastemperaturas de 15,20 e 25°C.

A temperatura influenciou de maneirainversa a fecundidade diária e a fecundidade total.

Enquanto o aumento da temperatura implicou oaumento da fecundidade diária, ocorreu umdecréscimo da fecundidade total. Esta diferença podeser explicada pela influência da temperatura naduração do período reprodutivo. A 15°C, as fêmeasapresentaram maior período reprodutivo (19, 11 dias),fazendo com que a produção de ninfas fosse distribuídaao longo de todo o período, diminuindo a média diária,mas resultando numa alta fecundidade total. A 25°C, aduração do período reprodutivo foi bem menor (3,89dias), fazendo com as fêmeas concentrassem suareprodução, elevando a fecundidade diária, mas emfunção do curto período reprodutivo, a fecundidadediária foi menor (Tabela 2).

Período pós-reprodutivo.A duração deste período decresceu com a

elevação da temperatura, ajustando-se ao modeloquadrático (Figura 1).A maior duração desse período foiobservada nas fêmeas mantidas a lSOC,com 3,72 dias,diferindo das durações observadas nas temperaturas de20 e 25°C (1,10 e 0,89 dia, respectivamente) (Tabela 2).Resultados semelhantes foram observados por XIA &TINGEY (1986), quando analisados somente nastemperaturas de 20 e 25°C, estudando M. persicae emdois híbridosde batata, "Superior" e D 888-4, observaramduração do período pós-reprodutivo de 2,83 dias e 0,96dia nas temperaturas de 22: 15°C (dia/noite),respectivamente, e 1,00 e 0,63 dia nas temperaturas de32:18°C(dia/noite)para os híbridos "Superior" e D 888-4,respectivamente.NARVÁEZ &NOTZ (1993)observaramduração média do período pós-reprodutivo de 0,8 e 2,2dias, para folhas de batata e gergelim, respectivamente,na temperatura de 26,71 ±3,02"C.Longevidade

A longevidade das fêmeas ápteras de M.persicae em função da temperatura ajustou-se a ummodelo Iinear (Figura 1), no qual a maior longevidaderoi observada nos indivíduos mantidos a 15°C, com23,95 dias, e menor naqueles mantidos a 2SOC,com5,06 dias (Tabela 1). CIVIDANES & SOUZA (2003)observaram resultados superiores, com longevidademédia de 26,7; 24,9 e 18,7 dias para as temperaturas de15,20 e 25°C, respectivamente.

Em Campinas, principal municípioprodutor de berinjela (CEASA, 2004), a maiorocorrência de M. persicae tem sido verificada duranteos meses do ano em que as temperaturas estiveramentre 16 e 20°C (COSTA, 1970). Como neste trabalhoas temperaturas de 15 e 20°C proporcionaram asmaiores fecundidades totais, é necessário omonitoramento mais constante das plantas de berinjelanesta faixa de temperatura.

Ciência Rural, v. 35, n. 4, [ul-ago, 2005.

CONCLUSÕES

Longevidade e parâmetros reprodutivos de Myzus persicae (Sulzer, 1776) (Hemiptera: Aphididae) sobre berinjela... 793

o aumento da temperatura de 15para 25°C,proporciona a diminuição na duração dos períodos pré,pós e reprodutivo e na longevidade de fêmeas de M.persicae sobre discos foliares de berinjela. Natemperatura de 15°C, ocorre a maior fecundidade total.A temperatura de 30°C afeta negativamente asobrevivência das fêmeas, impedindo-as de sereproduzirem.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CAPES (Coordenadoria deAperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela bolsaconcedida ao primeiro autor.

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